BIPOLARIDADE E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO FEMININO EM UM SERVIÇO DE PROCESSAMENTO DE ROUPAS HOSPITALARES Adriana Mayrink Linhares1 Priscila Rezende Cardoso Oliveira Cristina Teixeira Lelis Rua Tenente Kumel, 49, ap. 101, Centro, Viçosa-MG. Cep. 36570-000 (31) 88041854 [email protected] RESUMO A realização das responsabilidades familiares se encontra relacionada, sobretudo, com a disponibilidade de tempo das mulheres. Assim a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho ocasionou conseqüências para a qualidade de vida das famílias, mas em especial para as próprias mulheres, que passaram a ter uma sobrecarga de tarefas e responsabilidades. O principal objetivo do presente trabalho consistiu em analisar as estratégias utilizadas pelas trabalhadoras de uma lavanderia hospitalar para a conciliação do trabalho laboral com o trabalho doméstico, bem como as conseqüências do trabalho da espera pública nas atividades cotidianas da vida familiar. Foi selecionada uma amostra de 14 funcionárias do sexo feminino para a realização do estudo. Os métodos utilizados para alcançar o objetivo proposto basearam-se na aplicação de questionário com perguntas abertas e fechadas. De acordo com o que foi declarado pelas entrevistadas, a participação das mulheres no mercado de trabalho se deu principalmente com o objetivo de oferecer melhores condições de vida ao grupo familiar, e também pelo fato de hoje as mulheres buscarem a independência e a auto-realização, verificou-se também que, apesar da mulher ter assumido atividades remuneradas no espaço público, ela continua a desempenhar atividades domésticas relacionadas à casa, aos filhos, à família em geral, realizando desta forma uma dupla 1 Graduanda em Economia Doméstica/ Universidade Federal de Viçosa. jornada de trabalho. Conclui-se que apesar do trabalho na lavanderia ser cansativo, monótono e estressante, todas as entrevistadas relataram que este não interfere no seu âmbito doméstico, porém algumas disseram que os problemas interpessoais familiares interferem em seu trabalho na lavanderia. Palavras - Chave: Trabalho feminino; Dupla jornada, Lavanderia. 1. INTRODUÇÃO O trabalho na sociedade atual vem apresentando, em decorrência de sua organização, de forma fragmentada, sem sentido, normalizado, rotineiro e burocratizado tornando-o, em muitas situações, gerador de conflitos no âmbito familiar e social. Por outro lado reveste-se de importância significativa para o ser humano, pois é por meio dele que o indivíduo pode usufruir dos recursos naturais, modificar e recriar a sua identidade social, construir a cultura, a linguagem, a história e a si mesmo. Embora apresentado de forma dicotômica é elemento considerado essencial na vida humana dotado de centralidade no universo da práxis do indivíduo. Essa importância atinge a esfera familiar delineando uma necessidade cada vez mais crescente do envolvimento da mulher no âmbito de trabalhos realizados em nível público. Segundo D’avila (1999) as transformações econômicas e sociais ocorridas na sociedade brasileira favoreceram a inserção a esta feminização no mercado de trabalho, trazendo modificações na composição interna da força de trabalho. Tal inserção apresenta causas e conseqüências, destacando a necessidade econômica, que se intensificou com a deterioração de salários reais dos trabalhadores obrigando as mulheres a complementarem a renda familiar; a elevação das expectativas de consumo, em decorrência da proliferação de novos produtos; a crescente urbanização e o acelerado ritmo da industrialização. Segundo Goldani (1997), a realização das responsabilidades familiares se encontra relacionada, sobretudo, com a disponibilidade de tempo das mulheres. Dessa forma a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho ocasionou conseqüências para a qualidade de vida das famílias, mas em especial para as próprias mulheres, que passaram a ter uma sobrecarga de tarefas e responsabilidades. Mesmo vivenciando estas conseqüências elas transpuseram barreiras, enfrentaram a dominação e a exploração no espaço laboral e conseguiram acumular certa “autonomia feminina” além de recursos que pudessem contribuir no sustento familiar. Inseriram-se a princípio em atividades profissionais de ensino, vendas e costuras e passaram a assumir gradativamente no sistema econômico recebendo novas ocupações nos diferentes segmentos oferecidos no âmbito público. Segundo Pitta (1990), apud Oliveira et al (2007), o hospital é o espaço característico de profissionalização do trabalho doméstico, comprovando atividades reprodutoras dos procedimentos femininos de sublimação. Desta forma é grande o numero de mulheres que se inserem nos estabelecimentos de saúde atendendo direta ou indiretamente o paciente. Isso porque o cuidado com as pessoas historicamente foi atividade eminentemente feminina. Brito (1999), apud Carloto (s.d.) comentando sobre o trabalho em lavanderia de uma empresa, nos diz que existe uma concepção de naturalizar alguns trabalhos como função feminina, na medida em que a limpeza e o cuidado com as roupas, no âmbito profissional assemelham-se com o doméstico. A lavanderia hospitalar é um dos serviços de apoio ao atendimento dos pacientes, responsável pelo processamento da roupa e sua distribuição em perfeitas condições de higiene e conservação. Este serviço é de fundamental importância para o bom funcionamento do hospital, pois a eficiência de seu funcionamento contribuirá para a eficiência do hospital (BARTOLOMEU, 1998). Entretanto os trabalhadores no desempenho das suas atividades nas lavanderias hospitalares são submetidos a várias situações que afetam a qualidade de vida no trabalho (QVT), o que, conseqüentemente, pode vir a influenciar outros domínios relevantes para o individuo, entre os quais se podem destacar a convivência familiar. Dentre estas situações destaca-se barulho intenso vindo das máquinas, altas temperaturas, umidade, desgaste físico, tarefas de movimentos repetitivos, contínuos e, exercidas com posturas completamente ou parcialmente inadequadas. È exigido neste ambiente extensa jornada de trabalho, ocasionando uma grande sobrecarga para os funcionários deste setor. Filho e Mazzili apud Fontes, 2003, p.4, mencionam que “as vivências do trabalhador em seu ambiente de trabalho repercutem em seu contexto doméstico social, exercendo influência na qualidade de suas relações e interferem na sua vida como um todo”. Assim, independente da atividade de trabalho, que as mulheres, em sua maioria, exercem isso não a eliminam de ser responsável pelas tarefas relacionadas à casa, aos filhos e à família em geral. Para a maioria delas esta sobreposição de trabalhos domésticos e atividade econômica, representa uma enorme sobrecarga principalmente para aquelas que necessitam vender sua força de trabalho para garantir a sua sobrevivência e da sua família, além de contribuir para a sua autonomia e seu poder de negociação no grupo familiar (BRUSCHINI, 1998). É importante desenvolver estudos na medida em que este poderá reunir subsídios para pensar e implementar políticas de organização laboral mais racional e flexível, capazes de favorecer a qualidade de vida dos integrantes da organização. Sendo assim, objetivamos com esse estudo verificar as estratégias utilizadas pelas trabalhadoras de uma lavanderia hospitalar para a conciliação do trabalho laboral com o trabalho doméstico, bem como as conseqüências do trabalho da espera pública nas atividades cotidianas da vida familiar. 2. REFERENCIAL TEÓRICO Segundo Gorz (1991) o trabalho abrange um campo mais extenso do que o de emprego ou do trabalho assalariado, estabelecendo uma atividade social presente em todas as sociedades, embora apresente diversas definições do que seja seu conceito. Deste modo, o trabalho não está separado da vida e qualquer diferença entre as atividades de trabalho e de não trabalho torna-se impraticável. Estudos realizados sobre o trabalho da mulher e as características da inclusão das mesmas no mercado de trabalho brasileiro demonstraram uma realidade caracterizada por continuidades (BRUSCHINI, 1998). Essas continuidades referem-se ao amplo contingente de mulheres (cerca de 40% da força de trabalho feminina) que se insere no mercado de trabalho em um pólo no qual se compreendem as posições desfavorecidas e precárias, quanto ao vínculo de trabalho, ao salário, à proteção social ou às condições de trabalho propriamente ditas. São profissões na qual a participação das mulheres tem se dado tradicionalmente, como o trabalho doméstico, as atividades sem remuneração e as atividades de produção para consumo próprio e da família. (BRUSCHINI et al, 2000). Galeazzi (s.d.) cita que a entrada das mulheres no processo produtivo não é um fato recente. No Brasil, por exemplo, sua presença foi acentuada no início da industrialização, principalmente ligada à indústria têxtil no século XIX. Porém, o que a põe em evidência nas últimas décadas do século XX é a intensidade, a diversificação e a visível irreversibilidade do inicio do processo de entrada das mulheres no mercado de trabalho. As taxas de participação feminina aumentam-se num processo consecutivo, sem modificação diante das diferentes conjunturas econômicas, até o final dos anos 90. Segundo dados do IBGE (2006), as mulheres representam hoje um terço da população economicamente ativa do país. Nos anos 80, a taxa de atividade feminina cresceu 5,8%, sendo esse aumento provocado pela dificuldade de o marido sustentar sozinha a família e pelo aumento de mulheres chefiando suas próprias famílias. A mulher tem deixado de aceitar o papel de coadjuvante para influir diretamente não só no orçamento da casa como nas aptidões profissionais do casal. Neste contexto, a lavanderia é um setor onde a mão-de-obra feminina é evidente, sendo considerado função feminina por este departamento desenvolver atividades como lavar, passar, costurar, dentre outras, que se assemelham ao trabalho profissional da lavanderia com o doméstico. Estudos revelam que, a maioria dos trabalhadores de lavanderia hospitalar, é insatisfeita com vários fatores que estão diretamente relacionados com o trabalho desempenhado, como a falta de auxílio médico-hospitalar ao trabalhador e sua família; a impossibilidade de crescimento no trabalho, uma vez que ele se apresenta repetitivo, monótono e pobre em conteúdo; a constatação de condições físicas adversas, que, muitas vezes, proporcionam sobrecarga física e acidentes de trabalho; além da impossibilidade de criar, uma vez que a organização do trabalho impõe atividades, que se encontram baseadas em normas e regras severas (FONTES, 2003). Segundo Goldani (1997), a realização das responsabilidades familiares se encontra relacionada, sobretudo, com a disponibilidade de tempo das mulheres. Dessa forma a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho ocasionou conseqüências para a qualidade de vida das famílias, mas em especial para as próprias mulheres, que passaram a ter uma sobrecarga de tarefas e responsabilidades. O acúmulo de tarefas gera sobrecarga, popularmente conhecida como “dupla jornada de trabalho”. Esse fato não é exclusivo nas camadas populares: pesquisa realizada por Ludermir (2000, p. 656) aponta que, independente da camada social, a maioria das mulheres estudadas “... ao contrário dos homens, ao desempenhar uma atividade econômica, assumia também as responsabilidades de esposa, mãe e trabalhadora e empreendia dois trabalhos: o remunerado e o não-remunerado, geralmente não reconhecido dentro de casa”. Sendo assim, Ladeira (2000) afirma que o exercício simultâneo das atividades laborais e daquelas relativas ao seu papel doméstico tradicional tem levado as mulheres a tensões cotidianas não somente pelo somatório das jornadas, mas também pelo fato de elas terem que transitar por dois mundos de atividades, o público e o privado, que têm lógicas e critérios e valores diferentes. A exigência de alcançar o equilíbrio entre esses dois mundos, tentando conciliar o tempo dedicado à vida familiar e o definido ao trabalho, é feito com a finalidade de que o segmento feminino consiga construir e manter suas identidades como mãe, esposa e profissional. Em razão de toda a dinâmica da dupla jornada de trabalho, as atividades de lazer além de praticamente não permanecerem entre mulheres economicamente ativas de baixa renda, também parecem ser um anseio impossível, a repercussão da dupla jornada de trabalho impede essa mulher economicamente ativa de participar de atividades de lazer. Sendo assim, não se pode entender o lazer como uma prática acessível a mulheres em diferentes ocupações no mercado de trabalho (GARCIA, 2006). 3. METODOLOGIA O presente estudo foi realizado na cidade de Viçosa – MG, situada na Zona da Mata Mineira. O município conta com duas instituições hospitalares, sendo selecionado intencionalmente o Hospital São Sebastião por apresentar-se melhor equipado, possuir convênio com Departamento de Economia Doméstica para trabalhos de estágios, além de ser uma instituição pública que objetiva tratamentos que abrangem Viçosa e região por meio de serviços de qualidade. O serviço de Lavanderia do Hospital São Sebastião atende aos diversos setores do hospital. Conta com 17 funcionárias, sendo uma costureira e quinze auxiliares de lavanderia. A coordenação está a cargo de um profissional com formação em Economia Doméstica. Com exceção de um trabalhador que estava de férias, todos participaram no período referente à coleta de dados. Devido a natureza do problema optou-se por uma abordagem qualitativa por melhor adequar-se aos objetivos propostos. Para Reneker apud Dias (2000), a pesquisa qualitativa é indutiva, isto é, o pesquisador desenvolve conceitos, idéias e entendimentos a partir de padrões encontrados nos dados, ao invés de coletar dados para comprovar teorias, hipóteses e modelos preconcebidos. O enfoque do trabalho foi na lavanderia hospitalar, que representa um dos segmentos de apoio cujo objeto de estudo é de grande interesse para o profissional de Economia Doméstica, onde há inserção de número elevado de trabalhadoras do sexo feminino e onde se faz necessário estudos que possam reconfigurar realidades de trabalho marcados pelo acúmulo de atividades laborais. Os métodos utilizados para alcançar os objetivos propostos consistiram na aplicação de questionário semi-estruturado, destinado às trabalhadoras da lavanderia do hospital em estudo, com o intuito de abordar de maneira mais fidedigna a conciliação do trabalho doméstico com o laboral. Posteriormente, os dados foram agrupados em categorias analíticas para compor os resultados. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1. Caracterização do perfil social das trabalhadoras da lavanderia hospitalar Estas possuem idade média de 35 anos, com variação de 25 a 49 anos, sendo 7,14% com curso superior incompleto, 50% com o ensino médio completo, sendo que dentro estas 21,42% possuem também o curso técnico de enfermagem, 28,57% com o ensino fundamental completo e 14,28 com o ensino fundamental incompleto. De acordo com Fontes (2003), é freqüente encontrar na lavanderia hospitalar profissionais com baixa escolaridade e sem qualificação dirigida. Castro e Chequer apud Fontes 2003, afirmam ainda que os funcionários com pouca instrução tenham mais dificuldade em aceitar mudanças e que muitas vezes são menosprezados e possuem alta estima baixa, o que pode ocasionar algum dano a qualidade do serviço. Com relação ao estado civil, pode-se observar um percentual de 14,28% mulheres solteiras, 57,14% casadas, 14,28% separada e 14,28% divorciada. Identificou-se que o número de filhos dessas mulheres variam de 1 a 3, sendo a idade destes de 10 meses a 26 anos. Em relação à renda familiar, 42% recebem 1(um) salário mínimo2; 21,42% 2(dois) salários mínimos; 21,42%, recebem 3(três) salários mínimos e 14,28% outros. A média de anos trabalhados na lavanderia hospitalar foi de 7,7 anos, com variação de 7(sete) meses a 17 anos, mostrando que a mulher vem se inserindo na esfera pública há alguns anos. O crescimento da participação feminina no mercado de trabalho brasileiro foi umas das mais marcantes transformações sociais ocorridas no país desde os anos 70. As estatísticas têm revelado que a presença das mulheres no mercado de trabalho Brasileiro, sobretudo o urbano, é cada vez mais intensa e diversificada e não mostra nenhuma tendência de retrocesso, apesar das sucessivas crises econômicas que têm assolado o país a partir dos anos 80 (SAFFIOTI et al 1994, p. 63). 4.2. Satisfação com o trabalho Quanto à contratação, verificou-se que 57,14% das mulheres foram contratadas por meio de indicação de outras pessoas, e 42,85% a contratação ocorreu através da análise do currículo. Ao serem questionadas acerca da opinião sobre feminização do trabalho realizado na lavanderia hospitalar, 21,42% disseram que sim, pois atividades de lavar e passar roupas são habilidade feminina. Além disso, a presença de um homem em um ambiente desenvolvendo um serviço que é socialmente construído por serviço de mulher, poderia inibir o convívio das funcionárias. Enquanto que, 78,58% responderam que o trabalho na lavanderia não compete somente às mulheres, afirmando existir serviços pesados, onde a presença masculina seria mais adequada. Neste sentido, Fontes (2003) ressalta que apesar das atividades de cuidado com as roupas esteja ainda relacionada na ideologia de gênero, os homens tem tido envolvimento com essa atividade, ainda que alocados nos setores onde é exigido a força física, como é o caso dos setores de lavagem e centrifugagem. Analisou-se que 64,28% das entrevistadas trabalham por necessidade financeira, 21,42% disseram trabalhar por satisfação pessoal. E 21,42% trabalham tanto por necessidade quanto por satisfação pessoal. 2 O valor do salário mínimo no momento da pesquisa é de R$ 415,00. Segundo Bruschini (1990), um dos fatores que mais influenciou a mulher a sair da esfera privada foi por questão de necessidade econômica, que se intensificou com a deterioração dos salários reais dos trabalhadores e que as obrigou a buscar fora do lar, uma complementação da renda familiar. No entanto hoje a satisfação pessoal é um fator considerável na inserção da mulher no mercado de trabalho. Em relação à jornada de trabalho, percebeu-se que 78,78% destas trabalham 12 horas, em uma escala de 12 por 36, já 21,42% trabalham 6 horas por dia. Esta redução das horas de trabalho foi uma das conquistas das mulheres, pois quando ela iniciou-se no mercado de trabalho no século XX, a sua carga horária variava de 10 a 14 horas diária (DEL PRIORE, 2001). No que diz respeito à satisfação com o salário, 64,28% das entrevistadas disseram estar satisfeitas com o salário, por este ser importante na manutenção do lar e pela atividade que exerce. Já 35,71% disseram não estarem satisfeitas com o salário, pois afirmam que o salário é pouco pelo trabalho que exercem, e pelo fato de alguns benefícios terem sido cortados. Todas ressaltaram que o salário é indispensável para a manutenção do lar, pois é com esse dinheiro que elas pagam as contas da casa e dos filhos e complementam o salário do marido. Fazendo uma comparação do salário das mulheres com relação ao do marido, constatou-se que, 14,28% apresentam salários iguais, e 35,71% apresentam salário inferior, enquanto 7,14% o salário é maior que o do marido. Os 42,85% restantes não tem marido. De acordo com Saffioti et al (1994), apesar da conquista de novos espaços, as mulheres ainda são discriminadas, porque ainda encontram dificuldades para ocupar cargos de chefia, e ganham menos que os homens mesmo ocupando cargos semelhantes. Quando perguntado se as mulheres estão realizadas com o seu trabalho, notou-se que 100% delas estão satisfeitas com o trabalho que exercem na lavanderia. 4.3. Estratégias de Conciliação da Dupla Jornada de Trabalho Ao discorrer sobre as atividades domésticas, 100% das entrevistadas declararam exerce-las mesmo trabalhando fora de casa. São responsáveis por arrumar casa, lavar, passar e cuidar dos filhos, além daquelas do trabalho exercido fora de casa. No entanto 57,14% das mulheres realizam estas atividades sozinhas, 14,28% dividem as tarefas domésticas com o marido, 7,14% dividem com os filhos, 7,14% possui ajudante nos dias de folga, 7,14% divide com outro membro da família, e 7,14% dividem as tarefas tanto com o marido quanto com os filhos. Para Saffioti (1994), apesar de a mulher ter assumido atividades remuneradas no espaço público, ela continua a desempenhar atividades domésticas, realizando desta forma uma dupla jornada do trabalho, sendo-lhe ainda a responsável por qualquer alteração ocorrida nas relações familiares ou no cotidiano familiar, no entanto isso não lhe proporciona uma condição de importância relevante e de visibilidade na produção social. Diogo 2005, ressalta ainda que na imensa maioria das vezes, as mulheres são as principais responsáveis pelo cuidado com a casa e com os filhos. Principalmente nas camadas populares este fato torna-se um complicador na busca por emprego, pois não há a quem delegar estas tarefas. Foi relatado por algumas das entrevistadas que quando imprevistos diários ocorrem (filho doente, problemas familiares, dentre outros), há uma redução das horas de trabalho, ou se necessário, ausentam do serviço. De acordo com o trabalho realizado fora da unidade doméstica, 87,5% das mulheres entrevistadas casadas, afirmaram que o seu marido está de acordo, pois estes acham que a mulher deve ter sua própria independência financeira, além dessa renda ser complementar no orçamento da casa. Porém 12,5% das entrevistadas disseram que o marido não está de acordo com o trabalho realizado por ela fora da unidade doméstica. No que diz respeito às decisões financeiras, 35,71% das entrevistadas disseram possuir poder de decisão, 35,71% das entrevistas disseram que ela e o marido em comum acordo, tomam as decisões, 14,28% é o marido quem toma as decisões, e 14,28% relataram ser outras pessoas que tomam as decisões. Para Bruschini (1982), as mulheres durante muito tempo foram excluídas da incorporação da força de trabalho e principalmente do processo de tomada de decisões, no entanto esta situação vem se revertendo a favor das mulheres. Fato esse que pode ser observado no decorrer da pesquisa, onde hoje a maioria das mulheres tomam as decisões sozinhas ou conjuntamente com seus maridos. 4.4. Identificação das Conseqüências do Ambiente da Lavanderia Hospitalar no Convívio das Funcionarias junto às suas Famílias. Segundo as entrevistadas, 100% disseram que os problemas profissionais não interferem nas suas atividades domésticas. Porém 21,42% disseram que os problemas interpessoais familiares interferem em seu trabalho na lavanderia. Apesar dessas afirmarem que os problemas profissionais não interferem nas suas atividades domésticas, há uma contradição quando 64,28% das mulheres relataram que sofrem dores físicas, estresse, dores de cabeça e problemas respiratórios, gerados pelo seu trabalho na lavanderia, dificultando assim, o desempenho das atividades de casa. No entanto, 35,71% não apresentam queixas referentes às atividades exercidas em seu trabalho. O trabalho na lavanderia é visto como sujo, cansativo, monótono e repetitivo, ocasionando insatisfações e resultando em uma baixa qualidade de vida (QVT) aos trabalhadores ali inseridos (FONTES, 2003). No que concerne o tempo disponível para lazer, 71,43% relataram ter momentos com a família para ir ao shopping, ao sítio e fazer visitas a parentes. Porém 28,57% devido ao tempo reduzido, não desempenham atividades de lazer. Conforme Fontes (2003), a satisfação dos trabalhadores no que se refere ao tempo destinado ao lazer é mais afetada nos setores constituídos exclusivamente por mulheres, já que, além da rotina normal de trabalho, elas têm geralmente que se ocupar com os afazeres domésticos. Em relação a discriminação no trabalho, 81,72% disseram não ter sofrido. Porém, 18,28% já sofreram algum tipo de discriminação como a idade, e em relação à personalidade. As mulheres durante muito tempo foram discriminadas ao ocupar os trabalhos voltados para a esfera pública, por serem consideradas como incapazes de exercerem tarefas que antes só eram ocupadas por homens. Nota-se que este quadro vem mudando, pois todas as entrevistadas disseram não terem sofrido nenhum tipo de discriminação. Como essa discriminação existia de forma acentuada, a sua remuneração era muito inferior ao do homem, pois este era o responsável pela manutenção da família, muitas vezes não aceitando este trabalho na esfera pública (BRUSCHINI, 1990). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A crescente industrialização e urbanização ocorrida no Brasil favoreceram a inserção das mulheres no mercado de trabalho, ou seja, na esfera pública, trazendo modificações na composição interna da força de trabalho. A realização deste estudo é importante, pois permitiu-nos compreender melhor como é o dia-a-dia das profissionais do setor de lavanderia que convivem com a realidade de exercer uma atividade remunerada e doméstica e a parti daí a construção de sua identidade enquanto mulher trabalhadora, mãe, esposa e dona de casa. Tomando-se por base alguns dados coletados em campo, percebe-se que a participação das mulheres no mercado de trabalho se deu principalmente com o objetivo de oferecer melhores condições de vida ao grupo familiar, e também pelo fato de hoje as mulheres buscarem a independência e a auto-realização, aspirando na sociedade uma equivalência entre os gêneros. Verificou-se que, apesar da mulher ter assumido atividades remuneradas no espaço público, ela continua a desempenhar atividades domésticas relacionadas à casa, aos filhos, à família em geral., realizando desta forma uma dupla jornada de trabalho, sendo-lhe ainda a responsável por qualquer alteração ocorrida nas relações familiares, ou no cotidiano familiar. Desta forma, as mulheres procuram empregar artifícios para conciliar o trabalho doméstico e o realizado fora deste, a partir do momento em que optaram por permanecer no mercado de trabalho, possuindo a ajuda do marido, filhos, ou outra pessoa. Atualmente nas lavanderias hospitalares têm-se uma grande presença da mão-de-obra feminina, no entanto, observou-se neste estudo, que para a maioria das funcionárias, o trabalho na lavanderia, não compete somente às mulheres, havendo serviços pesados, onde a presença masculina seria mais adequada. O trabalho neste setor pode ser também cansativo, monótono, estressante e sujo, podendo influenciar nas relações psicológicas e sociais das trabalhadoras. Neste sentido, é viável o desenvolvimento de pesquisas que proporcionam maior entendimento sobre a importância do trabalho feminino no setor de Lavanderia, para minimizar tais causas REFERÊNCIAS BARTOLOMEU, T. A. Identificação e Avaliação dos Principais Fatores que Determinam a Qualidade de uma Lavanderia Hospitalar: Um Estudo de Caso no Setor e Processamento de Roupas do Hospital Universitário da UFSC. 1998. Disponível em:< http://www.eps.ufsc.br/disserta98/angelica/cap1.htm >. Acesso em: 15 Maio 2008. BRUSCHINI, C. Trabalho Feminino no Brasil: novas conquistas ou persistência da discriminação? 1998. Pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, São Paulo, Brasil. Disponível em: <http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/lasa98/Bruschini.pdf> Acesso em: 28 de fevereiro de 2008. BRUSCHINI, M. C. A. Mulher, Casa e família.2ª ed. 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