Módulo 7 1. As transformações das primeiras décadas do século XX 1.1. Um novo equilíbrio global 1. A 29 set, 30 out e 3 nov, a Bulgária, a Turquia e a ÁustriaHungria respetivamente tinham já capitulado perante os aliados. 2. A França estava empenhada no enfraquecimento da Alemanha e da Áustria-Hungria; a Grã-Bretanha achava que isso podia favorecer a expansão do bolchevismo. Com a assinatura do armistício pela Alemanha, a 11 de novembro de 1918, terminava, com a vitória dos aliados, a 1.ª Guerra Mundial.1 As conferências de paz iniciam-se em janeiro de 1919, em Paris, somente com a presença dos vencedores – França, Grã-Bretanha, EUA – e terminam em junho, com a assinatura de vários acordos de paz, entre eles o Tratado de Versalhes. A base das negociações foi um documento com 14 pontos redigido pelo presidente americano e que preconizava, entre outras coisas, o respeito pelas nacionalidades e a criação de uma liga de nações. Mas os consensos foram difíceis de alcançar!2 Apesar disso, marcou o início do reordenamento do espaço europeu, de que resultou uma nova geografia política, bem como uma nova ordem mundial. A. A geografia política após a Primeira Guerra Mundial. A Sociedade das Nações O triunfo das nacionalidades Um novo mapa político da Europa e Médio Oriente 3. Tutela provisória de uma região por parte de uma potência. 1. Desmembramento dos impérios autocráticos (ex.: alemão, austro-húngaro). 2. Aparecimento de novos estados [povos antes oprimidos emancipam-se agora, alcançando a sua independência]. Europa: Finlândia, Estónia, Letónia e Lituânia; Polónia, Checoslováquia, Jugoslávia e Hungria. Ásia: Arábia Saudita e Curdistão. Síria e Líbano (sob tutela francesa), Iraque, Transjordânia, Egito e Palestina (sob influência britânica), passam a protetorados3 europeus. 3. Estados que ampliam as suas fronteiras: França [recupera a Alsácia-Lorena]; Bélgica; Itália; Roménia [recupera a Transilvânia e a Bessarábia]. 4. Estados que perdem território: Áustria, Bulgária, Império Otomano – que viu as suas fronteiras reduzidas à atual Turquia –, Rússia – que perde território para a Polónia, Ucrânia, Finlândia e assiste à emancipação dos estados bálticos. 5. Caso alemão. A Alemanha foi responsabilizada pela guerra; perdeu 1⁄7 do seu território e 1⁄10 da população; ficou dividida em duas, com o corredor de Danzig a separar a Prússia do restante território; ficou sem colónias e sem frota naval; foi obrigada a reparar financeiramente os prejuízos causados. Os aliados aniquilaram a sua capacidade militar; o exército alemão ficou sem artilharia e carros de assalto e reduzido a cem mil homens; o serviço militar deixou de ser obrigatório; a Renânia foi ocupada e desmilitarizada. O triunfo da democracia A 1.ª Guerra Mundial terminou com a vitória das democracias ocidentais. Talvez por isso, nos novos estados, bem como nos vencidos (ex.: Alemanha), se tenha adotado o regime republicano e o sistema democrático parlamentar. A Sociedade das Nações [SDN] Esperança e desencanto Função. No pós-guerra, esforços diplomáticos convergiram no sentido de criar um organismo que tivesse como função a salvaguarda da paz e segurança internacional. O projeto de uma liga das nações concretizou-se em 1919 com a formação da Sociedade das Nações (SDN).4 4. Foram 45, os países signatários. 4 CRES-HA12 © Ideias de Ler Crises, embates ideológicos e mutações culturais na primeira metade do século XX 1. As transformações das primeiras décadas do século XX 1. Do qual França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e EUA eram membros permanentes! Obstáculos a uma paz duradoura 2. Portugal indignou-se com o esquecimento a que foi votado já que não lhe foi reconhecido direito a qualquer reparação. 3. Territórios de ucranianos e bielorrussos passaram para a Polónia, cuja fronteira com a Rússia só ficou definida em 1921; a Checoslováquia passou a albergar 6 milhões de alemães (nos Sudetas) e outros tantos eslovacos, magiares e polacos; a Jugoslávia agrupava eslovenos, croatas, bósnios, sérvios, italianos, albaneses; a Áustria, estado alemão, foi proibida de se unificar com a Alemanha. Objetivo: cooperação internacional; resolução pacífica de conflitos e litígios; desarmamento. Para os infratores ficaram previstas sanções; a agressão a um país membro obrigava os outros à sua defesa. Orgânica: a sede era em Genebra; o órgão encarregado de dirimir os conflitos que ameaçassem a paz era o Conselho.1 A SDN foi fator de esperança, mas a sua incapacidade acabou por constituir um obstáculo à paz. 1. Os vencidos nunca aceitaram os tratados de paz, em cuja elaboração não tinham participado. A Alemanha chamou-lhe diktat, e este orgulho ferido levaria mais tarde à ascensão do nazismo. Nenhum dos vencidos foi convidado para membro da SDN. (A Alemanha só foi admitida em 1926). 2. Nem todos os vencedores ficaram satisfeitos com os tratados de paz. Uns achavam-se prejudicados nas reparações de guerra; outros não viram os seus interesses geoestratégicos satisfeitos.2 3. Redefinição de fronteiras sem atender à questão das minorias nacionais. Uma multiplicidade de povos ficou espalhada por vários países, sem ver a sua identidade étnica e cultural respeitada. O princípio das nacionalidades foi apenas parcialmente aplicado. Em 1914, 60 milhões de europeus viviam sob domínio estrangeiro; em 1919, eram ainda 30 milhões.3 4. Questão das reparações. A França insistia nos pagamentos; os EUA discordavam, não aceitando a reconstrução dos vencedores à custa da asfixia económica dos vencidos. Desta forma, o Congresso americano não ratificou o Tratado de Versalhes e os EUA nunca integraram a SDN. 5. Sem apoio americano e sem mecanismos que lhe permitissem responder às repetidas violações dos seus princípios, desacreditada na sua autoridade, a SDN viu-se impedida de desempenhar a sua função sendo dissolvida em 1939. B. A difícil recuperação económica da Europa e a dependência em relação aos Estados Unidos Introdução A 1.ª Guerra Mundial trouxe o declínio da Europa e a ascensão dos EUA à categoria de primeira potência mundial. O declínio da Europa 1. Perdas humanas: 10 milhões de mortos [e 20 milhões de inválidos]. Alterações demográficas: envelhecimento da população e diminuição da mão de obra. 2. Ruína material e debilidade do setor produtivo: campos queimados e improdutivos; fábricas, minas, frotas e vias de comunicação destruídas. 3. Durante a guerra, a Europa tornara-se dependente dos fornecimentos americanos, acumulando dívida. Com o fim da guerra, a economia europeia sentiu dificuldades na sua reconversão para uma economia de paz, orientada que estava para o esforço de guerra. Continuou por isso compradora de bens e serviços. Além disso, como os governos continuaram a recorrer à contração de novos empréstimos e as exportações eram praticamente inexistentes, a balança de pagamentos ficou ainda mais desequilibrada, agravando-se o endividamento e a inflação . 4. Por outro lado, como a procura excedia a oferta, tornou-se prática corrente o racionamento de bens. A consequência foi a subida dos preços, que a certa altura se tornaram incomportáveis para as classes que viviam de rendimentos fixos ou cujos salários não acompanhavam a inflação. 5. Solução? Recurso à emissão massiva de notas como forma de multiplicar os meios de pagamento e fazer face às dívidas e à carestia. Mas a maior quantidade de moeda fiduciária em circulação sem um correspondente aumento da produção e da riqueza provocou uma desvalorização monetária, já que a moeda circulante rapidamente perdia o seu valor.4 CRES-HA12 © Ideias de Ler Inflação: Alta de preços resultante de distorções entre a oferta e a procura, a quantidade de moeda em circulação e a produção de riqueza. A inflação tem geralmente origem na emissão de papel-moeda feita pelo Estado, seja para combater um défice orçamental, seja para fazer face a um aumento geral dos salários sem o correspondente aumento de produção. 4. A debilidade das moedas europeias sentia-se desde o início da Guerra, com o abandono do padrão-ouro – gold standard – e a sua inconvertibilidade. 5