METODOLOGIA ATIVA NO PROCESSO DE APRENDIZADO DO CONCEITO DE CUIDAR – UM RELATO DE EXPERIÊNCIA OLIVEIRA, Marlene Gonçalves [email protected] PONTES, Letícia – UFMT [email protected] Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo No âmbito do ensino de enfermagem, diante das mudanças necessárias para a formação de um profissional que aprenda a aprender, a aprendizagem significativa tem permitido uma genuína contextualização dos conhecimentos necessários a sua prática profissional, facultando, um aprendizado mais efetivo e permitindo a atuação em um contexto complexo e interdisciplinar. Buscando referenciais que apoiassem propostas deste gênero, inspiramo-nos na concepção cognitivista de David Ausubel sob a leitura de Pedro Demo, quando assumem que os mecanismos do aprender são mais eficientes em situações nas quais o estudante consegue, utilizando conhecimentos prévios, agregar e incorporar significados aos novos conteúdos, facultando, assim que esse conhecimento recém-incorporado seja armazenado, por meio de associações à estrutura cognitiva. Considerando que o Enfermeiro tem como maior instrumento de trabalho o “Cuidado”, planejamos, em acordo com professores de quatro disciplinas trabalhadas no primeiro semestre do curso de graduação em enfermagem, definindo-se, entre os professores, a temática “Cuidado” para uma discussão interdisciplinar ao final do semestre. No presente estudo apresentamos os resultados da disciplina de “Enfermagem, Saúde e Cidadania” quando da construção do conceito de Cuidado sob a ótica da Assistência de Enfermagem. A integração ocorreu entre as disciplinas: “Psicologia Aplicada a Enfermagem”, “Sociologia Aplicada a Enfermagem”, “Filosofia Aplicada a Enfermagem” e “Saúde Enfermagem e Cidadania”. No final do semestre, os alunos apresentaram, utilizando a técnica de Seminário, o “Cuidado” nos aspectos Sociais, Psicológicos e Filosóficos em relação à assistência de enfermagem, para uma discussão interdisciplinar mais ampliada sobre o tema. Desta forma, o presente estudo apresenta uma experiência no ensino de enfermagem, utilizando como método a teoria da aprendizagem significativa, refletindo os elementos inerentes neste conceito ao ensino de enfermagem. Palavras-chave: Aprendizagem significativa. Enfermagem. Ensino. 8168 Introdução Este trabalho é produto de uma experiência realizada no Curso de Graduação de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, para atender os objetivos da Disciplina de “Práticas Interdisciplinares”, que intenta desenvolver a integralidade com as demais disciplinas oferecidas no primeiro semestre do curso, a saber: “Psicologia Aplicada a Enfermagem”, “Sociologia Aplicada a Enfermagem”, “Filosofia Aplicada a Enfermagem” e “Saúde Enfermagem e Cidadania”. É lugar-comum que o enfermeiro tem como o maior instrumento de trabalho, o “Cuidado”. Portanto, foi planejado pelo professor responsável da referida disciplina, em acordo com os professores das disciplinas envolvidas o tema a ser trabalhado. Foi definido, entre os professores, que todas as disciplinas trabalhariam o conceito de “Cuidado” com os alunos, utilizando um método de ensino que melhor adaptasse à proposta. No final do semestre, os alunos deveriam apresentar, utilizando a técnica de Seminário, o “Cuidado” nos aspectos Sociais, Psicológicos, Filosóficos e em relação à assistência de enfermagem, para uma discussão interdisciplinar maior sobre o tema. Para a efetivação do Seminário Interdisciplinar, o grande grupo de alunos foi dividido em quatro semi-grupos de seis alunos e cada grupo foi assumido por um professor das determinadas disciplinas envolvidas, para orientação do processo de aprendizado. Nesse trabalho, apresentamos a prática pedagógica utilizada para o processo de ensino e aprendizagem na disciplina de Enfermagem, Saúde e Cidadania na construção/reconstrução do conceito de Cuidado sob a ótica da assistência de enfermagem. Cuidado sob a ótica da assistência de enfermagem O cuidado, segundo Martin Heidegger (1889-1976), citado por Boff (2000), significa um fenômeno ontológico-existencial básico, ou seja, a base possibilitadora da existência humana. Boff (1999, p. 65) afirma que sem o cuidado, o homem deixa de ser humano e, quando não recebe cuidado desde o nascimento até a morte, desestrutura-se, definha-se, perde sentido e morre. O cuidado profissional, maior instrumento de trabalho da enfermagem, tem sido objeto de estudo nas últimas décadas, tendo em vista que as ações do cuidar possibilitam que enfermeiros e pacientes interajam de forma dinâmica. Contudo, essas ações têm forte 8169 tendência de estarem em evidência apenas nos aspectos técnicos, negligenciando os demais elementos do cuidar como ouvir, apoiar, tocar, oferecer uma presença e respeitar sua individualidade, isto é, elementos ligados ao capital humano, mais próximo daquilo que Ferreira (1986, p 346) considera como humanização que é “tornar-se humano, humanizar-se, tornar benevolente, afetuoso, acessível, humano e fazer adquirir hábitos sociais polidos, civilizar”. Waldow (2006, p. 14), uma expoente estudiosa do tema, assevera que o cuidado constitui todas as atividades desenvolvidas pelo cuidador, para e com o ser cuidado. Portanto, o ato de cuidar deve ser desenvolvido com base em conhecimento científico, habilidade, intuição, pensamento crítico e criatividade. Esta autora enfatiza que para ocorrer o processo do cuidar é necessário haver um ambiente apropriado para a ação, assim como relações de cuidado em que se distinguem pela expressão de comportamentos e atitudes. Confiança, respeito, interesse, atenção, solidariedade e afeto são as virtudes mais comuns a essa prática. O objetivo cardeal das ações de enfermagem é cuidar dos indivíduos, e ao cuidar criase condições condutivas para uma transição saudável da doença para saúde. Watson (2000, p. 254) apresenta algumas premissas sobre o cuidado em enfermagem: a) Deve ser efetivamente demonstrado e praticado apenas interpessoalmente; b) Consiste em fatores que resultam na satisfação de determinadas necessidades humanas; c) Promove a saúde e o crescimento do individuo e família; d) As respostas do cuidado aceitam a pessoa não apenas como ela é, mas como ela também poderá tornar-se; e) “healthogenic”1. A prática do cuidado integra o conhecimento biofísico com o conhecimento do comportamento humano para gerar ou promover a saúde e proporcionar atendimento aos que estão doentes. A ciência do cuidado é, portanto, complementar à ciência da cura; f) A prática de cuidados é essencial para enfermagem. Considerando que a enfermagem tem como principal instrumento de trabalho a ação do cuidar, procuramos na disciplina de “Enfermagem, Saúde e Cidadania”, instigar o aluno a buscar o significado do “cuidado” junto àqueles que se beneficiam dele, assim como o 1 healthogenic é melhor para a saúde, mais saudável que a cura. 8170 conceito de cuidado para profissionais de enfermagem inseridos no cotidiano do processo de cuidar. Metodologia ativa no processo de aprendizado A proposição de uma teoria explicativa do processo de aprendizagem humana é idéia de Ausubel (1997) é embasada nos princípios organizacionais da cognição, onde conhecimento e entendimento de informações se valorizam, não deixando somente para a memorização mecânica. Esse autor sugere como pressuposto a relação de conteúdos que vão se agregando de forma hierarquizada e complexa conectando aos conhecimentos e propiciando a aprendizagem e crescimento cognitivo dos alunos. A conexão de novas informações, com a aprendizagem significativa, facilita a aplicação do conhecimento em atividades complexas, como por exemplo, o entendimento de procedimentos invasivos, importantes para os estudos na área de saúde. Ao mesmo tempo ela deve incentivar o estudante a aplicar a informação recebida de forma prática; ela integra-se, assim mais facilmente e, de forma mais completa, sendo valorizada de acordo com seu significado. É assim que Ausubel propõe que a rede de conhecimento se construa utilizando em associação a nova informação àquela que se está sendo vista pela primeira vez, a conhecimentos já aprendidos e vivenciados, isto é, a nova informação deve ser incluída em um lastro de conhecimentos prévios. Após essa relação ser consolidada pela agregação cria-se um novo e mais abrangente conceito. As possibilidades de aplicação que os princípios da aprendizagem significativa trazem são inúmeras e em diferentes áreas (NARDIN, 2005; OLIVEIRA, 2006), inclusive à formação do profissional de saúde, em especial o Enfermeiro, contribuindo para o real ganho cognitivo do estudante. O ato de aprender deve ser um processo reconstrutivo, quando permite o estabelecimento de diferentes tipos de relações entre os fatos e objetos, desencadeia ressignificações/reconstruções e contribui para sua utilização em diferentes situações (MOREIRA, 1993). Existem duas condições para a construção da aprendizagem significativa: a existência de um conteúdo potencialmente significativo e a adoção de uma atitude favorável para a aprendizagem. Com outras palavras, a postura própria do discente que permite estabelecer 8171 associações entre os elementos novos e aqueles já presentes na sua estrutura cognitiva (HOUAISS, 2001). Demo (2007, p. 16) apresenta uma abordagem educacional: o educar pela pesquisa, com no questionamento reconstrutivo, em que a construção do conhecimento acontece através de uma reformulação de teorias e conhecimentos existentes. O questionamento reconstrutivo encaminha para um novo modelo do construtivismo, onde se retira a ênfase da construção e direciona-a para a reconstrução do conhecimento. A reconstrução do conhecimento, considerada o critério diferencial da pesquisa, engloba teoria e prática. Dessa maneira, educar pela pesquisa requer que o professor e o aluno tenham a pesquisa como principio cientifico e educativo no seu cotidiano (DEMO, 2007). É a partir dessa inspiração que este estudo se apresenta com os objetivos de discutir o conceito do “cuidado” sob a ótica da Assistência de Enfermagem, em primeiro lugar e de fazer uma análise do entendimento da ação do cuidar pelos profissionais da área de enfermagem, em segundo lugar e, por fim sugerir uma análise do significado do cuidado para aqueles profissionais envolvidos. Metodologia Para desenvolver a construção do conceito de “Cuidado de Enfermagem” utilizamos a prática pedagógica, baseada na Metodologia Ativa. A Metodologia Ativa é uma estratégia de ensino centrada no estudante que deixa o papel de receptor passivo e assume o de agente e principal responsável pela sua aprendizagem. Para tanto, utilizamos quatro momentos para o desenvolvimento: a) Trabalhando conceitos. Previamente, foi trabalhado o conceito de Cuidado, através de leitura e discussão de textos na estratégia de aula expositiva dialogada, a partir de conceitos já construídos por teoristas afetos à área da Enfermagem. Foram disponibilizados dois artigos científicos que abordaram a temática e dois livros como referencial básico, a saber: Boff (2000, cap. VII p. 69-81); Waldow (2006, cap. I p. 11-33). b) Diagnóstico da situação real. Partindo do princípio que os conhecimentos sobre indivíduos se evidenciam com melhor clareza a partir da descrição da experiência humana, tal como ela é vivida e tal como ela é definida por seus próprios atores Polit e Hungler (1995, p. 270), concluímos que para conceituar o “cuidado”, seria 8172 imprescindível fazer um diagnóstico de campo com o objetivo de conhecer o significado do cuidado para “cuidados e cuidadores”. Para buscar a situação real de como as ações de cuidado são efetivadas, os alunos realizaram duas visitas sob a orientação dos professores da disciplina de “Saúde, Enfermagem e Cidadania”, em duas unidades hospitalares, sendo um Hospital Universitário e um Hospital Filantrópico no Estado do Mato Grosso. As visitas foram acompanhadas pelos professores, após a autorização das gerências dos serviços de enfermagem dos respectivos hospitais. Com a intenção de obter dados para subsidiar a construção do conhecimento a partir da realidade, os alunos interagiram com pacientes e profissionais de enfermagem, realizando uma entrevista informal, com perguntas semi-estruturadas. Foram elaboradas três questões para o profissional da área de enfermagem (tabela 01) e quatro para indivíduos que estavam sob os cuidados de enfermagem (tabela 02). Tabela 01 – questões para o profissional de enfermagem Perguntas realizadas ao cuidador: O que significa “cuidar” para você? Tente se lembrar de uma experiência que você sentiu que cuidou de algum paciente; Você se lembra de alguma situação da qual você teve a sensação de não ter cuidado devidamente do paciente? Fonte: Dados organizados pelo (s) autor (es) com base no instrumento de coleta de dados. Tabela 02 – questões para o indivíduo sob os cuidados de enfermagem Perguntas realizadas ao paciente: O que significa “cuidar” para você? Quando você se sentiu cuidado por alguém? Relate uma experiência que você sentiu ser bem cuidado. Em algum momento você não foi atendido quando precisou ser cuidado? Fonte: Dados organizados pelo (s) autor (es) com base no instrumento de coleta de dados. As perguntas semiestruturadas visaram oferecer maior oportunidade ao sujeito para expor seus sentimentos, e foram realizadas pelos próprios acadêmicos de enfermagem, após apresentação e esclarecimentos de dúvidas sobre os objetivos da entrevista, assim como a garantia do anonimato. As respostas obtidas foram anotadas em diário de campo e os alunos ficaram atentos para comportamentos não verbais. Essas observações ajudaram no entendimento do significado e conceito de cuidado para os “cuidados” e “cuidadores”, respectivamente. Os alunos interagiram com profissionais de enfermagem e pacientes que se encontravam sob os seus cuidados, nas duas instituições hospitalares visitadas. Desse modo, 8173 participaram desta prática de aprendizado sete pacientes e cinco profissionais de enfermagem, conforme tabelas 03, 04, 05, 06. Tabela 03. Perfil dos pacientes do Hospital Universitário. Sujeito Sexo Idade Diagnóstico Tempo de internação2 1 2 3 4 ♀ ♂ ♂ ♂ 13 42 24 09 Anemia Falciforme Diagnóstico a esclarecer Síndrome Nefrótica Infecção Hospitalar 16 dias 19 dias 15 dias 05 dias Fonte: Dados organizados pelo (s) autor (es) com base nos resultado da coleta de dados. Tabela 04. Perfil dos cuidadores do Hospital Universitário. Cuidador Sexo Formação 1 ♂ Técnico em enfermagem 2 ♀ Enfermeiro 3 ♂ Enfermeiro 4 ♀ Técnico em enfermagem Tempo de trabalho 04 anos 15 meses 28 anos 20 anos Fonte: Dados organizados pelo (s) autor (es) com base nos resultado da coleta de dados. Tabela 05. Perfil dos pacientes do Hospital Filantrópico. Sujeito Sexo Idade Diagnóstico Tempo de internação3 A ♀ 19 Aborto espontâneo 3 dias B ♀ 20 Parto 4 dias C ♀ 26 Aborto embrionário 2 dias Fonte: Dados organizados pelo (s) autor (es) com base nos resultado da coleta de dados. Tabela 06. Perfil dos cuidadores do Hospital Filantrópico. Cuidador Sexo Formação A ♀ Enfermeiro Tempo de trabalho 21 Fonte: Dados organizados pelo (s) autor (es) com base nos resultado da coleta de dados. c) Elaboração do Seminário: os alunos, após as atividades em sala de aula e a visita de campo, elaboraram um Seminário para apresentar de que forma construíram o Conceito de Cuidado. O Seminário foi orientado por um dos professores da disciplina “Saúde Enfermagem e Cidadania”, quando as respostas adquiridas foram organizadas para posteriormente destacar fragmentos dos textos considerados relevantes segundo os objetivos da proposta de trabalho. 2 3 Data de internação até o dia da visita (11/11/2006). Tempo de internação até o dia da visita (18/11/2006) 8174 d) Apresentação do Seminário: a apresentação dos quatro grupos se deu com a presença de todos os professores, quando os mesmos fizeram avaliação e considerações a partir do conteúdo apresentado. Utilizando os conceitos dos teoristas Leonardo Boff e, principalmente, Vera Waldow, os alunos iam recuperando as falas e fazendo uma reflexão amparada pelas idéias dos teoristas utilizados, descrevendo a experiência vivida. Isso permitiu uma aprendizagem significativa, quando foi possível assegurar ser aquela que envolve o estudante como pessoa, com suas idéias, sentimentos, cultura, valores e conhecimentos sobre o cuidar. Os alunos mostraram ter compreendido, a partir das falas dos cuidadores, que os conceitos de cuidado, diferenciavam-se de acordo com nível de formação do profissional, conforme destacaram. Dos cuidadores: em relação ao conceito de Cuidado as falas a seguir mostram como esses sujeitos re reportam: “Significa tudo, me dedico ao máximo com os pacientes, gosto do que faço” (Cuidador 1 – T. Enf); “Prestar assistência de enfermagem individualizado, holística, procurando atender, aliviar ou sanar uma necessidade imediata do paciente”. (Cuidador 2 - Enf) Em relação a experiências que sentiram ter cuidado de alguém duas cuidadoras assim se expressam: Menino de 16 anos que esteve internado com lupus, [...], muito arredio, desconfiado, se mostrava amedrontado, não conversava, era hostil aos cuidados da equipe. Ele foi piorando gradativamente, não aceitava o tratamento. Com uma semana de internação, eu sentei e conversei com ele... ele falava que mentiam pra ele, que ele sabia que não melhoraria. Fiquei sensibilizada e comecei a conversar todos os dias com ele, mas ele sempre respondia com aspereza... com o tempo ele ficou mais calmo. Fiquei imaginando... já pensou se esse menino pega uma infecção generalizada?... então começamos a trazer roupas e curativos esterilizados que só se fazia na UTI. Trouxe uma TV de casa para ele, outros enfermeiros deram baralho. Ele começou a sorrir, a pele começou a melhorar, chamava a equipe para jogar baralho... começou a se alimentar. Ontem conseguiu alta, fez uma dedicatória para mim, me deu uma foto, me passou o telefone dele e me agradeceu por tudo que eu fiz por ele. Isso me deixou muito emocionada. Eu acredito no cuidado de enfermagem, a gente faz a diferença. (Cuidador 2 – Enf.) “Na pediatria tudo Marca [....]” (Cuidador 4 – Técnico de Enfermagem) Em relação a situações que se depara que não cuidou, foi descrito por apenas um cuidador, conforme fala aqui descrita: “No semi-intensivo às vezes tem três pacientes 8175 intubados e não dá tempo de dar atenção a todos, você se sente como se seu serviço não tivesse valido a pena, vai pra casa com a consciência pesada”. (Cuidador 1 Téc. de Enf.) Diferentemente, outro cuidador não vivenciou tal sentimento: “Não tive a experiência de não estar cuidando de alguém, nunca achei que podia ter feito mais, sempre dou o máximo de mim.” (Cuidador 3 – Enf.) Dos cuidados: os alunos concluíram que a maioria dos pacientes citou a atenção às necessidades básicas e conversas informais por parte da equipe de enfermagem, como elementos importantes no processo do cuidar e não somente procedimentos terapêuticos. Para exemplificar as falas seguintes denotam esses procedimentos: “Cuidar é ter atenção com as pessoas, procurar entender a pessoa da melhor forma”. (Paciente C, 26 anos) Concluíram, também, que os pacientes se sentem cuidados quando são bem tratados, ajudados, e quando recebem pequenos gestos de carinho que os confortam na ausência da família, identificado na fala de um acompanhante e de um paciente: “São amigos, eles explicam as coisas, são mais próximos, isso ajuda no tratamento... perguntam se ele tá bem... estimulam o tratamento, explicam os procedimentos... aí ele fica seguro”. (Esposa do Paciente 3,- 24 anos); “O jeito delas tratar...me tratam bem, me chamam de “minha pequena”. Paciente 1 (13anos) De acordo com relatos dos pacientes sobre experiências em que se sentiram cuidados, destacam-se a preocupação que os profissionais de enfermagem tiveram como aliviar a dor ou o de proporcionar conforto: “Quando a enfermeira fixou o abocath, ela tirou os esparadrapos que pregava pra não arrancar os cabelinhos do braço”. (Paciente 1, 13anos); “Eles se preocupam com o conforto dele, uma vez transferiram ele pra unidade semi-intensiva, mas ele não quis porque ficava muito isolado e o trouxeram de volta”. (Esposa do paciente 3, 24 anos) Em relação a experiências de que não foram cuidados, alguns mencionaram a falta ou demora de medicamentos e outros a falta de atenção as suas necessidades básicas. “Fiz cesárea na quinta à noite e fiquei até meio dia sem urinar, tava passando mal, sofrendo... e ninguém prestou atenção em mim” (Paciente C – 26 anos) Por fim, apresentaram o que a atividade contribuiu para a construção de conhecimentos: Que o estudo permitiu entender que as ações do cuidar dos profissionais de enfermagem, frente as suas necessidades, a afetividade e a sensibilidade, são instrumentos para o cuidar que devem permear todo processo de cuidar. 8176 Apesar da pequena amostra de participantes na prática, além de não contarem com dados mensuráveis, a semelhança das respostas obtidas das questões orientadoras, foi possível concluir que: a) O cuidado humano não se detém apenas na valorização do cuidado em si, mas orienta-se para a interação permanente entre o cuidador e o ser cuidado; b) O enfermeiro é, neste contexto, o facilitador e deve atender as necessidades do ser cuidado, respeitando a autonomia deste; c) O cuidado humano se inicia quando o Enfermeiro entra no espaço de vida ou no campo fenomenológico da outra pessoa; d) O enfermeiro deve, nas ações do cuidar, usar de habilidades, para perceber os códigos e significados do paciente na relação, lendo movimentos, gestos, olhares, atos, procedimentos, informações e toque. No que se refere ao entendimento do significado do cuidar, pelos profissionais de enfermagem, foi possível concluir que, apesar de o cuidado ser o seu principal instrumento de trabalho, eles não conseguiram definir com clareza o que significa cuidar do outro. Portanto, apesar da preocupação atual dos profissionais da saúde quanto à humanização da assistência ao ser cuidado, não existe ainda uma compreensão objetiva do significado de “cuidar”. Que o cuidado é o produto final das atividades desenvolvidas pela enfermagem, devendo esse profissional estar predisposto a “estar com”, ser sensível à realidade da experiência do paciente para que se desenvolva uma relação de confiança entre “cuidador” e “ser cuidado”. Considerações Finais As metodologias ativas têm se constituído em uma alternativa propicia, ao permitir a promoção da desejada articulação entre universidade, serviço, em particular o Sistema Único de Saúde (SUS) e a comunidade, bem como o ajuste do processo de ensinar na formação do profissional enfermeiro. Foi pensando assim que buscamos trabalhar com a prática das metodologias ativas na formação do enfermeiro. Nela observamos as transformações da concepção do conteúdo oferecido previamente para os alunos, e sua reconstrução abrangente inspirada pela “pesquisa” preliminar no cenário de prática. Os alunos, muito embora recém admitidos na faculdade, desenvolveram habilidades no pensar, enquanto ciência, além de aumentar seu conceito sobre o tema trabalhado quando buscaram o significado de cuidados 8177 junto à clientela assistida e junto aos profissionais pares e puderam assim, reconstruir o que já haviam concebido através das fontes bibliográficas, trabalhadas em sala; compreenderam a importância do entendimento de todas as dimensões do cuidado, e valorizaram o conhecimento das ciências humanas trabalhadas na sua formação. Concluímos que a pratica metodológica aplicada foi significativa para tanto para a reconstrução do conceito de, como a importância da interdisciplinaridade. REFERÊNCIAS AUSUBEL D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes; 1982. BOFF, Leonardo Saber cuidar: ética do humano ― compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. DEMO, Pedro. Educar pela Pesquisa. Campinas/SP: Autores Associados, 2007. FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. HOUAISS A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva; 2001. MORAES, R.; RAMOS, M. & GALIAZZI, M. C. (Eds.) Pesquisa em Sala de Aula: Fundamentos e pressupostos. Porto Alegre: PUCRS, 2002. MOREIRA M. A.; Buchweitz B. Novas estratégias de ensino e aprendizagem: os mapas conceituais e o vê epistemológico. Lisboa: Plátano Edições Técnicas, 1993. NARDIN C. S. Salgado T. D. M, Del Pino J.C. Análise de uma proposta de ensino de reações químicas entre compostos inorgânicos referenciada em mecanismos de reação. In: V Encontro Nacional de Pesquisa em Educação, 2005. OLIVEIRA R. A., CYRINO M. C. C. T. A compreensão de duas professoras de matemática sobre o modo como seus alunos aprendem. In: III Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática, 2006, Águas de Lindóia. Anais do III Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática 2006. 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