Macro Visão quinta-feira, 24 de setembro de 2015 Qual o impacto da depreciação cambial sobre a taxa Selic? 1) Introdução Uma depreciação cambial afeta a inflação de forma direta - ao pressionar os preços dos bens comercializáveis e dos bens e serviços que usam insumos importados - e de forma indireta, ao impactar as expectativas de inflação. A reação da política monetária, no entanto, não deve ser automática. Em primeiro lugar, se depreciação cambial for temporária, o movimento terá efeitos pequenos na inflação e nas expectativas. Em segundo lugar, se a depreciação vier acompanhada de queda nos termos de troca (preços em dólar das exportações líquidas), o efeito sobre alguns preços dos bens comercializáveis tende a ser menor. Finalmente, se a depreciação ocorrer em meio a uma recessão econômica, o impacto inflacionário também é amortecido, pois parte do choque de custos acaba sendo absorvido pelas cadeias de produção. Em geral, a condução da política monetária tende a acomodar os efeitos diretos do choque, mas responder aos efeitos indiretos. Ou seja, frente a uma depreciação cambial, a inflação de curto prazo tende a ser mais elevada. Todavia, a política monetária reage de forma a evitar que a inflação mais alta se propague para períodos mais longos, através das expectativas de inflação. 2) Câmbio, inflação e expectativas de inflação O impacto de uma depreciação da taxa de câmbio depende do coeficiente de repasse (pass-through) da taxa de câmbio para a inflação e da sensibilidade das expectativas de inflação em relação ao câmbio. Nossas estimativas sugerem que o repasse do câmbio aos preços da economia, tanto através dos bens comercializáveis, como pela inércia, é de cerca de 5% em 12 meses. Ou seja, se a taxa de câmbio se desvalorizar 10%, tudo mais constante, eleva a inflação anual em 0,5 ponto percentual, 12 meses depois1. Já o efeito do câmbio sobre as expectativas é mais difícil de ser precisado. Esse é o efeito indireto. Primeiro porque ele depende de quanto os agentes acreditam na meta de inflação: se a autoridade monetária goza de alta credibilidade, as expectativas não reagirão muito a outras variáveis, estarão sempre ancoradas. Segundo, porque em momentos que as variações na taxa de câmbio são maiores, seu impacto sobre as expectativas também tende a ser mais intenso. Em outras palavras, a sensibilidade das expectativas com relação ao câmbio varia ao longo do tempo e depende do ambiente econômico. Os dados confirmam essa instabilidade. Desde que o regime de metas de inflação foi adotado, a sensibilidade estimada das expectativas a variações cambiais variou muito. Ela foi alta no período inicial do regime, e ao longo do tempo, conforme o regime foi se consolidando e a volatilidade cambial 1 Esse impacto é direto da taxa de câmbio sobre a inflação, sem considerar o impacto indireto do aumento das expectativas, dado uma inflação mais alta. A última página deste relatório contém informações importantes sobre o seu conteúdo. Os investidores não devem considerar este relatório como fator único ao tomarem suas decisões de investimento. Macro Visão – quinta-feira, 24 de setembro de 2015 foi se tornando menor, a sensibilidade diminuiu. Nos últimos anos, no entanto, o coeficiente voltou a subir (Gráfico 1). De fato, a elevação recente das expectativas de inflação para 2016 parece estar associada diretamente à depreciação recente da taxa de câmbio (Gráfico 2). Gráfico 1 - Sensibilidade das expectativas de inflação ao câmbio 0,10 Gráfico 2 - Taxa de câmbio vs. Focus janelas rolantes de 25 trimestres 5,70 0,08 4,20 5,75 Expectativa FOCUS para 2016 (%) Taxa de câmbio* (dir.) 4,00 5,65 3,80 5,60 0,06 3,60 5,55 0,04 3,20 5,45 0,02 0,00 jun/02 - jun/08 3,40 5,50 5,40 jul-15 dez/05 - dez/11 jun/09 - jun/15 Fonte: Itaú 3,00 ago-15 set-15 * Taxa de câmbio atualizada até 23 de setembro. Fonte: Banco Central do Brasil, Itaú 3) A taxa Selic pode voltar a subir? Para responder a esta pergunta, usamos os coeficientes apresentados na seção anterior para estimar o quanto a inflação pode subir à frente. Além disso, estimamos uma função de reação da política monetária (baseada em suas decisões históricas) para saber qual o tamanho de mudança na projeção de inflação seria suficiente para a taxa Selic voltar a subir2. A maior dificuldade do exercício é estimar quanto do atual movimento cambial afetará as expectativas, haja vista que o coeficiente é instável ao longo do tempo, e parece estar subindo agora (ou seja, o passado recente pode não ser um bom guia). Desta forma, para o exercício, consideramos três níveis de elasticidade das expectativas ao câmbio: 0,10 p.p. (elasticidade baixa), 0,30 p.p. (elasticidade média) e 0,70 p.p. (elasticidade alta), considerando o efeito de 10% de depreciação da taxa de câmbio. Com esses parâmetros, supondo um câmbio em torno de 4 reais por dólar, o modelo sugere uma manutenção da taxa Selic quando consideramos elasticidade baixa e média, e uma subida moderada, no caso de sensibilidade alta. Ou seja, uma reação de política monetária, neste cenário, deve acontecer se a sensibilidade das expectativas de inflação ao câmbio tenha voltado aos níveis observados no início da década passada ou se houver uma depreciação bem mais acentuada. 4) Conclusão Estimar o impacto da atual depreciação cambial sobre a inflação não é trivial. Depende de hipóteses sobre como a atividade e os termos de troca do Brasil se comportarão no futuro, além da persistência da depreciação e de como ela influenciará as expectativas de inflação. Realizando simulações com diferentes níveis de sensibilidade das expectativas ao câmbio, concluímos que uma reação de política monetária deve acontecer se a sensibilidade das expectativas de inflação ao câmbio tenha voltado aos níveis observados no início da década passada ou se houver uma depreciação bem mais acentuada. Caio Megale Laura Pitta 2 No nosso exercício, consideramos uma regra de Taylor, uma curva de Phillips e uma dinâmica das expectativas de inflação. Página 2 Macro Visão – quinta-feira, 24 de setembro de 2015 Pesquisa Macroeconômica – Itaú Ilan Goldfajn – Economista-chefe Para acessar nossas publicações e projeções visite nosso site: http://www.itau.com.br/itaubba-pt/analises-economicas/publicacoes/ \ Informações Relevantes Este relatório foi preparado e publicado pelo Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Banco Itaú Unibanco S.A. (“Itaú Unibanco”). Este relatório não é um produto do Departamento de Análise de Ações do Itaú Unibanco ou da Itaú Corretora de Valores S.A. e não deve ser considerado um relatório de análise para os fins do artigo 1º da Instrução CVM n.º 483, de 6 de Julho de 2010. 2. Este relatório tem como objetivo único fornecer informações macroêconomicas, e não constitui e nem deve ser interpretado como sendo uma oferta de compra ou venda ou como uma solicitação de uma oferta de compra ou venda de qualquer instrumento financeiro, ou de participação em uma determinada estratégia de negócios em qualquer jurisdição. As informações contidas neste relatório foram consideradas razoáveis na data em que o relatório foi divulgado e foram obtidas de fontes públicas consideradas confiáveis. O Grupo Itaú Unibanco não dá nenhuma segurança ou garantia, seja de forma expressa ou implícita, sobre a integridade, confiabilidade ou exatidão dessas informações. Este relatório também não tem a intenção de ser uma relação completa ou resumida dos mercados ou desdobramentos nele abordados. 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