“O que fazer com um coração ferido?” “O que fazer com o coração ferido?” – a pergunta me foi feita em meio a lágrimas durante uma sessão de aconselhamento inusitada. Geralmente, as pessoas esperam de nós, líderes, uma explicação bíblica definitiva. Muitos questionam essa dor com um sentimento de revolta. Mas dessa vez, não. Senti que foi mais um grito de socorro, um pedido de ajuda. A ferida do coração, aquela… fruto de discussões ou desapontamento com alguém, é como uma sombra. Não importa aonde você vá, ela está ali. E mesmo que anoiteça, a qualquer resquício de luz, ela volta. O tempo tem os seus efeitos, mas é paliativo. A fuga traz uma atividade que rouba a atenção por alguns momentos, mas todo mundo se cansa. Já a luz, essa é implacável – quando vem, traz da penumbra todo aquele sentimento, mesmo que adormecido há anos. Embora sejam o ópio da alma ferida, todos esses elementos têm lá seus benefícios, e um dos principais é o tempo, que inevitavelmente nos conduz à reflexão. E é na reflexão que finalmente nos encontramos. Sei que parece simplismo, mas o coração ferido sempre se depara com dois únicos caminhos: o “tenho razão” e o “não tenho razão”. Coisa boa é seguir pelo caminho do “não tenho razão” – tudo é tão mais fácil. Não há questionamentos. O vento no rosto leva metade da culpa. Uma tristeza restauradora vai nos invadindo, trazendo paz. A Bíblia vai chamar esse sentimento de “tristeza segundo Deus” (2 Co. 7.9). Esse caminho é curto. Nossa jornada está bem perto do fim. Basta criar coragem e dizer: “Errei. Me perdoa?” Já o caminho do “tenho razão”… Ah, como é cruel. É como se hostes estivessem pressionando sua mente contra a parede. Há um nó na garganta que não desata. Um sentimento de solidão nos invade mesmo em meio à multidão. É como se todo o senso de justiça evaporasse. E se você tiver uma personalidade mais racional então, seu sofrimento é certo. Como diria a poesia do meu amigo Rodrigo Soeiro: “amar quem não me ama… abala as minhas razões”. Retroceder não soa bem. Desperdiçar todo esse caminhar até aqui é desmotivador. Voltar pelo mesmo caminho é humilhante. Mas eis a triste constatação: o caminho do “tenho razão” não dá em lugar algum. É como caminhar numa esteira. Você pode correr com todas as suas forças que não sai do lugar. Não há atalhos. Não há saída. Você só tem uma opção: voltar. Quer descansar? Descanse. Quer chorar? Chore. Mas decida voltar. Decida abrir mão de sua razão para que finalmente você encontre paz. A mochila da razão é muito pesada, mesmo para você que chegou até aqui. O caminho de volta é longo, e você vai precisar de forças. Larga isso! Que seja nosso segredo. Você tem razão, eu sei. O Universo sabe. Deus sabe. Porém, quem feriu seu coração talvez nunca venha a saber – é a vida. Perdoar não é esquecer (quem dera tivéssemos amnésia). Perdoar é lembrar sem mágoas. Perdoe. Simples assim. No amor de Cristo, Roger “Adorando ao deus desconhecido” Um dos textos mais fascinantes da Bíblia fala-nos da visita de Paulo à Atenas, onde o apóstolo discutiu com alguns filósofos a respeito das Boas Novas e da ressurreição de Cristo. A passagem é uma pérola para todos os que amam filosofia e religião, já que Paulo esbanjou graciosamente todo seu conhecimento histórico e filosófico, dando-lhes uma aula tão cativante que, ao final, alguns deles disseram: “Ei, outra hora queremos te ouvir de novo, hein?” (At. 17.32) Contudo o propósito dessa reflexão não é filosófico, tampouco de história do cristianismo. Quero ser mais contemporâneo. Quero pensar aquilo que vejo e não compreendo na adoração congregacional. Vamos lá! “Seo deo sei deivae sac[rum] - Consagrado a um deus ou deuses” Embora Atenas fosse uma cidade repleta de ídolos, era o berço da filosofia ocidental. Terreno ideal para a discussão de ideias e propostas para uma fé mais coerente, espiritual e, por que não, mais intelectual? Mas quem estaria à altura para discutir com os filósofos de sua época? Evidentemente, um cara tão dedicado à intelectualidade e, ao mesmo tempo, com experiências tão espirituais como Paulo de Tarso. Durante sua visita, Paulo percebe que os caras tinham tantos ídolos que, na falta de mais um, inventaram um com o nome de “Deus Desconhecido”. O apóstolo faz, então, do limão uma deliciosa limonada e usa a situação de forma brilhante: “…andando pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto e encontrei até um altar com esta inscrição: AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio.” (At. 17.23) Foi refletindo exatamente nesse fragmento da história que me questionei: como podem alguns cristãos que sequer frequentam um culto de ensinamento, ou quem dirá uma Escola Bíblica Dominical, intitularem-se “adoradores”? Vejo nestas pessoas todos os traços dos tais filósofos com os quais Paulo debatia. Dos epicureus, esses adoradores contemporâneos herdaram a busca através dos sentidos do máximo possível de satisfação, afastando toda e qualquer forma de sofrimento, do tipo: “Estudar Bíblia para quê, se eu posso sentir o “mover” durante a adoração e me ver livre de todos os males?” Já dos estóicos, os adoradores do culto de domingo herdaram o doce desejo de aceitar a “vontade” de Deus: “Ah… se Deus quisesse que eu fosse estudioso da Palavra teria me feito pastor, e não adorador…” Quais os desdobramentos dessa postura? Os que amam a adoração e rejeitam o estudo dedicado da Palavra mergulham em modismos tão superficiais que me fazem dizer como Paulo disse aos Gálatas: “Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho” (Gl. 1.6-7). Refiro-me a modismos tão grotescos que recuso-me a citá-los, mesmo porque, suas práticas são tentativas ridículas de, a exemplo de Moisés, manter reluzente o brilho do véu quando esse já se foi há muito tempo. É verdade que muitos dos fãs dos fabricantes da “adoração extravaSante” dirão a meu respeito como disseram sobre Paulo, os epicureus e os estóicos: “O que está tentando dizer esse tagarela? Parece que ele está anunciando deuses estrangeiros” (At. 17.18). É, parece, mas não é. Ei, será que vocês não percebem que tal como os atenienses vocês estão apenas em busca de novidades, quando, na verdade, a verdadeira adoração foi ensinada e pautada por Jesus em dois simples pilares: espírito e verdade? O que passar disso, é mentira extravagante. Minha oração é que, na busca de uma adoração extra-bíblica, os garotos dessa geração não se percam. Que eles entendam que o ato profético mais contundente foi o de Jonas – e este, nos basta! @rogerdaescola “A presença de Deus” Eu havia passado a manhã inteira com meus pais numa consulta médica. Estávamos radiantes, pois o diagnóstico do médico para o meu pai fora excelente. Aproveitamos a oportunidade para almoçar juntos e desfrutar daqueles momentos de alegria. Meu pai já havia terminado sua refeição e começou a contar-me o testemunho de conversão de um grande amigo seu. Eu intercalava a troca de olhares com ele e com o prato de comida. De repente, enquanto cortava minha carne, percebi que ele parou de falar. Quando o olhei novamente, ele estava com as mãos juntas como quem faz uma prece e de cabeça baixa. Estranhei. Achei que ele estava passando mal ou coisa parecida. Porém, quando olhei minha mãe com um olhar questionador, ela estava sorrindo e com um ar diferente. Meu pai levantou os olhos e, cheio de lágrimas, concluiu a história da conversão de seu amigo. Não há nada de errado com aqueles que almejam as experiências de nossos pais na fé, que viam anjos, ouviam a voz de Deus em alto e bom som ou eram testemunhas oculares de sinais e maravilhas. Contudo, creio que Deus dá um desafio à essa geração: perceber Sua presença como uma brisa suave. “O vento sopra onde quer – disse Jesus a Nicodemos – você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai.” (Jo. 3.8). Até começar uma ventania, você realmente esquece que o ar está por ali, em todo lugar. É essencial para a vida, mas quase sempre ignoramos sua presença. Esse é o desafio! O Espírito Santo não vem nos visitar (embora muita gente, inocentemente, peça isso em oração). O Espírito de Deus habita em nós. Sua manifestação por vezes é avassaladora. Deixa-nos sem forças, num êxtase maravilhoso que transcende o entendimento. Mas essa percepção é ululante! O desafio é perceber Sua sutilidade e delicadeza como a brisa. Talvez, neste exato momento, você esteja inquieto, esperando uma resposta de Deus e, mesmo sem querer, tenha preconcebido seu momento de glória em que um profeta lhe dá vislumbres do futuro ou um anjo lhe aparece em sonhos. Quem sabe você já abriu sua Bíblia diversas vezes, aleatoriamente, esperando um versículo mágico que lhe traga paz. Enfim, pode até ser que algo assim lhe aconteça, porém, minha oração é que a graça do Senhor invada sua alma de tal forma, que a paz que excede todo o entendimento seja a sua resposta de oração. Que o objetivo de nossas orações não seja chegar a algum destino, mas deleitar-se com a viagem. “Deleite-se no Senhor, e Ele atenderá aos desejos do seu coração.” Salmo 37.4 No amor do Pai, Roger