VITÓRIA, ES, QUARTA-FEIRA, 01 DE MARÇO DE 2017 ATRIBUNA 23 Economia HÁBITO ANTIGO DINHEIRO EXTRA População tem 120 milhões de moedas em cofrinhos THIAGO COUTINHO/AT Banco Central divulgou que um terço do que é emitido no País fica guardado, o que deixa o comércio sem troco e prejudica a economia Luciana Almeida ma atitude simples, mas que pode trazer muitos prejuízos para a população. O hábito dos brasileiros de encher cofrinhos tira de circulação um terço das moedas emitidas no País por ano, segundo um levantamento feito pelo Banco Central. Os dados da autoridade monetária apontaram que, no Brasil, a população guarda até 7,4 bilhões de moedas que deveriam estar no mercado. Somente no Espírito Santo esse número chega a 120 milhões de unidades — dinheiro que deveria estar sendo usado para comerciantes darem de troco e viabilizando outras transações. O Banco Central alerta que os prejuízos não são apenas na não circulação desse dinheiro no mercado, mas também no custo de produção delas, que é maior do que o das cédulas. Na maioria das vezes, o valor de face não paga nem o gasto com a confecção. A economista e professora da Fucape Arilda Teixeira disse que acumular moedas está incorporado à cultura do brasileiro. “Guardar moedas em um cofrinho é uma prática de pelo menos 50 anos, mas naquela época as pessoas não percebiam o ônus. Mas agora é diferente, pois a economia precisa de dinheiro rodando, e quando as pessoas o retiram, o Banco Central precisa repor, e o custo é muito elevado”, disse. O economista e coordenador de Extensão da Rede Doctum, Paulo Cezar Ribeiro Silva, disse que muitas pessoas, principalmente os mais jovens, não gostam de levar moedas na carteira e acabam deixando esse dinheiro perdido em casa. U OS NÚMEROS PARQUÍMETRO: uso de moedas A aposentada Celina Maria Garcia Gonçalves, 69 anos, tem o costume de guardar moedas em um cofrinho. A intenção, segundo ela, é usar o dinheiro caso ocorra alguma eventualidade, ou em casos de viagem, para ter um dinheirinho extra para os gastos. Ano passado, ela guardou as moedas por cerca de seis meses e conseguiu um montante de R$ 380. “Este ano vou guardando. Na hora que eu precisar, seja para viajar ou para alguma eventualidade, já tenho esse extra.” 7,4 bilhões de moedas estão em cofrinhos caseiros em todo o País 1970 e 1980 foram as décadas em que o governo estimulou a cultura de guardar moedas em casa Ele destacou que, entre as décadas de 1970 e 1980, o governo federal incentivava que as pessoas juntassem as moedas em casa como forma de ensinar as crianças a poupar. “Havia bancos que davam o cofrinhos para que as pessoas juntassem em casa e de tempos em tempos levassem as moedas para trocar. Havia máquinas para contar essas moedas. Perdeu-se essa tradição de incentivar a junção de moedas, mas muitas pessoas ainda mantêm o hábito”, disse. Sem ter como dar troco, o ge- rente do Cine Jardins, em Jardim da Penha, Vitória, Talmon Fonseca Júnior, encontrou um meio de conseguir dinheiro trocado. De tempos em tempos, faz uma promoção para que os clientes levem moedas para o local. “A cada R$ 50 em moedas ou notas de R$ 2, o cliente ganha uma cortesia”, disse. No entanto, a promoção só acontece quando o cinema não tem moedas ou notas pequenas para dar troco, e são anunciadas diretamente em suas redes sociais. Cartão para pagar estacionamento THIAGO COUTINHO — 26/07/2015 Eventualidade Motoristas que circulam em Vitória e precisam usar o estacionamento rotativo muitas vezes têm dificuldades para conseguir moedas, que são necessárias para o pagamento no parquímetro. Além disso, as monitoras dos equipamentos muitas vezes não têm moedas para trocar, ou os lojistas no entorno não facilitam a troca, para não ficarem sem moedas para troco. Mas a Secretaria de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana de Vitória informou que além das moedas, há mais duas formas para fazer o pagamento: pelo cartão recarregável, que pode ser adquirido e recarregado com as monitoras, ou com o aplicativo PicPay, disponível para smartphones com iOS e Android, no qual o motorista não precisa se deslocar até o parquímetro para aumentar o tempo. “A fiscalização também utiliza, nesses casos, um equipamento eletrônico para confirmar o pagamento do uso do rotativo de acordo com a placa do carro”, informou a Setran por nota. Dinheiro fora de circulação traz perda para a economia Quando as moedas são retiradas de circulação e ficam guardadas em cofrinhos em casa, os prejuízos para a economia são grandes, principalmente na recolocação desse objeto no mercado. O economista e professor da Fucape, Aridelmo Teixeira, ressaltou que o gasto para a produção das moedas é maior do que o seu valor de mercado, e provoca prejuízo também para a população, visto que os custos empregados na sua recolocação poderiam ser investidos em educação, saúde e outros setores essenciais. “Guardar quilos de moedas em casa não é um bom hábito e faz com que o governo deixe de investir em setores essenciais, e os valores são gastos na reposição dessas moedas.” A economista e professora da Fucape, Arilda Teixeira, frisou que, para quem quer juntar dinheiro, o ideal é pegar essas moedas e guardar em uma caderneta de poupança, mesmo que o rendimento não seja muito alto. “É preciso fazer uma campanha DIVULGAÇÃO GUARDAR dinheiro no cofrinho é mau negócio, segundo economistas para mudar esse hábito do brasileiro. Mais vale guardar as moedas na caderneta de poupança do que em cofrinhos em casa”, disse.