Veículo: DN Ciência Data: 30/11/2011 Pág: Online O novo Código Florestal pode ser votado hoje no Senado Federal O novo Código Florestal brasileiro pode ser votado hoje no Senado com grandes chances de ser aprovado. Desde o final do ano passado quando o projeto voltou a tramitar no Congresso, a quase totalidade da população se levantou em protesto, pois ele busca beneficiar única e exclusivamente os latifundiários. Mas o que muitos opositores têm deixado de lado é que o tema não se refere apenas a questões ambientais. A maioria das OnG’s tem colocado esta questão em primeiro plano, no entanto, tem deixado relegado o problema econômico. Muitas vezes a defesa do meio ambiente chega a ser apresentada como um meio de se contrapor a uma suposta tentativa de fazer a economia agrária crescer a qualquer custo. Assim, os defensores do novo Código parecem, de forma enganosa, como partidários do progresso e estariam em oposição aos “ambientalistas”, que seriam contra o desenvolvimento nacional. Este foi o principal argumento usado pelo PCdoB para defender o projeto. Este partido chegou a caluniar aqueles que o denunciaram relatado como “agentes de OnG’s imperialistas”. Uma clara falsificação do debate. O novo Código é, sem dúvida, um ataque sem precedentes à preservação de florestas e a defesa do meio-ambiente faz parte de um programa agrário pela expropriação do latifúndio, a estatização do solo e a distribuição das terras para quem nela trabalha e produz. No entanto, resumir a luta contra o novo Código Florestal à questão ambiental é ignorar o principal objetivo dos latifundiários com a proposta. O próprio Código Florestal atual, que com poucas modificações mantém sua estrutura básica desde 1965, não surgiu com o principal objetivo de proteger as florestas como muitos acreditam. O primeiro Código deste tipo, aprovado por Vagas em 1935, era parte de uma política de estatização dos recursos naturais. Desta política, também fizeram parte a própria Constituição de 1934 e o Código de Águas e o Código de Minas. No novo Código os latifundiários procuram reverter este controle por meio da transferência para uma legislação que deveria ser elaborada a nível estadual, o que significa passar por cima das Leis federais que já existem. A expectativa dos capitalistas é que ao passar da esfera federal para a estadual eles consigam impor suas vontades políticas de forma mais fácil. Este é um dos motivos de setores ligados ao agronegócio e mineração estarem neste momento financiando a tentativa de dividir o Pará. Querem criar os estados de Tapajós e Carajás para expandir a fronteira agrícola com base na flexibilização das Leis ambientais, pois nos estados, principalmente naqueles em que os latifundiários têm mais força, a tarefa estaria facilitada. Por trás da política do desmatamento estão setores que exportam commodities como os de criação pecuária, plantação de soja, cana-de-açucar etc. Por isso, a flexibilização da legislação ambiental é um meio para ampliar a capacidade de exploração destes setores aumentando a extensão de terras que são abrangidas por latifúndios. Alguns levantamentos mostram a verdadeira devastação que os latifundiários pretendem promover. Mesmo antes do projeto ser votado, a ofensiva no campo já começou como mostram alguns dados. Segundo informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de agosto de 2010 até abril de 2011, mais de 1848 Km² de florestas foram derrubadas na região Amazônica. Em Mato Grosso, foram desmatados 733 Km² no mesmo período, um aumento de 47% em relação ao período anterior. Conforme o tramite do novo Código Florestal se intensificou no Congresso, foi aumentando o desmatamento. Em comparação com o ano passado, o desmatamento em todo o País aumentou 475% em 2011. A derrubada de matas nativas nestas proporções jamais poderia ser feita por pequenos produtores, desprovidos de máquinas pesadas. Os desmatadores são os latifundiários que transformam elas em áreas para exercerem determinado tipo de monocultura. O prejuízo para o País está justamente no fato de que ao desmatar e usar a área para se produzir produtos primários, uma das principais riquezas nacionais é utilizada da pior maneira possível. Na Amazônia, por exemplo, a biodiversidade da floresta poderia ser uma enorme fonte de desenvolvimento para o País, impulsionando a indústria nacional e outros setores da economia. Mas a adoção de uma política de privilegiar a exportação de commodities tem predominado, levando até mesmo a uma desindustrialização da economia, com atividades que agregam mais valor aos produtos comercializados perdendo participação no Produto Interno Bruto (PIB). Neste sentido, a aprovação do novo Código está a serviço do atraso nacional e se for colocado em prática irá aprofundar a condição semicolonial do Brasil, aumentando a miséria da população e a dependência econômica dos países imperialistas.