PALESTRA 21ª RAIB ASPECTOS FITOSSANITÁRIOS NA CULTURA DO PINHÃO MANSO (JATROPHA CURCAS L.) PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL Daniel Andrade de Siqueira Franco & Dalva Gabriel Instituto Biológico, Centro Experimental, Rod. Heitor Penteado km 3, CEP 13092-543, Campinas, SP, Brasil. E-mail: [email protected] O Pinhão manso, Jathropha curcas, (Euphorbiaceae) tem despertado muito interesse a nível internacional e no Brasil por seu alto conteúdo de óleo (38 a 48% na semente) e o mais baixo custo de produção (R$ 0,40 por litro de biodiesel). Embora se tenha esse potencial de produção, existe falta de informação tecnológica, tanto agronômica como genética. Esta falta de informação limita o aumento de competitividade e por conseqüência, seu plantio em grandes áreas representa um investimento de alto risco. As informações sobre o impacto de agentes biológicos (plantas daninhas, fungos, insetos etc...) na cultura são escassos, embora se espere que o plantio do pinhão manso em grandes extensões tenha presença desses agentes biológicos, como se tem observado em outros países onde essa cultura é cultivada em áreas maiores como China, Índia, Filipinas, Malásia, Nicarágua e Honduras. O pinhão manso é praticamente desconhecido como cultura no Brasil, apesar de se encontrar disseminado por vários estados brasileiros como cerca viva, e como matéria prima para produção de sabão e iluminação de lamparinas. Pouquíssimos levantamentos sobre pragas e doenças têm sido realizados, na maioria das vezes como simples constatações de ocorrência. Quanto às plantas daninhas na cultura, o controle pode ser verificado através dos resultados publicados no “Jatropha World Congress”, (2008). As principais pragas da cultura do pinhão manso são: (1) Pachycoris torridus Scopoli, 1772 (Hemiptera; Scutelleridae). As ninfas e os adultos sugam os frutos e pode ocorrer aborto prematuro, portanto deve ser controlado, pois seu ataque afeta a formação do endosperma. (2) Sternocoelus notaticeps Marsall, 1925 (Coleoptera; Curculionidae). O adulto coloca seus ovos no tecido parenquimatoso, os quais eclodem em larvas que se alimentam dos tecidos internos do caule e dos ramos, formando verdadeiras galerias no interior dos mesmos. A fase pupal se dá no interior dos tecidos e o inseto emerge para infestar novas plantas. Os danos podem ser consideráveis, com perda das plantas fortemente infestadas. (3) Ácaro branco Polyphagotarsonemus latus Banks, 1904 (Acari; Tarsonemidae). As folhas novas apresentam os bordos voltados para baixo, coriáceas e com aspecto vítreo na face abaxial. À medida que as plantas se desenvolvem as folhas vão apresentando ondulações e um aspecto enrijecido com significativo comprome- timento da área fotossintética. As plantas atacadas apresentam redução do seu desenvolvimento. O ataque é mais severo na época seca. (4) Ácaro vermelho Tetranychus sp (Acari; Tetranychidae). Ataca as folhas mais velhas. Na época da seca, causa o amarelecimento e a queda prematura das folhas. (5) Cigarrinha verde Empoasca sp (Hemiptera; Cicadellidae). O inseto apresenta coloração verdeclara e mede 2 mm de comprimento. Aloja-se na face ventral das folhas que, como conseqüência se torna ligeiramente recurvada para dentro. Ataca diversas culturas. São insetos bastante ágeis que sugam a seiva da planta e causam o abortamento de flores. As formas jovens têm o hábito de se locomoverem lateralmente. O principal sintoma do ataque de cigarrinha é a curvatura dos lóbulos foliares para cima, como se fosse uma mão se fechando. (6) Tripes Selenothrips rubrocinctus (Giard., 1901) (Thysanoptera;Thripidae). Atacam as folhas completamente desenvolvidas conferindo um aspecto branco-prateado. As ninfas são avermelhadas e formam colônias, aparecendo manchas rubras nas folhas. O adulto tem coloração preta. Em infestações intensas, ramos, flores e frutos podem ser atingidos, causando desfolha e definhamento de frutos e sementes. (7) Formigas “rapa-rapa” e saúvas (Hymenoptera; Formicidae). São as que mais atacam o pinhão e atacam principalmente as mudas novas. A “rapa-rapa” alimenta-se da casca da estaca ou da própria muda, por isso há ocorrência de muitas falhas no plantio. (8) Cupim (Isoptera). Chegam a derrubar a planta. Atacam em linha e não as plantas de outras linhas. (9) Besouro verde (Paraulaca dives (Germ., 1824) Coleoptera, Chrysomelidae. Medem aproximadamente, 10 mm de comprimento, de coloração verde metálica brilhante, com o protórax azul brilhante e pernas marrons. Os adultos atacam as folhas destruindo-as. (10) Outras pragas não constatadas no estado de São Paulo: Corynorhynchus radula (Klug, 1820); Stiphra robusta Leitão, 1939; Retithrips aegyptiacus Marchal, 1910; Sternocolaspis quatuordecimcostata (Lefèvre, 1877); Stylothrips bondari Bondar, 1924. Na Índia, foi relatada Nezara viridula (L., 1758) (Hemiptera; Pentatomidae) comum no Brasil em outras espécies de plantas. As principais doenças da cultura do pinhão manso são: (1) Oídio ou mofo-branco (Oidium hevea). É um fungo que ataca as partes verdes da planta, podendo causar desfolha e chochamento dos frutos. Ocorre, Biológico, São Paulo, v.70, n.2, p.63-64, jul./dez., 2008 63 64 21ª RAIB geralmente, na época seca. (2) Gomose (Phytophthora sp.). É um fungo que ataca a base do caule, com sintoma de podridão mole, que exsuda líquido de odor característico, e os tecidos afetados ficam escuros. Ocorre amarelecimento, murcha e queda de folhas, que pode evoluir para morte descendente de ramos. (3) Ferrugem (Phakopsora jatrophicola e P. arthuriana). Esses fungos causam a ferrugem nas folhas e podem provocar a desfolha das plantas. (4) Viroses. Alguns vírus já foram relatados em Jatropha sp., tais como: Jatropha mosaic virus e African cassava mosaic virus, Begomovirus . (5) Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Sacc. e C. capsici (Syd.) Butl. & Bisby). Esses fungos causam manchas foliares que podem evoluir para a queima completa das folhas. Os frutos podem ser também infectados, com lesões de coloração marrom-escura. (6) Alternariose (Alternaria spp.). Esse fungo causa mancha foliares e a queda prematura de folhas. (7) Mancha de passalora (Passalora ajrekari (Syd.) U. Braun). A doença se manifesta na forma de lesões foliares arredondadas, de coloração creme a marrom-clara, com estreito halo marrom-escuro. (8) Seca-descendente (Lasiodiplodia theobromae (Pat.) Griff. & Maubl.) Ocorre a seca das extremidades superiores dos ramos, podendo evoluir para o caule da planta e provocar a sua morte. Poucos dados científicos sobre as plantas daninhas e seu controle na cultura do pinhão manso estão disponíveis. As principais plantas daninhas encontradas em cultura comercial no município de Charqueada, SP, foram: capim–colchão (Digitaria sanguinalis (L.) Scop.), grama seda (Cynodon dactylon (l.) Pers.), beldroega (Portulaca oleracea L.), falsa– serralha (Emilia fosbergii Nicolson), nabiça (Raphanus raphanistrum L.), corda-de-viola (Ipomoea triloba L.), trapoeraba (Commelina benghalensis L.), erva-quente (Spermacoce latifola Aubl.) e guanxuma (Sida rhombifolia L.). No entanto, já se sabe que o pinhão como cultura agrícola não tolera a matocompetição na fase inicial de implantação da lavoura e, também, sofre processos de interferência causados pelas plantas daninhas que prejudicam a sua produção. Pesquisas científicas das principais pragas e doenças e seus métodos de controle serão abordados na palestra. O controle químico das plantas daninhas da cultura do pinhão manso também será abordado. Bibliografia FREIRE, F.C.O. & P ARENTE, G.B. As doenças das Jatrofas (Jatropha curcas L. e J. podagrica Hook.) no Estado do Ceará. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2006. 4p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Comunicado Técnico, 120). GABRIEL, D.; C ALCAGNOLO, G.; T ANCINI, R. DA S.; D IAS NETTO, N.; PETINELLI JÚNIOR, A.; ARAÚJO, J.B.M. Estudo com o percevejo Pachycoris torridus (Scopoli, 1772) (Hemiptera; Scutelleridae) e seu inimigo natural Pseudotelenomus pachycoris Lima, 1928 (Hymenoptera; Scelionidae) em cultura do pinhão paraguaio Jatropha spp. Biológico, São Paulo, v.54, n.1/6, p.17-20, 1988. JATROPHA WORLD C ONGRESS, 2008, Tocantins, 20 e 21 de junho de 2008. Disponível: <http://www.saudibras.com. br>. Acesso em: 19 out. 2008. SILVA, C.J.; R OESE , A.D.; G OULART, A.C.P. Ferrugem no pinhão Manso. Panorama Rural, p.62-63, 2008. TOMINAGA, N.; KAKIDA, J.; YASUDA, E.K.. Cultivo do pinhãomanso para produção de biodiesel. Controle de Pragas e Doenças ., p. 129-138, 2007. (Série Agroindústria CPT, 582.). UNGARO, M.R.G. & REGITANO NETO, A. Considerações sobre pragas e doenças de pinhão-manso no Estado de São Paulo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PLANTAS OLEAGINOSAS, ÓLEOS, GORDURAS E BIODISEL, 4., 1996 Varginha, MG. Anais. Varginha: 1996. Biológico, São Paulo, v.70, n.2, p.63-64, jul./dez., 2008