VI COPEDI - CONGRESSO PAULISTA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E II CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL Título: Projeto Estrelossauro: a construção de um projeto de trabalho acerca das inquietações das crianças em relação à origem do Universo Eixo: 4 Autora: Sheila Aparecida Neres da Cruz Resumo O relato de prática apresenta a trajetória de um projeto de trabalho que teve como fio condutor as indagações das crianças acerca da origem da vida, das teorias sobre o Universo, o surgimento e o desaparecimento dos dinossauros. Trata-se do Projeto “Estrelossauro”, desenvolvido ao longo do ano de 2011, com crianças de 5 anos da Creche/Pré-Escola Oeste – SAS-USP. Nesse trabalho, as crianças puderam se expressar a partir de diferentes linguagens em um contexto lúdico que propiciou um conjunto de experiências, investigação e pesquisa. O planejamento recriado a cada nova descoberta e interesse do grupo seguiu um modelo de crescimento em espiral das experiências relacionadas à temática trabalhada, corroborando para a construção de novos saberes. Este projeto é uma co-autoria entre adultos e crianças, sendo compartilhado e documentado para nortear novos passos e apresentando a possibilidade de estimular a participação das famílias e da creche toda em torno das investigações das crianças. Introdução “Há quem me julgue perdido, porque ando a ouvir estrelas. Só quem ama tem ouvido para ouví-las e entendê-las..." Olavo Bilac Sabemos que o Universo tem sido objeto de investigação dos homens há muitos anos, seus mistérios, curiosidades e belezas instigam as crianças a desvelar o desconhecido. Antes o ser humano acreditava que a Terra era quadrada, que estava no centro do Sistema Solar e que o Homem era o ser mais importante que existia. Essas ideias foram mudando ao longo dos tempos e das descobertas científicas, muitas outras ainda estão por mudar. Nem os cientistas, astrônomos ou astrofísicos conseguiram respostas para todos os fenômenos observados ou não. Algumas pessoas acreditam que Deus é o responsável pela origem do Universo, enquanto outros pensam na teoria do Big Bang. Aqui está a grande semelhança do pensamento das crianças que, como o cientista, busca constantemente respostas para suas dúvidas e curiosidades. Assim, iniciamos o projeto motivados em desvelar os questionamentos levantados a partir das falas das crianças sobre essa temática. Levantamento inicial: as primeiras questões das crianças Nos primeiros registros realizados no início do ano, observamos o interesse das crianças sobre a origem da vida, do Universo e em relação aos dinossauros. Essas observações foram coletadas em diversos momentos da rotina como nas brincadeiras de pátio, nas rodas de conversa e história, além das propostas nos momentos de grupo. A partir desses registros, perguntamos às crianças o que gostariam de saber sobre essa temática: - Quero saber todas as coisas do mundo! Porque tudo isso existe? - Por que existe o Universo? - Qual a cor do espaço? - Por que não caímos se a terra gira rápido? - A estrela é filha de algum planeta? - Como nasce uma estrela? - É verdade que quando uma estrela morre fica um buraco no espaço? - Saber de verdade o que aconteceu com os dinossauros. - Por que um meteoro caiu e matou os dinossauros? - Existiram outros monstros na Terra como os dinossauros? - Existe dinossauro brasileiro? - É verdade que todos os dinossauros são alemães? - Quantos quilos têm um dinossauro? - O que eles comem? - Como sabemos se é menino ou menina? (macho ou fêmea) - Quantos planetas existem no espaço? - O que é estrela cadente? - O que são os astronautas? - Existem alienígenas? - Por que não respiramos no espaço? Conforme Katz e Chard (2000), o trabalho com projetos visa contemplar e ajudar as crianças a extrair o sentido mais profundo e completo de eventos e fenômenos de seu próprio ambiente e de experiências que mereçam sua atenção. Os projetos oferecem a parte do currículo na qual as crianças são encorajadas a tomarem suas próprias decisões e realizarem suas próprias escolhas sobre o trabalho a ser realizado, geralmente em cooperação com seus colegas. Presumimos que esse tipo de abordagem aumenta a confiança das crianças em seus poderes intelectuais e reforça sua disposição em continuar aprendendo. Este projeto de trabalho teve como objetivo possibilitar a expressão a partir de diferentes linguagens como a oral e escrita, ciências da natureza, artes visuais, movimento, brincadeiras, fantasia, imaginação e a construção de novos conhecimentos referentes ao tema. Além disso, valorizar as ‘pistas’ das crianças como fomento para um planejamento dialético e compartilhado. Durante o processo também estimulamos a participação das famílias e da Creche como um todo. Ainda segundo Katz e Chard (2000), “pensar em um professor aprendiz e uma aprendizagem que tenha interesse das crianças, não é propor uma abdicação da autoridade do adulto, pois senão trataríamos as crianças como no início da educação em que os alunos eram apenas recipientes de informação. A ideia é que o educador seja um parceiro experiente aprendendo, tanto quanto os alunos, e ainda, orientando aquele determinado grupo, por isso, essa ideia é somente uma mudança na forma como ela é exercida”. Assim as crianças podem ser especialistas de suas próprias aprendizagens, selecionando as tarefas que são capazes de realizar. Dessa forma, dão pistas sobre o caminho que devemos trilhar durante o planejamento. As crianças do Grupo Roxo tinham muitas perguntas a respeito do Universo. Partimos então para os conhecimentos prévios do que já sabíamos: - Que o Universo é grande e que tem muitas estrelas. - Que existe buraco negro no espaço. - Que os meteoros mataram os dinossauros. - Que quando no Brasil está sol no Japão está noite. - Que a terra gira e nós não caímos. E foi dessa maneira que começamos a desenvolver este projeto. No início tivemos o apoio das famílias e de funcionários trazendo materiais para pesquisa das crianças. O processo vivido teve grande ênfase no trabalho em grupo, pois, por meio da observação diária e do registro das falas das crianças, novos caminhos e possibilidades de encaminhar os conteúdos tornaram o planejamento flexível. Atividades iniciais Primeiramente as crianças entraram na discussão sobre a ausência da gravidade na Lua. Lemos a história O ônibus mágico. O livro conta que na Lua ficamos leves como uma pluma. Brincamos com plumas e muitas crianças foram na sala de enfermagem para pesar a pluma. O peso foi zero. As crianças montaram uma nave embaixo da mesa e levaram as plumas para que todos se sentissem como astronautas: - Poderíamos fazer uma nave espacial, né? - Eu imagino a nossa sala cheia de planetas e estrelas pendurados. - Podia ser escuro pra gente brincar de Universo. Descobrimos muitas informações nessa história. Os animais foram para a Lua nos primeiros testes, macacos, ratos brancos e cachorros e todos voltaram bem, depois o homem chegou à Lua e deixou a sua marca. Após a história, as crianças gritaram em coro: “Ah, queremos ir para o espaço também, Sheila!”, “Até cachorro já foi!”. Trabalhamos com os Seis pequenos contos africanos: sobre a criação do mundo e do homem. Desenhamos como imaginamos que é o Universo: - Eu acho que tem muitas estrelas e planetas. - Eu acho que era vazio e Deus nasceu e criou todos nós. - Deus fez tudo. - Acho que explodiu e nasceu a Terra. - Os dinossauros morreram e deixaram o Universo para a gente. - Acho que é grande e colorido. - Quantos planetas existem? Os livros e reportagem sobre a temática não paravam de chegar das casas das crianças, passaram a pensar na configuração da sala e esse processo ficou bastante intenso no grupo. As crianças não pararam de criar e imaginar como poderíamos deixar a sala do grupo mais espacial. A partir de uma reportagem do encarte do jornal da Folha de São Paulo, a Folhinha, que tratava sobre os “50 anos que o homem foi para a Lua”, abriuse uma grande discussão sobre a existência de alienígenas. De acordo com a matéria, comprovadamente existem cerca de 250 milhões de planetas parecidos com a Terra, porém são tão distantes que não poderíamos confirmar a existência de vida extraterrestre. - Será que existem outras vidas além do nosso planeta?, começaram a indagar ainda mais. Os vários fenômenos naturais que aconteceram nesse ano de 2011 não pararam de chamar a atenção do grupo, mas uma notícia na internet se destacou ainda mais: “Descobrimos um alienígena”. Na verdade, trata-se de uma bactéria fosseificada dentro de um meteorito, provando a existência de pequenos seres em outros planetas. As crianças se divertiram intensamente e o mito do homem pequeno, verde e de antenas não sobreviveu por muito tempo: - Nossa, se esse ET fosse grande, a gente estava perdido! - É menor que uma formiga! Retomamos o trabalho com o que mais intrigava as crianças: como tudo começou? Uma criança do grupo contribuiu com o livro O nascimento do Universo por Judith Nuria Maida e Fernando Vilela. Após a leitura, brincamos com um tecido preto simbolizando a escuridão e a ausência de tudo. Nesse momento, as crianças brincaram com o tecido e entraram embaixo dele para sentir o vazio e a escuridão. E então tiveram a ideia de reproduzir o espaço sideral na sala com o tecido: - Poderíamos fazer bem colorido as estrelas do espaço e usar estrelinhas que brilham a noite. - Igual às estrelas do nosso quarto. - À noite fica tudo brilhando. - Vamos fazer colorido porque as estrelas do Universo são coloridas. As crianças mergulharam nessa experiência, aproveitando muito o momento lúdico. Durante a atividade, diziam: “Temos que ficar quietas e parar tudo. Parar um pouco de pensar e respirar, porque o nada é assim”. Passaram um longo momento em silêncio para experimentarem essa sensação. Algumas brincadeiras foram criadas ao longo do projeto como: Corrida estrelar e Eu sou o buraco negro e vou sugar tudo que tá na minha frente. A cada dia, mais descobertas apareciam e as curiosidades eram desvendadas nos livros de pesquisa, leituras de jornais, histórias da literatura infantil, algumas letras de música e artigos de internet. Fizemos uma oficina de estrelas para decoração da sala. Durante as passagens pela Oficina de Informação, a biblioteca interativa da Creche, apreciávamos as imagens das estrelas no site da NASA e a beleza do Universo. No pátio do gramado, pintamos em um tecido as constelações. As crianças faziam relações com as estrelas observadas durante a noite, criaram grupos de estrelas, estrelas cadentes, solitárias e até um buraco negro. As crianças queriam reproduzir o espaço e imaginavam poder olhar as estrelas. Logo veio a sugestão do grupo de fazer uma constelação das famílias. As crianças levaram estrelas para casa e juntamente com seus pais decoraram do seu jeito e trouxeram de volta para a Creche. A ansiedade em colocar as estrelas no espaço da sala transparecia, deixando-os eufóricos. Havia todo tipo de estrela: as que brilhavam, aquelas que levavam o rosto dos familiares e as delicadamente desenhadas. O trabalho com a pesquisa de lição de casa sobre os planetas também foi muito interessante. Cada criança ficou responsável em pesquisar: planetas, asteróides, meteoros, satélites naturais, estrelas, constelações, estrela cadente e buraco negro. Conforme as pesquisas chegavam às rodas de conversa, as próprias crianças contavam o percurso da pesquisa e das descobertas, compartilhando com os amigos suas aprendizagens, criando situações de trocas e deixando claro o quanto isto foi significativo para o grupo. Cada criança fez uma pesquisa com um planeta diferente, portanto, ouvir os amigos na roda foi muito produtivo, todos puderam socializar suas descobertas e curiosidades, tais como: - Qual é o maior planeta? - E o menor? - Qual que tem gases venenosos? - Do que os anéis em volta do planeta são feitos? - Existe vida? -Sabia que Plutão é conhecido como planeta anão, porque ele é pequenininho? Mais comentários foram feitos: - E também tem uma história do Pequeno príncipe. Ele é um viajante do espaço, viaja na cauda de cometas. Ele mora em um pequeno planeta como Plutão. - Deve ser muito ruim ser Plutão, porque ele sente muito frio. O sol não chega nele. - E as estrelas cadetes são corpos, qualquer coisa que cai do espaço. - As estrelas são coloridas e a maioria é da cor roxa. Com a leitura da história do livro Do Bing bang até hoje em divertidas dobraduras por Neal Layton, fizemos a atividade: “O início de tudo” e criamos um ambiente com propostas diversificadas na sala. As crianças escolheram como desenvolver a ideia sobre as últimas leituras e informações que tiveram sobre o surgimento do mundo. As representações foram sobre a explosão, os dinossauros, o surgimento da vida na Terra, as constelações e a evolução do macaco para o Homem: - Eu acredito que Deus fez todas as coisas. - Eu vou trazer um livro que Deus conta o que ele fez. - Foi Deus e Maria que fez (sic) tudo. - Tudo começou com um ponto e aí explodiu e nasceu vida em tudo. - A verdade mesmo é que a gente veio dos macacos. - Foram as células que formaram a vida na Terra. - Tem vida porque tem água e ar para respirar. - Eu não posso ser parente de macaco. Credo! Eu evoluí do Adão e Eva. - Mas o homem evoluiu do macaco, sim! Eu vi no Discovery kids! Eram frequentes as leituras de poesias de Mario Quintana, Manuel Bandeira, Lalau e Laura Beatriz sobre o tema como a do livro A poesia dos dinos. Ganhamos de uma família um CD de músicas sobre a temática com Cássia Eller, Balão mágico entre outras. As crianças cantarolaram muito e tiveram a ideia de fazer a cauda do cometa Halley. Os jornais não paravam de informar sobre os fenômenos naturais: eclipse, asteróide, explosão solar, tudo acontecendo nesse ano do projeto. A imaginação das crianças foi às alturas com as informações sobre a Chuva de meteoritos e os rastros do cometa Halley. Criamos a chuva na sala utilizando um guarda chuva. Cada um pesquisou como seus pais viram o cometa Halley quando criança. A possibilidade de verem o cometa futuramente os encantava, começaram a contar quantos anos teriam até a próxima passagem. As crianças fizeram uma proposta de termos na sala os meteoros. E assim, com jornais, restos de papéis e guache fizemos as pedras de ferro do espaço: - Vamos fazer a chuva com muitos meteoritos. - Penduramos na sala nesse canto aqui. - Tem que ter muitos para a gente ver rodando. - Se chama meteoro quando está no céu. Quando ele cai é meteorito. Na Oficina de Informação as crianças pesquisaram na internet e observaram o cotidiano do astronauta brasileiro Marcos Pontes. Saber que eles bebem a própria urina que é tratada na nave deixou muitos repensando se queriam mesmo ir ao espaço. Também puderam perceber a forma como utilizavam o banheiro e como os alimentos eram presos na mesa para não voarem. As crianças acharam tudo muito engraçado. A sensação de voar e dormir flutuando foi o que o astronauta mais gostou e as crianças adoraram essa ideia: - Nossa! Dormir flutuando, que legal! No projeto piloto de uma nave espacial, cada criança fez a planta, pesquisando imagens reais de naves nas diferentes fontes disponíveis na sala e imaginar como seria a nossa nave. A ideia era unir as partes desses projetos individuais e construir ideias coletivas. Assim, foram muitas etapas até finalizar a nave do Grupo Roxo. A construção e a montagem do Sistema Solar também foram feitas em muitas etapas. Primeiramente as crianças escolheram os materiais que iriam utilizar. Depois, fizemos uma grande pesquisa sobre os tamanhos dos planetas: - Professora, a gente tem que fazer o cinturão de asteróides. - A Lua não é planeta. Mas precisa estar no nosso Sistema. - O Sol vai estar porque é a maior estrela e os planetas giram em torno dela. - E tem o centurião (sic) de asteróides bem pequenininho. As crianças tiveram a oportunidade de assistir ao DVD Universo da Discovery Kids sobre o Sistema Solar. Durante a exibição, fizemos o detalhamento das cores e forma dos planetas e assim conseguimos concluir a nossa escultura aérea do Sistema Solar. Os passeios relacionados à temática do projeto contribuíram para o processo, pois as crianças puderam fazer relações com as situações reais. No Museu de Geologia da USP, descobrimos o Alossauro, filhotes de dinossauros e peixes fosseificados. Entramos em contato com um asteróide enorme e o tocamos. As crianças ficaram surpresas em descobrir a descendência da galinha e todas as aves com os dinossauros. A partir dessa nova aprendizagem, surgiu a ideia de brincar de caçador de dinossauro, enterrando ossos de galinha pela Creche e brincando de Caça ao tesouro. No museu Catavento, ao entrarmos em uma sala, havia uma instalação simulando a Lua, pisamos na pegada do primeiro astronauta e contamos as estrelas e constelações. Descobrimos o berçário das estrelas nas nebulosas, vimos o Sol por dentro, descobrimos as penumbras solares, medimos um asteróide e colocamos a mão em um meteoro. Sentimos o cheiro que vem do espaço e imaginamos estar próximo daquilo que não podemos alcançar. Parecíamos que estávamos dentro de um livro de história! A explosão solar que aconteceu em Junho de 2011 deixou as crianças intrigadas. Fizemos uma pesquisa e assistimos aos vídeos da NASA. Foi extremamente interessante perceber tantos fenômenos naturais acontecendo nesse ano! Apreciamos a obra de Van Gogh chamada Noite estrelada de 1889, a atenção das crianças se voltou para os detalhes da obra: o fundo da tela, a lua crescente pintada de amarelo e muitas estrelas. Fizemos a releitura dessa obra: cada criança pintou a sua noite estrela com elementos do projeto Estrelossauro e das aprendizagens construídas. Algumas falas das crianças sobre suas impressões a respeito da obra: - Nossa o Van (sic) pintou somente estrelas amarelas. Na minha obra vou pintar as estrelas coloridas. - Acho que o Van Gogh não sabia que as estrelas são coloridas, porque antes eu não sabia também. - A Lua na obra do Van Gogh está crescente, porque é um C. - Vou fazer a lua cheia na minha obra. - Nossa! Parece que eu estou sonhando! Parece que é um sonho tudo isso que estou vendo. Alguns pressupostos teóricos sobre os projetos de trabalho O que caracteriza o trabalho com projetos não é a origem do tema, mas o tratamento dado a esse tema, no sentido de torná-lo uma questão do grupo como um todo e não apenas de alguns alunos ou do professor. Portanto, os problemas ou temáticas podem surgir de um aluno em particular, de um grupo de alunos, da turma, do professor ou da própria conjuntura. O que se faz necessário garantir é que esse problema passe a ser de todos, com envolvimento efetivo na definição dos objetos e das etapas para alcançá-los, na participação das atividades vivenciadas e no processo de avaliação (LEITE, 1996). O trabalho com projetos pode trazer uma nova perspectiva para entendermos o processo de ensino /aprendizagem da educação infantil. Nesse sentido o ensino passa a ser construído dentro de situações de atividades significativas. Discutir a abordagem da metodologia de projeto é muito intrigante, pois muitos teóricos abordam diferentes conceitos sobre a forma e definição de projetos. A ideia de trabalhar com projetos originou-se nos Estados Unidos, onde foi defendida por Dewey e também teve Kilpatrick como um dos autores que iniciaram essa abordagem. Os projetos são processos contínuos e não podem ser reduzidos a uma lista de objetivos e etapas. Refletem uma concepção de conhecimento como produção coletiva, onde a experiência vivida e a produção cultural sistematizada se entrelaçam, dando significado às aprendizagens construídas. Por sua vez essas são utilizadas em outras situações, mostrando, assim, que as crianças são capazes de estabelecer relações e utilizar o conhecimento apreendido, quando necessário. Alguns desdobramentos da prática A produção coletiva e o percurso individual foram valorizados durante todo o processo. As situações vivenciadas durante o desenvolvimento do projeto de trabalho teceram uma rede de relações significativas de aprendizagem que emergiram dentro do projeto. O interesse do grupo e as preferências individuais sobre a temática trabalhada se conectaram a um todo, construindo uma rede de conexões e aprendizagens que passaram a fazer parte de uma mesma teia. Esse movimento de ligação é valorizado durante o encaminhamento dos projetos, compreendido como parte integrante do processo de ensino/aprendizagem. Ao longo do projeto alguns elementos pesquisados passaram a compor a sala de acordo com as sugestões do grupo. O espaço da sala tornou-se lúdico e evocativo com as produções confeccionadas pelas crianças: o espaço sideral, o buraco negro, o cometa Halley, as constelações, as nebulosas, a chuva de meteorito, o vale dos dinossauros e demais materiais de pesquisa. Criou-se assim uma atmosfera que remetia ao Universo como um todo. Com a contribuição dos funcionários da instituição e a parceria com as famílias, muitos materiais chegaram ao longo das experiências das crianças e ajudaram durante o processo, permitindo que as brincadeiras e o faz de conta estivessem presentes em todos os momentos. A exposição dos projetos na Creche constitui-se como uma atividade de culminância na qual podemos compartilhar todo o processo com as famílias, funcionários e demais crianças da instituição. Curiosidades, momentos de descobertas, desafio de desvendar o desconhecido, familiarizar-se com conhecimentos novos, experimentar sensações e brincar de algo que não podemos tocar, mas podemos imaginar, sentir e sonhar tornaram esse processo rico em experiências vivenciadas pelas crianças e adultos. Considerações finais O processo vivenciado pelo grupo demonstra o quanto as crianças ao serem ouvidas em suas indagações podem criar uma rede de significação no desenvolvimento de um projeto construído em co-autoria com os adultos. Pudemos constatar como são capazes de criar diferentes situações de aprendizagem, fazendo relações e desvendando o mundo onde estão inseridas, atribuindo-lhe significado e se percebendo como um ser singular neste universo. Ao abordar o trabalho com projetos na educação infantil de forma inquietadora, podemos refletir sobre uma educação de qualidade e sobre um processo de ensino/aprendizagem pleno de significados e sentidos para as próprias crianças e adultos envolvidos. Referências Bibliográficas BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. Organização do Currículo por projetos de trabalho. 5. Ed. Porto alegre: Artes Médicas, 1998. KATZ, Lílian; CHARD, Sylvia. Abordagem de projecto na educação da infância. 2.ed. Fundação Calouste Gulbernkian: 2000. LEITE, Helena Alvarez. Pedagogia de projetos: intervenção no presente. Revista: Presença Pedagógica. Volume 2, n. 8, mar/abril.1996. OLIVEIRA, Júlia F.; KISHIMOTO, Tizuko M. (orgs.). Formação em contexto: uma estratégia da intervenção. São Paulo: Escrituras, 1998. ZABALZA, Miguel A. A prática educativa: Como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998. ZABALZA, Miguel A. Qualidade em educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998.