A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS INTERAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADES E EMPRESAS NO BRASIL: UM ESTUDO DE CASO DOS GRUPOS DE PESQUISA EM ENGENHARIA QUÍMICA ARLINDO TEIXEIRA DE OLIVEIRA1 ANA CRISTINA FERNANDES2 Resumo: A presente pesquisa buscou avaliar a distribuição espacial das interações entre os grupos de pesquisa em Engenharia Química e as empresas dos diversos setores econômicos. Foi adotada uma metodologia que consiste na construção de um referencial teórico que auxilie no entendimento das interações, assim como na sua distribuição espacial. Também foram realizados, através do Censo 2010 do DGP/CNPq, levantamentos e sistematizações de dados secundários referentes ao número de grupos de pesquisa em Engenharia Química, assim como a quantidade de empresas interativas. Os resultados demonstraram que inúmeros fatores influenciam a distribuição espacial das interações, sobretudo a presença de bacias de petróleo e as atividades econômicas que necessitam das competências dos grupos de pesquisa em Engenharia Química. Por fim, ressaltam-se novas questões que podem auxiliar na construção de novas pesquisas envolvendo a respectiva temática. Palavras-chave: distribuição espacial; interação universidade e empresa; engenharia química. Abstract: This paper aims to evaluate the spatial distribution of interactions between research groups in chemical engineering and companies in various economic sectors. The adopted methodology consists in building a theoretical framework that assists in understanding those interactions, as well as its spatial distribution. Data collection on the number of research groups in chemical engineering and interactive companies was made through the 2010 census the DGP / CNPq. The results showed that numerous factors influence the spatial distribution of interactions, especially the presence of oil bases and economic activities that require studies in chemical engineering. Finally, the paper points out new issues that can help in building space to future researches. Key-words: spatial distribution, interaction university-company, chemical engineering 1 – Introdução A partir da Terceira Revolução Industrial, as inovações tecnológicas e científicas passaram a desempenhar funções de suma importância na produção industrial, tanto pela intensificação da introdução de novos produtos, quanto pela aplicação de modernas técnicas ao processo produtivo. As empresas buscam tais soluções inovadoras por meio da criação de núcleos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), ou através das interações com as universidades. As interações beneficiam ambos os atores envolvidos, pois permitem que as empresas inovem em 1 Aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco. Pesquisadora do CNPq. E-mail de contato: [email protected] 4314 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO seu processo produtivo, e que os grupos de pesquisa recebam recursos e tomem conhecimento das demandas da sociedade. Grande parte dos grupos de pesquisa está inserida na área de conhecimento das Engenharias, sobretudo na Engenharia Química, o que segundo Fernandes et al (2011) é justificado pelas competências que esses grupos possuem para interagir com empresas dos diversos setores econômicos. Sabendo que os grupos de pesquisa estão distribuídos de maneira heterogênea no país, a presente investigação tem como problema central investigar como estão distribuídas as interações entre universidades e empresas no Brasil, pontuando aquelas relacionadas à área de conhecimento da Engenharia Química. Com o objetivo de compreender a distribuição espacial das interações entre os grupos de pesquisa em Engenharia Química e empresas no Brasil, foi adotada uma metodologia que consiste na construção de um referencial teórico que possa colaborar no entendimento da interação entre as universidades e as empresas, assim como na sua respectiva distribuição espacial. Também foram realizados levantamentos e sistematizações de dados secundários sobre a formação da base acadêmica na área de conhecimento da Engenharia Química no Brasil, por meio do Censo 2010 do Diretório de Grupos de Pesquisa (DGP) do CNPq. Visando atingir o objetivo da pesquisa, o presente artigo está dividido em duas seções. A primeira visa expor brevemente a implantação das universidades no Brasil, entendendo a sua relação com a produção de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), como também discutir a questão da interação entre as universidades e as empresas, analisando a sua distribuição espacial no território brasileiro. A segunda seção tem o intuito de analisar especificamente a distribuição espacial das interações entre os grupos de pesquisa em Engenharia Química e as empresas, por região, unidade federativa e universidades. Por fim, as considerações finais trazem uma síntese dos principais resultados obtidos durante o decorrer da investigação, assim como os desdobramentos que possam auxiliar na elaboração de novas pesquisas baseadas nos dados coletados através do Censo 2010 do DGP/CNPq. 4315 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 2 – As interações entre universidades e empresas no Brasil No Brasil, a implantação das universidades ocorreu de maneira relativamente lenta e tardia. No decorrer dos trezentos primeiros anos de colonização, as raras iniciativas de educação vieram dos jesuítas que visavam à catequização dos nativos. Segundo Souza (1991), apenas o alto escalão da Igreja Católica e da Coroa Portuguesa, assim como os filhos dos grandes latifundiários, tinham acesso ao ensino superior, porém, para tal, necessitavam se deslocar às universidades europeias. No final do século XVII, foi fundado o Curso Superior de Engenharia Militar no estado do Rio de Janeiro. Porém, segundo Souza (1991), tal fato não pode ser considerado como o ingresso do ensino superior no Brasil, já que se tratava de um estabelecimento português. Foi só em 1808, com a chegada da família real portuguesa, que surgiram escolas de nível superior, como o Colégio Médico Cirúrgico da Bahia e o Curso de Anatomia e Cirurgia do Rio de janeiro. Após a Independência, houve um aumento no número de escolas superiores no país. Porém, ainda eram unidades descentralizadas, voltadas especialmente para a formação de profissionais. Somente em 1920, após a Proclamação da República, que surgiram universidades, de fato, no país, tendo como pioneira a Universidade do Rio de Janeiro, que hoje é chamada por Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). De acordo com Fernandes et al (2011, p. 350), o momento da implantação das escolas de ensino superior e posteriormente das universidades “expressa o caráter tardio da institucionalização da ciência e tecnologia no Brasil, em relação aos países centrais e mesmo a países vizinhos latinoamericanos”. A consolidação das universidades no Brasil, associada ao intenso processo de industrialização acompanhado da competitividade nacional e global entre as empresas, fizeram com que estas passassem a buscar fontes externas de conhecimento, sobretudo, nas universidades, como demonstram Garcia et al (2011). Segundo Moraes e Stal (1994), a interação entre ambos os atores é extremamente importante para o desenvolvimento social e econômico do país. Os grupos de pesquisa, os quais representam as universidades nas interações com as empresas, contam com professores e alunos de graduações e pós-graduações que possuem interesses acadêmicos em comum, os quais estão 4316 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO organizados em um sistema cooperativo. Segundo o Censo 2010 do DGP/CNPq, existem aproximadamente 27.523 grupos de pesquisa divididos entre as cinco regiões brasileiras. É possível notar na Tabela 01 que a distribuição espacial dos grupos é proporcional ao Produto Interno Bruto (PIB) das regiões. Portanto, é possível corroborar com Garcia et al (2011), ao afirmarem que a localização geográfica dos grupos de pesquisa é simétrica aos indicadores econômicos do espaço. Tabela 01 – Relação entre a distribuição regional dos grupos de pesquisa, linhas de pesquisa, pesquisadores e estudantes pelos PIBs das regiões. Fonte: DGP/CNPq – Censo 2010; IBGE – Contas Regionais do Brasil – 2010. Organização: Elaboração própria dos autores A região Sudeste, detentora do maior PIB do país, possui mais grupos de pesquisa que a soma das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Para exemplificar o que está sendo mencionado, é válido citar que apenas o estado de São Paulo, que de acordo com o Censo 2010 do DGP/CNPq, acumula 6.359 grupos, representa cerca de 23% do total de grupos de pesquisa do país. O baixo número de grupos de pesquisa nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, também pode ser explicado pela tardia implantação das universidades nessas três regiões. De acordo com Fernandes et al (2011), foi apenas após a 2ª Guerra Mundial que houve, de fato, uma proliferação das universidades nestas regiões, colaborando para a produção de CT&I nestas localidades. O número total de grupos de pesquisa interativos 3 no Brasil é de 3.506, o que representa apenas 13% do total. Segundo Garcia et al (2011), existe uma 3 Entende-se por grupo de pesquisa interativo, aquele que mantém interações com as empresas, sejam elas, públicas ou privadas. 4317 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO concentração dos grupos de pesquisa interativos, assim como o total de grupos de pesquisa, nas regiões Sul e Sudeste. Garcia et al (2011) demonstram que apenas nas cinco principais microrregiões do estado de São Paulo (Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos, São Paulo e São José dos Campos) estão concentradas cerca de 18% das interações de todo o Brasil. De acordo com Lencioni (1999), tal ocorrência pode ser explicada pelas excelentes universidades e pela concentração de grandes empresas nestas cidades, que devido à competitividade global acabam inovando em seus processos produtivos com o intuito de se destacarem umas das outras. Contudo, em comparação com o total de grupos (Tabela 1), existem poucos grupos de pesquisa interativos. Alguns deles, realmente não se interessam pela interação com as empresas, já que as suas pesquisas são mais direcionadas à academia. Porém, em geral, os grupos de pesquisa têm dificuldades em interagirem com as empresas, pois, segundo Moraes e Stal (1994), muitas não possuem interesses em inovar. Ainda de acordo com Moraes e Stal (1994), há certa desconfiança entre as universidades e as empresas, sobretudo por possuírem objetivos e características bastante distintas, o que acaba colaborando para o distanciamento4. Em 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), existiam 12.904.523 empresas distribuídas heterogeneamente pelas regiões brasileiras. Entretanto, apenas 5.134 buscavam se relacionar com os grupos de pesquisa, representando 0,04 % do total. É válido salientar que pouquíssimas empresas possuem um núcleo interno de PD&I, ou seja, a única forma de inovarem é interagindo com os grupos de pesquisa5. Através do Censo 2010 do DGP/CNPq, é possível notar que as Engenharias e as Ciências Agrárias são as duas áreas de conhecimento com mais grupos de pesquisa interativos (1068 e 707 do total de 3.506), e consequentemente, interações com as empresas (4.831 e 3.052 do total de 13.113). De acordo com Fernandes et al (2011), o caso das Ciências Agrárias pode ser justificado pelo passado histórico e 4 Para a melhor compreensão dos fatores que influenciam o distanciamento entre as universidades e as empresas, recomenda-se Moraes e Stal (1994). 5 Segundo Moraes et al (1994), um núcleo de PD&I é responsável por auxiliar a inovação na empresa, visando manter a competitividade em mercados e produtos já conquistados, além de ampliar a sua atuação, desfrutando de novas oportunidades. 4318 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO pela importância das atividades agrícolas, especialmente a soja, para a economia brasileira. Ainda segundo Fernandes et al (2011), o fato das Engenharias possuírem mais grupos de pesquisa que as demais áreas é explicado pela disponibilidade de habilidades próprias ao desenvolvimento de soluções dos problemas tecnológicos enfrentados pelas empresas, especialmente no contexto da industrialização a qual o país passou na segunda metade do século XX, e também devido à concorrência entre as mesmas, que leva à redução dos custos, elevação da produtividade, quando não, ao menos à inovação do processo produtivo. Diante do que foi mencionado, pode-se concordar com Metcalfe (apud GARCIA et al, 2011), ao afirmar que a concentração das interações entre empresas e grupos de pesquisa de certas grandes áreas do conhecimento é decorrente das necessidades da sociedade. As dez empresas brasileiras mais interativas6, segundo o Censo 2010 do DGP/CNPq, procuram se relacionar com os grupos de pesquisa das Engenharias. Também é possível observar que essas dez empresas são de grande porte e além de possuírem núcleos internos de PD&I, procuram as universidades para a obtenção de conhecimentos que não dispõem internamente. Dentro da grande área de conhecimento das Engenharias, a qual possui 2.651 grupos de pesquisa, pode-se citar a Engenharia Química7, que devido às suas competências, os seus grupos de pesquisa mantêm relacionamentos com inúmeras empresas, inclusive com as mais interativas do país. No Brasil, o número de grupos de pesquisa da Engenharia Química é de 275, quantidade bastante relevante, representando 10,5% do total de grupos das Engenharias. Tal situação será demonstrada com maior clareza na próxima seção. 6 Embrapa, Petrobrás, Chesf, Companhia Vale do Rio Doce, Furnas Centrais Elétricas S/A, Braskem S/A, Epagri. Fiocruz, Epamig, Eletronorte (as empresas estão listadas em ordem decrescente de acordo com o número de relacionamentos com os grupos de pesquisa). 7 O Instituto Americano de Engenheiros Químicos (AICHE) defende que a Engenharia Química é a área responsável em desenvolver, dimensionar, melhorar e aplicar processos e produtos químicos. Nessa concepção inclui-se a construção, operação, análise econômica, dimensionamento e a gestão de unidades industriais que concretizam esses processos, tal como a investigação e formação nesses domínios. 4319 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 3 - A interação entre os grupos de pesquisa em Engenharia Química e as empresas Por meio do Censo 2010 do DGP/CNPq, podemos perceber na Tabela 02 que o Brasil conta com duzentos e setenta e cinco grupos de pesquisa em Engenharia Química, sendo setenta e sete interativos, totalizando quatrocentos e quarenta relacionamentos com as empresas dos diversos setores econômicos. A distribuição espacial desses grupos de pesquisa, como também das interações com o setor produtivo, é altamente heterogênea, tal como ocorre nas outras áreas de conhecimento. Tabela 02 – Distribuição dos grupos de pesquisa em Engenharia Química por Região e Unidade Federativa. Fonte: DGP/CNPq – Censo 2010 Organização: Elaboração própria dos autores A região Sudeste engloba uma parcela considerável dos grupos de pesquisa em Engenharia Química, sejam eles interativos ou não. O número de grupos interativos dessa região corresponde a 40% do total. Tal fato ocorre devido à presença das tradicionais universidades, as quais possuem competências de interagirem com as grandes empresas ali instaladas. Ao analisar a Tabela 03, 4320 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO observamos o destaque da UFRJ, que através da COOPE, tradicional pósgraduação em engenharia do país, conta com cinquenta relacionamentos como setor produtivo, sendo, segundo o Censo 2010 do DGP/CNPq, a terceira universidade mais interativa na área da Engenharia Química do país, ficando apenas atrás das universidades de Santa Catarina. Outro fator que contribui para a soberania da região Sudeste é a presença das principais bacias de petróleo do país, a Bacia de Campos (Rio de Janeiro e Espírito Santo) e a Bacia de Santos (Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro), que segundo a ANP (2012), são as mais produtivas do país. Tabela 03 – Distribuição dos grupos de pesquisa em Engenharia Química por Unidades Federativas e Instituições de Pesquisa. Fonte: DGP/CNPq – Censo 2010. Organização: Elaboração própria dos autores 4321 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO No estado de São Paulo é possível encontrar diversas refinarias de petróleo, com destaque para a Refinaria Capuava, a qual atraiu diversas indústrias petroquímicas, formando o Polo Petroquímico do Grande ABC. Acreditamos na hipótese que grande parte dessas empresas recorre aos grupos de pesquisa localizados em São Paulo, mais precisamente no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), para resolverem seus problemas, assim como para inovarem em seus processos produtivos. Nesta área de conhecimento, o Nordeste possui mais grupos de pesquisa que o Sul, mas com um número inferior de grupos de pesquisa interativos, assim como relacionamentos com o setor produtivo. O considerável número de grupos de pesquisa na região Nordeste pode ser justificado pelas recentes políticas públicas de CT&I, como por exemplo, o CT-Petro/FINEP, que em parceria com diversas empresas (a Petrobras, principalmente) propiciou a formação das Redes Cooperativas de Pesquisa Norte/Nordeste, designando mais recursos para a capacitação dos grupos de pesquisa, assim como para a articulação entre os pesquisadores, favorecendo a produção de competências de CT&I para o setor de Petróleo e Gás Natural (P&G). Outro fator que contribui para o considerável número de grupos de pesquisa da região Nordeste, o que representa 24,4% do total, e de grupos interativos, o qual retrata 19,2% do total, é a presença das bacias de petróleo, as quais podemos destacar: a Bacia Potiguar (Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba), a qual inclusive conta com um moderno Polo Industrial Petroquímico, assim como a moderna Refinaria Clara Camarão, inaugurada em 2009; Bacia do Recôncavo (Bahia); Bacia de Sergipe e Alagoas; Bacia do Tucano (Bahia); Bacia de Camamu-Almada (Bahia); Bacia do Jequitinhonha (Bahia). Também na Bahia, encontramos o Complexo Petroquímico de Camaçari que, segundo a ANP (2012), é o maior complexo industrial do Hemisfério Sul. Porém, é interessante observar que o estado de Pernambuco, apesar de não possuir nenhuma bacia de petróleo em seu território, é o mais interativo, com quarenta relacionamentos com o setor produtivo, da região Nordeste. A situação ocorre por inúmeros fatores: o primeiro é que a presença de uma bacia de petróleo não determina a quantidade de grupos de pesquisa em Engenharia Química, pois muitos outros setores da economia utilizam as competências produzidas pelos 4322 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Engenheiros Químicos, como por exemplo, as empresas do setor gesseiro da Chapada do Araripe (sertão pernambucano); o segundo foi a escolha do estado de Pernambuco para a construção, em 2006, do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE), o qual possui quinze relacionamentos com o setor produtivo; o terceiro fator foi a vinda de inúmeras empresas ao Complexo Industrial Portuário (SUAPE); o quarto fator, um dos mais importantes, foi o aumento de recursos direcionados às universidades federais do Nordeste, o qual colaborou para a contratação de novos professores, assim como para a criação e capacitação dos grupos de pesquisa já existentes. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) é a que possui o maior número de grupos de pesquisa interativos em Engenharia Química na região Nordeste, assim como relacionamentos com o setor produtivo, como demonstra a Tabela 03. A região Sul se destaca por possuir um elevado número de interações entre os grupos de pesquisa em Engenharia Química e o setor produtivo, cento e oitenta e cinco, valor idêntico ao Sudeste. Nesta região podemos destacar o estado de Santa Catarina, o qual através da Universidade Regional de Blumenau (FURB) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é o mais interativo do país, como refletem os dados do Censo 2010 do DGP/CNPq. A FURB e a UFSC são as duas universidades com o maior número de relacionamentos, superando as tradicionais universidades da Região Sudeste, como demonstra a Tabela 03. A região Norte só possui setes grupos de pesquisa, representando apenas 2.5% do total, e dois grupos de pesquisa interativos, totalizando cinco relacionamentos com o setor produtivo. Os dois grupos de pesquisa que interagem com empresas são da Universidade Federal do Pará (UFPA). No estado do Amazonas existe a Bacia do Solimões, mas não existem grupos desta unidade federativa cadastrados no Censo 2010 do DGP/CNPq. Já a região Centro-Oeste é a única que não conta com nenhum grupo de pesquisa em Engenharia Química. Nessa região não há bacias de petróleo e nem refinarias, mas, como já foi dito anteriormente, a presença de bacias não determina a existência de grupos de pesquisa em Engenharia Química. Portanto, a ausência de grupos de pesquisa nesta área de conhecimento no Centro-Oeste, como demonstrou o Censo 2010 do DGP/CNPq, é algo bastante intrigante. 4323 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 4- Considerações finais No decorrer da pesquisa foi possível notar que há uma distribuição heterogênea das interações entre universidades e empresas na área de conhecimento da Engenharia Química. Os grupos de pesquisa, assim como os seus relacionamentos com o setor produtivo, estão localizados com maior intensidade no Sudeste, justamente por se tratar da principal região do país, onde há uma intensa dinâmica econômica, como também presença das principais universidades, empresas e das bacias de petróleo mais produtivas. As regiões Nordeste e Sul também se destacam em relação à presença dos grupos de pesquisa, principalmente os estados de Pernambuco e Santa Catarina. Contudo, no decorrer da presente investigação, foi possível observar que a presença das bacias de petróleo não determina a distribuição espacial dos grupos de pesquisa em Engenharia Química, pois estes também possuem competências para interagirem com empresas de outros setores econômicos. Diante o amplo número de dados secundários utilizados no decorrer da pesquisa, não foi possível analisar com precisão os casos específicos que envolvem a presença dos grupos de pesquisa interativos nas regiões e nas unidades federativas, dando ênfase em apenas alguns aspectos que julgamos importantes. A pesquisa tem como propósito, além de analisar brevemente a distribuição espacial dos grupos de pesquisa em Engenharia Química, contribuir para a elucidação de novos problemas, possibilitando o seu desdobramento em futuras pesquisas, através da coleta de dados primários que possibilite realizar novas sistematizações, como também por meio de um levantamento bibliográfico que contemple o recorte selecionado. Algumas questões que julgamos importantes analisar em futuros trabalhos seriam: o motivo pelo qual não há, de acordo com o Censo 2010 do CNPq, grupos de pesquisa em Engenharia Química nas universidades do Centro-Oeste; a dinâmica das interações entre os grupos de pesquisa do Sudeste e as empresas petrolíferas ali instaladas; os fatores que levaram Santa Catarina a ser o estado mais interativo nesta área de conhecimento, superando Rio de Janeiro e São Paulo; a 4324 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO influência do CT-Petro na consolidação de grupos de pesquisa nordestinos, assim como nos seus relacionamentos com o setor produtivo. Referências ANP, Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Boletim de produção de petróleo e gás natural. www.anp.gov.br/?dw=69701, acesso em 30 de abril de 2015. CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. 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