1º Semestre - 2014 ISSN: 1808-6969 Sumário Expediente 4 das Faculdades Integradas Pitágoras Publicação das Faculdades Integradas Pitágoras Montes Claros - Minas Gerais - Brasil Ano: 12 - n. 20 - 2º semestre 2014 ISSN 1808-6969 Cursos Integrados Periódicos EDITORES CIENTÍFICOS RESPONSÁVEIS Antônio Prates Caldeira Rosina Maria Turano Mota CORPO EDITORIAL Ana Cláudia Chesca - Uniube Carlos Eduardo Mendes D´Angelis - FIPMoc Cynara Silde M. Veloso - UNIMONTES - FIPMoc Dalton Caldeira Rocha - UNIMONTES - FIPMoc Daniela A. Veloso Popoff - UNIMONTES - FIPMoc Dorothea Schmidth França - FIPMoc Fernanda Costa - FIPMoc Humberto Gabriel Rodrigues - FIPMoc Layrton Ferreira da Silva - FIPMoc Leandro Luciano da Silva - FIPMoc - UFMG Marcos Vinícius Macedo de Oliveira - FIPMoc Maria Fernanda Santos Figueiredo Brito - FIPMoc Marley Garcia Silva - IFB/ Brasília Marta Verônica V. Leite - UNIMONTES Pablo Peron de Paula - FIPMoc Ramon Alves de Oliveira - FIPMoc Regina Célia Lima Caleiro - UNIMONTES Roseane Durães Caldeira - FIPMoc Thaís Cristina Figueiredo Rego - FIPMoc - UFU EDITORA EXECUTIVA Maria de Fátima Turano EDITORIAL CALDEIRA, Antônio Prates Artigos Originais 5 CÂNCER INFANTIL: EXPERIÊNCIAS E ENFRENTAMENTOS VIVENCIADOS PELOS PAIS MACHADO, Laís Cristina Rodrigues da Cruz; SOUZA, Patrícia Antunes de; LIMA, Cássio de Almeida; RIBEIRO, Cláudia Danyella Alves Leão 14 ALTERAÇÕES DE SAÚDE DECORRENTES DA ATIVIDADE DE DOCENTE FIGUEIREDO, Ariane Medeiros; SANTOS, Stela Marys Marques dos; ESCOBAR, Érika Goulart Veloso Ferreira 19 CÂNCER DE PRÓSTATA: CONHECIMENTO DOS DOCENTES E FUNCIONÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE ENSINO SUPERIOR DE MONTES CLAROS – MG SOUSA, Danielle Cristina Nascimento de; CONCEIÇÃO, Márcio Leandro da; MOTA, Écila Campos 27 ATIVIDADES LABORAIS PELOS DEFICIENTES MENTAIS EM MONTES CLAROS/MG SOB A ABORDAGEM DAS CORRENTES CLÁSSICAS: SOCIOLÓGICA E ADMINISTRATIVA SANTANA, Floripes Crispim; OLIVEIRA, Ramon Alves 35 PERCEPÇÕES DAS JOVENS MÃES: FATORES DE REINCIDÊNCIA GESTACIONAL NA ADOLESCÊNCIA OLIVEIRA, Amanda Muniz; COSTA, Amanda de Andrade; BASTOS, Rodolpho Alexandre Santos Melo 45 INFECÇÕES URINÁRIAS EM PACIENTES HOSPITALIZADOS EM UM CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA: PREVALÊNCIA E PERFIL DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS PINHEIRO, Thales Almeida; MARTINS, Ávila Lopes; PRATES, Mayrane Luiz 51 RISCO CARDIOVASCULAR EM MULHERES NA PÓSMENOPAUSA LEAL, Thaís Borges; ROCHA, Lorena Silveira; DE QUEIROZ, Marcelle Mafra; CAMPOS, Maria Cecília Costa; GONTIJO, Bia Gomes; BARRAL, Ana Beatris Cezar Rodrigues 58 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS VALORES DE GLICEMIA CAPILAR E GLICEMIA VENOSA EM PACIENTES DIABÉTICOS E NÃO DIABÉTICOS PINHEIRO,Thales Almeida; REIS, Bárbara Lessa Alves; TEIXEIRA, Jéssica Mendes 64 EXPLORAÇÃO MINERAL NO NORTE DE MINAS: COMPREENDENDO MELHOR A QUESTÃO DOS ROYALTIES LAGES, Gabriela Lemos; FERREIRA, Diogo Fabiano; REGO, Thaís Cristina Figueiredo 79 UM SIMULADOR EDUCATIVO SOBRE O CONSUMO DE ENERGIA EM PEQUENAS INSTALAÇÕES ELÉTRICAS CARVALHO, Ricardo Pinto de; MOURA, Raissa Rayanna Araújo CAPA Ilimitada Propaganda ASSESSORIA DE REVISÃO LINGUÍSTICA Rosane Bastos Editorial Artigo de Revisão ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros Av. Profa. Aída Mainartina Paraíso, 80 Ibituruna - Montes Claros/ MG CEP: 39.400-082 - Fone/Fax: 38-3214-7100 www.fip-moc.edu.br/revista É permitida a reprodução de artigos desta revista desde que citada a fonte. 86 AS RELAÇÕES REAIS E PRÁTICAS ENTRE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO: AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARA A COMPREENSÃO SOBRE AS PRÁTICAS EDUCATIVAS RODRIGUES, Rogério 96 REGRAS EDITORIAIS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA MULTIDISCIPLINAR DAS FIPMoc Editorial EDITORIAL CALDEIRA, Antônio Prates Coordenador do curso de Medicina das FIPMoc Já há algumas décadas a Organização Mundial de Saúde definiu a saúde como um “estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades". Embora esse conceito tenha sofrido críticas, sendo considerado por alguns como algo utópico e inatingível, ele propiciou a discussão ampliada do processo saúde-doença e trouxe para o âmbito das academias e dos serviços de saúde, a necessidade de olhares diferenciados para a saúde. Aos poucos, a saúde tem se associado à qualidade de vida e os profissionais de saúde já começam a perceber as doenças além de processos meramente biológicos. Neste número da Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras, acadêmicos, professores e pesquisadores demonstram esse olhar diferenciado, discutindo as percepções de mães jovens sobre a gravidez na adolescência, as experiências dos pais de crianças com câncer, as atividades laborais desenvolvidas com pacientes com deficiência mental, as alterações de saúde em docentes e o conhecimento sobre câncer de próstata em docentes e funcionários da área acadêmica. O olhar ampliado não ocorre em detrimento às dimensões biológicas e epidemiológicas que 04 representam importante apoio diagnóstico, como destacados nos artigos que avaliam o risco cardiovascular em mulheres na pós-menopausa, as infecções urinárias em pacientes hospitalizados e os valores de glicemia capilar e venosa em pacientes diabéticos e não diabéticos. Além da ênfase sobre os cuidados de saúde, outros autores abordam as relações reais e práticas entre Psicologia e Educação, descrevem a experiência de um simulador educativo sobre o consumo de energia e discutem a questão dos royalties na exploração mineral no norte de Minas. Olhares múltiplos e ampliados auxiliam na construção de um conhecimento holístico, cada vez mais necessário no mundo contemporâneo. Esperamos que os leitores sejam seduzidos pela diversidade de temas e ampliem seus horizontes, abertos a diferentes saberes, reelaborando velhos e novos paradigmas. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original CÂNCER INFANTIL: EXPERIÊNCIAS E ENFRENTAMENTOS VIVENCIADOS PELOS PAIS MACHADO, Laís Cristina Rodrigues da Cruz*; SOUZA, Patrícia Antunes de*; LIMA, Cássio de Almeida**; RIBEIRO, Cláudia Danyella Alves Leão*** *Enfermeiras, graduadas pela FASI; **Acadêmico do curso de Enfermagem da UNIMONTES; **** Enfermeira, mestre em Ciências da Saúde e docente da UNIMONTES e das FIPMoc RESUMO O estudo objetivou compreender os sentimentos e experiências vivenciadas pelos pais de crianças com câncer. Apresenta uma abordagem qualitativa e foi desenvolvido com pais de crianças com câncer, em tratamento, no Centro de Alta Complexidade em Oncologia Irmã Malvina, da Irmandade Nossa Senhora das Mercês, na cidade de Montes Claros – MG. Foram entrevistados 5 mães e 3 pais de crianças em tratamento no setor oncológico. Utilizou-se a entrevista individual. A análise dos dados se deu através da exploração temática de conteúdo. Observou-se que a notícia de que o filho tem câncer causa um choque na família. Isso foi percebido pelo desespero dos pais que encaram o diagnóstico como uma sentença de morte, relacionada à crença de que câncer não tem cura. Outro aspecto percebido foi que a necessidade de acompanhar o filho impõe aos pais o abandono de seu ambiente familiar e de trabalho, incluindo a maioria de seus hábitos de vida diários, suas rotinas e a realização de atividades que lhe trazem prazer. Além disso, os pais procuram diversas formas para tentar minimizar o sofrimento da família e do filho. Desse modo, as significações dadas a esse conjunto de ocorrências e vivências demonstram o estado emocional de tristeza e, por vezes, melancolia dos pais diante do adoecimento do filho. Assim, recomenda-se aos profissionais de saúde desenvolver ações que permitam aos pais elaborar estratégias de enfrentamento, inclusive porque, em grande parte, depende também deles a boa condição emocional da criança durante o tratamento. Palavras-chave: Câncer. Saúde da Criança. Pais. Família. INTRODUÇÃO O termo câncer é dado ao conjunto de mais de 250 doenças que apresentam causas, manifestações, tratamento e prognósticos diferentes, tendo em comum o crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos e que podem espalharse para outras regiões do corpo. Podem originar-se em todo e qualquer tecido humano e em qualquer idade. O surgimento das células cancerígenas é resultante da mutação de células normais, determinada por agente cancerígeno ou fatores etiológicos físicos, químicos e biológicos (CAGNIN; LISTON; DUPAS, 2004). Nesse sentido, o câncer se configura como uma doença crônica, causando problemas de saúde com sintomas e incapacidades associados e que exigem do doente controle e acompanhamento em longo prazo, podendo evoluir de forma incerta. É uma patologia que pode trazer, aos indivíduos portadores, dores incontroláveis e sofrimento intenso, que se estende também aos familiares que Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 05 Artigo Original que acompanham a evolução da doença (BERTOLDO; GIRARDON-PERLINI, 2007). Com uma imensa carga de estigma, o câncer, além de desgastar e consumir o corpo humano, física e emocionalmente, pode muitas vezes agir de forma lenta e silenciosa. É ainda visto como tabu, castigo, maldição, e é associado sempre a tratamentos dolorosos e agressivos, além da possibilidade de morte (SANTOS; GONÇALVES, 2008). Ameaçada por um acontecimento que a coloca em face do desconhecido, e abalada pela sensação de perda iminente, a família acompanha o doente na travessia de situações difíceis e dolorosas, como a bateria de exames e procedimentos invasivos, a hospitalização, os comunicados da equipe de saúde e os códigos do ambiente hospitalar com os quais não está familiarizada. No afã de oferecer apoio e poupar o enfermo de um excesso de sofrimento, os familiares experimentam, eles próprios, sentimentos de desamparo, que comprometem seu bem-estar emocional (MENEZES et al., 2007). Segundo Santos (2002), o diagnóstico de câncer é um momento desorganizador na vida da criança e também na vida daqueles que convivem com ela. O impacto do diagnóstico pode comprometer o tratamento, ou seja, as reações a essa notícia podem ser desastrosas para a criança e seus familiares, levando-os a desequilíbrios emocionais, insegurança, culpabilidade, medo e sintomas de depressão. Os pais são as pessoas mais importantes e presentes na vida da criança, ainda mais quando ela recebe um diagnóstico de câncer. Nesse contexto, ela precisa ainda mais de apoio, carinho, amor e atenção, que primordialmente são buscados na família. Diante do diagnóstico, os pais podem-se sentir descrentes e em estado de choque. Inicialmente eles poderão experienciar uma sensação de anestesiamento e paralisação, enfrentando dificuldades de assimilar informações e compreender o que está acontecendo naquele momento (KOHLSDORF; COSTA 06 JUNIOR, 2012; AMADOR et al., 2013). Ter um filho com câncer ocasiona diversos efeitos na vida da família. Há uma necessidade maior de aproximação, dificuldades financeiras, sacrifícios, dor e angústia emocional. A sensação é de estar vivenciando uma luta, na qual os pais questionam o porquê da doença em suas vidas. A doença faz com que cada membro da família passe a desenvolver novas habilidades e tarefas no cotidiano familiar para conseguir resolver os conflitos devido à hospitalização e às demandas da doença nos aspectos físicos, psico-sociais e financeiros (ÂNGELO; MOREIRA; RODRIGUES, 2010). Os pais da criança doente de câncer frequentemente possuem suas vidas transformadas, tanto na rotina doméstica, quanto nos aspectos financeiro, profissional e na vida conjugal. A dinâmica familiar sofre mudanças que refletem o modo como cada membro está lidando com a situação. Um exemplo disso é o de que, geralmente, o tratamento do câncer exige longas e frequentes internações, às quais o paciente está sujeito e que requerem a presença constante de pelo menos um familiar, geralmente os pais (KOHLSDORF; COSTA JUNIOR, 2012). Para Beck e Lopes (2007), a situação do familiar que tem um parente internado agrava-se quando ele assume o papel de acompanhante, em razão do desgaste físico e emocional a que está exposto. Os acompanhantes ficam longos períodos ajudando nos cuidados, sem descanso, além de compartilhar as angústias do paciente. Eles tendem a se desestruturar emocionalmente, embora evitem deixar transparecer os próprios sentimentos para poupar o enfermo, mas buscam apoio emocional na família, equipe e nos outros acompanhantes. Assim, torna-se relevante a equipe de saúde saber quais os sentimentos experienciados pelos pais em relação à doença dos filhos. Mediante a compreensão desses sentimentos, é possível o desenvolvimento de uma assistência humanizada e Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original integral, voltada para a criança e para os pais que vivenciam as transformações cotidianas oriundas da evolução clínica do filho. Nessa perspectiva, este estudo objetivou compreender os sentimentos e experiências vivenciados pelos pais de crianças com câncer. MÉTODO Trata-se de estudo com delineamento descritivo e exploratório, de abordagem qualitativa, pois esta envolve o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2010). O cenário da investigação foi o Centro de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) Irmã Malvina, da Irmandade Nossa Senhora das Mercês, de Montes Claros. Atualmente, o CACON é a principal referência para tratamento do câncer no norte do Estado de Minas Gerais (MG) e adjacências. No período de realização da pesquisa, estava em funcionamento há oito anos e prestava assistência a 800 pacientes por mês, nas áreas de atendimento ambulatorial e quimioterapia, sendo que 200 eram crianças. O Centro conta com uma equipe médica formada por 05 oncologistas e 02 hematologistas, e disponibiliza, ainda, equipe multiprofissional nas áreas de enfermagem, farmácia, serviço social, nutrição, fisioterapia, odontologia e psicologia (SANTA CASA, 2012). Os participantes deste estudo foram os pais de crianças com câncer, em tratamento no CACON. As entrevistas foram conduzidas pelas pesquisadoras, no próprio CACON, em sala privativa, a fim de garantir um ambiente agradável e confortável, assegurando privacidade aos participantes. As entrevistas ocorreram durante uma semana, no mês de outubro de 2012, com data previamente agendada no setor de oncologia. Os horários das entrevistas foram no turno em que as crianças estavam em acompanhamento no referido serviço. O número de entrevistados seguiu o método de amostragem por saturação teórica (MINAYO, 2010). Utilizou-se a entrevista individual, com identificação dos entrevistados em relação à idade, profissão, idade do filho e tempo de descoberta da doença. Em seguida, para abordar o tema, utilizaram-se as seguintes questões norteadoras: O que você sentiu quando descobriu a doença de seu/sua filho/ filha. Você deixou de realizar alguma atividade para acompanhar o tratamento de seu/sua filho/filha? O que você aprendeu com a doença de seu/sua filho/filha? No decorrer das entrevistas, quando necessário, as pesquisadoras utilizaram outras perguntas para absorverem melhor as experiências dos entrevistados. As entrevistas foram gravadas, o que permitiu contar integralmente com as informações fornecidas pelos participantes. Triviños (1994) declara que o uso do gravador dá ao pesquisador a certeza de que obterá a reprodução fiel e íntegra da fala, evitando, assim, riscos de interpretações equivocadas. Após a coleta dos dados, as entrevistas foram transcritas na íntegra e codificadas por nomes de flores, para preservar o sigilo dos participantes. Realizou-se a análise temática de conteúdo proposta por Minayo (2010), que consiste em um conjunto de técnicas de análise de comunicação, permitindo identificar inferências sobre dados de um determinado contexto. Para a realização desse processo, ocorreram três etapas: a pré-análise com leitura flutuante; exploração do material com identificação de categorias; e, posteriormente, o tratamento dos resultados e a interpretação. Esta pesquisa foi conduzida atendendo aos princípios éticos das pesquisas envolvendo seres humanos. Obteve-se a anuência formal da Irmandade Nossa Senhora das Mercês de Montes Claros. Os pais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto de Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 07 Artigo Original pesquisa que originou este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas do Norte de Minas (FUNORTE), mediante o Parecer Consubstanciado 130.100/2012. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir das análises das percepções parentais, foram identificadas três categorias empíricas: Vivenciando a descoberta da doença; rompendo a rotina de vida cotidiana; buscando formas de enfrentamento. Em adição, fez-se a caracterização dos pais e de seus filhos, para melhor conhecimento e contextualização do estudo. Caracterização dos Pais e de seus Filhos A idade dos pais esteve compreendida entre 25 e 41 anos, com a média de 32 anos, sendo entrevistados cinco mães e três pais, que representavam o cuidador principal das crianças. Quanto à situação conjugal, cinco eram casados, uma vivia em união estável e dois estavam solteiros. Considerando a ocupação, um trabalhava fora do domicílio como auxiliar administrativo, um na agricultura de subsistência, cinco exerciam atividades no lar e um não trabalhava. Entre as crianças, duas não tinham irmãos, três tinham um irmão, um tinha dois irmãos e um tinha cinco irmãos. A idade das crianças variou de 4 a 13 anos, com média de 7 anos. O tempo de descoberta da doença até o momento da entrevista variou entre 2 meses e 8 anos, apresentando uma média de 5 anos. Vivenciando a Descoberta da Doença Observou-se, nas falas dos entrevistados, que a notícia de que o filho tem câncer causa um choque na família. Isso foi percebido pelo desespero dos pais que encaram o diagnóstico como uma sentença de morte, relacionada à crença de que câncer não tem 08 depoimentos de alguns pais: “...o sentimento que agente teve é...de perda, né? Porque a causa da doença é muito séria né? “...o sentimento que agente teve é...de perda, né? Porque a causa da doença é muito séria né? A/gente ficava já em um sentimento de morte...” (CRAVO) “... pareceu que o mundo caiu sobre minha cabeça, pensei que não tinha jeito para ele, que não tinha cura a doença. Pensei que ele ia morrer, de imediato a/gente pensa meio assim...” (ROSA) “... a gente começou a olhar ele de uma maneira diferenciada, né? Tipo com medo de perda, foi isso que passou na cabeça da gente...” (LÍRIO) Diante da dor e das incertezas, surge, muitas vezes, um sentimento latente de culpa, geralmente mesclado a outras manifestações emocionais intensas, desencadeadas pela frustração. Tristeza, impotência, revolta, inconformismo, pavor diante do desconhecido também são reações muito presentes. A sensação de que o mundo está acabando e de que o chão esta-se abrindo embaixo dos pés mostra a fragilidade que a doença causa aos pais. Como descrito nos relatos abaixo: “Sensação horrorosa. Você acha que o mundo está desabando em cima de você assim...” (CRISÂNTEMO) “... e, de repente, você recebe uma notícia assim. Na hora, você fica meio sem chão.” (HORTÊNSIA) “Nossa, não tenho nem palavras, é o chão que você perde, perde o chão que você fica quase louca no início. Até que você coloca o pingo no is, demora. Aceitar, entender.” (TULIPA) Observa-se, nas falas, o desvelamento da surpresa dos pais ao se depararem inesperadamente com um acontecimento aterrorizante. Eles se percebem nessa nova condição, tendo uma criança com câncer em seus lares e, imediatamente, direcionam seus pensamentos para a possibilidade de perda do filho. Dessa forma, transformam sua existência em algo não mais prazeroso e trazem consigo a antevisão de uma morte próxima (SALES et al., 2012; FARIA et al., 2012). Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original Segundo Santos et al (2011), a angústia que permeia esse momento deve-se ao medo do desconhecido, do que há por vir. Na angústia, o que ameaça a existência do ser é algo que não está em parte alguma, aquilo que é inóspito e não possui familiaridade com seu cotidiano. Os pais passam, nesse primeiro momento - o do diagnóstico - por um processo de negação, apresentando enorme dificuldade em aceitar que o filho está doente por um câncer pois representa uma associação com a morte (OLIVEIRA; COSTA; NOBREGA, 2006). Corroborando essa ideia, Malta et al. (2008) afirmam que o diagnóstico do câncer desdobra-se em dois momentos para os pais: o do alívio em saber o que seu filho tem, e o temor misturado à sensação de que o médico sela seu destino e o de seu filho com a sua palavra. Receber o diagnóstico de câncer ainda é como receber uma sentença de morte, devido a todo o peso que essa palavra carrega. Para Carmo et al. (2011), no momento em que os pais se deparam com o diagnóstico de câncer em seu filho, seu mundo desmorona, e o futuro se fecha em uma perspectiva de morte. Esse momento é marcado por uma dor imensurável, mesmo com todas as explicações sobre a evolução científica, os índices de cura e as possibilidades de uma terapêutica apresentar resultados positivos. A antecipação da perda é uma situação muito perturbadora, tanto quanto a morte propriamente dita, trazendo consigo respostas emocionais como ansiedade de separação, tristeza, raiva, cansaço e desespero. Com essa ameaça de perda, os pais tornam-se ainda mais superprotetores e vigilantes (GRANT; TRAESEL, 2010). Rompendo a Rotina de Vida Cotidiana A necessidade de acompanhar o filho impõe aos pais o abandono de seu ambiente familiar e de trabalho, incluindo a maioria dos hábitos de vida diários, as rotinas e a realização de atividades que lhes trazem prazer, como está expresso nas seguintes falas: “... eu estava estudando, tive que parar. O pai dela também teve que ficar à disposição. Ele trabalha autônomo, já tava, e agora também teve que continuar para ficar à mercê dela, qualquer coisinha que precisar. É por conta dela mesmo.” (TULIPA) “... tive que parar de trabalhar para dedicar só a ele, porque tinha que vim todos os dias trazer ele, deixei bastante coisa para trás para ficar só com ele.” (ROSA) “... não é todo lugar que vou com ela, assim o esforço né?! Privo muito de certas coisas...não sou muito de sair sozinha mais, sempre saio acompanhada. Deixei de fazer muitas coisas...” (TULIPA) Uma doença em um filho desestabiliza a família abruptamente e, no caso de doença crônica, como o câncer infantil, ela precisa retomar sua vida e tentar manter o equilíbrio. O cotidiano do pai, a partir do adoecimento do filho pelo câncer, é alterado sobremaneira; o que antes era simples, torna-se difícil, comprometendo o desdobramento dos papéis de cada membro. O impacto que a doença causa redireciona a atenção da família para o filho com câncer, que passa a ser o centro das atenções (BELTRÃO et al., 2007). Muitas mudanças foram relatadas nas entrevistas: mudanças na rotina, na família, de atitudes e de valores. Seis pais abandonaram, por um determinado tempo ou de forma permanente, os empregos. Quatro pais deixaram os outros filhos, em cidades vizinhas, aos cuidados de avós e tios, para cuidarem do filho doente. Isso é percebido nas falas abaixo: “Assim, porque, eu ajudava meu marido, a gente trabalhava na roça né?! E... hoje eu não faço mais, por que...ele é a minha prioridade hoje.” (HORTÊNSIA) “Trabalhar?! Até pouco tempo eu estava trabalhando, aí agora eu não estou não, porque não tem como, né? Tem hora que não dava para ir, aí falhava mais do que ia no serviço, porque não tinha como trabalhar.” (MARGARIDA) Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 09 Artigo Original “Eu fico mais aqui do que na minha casa, deixo meus filhos, meus outros filhos pra trás.” (HORTÊNSIA) “Minha mãe fica com os outros, tenho mais 2 filhos.” (AZALÉIA) Nesse sentido, é comum que um dos pais deixe de trabalhar para acompanhar o filho doente em sua rotina de consultas ambulatoriais e hospitalizações. E essa necessidade de interromper as atividades profissionais e acompanhar a criança doente não apenas compromete o orçamento familiar, mas também repercute na relação com o cônjuge e no relacionamento e desenvolvimento dos outros filhos quando há mais de um filho. A configuração familiar muda e todos devem se adaptar a ela. Muitas vezes os outros filhos precisam ficar sob os cuidados de tios e avós, para que o pai possa trabalhar (KOHLSDORF; COSTA JUNIOR, 2012). A experiência da família diante dos cuidados é marcada pela reorganização familiar centrada no cuidado da criança com câncer, o que envolve as necessidades bio-psico-sociais e espirituais das crianças e da família (SANCHES; NASCIMENTO; LIMA, 2014). Nessa perspectiva, Silva, Melo e Pedrosa (2013) acrescentam que, diante de uma doença como o câncer infantil, os pais deverão rever os papéis deles e fazer reajustes na dinâmica da família. Na medida em que acontece, esse rearranjo se beneficiará dos recursos disponíveis no contexto em que estão inseridos. No caso dos pais entrevistados, a família extensa, ou seja, avós, tios e parentes mais próximos, podem se constituir em uma rede de apoio nesse processo. Buscando Formas de Enfrentamento O papel dos cuidadores nessa vivência é complexo, envolve sentimentos negativos, como angústia, decorrente da dor e do impacto que o diagnóstico traz, além da sobrecarga física e psicosocial que a família precisa suportar (AMADOR et al., 2013). 10 Dessa forma, ao experienciar essa vivência, os pais procuravam diversas formas para tentar minimizar o sofrimento da família e do filho. Mesmo diante dos acontecimentos dolorosos, eles demonstram disposição em lutar, sua fé e esperança em Deus e no tratamento, como expressam os relatos: “... podemos observar que a esperança de cura dele é muito alta. Graças a Deus a/gente tem muita esperança com a cura dele.” (LÍRIO) “... mas Deus tá me ajudando muito, que nessas horas ser religioso ajuda... a médica também é muito boa, muito competente, ajuda demais...” (TULIPA) “... aumentou mais a fé...” (CRAVO) “... não entro em desespero, para Deus não tem nada difícil... Para o homem tem, mais para Deus, não.” (AZALÉIA) Em um momento de agravamento da doença da criança, quando a morte parece estar perto, os pais voltam-se inteiramente para a religião, ao sentir que, por meio da medicina, tudo já foi feito e apenas um ser divino pode ajudar (GRANT; TRAESEL, 2010). Segundo Malta et al. (2008), os seres divinos são fontes de consolo e de orientação e essa relação pode propiciar senso de ordenamento e previsibilidade dos eventos e novos significados para situações problemáticas. Observou-se, ainda, que os pais procuram manter uma rotina de lazer que inclua o filho doente, ou mesmo aqueles que não tinham essa rotina passam a ter, na tentativa de uma vida de menos sofrimento tanto para o filho quanto para os pais. “... passear e viajar? Isso aí eu não deixei de fazer não, eu levo ele...” (AZALEIA) “... agora temos um lazer todo final de semana, o último lazer que a/gente teve agora foi de uma semana, nós começamos a aproveitar mais isso aí, porque ele ficou muito tempo internado parado, então nós ficamos em função dele, para melhorar o ânimo dele... essa parte emocional dele, para ele encarar Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original esse processo de internação.” (LÍRIO) O modo de enfrentamento da doença utilizado pelos pais é, em parte, determinado por suas histórias e experiências passadas, os valores e crenças pessoais, mas depende também dos recursos sociais disponíveis na comunidade para lidar com algum evento estressante (MENEZES et al., 2007). Os suportes para o apoio social dos pais podem abranger as crenças religiosas individuais, a família, a equipe de saúde e os amigos. Essa rede de apoio auxilia no enfrentamento da doença, contemplando aspectos biológicos, psicológicos e sociais (BELTRÃO et al., 2007). Nesse contexto, Sanches, Nascimento e Lima (2014) afirmam que a assistência à criança com câncer infantil deve também se estender ao cuidado planejado e baseado em ações direcionadas às esferas físicas e emocionais, aos valores culturais, éticos e religiosos, e nos recursos humanos e materiais disponíveis aos pais. É ainda imprescindível que esse planejamento seja ancorado em um objetivo central, ou seja, a qualidade de vida e, portanto, com foco no conforto e bem-estar biopsico-social e espiritual, compartilhado e realizado em conjunto com a criança, os pais e a família, respeitando os desejos e opiniões e, sobretudo, as maneiras que adotam para o enfrentamento dessa realidade. Em adição, faz-se indispensável que os profissionais de saúde se mostrem disponíveis a responder perguntas, prestar informações e garantir o apoio necessário durante toda essa jornada de complexos desafios impostos aos pais, estimulando que estes construam as próprias formas de enfrentamento (MCKENNA et al., 2010). A partir disso, os pais exercem grande influência sobre o curso da doença e o doente, principalmente quando é uma criança. Se bem orientados, eles poderão auxiliar a criança na utilização de seus recursos de adaptação de forma mais eficaz, respeitando as possibilidades e equipe bem qualificada para oferecer à criança e à família o cuidado humanizado e o acolhimento de que necessitam, sendo assim também um dos recursos disponíveis para o enfrentamento do câncer infantil (SALES et al., 2012). A presente pesquisa, embora tenha permitido a compreensão dos sentimentos e experiências vivenciadas pelos pais de crianças com câncer, apresenta limitações a serem consideradas. Houve um reduzido número de participantes e restrição ao cenário limitado de uma instituição embora essa quantidade não seja uma característica essencial do estudo de abordagem qualitativa. Assim, trata-se de uma investigação com achados singulares e um cenário com características específicas, o que, dessa forma, dificulta a generalização dos resultados. Para uma maior compreensão acerca da temática, e reconhecendo tais limitações, o assunto em estudo enseja a realização de novas investigações tanto na instituição cenário desta pesquisa, quanto em outras. Nesta investigação, foram abordados os aspectos relevantes no que se referem à temática proposta, merecendo destaque alguns pontos, como o choque do diagnóstico que aparece como sendo o momento mais difícil, não só para os pais, mas para toda a família. Desde esse primeiro momento, inicia-se um processo de perdas, como da vida que levava e da sua rotina, do convívio com a família e amigos, e, dentre outras, de sua tranquilidade em relação à segurança e imortalidade da família. Logo, as significações dadas a esse conjunto de vivências demonstram o estado emocional de tristeza e, por vezes, melancolia dos pais diante do adoecimento do filho. Assim, faz-se necessário que os profissionais de saúde desenvolvam no âmbito institucional ações que permitam aos pais elaborarem estratégias de enfrentamento do sofrimento, inclusive porque, em grande parte, depende deles a boa condição emocional da criança durante o tratamento. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 11 Artigo Original REFERÊNCIAS AMADOR, D. D. et al. Repercussões do câncer infantil para o cuidador familiar: revisão integrativa. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 66, n. 2, p. 267-270, 2013. ANGELO, M.; MOREIRA, P. L.; RODRIGUES, L. M. A. Incertezas diante do câncer infantil: compreendendo as necessidades da mãe. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 301-308, 2010. BECK, A. R. M.; LOPES, M. H. B. de M. Cuidadores de crianças com câncer: aspectos da vida afetados pela atividade de cuidador. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 60, n. 6, p. 670-675, 2007. BELTRÃO, M. L. R. L. et al. Childhood cancer: maternal perceptions and strategies for coping with diagnosis. Jornal de Pediatria, São Paulo, v. 83, n. 6, p. 562-566, 2007. BERTOLDO, C.; GIRARDON-PERLINI, N. M. O. A trajetória de uma família no adoecimento e morte de um familiar por câncer: compromisso e solidariedade. Revista Contexto & Saúde, Ijuí, v. 6, n. 12, p. 49-58, jan./jun. 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Estimativa da incidência e mortalidade por câncer no Brasil. Brasília, 2003. CAGNIN, E. R. G.; LISTON, N. M.; DUPAS, G. Representação social da criança sobre o câncer. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 51-60, 2004. CARMO, D. Sentimentos expressados pelos pais de crianças e adolescentes com diagnóstico de câncer. Ciência et Praxis, Passos, v. 3, n. 6, p. 53-56, 2011. ARIA, F. M. et al. (Con)vivendo com crianças e adolescentes diabéticos: percepção dos seus cuidadores. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras, Montes Claros, v. 10, n. 14, p. 39-45, 2012. GRANT, C. H.; TRAESEL, E. S. Vivências de cuidadores de crianças e adolescentes com câncer: uma reflexão sobre o apoio psicológico. Disc Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 11, n. 1, p. 89-108, 2010. KOHLSDORF, M.; COSTA JUNIOR, A. L. Impacto 12 psicossocial do câncer pediátrico para pais: revisão da literatura. Paideia, Ribeirão Preto, v. 22, n. 51, p. 119-129, 2012. MALTA, J. D. S.; SCHALL, V. T; MODENA, C. M. Câncer pediátrico: um olhar da família/cuidadores. Pediatria Moderna, São Paulo, v. 44, n. 3, p. 114-118, 2008. MCKENNA, K. et al. Parental involvement in paediatric cancer treatment decisions. European Journal Cancer Care, Edinburgh, v. 19, p. 621630, 2010. MENEZES, C. N. B. Câncer infantil: organização familiar e doença. Revista Mal-Estar Subjetivo, Fortaleza, v. 7, n. 1, p. 191-210, mar. 2007. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12.ª ed. São Paulo: Hucitec; 2010. OLIVEIRA, N. F. S.; COSTA, S. F. G.; NÓBREGA, M. M. L. Diálogo vivido entre enfermeira e mães de crianças com câncer. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 08, n. 01, p. 99-107, 2006. SALES, C. A. et al. O impacto do diagnóstico do câncer infantil no ambiente familiar e o cuidado recebido. Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, v. 14, n. 4, p. 841-849, 2012. Disponível e m : <http://www.revenf.bvs.br/pdf/ree/v14n4/12.pdf> . Acesso em: 14 nov 2013. SANCHES, M. V. P.; NASCIMENTO, L. C.; LIMA, R. A. G. Crianças e adolescentes com câncer em cuidados paliativos: experiência de familiares. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 67, n. 1, p. 28-35, 2014. SANTA CASA. A Santa Casa de Montes Claros na Atualidade: Oncologia Santa Casa. Disponível em: < www.santacasamontesclaros.com.br >. Acesso em: 15 set. 2012. SANTOS, L. M. P.; GONÇALVES, L. L. C. Crianças com câncer: desvelando o significado do adoecimento atribuído por suas mães. Revista enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 224-229, 2008. SANTOS, L. F. Ser mãe de criança com câncer: uma investigação fenomenológica. Revista enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, p. 626-631, 2011. SANTOS, M. E. M. A criança e o câncer. Recife: A. G. Botelho, 2002. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original SILVA, L. M. L.; MELO, M. C. B.; PEDROSA, A. D. O. M. A vivência do pai diante do câncer infantil. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 18, n. 3, p. 541550, jul./set. 2013. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1994. 175p. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 13 Artigo Original ALTERAÇÕES DE SAÚDE DECORRENTES DA ATIVIDADE DOCENTE FIGUEIREDO, Ariane Medeiros*; SANTOS, Stela Marys Marques dos*; ESCOBAR, Érika Goulart Veloso Ferreira** * Discentes das FIPMoc; ** Docente das FIPMoc RESUMO Os professores utilizam suas habilidades físicas, cognitivas e afetivas para atingir os objetivos da produção escolar, podendo provocar sobre-esforço ou hipersolicitação de suas funções psicofisiológicas. Quando não há tempo para a recuperação, são desencadeados os sintomas álgicos que explicam os altos índices de afastamento do trabalho por agravos à saúde. Portanto, o trabalho docente gera estresse, com impactos no desempenho profissional e repercussões na saúde física e mental. Esse estudo tem como objetivo identificar as alterações de saúde e as medidas de prevenção nos docentes das FIPMoc. Trata-se de uma pesquisa descritiva e transversal, realizada com 66 docentes das FIPMoc, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os critérios de inclusão foram: ter vínculo empregatício com a instituição, estar presente na data da pesquisa e aceitar participar do estudo. Foram excluídos todos os professores que não enquadravam nos critérios de inclusão. Dentre os 66 docentes pesquisados, 45 não apresentam alterações decorrentes da sua atividade como docente, 15 apresentam alterações vocais e 6 docentes apresentam problemas músculoesqueléticos. O segundo gráfico revela que as atitudes preventivas mais realizadas pelos docentes são atividades físicas (34) e tomar água durante a aula (33), sendo que 17 docentes não realizam nenhum tipo de prevenção. Faz-se necessária a conscientização dos docentes em relação à prevenção de alterações decorrentes de sua atividade. A implantação de programas voltados à prevenção é 14 indispensável, pois promoverá uma melhor qualidade de vida e bem-estar aos docentes. Palavras-chave: Alterações de saúde. Docentes. Prevenção. INTRODUÇÃO O professor possui um papel complexo, considerando que cada um dos alunos é um ser único, com necessidades muito diferentes. Diante da expansão dos conhecimentos e da transformação do mundo por meio de inovações tecnológicas e de comunicação globalizada, as dificuldades se acumulam para o professor, que precisa se adaptar a novas exigências que gerem a aprendizagem de seus alunos (VALLE et al., 2011). As transformações, como o crescente número de exigências e o aumento das responsabilidades sobre os docentes, são fatores de risco que causam doenças ocupacionais. Um dos reflexos dessas transformações é o “mal-estar” docente, que, entre vários fatores, pode ser gerado por um conjunto de agravos à saúde, decorrente do processo de adaptação às novas exigências da profissão (CARDOSO et al., 2009). A sobrecarga laboral exagerada provoca Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original sintomas físicos, como fadiga e cefaleias, transtornos cardio-respiratórios e osteo-musculares, problemas psíquicos, que variam desde a ausência de concentração até a paranoia. Entre as alterações comportamentais, estão a negligência ou excesso de escrúpulos, e até o suicídio, e, ainda, sintomas defensivos que variam do isolamento até o absenteísmo e ironia (RUIZ; SILVA, 2009). Os docentes usam suas habilidades físicas, cognitivas e afetivas para alcançar os objetivos da produção escolar, podendo gerar sobre-esforço ou hipersolicitação de suas funções psicofisiológicas. Quando não há tempo para a recuperação, são desencadeados os sintomas álgicos que esclarecem os altos índices de afastamento do trabalho por agravos à saúde. Portanto, o trabalho docente é uma atividade causadora de estresse, com impactos no desempenho profissional e repercussões sobre a saúde física e mental (CARDOSO et al., 2009). Os distúrbios do sistema músculo-esquelético podem provocar o surgimento de diversos sinais, como a dor e a incapacidade funcional, gerando repercussões importantes sobre a qualidade de vida das pessoas acometidas. Entre os docentes, é muito comum a existência de patologias ósteo-musculares, as quais são uma das principais causas de absenteísmo das atividades de trabalho (FERNANDES et al., 2011). Os docentes podem desenvolver problemas nas vias aéreas superiores, quando há acúmulo de poeira e pó de giz na sala de aula. Os problemas do trato respiratório estão associados às condições ambientais e sofrem influência de predisponentes individuais (MARÇAL, 2011). A voz é um instrumento básico de trabalho para o professor, tendo em seu desgaste um fator limitante para o exercício das atividades profissionais, tanto para a saúde como para a qualidade de vida. Vários fatores contribuem para uma pior qualidade vocal do professor. O número total de aulas dadas, salas inadequadas, trabalho repetitivo, ruído em sala de aula e relacionamento ruim com os alunos são alguns desses fatores de riscos. Entretanto, apesar dos aspectos negativos associados à saúde vocal dos professores, a maioria possui dificuldades na percepção do processo saúde-doença (SANTOS et al., 2012). As cobranças do trabalho que obrigam o docente a esforços comprometem seu equilíbrio e saúde, podendo interferir em sua atividade de sono. O estresse e os distúrbios do sono são graves ameaças, pois geram sofrimento e repercutem em toda a sociedade (VALLE et al., 2011). A sociedade teria muito a ganhar se os professores fossem bem tratados, reconquistando o antigo prestígio que a profissão lhes oferecia (WEBBER & VERGANI, 2010). Nesse sentido, faz-se necessário conhecer o perfil dos professores FIPMoc, a fim de que esse conhecimento sirva para nortear estratégias de prevenção, promoção e tratamento. Além disso, possibilita compreender as variações observadas no âmbito individual e/ou populacional da saúde, a fim de planejar uma melhor abordagem desses profissionais. Este trabalho tem como objetivo identificar as alterações de saúde e as medidas de prevenção nos docentes das FIPMoc. MÉTODO Trata-se de uma pesquisa descritiva e transversal, realizada com os docentes das Faculdades Integradas Pitágoras. Foram avaliados 66 docentes das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros/MG, dos seguintes cursos: Administração, Arquitetura e Urbanismo, Direito, Enfermagem, Engenharia Civil, Engenharia de Produção, Engenharia Mecânica, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Pedagogia, Psicologia e Publicidade e Propaganda, mediante assinatura do Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 15 Artigo Original Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os critérios de inclusão foram: ter vínculo empregatício com a instituição, estar presente na data da pesquisa, e aceitar participar do estudo. Foram excluídos todos os professores que não se enquadram nos critérios de inclusão. A coleta de dados foi realizada mediante um questionário com 2 perguntas sobre alterações de saúde decorrentes da atividade de docente, e prevenção dessas alterações. Gráfico 2 - Você realiza algum tipo de prevenção para as alterações citadas acima? RESULTADOS A pesquisa de campo foi realizada no 2º semestre de 2012, no mês de setembro, pelos acadêmicos do curso de Fisioterapia do 6º período, das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros (FIP/Moc). O questionário foi aplicado a 66 professores das FIP/Moc. Este estudo trouxe-nos como resultado, que, dentre os 66 docentes pesquisados, 45 relataram que não apresentam nem apresentaram algum tipo de alteração em sua saúde decorrente da sua atividade como docente; 15 professores relataram ocorrência de problemas vocais, 6 professores declararam ser acometidos de problemas músculo-esqueléticos, 2 professores citaram problemas respiratórios e 1 professor apontou ter problemas auditivos. Destaquese que os docentes apontaram mais de uma alternativa (Gráfico 1). Gráfico 1 - Você apresenta ou já apresentou algum tipo de alteração em sua saúde decorrente da sua atividade docente? Não 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 45 Problemas Musculoesqueléticos Problemas Respiratórios Alergias Dermatológicas 15 6 2 1 1 Problemas Vocais Problemas Auditivos Fonte: Pesquisa de Campo do 6º período de Fisioterapia / 2º2012 16 Foi perguntado aos 66 docentes entrevistados se realizam algum tipo de prevenção para as alterações citadas. Dos 66 docentes, 17 respondem que não realizam nenhum tipo de prevenção, 34 realizam atividade física, 1 realiza ginástica laboral, 11 sentam-se durante a aula, 9 evitam fatores alérgicos, 33 tomam água durante a aula, e 2 fazem uso de microfone (Gráfico 2). 40 35 30 25 20 15 10 5 0 34 33 Não Atividade Física 17 Ginástica Laboral 11 9 Senta durante a aula 2 1 1 Fonte: Pesquisa de Campo do 6º período de Fisioterapia / 2º2012 DISCUSSÃO A dor músculo-esquelética (DME) é revelada como um importante problema de saúde, sendo um dos principais fatores geradores de absenteísmo das atividades de trabalho docente (CARDOSO et al. 2009; FERNANDES et al., 2011). As dores nas costas, nas pernas, nos braços podem estar associadas ao fato de os professores permanecerem por longos períodos pé (escrever em quadro de giz), carregar material didático para salas de aulas, serem responsáveis pela instalação de recursos áudio-visuais, deslocarem-se com frequência de um prédio para outro, além de usarem mesas e cadeiras de formatações impróprias (LIMA & FILHO, 2009). Segundo Marçal (2011), o acúmulo de poeira e pó de giz dentro da sala de aula aumenta a possibilidade de ocorrência de problemas nas vias aéreas superiores. A presença constante de Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original professores, é significativamente maior do que na população em geral. Segundo Martins et al., (2007), o aumento da frequência de sintomas auditivos e o relato frequente do excesso de ruído nas aulas são sintomas que explicam a presença de surdez ocupacional entre os docentes, secundária à exposição ao ruído. Os dados da pesquisa de campo contradizem os achados da literatura, quando, diante da pergunta "Você apresenta ou apresentou algum tipo de alteração em sua saúde decorrente da sua atividade como docente?", 45- em 66- professores deram resposta negativa. Na literatura, afirma-se que problemas de saúde relacionados com dor músculoesquelética, distúrbios vias aéreas superiores, distúrbios vocais, problemas vocais e surdez ocupacional são presentes em professores, decorrentes de sua ocupação como docente. Uma importante medida de promoção de saúde é a prática regular de exercícios físicos- dificultada em razão do contexto de vida dos docentes envolvendo vários fatores, como excesso de horas de trabalho e ausência de tempo para o lazer (SANTOS et al., 2012). As ações educativas em prevenção são indispensáveis. Assim, devem ser estruturadas de modo a modificar hábitos e aprimorar os mecanismos de produção da voz, e estratégias de promoção à saúde que destaquem alterações nas condições de vida e trabalho, além de apoiar a adoção de políticas públicas que incluam medidas fiscais, taxações e mudanças organizacionais. Há ausência de ações de saúde coletiva, ou pública, que considerem a coexistência de duas áreas para a prevenção de alterações vocais em professores - a saúde e a educação, num só contexto de promoção (LUCHESI et al.,2010). Por se tratar de uma profissão que trabalha com comunicação, o trabalho do professor exige o uso intensivo da fala. Entretanto, o uso inadequado da voz é um fator que colabora para os problemas vocais, observando-se ausência de preparação do professor para usar de forma adequada a voz. Estudo mostra que 68,8% dos professores não bebem água durante as aulas e 100% não usam microfone (LIMA; FILHO, 2009). Como podemos observar, a literatura nos oferece bases da importância de medidas preventivas, a fim de evitar doenças ocupacionais. A prática de atividade física, sentar e tomar água durante as aulas, usar microfone, usar quadros com pincéis, entre outros, são de extrema importância para a saúde dos professores; o número dos professores que praticam atividade física foi até relevante, mas ainda é um número baixo. Diante dos resultados obtidos na pesquisa, que o presente estudo nos mostra que, dos 66 docentes entrevistados das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros / MG, grande parte não apresenta alterações decorrentes de sua atividade como docente; dos que declararam possuir, a maioria apresenta alterações vocais. As atitudes preventivas mais realizadas pelos docentes são atividades físicas e hábitos de tomar água durante a aula. Por se tratar de uma profissão exposta a inúmeros fatores de risco, os docentes devem ser conscientizados da importância da realização de medidas preventivas para que possam melhorar suas condições de trabalho e sua qualidade de vida. A Fisioterapia Preventiva é de fundamental importância, pois atua na implantação de programas voltados à prevenção de doenças e melhora da qualidade de vida dos docentes. Portanto, é imprescindível que a sociedade reconheça e valorize os docentes, e que esses profissionais conheçam a importância da prevenção para sua saúde e bemestar. REFERÊNCIAS CARDOSO, J. P. et al. Prevalência de dor musculoesquelética em professores. Rev. Bras. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 17 Artigo Original Epidemiol., v.12, n.4, p.604-614, 2009. FERNANDES, M.H., ROCHA, V.M., FAGUNDES, A.A.R. Impacto da sintomatologia osteomuscular na qualidade de vida de professores. Rev. Bras. Epidemiol., v.14, n.2, p.276-284, 2011. LIMA, M. F. E., FILHO, D. O. L. Condições de trabalho e saúde do/a professor/a universitário/a. Ciências & Cognição, v. 14, n. 3, p. 62-82, 2009. LUCHESI, K.F., MOURÃO, L.F., KITAMURA, S. Ações de promoção e prevenção à saúde vocal de professores: uma questão de saúde coletiva. Rev. CEFAC, v.12, n.6, p.945-953, 2010. MARÇAL, C. C. B. Alteração vocal auto-referida em professores: prevalência e fatores associados. Rev. Saúde Pública, v.45, n.3, p.503-511, 2011. MARTINS, M. G. T. Sintomas de Stress em Professores Brasileiros. Revista Lusófonade Educação, v.10, p.109-128, 2007. RUIZ, L. M., SILVA, N. R. Indicadores de burnout em docentes de terapia ocupacional: um estudo piloto. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 20, n. 2, p.101-109, 2009. SANTOS, M. N., MARQUES, A.C., NUNES, I. J., Condições de saúde e trabalho de professores no ensino básico no Brasil: uma revisão. EFDeportes.com, Revista Digital, Ano 15, n.166, 2012. VALLE, L. E. R., REIMAO, R., MALVEZZI, S. Reflexões sobre Psicopedagogia, estresse e distúrbios do sono do professor. Rev. Psicopedag, v.28, n.87, p.237-245, 2011. WEBBER, D. V., VERGANI, V. A profissão de professor na sociedade de risco e a urgência por descanso, dinheiro e respeito no meio ambiente laboral. Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza – CE, p.8807-8823, 2010. 18 Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original CÂNCER DE PRÓSTATA: Conhecimento dos Docentes e Funcionários de uma Instituição Particular de Ensino Superior de Montes Claros – MG *SOUSA, Danielle Cristina Nascimento de; *CONCEIÇÃO, Márcio Leandro da; **MOTA, Écila Campos. *Acadêmicos do curso de Enfermagem das FIPMoc; **Docente das FIPMoc RESUMO No Brasil, um dos tipos de câncer que mais causam danos à saúde dos homens é o câncer de próstata, sendo o segundo mais diagnosticado na população masculina é o sexto mais comum no mundo, representado por cerca de 10% do total de cânceres. O presente estudo tem como objetivo avaliar o conhecimento dos docentes e funcionários de uma Instituição Particular de Ensino Superior de Montes Claros - MG acerca do exame preventivo. Trata-se de um estudo descritivo e quantitativo, mediante um questionário validado contendo 29 questões objetivas. Os resultados revelam que, apesar de a população masculina ser cheia de preconceitos, a busca dos serviços de saúde por esse grupo está aumentando. Palavras-chave: Barreiras; Câncer de próstata; Exame de próstata. INTRODUÇÃO Segundo o Instituto Nacional do Câncer (2011), a palavra “câncer” se origina do grego karkínos, que significa “caranguejo”, sendo utilizada primeiramente por Hipócrates, considerado o pai da medicina. Hoje, o câncer é o nome dado ao conjunto de mais de 100 doenças, que têm em comum o crescimento desordenado de células, que tendem a invadir tecidos e órgãos vizinhos. De acordo com Paiva, Motta e Griep (2011), no Brasil, um dos tipos de câncer que mais causam danos à saúde dos homens é o câncer de próstata, sendo o segundo mais diagnosticado na população masculina e o sexto mais comum no mundo, representado por cerca de 10% do total de cânceres. No Brasil, foram registrados 52.350 casos de câncer de próstata no ano de 2010. Segundo Medeiros; Menezes e Napoleão (2011), o Brasil é o país mais incidente em câncer de próstata, mas sua prevalência em mortalidade é baixa, devido à intervenção imediata. Gomes et al., (2008) reforçam que o comprometimento da saúde masculina por essa doença é em média de um em cada seis homens acima de 45 anos, sem que se conheça o diagnóstico. A Sociedade Brasileira de UrologiaSBU recomenda que os homens acima de 50 anos e os que têm 45 anos com casos na família façam uma avaliação anualmente, mesmo com ausência de sintomas urinários. A descoberta do elevado número de casos de câncer de próstata no Brasil se justifica, parcialmente, pelos inúmeros fatores Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 19 Artigo Original desencadeantes dessa neoplasia, pela evolução das tecnologias, por aumento da expectativa de vida da população masculina; a baixa qualidade de nutrientes saudáveis na alimentação, o consumo exacerbado de alimentos enlatados, o maior consumo de carne vermelha, gorduras e leite, o abuso de álcool fazem com que novas pessoas sejam identificadas com essa doença (PAIVA; MOTTA; GRIEP, 2011). Na visão de Souza; Silva; Pinheiro (2011), o diagnóstico precoce e o tratamento do câncer de próstata têm sido um grande tabu entre a sociedade e a masculinidade atribuída ao homem, pois os homens ao realizarem o exame prostático, podem apresentar resistência e constrangimento, dificultando cada vez mais a procura do diagnóstico. O Instituto Nacional de Câncer tem investido em campanhas para quebrar esse paradigma e incentivar a população masculina a se prevenir contra a doença, que a cada ano atinge uma grande parte da população (GOMES et al., 2008). De acordo com Gomes et al. (2008), referindose ao exame de toque retal, pode-se descrever que é um procedimento invasivo, que fere os valores físicos e emocionais dos homens. Assim, o medo da prática desse procedimento pode ser uma das grandes barreiras para sua realização. Paiva, Motta e Griep (2011) ainda completam que a melhor maneira de diagnosticar o câncer de próstata é com a associação das duas práticas, ou seja, toque retal e o exame de sangue PSA (antígeno prostático-específico), que é caracterizado pela dosagem do antígeno prostático na corrente sanguínea, sendo que o primeiro tem probabilidade de erro de 30 a 40%, e o segundo, de 20%; essa associação apresenta chance de erro de apenas 5%. O preconceito ainda é o maior fator a favor do desenvolvimento do câncer de próstata, visto que fere os preceitos da masculinidade e representa uma perspectiva relacionada com o gênero que identifica o homem, priorizando alguns valores mais do que outros (GOMES et al., 2008). 20 De acordo com Medeiros; Menezes e Napoleão (2011), o Ministério da Saúde preocupado com a enorme ocorrência de novos casos de câncer de próstata no Brasil, implementou a Lei 10.289 de 20 de setembro de 2001, designando aos profissionais de saúde a promover ações sócioeducativas, adequando o acolhimento de acordo com a demanda, disponibilizando acesso fácil para atendimento dessa população, a fim de conscientizar sobre exames para a prevenção de câncer, com o intuito de minimizar os índices. O Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem, após ter reconhecido os agravos que afetam a saúde masculina. A busca de ações para promover a compreensão da realidade em seus diversos contextos sócio-culturais e políticos teve mais atenção. Essas ações devem possibilitar a sensibilização da população masculina em relação ao câncer de próstata, principalmente o grupo de maior risco, para que busque práticas positivas de rastreamento. Entender os valores comportamentais, culturais, crenças e tabus dos homens frente ao rastreamento do câncer de próstata é a melhor forma de detectar e favorecer estratégias de prevenção mais adequada (PAIVA, MOTTA e GRIEP, 2011). Levando em conta esses aspectos, o presente estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento e as barreiras de docentes e funcionários de uma Instituição Particular de Ensino Superior de Montes Claros – MG, acerca do exame de próstata. MÉTODO Trata-se de um estudo descritivo, quantitativo e de campo. A pesquisa foi realizada com os profissionais do sexo masculino de uma Instituição de Ensino Superior de Montes Claros- MG, que se enquadram nos seguintes critérios de inclusão: ter idade a partir de 40 anos; aceitar participar da Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; e ser encontrado em até 3 tentativas. O critério adotado para exclusão foi: com idade a partir de 40 anos, ter sido diagnosticado com câncer de próstata. Utilizou-se como instrumento de pesquisa um questionário, estruturado e validado por PAIVA et al., 2011. O conteúdo das questões abrangeu variáveis socioeconômicas e demográficas (idade, escolaridade, situação conjugal, ocupação e renda), além de crenças e barreiras na realização de exames de rastreamento do câncer de próstata. A análise dos dados foi realizada, inicialmente, por meio da codificação manual dos formulários. Os dados foram digitados, utilizando-se o programa Excel, e submetidos às técnicas estatísticas exploratórias: média e distribuição de frequências. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes ClarosMG, sob o Parecer 78096, em 11/07/2012. RESULTADOS Tabela1- Características sócio-econômicas dos profissionais do sexo masculino de uma Instituição de Ensino Superior de Montes Claros- MG no ano de 2012. Variáveis sócio-econômicas Nº Raça/cor Branco 13 Negro 1 Pardo 12 Situação Conjugal Solteiro 1 C asado 29 Separado 5 Viúvo 1 E scolaridade Fuldamental C ompleto 2 Médio 3 Superior 31 Renda Familiar (Em Reais) Um a dois salários minimos 4 % 63,8 2,7 33,3 2,7 80,5 13,8 2,7 5,5 8,3 86,1 11,1 Três Salários Minimos Quatro Salários Minimos Não Sabe Tem Plano de Saúde Não Sim 1 30 1 2,7 83,3 94,5 2 34 5,5 94,5 Fonte: Pesquisa direta feita pelos acadêmicos do 8° período de Enfermagem em uma Instituição Particular de Ensino superior de Montes Claros- MG. A média de idade da amostra foi de 44.6 anos, com mínima de 40 e máxima de 62 anos. Em relação à raça/cor, 63,8% se autodeclararam brancos; 2,7%, negros; e 33,3% pardos. Amorim et al. (2011) afirma que, de acordo com o avanço da idade, a incidência de hiperplasia prostática aumenta, o que vai elevar a procura dos serviços de saúde para realização dos exames preventivos do câncer de próstata. Segundo Amorim et al. (2011), estudos desenvolvidos nos Estados Unidos mostraram que a prevalência da prática do exame de próstata em homens não brancos era baixa, e alguns autores consideram que a população negra têm maior risco de desenvolver o câncer de próstata. De acordo com Amorim et al.(2011), o estado conjugal aparece associado à análise bivariada, segundo a qual o homem tem procurado mais o serviço de saúde por incentivo das esposas. Sendo assim a prevalência de homens sem cônjuges tem sido menor na realização dos exames de câncer de próstata. Ross et al. (2008), completa que o incentivo das esposas é um fator importante para que os homens cuidem mais da saúde. De acordo com Souza, Silva e Pinheiro (2011), a alta escolaridade favorece a prevenção do câncer de próstata; a variável de estudo apresentou média superior à nacional, que é de 7,4 anos de estudo para as pessoas com idade igual ou superior a 18 anos, demonstrando, assim, alta escolaridade. Ainda completa que o alto salário também contribui para a proteção dessa neoplasia, pois, fica mais fácil chegar Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 21 Artigo Original ao especialista para a realização do exame preventivo como mostra a tabela acima que 94,5% tem plano de saúde. A maioria da população entrevistada, de maior renda e escolaridade, fez pelo menos um exame preventivo por meio dos convênios de saúde ou consultas particulares. Para Nascimento (2000), a renda influencia na procura de atendimento à saúde, devido à facilidade ao acesso, e a escolaridade dos pesquisados tem ajudado para que os homens tenham conhecimento sobre os cuidados com a saúde. A idade é um fator problemático para os homens na realização do exame de câncer de próstata; alguns médicos indicam a realização do exame a partir dos 40 anos, e outros, a partir dos 45 anos. Entretanto, no presente estudo, não se verificou esse comportamento. Tabela 2 – Práticas relacionadas ao exame de próstata, segundo informações dos Docentes e Funcionários de uma Instituição Superior de Montes Claros- MG, no ano de 2012. P rá tica s R e lac ion a d as ao ex a m e N % R ec eb eu I n for m a çõ es m é d icas so b re o ex a m e d e p ró sta ta N ão 1 0 2 7,7 S im 2 6 7 2,3 R ea lizo u ex a m e d e p r ós tata N ão S im R ea lizo u P S A S im nã o M otiv o d a solic ita çã o R o tina de p reve n ção C as os cân ce r n a f am ília Ign o raram Ú ltim a v ez q u e r ea lizo u o ex a m e de p ró sta ta e PS A H á m e no s d e um an o E ntre u m e d ois an os H á m a is d e c inco ano s 14 22 3 8,8 6 1,2 23 13 6 3,8 3 6,2 24 2 10 6 6,6 5 ,6 2 7,8 Tabela 3- Crenças relatadas pelos docentes e funcionários de uma Instituição Superior de Montes Claros – MG, no ano de 2012. Crenças informadas pelos pesquisados 21 3 1 5 8,3 8 ,5 2 ,7 Fonte: Pesquisa direta feita pelos acadêmicos do 8° período de Enfermagem em uma Instituição Particular de Ensino superior 22 72,3% dos homens entrevistados foram informados sobre a importância do exame preventivo do câncer de próstata; no entanto somente 61,2% realizaram esse exame. A realização do exame de rastreamento do câncer de próstata é importantíssimo. Segundo Brasil (2008), o exame preventivo de próstata deve ser realizado anualmente. A tabela acima mostra que mais da metade (66,6 %) dos entrevistados não perdem oportunidade de se prevenir contra essa neoplasia. Esses dados não impedem ações de saúde direcionadas para a população masculina a respeito da prevenção do câncer de próstata (PAIVA et al., 2011). Segundo Souza, Silva e Pinheiro (2011), em uma pesquisa realizada em dez capitais brasileiras, foram entrevistados 1.061 homens com idade entre quarenta e setenta anos, dos quais 32% realizaram o exame de toque retal e 47% o PSA. Gomes (2008) ainda completa que, além do exame do toque retal e PSA, alguns médicos solicitam a ultrassonografia transreta,l quando necessário. Outros, indicam a realização de apenas um dos exames para detecção precoce do câncer de próstata. Migowski & Silva (2010) elucidam que a avaliação pré-tratamento de Gleason é de suma importância para análise precoce dos médicos patologistas, sendo que o toque retal e o exame de PSA não substituem a investigação para descobrir as diferenças no prognóstico em relação à etnia e suas possíveis causas, na busca de novos prognósticos para a população brasileira. Sim Não % % O exame de próstata pode afetar a masculinidade 5,6 94,4 O Ca pode ser curado se detectado precocemente 86,2 13,8 Um homemcom Ca pode ter uma vida normal 88,8 11,2 O tratamento do Ca é pior que a doença 5,5 94,5 Um homempode ter Ca sem sintomas 75 25 Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original Se tiver Ca, é melhor deixar quieto, não tratar 00 100 Se estiver bem, não é necessário fazer exame 19,4 80,6 Fonte: Pesquisa direta feita pelos acadêmicos do 8° período de Enfermagem em uma Instituição Particular de Ensino superior de Montes Claros- MG. Com referência às crenças que envolvem a detecção e o tratamento do câncer de próstata, os dados acima mostram que a maioria dos homens discorda que o exame de próstata pode afetar a masculinidade, porém 5,6% dos entrevistados concordam com a afirmativa. Gomes (2008), explica que a busca do cuidar está associada à perspectiva da construção social, ou seja, à masculinidade ditada por sua cultura. O homem tem dificuldade de se colocar como paciente, nega a possibilidade de estar doente e só procura o médico em último caso. Paiva, Motta e Griep (2011), pontuam que a masculinidade fica fragilizada pelo paradigma imposto pela sociedade, de que o homem não pode adoecer, não deve mostrar fraqueza ou debilidade, colocando em risco a invulnerabilidade masculina. O toque retal é considerado para o homem uma situação constrangedora, devendo os profissionais de saúde em sua abordagem considerar estes aspectos subjetivos que envolvem a realização do exame. No presente estudo, pôde-se observar que a grande maioria acredita que o câncer pode ser curado se diagnosticado precocemente. A população entrevistada acredita que o câncer pode ser encontrado nos exames de detecção precoce da patologia. (PAIVA, MOTTA e GRIEP, 2011). O tratamento do câncer é considerado pior que a doença por 5,5% dos entrevistados. Paiva, Motta e Griep, (2011) afirmam que o desconhecimento a respeito do câncer de próstata ainda existe, o que causa um forte impacto no tratamento. De acordo com Lara (2005), a maioria dos cânceres de próstata é encontrada em homens que não apresentam sintomas, nos quais foram detectados nódulos, ou região endurecidas na próstata, quando realizado o exame preventivo de toque retal. Todo homem nasce programado para ter câncer de próstata, pois o código genético de cada um carrega os chamados "proto-oncogenes", que tem função de ordenar uma célula normal se transformar em outra maligna. A ocorrência desse fenômeno não acontece indiscriminadamente porque existe outro grupo de genes protetores que impedem a ação dos protooncogenes. Todos os entrevistados discordaram de que, se ocorrer câncer de próstata, é melhor deixar quieto e não tratar. Isso mostra que a população masculina vem conscientizando-se da importância de uma boa saúde. Uma porcentagem afirmou que, se a pessoa estiver bem, não é necessário fazer o exame preventivo de próstata, o que cabe ressaltar a importância de as informações chegarem a esse grupo de homens por intermédio dos profissionais de saúde. Paiva, Mota e Grip (2011) dão ênfase a ações educativas, que visam prevenir riscos e agravos de saúde em um determinado grupo dentro de um território. Tabela 4- Barreiras informadas pelos Docentes e Funcionários de uma Instituição Superior de Montes Claros- MG, em relação ao exame preventivo de próstata. B ar reira s ref erid a s p a ra N % f az er exa m e M e d o d e R e aliza r o e xa m e S im 2 N ão 34 P r efe re n u n ca s ab er d e um a d o en ça c om o o cân c er d e p r ós tata S im 3 N ão 33 N u nc a ap re sen to u s in tom a s S im 1 N ão 35 N u nc a co ns ide ro u im p or tan te S im 15 N ão 21 Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 5,5 9 4,5 8,4 9 1,6 2,8 9 7,2 4 1,7 5 8,3 23 Artigo Original O h o m e m d ev e fa zer o e xa m e S im N ão C on se gu e m a rc ar c on s ulta c om es pe cia lis ta S im N ão 35 1 9 7,3 2,7 34 2 9 4,5 5,5 Fonte: Pesquisa direta feita pelos acadêmicos do 8° período de Enfermagem em uma Instituição Particular de Ensino superior de Montes Claros- MG. Em relação às barreiras para a realização do exame preventivo do câncer de próstata, 5,5% dos entrevistados afirmaram ter medo de realizar o exame de toque retal. Gomes et al. (2008) afirmam que o medo não é incomum entre os homens, sendo que alguns autores consideram que, “mesmo que o homem não sinta a dor, no mínimo, experimenta o desconforto físico e psicológico de estar sendo tocado, numa parte interdita”. Czresnia; Freitas (2003), afirmam que essa barreira também foi expressa pelos participantes de estudos internacionais, como falta de coragem e outras, como ausência de sintomas, o médico não recomendar, o médico não informar as causas. Esses resultados mostram que tanto o homem latino como o norteamericano têm tabus semelhantes em relação aos exames de detecção precoce. O ato de realização do toque retal é delicado para o homem, pois, nesse momento, sua visão da masculinidade pode ser ameaçada (ARAÚJO; LEITÃO, 2005). Araújo e Leitão (2005) ainda completam que o medo do toque, que envolve penetração, pode estar associado tanto à dor física quanto simbólica, que se associa também à violação. Outro fator considerado é o medo de ereção durante o toque, que pode ser visto como prazer. No imaginário masculino, “a ereção pode estar associada ao prazer, e não consegue imaginá-lo como fisiológico”. Segundo Paiva, Mota e Griep (2011), parte dos homens entrevistados prefere não saber da doença como o câncer de próstata. Esses dados mostram que 24 o medo da doença está presente na população pesquisada. A falta de sintomas referente ao câncer de próstata é um empecilho que pode ser considerado como indicador de ausência de conhecimento das ações preventivas na população estudada. É comum entre as populações de países em desenvolvimento o entendimento de que não há necessidade de ir ao médico quando não se sente nada. (PAIVA; MOTTA; GRIEP, 2011). M ais d a metad e d o s en tr ev is tad o s desconsidera importante a prática do exame de rastreamento do câncer de próstata, o que se torna preocupante e contraditório para a população pesquisada, devido ser um grupo de pessoas que apresentam maior nível educacional e disseram ter facilidade de marcar consulta com especialista. Gomes et al. (2008) diz em que a facilidade de ter acesso aos serviços de saúde, por exemplo, pode ser outro fator que contribui para a realização do exame. Paiva; Mota; Griep (2011), discorrem que medidas educativas devem ser prioritárias para esse grupo específico, pois um dos maiores desafios na saúde ainda diz respeito à desigualdade de acesso, refletido, muitas vezes, na desigualdade social da população. CONCLUSÃO O conjunto de ações para a prevenção e detecção precoce do câncer é estratégia básica para o controle dessa neoplasia prostática. As ações educativas constantes e dinâmicas para a população masculina devem seguir um padrão de valores, escolaridade, entre outras variáveis. Consideram-se que atividades educativas devam priorizar a necessidade urgente de mudança de comportamento, tanto por parte dos homens quanto dos serviços, priorizando os exames de rastreamento. A participação dos homens no que se refere à Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original saúde é importantíssima, pois o planejamento de ações, articulada com setores organizados da comunidade e outros setores governamentais, vão mostrar o quanto a saúde é importante para a sobrevivência de um ser humano e disseminar conhecimentos adequados sobre o exame, podendo constituir-se em estratégia fundamental para a formação de atitude positiva em relação à detecção precoce e amenizar ou extinguir a ideia de que existem mais barreiras do que possibilidades de ter uma boa saúde. REFERÊNCIAS: AMORIM, V. M. S. L; BARROS, M. B. A; CÉSAR, C. L. G; GOLDBAUM, M; CARANDINHA, L; ALVES, M. C. G .P. Fatores associados à realização dos exames de rastreamento para o câncer de próstata: um estudo de base populacional. Caderno de Saúde Pública, v. 27, n.2, p.347-356, Rio de Janeiro, fevereiro, 2011. ARAÚJO, M. A. L; LEITÃO, G. C. M . Acesso à consulta a portadores de doenças sexualmente transmissíveis: experiências de homens em uma unidade de saúde de Fortaleza, Ceará, Brasil. Caderno de Saúde Pública, v.21, n.2, p.396-403 março-abril 2005. CZRESNIA D, FREITAS CM. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. GOMES, R.; NASCIMENTO, E. F.; REBELLO, L. E. F. S.; ARAUJO, F. C. Arranhaduras da masculinidade: uma discussão sobre o toque retal como medida de prevenção do câncer prostático. Ciência & Saúde Coletiva, v.13, n.6, p 1975-1984, Rio de Janeiro 2008. GOMES, R.; NASCIMENTO, E. F.; REBELLO, L. E. F. S.; ARAUJO, F. C. A prevenção do câncer de próstata: uma revisão de literatura. Ciência & Saúde Coletiva, v.13, n.1, p. 235-246, Rio de Janeiro 2008. GOMES, R; REBELLO, L.E.F.S; ARAUJO, F.C; NASCIMENTO, E.F. A prevenção do câncer de próstata: uma revisão da literatura. Ciência & Saúde Coletiva, v.13, n.1, p. 235-246, 2008. Acessado 02 de outubro de 2011. Disponível em: http://www.inca.gov.br/enfermagem/docs/cap5.pdf LARA, M. Com todas as letras. O estigma do câncer por quem enfrentou esse inimigo silencioso e cruel. Rio de Janeiro: Record; 2005. Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional de Câncer. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância de Câncer. Estimativas 2008: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2007. M A R O T T I , J . ; G A L H A R D O , A . P. M . ; FURUYAMA, R.J.; PIGOZZO, M.N.; CAMPOS, T.N.; LAGANA, D.C. Amostragem em pesquisa clínica: tamanho da amostra. Revista de Odontologia da Universidade de São Paulo, v.20, n.2, p.186-94, 2008. MEDEIROS, A.P; MENEZES, M. F.B; de and NAPOLEAO, A.A. Fatores de risco e medidas de prevenção do câncer de próstata: subsídios para a enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem. v.64, n.2, p. 385-388, 2011. MIGOWSKI, A; SILVA, G. A. Sobrevida e fatores prognósticos de pacientes com câncer de próstata clinicamente localizado. Revista de Saúde Pública, v.44, n.2, p. 344-52, Rio de Janeiro 2010. NASCIENTO, E. P.; FLORINDO, A. A.; CHUBACI, R. Y. S.; Exame de detecção precoce do câncer de próstata na terceira idade: conhecendo os motivos que levam ou não a sua realização. Revista Baiana de Saúde Pública, v.34, n.1, p.7-18 jan./mar. 2010. NASCIMENTO MR. Câncer de próstata e masculinidade: motivações e barreiras para a realização do diagnóstico precoce da doença [Internet]. Caxambu: Abesp; 2000 [citado 2009 set 1 5 ] . D i s p o n í v e l e m : http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2 000/ PAIVA, E.P.; MOTTA, M .C .S .M.; GRIEP, R. H. Barreiras em relação aos exames de rastreamento do câncer de próstata. Revista Latino-Americana Enfermagem, v. 19, n.1, Juiz de Fora, MG, jan-fev 2011. PIOVERSAN, A.; TEMPORINI, E.R. Pesquisa exploratória: procedimento metodológico para o estudo de fatores humanos no campo da Saúde Pública. Revista Saúde Pública, São Paulo, v.29, Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 25 Artigo Original n.4, p.318-325, 1995. ROSS, LE, BERKOWITZ Z, EKWUEME DU. Utilização do prostático específico teste do antígeno entre os homens norte-americanos: resultados da Entrevista da Saúde 2005 Nacional Pesquisa. Cancer Epidemiol Biomarkers Anterior, n.17, p. 636-44, 2008. RODRIGUES, W. C. Metodologia Científica. Pacarambi, 2007. SERAPIONI, M. Métodos qualitativos e quantitativos na pesquisa social em saúde: algumas estratégias a integração. Ciência & Saúde Coletiva v.5, n.1, p.187-192, 2000. SOUZA, L. M; SILVA, M. P; PINHEIRO, I. S. Um toque na masculinidade: a prevenção do câncer de próstata em gaúchos tradicionalistas. Revista Gaúcha de Enfermagem, v.32, n.1, p.151-158, mar. 2011. THOMAS, J.R; NELSON, J. K; SILVERMAN, S.J. Métodos de pesquisa em atividade física. 5. ed. Porto Alegre, 2007. 26 Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original ATIVIDADES LABORAIS PELOS DEFICIENTES MENTAIS EM MONTES CLAROS/MG SOB A ABORDAGEM DAS CORRENTES CLÁSSICAS: SOCIOLÓGICA E ADMINISTRATIVA * SANTANA, Floripes Crispim; OLIVEIRA, Ramon Alves ** *Pós-graduada em Administração Estratégica com Ênfase em Gestão Pública e Privada das FIPMoc **Docente e coordenador do curso de Administração de Empresas das FIPMoc RESUMO Este artigo visou o estudo do cenário apresentado pela cidade de Montes Claros/MG quanto ao mercado de trabalho para deficientes mentais contrastando com a teoria clássica das correntes sociológica e administrativa. Foi realizado um estudo exploratório, de natureza quantitativa e qualitativa. Em primeiro momento, foi analisado o processo histórico de trabalho estudando autores sociológicos e administrativos. Foi também levantada a situação histórica e social dos deficientes mentais. Em segundo momento, foram analisados os dados do senso 2010 do IBGE. Detectou-se que em uma população de 361915 (trezentas e sessenta e um mil novecentas e quinze) pessoas, 4636 (quatro mil seiscentas e trinta e seis) são portadores de deficiência mental permanente, dos quais, apenas 30 (trinta) concluíram um curso superior, e 560 (quinhentos e sessenta) possuíam ocupação definida. De 729 (setecentos e vinte e nove) deficientes mentais permanentes que possuíam no mínimo o curso fundamental completo, cerca de 560 (quinhentas e sessenta) possuem uma ocupação. Infere-se, assim, que o mercado de trabalho em Montes Claros/MG tem absorvidos os portadores de deficiência mental. Contrastando com a teoria, vê-se um capitalismo inclusivo, no sentido de que ele proporciona oportunidades de trabalho não só a homens, mas também a mulheres e deficientes. Toda força de trabalho é aproveitada. Palavras-chave: Deficiência Mental Permanente, Mercado de Trabalho, Esforço Mental, Esforço Físico. INTRODUÇÃO O mercado de trabalho mundial tem passado por momentos complicados e, segundo economistas, em alguns anos, sofrerá com as escolhas/atitudes tomadas no passado e no presente. O mercado brasileiro ainda se tem movimentado bem, sendo a construção civil um celeiro de oportunidades. Grande parte por conta dos financiamentos do governo. O mercado de Montes Claros/MG não é diferente, pois, no ano de 2013, tem estado aquecido no ramo da construção civil. Montes Claros é uma cidade localizada no norte de Minas Gerais. Constitui um polo universitário, congregando com universidade pública e várias faculdades particulares. Sua economia é movimentada pelo comércio local. Em Montes Claros/MG, segundo o censo 2010 do IBGE, 4636 (quatro mil seiscentas e trinta e seis) pessoas possuem algum tipo de deficiência, correspondendo a 1,3% (um vírgula três por cento) da população total do município. Os portadores de deficiência, desde a antiguidade, têm sofrido preconceito, muitos deles vindos de dentro de casa. “O cristianismo modifica o Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 27 Artigo Original status do deficiente, que (...) passa de coisa a pessoa. Mas a igualdade de status moral ou teológico não corresponderá, até a época do Iluminismo, a uma igualdade civil, de direitos” (Pessotti, 1984, p.4). Silva (1987, p. 130) cita as formas de trabalho dessas classes na antiguidade cegos, surdos, deficientes mentais, deficientes físicos e outros tipos de pessoas nascidos com má formação eram também, de quando em quando, ligados a casas comerciais, tavernas e bordéis; bem como a atividades dos circos romanos, para serviços simples e às vezes humilhantes (Silva, 1987, p. 130). As conquistas sociais que eles vêm alcançando é fruto de muita luta. Assim como para as mulheres, os deficientes ainda têm muita dificuldade para entrar no mercado de trabalho. E, quando a deficiência é a mental, a dificuldade se torna ainda maior, devido ao preconceito. Tendo em vista o caráter inclusivo do capitalismo, que visa ao aproveitamento de toda a mão de obra disponível, Silva (1987, p.310) diz que “...a impressão de que a pessoa deficiente não precisa nem ser carga nem dependente; que a pessoa deficiente pode ser útil, contribuinte à economia geral de um país, participante na formação da riqueza nacional” Carmo (1994, p.26) acrescenta dizendo que “(...) as tentativas de recuperação e aproveitamento de habilidades e capacidades dessas pessoas para o mercado de trabalho se tornaram uma tendência irreversível” (Carmo, 1994, p.26). Ainda falando-se do mercado de trabalho, é possível visualizar leis criadas pelo Estado tanto de obrigações das empresas quanto de incentivos. Empresas acima de 100 (cem) empregados são obrigadas a terem uma cota para pessoas com deficiência. Por outro lado, toda empresa que empregar pessoas deficientes tem por parte do Estado certos incentivos. A Lei 8.213/91 introduz o sistema de cotas no preenchimento de cargos nas empresas acima de 100 (cem) empregados, como se pode observar: 28 Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção: I - até 200 empregados.................2%; II - de 201 a 500............................3%; III - de 501 a 1.000........................4%; IV - de 1.001 em diante. ...............5%. (BRASIL, 1991) A deficiência mental muitas vezes chega a ser discriminada por parte das empresas que temem ter sua marca desvalorizada por estar associada a um empregado com retardo mental. Muitas preferem contratar pessoas de qualquer tipo de deficiência que não seja a mental. Segundo AMARAL (2009, p.133), Na pesquisa de Kossobudski (2009, p.133), apenas 26% das empresas pesquisadas contavam em seus quadros com pessoas portadoras de deficiência, sendo o maior contingente formado por deficientes físicos (72,73%) e o menos por deficientes visuais (4,5%), não havendo nenhum deficiente mental empregado nessas empresas (AMARAL, 2009, p. 133). Analisando-se os tipos de cargos disponíveis e os requisitos necessários para ocupá-los, verifica-se que, em certos cargos, o deficiente mental pode atuar sem problemas. Uma vez que eles têm o corpo normal, apenas um retardo mental, trabalhos que não necessitem de esforço intelectual seriam aplicáveis a eles. No âmbito de Montes Claros/MG, um levantamento de dados históricos permiti verificarse como vem sendo a visão das empresas quanto a este aspecto, tomando como referência o passado, sua evolução e o momento atual em que esse trabalho é desenvolvido. Tendo como base a visão capitalista, que é totalmente inclusiva, um trabalhador com limitações pode trazer para a empresa, além de sua força de trabalho, incentivos por parte do Estado. O que se espera é ver o deficiente com vida ativa de trabalho. Mas será isso uma realidade no processo Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original histórico do trabalho em Montes Claros/MG? É o que este trabalho de pesquisa tenta descobrir, por meio da análise histórica do mercado de trabalho em Montes Claros/MG para deficientes mentais. A deficiência mental é uma realidade no mundo desde o surgimento da humanidade. Com diz Silva (1987, p.21), “anomalias físicas ou mentais, deformações congênitas, amputações traumáticas, doenças graves e de consequências incapacitantes, sejam elas de natureza transitória ou permanente, são tão antigas quanto a própria humanidade” (Silva, 1987, p. 21). Tendo em vista os pontos descritos anteriormente, o tema de pesquisa proposto por este trabalho é: o deficiente mental e o mercado de trabalho em Montes Claros/MG. Esse tema foi definido tendo em vista sua relevância no que tange à importância que o trabalho tem para o ser humano, sendo ele portador de deficiência ou não. O problema que norteia esta pesquisa está relacionado à curiosidade de investigar como tem sido a realidade do mercado de trabalho de Montes Claros/MG para portadores de deficiência mental permanente. Refletindo-se sobre isso, faz-se a seguinte a pergunta: O mercado de trabalho em Montes Claros/MG tem sido inclusivo aos portadores de deficiência mental? Assim, o objetivo geral deste trabalho é analisar a teoria clássica da corrente sociológica e administrativa no que tange à absorção da população como força de trabalho, com base nos dados dos trabalhadores portadores de deficiência mental permanente na cidade de Montes Claros, buscando investigar se o mercado de trabalho tem sido inclusivo. Descrevem-se os objetivos específicos como: analisar o processo histórico de trabalho através do estudo da literatura relacionada; analisar o processo histórico social dos deficientes mentais mediante pesquisas relacionadas; identificar, por meio de um levantamento de dados junto ao censo mais recente do IBGE, a relação entre deficientes mentais permanentes e o nível de escolaridade; identificar, por meio de um levantamento de dados junto ao censo mais recente do IBGE, a relação entre deficientes mentais permanentes e ocupação. Este trabalho foi viável tendo em vista que os dados levantados junto ao IBGE são disponibilizados pelo próprio órgão. Na perspectiva teórico-metodológica de abordagem, há predomínio da abordagem quantitativa de pesquisa, pois são levantados dados quantitativos do IBGE para analisar a quantidade de deficientes mentais que estão inseridos nas empresas. MÉTODO Foi realizado um estudo exploratório, de natureza quantitativa e qualitativa. Primeiramente, foi analisado o processo histórico de trabalho mediante estudo da literatura relacionada. Esse ponto foi importante para adquirir conhecimento teórico necessário para analisar o processo histórico de trabalho e poder relacionar a Montes Claros/MG. Posteriormente, analisou-se o processo histórico social dos deficientes mentais mediante pesquisas relacionadas. Nesse ponto, além de ter sido verificada a evolução histórica dos deficientes, desde o acesso ao estudo até o trabalho, foi focalizado estudo no processo de trabalho. Logo após, foram levantados os dados do IBGE, para analisar a variável deficiente mental permanente relacionada à variável nivel de instrução e deficiente mental permanente relacionada à variável ocupação. Mediante o cruzamento dos dados de deficiente mental e ocupação em Montes Claros/MG, será possível visualizar se esses deficientes estão incluídos ou não no mercado de trabalho. Por fim, descrever a relação entre deficiência mental e trabalho em Montes Claros/MG, Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 29 Artigo Original considerando as inferências realizadas durante o desenvolvimento, para apresentar as conclusões respectivas. A seguir, desenvolveu-se o trabalho com a exposição dos dados levantados junto ao IBGE e sua análise perante a teoria. DISCUSSÃO Tabela 1 Deficientes mentais permanentes em Montes Claros/MG Porcentagem Porcentagem Frequência Porcentagem Válida Cumulativa Sim 4636 1,3 1,3 1,3 Não 357279 98,7 98,7 100,0 Total 361915 100,0 100,0 Fonte: IBGE. Censo 2010. O trabalho teve início com a pesquisa na base de dados do IBGE (2010) em paralelo ao estudo literário. Em primeiro momento, foi levantado o número de deficientes mentais permanentes cadastrados na base de dados e sua respectiva definição nos documentos do próprio IBGE. Segundo o IBGE (2010, p. 36), “Foi pesquisado se a pessoa tinha alguma deficiência mental ou intelectual permanente que limitasse as suas atividades habituais, como trabalhar, ir à escola, brincar etc” (IBGE, 2010, p. 36). Como definição de deficiência mental permanente, o IBGE (2010, p. 36) estabelece: A deficiência mental é o retardo no desenvolvimento intelectual e é caracterizada pela dificuldade que a pessoa tem em se comunicar com outros, de cuidar de si mesma, de fazer atividades domésticas, de aprender, trabalhar, brincar etc. Em geral, a deficiência mental ocorre na infância ou até os 18 anos. Não se considerou como deficiência mental as perturbações ou doenças mentais como autismo, neurose, esquizofrenia e psicose (IBGE, 2010, p. 36). Ainda segundo o IBGE (2010), em seu glossário disponibilizado na web: Deficiência mental permanente Retardamento mental resultante de lesão ou síndrome irreversível, que se caracteriza por dificuldades ou limitações intelectuais associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: comunicação, cuidado pessoal, autodeterminação, cuidados com saúde e segurança, aprendizagem, lazer, trabalho etc. Não foram consideradas deficiências mentais perturbações como autismo, neurose, esquizofrenia e psicose. 30 2010 do IBGE, quanto ao número de deficientes mentais permanentes encontrados na cidade de Montes Claros/MG naquele período. Pode-se observar, a partir da análise da tabela acima, que, em um total de 361.915 (trezentos e sessenta e um mil novecentos e quinze) habitantes, 4636 (quatro mil seiscentos e trinta e seis) pessoas foram catalogadas como portadoras de deficiência mental permanente, segundo o censo IBGE (2010). Sabendo-se o número de portadores da deficiência mentais permanentes existentes em Montes Claros/MG, coletaram-se os dados do nível de instrução que esses deficientes possuíam no referido censo. Observam-se esses dados na tabela a seguir. Tabela 2 Nível de instrução Sem instrução e fundamental incompleto DEFICIÊNCIA MENTAL PERMANENTE Fundamental Médio completo e completo e Superior Não Total médio superior completo determinado incompleto incompleto 3897 326 373 30 10 4636 Fonte: IBGE. Censo 2010. A maior parte dos deficientes, segundo dados do IBGE (2010), encontram-se no nível sem instrução e fundamental incompleto, totalizando 3897 (três mil oitocentos e noventa e sete) pessoas. De um total de 4636 (quatro mil seiscentos e trinta e seis) pessoas portadoras da deficiência mental permanente, apenas 30 (trinta) conseguiram completar o ensino superior. Segundo os dados apresentados, pode-se dizer que 729 (setecentos e vinte e nove) deficientes mentais são alfabetizados, possuindo, no mínimo, fundamental completo, o que significa que possui nível mínimo de conhecimento escolar. É Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original interessante observar que 373 (trezentos e setenta e três) deles possuem ensino médio completo. Segundo o Datasus (2008) no CID-10 (a décima revisão da classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados a Saúde) F70F79 retardo mental é definido como: Parada do desenvolvimento ou desenvolvimento incompleto do funcionamento intelectual, caracterizados essencialmente por um comprometimento, durante o período de desenvolvimento, das faculdades que determinam o nível global de inteligência, isto é, das funções cognitivas, de linguagem, da motricidade e do comportamento social. O retardo mental pode acompanhar um outro transtorno mental ou físico, ou ocorrer de modo independentemente. Ainda conforme o Datasus (2008) o CID-10 traz as seguintes subdivisões referentes ao retardo mental: · F70.- Retardo mental leve · F71.- Retardo mental moderado · F72.- Retardo mental grave · F73.- Retardo mental profundo · F78.- Outro retardo mental · F79.- Retardo mental não especificado Ao se contrastar a teoria que afirma que o retardo mental é dividido em níveis e comparar com os dados apresentados pelo senso do IBGE (2010) na análise sobre o nível de escolaridade, é possível visualizar claramente a veracidade desse fato. Isso se dá pelo fato de os dados apresentarem quantidades diferentes de pessoas em níveis diferentes de escolaridade, o que pressupõe níveis diferentes de capacidade de aprendizado. A partir da análise desses dados referentes ao nível de instrução apresentada pelos portadores de deficiência mental, espera-se que pelo menos os 729 (setecentos e vinte e nove) com certo nível de instrução estejam devidamente alocados em algum posto no mercado de trabalho. Isso é o que se analisará, ao observar os dados relacionados à ocupação deles. Taylor (1980) enfatizou a aplicação da ciência na administração, cujo objetivo era aumento da eficiência por meio das mudanças nas tarefas, nos métodos de trabalho e na divisão do trabalho. No primeiro momento, ele se ateve à organização racional do trabalho, ao estudo de tempos e movimentos e à remuneração diferenciada conforme a produção. No segundo momento, houve a racionalização do trabalho e a estruturação das empresas. Observa-se claramente, nesse período, que existia divisão entre operário (trabalho braçal) e gestor (intelectual), que necessitava de habilidades para prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. Pode-se dizer que existe trabalho que exige técnica para execução de tarefas ou o trabalho que exige conhecimento para planejamento e tomadas de decisão. Analisando esses dois lados, espera-se encontrar deficientes mentais que possuem retardo mental leve em ocupações que necessitem de algum nível intelectual na execução de suas tarefas, e deficientes mentais que possuem retardo profundo em ocupações que demandem esforço físico e/ou braçal. Na discussão sobre trabalho, Durkheim (1999), em seu livro “A divisão do trabalho social”, discute a ideia de que o trabalho já existe, já está dividido em funções, cabe a cada indivíduo se especializar para ocupar alguma função. Marx (1989), em seu livro “O capital”, desenvolve o raciocínio de que a sociedade é que demanda a função; sendo assim, a partir de uma necessidade da sociedade é que surgem novos postos de trabalho (MARX, 1989). Segundo o IBGE (2010, p. 41), “pesquisou-se a ocupação do trabalho principal”. Ainda segundo o IBGE (2010, p. 41), “considerou-se como ocupação a função, cargo, profissão ou ofício exercido pela pessoa”. Para o IBGE (2010, p. 41) Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 31 Artigo Original As ocupações foram classificadas utilizando-se a Classificação de Ocupações para Pesquisas Domiciliares - COD, que foi desenvolvida pelo IBGE para as pesquisas domiciliares, tendo como referência a International Standard Classification of Occupations - ISCO-08, da Organização Internacional do Trabalho - OIT. A COD mantém-se idêntica à ISCO-08 no nível mais agregado (grande grupo) e reagrupa alguns subgrupos principais, subgrupos e grupos de base, considerando as especificidades nacionais e as dificuldades de sua captação com precisão nas pesquisas domiciliares (IBGE, 2010, p. 41). A seguir, é apresentada a tabela do IBGE (2010) com os dados discriminados contendo o número de deficientes mentais permanentes em cada tipo de ocupação. Por motivo de facilitação da análise, não foram descritas as ocupações onde tinha descrito a quantidade 0 (zero) de deficientes mentais. Sendo assim, apresenta-se, a seguir, a tabela: Tabela 3 Ocupação O CUPAÇÃ O O CUPAÇÕES MA L D EFINIDAS PRO FESSORES D O ENSINO M ÉDIO PRO FESSORES D O ENSINO PRÉ-ESCO LAR J ORNA LISTAS A RTISTAS PLÁSTICO S TÉCN ICO S EM ENGENH ARIA DE M INAS E M ETALURGIA PRO FISSION AIS D E NÍVEL M ÉD IO DE ENFERM AGEM ESCRITURÁ RIO S GERAIS SECRETÁ RIOS (GERAL) TRA BALH ADORES DE SERVIÇOS ESTATÍSTICOS, FINANCEIROS E DE SEGUR OS V EN DEDOR ES DE QU IOSQU ES E POSTOS DE M ERCA DOS C OM ER CIA NTES DE LOJ AS SUPERV ISORES D E LO JAS BA LCON ISTAS E VENDEDO RES DE LOJA S A GRICULTO RES E TRABA LHA DORES Q UALIFICA DOS N O CU LTIV O DE HORTA S, VIVEIR OS E J ARDINS 9 7 12 27 18 13 28 6 26 40 D E F IC IÊ N C I A M E NTAL PE R M A N E N T E O CUPAÇÃ O A G R IC U L T O R E S E TR A B A L H A D O R E S Q U A L IFIC A D O S D E C U LT IV O S M IS TO S A V IC U L T O R E S E T R A B A LH A D O R ES Q U A L IF IC A D O S D A A V IC U L TU R A P E D R E IR O S B O M B E IR O S E E N C A N A D O R E S C H A P IS T A S E C A LD E IR E IR O S C O S T U R E IR O S , B O R D A D E IR O S E A F IN S O P E R A D O R E S D E M Á Q U IN A S D E C O S T U R A O P E R A D O R E S D E M Á Q U IN A S D E B R A N Q U E A M E N T O , T IN G IM E N T O E LIM P E ZA D E T E C ID O S T R A B A L H A D O R E S D O S S ER V IÇ O S D O M É S T IC O S E M GERAL T R A B A L H A D O R E S D E L IM P E Z A D E IN T ER IO R D E E D IFÍC IO S , E S C R IT Ó R IO S , H O T É IS E O U T R O S E S TA B E LE C IM E N T O S T R A B A L H A D O R E S E LE M E N T A R E S D A A G R IC U L T U R A T R A B A L H A D O R E S E LE M E N T A R E S D A C O N S T R U Ç Ã O D E E D IF ÍC IO S T R A B A L H A D O R E S E LE M E N T A R E S D A IN D Ú S T R IA D E T R A N S F O R M A Ç Ã O N Ã O C LA S S IFIC A D O S A N T E R IO R M E N T E CARR EGADOR ES R E P O S IT O R E S D E P R A TE L E IR A S V E N D E D O R E S A M B U L A N T E S (E X C LU S IV A M E N T E D E S E R V IÇ O S D E A LIM E N T A Ç Ã O ) C O L E T O R E S D E L IX O E M A TE R IA L R E C IC L Á V E L O U T R A S O C U P A Ç Õ E S E LE M E N T A R E S N Ã O C LA S SIF IC A D A S A N T E R IO R M EN T E TOT AL DEFIC IÊNCI A M E NTAL PE RM ANEN TE 13 12 15 10 9 9 8 45 17 13 11 13 20 53 17 12 20 8 21 11 24 10 3 56 0 Segundo os dados do IBGE (2010), 560 (quinhentas e sessenta) pessoas portadoras de deficiência mental permanente possuem uma ocupação, sendo que sua maioria está concentrada em trabalhos domésticos, somando 53 (cinquenta e três) trabalhadores dos serviços domésticos em geral. Em segunda instância, os trabalhos rurais e civis, sendo 45 (quarenta e cinco) pedreiros e 40 (quarenta) agricultores e trabalhadores qualificados no cultivo de hortas, viveiros e jardins. Totalizam-se 138 (cento e trinta e oito) trabalhadores em um trabalho de caráter braçal. Ainda analisando os dados apresentados pelo IBGE (2010) nas ocupações contendo de 21 a 30 trabalhadores, observa-se uma variação entre cargos estritamente braçais e cargos que demandam alguma habilidade mental. São, 28 (vinte e oito) comerciantes de lojas, 27 (vinte e sete) secretários (geral), 26 (vinte e seis) balconistas e vendedores de lojas, 24 (vinte e quatro) vendedores ambulantes serviços de alimentação) e 21 (vinte e um) carregadores. No nível de 11 a 20 trabalhadores por ocupação dos dados do IBGE (2010), observam-se alguns cargos que têm como requisito a conclusão de curso superior, dentre outros. São 20 (vinte) operadores de máquinas de branqueamento, tingimento e limpeza de tecidos, 20 (vinte) trabalhadores elementares da construção de edifícios, 18 (dezoito) trabalhadores de serviços estatísticos, financeiros e de seguros, 17 (dezessete) bombeiros e encanadores, 17 (dezessete) trabalhadores de limpeza de interior de edifícios, escritórios, hotéis e outros estabelecimentos, 15 (quinze) professores do ensino pré-escolar, 13 (treze) ocupações mal definidas, 13 (treze) vendedores de quiosques e postos de mercados, 13 (treze) chapistas e caldeireiros, 13 (treze) operadores de máquinas de costura, 12 (doze) professores do ensino médio, 12 (doze) escriturários gerais, 12 (doze) trabalhadores elementares da Fonte: IBGE. Censo 2010. 32 Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original agricultura, 11 (onze) costureiros, bordadeiros e afins e 11 (onze) repositores de prateleiras. No nível de 1 a 10 trabalhadores por ocupação, é possível encontrarem-se cargos com maior nível de qualificação, que são: 10 (dez) jornalistas, 10 (dez) coletores de lixo e material reciclável, 9 (nove) artistas plásticos, 9 (nove) técnicos em enfermagem de minas e metalurgia, 9 (nove) agricultores e trabalhadores qualificados de cultivos mistos, 8 (oito) agricultores e trabalhadores qualificados da avicultura, 8 (oito) trabalhadores elementares da indústria de transformação não classificados anteriormente, 7 (sete) profissionais de nível médio de enfermagem, 6 (seis) supervisores de lojas e 3 (três) outras ocupações elementares não classificadas anteriormente. CONCLUSÃO O desenvolvimento deste trabalho permitiu conhecer o cenário de Montes Claros/MG com relação ao trabalho de deficientes mentais permanentes. Foi possível entender devido à fundamentação proporcionada por alguns autores clássicos. Detectou-se, segundo o IBGE (2010), que 729 (setecentos e vinte e nove) deficientes mentais permanentes são alfabetizados, possuindo, no mínimo, ensino fundamental completo. E que 560 (quinhentos e sessenta) deles possuem uma ocupação. Infere-se, assim, que o mercado de trabalho em Montes Claros/MG tem absorvido os portadores de deficiência mental permanente. Apesar de os dados mostrarem uma quantidade considerável de pessoas em trabalhos que demandam pouco ou nenhum esforço mental, encontram-se também ocupações de cargos com certo grau de qualificação. É possível observar, também, que a distribuição de trabalhadores por cargos tem sido diversificada. Das ocupações exercidas pelos portadores de maioria está concentrada em serviços que não demandam esforço mental, apenas esforço físico. Cruzando-se os dados de ocupações com os dados de nível de instrução, essa realidade é confirmada, uma vez que a quantidade de pessoas que conseguem a conclusão de um curso superior é consideravelmente menor que as que param no ensino básico. Contrastando com a teoria, vê-se um capitalismo inclusivo, no sentido de que ele proporciona oportunidades de trabalho não só a homens, mas também a mulheres e portadores de deficiência. Toda força de trabalho pode ser aproveitada. Percebe-se, ainda, que há um incentivo e uma obrigatoriedade mediante lei, para se destinarem vagas a pessoas portadoras de alguma deficiência. Conclui-se que, além da exigência da lei e do teor inclusivo do capitalismo, para os clássicos, tanto da sociologia quanto da administração, haverá uma demanda por mão de obra, o que permite aos portadores de deficiência a oportunidade de estar alocado em algum posto de trabalho. REFERÊNCIAS AMARAL, L. A. Mercado de Trabalho e Deficiência. Revista Brasileira de Educação Especial. Disponível em: <http://www.abpee.net/homepageabpee04_06/artig os_em_pdf/revista2numero1pdf/r2_comentario01. pdf>. Acesso em 11 set. 2013. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. LEI Nº 8.213, DE 24 DE JULHO DE 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213c ons.htm>. Acesso em 04 set. 2013. CARMO, A. A. Deficiência física: a sociedade brasileira cria, recupera e discrimina – Secretaria dos Desportos. Brasília, 1994. DATASUS. CID-10. Versão 2008. Disponível em: <http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHel p/f70_f79.htm>. Acesso em 30 mar. 2014. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 33 Artigo Original São Paulo: Martins Fontes, 1999. IBGE. Censo Demográfico 2010. Notas Metodológicas. IBGE. Glossário. Censo 2010. Disponível em: <http://censo2010.ibge.gov.br/materiais/guia-docenso/glossario>. Acesso em 30 mar. 2014. MARX, Karl. O capital. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.p.201-223. PESSOTTI, I. Deficiência mental: da superstição à ciência – EDUSP, São Paulo, 1984. SILVA, O. M. Epopéia Ignorada – A História da Pessoa Deficiente no Mundo de Ontem e de Hoje. 1987. TAYLOR, Frederick Winslow. Princípios da Administração Científica. 7ª edição. 10ª Triagem. 1980. 34 Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original PERCEPÇÕES DAS JOVENS MÃES: FATORES DE REINCIDÊNCIA GESTACIONAL NA ADOLESCÊNCIA OLIVEIRA, Amanda Muniz*; COSTA, Amanda de Andrade**; BASTOS, Rodolpho Alexandre Santos Melo*** * UNESA e UNIMONTES; ** Enfermeira residente em saúde da Mulher na UNIMONTES. Especialista em Saúde da Família. *** Mestrando em História e pós-graduado em História da Filosofia com ênfase em Epistemologia pela UNIMONTES. RESUMO O presente estudo qualitativo teve como objetivo identificar a recorrência de gravidez na adolescência e os fatores que influenciam essa recorrência. Fizeram parte do estudo 8 adolescentes com reincidência gestacional, cadastradas na Estratégia Saúde da Família (ESF) do bairro Morrinhos, da cidade de Montes Claros - MG. Após as adolescentes serem identificadas pelo Sistema de Informação da Atenção Básica – SIAB, houve a entrevista coletiva por meio da técnica de grupo focal. Os resultados mostraram uma população de adolescentes com média de idade de 17,6 anos. A maioria referiu uso de métodos anticoncepcionais, porém sem regularidade e demonstraram desinformação quanto ao método escolhido. Houve o predomínio de duas gestações em 75% dos casos e uma associação significativa da recorrência da gestação na adolescência com relação às variáveis: idade, escolaridade e aceitação da gravidez. A ocorrência da gestação e a recorrência gestacional entre as adolescentes pesquisadas podem ser atribuídas à imaturidade, fantasias, revolta com os pais, falta de informações sobre a gravidez e sobre os métodos contraceptivos. Palavras-chave: adolescente, gravidez, gravidez na adolescência, sexualidade. INTRODUÇÃO De acordo com a World Health Organization (WHO, 2008), a atividade sexual na adolescência inicia-se cada vez mais precocemente, fenômeno que, em muitos casos, acarreta gravidez indesejável. A gravidez na adolescência possui sérias implicações biológicas, familiares, emocionais, econômicas e jurídico-sociais. Essas implicações atingem o indivíduo isoladamente e, paralelamente, a sociedade, limitando ou adiando as possibilidades de desenvolvimento e engajamento das envolvidas. A gravidez nessa fase da vida é considerada de alto risco, repercutindo negativamente na vida das jovens mulheres (HOGA; BORGES; RABERTE, 2010). Quando a atividade sexual tem como resultante a gravidez, consequências podem-se manifestar a longo prazo, tanto para a adolescente quanto para o recém- nascido. A adolescente poderá, ainda durante a gestação, apresentar problemas de desenvolvimento, emocionais, educacionais e de aprendizado, além de complicações da gravidez e problemas de parto (VITALLE; AMANCIO, 2003). Restringindo a questão ao plano reprodutivo, de acordo com Beretta et al. (2011), a maioria dessas jovens, em nosso meio, chega à maturidade sexual antes de atingir a maturidade social, emocional ou a Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 35 Artigo Original ind e pend ê n c ia econômic a. D e ntre múltipla s determinações, a erotização na fase adolescente promovida pela mídia estimula a iniciação sexual precoce, que, na ausência do domínio das práticas contraceptivas, pode resultar em gravidez não desejada (ALVES; MUNIZ; TELES, 2010). Maia e Ribeiro (2001) destacam que, no Brasil, a adolescência é a única faixa etária com natalidade crescente e que o aumento do número de adolescentes grávidas nos últimos anos é conseqüência de mudanças nos padrões culturais, das precocidade da menarca e da influência da mídia na iniciação sexual da adolescente. Fatores ligados à educação sexual e à assistência à saúde, como ausência de consulta médica pós-parto na gravidez anterior, baixa adesão ao uso de preservativos, não uso de anticoncepcional pós-parto, uso inadequado do anticoncepcional e despreocupação da família e da escola com a educação sexual das jovens, também podem ser citados como causa da recorrência gestacional na adolescência (BAREIRO, 2004; FURTADO et al., 2005). De acordo com Rosa (2007), a escassa literatura que se refere exclusivamente à recorrência da gravidez na adolescência aponta que esse problema de saúde pública constitui-se em agravamento e multiplicação das adversidades físicas, biológicas e psico-sociais que uma primeira gravidez traz para a vida do adolescente. Sendo assim, o presente estudo possibilitará o levantamento de dados estatísticos, na área de abrangência da Estratégia Saúde da Família (ESF) do bairro Morrinhos . Os dado s apresentam-se como fundamentais para que os profissionais de saúde possam buscar alternativas viáveis para a análise e assistência às mulheres, fator que justifica a realização desta pesquisa. Nesse contexto, esta pesquisa objetivou: identificar a recorrência de gravidez na adolescência em jovens do Bairro Morrinhos da cidade de Montes Claros – MG; levantar e analisar os fatores que 36 influenciam a r e corr ê ncia da gra v idez na adolescência no espaço delimitado para a pesquisa, procurando traçar um perfil das adolescentes envolvidas nesse processo; investigar a faixa etária das adolescentes grávidas; registrar o uso e/ou conhecimento sobre os métodos anticoncepcionais pelas adolescentes; e relacionar a influência do nível sócio-econômico-cultural das adolescentes sobre a reincidência de gravidez. MÉTODO A opção metodo1ógica para o desenvolvimento desta pesquisa foi a abordagem qualitativa e descritiva, que, segundo Minayo (2001), valoriza as perspectivas dos participantes, permitindo, assim, apreender determinações sociais mais amplas de suas condições de existência, priorizando a natureza descritiva. Esse aspecto é importante, uma vez que "a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e revelações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações estatísticas" (MINAYO, 2001, p. 22), possibilitando a compreensão da realidade humana e a descrição de um fenômeno mediante a realização de um estudo em um determinado contexto. Foram sujeitos da pesquisa oito adolescentes com idade igual ou inferior a 19 anos, com registro de recorrência de gravidez. Ser adolescente com recorrência de gravidez, estar cadastrada na ESF do Bairro Morrinhos em Montes Claros - MG e participar do pré-natal ou grupo do planejamento familiar foram os critérios para inclusão das adolescentes na pesquisa. Obedecendo à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que determina que a pesquisa com seres humanos poderá ser realizada, desde que os sujeitos da pesquisa assinem um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no período anterior a coleta de dados, todas as adolescentes Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original com gravidez recorrente e que apresentavam idade igual ou maior que 18 anos, assim como os responsáveis pelas adolescentes com idade inferior a 18 anos, assinaram o referido termo. O responsável pela ESF em questão também assinou um Termo de Consentimento e Compromisso para a realização da pesquisa. Para efeito de esclarecimentos, antes da coleta de dados, o termo de consentimento foi lido e discutido com todas as participantes, garantindo-lhes o completo anonimato na divulgação dos dados coletados e, posteriormente, foi assinado pelo pesquisador e pelas pesquisadas. Atendendo aos princípios éticos definidos pelo Conselho Nacional de Saúde – CNS/2003 – por meio da resolução 196/96 para realização de pesquisa com seres humanos, o projeto de pesquisa passou pela apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa das Faculdades Unidas do Norte de Minas – FUNORTE, obtendo autorização para sua realização, mediante o parecer no 037/09, de 14/05/2009. Como instrumentos para a coleta de dados, foram elaborados formulários de análise documental e de entrevista coletiva por meio da técnica de grupo focal, específicos para o estudo. A consulta aos dados do Sistema de Informação da Atenção Básica - SIAB, para identificação dos sujeitos, assim como para a caracterização do cenário de estudo, foi realizada mediante a pesquisa documental, ou seja, teve como fonte"[ ...] documentos de 'primeira mão', que não receberam nenhum tratamento analítico e não foram publicados." (DUARTE; FURTADO, 2002, p.30). Foi elaborado, ainda, um formulário de entrevista para a construção do perfil das adolescentes com gravidez recorrente da ESF do Bairro Morrinhos. Assim, seguindo as orientações de Gil (1998), o formulário, como técnica de investigação, foi composto por um número de questões apresentadas por escrito aos sujeitos, o que possibilitou o conhecimento do perfil das entrevistadas, subsidiando a análise de seu discurso. formulário de entrevista coletiva, desenvolvida por meio da técnica de grupo focal, por favorecer, segundo Trivinos (2000), a interação do grupo, permitindo respostas ricas e interessantes, com apresentação de ideias novas e originais por parte dos participantes. A opção inicial era o registro por meio de áudio, mas algumas das adolescentes manifestaramse contrárias à ideia; assim, adotou-se o registro mediante a cópia escrita da fala dos sujeitos da pesquisa, o que ocorreu com o consentimento das entrevistadas. Do ponto de vista operacional, Minayo (200l) cita que a construção do grupo focal é feita em reunião com um pequeno número de informantes, de seis a doze, e possui tempo de duração que não deve ultrapassar uma hora e meia. Neste estudo, as adolescentes com gravidez recorrente foram divididas em grupos, visando não fugir dessas recomendações. Durante o desenvolvimento do grupo focal, foi proposto às adolescentes a discussão das seguintes questões norteadoras: (1) O que vocês consideram que leva uma adolescente a engravidar? (2) Todas vocês já tiveram mais de uma gravidez. Que fatores contribuíram para que vocês engravidassem pela primeira vez? (3) Com relação à recorrência da gravidez na adolescência, por que vocês acham que isso acontece? Por que isso aconteceu com vocês? A reunião do grupo ocorreu na sede da ESF do Bairro Morrinhos, dispondo de condições de privacidade, comodidade e neutralidade.Antes da realização do grupo focal, houve uma conversa inicial, com apresentação das adolescentes, procurando-se criar um clima descontraído de conversa. Dando início à entrevista coletiva, foi exposto inicialmente ao grupo o conceito de recorrência de gravidez na adolescência aqui adotado e já citado anteriormente, tornando possível uma linha de discussão sobre um único conceito, devido às várias possibilidades de interpretação do Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 37 Artigo Original Um dos autores do estudo desempenhou o papel de animador e, seguindo as orientações de Minayo (2001), teve a função de intervir tentando focalizar e aprofundar a discussão, realizando as seguintes ações: (a) Introduzir a discussão e mantê-la acessa; (b) Enfatizar para o grupo que não há respostas certas ou erradas; (c) Observar participantes, encorajando a palavra de cada uma; (d) Construir relações com as informantes, para aprofundar individualmente, respostas e comentários considerados relevantes pelo grupo ou pelo pesquisador; (e) Observar as comunicações não verbais e o ritmo próprio das participantes, dentro do tempo previsto para o debate. Durante a entrevista, as falas das adolescentes foram registradas por escrito, quando o entrevistador teve a ajuda dos demais pesquisadores, que se mantinham atentos à fala das adolescentes, registrando-as na íntegra e preocupando-se em captar com fidelidade as informações fornecidas pelos sujeitos da pesquisa. Após a coleta de dados, teve início a organização e análise do material levantado no grupo focal, e surgiram quatro categorias que respondem aos objetivos propostos: Caracterização das adolescentes; Fatores que levam uma adolescente a engravidar; Consequências da gravidez na adolescência; e Recorrência de gravidez na adolescência. RESULTADOS Caracterização das Adolescentes Participaram deste estudo oito adolescentes com recorrência gestacional, todas cadastradas na Estratégia Saúde da Família do bairro Morrinhos, residentes na área de cobertura já citada, de faixa etária de 16 a 19 anos, com média de idade de 17,6 anos. Em relação à escolaridade, cinco das adolescentes possuem o ensino fundamental incompleto, duas possuem o ensino fundamental 38 completo, uma possui o ensino médio incompleto. A renda familiar média das entrevistadas é de um a dois salários mínimos, porém duas não souberam informar a renda, uma vez que vivem com ajuda dos pais e realizam faxinas em casas de família, serviço informal e sem renda fixa. Quatro adolescentes possuem atividade fixa remunerada, mas todas ganham menos de um salário mínimo e ajudam a completar a renda familiar. Duas das adolescentes desenvolvem as atividades de dona de casa, sem remuneração, ou seja, cuidam da casa e da família. Quanto ao estado civil das adolescentes com recorrência gestacional, três declararam ser casadas, uma está em processo de separação judicial, duas disseram ter união estável e duas são solteiras. Todas as adolescentes têm mais de um filho; e, duas delas informaram já ter feito aborto. Houve o predomínio de duas gestações em 75% dos casos. Fatores que levam uma adolescente a engravidar As adolescentes investigadas consideram que a falta de maturidade, fantasias, revolta com os pais, falta de informações sobre a gravidez e métodos contraceptivos, busca de liberdade, dentre outros, são os fatores que levam uma adolescente a engravidar pela primeira vez. Os depoimentos das pesquisadas demonstram suas opiniões: - Quando a gente tem quatorze pra quinze anos a gente é besta demais. Eu mesma me enrasquei por besteira. Não tinha juízo nenhum e achava que engravidando o danado ia casar comigo e eu podia ficar livre do que eu considerava chatura de meu pai. Engravidei e nós ficamos juntos dois anos, mas na casa de pai e nada mudou, eu continuei dependendo de meu pai (A – 19 anos). - Eu também engravidei por falta de juízo. Só tinha 14 anos (...) eu não usava comprimido e o pai de meu primeiro filho insistia e eu transava sem ele usar a camisinha. Não deu outra (...) mas eu também sempre sonhei em ter pelo menos Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original - Meu pai não me dava liberdade pra nada (...) ele vivia no meu pé e não me deixava fazer nada. Engravidei pra sair de casa e eu também não sabia muita coisa, menstruei com 13 anos, comecei a namorar antes de ter quatorze anos e antes de completar 15 anos engravidei. (D-19 anos). - Eu não sei como aconteceu. (...) foi meu primeiro namorado eu conheci ele na minha festa de quinze anos e quando interei dezesseis já tava com um nenê nos braços. Foi igual com minha mãe; ela também engravidou quando tinha 14 anos e foi com o primeiro namorado (E-18 anos). A maioria das adolescentes (75%) declarou que não desejava a gravidez, mas 100% delas informou que acabou por aceitá-la e que estão felizes com os filhos. Apenas 18% relataram o uso de um método contraceptivo na época da gravidez. Entre aquelas que não utilizavam nenhum método anticoncepcional, como justificativa argumentavam: o desconhecimento dos métodos; não querer usar e desejar engravidar; não acreditavam que pudessem engravidar; não ter condições para comprar; ser alérgica; ter medo que os pais descobrissem; o parceiro não querer usar. Consequências da gravidez na adolescência Notou-se, mediante as falas, o quanto as alterações corporais provenientes da gestação incomodaram as adolescentes no aspecto sexual, em sua estética corporal e em sua autoestima. - Eu fiquei muito feia. Meu nariz ficou assim ó; enorme. Minhas pernas incharam e a barriga cresceu muito. Eu pesava 45 quilos e fui para 67 (...) quem é o homem que tem apetite pra uma mulher assim? (B-16 anos). - Foi só eu engravidar pra ele começa a se afastar. (...) Quando fiquei grávida na segunda vez, teve um dia que eu cheguei na pracinha da Igreja daqui do Morrinho e ele tava lá com aquela filha de (...) eu arrasei eles, xinguei demais. Falei com ela, fica ai dando corda pra ele sua tola que vai acontecer igual comigo. Quando a barriga começar a crescer ele corre atrás de outra bonitinha (...) (D-19 anos). A gravidez na adolescência, segundo Freitas das jovens, como pode ser comprovado nas falas transcritas a seguir. - Eu tive que parar de estudar né? Quando eu descobri eu tive vergonha de ir prá escola, depois que eu fiquei sem vergonha (risos) fiquei sem vergonha não, todo mundo descobriu e eu não podia ficar presa dentro de casa até o nenê nascer né? Ai eu voltei pra escola, mas a preguiça era muito grande (...) eu morria de vontade de dormir e a escola era de manhã. Todo dia eu chegava atrasada na escola, a supervisora começou a criar caso e eu deixei de ir (A19) - Eu estava acostumada a pedir as coisas e mãe comprova pra mim; com a chegada do nenê, tive que deixar de comprar um monte de coisa pra ele e tive que deixar de comprar até mesmo um brinco pra mim. Além do corpo ter ficado feio, ainda tive que deixar de cuidar de mim pra cuidar dele (...) Ai meu Deus, eu não to reclamando, agradeço a Deus ter meus filhos com saúde, só to falando o que aconteceu (D-19 anos). A recorrência da gravidez na adolescência Quando foi proposto às adolescentes que discutissem sobre a recorrência da gravidez na adolescência elas consideraram que isso acontece pelos mesmos motivos da primeira gravidez, com predominância para a falta de cuidados preventivos e por acreditarem que, tendo outro filho, vão salvar uma relação conjugal. - (...) sempre sonhei em ter pelo menos 3 filhos e resolvi ter logo porque queria voltar a estudar e trabalhar (...) Tô com 2 filhos e ainda vou ter pelo menos mais um, só que agora vou dar um tempo (...) (B-16 anos) - Com 17 anos já tinha minha segunda filha (...) pensei que ele ia ficar comigo porque gostava das meninas, mas que nada (...) (D19 anos). - Eu não tomava cuidado nenhum. Nós dois não tinha juízo, só pensava naquilo (risos), eu só lembrava de tomar o comprimido quando a gente fazia o que não devia. Ai eu corria e tomava o comprimido, pensava que assim eu ia evitar (...) hoje tem a pílula do dia seguinte, mas antes não tinha não (...) (F-19 anos). Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 39 Artigo Original primeira e a gestação recorrente, as adolescentes assim se manifestaram: - Fiquei grávida um ano depois que meu primeiro filho nasceu (A-16 anos) - I. nasceu quando eu tinha quinze anos e M. C. quando eu ia fazer dezessete (D-19). DISCUSSÃO Compartilhando a compreensão de espaço definida por Certeau (1994) como o lugar que se constrói culturalmente a partir de significados que lhe são atribuídos e onde se constituem relações e identidades, o espaço delimitado para o estudo teve como cenários, de uma forma mais ampla, o bairro Morrinhos e, de uma forma mais específica, a Estratégia Saúde da Família – ESF do referido bairro, na área urbana de Montes Claros - Minas Gerais. A ESF foi escolhida por possuir grupos de adolescentes gestantes, e ser onde são promovidos encontros e realização de pré-natal. O bairro Morrinhos, como a maioria dos bairros de qualquer cidade do terceiro mundo, apresenta problemas sociais, ambientais e estruturais. Esse bairro surgiu de forma desordenada quanto ao crescimento populacional e habitacional, e agigantou-se sem que qualquer tipo de infraestrutura fosse adotado para acompanhar seu crescimento. Sendo a princípio habitado por pessoas que aportavam na cidade em busca de melhores condições de vida, por muitos anos o bairro Morrinhos sofreu, e ainda continua sofrendo, porém não tão fortemente, com as disputas crescentes do tráfico de drogas que se concentra no morro (favela), erguido no centro do bairro, conforme dados da Polícia Militar. Apesar disso a sensação não é mais de desproteção e vulnerabilidade como na época de urbanização da área que coincidiu com a chegada do trem de ferro, trazendo trabalhadores rurais, prostitutas, jogadores, pessoas sem qualquer qualificação profissional, que à procura de melhores oportunidades e condições de 40 Hoje, o bairro Morrinhos, primeiro espaço de expansão urbana da cidade de Montes Claros e um dos mais populosos, encontra-se situado na área central da cidade, contando com escolas, rádio, clube social fundado pelos ferroviários e notável estação de televisão - instalada e funcionando no bairro. Esse espaço e seus habitantes, nos últimos anos, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD, 2005), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, passaram por uma transformação positiva, mas, apesar de composta por uma população formada basicamente de trabalhadores do comércio, policiais, ex-ferroviários, professores e população escolarizada, seus habitantes historicamente sofrem com o estereótipo de herança de marginalização concebida pela população montes-clarense, o que pode justificar o índice de recorrência de gravidez na adolescência registrado pela presente pesquisa, uma vez que, segundo a literatura pesquisada, o contexto social e familiar influi nessa ocorrência. Dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher – PNDA (Ministério da Saúde, 2006) comprovam que, no ano de 2006, 2% dos adolescentes de 15 a 19 anos tinham pelo menos 2 filhos nascidos vivos. Um estudo sobre o perfil epidemiológico, sócio-econômico e de acesso aos serviços de saúde das adolescentes do Rio de Janeiro, realizado por Furtado et al. (2005), registrou queda dos 12.168 registros pesquisados. Foi identificado que 29,1% (3.542) dos partos são de adolescentes com maternidades sucessivas, e que 99,2% das adolescentes com recorrência gestacional estavam na faixa etária de 15 a 19 anos, com nível de escolaridade mais baixo e que haviam abandonado a escola. Siqueira et al. (2002), estudando adolescentes grávidas de até 19 anos em quatro programas de prénatal de Florianópolis-SC, observaram que 9,5% estavam grávidas pela segunda ou mais vezes. Esse Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original recorrência gestacional encontrado no bairro Morrinhos. A educação é evidenciada como fator determinante de prevenção da gravidez, pois o maior número de adolescentes grávidas encontra-se entre as jovens sem nenhuma instrução formal, enquanto as que frequentaram a escola pelo menos até o nível fundamental, representam um número menor de adolescentes grávidas por desinformação. No presente estudo o número maior de adolescentes que informou recorrência de gravidez não terminou o ensino fundamental, o que demonstra que a educação realmente faz a diferença quando se trata das questões que envolvem a sexualidade na adolescência (FREITAS, 2000). Campos (2000) considera que a gravidez na adolescência é multicausal e sua etiologia está relacionada a uma série de aspectos que podem ser agrupados em: fatores biológicos, de ordem familiar, social, psicológicos de e concepção. Os fatores biológicos envolvem desde a idade da primeira menarca até o aumento do número de adolescentes na população geral. O contexto familiar tem relação direta com a época em que se inicia a atividade sexual. Assim sendo, adolescentes que iniciam vida sexual precocemente ou engravidam nesse período, geralmente vêm de famílias cujas mães também iniciaram vida sexual precocemente ou engravidaram durante a adolescência. Esse fato foi comprovado neste estudo, segundo o qual a maioria das adolescentes com recorrência gravídica era filha de mães solteiras e que tiveram sua primeira gravidez na adolescência. Ainda de acordo com Campos (2000), as mudanças que vêm ocorrendo na sociedade estão provocando mudanças também na estrutura familiar e na forma como as famílias recebem a prematuridade sexual dos filhos. Assim, o aumento de gravidez na adolescência está relacionado à diminuição de tabus e as mudanças de valores sociais e familiares. Para tentar minimizar o problema social e de saúde grave gravidez, PERSONA et al., 2004, p. 750 afirmam a importância e necessidade de serem disponibilizados programas dirigidos aos adolescentes, abordando “novas formas, que não a maternidade, de saciar as necessidades emocionais e de desenvolvimento através de atividades técnicas e/ou práticas pela educação alternativa, programas de treinamento vocacional e elaboração de projeto de vida”. Tipo de programa ausente na área pesquisada. Quanto aos fatores psicológicos e contracepção, Vitalle e Amancio (2001, p. 2) descrevem que: a utilização de métodos contraceptivos não ocorre de modo eficaz na adolescência, e isso está vinculado inclusive aos fatores psicológicos inerentes ao período pois a adolescente nega a possibilidade de engravidar e essa negação é tanto maior quanto menor a faixa etária; o encontro sexual é mantido de forma eventual, não justificando, conforme acreditam, o uso rotineiro da contracepção; não assumem perante a família a sua sexualidade e a posse do contraceptivo seria a prova formal de vida sexual ativa. Com relação à influência da contracepção nos índices de gravidez entre os jovens, os resultados deste estudo encontram equivalência com os de uma pesquisa realizada por Gobbatto et al. (1999), que revelou que, das adolescentes com vida sexual ativa que usavam algum método contraceptivo, 41% o faziam de forma incorreta ou realizavam trocas inadequadas. Entre as consequências mais graves da gravidez na adolescência apontadas pela PNDS (1996) destacam-se as que dizem respeito à saúde das adolescentes, como a ocorrência de aborto, pois os dados apontaram que em cinco anos, 50 mil adolescentes foram parar nos hospitais públicos devido a complicações de abortos clandestinos e que quase três mil das jovens encontravam-se na faixa dos 10 a 14 anos. No bairro Morrinhos foram registradas poucas ocorrências de abortos entre as adolescentes pesquisadas. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 41 Artigo Original A adolescência, assim como a gravidez, implica um período de mudanças físicas e emocionais considerado, por alguns, um momento de conflito ou de crise, e a chegada de um filho interfere, ainda, na vida social, escolar e financeira da adolescentemulher (FREITAS, 2000). Além disso, as mudanças físicas que ocorrem na adolescente durante e após a gestação refletem uma insatisfação corporal típica de jovens do ocidente, onde ser magra significa ter competência, sucesso e ser atraente sexualmente (ALVES et al. 2009). Entre as adolescentes que participaram deste estudo, foi possível comprovar a interferência negativa da gestação e recorrência gestacional na vida das adolescentes, resultando, inclusive, e principalmente, no abandono da escola. Para Takiutt (2001), durante a gravidez inúmeras alterações fisiológicas ocorrem no corpo da mulher, envolvendo todos os sistemas, o que é resultado do aumento da carga fisiológica. Essas alterações se iniciam na primeira semana e prosseguem até o final da gestação, como aconteceu com a maioria das adolescentes do bairro Morrinhos. De acordo com Bocardi (2003), dados estatísticos têm mostrado que 40% das adolescentes voltam a engravidar após 36 meses da primeira gestação, fato contrário a este estudo, em que as adolescentes, em sua integralidade, informaram que engravidaram antes de 24 meses da primeira gestação. Esse resultado demonstra que a gestação recorrente entre os adolescentes requer uma análise de vários fatores e, como escreve Carvalho, Merighi, e Jesus (2009, p.17) “a fase mais elementar dessa compreensão resulta das transformações sociais das últimas décadas e dos fatores psico-sócio-culturais considerados como associados ao mesmo”. Os autores citam estudo realizado com 140 adolescentes no interior paulista, no qual se constatou que 24% delas já estavam na segunda, terceira, quarta ou até quinta gestação e 10% já haviam praticado aborto pelo menos uma vez, resultado parecido com o encontrado no presente estudo, o que demonstra que a 42 maternidade na adolescência é um problema de saúde pública, que precisa ser enfrentado e que demanda uma assistência social e humana, além de ações educativas. Os resultados expostos nos permitiram concluir que na população estudada, composta por oito adolescentes com recorrência gestacional, houve associação significativa com a recorrência da gestação na adolescência em relação às variáveis: idade, escolaridade, uso de anticoncepcional e seu tempo médio de uso, assim como a aceitação da gravidez, uma vez que elas se encontravam-se numa faixa etária de 16 a 19 anos, com média de idade de 17,6 anos, Todas as adolescentes têm mais de um filho, e duas delas informaram já ter feito aborto. Houve o predomínio de duas gestações em 75% dos casos. Com relação às consequências da gravidez, a maioria das adolescentes mostrou ressentimento com relação à privação de tempo para passear e para estudar que a chegada de um filho provocou em suas vidas, assim como demonstraram que enfrentam problemas para dividir sua atenção e os recursos materiais com o filho. A ocorrência da gestação e a recorrência gestacional foi atribuída pelas adolescentes à imaturidade, fantasias, revolta com os pais, falta de informações sobre a gravidez e os métodos contraceptivos. Diante do índice de recorrência gestacional encontrado, sugere-se a realização de um trabalho mais sistematizado sobre sexualidade na adolescência envolvendo as escolas da área de abrangência e os profissionais da Estratégia Saúde da Família do bairro Morrinhos, pois só assim os jovens poderão compreender as responsabilidades que a gestação impõe tanto aos homens quanto às mulheres e os aspectos relacionadas ao controle da fecundidade. Acredita-se que ações de educação e saúde direcionados à população adolescente são o Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original principal caminho para evitar a primigestação ou recorrência gestacional entre a população mais jovem. REFERÊNCIAS ALVES, D.; PINTO, M.; ALVES, S.; MOTA, A.; LEIRÓS, V. Cultura e imagem corporal. Rev. Motricidade. v. 5, n.1, p. 1-20, 2009. ALVES, E. D., MUNIZ, M. C. V., TELES, C. C. G. D. Estudos sobre gravidez na adolescência: a constatação de um problema social. Ciênc. Biol. Saúde. v. 12, n.3, p. 49-56. 2010. BAREIRO, A. O. G. Gravidez na adolescência: seus entornos, peculiaridades e razões do ponto de vista da adolescente. 2004. Monografia apresentada para obtenção do grau em Especialista em Saúde da Família. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2004.Disponível em: <http://bases.bireme.br/ cgibin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xi s&src=google&base=LILACS&lang=p&nextActio n=lnk&exprSearch=387616&indexSearch=ID>. Acesso em: 11 abr. 2014. BERETTA, M. I. R.; CLÁPIS, C. V.; OLIVEIRA NETO, L. A., FREITAS, M. A., DUPAS, G., RUGGIERO, S. E. M. A contextualização da gravidez na adolescência em uma maternidade de São Carlos/SP. Rev. Eletr. Enf.. v. 13, n.1, p. 90-8, 2011. Disponível em <http://dx.doi.org/10.5216/ ree.v13i1.8128>. Acesso em 12 mar. 2014. BOCARDI, M. I. B. Gravidez na adolescência: o parto enquanto espaço do medo. São Paulo: Arte & Ciência, 2003. CAMPOS, M.A.B. Gravidez na Adolescência. A imposição de uma nova identidade. Pediatr. Atual. v. 13, n.11, p. 25-6, 2000. CARVALHO, G. M, MERIGHI, M. A. B., JESUS, M. C. P. Recorrência da parentalidade na adolescência na perspectiva dos sujeitos envolvidos. Texto Contexto Enferm. v. 18, n. 1, p. 17-24, 2009. CERTEAU, M. Artes de fazer: A Invenção do Cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1994. CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução 196. Brasília – DF: MS/CNS, 1996. DUARTE, S. V., FURTADO, M. S. Manual para elaboração de Monografias e Projetos de Pesquisa. Montes Claros: Unimontes, 2002. FREITAS, E. F. Gravidez na Adolescência. Campinas: Atual, 2000. FURTADO, S., SILVEIRA, K., ROZENBERG, R., BONANN, C. B., MENDES, M. A., CHUVA, V. Estudo dos fatores associados à recorrência da gravidez na adolescência a partir de dados do SINASC do município do Rio de Janeiro – 2005. Rio de Janeiro: Instituto Fernandes Figueiredo/Fundação Osealdo Cruz/Secretaria Municipal de Saúde – SMSR, 2005. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. GOBBATO, D. O. et al. Perfil das Adolescentes Grávidas. Pediatria Atual, ago., 1999, v.12, n.8. HOGA, L. A. K., BORGES, A. L. V., & REBERTE, L. M. Razões e reflexos da gravidez na adolescência: narrativas dos membros da família. Esc. Anna Nery. v. 14, n.1, 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. PNAD 2005. Montes Claros: IBGE, 2005. MAIA, F. F. R., & RIBEIRO, J. G. L. Aspectos médico-sociais da gravidez na adolescência nos últimos 20 anos : uma revisão da literatura. Revista Médica de Minas Gerais,v. 11, n.1, p. 34-9, 2001. MINAYO, M. C. S. O desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. Rio de Janeiro: Hucitec – Febrasco., 2001. PERSONA, L., SHIMO, A.K.K., TARALLO, M.C. Perfil de adolescentes com repetição da gravidez atendidas num ambulatório de pré-natal. Rev. Latino Americana de Enfermagem. v.12, n. 5, p. 745-750, 2004. MINISTÉRIO DA SAÚDE (BRASIL). (2006). Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde da Criança e da Mulher – PNDS.. Disponível em: <http://www.soperj.org.br/download/pesquisa_nac ional_demografia_saude.doc>. Acesso em: 11 abr. 2013. ROSA, A. J. Novamente grávida: Adolescentes com maternidades sucessivas em Rondonópolis – MT. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública. 2007. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 43 Artigo Original Disponível em: <http://pandora.cisc.usp.br/ teses/disponiveis/6/6136/tde-11022008 222655/publico/FINALDA-TESEALCINDO.pdf.> Acesso em: 11 abr. 2014. SIQUEIRA, M.J.T., MENDES, D., FINKLER, I., GUEDES, T., GONÇALVES, M.D.S. Profissionais E Usuárias(Os) Adolescentes De Quatro Programas Públicos De Atendimento Pré-Natal Da Região Da Grande Florianópolis: Onde Está O Pai? Natal: Estud. Psicol. v. 7, n.1, p. 65-72, 2002. TAKIUTT, A.. A Adolescente está ligeiramente grávida e agora gravidez na adolescência. São Paulo: Coleção e Sociedade Precisa Saber, 2001. TRIVINOS, A. N. S. Introdução a Pesquisa em Ciências Sociais: A Pesquisa Qualitativa em Educação. São Paulo: Atlas, 2000. VITALLE, M.S.S.; AMÂNCIO, O.M.S. Gravidez na adolescência. Brazilian Pediatric News, UNIFESP, São Paulo, v.3, n.3, 2001. Disponível em: www.brasilpednews.org.br/set.2001/bnpar101.htm. Acesso em: 13 mar. 2014 44 Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original INFECÇÕES URINÁRIAS EM PACIENTES HOSPITALIZADOS EM UM CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA: PREVALÊNCIA E PERFIL DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS PINHEIRO, Thales Almeida*; MARTINS, Ávila Lopes**; PRATES, Mayrane Luiz** * Docente das FIPMoc e FASA; ** Farmacêuticas graduadas pelas FIPMoc. RESUMO As infecções do trato urinário são frequentes em pacientes hospitalizados, representando número significativo das infecções nosocomiais e responsáveis por elevar o risco de agravamento no quadro de saúde dos pacientes acometidos. O presente estudo consiste em uma análise qualiquantitativa de caráter , em que foram analisados impressos próprios do serviço de controle de infecções de um centro de terapia intensiva de uma unidade hospitalar no período de janeiro de 2011 a dezembro de 2012, usando o programa SPSS 17.0 (Statistical Package for the Social Sciences). O objetivo do trabalho foi determinar a prevalência e o perfil de resistência aos antimicrobianos dos agentes causadores de infecção do trato urinário em pacientes internados em um centro de terapia intensiva. O estudo revelou que 13,6% das uroculturas realizadas apresentaram positividade. O gênero mais acometido foi o feminino, com 57,8%, e a faixa etária predominante foi a de indivíduos com idade superior a 60 anos. Os principais microrganismos isolados foram Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli, dos quais o que apresentou maior resistência aos antimicrobianos a Klebsiella pneumoniae. Os antibióticos para os quais os microrganismos mais apresentaram resistência foram ampicilina e ampicilina + sulbactam. Conclui-se que 13,6% das uroculturas apresentaram positividade, sendo mais prevalente no sexo feminino e em indivíduos com idade superior a 60 anos. Os principais microrganismos isolados foram a Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli, sendo o primeiro o que apresentou maior resistência aos antimicrobianos testados. Os antibióticos para os quais os microrganismos mais apresentaram resistência foram ampicilina e ampicilina + sulbactam. PALAVRAS-CHAVE: Infecção hospitalar. Infeções urinárias. Resistência microbiana a medicamentos. INTRODUÇÃO A infecção do trato urinário, também conhecida como ITU, é uma infecção bastante comum, respondendo por uma grande parte dos processos infecciosos comunitários e hospitalares (VIEIRA et al., 2007). Caracteriza-se como infecção urinária a presença e multiplicação de microrganismos na urina contida no aparelho urinário, sendo que é possível a invasão das estruturas tubulares ou parenquimatosas do aparelho urinário, bem como nos órgão anexos (CORREIA et al., 2007). As infecções do trato urinário são comuns em pacientes hospitalizados e estão associadas, na maioria dos casos, ao uso de dispositivos invasivos, como cateter urinário ou sonda vesical de longa Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 45 Artigo Original duração, empregados em procedimentos diagnósticos e terapêuticos variados. A ocorrência dessas infecções pode levar a complicações graves como bacteremia, septicemia, e até óbito (SILVA et al., 2009). As ITU's possuem diversas apresentações clínicas, tais como cistite, pielonefrite e bacteriúria assintomática. Elas são responsáveis por um aumento da morbidade em hospitais, bem como na comunidade, elevando, assim, os gastos hospitalares (DAMASCENO et al., 2011). A ITU é muito comum em Centros de Terapia Intensiva, onde representa a terceira infecção mais frequente. O sexo feminino é mais vulnerável que o masculino. Mulheres adultas têm 50 vezes mais chances de adquirir ITU do que os homens, sendo que 30% das mulheres apresentam sintomas da infecção ao longo da vida. Esse fato é atribuído à menor extensão anatômica da uretra feminina. No entanto, a prevalência de ITU aumenta entre homens acima de 50 anos, podendo esse fato ser relacionado à ocorrência de doença prostática e à instrumentação das vias urinárias, incluindo-se o cateterismo vesical. Entre idosos, as taxas de ITU também se elevam, pela presença de comorbidades que aumentam a susceptibilidade às infecções (RORIZ-FILHO et al., 2010). A maioria das ITU's é causada por bactérias gram negativas, sendo Escherichia coli o microrganismo invasor mais comum, responsável por cerca de 70% a 90% das infecções urinárias agudas de origem bacteriana. O Staphylococcus saprophyticus pode ser responsável por 10% a 20% dos casos de ITU em mulheres jovens sexualmente ativas e é considerado a segunda causa mais comum nesse grupo de indivíduos. Outras bactérias que podem estar envolvidas nas ITU's são Staphylococcus aureus, Streptococcus do grupo B e D, Enterococcus faecalis, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter sp., Proteus sp., Pseudomonas sp. (BRAOIOS et al., 2009). No entanto, Klebsiella, 46 Enterobacter e Proteus, na maioria dos casos, causam cistite e pielonefrite sem complicações (VIEIRA et al., 2007). De maneira geral, os microrganismos isolados de infecções urinárias adquiridas em hospitais apresentam maior resistência aos diferentes agentes antimicrobianos. A maioria dos trabalhos publicados sobre o perfil de resistência de patógenos urinários refere-se às cepas microbianas isoladas de infecções nosocomiais (BRAOIOS et al., 2009). As ITU's representam, atualmente, o maior número de infecções hospitalares, cerca de 40%, sendo mais comuns que as infecções respiratórias. No Brasil, cerca de 80% das consultas clínicas ocorrem devido à infecção do trato urinário (RIBEIRO; LUZ, 2011). Dessa forma, é de grande importância para a saúde pública a realização de novos estudos que possam elucidar o perfil atual dos pacientes acometidos por ITU, e as características gerais dos agentes causadores dessa patologia. Assim, o objetivo deste estudo foi determinar a prevalência e o perfil de resistência aos antimicrobianos dos agentes causadores de infecção do trato urinário em pacientes internados em um centro de terapia intensiva de um hospital situado na cidade de Montes Claros - MG. MÉTODO Trata-se de um estudo quali-quantitativo de caráter retrospectivo, em que foram analisados impressos próprios do serviço de controle de infecções de pacientes internados no Centro de Terapia Intensiva da instituição, no período de janeiro de 2011 a dezembro de 2012. O Hospital onde foi realizado o estudo atende não só pacientes da cidade de Montes Claros, mas abrange também cerca de 100 municípios da região norte de Minas Gerais e do sul da Bahia. É uma Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original entidade de caráter filantrópico e está localizado na cidade de Montes Claros - MG. O programa estatístico SPSS 17.0 (Statistical Package for the Social Sciences) for Windows foi utilizado para análise da idade, do gênero, do tipo de microrganismo isolado, dos antibióticos utilizados no antibiograma. Foi utilizado o teste Qui-quadrado para avaliar as diferenças de proporções dos dados categóricos. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, nos termos do Parecer nº 231.291. Figura 01 - Distribuição percentual dos casos de ITU por faixa etária. 71,6 80 70 60 50 % 40 30 12,7 20 10 3,9 0 20 a 40 anos 51 a 60 anos 41 a 50 anos >60 anos p=0,000* Figura 02 - Distribuição percentual dos microrganismos isolados em Infecção do Trato Urinário. RESULTADOS 31,4 klebsiella pneumoniae No período de 2011 a 2012, foram realizadas 750 uroculturas, sendo que 13,6% (n=102) apresentaram positividade para ITU. Analisando a Tabela 1, observa-se que houve prevalência Do sexo feminino. Tabela 01: Distribuição dos casos de ITU por sexo (Valor absoluto e percentual) n % Masculino 43 42,2 Feminino 59 57,8 Quanto à faixa etária, observa-se diferença estatística com prevalência na população acima de 60 anos (Tabela 02 e Figura 01). Tabela 02. Distribuição dos casos de ITU por faixa etária (Valor absoluto e percentual) n % 20 a 40 anos 4 3,9 41 a 50 anos 12 11,8 51 a 60 anos 13 12,7 > 60 anos 73 71,6 Sig 0,000* Dentre as uroculturas positivas, o microrganismo isolado com maior prevalência foi a Klebsiella pneumoniae, seguida da Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus, Acinetobacter sp ( Figura 02). 28,4 Escherichia coli Psedomonas aeruginosa Staphylococcus aureus 10,8 Acinetobacter sp. 8,8 Candida sp. 6,9 Enterococcus sp. 3,9 Streptococcus sp. 3,9 Enterobacter sp. 1 Citribacter 0 5 10 15 20 25 30 35 A Tabela 03 mostra o perfil de resistência aos antimicrobianos dos principais microrganismos isolados nas ITU. Observa-se que a Klebsiella pneumoniae apresentou maior resistência à ampicilina e à ampicilina + sulbactam. A E. coli apresentou maior resistência à ampicilina, a norfloxacina e ao sulfametoxazol + trimetropim. Quanto à Pseudomonas aeruginosa, apresentou-se mais resistente à ceftazidima à ciprofloxacina, ao cefepime e à norfloxacina. O Staphylococcus aureus apresentou maior resistência à ciprofloxacina e à ceftriaxona. Com relação ao Acinetobacter, verificase mais resistente à ampicilina + sulbactam e à ciprofloxacina. DISCUSSÃO As infecções do trato urinário são comuns em pacientes internados em Centros de Terapia Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 47 Artigo Original Intensiva (CTI). Isso ocorre, provavelmente, pelo maior grau de debilidade dos pacientes que se encontram nessa clínica. Além disso, em CTI é comum o uso de dispositivos invasivos, tais como sondas vesicais e cateteres, que funcionam como quebra das barreiras naturais e podem facilitar a ocorrência de infecções. Grande parte das ITU tem origem bacteriana e, portanto, é necessário que se tenha conhecimento quanto aos perfis de sensibilidade e resistência desses patógenos, para que se faça a opção pela terapêutica mais eficiente (RORIZ-FILHO et al., 2010). Tabela 03 - Perfil de resistência aos antimicrobianos de bactérias isoladas de pacientes internados com infecção do trato urinário. Montes Claros, Jan/2011 a dez/2012. AMP Klebsiella pneumoniae Escherichia coli Psedomonas ASB CAZ CIP CPM CRO LEV NOR SUT n % n % n % n % n % n % n % N % n % 22 73,3 18 60 16 53,3 5 16,7 13 43,3 16 53,3 10 33,3 11 36,7 14 46,7 19 65,5 13 44,8 8 27,6 6 20,7 8 27,6 9 31 11 37,9 14 48,3 14 48,3 1 8,3 2 16,7 5 41,7 5 41,7 5 41,7 2 16,7 0 0 5 41,7 0 0 0 0 2 16,7 1 8,3 7 58,3 0 0 6 50 4 33,3 1 8,3 4 33,3 2 18,2 9 81,8 8 72,7 9 81,8 6 54,5 8 72,7 2 18,2 1 9,1 6 54,5 aeruginosa Staphylococcus aureus Acinetobacter sp. Legenda: AMP: Ampicilina; ASB: Ampicilina + Sulbactam; CAZ: Ceftadizima; CIP: Ciprofloxacino; CPM: Cefepime; CRO: Ceftriaxona; LEV: Levofloxacina; NOR: norfloxacina; SUT: Sulfametoxazol + Trimetropim (Sulfazotrim) O presente estudo revelou um percentual de positividade para ITU de 13,6%, corroborando a pesquisa de Queiroz e Felício (2010), que demonstrou um percentual de positividade para ITU de 18%. A faixa etária mais acometida pela ITU foi a de pessoas com mais de 60 anos assemelhando-se aos estudos de Silva et al. (2009), em que foi percebido que 73% dos pacientes estudados pertenciam a essa mesma faixa etária. Os estudos de Padrão et al. (2010) e de Kazmirczak e Goulart (2005) também concordam que a faixa etária mais acometida é constituída por pacientes com idade superior a 60 anos. A análise quanto à faixa etária mostrou uma forte correlação estatística com p < 0,05, especificamente p = 0,000. O gênero mais acometido foi o feminino. Isso porque as mulheres têm maior susceptibilidade à ITU's por apresentarem fatores predisponentes, tais como alterações na anatomia da bexiga, devido a 48 múltiplos partos, e ao menor comprimento da uretra. Concordando com o resultado obtido por meio deste estudo, Costa et al. (2010); Martini et al. (2011) e Costa (2009) evidenciaram em suas análises, que as ITU acometem, predominantemente, pacientes do sexo feminino. Vale ressaltar que, embora tenha ocorrido uma prevalência no sexo feminino, não houve diferença quanto ao nível de significância de 5% (p=0,05) entre os sexos, pois esse parâmetro apresentou um p= 0,113, no presente estudo. A bactéria mais isolada foi a Klebsiella pneumoniae (31,4%), discordando dos dados obtidos nas pesquisas de Oliveira e Silva (2010) e de Pires et al. (2007), que concluíram que a Escherichia coli é o principal agente causal da ITU. Esse fato pode estar relacionado com as características particulares da instituição pesquisada, pois, na análise realizada por Cândido et a.l (2012), esse microrganismo foi isolado em Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original 27,3% dos casos, o que se aproxima do resultado obtido pelo presente estudo. A Escherichia coli também apresentou alta taxa de prevalência (28,4%) nas uroculturas analisadas, concordando com a pesquisa de Almeida et al. (2007), que encontraram como principais microrganismos isolados a E. coli e a Klebsiella pneumoniae, ambas com 29,1% de prevalência. De acordo com os estudos de Soares (2006) e Oliveira e Silva (2010), que encontraram prevalência de E. coli de 63,64% e 55,6%, respectivamente, verifica-se que o valor encontrado neste estudo foi bem inferior. Acredita-se que essa diferença possa estar associada a particularidades da própria instituição durante o período estudado, já que se sabe que grande parte das ITU em pacientes hospitalizados é caracterizada como nosocomiais. A análise das uroculturas evidenciou que a Klebsiella pneumoniae, a bactéria com maior taxa de isolamento neste estudo, apresentou maior resistência à ampicilina (73,3%), assim como a E. coli, que também apresentou uma taxa elevada de resistência (65,5%) ao mesmo antibiótico. Os estudos de Almeida et al. (2007) também apresentaram uma alta taxa de resistência da E. coli à ampicilina (62,5%), entretanto os estudos de Santana et al. (2012) demonstram que a Klebsiella pneumoniae é mais resistente à ampicilina, quando comparada à E. coli, em âmbito hospitalar. Baseando-se no estudo realizado, é possível concluir que 13,6% das uroculturas realizadas apresentaram positividade para algum patógeno. O gênero mais acometido foi o feminino, com 57,8%; a faixa etária predominante foi a de indivíduos com idade superior a 60 anos. Os principais microrganismos isolados foram a Klebsiella pneumoniae (31,4%) e a Escherichia coli (28,4%). Dentre os microrganismos que apresentaram maior resistência aos antimicrobianos testados no antibiograma destaca-se a Klebsiella pneumoniae, com 73,3%. Os antibióticos para os quais os microrganismos mais apresentaram resistência foram ampicilina e ampicilina + sulbactam. Conclui-se ainda que o perfil de resistência apresentado pelas bactérias aos antimicrobianos nos casos de infecção do trato urinário pode variar, mas, em geral, apresenta grande semelhança, quando comparado a outros levantamentos realizados. O conhecimento profundo relativo à resistência apresentada pelos microrganismos presentes em ambiente hospitalar dá suporte, quanto às medidas ou políticas de prevenção que serão elaboradas, de acordo com as particularidades de cada instituição, sendo necessário para reduzir as taxas de morbimortalidade e dos custos com o prolongamento da internação devido aos agravos relacionados à ITU. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. C.; SIMÕES, M. J. S; RADDI, M. S.G. Ocorrência de Infecção Urinária em Pacientes de um Hospital Universitário. Rev. Ciências. Farm. Básica Apl. v. 28, n. 2, p. 215-219, 2007. BRAOIOS, A.; TURATTI, T. F.; MEREDIJA, L. C. S.; CAMPOS, T. R. S.; DENADAI, F. H. M. Infecções do trato urinário em pacientes não hospitalizados: etiologia e padrão de resistência aos antimicrobianos. J. Bras. Patol. Med. Lab., v. 45, n. 6, p. 449-56, dez., 2009. CÂNDIDO, R. B. R.; SOUZA, W.A. de; PODESTÁ, M. H. M. C. et al. Avaliação das Infecções Hospitalares em Pacientes Críticos em um Centro de Terapia Intensiva. Rev. Univer. Vale do Rio Verde: Três Corações, v. 10, n. 2, p. 148-163, ago./dez. 2012. CORREIA, C.; COSTA, E.; PERES, A.; ALVES, M.; POMBO, G.; ESTEVINHO, L. Etiologia das I n f e c ç õ e s d o Tr a c t o U r i n á r i o e s u a s Susceptibilidade aos Antimicrobianos. Acta. Med. Port.: v. 20, p. 543-549, 2007. COSTA, F. C.; Prevalência e Perfil de Suscetibilidade a Antimicrobianos de Microrganismos Isolados em Uroculturas no período de janeiro a dezembro de 2007, em Hospital Municipal de Ibirité/MG. Monografia. Título de Especialista em Microbiologia aplicada a Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 49 Artigo Original Ciências da Saúde. ICB/UFMG, 2009. mai, 2011. COSTA, L. C.; BELÉM, L. de F.; SILVA, P. M. de F. e; PEREIRA, H. dos S.; SILVA-JÚNIOR, E. D. da; LEITE, T. R.; PEREIRA, G. J. da S. Infecções Urinárias em Pacientes Ambulatoriais: Prevalência e Perfil de resistência aos antimicrobianos. RBAC, v. 42, n. 3, p. 175-180, 2010. RORIZ-FILHO, J.; VILAR, F. C.; MOTA, L. M.; LEAL, C. L.; PISI, P. C. B. Infecção do trato urinário. Medicina, Ribeirão Preto: v. 43, n. 2, p. 118-25, 2010. DAMASCENO, D. D.; TERRA, F. de S.; LIBÂNIO, S. I. C. Perfil da Resistência Antimicrobiana nas Infecções do Trato Urinário em uma Instituição Hospitalar. HOLOS, v. 1, 2011. KAZMIRCZAK, A. F. H. G.; GOULART, L. S. Caracterização do Trato Urinário Diagnosticadas no Município de Guarani das Missões, RS. RBAC, v. 37, n.4, p. 205-207. 2005. MARTINI, R.; HORNER, R.; SOUZA, M. C. M. et al. Caracterização de Culturas de urina Realizadas no laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário de Santa Maria – Santa Maria, RS, no Período de 2007 a 2010. Rev. Saúde (Santa Maria), v. 37, n.1, p. 5564, 2011. OLIVEIRA, A. C. C. de; SILVA, A. C. O. Prevalência de Infecção do Trato Urinário Relacionada ao Cateter Vesical de Demora em Pacientes de UTI. Rev. Pesq. Saúde. v.11, n. 1, p. 27-31, jan-abr, 2010. PADRÃO, M. da C.; MONTEIRO, M. L.; MACIEL, N. R.; VIANA, F. F. C. F.; FREITAS, N. A. Prevalência de Infecções Hospitalares em Unidade de Terapia Intensiva. Rev. Bras. Clin. Med., v. 8, n. 2, p. 125-128. 2010. SANTANA, T. C. F. S. de; PEREIRA, E. de M. M.; MONTEIRO, S. G. et al. Prevalência e Resistência Bacteriana aos Agentes Antimicrobianos de Primeira Escolha nas Infecções do Trato Urinário no Município de São Luís – MA. Rev. Patol. Trop. v. 41, n. 4, p. 409-418, out.-dez. 2012. SILVA, C. P. R.; MENDONÇA, S. H. F.; AQUINO, C. R.; SILVA, A. F. S. Principais Fatores de Risco para Infecção do Trato Urinário (ITU) em Pacientes Hospitalizados: Proposta de Melhorias. Rev. Enfermería Global, n. 15, fev., 2009. SOARES, L. A.; NISHI, C. Y. M.; WAGNER, H. L. Isolamento das Bactérias Causadoras de Infecções urinárias e se Perfil de Resistência aos Antimicrobianos. Rev. Bras. Med. Fam Com: Rio de Janeiro, v. 2, n. 6, jul-set. 2006. VIEIRA, J. M. dos S.; SARAIVA, R. M. C.; MENDONÇA, L. C. de V.; FERNANDES, V. O.; PINTO, M. R. de C.; VIEIRA, A. B. R. V. Suscetibilidade antimicrobiana de bactérias isoladas de infecções do trato urinário de pacientes atendidos no Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza, Belém-PA. RBAC: v. 39, n. 2, p. 119-21, 2007. PIRES, M. C. da S.; FROTA, K. de S.; MARTINS JUNIOR, P. de O. et al. Prevalência e Suscetibilidades Bacterianas das Infecções Comunitárias do Trato Urinário, em Hospital Universitário de Brasília, no Período de 2001 a 2005. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. v. 40, n. 6, p. 643-647, nov-dez., 2007. QUEIROZ, C. A.; FELÍCIO, V. T. Interações Urinárias de origem bacteriana em Pacientes Atendidos em Laboratórios de Análises Clínicas de Presidente Olegário – MG. Newlab, v. 101, p. 106111. 2010. RIBEIRO, E. C. C.; LUZ, A. C. da. Perfil Microbiológico de Pacientes Ambulatoriais com Infecção Urinária. Florence: São Luís, MA, n. 1, 50 Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original RISCO CARDIOVASCULAR EM MULHERES NA PÓSMENOPAUSA LEAL, Thaís Borges*; ROCHA, Lorena Silveira*; DE QUEIROZ, Marcelle Mafra*; CAMPOS, Maria Cecília Costa*; GONTIJO, Bia Gomes*; BARRAL, Ana Beatris Cezar Rodrigues ** *Discentes do curso de Medicina das FIPMoc; **Docente do curso de Medicina das FIPMoc; *** Farmacêutica graduada pelas FIPMoc RESUMO As doenças cárdio-vasculares (DCV) ocupam no Brasil o primeiro lugar dentre as causas de morbimortalidade. Além disso, ocasionam grande número de internações, gerando custos médicos e sócioe-conômicos elevados. Sua incidência aumenta com a idade, especialmente em mulheres, pois, com o envelhecimento, elas sofrem modificações metabólicas que estão relacionadas tanto à gênese quanto à progressão da DCV. Frente à importância do tema proposto, o presente trabalho teve como objetivo conhecer o risco cárdio-vascular em mulheres na pós-menopausa, mediante uma revisão sistemática de literatura. Para tanto, realizou-se uma revisão de artigos publicados entre 2007 e 2013 em revistas científicas indexadas por meio de buscas nas bases de dados bibliográficos do SciELO e PubMed. Concluiu-se que a pós-menopausa é uma fase da vida em que a mulher se torna mais suscetível ao desenvolvimento de doenças cárdio-vasculares e, devido ao alto índice de morbimortalidade associado a essas doenças, torna-se útil a contribuição acerca do conhecimento desse assunto. Palavras-chave: mulheres, pós- menopausa, doenças cárdio-vasculares INTRODUÇÃO O aumento da expectativa de vida da população tem-se refletido na conformação da população brasileira. Em nosso país, as mulheres representam a maioria da população idosa. Com isso, elas passaram a viver um tempo suficiente para vivenciar mudanças que muitas gerações anteriores não conseguiram alcançar (ZANOTELLI, 2012). Com o envelhecimento, as mulheres sofrem modificações metabólicas que levam a alterações na composição e distribuição do tecido adiposo. Essas modificações estão relacionadas tanto à gênese quanto à progressão das doenças cárdio-vasculares (DCV) (DE SOUZA et al., 2010). No Brasil, este grupo de doenças ocupa o primeiro lugar dentre as causas de mortalidade desde a década de 60, tanto para homens quanto para mulheres (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA e ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CLIMATÉRIO - SBC e SOBRAC, 2008) e são responsáveis por cerca de 20% de todas as mortes em indivíduos acima de 30 anos (MANSUR e FAVARATO, 2011). Além disso, ocasiona alta frequência de internações, gerando custos médicos e sócioe-conômicos elevados (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO e SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 51 Artigo Original - SBC, SBH e SBN, 2010). A prevalência de DCV aumenta com a idade, especialmente em mulheres (SBC e ABC, 2008). Durante o período do climatério, ocorre a diminuição da atividade ovariana e consequente diminuição da produção de estrogênios (FONSECA; BAGNOLI; ARIE, 2009). Estudos clínicos e experimentais evidenciam que o sexo feminino possui fatores considerados como protetores cárdio-vasculares em relação ao sexo masculino. Essa proteção permanece até o climatério, quando ocorre a privação dos hormônios ovarianos (DIAS et al., 2012). Durante o período da menacme, o risco para doenças cárdio-vasculares nas mulheres é cerca de três vezes menor que nos homens. Após a menopausa, com a queda dos níveis de estradiol, o risco cárdiovascular feminino aumenta progressivamente, equivalendo-se ao do homem (LORENZI et al., 2009). Considerando que o climatério é uma fase em que a mulher se torna mais exposta ao desenvolvimento de doenças cárdio-vasculares, que e essas doenças apresentam alto índice de morbidade e mortalidade, torna-se de extrema relevância conhecer, por meio da literatura, o risco cárdiovascular em mulheres na pós-menopausa. possuírem valor teórico relevante para a elaboração do texto. Utilizaram ainda, materiais publicados pela World Health Federation e World Health Organization, além de materiais da Sociedade Brasileira de Cardiologia e Associação Brasileira de Climatério. Para serem inclusos no presente estudo, os artigos deveriam ser recentes ou ser consensos de sociedades médicas, além de abordar o tema proposto e pertencerem a revistas indexadas. RESULTADOS Os resultados obtidos estão descritos nas tabelas 1 e 2. Tabela 1 Tabela 2 MÉTODO Para a elaboração deste artigo, foi realizada revisão de literatura na qual foram pesquisados trabalhos científicos, no período de março a maio de 2013, nas bases de dados Pubmed e Scielo. As palavras-chave utilizadas foram: mulheres, pósmenopausa e doenças cárdio-vasculares. A pesquisa foi limitada a trabalhos em inglês e português, publicados entre 2007 a 2013. Foram encontrados 39 trabalhos publicados e, ao final, 25 foram selecionados, por se tratarem de estudos recentes ou por serem consensos de sociedades médicas, e por 52 DISCUSSÃO Dados epidemiológicos revelam que o Brasil não é mais um país de jovens. Dos 190.732.694 habitantes, 97.342.162 são mulheres, das quais 14,3% têm 45 anos ou mais. Portanto, uma parcela Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original significativa das mulheres brasileiras está vivenciando ou prestes a vivenciar a fase do climatério (SANTOS; FIALHO; RODRIGUES, 2013). Um processo universal que transporta em si um significado único na vida das mulheres, comparativamente com os homens, é a menopausa, que ocorre, nos países de rendimentos médios e mais elevados, por volta dos 50 anos de idade. (MARTINS, 2012). A mulher vive, em média, cinco a oito anos mais que o homem, por isso, atualmente, a maioria das mulheres alcança a fase da menopausa. No século XVII, apenas 28% das mulheres chegavam à menopausa. Hoje esse número chega a 95%, sendo que 50% delas ultrapassam os 75 anos de idade, em países desenvolvidos (SANTOS; FIALHO; RODRIGUES, 2013). A maior longevidade das mulheres tem sido também explicada com base nas diferenças hormonais. Tem sido frequentemente notado que a mortalidade feminina associada às doenças cárdiovasculares, até os 50 ou 60 anos, é inferior à registrada para os homens. A explicação avançada tem sido baseada na existência do hormônio feminino estrógeno, que motivaria a diminuição dos níveis de colesterol das lipoproteínas de baixa densidade e o aumento do colesterol das lipoproteínas de alta densidade, constituindo um fator de proteção aterogênica (MARTINS, 2012). Fases Reprodutivas da Mulher A vida biológica da mulher é dividida em infância, puberdade, menacme e climatério. Na puberdade ocorre a primeira menstruação chamada de menarca sendo esta o ápice de todas as transformações somáticas e hormonais da adolescente. Após, inicia-se o período reprodutivo, menacme, presente até os 40 anos, quando começa o climatério, ocorrendo a esterilidade definitiva e O climatério é a fase da vida feminina na qual ocorre a transição do período reprodutivo ao não reprodutivo. É o período da vida da mulher caracterizado pela diminuição da função ovariana e da produção de hormônios estrógenos (GRAEF; LOCATELLI; SANTOS, 2012). O Ministério da Saúde estabelece o limite etário para o climatério de 40 aos 65 anos de idade, dividido em fases que constituem parte de um processo contínuo, englobando: pré-menopausa – geralmente, inicia após os 40 anos, com diminuição da fertilidade em mulheres com ciclos menstruais regulares ou com padrão menstrual similar ao ocorrido durante a vida reprodutiva; perimenopausa – inicia dois anos antes da última menstruação e vai até um ano após (com ciclos menstruais irregulares e alterações endócrinas); pós-menopausa – começa um ano após o último período menstrual (VALENÇA e GERMANO, 2010). A pós-menopausa é definida como o período prolongado de hipogonadismo hipergonadotrópico, caracterizado por níveis elevados de FSH e LH, associados a baixos níveis de estradiol e valores não detectáveis de inibina B. Os picos sistêmicos de LH e FSH são atingidos no primeiro e terceiro anos após a menopausa, respectivamente. Na fase pósmenopáusica, o FSH poderá estar aumentado cerca de 10 a 15 vezes, enquanto o LH, de 3 a 5 vezes. Por essa altura, a produção estrogênica é inteiramente derivada da aromatização extragonadal de androgênios em estrona, o principal estrogênio dessa fase (DUARTE, 2010). Em relação ao conteúdo androgênico na pósmenopausa, verifica-se uma redução de 50% dos níveis de androstenediona e de 25% do total de testosterona em relação às concentrações do período reprodutivo, com a síntese ovárica contribuindo fortemente para o total circulante deste último esteróide, o que deve à estimulação do estroma ovárico, ainda capaz de produção androgênica, pelo excesso de gonadotrofinas (LH). Assim, a secreção Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 53 Artigo Original ovárica aumentada de testosterona, associada à diminuição da SHBG (sex hormone-binding globulin), que contribui para uma maior biodisponibilidade desta hormona, poderá estar na base da indução de hirsutismo e sintomas virilizantes na mulher, na pós-menopausa (DUARTE, 2010). Com a diminuição de estrogênios e na tentativa de manter a foliculogênese há um aumento de LH e FSH e, consequentemente, aumento na produção de androgênios (principal hormônio da mulher no climatério), que são convertidos em estrona. Dessa forma, algumas mulheres atingem seu equilíbrio endócrino. Porém, 30-40% das mulheres não o alcançam e acabam sofrendo com as consequências da diminuição dos estrogênios no organismo (FONSECA et al., 2009). A falta do hormônio ovariano leva a alterações no perfil lipídico, aumento das lipoproteínas de baixa densidade (LDL), redução das lipoproteínas de alta densidade (HDL) e aumento na deposição de gordura (ANDRES, 2012). Os níveis de colesterol total e da fração LDL, assim como dos triglicerídeos plasmáticos, aumentam após a menopausa, provavelmente em razão da redução da atividade do receptor de LDL, que tem sido associada ao declínio gradual do estrógeno sanguíneo no período do climatério (DIAS et al., 2012). O sexo feminino, antes da privação dos hormônios ovarianos, possui maior predomínio vagal e sensibilidade dos receptores de pressão e, portanto, maior proteção cárdio-vascular, em relação ao sexo masculino. Entretanto, é importante enfatizar que essa proteção autonômica cárdio-vascular apresentada pelo sexo feminino atenua-se após a privação dos hormônios ovarianos. Deve-se enfatizar ainda que no climatério, é comum observar, na mulher, além de aumentado risco de doenças cárdiovasculares, redução na capacidade de exercício, na força muscular e na massa óssea, aumento do peso corporal e da prevalência de diabetes (DIAS et al., 2012). 54 Risco Cárdio-vascular e Menopausa Apesar de a maioria das doenças cárdiovasculares terem etiologias desconhecidas, sabe-se que alguns fatores contribuem para o surgimento delas (NOGUEIRA, 2009). Os fatores de risco para doenças cárdiovasculares podem ser divididos em dois grandes grupos: os fatores de risco não modificáveis, nos quais estão incluídos o sexo, a idade e a genética, e os fatores de risco modificáveis, que são aqueles que surgem com o passar do tempo e estão relacionados com hábitos de vida. Dentre eles, podemos citar: o tabagismo, o consumo de álcool, o sedentarismo, o estresse, a obesidade, a hipertensão arterial, o diabetes mellitus e as dislipidemias (NASCIMENTO; GOMES; SARDINHA, 2011). A doença cardiovascular (DCV) compreende um conjunto de doenças que afetam coração e vasos sanguíneos, tendo como algumas das principais manifestações um ataque cardíaco ou acidente v a s c u l a r c e r e b r a l ( W O R L D H E A RT H FEDERATION - WHF, 2013). Esse grupo de doenças é o principal motivo de óbitos e incapacitação, nos países desenvolvidos, e sua etiologia não pode ser dada por uma única causa (BATISTA et al., 2012). Caracteristicamente, a DCV é uma doença crônica que, geralmente, apresenta um longo período de latência, evolui lentamente, transcorre com lesões irreversíveis e com complicações que desenvolvem graus variáveis de incapacidade ou óbito (MARTINS et al., 2011). Atualmente, as doenças cárdio-vasculares são a causa mais comum de morbimortalidade em todo o mundo, sendo responsáveis por 16,7% milhões de mortes por ano (RIBEIRO; COTTA; RIBEIRO, 2012). As estimativas para 2020 é que elas se mantenham como principal causa de óbito, sendo que os maiores contribuintes são os países em desenvolvimento, quanto comparados aos Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original desenvolvidos (CESARINO et al., 2012). No Brasil, representam a principal causa de morte a partir dos 40 anos de idade, tanto em homens quanto em mulheres (MANSUR e FAVARATO, 2011). O país está entre os 10 países com maior índice de mortes por doenças cárdio-vasculares. Além disso, constituem uma das principais causas de hospitalização prolongada, gerando custos médicos e sócio-econômicos elevados (SBC, SBH e SBN, 2010). Epidemiologicamente, mesmo se mantendo como a principal causa de morte no Brasil, esses valores vêm decrescendo nas últimas décadas, principalmente no Sul e Sudeste e em maiores de 60 anos. (MANSUR e FAVARATO, 2011). A incidência das doenças arteriais circulatórias aumenta proporcionalmente ao envelhecimento populacional, principalmente em mulheres. Segundo o Ministério da Saúde, o acidente vascular cerebral (AVC) e o infarto são as principais causas de morte em mulheres com idade superior a 50 anos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA e ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO CLIMÁTERIO - SBC e SOBRAC, 2008). Apesar de se preocuparem mais com o câncer de mama, o maior índice de mortalidade em mulheres está mais relacionado a doenças cárdio-vasculares, responsáveis por 53% dos casos de morte enquanto o câncer de mama representa 4% (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA e ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CLIMATÉRIO SBC e SOBRAC, 2008). Na população feminina, a doença cárdiovascular é responsável por mais de 8,6 milhões de óbitos no mundo ao ano, representando um terço de todas as mortes nessa população. Esse valor é maior do que se somado às mortes devidas a todos os cânceres, tuberculose, HIV e malária. 3,3 milhões desses óbitos estão relacionados a ataques cardíacos, 3,2 milhões dessas mulheres morrem devido a acidente vascular encefálico, e 2,1 milhões devem-se a outras doenças cárdio-vasculares como insuficiência cardíaca e doença cardíaca hipertensiva. (WHF, 2013). Sabe-se que, quanto mais tempo a mulher for exposta ao estrogênio durante a pré-menopausa, ocorre maior proteção para doenças cárdiovasculares (DUARTE, 2010). Considerando mulheres de mesma faixa etária, aquelas que se encontram na menopausa têm risco de doença arterial coronariana (DAC) duas a três vezes mais do que aquelas na pré-menopausa. Na faixa etária de 45 a 64 anos, uma em cada nove mulheres possui alguma forma de DCV, sendo essa proporção diminuída (uma a cada 3 mulheres) após os 65 anos. Menopausa precoce também está associada a aumento de DAC (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA e ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CLIMATÉRIO - SBC e SOBRAC, 2008). Segundo estimativas, ocorre aumento de 4 vezes do risco de DCV na primeira década pósmenopausa (DUARTE, 2010). Normalmente os homens desenvolvem DCV mais cedo, cerca de 10 anos antes que as mulheres. Porém, a partir dos 50 anos, o que coincide com o período climatérico, ocorre aumento considerável do risco cárdio-vascular em mulheres, pois esse período está relacionado com o surgimento e com agravo de alguns fatores de risco, nos quais estão incluídos a obesidade central e a dislipidemia (NETO et al., 2011; GRARAKHNLOU et al., 2012). Inúmeros são os fatores relacionados ao elevado risco cárdio-vascular nas mulheres na pósmenopausa e, quanto maior o número de fatores de risco presentes, maior a chance de ocorrer um evento cárdio-vascular. Da mesma maneira, quanto melhor o controle dos hábitos de vida com redução do número de fatores associados, maior é a diminuição desse risco (SBC e SOBRAC, 2008). A pós-menopausa é uma fase da vida em que a Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 55 Artigo Original mulher torna-se mais suscetível ao desenvolvimento de doenças cárdio-vasculares. Devido aos altos índices de morbidade e mortalidade por essas doenças nota-se a relevância deste tema, especialmente nessa população. Dessa forma, este estudo pode ser útil na contribuição acerca do conhecimento desse assunto tanto para essas mulheres quanto para muitos profissionais da saúde, auxiliando-os para que eles, cada vez mais, possam ajudar na prevenção das doenças cárdio-vasculares e na promoção da saúde da mulher. REFERÊNCIAS ANDRES, F. G. Uso da isoflavona no climatério e na pós-menopausa. 2012. 20 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Pós-Graduação Lato-Sensu em Nutrição Clínica) - Departamento de Ciências da Vida, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí. 2012. BATISTA, A. L. A.; LINS, R. D. A. U.; RODRIGUES, R. Q. F.; SEABRA, E. G.; GOMES, R. C. B.; GOMES, D. Q. C.; BENTO, P. M. Interrelação entre doença periodontal e doenças cardiovasculares - abordagem etiopatogenética. Revista Brasileira de Medicina, v. 69, n. 3, mar. 2012. CESARINO, E. J.; VITUZZO, A. L. G.; SAMPAIO, J. M. C.; FERREIRA, D. A. S.; PIRES, H. A. F.; SOUZA, L. Avaliação do risco cardiovascular de indivíduos portadores de hipertensão arterial de uma unidade pública de saúde. v. 10, n. 1. 2012. CEZARINO, P. Y. A. Cinarizina no tratamento de sintomas climatéricos. 2010. 85 f. DE SOUZA, L. P. S.; SOUSA, M. H. M.; GRAVENA, A. A. F.; CARVALHO, I. Z. Fatores de risco cardiovascular em mulheres na pós-menopausa. 2011. VII Encontro Internacional de Produção Científica, Maringá: Editora Cesumar. 2011, 5p. DIAS, D. S.; BERNADES, N.; BRITO, J. O.; CONTI, F. F.; IRIGOYEN, M. C.; RODRIGUES, B.; ANGELIS, K. Impacto do Envelhecimento nas Disfunções Metabólicas e Cardiovasculares em Modelo Experimental de Menopausa. Revista Brasileira de Cardiologia, São Paulo, v. 24, n. 5. 2012. 56 DUARTE, A. M. B. Climatério: o impacto sobre a condição feminina. Mestrado Integrado em Medicina. Revista: Acta Obstétrica e Ginecológica Portuguesa, Portugal, abr. 2010. FONSECA, A. M.; BAGNOLI, V. R; ARIE, W. M. Y. A Dúvida do ginecologista: prescrever ou não hormônios na mulher no climatério. Revista da Associação Medica Brasileira, São Paulo, v. 55, n. 5. 2009. GRAEF, A. M.; LOCATELLI, C.; SANTOS, P. Utilização de fitoestrógenos da soja (Glycine Max) e Angelica Sinensis (Dong Quai) como uma alternativa terapêutica para o tratamento dos sintomas do climatério. Evidência, Joaçaba, v. 12, n. 1, p. 83-96, jan./jun. 2012. GRARAKHNLOU, R.; FARZAD, B.; ALINEJAD, H. A.; STEFFEN, L. M.; BAYATI, M. Medidas Antropométricas como Preditoras de Fatores de Risco Cardiovascular na População Urbana do Irã. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v. 98, n. 2. 2012 LORENZI, D. R. S.; CATAN, L. B.; MOREIRA, K.; ÁRTICO, G. R. Assistência à mulher climatérica: novos paradigmas. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 62, n. 2. 2009. MANSUR, A. P; FAVARATO, D. Mortalidade por Doenças Cardiovasculares no Brasil e na Região Metropolitana de São Paulo. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, São Paulo, v. 9, n. 2. 2011. MARTINS, L. N.; SOUZA, L. S.; SILVA, C. F.; MACHADO, R. S.; SILVA, C. E. F.; VILAGRA, M. M.; CARVALHO, C. V. A.; PEREIRA, A. B. C. N. G. Prevalência dos Fatores de Risco Cardiovascular em Adultos Admitidos na Unidade de Dor Torácica em Vassouras, RJ. Revista Brasileira de Cardiologia, v. 24, n. 5, set./out. 2011. MARTINS, R. A. S. Envelhecimento, atividade física e saúde cardiovascular. Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra, Coimbra, set. 2012. NASCIMENTO, J. S.; GOMES, B.; SARDINHA, A. H. L. Fatores de risco modificáveis para as doenças cardiovasculares em mulheres com hipertensão arterial. Revista René, v. 12, n. 4. 2011. NETO, F. J. A; FIGUERÊDO, E. D; BARBOSA, J. B; BARBOSA, F. F; COSTA, G. R. C; NINA, V. J. S; NINA, R. V. A. H. Síndrome metabólica e Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original menopausa: estudo transversal em ambulatório de ginecologia. Arq. Bras. Cardiol. [online], v. 95, n. 3. 2010. NOGUEIRA, M. A, D. Fatores de risco cardiovascular em mulheres atendidas em unidade de saúde. Conscientiae Saúde, Piauí, v. 8, n. 3. 2009. RIBEIRO, A. G.; COTTA. R. M. M.; RIBEIRO, S. M. R. A Promoção da Saúde e a Prevenção Integrada dos Fatores de Risco para Doenças Cardiovasculares. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 1. 2012. SANTOS, J. S.; FIALHO A. V. M.; RODRIGUES, D. P. Influências das famílias no cuidado às mulheres climatéricas. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 15, n. 1, p. 215-22, jan./mar. 2013. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA E ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CLIMATÉRIO. I Diretriz Brasileira sobre Prevenção de Doenças Cardiovasculares em Mulheres Climatéricas e a Influência da Terapia de Reposição Hormonal (TRH) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da Associação Brasileira do Climatério (SOBRAC). Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v. 1, n. 1. 2008. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, São Paulo, v. 95, n. 1. 2010. VALENÇA, N. C.; GERMANO, R. M. Concepções de mulheres sobre menopausa e climatério. Revista Rene, Fortaleza, Parnamirim, v. 11, n. 1, jan./mar. 2010. WHF. WORLD HEARTH FEDERATION. D i s p o n í v e l e m : h t t p : / / w w w. w o r l d - h e a r t federation.org/press/fact-sheets/cardiovasculardisease-terms/. Acesso em 16 de maio de 2013. ZANOTELLI, S. S. Vivências das mulheres acerca do climatério em uma unidade de saúde da família. Revista de Pesquisa: cuidado é fundamental online, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, jan./mar. 2012. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 57 Artigo Original ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS VALORES DE GLICEMIA CAPILAR E GLICEMIA VENOSA EM PACIENTES DIABÉTICOS E NÃO DIABÉTICOS Thales Almeida PINHEIRO*; Bárbara Lessa Alves REIS**; Jéssica Mendes TEIXEIRA** * Docente do curso de Farmácia das FIPMoc; ** Farmacêuticas graduadas pelas FIPMoc RESUMO: O diabetes mellitus (DM) é a doença metabólica mais comum no ser humano, caracterizada por distúrbios endócrinos associados ao metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas; e está associadA a uma elevada taxa de morbidade, exigindo cuidados constantes para evitar suas complicações agudas e crônicas. Este trabalho teve como objetivo verificar se há diferença significativa entre os valores de glicemia capilar e venosa em relação à presença de diabetes, ao sexo, idade, prática de atividade física e alimentação balanceada. O estudo foi realizado com 205 voluntários universitários. Utilizou-se o glicosímetro ACCU-CHEK Active - Glucotrend para as dosagens capilares; e o equipamento Quick Lab (DRAKE), empregando a metodologia enzimática colorimétrica trinder, para dosagem da glicemia venosa. O programa SPSS 17.0 (Statistical Package for the Social Sciences) foi usado para os cálculos estatísticos. O estudo revelou que: houve prevalência do sexo feminino na amostra analisada com predomínio da faixa etária de 18 a 30 anos; aproximadamente 50% da população estudada praticam exercícios físicos e fazem uso de alimentação balanceada; e glicemias capilar e venosa não sofrem influência dessas duas últimas variáveis. Os resultados ainda mostraram que houve diferença significativa entre as glicemias capilar e venosa para os indivíduos não diabéticos e quando analisados por gênero, mas não houve diferença para os indivíduos diabéticos. Contudo, pôde-se concluir que o uso de glicemia capilar para monitorar pacientes diabéticos é aceitável, entretanto 58 faz-se necessária a realização de novos estudos com um número maior de pacientes diabéticos para conclusões mais contundentes. Palavras-chave: Glicemia capilar, glicemia venosa e glicosímetro. INTRODUÇÃO O diabetes mellitus (DM) é a doença metabólica mais comum no ser humano, e é caracterizada por distúrbios endócrinos associados ao metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas. O DM é causado por uma completa ou relativa anormalidade na secreção e/ou ação da insulina. O DM tipo 1 tem sua fisiopatologia associada à destruição das células beta do pâncreas por meio de autoanticorpos, ao passo que a DM Tipo 2 está relacionada a uma resistência periférica à ação da insulina. A DM gestacional se caracteriza por hiperglicemia pela primeira vez durante a gestação, podendo permanecer ou voltar aos parâmetros de normalidade, após o parto. Independente do tipo de diabetes, a prevalência em geral é estimada em 200 milhões de pessoas, 5% da população adulta (RODRIGUES e MOTTA, 2012). Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original Segundo a Organização Mundial de Saúde, o número total de pessoas com diabetes no mundo, aumentará de 171 milhões em 2000 para 366 milhões e m 2 0 3 0 ( F R E I TA S ; G A R C I A , 2 0 1 2 ; MIELCZARSKI, et al., 2012). No Brasil, estima-se que ela aumente de 4,5 milhões para 11,3 milhões no mesmo período, tornando o país o oitavo país com maior número de pessoas diabéticas (FREITAS; GARCIA, 2012). O diagnóstico do DM é importante para prevenir e diminuir complicações agudas e crônicas através de assistência médica e educação do paciente, contribuindo para o controle da doença (MAGALHÃES, et al., 2012). O diagnóstico é baseado nas alterações no nível plasmático de glicose jejum de 8 horas, nos pontos de jejum e de 2h após sobrecarga oral de 75g de glicose (teste oral de tolerância à glicose – TOTG) e nível plasmático de glicose aleatória ou casual associado a sinais e sintomas típicos da diabetes (PEREIRA, et al., 2006; MAGALHÂES, et al., 2012). Nos últimos anos, a Organização Mundial de Saúde também incluiu a dosagem de hemoglobina glicada como forma de diagnóstico do diabetes (OMS, 2011). As dosagens da glicemia capilar e da glicemia venosa, quando coletadas de pacientes em estado de jejum simultaneamente, apresentam valores próximos, entretanto, quando coletadas em estado alimentado, o valor da glicemia capilar é mais elevado. (DIRETRIZES SBD, 2012 – 2013). A importância da monitorização da glicemia capilar é essencial para controlar o tratamento do diabetes, ajustar doses e posologia de medicamentos, reduzir complicações decorrentes da doença e proporcionar a melhoria na qualidade de vida dos pacientes com diabetes. Estudos apresentam que, com o auxílio da monitorização da glicemia capilar, é possível manter a glicose próxima aos níveis normais, prevenindo o desenvolvimento de suas complicações crônicas. (TEIXEIRA, et al., 2009). O uso dos glicosímetros portáteis para aferição da glicemia capilar pelo próprio paciente diabético tem levantado questionamentos sobre a exatidão e a precisão dos resultados, quando comparados com os resultados dos níveis de glicemia venosa dosados por métodos convencionais (CORDOVA, et al., 2009). Dessa forma, é de grande importância, para a saúde pública, a realização de novos estudos que possam demonstrar a equivalência ou não entre os valores de glicemia capilar e glicemia venosa em pacientes diabéticos e não diabéticos. Assim, este estudo tem como objetivo verificar se há diferença significativa entre os resultados de glicemia capilar dosados pelo glicosímetro portátil, e os valores de glicemia venosa determinados pelos métodos tradicionais empregados pelos laboratórios de análises clínicas em relação à presença de diabetes, ao sexo, idade, prática de atividade física e alimentação balanceada. MÉTODO Amostra O estudo foi realizado com estudantes das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes ClarosMG. Analisaram-se 205 amostras de sangue capilar e venoso coletadas simultaneamente, sendo 70 do sexo masculino e 135 do feminino. Os indivíduos participantes da pesquisa tinham idade de 18 a 64 anos, e não estavam em jejum no momento da coleta das amostras. Foram excluídos da pesquisa aqueles voluntários que não aceitaram que fossem colhidas, ao mesmo tempo, dois tipos de amostras e/ou que não concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para a participação da pesquisa. Também foram excluídos da pesquisa pacientes com difícil acesso venoso e que estavam gestantes. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas Pitágoras do Norte de Minas - FIPMoc, nos termos do Parecer nº 236.529. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 59 Artigo Original ANOVA para analisar dados numéricos, sendo considerado significativo p ≤ 0,05. Instrumentos O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário criado pelos próprios pesquisadores, embasado em outros questionários já validados, com perguntas abrangendo a idade, sexo, presença de diabetes, uso de medicamentos ou insulina, alimentação balanceada, prática de exercício físico e peso corporal. Utilizou-se o glicosímetro ACCU-CHEK Active - Glucotrend para as dosagens capilares; e o equipamento Quick Lab (DRAKE), empregando a metodologia enzimática colorimétrica trinder, para dosagem da glicemia venosa. RESULTADOS Foram analisadas amostras de 205 indivíduos, sendo 70 (34,1%) homens e 135 (65,9%) mulheres. A partir da Tabela 1, observa-se predomínio entre as idades de 18 a 30 anos, em virtude de as amostras terem sido coletadas em ambiente universitário. Verifica-se, também, que a prática de exercício físico e a presença de alimentação balanceada apresentaram uma distribuição próxima de 50% para a população estudada. Observa-se que o número de pacientes diabéticos analisados é muito pequeno, em relação à amostra. Procedimentos Amostras da glicemia capilar foram obtidas através da punção da polpa do dedo médio, com lanceta não reutilizável, empregando álcool 70% para antissepsia. As amostras da glicemia venosa foram obtidas mediante a da punção da veia basílica ou cubital média com seringa não reutilizável. Foram coletados 3 mL de sangue venoso em tubo contendo fluoreto de sódio e homogeneizado na sequência. Logo após, o tubo foi centrifugado por 5 minutos durante 3.500 rpm para a separação do plasma. As dosagens de glicose nas amostras de plasma foram realizadas no mesmo dia da coleta, no Laboratório de Análises Clínicas do Núcleo de Atenção a Saúde e Práticas Profissionalizantes (NASPP) das Faculdades Integradas Pitágoras, localizado na cidade de Montes Claros - Minas Gerais. Tabela 1 - Distribuição em valor absoluto e percentual das amostras analisadas quanto à faixa etária, realização de exercício físico, alimentação balanceada e presença do diabetes. Classificação Idade Realiza Atividade Física Tem Alimentação Balanceada Diabético 18 a 20 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos > 41 anos Sim Não Sim n 73 108 11 13 98 107 114 % 35,6 52,7 5,4 6,3 47,8 52,2 55,6 Não 91 44,4 Sim Não 3 202 1,5 98,5 Na Tabela 2, onde se comparam os valores de glicemia capilar e glicemia sérica, verifica-se diferença significativa com valor de “p” igual zero (p = 0). Dessa forma, pode-se dizer que os valores de glicemia capilar não podem ser comparados aos valores de glicemia venosa. O mesmo se observa quando se faz a análise comparativa da glicemia capilar e glicemia sérica, de acordo com o gênero (Tabela 3). Análise Estatística Tabela 2 - Análise comparativa da Glicemia Capilar X Glicemia Sérica. Os dados foram avaliados pelo programa SPSS 17.0 (Statistical Package for the Social Sciences) for Windows. Foi utilizado o teste Qui-quadrado para avaliar as diferenças de proporções dos dados categóricos, os testes t student independente e 60 Glicemia Capilar Glicemia Sérica Média Mínimo Máximo 105,34 93,98 70,00 51,00 186,00 163,00 Desvio Padrão 19,17 16,35 Sig 0,000* A Tabela 4 mostra que a prática de atividade Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original física e a alimentação balanceada, respectivamente, não interferem na comparação entre os valores de glicemia capilar e glicemia sérica, mantendo uma forte diferença significativa com valor de “p” igual a zero. Tabela 3 - Análise comparativa da Glicemia Capilar e Glicemia Sérica, de acordo com o Gênero. N Média Masculino Glicemia Capilar Glicemia Sérica 70 70 106,20 93,37 Desvio Padrão 17,79 18,13 Feminino Glicemia Capilar Glicemia Sérica 135 135 104,89 93,78 19,90 15,42 Sig 0,000* 0,000* Tabela 4: Análise comparativa da Glicemia Capilar e Glicemia Sérica, de acordo com a Prática de Atividade Física e Alimentação balanceada. N Média 98 105,32 Desvio Padrão 18,07 Pratica Atividade Física Glicemia Capilar Glicemia Sérica 98 94,36 17,82 Não Pratica Atividade Física Glicemia Capilar 107 105,35 20,22 Glicemia Sérica 107 93,63 14,95 Faz Alimentação Balanceada Glicemia Capilar 114 103,80 16,97 Glicemia Sérica 114 92,66 14,94 Não Faz Alimentação Balanceada Glicemia Capilar 91 107,26 21,57 Glicemia Sérica 91 95,63 17,92 encontrados, que os valores de glicemia capilar são estatisticamente mais elevados que os valores de glicemia venosa no estado alimentado. Esse resultado é condizente com as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2013). É importante dizer que Borges e Andrade (2009); Pereira. et al., (2006) e as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2013) demonstraram que amostras de glicemia capilar e glicemia venosa, quando coletadas em pacientes em jejum, não apresentam diferenças significativas. Tabela 5 - Análise comparativa da Glicemia Capilar e Glicemia Sérica, de acordo com o Diabetes e a Faixa Etária. Sig 0,000* 0,000* Diabético Não Diabético 18 a 20 anos 0,000* 21 a 30 anos 31 a 40 anos 0,000* Quanto à análise comparativa da glicemia capilar e glicemia sérica, de acordo com o diabetes (Tabela 5), observa-se que, para os pacientes não diabéticos, existe grande diferença significativa. Entretanto, que para os pacientes diabéticos não há diferença significativa, o que permite comparar os valores de glicemia capilar e glicemia Sérica para este grupo. Esta informação é de grande importância, já que a aplicação clínica da glicemia capilar é indicada para o monitoramento de pacientes diabéticos. Vale ressaltar que o número de amostras de pacientes diabéticos foi pouco expressivo em relação ao total, em consequência do local onde se coletaram as amostras de sangue. Quanto à faixa etária (Tabela 5), verifica-se diferença significativa para as faixas etárias de 18 a 20 anos e de 21 a 30 anos. Para os pacientes entre 31 a 40 anos e acima de 40 anos, não houve diferença significativa. DISCUSSÃO Foi possível constatar, a partir dos resultados > 41 anos Glicemia Capilar Glicemia Sérica Glicemia Capilar Glicemia Sérica Glicemia Capilar Glicemia Sérica Glicemia Capilar Glicemia Sérica Glicemia Capilar Glicemia Sérica Glicemia Capilar Glicemia Sérica N Média 3 3 202 202 73 73 108 108 11 11 13 13 112,66 113,33 105,23 93,69 104,72 93,57 104,83 92,86 106,36 95,00 112,15 104,76 Desvio Padrão 26,95 23,45 19,11 16,13 21,67 16,07 16,50 14,99 22,11 15,74 23,30 25,45 Sig 0,774 0,000* 0,000* 0,000* 0,059 0,157 Os valores encontrados para a glicemia capilar e a venosa, em relação à prática de atividade física e alimentação balanceada, não demonstraram diferenças estatísticas. Entretanto, Santos et a, (2006) afirma que a redução de peso proveniente da prática de atividade física seguida de dieta reduz 60% da probabilidade dos que apresentam tolerância a glicose de desenvolver o diabetes mellitus. Ainda nesse contexto, Filho et al, (2012) e ADA (2012) demonstram que a realização de exercício físico mantém os níveis glicêmicos normais, prevenindo complicações no diabetes. Dessa forma, é importante dizer que a prática de exercício físico e a alimentação balanceada exerce grande influência no controle glicêmico, apesar de não influenciar nos valores de glicemia capilar e venosa de forma comparativa. A análise estatística mostrou diferença estatística entre os valores de glicemia capilar e venosa para pacientes não diabéticos, e a ausência de diferença estatística para pacientes diabéticos, o que Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 61 Artigo Original confirma a importância do uso do glicosímetro, conforme as Diretrizes SBD (2013) e o estudo de Pereira et al,. (2006), que recomendam o automonitoramento da glicemia capilar para pessoas com DM Tipo I e DM Tipo II, que fazem uso da insulina. Nesse contexto, evidencia-se a importância do automonitoramento da glicemia capilar no controle glicêmico, para reduzir o desenvolvimento das complicações crônicas associadas ao paciente diabético. Entretanto, vale ressaltar que o número de pacientes diabéticos na população estudada é muito pequeno em relação à amostra total, devido ao perfil da população estudada. Entende-se, dessa forma, que o baixo número de pacientes diabéticos foi um fator limitante do estudo. Além disso, segundo Vandresen e colaboradores (2009), a exatidão dos resultados liberados pelos aparelhos de glicemia capilar é questionada, principalmente quanto ao uso inadequado de volume da amostra e manuseio incorreto da fita e do próprio glicosímetro, o que poderia ser considerado outro fator limitante do estudo. De acordo com Silva et al . (2012), o envelhecimento do indivíduo está associado à tendência de desenvolver o DM. Sabe-se que pacientes a partir de 50 anos apresentam maior chance de desenvolver a doença. A partir dos resultados do estudo, verifica-se que o valor médio da glicemia aumenta quando se analisam as faixas etárias de forma ascendente, corroborando a afirmativa de Silva et al,. (2012). Quanto à comparação entre os valores de glicemia capilar e venosa de acordo com a faixa etária, percebe-se que houve diferença estatística para pacientes de 18 a 20 anos e para pacientes com idade entre 21 e 30 anos. No entanto, não houve diferença significativa para pacientes de 31 a 40 anos e para pacientes com idade superior a 40 anos. Acredita-se que o baixo número de amostras para essas duas últimas faixas etárias possam ter interferido no resultado, eliminando uma possível associação estatística. 62 Baseando-se no estudo realizado, é possível concluir que: houve prevalência do sexo feminino na amostra analisada, com predomínio da faixa etária de 18 a 30 anos; aproximadamente 50% da população estudada praticam exercícios físicos e fazem uso de alimentação balanceada; e glicemias capilar e venosa não sofrem influência dessas duas últimas variáveis. Conclui-se, ainda, que houve diferença significativa entre as glicemias capilar e venosa para os indivíduos não diabéticos e quando analisados por gênero, mas não houve diferença para os indivíduos diabéticos. Contudo, pode-se inferir que o uso de glicemia capilar para monitorar pacientes diabéticos é aceitável, entretanto faz-se necessária a realização de novos estudos, com um número maior de pacientes diabéticos, para conclusões mais contundentes. REFERÊNCIAS AMERICAN DIABETES ASSOCIATION (ADA). Diagnosis and Classification of Diabetes Mellitus. Diabetes Care, v. 35, n. 1, Jan. 2012. AMERICAN DIABETES ASSOCIATION (ADA). Standards of medical care in diabetes. Diabetes Care, v. 35, n. 1, Jan. 2012. ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA; CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. PROJETO DIRETRIZES. Diabetes Mellitus Tipo 2: Prevenção. Agosto, 2011. Disponível em: <http://www.projetodiretrizes.org.br /diretrizes11/diabetes_mellitus_tipo_2_prevencao.pdf> Acesso em: 16 out. 2012, 12:30:00. BOLOGNANI, V.; SOUZA, S. S. de; CALDERON, I. de M. P. Diabetes mellitus gestacional - enfoque nos novos critérios diagnósticos. Com. Ciências Saúde, v. 22, n. 1, p. 31-42, 2011. CORDOVAL, C. M. M. de.; VALLE, J. P.; YAMANAKA, C. N.; CORDOVA, M. M. de. Determinação das glicemias capilar e venosa com glicosímetro versus dosagem laboratorial da glicose plasmática. Jornal Brasileiro Patologia Médica Lab., v. 45, n. 5, p. 379-384, out. 2009. DIAS, V. M.; PANDINI, J. A.; NUNES, R. R.; Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original SPERANDEI, S. L. M.; PORTELLA, E. S.; COBAS, R. A.; GOMES, M. de. B. Influência do índice glicêmico da dieta sobre parâmetros antropométricos e bioquímicos em pacientes com diabetes tipo 1. Arq Brs Endocrinol Metab., v. 54, n. 9, 2010. FIGUEIREDO, D. M.; RABELO, F. L. A. Diabetes insipidus: principais aspectos e análise comparativa com diabetes mellitus. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde. Londrina, v. 30, n. 2, p. 155-162, jul/dez. 2009. FILHO, A. D. dos R; AMORIM, P. D; PAZDZIORA, A. Z. Efeito de 12 semanas de hidroginástica sobre a glicemia capilar em portadores de diabetes mellitus tipo II. Revista Brasileira Atividade Física e Saúde. Pelotas/RS. v. 17, n. 4, p. 252-257. Agosto/ 2012. FREITAS, L. R. S. de; GARCIA, L. P. Evolução da prevalência do diabetes e deste associado à hipertensão arterial no Brasil: análise da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 1998, 2003 e 2008. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 21, n. 1, jan/mar. 2012. MAGALHÃES, G. L.; MUNDIM, A. V.; OLIVEIRA, C. M. de.; MOURÃO, JR. C. A. Atualização dos critérios diagnósticos para Diabetes Mellitus utilizando a A1C. HU Revista, Juiz de Fora, v. 37, n. 3, p. 361-367, jul/set. 2012. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: Dados sobre Diabetes. Vigitel, Brasil, 2011. NETO, D. L.; ROBLES, F. C.; DIAS, F. G.; PIRES, A. C. Avaliação da glicemia capilar na ponta de dedo versus locais alternativos – valores resultantes e preferência dos pacientes. Arq. Bras. Endocrinol Metab., São Paulo, v. 53, n. 3, Apr. 2009 . WORLD HEALTH ORGANIZATION. Use of Glycated Haemoglobin (HbA1c) in the Diagnosis of Diabetes Mellitus. 2011. Disponível em: < http://www.who.int/ diabetes/publications/report-hba1c_2011.pdf> Acesso em: 25 set. 2014, 11:30:00 PEREIRA, G. R.; GASPARETO, A.; AMPOLINI, C. Análise Comparativa dos Níveis de Glicose Capilar x Glicose Venosa. NewsLab. 79 ed. 2006. REIS, L. B de S. M.; SILVA, A. P. R. da, CALDERON, I. de M. P. Acompanhamento nutricional no diabete melito gestacional. Com. Ciências Saúde, v. 22, n. 1, p93-100, 2011. ROCHA, C. M.; MADEIRA, L. G.; SÁ, K. R.;LOPES, L. N.; ALBUQUERQUE, D. P. de.; DINIZ, L. M.; RODRIGUES, L. O. C. Diabetes mellitus tipo 1 na ausência de neuropatia autonômica não altera a taxa de sudorese no exercício. Rev. Bras. Med. Esporte, Niterói, v. 15, n. 1, Jan/Fev. 2009. RODRIGUES, M. L. C.; MOTTA, M. E. F. A. Mecanismos e fatores associados aos sintomas gastrointestinais em pacientes com diabetes melito. Jornal de Pediatria, v. 88, n. 1, 2012. SANTOS, C. R. B; PORTELA, E. S; AVILA, S. S; SOARES, E. de ABREU. Fatores dietéticos na prevenção e tratamento de comorbidades associadas à síndrome metabólica. Revista de Nutrição, v. 19, n. 3. Campinas Maio/Jun. 2006 SILVA, T. R; ZANUZZI, J; SILVA, C. D de M. Prevalência de doenças cardiovasculares em diabéticos e o estado nutricional dos pacientes. Journal Health science institute, v. 30, n. 3, p. 266-270, 2012. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Tratamento e acompanhamento do Diabetes mellitus. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes. 2006 SOUZA, C. F. de.; GROSS, J. L.;GERCHMAN, F.; LEITÃO, C. B. Pré-diabetes: diagnóstico, avaliação de complicações crônicas e tratamento. Arquivo Brasileiro Endocrinologia Metab., v. 56, n. 5, 2012. VANDRESEN, L. T. S.; SCHNEIDER, D. S. L. G.; BATISTA, M. R.; CROZATTI, M. T. L.; TEIXEIRA, J. J. V. Níveis glicêmicos de pacientes diabéticos segundo estudo comparativo entre duas técnicas. Rev. Ciên. Farm. Básica Apl., v. 30, n. 1, p. 111-113. 2009. TEIXEIRA, C. R. de. S.; ZANETTI, M. L.; LANDIM, C. A. P.; BECKER, T. A. C.; SANTOS, E. C. B. dos.; FRANCO, R. C.; CITRO, R. Automonitorização da glicemia capilar no domicílio: revisão integrativa da literatura. Rev. Eletr. Enf (online)., v. 11, n. 4, p. 1006-17. 2009. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 63 Artigo Original EXPLORAÇÃO MINERAL NO NORTE DE MINAS: COMPREENDENDO MELHOR A QUESTÃO DOS ROYALTIES LAGES, Gabriela Lemos*; FERREIRA, Diogo Fabiano**; REGO, Thaís Cristina Figueiredo*** *Discente do curso de Engenharia de Minas das FIPMoc; ** Coordenador do curso de Engenharia de Minas e docente das FIPMoc; *** Docente das FIPMoc RESUMO A Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) no Brasil remete aos valores dos royalties repassados às regiões mineradoras. Contudo, devido à complexidade da extração de recursos minerais como o minério, a atual legislação carece de revisões, especialmente em sua forma de arrecadação e na distribuição financeira entre os três beneficiários: União, os estados e os municípios produtivos. Esta pesquisa teve como objetivo compreender de que maneira a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (royalties) poderá auxiliar nas demandas dos projetos de mineração para o norte de Minas Gerais. Utilizou-se nesta pesquisa a análise de documentos relacionados à exploração dos recursos minerais e dos valores arrecadados pela CFEM, com carácter investigativo exploratório e qualitativo. Muitos são os problemas que circundam a mineração nos pequenos municípios; os principais envolvem recursos hídricos e de energia, além do inchaço populacional proporcionado pela atração de investimentos das empresas mineradoras. Os projetos minerários para as regiões do norte de Minas são evidentes, mas há de se aproveitar a possível mudança por meio do Novo Marco da Mineração, com a Lei n˚ 5.807/2013, para melhorar as formas de arrecadação da CFEM, sem, contudo, prejudicar a competitividade brasileira no mercado mineral. Conclui-se, a partir desta pesquisa, pela necessidade da reformulação do antigo Código de Mineração de 1967, e da discussão mais intensa do Projeto de Lei n˚ 5.807/2013, a fim de garantir 64 melhores critérios de distribuição dos royalties atribuídos à exploração de recursos minerários para as cidades produtoras e região. Palavras-chave: Mineração. Royalties. CFEM. Código de Mineração de 1967. Projeto de Lei n˚ 5.807/2013. INTRODUÇÃO A exploração mineral deve estar vinculada às questões sociais, ambientais e econômicas, a partir do ponto de vista de que a ação dos projetos minerários arrecadam significativos investimentos que contribuem para a região. Ferreira (2013, p. 13) descreve o Brasil como um país de grande potencial na produção de commodities, em especial nos setores da agricultura e o minério. Tais atividades produtivas são passíveis de compensações financeiras mediante royalties, pois envolvem a exploração de recursos naturais, como, por exemplo, a água, minerais e recursos fósseis. Ainda segundo o autor, por meio de estudos investigativos sobre royalties, por tratar-se de uma considerável parcela financeira pela exploração de recursos naturais, Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original cabe a essa atividade o investimento no meio social e ambiental de uma região. Buscou-se apresentar o contexto da exploração mineral internacional, tendo em vista a diferença significativa constatada no valor dos royalties arrecadados por outros países, mesmo os menos favorecidos que o Brasil, no quesito mineral. Esses países compensam as regiões exploradas atribuindo-lhes o devido valor financeiro, sem, contudo, prejudicar a competitividade do mercado. Em seguida, trouxemos a contextualização da mineração em Minas Gerais, que tem sido o estado considerado o segundo detentor da maior parcela da riqueza mineral arrecadada para o país, de acordo com dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM, 2012). A partir daí, foi possível verificar a exploração mineral no norte de Minas Gerais, com principal atenção para o município de Montes Claros, MG, mediante futuros projetos minerários inseridos no Plano de Desenvolvimento de Minas Gerais, segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (SEDE, 2011), considerando que isso poderá arrecadar significativos valores de royalties para investimento no desenvolvimento da cidade. Parte-se do princípio de que os recursos minerais são considerados patrimônios nacionais e devem ser explorados. Contudo, essa exploração deve ser realizada considerando a comunidade em que está inserida, sendo necessário, portanto, o constante diálogo das empresas exploradoras com os órgãos públicos federais e estaduais. Esta pesquisa teve como objetivo compreender de que maneira a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (royalties) poderá auxiliar nas demandas dos projetos de mineração para o norte de Minas Gerais. Interroga-se sobre a perspectiva da mudança prevista pelo Projeto de Lei n˚ 5.807/2013, conhecida como o Novo Marco da Mineração, e considerar o potencial mineral recém-descoberto no norte de Minas Gerais. Considera-se, para esta análise, a forma de arrecadação dos royalties em outros países, buscando um parâmetro que demonstra a precária legislação atual do Código de Mineração, tendo em vista a forma de arrecadação da Compensação Financeira (CFEM) no Brasil, o que atualmente limita investimentos estrangeiros e compromete o potencial minerário do país e, consequentemente, de Minas Gerais. MÉTODO Este estudo insere-se no âmbito das investigações qualitativas e exploratórias. A pesquisa qualitativa é a “modalidade de pesquisa na qual os dados são coletados através de interações sociais e analisados subjetivamente pelo pesquisador” (APPOLINÁRIO 2007, p.155). Quanto ao carácter exploratório da pesquisa, Gil (2010, p.41) aponta como aquela que tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema. Para Chizzotti (1995), o objeto na abordagem qualitativa não pode ser considerado como algo inerte e neutro, mas, sim, cheio de significados e relações que os sujeitos concretos criam à medida que agem. A pesquisa documental foi realizada mediante a análise de relatórios, tabelas, Plano Diretor e legislações a respeito do objeto de estudo. A pesquisa documental “vale-se de documentos originais, que ainda não receberam tratamento analítico por nenhum autor [...]” (HELDER, 2006, p.1-2). Por meio da análise documental, divisa-se: a arrecadação e distribuição dos royalties no país, a contribuição da atividade minerária para as regiões produtivas, em paralelo com o comprometimento ambiental; e outros problemas de origem urbana, advindos da exploração mineral. Os documentos avaliados foram: tabelas de valores arrecadados da CFEM para os municípios, distribuídos por estado; Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 65 Artigo Original Projeto de Lei n˚ 5.807/2013, que dispõe sobre a atividade mineral; 2º Plano Diretor do Desenvolvimento do Nordeste pela SUDENE, Decreto n. 196; Código de Mineração (1967); Caderno do Setor Mineral do Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica (2009). Esses documentos estão disponíveis nos sites oficiais do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e da Câmara dos Deputados. DESENVOLVIMENTO A COMPENSAÇÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL A compensação financeira pode aparecer com diferentes conotações em cada país, mas seu significado e objetivo não mudam: servir de amparo às divergências entre o progresso minerário e os prejuízos causados por ele. Em países-referência, que alcançaram o desenvolvimento de forma sólida, como Austrália e Canadá, a arrecadação e a distribuição dos royalties também refletem a visão de que os valores pagos às regiões minerárias é sinônimo de contribuição para a manutenção das atividades de exploração por mais tempo, evitando prejuízos mais profundos para as regiões produtivas (CADERNO DO SETOR MINERAL, 2011). Segundo Lima (2007), a compensação financeira na maioria dos países é realizada de forma diferente para cada tipo de minério, que pode recair sobre o recurso já extraído, denominado “na mina”, ou sobre o valor de venda. Destaca-se, também, que esses minérios são agrupados e seguem uma taxa uniforme a cada grupo, como, por exemplo: metais básicos, pedras preciosas, metais para construção, entre outras. A forma de venda, seja a importação ou exportação, é relevante, pois reflete no fato de que há minérios altamente dependentes de investidores estrangeiros. Ainda segundo o autor, os governos também podem ajustar a arrecadação, dependendo do tipo de minério, mas sempre seguindo um reajuste aos royalties, o que não traz prejuízos às regiões exploradas. Tabela 1 - Comparação das Compensações Financeiras, em % , entre Austrália, China, Indonésia e Brasil – 2012 Substância Austrália China Indonésia Cobre 5% do valor “na mina”* 2% do valor de venda Bauxita 7,5% do valor de venda 2% a 4% do valor 3,25% do valor de 3% do faturamento de venda venda líquido Diamante 7,5% do valor “na 4% do valor de mina” venda 6,5% do valor de venda 0,2% do faturamento líquido Minério de ferro 5% a 7,5% do valor “na mina” 3% do valor de venda 2% do faturamento líquido 2% do valor de venda 4% do valor de venda Brasil 2% do faturamento líquido *Valor do minério considerado sem o processo de beneficiamento Fonte: (IBRAM, 2012) 66 Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original A Austrália é considerada o quinto país que mais explora minérios não-energéticos, em geral, e representa 5% da produção mineral total no mundo, segundo o Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (COSIF, 2012). De acordo com o Caderno do Setor Minerário (2011), a Austrália é ainda o segundo país no ranking da exploração do minério de ferro - produto considerado como o mais relevante para a economia mineral brasileira. Considerando a TAB. 1, a Austrália também é o país que mais contribui com os royalties de forma a compensar sua exploração mineral. A Indonésia ocupa a lista dos principais países que recebem investimentos estrangeiros no setor mineral, além de ser um dos países que mais compensam em percentuais de royalties a exploração de seus recursos naturais (EMBAIXADA DA INDONÉSIA, s/d). De acordo com a TAB. 1, a Indonésia vem apresentando crescimento na exploração mineral, mesmo sendo suas reservas ainda muito aquém das reservas brasileiras. A China destaca-se como um país que cresce cada vez mais no ramo minerário e ocupa a sexta posição dos países que mais exploram minério, representando 4% na produção total de minério nãoenergético no mundo. Segundo o Plano Contável das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (COSIF, 2012), a China também possui percentuais maiores de faturamento, se comparada ao Brasil, o que faz com que consequentemente, suas compensações financeiras sejam maiores que as brasileiras. A COMPENSAÇÃO FINANCEIRA NO BRASIL Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), O Brasil detém um dos maiores patrimônios minerais do mundo e é um importante produtor e exportador de minérios de alta qualidade. Essa é a razão pela qual a mineração é uma das forças da economia brasileira. A indústria da mineração é uma das responsáveis pelo saldo positivo da balança comercial brasileira e as perspectivas para esta atividade econômica são extremamente otimistas para as próximas décadas. A indústria mineral brasileira registra ao longo da última década crescimento vigoroso graças a fatores como as profundas mudanças socioeconômicas e de infraestrutura que o país tem vivenciado. Muito embora, a atividade mineral tenha sofrido redução em suas expectativas em razão da crise internacional. Esse crescimento é impulsionado pelo processo de urbanização em países emergentes com grandes áreas territoriais, alta densidade demográfica e alto PIB (Produto Interno Bruto), como os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), os quais coincidentemente são de grande importância para a mineração mundial (IBRAM, 2012, p.3). Porém, segundo o Caderno do Setor Minerário (2011), o Brasil não atribui, de forma eficiente, os valores dos royalties, o que resulta em burocracia legislativa e baixos investimentos estrangeiros. Ainda segundo a mesma fonte, apesar de o Brasil ser um dos países no ranking da exploração mineral, ele agrega valores pequenos em relação às taxas da CFEM para explorar, além de outras isenções tributárias, o que promove a exaustão dos recursos naturais, sem, contudo, retorná-los para o Estado e para a população. Essa característica brasileira dispõe-se no Código da Mineração revisado em 1967. Ainda segundo esse código, a atividade minerária é fator relevante para o saldo positivo na balança comercial do país, com 20% de participação total das exportações brasileiras, além da contribuição de 4,2% para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. O país também ocupa o oitavo lugar pela exploração mineral não-energética, e contribui com 2,2% da produção total de minério no mundo, de acordo com Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 67 Artigo Original o COSIF (2012). De acordo com a TAB. 01, o país demonstra uma baixa contribuição em royalties pela compensação da exploração mineral, em relação a outros países. O faturamento líquido que representa os valores dos royalties no Brasil compreende, segundo o artigo 2º da Lei 8.001/90, “o total das receitas de vendas, excluídos os tributos incidentes sobre a comercialização do produto mineral, as despesas de transporte e as de seguros” (BRASIL, 1990). Os recursos minerais passíveis de sofrerem tributações são atribuídos às esferas do Governo Federal, Estado e Município que auxiliam na implementação de recursos que irão mobilizar projetos de desenvolvimento; daí a importância desses repasses, como é o exemplo dos royalties da mineração, a CFEM. Segundo o Código da Mineração de 1967, o papel da Compensação é suprir a demanda estrutural e social das áreas afetadas pela mineração; inclui setores, como, por exemplo, infraestrutura, saneamento, saúde; além de garantir que a manutenção do volume de capital permaneça constante, apesar de se tratar de um recurso natural esgotável. Os royalties da mineração estabelecidos pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – CRFB/88, parágrafo 1˚ do art. 20, contribuem para com os municípios, estados e a União, de forma a assegurar um valor financeiro, como compensação pelos impactos causados pela complexa ação minerária. De acordo com o DNPM, órgão máximo que regula os assuntos minerários do país: […] a Compensação Financeira é devida por quem exerce atividade de mineração em decorrência da exploração ou extração de recursos minerais. A exploração de recursos minerais consiste na retirada de substâncias minerais da jazida, mina, salina ou outro depósito mineral, para fins de aproveitamento econômico. Constitui como fator gerador da Compensação Financeira 68 a saída por venda do produto mineral das áreas da jazida, mina, salina ou outros depósitos minerais. E, ainda, a utilização, a transformação industrial do produto mineral ou mesmo o seu consumo por parte do minerador […]. Atualmente, o valor da CFEM é repassada de forma distributiva da seguinte forma: sessenta e cinco por cento (65%) para os municípios produtores, ou seja, aqueles em que ocorrem a extração da substância mineral - de acordo com o Código da Mineração (1967), caso haja a abrangência desSa exploração em outras cidades limítrofes, o valor deverá ser dividido com a devida proporcionalidade. Vinte e três por cento (23%) são repassados para o estado, e o restante, doze por cento (12%,) para a União - representada pelo DNPM, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Esse repasse da CFEM está inserido no valor máximo da alíquota em 3%, de acordo com a substância mineral, no faturamento líquido das empresas mineradoras, ou seja, o valor da venda do minério. Sendo assim, são deduzidos os valores dos tributos (ICMS, PIS, COFINS), que incidem na comercialização, assim como as despesas com transporte e seguro. Segundo Lima (2007), o regime de cobrança dos royalties pela base de cálculo do faturamento líquido, e não bruto, como ocorre nos outros países que exploram minério, é prejudicial principalmente para as regiões denominadas produtoras - que extraem minérios - , pois os descontos com o transporte e outras taxas, gerados pelo faturamento líquido, iriam ser valores que seriam repassados aos municípios e estados, contribuindo para a melhoria em setores prioritários. O estado de Minas Gerais, o segundo maior gerador econômico nesse setor, arrecada, a título de compensação financeira, cerca de 60% do Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original valor devido, ou seja, o estado deixa de receber parte dos royalties pela exploração, e tal medida ainda está prevista no Código da Mineração (1966). Nessa perspectiva, a atual forma de cobrança pela base líquida impõe limites ao crescimento que as minas do país poderiam produzir e arrecadar, o que deixa as cidades produtoras aquém do desenvolvimento que poderiam alcançar. De acordo com Silva (2008), os royalties que são dedicados aos municípios são inferiores e incapazes de sanar os problemas sociais e culturais gerados pela mineração. São problemas como esses que as cidades minerárias enfrentam. A autora assinala, ainda ,que uma nova tramitação da lei é necessária, para que os municípios busquem a melhor forma de aplicação dos royalties recebidos, direcionando-as para os principais serviços que ocupam a necessidade prioritária de atendimento em relação à atividade mineral, como energia e infraestrutura. Contudo, são também representativos, na perspectiva estadual, o crescimento acentuado que o investimento minerário traz aos municípios (FURTADO, s/d). Os benefícios mais comuns dessa atividade se validam nas áreas de geração de empregos, apoio às atividades econômicas locais e outros aspectos da infraestrutura. Em relação aos prejuízos da atividade mineradora, alguns autores alertam para a própria ambição das empresas privadas, que se prezam à maximização do lucro. Lustosa (1998) adverte que essas empresas sobrepõem-se às necessidades da sociedade, o que resulta na relapsa fiscalização e ou na falta dela, comprometendo uma melhor arrecadação dos impostos sobre uma atividade tão complexa. Esse comprometimento fiscal gera consequências que serão instaladas no município produtor, podendo também se estender às áreas rurais e às fronteiras com outras cidades, perdurando durante anos. A dinâmica econômica e, consequentemente social, é alterada nessas regiões; transparecendo tanto de forma negativa quanto positiva. Quando há o envolvimento do governo federal, os impactos negativos tendem a minimizar-se nos municípios explorados (MATTA, 2001). Nessa perspectiva, faz-se necessário fortalecer o convênio federal com os municípios e estados, o que contribuirá na redução da informalidade e/ou inadimplência do setor, em especial no setor de agregados para a construção civil, como é o exemplo da cidade de Montes Claros, localizada no norte de Minas Gerais. O crescimento do setor de construção civil, segundo Matta (2001), é diretamente impulsionado pelo aumento da atividade minerária, tornando os espaços urbanos ocupados por meio de disputas e, consequentemente, um súbito preenchimento dessas regiões, levando a problemas como o inchaço da malha urbana e os demais que envolvem a infraestrutura da cidade. Uma alternativa para a questão seria a fiscalização mediante operações conjuntas entre o sistema público e o privado. Gráfico 1 - Arrecadação da CFEM no Brasil – 1997 - 2010 (em R$ milhões) *Arrecadação até o dia 30 de junho Fonte: Caderno Setor Minerário (2011) Percebe-se, no GRAF. 1, o aumento linear da arrecadação da Compensação Financeira (CFEM) em milhões, e um significativo decréscimo nos anos de 2009 e 2010. Segundo os relatórios do DNPM (s/d), ainda assim são insuficientes os valores arrecadados, levando-se em consideração a disposição mineral no país e os faturamentos das Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 69 Artigo Original empresas mineradoras. Segundo Nascimento (2009), a economia brasileira em 2008 representou um crescimento positivo, um dinamismo na economia na época e uma alta de 14,5% no balanço geral econômico, comparado ao de 2007. Esse cenário propiciou o aquecimento interno da demanda de commodities no país, ou seja, o minério como produto foi inserido na intensa operação das indústrias de base; além do aumento do salário mínimo, do consumo da classe média, resultaram na diversificação da matriz industrial do Brasil. Segundo Furtado (s/d), a partir da análise do GRAF. 1, o valor arrecadado a partir de 2009 sofreu uma 1 queda devido à crise financeira internaciona, que se estendeu também no setor minerário do Brasil caracterizando a diminuição da demanda de exportações, ou seja, das vendas brasileiras de produtos e, consequentemente, do minério. A relação demonstrada no GRAF. 1 também reflete o cenário geral da extração minerária do país. A Produção Mineral Brasileira (PMB), a partir do ano 2000, sofreu um aumento na demanda por minerais, o que foi possível graças ao processo de urbanização e ao cenário da economia mundial; no caso do Brasil, as vantagens de estar inserido no grupo dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) trazem até hoje boas perspectivas no cenário econômico da mineração (IBRAM, 2012). O Projeto de Lei n˚ 5.807/2013 - Novo Marco Regulatório da Mineração, do Ministério de Minas e Energia - prevê a mudança de 3% para até 4% no total do valor repassado a ser compensado pela exploração de mineral, variando de acordo com o tipo de minério. Além disso, a cobrança passará a ser sobre o valor bruto declarado pelas empresas, e a fiscalização ocorreria pela criação da Agência Nacional de Mineração (ANM), que substituiria a ação que hoje pertence ao DNPM. A possível aplicação futura do projeto de lei viabilizaria grandes mudanças para o setor minerário do país, especialmente das regiões 70 afetadas pela atividade, pois garantiria uma cobrança da compensação de forma mais objetiva para as empresas. A proposta prevê mudanças para o valor bruto do lucro das empresas e visa ao aumento do valor arrecadado de forma significativa, o que poderá contribuir para maiores investimentos nos setores mais afetados pela mineração. Algumas críticas são feitas em relação ao Projeto de Lei n˚ 5.807/2013, como as da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABMPM) que teme por o Brasil perder a competividade no setor da mineração, o que acarretaria prejuízos para a economia do país; além das relativas à proposta do projeto de lei quanto à mudança da atual DNPM para a criação da ANM, a fim de regular mais o regime de fiscalização das empresas que exploram o minério. O diretor-geral do DNPM, Miguel Antônio Cedraz Nery, por intermédio do Caderno do Setor Minerário (2011), discutiu a importância na revisão do atual Código da Mineração do Brasil. Contudo, o autor também apontou ressalvas que seriam relevantes para as mudanças previstas no projeto de lei do Novo Marco da Mineração, como, por exemplo, na atribuição mais clara das funções dos novos órgãos que estariam sendo propostos a serem criados; assim, o objetivo de cada um deles seria o de realizar mudanças positivas na legislação mineral. A MINERAÇÃO NO NORTE DE MINAS GERAIS A mesorregião do norte de Minas Gerais é uma das doze em que se subdivide o estado. Os municípios componentes da mesorregião totalizam 89, ocupando uma área territorial de 2 128.602 km . Essa mesorregião está dividida em sete microrregiões, a saber: Bocaiuva, Grão Mogol, Janaúba, Januária, Montes Claros, Pirapora e Salinas (NUNES et al, 2012). Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original Figura 1 - Localização da região do norte de Minas Gerais propensas à exploração mineral Fonte: (FERREIRA, 2012). Historicamente, há cerca de algumas décadas, a divisão de tarefas entre o garimpo e o cultivo de alimentos trouxe à tona problemas advindos de questões físicas na região de Minas Gerais. Houve, então, a necessidade de se estabelecer o intercâmbio com outras regiões do país, que passariam a fornecer produtos dos mais variados, desde alimentos até roupas. Esse seria o papel do norte de Minas Gerais, tomado, até então, como região fornecedora de serviços terciários para os municípios que constituíam o Quadrilátero Ferrífero de Minas - a rica região que iria elevar o potencial econômico do estado. O norte de Minas Gerais não era visto no passado como uma região de potencial econômico, especialmente no setor da mineração; porém esse quadro está-se revertendo, uma vez que essa região vem tornando-se atrativa, devido às recentes descobertas de seu potencial geológico e mineralógico, o que lhe proporcionará investimentos em grande escala (GUIMARÃES, 2003). De acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico – SEDE (2011), o norte de Minas Gerais tornou-se alvo de atenção por parte de empresas minerárias, por ser uma região de alto potencial mineral, tendo em vista as especulações geológicas. É denominada “Fronteira Mineral”, para designar a nova gama de investimentos por parte de empresas nacionais e internacionais no ramo da mineração para os municípios do norte de Minas Gerais. A expectativa da extração minerária para estas cidades essá em cerca de 20 bilhões de toneladas de minério, como o ferro e o ouro, abrangendo 20 Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 71 Artigo Original municípios, incluindo, por exemplo, Salinas, Rio Pardo de Minas, Grão Mogol e Porteirinha, conforme demonstrado na FIG. 1. Ainda pela declaração da SEDE, estes investimentos contam com o apoio do Governo de Minas Gerais. Dentre as cidades de destaque do norte de Minas Gerais, Montes Claros está inserida como a principal, destacando-se pelo fornecimento de produtos e serviços para os outros municípios da região norte do estado. A cidade já ocupa posição de destaque na mineração, especialmente nos minérios que são fonte de produção para a construção civil. A 2 empresa francesa Lafarge é a maior empresa nesse setor, com produtos como o cimento, concreto e agregados - areia, calcário e, consequentemente, participa da maior parte de arrecadação da CFEM para o município. Montes Claros é dotada de infraestrutura que atrai investimentos para o município, destacando-se o segundo maior entrocamento rodoviário do país, implantado com recursos do Governo Federal e classificado pelo Plano Rodoviário Nacional como de grande relevância para o escoamento de produtos e cargas entre as regiões Sudeste e Nordeste. De acordo com Leite et al (2010), o crescimento econômico de Montes Claros deu-se de forma isolada, se comparado aos outros municípios da região. Isso acabou contribuindo para que a cidade se tornasse um polo de atração regional. Esse mesmo autor destaca a imigração como um fator intrínseco para a expansão de Montes Claros, mas que contribuiu para a exclusão e marginalização social, peculiaridades no modelo de expansão urbana, específicos para a realidade da região. Matta (2001) afirma que mesmo com um crescimento urbano desenfreado - como é o caso de Montes Claros -, a produção mineral é impulsionada, porque grande parte do desenvolvimento dessas regiões acontece por meio da relação de dependência com a atividade da mineração, tanto na manutenção desse crescimento, quanto para a dinâmica 72 econômica do município. Para esse mesmo autor, o exemplo mais claro ocorre quando o minério é ligado aos materiais de construção civil - como ocorre com a empresa Lafarge, quando as áreas periféricas são as mais atingidas pelos impactos negativos da mineração, mas a situação de dependência dos produtos de construção civil faz com que essas vítimas da poluição incentivem esse setor produtivo. De acordo com Leite et al (2010), o processo de industrialização inserido na cidade de Montes Claros, no que se refere à expansão descontrolada e sem planejamento, especialmente do setor de crescimento urbano, ocorreu de forma abrupta, o que contribuiu para muitas deficiências na infraestrutura do município. O Plano de Desenvolvimento Local – PDL3 na década de 1970 foi uma proposta para as leis de uso e ocupação de solos, de obras e de posturas, buscando-se, com essas leis, as diretrizes para o crescimento da cidade. Por se tratar de um plano antigo, o PDL não garante a lei para os processos que envolvem a mineração no solo da região, o que acaba contribuindo para o aproveitamento de ações das empresas mineradoras, sem, contudo, suprir a reposição de que a cidade necessita, em termos de infraestrutura e desgastes com outros setores, como o fornecimento de energia e água para os locais de extração da lavra mineral. Segundo Matta (2001), apesar de a mineração trazer o aquecimento da economia, ela complica o ambiente em que está inserida, agravando transtornos que já existiam no município, o que produziria novos conflitos, envolvendo tanto interesses sociais como privados. No caso particular de Montes Claros, o transtorno maior está na disputa por espaços urbanos, que se tornam cada vez mais valorizados e disputados frutos do inchaço populacional que se acomodou na região, com o súbito processo de crescimento, Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original impulsionado pelas atividades da mineração de empresas como a Lafarge e Sobritas, e de outros ramos do mercado. Os impactos positivos das regiões minerárias exploradas são processos marcantes na característica urbana e social dos municípios. O desenvolvimento trazido pela mineração pode ser medido pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) calculado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) das cidades produtoras, que varia de 0 a 1 - quando a cidade alcança o máximo desenvolvimento, segundo esse indicador. De acordo com dados do IBRAM (2012), os exemplos das maiores cidades minerárias de Minas Gerais, e suas respectivas arrecadações da CFEM, são: Itabira, com IDH do município de 0,798 com a exploração do minério de ferro; Araxá, com a exploração de Nióbio com IDH de 0,799; e Nova Lima, o maior contribuinte da Compensação Financeira do estado, assim como em exploração de Ouro, com IDH de 0,821. Em relação às cidades norte-mineiras, o IDH de Montes Claros atinge 0,770; Salinas, com 0,679; Grão Mogol, com 0,604; Porteirinha, com o índice de 0,651; Rio Pardo de Minas, com 0,624; Bocaiuva, com 0,700; Pirapora, com 0,731; Janaúba, com 0,696 e Januária, com 0,658 (ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, 2013). Percebe-se a relevância do papel da exploração da atividade mineral para esses municípios, pois ela está vinculada com o aspecto geral econômico, além de estar atrelada à sustentação do desenvolvimento dessas regiões. Comparando-se o IDH das cidades já sedes de altos investimentos por parte das empresas de exploração desse recurso natural em relação ao norte de Minas Gerais, percebe-se a diferença nos índices, tendo em vista os aspectos mensurados pelo IDH municipal: longevidade da população, r e n d a e e d u c a ç ã o ( AT L A S D O DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, 2013). De acordo com a TAB. 2, os percentuais de arrecadação da CFEM pelo DNPM variam consideravelmente para cada cidade, o que nos leva a deduzir que os valores dos royalties representam a quantidade de investimento por parte das empresas minerárias em cada regiã, mesmo tendo em vista a similaridade minerária nas cidades do norte de Minas Gerais. Ou seja, é o investimento de empresas que faz a diferença na arrecadação dos royalties, o que sugere também a finalidade de parte dos investimentos para a cidade de Montes Claros, pois, por ser a maior cidade da região norte Tabela 2 - Valores da CFEM arrecadados nos municípios do Norte de Minas Gerais – 2009 a 2013 Ano Montes Claros Januária Janaúba Grão Mogol Bocaiúva Salinas Pirapora 2009 179.020,08 2.606,45 7.757,31 ---- ----- 35.025,05 2.906,64 2010 263.269,63 2.004,33 49.994,90 ---- 2.578,41 39.178,63 3.485,48 2011 186.395,83 3.777,18 58.505,30 1.299,63 8.541,64 28.788,72 8.025,62 2012 212.106,28 3.700,37 50.084,62 6.873,83 10.612,06 81.151,92 4.973,84 2013 254.029,06 8.280,94 60.233,11 13.870,41 4.060,70 82.785,86 12.979,66 Fonte: (DNPM, 2013). Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 73 Artigo Original de Minas, acaba tornando-se polo de atração e referência de crescimento em relação às regiões vizinhas. Os valores dos investimentos apresentados na TAB. 3 demonstram o potencial mineralógico dessas regiões, visto que os investimentos previstos ocorrem somente com a averiguação prévia de que há quantidade suficiente de minerais passíveis de serem explorados, para receber os projetos de extração minerária (SEDE, 2011). A exploração dos minérios dependerá da construção de uma infraestrutura adequada, de modo que as cidades possam acompanhar o ritmo acelerado de crescimento. O papel da CFEM, nesse sentido, é fundamental como forma de suprir essas demandas da infraestrutura e outras áreas públicas ligadas à atividade minerária - o que viabilizaria a implementação desses projetos nos municípios destacados. O Projeto do Grupo Votorantim, ainda em fase final de estudo, segundo o jornal eletrônico In the Mine4, irá viabilizar seu projeto minerário no município de Salinas. A projeção do grupo, de acordo com a mesma fonte, é de uma produção de 25 milhões de toneladas por ano de minério de ferro (tipo pelled feed). Esse investimento é uma integração que abrangerá outros municípios como Grão Mogol, com a instalação de uma mina localizada próxima à região, além de um mineroduto de 500 quilômetros. A mesma fonte destaca a previsão de gerar em torno de dois mil empregos diretos e outros 5 mil indiretos para a região. Contudo, as projeções feitas pela chamada “Fronteira Minerária” não alcançaram ainda resultados sólidos sobre o empreendimento para o norte de Minas; segundo o jornal Folha de São Paulo (2014), as implantações do projeto estão paradas devido às licenças, revisões e investimentos que a extração minerária requer. Segundo a mesma fonte, devido à crise Tabela 3 - Investimentos na extração de minerais no norte de Minas Gerais Empresas Valores dos investimentos Onde ocorre Mineração Minas Bahia (MIBA) 3,6 bilhões Grão Mogol e Porteirinha Sul Americana Metais (SAM) do grupo Votorantim em parceria com a chinesa Honbridge Holgins Limited 3,2 bilhões Grão-Mogol, Padre Carvalho e outros municípios vizinhos (para o escoamento do minério) Mineração Riacho dos Machados (do grupo canadense Carpathian Gold) 250 milhões Riacho dos Machados Grupo Votorantim Sem dados oficiais divulgados Salinas, com abrangência também em Grão Mogol Fonte: (SEDE, 2011). 74 Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original internacional em 2009, o preço da tonelada do minério estava em US$90,00; atualmente, com a nova fase da crise financeira internacional, o preço alcança cerca de US$132,00 a tonelada. Os investimentos elevados para a região se devem à baixa concentração de teor de ferro no minério, o que necessita de mais processos nas etapas do beneficiamento e, consequentemente maiores gastos para a empresa - fato que também desestimula o investidor, além da demanda burocrática dos embates previstos na legislação brasileira no Código da Mineração. Os investimentos desses projetos pelas empresas minerárias alavancariam a arrecadação dos royalties para cada município a um novo patamar. Contudo, segundo o Jornal Folha de São Paulo (2014), o prefeito de Grão Mogol discute os prejuízos da paralisação da empresa Miba, uma vez que essa empresa não tem divulgado novas informações sobre as concessões de licenças, e sobre a extração prevista em 25 milhões de toneladas. Os projetos da Samarco também foram adiados para 2017 nos municípios do norte de Minas Gerais para a exploração do minério de ferro. Essas perspectivas trazem diversas consequências e impactos para as regiões que ainda não receberam a concretização dos projetos da Fronteira Minerária. A questão mais relevante ecoa sobre a especulação fundiária nesses municípios do norte de Minas, que subiram o preço dos terrenos nas zonas rurais de R$450,00 para R$2.500,00 o hectare, segundo a mesma fonte do jornal Folha de São Paulo (2014). Na área urbana, também se reflete a teoria de Matta (2001) da valorização dos espaços periféricos da cidade - sendo outra forma de expansão da cidade, como também ocorre no município de Montes Claros. Ribeiro (2011) descreve que, além dos investimentos em infraestrutura nos municípios em que ocorrerão a exploração mineral, torna-se necessário o planejamento logístico e a criação de rodovias e/ou outras formas para escoamento da produção – aspecto somente destacado pelo projeto da empresa Samarco para a região de Grão Mogol; os outros que não mencionaram esse investimento podem acabar por prejudicar o fator ambiental dessas regiões, visto que a alta produção levaria a um significativo acúmulo de rejeitos parte indesejada do minério. Sem um planejamento adequado, esses investimentos poderão acarretar impactos negativos para a região, como, por exemplo, poluição dos recursos hídricos usados na irrigação de culturas pela população residente nas áreas exploradas. Felizmente, a atividade minerária atual demanda uma série de licenças e projetos, como o Plano de Recuperação das Áreas Degradadas (PRAD), a fim de minimizar os problemas ambientais enfrentados nas áreas em que ocorrem a extração da lavra. Algumas empresas elaboram o PRAD por obrigação legal, porém outras estão além da obrigatoriedade prevista em lei e realizam projetos ambientais, como, por exemplo, a Sul Americana de Metais (SAM), em Grão Mogol, com a criação de um viveiro em suas instalações, com diversos tipos de plantas a serem reflorestadas após a extração do minério; além disso, compartilham essa ação com a população local, mediante doações de plantas. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Código da Mineração, datado na década de 1960, necessita de revisões e melhorias, que garantiriam um melhor aproveitamento dos recursos minerais dispostos no território brasileiro. No que se refere ao papel da Compensação Financeira pela Exploração Mineral, seu impacto no ambiente em que ocorre a extração da lavra está diretamente ligado à dependência destas regiões em relação à atividade minerária; daí a importância da implementação do Projeto de Lei nº 5.807/2013 nos futuros planos da mineração no Brasil. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 75 Artigo Original A Compensação Financeira, mediante os royalties, são recursos que os municípios, detentores da maior parte da arrecadação poderiam usar a fim de evitar impactos ambientais negativos e estimular o processo de desenvolvimento a longo prazo para essas regiões. Os investimentos para a mineração no norte de Minas Gerais são tomados com grande expectativa, porém devem estabelecer previamente as condições necessárias para garantir que não haja mais impactos negativos que positivos, visto que a região já possui as condições para o agravamento de realidades específicas, como abrupto crescimento urbano, seca, desmatamento. Estudos apontam que os projetos da Fronteira Minerária também poderão encaminhar o norte de Minas Gerais para um grande salto no desenvolvimento, como ocorreu com a rica região do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais. Faz-se necessário assegurar que os investimentos na extração minerária sejam feitos de forma positiva para os municípios que irão recebem esses projetos, a fim de garantir desenvolvimento a longo prazo para essas regiões. REFERÊNCIAS APOLINÁRIO, Fabio. Dicionário de metodologia científica. São Paulo, Atlas, 2007. ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 2013. Disponível em <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/>. Acesso em 25 jun. 2014. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional ( C O S I F ) , 2012 . D i s p o n í v e l em <http://www.cosif.com.br/publica.asp?arquivo=re servasestrategicas>. Acesso em: 7 abr. 2014. Boletim de Metas para a CFEM, Brasília. Sem data. Disponível em <http://www.dnpm.gov.br/ mostra_arquivo.asp?IDBancoArquivoArquivo=41 76 2.> Acesso em: 16 nov. 2013. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado,1998. BRASIL. II Plano Nacional do Desenvolvimento (PND) 1975-1979. Programa de investimento econômico e de infra-estrutura para os municípios. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/19701979/anexo/ANL6151-74.PDF>. Acesso em: 14 abr. 2014. BRASIL. Lei nº 4.239, de 27 de junho de 1963. Aprova o Plano de Desenvolvimento do Nordeste nos anos de 1963,1964 e 1965, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF. 27 jun. 1963. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/:4239. htm>. Acesso em: 17 fev. 2014. BRASIL. Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990. Define os percentuais da distribuição da compensação financeira de que se trata a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF. 13 mar. 1990. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8001. htm> . Acesso em: 07 abr. 2014. BRASIL. Projeto de Lei n° 5.807, de 18 de janeiro de 2013. Dispõe sobre a atividade de mineração, cria o Conselho Nacional de Política Mineral e a Agência Nacional de Mineração (ANM), e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 de jan. 2013. CFEM. Sobre a CFEM. Disponível em <http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao =60>. s/d. Acesso em: 18 nov. 2013. CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1995. DNPM. Ministério de Minas e Energia. Programa Nacional de Arrecadação da CFEM 2009-2012. FERREIRA, Thamiris Rodrigues. Royalties minerais e capacidade de gestão em governos locais: um estudo em municípios mineradores de Minas Gerais. 2013. 124f.Di ssertação (Mestrado em Administração Pública e Governo) – Fundação Getúlio Vargas – Escola de Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original Administração de Empresas de São Paulo, São Paulo, 2013. Geográficas sobre o Norte de Minas Gerais. p. 33-51. Montes Claros: Unimontes, 2004. PEIXOTO, Paulo. FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em: <http://www.folha.uol.com.br/mercado/2014/02/14 05686-mineracao-frustra-regiao-norte-de-minasgerais.shtml>. 01 fev. 2014. Acesso em: 15 abr. 2014. LIMA, P. C. Ribeiro. A Compensação Financeira pela exploração mineral no Brasil e no mundo. Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados. Brasília, DF. Maio, 2007. FURTADO, Lucas Lacerda; MACEDO, Alexandre José Buril. A importância da Compensação Financeira pela Exploração Mineral no Município de Parauapebas, Pará. s/d. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010 GUIMARÃES, C. Magno et al. Mineração Colonial: Arqueologia e História. In: ANAIS DA JORNADA SETECENTISTA, n. 05. 26 a 28 nov. 2003. Curitiba, PR. HELDER, R. R. Como fazer análise documental. Porto, Universidade de Algarve, p. 1-2, 2006. LUSTOSA. O Custo de Uso e os Recursos Naturais. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, n. 26. Vitória, Espírito Santo, 1998. NERY, Miguel Antonio Cedraz. Caderno do Setor Mineral: rumo a um novo marco legal. Biblioteca digital da Câmara dos Deputados. Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica. Brasília, DF. 2011. MARTINS, Jaime. Caderno Setor mineral: rumo a um novo marco legal. Biblioteca digital da Câmara dos Deputados. Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica. Brasília, DF. 2011. IN THE MINE. Disponível em: <http://www.inthemine.com.br/mineblog/?p=311>. Acesso em: 15 abr. 2014. S/d. MATTA, Paulo Magno da. Reflexos da Mineração na Qualidade Ambiental das Cidades. Universidade Federal da Bahia. BA, 2001. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Org: FERREIRA M.F. Localização da região do norte de Minas Gerais. 2012. NASCIMENTO, Carla do. Efeitos da Crise Financeira Internacional no Nível de Atividade Econômica. Caderno de Conjunto e Planejamento, n. 162. Salvador, BA. 2009. INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO (IBRAM). A Força da Mineração Brasileira. Brasília: 2012. Disponível em: <www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00002151.pdf > Acesso em: 30 maio 2014. NUNES, M.A. Jesus et al. O Quadrilátero Ferrífero e o Norte de Minas Gerais: Análise da história e importância econômica. Unimontes. Montes Claros, MG, 2012. INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO (IBRAM). Informações e Análises da Economia Mineral Brasileira. 7 ed., 2012. Disponível em: <http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/000028 06.pdf>. Acesso em: 17 nov. 2013. POVEDA, Eliane Pereira Rodrigues; HERRMANN, Hildebrando; SILVA, Marcus Vinicius Lopes da. Código da Mineração de “A” a “Z”. 2. ed. São Paulo: Millennium, 2011. LEITE, E. Marcos et al. Segregação espontânea na cidade de Montes Claros/MG: Uma análise auxiliada pelo sensoriamento remoto. Universidade Federal de Goiás. Jataí, GO. 18 nov. 2010. PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD). Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/RankingIDHM-Municipios-2010.aspx>. 2013. Acesso em: 14 abr. 2014. LEITE, M. E e PEREIRA. A. M. A expansão urbana de Montes Claros a partir do processo de industrialização. In. PEREIRA, A. M. e ALMEIDA, M. I. S de (org). Leituras SEDE - Secretaria de Estado de Desenvolvimento de Minas Gerais, jun. 2011. Disponível em: <http://www.desenvolvimento.mg.gov.br/pt/com Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 77 Artigo Original ponent/gmg/story/829-norte-de-minas-recebenovoprojeto-de-mineracao-da-vale>. Acesso em 17 fev. 2014. SILVA, Maria Amélia Rodrigues. Royalties da Mineração: Instrumento de promoção de Desenvolvimento Sustentável de Regiões Mineradoras na Amazônia Oriental? 2008. SÍTIO ELETRÔNICO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE MONTES CLAROS. Disponível em: <http://www.montesclaros.mg.gov.br>; s/d. Acesso em: 25 jan. 2014. NOTAS 1. A Crise Financeira Internacional iniciou-se nos Estados Unidos devido à questão da “bolha” imobiliária que culminou no descrédito bancário seguido pelo mundo, o que refletiu negativamente sobre as taxas de crescimento do país. (NASCIMENTO, 2009). 2. O Grupo Lafarge adquiriu em 1995 a unidade em Montes Claros. Segundo o documento Relatório Social e Ambiental (2004), a empresa conta com parcerias para a distribuição e escoamento de seu produto para o o país; além disso, também desenvolve projetos de treinamento para os funcionários e outros de caráter social para a região de Montes Claros. 3. No final da década de 1970, Montes Claros foi incluída no Programa Cidades de Porte Médio, parte integrante da política pública definida pelo II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). Os incentivos desse programa foram investidos na melhoria da estrutura social e econômica da cidade, envolvendo ações como pavimentação de ruas, infraestrutura urbana, além da legalização da posse de terras, anteriormente ocupadas pela invasão e remoção de favelas. 4. Disponível em: <http://www.inthemine.com.br/mineblog/?p=311> 78 Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original UM SIMULADOR EDUCATIVO SOBRE O CONSUMO DE ENERGIA EM PEQUENAS INSTALAÇÕES ELÉTRICAS CARVALHO, Ricardo Pinto de*; MOURA, Raissa Rayanna Araújo** *Docente das FIPMoc; **Discente do curso de Engenharia de Produção das FIPMoc RESUMO O presente trabalho tem como objetivo apresentar o desenvolvimento de um simulador educacional sobre o consumo de energia em pequenas instalações elétricas. A metodologia, de caráter exploratório, com abordagem qualitativa e quantitativa, consistiu em realizar testes e montagem em bancada de energia de uma instalação elétrica composta de lâmpadas fluorescentes compactas e motores universais. Um modelo matemático computacional foi desenvolvido com base na determinação de parâmetros como método normalmente usado para representar fenômenos físicos a partir de medições em regime permanente. Em seguida, o modelo computacional e a interface gráfica foram desenvolvidos no DevC++. Com isso, o usuário pode, por meio de um processo interativo simular o modelo matemático com as seguintes variáveis: energia elétrica, tensão elétrica, corrente elétrica, potência aparente, potência ativa, potência reativa e fator de potência. Dessa maneira, ao reproduzir uma pequena instalação elétrica por meio de um simulador educativo torna-se possível simular o faturamento do consumo de energia elétrica e ampliar as possibilidades de interação do usuário, fazendo com que haja sua imersão, possibilitando analisar novas situações de aprendizagem. Palavras-chave: Consumo de energia. Energia elétrica. Simulador educativo. INTRODUÇÃO O fornecimento de energia elétrica aos consumidores finais tornou-se um grande desafio para o planejamento da oferta e do gerenciamento da demanda por energia elétrica, uma vez que o consumo de energia é o fator determinante para o desenvolvimento econômico e social ao fornecer apoio mecânico, térmico e elétrico às ações humanas (ANEEL, 2008). Perdas de energia podem ocorrer durante o fluxo de energia elétrica, reduzindo a eficiência dos aparelhos elétricos e prejudicando a qualidade do fornecimento de energia. Segundo Calili (2005), as perdas de energia em instalações elétricas podem ser divididas em perdas técnicas e perdas não técnicas. As perdas técnicas ocorrem no sistema por características físicas dos equipamentos, como perdas por efeito Joule. Já as perdas não técnicas estão diretamente relacionadas com o furto de energia elétrica, à falta de manutenção dos medidores e à falta de manutenção dos equipamentos. Esses aspectos permitem avaliar a qualidade de energia elétrica, uma vez que podem gerar flutuações de tensão, desequilíbrios e Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 79 Artigo Original distorções harmônicas na rede elétrica (JUNIOR et al, 2009). As perdas não técnicas nas instalações elétricas podem ser identificadas por meio de medições de tensão elétrica, de corrente elétrica, do posicionamento fasorial das tensões e das correntes elétricas, da queda de energia consumida e da demanda de energia entre dois períodos de faturamento (MAITELLI e MENESES, 2011; ANGELO; SAAVEDRA; CORTES, 2007). A aplicação de simuladores educativos tem como finalidade educar o consumidor de energia elétrica sobre os efeitos decorridos do mau uso dela. Análises sobre o consumo de energia elétrica podem ser feitas utilizando um programa de computador que simulam os circuitos elétricos de uma instalação elétrica. Esses programas podem simular modelos matemáticos, como maneira de entreter o usuário sobre um determinado fenômeno elétrico. Os fenômenos elétricos comumente observados em uma instalação elétrica são: consumo de energia elétrica, tensão elétrica da rede, corrente elétrica fornecida aos equipamentos, potências dos aparelhos elétricos e fator de potência. Enfim, esses programas podem reproduzir processos muito lentos ou muito perigosos de seu ambiente natural permitindo analisar as etapas necessárias para a observação dos fenômenos físicos (GREIS e REATEGUI, 2010; SOUZA; DANDOLINI, 2009). É sabido que a modelagem matemática e a simulação permitem gerar uma infinidade de interações e aplicações no campo educacional, o que permite construir o aprendizado a partir de um ciclo de observações, testes, experimentações e comprovações das leis físicas (SOUZA e DANDOLINI, 2009). Segundo Pegden (1990 apud GREIS; REATEGUI; MARQUES, 2013), “a simulação é um processo de projetar um modelo computacional de um sistema real e conduzir experimentos com este modelo com o propósito de entender seu 80 comportamento e/ou avaliar estratégias para sua operação”. Conforme afirmam Greis, Reategui e Marques (2013), os simuladores educativos permitem representar situações-problema de uma simulação e testar seus resultados estabelecendo um tipo de interação entre homem e máquina, o que permite o usuário interagir com um ambiente gráfico que combina os elementos de uma instalação elétrica. O propósito pretendido nesse trabalho é: desenvolvimento de um programa de computador gráfico amigável que possa representar o modelo matemático de uma instalação elétrica, interatividade que possibilita o usuário alterar conteúdos e socialização/comunidade, o que permite a formação de grupos de estudo. MÉTODO O trabalho de pesquisa caracterizou-se como exploratório, com abordagem qualitativa e quantitativa; e quanto ao procedimento de coleta de dados, como experimental. Os experimentos foram realizados no Laboratório de Elétrica. Inicialmente foi feita uma montagem de um circuito elétrico em paralelo para representar uma instalação elétrica na bancada de energia da Bit 9 com duas lâmpadas fluorescentes compactas (L1 e L2), dois motores universais (M1 e M2), quatro interruptores simples de uma secção e um disjuntor monofásico. Em seguida, os equipamentos foram testados. Os parâmetros elétricos resistência, reatância indutiva e reatância capacitiva foram determinados usando as expressões de lei de Ohm, potência aparente, fator de potência e impedância complexa a partir de medições de tensão elétrica, corrente elétrica e potência elétrica. Os instrumentos de medição usados foram: voltímetro analógico com faixa de medição de 0 a 440 V, amperímetro analógico com faixa de medição de 0 a 1 A e Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original wattímetro analógico com faixa de medição de 0 a 1 kW. As leituras dos instrumentos foram realizadas em regime permanente. Conforme modelo matemático proposto por Johnson, Hilburn e Johnson (1998), a potência complexa entregue pela fonte às cargas interconectadas é a soma das potências entregues a cada carga individual, e logo a potência complexa se conserva. Esse princípio é conhecido como conservação de potência complexa, qualquer que seja o número de cargas individuais existentes e qualquer que seja a associação. Na avaliação dos reativos, o motor universal foi considerado como uma carga indutiva que consome potência reativa, o que equivale dizer que o valor da potência reativa é positivo. A lâmpada fluorescente compacta foi considerada como uma carga capacitiva que fornece potência reativa, o que equivale dizer que o valor da potência reativa é sempre negativo. O fator de potência da instalação foi analisado a partir da expressão para o faturamento de energia em uma unidade consumidora com base nas Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica, Resolução Nº 456 de 29, de novembro de 2000, da Agência Nacional Energia Elétrica (ANEEL). O valor da multa correspondente ao consumo de energia reativa foi simulado considerando a quantidade permitida pelo fator de potência de referência de 0,92 para o período de faturamento. O modelo matemático e a interface gráfica foram desenvolvidos no Dev-C++ versão 5.6.1, usando os controles do Windows API para programação de interfaces e aplicativos Windows. RESULTADOS E DISCUSSÃO Uma interface amigável é o principal requisito para o desenvolvimento de um simulador usado como estratégia de ensino. No que tange ao desenvolvimento de interface gráfica interativa para Figura 1 – Interface gráfica do simulador educativo de instalação elétrica Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 81 Artigo Original simulação de modelos computacionais, o programa Dev-C++ usa um ambiente de desenvolvimento integrado livre para compilar programas no sistema Windows. A FIG.1 ilustra a tela principal do programa simulador. Na parte inferior do programa, há um painel de comando com botões Liga/Desliga, onde o usuário pode interagir graficamente com o disjuntor do quadro de distribuição, as lâmpadas fluorescentes e os motores universais elétricos das máquinas, pode, ainda, simular o faturamento de energia alterando os valores iniciais de perdas de energia globais na instalação, do período de consumo dos equipamentos na instalação, e o custo de energia elétrica. O usuário pode salvar as condições iniciais das simulações em arquivo-texto, usando o botão Salvar, cancelar as condições iniciais do faturamento de energia mediante o botão Cancelar e simular o período de consumo de energia elétrica usando o botão Simular. Os resultados numéricos visualizados na tela gráfica são: energia elétrica, tensão elétrica da instalação, corrente elétrica, potência aparente, potência ativa dos equipamentos e potência reativa total dos equipamentos. Em um processo interativo, o usuário aprende observando a dinâmica dos fenômenos elétricos em uma instalação elétrica, acionando botões, escrevendo dados numéricos, visualizando as informações sobre o funcionamento da instalação elétrica e analisando os relatórios de parâmetros e das simulações. Conforme afirma Greis e Reategui (2010), a possibilidade de ambientar o fenômeno físico que está sendo estudado traz para o processo de ensino/aprendizagem a capacidade do usuário de relacionar o conteúdo da simulação com experiências pessoais. Contudo, existem experiências pessoais que certamente são mais intensas e significativas para ele do que o modelo descritivo. O modelo matemático demonstra, de maneira simplificada, o fenômeno físico, trazendo 82 consigo uma sensação de segurança e desencadeando no usuário um maior interesse e engajamento para realizar as atividades. Como afirma Andreoli (2011), o emprego de ferramentas de simulação para avaliação de sistemas elétricos mostra-se como uma ferramenta eficiente no planejamento e compreensão de instalações elétricas. Esses sistemas são completamente representados por seus parâmetros elétricos do modelo matemático, tornando-o o mais fiel possível. Assim, a modelagem matemática, em termos de impedância e potência complexa, é suficiente para representar o consumo de energia, uma vez que os parâmetros resistivos e reativos da instalação elétrica caracterizam o processo de conversão de energia dos equipamentos. Como mostra a FIG.2, o usuário inicializa o simulador educativo com a interface gráfica. A lógica do programa permite registrar os valores dos parâmetros e os resultados das simulações em um arquivo texto. A sequência lógica de funcionamento dos equipamentos admitida foi a mesma realizada nos experimentos da bancada de energia. Observa-se na TAB.1 uma variação do erro de medição de tensão elétrica proporcionada pela instabilidade da rede elétrica e por efeitos de retroação nas medições. Discrepâncias encontradas nos valores de resistência elétrica, reatância indutiva e reatância capacitiva estão relacionadas com as condições operacionais, o regime de fornecimento de energia, os aspectos funcionais dos equipamentos e as perdas inerentes ao circuito elétrico. As causas possíveis para o valor da impedância do motor universal 2 ser até três vezes menor que a impedância do motor universal 1 podem ser: discos com geometrias diferentes acoplados em seus eixos, defeito nos enrolamentos do motor, ou especificações inadequadas, uma vez que consome mais energia e opera com um baixo Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original Figura 2 – Fluxograma lógico do simulador educativo fator de potência (FP=0,57), o que o torna um equipamento menos eficiente. Um histórico de faturamento de energia de quinze meses foi simulado considerando um período de consumo médio de 30 dias, sem perdas de energia e um custo de energia por tarifa de energia ativa de R$ 0,41. Conforme mostram os resultados de potência na TAB.2, para cada mês a instalação elétrica funcionou com os equipamentos ligados em diferentes situações. Nos meses 1, 2, 5 e 11, a instalação funcionou com fator de potência capacitivo, e, no mês 10, a instalação passou a funcionar com um maior reativo. Nota-se que, no mês 4, a instalação funcionou com baixo fator de potência, evidenciando baixa eficiência. Conforme o GRAF.1, o histórico do faturamento de energia elétrica mostra as melhores condições nos meses 6 e 8, quando a instalação funcionou com um fator de potência indutivo (FP=0,98) e no mês 11, quando a instalação funcionou com um fator de potência capacitivo (FP=0,99). CONCLUSÃO Ao reproduzir uma pequena instalação elétrica mediante de um simulador educativo, é possível ampliar as possibilidades de interação do Tabela 1 – Parâmetros elétricos dos equipamentos Parâmetros elétricos Corrente elétrica (A) Tensão elétrica (V) Potência elétrica (kW) Potência aparente (VA) Potência reativa (VA R) Fator de potência Ângulo de fase (rad) Impedância () Resistência elétrica () Reatância indutiva () Reatância capacitiva () Lâmpada fluorescente 1 0,100 125,0 0,010 12,5 -7,5 0,80 -0,64 1250,0 1000,0 -750,0 Lâmpada fluorescente 2 0,100 125,0 0,010 12,5 -7,5 0,80 -0,64 1250,0 1000,0 -750,0 Motor universal 1 0,120 124,0 0,010 14,9 11,0 0,67 0,83 1033,3 694,4 765,2 - Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Motor universal 2 0,361 122,0 0,025 44,0 36,3 0,57 0,97 338,0 191,8 278,2 - 83 Artigo Original Tabela 2 – Potência consumida na instalação elétrica Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Potência aparente (VA) 12,5 12,5 14,9 44,0 25,0 20,3 45,3 20,3 45,3 58,8 30,3 49,8 60,1 60,1 63,8 Potência ativa (W) 10,0 10,0 10,0 25,0 20,0 20,0 35,0 20,0 35,0 35,0 30,0 45,0 45,0 45,0 55,0 Potência reativa (VAR) -7,5 -7,5 11,0 36,3 -15,0 35,2 28,8 35,2 28,8 47,3 -4,0 21,3 39,8 39,8 32,3 Fator de potência 0,80 0,80 0,67 0,57 0,80 0,98 0,77 0,98 0,77 0,60 0,99 0,90 0,75 0,75 0,86 Gráfico 1 – Histórico do faturamento de energia elétrica usuário com o modelo simulado, fazendo com que haja uma imersão do usuário em um ambiente amigável e possibilitando analisar novas situações de aprendizagem. O simulador educativo de instalações elétricas usa um modelo matemático simplificado para representar o consumo de energia elétrica em pequenas instalações elétricas. Permite o instrutor/professor se relacionar com o aluno 84 mediante uma aprendizagem interativa, em um ambiente de simulação com tecnologia gratuita. Integra as habilidades inerentes para o aprendizado do aluno, podendo realizar uma autoavaliação sobre seus conhecimentos acerca do consumo de energia elétrica. REFERÊNCIAS Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo Original ANDREOLI, André Luiz. Modelagem de lâmpadas de descarga: uma análise de desempenho considerando parâmetros de qualidade da energia. 300 f. Dissertação (Doutorado em Ciências). Programa de Engenharia Elétrica. São Carlos, SP: Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, 2011. MAITELLI, A. L.; MENESES, L. T. Automação da detecção de fraudes em sistemas de medição de energia elétrica utilizando lógica fuzzy em ambiente SCADA. In: Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente. 10. São João del-Rei, MG. Anais... São João Del Rei, MG: Sociedade Brasileira de Automação – SBA, 18 a 21 de setembro de 2011. 6p. ANEEL. Atlas de energia elétrica do Brasil. Brasília: Agência Nacional de Energia Elétrica ANEEL, 2008. 236 p. SOUZA, J. A. de e DANDOLINI, G. A. Utilizando simulação computacional como estratégia de ensino: estudo de caso. Revista Renote – Novas Tecnologias na Educação. v. 7, n. 1, jul, 2009. ÂNGELOS, E. W. S. dos; SAAVEDRA, O. R.; CORTES, O. A. C. Sistema inteligente para identificação de fraudes em redes de energia elétrica baseado em lógica fuzzy. In: Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente, 8.. Florianópolis, SC. Anais... Florianópolis, SC: Sociedade Brasileira de Automática (SBA), 2007. CALILI, Rodrigo Flora. Desenvolvimento de sistema para detecção de perdas comerciais em redes de distribuição de energia elétrica. 157f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica). Rio de Janeiro, RJ: PUC-Rio, Departamento de Engenharia Elétrica, 2005. EPE. Balanço Energético Nacional 2014: ano base 2013. Rio de Janeiro: Empresa de Pesquisa Energética - EPE, 2014. 288 p. GREIS, L. K.; REATEGUI, E.; MARQUES, T. B. I. Um simulador de fenômenos físicos para mundos virtuais. Revista Latinoamericana de Tecnología Educativa. v. 12(1) (2013) 51-62. GREIS, L. K.; REATEGUI, E. Um simulador educacional para disciplina de física em mundos virtuais. Revista Renote – Novas Tecnologias na Educação. v. 8, n. 2, jul., 2010. 10p. JOHNSON, D. E.; HILBURN, J. L.; JOHNSON, J. R. Fundamentos de análise de circuitos elétricos. 4. ed. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1994. 539p. JUNIOR, E. A. M.; SUEMATSU, A. K.; CAMARGO, J. de; AHN, S. U.; BRONZEADO, H. S.; BONATTO, B. D.; BELCHIOR, F. N.; SOLETTO, K. T. Medição da qualidade da energia elétrica – Protocolo, padronização e certificação. In: Conferência Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica, 8., 2009, Blumenau, SC. Anais... Blumenau: Sociedade Brasileira de Qualidade de Energia Elétrica, 2009. 4p. Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 85 Artigo de Revisão AS RELAÇÕES REAIS E PRÁTICAS ENTRE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO: AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARA A COMPREENSÃO SOBRE AS PRÁTICAS EDUCATIVAS RODRIGUES, Rogério. Mestre e Doutor em Educação (UNICAMP). Docente da UNIFEI e do curso de pós-graduação em Desenvolvimento, Tecnologias e Sociedade da UNIFEI RESUMO Pensar as relações reais e práticas entre a Psicologia e a Educação tendo como foco a compreensão sobre as práticas educativas implica diversos pontos de análise. Nossa reflexão se divide em dois momentos, quais sejam, primeiramente, as proposições teóricas sobre a Psicologia da Educação e, num segundo momento, uma reflexão sobre o modo como trabalhamos a Psicologia da Educação como disciplina no curso de graduação para a licenciatura. A hipótese é que as teorias da educação pautadas exclusivamente na ciência perdem a condição de analisar o “real educativo” e, em oposição a essa situação, o não saber educar pautado na ciência tem promovido a possibilidade de inovar e encontrar na relação educativa o inédito que permite o impossível educar o outro. Conclui-se que os avanços para as relações entre Psicologia e Educação realizam-se na atuação dos sujeitos, no campo educativo, em implicar-se com a transmissão da cultura. Palavras-chave: Educação. Psicologia. Psicologia da Educação. Educação e Psicanálise. Emancipação do Sujeito. 86 INTRODUÇÃO As teorias da educação entre a ciência e o não saber educar Propomos, com o título “relações reais e práticas entre a Psicologia e a Educação” e “as contribuições da Psicologia da Educação para a compreensão sobre as práticas educativas,” apontar um corte no campo das teorias educativas que, de um lado, encontram as teorias de aprendizagem pautadas na ciência e, de outro lado, as diversas teorias educativas que se apresentam nas causalidades das transmissões do saber e que também realizam elementos de aprendizagens no sujeito. Neste caso, a educação pautada nas teorias de aprendizagem decorre da correta aplicação de critérios científicos, mais propriamente de um conjunto de técnicas de aprendizagem que se pautam no modelo científico de educar o outro. Em oposição a essa situação da ciência da educação, o educar seria a transmissão do saber no paradoxo de que “não sabemos” como se realizam esses processos que educam o sujeito, pois ele se Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo de Revisão encontra circunscrito no conjunto de práticas conscientes e inconscientes que o instituem e, principalmente, estabelecem determinados vínculos no campo educativo. Portanto, o corte se estabelece em decorrência de que, por um lado, para a teoria educativa, o sujeito é modelado pela ciência naquilo que se denomina “formação cultural” e institui uma intencionalidade na produção de subjetividade. De outro lado, o sujeito é educado como alguém que não compreende o processo, mas que se apresenta com o desejo de educar — o não saber no exercício das relações educativas que também produz diversas subjetividades. Sob a ruptura entre essas duas perspectivas teóricas e práticas no campo educacional (ciência e não saber) é que vamos analisar as relações entre a Psicologia e a Educação, mais propriamente as proposições da Psicologia da Educação como uma área do conhecimento que possa colaborar para efetiva compreensão dos sujeitos inseridos nos processos educativos — as práticas educativas. O que se constata é uma hegemonia no campo das teorias educativas pautadas na Psicologia como ciência, pois ela postula um conjunto de técnicas que estabelecem os pressupostos de aprendizagem, mais propriamente se constitui na “psicologia da aprendizagem” que define postulados sobre como devemos proceder para educar o outro. Em oposição a essa situação, compreendemos a educação como um processo artesanal, na qual o sujeito se representa como uma construção inédita, portanto uma possível invenção da “psicologia da educação” no teor das relações educativas. Nesse caso, tanto de um lado (ciência) como de outro lado (não saber), a Psicologia e a Educação são vistas como áreas do conhecimento específicas que estabelecem determinadas junções para analisar o sujeito inserido em relações educativas. Portanto, o professor/intelectual é aquele que se torna responsável por denominar e evidenciar a compreensão do “sujeito psicológico” e sua interpretação que o institui no conjunto das práticas educativas hegemônicas presentes em nossa modernidade. O discurso das ciências educativas que se apresenta para resolver os problemas educativos é também a base do argumento que justifica o fracasso escolar. Avança-se nessa hipótese e afirma-se que, em decorrência do fracasso escolar, institui-se o mesmo argumento que serve para justificar seu próprio fracasso no social. Afirma-se também a hipótese de que essa situação do fracasso do sujeito no campo educacional é uma imposição da sociedade de mercado, pois o processo de exclusão social precisa de justificativas para que os conflitos surgidos entre a produção coletiva e a apropriação individual da riqueza produzida não se reapresente no conjunto das relações humanas como um conflito a ser resolvido no campo da política, ou seja, o sujeito compreende sua condição social de ser explorado na ordem do sistema capitalista como sendo algo completamente justo e compreensível por sua “falta de educação”. Portanto, em grande parte, a escola ao revelar sua falência no processo de escolarização, é fator valioso para a manutenção das diferenças sociais, pois permite a compreensão, por parte do sujeito, que ele também se encontra fracassado no social ao apresentar-se destituído da cultura. (BOURDIEU & PASSERON, 1982). O paradoxo apresenta-se quando o capitalismo precisa de sujeitos qualificados para operar os maquinários das linhas de produção. Nesse caso, o Estado apresenta-se como principal aliado do capitalismo, operando de forma contraditória, qual seja, de um lado, qualifica a unidades de ensino no processo de avaliação quantitativa, em que se busca identificar e indicar redução da presença do sujeito desqualificado Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 87 Artigo de Revisão pelo alcance de metas que se apresentam em números, como por exemplo, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Por outro lado, desqualifica a unidade de ensino em decorrência das condições precárias do trabalho, principalmente salários não adequados para os profissionais da educação. Tendo essa questão paradoxal da falência da educação e seus aspetos objetivos e subjetivos, vamos nos deter somente na questão do sujeito para,a fim de compreender as relações entre a Psicologia e a Educação, para efetivas contribuições da Psicologia da Educação na construção de práticas educativas que promovam a emancipação do sujeito. MÉTODO A teoria do sujeito e o fazer educativo. O método utilizado para a coleta da pesquisa é o da revisão bibliográfica, fundamentada na pesquisa no campo da Filosofia da Educação. Conforme proposição anterior, parte-se da tese de que a falência na educação apresenta-se pelos motivos de os profissionais da educação assumirem a tarefa de anunciar sua teoria científica de sujeito que não se realiza no conjunto das práticas educativas e, principalmente, por idealizarem um tipo de escola que não corresponde a suas reais condições de funcionamento. Portanto, as dinâmicas das práticas educativas, em grande parte, são apreendidas por essas teorias do “senso comum”, que passam a representar verdadeiros dogmas que instituem um tipo de sujeito e unidade escolar que não acontece no real. O ideal de unidade de ensino e as teorias de sujeitos descompassadas com o real não deixam de produzir o próprio real, ou seja, a não compreensão de escola e sujeito são elementos que também promovem efeitos, uma vez que produzem práticas que investem no real as condições efetivas para realizar-se. Assim, independente da apreensão da 88 teoria científica sobre os determinantes do real, temos a presença de um círculo entre a teoria e prática, qual seja: a teoria do sujeito e instituição escolar também produz práticas educativas que, por sua vez, alimentam a compreensão teórica de escola e do próprio sujeito. Em termos metodológicos, compreende-se o “real educativo” como algo que se apresenta em diversas práticas, como elementos responsáveis pelas produções de subjetividades e, portanto, responsáveis por instituir o sujeito no campo do social. No entanto, o “real educativo” acaba por instituir elementos que favorecem a sociedade de mercado, que tende a coisificar as relações humanas. Esse processo é intensificado por uma sociedade que valoriza a ciência que se realiza em técnicas, portanto, no campo educacional, em técnicas educacionais, o que também é expressão do processo de tornar tudo em coisa — a técnica educativa como processo de reificação das relações educacionais. Assim sendo, o ponto inicial para balizar as teorias que permitem a compreensão do “real educativo” é justamente conceituar a própria compreensão de sujeito em referências que permitam alcançar a amplitude do “ser”. Esse conceito deve permitir destituir o sujeito do campo científico pautado na sociedade de mercado para o alcance da verdade radical e extensa. No limite, a compreensão radical e extensa do “sujeito educado” é que aquela que se realiza nas tentativas de responder a si mesma, pois ele não quer se defrontar com o vazio de sua existência. São essas proposições de instituir a verdade que produz a instituição escolar e o sujeito e, principalmente, a reprodução do conhecimento em processos educativos que se materializam no conjunto da organização das instituições escolares cujas dinâmicas impedem sua emancipação. Em se tratando da verdade radical e extensa, parte-se de algumas pressuposições teóricas, como Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo de Revisão por exemplo, Darwin, Foucault, Freud, Nietzche, Marx, entre outros que não atribuem dogmas para a compreensão do sujeito e da instituição de ensino e, sim, estabelecem rupturas das verdades constituídas e que possam colaborar com análises que apreendam o “real educativo”. A compreensão radical e extensa do sujeito no campo das relações entre a Psicologia e a Educação resulta de aproximar essas distintas concepções filosóficas de sujeito, as quais permitem romper com a tese iluminista pautada na razão instrumental, e isso é de fundamental importância no campo educacional, principalmente pelo motivo de indicar que a falência no campo educacional é, antes de mais nada, uma falência da própria concepção do sujeito moderno. RESULTADOS As contribuições da Psicologia da Educação para a compreensão sobre as práticas educativas. Em todo início do curso de Psicologia da Educação oferecida aos alunos da licenciatura sempre se apresentavam dois elementos, quais sejam, o eixo temático e a ferida narcísica em relação ao curso. Em relação ao eixo temático, é um fator que se encontra presente com o efetivo “problema educativo”, ou seja, trata-se de analisar a educação como um processo de produção de subjetividade, portanto, pensar criticamente as relações entre o sujeito e as transformações sociais. O outro elemento apresentado é aquele que trata da “ferida narcísica em relação ao curso”, pois compartilhamos da compreensão teórica que busca destituir a obrigatoriedade compulsiva da disciplina Psicologia da Educação para a formação do licenciado. A proposição teórica é que a disciplina Psicologia da Educação se realiza somente na condição de o sujeito se implicar no exercício do pensamento intelectual e crítico sobre a questão das relações entre a Psicologia e a Educação no campo escolar. Assim sendo, defino a seguinte situação paradoxal: para “ser professor”, a Psicologia da Educação não se apresenta na condição da apropriação de mais uma técnica de intervenção no sujeito que se realiza em diversas proposições de ensino, mas como uma teoria/prática que permite ao sujeito inventar-se como intelectual/prático no sentido de compreender e fazer as práticas educativas. A técnica destituída de criticidade apresenta-se sem significado em sua aplicação, mas, paradoxalmente, apresenta seus resultados, e isso pode ser constatado no fato de que temos diversos professores que não fizeram licenciatura e atuam no ensino escolar. No entanto, o curso de “Psicologia da Educação” se efetiva no momento em que se realiza o processo de transmissão do saber para além da aplicação das “técnicas educacionais”. Portanto, aqueles que realizam o curso de Psicologia da Educação devem elaborar uma condição de reflexão que os distingue como intelectuais da área da educação. Tendo esses dois pontos básicos para analisar as relações entre a Psicologia e a Educação como “recentes serviços prestados pela psicologia à educação”, propõe-se a seguinte questão: como as teorias da Psicologia da Educação, na condição de educar o outro, poderiam realizar o processo de emancipação do sujeito? Responder essa questão da “emancipação do sujeito” é compreender como o educador poderia romper com os limites das pedagogias hegemônicas que subordinam seu pensamento e suas práticas na ordem da sociedade de mercado. Para tanto, a pergunta central em termos educacionais, seria: Como o sujeito pode, nas relações com o outro, construir pensamentos e práticas que ampliem em diversas formas, sua Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 89 Artigo de Revisão própria condição de existência e de se compreender no interior do fenômeno educativo. Portanto, nossos resultados apontam para a compreensão de que a análise crítica sobre os fundamentos da “psicologia do sujeito” passa a ser um ponto central em termos educativos, pois determina as práticas do educador, principalmente seu modo de ser sujeito perante o outro, e isso é um aspecto central naquilo que se entende como sendo o ato de educar. DISCUSSÃO Rupturas e pontos de fuga no interior das teorias educativas hegemônicas e a emancipação do sujeito. Pensar a questão do sujeito e estabelecer uma relação direta entre a Psicologia e a Educação permite retratar, basicamente, o modo como compreendemos nossa existência, e nossa maneira de nos (re)construirmos como sujeito. Nesse caso, Charles Darwin foi um intelectual que realizou um corte profundo na ideia de sujeito que se encontra ordenado e produzido na ordem divina para uma concepção científica desse sujeito pautada na tese sobre o surgimento das espécies, em decorrência da teoria da evolução. (DARWIN, 2002). Afirma-se que essa nova concepção de sujeito foi uma inovação, pois deixamos de existir como um legado da ordem divina que organiza todo o universo, e passamos a existir na causalidade cientifica sobre a origem da vida. Em termos educacionais, afirma-se que essa ruptura da teoria de Darwin da concepção religiosa do sujeito para a concepção científica de seu surgimento é uma grande possibilidade para que esse possa se responsabilizar pela maneira de ser e existir e não se sujeitar aos destinos da vida. No entanto, esse responsabilizar-se por sua existência não ocorre plenamente no sujeito que 90 opta por ser coisificado no campo das relações humanas, ao ser tratado como objeto. Para tanto, Sigmund Freud indica o sintoma no sujeito, algo que se apresenta e o destitui na razão de ser, mais propriamente, apresenta uma teoria do sujeito como aquele que se realiza no sintoma, ou seja, o retorno do recalque — o inconsciente psicanalítico. (FREUD, 1996, p. 25-65). Assim sendo, para Freud, estabelece-se outro corte na concepção de sujeito, qual seja, que ele não se apresenta na unidade da razão científica e, sim, é compartilhado por outro (inconsciente), que o destitui como individuo (não dividido) e apresentase cindido em sua existência e, principalmente, não reconhece a si mesmo no campo de suas atuações sintomáticas. Para Foucault, o “sujeito do inconsciente” se constitui na norma, portanto apresenta a tese da sociedade do pan-óptica (FOUCAULT, 1991, p. 177), na qual estamos inseridos em condições objetivas do exercício do poder que nos institui como aquele que se realiza e se (re)produz a si mesmo. No entanto, seria possível o sujeito circunscrito pelas linhas de força do poder encontrar mecanismos de realizar-se na liberdade? Para tanto, seria preciso uma educação do sujeito que o leva-se para esse outro caminho, o qual Nietzsche (2000) indica, em seu prefácio sobre os “pensamentos sobre o futuro de nossos institutos de formação”, apontando as seguintes condições educacionais: O leitor do qual espero alguma coisa deve ter três qualidades. Deve ser calmo e ler sem pressa. Não deve intrometer-se, nem trazer para a leitura a sua “formação”. Por fim, não pode esperar na conclusão, como um tipo de resultado, novos tabelamentos. (NIETZSCHE, 2000, p. 33). Essa condição para educar o sujeito requer Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, setembro 2014 Artigo de Revisão uma condição psicológica que aceite o “livre pensamento”, portanto uma condição em que “(...) não traga para a leitura a sua 'formação', algo como uma medida, como se com isso possuísse um critério para todas as coisas”. (NIETZSCHE, 2000, p. 35). Para tanto, seria aquele que “(...) só ousa falar do não-saber e do saber do não-saber”. (NIETZSCHE, 2000, p. 35). Contudo, observa-se que essa condição de desprendimento e liberdade do pensamento não se realiza na sociedade de mercado, pois o sujeito encontra-se reificado no campo das relações sociais, ou seja, (...) na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral da vida social, político e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas ao contrário, é o eu ser social que determina sua consciência. (MARX, 1974, p. 135-136). Essa questão da consciência do sujeito e suas relações com o social deveria ser motivo de investigação, pois a condição de pensamento, mais propriamente a condição psicológica de sujeito, está relacionada com o modo como se organiza o social. Pensar o sujeito em um curso de Psicologia da a Educação e, principalmente, analisar diretamente as relações entre a Psicologia e a Educação, no campo escolar, também determina a concepção de sujeito e o sujeito do conhecimento, portanto é importante que fique esclarecido como essas junções se representam no campo das pedagogias modernas e suas proposições educativas, principalmente, seus resultados no campo das práticas educativas. Assim sendo, analisaremos as relações entre a Psicologia e a Educação como produções específicas de determinadas proposições teóricas e práticas de sujeito que, de um lado, trabalham as relações educativas tornando a Educação demais psicológica; ou, de outro lado, fazem que a Psicologia seja demais educativa - , as quais apresentam disjunções na compreensão entre o sujeito ideal e o sujeito real. Portanto, falar em Psicologia da Educação é tem um caráter amplo, em se tratando de sujeito, e pouco se sabe qual seria o ponto médio que alcança a verdadeira análise do “ser”. Observam-se diversas relações entre a Psicologia e a Educação e a produções de subjetividade como passíveis de contínua investigação, pois se lida com situações em que se apresentam as diversas dinâmicas que podem dificultar a compreensão teórica sobre o sujeito e as práticas educativas. O ponto primordial para a construção do real no campo da Psicologia da Educação é a análise do argumento sobre a falência da educação como um conjunto de situações problemáticas que decorrem de diversas situações, como, por exemplo, o já citado empobrecimento material das instituições de ensino, nas quais isso se apresenta, em grande parte nos discursos dos educadores, como um fator impeditivo para a realização do processo educativo. Em seu artigo intitulado “Educação após Auschwitz” — Adorno (1995) já apontava para a possibilidade de humanizar o homem pela educação. Considerava ser de fundamental importância a formação de uma “autoreflexão crítica” para se evitar a barbárie. (ADORNO, 1995, p. 121) Ou seja, para ele, “hoje em dia é extremamente limitada a Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 91 Artigo de Revisão possibilidade de mudar os pressupostos objetivos, isto é, sociais e políticos, que geram tais acontecimentos; as tentativas de se contrapor à repetição de Auschwitz são impelidas necessariamente para o lado subjetivo”. (ADORNO, 1995, p. 121). Mais adiante, Adorno afirma que é “fundamental produzir inicialmente uma certa clareza acerca do modo de constituição do caráter manipulador, para em seguida poder impedir da melhor maneira possível a sua formação”. (ADORNO, 1995, p. 130-131). Portanto, o foco central para romper com a falência na educação é o próprio sujeito em sua representação de si mesmo e como efetivamente alterará as estruturas das relações sociais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Questões colocadas à Psicologia da Educação. Identificam-se no campo das pedagogias hegemônicas no campo escolar, basicamente, três suposições teóricas dos processos de aprendizagem, quais sejam: 1) o sujeito aprende por um exercício da memória conceitual que pode ser exercida por uma contínua repetição do conteúdo (pedagogia tradicional); 2) o sujeito aprende por uma memória emocional, que se realiza em conjunto de ações que buscam favorecer os afetos no campo das relações educativas (pedagogia nova); e por último, 3) o sujeito aprende por uma memória neural, que resulta na aplicação correta de estímulos de aprendizagem (pedagogia tecnicista). No entanto, para o senso comum, o aprender está relacionado diretamente com um ato de insistência daquele que educa e que se apresenta, basicamente, no processo de satisfação e frustração, ou seja, quando o sujeito realiza o ato esperado, o que se escuta é: “muito bem”; “parabéns”; “que lindo”; enfim um conjunto de reforço no sentido de o outro incorporar o ato como sendo uma natureza própria de 92 si mesmo. No caso contrário, quando o sujeito não corresponde à solicitação em ato, o que se tem é o não reconhecimento, como por exemplo: “não gostei”; “você vai ter que aprender novamente”; “muito feio”; portanto, afirmações que buscam recusar a existência desse sujeito “mal educado”. O que temos nessa suposição teórica e prática é a insistência na produção do sujeito que seja o mesmo e, simultaneamente, o impedimento da “fala fora do sujeito” (GUATTARI, 1981, p. 177), ou seja, Em família, reprime-se uma criança que se exprime 'fora do assunto', 'fora do sujeito', e isto continua na escola, no quartel, na fábrica, no sindicato, na célula do partido. É preciso se estar sempre 'no assunto', 'no sujeito' e 'na linha', mas o desejo, por sua própria natureza, tem sempre a tendência de 'sair do assunto', 'sair do sujeito' e derivar. (GUATTARI, 1981, p. 177-178). São essas rupturas e pontos de fugas que constituem “saídas” encontradas pelo sujeito desejante que se consideram como verdadeiros elementos nas produções de subjetividades que se encontram subsumidas às condições do mercado capitalista que impõem uma ordem necessária para a produção e consumo de coisas. Neste caso, o preocupante é quando na relação educativa a questão do desejo se apresenta subsumida pelo fazer obrigatório. A escola apresenta-se na função de destituir a verdade do sujeito, ou seja, apresenta-se como aquele que educa no esforço de constituir o outro sem significado algum — somente para atender o mercado. O processo de produção de si mesmo não deveria ocorrer somente por um movimento de esforço do educador, ou seja, o educando também deve esforçar-se, processo de identificação que se Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo de Revisão apresenta em relação ao educador — aprende por amor. (FREUD, 1990, 281-288). No entanto, na lógica do mercado qual seria o processo de identificação? A resposta é direta: para o funcionamento da sociedade do mercado é fundamental importância que o sujeito se identifique com as coisas que se apresentam no próprio mercado. Assim sendo, a contribuição da Educação para a Psicologia, mais propriamente, para a Psicologia da Educação, seria a de esclarecer os educadores no campo da psicologia sobre a função dupla do desejo que se apresenta nas relações educativas hegemônicas, como a negação do desejo na deformação do sujeito coisificado e a positividade do desejo que se realiza ao atender o sujeito alienado no consumo do mercado. Nesse caso, o processo educativo seria um esforço permanente do pleno reconhecimento do impossível na realização do desejo na sociedade de mercado, que o posiciona como objeto para uma situação de dúvida, qual seja, que sua existência é uma condição inventiva, portanto com a propriedade de revelar parte da verdadeira condição de sua própria humanidade — o não saber ser sujeito. Como docente que fui, responsável pelo curso da disciplina Psicologia da Educação nos anos de 2004 até 2011, que foi oferecida no curso de licenciatura, tive como premissa básica que os meus alunos pudessem enveredar para uma análise crítica sobre uma análise das relações entre o sujeito e a realidade, ou seja, pensar o campo educacional como um lugar da realização das relações humanas e, para tanto, partiu da tese de que é preciso minimizar as “técnicas de aprendizagem” para uma condição de pensar o educar “sujeito real”. Portanto, tenho como hipótese de trabalho que o curso de Psicologia da Educação é uma elaboração teórica e prática no sentido de indicar alguns caminhos possíveis para alcançar essa elaboração do educar o outro destituído das exigências das técnicas educativas que possam coisificar o sujeito no campo das relações educativas, ou seja, o ponto de partida é o pressuposto de que no campo educacional, ocorre uma tendência de as ciências da educação impedirem de pensar as múltiplas determinações do sujeito, principalmente como uma “invenção artesanal” no campo das práticas educativas. (SENNETT, 2009). Considera-se essa “invenção artesanal” presente no campo das relações humanas como ponto central para analisar o sujeito educado, e isso pode permitir aos educadores assumirem a condição intelectual seu fazer educativo. A intervenção do educador no processo de educar o outro é um elemento fundamental na construção de subjetividades, e isso é o grande motivo para que cada aula possa retratar a invenção do educar esse outro. Cada aula é um encontro com o inédito, em que se inventam a si mesmos no campo das relações educativas, pois, em cada aula, realiza-se um encontro em que parte do enigma do outro pode revelar-se e apresentar-se como uma pequena peça de um “quebra-cabeça”, e algo que nunca de fecha. Essa condição permanente do pensamento é que torna a função verdadeira do intelectual na instituição escolar como aquela em que ele analisa as questões do sujeito, principalmente, sua própria condição de educador. (LARROSA, 2004, p. 183-198). O curso de Psicologia da Educação em que trabalhei com meus alunos apresentou dois momentos, o primeiro é aquele que denominei como sendo uma filosofia do sujeito, ou seja, a compreensão do sujeito no campo das relações sociais e, principalmente, uma análise do sujeito psicológico como um processo de educação em que se produzem determinadas subjetividades. O segundo momento do curso foi voltado para um estudo das teorias educativas hegemônicas e, principalmente, como elas posicionam o sujeito Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 93 Artigo de Revisão psicológico no campo das relações educativas. Nesse caso, parte-se da tese de que a condição de educar o outro tem como base uma teoria do sujeito e, principalmente, de como o psicológico opera no campo das relações humanas. Essa teoria talvez esteja em disjunção com o real das práticas educativas, mas não deixa de existir como um discurso teórico e, principalmente prático, do sujeito ou até mesmo, grande parte dos educadores não reconhece a teoria do sujeito e os elementos do psicológico que se apresentam no âmbito das relações educativas. Identificam-se, como já foi dito, três teorias educativas no campo das pedagogias hegemônicas que se apresentam no campo escolar, quais sejam: 1) memória conceitual (pedagogia tradicional); 2) memória emocional (pedagogia nova); e por último, 3) memória neural (pedagogia tecnicista). Nessas teorias educativas é que se baseia a ideia de sujeito da consciência, que institui as dinâmicas de práticas educativas no campo escolar. No campo das teorias educativas, evidencia-se o modo como se ensina diretamente relacionado com o saber instituído e, principalmente, o “processo de aprendizagem” apresenta-se como a consciência do sujeito e estabelece conexões com a cultura. Nesse ponto em que se estabelecem as conexões entre os sujeitos e a cultura, é preciso romper com os processos de reificações em que o sujeito se torna submetido ao outro. Para tanto, optou-se por estabelecer pequenos diálogos entre a Psicanálise e a Educação como elementos de ruptura e inovação que poderão inverter essa lógica do “sujeito coisa”, para o reconhecimento do impossível na realização do “sujeito do desejo”. A Psicologia da Educação se realizará quando favorecer processos educativos que possam apresentar-se na linha do “sujeito do desejo”. O diálogo em que se apresentam os pontos de conexões entre a Psicanálise e a Educação pode 94 permitir uma interpretação do sujeito no campo educativo, principalmente ao indicar os paradoxos do desejo em educar o outro, que se encontra entre: o “não saber” educar e a responsabilidade pautada no dever. Nesse diálogo é que se torna possível romper com as formas de engessamento das “técnicas de aprendizagem”, as quais instituem uma verdade obsoleta do sujeito. Portanto, em relação às “técnicas de aprendizagem”, compreendemos que as mesmas podem ser apropriadas de maneira criativa, permitindo que o sujeito possa realizar-se, principalmente o educador, como intelectual, mais propriamente, filósofo da educação. Isso, de fato, permitiria realizar as “relações reais e práticas entre a Psicologia e a Educação”. REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. ANAIS. V Congreso Internacional de Psicologia y Educación: los retos del futuro – Universidade de Oviedo Oviedo, abril, 2008. BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982. DARWIN, Charles. Origem das Espécies. Belo Horizonte: Itatiaia Editora, 2002. GUATTARI, Félix. Revolução Molecular: pulsações políticas do desejo. São Paulo: Brasiliense, 1981. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: o nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1991. FREUD, Sigmund. Obras Completas. v. 13. Rio de Janeiro: Imago, 1990. FREUD, Sigmund. Obras Completas. v. 11. Rio de Janeiro: Imago, 1996. LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. MARX, Karl. Contribuições à crítica da Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Artigo de Revisão economia política. São Paulo: Martins Fontes, 1983. MARX, Karl. Para a Crítica da Economia Política. São Paulo: Abril Cultural, 1974. MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo: EPU/EDUSP, 1974. NIETZSCHE, Friedrich. Cinco Prefácios para cinco livros não escritos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000. SENNETT, Richard. O artífice. São Paulo: Editora Record, 2009. AGRADECIMENTOS Ao “Apoio a Projetos de Pesquisa em Educação Básica – Acordo CAPES – FAPEMIG”. (Processo Nº CHE-APQ-03301-12). Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 95 Normas para Publicação REGRAS EDITORIAIS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA MULTIDISCIPLINAR DAS FIPMoc 1) INSTRUÇÃO AOS AUTORES A Revista Multidisciplinar das FIPMoc é um periódico especializado, nacional, aberto a contribuições da comunidade científica nacional, arbitrada e distribuída a leitores do Brasil. Esta revista tem por finalidade publicar contribuições científicas originais sobre temas relevantes para as áreas de Ciências da Saúde, Ciências Humanas, Ciências Exatas e Ciências Sociais, promovendo a divulgação da produção de conhecimento das diversas áreas do saber e estimulando as relações interdisciplinares. Os manuscritos devem destinar-se exclusivamente à Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, não sendo permitida sua apresentação simultânea a outro periódico, quer na íntegra ou parcialmente, excetuandose resumos ou relatórios preliminares publicados em anais de reuniões científicas. Os manuscritos publicados são de propriedade da Revista, vedada tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como a tradução para outro idioma, sem a autorização do Conselho de Editores. O(s) autor(es) deverá/deverão assinar e encaminhar, juntamente com o manuscrito: Declaração de Responsabilidade e Transferência de Direitos Autorais, na forma de documentos suplementares. Os manuscritos deverão ser encaminhados, exclusivamente por via eletrônica, utilizando o site de Editoração Eletrônica de Revista (SEER) que encontra-se no endereço www.fip-moc.edu.br/revista Os interessados deverão criar um login e senha para acesso ao sistema, e seguir as orientações para submissão de manuscritos. Todo o acompanhamento para publicação dos trabalhados será feito através desse sistema. 2) CATEGORIAS DE ARTIGOS Além dos artigos originais, que têm prioridade, a Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras publica ensaios de Atualização Científica, Relatos de Experiências, Relatos de Casos, Notas Técnicas e Cartas ao Editor. Artigos originais: Devem ser oriundos de pesquisas de natureza empírica ou experimental, original, que possam ser replicadas ou generalizadas. Artigos ou Ensaios de Atualização Científica: Devem apresentar uma composição de revisão crítica da literatura existente e pertinente às áreas temáticas a que se destina. Relatos de Experiências e Relatos de Casos: Artigo apresentando experiências exitosas ou de interesse aos profissionais da área, casos clínicos ou situações peculiares de determinada área do conhecimento, que possam ser úteis aos leitores pela escassez de literatura e/ou pela raridade ou notoriedade do evento. Notas Técnicas: Espaço destinado para comunicações técnicas das diversas áreas do conhecimento abordadas pela Revista. A autoria deverá ser necessariamente assumida por uma entidade representativa da categoria a que se destina a nota técnica em questão. Cartas ao Conselho Editorial: Devem ser fruto de crítica ou comentários pertinentes a artigo publicado em fascículo anterior ou notificação de fato relevante ao corpo editorial e de leitores. 3) RECOMENDAÇÕES PARA REDAÇÃO DOS ARTIGOS Os textos enviados devem ter a objetividade como princípio básico. O(s) autor(es) deve(m) deixar claro quais as questões que pretende responder ou o objetivo proposto. A estrutura proposta para os artigos é a que se segue: Artigos Originais: Incluem estudos observacionais, estudos experimentais ou quase experimentais, avaliação de programas, análises de decisão e estudos sobre avaliação de desempenho, entre outros. O artigo deve conter no máximo 5.000 palavras e até cinco ilustrações. A estrutura recomendada é: Introdução, Métodos, Resultados e Discussão. A Introdução deve ser curta, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento na área. A seção sobre os Métodos deve descrever de forma detalhada todos os passos da realização do estudo, permitindo a análise crítica sobre o desenvolvimento do estudo e possibilidade de replicação. Deverá ser informada a aprovação por Comitê de Ética, quando pertinente. Os resultados devem ser apresentados de forma objetiva sem repetição de dados presentes nas figuras (gráficos ou tabelas). A discussão deve retomar o objetivo do estudo, apreciando as limitações e os resultados do estudo e apresentando comparação com a literatura científica existente. As conclusões devem estar inseridas ao final da seção de discussão dos resultados. Outros formatos poderão ser aceitos, segundo critérios Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 96 Normas para publicação específicos do corpo editorial. O resumo deve ser apresentado de forma não estruturada e possuir até 250 palavras. Artigos ou Ensaios de Atualização Científica: Devem analisar e discutir a literatura existente sobre o tema e devem possuir no máximo de 7.000 palavras e até cinco ilustrações. Recomenda-se a apresentação do texto em itens que possam oferecer ao leitor uma compreensão lógica do processo de revisão (temática, histórica etc.). Nesse sentido, a distribuição das seções é relativamente livre, após apresentação do tema e da relevância do produto apresentado na Introdução. O resumo deve ser apresentado de forma não estruturada e possuir até 250 palavras. Relatos de Experiência/Caso: Recomenda-se o máximo de 1.800 palavras e até três ilustrações. A estrutura proposta é de Introdução, Relato do Caso ou da Experiência e Discussão. Os resumos (não estruturados) devem possuir até 200 palavras. Notas Técnicas: Incluem comunicações em diversos formatos, segundo a estrutura da nota. Entretanto, recomenda-se o máximo de 1.800 palavras e até três ilustrações. A estrutura é variável e pode suprimir o resumo, que, se presente, deve possuir até 200 palavras. Cartas ao Conselho Editorial: Devem ser redigidas de forma bem objetiva e em bloco único, sem apresentação de seções distintas. Recomendase o máximo de 1.000 palavras. Não serão aceitas ilustrações. Observações: (*) As figuras (tabelas, gráficos e ilustrações diversas) devem ser apresentadas ao longo do próprio do texto e devem ser numeradas consecutivamente. Devem possuir título ou legendas pertinentes. Nas tabelas deve-se evitar o uso de traços internos horizontais ou verticais. As notas explicativas devem ser colocadas no rodapé das tabelas e não no cabeçalho ou no título. (**) Pesquisas envolvendo seres humanos deverão apresentar no texto a informação sobre aprovação por Comitê de Ética e o número do parecer. (***) As Referências estão limitadas a 25, devendo-se incluir aquelas estritamente pertinentes à problemática abordada, havendo, entretanto, flexibilidade. Com tipo de letra: Times New Roman ou Arial tamanho 12; Com espaçamento de 1,5 cm entre as linhas em todo o texto e Com parágrafos alinhados em 1,0 cm Citações e referências deverão ser normalizadas de acordo com o estilo ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) vigente. Serão aceitas contribuições apenas em português. Notas de rodapé e anexos não serão aceitos. A contagem de palavras inclui apenas o corpo do texto, excluindo-se as figuras e referências bibliográficas. 5) AUTORIA O conceito de autoria está baseado na contribuição substancial de cada uma das pessoas alistadas como autores, no que se refere sobretudo à concepção do projeto de pesquisa, análise e interpretação de dados, redação e revisão crítica. Os trabalhos publicados restringem-se a, no máximo, seis autores. Cada manuscrito deve indicar o nome de um autor responsável pela correspondência com a Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras, e seu respectivo endereço, incluindo telefone e e-mail. 6 ) P R O C E S S O D E J U L G A M E N TO D O S MANUSCRITOS Os manuscritos submetidos à Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras que atenderem às “instruções aos autores” e que se coadunarem com sua política editorial são encaminhados para revisão por pares de forma anônima e independente. Após análise do mérito científico da contribuição, o parecer é encaminhado ao autor responsável pelo contato. Os manuscritos aceitos poderão sofrer alterações segundo critérios dos revisores e do corpo editorial, e a publicação estará condicionada à aprovação final dos autores. 7) ORIENTAÇÕES PARA A SUBMISSÃO Os manuscritos deverão ser enviados exclusivamente por via eletrônica (www.fip-moc.edu.br/revista) conforme descrito no item 1, sem qualquer identificação. O texto apresentado deve suprimir as possibilidades de identificação dos autores ou da instituição onde o estudo foi realizado. Recomenda-se que os autores também encaminhem carta de submissão anexa solicitando a avaliação para publicação. 8) INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES 4) FORMATAÇÃO DOS ARTIGOS Os artigos deverão ser enviados: Em formato Microsoft Word 2003 ou superior (*.doc); Digitados em páginas tamanho A4, numeradas sequencialmente a partir da primeira página; Com margens de 2,5 cm; 97 Fontes de financiamento Os autores devem declarar todas as fontes de financiamento ou apoio de qualquer natureza para a realização do estudo. Conflito de interesses Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 Normas para publicação Os autores devem informar qualquer potencial conflito de interesse em qualquer das etapas de produção do manuscrito. fornecerei ou cooperarei totalmente na obtenção e fornecimento de dados sobre os quais o manuscrito está baseado para exame dos leitores”. Agradecimentos Possíveis menções em agradecimentos incluem instituições e/ou pessoas que de alguma forma possibilitaram ou auxiliaram a realização da pesquisa (e que não preenchem critérios para autoria). Assinatura do(s) autor(es) e Data Citações e Referências As referências devem ser ordenadas alfabeticamente, normalizadas de acordo com o estilo ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) vigente. A exatidão das referências constantes da listagem e a correta citação no texto são de responsabilidade do(s) autor(es) do manuscrito. Deve-se evitar a inclusão de número excessivo de referências numa mesma citação e evitar citações de documentos não publicados. Figuras Em casos de publicação de imagens coloridas os custos devem ser assumidos pelos autores. II - Transferência de Direitos Autorais. Primeiro Autor: Título do Manuscrito: “Declaro que, em caso de aceitação do artigo por parte da Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, concordo com que os direitos autorais a ele referentes se tornarão propriedade exclusiva das FIPMoc, ficando vedada qualquer produção, total ou parcial, em qualquer outra parte ou meio de divulgação, impressa ou eletrônica, sem que a prévia e necessária autorização seja solicitada e, se obtida, farei constar o competente agradecimento às Faculdades Pitágoras de Montes Claros e os créditos correspondentes”. Assinatura do(s) autor(es) e Data 9) MODELOS DE DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE E TRANSFERÊNCIA DE DIREITOS AUTORAIS* (*) Como o processo de envio é realizado de forma eletrônica, os documentos com assinatura dos autores deverão ser digitalizados e enviados como documento (arquivo) suplementar. Cada autor deve ler e assinar os documentos (1) Declaração de Responsabilidade e (2) Transferência de Direitos Autorais. Todas as pessoas relacionadas como autores devem assinar a declaração de responsabilidade nos termos abaixo: I - Declaração de Responsabilidade Primeiro Autor: Título do Manuscrito: “Certifico que participei suficientemente do trabalho para tornar pública minha responsabilidade por seu conteúdo. Certifico que o manuscrito representa um trabalho original e que nem este manuscrito, em parte ou na íntegra, nem outro trabalho com conteúdo substancialmente similar, de minha autoria, foi publicado ou está sendo considerado para publicação em outra revista, quer seja no formato impressa ou no eletrônico, exceto o descrito em anexo. Atesto que, se solicitado, Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, ano 12, n. 20, 2º semestre de 2014 98