Parcerias entre instituições de saúde e a indústria de alimentos

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Caros colegas,
Diante de toda a mobilização nacional pela regulamentação da
publicidade de alimentos, gostaríamos de compartilhar com vocês a tradução
livre de trechos marcantes do artigo intitulado “Parcerias entre instituições de
saúde e a indústria de alimentos ameaçam a nutrição e a saúde pública”, de
Yoni Freedhoff e Paul C. Hébert, publicado na Canadian Medical Association
Journal
em
fevereiro
deste
ano
(CMAJ.
2011
Feb
22;183(3):291-2.
DOI:10.1503/cmaj.110085).
Tradução: Thiago Hérick de Sá (Faculdade de Saúde Pública – USP).
Revisão da Tradução: Prof. Carlos Augusto Monteiro (Faculdade de Saúde Pública – USP).
“Alimentos altamente processados, nutricionalmente pobres porém ricos
em calorias, tendem a ser os mais lucrativos para a indústria de alimentos. Sua
promoção e consumo contradizem orientações governamentais sobre escolhas
alimentares saudáveis e se opõem aos objetivos das instituições de saúde que
lutam contra a epidemia de obesidade em crianças e adultos. Por que, então,
tantas instituições de saúde permitem que suas mensagens e reputações
sejam manchadas por parcerias com empresas de alimentos?”
“Para as indústrias de alimentos, parcerias com entidades filantrópicas e
organizações do setor de saúde são fascinantes. Com essas parcerias,
compram credibilidade, vinculam suas marcas com as emoções positivas
atribuídas à organização parceira e adquirem a lealdade do consumidor –
excelente para os acionistas.”
“A UNICEF Canadá, que promove e apoia programas de nutrição nos
países em desenvolvimento, emprestou seu nome para vender barras de
chocolate da marca Cadbury. Embora claramente benéfica para as vendas, a
associação da marca com barras de chocolate em nada favorece uma
alimentação saudável ou atividades de promoção da saúde.”
“As parcerias oferecem à indústria de alimentos outro importante
benefício – ofuscação. Pesquisas canadenses e americanas identificaram o
consumo excessivo de calorias ou energia como o principal indutor do
crescimento das taxas de obesidade. Ao mesmo tempo, estudos com água
duplamente marcada, uma medida padrão de referência do gasto energético
total durante longos períodos, indicam que o gasto energético total com
atividade física não mudou drasticamente desde a década de 1980. Muito
embora o aumento no gasto energético com atividade física deva levar a uma
melhora da saúde, as taxas de obesidade não irão diminuir sem a redução da
ingestão calórica.”
“Por meio das parcerias com as instituições de saúde, as indústrias de
alimentos procuram enfatizar que a inatividade física – e não a promoção e
consumo de seus produtos ricos em calorias – é a principal causa da
obesidade.”
“As corporações não são o problema. Por definição, seus investimentos
devem servir para aumentar seu valor de mercado – uma obrigação fiduciária
transparente que deve abranger investimentos em filantropia. As organizações
de saúde, mesmo quando desesperadas por dinheiro ou recursos, deveriam
evitar associar sua imagem com a indústria de alimentos. Em último caso, as
parcerias deveriam prever cláusulas rígidas que limitassem drasticamente
como a indústria usaria o nome da instituição de saúde. Do contrário, ao
auxiliar a promoção de produtos não saudáveis, os objetivos da promoção da
saúde serão inevitavelmente comprometidos.”
“A obesidade é uma preocupação premente da saúde pública em todo o
mundo. A epidemia é primariamente alimentada pelo consumo de calorias em
excesso, incluindo aquelas provenientes de alimentos saudáveis – uma
mensagem que nunca será bem recebida pela indústria de alimentos. Ao
fazerem parcerias, as instituições de saúde, inadvertidamente, acabam fazendo
propaganda da indústria de alimentos. Elas fariam bem em lembrar que os
dólares das empresas sempre introduzem um viés, real ou percebido, que pode
manchar ou distorcer as recomendações científicas que venham a fazer sobre
estilo de vida e saúde.”
É crescente na literatura científica textos como este, questionando as
parcerias entre instituições de saúde e as indústrias de alimentos. Para saber
mais, seguem abaixo alguns textos recentes, todos deste ano (2011):
Gilmore AB, Savell E, Collin J. Public health, corporations and the New
Responsibility Deal: promoting partnerships with vectors of disease? J
Public Health (Oxf). 2011 Mar;33(1):2-4.
O'Dowd A. Experts express doubts that food and drink industries have the
motives to improve health. BMJ. 2011 Jan 27;342:d591. doi:
10.1136/bmj.d591.
Gómez L, Jacoby E, Ibarra L, Lucumí D, Hernandez A, Florindo AA, Hallal PC.
Sponsorship of physical activity programs by the sweetened beverages
industry: public health or public relations?. Rev Saude Publica. 2011 Jan 7.
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