Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos Materiais / Materiais I Guia para Trabalho Laboratorial TRATAMENTO TÉRMICO DE TÊMPERA 1. Introdução A têmpera martensítica é a via tradicional para aumentar a dureza dos aços, através da produção de estrutura martensítica. Este tratamento térmico consiste no aquecimento da peça até uma temperatura no domínio austenítico (tipicamente entre 815ºC e 870ºC)2, manutenção da peça a essa temperatura durante um intervalo de tempo suficientemente longo, seguido de arrefecimento rápido, de forma a que a austenite seja total ou parcialmente transformada em martensite (Fig. 1). Além de uma estrutura martensítica, caracterizada por elevada dureza, interessa que após o tratamento térmico a peça não apresente distorção nem fissuração. A ocorrência de distorção e fissuração numa peça tratada deve-se a tensões internas desenvolvidas no arrefecimento e/ou a tensões internas introduzidas pela transformação martensítica. O arrefecimento é, assim, a etapa mais crítica do tratamento térmico: deve ocorrer a uma velocidade elevada, que evite a ocorrência da transformação perlítica e da transformação bainítica, mas não tão alta que conduza à distorção e/ou fissuração da peça. A velocidade de arrefecimento depende do meio de têmpera escolhido e do seu poder de extracção de calor. Os meios de têmpera mais utilizados são, por ordem crescente de poder extractor de calor: − Ar. − Banhos de sais fundidos (nitrato de sódio e nitrato de potássio, por exemplo). − Óleos minerais. − Água. − Salmouras (soluções de 5-10% de NaCl ou NaOH em água). Na escolha de um dado meio de têmpera dever-se-á ter em consideração, entre outros aspectos, a temperabilidade do aço, ou seja, a sua aptidão para formar martensite em todo o volume da peça quando esta é arrefecida a partir do domínio de austenitização. A profundidade da camada martensítica e a dureza obtida dependem dos seguintes factores: − Composição química do aço; − Tamanho de grão da microestrutura do aço; 1 Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, MJC, CP Ano lectivo 2005-2006 Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos − Geometria e dimensões da peça; − Poder extractor de calor do meio de arrefecimento; − Temperatura de têmpera. Fig. 1. Diagrama esquemático que mostra o procedimento habitual de têmpera martensítica, seguida de revenido, de um aço-carbono eutectoíde1. Ms: temperatura de início da transformação martensítica; Mf: temperatura final da transformação martensítica. Por sua vez a temperatura de início da transformação martensítica, Ms depende da composição química do aço através da Equação de Andrews (Equação 1): M s (º C ) = 539 − 423 x%C − 30,4 x% Mn − 17,7 x% Ni − 12,1 x%Cr − 7,5 x% Mo (1) 2. Procedimento Experimental 2.1. Objectivo Estudo do efeito do tratamento térmico de têmpera na microestrutura e propriedades mecânicas (dureza) do aço Ck45. 2 Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, MJC, CP Ano lectivo 2005-2006 Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos 2.2. Equipamento e Material − Forno. − Rodo. − Recipiente com água. − Amostra do aço Ck45. A composição do aço é indicada na Tabela 1. Tabela 1. Composição química do aço Ck45a. Elemento de liga % C 0,45 Si ≤0,4 Mn 0,65 2.3. Método experimental 1. Desbastar a amostra utilizando a lixa 120. 2. Programar o forno para 850ºC (aproximadamente a temperatura de austenitização do aço). Quando atingida esta temperatura, colocar a amostra no forno com auxílio do rodo. 3. Após 1h de permanência a 850ºC retirar a amostra rapidamente para dentro do recipiente com água. 4. Preparar metalograficamente a superfície da amostra segundo o método descrito no Guia do Trabalho n.º 4. 5. Observar a amostra no microscópio óptico metalográfico e reproduzir a microestrutura encontrada. 6. Medir a dureza Rockwell C da amostra. 3. Questionário No final do trabalho deverá responder às seguintes questões: 1. Descreva a microestrutura da amostra temperada. Compare-a com a microestrutura do aço antes do tratamento térmico de têmpera e explique as diferenças encontradas. 2. Compare o valor médio e o desvio-padrão da dureza medida antes do tratamento térmico de têmpera (trabalho nº6) e após tratamento térmico de têmpera. Justifique as diferenças encontradas. 3. Utilizando a Tabela 1 (composição do aço Ck45) determine teoricamente o intervalo de temperatura Ms através da Equação de Andrews (Eq. 1). Compare o valor obtido com a temperatura Ms determinada por análise da curva TTT de arrefecimento contínuo do mesmo aço (Figura 2). 3 Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, MJC, CP Ano lectivo 2005-2006 Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos Fig. 2. Diagrama TTT de arrefecimento contínuo do aço Ck453. 4. Bibliografia 1. SMITH, W. F. – Princípios de Ciência e Engenharia dos Materiais, 3ª ed.. Lisboa: McGrawHill, 1998. 2. ERICSSON, T. – Principles of Heat Treating of Steels. In ASM Handbook, Vol. 4. Ohio: ASM, 1991, p. 3-19. 3. SEABRA, A. V. – Metalurgia Geral, vol. 2. Lisboa: LNEC, 1994. 4. VILAR, R. – Têmpera Martensítica. IN SEABRA, A. V.; LOUREIRO, A. P. (Coord.) – Curso Tratamento Térmico dos Aços, vol. 2. Lisboa: Ordem dos Engenheiros, 1981. a De acordo com o fornecedor, F. Ramada. 4 Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, MJC, CP Ano lectivo 2005-2006