ÁREA TEMÁTICA: Populações, Gerações e Ciclos de Vida TÍTULO DA COMUNICAÇÃO: Modelação de movimentos migratórios inter-regionais 3º Autor 2º Autor 1º Autor IDENTIFICAÇÃO DO(S) AUTOR(ES): MARTINS, José Doutor em Ciências Aplicadas ao Ambiente, Universidade de Aveiro, [email protected] SILVA, Carlos Mestrando em Planeamento Regional e Urbano, Universidade de Aveiro, [email protected] CASTRO, Eduardo Doutor em Ciências Aplicadas ao Ambiente, Universidade de Aveiro, [email protected] . 2 de 20 Resumo O projeto de investigação Demospin (financiado pela FCT) tem como principal objetivo a conceção de uma ferramenta de apoio à definição de políticas de desenvolvimento de regiões demograficamente deprimidas. A partir de dados demográficos e económicos, está em construção um modelo integrado que permite estimar, para um conjunto de cenários, a evolução conjunta da demografia e da economia, nos próximos 20 anos. Um desafio importante neste quadro é encontrar modelos explicativos para o fenómeno da migração a nível regional. Nesta comunicação apresentam-se as metodologias utilizadas e os resultados obtidos. O modelo desenvolvido relaciona a migração com (i) a variação do emprego, (ii) o PIB per capita da região face ao nacional e (iii) o potencial demográfico regional relativo. Consegue explicar relativamente bem a migração dos grupos etários mais jovens, mas apresenta resultados menos satisfatórios para a explicação da migração dos mais velhos. De facto, enquanto os mais jovens emigram das zonas mais deprimidas, respondendo sobretudo a estímulos económicos, os mais velhos parecem empreender um processo de retorno, relacionado com movimentos emigratórios anteriores. Este regresso de emigrantes é muito importante para as zonas deprimidas, na ótica da sustentabilidade económica das regiões. O estudo e compreensão destes fenómenos é indubitavelmente de grande importância para o desenho e avaliação de políticas públicas de desenvolvimento regional. Abstract The research project Demospin (funded by FCT) aims the conception of a tool to support the setting of development policies to demographic depressed regions. From demographic and economic data, the research team is developing an integrated model to forecast, under scenarios, the evolution of both demography and economy for the next 20 years. In this framework, an important challenge consists of finding explanatory models to the regional migratory phenomenon. This paper presents some of the adopted methodologies and the obtained outcomes. The developed model links migration to (i) the variation of employment opportunities, (ii) the relative GDP per capita and (iii) the relative demographic potential of the region. It reveals a good explanatory ability to enlighten the younger age groups migration, but it shows unsatisfying results to explain elderly people migration. In fact, whereas the younger population migrates from the more depressed regions, responding above all to economic stimulus, the elderly one seems to undertake a return proceeding, related with former out migration flows. This return of emigrants is very important to depressed regions, under the economic sustainability point of view of the regions. The knowledge about these phenomena is doubtless an important issue to design and evaluate public policies of regional development. Palavras-chave: dinâmicas migratórias, envelhecimento populacional, modelos de estimação, regiões periféricas, retorno de migrantes Keywords: ageing population, estimation models, migrants return, migration dynamics, peripheral regions NÚMERO DE SÉRIE: PAP1036 3 de 20 4 de 20 1. Introdução Esta comunicação apresenta modelos para estimar migrações inter-regionais, desenvolvidos no âmbito do projeto DEMOSPIN – Demografia economicamente sustentável – Reverter o declínio em áreas periféricas (www.ua.pt/getin_ua/demospin/). Este projeto, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), tem como principal objetivo a construção de uma ferramenta de análise para apoio dos decisores políticos, na definição de estratégicas para o desenvolvimento de regiões demograficamente deprimidas. A metodologia delineada combina técnicas de projeção demográfica com modelos de desenvolvimento regional, relacionando a criação de novos empregos com a estimação de saldos migratórios. Os resultados são constituídos por estimativas de crescimento económico e de evolução da população nas regiões do interior português, até 2030, de acordo com diferentes cenários socioeconómicos. Espera-se que estas previsões possam contribuir para sustentar políticas capazes de reverter o declínio demográfico nestas áreas, o qual se caracteriza por baixas taxas de fecundidade, associadas a envelhecimento crescente e a perda de população. Assim, a recuperação demográfica pretendida apenas será possível através da atração de população jovem, em resposta a oportunidades de emprego. Por isso o estudo do fenómeno migratório e a estimação dos fluxos que o compõem assumem importante papel no projeto, seja pelo seu peso crescente nas dinâmicas da população, seja porque as migrações são o principal elemento através do qual a economia influencia a demografia (Ramos et al., 2011). O modelo de estimação de migrações desenvolvido e testado empiricamente explica os saldos migratórios em cada região como sendo uma função (i) do crescimento líquido do emprego, (ii) da proporção do PIB per capita regional relativamente ao nacional e (iii) do potencial demográfico relativo da região face à média, ponderada pela população, dos valores de todas as regiões. Os resultados obtidos correspondem às expectativas da equipa de investigação: o modelo revela elevada capacidade para estimar saldos migratórios nos grupos etários da população em idade ativa (15-64 anos). Inversamente – e como igualmente esperado – apresenta fracos resultados na previsão de saldos migratórios da população com mais idade, cujas motivações para se deslocar não estão, geralmente, relacionadas com oportunidades de emprego. Para trabalhar as migrações dos mais velhos foi desenvolvido um modelo diferente que também é apresentado, apesar dos seus resultados empíricos ainda não estarem disponíveis. Cinco secções compõem esta comunicação: (i) fundamentos para o relevo atribuído às migrações, tanto pelo seu peso nas dinâmicas demográficas como pela sua estreita ligação à economia; (ii) principais tendências migratórias nas 30 regiões NUTS III portuguesas; (iii) modelação dos movimentos migratórios; (iv) principais resultados obtidos pelos modelos na estimação dos saldos migratórios e (v) conclusões. 2. A importância das migrações 2.1. Nas dinâmicas demográficas Em resultado do aumento da esperança de vida e da queda da fecundidade, os movimentos da população ganham importância, dada a diminuição do impacto da alteração natural nas dinâmicas populacionais dos países mais desenvolvidos (Bijak, 2006). Por isso, estimar os movimentos migratórios das populações assume relevo crescente no exercício prospetivo em demografia. Por outro lado, o rápido e acentuado envelhecimento populacional terá como consequência previsível a diminuição da população e a alteração expressiva da sua estrutura etária. As implicações económicas e sociais destes fenómenos tenderão a ser significativas nas sociedades futuras, com destaque para a diminuição e o envelhecimento da força de trabalho e para maior pressão nos sistemas de segurança social (Lutz et al., 2008). Ora esta tendência de desequilíbrio demográfico só pode ser revertida, no imediato, com a imigração de população ativa e mais jovem, o que aponta para o reforço dos fluxos migratórios. De facto, como referem Park e Hewings (2007), a tentativa de alterar a fecundidade levará alguns anos a ter impacto na economia (através da expansão da força de trabalho), [enquanto] um incremento na imigração de população entre 20-35 anos teria um efeito imediato. 5 de 20 Nas regiões do interior português, objeto de estudo do projeto DEMOSPIN, DEMOSPIN o fenómeno migratório assume ainda maior relevância, dado o valor particularmente elevado atingido pelo índice de envelhecimento (razão entre a população maior de 65 anos e a menor de 15). Ou seja, nestas regiões, regiões, qualquer política de incentivo à natalidade resulta pouco eficaz – agravada pela insuficiência de efetivos populacionais de mulheres em idade fértil (15 a 49 anos) – pelo que se torna quase impossível reverter o declínio demográfico através da recuperação peração do saldo natural. Resta a alternativa de atrair população jovem que se desloque em resposta a solicitações de emprego. O gráfico seguinte ilustra esta realidade, evidenciando a subida do índice de envelhecimento nas regiões do interior, registado nos n censos de 1981, 1991, 2001 e 2011 (INE). 350 300 250 200 150 100 50 0 Índice 1981 Índice Portugal 81 Indice 1991 Índice Portugal 91 Índice 2001 Índice Portugal 01 Índice 2011 Índice Portugal 11 Gráfico 1: Índices de Envelhecimento nas 14 NUTS III do interior e valores médios no País. Os reflexos do envelhecimento da população na proporção da dimensão da força de trabalho destas regiões começam a ser sentidos em 2011 – segundo os dados provisórios dos censos do INE – invertendo a tendência de crescimento verificada na generalidade das regiões do interior até aos censos de 2001. No entanto, neste momento censitário (2011), o valor agregado do peso da população em idade ativa (15-64 (15 anos) no total da população era ainda superior, em 1,1 pontos percentuais,, ao encontrado nos censos de 1981 (61,8% (61, contra 60,7%). A tendência de decréscimo da força de trabalho acentuar-se-á acentuar nos próximos óximos 20 anos, de acordo com a previsão da equipa DEMOSPIN para a população fechada em 2030, 2030, devendo apresentar o valor agregado de 60,1% % para as regiões do interior (inferior em 1,7 pontos percentuais ao valor de 2011). 2011) 66% 64% 62% 60% 58% 56% 54% 52% 50% 1981 1991 2001 2011 2030 (estim) Interior Interior Interior Interior Interior Gráfico 2: Proporção da população em idade em idade ativa (15-64 64 anos) no total (NUTS III do interior). interior) De notar entretanto que, entre 2011 e 2030, deverá ser muito mais intensa a perda absoluta de população em idade ativa (14,2%) – na linha do decréscimo da dimensão dim populacional – do que a diminuição do seu peso na população total (2,7%), sendo que em quatro das regiões do interior se poderá até verificar inversão na tendência de perda. 6 de 20 -25% Minho-Lima Douro Alto Trás-os-montes Pinhal Interior Norte Dão-Lafões Pinhal Interior Sul Serra da Estrela Beira Interior Norte Beira Interior Sul Cova da Beira Alentejo Litoral Alto Alentejo Alentejo Central Baixo Alentejo -20% -15% -10% -5% 0% 5% Relativa Absoluta Gráfico 3: Variação da população em idade ativa, quer em valores absolutos, quer no seu peso relativamente à população total, entre 2011 e 2030 (estimada), nas regiões do interior. Não admira pois que apesar da fecundidade ter, geralmente, maior impacto no crescimento da população no longo prazo, as migrações nele exerçam grande influência, em particular nos países mais desenvolvidos, onde representaram perto de metade da taxa de crescimento da população, no início da década de 90. Expressivo o caso da Europa Ocidental, em que os saldos migratórios significaram mais de 80% do acréscimo de população naquele período. Em países como Itália, Alemanha ou Rússia, foram os saldos migratórios positivos que reverteram os saldos naturais negativos (O’Neil et al., 2001). Em Portugal, a análise do comportamento das taxas de crescimento intercensitário da população (efetivo, natural e migratório) ao nível do País, confirma o peso das taxas de crescimento migratório (4,1% entre 1991 e 2001 e 1,8% no decénio seguinte) face ao das taxas de crescimento natural (0,9% no primeiro decénio em análise e 0,2% no segundo), sendo o saldo migratório responsável por 82,6% do crescimento verificado entre 1991 e 2001 e por 91,2% do apurado entre 2001 e 2011. Mas, se é verdade que o impacto do saldo natural nas dinâmicas da população tem diminuído ao nível dos países desenvolvidos – fruto do decréscimo das taxas de mortalidade e do aumento da esperança de vida nos diferentes grupos de idades e da diminuição do índice sintético de fecundidade das mulheres em idade fértil – grandes assimetrias se podem encontrar ao nível dos movimentos populacionais nas regiões. Desagregando o País em duas unidades territoriais - litoral e interior - a tendência mantém-se no primeiro grupo: 4,8% e 2,2% (primeiro e segundo decénios) para a taxa de crescimento migratório - o que representa 68,6% e 59,1% do total do saldo efetivo em cada decénio - contra 2,2% e 1,5% para a taxa de crescimento natural, nos mesmos períodos; já as regiões do interior têm comportamento inverso: a dinâmica populacional assenta sobretudo em saldos naturais, os quais respondem por 73,5% do total da dinâmica no primeiro decénio e por 98,9% na do segundo, ao apresentarem taxas de crescimento natural negativas (-4,1% no primeiro decénio e -5,4% no segundo), em contraste com o menor impacto das migrações - 1,5% é o valor da taxa de crescimento migratório no primeiro decénio e -0,1% no segundo. Assim, pode afirmar-se que, no conjunto das 14 regiões do interior, a perda de população resultante do saldo natural negativo entre nascimentos e óbitos não é compensada com fluxos imigratórios, pelo menos desde 1991. De notar ainda que, no 2º decénio, a taxa de crescimento migratório nestas regiões apresenta valor negativo, provavelmente indiciadora de um ciclo de causalidade igualmente negativa. A análise desagregada ao nível das 30 NUTS III permite reforçar a identificação de comportamentos dicotómicos: entre 1991 e 2001, a totalidade das regiões do litoral apresenta taxas de crescimento efetivo positivas, enquanto 9 das 14 regiões do interior, juntamente com a Região Autónoma da Madeira, evidenciam taxas negativas. No decénio 2001-2011, mantém-se o padrão dicotómico acima referido, mas com alterações: a totalidade das 14 regiões do interior apresenta taxas de crescimento efetivo negativas, embora 8 delas tenham registos de taxas de crescimento migratório positivas, no entanto incapazes de alterar o sinal negativo das taxas de crescimento natural. 7 de 20 NUTS III do litoral NUTS III do interior Código Regiões NUTS III da Tx. cresc. Região efetivo 1991-2001 2001-2011 Tx. cresc. natural Tx. cresc. migratório Tx. cresc. Tx. cresc. efetivo natural Tx. cresc. migratório Minho-Lima PT111 0,1% -2,2% 2,3% -2,1% -3,3% 1,2% Douro PT117 -7,0% -1,8% -5,3% -7,2% -4,1% -3,0% Alto Trás Montes PT118 -5,0% -4,3% -0,8% -8,3% -6,2% -2,0% Pinhal Interior Norte PT164 -0,7% -5,9% 5,2% -5,3% -6,4% 1,1% Dão Lafões PT165 1,4% -1,5% 2,9% -2,9% -2,8% -0,1% Pinhal Interior Sul PT166 -11,8% -9,4% -2,5% -9,1% -11,7% 2,6% Serra Estrela PT167 -7,7% -5,9% -1,8% -12,4% -8,8% -3,6% Beira Interior Norte PT168 -2,7% -5,8% 3,1% -9,5% -7,6% -1,9% Beira Interior Sul PT169 -3,6% -7,5% 3,9% -4,2% -8,4% 4,2% Cova Beira PT16A 0,5% -4,0% 4,5% -6,2% -4,4% -1,9% Alentejo Litoral PT181 1,5% -4,8% 6,2% -2,1% -4,9% 2,8% Alto Alentejo PT182 -5,6% -6,1% 0,5% -6,4% -7,8% 1,3% Alentejo Central PT183 0,2% -3,6% 3,9% -3,5% -4,3% 0,8% Baixo Alentejo PT184 -5,6% -7,0% 1,4% -6,3% -7,1% 0,8% Total Regiões do interior -2,63% -4,11% 1,48% -5,42% -5,36% -0,06% Cávado PT112 11,4% 6,6% 4,8% 4,5% 3,9% 0,6% Ave PT113 9,5% 6,2% 3,3% 0,3% 2,6% -2,4% Grande Porto PT114 8,0% 3,5% 4,5% 2,0% 2,1% -0,1% Tâmega PT115 8,4% 7,2% 1,2% -0,1% 3,4% -3,5% Entre Douro Vouga PT116 9,8% 4,9% 4,9% -0,6% 2,0% -2,6% Baixo Vouga PT161 10,1% 1,8% 8,3% 1,3% 0,3% 1,0% Baixo Mondego PT162 3,5% -1,3% 4,8% -2,4% -2,4% 0,0% Pinhal Litoral PT163 12,5% 1,8% 10,8% 4,1% 0,8% 3,3% Oeste PT16B 7,3% -1,2% 8,5% 6,6% -1,1% 7,7% Médio Tejo PT16C 2,1% -3,3% 5,4% -2,2% -3,5% 1,3% Grande Lisboa PT171 3,6% 1,2% 2,4% 4,7% 2,4% 2,3% Península Setúbal PT172 11,6% 1,8% 9,8% 8,9% 2,5% 6,4% Lezíria Tejo PT185 3,3% -3,3% 6,6% 2,9% -2,8% 5,7% Algarve PT150 15,7% -1,9% 17,6% 14,0% 0,1% 13,8% R A Açores PT200 1,8% 3,7% -1,9% 1,8% 2,0% -0,2% R A Madeira PT300 -3,3% 2,5% -5,8% 9,4% 0,8% 8,5% 7,03% 2,21% 4,82% 3,73% 1,53% 2,20% 4,98% 0,87% 4,11% 1,93% 0,17% 1,76% Total Regiões do litoral Portugal Tabela 1: Taxas de crescimento da população nas 30 NUTS III portuguesas. Fonte: INE 8 de 20 Os cartogramas seguintes permitem situar espacialmente a realidade descrita, através da divisão do território em dois grandes grupos – regiões com ganhos de população em contraponto com regiões que registaram perdas, subdivididas em três subgrupos cada, de acordo com a conjugação dos sinais das taxas de crescimento demográfico. Figura 1: Taxas de crescimento demográfico nas 30 NUTS III portuguesas. 2.2. As migrações na economia Quanto à relação entre as migrações e a economia, de referir que a metodologia do projeto DEMOSPIN evidencia a coevolução da demografia e economia, conduzindo à construção de um modelo que integra projeções demográficas com desenvolvimento regional. Neste modelo integrador assume-se que as migrações são o principal elemento através do qual a economia influencia a demografia (Ramos et al., 2011). De facto, em resposta a estímulos de natureza económica - como diferenças salariais - os trabalhadores deslocam-se das regiões onde os rendimentos são mais baixos para outras onde eles são mais elevados, pelo menos até ao momento em que o custo da deslocação é compensado pelo diferencial de rendimentos. Estes movimentos migratórios, muitas vezes seguidos por outros de reagrupamento familiar, têm impacto significativo, quer na dimensão quer na estrutura das populações, tanto das regiões de origem como das regiões de destino. Também a migração de populações mais idosas - motivada pela procura de localizações de residência mais amenas ou mais próximas de familiares e podendo representar movimentos de retorno de emigrações anteriores - tem impacto, tanto na dimensão como na estrutura das populações das regiões envolvidas nos movimentos migratórios. Por outro lado, também as migrações influenciam a economia: deslocam o fator de produção trabalho para onde ele é mais necessário, promovendo ganhos em eficiência e repondo o nivelamento entre oferta e procura de mão-de-obra. Ao promoverem este nivelamento em simultâneo nas regiões de destino e de origem, as migrações representam um processo necessário de equilíbrio económico espacial. 9 de 20 Mas a deslocação de populações faz igualmente crescer o consumo nas regiões de destino, pois o migrante é, simultaneamente, produtor e consumidor, concorrendo também para o aumento da procura de bens e serviços e, consequentemente, para um novo aumento da procura de trabalhadores por parte das empresas que os produzem; o inverso se passa nas regiões de origem – menos consumo, menos produção, menos necessidade de mão-de-obra – um fenómeno de dupla deslocalização, pelo que as migrações podem também ser um processo de desequilíbrio do sistema económico internacional e inter-regional, mais do que de equilíbrio (Termote, 2003), provocando, em contexto de competição, o aumento acentuado do desequilíbrio entre as regiões de destino e de origem das migrações (Overman et al., 2010). Fica assim evidenciada a interdependência entre os fluxos migratórios de população em idade ativa e a evolução económica. Importa agora analisar o impacto, na economia regional, dos fluxos migratórios de população aposentada, assumindo-se que esta não se desloca em busca de melhores salários, pelo que os seus movimentos migratórios não têm origem em fatores económicos – ainda que possam ser por eles influenciados (Wiseman, 1980). De acordo com Ramos et al. (2011), apesar de, à escala nacional, o envelhecimento populacional ser um problema, visto significar maior carga tributária sobre as gerações mais novas, ao nível regional pode representar uma vantagem: uma região pode dispor dos ganhos provenientes das pensões de uma população envelhecida, suportados por outras regiões com populações mais jovens. Estas transferências alimentam a procura local e podem ter efeitos positivos - indiretos e induzidos - na atividade económica local. Em resumo, as migrações inter-regionais são, atualmente, os principais mecanismos de ajustamento de que as economias regionais dispõem, quando atingidas por choques económicos [adversos]. Mas, a interdependência entre migrações e economia, resultante da mútua influência, permite concluir que, no final, as migrações devem ser o resultado do relativo sucesso ou do fracasso da economia regional assinalam Ramos et al., (2011). 3. Principais tendências migratórias nas 30 regiões NUTS III portuguesas As taxas de crescimento migratório nos decénios 1991 a 2001 e 2001 a 2011 refletem o peso dos saldos migratórios na população do ano de origem, incluindo tanto as migrações internacionais como as interregionais. A sua evolução nas regiões NUTS III em Portugal manifesta tendência para comportamentos mais homogéneos entre 2001 e 2011, face ao decénio anterior. Com efeito, os valores calculados para o desviopadrão mudam de 4,7% no primeiro decénio para 3,9% no segundo. Por outro lado, a média do País também diminui, apresentando valores de 4,1% e 1,8% para os mesmos períodos. Assim, enquanto no primeiro decénio se encontram 6 regiões com taxas de crescimento migratório negativo – Madeira, Douro, Pinhal Interior Sul, Açores, Serra da Estrela e Alto-Trás-os-Montes – entre 2001 e 2011 este número sobe para 11 e concentra-se geograficamente no nordeste do País. Também o padrão de distribuição apresenta mudanças: o primeiro decénio evidenciava uma nítida migração do interior para o litoral, longitudinal ao território do continente, ao passo que o segundo decénio associa, a essa característica persistente dos fluxos migratórios, maior intensidade de movimentos da população com origem no norte e destino no sul, o que permite apreender uma nova dicotomia sul-norte – um sul atractor versus um norte em perda de população. Convém no entanto salientar que, em rigor, o que pode ser afirmado com segurança é que o peso do saldo dos movimentos migratórios (imigração menos emigração) na população é mais favorável às regiões do litoral no primeiro decénio, apercebendo-se uma espécie de rotação no sentido anti-horário nesta diferenciação, no decurso do segundo decénio. De facto, nesta abordagem – e como referido – os saldos migratórios apresentados tratam de forma indiferenciada todos os movimentos da população, desde que impliquem mudança do lugar de residência (Nazareth, 2000), excluindo, portanto, os movimentos pendulares casa-trabalho entre regiões. Não distingue fluxos entre países (migrações externas) de fluxos entre regiões (migrações internas), nem diferencia quer a origem dos imigrantes quer o destino dos emigrantes de uma determinada região (NUTS III no caso deste estudo). Apura o saldo migratório, através da diferença dos efetivos populacionais entre dois momentos censitários, retirando o efeito do saldo natural na evolução da dimensão da população no respetivo período intercensitário. 10 de 20 Figura 2: Taxas de crescimento migratório nas 30 NUTS III portuguesas. Para a análise mais detalhada dos saldos migratórios em cada região NUTS III portuguesa, procedeu-se à sua desagregação por sexos e grupos de idades quinquenais. A partir dos dados dos censos de 1991 e de 2001 do INE, utilizou-se o método da população esperada, ou forward (Nazareth, 2000), que se baseia nos princípios do método das componentes das coortes geracionais e consiste em estimar a evolução da população de determinado grupo etário, no primeiro momento censitário, até atingir o segundo. Afetada pelos óbitos ocorridos nos grupos etários que atravessa, esta população sobrevivente estará, naturalmente, dez anos mais velha nos censos seguintes. Os nados-vivos deste período intercensitário, sujeitos à mortalidade conhecida, constituem os dois grupos de idades mais jovens. A diferença entre os efetivos estimados para determinado grupo de idades (população fechada) e os encontrados no segundo momento censitário (população aberta) representa o saldo migratório do grupo etário em referência. O estudo realizado apurou os valores dos saldos migratórios relativamente à população e permitiu traçar o perfil etário dos saldos migratórios: sem diferenças consideráveis ao nível dos sexos, o gráfico evidencia uma espécie de ciclo de vida no fenómeno migratório, distinguindo-se o seu comportamento entre as regiões do interior e as do litoral. 20% 15% 10% 5% -15% 70 e mais 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5a9 -10% 0a4 0% -5% -20% -25% -30% Regiões interior homens Regiões litoral homens Regiões interior mulheres Regiões litoral mulheres Gráfico 4: Saldos migratórios (1991-2001) por sexos e grupos de idades nas regiões do interior e do litoral. 11 de 20 Impunha-se, entretanto, saber quais as regiões perdedoras e ganhadoras de população, em resultado dos fluxos migratórios ocorridos. Para permitir esta leitura espacial, os saldos migratórios no período em análise foram agregados em três grandes grupos de idades: 20-34 anos (correspondendo aos grupos etários com maior heterogeneidade nos comportamentos dos saldos migratórios entre as regiões), 35-64 anos (restantes grupos etários da população em idade ativa) e 65 e mais anos (migrantes mais velhos). Os cartogramas seguintes são representativos das dinâmicas migratórias inter-regionais: as regiões do litoral são globalmente destinatárias dos fluxos migratórios, enquanto estão no interior as regiões de origem destes fluxos. Esta realidade dicotómica é mais nítida nos grupos etários mais jovens (20-34 anos). Os saldos migratórios dos grupos acima dos 35 anos são globalmente positivos entre as regiões. Como já referido, os saldos incluem migrações internas e internacionais, pelo que não apresentam soma nula e, neste decénio (1991-2001) caracterizado por saldos migratórios positivos para o País, os dados refletem este superavit migratório. Figura 3: Saldos migratórios (1991-2001) da população em idade ativa, nas 30 NUTS III portuguesas. 12 de 20 Figura 4: Saldos migratórios (1991-2001) da população mais idosa, nas 30 NUTS III portuguesas. 4. Modelação dos movimentos migratórios 4.1. Enquadramento metodológico Conhecidas as principais tendências migratórias em Portugal, importa refletir sobre os fatores potencialmente explicativos destes fluxos migratórios. A literatura respetiva aponta a grande complexidade do fenómeno e refere que os determinantes das migrações devem ser objeto de abordagens interdisciplinares: económicas, sociológicas, políticas, sistémicas e de transição da mobilidade (Zlotnik, 2003). De facto – e na linha do defendido no estudo pioneiro de Ravenstein, (As Leis da Migração, 1885 e 1889) – as motivações económicas parecem ser decisivas para explicar os fluxos migratórios da população em idade ativa: os migrantes deslocam-se, muitas vezes, em busca de melhores oportunidades de emprego. No entanto, estas decisões têm em conta, igualmente, fatores como as diferenças entre o salário real na região de origem e na de destino, o que evidencia a necessidade de conhecer o custo de vida da região para onde se pensa emigrar; do mesmo modo, a possibilidade real de encontrar emprego recomenda o conhecimento da taxa de desemprego respetiva (Termote, 2003). A distância e a tecnologia também são referidas como determinantes nos fluxos migratórios (opinião de Ravenstein, citado por Lee, 1966, e de Termote, 2003), apesar do debate atual sobre o potencial das tecnologias de informação e comunicação, na reversão da sua importância (O’Brien, 1992; Castro et al 2003). Por outro lado, a migração representa um investimento, com custos (monetários, de tempo, psicológicos e de informação), o que releva a importância da idade na decisão, pois quanto mais jovem, mais longa será a perspetiva de rentabilização (Termote, 2003). Esta advertência remetenos para a noção de ciclo de vida, (Lee, 1966), que aponta a seleção dos migrantes e a sua propensão para migrar como dependentes dos diversos estágios do ciclo de vida, como a entrada no mercado de trabalho, o casamento, o divórcio, a viuvez ou a reforma. Assim, a explicação para os fluxos migratórios dos mais velhos deverá ser matéria específica de análise. Outros fatores, como as políticas de migração dos países, o funcionamento dos mercados de trabalho à escala global ou as redes de familiares nas regiões de destino convocam a emergência da necessidade de investigação mais aprofundada e abrangente. Um conjunto de implicações metodológicas emerge destas reflexões: (i) a inter-relação das causas e das consequências das migrações, tanto nas regiões de origem como nas de destino, quer quanto à estrutura das populações como aos fatores socioeconómicos, o que recomenda a utilização de sistemas de equações 13 de 20 simultâneas (Termote, 2003) e de modelos multi-regionais (Rogers, 1990); (ii) a importância do fator distância nas decisões e nas motivações dos migrantes (Niedomysl, 2010), donde emerge a utilidade da abordagem gravitacional (Termote, 2003); (iii) as diferenças motivacionais consoante a idade dos migrantes, pelo que é essencial desenvolverem-se modelos capazes de capturar as migrações desagregadas por idades, considerando valores relativos às populações de cada grupo etário (Termote, 2003, Lee, 1966 e Rogers, 1990); (iv) a importância da especificação da variável migratória a analisar; Termote e Rogers – muito críticos em relação à utilização da variável saldo migratório - apontam a necessidade de considerar em seu lugar os fluxos migratórios; no entanto, Termote (2003) reconhece que são grandes as dificuldades na obtenção de dados fiáveis e que, se o objeto de estudo for o dinamismo económico-demográfico de uma região, numa perspetiva macrorregional – e não o comportamento individual dos migrantes – a variável saldo migratório é aceitável. No caso português, verifica-se uma estreita relação entre as migrações e as oportunidades de emprego, expressa no rácio entre saldos migratórios e crescimento do emprego, ocorridos entre 1991 e 2001. Os resultados apresentados no gráfico seguinte, para as regiões do interior, por grupos etários quinquenais e para a população masculina – idênticos aos valores encontrados para as mulheres – evidenciam uma quase perfeita correspondência entre as duas varáveis, nos grupos etários dos 25 aos 49 anos. Esta relação enfraquece nos mais novos – mais motivados por oportunidades de formação – e nos mais velhos, de saída do mercado de trabalho. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 a 64 Minho_Lima Pinhal_Interior_Norte Serra_da_Estrela Douro Dão_Lafões Beira_Interior_Norte Alto_Trás_os_Montes Pinhal_Interior_Sul Beira_Interior_Sul Gráfico 5: Rácios saldos migratórios/crescimento do emprego, por grupos etários (NUTS III do interior) 4.2. Descrição do modelo A observação das bases de dados portuguesas, a análise da literatura relevante e a assunção de que o emprego e o comportamento da economia são os principais fatores determinantes da migração da população em idade ativa são as bases do nosso modelo de estimação de saldos migratórios (equação 1) para todas as regiões NUTS III portuguesas. Representa uma equação independente para cada grupo de idades (dos 15 aos 64 anos) e para cada sexo, estimando simultaneamente os saldos migratórios para todas as regiões – uma perspetiva multi-regional (Rogers, 1990). O modelo foi aplicado para a década 1991-2001 e será melhorado, após a disponibilização dos dados referentes aos censos de 2011, com o teste para a década 2001-2011. Os resultados obtidos serão extrapolados para o futuro, através de projeções demográficas, com migrações condicionadas a diferentes cenários de evolução económica. O modelo apresentado é o seguinte (equação 1): ∆ ∆ ∆ equação 1 onde: é o saldo migratório por grupo de idades e sexo, para a década 1991-2001; ∆ é a variação das oportunidades de emprego na região, dada pela diferença entre o emprego económico e o emprego demográfico; o emprego económico é fornecido pelos dados dos censos, mas para as previsões 14 de 20 futuras será obtido através da aplicação de modelos regionais input-output (um para cada NUTS III) onde os estímulos para o crescimento exógeno estarão condicionados a diferentes cenários de evolução (Ramos et al., 2011); o emprego demográfico é obtido pela multiplicação da população que deveria existir em 2001 (na ausência de migrações) pela taxa de emprego, para cada grupo etário (dos 15 aos 64 anos) e para cada NUTS III; a estimação futura do emprego demográfico será calculada por um processo similar; portanto, o modelo considera as mudanças na estrutura da população ao longo do tempo como um fator determinante das migrações (Rogers, 1990); ∆ é o rácio entre o PIB per capita da região e o PIB per capita nacional – uma variável explicativa que relaciona a evolução económica da região de origem com a de destino, de acordo com as recomendações do quadro de referência teórico de Termote (2003); ∆ é o rácio entre o potencial demográfico da região e a média ponderada do potencial demográfico de todas as regiões, correspondendo aos pesos relativos da população de cada região; o potencial demográfico está incluído no modelo para permitir capturar os efeitos correspondentes ao atrito da distância, como referido por Ravenstein: o coeficiente d terá valor positivo enquanto a tendência se verificar no sentido da deslocação para patamares mais elevados da hierarquia urbana e valor inverso em situação contrária; assim, o valor final de d representará o saldo destes dois efeitos; em resumo, esta variável explicativa representa a abordagem gravitacional1 do fator distância (Termote, 2003) e tem capacidade para refletir as influências da distribuição espacial da população no território (Rogers, 1990); , , são coeficientes de regressão; Finalmente, a constante representa a propensão para migrar, independentemente da situação económica e demográfica da região – outros fatores explicativos, como os de ordem sociológica e política (Zlotnik, 2003). Porque os rácios GDP e Pot são valores não dimensionais, o mesmo tem de acontecer às varáveis demográficas; por conseguinte, tanto as migrações como a variação nas oportunidades de emprego, apesar de serem números absolutos, são divididos pela dimensão da população de cada grupo etário (Rogers, 1990). 5. Principais resultados obtidos pelos modelos na estimação dos saldos migratórios A tabela seguinte resume os principais resultados obtidos. O coeficiente de determinação mostra uma elevada capacidade explicativa do modelo, variando de acordo com o grupo etário e o sexo, seguindo um padrão onde os valores crescem até aos grupos de idades entre 30-39 anos, declinando em seguida mais ou menos de forma regular. O padrão corresponde às variações nas respostas dos diferentes grupos etários aos estímulos económicos e torna-se mais evidente se forem analisados os diferentes coeficientes de regressão. 1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 Homens 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 Mulheres Gráfico 6: Coeficientes de determinação do SPSS 1 O potencial demográfico de uma região é estimado pela equação ∑ , onde (o potencial demográfico na região ) é o somatório dos rácios entre (população da região ) e (a distância da região a cada região ). 15 de 20 Grupos Elevada Sexo etários significância H XX 15_19 M XX X H XX X 20_24 M XX XX H XX X 25_29 M XX X H XX X 30_34 M H XX XX X 35_39 M XX X Variáveis explicativas Unstandardized Coefficients Std. B Error Standardized Coefficients t Sig. 4.899 .000 Beta (Constant) .027 .006 ∆ .956 .093 .929 10.327 .000 ∆ -.020 .017 -.109 -1.205 .239 ∆ .011 .009 .101 1.197 .242 (Constant) .031 .005 5.844 .000 ∆ .993 .089 .894 11.151 .000 ∆ -.014 .016 -.071 -.881 .386 ∆ .022 .009 .182 2.425 .023 (Constant) -.039 .015 -2.516 .018 ∆ 2.024 .256 .712 7.893 .000 ∆ .122 .046 .240 2.658 .013 ∆ .046 .026 .149 1.765 .089 (Constant) -.047 .016 -2.879 .008 ∆ 2.306 .275 .735 8.379 .000 ∆ .074 .049 .131 1.488 .149 ∆ .083 .028 .246 3.001 .006 (Constant) -.115 .025 -4.578 .000 ∆ 3.035 .420 .711 7.224 .000 ∆ .179 .075 .234 2.372 .025 ∆ .057 .042 .125 1.357 .187 (Constant) -.119 .022 -5.294 .000 ∆ 3.149 .375 .755 8.399 .000 ∆ .103 .067 .138 1.533 .137 ∆ .088 .038 .196 2.334 .028 (Constant) -.070 .017 -4.026 .000 ∆ 2.816 .290 .822 9.721 .000 ∆ .118 .052 .191 2.260 .032 ∆ .001 .029 .002 .025 .980 (Constant) -.038 .008 -4.602 .000 ∆ 2.122 .139 .925 15.282 .000 ∆ .015 .025 .037 .617 .542 ∆ .014 .014 .056 .987 .333 (Constant) .045 .008 5.753 .000 ∆ 1.588 .132 .995 12.052 .000 ∆ -.009 .024 -.033 -.401 .692 ∆ -.036 .013 -.209 -2.707 .012 (Constant) .041 .008 5.154 .000 ∆ 1.479 .131 1.023 11.251 .000 ∆ -.051 .024 -.196 -2.155 .041 ∆ -.020 .013 -.125 -1.476 .152 Adjusted R Square Std. Error of the Estimate .826 .0178704 .862 .0171793 .826 .0495006 .835 .0531110 .792 .0810785 .827 .0723687 .847 .0559131 .921 .0268047 .854 .0254313 .823 .0253662 16 de 20 Grupos Elevada Sexo etários significância H H H H 55_59 M H 60_64 M t Sig. 4.858 .000 Beta .011 ∆ 1.209 .178 .929 6.798 .000 ∆ -.076 .032 -.327 -2.393 .024 ∆ -.026 .018 -.185 -1.451 .159 (Constant) .036 .009 4.113 .000 ∆ 1.002 .147 .924 6.799 .000 ∆ -.065 .026 -.334 -2.455 .021 ∆ -.010 .015 -.089 -.700 .490 (Constant) .059 .009 6.349 .000 ∆ .918 .155 .877 5.907 .000 ∆ -.069 .028 -.366 -2.459 .021 ∆ -.029 .016 -.257 -1.852 .075 (Constant) .036 .008 4.660 .000 XX ∆ .943 .127 .939 7.407 .000 XX ∆ -.092 .023 -.509 -4.009 .000 ∆ .002 .013 .016 .134 .894 (Constant) .047 .009 5.203 .000 XX ∆ .684 .151 .739 4.544 .000 XX ∆ -.097 .027 -.581 -3.571 .001 ∆ -.019 .015 -.189 -1.243 .225 (Constant) .027 .007 4.136 .000 XX ∆ .748 .110 .919 6.819 .000 XX ∆ -.079 .020 -.539 -3.992 .000 ∆ -.015 .011 -.173 -1.375 .181 (Constant) .050 .008 6.158 .000 XX ∆ .603 .135 .696 4.455 .000 XX ∆ -.080 .024 -.515 -3.289 .003 XX ∆ -.038 .014 -.413 -2.825 .009 (Constant) .034 .006 5.613 .000 XX ∆ .632 .100 .851 6.327 .000 XX ∆ -.084 .018 -.630 -4.680 .000 X ∆ -.023 .010 -.289 -2.297 .030 (Constant) .056 .010 5.921 .000 XX ∆ .737 .159 .690 4.644 .000 XX ∆ -.125 .029 -.652 -4.383 .000 X ∆ -.038 .016 -.331 -2.381 .025 (Constant) .039 .007 5.456 .000 XX ∆ .592 .118 .727 4.993 .000 XX ∆ -.087 .021 -.595 -4.084 .000 XX ∆ -.034 .012 -.392 -2.884 .008 XX X XX X XX X 50_54 M Standardized Coefficients .052 45_49 M Unstandardized Coefficients Std. B Error (Constant) 40_44 M Variáveis explicativas Adjusted R Square Std. Error of the Estimate .599 .0343373 .604 .0284505 .527 .0299823 .655 .0245810 .433 .0290587 .610 .0211807 .476 .0261137 .612 .0192741 .527 .0306432 .545 .0228719 Tabela 2: Outputs de correlação do SPSS (significância: XX<0.01 – muito elevada; 0.01>X>0.05 – elevada) 17 de 20 A constante é negativa para os grupos de idades entre 20 e 34 anos e positiva para todos os outros grupos, o que significa que, quando todos os determinantes analisados na equação 1 são controlados, a população em idade ativa mais jovem tende a emigrar, enquanto os outros grupos etários têm mais predisposição para imigrar, em muitos casos num movimento de retorno à região que haviam deixado anos atrás. A variável oportunidade de emprego é de longe a mais relevante para o modelo e o coeficiente que lhe corresponde apresenta um padrão sob a forma de U invertido: cresce até aos 25-29 anos, após o que decresce regularmente, mostrando que a resposta ao estímulo oportunidade de emprego varia com a idade. 3.5 3 2.5 60-64 55-59 50-54 45-49 40-44 35-39 30-34 25-29 20-24 2 15-19 1.5 1 0.5 Men Men Women Gráfico 7: Valores da constante 60-64 55-59 50-54 45-49 40-44 35-39 30-34 25-29 20-24 0 15-19 0.08 0.06 0.04 0.02 0 -0.02 -0.04 -0.06 -0.08 -0.1 -0.12 -0.14 Women Gráfico 8: Coeficientes da variação de emprego O mesmo padrão com a forma de U invertido se aplica às restantes variáveis, evidenciando que os trabalhadores jovens tendem a mover-se em direção às regiões mais ricas e mais centrais, enquanto a população mais idosa faz o oposto, retornando para as regiões mais pobres do interior, de onde haviam saído no passado. 0.2 0.1 0.15 0.08 0.1 0.06 0.04 0.05 0.02 60-64 55-59 50-54 45-49 40-44 35-39 30-34 25-29 -0.02 20-24 0 15-19 -0.1 60-64 55-59 50-54 45-49 40-44 35-39 30-34 25-29 20-24 -0.05 15-19 0 -0.04 -0.15 -0.06 Men Women Gráfico 9: Coeficientes do PIB per capita Men Women Gráfico 10: Coeficientes do potencial demográfico Estes resultados sugerem a necessidade de um modelo mais fidedigno na estimação de padrões de migração, tanto para a população no final da vida ativa como para os reformados. Este trabalho está já a ser desenvolvido pela equipa de investigação do DEMOSPIN e consiste em adicionar à equação 1, para cada grupo etário, variáveis que descrevam a taxa de migração desfasada no tempo, ao longo de 20, 25, 30, 35 anos atrás (equação 2): ∆ ∆ ∆ $ f $ !" !" % !"# !"# % … equação 2 onde, para a generalidade dos grupos etários (x, x+5 anos) e para o período de y a y+5 anos: $ !"# é o saldo migratório para o grupo etário atual, o qual é de x a x+5 anos para o período desfasado 20 anos e quando eram 20 anos mais novos. 18 de 20 Como são escassos os dados referentes a fluxos migratórios, em Portugal, é necessário proceder a um trabalho meticuloso de estimação de saldos migratórios num determinado período, considerando-os como a diferença entre a população que deveria existir se os saldos migratórios fossem nulos e a população real. Este trabalho requer a recolha e a organização de uma enorme quantidade de dados, o qual em breve estará terminado. É importante salientar que o retorno de população mais idosa é um elemento chave para o modelo económico input-output, devido ao significativo impacto, nas regiões do interior, da procura gerada por esta população. 6. Conclusões O trabalho desenvolvido pelo projeto DEMOSPIN revelou a seriedade do problema da desertificação na maioria das regiões do interior português e como será difícil reverter esta tendência. Mostrou também que apenas a atração de população jovem, através da criação de oportunidades de emprego, pode contrariar a situação. Esta comunicação apresenta um modelo que analisa a relação, por grupos de idades, entre oportunidades de emprego e migrações. O modelo foi apenas aplicado a populações entre 15 e 64 anos; o resultado foi excelente para a população mais jovem, declinando a sua qualidade com a idade dos grupos analisados. Isto significa que o modelo tem de ser melhorado com a análise do efeito de migrações passadas nos atuais movimentos de retorno de população aos seus lugares de origem; este efeito será o principal elemento do modelo, quando aplicado a populações com mais de 65 anos. Trabalho de investigação complementar tem sido desenvolvido nesta direção. Finalmente, é necessária uma nota quanto aos fluxos migratórios dos grupos de idades inferiores a 15 anos. Apesar de não ser diretamente afetada pelas oportunidades de emprego, a população mais jovem é um importante elemento do modelo input-output, na medida em que gera procura e, consequentemente, afeta positivamente as dinâmicas de emprego regional. Além disto, são um elemento fundamental para as previsões demográficas. Contudo, a população mais jovem não responde autonomamente a fatores determinantes da migração, sendo, em lugar disso, dependente dos movimentos dos pais. Assumiu-se então que as deslocações dos mais jovens ocorrem no seio dos movimentos do agregado familiar. Assim, os seus saldos migratórios são estimados como uma função dos saldos migratórios da população em idade ativa. Assumiu-se igualmente que, no tocante à fecundidade, as mães migrantes têm o mesmo comportamento das progenitoras autóctones. Esta assunção pouco precisa apenas poderá ser substituída por meio de análises mais sofisticadas, baseadas em robustas abordagens sociológicas e alimentadas com os necessários dados. Agradecimentos Os autores agradecem o apoio prestado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia no quadro do projeto DEMOSPIN, PTDC/CS-DEM/100530/2008, e à GOVCOPP – Unidade de Investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas da Universidade de Aveiro. Bibliografia Bijak, J. (2006), Forecasting International Migration: Selected Theories, Models and Methods. Central European Forum For Migration Research, Varsóvia. Castro, E., Butler, C. (2003), Demand for information and communication technology-based services and regional economic development. Papers in Regional Science, Vol. 82, Issue 1, pp. 27-50. Grupo de Trabalho sobre as Estatísticas da Demografia (GTED) (2006), Estatísticas dos Movimentos Migratórios, Conselho Superior de Estatística (CSE), Lisboa. Lee, E. (1966), A Theory of Migration, Demography, Vol. 1, pp. 45-57. 19 de 20 Lutz, W., Skirbekk, V. (2008), Low Fertility in Europe in a Global Demographic Context, Demographic Change and Intergenerational Justice, Capítulo 1, Tremmel, J. (editor), Springer. Nazareth, J. (2000), Introdução à Demografia - Teoria e Prática (2ª edição), Editorial Presença, Lisboa. Niedomysl, T. (2011), How Migration Motives Change over Migration Distance: Evidence on Variation across Socio-economic and Demographic Groups, Regional Studies, Vol. 45: 6, pp. 843-855. O’Brien, R. (1992), Global financial integration: The end of geography. Pinter Publishers, London. O’Neil, B., Balk, D., Brickman, M., Ezra, M. (2001), A Guide to Global Population Projections, Demographic Research, Vol 4, No. 8, pp. 203-288. Overman, H., Rice, P., Venables, A. (2010), Economic Linkages across Space, Regional Studies, Vol. 44:1, pp. 17-33, (2010). Park, S., Hewings, G. (2007), Immigration, Aging and the Regional Economy. Regional Economics Applications Laboratory (REAL), Illinois. Preston, S., Heuveline, P., Guillot, M. (2001), Demography: Measuring and Modeling Population Processes. Blackwell Publishers, Oxford. Ramos, P., Castro, E., Cruz, L. (2011), Economically sustainable demography: reversing decline in Portuguese peripheral regions, 19th International Input-Output Conference, Alexandria VA, EUA. Rogers, A. (1990), Requiem for the Net Migrant, Geographic Analisys, Ohio State University Press, Vol. 22, Nº 4, pp. 283-300. Termote, M. (2003), Les déterminants économiques de la migration, Démographie: analyse et synthèse. Les déterminants de la migration, Institut national d'études démographiques (INED), Paris, pp. 83-100. Wiseman, R. (1980), Why Older People Move – Theoretical Issues, Research on Aging, Volume 2, Nº 2 (Jun., 1980), pp. 141-154, Sage Publications, Inc.. Zlotnik, H. (2003), Théories sur les migrations internacionales, Démographie: analyse et synthèse. Les déterminants de la migration, INED, Paris, pp. 55-78. 20 de 20