WITTGENSTEIN: SOBRE A AUTORIDADE DA PRIMEIRA PESSOA

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Revista Filosofia Capital
ISSN 1982 6613
Vol. 8, Edição 15, Ano 2013.
WITTGENSTEIN: SOBRE A AUTORIDADE DA
PRIMEIRA PESSOA
WITTGENSTEIN: ON THE AUTHORITY OF THE
FIRST PERSON
GALLI, Gabriel Cardoso1
RESUMO
Neste trabalho, debruço-me sobre as reflexões de Wittgenstein chamadas (erroneamente) de
“argumento da linguagem privada”. O problema a ser investigado se apresenta a partir da
constatação de uma assimetria entre a autoridade da primeira e da terceira pessoa, quanto ao
conhecimento do conteúdo semântico de termos que designam estados mentais. Dada a
amplitude do problema, proponho-me os seguintes passos: primeiro, exporei em que se
constitui o problema; em seguida, apresentarei o caminho da resposta que Donald Davidson
dá ao problema; em terceiro, eu adentro nas reflexões de Wittgenstein, analisando-as. Em
quarto lugar, eu retorno Davidson, criticando sua resposta ao problema, à luz de Wittgenstein,
anunciando, ao término, uma chave de leitura para uma possível interpretação naturalista da
obra tardia de Wittgenstein.
Palavras-chave: Wittgenstein; Linguagem; Estados mentais.
ABSTRACT
In this work, I lean on the reflections of Wittgenstein called (erroneously) as "private
language argument." The problem to be investigated is presented from the observation of an
asymmetry between the authority of the first and third person, as knowledge of the semantic
content of terms that describe mental states. Given the extent of the problem, I propose
execute the following steps: first, to expound on what constitutes a problem and then present
the way of Donald Davidson gives answer to the problem, third, I run through the reflections
of Wittgenstein, analyzing them. Fourthly, I return to Davidson, criticizing his response to the
problem in the light of Wittgenstein, announcing at the end, a key reading for a possible
naturalistic interpretation of Wittgenstein's later work.
Keywords: Wittgenstein; Language; Mental states.
1
Pesquisador vinculado PET-Filosofia da UFPR - Departamento de Filosofia, Editor-associado dos Cadernos Pet Filosofia,
Estudante de Direito do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba). E-mail: [email protected].
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Introdução
Para compreendermos o problema,
devo fazer algumas considerações iniciais.
Estados mentais devem ser, aqui,
entendidos como atitudes proposicionais,
do tipo aSp (leia-se: o indivíduo A
sabe/crê/espera/teme/deseja que p, não
sendo p necessariamente uma coisa 2). Isso
quer dizer que estados mentais serão
tratados como uma ocorrência intencional
de verbos psicológicos. Porém, em que
medida há, sobre esta ocorrência, uma
“autoridade da primeira pessoa”? Essa
questão se baseia em uma intuição: parece
que, quando uma pessoa diz que sente dor,
ninguém mais do que ela deve saber se ela
sente dor ou não; afinal, trata-se de sua dor,
ou seja, é algo que tal pessoa possui e ao
qual, em certos casos, ela tem acesso
epistêmico privilegiado. Ou seja, parece
que, enquanto alguém que atribui a mim
“sentir dor” pode estar equivocado sobre
isso – pois posso estar mentindo, fingindo,
etc. –, eu nunca desconheço se o que eu
sinto é dor ou não. Neste sentido, parece
haver um privilégio epistêmico da primeira
pessoa frente aos seus estados mentais a ela
atribuídos.
Para Donald Davidson, quando certa
pessoa enuncia que tem uma crença, há
uma presunção dos ouvintes de que ela não
está errada, e tal presunção não se vincula a
atribuições de estados mentais dos ouvintes.
Nesta medida, a explicação da autoridade
da primeira pessoa estaria relacionada à
exigência de interpretação, por parte dos
ouvintes, do proferimento da pessoa –
“sinto dor”. Já para Wittgenstein, a própria
confissão de uma pessoa de que ela Sp é um
critério lógico (e, como veremos, falível)
para a atribuição, em terceira pessoa, de
atitudes proposicionais – ou seja, é um
critério para os ouvintes afirmarem que
2
Daqui em diante, usarei apenas aSp para me referir à
atitude proposicional de certa pessoa frente a algo.
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aSp3.
Ambos os filósofos entendem que a
habilidade de uma pessoa dizer que alguém
Sp não repousa no alegado fato de seu
“estar pensando/crendo/esperando que p”
envolver a existência de algum objeto
diante da mente, no qual ela lê o que é que
ela pensa/crê e, a partir disso, estabelece o
referente, determinando o objeto de sua
atitude proposicional. Mas, contra quem
Davidson
e
Wittgenstein
estão
argumentando? É justamente contra a
posição filosófica que implica uma
linguagem fenomênica privada sobre
estados mentais. Vejamos, de início, quais
as teses que caracterizam esta posição.
Desenvolvimento
Quando fala em uma linguagem
privada, Wittgenstein está pensando em
uma linguagem com uma estrutura
semântica referencial, onde as palavras são
expressões referenciais de sensações
imediatas. Neste sentido, somente aquele
que tem o referente pode conhecê-lo, dado
que, aquilo no lugar do qual a expressão
está só é dado à pessoa que está usando a
expressão. Isso parece um problema, pois,
para conhecer aquilo que estou dizendo, por
exemplo, por “dor”, outra pessoa deveria
ter uma dor quantitativamente idêntica à
minha. Porém, “nenhum outro pode ter
minha representação (...). Nenhum outro
tem a minha dor”4 [FREGE, 2002, p.25].
Os problemas disso decorrente, segundo
Wittgenstein, são duas teses contraintuitivas: <i> a mente é epistemicamente
privada (sobre outras pessoas podemos
apenas conjecturar) e; <ii> não podemos
nos comunicar por meio de nossa
3
Segundo Hacker, 2005, p. 82, a explicação de
Wittgenstein acerca da autoridade da primeira pessoa é
gramatical. Adiante, retomarei este ponto.
4
Para Frege, representações só podem ter um, e apenas
um portador, pois são logicamente não compartilháveis.,
de tal modo que, ainda que outra pessoa pudesse penetrar
em minha mente, as representações à quais ela teria acesso
seriam as suas próprias e não as minhas.
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linguagem psicológica.
Parece que uma boa explicação para
os significados dos termos psicológicos é
apresentada pela seguinte imagem5 da
natureza de nossa linguagem psicológica:
conseguimos expressar sentenças sobre
nossos estados mentais, utilizando termos
psicológicos, porque dotamos tais termos
de significado através de definição
ostensiva “interna” – ou seja, definimos o
referente através de definição ostensiva
interna. Porém, parece implicar a
possibilidade do
erro
maciço
na
comunicação de termos psicológicos. Isto
porque, poderia ser o caso que eu
“apontasse” (por introspecção) para um
estado mental A quando sentisse dor, para
dizer “Isto que sinto é dor”, e outra pessoa
“apontasse” para um estado mental B; a
palavra “dor”, neste caso, poderia significar
coisas completamente distintas, de tal modo
que poderia ocorrer que sempre fosse
assim, com todos os termos psicológicos
que definimos ostensivamente, e não
haveria nenhum critério para sanar tal erro,
dado que o referente seria um estado mental
privado6.
A estratégia de Wittgenstein para
responder a esta tese contra-intuitiva é
negar que nos referimos aos estados
internos a partir de uma definição ostensiva
“interna”. Se fosse o caso, poderíamos nos
perguntar: “como sabemos que estamos
assumindo o mesmo significado quando
falamos em primeira pessoa e em terceira
pessoa sobre predicados psicológicos?”,
sem obtermos qualquer resposta. Tendo em
vista este raciocínio, a definição ostensiva é
5
Wittgenstein utilize-se da expressão “imagem da
natureza da linguagem” em vários momentos das
Investigações Filosóficas e das Observações Sobre a
Filosofia da Psicologia. Tal expressão refere-se, na
maioria das vezes, a explicações sobre como aprendemos
a linguagem, como se dá a determinação do sentido dos
termos – neste sentido, a explicação dada por Agostinho,
conforme a citação que inicia as Investigações, seria uma
imagem da natureza da linguagem.
6
Seguindo Peter Hacker, em Insight and Illusion (1997),
entendo que as teses sobre a linguagem defendidas por
John Locke implicam uma linguagem privada, entendida
tal como aqui expus.
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posta de lado por Wittgenstein, quanto ao
problema da linguagem privada, pois não
dá conta do modo como expressões
contendo termos psicológicos significam.
Porém, surge a necessidade de um
novo olhar sobre a significação, a fim de
tratar do modo como termos psicológicos
significam. Para isso, Wittgenstein se
baseia no uso que as palavras possuem, a
fim de identificar seu significado. Assim,
ele observa que o comportamento possui o
papel de tornar expresso o “interno” (ou
estados internos/mentais),
Para Wittgenstein, o comportamento
fornece critérios lógicos falíveis para que
afirmemos que alguém está sentindo,
percebendo algo, recordando, etc. Ou seja,
dentre outras coisas, é por ele que
percebemos atitudes proposicionais – “A
acredita/pensa que p”. Wittgenstein não
afirma, no entanto, que nunca utilizamos o
modo ostensivo de definição de termos. Ele
nega, isto sim, que possamos expressar
sentenças sobre estados psicológicos,
dotando expressões de significado as
expressões de estados mentais de modo
ostensivo, dado a problemática acima
apresentada.
O passo de Wittgenstein, então, é
procurar mostrar que não é a partir da
primeira pessoa – através do uso de uma
espécie de “sentido interno” como a
introspecção – que eu estou legitimado para
utilizar termos psicológicos para falar de
meus estados internos, e inferir que os
outros falam da mesma coisa que eu; o
ponto é: não é isso que fazemos para
atribuir o mesmo significado a expressões
como “Estou com dor”. Wittgenstein
considera um erro, um mau uso do termo,
dizer que “eu sei que tenho dor”. Por trás
disso está a seguinte posição assumida por
Wittgenstein: I- só podemos saber/ter
certeza daquilo que podemos por em
dúvida,
e;
IIa
dúvida
está
(gramaticalmente) excluída em casos de
atitudes proposicionais, expressas por frases
que empregam o pronome de primeira
pessoa no tempo presente.
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O importante a notar, para entender a
relação que eu quero apontar, é que
Wittgenstein nega que a relação entre uma
imagem mental e a palavra constitua o
modo como dotamos expressões sobre
estados internos de significado. Nega que
dotamos tais expressões de significado a
partir de um “apontar internamente”,
através p.ex. de uma faculdade de
introspecção. Assim, se por um lado
Wittgenstein assume que o comportamento
não é um mero fenômeno físico, uma mera
expressão de estados internos – ele não se
considera
um
behaviorista;
adiante
estenderei este ponto –, por outro lado,
pensa que os conceitos psicológicos estão
logicamente conectados ao comportamento,
que é manifestação do interno. Debrucemonos um pouco mais sobre este ponto.
Tomemos novamente o exemplo do
termo “dor”. Ao analisar como aprendemos
a utilizar tal palavra, Wittgenstein nota que
“alegações de dor são extensões aprendidas
de comportamentos expressivos naturais e
são,
elas
próprias,
formas
de
comportamento.” (HACKER, 2005, p.43).
Não é “apontando” para a “coisa dor” que a
nomeamos como “dor”.
Nós não a
identificamos e em seguida a nomeamos;
nós simplesmente a manifestamos, pois “a
expressão de dor é enxertada no
comportamento expressivo natural que
exibimos nas situações em que nos
ferimos.”
(HACKER,
2005,
p.42).
Pensemos na seguinte situação: uma
enunciação, quando uma pessoa bate a
cabeça e diz que “está doendo”. Alguém
proferir “Está doendo” é entendido por nós
como um critério para afirmarmos que esta
pessoa está com dores. Porém, não se trata,
tal como pensa Davidson, de uma
presunção
nossa.
Simplesmente
aprendemos a usar a expressão “ele está
com dores” quando a pessoa em questão
expressa
um
comportamento.
Este
comportamento funciona como um critério
que, apesar de poder ser revogado em dadas
circunstâncias – a pessoa poderia estar
mentindo –, quando isto não ocorre – e
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sabemos que uma pessoa não pode estar
mentindo sempre – ele confere certeza. O
comportamento é, deste modo, uma
evidência suficiente para nos conferir
certeza sobre um estado interno de uma
terceira pessoa.
Como é que as palavras se referem às
sensações? – Não parece haver um
problema aqui. Nós não falamos todos
os dias sobre as sensações? Não
damos nomes a elas? Mas como se
constitui a conexão entre o nome e a
coisa nomeada? Esta questão é
idêntica à seguinte: como um ser
humano aprende o significado de
nomes de sensações? Por exemplo, da
palavra “dor”. Eis aqui uma
possibilidade: as palavras são
conectadas com a expressão primitiva,
natural da sensação e são usadas em
seu lugar. Uma criança se feriu e
chora. Os adultos falam com ela,
ensinam-lhe exclamações e, mais
tarde, sentenças. Ensinam um novo
comportamento de dor à criança.
[grifo meu]
“O que você está dizendo, portanto, é
que a palavra „dor‟, na verdade,
significa chorar?” – Pelo contrário. A
expressão verbal da dor não descreve
o
choro,
mas
o
substitui.
(Wittgenstein, 2009, §244) [minha
tradução]
Por outro lado, cabe notar que é um
erro pensar que nós normalmente inferimos
o interno a partir do externo. O
comportamento ao qual temos acesso é
aquilo a que denominamos através dos
termos psicológicos – o que desbanca,
portanto, uma leitura behaviorista das
reflexões de Wittgenstein:
Seu estado tristonho de espírito é algo
que eu noto adicionalmente à tristeza
de suas expressões faciais? Ou será
que eu deduzo a partir de sua face?
Será que eu digo: “Suas expressões e
seu comportamento eram tristes; é
provável, portanto, que ele estivesse
triste também”? [WITTGENSTEIN,
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1998, §767] [minha tradução]
o
que
eu
estou
pensando””
(WITTGENSTEIN, 2009, §222) [minha
tradução]. Para Wittgenstein, portanto, a
(di)solução do problema se dá através da
compreensão da gramática dos verbos
intencionais.
Por
isso
que,
para
entendermos isso, faz-se imperioso
analisarmos o argumento da linguagem
privada, o qual mostra que o critério de
correção para o uso de termos psicológicos
não é dado por um “sentido interno”, com o
qual se teria acesso direto aos próprios
estados mentais (e, portanto, as outras
pessoas teriam apenas um acesso indireto).
O critério é o próprio comportamento (seja
natural ou aprendido).
Vimos que o comportamento, ele
mesmo, não é a expressão do interno –
como pensam os behavioristas. Nesta
medida, o sujeito dos predicados
psicológicos passa a ser qualquer ser vivo
capaz de manifestar sentimentos e
pensamentos próprios pelo comportamento.
Aqui, talvez fosse possível pensarmos
um naturalismo na obra final de
Wittgenstein, no seguinte sentido: parece
ser necessário um núcleo duro constituído
por comportamentos naturais, os quais
determinam de algum modo a possibilidade
da comunicação de termos psicológicos,
pois são eles (os comportamentos naturais)
que são substituídos por comportamentos
aprendidos, os quais funcionam como
critério para o uso de termos psicológicos.
Se não se tratasse de uma substituição de
um comportamento natural por um
linguístico, e ainda assim ensinássemos o
linguístico, ele nada substituiria, sendo,
nesta medida, artificioso, quanto aos
estados mentais.
Não parece intuitivo que possamos
“criar” atitudes proposicionais através da
criação de termos psicológicos, e
posteriormente
aprender
um
comportamento que funcione como critério
de correção para o uso de tais termos, sem
que haja um primeiro “conjunto de
comportamentos”
compartilhado,
no
Não se trata de uma inferência. A
expressão “está doendo”, não sendo mais
que um comportamento que aprendemos e
que passa a substituir o choro, não pode ser
também, uma inferência da qual
necessitamos para falar de estados internos.
É assim que devemos ler a afirmação: “se
alguém vê o comportamento de um ser
vivo, está vendo sua alma” (Wittgenstein,
2009, §357) [minha tradução].
Conclusão
Davidson e Wittgenstein concordam
que a assimetria entre o acesso epistêmico
aos estados mentais gera um (pseudo)
problema filosófico que merece uma
dissolução ou resposta. Porém, para
Davidson, esta assimetria existe, na medida
em que “minha garantia para acreditar que
eu disse alguma coisa verdadeira, ao dizer
“Eu creio que p”, é diferente da garantia de
outra pessoa para pensar que eu disse”
(HACKER, 2005, p.84). É diferente,
porque a primeira pessoa, segundo
Davidson, é a única que sabe que crê que p.
As outras pessoas, sobre essa crença,
podem apenas conjecturar, assumindo que
tal pessoa está sendo sincera ao expressar
sua crença. O desenvolvimento do
argumento de Wittgenstein, porém, conclui
na recusa da assimetria – o que não implica
necessariamente em uma recusa do que
aqui foi designado como “interno”. Para
ele, quando eu Sp, eu não sei nem ignoro o
fato de que S, pois não tem sentido dizer:
“sei que creio que p”, pois a dúvida não tem
lugar, não tem sentido, assim como não tem
sentido perguntar “sei que sei que creio que
p?”.
A dúvida não se instala. Podemos
dizer que o jogo de linguagem da autodescrição de estados mentais não admite a
possibilidade
de
dúvida.
Diz-nos
Wittgenstein: “posso saber o que outra
pessoa está pensando, não o que eu estou
pensando. É correto dizer “Eu sei o que
você está pensando”, e errado dizer “Eu sei
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mínimo, pela pessoa que aprende e ensina 7.
Assim, ainda que os termos que substituem
esses comportamentos sejam os mais
diversos possíveis (basta observarmos a
variedade de línguas e a imensa diferença
que há entre elas), precisaria haver um
núcleo de certeza que estaria em certos
comportamentos naturais que em qualquer
língua determina a atribuição de certos
estados mentais. Parece, portanto, que a
noção de “comportamentos naturais” seria
uma chave de leitura para uma interpretação
“naturalista”, no sentido exposto acima.
Gostaria apenas de deixar em aberto esta
possibilidade.
Referências
FREGE, G. O Pensamento – uma
investigação lógica. in: Investigações
Lógicas, org. e trad. Paulo Alcoforado. –
Porto Alegre: EDI-PUCRS, 2002.
HACKER, P. M. S. Sobre a Autoridade
da Primeira Pessoa, trad. Plínio Smith, in:
W. J. Silva Filho e P. Smith (org.),
Significado, Verdade e Interpretação –
Davidson e a Filosofia. 2005.
________.Insight and Illusion. Thoemmes
Press, Virgínia – USA, 1997.
WITTGENSTEIN,
L.
Philosophical
Investigations. 4th edition with extensively
modified translation based on G. E. M.
Anscombe‟s original translation, co-editor
and co-translator with Joachim Schulte
(Wiley-Blackwell, Oxford) 2009.
________. Remarks on the Philosophy of
Psychology.
Translated by G.E.M.
Anscombe, ed. G.E.M. Anscombe and G.H.
von Wright. Oxford: Basil Blackwell, 1998,
vols. 1 e 2.
7
Isso não exclui, no entanto, que essa base comum seja
cultural, seja aquilo que Wittgenstein chamou de “forma
de vida”. No entanto, “forma de vida” aparece, muitas
vezes, como carregando características de um naturalismo,
a ponto de podermos acrescentar: forma de vida humana.
Não sendo, portanto, meramente cultural.
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