Prof. José Leopoldo Ferreira Antunes •Sociologia enquanto análise compreensiva da ação social. •Foco no sentido subjetivo que as pessoas imprimem às suas ações e interações em diferentes contextos sociais. 1 Tipos ideais de ação social: •1. Ações racionais dirigidas a meios : razão subjetiva. •2. Ações racionais dirigidas a fins: razão objetiva. •3. Ações dirigidas pelo afeto. •4. Ações dirigidas pela tradição (costumes e hábitos). Ação e relação social. Os sujeitos moldam as estruturas sociais e as demais condições materiais. 2 “Tipo ideal” É um constructo analítico que serve como parâmetro de medida para os analistas sociais determinarem em que extensão as instituições sociais são similares ou distintas dos padrões típicos já reconhecidos. M. Weber. A Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo. São Paulo: Cia das Letras, 2004. M. Weber. Ensaios de Sociologia. São Paulo: LTC, 2002. M. Weber. Ciência e Política: Duas Vocações. São Paulo: Martin Claret, 2002. 3 O que matou Annette Jean? Paul Farmer. Infections and Inequalities: the modern plagues. Berkeley: University of California Press, 1999. Logo cedo na manhã de sua morte, Annette Jean sentia-se bem o suficiente para carregar um balde cheio de água de uma fonte não muito distante do casebre de sua família. Nas semanas que antecederam aquele dia, ela havia reclamado de um “resfriado”. Não era nada sério, ela pensara, embora suores noturnos e uma perda de apetite começarem a lhe preocupar. Os irmãos de Annette depois se lembraram que ela estava alegre, “normal”, naquela manhã. Ela preparou o café para toda a família e ajudou sua mãe a carregar o burro para o mercado. Era um dia cinzento de Outubro, em 1994, e a estação chuvosa no Haiti estava chegando ao fim. 4 Pouco depois de os irmãos de Annette saírem para a roça, a jovem começou abruptamente a tossir sangue. Sua priminha, percebendo o que se passava, viu-a expelir um jorro vermelho brilhante e então desmaiar no chão imundo da minúscula casa. A criança correu atrás dos irmãos de Annette, que em vão tentaram animá-la; a moça não conseguia mais que murmurar em resposta a seus gritos de pânico. Os irmãos então improvisaram rapidamente uma maca, amarrando folhas de palmeira. Devem ter demorado cerca de uma hora para carregarem sua irmã inanimada e chegarem à clínica mais próxima, situada no vilarejo de Do Kay, longe de seu roçado no topo da montanha. Na metade do caminho, começou a chover. O caminho em declive tornou-se escorregadio, dificultando o avanço. A dois terços do caminho, Annette tossiu coágulos mais escuros de sangue e então parou de murmurar. Quando enfim chegaram à clínica, chovia pesadamente. Os coágulos maiores recusavam-se a dissolver, manchando sua blusa encharcada de água, e Annette estava imóvel no meio de uma poça de sangue diluído. Ela não tinha sequer vinte anos de idade. 5 Eu estava na clínica naquele dia chuvoso, conversando com um paciente perto da entrada principal, quando os irmãos de Annette e um quarto homem atravessaram o saguão de entrada com sua carga terrível. Um fiapo de sangue escorria de algum lugar na maca improvisada para o piso do saguão. Eles se aproximaram de mim sem uma palavra, e eu, também em silêncio, busquei o pulso da jovem. O diagnóstico infelizmente foi fácil – morte por hemoptise massiva devida, com quase toda certeza numa moça daquela idade, à tuberculose – e o corpo de Annette já estava frio. Seus irmãos, que haviam permanecido paralisados em silêncio, no desejo de que algo ainda pudesse ser feito, começaram a chorar, cada um deles emitindo um lamento agudo enquanto eu declarava a sua morte. 6