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ATIVIDADES LÚDICAS NA PREVENÇÃO DE ACIDENTES POR ANIMAIS
PEÇONHENTOS EM ESTUDANTES DA REDE PÚBLICA
Cristiane Tárcis Cunha da Silva¹
Pedro Pereira de Oliveira Pardal²
Resumo: Os acidentes por animais peçonhentos em crianças do Pará têm merecido destaque dos
profissionais e acadêmicos da área de saúde pela gravidade que se apresentam. À exemplo dos
acidentes por escorpião, a classificação dos acidentes em menores de 14 anos de idade e idosos
são potencialmente mais graves. Pensando nisso, fez-se necessária a construção de um Projeto de
Pesquisa que se utiliza da riqueza didática e de imaginário que as atividades lúdicas podem
oferecer, destacando a abordagem e uso de colagens, desenhos, pinturas e construção de
materiais instrutivos elaborados pelos próprios alunos.
Palavras chave: Educação em Saúde; Prevenção; Animais peçonhentos; Atividade lúdica.
Abstract: Envenomations in children of Pará have been highlighted academic and professional
healthcare by gravity that arise. In the example of scorpion sting accidents, the classification of
accidents in children under 14 years of age and older are potentially more serious. Thinking
about it, it was necessary to build a research project that uses the didactic wealth and imagination
that can offer recreational activities, highlighting the approach and use of collages, drawings,
paintings and construction of instructional materials prepared by the students themselves.
Key-words: Health Education; Prevention; Poisonous animals; recreational activities.
____________________
¹ Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Pará. Estagiária do Centro de Informações
Toxicológicas de Belém.
² Docente da Universidade Federal do Pará. Coordenador Médico do Centro de Informações
Toxicológicas de Belém.
INTRODUÇÃO
“Animais peçonhentos são aqueles que produzem peçonha (veneno) e apresentam um
aparelho especializado para inoculação desta, onde passam ativamente através de glândulas, que
se comunicam com dentes ocos, ferrões ou aguilhões” (PINHO; PEREIRA, 2001).
Os acidentes por animais peçonhentos em crianças do Pará têm merecido destaque dos
profissionais e acadêmicos da área de saúde pela gravidade que se apresentam. Segundo o
Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2013),
ocorreram em torno de 142.000 casos no ano de 2012 com animais peçonhentos, sendo que os
escorpiões contribuíram com 64.000 casos, as serpentes com 29.000, as aranhas com 25.000
casos e 24.000, os outros animais. Um exemplo é o escorpionismo no estado do Pará que vem
mantendo um registro de notificações ao longo dos últimos 5 anos de 1610,5 acidentes a cada
ano, número que pode ser reduzido por condutas profiláticas.
O principal cuidado frente às exposições ao envenenamento é a prevenção, e para tanto, é
necessário orientar crianças, pais e educadores para uma efetiva identificação dos agentes,
destacando os acidentes por animais peçonhentos; afastamento da possível fonte de
envenenamento e conduta adequada em acidentes efetuados. Os acidentes na infância são
passíveis de serem evitados.
Candeias (1997) entende educação em saúde como quaisquer combinações de
experiências de aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias conducentes à
saúde.
Uma das estratégias preventivas mais aceitas é a educação da população para
procedimentos de identificação do risco e manejos para afastamento dos agentes e minimização
de danos. Assim, tanto em nível particular (restrito) os indivíduos se tornam agentes da
promoção de sua própria saúde – concretizando o empoderamento – quanto em caráter global, no
momento em que a sociedade passa a economizar em custos financeiros hospitalares nessa
situação, além de prevenir agravos relacionados a esses acidentes (MARTINS, 2005).
Faz-se mister desenvolver estratégias educativas que se tornem permeáveis à consciência
juvenil, tão farta de imaginário, portanto dinâmica e viva. Apesar dos estudos sobre recursos
pedagógicos para a prevenção de acidentes serem escassos, existe um consenso sobre a
utilização do lúdico como ferramenta para esta finalidade no contexto escolar (GIMENIZPASCHOAL et al., 2010).
Frente ao exposto, objetivou-se promover atividades lúdicas para estudantes da rede
pública da Região Metropolitana de Belém na prevenção de acidentes por animais peçonhentos.
MATERIAIS E MÉTODO
Esse trabalho iniciou a partir de um Projeto de Extensão e utilizou o método de pesquisaação. Neste tipo de pesquisa, o pesquisador assume a responsabilidade não apenas de assistir os
atores envolvidos através da geração de conhecimento, que neste caso foi realizada utilizando o
lúdico, mas também de aplicação deste conhecimento.
As atividades em sala de aula foram realizadas em cinco escolas da rede pública da
Região Metropolitana de Belém no período de maio a agosto de 2013, contando com a
participação de 124 alunos com faixa etária de 6 a 14 anos. Para identificação das escolas, neste
trabalho, foram utilizados os termos: E1, E2, E3, E4 e E5.
A realização das atividades contou com a elaboração de um banner contendo imagens de
06 tipos distintos de animais peçonhentos: serpentes (Bothrops, Lachesis, Micrurus e Crotalus),
escorpião (Tytius), aranhas (Phoneutria, Loxoceles e Latrodectus), abelha (Apidae), arraia
(potamotrygon) e centopeia (Miriápode), sua identificação científica e popular e algumas
medidas profiláticas para acidentes com serpentes, arraias, escorpiões e abelhas além de
condutas básicas e emergenciais em caso de acidentes por animais peçonhentos.
Imagem 1: material usado na atividade
Fonte: Autores (2013)
A atividade foi realizada em sala de aula com a divisão de turma em cinco grupos,
receberam uma cartolina com quatro áreas distintas prontas para a colagem do antes e do depois:
02 partes para animais peçonhentos e 02 para não peçonhentos (as partes da cartolina formam
enumeradas em 1 e 2 para animais peçonhentos e não peçonhentos antes da discussão em grupo
e 3 e 4 para animais peçonhentos e não peçonhentos depois da discussão), cola e um envelope
com 24 imagens (2 de cada, sendo 6 peçonhentas e 6 não peçonhentas, a saber: cobra, escorpião,
aranha, arraia, centopeia e abelha como peçonhentos e cachorro, gato, rato, jacaré, borboleta e
passarinho como não peçonhentos) e constou de três etapas: a primeira foi a livre colagem de
animais peçonhentos ou não peçonhentos, nesse momento, não houve qualquer tipo de
orientação prévia sobre os animais em questão, no intuito de permitir que os alunos
distinguissem-nos pelo conhecimento adquirido até esta atividade. Para as escolas em que os
alunos eram maiores de 10 anos (E2 e E5) foi solicitado que criassem um conceito de animais
peçonhentos, enquanto para os menores, a atividade se restringiu à colagem. Assim, o comando
de construção de um conceito foi proposto logo após o fim da primeira colagem, quando já
haviam refletido sobre o tema e distinguido os animais disponibilizados para a ação. Os
conceitos criados pelos grupos foram expostos a todos da turma, o que propiciou a construção de
um conceito amplo, construído pela totalidade dos participantes.
Num segundo momento, abriu-se uma roda de discussão em que os alunos eram
apresentados ao conceito de peçonha e animais peçonhentos e às imagens destes animais no
banner e puderam relatar histórias pessoais ou familiares de visualização de ou acidentes por
animais peçonhentos, os autores da atividade de extensão tinham o papel de mediar as
discussões, propondo questionamentos, incentivando o diálogo e participação ativa dos alunos na
construção dos conceitos e identificação dos animais peçonhentos envolvidos em acidentes.
Posteriormente, na última etapa foi solicitado que as crianças colassem as mesmas
imagens em outra parte da cartolina, referente às partes 3 e 4 da divisão previamente
estabelecida. Este momento serviu como um instrumento de confirmação da assimilação dos
conceitos e identificação dos animais peçonhentos. Os materiais criados pelos alunos foram
fixados nas paredes das salas de aula, permitindo que tenham acesso àquele conhecimento.
RESULTADOS/ DISCUSSÃO
Para análise dos dados, as escolas foram agrupadas pela faixa-etária, assim E1, E3 e E4
foram as escolas com crianças de 6 a 10 anos e E2 e E5, as de adolescentes de 12 a 14 anos.
A execução do projeto de extensão configurou uma possibilidade de conversar sobre os
acidentes por animais peçonhentos, identificando os animais e sobretudo pensar em formas de
promover prevenção.
A atividade de colagem antes e após a roda de conversa proporcionou um método de
identificação do conhecimento adquirido empiricamente pelos alunos envolvidos, desta forma,
acredita-se que, após a atividade, os alunos puderam identificar satisfatoriamente, dentre os
animais propostos, quais eram peçonhentos e quais não eram. Para a atividade houve um
destaque aos acidentes por serpentes, escorpiões e aranhas, devido sua caracterização
epidemiológica no Estado.
Brasil (2001) afirma que os acidentes ofídicos têm importância médica em virtude de sua
grande frequência e gravidade. As manifestações clínicas encontradas refletem a absorção do
veneno na circulação sanguínea, os mecanismos de ação específicos determinam manifestações
clínicas diferenciadas para cada gênero de serpente (BRASIL, 2010).
Quanto ao escorpionismo, considera-se que o envenenamento ocorre pela inoculação de
veneno pelo ferrão ou aguilhão, localizado na cauda dos escorpiões, já o araneísmo é o
envenenamento causado pela inoculação de toxinas através de ferrões localizados no aparelho
inoculador (quelíceras) de aranhas peçonhentas (BRASIL, 2010).
Gráfico 1: Média geral de acertos na identificação dos animais peçonhentos (em %).
Fonte: Autores (2013)
Escola
Antes (%)
Depois (%)
E1
74,5
100
E2
88
96
E3
92
98
E4
84,4
88,6
E5
88
100
Imagem 2: Avaliação da atividade nas escolas sobre a identificação dos animais peçonhentos pelos alunos.
Fonte: Autores (2013)
Em E1, após a roda de conversa, a técnica de colagem revelou que a maioria das crianças
soube identificar adequadamente, dentre os animais apresentados, aqueles que possuem peçonha
e podem causar acidentes, representando uma mudança de 74,5% de acerto na identificação dos
animais peçonhentos para 100%.
Em E3, todos os grupos fizeram muitos questionamentos sobre a identificação dos
animais e mostraram muito interesse na atividade, a turma foi bastante participativa e interessada
na exposição dos animais do banner, a colagem das imagens revelou um aumento de acerto de
92% para 98% na identificação dos animais.
Em E4, todos os alunos ouviram a explicação dos animais peçonhentos e a maioria
contribuiu com relatos de caso ocorrido na família ou com amigos. Mesmo após os
esclarecimentos, todos consideraram o jacaré um peçonhento, os grupos foram orientados
individualmente sobre a classificação deste animal, representado por mudança de 84,4% para
88,6% de identificação adequada dos animais peçonhentos.
Em E2, muitos acreditavam que o rato era um animal peçonhento, sendo explicado que
alguns animais poderiam transmitir doenças, como é o caso do rato, mas não eram portadores de
peçonha.
Com este grupo, trabalhou-se a construção do conceito de animais peçonhentos,
revelando que eles, embora não soubessem identificar todos os animais peçonhentos
apresentados, conheciam bastante do conceito e dos agravos envolvidos no acidente por estes
animais. O que pode ser evidenciado nas falas abaixo:
“Os animais peçonhentos são aqueles que possuem veneno e algum risco a vida de um
ser humano”.
“Os animais venenosos são aqueles que, através de uma mordida, podem levar a morte
tanto uma pessoa mais velha ou uma criança principalmente de outros animais”.
“São animais que contém um componente que pode transmitir doenças aos seres
humanos, alguns podem até levar a óbito”.
Embora as falas, individualmente, não demonstrem a complexidade exigida para a
construção de um conceito amplo de animais peçonhentos, a conversa em grupo e exposição
pode enriquecer a plateia, no sentido de compor no final uma ideia mais bem elaborada do
conceito proposto. Reflete-se a compreensão de Feitosa, Melo e Monteiro (1997), que sinalizam
os acidentes ofídicos como um sério problema de saúde pública nos países tropicais.
Pode-se perceber que, com a atividade, os grupos compreenderam a gravidade em
potencial dos acidentes, a necessidade de inoculação da peçonha para a ocorrência do acidente e
que a peçonha é um produto próprio destes animais.
Pela análise da colagem, este grupo de alunos alcançou um aumento de 88% para 96% de
identificação adequada dos animais peçonhentos.
Na escola E5, os alunos revelando conhecer aspectos importantes sobre o conceito de
animais peçonhentos, como mostrado abaixo:
“Alguns são pequenos e outros são curtos, eles podem causar paralisia, doenças e
morte”.
“São animais que transmitem doenças às pessoas”.
Aqui identificaram manifestações clínicas e ilustraram o conceito com a percepção da
gravidade do acidente por estes animais. Mostraram atenção e interesse durante a explicação do
assunto, fazendo questionamentos, sanando dúvidas, alguns exemplificaram com casos
vivenciados por eles, parentes ou amigos. Realizaram a segunda colagem classificando
adequadamente os animais apresentados, assim, dos 88% de identificação adequada antes da
discussão sobre o tema, houve um acréscimo para 100%.
No entanto, a ideia de que animais peçonhentos são aqueles que transmitem doenças às
pessoas precisou ser trabalhada no sentido de enfatizar que a peçonha é constituinte da natureza
destes animais e que as manifestações clínicas estão diretamente ligadas à ação deste produto
sobre o organismo.
CONCLUSÃO
A realização da atividade propiciou a atuação em escolas de promoção em saúde e
prevenção de acidentes com crianças e adolescentes, público que tende a evoluir a casos graves
em acidentes por animais peçonhentos.
Embora a maioria dos alunos previamente conseguissem classificar de forma adequada
animais peçonhentos e não peçonhentos, com a atividade, passaram a conhecer o conceito de
animais peçonhentos, identificar animais que causam acidentes desta natureza, identificar a
possibilidade de gravidade desses acidentes e algumas condutas assistenciais imediatas em
acidentados. Observou-se um aumento nas identificações adequadas dos animais peçonhentos.
Duas escolas alcançaram resultados 100% adequados, o que evidencia a relevância da atuação
em escolas das atividades lúdicas na prevenção de acidentes por animais peçonhentos,
destacando a importância de conversar sobre esse agravo.
Sobretudo, a atividade executada neste projeto de extensão possibilitou a interligação da
realidade local, com seus saberes, práticas e imaginário (em especial, por se tratar do mundo
infantil) e da academia, que, de certa forma, abre suas portas para incentivar a prevenção e a
construção de saberes amparado no fazer científico, possibilitando a identificação de animais
peçonhentos, a conduta básica de um socorro imediato e manejo clínico adequado até suporte
mais avançado, viabilizando desde a não ocorrência de acidentes até melhores prognósticos.
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