influência neotectônica identificada atráves de dados morfométricos

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Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
Revista Brasileira de
Geografia Física
ISSN:1984-2295
Homepage: www.ufpe.br/rbgfe
Análise de Eventos Extremos na Região Amazônica
Thalyta Soares dos Santos¹, Ana Carla dos Santos Gomes2, Maytê Duarte Leal Coutinho3, Allan
Rodrigues Silva4, Aline Anderson de Castro5
1
Doutoranda em Ciências Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte,
Brasil, [email protected]. 2 Doutoranda em Ciências Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, [email protected]. 3 Doutoranda em Ciências Climáticas da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, [email protected]. 4
Doutoranda em Ciências Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte,
Brasil, [email protected]. 5Doutoranda em Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisa
Espacial, São José dos Campos, São Paulo, [email protected].
Artigo recebido em 31/07/2013 e aceito em 05/08/2013
RESUMO
A frequência de eventos severos e extremos de seca e chuva na Amazônia foi analisada utilizando o Índice de
Precipitação Normalizada (SPI) nas escalas de 6 (sazonal estação seca/chuvosa) e 12 meses (interanual). A frequência
de eventos secos e chuvosos é importante para a climatologia da região, que é considerada um regulador climático
global. Para isso foram selecionadas as séries climatológicas, de 1925 a 2000, de seis localidades da região Amazônica:
Belém, Cuiabá, Iauretê, Manaus, Porto Velho, Taguatinga. Os SPIs, 6 e 12, que quantificam excesso ou déficit de
chuva, nestas duas escalas de tempo, foram calculados a partir dos ajustes de distribuição gama, pelo método da
máxima verossimilhança às médias móveis de 6 e 12 meses das precipitações mensais. Esses foram computados a partir
da normalização das probabilidades gama, pelos seus respectivos desvios padrões. As séries temporais dos SPIs 6 e 12,
mostram longos períodos de oscilação entre eventos secos e chuvosos. A frequência decenal de ambos SPIs indica
variações entre as décadas mais chuvosas e secas nos municípios estudados. As décadas mais chuvosas e secas são
periódicas para as duas escalas de tempo analisadas em todas as estações, exceto Iauretê.
Palavras-Chave: SPI, Amazônia, Seca, Chuva
Analysis of Extreme Events in the Amazon Region
ABSTRACT
The frequency of severe and extremes events of drought and rainfall in the Amazon was analyzed using the
Standardized Precipitation Index (SPI) in the scales of six months (dry/wet seasons) and 12 months (inter-annual). This
is important for the climatology of the region, which is considered a global climate regulator. With this objective, the
climatological series from 1925 to 2000 were selected for six locations in the Amazon region: Belém, Cuiabá, Iauretê,
Manaus, Porto Velho and Taguatinga. With the aim of quantify the excess or deficit of rainfall in the selected time
scales, the SPIs 6 and 12 were calculated using the fit of the gamma distribution by the maximum likelihood method for
the moving averages 6 and 12 months of monthly precipitation. These were computed from the normalization of gamma
probabilities by its standard deviation. The time series of SPIs 6 and 12, show long periods of oscillation between dry
and wet events. The frequency of both SPIs indicates variations between wet and dry decades in the cities
studied. Wetter and drier decades were shown to be periodic for the two time scales considered in all locations, except
for Iauretê.
Key-Words: SPI, Amazon, Drought, Rain
*
E-mail
para
correspondência:
[email protected] (Soares, T. S.).
Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A
1356
Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
com diferentes características climáticas,
Introdução
Na região Norte do Brasil diversos
podendo
também
ser
utilizado
para
trabalhos mostram que existem diferenças
excedentes de precipitação. Esse índice pode
significativas
temporal,
ser calculado em diversas escalas de tempo (1,
espacial e na natureza das precipitações.
2, 3, 6, 12, 24, ... meses). Apesar de sua
Marengo e Nobre (2009) afirmam que nesta
origem na América do Norte, a utilização
região, onde se situa a floresta amazônica,
desse índice se encontra em expansão por
observa-se um clima equatorial chuvoso,
todo mundo. No Brasil, o SPI é um dos
praticamente
Ainda
métodos preconizados pelo Instituto Nacional
segundo esses autores, esta região apresenta
de Meteorologia (INMET) para caracterizar
significativa
e
anomalias de precipitação. Desde janeiro de
sazonal da pluviosidade, sendo a região com
2002 o SPI vem sendo calculado para todo
maior total pluviométrico anual. Dessa forma,
país e, recentemente, esses resultados têm
o conhecimento conciso da distribuição
sido disponibilizados para o público em forma
espaço-temporal da precipitação é de extrema
de mapas.
na
sem
distribuição
estação
seca.
heterogeneidade
espacial
importância para o entendimento dos sistemas
O SPI é considerado um dos melhores
locais, de meso e grande escala que atingem a
índices para avaliar eventos severos e
região, contribuindo então para a evolução do
extremos de seca e de chuva nas diversas
clima
escalas de tempo para fins climatológicos e de
e
da
sustentabilidade
dos
seus
ecossistemas como um todo.
monitoramento. De maneira geral o SPI é
Dessa forma, o estudo da distribuição,
quantidade
das
média móvel das precipitações numa escala
precipitações, têm sido estudadas em diversas
de tempo (3, 6, 12 meses) em relação à
pesquisas. Para isso são utilizados modelos
climatologia deste mesmo período. Esse
estatísticos e também índices de precipitação
índice tem como base o ajuste de séries de
como: o de Severidade de Secas (Palmer
precipitação à distribuição gama incompleta.
Drought
e
Severity
monitoramento
simplesmente a diferença normalizada de uma
Index,
PDSI),
o
de
Alguns pesquisadores afirmam que o
Anomalia de Precipitação (Rainfall Anomaly
Brasil é vulnerável às mudanças climáticas
Index, RAI), o de Precipitação Normalizada
atuais e mais ainda às que se projetam para o
("Standardized Precipitation Index, SPI),
futuro, especialmente quanto aos extremos
dentre outros.
climáticos.
As
áreas
mais
vulneráveis
O índice de precipitação normalizada
compreendem a Amazônia e o Nordeste do
(SPI) foi proposto por Mckee et al.(1993)
Brasil, como mostrado em estudos recentes
para quantificar o déficit de precipitação nas
(Marengo, 2007; Ambrizzi et al., 2007;
diversas escalas de tempo, e comparar regiões
Marengo et al., 2007). O conhecimento sobre
Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A
1357
Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
possíveis
cenários
climático-hidrológicos
variabilidade do clima. Cox et al. (2008)
futuros e as suas incertezas pode ajudar a
ainda afirma que as chances de ocorrerem
estimar demandas de água no futuro e
períodos de intensa seca na região da
também a definir políticas ambientais de uso e
Amazônia podem aumentar dos atuais 5%
gerenciamento de água para o futuro.
(uma forte estiagem a cada vinte anos) para
De acordo com Marengo (2004) para a
50% em 2030 e até 90% em 2100.
Amazônia não se observa uma tendência clara
As
projeções
de
clima
futuro,
de aumento ou redução nas chuvas (em razão
liberadas pelo Quarto Relatório do IPCC AR4
do desmatamento), apresentando mais uma
(IPCC, 2007 a, b), e pelo Relatório de Clima
tendência
interdecadais
do INPE (Marengo et al., 2007 a e b;
contrastantes entre a Amazônia do Norte e do
Ambrizzi et al., 2007) têm mostrado cenários
Sul.
de secas e eventos extremos de chuva em
de
variações
Li et al. (2006), usando resultados de
algumas regiões do Brasil. Esses relatórios
diversos modelos climáticos globais do
apontam que uma região bastante vulnerável,
Intergovernmental Panel on Climate Change
do ponto de vista social à mudança de clima,
Fourth Assessment Report (IPPC AR4)
seria o interior de Nordeste, conhecida como
preveem diferentes padrões da precipitação na
semi-árido,
Amazônia sob a influência do cenário SRES
Reduções de chuva aparecem na maioria dos
A1B
modelos globais do IPCC AR4. Isso acarreta
(caracterizado
econômico
mundial)
rápido
para
crescimento
a
mudança
climática global. Cinco de onze modelos
estudados
preveem
um
aumento
ou
simplesmente
o
sertão.
reduções de até 15-20% nas vazões do rio São
Francisco.
da
Dessa forma, o objetivo deste trabalho é
precipitação anual, três modelos preveem um
avaliar o comportamento decenal dos eventos
decréscimo na precipitação e os outros três
severos e extremos de seca e chuva na região
não indicam padrão significativo de mudança
Amazônica.
da precipitação na Amazônia.
Segundo Marengo e Nobre (2009)
pesquisas recentes das tendências climáticas
Material e Métodos
na Amazônia não demonstram tendências
unidirecionais em grande escala na chuva.
O estudo será realizado para as regiões
Esses autores afirmam ainda que segundo
Norte do Brasil. A escolha destas regiões
análises observacionais, ainda não foram
deve-se ao fato que a região Norte inclui a
notadas tendências de redução na precipitação
maior extensão de floresta tropical da Terra,
na região, e são mais notórias as tendências
superior
interanuais
quadrados, e responde por aproximadamente
e
interdecenais
típicas
da
Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A
a
5
milhões
de
quilômetros
1358
Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
um quarto das espécies animais e vegetais do
regulador dos balanços de energia e hídrico,
planeta. A região Amazônica desempenha um
pode influenciar a circulação atmosférica e a
importante papel no clima global, e a floresta
precipitação regional (Marengo e Nobre,
amazônica é considerada um importante
2009).
Figura 1 - Localização das estações na região Amazônica, utilizadas no estudo.
Fonte: Elaborada pelo autor.
Neste trabalho foram utilizados séries
12 meses (SPI-1,SPI-3, SPI-6 e SPI-12). As
de dados climatológicas mensais de 6
localidades selecionadas no estudo estão bem
estações meteorológicas do Instituto Nacional
distribuídas ao longo da região Amazônica
de Meteorologia (INMet) na Amazônia, no
possuem diferentes características climáticas,
período de 1925 a 2000, para realizar o
e são identificadas na figura 1 e detalhadas na
cálculo do SPI nas escalas de tempo 1, 3, 6 e
tabela 1.
Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A
1359
Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
Tabela 1 – Localização das estações meteorológicas.
Estação
Latitude Longitude Altitude
Belém – PA
1027’ S
48028’ W
24 m
Cuiabá
15033’S
56007’ W
151 m
Iauretê
0037’ N
69°12’ W
120 m
Manaus – AM
3008’ S
60001’ W
72 m
Porto Velho
08046’ S
63055’ W
95 m
Taguatinga
0
12 24’ S
0
46 26’ W
604 m
Foram selecionadas as escalas de
De maneira geral, o SPI denota
tempo do SPI de 3, 6 e 12 meses, para as
quantidade de precipitação para uma dada
quais é construído médias móveis das séries
escala de tempo, dando a indicação da relação
temporais de SPI semestral (SPI-6) e anual
dessa quantidade com uma distribuição
(SPI-12) centrada nos 12 meses do ano. A
normal, indicando então se vai ocorrer um
escala semestral do SPI representa os eventos
período seco ou chuvoso. De acordo com
de
para
McKee et al. (1993) a série histórica é
monitoramento do período de transição entre
ajustada a uma distribuição de probabilidade
estação seca e a chuvosa. O SPI anual reflete
gama
padrões de precipitação de longo prazo; É
verossimilhança neste estudo), a qual é então
uma importante ferramenta para monitorar a
transformada em uma distribuição normal.
variabilidade anual e interanual.
Como as precipitações têm uma distribuição
média
duração;
É
importante
(pelo
método
da
máxima
A escolha da escala temporal usada
assimétrica, a distribuição gama, é geralmente
para o cálculo do índice relaciona-se com o
utilizada para representar a distribuição
tempo necessário para que os efeitos para que
teórica para essa variável. Vários estudos
os eventos de seca e de chuva se façam sentir
mostram que a distribuição gama descreve
sobre os diferentes setores de atividade e
adequadamente o comportamento das chuvas,
sobre os recursos hídricos em geral. Deste
dentre os quais podem ser citados os de Thom
modo, escalas de tempo mais curtas ou mais
(1958), Castro (1996) e Cunha et al. (1997).
longas refletem diferentes tempos de resposta
De acordo com Wilks (1990), a popularidade
dos recursos hídricos às anomalias de
da distribuição gama para descrever dados de
precipitação. À medida que a escala temporal
precipitação se deve do fato de que ela
aumenta, o SPI responde mais lentamente a
fornece
mudanças na precipitação (McKee et al.,
envolvendo apenas dois parâmetros (forma e
uma
representação
flexível
1993).
Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A
1360
Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
escala), daí ser amplamente utilizada em
̅
̂
̂
climatologia de precipitação.
Os parâmetros de forma (alfa) e escala
(beta) são estimados para cada ponto de
Como a distribuição gama é indefinida
grade, para cada mês do ano e para cada
pra
escala temporal (3, 6 e 12 meses).
ocorrências de chuva
A distribuição gama de probabilidade
tem como função densidade
, deve-se corrigi-la para as não
,
( ), McKee et
( )
para x>0
( )
)
McKee et al., (1993):
al., 1993:
( )
(
(
na qual:
= probabilidade
precipitação zero
na qual:
= parâmetro de forma da distribuição
gama (simetria e achatamento dos dados)
) ( )
de
ocorrência
de
= número de observações com chuva igual
a zero
= número total de observações
= parâmetro de escala da distribuição
gama (dispersão)
= quantidade de precipitação para o mês
de interesse (mm)
A conversão equiprobabilística de uma
variável ( ) gama distribuída numa normal
(SPI) pode ser feita simplesmente usando a
( ) = função gama completa
(
Os parâmetros
e
̂ ̂ ) e o desvio padrão da gama
média ( ̅
√ ̂ ̂ ) na variável reduzida da normal
da distribuição
(
gama para uma dada variável aleatória ( )
foram inicialmente estimados pelo método da
̅)
.
Na qual:
máxima verossimilhança conforme Thom
= 3, 6, 12 meses
(1958), por:
Os SPIs para cada mês foram obtidos
̂
√
(
)
como os desvios normalizados pela média e
desvio padrão da distribuição gama. Os SPIs
mensais, nas escalas de tempo de (6 e 12
Na qual:
( ̅)
∑
meses) foram classificados segundo McKee
(1993), e a cada valor de precipitação
Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A
1361
Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
corresponde um valor de SPI, como mostrado
na tabela 2.
Tabela 2- Classificação do SPI segundo McKee et al. (1993)
Valores do SPI
Categoria
Probabilidade
>2
Chuva extrema
2,3%
1,5 a 1,99
Chuva severa
4,4%
1,0 a 1,49
Chuva moderada
9,2%
-0,99 a 0,99
Normal
68,2%
-1,0 a -1,49
Seca moderada
9,2%
-1,5 a -1,99
Seca severa
4,4%
< -2
Seca extrema
2,3%
Taguatinga, enquanto os eventos secos foram
Resultados e Discussão
superiores aos chuvosos apenas em Belém. O
O número de casos dos eventos
número de casos em Iauretê e Porto Velho
severos e extremos de seca e chuva pelo SPI-
diferem
6 e 12, no período das décadas de 30 a 90 é
prevalecem
apresentado na tabela 3 e, de maneira geral, os
respectivamente. Em Manaus é possível
eventos
chuva
verificar a predominância de chuva no SPI-6 e
mostraram-se mais frequentes tanto para 6
no SPI-12, apesar da pouca diferença, eventos
quanto
de seca.
severos
para
12
e
extremos
meses
em
de
Cuiabá
e
Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A
apenas
para
eventos
o
SPI-12,
chuvosos
e
onde
secos,
1362
Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
Tabela 3 – Número de casos de eventos severos e extremos de chuva e seca para o SPI-6 e SPI-12
nas 6 localidades consideradas entre 1925 e 2000.
SPI-6
SPI-12
Chuva Seca Chuva Seca
BELÉM
54
63
40
60
CUIABÁ
69
45
76
56
IAUARETÊ
63
63
70
50
MANAUS
62
53
49
52
PORTO VELHO
48
49
43
59
TAGUATINGA
61
33
58
54
severos e extremos de seca que chegam a
A frequência percentual decenal dos
atingir 40% do total; Em Taguatinga a
eventos severos e extremos de chuva e seca
ocorrência mais relevante encontra-se nas
pelo SPI-6 são mostradas na figura 2 (a e b).
ultimas 3 décadas analisadas, quando a
Em relação aos eventos severos e extremos de
frequência dos SPIs passam de cerca de 30%
precipitação nota-se que na década de 70
de chuva nos anos 70 para 20% de seca em
esses representaram uma maior porcentagem
90, apresentando um mínimo (menos de 5%)
em todas as localidades quando comparados
na década de 80, para ambos os casos. A
aos eventos de seca. Para Cuiabá é possível
década mais chuvosa e seca nas estações de
verificar nas primeiras 3 décadas consideradas
Belém foram respectivamente 80 e 60,
uma baixa frequência de eventos tanto de seca
Manaus 80 e 50 e Porto Velho 70 e 30, nessas
quanto de chuva, situação que muda na
estações não foram observadas características
década de 60, que apresenta apenas eventos
predominantes com o passar das décadas.
de seca (cerca de 20%, pouco mais do dobro
Na figura 2 (c e d) é apresentada a
do que era observado) e nas ultimas 3 décadas
frequência percentual decenal dos eventos
os eventos chuvosos cresceram gradualmente,
severos e extremos de chuva e seca pelo SPI-
enquanto os de seca só voltaram apresentar
12, e é notável que os padrões se mantém
resultados relevantes em 90. Iauretê apresenta
quando
uma grande porcentagem de eventos de chuva
apresentados
entre 40 e 70, enquanto nas 2 últimas décadas
ocorrem apenas nos valores das frequências.
comparados
pelo
aos
SPI-6.
As
resultados
variações
consideradas são observados apenas eventos
Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A
1363
Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
Figura 2 - Frequência percentual decenal de eventos severos e extremos: SPI-6 de chuva (A) e seca
(B); SPI-12 de chuva (C) e seca (D).
Na
tabela
4
observam-se
as
e Iauretê. Em Belém este período chuvoso
características (início, fim, duração e SPI
coincidiu com a forte La Nina em 1988-1989,
médio) dos principais eventos severos e
que também pode ter influenciado um período
extremos secos e chuvosos pelo SPI-12, para
de 10 meses chuvosos em Manaus. A mais
as seis estações do estudo, entre 1925 e 2000,
longa seca durou 14 meses, em Iauretê (de
para eventos que persistiram por 6 meses ou
maio
mais. Todos os eventos observados no SPI-6
simultaneamente houve a ocorrência de um El
estão embutidos no SPI-12. Foram observadas
Niño de forte intensidade (1990 a 1993). Este
seqüências de eventos severos e extremos de
resultado corrobora os de Cotrim et al. (2000)
seca e de chuva em todas as estações, exceto
que observou que eventos de El Niño no
em Manaus, que não ocorreu persistência de
Oceano Pacífico parecem diminuir os totais
seca. As sequências mais chuvosas duraram
pluviométricos na Amazônia, enquanto nos de
13 meses e ocorreram em: Belém, Taguatinga
La Niña se observam anomalias positivas de
1990
a
junho
1991),
quando
precipitação.
Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A
1364
Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
Tabela 4 - Características dos principais eventos extremos de chuva e de seca, na região de estudo.
Sequências Chuvosas pelo SPI-12
Início
BELÉM
Fim
Sequências de Secas pelo SPI-12
Duração
SPI
(meses)
médio
Ago1962
Mai 1963
10
3,2
Jul 1987
Jul 1988
13
2,4
Nov 1944
Mai 1945
7
2,2
Set 1998
Jun 1999
10
2,4
Dez 1960
Mai 1961
6
2,5
Ago 1969
Ago 1970
13
3
Dez 1973
Mai 1974
6
2,2
Nov 1974
Jun 1975
8
2,2
Nov 1987
Ago 1988
10
2,8
Nov 1974
Ago 1975
10
3,1
Início
Fim
Duração
SPI
(meses)
médio
Ago 1966
Abr 1967
9
-2,3
Mai 1993
Nov 1993
8
-2,4
Mai 1990
Jun 1991
14
-2,4
Out 1940
Abr 1941
6
-2,5
Set 1986
Fev 1987
6
-2,1
Out 1987
Ago 1988
11
-2,9
Jul 1999
Mar 2000
9
-2,1
CUIABÁ
IAUARETÊ
MANAUS
PORTO
VELHO
Nov 1944
Jun 1945
8
2,2
Jun 1978
Jun 1979
13
2,3
TAGUATINGA
Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A
1365
Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
Na Figura 3 encontram-se as séries
localidades verificou-se SPI-6 iguais a 5 e o
temporais do SPI-6 e 12 e suas médias móveis
SPI-12 de 3,4. Para SPI negativo o menor
de
localidades
valor foi em Porto Velho (3,8) tanto para o
consideradas. Nota-se que para todos os casos
SPI-6 como para o SPI-12 em 1988. Em
apesar
a
Iauretê também nota-se, através das médias
amplitude apresentada pelo SPI-12 é menor
móveis, longos períodos de SPI positivo e
que os apresentados pelo SPI-6, já que à
negativo. Cuiabá apresenta em geral valores
medida que a escala de tempo aumenta o SPI
próximos de zero, exceto na década de 60
responde mais lentamente às variações na
(negativo) e a partir do fim da década de 80
precipitação. De acordo com McKee (1993)
quando passa a ser predominantemente
quando o período é curto (3 ou 6 meses), o
positivo. Em Taguatinga, a partir da década
SPI se move freqüentemente próximo ao zero;
de 70, ocorre um aumento no comprimento de
Quando a escala de tempo é maior (12, 24 ou
onda da oscilação, passando 15 anos (1940
48 meses), o SPI responde mais lentamente as
até 1955 e 1955 até 1970) para cerca de 30
mudanças na precipitação e os períodos com
anos (1970 a 2000).
SPI negativo ou positivo se tornam menores,
nenhum padrão de oscilação em Belém,
mas aumenta a duração dos eventos.
Manaus e Porto Velho. Todos esses resultados
60
meses
da
para
similaridade
as
6
dos
eventos,
Os maiores valores de SPI positivo
foram observados para Belém e Iauretê, em
corroboram
com
os
Não foi observado
observados
nas
frequências de SPI (figura 2).
1962 e 1970, respectivamente; Nas duas
Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A
1366
Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
Figura 3- Séries temporais dos SPI-6 e SPI-12 e suas e médias móveis de 60 meses para Belém (A),
Cuiabá (B), Iauaretê (C), Manaus (D), Porto Velho (E) e Taguatinga (F).
Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A
1367
Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370
Taguatinga as médias móveis de 60 meses
Conclusões
Este trabalho teve como objetivo
realizar uma análise anual e sazonal regional
mostram uma maior frequência de eventos
secos.
das frequências e intensidades de eventos
severos e extremos de seca e de chuva usando
Agradecimentos
os SPIs de 6 e 12 meses. Conclui-se que o SPI
Os autores deste trabalho agradecem a
é uma ferramenta muito útil para avaliar a
Fundação de Amparo a Ciência do Estado de
variabilidade espacial das frequências e
Pernambuco (FACEPE) pelo apoio financeiro
intensidades dos diferentes eventos de seca e
aos
chuva em diversas escalas de tempo, além de
disponibilização dos pluviométricos.
estudos
e
ao
LAMEPE
pela
suas principais características.
As frequências decenais do SPI 6 e 12
Referencias
concordam entre si na maioria dos casos,
indicando variações entre as décadas mais
Ambrizzi, T.; Rocha, R.; Marengo J. A. I.;
chuvosas e secas nos municípios estudados.
Pisnitchenko,
As décadas mais chuvosas e secas foram
regionalizados de clima no Brasil para o
respectivamente, em Belém 80 e 60, em
Século XXI: projeções de clima usando três
Cuiabá 90 e 60, em Manaus 80 e 30, em Porto
modelos regionais. Ministério Do Meio
Velho 70 e 80 e em Taguatinga 70 e 90. Em
Ambiente (MMA). Mudanças Climáticas
Iauretê a década mais chuvosa de acordo com
Globais e Efeitos sobre a Biodiversidade -
o SPI-6 é a de 60, enquanto pelo SPI-12 foi a
caracterização do clima atual e definição das
de 70, e a mais seca a de 90.
alterações
Foram
L.
A.
climáticas
2007.
para
o
Cenários
território
observados eventos com precipitação extrema
brasileiro ao longo do Século XXI. Brasília,
com duração superior a 10 meses em todas as
MMA/SBF.
estações, e eventos com mais de 1 ano em
Belém, Iauretê e Taguatinga. E uma seqüência
Castro, R. 1996. Distribuição Probabilística
de mais de 1 ano de seca em Iauretê. De
De Precipitação Na Região De Botucatu-Sp.
maneira geral, as estações localizadas na
88 F. Dissertação (Mestrado Em Agronomia),
região Norte sofrem a influência de La Ninã
Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 88
para eventos chuvosos, e de El Niño para
P.
eventos secos. As séries temporais dos SPIs 6
e 12 mostram longos períodos de oscilação
Cox, P. et al. 2008. Increase risk of
entre
sem
Amazonian Drought due to decreasing aerosol
tendências lineares significativas para Belém,
pollution. Nature (London), v. 453, p. 212-16;
eventos
secos
e
chuvosos,
Manaus, Cuiabá e Porto Velho. Em Iauretê e
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XXI: Projeções de clima futuro usando três
Congresso
XI
Brasileiro
Congresso
Brasileiro
climáticas
para
o
território
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