sa08-20281 - o movimento social greenpeace

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica
2008 – UFU 30 anos
O MOVIMENTO SOCIAL GREENPEACE
Marcelo Rodrigues Lemos1
Universidade Federal de Uberlândia
[email protected]
Marcelly Olívia Fernandes Amorim2
Universidade Federal de Uberlândia
[email protected]
Priscilla Mércya Alvarenga Ribeiro3
Universidade Federal de Uberlândia
[email protected]
Resumo: O seguinte artigo articula as teorias dos movimentos sociais estudadas por Maria da
Glória Gohn com o Greenpeace entendido como movimento relacionado à causa ecológica que
luta em defesa da preservação do meio-ambiente e na promoção da paz. Analisamos ainda o
Greenpeace enquanto movimento social internacional embasado no paradigma norte-americano.
Palavras-chave: Ações coletivas, Greenpeace, meio-ambiente, movimento social, natureza,
preservação.
1. INTRODUÇÃO - O GREENPEACE
“A partir dos anos 60, em várias regiões acadêmicas do mundo ocidental, o estudo
dos movimentos sociais ganhou espaço, densidade e status de objeto científico de análise e
mereceu várias teorias. Tudo isso ocorreu porque, em parte, os movimentos ganharam visibilidade
na própria sociedade, enquanto fenômenos históricos concretos.” (GOHN, 1997: 10).
Sendo assim, este artigo vem analisar o trabalho do Greenpeace enquanto movimento social
internacional que visa transformar o planeta em um lugar melhor para se viver com a preservação
da natureza, garantindo às futuras gerações os mesmos recursos naturais.
“Um dia, a Terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes
aparecerão mortos na correnteza dos rios. Quando esse dia chegar, os índios perderão o seu espírito.
Mas vão recuperá-lo para ensinar ao homem branco a reverência pela sagrada terra. Aí, então, todas
as raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar a destruição. Será o tempo dos
Guerreiros do Arco-íris.” (Profecia feita há mais de 200 anos por “Olhos de Fogo”, uma velha índia
Cree).
Tal profecia estimulou simbolicamente o surgimento do Greenpeace em 1971 no Canadá
como forma de organização independente que instiga nos indivíduos a mudança de hábitos e
comportamentos para com o meio ambiente. Por meio de investigações e denúncias o Greenpeace
1
Marcelo Rodrigues Lemos é graduando do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia. Pesquisa
a temática “Gênero e Trabalho” sob orientação da professora doutora Eliane Schmaltz Ferreira.
2
Marcelly Olívia Fernandes Amorim é graduanda do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia.
Pesquisa a temática “Relações de Gênero e Homossexualidade” sob orientação da professora doutora Alessandra
Siqueira Barreto.
3
Priscilla Mércya Alvarenga Ribeiro é graduanda do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia.
Pesquisa na área da “Sociologia Ambiental” sob a orientação do professor doutor Sérgio Barreira de Faria Tavolaro.
1
atua em defesa da natureza, além de propor soluções econômica e socialmente viáveis para a
preservação do meio ambiente.
Segundo Maria da Glória Gohn (1997), analista dos movimentos sociais, em seu livro
“Teoria dos Movimentos Sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos”,
“os Novos Movimentos (dentre eles o Greenpeace) recusam a política de cooperação entre as
agências estatais e os sindicatos e estão mais preocupados em assegurar direitos sociais –
existentes ou a ser adquiridos para suas clientelas. Eles usam a mídia e as atividades de protestos
para mobilizar a opinião pública a seu favor, como forma de pressão sobre os órgãos e políticas
estatais. Por meio de ações diretas, buscam promover mudanças nos valores dominantes e alterar
situações de discriminação, principalmente dentro de instituições da própria sociedade civil.”
(GOHN, 1997:125).
Seguindo esta lógica, o Greenpeace existe e é mantido por meio de contribuições oriundas
de diversas partes do mundo, pois não aceita doações de governos, partidos políticos ou empresas.
Com tudo isso, o movimento garante seu compromisso fidedigno à sociedade civil. Atualmente
recebe auxilio de mais de três milhões de pessoas e atua em cerca de quarenta países em defesa do
meio ambiente e promovendo a paz.
Maria da Glória Gohn (1997) nos mostra que para Oberschall, estudioso da mobilização de
recursos e das mudanças teóricas e práticas dos movimentos sociais,
“os movimentos sociais são vistos ao longo de quatro dimensões: reivindicações de
descontentamento; valores e ideologias; capacidades de organização e mobilização; oportunidades
de sucesso, cada uma delas tendo seu nível de abstração e análise.” (GOHN, 1997: 64).
Com isso, podemos associar o Greenpeace ao pensamento de Oberschall na medida em que
o movimento possui desde sua criação no Canadá em 1971 quatro princípios e valores básicos ao
promover suas ações reivindicatórias e de contestação. São eles: não-violência, que perpassa todo o
trabalho do Greenpeace; confrontos não-violentos, os quais por vias pacíficas atentam para
problemas e incentivam a mudança de comportamentos; ação conjunta como forma de enfrentar
desafios e trazendo melhores condições ao futuro de nosso planeta; e independência, sem fins
lucrativos, o Greenpeace existe por intermédio de doações de inúmeros colaboradores.
2. GREENPEACE E O PARADIGMA NORTE-AMERICANO
O paradigma norte-americano, referente aos movimentos sociais, centra suas atividades nas
estruturas das organizações dos sistemas sócio-políticos econômicos. Com isso, o Greenpeace está
associado ao referido paradigma, pois têm na mobilização de recursos e também na mobilização
política, linhas norteadoras que conduzem sua luta. O movimento propõe de maneira independente,
por meio de colaboradores, alternativas econômicas e sociais plausíveis que garantam a preservação
da natureza, fugindo à lógica de exploração capitalista de diversos sistemas sócio-políticos.
Maria da Glória Gohn (1997) revela que os movimentos sociais baseados no paradigma
estadunidense sofreram alterações com a era da globalização, principalmente no aspecto da teoria
da mobilização de recursos, a qual enfoca exclusivamente o setor econômico. A partir dos anos
setenta o desenvolvimento do processo político, bem como o âmbito da cultura passaram a ser
analisados como processos significativos das ações coletivas.
A mobilização política passou a ser privilegiada frente à mobilização de recursos. Assim,
“enquanto a mobilização de recursos se deteve a analisar o movimento dos direitos civis, o das
mulheres, aqueles contra a guerra e as armas etc., agora se observa que muitos desses movimentos
tiveram releituras, como o dos direitos civis. As mudanças no tratamento metodológico
acompanharam as mudanças na vida real, onde passou a imperar a política do ‘politicamente
correto’, a exemplo dos conflitos raciais: os negros deixaram de ser chamados blacks e passaram
ser denominados african-american. Outros movimentos surgiram e passaram a ser estudados:
ecológicos, minorias nacionalistas, medicina alternativa, direitos dos animais, Nova Era, novos
movimentos religiosos etc. O movimento ecológico cresceu, se diversificou e ganhou escopo
2
internacional, na figura de organizações como o Greenpeace, a Rainforest etc.” (GOHN, 1997:
70).
3. GREENPEACE NO BRASIL
Na América Latina,
“o Brasil concentrou a maioria dos movimentos nas últimas três décadas, talvez devido a sua
extensão territorial, ao número de sua população – comparada com a dos outros países latinos – e
ao grau de desenvolvimento industrial do país, particularmente na região sul.” (GOHN, 1977:
222).
Nos anos noventa surgiu no cenário brasileiro das ações conjuntas o desenvolvimento de
movimentos internacionais. Na era globalizada, estes movimentos, como o Greenpeace, passaram a
efetuar ações e programas diretos com a população.
Assim, o Greenpeace está presente também no Brasil promovendo ações que estimulam o
uso consciente dos recursos naturais, sendo chefiado por um escritório nacional formado por
profissionais de áreas diferentes. Fazem parte do Conselho brasileiro do Greenpeace: Eduardo
Ehlers, Marcelo Sodré, Marcelo Takaoka, Pedro Leitão, Rachel Biderman Furriela e Samyra
Crespo.
4. COMO TRABALHA O GREENPEACE
O Greenpeace atua expondo crimes ambientais ou incentivando e mostrando caminhos
alternativos que proporcionem a sustentabilidade do planeta. Para isso o movimento investiga
possíveis agressões ao meio ambiente; denuncia as práticas errôneas para com o planeta, mostrando
as conseqüências danosas de tais práticas; confronta com ações diretas não-violentas, comunicações
diretas ou ainda protestos, a fim de preservar a natureza; inspira mudanças significativas de
comportamento, a defesa do meio ambiente e a promoção da paz.
Para mostrar sua responsabilidade e transparência social o Greenpeace, juntamente com
outras ONGs internacionais, fixaram em 2006 um Estatuto de Responsabilidade conjunto, onde
normas e códigos de conduta foram criados, assentando, assim, padrões internacionais de atuação
dos movimentos.
Este Estatuto de Responsabilidade determina às ONGs princípios e valores fundamentais, o
que garante a confiança da população frente aos movimentos, pois além do mais o Estatuto
demonstra que os movimentos estão comprometidos e se mostram transparentes com suas
respectivas causas de lutas.
5. CRÍTICAS AO GREENPEACE
De acordo com críticos internacionais o Greenpeace, desde sua fundação no Canadá, passou
por diversas mudanças e atualmente, segundo analistas holandeses, perdeu totalmente o seu rumo
de ação.
Em publicação recente ao site brasileiro da rádio holandesa Nederland Wereldomroep, Luís
Henrique de Freitas Pádua, aponta que o Greenpeace vem perdendo a sintonia com sua base
formada por milhares de colaboradores e simpatizantes em todo o mundo, pois se transformou
numa empresa multinacional e burocratizada, presa aos lucros em vez de problemas ambientais
concretos.
“Muitos alegam que o Greenpeace já não realiza ações espetaculares como antigamente, como no
auge da década de 60. Para alguns, a gota d’água foi quando a organização jogou no lixo toneladas
de grãos de milho geneticamente modificados, enquanto milhares de crianças passam fome no
mundo. Outra ação que também não caiu nada bem aos olhos de alguns membros do Greenpeace
foi a ação de bloqueio de um barco militar, no porto de Roterdã, em 2003, que ia prestar ajuda no
Iraque. Somente neste ano, a surcursal holandesa desta organização perdeu cerca de 25 mil
3
doadores. Nos últimos dois anos, a sucursal da organização chegou a perder 76 mil doadores, ou
seja, 12% do total de doadores de todo o Greenpeace holandês. Com os 600 mil que sobraram,
aquela organização ambientalista chegou ao nível de 10 anos atrás.
A última notícia que não está fazendo nada bem à organização é a história de que o Greenpeace já
não irá mais batalhar contra a caça de leões marinhos no mundo. Ou seja, o Greenpeace tem outras
prioridades, mas os seus membros, doadores e simpatizantes ainda não sabem quais seriam essas
outras prioridades. Outras organizações ambientalistas e de proteção aos animais fizeram severas
críticas ao Greenpeace, jogando mais fogo na lenha. Resta agora esperar a resposta da organização
à todos que ainda acreditam nela, em todo o mundo.” (PÁDUA, 2005).
O movimento Greenpeace também encontra limitações para o desenvolvimento de seus
ideais e realizações dos seus objetivos devido à falta de colaboração da população em todo o
mundo. Embora o movimento possua milhares de colaboradores e simpatizantes, as sociedades
ainda precisam tomar conhecimento da gravidade da situação que se encontra o planeta, das
informações, das possibilidades e do que é preciso fazer em cada área para garantir o bem estar
presente e futuro da humanidade.
Críticos questionam as ações do Greenpeace, pois não se trata apenas de uma questão de
cuidado e proteção com o meio ambiente, trata-se de não ultrapassar limites que colocam um sério
risco para a humanidade, como mudanças no clima, mudanças nos padrões de produção e de
consumo que está muito além da capacidade de reposição natural do planeta. É uma questão de
consciência humana, a vida planetária necessita de maiores cuidados para com a natureza, uma vez
que tudo se relaciona a ela.
Quanto a nós, acreditamos que ainda devemos lutar, mesmo que embasado em utopias, não
só pela preservação do meio-ambiente e na garantia de um desenvolvimento economicamente
sustentável, mas por um desenvolvimento igualitário ao nível econômico e social, e que os
movimentos sociais, com seus ideais e valores, têm muito a contribuir na defesa de uma sociedade
mais igualitária e justa.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à orientação do professor doutor Aldo Duran Gil durante a elaboração deste
trabalho. Agradecemos também aos organizadores e participantes da 5ª Semana Acadêmica da
Universidade Federal de Uberlândia – Universidade Necessária: Utopias + Distopias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVAREZ, Sonia; DAGNINO, Evelina; ESCOBAR Arturo (organizadores). “Cultura e política
nos movimentos sociais latino-americanos: novas leituras”. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000.
GONH, Maria da Glória Marcondes. “Os sem-terra, ONGs e cidadania: a sociedade civil brasileira
na era da globalização”. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2000.
______________________________. “Teoria dos Movimentos Sociais: paradigmas clássicos e
contemporâneos”. São Paulo: Loyola, 1997.
PÁDUA, Luís Henrique de Freitas. “Greenpeace: a estrela desce.” Disponível em:
http://www.parceria.nl/atualidade/europa/at050117_greenpeace . 2005. Acesso em: 08 jan. 2008.
Site oficial Greenpeace: www.greenpeace.org.br
O MOVIMENTO SOCIAL GREENPEACE
Marcelo Rodrigues Lemos4
4
Marcelo Rodrigues Lemos is graduating the course of Social Sciences of the Federal University of Uberlandia. Search
the theme "Gender and Work" under the guidance of Professor Dr. Eliane Schmaltz Ferreira.
4
Federal University of Uberlândia
[email protected]
Marcelly Olívia Fernandes Amorim5
Federal University of Uberlândia
[email protected]
Priscilla Mércya Alvarenga Ribeiro6
Federal University of Uberlândia
[email protected]
Abstract: The following article articulates the theories of social movements studied by Maria da
Gloria Gohn with the Greenpeace movement seen as related to ecological causes that fight in
defense of the preservation of the environment and promoting peace. I reviewed the Greenpeace
even as international social movement based in the North American paradigm.
Keywords: Collective actions, Greenpeace, the environment, social movement, nature,
preservation.
5
Marcelly Olívia Fernandes Amorim is graduating the course of Social Sciences of the Federal University of
Uberlândia. Search the theme "Relations of the gender, and Homosexuality" under the orientation of Professor Dr.
Alessandra Siqueira Barreto.
6
Priscilla Mércya Alvarenga Ribeiro is graduating the course of Social Sciences of the Federal University of
Uberlândia. Research in the area of "Environmental Economics" under the orientation of Professor Dr. Sérgio de Faria
Barreira Tavolaro.
5
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