Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 Revista Brasileira de Geografia Física ISSN:1984-2295 Homepage: www.ufpe.br/rbgfe Análise de Eventos Extremos na Região Amazônica Thalyta Soares dos Santos¹, Ana Carla dos Santos Gomes2, Maytê Duarte Leal Coutinho3, Allan Rodrigues Silva4, Aline Anderson de Castro5 1 Doutoranda em Ciências Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, [email protected]. 2 Doutoranda em Ciências Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, [email protected]. 3 Doutoranda em Ciências Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, [email protected]. 4 Doutoranda em Ciências Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, [email protected]. 5Doutoranda em Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial, São José dos Campos, São Paulo, [email protected]. Artigo recebido em 31/07/2013 e aceito em 05/08/2013 RESUMO A frequência de eventos severos e extremos de seca e chuva na Amazônia foi analisada utilizando o Índice de Precipitação Normalizada (SPI) nas escalas de 6 (sazonal estação seca/chuvosa) e 12 meses (interanual). A frequência de eventos secos e chuvosos é importante para a climatologia da região, que é considerada um regulador climático global. Para isso foram selecionadas as séries climatológicas, de 1925 a 2000, de seis localidades da região Amazônica: Belém, Cuiabá, Iauretê, Manaus, Porto Velho, Taguatinga. Os SPIs, 6 e 12, que quantificam excesso ou déficit de chuva, nestas duas escalas de tempo, foram calculados a partir dos ajustes de distribuição gama, pelo método da máxima verossimilhança às médias móveis de 6 e 12 meses das precipitações mensais. Esses foram computados a partir da normalização das probabilidades gama, pelos seus respectivos desvios padrões. As séries temporais dos SPIs 6 e 12, mostram longos períodos de oscilação entre eventos secos e chuvosos. A frequência decenal de ambos SPIs indica variações entre as décadas mais chuvosas e secas nos municípios estudados. As décadas mais chuvosas e secas são periódicas para as duas escalas de tempo analisadas em todas as estações, exceto Iauretê. Palavras-Chave: SPI, Amazônia, Seca, Chuva Analysis of Extreme Events in the Amazon Region ABSTRACT The frequency of severe and extremes events of drought and rainfall in the Amazon was analyzed using the Standardized Precipitation Index (SPI) in the scales of six months (dry/wet seasons) and 12 months (inter-annual). This is important for the climatology of the region, which is considered a global climate regulator. With this objective, the climatological series from 1925 to 2000 were selected for six locations in the Amazon region: Belém, Cuiabá, Iauretê, Manaus, Porto Velho and Taguatinga. With the aim of quantify the excess or deficit of rainfall in the selected time scales, the SPIs 6 and 12 were calculated using the fit of the gamma distribution by the maximum likelihood method for the moving averages 6 and 12 months of monthly precipitation. These were computed from the normalization of gamma probabilities by its standard deviation. The time series of SPIs 6 and 12, show long periods of oscillation between dry and wet events. The frequency of both SPIs indicates variations between wet and dry decades in the cities studied. Wetter and drier decades were shown to be periodic for the two time scales considered in all locations, except for Iauretê. Key-Words: SPI, Amazon, Drought, Rain * E-mail para correspondência: [email protected] (Soares, T. S.). Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A 1356 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 com diferentes características climáticas, Introdução Na região Norte do Brasil diversos podendo também ser utilizado para trabalhos mostram que existem diferenças excedentes de precipitação. Esse índice pode significativas temporal, ser calculado em diversas escalas de tempo (1, espacial e na natureza das precipitações. 2, 3, 6, 12, 24, ... meses). Apesar de sua Marengo e Nobre (2009) afirmam que nesta origem na América do Norte, a utilização região, onde se situa a floresta amazônica, desse índice se encontra em expansão por observa-se um clima equatorial chuvoso, todo mundo. No Brasil, o SPI é um dos praticamente Ainda métodos preconizados pelo Instituto Nacional segundo esses autores, esta região apresenta de Meteorologia (INMET) para caracterizar significativa e anomalias de precipitação. Desde janeiro de sazonal da pluviosidade, sendo a região com 2002 o SPI vem sendo calculado para todo maior total pluviométrico anual. Dessa forma, país e, recentemente, esses resultados têm o conhecimento conciso da distribuição sido disponibilizados para o público em forma espaço-temporal da precipitação é de extrema de mapas. na sem distribuição estação seca. heterogeneidade espacial importância para o entendimento dos sistemas O SPI é considerado um dos melhores locais, de meso e grande escala que atingem a índices para avaliar eventos severos e região, contribuindo então para a evolução do extremos de seca e de chuva nas diversas clima escalas de tempo para fins climatológicos e de e da sustentabilidade dos seus ecossistemas como um todo. monitoramento. De maneira geral o SPI é Dessa forma, o estudo da distribuição, quantidade das média móvel das precipitações numa escala precipitações, têm sido estudadas em diversas de tempo (3, 6, 12 meses) em relação à pesquisas. Para isso são utilizados modelos climatologia deste mesmo período. Esse estatísticos e também índices de precipitação índice tem como base o ajuste de séries de como: o de Severidade de Secas (Palmer precipitação à distribuição gama incompleta. Drought e Severity monitoramento simplesmente a diferença normalizada de uma Index, PDSI), o de Alguns pesquisadores afirmam que o Anomalia de Precipitação (Rainfall Anomaly Brasil é vulnerável às mudanças climáticas Index, RAI), o de Precipitação Normalizada atuais e mais ainda às que se projetam para o ("Standardized Precipitation Index, SPI), futuro, especialmente quanto aos extremos dentre outros. climáticos. As áreas mais vulneráveis O índice de precipitação normalizada compreendem a Amazônia e o Nordeste do (SPI) foi proposto por Mckee et al.(1993) Brasil, como mostrado em estudos recentes para quantificar o déficit de precipitação nas (Marengo, 2007; Ambrizzi et al., 2007; diversas escalas de tempo, e comparar regiões Marengo et al., 2007). O conhecimento sobre Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A 1357 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 possíveis cenários climático-hidrológicos variabilidade do clima. Cox et al. (2008) futuros e as suas incertezas pode ajudar a ainda afirma que as chances de ocorrerem estimar demandas de água no futuro e períodos de intensa seca na região da também a definir políticas ambientais de uso e Amazônia podem aumentar dos atuais 5% gerenciamento de água para o futuro. (uma forte estiagem a cada vinte anos) para De acordo com Marengo (2004) para a 50% em 2030 e até 90% em 2100. Amazônia não se observa uma tendência clara As projeções de clima futuro, de aumento ou redução nas chuvas (em razão liberadas pelo Quarto Relatório do IPCC AR4 do desmatamento), apresentando mais uma (IPCC, 2007 a, b), e pelo Relatório de Clima tendência interdecadais do INPE (Marengo et al., 2007 a e b; contrastantes entre a Amazônia do Norte e do Ambrizzi et al., 2007) têm mostrado cenários Sul. de secas e eventos extremos de chuva em de variações Li et al. (2006), usando resultados de algumas regiões do Brasil. Esses relatórios diversos modelos climáticos globais do apontam que uma região bastante vulnerável, Intergovernmental Panel on Climate Change do ponto de vista social à mudança de clima, Fourth Assessment Report (IPPC AR4) seria o interior de Nordeste, conhecida como preveem diferentes padrões da precipitação na semi-árido, Amazônia sob a influência do cenário SRES Reduções de chuva aparecem na maioria dos A1B modelos globais do IPCC AR4. Isso acarreta (caracterizado econômico mundial) rápido para crescimento a mudança climática global. Cinco de onze modelos estudados preveem um aumento ou simplesmente o sertão. reduções de até 15-20% nas vazões do rio São Francisco. da Dessa forma, o objetivo deste trabalho é precipitação anual, três modelos preveem um avaliar o comportamento decenal dos eventos decréscimo na precipitação e os outros três severos e extremos de seca e chuva na região não indicam padrão significativo de mudança Amazônica. da precipitação na Amazônia. Segundo Marengo e Nobre (2009) pesquisas recentes das tendências climáticas Material e Métodos na Amazônia não demonstram tendências unidirecionais em grande escala na chuva. O estudo será realizado para as regiões Esses autores afirmam ainda que segundo Norte do Brasil. A escolha destas regiões análises observacionais, ainda não foram deve-se ao fato que a região Norte inclui a notadas tendências de redução na precipitação maior extensão de floresta tropical da Terra, na região, e são mais notórias as tendências superior interanuais quadrados, e responde por aproximadamente e interdecenais típicas da Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A a 5 milhões de quilômetros 1358 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 um quarto das espécies animais e vegetais do regulador dos balanços de energia e hídrico, planeta. A região Amazônica desempenha um pode influenciar a circulação atmosférica e a importante papel no clima global, e a floresta precipitação regional (Marengo e Nobre, amazônica é considerada um importante 2009). Figura 1 - Localização das estações na região Amazônica, utilizadas no estudo. Fonte: Elaborada pelo autor. Neste trabalho foram utilizados séries 12 meses (SPI-1,SPI-3, SPI-6 e SPI-12). As de dados climatológicas mensais de 6 localidades selecionadas no estudo estão bem estações meteorológicas do Instituto Nacional distribuídas ao longo da região Amazônica de Meteorologia (INMet) na Amazônia, no possuem diferentes características climáticas, período de 1925 a 2000, para realizar o e são identificadas na figura 1 e detalhadas na cálculo do SPI nas escalas de tempo 1, 3, 6 e tabela 1. Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A 1359 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 Tabela 1 – Localização das estações meteorológicas. Estação Latitude Longitude Altitude Belém – PA 1027’ S 48028’ W 24 m Cuiabá 15033’S 56007’ W 151 m Iauretê 0037’ N 69°12’ W 120 m Manaus – AM 3008’ S 60001’ W 72 m Porto Velho 08046’ S 63055’ W 95 m Taguatinga 0 12 24’ S 0 46 26’ W 604 m Foram selecionadas as escalas de De maneira geral, o SPI denota tempo do SPI de 3, 6 e 12 meses, para as quantidade de precipitação para uma dada quais é construído médias móveis das séries escala de tempo, dando a indicação da relação temporais de SPI semestral (SPI-6) e anual dessa quantidade com uma distribuição (SPI-12) centrada nos 12 meses do ano. A normal, indicando então se vai ocorrer um escala semestral do SPI representa os eventos período seco ou chuvoso. De acordo com de para McKee et al. (1993) a série histórica é monitoramento do período de transição entre ajustada a uma distribuição de probabilidade estação seca e a chuvosa. O SPI anual reflete gama padrões de precipitação de longo prazo; É verossimilhança neste estudo), a qual é então uma importante ferramenta para monitorar a transformada em uma distribuição normal. variabilidade anual e interanual. Como as precipitações têm uma distribuição média duração; É importante (pelo método da máxima A escolha da escala temporal usada assimétrica, a distribuição gama, é geralmente para o cálculo do índice relaciona-se com o utilizada para representar a distribuição tempo necessário para que os efeitos para que teórica para essa variável. Vários estudos os eventos de seca e de chuva se façam sentir mostram que a distribuição gama descreve sobre os diferentes setores de atividade e adequadamente o comportamento das chuvas, sobre os recursos hídricos em geral. Deste dentre os quais podem ser citados os de Thom modo, escalas de tempo mais curtas ou mais (1958), Castro (1996) e Cunha et al. (1997). longas refletem diferentes tempos de resposta De acordo com Wilks (1990), a popularidade dos recursos hídricos às anomalias de da distribuição gama para descrever dados de precipitação. À medida que a escala temporal precipitação se deve do fato de que ela aumenta, o SPI responde mais lentamente a fornece mudanças na precipitação (McKee et al., envolvendo apenas dois parâmetros (forma e uma representação flexível 1993). Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A 1360 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 escala), daí ser amplamente utilizada em ̅ ̂ ̂ climatologia de precipitação. Os parâmetros de forma (alfa) e escala (beta) são estimados para cada ponto de Como a distribuição gama é indefinida grade, para cada mês do ano e para cada pra escala temporal (3, 6 e 12 meses). ocorrências de chuva A distribuição gama de probabilidade tem como função densidade , deve-se corrigi-la para as não , ( ), McKee et ( ) para x>0 ( ) ) McKee et al., (1993): al., 1993: ( ) ( ( na qual: = probabilidade precipitação zero na qual: = parâmetro de forma da distribuição gama (simetria e achatamento dos dados) ) ( ) de ocorrência de = número de observações com chuva igual a zero = número total de observações = parâmetro de escala da distribuição gama (dispersão) = quantidade de precipitação para o mês de interesse (mm) A conversão equiprobabilística de uma variável ( ) gama distribuída numa normal (SPI) pode ser feita simplesmente usando a ( ) = função gama completa ( Os parâmetros e ̂ ̂ ) e o desvio padrão da gama média ( ̅ √ ̂ ̂ ) na variável reduzida da normal da distribuição ( gama para uma dada variável aleatória ( ) foram inicialmente estimados pelo método da ̅) . Na qual: máxima verossimilhança conforme Thom = 3, 6, 12 meses (1958), por: Os SPIs para cada mês foram obtidos ̂ √ ( ) como os desvios normalizados pela média e desvio padrão da distribuição gama. Os SPIs mensais, nas escalas de tempo de (6 e 12 Na qual: ( ̅) ∑ meses) foram classificados segundo McKee (1993), e a cada valor de precipitação Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A 1361 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 corresponde um valor de SPI, como mostrado na tabela 2. Tabela 2- Classificação do SPI segundo McKee et al. (1993) Valores do SPI Categoria Probabilidade >2 Chuva extrema 2,3% 1,5 a 1,99 Chuva severa 4,4% 1,0 a 1,49 Chuva moderada 9,2% -0,99 a 0,99 Normal 68,2% -1,0 a -1,49 Seca moderada 9,2% -1,5 a -1,99 Seca severa 4,4% < -2 Seca extrema 2,3% Taguatinga, enquanto os eventos secos foram Resultados e Discussão superiores aos chuvosos apenas em Belém. O O número de casos dos eventos número de casos em Iauretê e Porto Velho severos e extremos de seca e chuva pelo SPI- diferem 6 e 12, no período das décadas de 30 a 90 é prevalecem apresentado na tabela 3 e, de maneira geral, os respectivamente. Em Manaus é possível eventos chuva verificar a predominância de chuva no SPI-6 e mostraram-se mais frequentes tanto para 6 no SPI-12, apesar da pouca diferença, eventos quanto de seca. severos para 12 e extremos meses em de Cuiabá e Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A apenas para eventos o SPI-12, chuvosos e onde secos, 1362 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 Tabela 3 – Número de casos de eventos severos e extremos de chuva e seca para o SPI-6 e SPI-12 nas 6 localidades consideradas entre 1925 e 2000. SPI-6 SPI-12 Chuva Seca Chuva Seca BELÉM 54 63 40 60 CUIABÁ 69 45 76 56 IAUARETÊ 63 63 70 50 MANAUS 62 53 49 52 PORTO VELHO 48 49 43 59 TAGUATINGA 61 33 58 54 severos e extremos de seca que chegam a A frequência percentual decenal dos atingir 40% do total; Em Taguatinga a eventos severos e extremos de chuva e seca ocorrência mais relevante encontra-se nas pelo SPI-6 são mostradas na figura 2 (a e b). ultimas 3 décadas analisadas, quando a Em relação aos eventos severos e extremos de frequência dos SPIs passam de cerca de 30% precipitação nota-se que na década de 70 de chuva nos anos 70 para 20% de seca em esses representaram uma maior porcentagem 90, apresentando um mínimo (menos de 5%) em todas as localidades quando comparados na década de 80, para ambos os casos. A aos eventos de seca. Para Cuiabá é possível década mais chuvosa e seca nas estações de verificar nas primeiras 3 décadas consideradas Belém foram respectivamente 80 e 60, uma baixa frequência de eventos tanto de seca Manaus 80 e 50 e Porto Velho 70 e 30, nessas quanto de chuva, situação que muda na estações não foram observadas características década de 60, que apresenta apenas eventos predominantes com o passar das décadas. de seca (cerca de 20%, pouco mais do dobro Na figura 2 (c e d) é apresentada a do que era observado) e nas ultimas 3 décadas frequência percentual decenal dos eventos os eventos chuvosos cresceram gradualmente, severos e extremos de chuva e seca pelo SPI- enquanto os de seca só voltaram apresentar 12, e é notável que os padrões se mantém resultados relevantes em 90. Iauretê apresenta quando uma grande porcentagem de eventos de chuva apresentados entre 40 e 70, enquanto nas 2 últimas décadas ocorrem apenas nos valores das frequências. comparados pelo aos SPI-6. As resultados variações consideradas são observados apenas eventos Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A 1363 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 Figura 2 - Frequência percentual decenal de eventos severos e extremos: SPI-6 de chuva (A) e seca (B); SPI-12 de chuva (C) e seca (D). Na tabela 4 observam-se as e Iauretê. Em Belém este período chuvoso características (início, fim, duração e SPI coincidiu com a forte La Nina em 1988-1989, médio) dos principais eventos severos e que também pode ter influenciado um período extremos secos e chuvosos pelo SPI-12, para de 10 meses chuvosos em Manaus. A mais as seis estações do estudo, entre 1925 e 2000, longa seca durou 14 meses, em Iauretê (de para eventos que persistiram por 6 meses ou maio mais. Todos os eventos observados no SPI-6 simultaneamente houve a ocorrência de um El estão embutidos no SPI-12. Foram observadas Niño de forte intensidade (1990 a 1993). Este seqüências de eventos severos e extremos de resultado corrobora os de Cotrim et al. (2000) seca e de chuva em todas as estações, exceto que observou que eventos de El Niño no em Manaus, que não ocorreu persistência de Oceano Pacífico parecem diminuir os totais seca. As sequências mais chuvosas duraram pluviométricos na Amazônia, enquanto nos de 13 meses e ocorreram em: Belém, Taguatinga La Niña se observam anomalias positivas de 1990 a junho 1991), quando precipitação. Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A 1364 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 Tabela 4 - Características dos principais eventos extremos de chuva e de seca, na região de estudo. Sequências Chuvosas pelo SPI-12 Início BELÉM Fim Sequências de Secas pelo SPI-12 Duração SPI (meses) médio Ago1962 Mai 1963 10 3,2 Jul 1987 Jul 1988 13 2,4 Nov 1944 Mai 1945 7 2,2 Set 1998 Jun 1999 10 2,4 Dez 1960 Mai 1961 6 2,5 Ago 1969 Ago 1970 13 3 Dez 1973 Mai 1974 6 2,2 Nov 1974 Jun 1975 8 2,2 Nov 1987 Ago 1988 10 2,8 Nov 1974 Ago 1975 10 3,1 Início Fim Duração SPI (meses) médio Ago 1966 Abr 1967 9 -2,3 Mai 1993 Nov 1993 8 -2,4 Mai 1990 Jun 1991 14 -2,4 Out 1940 Abr 1941 6 -2,5 Set 1986 Fev 1987 6 -2,1 Out 1987 Ago 1988 11 -2,9 Jul 1999 Mar 2000 9 -2,1 CUIABÁ IAUARETÊ MANAUS PORTO VELHO Nov 1944 Jun 1945 8 2,2 Jun 1978 Jun 1979 13 2,3 TAGUATINGA Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A 1365 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 Na Figura 3 encontram-se as séries localidades verificou-se SPI-6 iguais a 5 e o temporais do SPI-6 e 12 e suas médias móveis SPI-12 de 3,4. Para SPI negativo o menor de localidades valor foi em Porto Velho (3,8) tanto para o consideradas. Nota-se que para todos os casos SPI-6 como para o SPI-12 em 1988. Em apesar a Iauretê também nota-se, através das médias amplitude apresentada pelo SPI-12 é menor móveis, longos períodos de SPI positivo e que os apresentados pelo SPI-6, já que à negativo. Cuiabá apresenta em geral valores medida que a escala de tempo aumenta o SPI próximos de zero, exceto na década de 60 responde mais lentamente às variações na (negativo) e a partir do fim da década de 80 precipitação. De acordo com McKee (1993) quando passa a ser predominantemente quando o período é curto (3 ou 6 meses), o positivo. Em Taguatinga, a partir da década SPI se move freqüentemente próximo ao zero; de 70, ocorre um aumento no comprimento de Quando a escala de tempo é maior (12, 24 ou onda da oscilação, passando 15 anos (1940 48 meses), o SPI responde mais lentamente as até 1955 e 1955 até 1970) para cerca de 30 mudanças na precipitação e os períodos com anos (1970 a 2000). SPI negativo ou positivo se tornam menores, nenhum padrão de oscilação em Belém, mas aumenta a duração dos eventos. Manaus e Porto Velho. Todos esses resultados 60 meses da para similaridade as 6 dos eventos, Os maiores valores de SPI positivo foram observados para Belém e Iauretê, em corroboram com os Não foi observado observados nas frequências de SPI (figura 2). 1962 e 1970, respectivamente; Nas duas Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A 1366 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 Figura 3- Séries temporais dos SPI-6 e SPI-12 e suas e médias móveis de 60 meses para Belém (A), Cuiabá (B), Iauaretê (C), Manaus (D), Porto Velho (E) e Taguatinga (F). Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A 1367 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 Taguatinga as médias móveis de 60 meses Conclusões Este trabalho teve como objetivo realizar uma análise anual e sazonal regional mostram uma maior frequência de eventos secos. das frequências e intensidades de eventos severos e extremos de seca e de chuva usando Agradecimentos os SPIs de 6 e 12 meses. Conclui-se que o SPI Os autores deste trabalho agradecem a é uma ferramenta muito útil para avaliar a Fundação de Amparo a Ciência do Estado de variabilidade espacial das frequências e Pernambuco (FACEPE) pelo apoio financeiro intensidades dos diferentes eventos de seca e aos chuva em diversas escalas de tempo, além de disponibilização dos pluviométricos. estudos e ao LAMEPE pela suas principais características. As frequências decenais do SPI 6 e 12 Referencias concordam entre si na maioria dos casos, indicando variações entre as décadas mais Ambrizzi, T.; Rocha, R.; Marengo J. A. I.; chuvosas e secas nos municípios estudados. Pisnitchenko, As décadas mais chuvosas e secas foram regionalizados de clima no Brasil para o respectivamente, em Belém 80 e 60, em Século XXI: projeções de clima usando três Cuiabá 90 e 60, em Manaus 80 e 30, em Porto modelos regionais. Ministério Do Meio Velho 70 e 80 e em Taguatinga 70 e 90. Em Ambiente (MMA). Mudanças Climáticas Iauretê a década mais chuvosa de acordo com Globais e Efeitos sobre a Biodiversidade - o SPI-6 é a de 60, enquanto pelo SPI-12 foi a caracterização do clima atual e definição das de 70, e a mais seca a de 90. alterações Foram L. A. climáticas 2007. para o Cenários território observados eventos com precipitação extrema brasileiro ao longo do Século XXI. Brasília, com duração superior a 10 meses em todas as MMA/SBF. estações, e eventos com mais de 1 ano em Belém, Iauretê e Taguatinga. E uma seqüência Castro, R. 1996. Distribuição Probabilística de mais de 1 ano de seca em Iauretê. De De Precipitação Na Região De Botucatu-Sp. maneira geral, as estações localizadas na 88 F. Dissertação (Mestrado Em Agronomia), região Norte sofrem a influência de La Ninã Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 88 para eventos chuvosos, e de El Niño para P. eventos secos. As séries temporais dos SPIs 6 e 12 mostram longos períodos de oscilação Cox, P. et al. 2008. Increase risk of entre sem Amazonian Drought due to decreasing aerosol tendências lineares significativas para Belém, pollution. Nature (London), v. 453, p. 212-16; eventos secos e chuvosos, Manaus, Cuiabá e Porto Velho. Em Iauretê e Santos, T. S.; Silva, A. R.; Gomes, A. C. S.; Coutinho, M. D. L.; Castro, A. A 1368 Revista Brasileira de Geografia Física v.6 n.4 (2013) 1356-1370 Cunha, A. R.; Martins, D.; Passos, J. R. S. Marengo, J. A. 2007. Mudanças climáticas 1997. O modelo gama de probabilidade globais e seus efeitos sobre a biodiversidade - aplicado ao estudo da distribuição da chuva caracterização do clima atual e definição das mensal na região administrativa de Bauru-SP. alterações In: De brasileiro ao longo do século XXI. 2. ed. Agrometeorologia, 1997, Campos do Jordão. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, v.1, Anais... Campos do Jordão: SBA, p. 107-110. p.214. Cutrim, E. M. C, Molion, L. B.; Nechet, D. Marengo J. A.; Alves, L. M.; Valverde, M ; 2000. 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