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Centro Universitário São José de Itaperuna
Curso de Graduação em Letras
EMILLY DE FIGUEIREDO BARELLI
THAÍS TARDIN RIBEIRO
VANESSA DE MATOS HIPÓLITO
A CRÍTICA GENÉTICA NO PROCESSO DA CRIAÇÃO LITERÁRIA E DA
TRADUÇÃO
ITAPERUNA - RJ
2013
EMILLY DE FIGUEIREDO BARELLI
THAÍS TARDIN RIBEIRO
VANESSA DE MATOS HIPÓLITO
A CRÍTICA GENÉTICA NO PROCESSO DA CRIAÇÃO LITERÁRIA E DA
TRADUÇÃO
Artigo
apresentado
à
Banca
Examinadora do Curso de Letras do
Centro Universitário São José de
Itaperuna como requisito final para a
obtenção do título de licenciado em
Letras.
Orientadora: Profª. Me. Lenise Ribeiro.
ITAPERUNA- RJ
Dezembro/2013
EMILLY DE FIGUEIREDO BARELLI
THAÍS TARDIN RIBEIRO
VANESSA DE MATOS HIPÓLITO
A CRÍTICA GENÉTICA NO PROCESSO DA CRIAÇÃO LITERÁRIA E DA
TRADUÇÃO
Artigo
apresentado
à
Banca
Examinadora do Curso de Letras do
Centro Universitário São José de
Itaperuna como requisito final para a
obtenção do título de licenciado em
Letras
Orientadora: Profª. Me. Lenise Ribeiro
Dutra.
Itaperuna-RJ, 10 de dezembro de 2013.
Banca Examinadora:
_____________________________
Profª. Me. Lenise Ribeiro Dutra (orientadora)
UNIFSJ – Itaperuna-RJ
_____________________________
Prof. Me. Renato Marcelo Resgala Junior
UNIFSJ – Itaperuna-RJ
_____________________________
Prof. Me. Ângela Gomes
UNIFSJ – Itaperuna-RJ
3
A CRÍTICA GENÉTICA NO PROCESSO DA CRIAÇÃO LITERÁRIA E DA
TRADUÇÃO
Emilly de Figueiredo Barelli¹
Thaís Tardin Ribeiro²
Vanessa de Matos Hipólito³
Profª. Me. Lenise Ribeiro Dutra4
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo apresentar a crítica genética e
observar seus caminhos na criação e tradução, de maneira a facilitar o entendimento
da importância desta para as obras literárias. Através do estudo dos manuscritos, é
possível refletir sobre o processo de criação do autor e os eixos estruturadores que
norteiam as suas obras e os mecanismos de elaboração de uma poética que une a
aglomeração e a fragmentação a fim de construir efeitos do real na obra final. Para
tanto, são visados alguns aspectos neste trabalho, sobretudo para esclarecer como
acontece a análise das obras. Visto que, os críticos trazem a preocupação com o
trabalho intenso de pesquisa que parece querer abarcar todos os saberes que
envolveram o início da obra. A abordagem realiza-se a partir da investigação das
referências bibliográficas com objetivo de procurar esclarecer sobre esse novo
campo interdisciplinar.
Palavras-chave: Literatura comparada, Estudos de gênero, Crítica Genética,
Tradução e Literatura.
Introdução
A Crítica Genética vem para renovar o estudo da gênese literária de uma
obra. Os caminhos que o autor percorreu, durante o processo de criação desde os
seus rascunhos até a obra concluída, são as fontes de pesquisa para que os críticos
genéticos compreendam o processo original do nascimento de um texto literário sem
que este tenha sido alterado na sua publicação.
Com base nos estudos genéticos, o presente trabalho apresenta as maneiras
nas quais se podem refletir acerca da criação literária e do processo tradutório do
texto literário norteados pela Crítica Genética. É conveniente desenvolver este tema,
___________________
¹ Graduanda em Letras pelo Centro Universitário São José de Itaperuna. [email protected]
² Graduanda em Letras pelo Centro Universitário São José de Itaperuna. [email protected]
³
Graduanda
em
Letras
pelo
Centro
Universitário
São
José
de
Itaperuna.
[email protected]
4
Mestre em Letras, Professora no Centro Universitário São José de Itaperuna.
[email protected]
4
pois o conhecimento da gênese do texto pode ser um fator favorável para os
estudos literários.
O presente trabalho constitui-se de uma pesquisa qualitativa e de caráter
bibliográfico, o qual se baseia em materiais pertinentes ao tema referido disponíveis
em livros, revistas, periódicos e demais referências online. Autores como Pino e
Zullar (2007), Salles (2000) e Passos (2008) foram fontes teóricas utilizadas na
fundamentação do artigo.
Os objetivos deste estudo são salientar o que é Crítica Genética, conhecer a
história do seu desenvolvimento e verificar a sua influência positiva no processo de
criação e tradução literária. Para isso, este artigo divide-se em três seções: Crítica
Genética: um breve histórico; Uma disciplina disciplinada: Crítica Genética no
processo de criação literária e Critica Genética nos caminhos da tradução.
1 Crítica Genética: um breve histórico
Arte de transformar detalhes aparentemente insignificantes em
indícios que permitam reconstituir toda uma história (MORIN, 2000,
p.23).
A palavra crítica pode ser compreendida como a capacidade ou arte de julgar
obras, em especial aquelas de caráter artístico ou literário. Tem por objetivo não só
o texto enquanto produto da obra, mas a análise de um processo dinâmico – a
escritura, a produção e a textualidade. Observar na obra as transformações que ela
constitui, partindo do princípio do questionamento a respeito do que é escrever. A
partir daí, o interesse pela investigação dos pré-textos pertencente a competências
diferentes.
Os estudos de Crítica Genética desenvolveram-se inicialmente na França, em
1968, por intermédio dos pesquisadores Louis Hay e Almuth Grésillon. O Centre
National de la Recherche (CNRS) foi responsável pela organização de uma equipe
que desenvolveu estudos sobre manuscritos do poeta alemão Heinrich Heine, recém
chegados da Biblioteca Nacional da França (BNF) (SALLES, 2008, p.11).
Os estudos de Crítica Genética são relativamente recentes. O Brasil, em
1985, desperta para a Crítica Genética, no I Colóquio de Crítica Textual, introduzido
por Philippe Willemart, que se baseava nos manuscritos de Gustave Flaubert
(SALLES, 2008, p.12).
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A Crítica Genética é entendida como o processo de formação artística desde
os primeiros rascunhos até a conclusão da obra. Todo o processo criativo do autor é
relevante e analisado pelo pesquisador para compreender a gênese do processo
literário. A fabricação das ideias, os rabiscos, o que foi escrito e o raciocínio que o
autor apenas começou a sugerir no texto, tudo isso influencia no entendimento da
obra em questão. Este constitui o grande alvo dos pesquisadores de Crítica
Genética – o desencadear da criação literária mediante as informações vindas
diretamente do autor, totalmente desvinculadas de correções ou alterações advindas
do processo de publicação.
Hay (1985, p. 147 apud ZULLAR, 2002), no clássico artigo “O texto não
existe”, infere que o texto não pode ser entendido como um objeto final dos estudos,
mas sim como a última das etapas de uma história que ele mesmo conta. Assim
sendo, todo o processo anterior à conclusão da obra é objeto de estudo dos
pesquisadores de Crítica Genética.
Como exemplo do estudo de Crítica Genética, Teixeira (2012, p. 487) analisa
em seu artigo “Crítica Genética do manuscrito ao virtual: a importância da rasura na
gênese literária, um trecho do seu trabalho como geneticista” o trabalho do poeta
cearense Pedro Lyra, no livro Desafio – Uma poética do amor, no Soneto de
Constatação-VI.
Verifica a autora:
Na 6ª linha, o poeta escreveu na redação original: girando no
subúrbio do universo. Numa primeira rasura, ele emendou: ...a rolar
nos subúrbios do universo [...]. O verbo no infinitivo “rolar”, substituiu
o verbo no gerúndio “girando”, dando-nos a ideia de que o planeta
Terra gira num espaço menos importante do cosmos. Mais tarde,
numa nova emenda conforme a primeira datilografação retocada, o
poeta refaz o verso: nos largando nos subúrbios do universo, para só
então concluir, na versão que seria a definitiva: nos largando aos
subúrbios do universo.
O escritor em suas rasuras elabora a melhor forma de transferir para a sua
obra seus sentimentos e emoções, além de suas características técnicas de escrita.
Com esses manuscritos, o geneticista aprofunda-se no processo de construção da
obra desde seus primeiros esboços.
O termo “manuscritos” foi retirado de uso por representar algo “escrito à mão”.
Sendo que é possível receber do autor textos digitados sem que percam a essência
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pessoal e ímpar desejada dos estudos genéticos. Por isso, “manuscritos” passaram
a ser reconhecidos como “documentos de processo”, abrangendo a ideia de
registros (SALLES, 2008, p. 45).
Willemart (2002) introdutor da Crítica Genética no Brasil, afirma que ela
abrange o diálogo entre o texto o qual o autor passa para o papel, e o texto que no
exato momento ele está pensando (texto-móvel):
Não se trata da intencionalidade ou da realidade subjetiva, mas de
um escritor preso nas malhas da escritura e do vir-a-ser que, a cada
conclusão da rasura, passa o bastão como numa corrida, para a
instância do autor e descobre-se não como uma intenção primeira,
mas como porta-voz de um desejo desconhecido e de uma
comunidade que até pode ser universal. Por outro lado, cada
conclusão e cada ratificação de uma frase, de um parágrafo ou de
um capítulo pelo autor supõem o contato com o "texto-móvel", que
pode sempre questionar o que foi feito (WILLEMART apud ZULLAR,
2003).
A princípio, os estudos de Crítica Genética ficaram restritos às obras literárias,
mas com sua expansão, sendo o processo criativo o objeto de estudo da Crítica,
esta não poderia ser restrita apenas à literatura, pois é possível reconhecer os
fundamentos do processo de criação em qualquer manifestação artística seguindo
os passos deixados pelo artista. Assim a própria gênese da Crítica Genética já
sugeria um desenvolvimento nos diversos meios artísticos.
Segundo Salles (1992, p. 15) os novos direcionamentos da Crítica Genética já
eram previstos.
Foi assim que nasceram e assim estão sendo desenvolvidas as
pesquisas até o momento. No entanto, sabemos ser inevitável a
necessidade de ampliar seus limites. Certamente, ouviremos falar,
em muito pouco tempo, sobre estudos de manuscritos em artes
plásticas, música, teatro, arquitetura [...] até manuscritos científicos.
Isso oferece novas perspectivas para pesquisas sobre as
especificidades de as generalidades dos processos criativos
artísticos e para não mencionar a possibilidade de se adentrar o
interessante campo de pesquisa dedicado à relação ciência/arte –
agora sob a ótica genética (SALLES, 1992, p.15).
No decorrer de sua expansão, a Crítica Genética passa a lidar com diversas
fontes de registros que favorecem a pesquisa individual de cada manifestação
artística. Sendo possível observar o papel fundamental da disciplina nas artes
plásticas ao oferecer não só a obra do autor, mas também traços de sua
personalidade. Segundo Salles e Cardoso (2007, p.45), a exposição de Gaudí – a
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procura da forma, através de fotos de obras, esboços e maquetes inseridas ao lado
de sua criação, foram expostas ao público características próprias do artista.
Observa-se que Gaudí parte de elementos básicos – volumes e
superfícies – para em seguida, aplicar operações geométricas e
transformações topológicas em busca das superfícies e efeitos
desejados.Tem-se a certeza, ao sair da exposição, de ter conhecido,
acima de tudo, um Gaudí geômetra (SALLES e CARDOSO, 2007).
Desse modo a Crítica Genética assume um papel transdisciplinar e
desenvolve-se nos diversos meios artísticos. Essa extensão abre os caminhos e
favorece os estudos genéticos, com um vasto território a ser desvendado. Não é
necessário que as pesquisas genéticas contenham-se apenas aos manuscritos
literários, mas também estejam à vontade para abarcarem os demais processos de
criação humana exemplificados na citação acima.
2 Uma disciplina disciplinada: a Crítica Genética no processo de criação
literária
Os estudos que abrangem a Crítica Genética nascem de simples
constatações. A obra literária é resultado de todo um processo que envolve
investimento de tempo, disciplina e conhecimento, pois a criação literária é a
capacidade de criar ou recriar, organizar em partes, de maneira pessoal a realidade,
seja ela exterior ou aquela que está dentro de si. Escrever inicia-se como uma
tentativa de construir, restaurar, de recompor seja algo que faltou, ou quem sabe foi
apagado, uma tentativa de recuperar alguém, estabelecer um elo, decifrar um
abismo, suportar a dor de um luto, seja ele concreto ou abstrato, uma dúvida, uma
escolha, um segredo, porque criar nos permite e comporta espaço para inúmeras
versões. Como afirma Camargo (2012, p.1).
A criação de um texto literário é um processo que costuma ser
individual, subjetivo, variando de escritor para escritor. Além disso,
cada texto pode apresentar peculiaridades ao longo de seu devir
literário, marcado pelo seu caráter único: da ideia inicial até a última
versão, quando o autor decide colocar o seu ponto final definitivo.
Observa-se, assim, que a Crítica Genética tem um papel importante: não é
apenas pelo escrever o processo ou a escritura do pensamento criado e sim de
rever o pressuposto, analisar o manuscrito e perceber o que o autor faz e de que
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maneira é feito. É na criação do texto que o mistério do outro nos aparece como
enigma; a partir daí tenta-se encontrar uma significação, desvendar o que foi
vivenciado pelo autor neste momento.
Os rastros que o artista deixa de seu trabalho são a concretização do
trabalho. A partir do momento que se propõe conhecer e estudar a obra, o
pesquisador penetra no universo do criador, começa, dessa forma, acompanhar uma
mente em criação.
A Crítica Genética destina-se a um acompanhamento teórico-crítico do
processo da gênese das obras literárias.
Estranhamente, nada está mais próximo também de seus desejos do
que examinar o texto em seu vir-a-ser, apreendido ao longo do
tempo da escritura: espelho das hesitações do escritor como
espécies de devaneios que revelam os obstáculos na criação do
texto (ARAGON,1979, p.33).
Constitui-se o ponto de partida da Crítica Genética a análise dos processos
criativos. O crítico genético tem a intenção de desvendar o percurso de criação e
revelar o processo que gerou a obra observando como acontece o deslocamento do
foco da obra acabada para a criação, produzindo um questionamento tanto dos
pressupostos da crítica quanto de sua existência.
Hay (apud ZULLAR, 2003) enuncia:
Talvez seja preciso entender o texto como um possível necessário,
como uma das realizações de um processo que permanece sempre
virtualmente escrito em segundo plano e constitui uma terceira
dimensão do escrito. Nesse espaço aberto (ou entreaberto), o
destino da obra é decidido entre ímpetos e esgotamentos,
tartamudez e vazios, rupturas e inacabamentos que nos confundem.
O texto não é abolido nessa profundidade de campo – ele parece
simplesmente como um objeto bem mais complexo que nossos
modelos antigos, bem mais aleatórios que nossos modelos atuais.
Vê-se a importância do rascunho, a partir dele que se entende todo o
processo, o que forma o texto, a história que ele carrega, daí então o crítico deve
estudar o seu objeto, ou projeto, e esse conhecimento nenhum livro pronto poderá
fornecer, e não é possível estudar o processo de criação de obras cujos manuscritos
foram extraviados ou perdidos.
Deve-se entender o manuscrito muito mais do que uma versão escrita à mão
de um poema ou de um livro. O objeto de trabalho pode ser também uma nota
escrita na margem de um livro que foi lido pelo autor no mesmo período, algumas
vezes um simples traço. Nesses casos, a pesquisa tende a estudar a sua relação
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com o texto lido e com os projetos em curso do escritor, ou seja, no diálogo entre os
textos. Como Willemart (apud ZULLAR, 2003) sugere existe um diálogo entre o texto
que se escreve no papel e aquele que o escritor escreve ao mesmo tempo no seu
pensamento ("texto-móvel"). Uma perspectiva que pode parecer abstrata, mas que
possui um objeto de estudo bem preciso: a rasura.
Jakobson (1970, p.179) observa “se o estudo da literatura quer tornar-se uma
ciência, ele deve reconhecer o ‘processo’ como seu único herói”. O autor mostra a
importância da valorização do processo de criação, que torna a formação da obra
uma rede complexa de acontecimentos. Em uma única obra literária pode haver
sistemas diferentes:
[...] no interior de um mesmo manuscrito, de uma única folha, sempre
coexistem vários sistemas semióticos concorrentes, cujas
interferências devem ser estudadas pelo geneticista, que não são
apropriadamente percebidas se ele se isola no interior de uma só
disciplina (JAKOBSON, p. 204).
Essas ligações entre um sistema e outro, como o diálogo entre notas de
leitura e obra lida, texto e pensamento, levam o crítico da estética da criação a uma
outra linha de análise - ao comparar os dois processos, já não se está estudando o
processo de criação de uma obra literária, mas tentando encontrar matrizes da
criação, diferenças, procurando-se entender o funcionamento dos processos
criativos de uma forma geral.
A partir da análise dos processos criativos há a compreensão dos
procedimentos de produção. O crítico genético tem a intenção de esclarecer o
percurso de criação e revelar o processo que gerou a obra, ver uma “obra”
inacabada torna-se importante, cheia de beleza e perfeição em sua originalidade.
3 A Crítica Genética nos caminhos da tradução
A Crítica Genética pode ser uma forma de leitura reveladora no processo
tradutório de um texto literário. A partir do estudo genético de um prototexto, analisase o processo escritural do autor, procura-se entender como o autor criou, estruturou
e textualizou sua narrativa. Isso, na intenção de compreender o processo tradutório
nesse saber genético que um texto fixo não pode revelar. A passagem pelos
manuscritos do autor traduzido pode ajudar o tradutor na sua tarefa. Segundo
Bourjea (1998, p.48), a Crítica Genética:
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[...] possibilita, de fato, duas coisas importantes no campo da
Tradução: 1) ela pode constituir uma nova tarefa, (impossível),
quanto à tradução dos manuscritos literários [...]; 2) a Genética deve
permitir, através de um melhor conhecimento do processo da
inventividade literária, um trabalho de leitura/ re-escritura mais fino ou
mais adequado para o tradutor da poesia (BOURJEA apud
ROMANELLI).
Assim, a Crítica Genética como um estudo embasado na observação da
gênese da criação e em todo o seu processo criativo, pode ser uma influência
positiva no exercício da tradução literária. A tradução também consiste em um
sistema arraigado de construções que exigem do tradutor uma releitura do que foi
escrito de maneira não corrosiva ao pensamento original do autor.
O conhecimento da gênese do texto a ser traduzido poderá ser um aliado de
suma importância no êxito da tradução, sendo que se o tradutor tem acesso ao
processo criativo do escritor, este tem maior possibilidade de seguir os mesmos
direcionamentos do autor, indiferente da língua para a qual é traduzida a obra
literária: traduzir não é um simples processo mecânico, existe uma escritura
tradutória e o texto oriundo da tradução não possui as mesmas características que
um texto literário chamado original. Entende-se que o produto tradução passa por
uma trajetória criativa e é conduzido por pistas que atestam um trabalho de criação
(PASSOS, 2008, p. 3).
Escrever o que quer que seja, desde o momento em que o ato de
escrever exige reflexão, e não a inscrição maquinal e sem detenças
de uma palavra interior toda espontânea, é um trabalho de tradução
exatamente comparável àquele que opera a transmutação de um
texto de uma língua em outra. (CAMPOS, 1996, p.201).
Salvo que não é uma regra para o tradutor possuir um dossiê de manuscritos
e rascunhos da obra a ser traduzida, mas a rasura irá permitir um aprofundamento
mais amplo no ponto de partida da tradução literária.
O que está escondido sob a rasura, muito mais do que seu efeito – o
texto visível – é frequentemente o ponto de partida do scriptor e
assinala um não dito do texto publicado. Por isto, sustentamos que o
texto publicado é a metonímia do manuscrito (WILLEMART, 2005,
p.20).
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A interdisciplinaridade configura um processo bastante visível no espaço da
(re) escritura, ou tradução, entre a Crítica Genética e a tradução literária. Segundo
Carvalhal (2003, p.221), "a literatura e a tradução literária são práticas que podem
esclarecer uma a outra". Partindo desse princípio, é de fato esclarecedor para um
tradutor de sucesso ser também um geneticista dedicado, pois o conhecimento da
rasura do autor deixará o tradutor tão próximo da obra literária a ser traduzida que
este será capaz de transmitir com exatidão a literatura proposta pelo escritor da
obra. Para que a tradução seja fielmente o que o autor quis referir-se, e não o que o
tradutor supôs que o autor quis dizer.
Partindo de tais “princípios” de tradução, fica evidente que o
objetivo principal do tradutor deveria ser ficar o mais “fiel” ao original
em sua totalidade e ficar “invisível” no texto traduzido, pois o objetivo
fundamental de qualquer tradução seria a “reprodução” do “original”
em outro código (BOHUNOVSKY, 2001, p. 52).
O estudo do texto traduzido pode levar a entender o processo criativo do
tradutor, revelar suas dúvidas, suas escolhas, suas interrogações, o seu fazer.
Portanto, abordar geneticamente os rascunhos do tradutor e constituí-los em objeto
de estudo pode revelar-se como uma etapa fundamental no processo de avaliação
da tradução.
Assim como a Criação Literária, a tradução possui rascunhos do seu
processo criativo utilizados pelo tradutor para que o resultado de sua obra traduzida
obtenha êxito. Justifica-se então que seja possível a análise crítica da gênese deste
seguimento da mesma maneira que são analisados manuscritos da criação literária.
O tradutor também é um escritor. Passos (2008, p.3) esclarece a relação entre a
tradução e Crítica Genética:
[...] o tradutor é um escritor e que é passando pela crítica genética
que se pode chegar a essa conclusão, posto que seja na crítica
genética que se pode obter provas do seu processo de trabalho. Sem
esquecer que o acesso aos manuscritos de uma tradução pode ser
uma pista para a avaliação e a crítica da tradução.
O tradutor em seu processo criativo precisa recriar o texto em outra língua da
maneira mais próxima da original possível. Dessa forma é inevitável que até a
conclusão do texto traduzido haja rascunhos, manuscritos e esboços resultantes do
trabalho do tradutor. É através destes materiais que a Crítica Genética pode
aproximar-se da tradução e investigar as fontes do seu desenvolvimento e todas as
probabilidades que poderiam ser ou até mesmo que foram o texto antes da
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publicação. Passos chama o processo criativo do tradutor de “terceiro texto” e
afirma: [...] a análise genética do terceiro texto revelará a hesitação, a certeza, o
dilema na escolha de palavras, o arrependimento, as mudanças, enfim, a escritura
em processo, do tradutor (PASSOS, 2008, p.5).
Entre 1958 e 1967, Guimarães Rosa e Curt Meyer-Clason, o qual era seu
tradutor
alemão,
corresponderam-se
frequentemente
enquanto
eram
feitas
traduções das obras de Rosa. O autor explicava a Clason as origens dos vocábulos,
expressões e personagens existentes na obra literária deixando exposto todo o seu
arsenal criativo. Apesar deste ocorrido, não é corrente o contato entre autor e
tradutor. Dessa forma, a interdisciplinaridade entre a tradução e a Crítica Genética
faz possível esse contato íntimo entre as ideias do escritor da obra literária e o
tradutor desta através dos manuscritos.
[...] para o tradutor, colocar seus passos nos passos do autor, como
disse Valéry, seria refazer o caminho genético do pensamento visível
e, portanto, poder cotejar pensamento por pensamento, como o
intuía e o desejava Guimarães Rosa (VALÉRY apud PASSOS, 2008,
p. 8).
Assim um olhar interdisciplinar entre a tradução literária e a Crítica Genética é
uma ferramenta positiva ao profissional da tradução para concluir o seu trabalho
com êxito. Pois o tradutor ao ser a voz do autor satisfaz-se ao expor as mesmas
ideias, objetivos e pensamentos diferenciando apenas o idioma para o qual o texto
literário é traduzido.
Considerações Finais
A Crítica Genética é compreendida como o caminho de formação artística do
texto literário desde os primeiros rascunhos até a conclusão da obra. O
embasamento da pesquisa genética engloba a gênese do processo criativo do autor
antes da correção para publicação do texto literário.
A partir desta pesquisa, foi possível acompanhar o desenvolvimento da
renovadora Crítica Genética. Observou-se que a própria crítica mesmo no início de
suas pesquisas já contava com direcionamentos que excediam as limitações das
fontes de estudo. Sendo fontes não apenas norteadas por textos literários, mas sim
por toda manifestação artística que envolva um processo criativo.
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Portanto, com a observação da Crítica Genética como ferramenta de
pesquisa nas etapas da criação literária pôde-se esclarecer os caminhos trilhados
pelo autor de maneira mais detalhada. O entendimento da obra literária fica mais
acessível a partir do momento em que o pesquisador possui os manuscritos,
rascunhos e esboços inalterados por outras fontes que não sejam o próprio autor,
tornando enriquecedor o conhecimento referente à maneira como a obra foi criada e
até mesmo as tentativas do que a obra poderia vir a ser.
Acrescenta-se à conclusão desta pesquisa, a Crítica Genética como um
procedimento facilitador para o êxito da tradução literária. As rasuras deixadas pelo
autor fazem com que o tradutor fique tão próximo da obra a ser traduzida que este é
capaz de transmitir com clareza a proposta deixada por ele.
Após a pesquisa, conclui-se que o crítico genético objetiva esclarecer o
percurso de criação e revelar ao pesquisador como a obra foi gerada. A criação
literária ativamente relacionada com a crítica genética possibilita o acompanhamento
da gênese até o término do processo criativo. Na tradução literária, a
interdisciplinaridade com a Crítica Genética é observada como um mecanismo
positivo na aproximação da obra original com a obra traduzida, oferecendo ao
tradutor uma intimidade necessária com texto o qual irá traduzir e, portanto, uma
ligação mais legítima aos pensamentos e ideais do autor do original do texto.
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CritiqueGénétique. Paris: Flammarion, 1979.
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