Implantação de um Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) - Unifal-MG

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS
Francine Freitas Fernandes
IMPLANTAÇÃO DE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL NO
MUNICÍPIO DE CAXAMBU-MG COM SETOR DE ATENÇÃO
FARMACÊUTICA
Alfenas MG
2006
Francine Freitas Fernandes
IMPLANTAÇÃO DE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL NO
MUNICÍPIO DE CAXAMBU-MG COM SETOR DE ATENÇÃO
FARMACÊUTICA
Monografia
Especialização
apresentada
“Lato
ao
Sensu”
Curso
em
de
Atenção
Farmacêutica da Universidade Federal de Alfenas
como parte dos requisitos para conclusão de
curso.
Orientador: Luciene Alves Moreira Marques.
Alfenas – MG
2006
Ao Antônio Marcos, meu grande amor e
companheiro, que sempre me incentivou a
buscar o que acredito.
Aos que padecem das enfermidades da mente,
que um dia possam ser compreendidos e
tratados com a dignidade que merecem.
AGRADECIMENTOS
Aos funcionários e pacientes do CAPS de Alfenas que tão carinhosamente me receberam,
durante um período, a fim de que eu pudesse conhecer e compreender o trabalho realizado.
À Secretaria Municipal de Saúde de Caxambu, nas pessoas do Secretário de Saúde, Paulo
César Carvalho Fernandes, que autorizou o levantamento dos dados necessários, e Maria
Bernadete Bortoni de Souza que tão prontamente disponibilizou as informações que
possibilitaram a realização deste trabalho.
Às farmacêuticas do município, Nicolle e Ana Cristina, que cederam as informações acerca
dos medicamentos da UAF e Farmácia Básica.
Ao Departamento Pessoal, Secretaria de Obras, Serviço de Controle, Avaliação e Auditorias
da Prefeitura Municipal de Caxambu que também contribuíram com informações relevantes.
A todos os funcionários da Prefeitura Municipal de Caxambu que contribuíram de maneira
direta ou indireta para que este trabalho fosse possível.
“É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal
maneira que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática.”
Paulo Freire.
SUMÁRIO
RESUMO
1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................1
2. A ATENÇÃO FARMACÊUTICA NO CAPS ................................................................4
2.1 O Centro de Atenção Psicossocial ..................................................................................5
2.2 A Atenção Farmacêutica ................................................................................................6
2.3 Atenção Farmacêutica em Patologias Psiquiátricas .....................................................10
2.3.1 Aspectos Gerais .........................................................................................................11
2.3.2 Patologias psiquiátricas .............................................................................................16
2.3.2.1 Esquizofrenia ..........................................................................................................17
2.3.2.2 Depressão ...............................................................................................................22
2.3.2.3 Transtorno Bipolar .................................................................................................30
2.3.2.4 Alzheimer e outras doenças ....................................................................................32
3. MATERIAL E MÉTODO .............................................................................................36
3.1 O município de Caxambu .............................................................................................36
3.2 O CAPS a ser implantado .............................................................................................39
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................................42
5. CONCLUSÃO ...............................................................................................................46
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................47
RESUMO
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são os dispositivos estratégicos do movimento de
Reforma Psiquiátrica que consiste no progressivo deslocamento do centro do cuidado para fora
do hospital. Propõe-se a implantação de um CAPS I no município de Caxambu - MG, pois este
não possui nenhum programa de acompanhamento aos pacientes com transtornos psiquiátricos
apesar de dispensar uma grande quantidade de medicamentos destinados a estes beneficiários.
O CAPS proposto apresenta como diferencial um Setor de Atenção Farmacêutica. A prática da
Atenção Farmacêutica constitui a solução para evitar a utilização inadequada dos
medicamentos por parte dos pacientes e garantir a efetividade e segurança da farmacoterapia.
A prática da Atenção Farmacêutica direcionada aos pacientes com enfermidades psiquiátricas
como esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar, Alzheimer e outras doenças, pode trazer
inúmeros benefícios tanto para os enfermos quanto para os seus familiares e/ou cuidadores. Os
custos quanto aos recursos humanos, ao espaço físico e aos equipamentos necessários para a
implantação do CAPS foram avaliados e apresentados. Observa-se que os custos necessários
podem ser viabilizados e que são irrelevantes ao se considerar as mudanças que tal
empreendimento pode provocar tanto nos pacientes quanto na saúde pública municipal. A
importância do farmacêutico fica comprovada dentro do CAPS, uma vez que este profissional
contribui com a adesão ao tratamento, orienta os familiares e é o responsável pelo
acompanhamento da farmacoterapia do paciente psiquiátrico.
1. INTRODUÇÃO
A doença mental, objeto construído há duzentos anos, implicava o pressuposto de erro
da Razão. Assim, o alienado não tinha a possibilidade de gozar da Razão plena e, portanto, da
liberdade de escolha. Neste contexto surge o asilo alienista ao qual era devotada a tarefa de
isolar os alienados do meio ao qual se atribuía a causalidade da alienação para, por meio do
tratamento moral, restituir-lhes a Razão, portanto, a Liberdade. Entretanto, o asilo, lugar da
liberação dos alienados, transformou-se no maior e mais violento espaço da exclusão, de
sonegação e mortificação das subjetividades (AMARANTE, 1995).
Essa conduta que prescrevia o asilamento sofreu alterações ao longo do tempo. É a
partir da Segunda Guerra Mundial que a desospitalização surge como elemento de assistência
psiquiátrica e desencadeou, em vários países, um processo de construção de uma nova política
de saúde mental (MACHADO et al, 2005).
Nas décadas de 50 e 60 o Brasil vivia sob regime dos governos militares e este período
foi marcado por uma política de privatização dos hospitais psiquiátricos e um movimento de
internação indiscriminada, que foi caracterizado como “indústria da loucura” (MACHADO et
al, 2005).
Somente em 1978, no contexto da redemocratização, surge no Rio de Janeiro, o
Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental. Este movimento constrói um pensamento
crítico no campo da saúde mental que permite visualizar uma possibilidade de inversão desse
modelo a partir do conceito de desinstitucionalização. Este conceito significa tratar o sujeito
em sua existência e em relação com suas condições concretas de vida. Isso significa não lhe
administrar apenas fármacos ou psicoterapias, mas construir possibilidades (AMARANTE,
1995).
Em dezembro de 1987, no encontro dos trabalhadores em saúde mental, em Bauru,
surge uma nova e fundamental estratégia. O movimento amplia-se no sentido de ultrapassar
sua natureza exclusivamente técnico-científica, tornando-se um movimento social pelas
transformações no campo da saúde mental (AMARANTE, 1995).
Assim, as novas políticas de saúde mental impulsionaram, embora de forma
localizada, os tradicionais serviços de assistência psiquiátrica a acompanhar os modelos
técnicos e teóricos propostos mundialmente. A partir de então, a preocupação em impedir
novas cronificações e o trabalho de reabilitação social passaram a orientar o atendimento
nesses serviços (MACHADO et al, 2005).
É neste contexto, de busca pela melhoria da assistência aos portadores de transtornos
mentais no Brasil, que surgem os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O primeiro CAPS
do Brasil foi inaugurado em março de 1986, na cidade de São Paulo (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004).
O CAPS é um serviço de saúde aberto e comunitário do Sistema Único de Saúde
(SUS). É um lugar de referência e tratamento para pessoas que sofrem de transtornos mentais,
psicoses, neuroses graves e demais quadros, cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua
permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de
vida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Os CAPS e outros tipos de serviços substitutivos que têm surgido no país são
atualmente regulamentados pela Portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002 e integram a
rede do Sistema Único de Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Este novo cenário, ainda em construção, apresenta os transtornos mentais como
agravos prevalentes na população brasileira em grande parte do território (SILVEIRA et al,
2003).
A extensão de cuidados de saúde mental às populações é uma tendência verificada nas
políticas de saúde de diversos países e refletem os esforços que têm sido implementados para
a promoção de tratamentos humanizados, compromissados com direitos humanos e com as
necessidades das comunidades em seus diferentes contextos (SILVEIRA et al, 2003).
O município ao qual se propõe a implantação de um Centro de Atenção Psicossocial,
Caxambu – Minas Gerais, possui uma população estimada em 01/07/2005 de 23.782
habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em
relação ao índice de desenvolvimento humano (IDH), segundo a Prefeitura Municipal, está
situado na 50ª posição entre os 852 municípios de Minas Gerais.
Caxambu possui quatro estabelecimentos de saúde públicos sendo uma Policlínica,
uma unidade de Vigilância Sanitária, uma unidade de Saúde da Família e um Ambulatório de
Unidade Hospitalar Geral que disponibiliza 58 leitos ao SUS.
O município conta também com a Unidade de Assistência Farmacêutica (UAF) e
desenvolve todos os programas propostos pelo Ministério da Saúde dentro da Atenção Básica,
segundo afirmação da secretaria de saúde. Entretanto, não possui nenhuma ação destinada à
saúde mental, além da medicação dispensada aos portadores de transtornos mentais e das
viagens de encaminhamento destes aos Hospitais psiquiátricos da região.
O CAPS que se propõe implantar neste município apresentará como diferencial um
setor de Atenção Farmacêutica. Assim, a presença do farmacêutico passará a ser obrigatória
dentro deste modelo, uma vez que, a equipe de profissionais preconizada pelo Ministério da
Saúde para desenvolver esse tipo de assistência não o contém.
Segundo o Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica, esta consiste em “um
modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica.
Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e coresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma
integrada à equipe de saúde. É a integração direta do farmacêutico com o usuário, visando
uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados
para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos
seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades bio-psico-sociais, sob a ótica da
integralidade das ações de saúde” (IVAMA et al., 2002).
Embora existam diferenças fundamentais nos sistemas de prestação e atenção sanitária
entre os países, o conceito de Atenção Farmacêutica é considerado aplicável a todos eles
mesmo levando em consideração diferenças como a situação socioeconômica (OMS, 1999).
O futuro da Farmácia Psiquiátrica é incentivador e promissor, se levarmos em
consideração que a Organização Mundial da Saúde, em 1996, declarou que o problema dos
transtornos psiquiátricos tem sido subestimado e que cinco das 10 causas que mais causam
incapacidades no mundo são: depressão, abuso de álcool, transtorno bipolar, esquizofrenia e
transtorno obsessivo compulsivo (FRIDMAN, 2001).
O farmacêutico não pode e não deve ficar à margem da farmácia psiquiátrica, deve
estar preparado para enfrentá-la com a quantidade de conhecimentos necessários para
melhorar a qualidade de vida destes pacientes (FRIDMAN, 2001).
Levando em consideração os distintos perfis das patologias psiquiátricas, o conselho
farmacêutico é dirigido não apenas ao paciente, mas principalmente aos familiares deste
(FRIDMAN & FILINGER, 2002).
2. A ATENÇÃO FARMACÊUTICA NO CAPS
2.1. O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)
Os CAPS são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais,
estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da
autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. Sua característica principal é
buscar integrá-los a um ambiente social e cultural concreto (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2004).
O objetivo do CAPS é oferecer atendimento à população de sua área de abrangência,
realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao
trabalho, lazer, exercícios dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e
comunitários. É um serviço de atendimento de saúde mental criado para ser substitutivo às
internações em hospitais psiquiátricos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Os CAPS visam prestar atendimento em regime de atenção diária; gerenciar os
projetos terapêuticos oferecendo cuidado clínico eficiente e personalizado; promover a
inserção social dos usuários através de ações intersetoriais que envolvam educação, trabalho,
esporte, cultura e lazer, montando estratégias conjuntas de enfrentamento dos problemas
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
As pessoas atendidas pelo CAPS são aquelas com transtornos mentais severos e/ou
persistentes, ou seja, pessoas com grave comprometimento psíquico, incluindo os transtornos
relacionados às substâncias psicoativas (álcool e outras drogas) e também crianças e
adolescentes com transtornos mentais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Os usuários dos CAPS podem ter tido uma longa história de internações psiquiátricas,
podem nunca ter sido internados ou podem já ter sido atendidos em outros serviços de saúde.
O importante é que essas pessoas saibam que podem ser atendidas e saibam o que são e o que
fazem os CAPS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Quando uma pessoa é atendida em um CAPS, ela tem acesso a vários recursos
terapêuticos, como: Atendimento individual, atendimento em grupo, atendimento para a
família, atividades comunitárias, assembléias ou reuniões de organização do serviço
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Estar em tratamento no CAPS não significa que o usuário tem que ficar a maior parte
do tempo dentro dele. As atividades podem ser desenvolvidas fora do serviço, como parte de
uma estratégia terapêutica de reabilitação psicossocial, que poderia iniciar-se ou ser articulada
pelo CAPS, mas que se realizará na comunidade, no trabalho e na vida social. Assim, o CAPS
pode articular cuidado clínico e programa de reabilitação psicossocial (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004).
2.2. A Atenção Farmacêutica
A Atenção Farmacêutica é um conceito de prática profissional em que o paciente é o
principal beneficiário das ações do farmacêutico. Esta prática compreende as atitudes, os
comportamentos, os compromissos, as inquietudes, os valores éticos, as funções, os
conhecimentos, as responsabilidades e as destrezas do farmacêutico na provisão da
farmacoterapia com o objetivo de obter resultados terapêuticos definidos na saúde e na
qualidade de vida do paciente (OMS, 1993).
Para que a Atenção Farmacêutica seja praticada é necessário estabelecer uma relação
entre o farmacêutico e o paciente, que permita um trabalho em comum com o objetivo de
prevenir, identificar e resolver os problemas que possam surgir durante o tratamento
farmacológico desses pacientes (FAUS, 1999).
A Atenção Farmacêutica não é praticada independente de outros serviços assistenciais,
mas em colaboração com os médicos, o pessoal da enfermagem e outros dispensadores de
atenção sanitária (OMS, 1993).
O método de trabalho em equipe é vital para que se obtenha um rendimento ótimo de
recursos limitados, tanto humanos como financeiros, para atender as necessidades
assistenciais de qualquer país (OMS, 1993).
O objetivo da Atenção Farmacêutica com relação ao paciente é a resolução ou melhora
de seu problema de saúde, para o qual em muitas ocasiões o trabalho do farmacêutico deverá
integrar-se com o do médico que trata este paciente, a fim de complementar e ajudar no
propósito de superar o problema de saúde (FAUS, 1999).
Existem várias ações que configuram a prática da Atenção Farmacêutica aos pacientes,
ao serem aplicadas em sua totalidade ou em parte, essas ações vão contribuir, provavelmente,
ao uso seguro e mais econômico dos medicamentos produzindo resultados positivos e uma
melhora na atenção a saúde (OMS, 1993).
Os elementos constitutivos da prática da Atenção Farmacêutica, segundo Ivama et al.
(2002), são: 1. Educação em saúde (incluindo promoção do uso racional de medicamentos); 2.
Orientação
farmacêutica;
3.
Dispensação;
4.
Atendimento
Farmacêutico;
5.
Acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico; 6. Registro sistemático das atividades,
mensuração e avaliação dos resultados.
Termos e conceitos relacionados à prática da Atenção Farmacêutica foram propostos
no Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica, assim como esclarecimentos quanto ao seu
entendimento e aplicação (IVAMA et al., 2002).
Segundo IVAMA et al. (2002), problema relacionado com medicamento (PRM) é um
problema de saúde, relacionado ou suspeito de estar relacionado à farmacoterapia, que
interfere ou pode interferir nos resultados terapêuticos e na qualidade de vida do usuário. O
PRM é real, quando manifestado, ou potencial na possibilidade de sua ocorrência.
A identificação de PRMs segue os princípios de necessidade, efetividade e segurança,
próprios da farmacoterapia (IVAMA et al., 2002).
O Acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico configura um processo no qual o
farmacêutico se responsabiliza pelas necessidades do usuário relacionadas ao medicamento,
por meio da detecção, prevenção e resolução de PRMs, de forma sistemática, contínua e
documentada, com o objetivo de alcançar resultados definidos, buscando a melhoria da
qualidade de vida do usuário (IVAMA et al.,2002).
A promoção da saúde também é componente da Atenção Farmacêutica e ao fazer o
acompanhamento é imprescindível que se faça também à promoção. Entende-se por resultado
definido a cura, o controle ou o retardamento de uma enfermidade, compreendendo os
aspectos referentes à efetividade e à segurança (IVAMA et al., 2002).
O Atendimento Farmacêutico é o ato em que o farmacêutico, fundamentado em sua
práxis, interage e responde às demandas dos usuários de sistema de saúde, buscando a
resolução de problemas de saúde, que envolvam ou não o uso de medicamentos. Este
processo pode compreender escuta ativa, identificação de necessidades, análise da situação,
tomada de decisões, definição de condutas, documentação e avaliação, entre outros. O
Atendimento Farmacêutico é mais amplo e pode ou não gerar uma intervenção farmacêutica
(IVAMA et al., 2002).
A Intervenção Farmacêutica é um ato planejado, documentado e realizado junto ao
usuário e profissionais de saúde, que visa resolver ou prevenir problemas que interferem ou
podem
interferir
na
farmacoterapia,
sendo
parte
integrante
do
processo
de
acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico (IVAMA et al., 2002).
A Atenção Farmacêutica é uma das entradas do sistema de Farmacovigilância, ao
identificar e avaliar problemas/riscos relacionados à segurança, efetividade e desvios da
qualidade de medicamentos, por meio do acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico
ou outros componentes da Atenção Farmacêutica. Isto inclui a documentação e a avaliação
dos resultados, gerando notificações e novos dados para o Sistema, por meio de estudos
complementares (IVAMA et al., 2002).
O ato de dispensação dos medicamentos pelo farmacêutico é de fundamental
importância para a saúde e para a vida do paciente, pois caso não ocorra uma Atenção
Farmacêutica adequada, todas as dúvidas a respeito da medicação serão transferidas ao
tratamento (FRIDMAN & FILINGER, 2002).
As responsabilidades do farmacêutico, somente no que diz respeito à terapia com
medicamentos, pode-se dizer que são: garantir a aquisição segura dos medicamentos, assim
como seu adequado armazenamento; prover informações ao paciente; revisar as receitas a fim
de identificar reações adversas a medicamentos (RAM), reações alérgicas, contra-indicações,
interações prejudiciais; contribuir com a elaboração e revisão dos planos terapêuticos em
colaboração com os médicos e outros profissionais da saúde; considerar, a pedido do paciente,
os problemas relacionados com os medicamentos e as inquietudes que este tenha a respeito;
assessorar ao paciente a respeito da seleção e uso de medicamentos de venda livre; informar
as RAMs detectadas as autoridades sanitárias; prover e compartilhar informações e
assessoramento relacionados com medicamentos; manter um alto nível de conhecimento
sobre as terapias medicamentosas (FRIDMAN, 2001).
Reconhece-se que existem diferenças fundamentais nos sistemas de prestação de
atenção sanitária entre os diversos países. Entretanto, considera-se que o conceito de Atenção
Farmacêutica é aplicável a todos os países apesar das diferenças de desenvolvimento
socioeconômico (OMS, 1993).
Uma farmacoterapia apropriada permite obter uma atenção à saúde segura e
econômica, por outro lado, o uso inadequado de fármacos tem importantes conseqüências
tanto para os pacientes como para a sociedade em geral. É necessário assegurar uma utilização
racional e econômica dos medicamentos em todos os países, independente do seu nível de
desenvolvimento. Os farmacêuticos têm um papel fundamental a desempenhar no que se
refere a atender as necessidades dos indivíduos e da sociedade a este respeito (OMS, 1993).
A maioria das falhas na farmacoterapia pode ser atribuída a uma má utilização dos
medicamentos por parte dos pacientes. A solução para este importante problema é a
implantação de programas de Atenção Farmacêutica, com o objetivo de assegurar uma
farmacoterapia apropriada, segura e efetiva para todos os pacientes (FAUS, 1999).
2.3. Atenção Farmacêutica em Patologias Psiquiátricas
2.3.1. Aspectos gerais
A implantação de um programa de Atenção Farmacêutica em pacientes psiquiátricos
implica em gerar uma boa relação interdisciplinar entre o médico prescritor e o farmacêutico
dispensador (FRIDMAN & FILINGER, 2002).
A interdisciplinaridade, neste caso, é a colaboração entre os profissionais da equipe de
saúde, respeitando cada um os limites de sua profissão (FRIDMAN & FILINGER, 2002).
O farmacêutico é um profissional com amplos conhecimentos farmacológicos e
farmacotécnicos, capacitado para manejar o atual arsenal terapêutico e informar sobre a
potência de novas drogas e, por sua vez, relacionar-se com o médico de igual para igual
(FRIDMAN & FILINGER, 2002).
Assim, há a necessidade de uma estreita colaboração entre os profissionais da área de
saúde, uma vez que nenhum possui a universalidade de todos os conhecimentos, e cada
profissional é especialista em uma área de sua profissão (FRIDMAN & FILINGER, 2002).
As enfermidades psiquiátricas estão em primeiro lugar entre os transtornos aos quais
resulta uma abordagem particularmente complexa na ausência de uma participação integrada
(CARRANZA, 2001 apud FRIDMAN & FILINGER, 2002).
Na Psiquiatria, a interdisciplinaridade é uma necessidade inquestionável, devido à
existência de tantos fatores inespecíficos que podem conspirar contra o tratamento. Assim,
esta prática melhorará indiscutivelmente a saúde e a qualidade de vida do paciente
(FRIDMAN & FILINGER, 2002).
Segundo Fridman & Filinger (2002), a interação médico-farmacêutico frente aos
pacientes psiquiátricos deve basear-se em alguns pontos como:
1- Comunicação profissional-paciente-familiares: As palavras esquizofrênico ou
paranóico, não são bem aceitas culturalmente pela sociedade, por isso os médicos
especialistas as utilizam com cuidado, e a falta de coordenação com o profissional
farmacêutico pode interferir no cumprimento da terapia.
2- Medicação: Cuidar das interações juntamente com os efeitos colaterais, neste ponto
é dever de ambos profissionais desmistificar o poder do “comprimido salvador” que tantos
problemas ocasionam.
3- Troca ou ajuste na medicação: Este tema é crítico nestes pacientes. Ao existir
qualquer problema, por exemplo, medicamentos que saíram do mercado ou mudança na cor
de comprimidos ou cápsulas, o médico deve ser comunicado para que fale com o paciente a
fim de evitar dúvidas e desconfianças que podem surgir.
4- Reuniões científicas: É aconselhável realizar encontros entre os profissionais da
saúde, a fim de buscar temas de estudo, discutir a atenção de cada paciente do ponto de vista
de cada uma das profissões, obtendo conclusões concretas, fixando parâmetros de abordagem
terapêutica e educando sobre as incumbências e limites de cada profissão.
Hoje em dia é inconcebível o trabalho isolado nas ciências da saúde. A Atenção
Farmacêutica deve ser integrada a equipe básica da saúde se pretende ser assistencial.
Trabalhar em equipe resultará em benefício não apenas ao paciente, mas também a todas as
profissões individuais (FRIDMAN & FILINGER, 2002).
A Atenção Farmacêutica aos pacientes com problemas neuropsiquiátricos deve
enfocar os seguintes aspectos concretos, segundo Fridman (2001):
1. RAMs freqüentes: Como os efeitos extrapiramidais produzidos por muitos
fármacos, dano neurológico produzido por benzodiazepínicos, taquicardias com o uso de
psicoestimulantes, efeitos anticolinérgicos (boca seca, constipação, retenção líquida, visão
borrada, etc.), aumento de peso por uso de antipsicóticos, etc.
2. Enfermidades concomitantes: Cardiopatias, hipo e hipertireoidismo, gripe,
problemas gastrointestinais, certas interações como: potenciação do efeito tóxico de Digoxina
com Diazepam, diminuição da absorção de Benzodiazepínicos (BZD) com antiácidos orais
(distanciar as administrações), potenciação do efeito hipoglicemiante dos Hipoglicemiantes
orais e Insulina por IMAOs (Inibidores da Monoaminoxidase), risco de arritmias do Lítio com
Verapamil, diminuição da ação de Levodopa com Clonidina, etc.
3. Cumprimento dos Tratamentos: Advertir sobre efeitos colaterais, sobre a
cronicidade do mesmo, levar ao conhecimento de familiares e/ou pessoas encarregadas, etc.
4. Interações Medicamentosas: Uso concomitante de IMAOs e Tricíclicos (causa
delírio, coma e convulsões); uso de preparados “homeopáticos” para emagrecer; aceleração
do metabolismo hepático por Barbitúricos; diminuição do metabolismo hepático de
Barbitúricos por IMAOs com o aumento de sua toxicidade; uso de Fluoxetina ou
Fluvoxamina (inibidores altamente seletivos de serotonina) com Triptofano; Lítio ou IMAOs
podem produzir síndrome serotoninérgica caracterizada por hipertermia, tremor e convulsões;
Fenitoína (cuidado com quase toda a medicação); o Diazepam diminui o efeito de certas
drogas antiparkinsonianas (L-Dopa); sinergismo de Benzodiazepínicos com outros
depressores do SNC, etc.
5. Cuidados específicos: Uso de álcool, tabaco e infusões psicoestimulantes (café, chá,
mate, diminuem a eficácia de drogas como Lítio e Haloperidol). Dietas: Do queijo com
IMAOs; para diminuir ou eliminar alguns sintomas desagradáveis como a constipação ou
secura bucal; aumento da excreção renal de Lítio com sais de sódio; aumento da
biodisponibilidade do Lítio com a alimentação; diminuição da absorção de Levodopa com
alimentos protéicos, etc.
6. Grupos de Risco: Gravidez, Lactentes, Idosos, Crianças, etc.
7. Uso de medicamentos de Venda Livre.
8. Monitoramento e Seguimento: Existem várias formas de realizá-lo, perguntas aos
médicos que os tratam, aos familiares do enfermo, utilizar os testes diagnósticos padronizados
para as distintas patologias ou utilizar valores de laboratórios que embora sejam muito
onerosos são válidos.
9. Fatores Farmacotécnicos: Necessidades de trocar a via de administração, a forma
farmacêutica, impossibilidade de preparação de certa forma farmacêutica, etc.
10. Educação.
Devido ao fato do farmacêutico não estar habilitado a prescrever medicamentos, a
conduta adequada frente a um caso de problemas psiquiátricos e/ou neurológicos é recorrer ao
médico com a maior rapidez possível (FRIDMAN, 2001).
Assim, os objetivos que devem ser alcançados com a Atenção Farmacêutica a este tipo
de paciente estão orientados na melhora da qualidade de vida do mesmo. Para isso é
fundamental: detectar e informar os PRMs; melhorar a colaboração com o médico; observar e
analisar as possíveis complicações das diferentes patologias neuropsiquiátricas; enfatizar ao
paciente tudo aquilo que irá melhorar a eficácia do tratamento (FRIDMAN, 2001).
Um objetivo fundamental da Atenção Farmacêutica é promover o Cumprimento
Terapêutico ou conseguir que o paciente se ajuste ao plano de tratamento estabelecido. A
importância deste conceito é óbvia, pois de nada servirá o diagnóstico correto junto a um
plano terapêutico bem desenhado, se o paciente não cumpri-lo. Além do que, o farmacêutico é
geralmente o último profissional sanitário que está em contato com o paciente ou seus
familiares antes de se iniciar o tratamento (NIETO & MANRIQUE, 2005).
É importante que o paciente e/ou seus familiares entendam a natureza da enfermidade
e que saibam o que devem esperar dos medicamentos; muitos enfermos que tomam
antidepressivos manifestam a atitude de suspender o tratamento porque não têm conhecimento
dos efeitos adversos que podem aparecer ou não são informados de que podem transcorrer
algumas semanas antes que apareça alguma melhora (NIETO & MANRIQUE, 2005).
As causas de mau cumprimento do tratamento são variadas; em princípio, fatores
como viver sozinho, situação socioeconômica baixa, regime posológico complexo, atitude
negativa do enfermo diante de sua patologia e seu tratamento são as principais condições de
cumprimento errado do tratamento (FRIDMAN, 2001).
Outros fatores influenciam o cumprimento do tratamento como a relação entre o
enfermo e o pessoal de saúde, e o grau de educação sanitária que eles recebem (FRIDMAN,
2001).
Segundo Fridman (2001), para melhorar o cumprimento do tratamento algumas
atitudes devem ser tomadas:
- É recomendável que o paciente conheça e compreenda a importância do
cumprimento do tratamento e as vantagens que representam para ele e para a sociedade.
- É importante que o paciente conheça o prognóstico de sua enfermidade e os efeitos
benéficos e colaterais que podem apresentar a administração do medicamento.
- A boa relação profissional entre paciente, farmacêutico e outros profissionais da
equipe de saúde, é uma excelente ferramenta de trabalho para favorecer o cumprimento dos
tratamentos.
- Devem ser feitos esquemas terapêuticos adequados aos hábitos de vida do paciente,
sobretudo em pacientes polimedicados.
A utilização de novos fármacos que permitem menos doses ou outras formas de
administração faz com que os pacientes cumpram melhor o tratamento; assim, as formas
parenterais dos fármacos aos esquizofrênicos e aos que apresentam transtornos bipolares tem
permitido obter um melhor cumprimento terapêutico (NIETO & MANRIQUE, 2005).
É importante avisar ao paciente sobre a melhoria sintomática e a necessidade de
continuar o tratamento mesmo que os sintomas tenham cessado. Muitos pacientes afirmam
desconhecer o fato de que teriam que voltar ao tratamento posteriormente (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
2.3.2 Patologias Psiquiátricas
A comunicação com os pacientes psiquiátricos deve estar guiada pelas mesmas
diretrizes que com o resto dos usuários: respeito; escuta empática; facilitar a comunicação
adequando a linguagem ao paciente; evitar interpretações errôneas na informação; um pouco
de tempo e paciência, e certo clima de confidencialidade, assim como perguntas mais abertas
e sobre temas mais amplos o que favorecem os pacientes a se sentirem mais cômodos para
expressar suas preocupações emocionais (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Em relação à enfermidade mental alguns preconceitos habituais são associar a
enfermidade mental à agressividade ou periculosidade, e classificar a enfermidade mental
como contagiosa (NIETO & MANRIQUE, 2005).
A imensa maioria dos transtornos mentais não está associada a nenhum tipo de
conduta agressiva. A porcentagem de pacientes com esquizofrenia com condutas agressivas é
mínima e somente ocorre em momentos de crise quando os sintomas não estão
adequadamente controlados pela medicação. A grande maioria dos delitos é cometida por
pessoas que não padecem de nenhum transtorno mental (NIETO & MANRIQUE, 2005).
A enfermidade mental não é contagiosa. Viver o dia a dia com alguns pacientes com
transtornos mentais graves pode ser uma tarefa difícil e árdua, mas um contato ocasional pode
enriquecer a visão de mundo que se tenha (NIETO & MANRIQUE, 2005).
2.3.2.1
Esquizofrenia
Trata-se de uma enfermidade essencialmente heterogênea. São múltiplos os modos de
como pode iniciar-se, múltiplos e diversos os sintomas que podem aparecer, múltiplos os
cursos e evoluções possíveis, múltiplos os fatores e hipóteses acerca de sua origem (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
A esquizofrenia é uma enfermidade crônica e complexa, produz um dano permanente
no paciente que se manifesta em sua capacidade de pensar, sentir e atuar adequadamente
(ROVNER, 2004).
O tratamento deve ser enérgico e permanente, atuando sobre o paciente e seu meio
familiar e social. São objetivos do tratamento: evitar ou retardar o progresso da enfermidade;
diminuir o número de surto, sua duração e gravidade; garantir que o rendimento cognitivo se
mantenha tão alto quanto seja possível; diminuir os sintomas do humor que acompanham a
enfermidade; permitir a reintegração do paciente na sociedade; garantir adequada
compreensão para as famílias dos pacientes; reduzir ao mínimo o abandono do tratamento
(ROVNER, 2004).
Raramente, para não dizer nunca, é esperado que uma pessoa adequadamente
diagnosticada com esquizofrênica possa estar sem receber medicação (ROVNER, 2004).
As três maiores causas de recaídas dos pacientes esquizofrênicos são derivadas: da
própria evolução da enfermidade, do abandono do tratamento e da falha terapêutica do
tratamento em curso. O farmacêutico pode colaborar no adequado controle sintomático do
paciente atuando sobre essas três causas (ROVNER, 2004).
A Atenção Farmacêutica pode colaborar com estes pacientes melhorando a eficiência e
a segurança da terapia farmacológica; melhorando a satisfação do paciente e sua família
acerca dos cuidados e da qualidade de vida; assegurando o cumprimento do tratamento;
economizando dinheiro para os pacientes, famílias e organizações de saúde, mediante
sustentado cumprimento do tratamento; ajudar os pacientes a organizar seus esquemas de
administração; informar os efeitos adversos ou inesperados atribuídos ao uso dos
medicamentos; informar abandonos de tratamentos; ajudar aos pacientes e familiares a
enfrentar os estigmas frequentemente associados à esquizofrenia (ROVNER, 2004).
Um problema freqüente no tratamento destes pacientes é a ausência de consciência da
enfermidade: não acreditam que estão doentes, nem que seus delírios e alucinações são
produtos patológicos de seus cérebros. Assim, não é possível convencer o paciente que delira
de seu erro, não se deve insistir em argumentar (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Conscientizar o paciente e os familiares da necessidade de tomar adequadamente a
medicação é uma parte essencial do tratamento, que o farmacêutico pode apoiar e consolidar.
É fundamental assegurar que o paciente tome a medicação. Embora apareçam algumas
moléstias com a medicação, o benefício compensa claramente (NIETO & MANRIQUE,
2005).
Tratar o paciente com esquizofrenia como qualquer outro paciente e a sua enfermidade
como qualquer outra enfermidade facilita a normalização e aderência ao tratamento (NIETO
& MANRIQUE, 2005).
Muitos pacientes perguntam o porquê de usarem a medicação de modo indefinido;
deve-se argumentar que muitas enfermidades comuns, como a hipertensão arterial ou o
diabetes, também precisam de tratamentos crônicos (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Ao surgirem perguntas acerca do por que da enfermidade, deve-se dizer que essa
informação é desconhecida, mas que ao menos se dispõe de fármacos que regulam os
neurotransmissores cerebrais implicados e controlam os sintomas centrais da enfermidade
(NIETO & MANRIQUE, 2005).
Os antipsicóticos constituem o pilar insubstituível do tratamento da esquizofrenia.
Podem ser classificados em Típicos e Atípicos. Entre os Típicos, as drogas mais
representativas são: Haloperidol, Clorpromazina, Levomepromazina e Trifluoperazina
(ROVNER, 2004).
Os efeitos adversos dos antipsicóticos típicos são tão freqüentes e notáveis que
constituem uma das causas de abandono do tratamento. Entre eles: Sintomas extrapiramidais,
como Distonia aguda e Pseudoparkinsonismo; Discinesia tardia, alteração do tônus muscular
e do movimento que aparece após um tempo de tratamento, de caráter irreversível; Síndrome
Neuroléptica Maligna, que apresenta destruição das fibras musculares, hipertermia, falha
metabólica, insuficiência renal aguda, desidratação, coma e morte (ROVNER, 2004).
A Síndrome Neuroléptica Maligna (SNM) é um transtorno de aparição pouco
freqüente, é de caráter idiossincrásico e potencialmente fatal. Quando acontece, os sintomas
aparecem em 66% dos casos durante a primeira semana do tratamento neuroléptico (NIETO
& MANRIQUE, 2005).
As seguintes situações são aquelas que têm mais probabilidade de desencadear a
síndrome: associação de vários neurolépticos, associação de neurolépticos a antidepressivos
tricíclicos ou sais de Lítio, associação de neurolépticos de ação demorada a agentes
antiparkinsonianos, pacientes com síndromes cerebrais de natureza orgânica, administração
parenteral de neurolépticos (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Entre os fármacos mais freqüentemente associados à aparição da SNM estão:
Haloperidol, Levodopa, Flufenazina, Clozapina, Carbamazepina, entre outros. (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
Os antipsicóticos atípicos constituem uma autêntica revolução no tratamento desta
enfermidade. Este grupo inclui a Clozapina, Risperidona e Olanzapina, entre outros.
A Clozapina é um antipsicótico eficaz que possui a vantagem de não produzir efeitos
extrapiramidais, mas é muito freqüente a aparição de episódios de neutropenia ou
agranulocitose nos pacientes. Por isso, é necessária a avaliação de dados hematológicos
periodicamente e também um controle dos níveis plasmáticos deste medicamento (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
A Clozapina interage com o Omeprazol gerando elevação em seus níveis plasmáticos,
assim, deve-se sugerir a mudança para outro protetor gástrico com um mecanismo de ação
diferente para evitar esta possível interação (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Os antipsicóticos atípicos não estão isentos de outros efeitos adversos tais como:
aparecimento de convulsões, sedação, hipotensão, risco de hiperglicemia e hiperlipidemias e
aumento de peso, que favorece a não adesão ao tratamento (LÓPEZ et al, 2004).
A melhor indicação é a individualização do tratamento segundo as características de
cada paciente e patologia, levando em consideração o risco do paciente de apresentar diabetes,
dislipidemias, sobrepeso, etc (LÓPEZ et al, 2004).
No caso de pacientes diabéticos que iniciem tratamento com antipsicóticos atípicos, o
farmacêutico deve assegurar que se mantenham perfeitamente controlados os níveis de
glicemia deste. Também se deve insistir na necessidade de realizar medidas glicêmicas de
rotina naqueles pacientes considerados de risco, como os que possuem precedentes familiares
de diabetes. Uma recomendação sugere uma medição a cada três meses e até anualmente.
Também devem ser feitos regularmente exames de detecção de hiperlipidemias e controle de
ganho de peso (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Segundo Nieto & Manrique (2005), o sofrimento de um paciente com esquizofrenia e
sua família pode ser atenuado se, dentre outras coisas: aceitar a enfermidade e adquirir
conhecimento sobre ela; seguir o tratamento farmacológico de modo adequado; evitar o
isolamento do paciente e sua família; informar o psiquiatra quando aparecerem sintomas
iniciais das recaída; reconhecer e tentar evitar situações de alto estresse que podem
desestabilizar o paciente; apoiar a normalização das atividades do paciente; estimular os
contatos sociais do paciente.
Deve ser mantido um contato freqüente com o médico, este deve ser informado de
mudanças nos sintomas ou de ocorrência de efeitos adversos (NIETO & MANRIQUE, 2005).
2.3.2.2
Depressão
A depressão é uma condição emocional caracterizada basicamente por alterações do
humor, tristeza, diminuição da auto-estima, inibição, fadiga e insônia (PRATS & CEBRIÁN,
2002).
Com um tratamento médico adequado as possibilidades de recuperação são muito
altas. Muitos pacientes e familiares concentram suas queixas ou preocupações nos sintomas
físicos que podem acompanhar a depressão. Assim, é conveniente explicar aos pacientes que
esses sintomas vão melhorando ao mesmo tempo em que a depressão e que não é conveniente
concentrar-se neles (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Diferentes estudos confirmam que o exercício físico é bom para melhorar o ânimo
(passeios de uma hora pela manhã, por exemplo) dependendo da intensidade e estado da
depressão. Em depressões severas os pacientes não têm ânimo nem forças para praticar
nenhuma atividade, somente querem ficar deitados, sem falar com ninguém, esperando que
chegue o momento de dormir para descansar do intenso sofrimento que padecem. Nestes
casos, forçar o paciente a realizar atividades físicas contra a sua vontade provavelmente vai
lhe causar mais angústia e mal estar que benefício (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Quando a depressão é grave o paciente deve estar acompanhado e apoiado por
familiares em todo o momento. A solidão aumenta os pensamentos pessimistas obsessivos, a
sensação de desesperança e falta de solução, e por outro lado, as idéias acerca de suicídio
(NIETO & MANRIQUE, 2005).
A família pode ajudar o paciente com depressão da seguinte maneira: Não o culpar de
sua enfermidade ou incapacidade; acompanhá-lo ao médico e afirmar que a cura ocorrerá;
assegurar que a medicação será administrada com regularidade; respeitar a incapacidade do
paciente e não forçá-lo no princípio; não retirar a importância do que está ocorrendo para
tranqüilizá-lo (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Segundo Nieto & Manrique (2005), os familiares do paciente com depressão devem
receber algumas orientações: Recordar que nem o paciente nem ninguém têm culpa da
enfermidade; Os familiares não podem curar o enfermo; É importante mostrar-se
compreensivo e animar o paciente assegurando de que pouco a pouco irá recuperar sua
atividade normal; Entender que seus pensamentos negativos são somente produtos de sua
enfermidade; É normal ele ter vontade de morrer; Não se culpar; Os esforços dos familiares
para animar os pacientes deprimidos muitas vezes não têm os efeitos desejados, entender que
o paciente neste momento não pode sentir-se nem se expressar de outro modo, e que quando a
depressão melhorar as coisas retornam a normalidade.
Os fármacos antidepressivos (tanto os ISRS como alguns mais antigos denominados
tricíclicos) demoram entre 10 e 20 dias para começar a provocar os efeitos curativos. Assim,
os pacientes devem ser conscientizados de que devem ter paciência e não abandonar os
tratamentos por conta própria. Em alguns casos, em que com as primeiras doses prescritas não
se obtém uma melhoria significativa, é necessário modificar a dose até alcançar a adequada.
Animar e tranqüilizar o paciente durante esta dura fase é um trabalho importante a ser
realizado pelos familiares e que pode ser apontado pelos farmacêuticos (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
Os efeitos secundários mais freqüentes dos fármacos antidepressivos são: secura de
boca, sedação, visão borrada, náuseas, inquietude ou insônia, alterações na função sexual, mas
parecem ser leves, suportáveis e tendem a desaparecer depois dos primeiros dias de
tratamento. É freqüente que durante as primeiras semanas de tratamento, até que o efeito
antidepressivo apareça se associe algum fármaco ansiolítico que ajude o paciente a conciliar o
sono e a estar menos ansioso (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Para a eleição do antidepressivo o médico prefere os fármacos que tenham tido
resultados eficazes em algum episódio prévio, se estiver existido, ou em algum familiar que
também tenha padecido de alguma depressão. Nessas ocasiões os pacientes desconhecem ou
não lembram estes dados; o farmacêutico pode na ocasião apontar esta informação tão
necessária (NIETO & MANRIQUE, 2005).
O tratamento farmacológico da depressão tem várias fases: a aguda, com sua fase de
latência até que os fármacos comecem a produzir efeitos benéficos; a fase de continuação,
entre 6 a 12 meses, onde o fármaco é mantido para evitar recaída do mesmo episódio
depressivo por retirada precoce da medicação; fase de manutenção ou profilática para evitar a
recorrência de novos episódios depressivos em pacientes com vários episódios depressivos
prévios (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Assim, é importante no seguimento terapêutico: Buscar a implicação do paciente em
seu tratamento; Explicar-lhe a enfermidade e por que o fármaco é necessário; Identificar
marcadores do progresso do tratamento (alterações do sono, por exemplo); Informar-lhe que a
resposta não é imediata; Insistir que não suspenda o tratamento; Orientá-lo acerca dos efeitos
adversos principais; Reforçar o seguimento do paciente na fase inicial (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
É importante saber, para poder atuar, que os pacientes têm crenças equivocadas sobre
os efeitos dos antidepressivos. Eles pensam que os antidepressivos são fármacos que mudam a
personalidade, que provocam dependência ou que, com o tempo, o corpo se torna resistente
(NIETO & MANRIQUE, 2005).
Os PRMs mais freqüentes que podem ser encontrados em pacientes que usam
antidepressivos são os PRM 4, PRM 5 e 6. (PRATS & CEBRIÁN, 2002).
No PRM 4 o paciente usa um dose inferior a que necessita de um medicamento
corretamente selecionado. Estes problemas são freqüentes na terapêutica antidepressiva. A
falta de adesão a farmacoterapia devido ao fato de serem tratamentos muito prolongados
parece ser normal. Recomenda-se a utilização de medicamentos com ação prolongada de
maneira que se possa administrar uma só vez ao dia (PRATS & CEBRIÁN, 2002).
No PRM 5 o paciente usa uma dose e/ou duração superior a que necessita de
medicamento
corretamente
selecionado.
Os
antidepressivos
tricíclicos
devem
ser
administrados em doses muito baixas no início do tratamento que devem ser incrementadas
progressivamente para evitar sua toxicidade (PRATS & CEBRIÁN, 2002).
O PRM 6 ocorre quando o paciente usa um medicamento que lhe provoca reação
adversa medicamentosa. Também ocorre com freqüência, já que numerosos antidepressivos
bloqueiam os receptores colinérgicos muscarínicos, provocando estes efeitos (PRATS &
CEBRIÁN, 2002).
O farmacêutico deve apresentar aos pacientes recomendações gerais acerca dos
antidepressivos: Informar-lhes sobre a existência de um período de latência (2-3 semanas)
prévio ao efeito terapêutico; Para diminuir os efeitos secundários iniciais que dificultam o
cumprimento do tratamento deve-se começar com doses baixas que aumentam
progressivamente; Sempre se deve eleger o mesmo antidepressivo que previamente tenha
dado bom resultado clínico com o paciente ou com algum familiar próximo; Como existe uma
tendência suicida deve-se ter precaução durante os primeiro dias de início do tratamento
antidepressivo, especialmente durante os nove primeiros dias, o uso de alguns antidepressivos
de desinibição da conduta facilita o risco suicida (NIETO & MANRIQUE, 2005).
A Terapia de continuação deve durar no mínimo seis meses para evitar a aparição dos
sintomas, manter revisões a cada dois meses durante o período assintomático, é preferível
reduzir progressivamente as doses no momento de suspender o tratamento para evitar
possíveis sintomas de retirada. Os sintomas que podem se manifestar após a retirada destes
medicamentos classificam-se em oito grupos: sintomas gripais, sintomas psíquicos, sintomas
gastrointestinais, alterações do sono, alterações do equilíbrio, alterações sensoriais, sintomas
extrapiramidais e outros sintomas. Estes sintomas aparecem habitualmente entre 1 e 4 dias
depois da redução das doses ou retirada do fármaco (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Em quase todos os casos, a interrupção brusca do antidepressivo depois de um
tratamento de mais de oito semanas, gera sintomas de abstinência que podem ser minimizados
com uma simples redução paulatina das doses, ao longo de no mínimo quatro semanas
(NIETO & MANRIQUE, 2005).
O Tratamento profilático deve ser mantido se mais de um episódio de depressão tiver
ocorrido nos últimos cinco anos, 78% dos pacientes sofrem ao menos uma recaída depois do
primeiro episódio e 20% apresentam vários episódios de repetição nos anos seguintes.
Durante o tratamento profilático devem ser utilizadas doses terapêuticas e preferencialmente
em dosagem única que facilite o cumprimento (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Os fármacos antidepressivos provocam reações importantes até em 5% dos pacientes.
Em geral, os antidepressivos que bloqueiam seletivamente a recaptação de serotonina
mostram menos efeitos secundários que os clássicos (PRATS & CEBRIÁN, 2002).
Nos tratamentos para a depressão com IMAO é muito importante que o paciente não
tome nenhum outro medicamento sem prescrição médica. Deve-se ter um cuidado especial
com os princípios ativos simpaticomiméticos, em geral, nenhuma classe de droga estimulante
pode ser associada (NIETO & MANRIQUE, 2005).
A interação mais estudada referente aos IMAO é com a tiramina, que se trata de um
simpaticomimético indireto que se encontra nos queijos fermentados, que penetra nas
terminações simpáticas, desloca a noradrenalina de seu ponto de fixação e a libera através de
um transportador, existe perigo de hepatotoxicidade e crises hipertensivas. Os IMAO também
aumentam a
meia-vida
de
anestésicos gerais,
sedantes,
álcool, antihistamínicos,
anticolinérgicos e opióides (PRATS & CEBRIÁN, 2002).
O uso de inibidores seletivos da recaptação de serotonina, em geral, produz anorexia e
intolerância gastrointestinal (PRATS & CEBRIÁN, 2002).
Os profissionais de saúde devem observar os medicamentos que podem provocar a
Síndrome Serotoninérgica, sozinhos ou em associação com outros agentes serotoninérgicos, e
ficarem alertas diante da aparição dos sintomas clínicos desta síndrome. Assim, os pacientes
que utilizam fármacos serotoninérgicos, incluindo Hipérico, devem ser alertados sobre as
características da síndrome (NIETO & MANRIQUE, 2005).
A Síndrome serotoninérgica é provocada por uma atividade serotoninérgica excessiva
do sistema nervoso central e periférico. Apresenta-se com mais freqüência associada à
utilização combinada de agentes serotoninérgicos, mas também pode aparecer com apenas um
fármaco (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Entre os fármacos que podem produzi-la se encontram os antidepressivos ISRS,
IMAO, antidepressivos tricíclicos, Mirtazapina, Venlafaxina, Lítio e Hipérico (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
Esta síndrome é uma situação clínica em que ocorre modificações da condição mental
(agitação, confusão, hipomania), hiperatividade autonômica (sudorese, diarréia, febre,
hipertensão, inquietude) e anomalias neuromusculares (falta de coordenação, tremor,
mioclonia, hiperreflexia). As manifestações clínicas vão desde tremor e diarréia, em casos
leves, até delírio, rigidez neuromuscular e hipertermia, em casos de risco de vida (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
Em geral, a aparição dos sintomas é rápida e os achados clínicos podem manifestar-se
nos primeiros minutos depois do consumo do fármaco. Freqüentemente, a síndrome
apresenta-se nas 24 horas seguintes a uma mudança no tratamento do paciente, seja por
aumento da dose ou pela adição de outro fármaco com atividade serotoninérgica (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
A maioria dos casos descreve a síndrome associada com o uso simultâneo de dois ou
mais agentes serotoninérgicos, em particular com antidepressivos inibidores da recaptação de
serotonina (NIETO & MANRIQUE, 2005).
A síndrome serotoninérgica é potencialmente grave, mas ao retirar a causa de sua
aparição ocorre um elevado grau de recuperação (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Para a prevenção da síndrome serotoninérgica é fundamental evitar os regimes
múltiplos de fármacos. Em caso de ser necessário utilizar vários destes produtos deve-se
estabelecer um protocolo para a detecção de eventuais interações (NIETO & MANRIQUE,
2005).
Embora a incidência de efeitos secundários do Hipérico seja baixa, este pode causar
moléstias gastrointestinais leves, secura de boca, nervosismo e urticária em algumas pessoas.
Pode também deixar a pele e os olhos mais sensíveis à luz, assim, as pessoas de pele clara
devem limitar sua exposição ao Sol enquanto o administrem e também devem usar proteção
para os olhos (NIETO & MANRIQUE, 2005).
O Hipérico é contra-indicado em pessoas com antecedentes de enfermidade bipolar ou
de hipomania, pois podem desencadear um episódio de mania (NIETO & MANRIQUE,
2005).
Numerosos medicamentos podem interagir com o Hipérico: anticoncepcionais orais,
antidepressivos tricíclicos, Fluoxetina, Digoxina, Sertralina, Aminofilina, etc. É inconveniente
usar Piroxicam como analgésico antiinflamatório durante tratamento com Hipérico, além de
Omeprazol como protetor do aparelho digestivo que perde a sua eficácia (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
O teste de Hamilton pode ser utilizado, na Atenção Farmacêutica, como instrumento
válido para medir a efetividade da farmacoterapia em pacientes com depressão. O teste é
composto de três escalas. A escala I valoriza a evolução da depressão propriamente dita, a
escala II valora o estado de ansiedade e a escala III valora o estresse. Este teste não tem
caráter diagnóstico, apenas serve para avaliar a evolução de um paciente e a efetividade de
sua medicação (PRATS & CEBRIÁN, 2002).
2.3.2.3
Transtorno Bipolar
O Transtorno Bipolar, antigamente denominado Psicose maníaco-depressiva, é um
transtorno caracterizado pela alteração do estado de ânimo, no pólo depressivo ou no eufórico
(NIETO & MANRIQUE, 2005).
É importante que os pacientes e seus familiares conheçam e reconheçam os sintomas
que habitualmente aparecem nos primeiros momentos das descompensações; são os chamados
sintomas guia ou preliminares e que permitem acudir ao especialista no início do quadro
facilitando muito o adequado manejo da situação (NIETO & MANRIQUE, 2005).
As alterações no ritmo habitual do sono, na sensação de energia, na comunicação com
os demais, na excessiva preocupação com os problemas são alguns destes sintomas guias
(NIETO & MANRIQUE, 2005).
As recomendações fundamentais para a prevenção de recaídas no transtorno bipolar
são: evitar substâncias tóxicas que alterem o equilíbrio anímico (álcool, cocaína,
anfetaminas), evitar alterações significativas no ritmo do sono e evitar situações de alto
estresse (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Em relação ao tratamento farmacológico os chamados estabilizadores do humor são as
medicações que se deve utilizar em longo prazo (em muitas ocasiões de maneira indefinida) e
que precisam de controles analíticos a cada intervalo de tempo. Conhecer adequadamente seus
efeitos secundários e possíveis interações é importante para evitar possíveis intoxicações
involuntárias (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Com o Lítio é necessário medir em intervalos de tempo sua concentração sanguínea
para determinar a dose adequada para os níveis que se encontram na faixa terapêutica e não
tóxica, assim como uma análise geral e de função tireoideana e renal como controle periódico
(NIETO & MANRIQUE, 2005).
Muitos pacientes acreditam que o transtorno bipolar é devido a um déficit de Lítio no
sangue, é necessário explicar lhes que o lítio é uma substância que habitualmente não se tem
no organismo, embora seja eficaz no tratamento (NIETO & MANRIQUE, 2005).
O adequado cumprimento do tratamento e o seguimento com o psiquiatra são
fundamentais, os quais se conseguem quando o paciente tem uma boa consciência de sua
enfermidade. Quando os episódios de euforia aparecem alguns pacientes se sentem tão
onipotentes que abandonam todo tratamento e seguimento, piorando muito o prognóstico
(NIETO & MANRIQUE, 2005).
2.3.2.4
Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas
As demências são enfermidades progressivas que se desenvolvem com dois grupos de
sintomas; os cognitivos são os mais conhecidos e afetam funções fundamentais como a
memória, a orientação, a linguagem, capacidade de manipulação de objetos, etc. Os
denominados sintomas psicológicos e do comportamento são menos citados, mas muito
freqüentes. Os mais importantes são os afetivos, psicóticos, por ansiedade, psicomotores, de
personalidade, sexuais e diversas mudanças do nível mais básico da complexidade mental.
Todos estes sintomas são especialmente relevantes, pois determinam a qualidade de vida do
paciente, de seus familiares e cuidadores (NIETO & MANRIQUE, 2005).
A abordagem terapêutica da demência consiste na utilização de medidas não
farmacológicas, com diferentes níveis estruturais e o emprego de fármacos que podem
suprimir ou aliviar os sintomas (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Do ponto de vista farmacológico, a prática clínica se orienta fundamentalmente no uso
do tratamento de base, com um inibidor da acetilcolinesterase nas fases leves e moderadas ou
de Memantina nas fases avançadas. Podem ser necessários ansiolíticos, antidepressivos e
neurolépticos. Atualmente a introdução de novos medicamentos antidepressivos e
neurolépticos, com perfis de ação diferentes e menos efeitos secundários, têm representado
um avanço substancial no manejo dos sintomas, sobretudo do ponto de vista da eficácia,
tolerância e a maior possibilidade de aplicação do tratamento (NIETO & MANRIQUE, 2005).
A primeira questão é diferenciar os sintomas iniciais da demência do discreto declive
cognitivo que se associa à idade. Diante da suspeita, o farmacêutico deve orientar a família a
procurar um médico para que sejam realizados os testes pertinentes e para que se possa
diferenciar um processo de envelhecimento normal de um início de enfermidade (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
O tratamento farmacológico de base se instala em longo prazo. Contudo, o tratamento
sintomático a base de ansiolíticos, neurolépticos ou antidepressivos deve durar somente
enquanto durar os sintomas e não deve manter-se de forma indefinida se a sintomatologia não
o justifica (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Geralmente os conselhos são mais dirigidos à família e cuidadores que ao próprio
enfermo, embora nas fases leves seja possível orientar diretamente o paciente (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
O farmacêutico deve fazer uma série de orientações aos familiares dos pacientes com a
enfermidade de Alzheimer ou outras demências. Entre elas: A família deve procurar ajuda em
associações locais de familiares de pacientes com Alzheimer para que recebam orientações e
o apoio necessário; os familiares devem se lembrar que não estão enfrentando uma pessoa, e
sim uma enfermidade e que o paciente não é culpado de seus comportamentos (NIETO &
MANRIQUE, 2005).
A depressão pode complicar os problemas de uma pessoa com Mal de Alzheimer.
Assim, é importante ficar atento aos sintomas de depressão, incluindo mudanças no sono ou
apetite e pensamentos de morte ou suicídio. Devem-se manter atividades agradáveis e
contatos sociais para ajudar a evitar a depressão. Em caso de suspeita de depressão, o familiar
deve falar ao médico ou a outro profissional da área de saúde (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Caso o paciente se negue a comer deve-se: Verificar se existe alguma dificuldade para
que ele o faça: próteses em mal estado, lesões na boca, etc; procurar alimentos mais triturados
e que o momento da refeição seja agradável e relaxado; não discutir com o paciente nem
forçá-lo a se alimentar; fixar um horário de alimentação constante para facilitar o hábito; etc
(NIETO & MANRIQUE, 2005).
Muitas vezes o paciente quer comer continuamente, esta situação pode ocorrer devido
ao aborrecimento, por isso é muito importante que o ele tenha sempre atividades cotidianas
programadas para realizar. Além disso, outras ações podem ser praticadas: oferecer-lhe
porções pequenas; alimentação de baixa caloria; não discutir com o paciente; servir a comida
morna e utilizar alimentos de fácil digestão (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Quando o paciente se mostra hiperativo ou apresenta perambulação constante, situação
própria das primeiras fases deve-se: procurar uma atividade física normal; averiguar se o
paciente realiza estes comportamentos por aborrecimento e tentar evitá-lo oferecendo
alternativas que lhe interesse; mostrar carinho e presença mediante o tato e carícias; mas se
apesar destas medidas a perambulação persistir, procure um calçado cômodo e silencioso,
trace uma rota segura, como um corredor, e deixe-o realizar (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Caso o paciente se negue ao asseio: averiguar a causa e tentar buscar uma solução sem
provocar discussões e nem forçá-lo ao asseio; procurar todas as facilidades para sua execução;
incrementar as medidas de segurança; procurar tranqüilidade, evitar ruídos, pressa; esforçar-se
para conseguir intimidade, fazendo com que se sinta cuidado e não vigiado; fazer da higiene
um ato rotineiro; realizar comentários positivos acerca dele quando estiver limpo, mostrar-se
particularmente afetivo quando aparece asseado e bem vestido. Abster-se de fazer
comentários quando não realiza as medidas de asseio (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Transtornos do sono podem aparecer devido a mudanças de medicação, de ambiente,
da própria enfermidade, a manifestações depressivas e ao tipo de vida que leve o enfermo. A
recuperação de um adequado padrão de sono noturno é uma tarefa difícil e geralmente
apresenta pouco êxito, entretanto, devem-se colocar em ação todas as ações conhecidas: Fazêlo sentir que sempre haverá alguém ao seu lado para acompanhá-lo e disposto a ajudá-lo
embora esteja doente; Verificar se todas as suas necessidades básicas foram satisfeitas como
alimentação, higiene, comunicação, entretenimento, etc, cuidando para que ao deitar esteja
limpo, sem fome, com uma roupa cômoda e adequada e um leito confortável; Fazer com que
permaneça na cama aproximadamente sempre o mesmo tempo; Caso se levante desorientado
no meio da noite e decida realizar uma atividade imprópria para o lugar e hora, não tentar
fazê-lo raciocinar acerca disso, entretê-lo com alguma outra atividade e tentar com carinho
que ele volte para cama (NIETO & MANRIQUE, 2005).
O paciente pode apresentar quadro de ilusões ou alucinações. As ilusões são distorções
visuais, olfativas, auditivas, gustativas e/ou táteis, na percepção de coisas presentes. As
alucinações são distorções, que também podem ser visuais, olfativas, auditivas, gustativas
e/ou táteis, neste caso, na percepção de coisas não presentes (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Diante de uma percepção distorcida o enfermo pode raciocinar de muitas maneiras,
sendo necessário avaliar o alcance destas. Cada distorção pode ter uma abordagem diferente,
mas acredita-se que tenha utilidade a recomendação de medidas gerais como: Não tentar
argumentar com ele explicando que o seu comportamento é absurdo; Não lhe dê razão, mas se
não houver perigo, deixe que disfrute um pouco delas; Quando a percepção errônea ocorre em
um lugar público e causa assombro, risos, confusão e medo entre as pessoas que ali estão, o
cuidador não deve se envergonhar do comportamento do enfermo, ele deve tentar explicar o
transtorno que este padece. É importante que o cuidador diferencie ilusões e alucinações, e
assim informe o médico, já que as alucinações são susceptíveis ao tratamento farmacológico
(NIETO & MANRIQUE, 2005).
As mudanças de caráter são freqüentes ao longo da enfermidade, mas, sobretudo em
sua fase inicial, podendo ocorrer que repentinamente e sem causa aparente o enfermo se
mostre agitado e/ou agressivo, sendo neste momento a comunicação com ele particularmente
importante (NIETO & MANRIQUE, 2005).
Assim, é útil seguir recomendações como: Averiguar a causa que tenha desencadeado
o comportamento, como frio, fome, situações estressantes, uma conversa que tenha
interpretado mal, e em seguida tente evitar tais fatores; Comece a tocá-lo e a acariciá-lo
lentamente e nas zonas mais distais; Converse muito devagar e tente acalmá-lo; Caso a
agressão seja perigosa aproximar, sem ser visto, detê-lo e retirá-lo do lugar de perigo (NIETO
& MANRIQUE, 2005).
3. MATERIAL E MÉTODO
3.1 O município de Caxambu – Objeto do Estudo
A cidade de Caxambu está localizada na região sul de Minas Gerais, no Planalto da
Mantiqueira, há aproximadamente 360 km de Belo Horizonte, 265 km do Rio de Janeiro, 300
km de São Paulo e 950 km de Brasília. Sua população estimada em 01/07/2005, segundo
IBGE, é de 23.782 habitantes.
No período de 1991-2000, Caxambu apresentou uma taxa média de crescimento
populacional anual de 1,48% positiva; 51,37% da população do município é do sexo
feminino. O envelhecimento de sua população é maior que o registrado no Estado, fato que
pode ser explicado, segundo a Prefeitura, devido à cidade ser uma “Estação de Águas”, o que
propicia a atração dessa faixa etária da população para o município. Na última década, foi
registrado um significativo aumento da população escolar em todas as faixas etárias e a
economia apresentou um crescimento acima do estadual. Em termos de infra-estrutura,
Caxambu está acima do padrão do Estado, aproximando-se da universalização dos serviços de
água, energia elétrica e coleta de lixo.
O Município possui Unidade de Vigilância Sanitária, Unidade de Saúde da Família,
Policlínica e Ambulatório de Unidade Hospitalar com 58 leitos. Em 2004, a população
coberta pelo PSF foi de 18,3% da população total, 100% das crianças estavam com esquema
vacinal básico em dia e a cobertura de consultas de pré-natal era de 98,2%. Neste mesmo ano
foram realizados 304.896 procedimentos de saúde, destes 54% dos procedimentos em
Atenção Básica, 44,6% dos procedimentos especializados e 1,3% de procedimentos
assistenciais de alta complexidade, segundo dados do Ministério da Saúde (DATASUS). Em
2005, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, foram feitos 623.521 procedimentos, destes
67,8% foram destinados à Atenção Básica e 32,2% a procedimentos de média e alta
complexidade. Foram dispensadas pela farmácia básica 5.696 receitas de psicotrópicos, sendo
que das 10.648 consultas médicas pagas pela Prefeitura, somente uma foi na especialidade
psiquiatria.
O município de Caxambu não apresenta nenhum tipo de acompanhamento ou
programas de auxílio aos portadores de transtornos mentais, além da medicação dispensada.
Assim, os pacientes acometidos por patologias psiquiátricas não têm alternativas quanto as
suas possibilidades de retomada de vida, não desempenham nenhum tipo de atividade e ficam
às margens da sociedade. Em média dois pacientes por mês são encaminhados aos hospitais
psiquiátricos da região, geralmente Alfenas e Juiz de Fora, e para isso a Prefeitura Municipal
contribui cedendo o transporte.
Neste contexto, questiona-se como tem sido feito o acompanhamento e a avaliação
destes pacientes em relação à medicação de que fazem uso e ao desenvolvimento de suas
patologias. A questão da medicação fica mais evidente quando percebemos seus números
dispensados seja na farmácia básica, seja na unidade de assistência farmacêutica (UAF) do
município. Abaixo seguem as tabelas com as médias mensais dos números de medicamentos
psicotrópicos dispensados pelo município, em 2005.
Tabela 1: Média mensal do número de medicamentos, em comprimidos, dispensados em
2005.
Medicamentos
Média
Medicamentos
Média
Alprazolam 0,5mg
553
Haloperidol 1mg
373
Amitriptilina 25mg
3984
Haloperidol 5mg
1215
Biperideno 2mg
1701
Imipramina 10mg
525
Bromazepam 3mg
2030
Imipramina 25mg
802
Carbamazepina 200mg
4464
Lamotrigina
270
Carbidopa/Levodopa
506
Levodopa 200mg + Benserazida 50mg
180
Carbonato de Lítio 300mg
568
Levomepromazina 25mg
713
Citalopram 20mg
466
Lorazepam 2mg
800
Clobazam 10mg
380
Olanzapina 5mg
30
Clonazepam 0,5mg
1170
Olanzapina 10mg
120
Clonazepam 2mg
2573
Pramipexol 0,25mg
90
Clorpromazina 100mg
328
Risperidona 1mg
60
Clozapina
585
Risperidona 2mg
510
Diazepam 10mg
5678
Rivastigmina 4,5mg
120
Fenitoína 100mg
2436
Rivastigmina 6mg
30
Fenobarbital 100mg
2923
Topiramato 100mg
180
Gabapentina 300mg
90
Valproato de Sódio 500mg
889
Tabela 2: Média mensal do número de medicamentos, em frascos, dispensados em 2005.
Medicamentos
Média
Carbamazepina 2%
53
Fenobarbital 4%
33
Haloperidol decanoato 50mg/mL
17
Oxcarbazepina 6%
10
A fim de proporcionar aos portadores de transtornos psiquiátricos um tratamento bem
assistido e que lhes possibilite a reinserção na sociedade é que se propõe a implantação de um
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) no município de Caxambu.
O setor de Atenção de Farmacêutica que compõe o CAPS, a se quer implantado,
possuí a responsabilidade de auxiliar efetivamente o tratamento dos pacientes, principalmente
no que se refere ao acompanhamento da farmacoterapia, ao uso racional dos medicamentos, e
auxílio aos familiares quanto ao gerenciamento do tratamento.
3.2 O CAPS a ser implantado
Os CAPS devem ter um ambiente terapêutico e acolhedor, que possa incluir pessoas
em situação de crise, muito desestruturadas e que não consigam, naquele momento,
acompanhar as atividades organizadas da unidade. O sucesso do acolhimento da crise é
essencial para o cumprimento dos objetivos de um CAPS, que é atender aos transtornos
psíquicos graves e evitar as internações (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Os CAPS são classificados em três níveis: CAPS 1, CAPS 2 e CAPS 3, definidos por
ordem crescente de porte, complexidade e abrangência populacional. As três modalidades de
serviços cumprem a mesma função no atendimento público em saúde mental, devendo se
constituir em serviço ambulatorial de atenção diária. Deverão estar capacitados para realizar
prioritariamente o atendimento de pacientes com transtornos mentais graves e persistentes em
sua área territorial, em regime de tratamento intensivo, semi-intensivo e não-intensivo
(ANDREOLI et al, 2004).
O CAPS que se pretende implantar corresponde ao CAPS 1. Este possui capacidade
operacional para atendimento em municípios com população entre 20.000 e 70.000
habitantes. Deve funcionar das 8 às 18 horas e de segunda a sexta-feira. Os CAPS devem
contar com espaço próprio e adequadamente preparado para atender à sua demanda
específica, sendo capazes de oferecer um ambiente continente e estruturado (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2004).
Os usuários que permanecerem um turno de quatro horas nos CAPS devem receber
uma refeição diária; os assistidos em dois períodos (oito horas), duas refeições diárias. A
freqüência dos usuários dependerá de seu projeto terapêutico. É necessário haver
flexibilidade, podendo variar de cinco vezes por semana com oito horas por dia a, pelo menos
três vezes por mês (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
O CAPS - Caxambu deverá conter, no mínimo, os seguintes recursos físicos: dois
consultórios para atendimento individual (consultas médicas, terapias com psicólogos,
entrevistas e Atenção Farmacêutica); uma sala para atividades em grupo e reuniões entre os
profissionais; espaço de convivência; uma oficina; um refeitório (deve estar preparado para
oferecer refeições de acordo com o tempo de permanência de cada paciente na unidade);
sanitários; área externa para oficinas, recreação e esportes, e ainda uma sala destinada ao
acondicionamento da medicação e desenvolvimento de atividades da Assistência
Farmacêutica.
Os profissionais que trabalham nos CAPS possuem diversas formações e integram
uma equipe multiprofissional. Os profissionais de nível superior são: enfermeiros, médicos,
psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, pedagogos, professores de educação
física ou outros necessários para as atividades oferecidas nos CAPS. Os profissionais de nível
médio podem ser técnicos e/ou auxiliares de enfermagem, técnicos administrativos,
educadores e artesãos. Também contam com uma equipe de limpeza e de cozinha
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
A equipe técnica mínima de atuação no CAPS - Caxambu para atendimento de 20
pacientes por turno, tendo como limite máximo 30 pacientes/dia, em regime de atendimento
intensivo, deve ser composta por:
um médico psiquiatra ou com formação em saúde mental,
um farmacêutico,
um enfermeiro,
um psicólogo,
um terapeuta ocupacional,
um assistente social,
dois técnicos e/ou auxiliares de enfermagem,
um técnico administrativo,
um técnico educacional e
um auxiliar de serviços gerais.
O papel da equipe técnica é fundamental para a organização, desenvolvimento e
manutenção do ambiente terapêutico. A duração da permanência dos usuários no atendimento
dos CAPS depende de muitas variáveis, desde o comprometimento psíquico do usuário até o
projeto terapêutico traçado, e a rede de apoio familiar e social. O importante é saber que o
CAPS não deve ser um lugar que desenvolve a dependência do usuário ao seu tratamento por
toda a vida. O processo de reconstrução dos laços sociais, familiares e comunitários, que vão
possibilitar a autonomia, deve ser cuidadosamente preparado e ocorrer de forma gradativa
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
A necessidade de medicação de cada usuário do CAPS deve ser avaliada
constantemente com os profissionais do serviço. Os CAPS podem organizar a rotina de
distribuição de medicamentos e/ou assessorar usuários e familiares quanto à sua aquisição e
administração, observando-se o uso diferenciado e de acordo com o diagnóstico e com o
projeto terapêutico de cada um (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Os equipamentos necessários à implantação são referentes ao mobiliário, materiais
técnicos específicos, materiais de consumo das oficinas, televisão, DVD, aparelho de som,
entre outros. Além disso, outros fatores essenciais ao funcionamento, como veículo de
transporte, alimentação e infra-estrutura.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os custos para a aquisição dos recursos financeiros necessários à construção do CAPS
foram obtidos junto a Prefeitura Municipal. Quanto ao mobiliário e eletrodomésticos, o
levantamento de custos foi efetuado no comércio local e desta forma, estão sujeitos a
variações.
O mobiliário inclui mesas e cadeiras para os consultórios; um armário de aço para
armazenamento dos medicamentos; uma cama hospitalar; uma mesa, fogão e geladeira para a
cozinha; um jogo de sofá; cadeiras, mesa, televisor, aparelho de som, aparelho de DVD e
estante para a oficina.
Os gastos estimados com a construção do CAPS e com o mobiliário mínimo para a sua
implementação estão dispostos nas duas tabelas a seguir.
Tabela 3: Custos estimados com a construção do CAPS no município de Caxambu.
Produto
Aquisição do terreno 300 m2
Investimento para 250 m2 de área
Preço em Reais
R$ 12.000,00 a 15.000,00
R$ 175.000,00
construída
Segundo informações da Prefeitura Municipal de Caxambu, esta não possui nenhum
terreno disponível para a construção do CAPS. Assim, é necessária a aquisição de um para
este fim. O custo de um terreno no município foi estimado pelo mercado imobiliário local e a
variação de preço ocorre de acordo com a localização do terreno.
Uma alternativa apontada pela Prefeitura está pautada na Lei Federal 6766/79, que
dispõe sobre o parcelamento do solo urbano. Pela mencionada lei, na aprovação de um
loteamento no município, o loteador é obrigado a reservar um percentual, a ser definido pela
lei municipal, ao município para a implantação de equipamentos públicos comunitários e
urbanos. Assim, a Prefeitura pode conseguir o terreno necessário à construção do CAPS sem
nenhum custo.
Quanto ao custo e área de construção, ambos foram estimados pelo engenheiro
responsável da Prefeitura. A área proposta por ele pode abrigar um CAPS bastante amplo e
bem divido, inclusive com o espaço de recreação e esportes necessários aos pacientes. O
cálculo da construção feito por ele foi baseado em parâmetros da Vigilância Sanitária, ou seja,
considerando algumas exigências em relação aos espaços de saúde.
Tabela 4: Custos do mobiliário necessário.
Material
Quantidade
Preço em Reais
Mesa para consultório com duas gavetas
4
R$ 209,00
Cadeira simples (unidade)
20
R$ 72,00
Cama hospitalar manual
1
R$ 900,00
Armário de aço para os medicamentos
1
R$ 350,00 a 450,00
Estante de aço para oficina (unidade)
3
R$ 90,00 a 110,00
Jogo de mesa com cadeiras para cozinha
1
R$ 299,00 a 399,00
Fogão quatro bocas
1
R$ 319,00
Geladeira
1
R$ 835,00
Aparelho de som
1
R$ 289,00
Televisão 20”
1
R$ 425,00
Aparelho de DVD
1
R$ 299,00
Jogo de sofá simples
1
R$ 399,00
Computador e impressora
Os custos dos produtos apresentados são aproximados e foram obtidos nos
estabelecimentos comerciais do município. Provavelmente, os valores conseguidos pela
Prefeitura serão menores devido ao processo de licitação que esta deverá instaurar.
De acordo com estes valores, o custo com o mobiliário necessário ao CAPS seria
aproximadamente R$ 5289,00 considerando duas mesas para consultório, oito cadeiras e duas
estantes, além de cada um dos produtos listados acima com os menores preços encontrados.
Trata-se de um mobiliário básico que pode ser incrementado posteriormente conforme as
necessidades. CALCULAR DE NOVO
Alguns equipamentos técnicos também devem ser adquiridos, como no mínimo um
aparelho para aferir a pressão, cujo preço está entre R$ 90,00 e 120,00.
A Portaria n° 1455/GM de 31 de julho de 2003 define incentivo financeiro da ordem
de R$ 20.000,00 para cada CAPS I, assim, o município dispõe deste recurso para a compra
dos materiais e equipamentos necessários à sua manutenção.
Após a implantação do CAPS a Prefeitura também terá que manter o quadro de
profissionais necessários ao seu funcionamento. A tabela abaixo lista os profissionais e seus
honorários.
Tabela 5: Profissionais necessários ao CAPS e seus honorários.
Profissionais
Honorários em Reais
Carga horária semanal
Médico psiquiatra
R$ 987,05
20 horas
Farmacêutico
R$ 1144,42
30 horas
Terapeuta Ocupacional
R$ 987,05
20 horas
Psicólogo
R$ 987,05
20 horas
Enfermeiro
R$ 987,05
20 horas
Assistente social
R$ 1144,42
30 horas
Auxiliar de enfermagem
R$ 393,38
30 horas
Auxiliar de serviços gerais
R$ 350,00
40 horas
Auxiliar administrativo
R$ 350,00
30 horas
A Prefeitura Municipal não possui em seu quadro de funcionários: médico psiquiatra e
terapeuta ocupacional. Entretanto, qualquer especialidade médica possui a mesma
remuneração, e quanto ao terapeuta ocupacional, o cálculo de sua remuneração é baseado nas
demais em 20 horas semanais de trabalho.
Assim, o custo total mensal com a remuneração dos profissionais será de R$ 7723,80
considerando dois auxiliares de enfermagem e um profissional de cada categoria citada.
O custo das oficinas terapêuticas que devem existir dentro do CAPS não pôde ser
calculado, pois existem diversos tipos de oficinas que podem ser implantadas, e estas vão
depender de um estudo acerca das pessoas que vão utilizar o serviço e das possibilidades
financeiras da administração municipal.
Outros custos necessários ao funcionamento do serviço também são difíceis de serem
contabilizados. Em relação à alimentação dos usuários, o custo mensal vai depender do
número de usuários bem como do regime adotado por cada um (intensivo, semi-intensivo,
não-intensivo). Os produtos higiênicos, de consumo, a infra-estrutura de manutenção do
serviço (água e esgoto, luz, telefone), também são difíceis de serem observados inicialmente.
Quanto à medicação, também dependerá da clientela que será assistida pelo CAPS,
talvez não sejam necessários mais recursos com medicamentos do que aqueles já empregados
pela Secretaria de Saúde com a Farmácia Básica. Quanto aos medicamentos excepcionais,
estes são fornecidos pela UAF e, portanto, não vão significar gastos adicionais ao município.
A princípio, pode-se verificar que o custo efetivo do município será com a construção
do espaço físico onde funcionará o CAPS, pois os recursos para a aquisição dos equipamentos
e materiais necessários podem ser conseguidos junto ao Governo Federal e o terreno pode ser
viabilizado da maneira já mencionada.
Após sua construção e implementação fica a cargo do município manter o CAPS com
os profissionais competentes, a infra-estrutura e os equipamentos e materiais de consumo
necessários.
5- CONCLUSÃO
Diante dos dados estudados e das perspectivas discutidas o que se observa é a
necessidade de implantação de um Centro de Atenção Psicossocial no município de Caxambu
- MG com Setor de Atenção Farmacêutica. Os custos referentes à sua implantação não são
impossíveis de serem viabilizados e representam pouco diante da transformação que este
serviço poderá ocasionar no sistema de saúde do município e na vida das pessoas acometidas
por patologias psiquiátricas.
Além disso, constata-se após todas as discussões a importância do profissional
farmacêutico dentro deste Centro de Cuidados, onde a adesão à medicação e o seu
acompanhamento são de extrema relevância. Este profissional constitui um agente
fundamental na equipe de Saúde Mental dos CAPS de todo o País.
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