Sensibilidade em Diderot: uma relação entre o Sonho de d’Alembert e o Paradoxo sobre o Comediante Em uma imitação profunda da natureza? E vereis que os sintomas exteriores que designam mais fortemente a sensibilidade de alma não se encontram tanto na natureza como os sintomas exteriores da hipocrisia. (Paradoxo sobre o Comediante) David Ferreira Camargo Mestrando em Filosofia pela UFSCar Bolsista CAPES [email protected] O tema da sensibilidade nos escritos de Diderot, sobretudo na trilogia do Sonho de d’Alembert e no Paradoxo sobre o Comediante, conduz o leitor a um obstáculo que é o de determinar claramente o seu significado. E mesmo quando nos diálogos dessas obras se encontra em uma posição bem definida da tentativa de conceptualização da sensibilidade, aparecem objeções por parte dos interlocutores. Esse obstáculo talvez consista no próprio estilo reservado a essas duas obras e também das diversas doutrinas e opiniões que desde a filosofia grega foram discutidas acerca da sensibilidade. Percebe-se que Diderot dá ao movimento argumentativo uma estrutura aparentemente digressiva cujas conexões não são encadeamentos pontualmente demarcados tais como em uma exposição geométrica, mas a ligação de suas ideias é feita, por assim dizer, no ritmo da conversa, na extravagância de um sonho, ou mesmo na força de uma opinião diante de um paradoxo. Por isso, há uma grande perda em mutilar as obras de Diderot sob pena de perder a riqueza produzida por sua peculiar conexão. Por outro lado, parece ser legítima a tentativa de confrontar essas duas obras cujo tema da sensibilidade parece manter uma relação de complementariedade. No Paradoxo sobre o Comediante, a sensibilidade é entendida como uma qualidade que pertence a alguns atores e que não é a qualidade de outros. A sensibilidade não é a qualidade que faz um grande imitador. A sensibilidade é uma qualidade que pertence a diversos caracteres e são reveladas pelos efeitos das paixões mediante as ações. Mas quando essas ações são moderadas por um sistema ordenado próprio das artes imitativas, essa sensibilidade não existe mais a não ser por aparência. O que? Dir-se-ia que esses acentos tão plangentes, tão dolorosos, que essa mãe arranca do fundo de suas entranhas, com os quais as minhas são tão violentamente sacudidas, não é o sentimento atual que os produz, não é o desespero que o inspira? De modo algum; e a prova é que são medidos; que eles fazem parte de um sistema de declamação; que mais baixos ou mais agudos do que a vigésima parte de um quarto de tom, são falsos; que estão sujeitos a uma lei de unidade; que são, como na harmonia, preparados e preservados: que satisfazem todas as condições requeridas apenas através de longo estudo; que concorrem para a solução de um problema proposto; que, para serem levados ao ponto justo, foram ensaiados cem vezes e que, apesar desses frequentes ensaios, ainda lhes falta algo. 1 115 1 Diderot, D. Paradoxo sobre o Comediante, p. 36. Fr. Anais do seminário dos estudantes de pós-graduação em filosofia da UFSCar 2014 10a edição ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417 116 A oposição sensibilidade e a ausência de sensibilidade são confrontadas e se estabelece, de um lado, a sensibilidade como qualidade do ator medíocre e, de outro lado, a ausência de sensibilidade como uma qualidade que caracteriza o ator sublime2. Mas essa oposição não parece ser tão clara quando colocadas em cena. Como determinar as qualidades faz desempenhar a arte do ator? Como saber se há sensibilidade em um artista em sua representação através do olhar do espectador? E de um modo geral ser inconcebível a ausência plena de sensibilidade, mesmo na pessoa mais fria que possa existir. Assim, é preciso percorrer o caminho do Paradoxo sobre o comediante e ver como se configura o grande comediante e ver que nessa medida possa se julgar o jogo do ator. No Diálogo entre d’Alembert e Diderot, a sensibilidade é propriedade essencial da matéria e, por isso, está de algum modo presente em todo elemento da natureza. A pedra assim como o animal é capaz de sentir. Mas esse sentimento só é atualizado quando há uma organização vital. No Sonho de d’Alembert, essa organização faz surgir o animal, dotado de sensibilidade e memória. O animal constituído de fibras sensíveis mantém um centro de uma rede sensível, é lá que reside a memória e a consciência da história de sua vida. Essa consciência caracteriza a ação e reação habitual do animal, segundo sua formação. Já na Continuação do Diálogo, última parte da trilogia do Sonho, há uma relação entre a ideia de misturar espécies de animais existentes na natureza e a mistura de ideias de seres existentes de modo a formar seres imaginários. A mistura de seres materiais é análoga à composição de ideias com referência aos seres naturais. Ao justapor dessa maneira o tema da sensibilidade em Diderot, é impossível que haja na natureza a ausência plena da sensibilidade, e cria-se uma dificuldade quanto à articulação das duas obras por meio do significado da sensibilidade. Assim, relacionar esses dois significados aparentemente distintos nos conduz, se não a uma contradição, a mais um paradoxo, que poderíamos chamar do paradoxo da sensibilidade geral. Tal paradoxo pode gerar inúmeras questões, limitamo-nos porém a apresentar duas: o que significaria a anulação da sensibilidade como qualidade do grande comediante? E ainda: como é possível que a sensibilidade seja uma propriedade essencial à matéria em geral e nem tudo se resolver segundo suas determinações? Assim, acreditamos que o esclarecimento e o desenvolvimento dessas questões somente se fazem através da confluência entre o Sonho e o Paradoxo. O tema da sensibilidade está associado ao dos seres vivos. É o que Diderot sugere quando relaciona as noções de vida e de sensibilidade diversas vezes no Diálogo entre d’Alembert e Diderot, no Sonho de d’Alembert e na Continuação do Diálogo. “Duas qualidades quase idênticas; a vida é do agregado, a sensibilidade é do elemento”.3 Quer dizer que ao mesmo tempo em que se coloca a questão da sensibilidade, coloca-se também a questão da vida. Daí que os estudos feitos pelos chamados vitalistas da academia de Montpellier, da qual pertenceu o célebre médico Bordeu, interlocutor do Sonho, 2 Diderot, D. Paradoxo sobre o Comediante, p. 37. Fr. 3 Diderot, D. Sonho de d’Alembert, p. 207. fr, p. 931. Anais do seminário dos estudantes de pós-graduação em filosofia da UFSCar 2014 10a edição ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417 puderam apontar um significado de sensibilidade na acepção de medicina. No verbete Sensibilité escrito pelo médico Fouquet, da mesma academia, é sugerida uma definição: SENSIBILITE, SENTIMENT : (medicine) la faculté de sentir, le principe sensitif, ou le sentiment même des parties, la base e l’agent conservateur de la vie, l’animalité par excellence, le plus beau, le plus singulier phénomène de la nature, etc. § La sensibilité est dans le corps vivant, une propriété qu’ont certaines parties de percevoir les impressions des objets externes, e de produire en conséquence des mouvements proportionnés ou degré d’intensité de cette perception. 4 A concepção da sensibilidade dos vitalistas se resume na qualidade do animal cuja função é a relação com seu meio externo por meio da percepção de objetos, bem como seu sentimento interno, ou seja, o sentimento de suas próprias partes e de si mesmo. Destaca-se também a produção do movimento animal em virtude de impressões externas. A sensibilidade faz mover o animal; o faz agir e reagir a uma impressão recebida. Pode-se notar também que a sensibilidade é um agente conservador da vida de modo que o animal frequentemente é alertado através do sentimento sobre o que se passa em torno dele, seja naquela relação com seu exterior ou mesmo em relação ao próprio animal. Portanto, de um modo geral, segundo essa concepção a sensibilidade é uma propriedade essencial ao animal que o possibilita relacionar-se aos objetos externos e o faz agir e reagir segundo uma impressão. Diderot abordará a concepção vitalista de maneira bastante fecunda no Sonho. No Sonho, a matéria está como fundamento das coisas naturais. Mas, a grande dificuldade é saber como a partir de uma concepção de matéria seria possível o sentimento de algo que não é material, como por exemplo, as imagens que se formam na mente de uma pessoa, a ideia de um objeto, os fantasmas da imaginação, ou qualquer coisa do tipo e que não se podem encontra-los rigorosamente idênticos na natureza. Uma visão onírica se distingue de algum modo da presença material de algo que se vê pelo sentido da visão. “se o sonho me oferece o espetáculo de um amigo que perdi, e o oferece tão verdadeiro que como se esse amigo existisse; si ele me fala e que eu o entenda; se eu lhe toco e que isso me dê a impressão da solidez de suas mãos; se, quando eu acordar, eu tiver a alma plena de ternura e de dor, e meus olhos inundados de lágrimas; se meus braços são ainda levados em torno do lugar onde ele me apareceu, quem me responderá que eu não o tenha visto, escutado, e tocado realmente?” 5. O espetáculo de um sonho verossímil pode ser confundido com o espetáculo da natureza. Por isso, uma o estudo acerca do sonho parece revelar algo das qualidades de pensamento e da imaginação. 4 SENSIBILIDADE; SENTIMENTO; (medicina) A faculdade de sentir; o princípio sensitivo; ou o sentimento mesmo das partes; a base e o agente conservador da vida, a animalidade por excelência, o mais belo, o mais singular fenômeno da natureza, etc.§ A sensibilidade é no corpo vivo, uma propriedade que tem certo papel de perceber as impressões dos objetos externos, e de produzir por consequência movimentos proporcionais, ou graus de intensidade. Encyclopédie, tomo XIII, p. 38. (tradução nossa) 117 5 O sonho de d’Alembert, fr, p. 928. Anais do seminário dos estudantes de pós-graduação em filosofia da UFSCar 2014 10a edição ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417 118 Diderot faz uma comparação entre a organização sensível do animal e um cravo. Dessa comparação, surge a metáfora do cravo filósofo a fim de mostra o funcionamento do entendimento. Essa metáfora é útil também para se conceber como se daria a faculdade de imaginar. A natureza dedilha os sentidos do animal como se houvesse tantas teclas quanto sensações. O instrumento animal é dotado de memória que conserva as árias tocadas pela natureza. Em seguida, essas impressões são conservadas mantêm uma duração. O animal pode ressoar por si mesmo. Essa ressonância faz fremir os harmônicos que se encontra no animal. Se o fenômeno da ressonância ocorre em cordas contíguas e inertes, porque não ocorreria nas fibras sensíveis e contínuas do animal? Assim, por meio das ressonâncias harmônicas é possível o entendimento, as relações e as comparações. Dessa maneira, a imaginação parece ser o resultado desse tipo de combinação. “A imaginação, é a memória das formas e das cores. O espetáculo de uma cena, de um objeto, monta necessariamente o instrumento sensível de uma certa maneira; ele se remonta ou por si mesmo, ou é remontado por alguma causa externa. Então ele freme interiormente ou ele ressoa por fora; ele se recorda em silêncio das impressões que ele recebeu, ou as faz surgir por meio de sons convenientes.” 6 A natureza dá o fenômeno que aparece e impressiona os sentidos. Essas impressões já vêm ligadas umas às outras. Mas aquelas impressões geradas pela imaginação são de algum modo modificadas e conformadas segundo relações internas. “Todo o delírio dessa faculdade se reduz ao talento dos charlatões que de vários animais despedaçados compõem um bizarro que jamais foi visto na natureza” 7. É que as ideias sejam elas uma causa natural ou mesmo do resultado de uma composição devem ser o resultado de uma ligação. Daí que o modelo ideal reúne diversas características em comum sobre um determinado objeto. Assim, o desenvolvimento do tema da sensibilidade implica na distinção de um objeto natural e a ideia que se pode ter desse objeto. As ideias produzidas pelo instinto racional podem ser evidenciadas pela imitação da natureza. Mas a natureza em si mesma, que é material, não se identifica com o que dela é imitado. Trata-se de expressar pela imitação algo que se assemelharia à natureza. Por exemplo, “o sonho de d’Alembert” segundo Diderot não é de fato um sonho que d’Alembert tivera. Mas, a obra é o que suscita a ideia daquilo que parece ser; a aparência daquilo que de fato é material. A organização da matéria, seja natural ou artificial, somente é penetrada pelo pensamento. O pensamento, por sua vez, é uma atitude peculiar a um ser constituído de matéria viva, ou seja, o pensamento dependeria de qualidades que só se encontrariam presentes no ser vivo, no caso um homem. Porque quando dissemos a frase “o pensamento de d’Alembert”, isso se refere à expressão articulada do geômetra que pode ser evidenciada em suas obras, em seus escritos. O que Diderot faz é reunir referências de caráter factual para construir o “d’Alembert” fictício, mas que manteria 6 O sonho de d’Alembert, fr, p. 931. 7 O sonho de d’Alembert, fr, p. 932. Anais do seminário dos estudantes de pós-graduação em filosofia da UFSCar 2014 10a edição ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417 119 certa semelhança com d’Alembert, por assim dizer, verdadeiro. A pessoa de d’Alembert não existe mais na natureza, ele morreu em 1783. Mas, de fato, pressupomos que esse “Alembert”, interlocutor da obra, um dia foi um homem, um geômetra, dotado de vida e que pensou um dia e que escrevera obras, expressou pensamentos. Por isso, a frase “o pensamento de d’Alembert” reside indiretamente na expressão de uma língua presente na forma de escrita, seja escrito por ele mesmo em vida, ou em um sonho “dele” satirizado por Diderot. Há na expressão de uma ideia algo que faz referência a uma natureza material, mesmo que essa expressão parta de um sentimento organizado artificialmente e que, na verdade, não seja “a coisa mesma”. Trata-se de uma ilusão de um objeto: o jogo da arte cuja expressão é capaz de suscitar ideias que poderiam ser naturais, mas que não o são. Assim, os seres imaginários e consequentemente o caráter de suas ações são verossímeis por reunir qualidades semelhantes àquilo que é natural. Isso caracterizaria na estética de Diderot uma espécie de poética do realismo. Se, por um lado, o objeto natural tem como princípio a matéria, por outro lado, a expressão desse objeto tem um modo artístico8 que seria fruto da inteligência ou do instinto propriamente humano associado ao desenvolvimento da arte ao longo de sua história. Dito de outro modo: o tema da vida está circunscrito como estritamente natural, mas a tentativa imitar a natureza se faz necessária uma expressão articulada, forjada pela mente humana e sua experiência com as artes. Essa expressão se encontraria entre a própria natureza e seu modelo ideal. A imitação, portanto, é a expressão artística que busca representar os efeitos da natureza moderada pela arte. Dentre os modos de expressão que o espírito humano produz, pode-se destacar artes miméticas, como por exemplo, o canto. “Por meio da voz ou do instrumento, o canto é uma imitação sonora de ruídos físicos e dos acentos da paixão inventada pela arte ou inspirada pela natureza, conforme vos agrade. E vede que, mudando aqui e acolá o que for preciso, tem-se a definição conveniente da pintura, da eloquência, da escultura e da poesia” 9. Assim, se a imitação tem como referência a expressão natural, poderia se interpretar que a sensibilidade não só é uma faculdade meramente passiva, mas que pode, a partir dela, se produzir uma atividade, isto é, desde uma reação desarticulada de um animal até mesmo a ação dramática desempenhada por um comediante. “O homem sensível obedece aos impulsos da natureza e não expressa precisamente senão o grito de seu coração; no momento em que modera ou força esse grito, não é mais ele, é um comediante que representa” 10. A ação que parte da sensibilidade expressaria apenas um movimento desarticulado, mas proporcional à impressão sofrida. A atividade decorrente da sensibilidade seria conforme a organização vital da história de uma pessoa. Essa 8 Digo modo de expressão artística para diferenciar da expressão natural. A expressão natural pode ser notada nos animais, como por exemplo, o gemido de dor. A expressão natural não pode formar um objeto artístico, ou seja, pode dispor através de uma técnica a expressão de uma ideia que vai além de um sentimento imediato. 9 Diderot, D. O Sobrinho de Rameau. São Paulo: Abril Cultural, p. 368. Fr. 450,451. 10 Diderot, D. Paradoxo sobre o Comediante, p. 52. Fr, p, 1026. Anais do seminário dos estudantes de pós-graduação em filosofia da UFSCar 2014 10a edição ISSN (Digital): 2358-7334 ISSN (CD-ROM): 2177-0417 120 atividade constituiria o seu caráter. Portanto, um ser capaz de se conformar a qualquer tipo de caráter é um comediante, o que não constitui caráter algum, ou que não deixa-o transparecer no momento de seu jogo é um grande comediante. Essa ação imitada não provém da sensibilidade enquanto determinação das ações. Diderot cria uma tensão entre a determinação que a natureza material impõe sobre os seres (um determinismo?) e a liberdade de ação que a imitação poderia criar. A sensibilidade é uma qualidade natural. Mas quando entra em jogo o registro das artes miméticas essa sensibilidade deixa de ter o seu significado original. Assim, o objeto natural, em um primeiro momento, pode ser entendido como aquilo que independe do feito artístico. Através da arte a natureza sofre modificações significativas. “Se pretendeis que sim, que é, pois, replicarei eu, essa tão gabada magia da arte, se se reduz a estragar o que a natureza bruta e um arranjo fortuito realizam melhor que ela? Negais que se embeleza a natureza? Nunca elogiaste uma mulher dizendo que era bela como uma virgem de Rafael? À vista de uma bela paisagem, não exclamastes que era romanesca? Além disso, vós me falais de uma coisa real, e eu vos falo de uma imitação; vós me falais de um instante fugaz da natureza, eu vos falo de uma obra de arte, projetada, interligada, que tem seus progressos e sua duração”11. A bela arte, ou arte do gênio, é a expressão do ideal, produto dos efeitos oriundos da sensibilidade e a atividade de observar esses efeitos. Desse modo, é possível distinguir a ação natural da ação imitada através da presença da articulação progressiva que a arte dá, pelo ritmo, pela harmonia e conformidade entre as partes. Esse embelezamento que a arte infunde é o possibilita atribuí-la como falsa. Nesse sentido, agir por natureza revela a qualidade sensível do ser vivo, ao passo que fingir uma ação depende de um processo artístico e que se concretiza na imitação de um objeto, de um sentimento ou mesmo de uma ação dramática. Nesse sentido, o paradoxo sobre a sensibilidade do comediante ainda permanece, porque a insensibilidade gera uma ação que não é fruto da natureza, mas de algum modo modifica a natureza. A ação falsa pode gerar um efeito verdadeiro. Porque a expressão artística se consuma na matéria criando nela um objeto capaz de se assemelhar àquele objeto outro, o meramente natural. Por isso, a expressão sempre se concretiza na matéria, seja no mármore de uma escultura, seja no próprio corpo vivo de um comediante. De um lado, a sensibilidade enquanto qualidade geral da matéria se caracteriza como natural e a continuidade das porções de matéria unida e organizada revela o ser vivo. De outro lado, as relações entre as partes de uma obra de arte são forjadas pelo artista, ajustadas conforme os efeitos da sensibilidade que ele observa, muito embora não haja aquela continuidade material e nem mesmo uma sensibilidade verdadeira. 11 Diderot, D. Paradoxo sobre o Comediante, p. 41. Fr, p, 1015.