A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS INTERAÇÕES ENTRE

Propaganda
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS INTERAÇÕES ENTRE
UNIVERSIDADES E EMPRESAS NO BRASIL: UM ESTUDO DE CASO
DOS GRUPOS DE PESQUISA EM ENGENHARIA QUÍMICA
ARLINDO TEIXEIRA DE OLIVEIRA1
ANA CRISTINA FERNANDES2
Resumo:
A presente pesquisa buscou avaliar a distribuição espacial das interações entre os grupos de
pesquisa em Engenharia Química e as empresas dos diversos setores econômicos. Foi adotada uma
metodologia que consiste na construção de um referencial teórico que auxilie no entendimento das
interações, assim como na sua distribuição espacial. Também foram realizados, através do Censo
2010 do DGP/CNPq, levantamentos e sistematizações de dados secundários referentes ao número
de grupos de pesquisa em Engenharia Química, assim como a quantidade de empresas interativas.
Os resultados demonstraram que inúmeros fatores influenciam a distribuição espacial das interações,
sobretudo a presença de bacias de petróleo e as atividades econômicas que necessitam das
competências dos grupos de pesquisa em Engenharia Química. Por fim, ressaltam-se novas
questões que podem auxiliar na construção de novas pesquisas envolvendo a respectiva temática.
Palavras-chave: distribuição espacial; interação universidade e empresa; engenharia química.
Abstract:
This paper aims to evaluate the spatial distribution of interactions between research groups in
chemical engineering and companies in various economic sectors. The adopted methodology consists
in building a theoretical framework that assists in understanding those interactions, as well as its
spatial distribution. Data collection on the number of research groups in chemical engineering and
interactive companies was made through the 2010 census the DGP / CNPq. The results showed that
numerous factors influence the spatial distribution of interactions, especially the presence of oil bases
and economic activities that require studies in chemical engineering. Finally, the paper points out new
issues that can help in building space to future researches.
Key-words: spatial distribution, interaction university-company, chemical engineering
1 – Introdução
A partir da Terceira Revolução Industrial, as inovações tecnológicas e
científicas passaram a desempenhar funções de suma importância na produção
industrial, tanto pela intensificação da introdução de novos produtos, quanto pela
aplicação de modernas técnicas ao processo produtivo. As empresas buscam tais
soluções inovadoras por meio da criação de núcleos de Pesquisa, Desenvolvimento
e Inovação (PD&I), ou através das interações com as universidades. As interações
beneficiam ambos os atores envolvidos, pois permitem que as empresas inovem em
1
Aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. E-mail de contato: [email protected]
2
Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco.
Pesquisadora do CNPq. E-mail de contato: [email protected]
4314
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
seu processo produtivo, e que os grupos de pesquisa recebam recursos e tomem
conhecimento das demandas da sociedade.
Grande parte dos grupos de pesquisa está inserida na área de conhecimento
das Engenharias, sobretudo na Engenharia Química, o que segundo Fernandes et al
(2011) é justificado pelas competências que esses grupos possuem para interagir
com empresas dos diversos setores econômicos. Sabendo que os grupos de
pesquisa estão distribuídos de maneira heterogênea no país, a presente
investigação tem como problema central investigar como estão distribuídas as
interações entre universidades e empresas no Brasil, pontuando aquelas
relacionadas à área de conhecimento da Engenharia Química.
Com o objetivo de compreender a distribuição espacial das interações entre
os grupos de pesquisa em Engenharia Química e empresas no Brasil, foi adotada
uma metodologia que consiste na construção de um referencial teórico que possa
colaborar no entendimento da interação entre as universidades e as empresas,
assim como na sua respectiva distribuição espacial. Também foram realizados
levantamentos e sistematizações de dados secundários sobre a formação da base
acadêmica na área de conhecimento da Engenharia Química no Brasil, por meio do
Censo 2010 do Diretório de Grupos de Pesquisa (DGP) do CNPq.
Visando atingir o objetivo da pesquisa, o presente artigo está dividido em
duas seções. A primeira visa expor brevemente a implantação das universidades no
Brasil, entendendo a sua relação com a produção de Ciência, Tecnologia e Inovação
(CT&I), como também discutir a questão da interação entre as universidades e as
empresas, analisando a sua distribuição espacial no território brasileiro. A segunda
seção tem o intuito de analisar especificamente a distribuição espacial das
interações entre os grupos de pesquisa em Engenharia Química e as empresas, por
região, unidade federativa e universidades. Por fim, as considerações finais trazem
uma síntese dos principais resultados obtidos durante o decorrer da investigação,
assim como os desdobramentos que possam auxiliar na elaboração de novas
pesquisas baseadas nos dados coletados através do Censo 2010 do DGP/CNPq.
4315
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
2 – As interações entre universidades e empresas no Brasil
No Brasil, a implantação das universidades ocorreu de maneira relativamente
lenta e tardia. No decorrer dos trezentos primeiros anos de colonização, as raras
iniciativas de educação vieram dos jesuítas que visavam à catequização dos nativos.
Segundo Souza (1991), apenas o alto escalão da Igreja Católica e da Coroa
Portuguesa, assim como os filhos dos grandes latifundiários, tinham acesso ao
ensino superior, porém, para tal, necessitavam se deslocar às universidades
europeias.
No final do século XVII, foi fundado o Curso Superior de Engenharia Militar no
estado do Rio de Janeiro. Porém, segundo Souza (1991), tal fato não pode ser
considerado como o ingresso do ensino superior no Brasil, já que se tratava de um
estabelecimento português. Foi só em 1808, com a chegada da família real
portuguesa, que surgiram escolas de nível superior, como o Colégio Médico
Cirúrgico da Bahia e o Curso de Anatomia e Cirurgia do Rio de janeiro.
Após a Independência, houve um aumento no número de escolas superiores
no país. Porém, ainda eram unidades descentralizadas, voltadas especialmente para
a formação de profissionais. Somente em 1920, após a Proclamação da República,
que surgiram universidades, de fato, no país, tendo como pioneira a Universidade do
Rio de Janeiro, que hoje é chamada por Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). De acordo com Fernandes et al (2011, p. 350), o momento da implantação
das escolas de ensino superior e posteriormente das universidades “expressa o
caráter tardio da institucionalização da ciência e tecnologia no Brasil, em relação aos
países centrais e mesmo a países vizinhos latinoamericanos”.
A consolidação das universidades no Brasil, associada ao intenso processo
de industrialização acompanhado da competitividade nacional e global entre as
empresas, fizeram com que estas passassem a buscar fontes externas de
conhecimento, sobretudo, nas universidades, como demonstram Garcia et al (2011).
Segundo Moraes e Stal (1994), a interação entre ambos os atores é extremamente
importante para o desenvolvimento social e econômico do país.
Os grupos de pesquisa, os quais representam as universidades nas
interações com as empresas, contam com professores e alunos de graduações e
pós-graduações que possuem interesses acadêmicos em comum, os quais estão
4316
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
organizados em um sistema cooperativo. Segundo o Censo 2010 do DGP/CNPq,
existem aproximadamente 27.523 grupos de pesquisa divididos entre as cinco
regiões brasileiras. É possível notar na Tabela 01 que a distribuição espacial dos
grupos é proporcional ao Produto Interno Bruto (PIB) das regiões. Portanto, é
possível corroborar com Garcia et al (2011), ao afirmarem que a localização
geográfica dos grupos de pesquisa é simétrica aos indicadores econômicos do
espaço.
Tabela 01 – Relação entre a distribuição regional dos grupos de pesquisa, linhas de pesquisa,
pesquisadores e estudantes pelos PIBs das regiões.
Fonte: DGP/CNPq – Censo 2010; IBGE – Contas Regionais do Brasil – 2010.
Organização: Elaboração própria dos autores
A região Sudeste, detentora do maior PIB do país, possui mais grupos de
pesquisa que a soma das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Para exemplificar
o que está sendo mencionado, é válido citar que apenas o estado de São Paulo, que
de acordo com o Censo 2010 do DGP/CNPq, acumula 6.359 grupos, representa
cerca de 23% do total de grupos de pesquisa do país.
O baixo número de grupos de pesquisa nas regiões Norte, Centro-Oeste e
Nordeste, também pode ser explicado pela tardia implantação das universidades
nessas três regiões. De acordo com Fernandes et al (2011), foi apenas após a 2ª
Guerra Mundial que houve, de fato, uma proliferação das universidades nestas
regiões, colaborando para a produção de CT&I nestas localidades.
O número total de grupos de pesquisa interativos 3 no Brasil é de 3.506, o que
representa apenas 13% do total. Segundo Garcia et al (2011), existe uma
3
Entende-se por grupo de pesquisa interativo, aquele que mantém interações com as empresas,
sejam elas, públicas ou privadas.
4317
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
concentração dos grupos de pesquisa interativos, assim como o total de grupos de
pesquisa, nas regiões Sul e Sudeste. Garcia et al (2011) demonstram que apenas
nas cinco principais microrregiões do estado de São Paulo (Campinas, Ribeirão
Preto, São Carlos, São Paulo e São José dos Campos) estão concentradas cerca de
18% das interações de todo o Brasil. De acordo com Lencioni (1999), tal ocorrência
pode ser explicada pelas excelentes universidades e pela concentração de grandes
empresas nestas cidades, que devido à competitividade global acabam inovando em
seus processos produtivos com o intuito de se destacarem umas das outras.
Contudo, em comparação com o total de grupos (Tabela 1), existem poucos
grupos de pesquisa interativos. Alguns deles, realmente não se interessam pela
interação com as empresas, já que as suas pesquisas são mais direcionadas à
academia. Porém, em geral, os grupos de pesquisa têm dificuldades em interagirem
com as empresas, pois, segundo Moraes e Stal (1994), muitas não possuem
interesses em inovar. Ainda de acordo com Moraes e Stal (1994), há certa
desconfiança entre as universidades e as empresas, sobretudo por possuírem
objetivos e características bastante distintas, o que acaba colaborando para o
distanciamento4.
Em 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT),
existiam 12.904.523 empresas distribuídas heterogeneamente pelas regiões
brasileiras. Entretanto, apenas 5.134 buscavam se relacionar com os grupos de
pesquisa, representando 0,04 % do total. É válido salientar que pouquíssimas
empresas possuem um núcleo interno de PD&I, ou seja, a única forma de inovarem
é interagindo com os grupos de pesquisa5.
Através do Censo 2010 do DGP/CNPq, é possível notar que as Engenharias
e as Ciências Agrárias são as duas áreas de conhecimento com mais grupos de
pesquisa interativos (1068 e 707 do total de 3.506), e consequentemente, interações
com as empresas (4.831 e 3.052 do total de 13.113). De acordo com Fernandes et
al (2011), o caso das Ciências Agrárias pode ser justificado pelo passado histórico e
4
Para a melhor compreensão dos fatores que influenciam o distanciamento entre as universidades e
as empresas, recomenda-se Moraes e Stal (1994).
5
Segundo Moraes et al (1994), um núcleo de PD&I é responsável por auxiliar a inovação na
empresa, visando manter a competitividade em mercados e produtos já conquistados, além de
ampliar a sua atuação, desfrutando de novas oportunidades.
4318
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
pela importância das atividades agrícolas, especialmente a soja, para a economia
brasileira. Ainda segundo Fernandes et al (2011), o fato das Engenharias possuírem
mais grupos de pesquisa que as demais áreas é explicado pela disponibilidade de
habilidades próprias ao desenvolvimento de soluções dos problemas tecnológicos
enfrentados pelas empresas, especialmente no contexto da industrialização a qual o
país passou na segunda metade do século XX, e também devido à concorrência
entre as mesmas, que leva à redução dos custos, elevação da produtividade,
quando não, ao menos à inovação do processo produtivo. Diante do que foi
mencionado, pode-se concordar com Metcalfe (apud GARCIA et al, 2011), ao
afirmar que a concentração das interações entre empresas e grupos de pesquisa de
certas grandes áreas do conhecimento é decorrente das necessidades da
sociedade.
As dez empresas brasileiras mais interativas6, segundo o Censo 2010 do
DGP/CNPq, procuram se relacionar com os grupos de pesquisa das Engenharias.
Também é possível observar que essas dez empresas são de grande porte e além
de possuírem núcleos internos de PD&I, procuram as universidades para a obtenção
de conhecimentos que não dispõem internamente.
Dentro da grande área de conhecimento das Engenharias, a qual possui
2.651 grupos de pesquisa, pode-se citar a Engenharia Química7, que devido às suas
competências, os seus grupos de pesquisa mantêm relacionamentos com inúmeras
empresas, inclusive com as mais interativas do país. No Brasil, o número de grupos
de pesquisa da Engenharia Química é de 275, quantidade bastante relevante,
representando 10,5% do total de grupos das Engenharias. Tal situação será
demonstrada com maior clareza na próxima seção.
6
Embrapa, Petrobrás, Chesf, Companhia Vale do Rio Doce, Furnas Centrais Elétricas S/A, Braskem
S/A, Epagri. Fiocruz, Epamig, Eletronorte (as empresas estão listadas em ordem decrescente de
acordo com o número de relacionamentos com os grupos de pesquisa).
7
O Instituto Americano de Engenheiros Químicos (AICHE) defende que a Engenharia Química é a
área responsável em desenvolver, dimensionar, melhorar e aplicar processos e produtos químicos.
Nessa concepção inclui-se a construção, operação, análise econômica, dimensionamento e a gestão
de unidades industriais que concretizam esses processos, tal como a investigação e formação nesses
domínios.
4319
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3 - A interação entre os grupos de pesquisa em Engenharia Química e as
empresas
Por meio do Censo 2010 do DGP/CNPq, podemos perceber na Tabela 02 que
o Brasil conta com duzentos e setenta e cinco grupos de pesquisa em Engenharia
Química, sendo setenta e sete interativos, totalizando quatrocentos e quarenta
relacionamentos com as empresas dos diversos setores econômicos. A distribuição
espacial desses grupos de pesquisa, como também das interações com o setor
produtivo, é altamente heterogênea, tal como ocorre nas outras áreas de
conhecimento.
Tabela 02 – Distribuição dos grupos de pesquisa em Engenharia Química por Região e
Unidade Federativa.
Fonte: DGP/CNPq – Censo 2010
Organização: Elaboração própria dos autores
A região Sudeste engloba uma parcela considerável dos grupos de pesquisa
em Engenharia Química, sejam eles interativos ou não. O número de grupos
interativos dessa região corresponde a 40% do total. Tal fato ocorre devido à
presença das tradicionais universidades, as quais possuem competências de
interagirem com as grandes empresas ali instaladas. Ao analisar a Tabela 03,
4320
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
observamos o destaque da UFRJ, que através da COOPE, tradicional pósgraduação em engenharia do país, conta com cinquenta relacionamentos como
setor produtivo, sendo, segundo o Censo 2010 do DGP/CNPq, a terceira
universidade mais interativa na área da Engenharia Química do país, ficando apenas
atrás das universidades de Santa Catarina. Outro fator que contribui para a
soberania da região Sudeste é a presença das principais bacias de petróleo do país,
a Bacia de Campos (Rio de Janeiro e Espírito Santo) e a Bacia de Santos (Paraná,
Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro), que segundo a ANP (2012), são as
mais produtivas do país.
Tabela 03 – Distribuição dos grupos de pesquisa em Engenharia Química por Unidades
Federativas e Instituições de Pesquisa.
Fonte: DGP/CNPq – Censo 2010.
Organização: Elaboração própria dos autores
4321
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
No estado de São Paulo é possível encontrar diversas refinarias de petróleo,
com destaque para a Refinaria Capuava, a qual atraiu diversas indústrias
petroquímicas, formando o Polo Petroquímico do Grande ABC. Acreditamos na
hipótese que grande parte dessas empresas recorre aos grupos de pesquisa
localizados em São Paulo, mais precisamente no Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), para resolverem seus problemas, assim
como para inovarem em seus processos produtivos.
Nesta área de conhecimento, o Nordeste possui mais grupos de pesquisa que
o Sul, mas com um número inferior de grupos de pesquisa interativos, assim como
relacionamentos com o setor produtivo. O considerável número de grupos de
pesquisa na região Nordeste pode ser justificado pelas recentes políticas públicas de
CT&I, como por exemplo, o CT-Petro/FINEP, que em parceria com diversas
empresas (a Petrobras, principalmente) propiciou a formação das Redes
Cooperativas de Pesquisa Norte/Nordeste, designando mais recursos para a
capacitação dos grupos de pesquisa, assim como para a articulação entre os
pesquisadores, favorecendo a produção de competências de CT&I para o setor de
Petróleo e Gás Natural (P&G). Outro fator que contribui para o considerável número
de grupos de pesquisa da região Nordeste, o que representa 24,4% do total, e de
grupos interativos, o qual retrata 19,2% do total, é a presença das bacias de
petróleo, as quais podemos destacar: a Bacia Potiguar (Rio Grande do Norte, Ceará
e Paraíba), a qual inclusive conta com um moderno Polo Industrial Petroquímico,
assim como a moderna Refinaria Clara Camarão, inaugurada em 2009; Bacia do
Recôncavo (Bahia); Bacia de Sergipe e Alagoas; Bacia do Tucano (Bahia); Bacia de
Camamu-Almada (Bahia); Bacia do Jequitinhonha (Bahia). Também na Bahia,
encontramos o Complexo Petroquímico de Camaçari que, segundo a ANP (2012), é
o maior complexo industrial do Hemisfério Sul.
Porém, é interessante observar que o estado de Pernambuco, apesar de não
possuir nenhuma bacia de petróleo em seu território, é o mais interativo, com
quarenta relacionamentos com o setor produtivo, da região Nordeste. A situação
ocorre por inúmeros fatores: o primeiro é que a presença de uma bacia de petróleo
não determina a quantidade de grupos de pesquisa em Engenharia Química, pois
muitos outros setores da economia utilizam as competências produzidas pelos
4322
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
Engenheiros Químicos, como por exemplo, as empresas do setor gesseiro da
Chapada do Araripe (sertão pernambucano); o segundo foi a escolha do estado de
Pernambuco para a construção, em 2006, do Centro de Tecnologias Estratégicas do
Nordeste (CETENE), o qual possui quinze relacionamentos com o setor produtivo; o
terceiro fator foi a vinda de inúmeras empresas ao Complexo Industrial Portuário
(SUAPE); o quarto fator, um dos mais importantes, foi o aumento de recursos
direcionados às universidades federais do Nordeste, o qual colaborou para a
contratação de novos professores, assim como para a criação e capacitação dos
grupos de pesquisa já existentes. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) é
a que possui o maior número de grupos de pesquisa interativos em Engenharia
Química na região Nordeste, assim como relacionamentos com o setor produtivo,
como demonstra a Tabela 03.
A região Sul se destaca por possuir um elevado número de interações entre
os grupos de pesquisa em Engenharia Química e o setor produtivo, cento e oitenta e
cinco, valor idêntico ao Sudeste. Nesta região podemos destacar o estado de Santa
Catarina, o qual através da Universidade Regional de Blumenau (FURB) e a
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é o mais interativo do país, como
refletem os dados do Censo 2010 do DGP/CNPq. A FURB e a UFSC são as duas
universidades com o maior número de relacionamentos, superando as tradicionais
universidades da Região Sudeste, como demonstra a Tabela 03.
A região Norte só possui setes grupos de pesquisa, representando apenas
2.5% do total, e dois grupos de pesquisa interativos, totalizando cinco
relacionamentos com o setor produtivo. Os dois grupos de pesquisa que interagem
com empresas são da Universidade Federal do Pará (UFPA). No estado do
Amazonas existe a Bacia do Solimões, mas não existem grupos desta unidade
federativa cadastrados no Censo 2010 do DGP/CNPq.
Já a região Centro-Oeste é a única que não conta com nenhum grupo de
pesquisa em Engenharia Química. Nessa região não há bacias de petróleo e nem
refinarias, mas, como já foi dito anteriormente, a presença de bacias não determina
a existência de grupos de pesquisa em Engenharia Química. Portanto, a ausência
de grupos de pesquisa nesta área de conhecimento no Centro-Oeste, como
demonstrou o Censo 2010 do DGP/CNPq, é algo bastante intrigante.
4323
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
4- Considerações finais
No decorrer da pesquisa foi possível notar que há uma distribuição
heterogênea das interações entre universidades e empresas na área de
conhecimento da Engenharia Química. Os grupos de pesquisa, assim como os seus
relacionamentos com o setor produtivo, estão localizados com maior intensidade no
Sudeste, justamente por se tratar da principal região do país, onde há uma intensa
dinâmica econômica, como também presença das principais universidades,
empresas e das bacias de petróleo mais produtivas. As regiões Nordeste e Sul
também se destacam em relação à presença dos grupos de pesquisa,
principalmente os estados de Pernambuco e Santa Catarina.
Contudo, no decorrer da presente investigação, foi possível observar que a
presença das bacias de petróleo não determina a distribuição espacial dos grupos
de pesquisa em Engenharia Química, pois estes também possuem competências
para interagirem com empresas de outros setores econômicos. Diante o amplo
número de dados secundários utilizados no decorrer da pesquisa, não foi possível
analisar com precisão os casos específicos que envolvem a presença dos grupos de
pesquisa interativos nas regiões e nas unidades federativas, dando ênfase em
apenas alguns aspectos que julgamos importantes. A pesquisa tem como propósito,
além de analisar brevemente a distribuição espacial dos grupos de pesquisa em
Engenharia
Química,
contribuir
para
a
elucidação
de
novos
problemas,
possibilitando o seu desdobramento em futuras pesquisas, através da coleta de
dados primários que possibilite realizar novas sistematizações, como também por
meio de um levantamento bibliográfico que contemple o recorte selecionado.
Algumas questões que julgamos importantes analisar em futuros trabalhos
seriam: o motivo pelo qual não há, de acordo com o Censo 2010 do CNPq, grupos
de pesquisa em Engenharia Química nas universidades do Centro-Oeste; a
dinâmica das interações entre os grupos de pesquisa do Sudeste e as empresas
petrolíferas ali instaladas; os fatores que levaram Santa Catarina a ser o estado mais
interativo nesta área de conhecimento, superando Rio de Janeiro e São Paulo; a
4324
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
influência do CT-Petro na consolidação de grupos de pesquisa nordestinos, assim
como nos seus relacionamentos com o setor produtivo.
Referências
ANP, Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Boletim de
produção de petróleo e gás natural. www.anp.gov.br/?dw=69701, acesso em 30
de abril de 2015.
CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Diretório
dos Grupos de Pesquisa – Censo 2010. http://dgp.cnpq.br/planotabular/index.jsp,
acesso em 20 de abril de 2015.
FERNANDES, Ana Cristina., SILVA, Alexandre Stanford e SOUZA, Bruno Campello.
Demanda e oferta de tecnologia e conhecimento em região periférica: A interação
universidade-empresa no Nordeste Brasileiro. In: SUZIGAN, Wilson.,
ALBUQUERQUE, Eduardo e CÁRIO, Sílvio (Org.). Interações de universidades e
institutos de pesquisas com empresas no Brasil. 1º Edição. Belo Horizonte:
Autêntica, 2011, p. 338-395.
GARCIA, R. ; ARAUJO, V. ; MASCARINI, S. ; SANTOS, E. O papel da proximidade
geográfica na interação universidade-empresa. In: Anais do Simpósio
Internacional de Geografia do Conhecimento e da Inovação. Recife:
Universidade Federal de Pernambuco, p. 528-551, 2011.
IBPT, Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. Empresômetro.
http://www.empresometro.com.br/Site/Estatisticas, acesso em 23 de novembro de
2014.
LENCIONI, Sandra. Região e geografia. 1º Edição. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1999.
MORAES, R.; STAL, E. Interação universidade empresa no Brasil. Revista de
administração de empresas (São Paulo), vol. 34, p. 98-112, 1994.
SOUZA, Paulo Nathanael Pereira de. Estrutura e funcionamento do ensino superior
brasileiro. 1º Edição. São Paulo: Pioneira, 1991.
4325
Download