Fisiologia de Sistemas Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica 1º Semestre 2010/2011 2º Ano Resumos por: Tiago Silva e Sofia Faria Página 1 Índice Orgãos dos Sentidos – Introdução ……………………………………………………… 3 Sistema Nervoso………………………………………………………………………………… 5 Audição e Equilíbrio……………………………………………………………………………. 20 Visão………………………………………………………………………………………………….. 24 Os sentidos químicos: olfacto e paladar…………………………………………….. 27 Sistema Nervoso Autónomo………………………………………………………………. 30 Coração……………………………………………………………………………………………... 37 Sistema cardiovascular e circulatório ………………………………………………… 43 Electrocardiograma …………………………………………………………………………… 52 Sistema Respiratório …………………………………………………………………………. 55 Sangue ……………………………………………………………………………………………… 63 Equilíbrio Ácido-Base ………………………………………………………………………… 69 Sistema Renal ……………………………………………………………………………………. 71 Sistema Digestivo ………………………………………………………………………………. 80 Osso – Sistema Locomotor ……………………………………………………………….. 95 Agradecimentos ………………………………………………………………………………… 101 Página 2 Aula 1 – Orgãos dos Sentidos (Introdução) Sentidos são as redes de informação (comunicação), entre o “mundo” exterior e o “mundo” interior com o SNC. São fundamentais para a coordenação das diferentes funções intercelulares e orgânicas. A complexidade destes órgãos é a do SNC. A sua comunicação pode ser feita por um sistema: Hormonal – lento, impreciso e genérico; Neuronal (sistema eléctrico-quimico) – preciso, rápido e especifico; Transdução TERMO GENÉRICO, PARA O PROCESSO NO QUAL UMA FORMA DE ENERGIA É CONVERTIDA NOUTRA (tipos de energia incidente possíveis no organismo: térmica, electromagnética, mecânica, química). A necessidade de transdutores no organismo advém do facto do SNC só processar informação baseada em sinais electro-químicos e é essencial que todo o tipo de informação seja codificado nesta forma de informação. Esta codificação vem da capacidade de diferentes transdutores transformarem uma forma de energia como pressão arterial, odores, sons, fotões, num sinal electro-químico de modo que possa ser encaminhada e posteriormente processada pelo SNC. Receptores sensoriais Um receptor sensorial é a estrutura que reconhece um estímulo no ambiente interno ou externo de um organismo. Cada receptor é altamente sensível a um determinado estímulo (para aquele que foi criado) e praticamente não responde a qualquer outro tipo de estímulos sensitivos (especificidade). Uma vez activado, um receptor inicia os potenciais de acção na fibra sensitiva associada que conduz estes estímulos até à medula espinal como uma linha marcada através de um nervo periférico. Estes impulsos são semelhantes em todas as fibras sensitivas. Estas podem manifestar diferenças qualitativas de amplitude ou frequência mas um potencial de acção iniciado por um estímulo doloroso não é distinguível de qualquer outro iniciado por outro receptor sensitivo ou modalidade sensitiva. O que nos permite diferenciar o tipo de sensação é localizar de onde vêm e terminam as fibras do sistema nervoso. Página 3 Todos os receptores sensoriais têm uma característica em comum. Qualquer que seja o tipo de estímulo que excite o receptor, o seu efeito imediato é mudar o potencial eléctrico da membrana. A isto chama-se um potencial receptor. Tipos de receptores sensoriais: Primário – Recebe o estímulo exterior e processa-o, transformando-o num potencial de acção; Secundário – Transmite o potencial de acção vindo do receptor primário; Classificação: 1. Mecanoreceptores: detectam compressões ou estiramentos mecânicos do receptor ou dos tecidos adjacentes. 2. Termoreceptores: detectam variações na temperatura, detectando alguns o frio e outros o calor. 3. Nocireceptores: detectores de dor, detectando danos ocorridos em tecidos, quer químicos, quer físicos. 4. Receptores electromagnéticos (Fotorreceptor): detectam luz na retina do olho. 5. Quimioreceptores: detectam variações químicas no corpo. 1 – Mecanoreceptores – 3 tipos: Tacto: sensação do toque, pressão e vibração (podem ser terminações nervosas livres, raízes pilosas, discos tácteis, corpúsculos tácteis, lamelados e de Ruffini); Baroreceptores: detectam alterações de pressão nas paredes dos vasos sanguíneos e tractos digestivos, reprodutivo e urinário; Proprioreceptores: monitorizam a posição das articulações e músculos 2 – Termoreceptores: tem terminações nervosas livres localizadas na dermis, músculos esqueléticos, fígado e hipotálamo. São conduzidas nas mesmas vias que conduzem dor. 5 – Quimioreceptores: podem estar localizados nos corpos carotídeos (na origem das carótidas internas) e nos corpos aórticos (no arco aórtico). Monitorizam pH, níveis de CO2 e O2 no sangue arterial. Todos os receptores podem interpretar dor se forem demasiado estimulados! Página 4 E quanto ao tipo de localização: Extero-receptores – sensíveis a estímulos vindos de fora do corpo (toque, pressão, dor, sentidos especiais) Intero-receptores / (viscero-receptores) – respondem a estímulos de dentro do corpo (vísceras) (alterações químicas, estiramento dos tecidos, temperatura) Próprio-receptores – respondem a estímulos internos e localizam-se apenas nos músculos esqueléticos, tendões, articulações e ligamentos. Aula 2 – Sistema Nervoso motor e sensitivo O sistema nervoso é constituído pelo sistema nervoso central (encéfalo e medula) e o sistema nervoso periférico (pares cranianos e nervos espinhais). Tecido Nervoso Neurónio: unidade funcional do sistema nervoso. Apresenta um corpo celular, prolongamentos designados dendritos (receptores dos estímulos nervosos) e axónios (responsáveis pela condução dos estímulos electro-químicos que partem do corpo celular) que estabelecem ligações com outras células por intermédios de sinapses. Células Gliais: unidades de sustentação, revestimento e defesa dos neurónios. Os corpos dos neurónios agrupam-se à superfície, constituindo o córtex cerebral e em algumas regiões da profundidade dos hemisférios, os núcleos cinzentos da base, e constituem a substância cinzenta. A substância branca, por seu lado, engloba os prolongamentos celulares dos neurónios, envolvidos por células da glia. Quando um neurónio entra em actividade alterando a carga eléctrica da parede celular há progressão do impulso eléctrico até aos prolongamentos e à sinapse levando à libertação de mediadores químicos que vão estimular a célula adjacente actuando num receptor que gera um impulso eléctrico e faz progredir o estímulo. Uma característica especial destas sinapses é que são unidireccionais, forçando o sinal a deslocar-se nas direcções requeridas, executando funções nervosas específicas. Sistema Nervoso Central: Níveis principais das funções do SNC O sistema nervoso humano herdou capacidades funcionais especiais do seu desenvolvimento evolutivo. Deste modo, três níveis principais do SNC têm características funcionais específicas: a) Nível da medula espinhal Ao contrário do que se pensa, a medula espinhal é mais do que uma condutora de sinais da periferia para o cérebro e vice-versa. Página 5 Circuitos neuronais na medula podem causar: 1. Movimentos para andamento 2. Actos reflexos 3. Reflexos que alteram a posição das pernas para suportar o corpo 4. Reflexos que controlam vasos sanguíneos locais, movimentos gastrointestinais e excreção urinária. b) Nível subcortical (parte inferior do cérebro) Grande parte do que se chamam actividades subconscientes do corpo é controlada nas áreas inferiores do cérebro. Por exemplo, o controlo subconsciente da pressão arterial e respiração é atingido principalmente no tronco cerebral. Controlo do equilíbrio é uma função combinada do cerebelo com outras duas áreas inferiores do cérebro. Reflexos alimentares como a salivação (tronco cerebral, amígdala e hipotálamo) e também comportamentos emocionais. c) Nível cortical (parte superior do cérebro) É um local de armazenamento de memória. O córtex cerebral nunca funciona sozinho mas sempre em associação com centros inferiores do sistema nervoso. Sem o córtex cerebral, as funções dos centros inferiores são imprecisas. O vasto armazenamento de informação cortical converte essas funções imprecisas em funções precisas e determinadas. Notas: Nas variáveis fisiológicas existe um ponto de equilíbrio, sendo o sistema nervoso o responsável pela sua manutenção, controlando os restantes sistemas (por feedback negativo ou positivo), mantendo as suas funções normais. O SN actua em conjunto com o sistema endócrino (que actua por libertação de quantidades variáveis de hormonas no sangue), mas é mais preciso e rápido, funcionando por emissão de potenciais de acção, sempre com a mesma intensidade e duração. Transforma sinais em frequências de sinais, e quanto maior este número, maior a intensidade. O líquido encefaloraquidiano circula entre as meninges e serve para amortecer pancadas no SNC, e para nutrição de certas células nervosas. Organização do SNC: O cérebro e a medula espinhal constituem o SNC. Os nervos espinhais saem do canal espinhal ao nível da respectiva e contém as vias aferentes (raízes posteriores), que são sensitivas e as vias eferentes (raízes posteriores), que são motoras e se projectam para a periferia. Medula espinhal Fazendo um corte transversal observa-se a substância cinzenta em forma de borboleta no centro rodeada pela substância branca. As quatro asas da borboleta são os cornos (corte transversal) ou colunas (corte longitudinal). Os cornos anteriores contêm neurónios motores (projectados para os músculos), os cornos posteriores têm interneurónios. As fibras aferentes têm os seus corpos celulares em gânglios espinhais. A substância branca contém os axónios Página 6 dos tractos ascendentes e descendentes. As fibras nervosas aferentes (ou sensoriais) transmitem a informação sensorial desde os órgãos dos sentidos, atingindo a medula no corno posterior. As fibras da raiz anterior transmitem informação motora desde a medula espinhal para os órgãos efectores – fibras nervosas eferentes (ou motoras). Encéfalo É constituído pelo bulbo raquidiano, pons, mesencéfalo, cerebelo, diencéfalo e telencéfalo. O bulbo, pons e mesencéfalo constituem o tronco cerebral. Estruturalmente é semelhante à medula mas contém os núcleos dos corpos celulares dos nervos cranianos. O cerebelo é importante para a coordenação motora. Cérebro O cérebro é constituído por dois hemisférios aparentemente semelhantes mas que hoje se sabe não serem iguais nem anatómica nem funcionalmente. Do ponto de vista anatómico a superfície externa do cérebro não é plana, apresenta circunvoluções e sulcos ou regos entre elas e em cada hemisfério podem-se definir quatro lobos. O lobo frontal constitui a porção anterior do hemisfério cerebral sendo limitado por baixo pelo rego de Sylvius e por trás pelo de Rolando, atrás do qual se situa o lobo parietal. Abaixo do rego de Sylvius situa-se o lobo temporal e o lobo occipital constitui a porção mais posterior dos hemisférios cerebrais. Na superfície interna os hemisférios cerebrais apresentam igualmente circunvoluções e sulcos, estruturas que os unem, como o corpo caloso, que permite troca inter-hemisférica de informação, e o tronco cerebral que liga o cérebro à espinal medula. Diencéfalo O tálamo reúne muitas das vias aferentes como os olhos, ouvidos, pele, entre outras. O hipotálamo é um centro nervoso autónomo mas desempenha também um papel importante no controlo das hormonas libertadas pela hipófise. Telencéfalo Consiste no córtex cerebral e nos núcleos da base – corpo estriado: estriado (núcleo caudado e putamen), globos pálidos (interno e externo), claustro; núcleos subtalâmicos; e substância negra. O córtex cerebral divide-se em quatro lobos por fissuras. Este está dividido em dois hemisférios, com diferentes funções, que estão interligados pelo corpo caloso. Página 7 Cerebelo Parte do encéfalo responsável pela manutenção do equilíbrio e pelo controle do tónus muscular e dos movimentos voluntários, bem como pela aprendizagem motora. A função cereberal é muito diferente da função cerebral: funciona só em nível inconsciente, dedica-se exclusivamente ao serviço da motricidade (voluntária ou involuntária), mas nunca inicia ou comanda qualquer movimento. A sua influência sobre os neurónios medulares é sempre indirecta: ou através de tractos originados no tronco ou no cortéx. Tronco Encefálico (ou Cerebral) Porção do sistema nervoso central situada entre a medula espinhal e o cérebro, sendo quase na sua totalidade intracraniano (apenas uma porção do bulbo é exocraniana). Ocupa a fossa craniana posterior. É no tronco encefálico que se encontra fixo o cerebelo. Bulbo Raquidiano Órgão condutor de impulsos nervosos. Estabelece ligação entre o cérebro e a medula espinal. Bastante relacionado com funções vitais como a respiração, os batimentos do coração e a pressão arterial, e com alguns tipos de reflexos como mastigação, movimentos peristálticos, falar, piscar de olhos, secreção lacrimal e vómito (mais específico da área postrema). Por isso uma pancada nessa área ou a sua compressão por parte do cerebelo, que se encontra posteriormente, pode causar morte instantânea, paralisando os movimentos respiratórios e cardíacos. Página 8 Diferenças funcionais dos Lobos 1. Lobo frontal Actividade motora Linguagem (hemisfério esquerdo) Pensamento Concentração Memória de trabalho Comportamento social e personalidade 2. Lobo parietal Processamento da sensibilidade corporal Capacidades visuo-construtivas 3. Lobo temporal Processamento das informações auditivas Memorização 4. Lobo occipital Processamento das informações visuais Diferenças funcionais dos Hemisférios Cerebrais Hemisfério Esquerdo: Linguagem e outras informações de carácter simbólico (cálculo, raciocínio abstracto); Hemisfério Direito: integração global multi-sensorial (identificação de uma paisagem, melodia de uma música, informação do sistema emocional); Página 9 Sistema nervoso periférico O sistema nervoso periférico (SNP), é a parte do sistema nervoso que se encontra fora do sistema nervoso central (SNC), sendo constituído por nervos e gânglios nervosos. Os nervos podem ser: Nervos Sensitivos: são os nervos que têm o papel de transmitir os impulsos nervosos do órgão receptor até ao SNC; Nervos Motores: conduzem o impulso codificado no encéfalo (SNC), até ao órgão efector; Nervos Mistos: tem o mesmo papel que os nervos sensitivos e motores ao mesmo tempo. Os órgãos receptores são os órgãos dos sentidos (visão, audição, olfacto, paladar e corpúsculos tácteis). Já os órgãos efectores são basicamente as glândulas e os músculos. É graças a este sistema que o cérebro e a medula espinal recebe e envia as informações que nos permite reagir face às diferentes situações que têm origem no meio externo ou interno. O sistema nervoso periférico pode ser dividido em duas classes diferentes dependendo da origem ou terminação dos terminais nervosos que o constituem. Se os nervos começarem ou acabarem, no encéfalo denominamo-los de 'pares cranianos', mas se começarem na medula espinal designam-se de 'nervos espinhais'. Pares Cranianos (fazem a conexão com o encéfalo) Nervos espinhais: existem 12 pares de nervos cranianos; 8 pares de nervos cervicais; 12 pares de nervos torácicos; 5 pares nervos lombares e de nervos sacrais e 1 par de nervos coccígeos. Página 10 Sistema nervoso motor Um dos papéis mais importantes do sistema nervoso é controlar as diversas actividades corporais. Isto é feito controlando: Contracção de músculos esqueléticos apropriados Contracção de músculos lisos nos órgãos internos Secreção de substâncias quimicamente activas por glândulas exócrinas e endócrinas. Estas actividades são chamadas funções motoras do sistema nervoso e músculos e glândulas são chamadas efectores, pois são as estruturas anatómicas que efectuam as funções do sistema nervoso. Nota: Os músculos esqueléticos podem ser controlados por diversos níveis: 1. Medula espinhal 2. Substância reticular da medula, mesencéfalo e “pons” 3. Gânglios basais (núcleos da base) 4. Cerebelo 5. Córtex motor Cada uma destas áreas desempenha um papel específico, estando as regiões mais abaixo responsáveis pelas respostas musculares automáticas e instantâneas, enquanto as superiores regulam movimentos complexos controlados pelo pensamento. Córtex motor: Página 11 O córtex motor primário tem uma representação somatotrópica, denominada de homúnculo motor que mostra o tamanho relativo das regiões que representam as diversas partes do corpo. É de referir que neste diagrama, mais de metade é ocupado por regiões responsáveis pelo controlo dos músculos de mão e de fecho. Níveis de organização do sistema motor somático Conceito de neurónios motores superiores e inferiores O ponto central para o diagnóstico em neurologia é definir se a lesão no paciente é nos neurónios motores inferiores ou superiores. O neurónio motor é definido classicamente como um neurónio cujo corpo celular e dendrites se localizam no SNC e cujos axónios se estendem através dos nervos periféricos e vão fazer sinapse com as fibras musculares esqueléticas extrafusais. Esta é a via final comum pela qual o SNC conduz comandos para os músculos esqueléticos. Os neurónios que inervam os fusos musculares também são incluídos na definição de neurónios inferiores. Os neurónios motores superiores são todos os neurónios do SNC que influenciam os neurónios motores inferiores. Subdividem-se em 3 subsitemas: os sistemas piramidal, extrapiramidal e o cerebelo. Os neurónios motores superiores consideram-se como sistemas multineuronais que se iniciam no cérebro e que enviam os seus axónios ao longo da medula espinhal ou no tronco cerebral, para fazer sinapses com os neurónios motores inferiores. Página 12 Vias motoras Vias motoras nascem no córtex frontal, descem dentro do sistema nervoso e passam pelo bulbo. Via corticoespinhal ou piramidal: Esta via está envolvida na motricidade voluntária, nomeadamente no controlo dos movimentos finos das extremidades e transporta informação motora do córtex até às pontas anteriores da medula. O tracto corticoespinhal, constituído maioritariamente por axónios motores, parte do córtex motor primário e passa pelo tronco cerebral. Ao nível do bulbo (parte inferior do tronco cerebral), a maioria das fibras desse tracto cruzamse, dando origem à via corticoespinhal lateral, e as restantes continuam a descida pela medula no mesmo lado, formando a via corticoespinhal anterior. Eventualmente, grande parte das fibras desta última via cruzam a medula para o lado oposto, quer seja na região do pescoço quer seja na região torácica, pelo que quase 100% da motricidade voluntária é cruzada. Os axónios das vias lateral e anterior fazem depois sinapse com um 2º neurónio que controla os músculos esqueléticos. O cerebelo recebe as informações sobre o planeamento motor e dos sistemas sensoriais informações auditivas, visuais, vestibulares e somestésicas e realiza as correcções necessárias entre o movimento pretendido e o executado, suaviza as transições entre os movimentos regulando actividades dos músculos agonistas e antagonistas. Página 13 Nos gânglios da base (grupo de núcleos no cérebro interconectados com o córtex cerebral, tálamo e tronco cerebral), a libertação do neurotransmissor dopamina (feito nestes mesmos gânglios) vai determinar se o impulso nervoso segue pela via directa ou indirecta dos gânglios da base. Se ocorrer a libertação, o impulso nervoso segue a via directa que consequentemente facilita o movimento, caso contrário, o impulso nervoso a segue a via indirecta que acaba por inibir o movimento. No final, o comportamento motor normal depende do balanço entre as vias directa e indirecta dos gânglios da base. Sistema nervoso sensitivo (somestésico) Somestesia é a capacidade que homens e animais têm de receber informações sobre as diferentes partes do seu corpo. Sensação: Qualquer alteração externa ou interna, que provoca uma resposta fisiológica, ou comportamental num organismo (como temperatura, dor, toque, pressão…). Percepção: Função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais, a partir de vivências passadas. Consiste na aquisição, interpretação, selecção e organização das informações obtidas pelos sentidos. Consciência da sensação. Parte sensorial do sistema nervoso Grandes partes das actividades do sistema nervoso são iniciadas por excitações de receptores sensoriais, quer sejam visuais, auditivos, tácteis, ou outros. Isto causa reacção imediata do cérebro, ou memoriza a experiência para determinar reacções corporais no futuro. Página 14 A informação sensorial entra no sistema nervoso central através de nervos periféricos e é conduzido imediatamente para múltiplas áreas sensoriais na: Medula espinhal Formação reticular na medula, mesencéfalo no cérebro Cerebelo Tálamo Córtex cerebral Transdução dos estímulos sensoriais em impulsos eléctricos Os receptores traduzem um estímulo físico-químico num impulso nervoso. A fibra sensitiva unida a cada receptor mostra um estímulo limiar. O potencial do receptor é proporcional à intensidade do estímulo (quanto maior o estímulo, maior a frequência dos potenciais de acção). Passado um tempo os receptores sensitivos adaptam-se ao seu próprio estímulo tanto total como parcialmente e podem ser classificados como receptores de adaptação lenta (transmitem sinais com pouca variação de frequência enquanto o estímulo está presente) ou receptores de adaptação rápida (só se activam quando muda a intensidade do estímulo). Classificação fisiológica dos receptores Todas as fibras nervosas periféricas se dividem em: - Tipo A: maiores e maior velocidade de condução, dando uma sensação de dor rápida (injecção ou corte) - Tipo C: menores e mais lentas, dando sensação de dor lenta (ardor, queimadura). Intensidade de um estímulo Nas fibras sensitivas a intensidade representa-se utilizando as características de sumação espacial e temporal. Um tronco nervoso sensitivo de um nervo periférico contém geralmente várias fibras, cada uma das quais está relacionada com um número variável de receptores na sua extremidade distal. A soma de todos os receptores e fibras relacionadas com um único nervo Página 15 definem o seu campo receptor. Um estímulo intenso que se estenda por todo o campo activará todas as fibras, enquanto que um estímulo menos intenso activará apenas algumas. Transmissão e processamento de sinal nos grupos neuronais Qualquer agregado de neurónios, como os do córtex cerebral, tálamo ou um núcleo individual do tálamo pode ser denominado um grupo neuronal. Geralmente cada grupo neuronal tem um conjunto de vias aferentes que podem proporcionar um estímulo limiar ou sublimiar. Divergência de sinais aferentes através de um circuito neuronal Tipo amplificador – impulso nervoso espalha-se para um número crescente de neurónios, à medida que passa através de neurónios sucessivos no mesmo caminho. É o caso do tracto corticoespinhal no controlo dos músculos esqueléticos, em que uma única célula do córtex motor é capaz de excitar várias fibras musculares. Tipo múltiplos tractos – o sinal é transmitido para direcções distintas da rede neuronal. Por exemplo, a informação transmitida às colunas dorsais da medula que segue duas direcções diferentes na parte inferior do cérebro: cerebelo e partes mais internas como o tálamo. Convergência de sinais Múltiplos impulsos nervosos unem-se para excitar um único neurónio. Convergência de uma única fonte (múltiplos terminais de uma única fibra nervosa terminam no mesmo neurónio). Isto é importante porque os neurónios quase nunca são excitados por potenciais de um único terminal, mas de múltiplos, de modo a que seja atingido o potencial sublimiar e portanto garantir o disparo do potencial de acção. Convergência de várias fontes. Por exemplo os interneurónios da medula espinal recebem sinais convergentes de fibras nervosas periféricas que entram na medula, fibras proprioespinhais e fibras corticoespinhais do córtex cerebral. Nestes circuitos observa-se atenuação do sinal. Circuitos recorrentes ou oscilatórios Circuitos mais importantes do SN e funcionam por feedback positivo, ou seja, dentro do circuito existem fibras nervosas colaterais que voltam a excitar o próprio circuito. Desta forma, após estimulado, o circuito pode estar continuamente a enviar sinais, durante algum tempo. Vias Somáticas Sensitivas Os circuitos neuronais das vias podem ser constituídos por 3 tipos de neurónios: Neurónios de 1ª ordem: conduzem os impulsos dos receptores para a medula ou tronco cerebral onde fazem sinapse com neurónios de 2ª ordem Neurónios de 2ª ordem: transmitem impulsos ao tálamo ou cerebelo onde sinapsam Neurónios de 3ª ordem: localizados no tálamo e conduzem impulsos ao córtex somato-sensitivo do cérebro. Página 16 Com poucas excepções, a informação sensitiva é levada pelas fibras nervosas desde a superfície do corpo (excluindo a cara), entram na medula espinhal através dos cornos dorsais. Uma vez dentro do SNC, os sinais separam-se em uma de duas vias: via da coluna posterior (s. propioceptiva consciente) e via anterolateral (s. termo-álgica). Via da coluna posterior: transporta sensações de toque com elevada localização espacial, sensações que requerem gradação de intensidade e sensações de pressão e vibração. Nesta via os sinais são transmitidos pelas colunas dorsais da medula até ao cérebro (neurónio de 1ª ordem). Ao nível do bulbo os axónios sinapsam (neurónio 2ª ordem) e cruzam para o lado oposto da medula, continuando depois pelo tronco cerebral até ao tálamo (neurónio de 3ª ordem), acabando no córtex somato-sensitivo do cérebro. Via anterolateral: transmite apenas sensações de toque grosseiro, dor e temperatura, pressão e comichão, que não requerem uma localização muito específica nem elevada gradação de intensidade. Imediatamente depois de entrarem na medula (1ª ordem), os neurónios sinapsam com axónios da substância cinzenta (2ª ordem), cruzam na medula e ascendem num tracto anterior (toque e pressão) e num tracto lateral (dor e temperatura), pela matéria branca, até terminarem no tronco cerebral ou no tálamo (3ª ordem), acabando o percurso no córtex somatosensitivo. Página 17 Via espino-cerebelosa (s. proprioceptiva inconsciente) Na via da propriocepção inconsciente há apenas dois neurónios e não os três como vimos até então. O neurónio de 3ªordem faria conexão entre o tálamo e a região cortical correspondente à modalidade de sensação, mas como esta via não chega ao tálamo, não há terceiro neurónio. Esta via transmite ao cerebelo informações sobre a posição dos músculos esqueléticos, tendões e articulações. Página 18 Protecção do SN Líquor - fluido corporal estéril e de aparência clara que ocupa o espaço subaracnóideo no cérebro (entre as membranas aracnóide e pia-máter das meninges). É uma solução salina muito pura, pobre em proteínas e células, e age como um amortecedor para o córtex cerebral e a medula espinal. O sistema ventricular secreta o líquido cefalo-raquidiano, sendo os ventrículos espaços e túneis no centro do encéfalo. Meninges – separam os ossos do crânio do cérebro. São três delicadas membranas (dura-máter – mais espessa e externa; aracnóide – a do meio, pia-máter – mais delgada e está aderente aos feixes nervosos) que revestem e protegem o Sistema nervoso central, medula espinal, tronco encefálico e o encéfalo. Barreira hemato-encefálica - membrana que protege o SNC de substâncias químicas presentes no sangue e permite ao mesmo tempo a função metabólica normal do cérebro. Esta membrana é composta por agrupamentos de células endoteliais, anexados aos capilares cerebrais. Esta densidade aumentada restringe muito a passagem de substâncias a partir da corrente sanguínea, muito mais do que as células endoteliais presentes em qualquer outro lugar do corpo. Ossos do crânio Página 19 Audição e equilíbrio Características de um som: Tonia: Qualidade fisiológica: associada à frequência do som – altura (grave/agudo – baixa ou alta) Sonia: Não é a intensidade física mas a intensidade fisiológica da sensação; intensidade (Forte/Fraco) amplitude Timbre: espectro de frequências. Distingue sons com a mesma tonia e Sónia. Audição: - Ouvido externo: capta o som e direcciona-o para o ouvido médio; - Ouvido interno: onde se encontram os receptores de som e equilíbrio. No ouvido médio há uma abertura que comunica com a nasofaringe, a trompa de Eustáquio, e que permite equilibrar as pressões no ouvido médio (ex: variação da altitude). Nesta região do ouvido existem 3 ossículos: martelo, bigorna e estribo, que estão ligados entre si e que conectam a membrana do tímpano à cóclea. Estes ossículos aumentam (em 1.3) a força das vibrações do tímpano e aplicam-na numa área (17x) menor, ao nível da janela oval (deste modo, as vibrações do som são amplificadas e transformadas em ondas de pressão na cóclea). O tímpano e o sistema de ossículos funcionam assim como um adaptador de impedância (o meio de propagação do som no ar é diferente do que no interior do ouvido, já que a perilinfa no interior do labirinto membranoso tem muito mais inércia que o ar, portanto o aumento da pressão pelo sistema ossicular é necessário para produzir vibração na perilinfa). Na ausência dos ossículos o som é meramente perceptível. O ouvido interno tem uma parte óssea e outra parte membranar. O labirinto ósseo forma canais preenchidos com perilinfa e nos quais se encontra o labirinto membranoso, que está a endolinfa (endolinfa é o líquido transparente contido no labirinto membranoso do ouvido interno e perilinfa é o líquido contido no ouvido, no espaço existente entre o labirinto membranoso e o ósseo). A cóclea (caracol) é parte do labirinto óssea e está dividida em 3 tubos: o ducto coclear (parte do labirinto membranoso), a rampa vestibular que contém perilinfa e estão separados da rampa timpânica pela membrana basilar (compartimento que contém endolinfa). Página 20 No Orgão de Corti, localizado dentro do ouvido interno, é onde se gera os impulsos nervosos em resposta à vibração da membrana basilar. A membrana basilar vibra em locais diferentes conforme a frequência do som. Deste modo, o ouvido analisa os sons complexos decompondo-os nas suas diversas frequências de acordo com o local de vibração da membrana (assim sons com o mesmo timbre são distinguidos). O local de maior vibração / de reconhecimento é a porção da membrana cuja frequência própria é igual à frequência da onda sonora. (baixa frequência base da membrana; alta frequência fim da membrana) Página 21 Equilíbrio Para além da cóclea, o ouvido interno é também formado pelos canais semicirculares, o sáculo e utrículo, que estão associados ao equilíbrio e formam o sistema vestibular. O utrículo e o sáculo são duas câmaras que têm uma pequena zona sensível, a mácula, responsável por interpretar a aceleração linear determinar a orientação da cabeça. As hair cells inclinam-se conforme a orientação da gravidade (ou seja conforme a postura da cabeça) e provocam a despolarização ou hiperpolarização dos neurónios. Utriculo mácula horizontal orientação da cabeça quando estamos de pé mais sensível à aceleração horizontal; Sáculo mácula vertical orientação deitado mais sensível à aceleração vertical No sáculo e utrículo existem otólitos, cristais de CaCO3, que têm maior densidade que o líquido circundante e provocam uma maior inércia que é necessária à estimulação das células cíliadas dessas estruturas. Os 3 canais semi-circulares estão colocados de tal forma que cada um deles corresponde a um plano do espaço. No final dos canais há uma zona mais larga, a ampola, que está preenchida e tem um órgão sensorial sensível à aceleração angular, ajudando assim a determinar a direcção do movimento da cabeça. Cada ampola tem uma área elevada, a crista ampullaris, onde estão localizadas célula pilosas. Os cílios dessas células estão embebidos numa membrana gelatinosa, a cúpula, cujo movimento activa as células receptoras. Quando a cabeça inicia um movimento e devido à sua inércia, a endolinfa dos canais semicirculares permanece estática, o que provoca um movimento relativo desse fluido no sentido oposto ao da rotação da cabeça. Depois das células ciliadas, são enviados sinais apropriados pelo nervo vestibular, para o SNC, indicando-lhe uma mudança na rotação da cabeça e a velocidade de rotação. Página 22 Para o equilíbrio de todo o corpo participam informações recolhidas pelo ouvido, olhos, músculos, tendões, receptores cutâneos, etc. Via auditiva As fibras nervosas do gânglio espiral de Corti entram no núcleo dorsal e ventral do bolbo raquidiano. Neste ponto, fazem sinapse com neurónios de segunda ordem, que passam para o lado oposto do tronco cerebral para terminar no “superior olivary nucleus”. Outros neurónios de segunda ordem não chegam a cruzar para o lado oposto e vão para o núcleo “superior olivary” do mesmo lado. De ambos os lados, sobem para o lemniscus lateral e daí para o coliculus inferior, onde quase todas as fibras sinapsam. Daí, a via segue para o núcleo geniculado medial onde todas as fibras sinapsam. Finalmente, a via vai para o córtex auditivo, localizado no lobo temporal. Nota: Muitas fibras colaterais da via auditiva passam directamente para o sistema de activação reticular do tronco cerebral, que activa todo o sistema nervoso em resposta a sons elevados. Outras fibras colaterais vão para o vérmix do cerebelo, que é activado instantaneamente no caso de sons altos. Página 23 Visão Olho A córnea é rígida e quase cristalina, e é transparente a alguns comprimentos de onda (condição de transparência). Tem uma forma esferocilíndrica com algumas irregularidades – pontos de astigmatismo. Perde água de forma activa: ¼ por evaporação canais de água; ¾ pelas camadas endoteliais. Essas camadas não se renovam ao longo da vida e à medida que morrem, diminuem a capacidade de perda de água e a transparência da córnea. A córnea tem uma capacidade dióptrica (≈ 44 dioptrias), ajudando a focar os raios de luz na retina. Tem espessura variável entre 0,5 mm (região central) e 1 mm (região periférica) e é muito enervada. O cristalino é uma lente biconvexa transparente. No seu núcleo central tem células embrionárias. Tem capacidade dióptrica ≈ 22 dioptrias mas tem potência dióptrica variável, adaptando-se para focar a diferentes distâncias. Um conjunto de ligamentos, a zónula, liga o cristalino ao resto da estrutura do olho. Esta estrutura associa-se ao corpo ciliar, que tem fibras musculares circulares e longitudinais cuja contracção é regulada pelo sistema parassimpático. O cristalino funciona como uma lente biconvexa, convergente, que aumenta a sua potência dióptrica, tornando-se mais convexo, permitindo a visão de perto. Esta capacidade denominase de acomodação e é a capacidade do cristalino de alterar a sua forma e, portanto, a sua potência dióptrica. Com o avançar do tempo o cristalino vai perdendo a sua capacidade de acomodação (originando a presbiopia), e o mesmo acontece com a reserva acomodativa. Isto compensa-se com lentas positivas/convergentes. Também com o envelhecimento, o cristalino pode perder a sua transparência, o que provoca “borramento” da visão (catarata). Contracção das fibras relaxamento dos ligamentos cristalino mais esférico focagem mais perto, maior poder refractivo. A potência real do olho resulta da conjugação dos índices de refracção dos diferentes meios que a luz atravessa (córnea, humor aquoso, cristalino,…), sendo o poder refractivo total 59 dioptrias. Página 24 O fluido intraocular é constituído por: Humor aquoso: líquido entre a córnea e o cristalino que nutre estas estruturas. É constantemente secretado pelo corpo ciliar e forma-se por transporte activo ou difusão facilitada a partir do plasma. É reabsorvido no canal de Schlemm e enviado para a veia ocular. É o responsável pela pressão intraocular (mantém o olho distendido). Glaucoma é uma doença associada ao aumento da pressão intraocular, resultante do bloqueio do canal de Schlemm (ocorre acumulação de humor aquoso no olho). Humor vítreo: líquido gelatinoso entre o cristalino e a retina. Não é renovado. Não há movimento de fluido mas pode haver difusão de substâncias. A retina é sensível à luz e contém fotoreceptores que são excitados e enviam informações para o cérebro via nervo óptico. Esses receptores actuam como transdutores, convertendo a informação em impulsos nervosos. Fotoreceptores: Cones: reconhecem cores - cones azuis, verdes e vermelhos (absorvem o comprimento de onda destas cores). Concentram-se na fóvea (centro da mácula). Bastonetes: responsáveis pela visão a preto e branco e visão nocturna (retina). Opsinas: proteínas fotossensíveis: Bastonetes: escotopsina (505 nm) Cones: fotopsinas azul (445 nm), verde (535 nm) e vermelho (570 nm). Foto transdução: Os fotoreceptores têm receptores transmembranares. Quando os fotões interagem com os receptores modificam a sua conformação e desbloqueiam uma enzima que actua num segundo mensageiro, gerando uma onda de hiperpolarização. A resposta gerada pelos fotoreceptores é assim uma resposta electrotónica (propagação do impulso dentro de um neurónio, onde não contribuiem as mudanças de voltagem na condutância da membrana), respondendo a diferentes intensidades de luz. A interpretação do nível de estimulação de cada tipo de cone dá a ilusão de uma cor. Ex: Laranja – 99% vermelho + 42% verde (x% significa nível de estimulação do cone). Blind spot é o local da retina, na zona da mácula, onde parte o nervo óptico. Como neste local não há fotoreceptores, a imagem aí focada “não se vê”. A fóvea, no centro da mácula, é o local de maior acuidade visual. Os neurónios e nervos associados aos cones são maiores e têm uma condução mais rápida que os associados aos bastonetes. Cones células bipolares células ganglionares Bastonetes células bipolares células amácrimas células ganglionares Página 25 À excepção das células ganglionares, que transmitem potenciais de acção ao nervo óptico, em todas as outras células se dá condução electrotónica. Via óptica Os sinais nervosos partem da retina pelos nervos ópticos e cruzam-se no quiasma óptico. Aí, as fibras que transmitem informação do campo visual direito cruzam em direcção ao hemisfério esquerdo e as fibras relativas ao campo visual esquerdo cruzam para a direita, dando origem a dois tractos ópticos, que seguem, um para cada hemisfério, em direcção ao córtex visual primário. Lesões em diferentes vias/zonas da via óptica podem ser avaliadas/diagnosticadas através de um exame de campos visuais. Outros testes ao nervo óptico incluem: - reflexos da pupila - tabelas - visão cromática - Estereoscopia - campos visuais: testes de confrontação e campímetro de arco. Página 26 Os sentidos químicos: paladar e olfacto Paladar É uma função principalmente ao cargo das papilas gustativas da língua, sendo influenciado pelo olfacto. A identificação dos químicos específicos que excitam os diferentes receptores do paladar não são todas conhecidas, mas os que se conhecem agrupam-se em 5 categorias chamadas as sensações primárias do paladar: salgado, doce, amargo, azedo e “umani” (palavra japonesa que designa delicioso). Sabor azedo: é causado por ácidos, isto é, pela concentração de iões hidrogénio e a intensidade da sensação é aproximadamente proporcional ao logaritmo da concentração de iões. Sabor salgado: é causado por sais ionizáveis, principalmente pela concentração do ião sódio. A qualidade varia de sal para sal, pois alguns causam outras sensações além de salgado. Sabor doce: não é causado por nenhuma classe específica de químicos. No entanto, são essencialmente químicos orgânicos que causam este sabor. A mudança de apenas um radical pode mudar a substância de doce para amargo. Sabor amargo: é causado essencialmente por substâncias orgânicas. Sabor “umani”: designa um sabor que causa uma sensação agradável. É causado por alimentos contendo L-glutamato. As papilas gustativas e sua função A papila gustativa é composta por cerca de 50 células epiteliais, sendo umas células de sustentação e outras células gustativas. Estas últimas regeneram-se continuamente por mitose. As superfícies apicais das células gustativas dispõem-se em redor de um poro gustativo de onde saem microvilli, que são receptores de paladar. Aí fibras nervosas gustativas, estimuladas por células receptoras gustativas, rodeiam os corpos das células gustativas. Formam-se muitas vesículas por baixo da membrana celular perto das fibras, que se acredita terem neurotransmissores, libertados pela membrana celular para excitar os terminais das fibras nervosas em resposta à estimulação gustativa. As papilas gustativas são encontradas nas papilas circunvaladas, papilas fungiformes e papilas foliadas. Existem também no palato, nos pilares tonsilares na epiglote e no esófago proximal. Página 27 Transmissão de sinais gustativos para o SNC Estes sinais originados na porção anterior da língua passam primeiro para o nervo lingual, e depois, através da “chorda tympani” para o nervo facial, e finalmente para o tracto solitário localizado no tronco cerebral. Sinais de paladar da parte posterior da língua, e outras regiões posteriores da boca e faringe são transmitidos através do nervo glossofaríngeo que vai até ao tracto solitário do tronco cerebral (da base da língua e outras regiões da faringe, através do nervo vago). Todas as fibras sinapsam nos núcleos do tracto solitário (na parte posterior do tronco cerebral). Estes núcleos enviam neurónios de segunda ordem para uma pequena área do núcleo medial posterior ventral do tálamo. Do tálamo, neurónios de terceira ordem são enviados para o córtex parietal. Nota: Esta via é paralela à via somatossensorial da língua. Do tracto solitário, muitos sinais de paladar são enviadas para os núcleos salivares superiores e inferiores, que transmitem sinais para as glândulas submandibulares, sublinguais e parótidas para ajudar na secreção de saliva. Olfacto Membrana olfactiva Localiza-se na parte superior de cada narina. Os receptores celulares são as células olfactivas, que são células nervosas bipolares que derivam do SNC. Existem cerca de 100 milhões destas células no epitélio olfactivo dispersas nas células sustentaculares. A extremidade mucósica das células olfactivas possui 4 a 25 cílios olfactivos que se projectam para a camada de muco que cobre a cavidade nasal. Entre estas células existem as glândulas de Bowman que segregam o muco. Estimulação das células olfactivas A porção destas células que responde ao estímulo é os cílios olfactivos. A substância com odor, quando entra em contacto com a membrana olfactiva, primeiro difunde-se no muco. De seguida, liga-se a proteínas receptoras na membrana de cada cílio. Cada proteína receptora é uma molécula bastante longa, prolongando-se para dentro e fora da membrana ciliar. A substância à parte exterior da proteína, causando uma alteração Página 28 conformacional na parte interna, que por sua vez desencadeia um processo que abre os canais de sódio, que causa um potencial de acção que é transmitido para o SNC pelo nervo olfactivo. A importância deste mecanismo é que multiplica bastante o efeito excitatório de uma substância com “pouco cheiro”. Transmissão de sinais de odor para o SNC As fibras olfactivas que saem do bulbo olfactivo são chamadas nervo cranial I, ou tracto olfactivo. No entanto, na realidade, tanto o tracto olfactivo como o bulbo são o resultado do crescimento de tecido cerebral anterior. O bolbo olfactivo está sobre a placa cribriforme, que separa a cavidade craniana da cavidade nasal (parte superior). Esta placa tem múltiplas perfurações pequenas, através dos quais, um igual número de pequenos nervos passa para cima da membrana olfactiva na cavidade nasal, para o bulbo olfactivo, na cavidade craniana. Os axónios que levam o sinal olfactivo desde as células olfactivas terminam nos glomérulos do bolbo olfactivo. Cada glomérulo é também o terminal das dendrites vindas de células mitrais e células “tufo”. Os sinais são enviados ao longo do tracto olfactivo até às zonas superiores do SNC. Existem um sistema muito antigo de olfacto que assegura os reflexos olfactivos básicos localizados anteriormente ao hipotálamo, um sistema olfactivo menos antigo de controlo automático parcial de aversão a comida tóxica ou pouco saudável e um sistema moderno utilizado na percepção consciente e análise olfactiva. Página 29 Aula 3 – Sistema nervoso autónomo Divisão do sistema nervoso (Resumo): SNC: - Processamento de informação - Encéfalo e medula espinal SNP: - Rede de comunicação - Nervos, receptores sensoriais e gânglios (12 pares de nervos cranianos, 31 pares de nervos espinhais) SN somático: - Acções musculares voluntárias - Neurónios sensoriais que recebem informações dos órgãos dos sentidos e neurónios motores que controlam os músculos esqueléticos SN autónomo: - Acções musculares involuntárias - Neurónios sensoriais que recebem informações de órgãos viscerais e neurónios motores que controlam o músculo cardíaco, músculo liso e glândulas - Activado por centros localizados na medula espinal, tronco cerebral e hipotálamo. Sistema Nervoso Autónomo Função: Sistema de integração para a manutenção da homeostase (regulação do corpo do ser vivo para manter uma condição estável, face múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico controlados por mecanismos de regulação interrelacionados). • SNA regula extrinsecamente o músculo liso, músculo cardíaco e secreção glandular • Indirectamente os processos metabólicos Este sistema têm uma enorme precisão na acção e têm uma elevada importância biólogica. Está responsável pelo mecanismo de arco reflexo. Página 30 Exemplos de funções do SNA: O SNA está dividido em 3 partes: Sistema nervoso simpático: (SNS) o Mobiliza rapidamente energia e respostas a exercício e situações de resposta rápida / emergência (stress) o “Flight-or-fight response” Sistema nervoso parassimpático: (SNP) o Trabalha para a conservação da energia e promove actividades de não emergência e funções de organismo, como a salivação, lacrimação, digestão… o “Rest and digest response” Sistema nervoso entérico: o Rede neuronal no tracto intestinal o Responsável pelos movimentos do intestino, pela actividade de glândulas endócrinas e pela secreção de sucos gástricos. Os órgãos internos são, em geral, enervados por fibras pertencentes aos dois primeiros sistemas, sendo que normalmente um tipo de enervação tem sobre o órgão um efeito antagonista àquele produzido pelo outro tipo - se o simpático estimular, o parassimpático inibe e vice-versa. Como apontado, os dois sistemas diferem pela localização anatómica dos gânglios e neurónios pré-ganglionares, assim como pelos neurotransmissores utilizados na sinapse efectora - adrenalina no simpático e acetilcolina no parassimpático. Página 31 Diferenças anatómicas: S.N. Simpático Neurónios pré-ganglionares curtos, contactam com gânglios longe dos órgãos efectores. Fibras pós-ganglionares longas Fibras simpatéticas têm origem nos nervos espinhais que saem nos segmentos T-1 a L-2 da coluna. S.N. Parassimpático Neurónios pré-ganglionares longos, contactam com gânglios perto dos órgãos efectores Fibras pós-ganglionares curtas Fibras parassimpatéticas têm origem nos nervos cranianos III, VII, IX e X e nos nervos que saem das vértebras sacrais 2 e 3 e, ocasionalmente, também da 1 e 4. Página 32 Organização química Os principais neurotransmissores do SNA são a acetilcolina e a noradrenalina, ou norepinefrina. Acetilcolina (transmissor parassimpático) sistema colinérgico (Rest and digest) Noradrenalina (transmissor simpático) sistema adrenérgico (Stress) Fibras pré-ganglionares: sempre colinérgicas Fibras pós-ganglionares o SN parassimpático: colinérgicas o SN simpático: Maioria adrenérgicas Algumas colinérgicas (glândulas sudoríparas, músculos pilo-erectores, alguns vasos sanguíneos) Isto implica a existência de S.N. simpático adrenérgico e S.N. simpático colinérgico. Provas de avaliação do SNA Função parassimpática Respiração profunda (R6): estuda-se a variação da frequência cardíaca com a inspiração profunda. Durante a inspiração há um aumento do volume torácico e diminuição da pressão intratorácica, o que leva ao aumento do volume sistólico e, consequentemente, ao aumento da pressão arterial. É activado um mecanismo de compensação, regulada pelo sistema parassimpático, que actua no sentido de diminuir a pressão arterial através da diminuição da frequência cardíaca. PA – Pressão Arterial; R – Respiração; Vs – Volume sistólico; FC – Frequência Cardíaca 𝑷𝑨 = 𝑹 ∗ 𝑽𝒔 ∗ 𝑭𝑪 Esquema: Inspiração Volume tóracico Pressão intratorácica Pressão arterial Compensação (SNP) Volume sistólico Frequência cardíaca Pressão arterial Página 33 Manobra de Valsava (VR): respiração forçada. No início da expiração verifica-se um ligeiro aumento do volume sistólico, devido ao maior fluxo de sangue para o coração, o que provoca um ligeiro aumento da pressão arterial (1) e diminuição da frequência cardíaca. De seguida, o aumento da pressão intratorácica devido à respiração contra uma resistência (impede o ar de sair dos pulmões) leva a uma diminuição da PA (2). Para contrariar esta tendência, o SNP promove o aumento da frequência cardíaca e a constrição de vasos, aumentando a resistência (3), o que eleva a pressão arterial até níveis basais. Quando o ar é finalmente expelido os vasos que rodeiam o coração dilatam causando um ligeiro abaixamento no volume sistólico e na pressão arterial (4). Logo de seguida, o sangue retorna ao coração e o Vs aumenta, provocando uma súbita elevação da Pressão (5). Para manter a pressão em valores normais, a FC baixa bruscamente (6) para depois estabilizar. Esquema: (1) Expiração forçada / contra resistência ligeiro Vs ligeiro PA da FC (2) Pressão intratorácica (devido a (1)) Volume sistólico PA (3) FC, constrição de vasos (contrariar a tendência (2)) PA (4) Libertação do ar dilatação dos vasos ao pé do coração ligeiro Vs ligeiro (5) Vs, retorno do sangue PA (6) FC Estabilização PA PA Ortostatismo activo (teste efectuado quando o paciente se levanta) (30:15) Quando o paciente se levanta de repente o sangue tende a afluir para as pernas devido à gravidade. Devido à diminuição do volume sistólico a pressão arterial baixa (1), o que leva ao aumento da frequência cardíaca (A), até que a pressão atinja valores basais, seguida de uma nova diminuição da frequência (B). Para estabilizar a pressão, a FC volta a aumentar, atingindo um pico no 15º batimento (C) e decresce depois (D) até que ao 30º batimento estabiliza. Para verificar se o SN Parassimpático está a funcionar correctamente calcula-se o índice 30:15, dividindo o valor do intervalo R-R ao 30º e 15º batimento. Página 34 𝑅𝑅[30] > 1,04 (𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙) 𝑅𝑅[15] 𝑅𝑅[30] > 𝑅𝑅[15] => 𝐹𝐶[30] < 𝐹𝐶[15] (𝑜 𝑞𝑢𝑒 é 𝑠𝑢𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜) Ortostatismo passivo (teste efectuado quando se deita) Função simpática adrenérgica: o ΔP sistólica e diastólica ao ortostatismo activo e passivo (teste Tilt - exame que avalia o comportamento do ritmo cardíaco e da pressão arterial em resposta a uma variação da postura corporal) o ΔP sistólica com manobra de Valsalva e frio cutâneo pressão sobe gradualmente o ΔP diastólica ao esforço isométrico a pressão vai subindo e desce quando o esforço acaba. O esforço aumenta a resistência periférica, e consequentemente aumenta ligeiramente a pressão diastólica e a pressão sistólica. Função simpática colinérgica: o Estudo da vasomotricidade cutânea por fluxometria com Laser doppler permite avaliar o fluxo da microcirculação (o SNS participa na vasoconstrição). o Testes de função sudomotora: teste de termorregulação; teste de reflexo axonal sudomotor (QSART); teste de impressão com moldes de silicone Em resumo Doenças: Tonturas, sincopes, disfunção eréctil, hipohidrose, pupilas mióticas e queda dos valores da PA com o ortostatismo Disfunção autonómica Página 35 Ataxia e dificuldade em realizar movimentos alternados rápidos Disfunção cerebelosa Tremor, rigidez e roda dentada parkinsonismo Exemplos de Reflexos Reflexos Oculares – Dividem-se em três tipos: Fotomotor - (cuja via de aferência é composta pelo II par craniano - nervo óptico - e a de eferência pelo III par craniano - motor ocular comum/oculomotor - sendo o centro do reflexo o mesencéfalo) envolve a modificação do tamanho da pupila por resposta a estímulos luminosos; Acomodação - que envolve a distensão ou contracção da pupila, como o anterior, mas devido à acomodação desta para focar pontos a diferentes distâncias; Reflexo corneano, que equivale a um toque no olho, cuja resposta será o encerramento do mesmo. (A via de aferência é composta pelo V par craniano trigémeo - e a via de eferência pelo VII par - facial - o centro do reflexo é a protuberância). Reflexo na laringe - reflexo faríngeo - de vómito Neste caso, o IX par craniano - glossofaríngeo - é responsável pela via aferente e eferente e o centro deste reflexo é no bulbo raquidiano. Reflexos nos membros superiores Estes são reflexos osteotendinosos e para os verificar, é utilizado um martelo especial para o efeito. Conduzem a contracções musculares e dividem-se em: Radial - ap. estilóide radial - activa C5-C6; Bicipital - tendão - activa C5-C6; Triciplital - tendão - activa C6, C7 e C8. Reflexos do Abdómen Estes reflexos podem ou não ser visíveis em pacientes muito obesos ou em mulheres que tenham sofrido de múltiplas gravidezes. São também referidos como reflexos cutâneoabdominais e dividem-se em: Superior - D6-D7; Inferior - D10, D11 e D12; Médio. Reflexos nos membros inferiores Cremabtoriano - reflexo que afecta a face superior e interna das coxas; Rotuliano - tendão da rótula - L2, L3 e L4; Aquiliano - tendão de Aquiles; Plantar - ou cutâneo-plantar - região plantar do pé, com flexão deste. Página 36 Coração 1) Órgão com diversas funções, todas elas de importância vital. Gera a pressão sanguínea Dirige a circulação e assegura o seu fluxo unidireccional. 2) Localização e forma: Localizado no interior cavidade torácica, na zona do mediastino. 2/3 do seu volume encontram-se à esquerda da linha média. Tem o tamanho de um punho fechado e a sua forma aproxima-se da de um cone, terminando no apex, um vértice formado pelo ventrículo esquerdo. A sua face posterior constitui a base do coração. 3) O coração é constituído por 4 câmaras ou cavidades: 2 aurículas (direita e esquerda): são as câmaras superiores do coração e localizam-se numa posição posterior. Tem forma ovóide irregular, recebem o sangue que chega ao coração e bombeiam o sangue para os ventrículos. Têm as paredes mais finas que os ventrículos e são separadas pelo septo interauricular; 2 ventrículos (direito e esquerdo): são as câmaras inferiores do coração e localizam-se numa posição anterior. Tem forma piramidal ou de cone, recebem o sangue das aurículas e bombeiam-no para o resto do corpo. São maiores e têm paredes mais grossas do que as aurículas. O ventrículo esquerdo é mais grosso que o direito pois é o responsável pela circulação sistémica. Estão separados pelo septo interventricular. No coração, as aurículas comportam-se de maneira diferente dos ventrículos. Em quanto que nas aurículas a despolarização e a repolarização dão-se no mesmo ponto, nos ventrículos, a repolarização começa no ponto onde acaba a despolarização. 4) Válvulas Estruturas formadas basicamente por folhetos de tecido conjuntivo, chamados valvas. Situadas entre aurículas e ventrículos bem como nas saídas das artérias aorta e artéria pulmonar. Permitem o fluxo do sangue em um único sentido não permitindo que este retorne fechando-se quando o gradiente pressórico se inverte. O que regula a abertura e fechamento das válvulas são as pressões dentro das câmaras cardíacas. As válvulas dentro do coração – válvulas AV: o Mitral ou bicúspide – Possui dois folhetos. Permite o fluxo sanguíneo entre a aurícula esquerda e o ventrículo esquerdo. o Tricúspide - Três folhetos. Permite o fluxo sanguíneo entre a aurícula direita e o ventrículo direito. o A suspensão de ambas as válvulas mitral e tricúspide é mantida por acção dos músculos papilares. Página 37 As válvulas existentes à saída dos ventrículos – válvulas semilunares ou sigmóides: o Aórtica - Permite o fluxo sanguíneo de saída do ventrículo esquerdo em direcção à aorta. o Pulmonar - Permite o fluxo sanguíneo de saída do ventrículo direito em direcção à artéria pulmonar. 5) Nutrição e Circulação Veias pulmonares direitas (sangue venoso) aurícula direita ventrículo direito artérias pulmonares circulação pulmonar pulmões (sangue venoso => sangue arterial) veias pulmonares esquerdas aurícula esquerda ventrículo esquerdo artéria aorta circulação sistémica órgãos (sangue arterial => sangue venoso) … O coração é nutrido pelas artérias coronárias direita e esquerda que executam a circulação coronária ou cardíaca. 6) Tecido cardionector Presente no endocárdio, é um tipo de tecido muscular cardíaco especializado na produção e condução dos impulsos eléctricos. O sistema cardionector é formado por: o Nódulo Sinusal: local na parede postero-superior da aurícula direita onde se iniciam os impulsos. O esqueleto fibroso não permite a sua propagação directa para os ventrículos, que se dá ao nível do feixe de His. Dispara 60 a 100 vezes por minuto; Página 38 o o o Nódulo aurículo-ventricular: localiza-se na zona mediana da válvula aurículoventricular direita e atrasa a propagação dos impulsos eléctricos permitindo a separação temporal entre a contracção auricular e ventricular; Feixe de His: tem origem no nódulo aurículo-ventricular e atinge o septo interventricular, dividindo-se no ramo direito e esquerdo. O ramo esquerdo estende-se por baixo do endocárdio e atinge a região apical dos ventrículos onde termina na rede de Purkinje; Rede de Purkinje: rede de fibras musculares cardíacas modificadas que medeiam a contracção coordenada do miocárdio. As fibras de Purkinje possuem células maiores que as do miocárdio, binucleadas, com citoplasma extenso e não apresentam discos intercalares. 7) Propriedades do Coração a) Automatismo / Cronotropismo Na ausência de estímulo, a célula é capaz de gerar um potencial de acção devido à abertura aos canais de sódio, mesmo em repouso. As células encontram-se no nodo sino-auricular / sinusal b) Condutibilidade / Dromotropismo O estímulo gerado no modo sinusal transmite-se a todas as células cardíacas c) Excitabilidade / Batmotropismo As células cardíacas são capazes de responder a estímulos. 0 Potencial de acção (abertura dos canais rápidos de sódio) 1 Pico de tensão 2 Fase plateau (abertura dos canais de cálcio no coração) Deve ser relativamente longa para aumentar o tempo entre contracções, permitindo que os ventrículos se encham. 3 Fase descendente 4 Potencial de repouso Página 39 d) Contractibilidade / Inotropismo As células cardíacas conseguem contrair-se; Lei de Frank-Starling: Quanto maior o comprimento inicial da fibra miocárdica, maior a força de contracção. Isto é só válido até aos 2,2 µm. e) Tónus O músculo cardíaco tem uma tensão-base; f) Lusitropia Os ventrículos relaxam durante a diástole. 8) Ciclo Cardíaco 1. 2. 3. 4. Válvula aurículo-ventricular fecha Válvula aórtica abre-se Válvula aórtica fecha-se Válvula AV abre A. B. C. D. E. F. Contracção isovolumétrica Expulsão do sangue Relaxamento isovolumétrico Enchimento rápido Diástase Sístole Arterial a) Sístole Ventricular i. Encerramento das válvulas AV (1) Página 40 ii. Contracção do miocárdio, aumentando a pressão porque o volume sanguíneo mantem-se constante (as válvulas estão fechadas) – Contracção isovolumétrica (A) iii. Quando a pressão ventricular iguala a aórtica, as válvulas sigmóides abrem-se (2), dando-se a expulsão do sangue. Inicialmente a expulsão é rápida e depois fica lenta. b) Diástole Ventricular iv. Com a pressão a diminuir dá-se o encerramento das válvulas sigmóides (3). v. O ventrículo continua a relaxar, mas o volume de sangue mantém-se constante – Relaxamento Isovolumétrico (C) vi. Quando a pressão é inferior à aurícula, dá-se a abertura das válvulas AV (4). O sangue passa da aurícula ao ventrículo, primeiro rapidamente (D) e depois lentamente (Diástase – E) vii. Dá-se a sístole auricular (F) e o ciclo recomeça. 9) Circulação coronária O sangue passa para as artérias coronárias durante a diástole, através das ósteas coronárias (2 orifícios que estão no inicio da aorta). O sangue venoso é drenado para a aurícula direita através das veias cardíacas anteriores. Isquémia – Falta de oxigenação dos tecidos por falta de irrigação de sangue. Doença isquémica cardíaca: Uma das principais causas de morte Pode ser causada por oclusão coronária e enfarte do miocárdio. Causa mais frequente para a diminuição do fluxo sanguíneo: aterosclerose – grandes quantidades de colesterol vão ficando gradualmente depositados sobre o endotélio, em diversos pontos em artérias por todo o corpo. Formam-se então as chamadas placas arterioscleróticas que se prolongam para o lúmen, bloqueando parcialmente ou totalmente o fluxo sanguíneo. Um local comum para a formação destas placas é nas artérias coronárias. Factores que influenciam o débito coronário: 1) Físicos Pressão aórtica: o Variações da pressão aórtica provocam variações do débito coronário no mesmo sentido. Resistência arteríolar (Factor físico determinante) o Causada pelas variações da actividade metabólica do miocárdio. Débito sistólico, que depende de: o Contractibilidade ou inotropismo; o Pré-carga (volume dentro do ventrículo antes da sístole – volume telesistólico) Página 41 o Pós-carga (Afterload) -> medida pela pressão arterial (resistência que a aorta oferece à passagem do sangue) Nota: Há mais irrigação nas coronárias durante a diástole, pois na sístole, as valvas da válvula sigmodeia (aórtica) tapam parcialmente as ósteas coronárias. Carácter físico do débito coronário (não tem débito constante). o Compressão extravascular (maior na zona endocárdica) o Vasos endocárdicos com maior débito na diástole. o Em condições fisiológicas o débito endocárdico é igual ao débito epicárdico. Nota: As células do endocárdio têm muitas características semelhantes ao endotélio vascular. Em situações em que há diminuição da pressão diastólica das coronárias (hipotensão, estenosa aórtica, oclusão arterial coronária), o débito endocárdico é menor do que o débito epicárdico. Taquicardia (aumento da frequência cardíaca) o Encurtamento da diástole; o Diminuição do tempo de influxo sanguíneo em cada ciclo; o Compensação pelos vasos de resistência que sofrem vasodilatação. Bradicárdia (diminuição da frequência cardíaca) o Aumento da diástole; o Aumento do tempo de influxo sanguíneo em cada ciclo; o Compensação pelos vasos de resistência que sofrem vasoconstrição. 2) Neuro-humurais Estimulação simpática: a) Aumento marcado do débito coronário; b) Se eliminarmos os efeitos cronotrópicos e inotrópicos (β-bloqueantes adrenégicos), o débito coronário diminui. A acção primária do sistema nervoso central nos vãos de resistência coronários é a vasoconstrição (estimulação alfa), mas o grande aumento da actividade metabólica sobrepõese causando vasodilatação. Estimulação Parassimpática a) Factores metabólicos. Nota: Pré-carga -> Pressão durante o enchimento do ventrículo Pós-Carga -> Pressão arterial cujo ventrículo tem de igualar (para abrir a válvula) Página 42 Sistema cardiovascular e circulatório O Sistema Cardiovascular é constituído por: Coração; Sistema vascular sanguíneo: artérias elásticas, artérias musculares, arteríoloas, capilares, vénulas, veias; Sistema Linfático. 1) Funções: Transporte de O2, nutrientes, hormonas, etc., a todas as células do organismo. Transporte de produtos catabólicos para serem removidos Regulação térmica Defesa 2) Circulação A circulação ocorre em vasos: Artérias: elásticas, musculares; Arteríolas; Capilares: contínuos, fenestrados e sinusóides; Vénulas; Veias. Uma vez que as veias têm maior calibre, existe mais sangue no sistema venoso que no articular, sendo o primeiro sistema de vasos um de capacitância. Volémia - quantidade de sangue no interior dos vasos. Se esta cair abruptamente, assim como se tal ocorrer com a pressão, a constrição dos vasos contraria o seu efeito. A função da circulação é manter um ambiente apropriado para o funcionamento dos diversos tecidos, através do transporte de nutrientes, hormonas, oxigénio, etc. A circulação divide-se em circulação pulmonar (pequena circulação) e circulação sistémica (grande circulação ou circulação periférica). Partes funcionais da circulação: A função das artérias é transportar sangue sob elevada pressão, para os tecidos. Por esta razão, têm paredes vasculares fortes, fluindo o sangue a alta velocidade. As arteríolas funcionam como controladores da passagem de sangue para os capilares. Têm paredes musculares fortes que permitem que a arteríola encerre completamente ou dilate, permitindo desta forma controlar a passagem de sangue. A função dos capilares é troca de fluidos, nutrientes, electrólitos, hormonas e outras substâncias com os diferentes tecidos. Por causa desta função as paredes dos capilares são finas e porosas. Página 43 As vénulas recolhem o sangue proveniente dos capilares e conduzem-no através de veias de calibre crescente. As veias funcionam como condutas para o transporte de sangue até ao coração. Também serve como reservatório de sangue. Por causa da baixa pressão no sistema venoso, as paredes das veias são finas. Mas apesar disso, têm músculo suficiente para funcionar como uma reserva de sangue controlado. 3) Leis Gerais da Circulação a) Lei da Pressão A pressão que o sangue exerce na parede de um vaso é directamente proporcional ao débito cardíaco e à resistência oferecida: 8𝜂𝑙 Δ𝑃 = 𝑄 ∗ 𝑅; 𝑄 = Δ𝑉 ∗ 𝑓; 𝑅 = 4 𝜋𝑟 Q Débito Cardíaco (Fluxo total da circulação); ΔV Volume Sistólico (volume expulso por cada contracção ventricular); f Frequência Cardíaca R Resistência Oferecida η Viscosidade do fluido l Comprimento do vaso r Raio do vaso 2 tipos de Fluxo: fluxo laminar – quando uma partícula está numa trajectória, segue essa trajectória até ao fim. Neste fluxo, as diferentes trajectórias (linhas de corrente) nunca se cruzam; fluxo turbulento – em que as trajectórias se cruzam repetidamente e aparecem remoinhos. o A tendência para se ter fluxo turbulento aumenta com a velocidade do sangue v, diâmetro do vaso d e diminui com a viscosidade η: 𝑣. 𝑑. 𝜌 𝑟𝑒 = 𝜂 re é o número de Reynolds. Acima de 200-400, há fluxo turbulento. À saída do coração o traçado da pressão é pulsátil Pressão sistólica: Máxima Pressão diastólica: Mínima A pressão capilar já possui um traçado contínuo. Existem duas razões: o Efeito de Windkessel Encerramento de válvulas nas artérias durante a diástole de modo a impedir o regresso do sangue ao coração. O sangue é forçado a avançar para os capilares, perdendo a pulsatibilidade. o Resistência oferecida pelas artériolas e esfíncter pré-capilares que diminuem a pressão, tornando o fluxo contínuo. b) Lei da Velocidade A soma das secções dos ramos é superior à do tronco que as originou; Página 44 Quanto maior a soma das secções, menor a velocidade do fluido que as atravessa; A velocidade é máxima à saída do coração e diminui até aos capilares onde é mínima. No território venoso a capilaridade diminui, pelo que a velocidade aumenta. A velocidade nas artérias é superior à velocidade nas veias. c) Lei do débito Como o fluxo sanguíneo é constante, para qualquer secção transversal completa, passam iguais quantidades de sangue em intervalos de tempo iguais. 4) Princípios que controlam as funções do Sistema Cardiovascular a) O fluxo de sangue para cada tecido é quase sempre controlado precisamente pela necessidade do próprio tecido, através de dilatação ou constrição dos diferentes vasos sanguíneos. b) Em geral, a pressão arterial é controlada independentemente do controlo do fluxo do sangue local ou do controlo do débito cardíaco. Se por exemplo, a pressão baixar significativamente abaixo dos 100mmHG, dentro de segundos o sistema circulatório sofre modificações para aumentar a pressão: i) Aumenta a força de contracção do coração. ii) Causa a contracção dos reservatórios venosos de sangue, para aumentar a quantidade de sangue que chega ao coração. iii) Causa constrição de grande parte das arteríolas, de modo que se acumule mais sangue nas artérias de maior calibre, aumentado a pressão arterial. Os rins após um maior período de tempo libertam hormonas que controlam a pressão, e regulam o volume sanguíneo. Pressão sanguínea – Significa a força exercida pelo sangue sobre uma determinada área de parede de um vaso. À força chamamos tensão. A pressão média pode ser medida segundo a fórmula: 𝑃𝑀 = 2𝑃𝑠 + 𝑃𝑑 3 Resistência à passagem do sangue – Não pode ser medida directamente. Tem de se medir o fluxo e a diferença de pressões num determinado vaso, e utilizada a relação. 𝑅 = ∆𝑃 𝐹 Ondas de Pulso Quando se dá a ejecção de sangue, intermitentemente, do coração para a aorta, esta enche e gera-se uma onda de pressão e de débito que se vai propagar através das paredes de todas as artérias, muito mais rapidamente do que o sangue (tem uma velocidade cerca de 10 vezes Página 45 maior que a do sangue). A velocidade das ondas de pulso depende do módulo da elasticidade das artérias e depende portanto, da idade do indivíduo: em indivíduos mais idosos, as artérias são mais rígidas, e portanto, a velocidade é maior. A velocidade das ondas de pulso aumenta em caso de doença que diminua a elasticidade dos vasos. A onda de pulso vai sofrendo alterações à medida que se desloca do centro para a periferia. Estas alterações têm como base o aumento gradual da rigidez das artérias mais periféricas (devido ao aumento do ratio espessura da parede/diâmetro do vaso) em relação às artérias centrais (em que este ratio é menor). Assim é de esperar que em artérias progressivamente mais rígidas aumente o declive do ramo ascendente da onda de pulso: Aumenta o valor do pico de pressão máxima (sistólica); Diminui o valor de pressão diastólica. É de referir que não é a pressão arterial que aumenta à medida que caminhamos para as periferias, mas sim a pressão de pulso. A onda de pulso é então afectada pela distensibilidade das artérias e débito cardíaco. 5) Mecanismos de comtrolo da pressão arterial e débito cardíaco e hipertensão arterial Medição da Pressão Arterial. (PA) A medição da pressão arterial pode ser avaliada de forma directa através da introdução de um cateter conectado a um transdutor de pressão. Conduto, a PA determinada, por rotina, de forma indirecta, utilizando um esfigmomanómetro. Este aparelho é composto por um braçal com um balão insuflável no seu interior, por um manómetro de pressão (coluna de Hg) e por uma bomba de ar com uma válvula. A pressão arterial média é uma variável fisiológica fundamental porque representa a média da pressão efectiva que conduz o sangue aos órgãos sistémicos. A pressão arterial média é dada por: 𝑃𝐴𝑚 = 𝐷𝐶 × 𝑅𝑝𝑒𝑟𝑖𝑓é𝑟𝑖𝑐𝑎 em que DC= débito cardíaco = volume sistólico * frequência cardíaca Pressão de pulso = Psistólica-Pdiastólica Regulação A regulação da pressão arterial prende-se, como já foi referido com a frequência cardíaca, com o volume sistólico e com a resistência dos vasos. Mas existem mecanismos mais básicos, que controlam os referidos e são divididos em regulação nervosa e humoral. Página 46 Regulação nervosa O sistema nervoso controla a circulação através do sistema nervoso autónomo (principalmente o sistema nervoso simpático). O sistema parassimpático também contribui, especificamente na regulação da actividade cardíaca. Nota: Sistema nervoso simpático –> aumenta a actividade cardíaca. Sistema nervoso parassimpático –> diminui a actividade cardíaca. Uma das principais funções do controlo nervoso da circulação é a sua capacidade de aumentar rapidamente a pressão arterial. Para este fim, todas as funções vasoconstritoras e cardioaceleradores são actividadas. Ao mesmo tempo há inibição da acção do sistema parassimpático. Assim, ocorre 3 grandes mudanças simultaneamente: i. ii. iii. Constrição de quase todas as arteríolas do corpo, aumentando a resistência periférica total, e portanto, aumentando a Pressão Arterial. Há constrição das veias e de outros grandes vasos da circulação. Deste modo, há maior quantidade de sangue a chegar ao coração, e portanto, por aumento do débito cardíaco, aumenta-se a Pressão Arterial. O coração é directamente estimulado pelo sistema nervoso autónomo, aumentando a frequência cardíaco e a contractilidade do coração, aumentando o volume de sangue ejectado a cada sístole. Daí que o débito cardíaco aumente e consequentemente a pressão arterial. Além das funções aliadas ao exercício e stress (em que o S.N. aumenta a pressão arterial), existe outros mecanismos de controlo nervoso, que estão sempre activos, mantendo a pressão arterial controlada. Sistema de controlo Baroreceptor de pressão arterial: Funciona pelo chamado reflexo baroreceptor e por feedback negativo. Um aumento de pressão arterial faz com que baroreceptores localizados e pontos específicos das paredes de grandes vasos transmitam sinais para o sistema nervoso central. Sinais de “feedback” são então enviados através do sistema nervoso autónomo para a circulação, diminuindo a pressão arterial para o nível normal. Principais baroreceptores: Nos grandes vasos, destacando-se baroreceptores da aorta; Baroreceptores localizados na bifurcação das carótidas. Reflexo circulatório iniciado pelos baroreceptores: Quando PA aumenta: São enviados sinais para a medula Excitação do centro parassimpático Página 47 Dilatação das veias e arteríolas na circulação periférica (Redução da resistência periférica) Diminuição da frequência cardíaca e contractabilidade do coração (diminuição do débito cardíaco) Uma diminuição da pressão arterial terá o efeito contrário, traduzindo-se num aumento da pressão arterial através da estimulação do sistema nervoso simpático. Controlo da Pressão Arterial através dos quimio-receptores carotídeos e aórticos: Associado ao controlo da pressão por baroreceptores, existe um reflexo de quimioreceptores que funciona basicamente da mesma forma que o reflexo baroreceptores, excepto que são os quimioreceptores a iniciar. Quimioreceptores Células quimiosensíveis, detectam falta de O2 e excesso de CO2 e H+. Ex: Corpos carotídeos e corpos aórticos. Tão eficazes como o reflexo baroreceptor Sempre em contacto com o sangue arterial Quando PA baixa: Diminui a quantidade de O2 e aumenta a de CO2 e H+ que não são removidos São emitidos sinais que excitar o centro vasomotor (SNA simpático) Aumento da PA Regulação humoral Nos vários órgãos de todos os sistemas, e também no sistema cardiovascular, existem diversos receptores que possibilitam o controlo pelo sistema nervoso autónomo. Verificam-se, no sistema cardiovascular: Receptores colinérgicos; Receptores adrenérgicos: o Alfa (vasos sanguíneos): alfa 1 adrenérgicos - são os principais do sistema cardiovascular, existindo em quase todos os vasos sanguíneos, causando a vasoconstricção; alfa 2 adrenérgicos - existem em menos vasos e potenciam a vasodilatação; o Beta (coração e brônquios): beta 1 - existem em grande número no coração, aumentam a força de contracção, a velocidade e frequência e a condução nervosa, sendo muito importantes no aumento da pressão arterial; beta 2 - causam broncodilatação. Página 48 Significa controlo através de substâncias segregadas ou absorvidas nos fluidos corporais (Hormonais, iões entre outros). Algumas destas substâncias são formadas por glândulas especiais e transportadas para todo o corpo através da circulação. As mais importantes são: Agentes vasoconstritores: o Norepinefrina e epinefrina –> a primeira é um potente vasoconstritor, enquanto o segundo é mais fraco, causando vasodilatação em alguns tecidos. (é a epinefrina que é responsável pela vasodilatação das artérias coronários durante um aumento da actividade cardíaca). A norepinefrina aumenta a actividade cardíaca e causa a constrição das veias e arteríolas. o Angiotensina II –> É dos mais potentes vasoconstritores do organismo. Causa a constrição de pequena arteríolas por todo o corpo, aumentando assim a resistência total periférica, e portanto, aumenta a pressão arterial. o Vasopressina -> Um dos mais potentes vasoconstritores do organismo (mais potente que a angiotensina II). Consegue aumentar grandemente a pressão arterial e promove a reabsorção de água nos túbulos renais, sendo portanto considerados uma hormona anti-diurética. Controlo vascular por iões: o O aumento da [Ca2+] causa vasoconstrição. Isto porque o cálcio promove a contracção do músculo liso. o Aumento da [K+] causa vasodilatação, uma vez que inibe a contracção do músculo liso. o Aumento da [Mg2+] causa vasodilatação, uma vez que inibe a contracção do músculo liso. 6) Controlo da Pressão pelo sistema Renina-Angiotensina. Renina é uma proteína enzima libertada pelos rins, quando a pressão arterial diminui muito, para a circulação, permanecendo parte dela nos rins para iniciar diversas funções intrarenais. A renina é uma enzima e não uma substância vasoactiva. Ela vai actuar sobre uma globulina denominada angiotensinogénio libertando um polipéptido com 10 aminoácidos: angiotensina I. A angiotensina I tem algumas propriedades vasoconstritoras, mas nada de significativo. Segundos a minutos, após a formação da angiotensina I, dois aminoácidos são retirados da cadeia da cadeia, formando a angiotensina II, um potente vasoconstritor. Esta conversão ocorre nos pulmões, enquanto o sangue passa nos capilares pulmonares, e é catalisada pela enzima de conversão presente no endotélio dos vasos dos pulmões. A angiotensina II é rapidamente degradada, mas antes tem dois principais efeitos: Causa vasoconstrição de muitas arteríolas em todo o corpo. Aumento do volume de líquido extracelular, por diminuição da excreção de sais e água. Página 49 Diminuição da Pressão Arterial Produção de Renina pelos rins Angiotensinogénio (substrato de renina) Angiotensina I Enzima (pulmão) Angiotensina II Vasoconstrição Retenção renal de sais e água Aumento da Pressão Arterial Estes dois efeitos aumentam a pressão arterial. A angiotensina II promove ainda a libertação de aldosterona (produzida no córtex da glândula supra renal) que actua sobre o tubo contornado distal do rim, promovendo a reabsorção de água e sais, aumentando a volémia e o volume sistólico. Para além desta regulação, os rins podem ainda, tendo o mesmo efeito sobre a pressão arterial, ser regulados de outra forma: Este sistema renal para controlo do PA é muito simples: quando o corpo contém muito líquido extracelular, o volume de sangue e a pressão arterial aumenta. Este aumento de pressão, por sua vez, tem um efeito directo nos rins, causando uma maior excreção de líquidos, fazendo a pressão arterial regressar ao normal. O contrário traduz-se numa diminuição de excreção, aumentando o volume de sangue e consequentemente, e pressão arterial. O aumento do volume urinário, em resposta a um aumento de pressão arterial, é um fenómeno chamado pressão diurética. O mecanismo geral pelo qual um aumento do volume de líquido extracelular se traduz num aumento da pressão arterial é o seguinte: Aumento do volume de líquido extracelular. Aumento o volume de sangue. Aumenta a pressão circulatória média. Aumenta o retorno de sangue venoso para o coração. Página 50 Aumenta o débito cardíaco. Aumenta a pressão arterial. É de referir que para passar do 5) para o 6) existe duas vias: Efeito directo do débito cardíaco aumentado, que aumenta a pressão arterial. Efeito indirecto, que aumenta a resistência vascular periférica, através de autoregulação do fluxo sanguíneo, isto é, por aumento da volémia, causa a constrição dos vasos sanguíneos, ao longo de todo o corpo, que causa um aumento da resistência periférica. Lembrando que PA=DC × Rperiférica. Um aumento do volume de líquido extracelular causa um aumento da Pressão Arterial. Mecanismos de controlo local do fluxo sanguíneo: O controlo local pode ser dividido em duas fases: I. Controlo agudo: mudanças rápidas em vasodilatação ou vasoconstrição local das arteríolas, metarteríolas (terminais as arteríoldas e início dos capilares) e esfíncteres précapilares, ocorrendo entre segundos a minutos, para providenciar um fluxo de sangue local apropriado. II. Controlo a longo prazo (“long-term”): mudanças controladas, lentamente do fluxo, num período de dias, semanas ou até mesmo meses. Geralmente, estas modificações de longo prazo permitem um melhor controlo do fluxo em proporção com as necessidades dos tecidos. As mudanças resultam num aumento ou diminuição no tamanho físico do vaso e do número real de vasos sanguíneos que “alimentam” os tecidos. Nota: quanto maior a taxa de metabolismo ou menos oxigénio disponível (ou outro nutriente necessário ao tecido), verifica-se um aumento da formação de substâncias vasodilatadoras nas células do tecidos. Estas substâncias actuam nas arteríolas, metarteríolas e esfíncteres pré-capilares, causando dilatação. Exemplos de substâncias dilatadoras: adenosina, dióxido de carbono, compostos de adenosina fosfato, histamina. Desenvolvimento de uma circulação colateral: É um fenómeno de controlo de longo prazo. Quando uma artéria ou veia é bloqueada, um vaso novo desenvolve-se à volta do bloqueio para permitir a passagem de uma pequena quantidade de sangue. Página 51 Desta forma, as necessidades do tecido são satisfeitas. A primeira fase é dilatação dos pequenos arcos vasculares que fazem conexão acima do bloqueio. (controlo agudo) Dá-se uma maior abertura através do controlo a longo prazo. Electrocardiograma 1) Composição O electrocardiograma normal é composto por uma onda P, um complexo QRS e uma onda T. Onda P Causada pelos potenciais eléctricos causados pela despolarização auricular. Complexo QRS Causado pelos potenciais eléctricos causados pela despolarização ventricular. Onda T Causado pelos potenciais eléctricos gerados pela repolarização ventricular. A onda P é causada pela propagação da despolarização através das aurículas, e é seguido pela contracção auricular, o que causa um aumento na pressão auricular. O complexo QRS surge como resultado da despolarização dos ventrículos, iniciando assim a contracção auricular, o que causa o aumento da pressão ventricular. Deste modo, o complexo QRS começa ligeiramente antes da sístole ventricular. A sístole designa o fenómeno de contracção do músculo cardíaco, e a diástole o fenómeno de relaxamento. São usados os seguintes prefixos com estes termos: “proto” – início, “meso”meio e “tele” – fim. Nota 1: Quando o impulso cardíaco passa através do coração, a corrente eléctrica atravessa os tecidos adjacentes e uma pequena porção chega às superfícies do corpo, a qual pode ser captada por eléctrodos, criando assim um electrocardiograma. Nota 2: A repolarização auricular também gera uma onda de repolarização T, mas é “tapada” pelo complexo QRS de bastante maior intensidade. Daí que raramente é captado no electrocardiograma. 2) Localização dos eléctrodos: Derivações pré-cordiais de Wilson (unipolares) V1 -> 4º Espaço Inter Costal (EIC) junto ao bordo esternal direito. V2 -> 4º EIC junto ao bordo esternal esquerdo. Página 52 V3 -> Equidistante de V2 e V4. V4 -> 5º EIC, junto à linha média-clavicular. V5 -> 5º EIC, ao nível da linha axilar anterior esquerda. V6 -> 6º EIC, ao nível da linha axilar média esquerda. Derivações bipolares dos Membros (DI, DII e DIII) Braço Direito: fio Vermelho Braço Esquerdo: fio Amarelo Perna Esquerdo: fio Verde Perna Direita: Fio Preto (Terra) As derivações bipolares dos membros entre o braço direito, braço esquerdo e perna esquerda formam um triângulo à volta do coração conhecido por Triângulo de Einthoven. a) Braço direito b) Braço esquerdo c) Perna esquerda A amplitude é positiva se a despolarização se desloca em direcção ao eléctrodo positivo. Lei de Einthoven: Estabelece simplesmente que se os potenciais eléctricos de duas das três derivações bipolares dos membros forem conhecidos, em qualquer momento, o da terceira pode ser determinado automaticamente pela simples soma dos dois primeiros, tendo em conta o sinal positivo ou negativo da derivação. Derivações aumentadas de Golberg (aVR, aVF, aVL) são derivações unipolares medidas em relação a uma terra virtual (central terminal de Wilson). São o registo aumentado dos potenciais eléctricos registados nos membros. aVR –> fio vermelho (braço direito) aVL –> fio amarelo (braço esquerdo) aVF –> fio verde (Perna esquerda) Sistema de referência Hexoaxial: Derivações do plano frontal: I, II, III, aVR, aVL e aVF Página 53 Neste sistema, as seis derivações dos membros têm uma origem comum. As 6 linhas (metade contínua, positivo, metade negativa, descontínua) estão separadas entre si 30º. Determinação do eixo eléctrico do Coração: Pode determinar-se a partir de duas derivações bipolares dos membros. O eixo anatómico do coração é o ângulo do coração no corpo, desde a base até ao ápice. O eixo eléctrico não é sinónimo de posição anatómica do coração e representa a direcção principal do fluxo da corrente eléctrica gerada durante a despolarização ventricular. Obtém-se da seguinte forma: . Obter o registo do ECG em duas derivações bipolares dos membros (Ex: DI e DII) . Determinar a amplitude do complexo QRS, e também a polaridade. . Marcar os valores obtidos nos respectivos eixos das derivações. Perpendiculares de cada eixo são traçados nestes pontos. O ponto de intersecção destas duas perpendiculares representa a direcção do vector resultante. . O comprimento do vector representa o potencial eléctrico médio gerado pelos ventrículos durante a despolarização e a direcção do vector, o eixo eléctrico do coração. Página 54 Sistema Respiratório 1) Funções: Ventilação – trocas gasosas a nível pulmonar (vulgarmente designado por respiração, uma vez que não implica consumo de O2 a nível celular); Trocas gasosas de O2 (essencial à função celular) e CO2 (gás final das reacções de metabolismo celular); Transporte: de O2 e CO2 desde da atmosfera até pulmões e depois ao nível sanguíneo. Intercâmbio: O2 fornecido e CO2 devolvido Hematose Regulação do pH: os níveis de CO2 do sangue estão associados ao seu pH Fonação: o som é produzido nas cordas vocais através da passagem de ar Olfacto/Paladar: quando moléculas em suspensão atravessam a cavidade nasal ou a língua produzem a sensação de cheiro, que também está associada ao paladar Defesa contra agentes patogénicos e irritantes: o ar é filtrado quando passa nas vias respiratórias Reservatório de sangue Regulação da concentração hormonal no sangue Aquecimento: à medida que passa do aparelho respiratório o ar é aquecido e misturado Árvore Traqueobrônquica: todo o seu epitélio é ciliado, de modo a remover secreções e corpos estranhos do conducto aéreo, que passam para o sistema digestivo. Outra função é aquecer e humidificar o ar atmosférico, uma vez que as trocas ao nível dos alvéolos são feitas na presença de vapor de água. Traqueia Brônquios Brônquíolos Brônquíolos Terminais - zona condutora Sacos Alvéolares Ductos Alvéolares Brônquíolos Respiratórios - zona respiratória 2) Mecânica Pulmonar Barreira Alvéolo-Pulmonar: é muito importante porque é onde se dão as trocas gasosas entre o ar dos alvéolos, situados na parte mais profunda do pulmão (no parênquima pulmonar), e o sangue; é formada pelo epitélio dos alvéolos, o espaço intersticial e o endotélio dos capilares (camada única). Os capilares formam uma rede de tal forma densa sobre o pulmão, que é quase como se existisse uma camada de sangue em torno do mesmo. Movimentos respiratórios criam diferenças de pressão: Inspiração: Diafragma contrai por acção do nervo pélvico; contrai e vem para baixo; as costelas e o externo são levantados por acção do diafragma e dos músculos intercostais externos; Diâmetro lateral transversal da caixa toráxica aumenta assim como o anteroposterior; Maior volume da caixa toráxica e menor pressão intrapleural; Página 55 Pulmões são expandidos. Expiração: Relaxamento de todos os músculos da caixa toráxica; Menos volume da caixa toráxica e maior pressão pleural e alveolar; Ar sai para o exterior. A pleura é constituída por dois folhetos entre os quais existe o líquido pleural que funciona como lubrificante permitindo a expansão da caixa torácica. Para que exista ventilação, é necessário que se crie uma diferença de pressão entre o ar exterior e os alvéolos. Onde na Inspiração Palv.<Pext. e na Expiração Palv.>Pext. A pressão pleural é negativa de modo a haver entrada de ar nos pulmões. No inicio da inspiração a pressão é cerca de (-5cm H2O) e quando o volume pulmonar aumenta, esta decresce aos (-7,5 cm H2O). Na expiração, o processo é inverso. Existe também uma pressão alveolar, nula quando a glote está fechada. Na inspiração a pressão alveolar cai para (-1 cm H2O), forçando a entrada de 0,5L de ar nos pulmões. Na expiração esta aumenta para 1 cm H2O, expulsando igual quantidade de ar. o A diferença entre a pressão pleural e alveolar designa-se de pressão transpulmonar e é uma medida de força elástica dos pulmões. Esta pressão aumenta na inspiração. A Compliance pulmonar relaciona a variação de volume com a variação da pressão transpulmonar. 𝐶 = 𝑑𝑉 𝑑𝑃 . Esta grandeza depende da elasticidade dos tecidos das propriedades tensoactivas dos surfactantes e do volume pulmonar. Nos alvéolos existem os pneumócitos tipo II que produzem o surfactante pulmonar. Este baixa drasticamente a tensão superficial impedindo o colapso alveolar, mantém os alvéolos secos, diminui o trabalho na dilatação dos pulmões e previne a passagem de líquidos dos capilares para o espaço alveolar. 3) Espirometria e ventilação pulmonar A espirometria mede o volume de ar que entra/sai dos pulmões durante a inspiração/expiração. Com este é possível medir os diferentes volumes pulmonares. O indivíduo respira para uma peça bucal; temse água e uma campânula com O2, donde ele extrai oxigénio, libertando anidrido carbónico; quando este volume varia, um sistema de roldanas faz variar o registo num cilindro e portanto observam-se as variações de volume que se deram durante a respiração. Página 56 a) Volumes pulmonares Volume corrente (VC – tidal volume): Volume de ar mobilizado por uma pessoa em repouso (500 mL). Volume de Reserva Inspiratória (VRI – IRV(inglês)): Volume de ar que pode ser inspirado profundamente depois de uma inspiração normal (3000 mL) Volume de Reserva Expiratória (VRE – VER): Volume de ar que pode ser expirado depois de uma expiração em repouso (1100 mL) Volume Residual (VR – RV): Volume de ar que permanece nos pulmões depois de uma expiração máxima. Não pode ser medido por espirometria (1200 mL). b) Capacidades pulmonares Capacidade Vital (CV – VC) = VRI + VC + VRE Capacidade Inspiratória (CI – IC) = VRI + VC Capacidade Residual Funcional (CRF – FRC) = VR + VRE Capacidade Pulmonar Total (CPT) = VRI + VC + VRE + VR c) Débito Ventilatório: Grandeza que mede o volume de ar mobilizado por unidade de tempo. É o produto do volume Inspiratório (ou Expeiratório) pela frequência/minuto. 4) Difusão gasosa na membrana pulmonar A membrana respiratória (colectivo das membranas) é constituída por: Camada de surfactante pulmonar no alvéolo Epitélio alveolar (pavimentoso simples) o Pneumócitos tipo I – células epiteliais de revestimento, muito finas e através das quais se efectuam as trocas gasosas; o Pneumócitos tipo II – células glandulares, menores e mais grossas, possum microvilosidades dirigidas ao interior do alvéolo que sintetizam surfactante (contém fosfolípidos e lipoproteínas) o Macrófagos alveolares - células do sistema imunitário, fagocitam organismos estranhos que não foram envolvidos pelo muco ou bloqueados por pêlos e cílios; Membrana epitelial base Espaço intersticial entre a membrana base e a membrana capilar Membrana capilar base que se funde em muitos locais com a alveolar base Membrana capilar endotelial o A troca gasosa dá-se por um processo de difusão simples (não mediado e a favor do gradiente de concentração), tanto a nível dos alvéolos como das restantes células. Página 57 o o o A pressão de CO2 nos alvéolos é superior à do ar porque há mistura do ar inalado com o do espaço fisiológico morto [soma do espaço morto anatómico (é o ar existente nas vias condutoras que não participa nas trocas gasosas) e o alveolar (ar que não participa das trocas existente nas áreas de trocas gasosa dos pulmões: próximo a 0 nos indíviduos normais)] resultante do ciclo anterior; Os capilares pulmonares são muito finos, pelo que os eritrócitos têm de se “espremer” para passarem neles. Assim, é comum a membrana que contem glóbulos vermelhos tocar a parede capilar, para que o O2 e CO2 não precisem de atravessar quantidades significativas de plasma, o que provoca um aumento da rapidez da difusão. Existe uma relação entre o ritmo de ventilação alveolar e as pressões parciais dos gases. Se P(O2) aumentar, o ritmo aumenta Se P(CO2) diminuir, o ritmo aumenta Se a produção de CO2 das células aumentar, a ventilação alveolar aumenta para manter a pressão Se o consumo de O2 pelas células aumentar, a ventilação aumenta para manter a pressão Assim sendo a concentração e pressão dos dois gases nos alvéolos são determinadas pelas taxas de absorção/excreção dos gases e também pela ventilação. Taxa de difusão influenciada por: o Espessura da membrana o Área da difusão o Coeficiente de difusão o Gradiente de concentração 5) Transporte de gases a) Transporte de O2 O2 pode ser transportado ao dissolver-se no plasma ou ao ligar-se à hemoglobina através de Ferro formando um composto (Oxihemoglobina) A pressão de O2 varia ao longo da circulação Página 58 A pressão de O2 nos capilares pulmonares aumenta até igualar a dos alvéolos (104 mmHg) A pequena redução da pressão na passagem ao sistema arterial deve-se à mistura do sangue arterial com o venoso que alimentou previamente o tecido pulmonar A pressão a nível dos capilares sistémicos é de 95 mmHg, muito superior à do tecido circundante, favorecendo a difusão de O2 para este. A pressão cai até aos 40 mmHg A saturação de hemoglobina e a pressão de O2 estão relacionados: O nível de saturação aumenta com a PO2 A nível das artérias sistémicas a PO2 é de cerca de 95 mmHg, conduzindo a uma saturação de 97% A nível do sangue venoso, a PO2 é aproximadamente 40 mmHg, representado uma saturação de 75%. A afinidade do O2 à hemoglobina também depende de: Temperatura – enfraquece as ligações pH – desnaturação; DPG (fosfoglicerato) – aumento de DPG reduz a afinidade PCO2 b) Transporte de CO2 O CO2 (produto do ciclo de Krebs) tem 3 vias de transporte: Dissolução no plasma Hemoglobina (i) Cerca de 23% de CO2 reage directamente com radicais amino da hemoglobina, formando carboxiemoglobina (CO2Hb). Se existir muita carboxiemoglobina, a hemoglobina fica saturada de CO2 e não pode transportar O2 Forma de bicarbonato (mais importante). Este processo engloba os seguintes passos (este ocorre nos capilares sistémicos): (i) Dissolução de CO2 no eritrócito (ii) CO2 + H2O H2CO3 (iii) H2CO3 H+ + HCO3- Página 59 (iv) HCO3- passa para o plasma (troca com o Cl -) devido à acção da enzima anidrase carbónica (v) H+ liga-se à hemoglobina (base forte) (vi) Nos capilares pulmonares dá-se o processo inverso até à expiração de CO2 6) Circulação Pulmonar e Circulação Sistémica: Note-se que as pressões são muito mais baixas na artéria pulmonar que nas grandes artérias sistémicas. Na circulação pulmonar, o parênquima (o parênquima é uma camada que cobre os grandes vasos pulmonares) do pulmão tende a fazer dilatar os vasos e as forças elásticas dos vasos e as forças de contracção muscular opõem-se, ocorrendo um equilíbrio de forças. Geralmente o aumento do volume do pulmão provoca dilatação dos vasos e o aumento da pressão alveolar provoca uma diminuição do diâmetro capilar, o que leva a um colapso. Pressão crítica de abertura: valor de pressão que a artéria pulmonar tem de atingir para que se passe a dar a circulação através do pulmão quando este se encontra colapsado. A variação da pressão pulmonar não é muito grande para um débito normal, mas para valores de débito elevados aumenta muito e para valores baixos diminui muito. Zonas 1, 2, e 3 da Circulação Pulmonar: Zona 1: a pressão arterial pode chegar para que os capilares não colapsem por acção da pressão alveolar e passe sangue. Parterial > Palveolar > Pvenosa Se a pressão arterial baixar por hemorragia, ou se a pressão alveolar aumentar porque demos O2 ao individuo o capilar colapsa e não há irrigação Espaço morto alveolar Zona 2: Pvenosa < Ppulmonar, o que vai controlar a circulação é a resistência. 𝑆 = 𝑃𝑣𝑒𝑛𝑜𝑠𝑎 − 𝑃𝑎𝑙𝑣𝑒𝑜𝑙𝑎𝑟 Apenas existe fluxo de sangue nos picos de pressão arterial, porque a pressão sistólica é maior que a pressão alveolar, mas a pressão diastólica é inferior à alveolar. Zona 3: o fluxo é continuo porque a pressão capilar é sempre maior que a alveolar durante todo o ciclo cardíaco. Nota: As situações normais são a 2 e 3. Valores muito elevados de pressão nas artérias pulmonares causam edemas pulmonares. Modificação do calibre dos vasos pulmonares: Vasoconstrição Arteriolar : a) Hipóxia b) Hipercápnia c) Acidose Respiratória d) Noradrenalina e) Adrenalina Página 60 f) Serotonina Vasodilatação Arteriolar: a) Isoproterenol b) Acetilcolina Vasoconstrição de veias e vénula: a) Serotonina b) Histamina c) Aloxana Vasodilatação em pulmões isolados: a) Aminofilina b) Nitritos c) Papaverina 7) Regulação da Respiração a) A respiração é controlada por um conjunto de 6 neurónios: Neurónios inspiratórios precoces – são estimulados antes da respiração e param antes do fim desta Neurónios da rampa inspiratória – começam antes da inspiração e mantém-se após a paragem dos neurónios respiratórios precoces. Não acabam a inspiração. Neurónios da rampa inspiratória tardia – estimulados perto do fim da actividade dos neurónios da rampa inspiratória. Terminam a inspiração. Neurónios pós-inspiratórios – têm grande actividade e são os grandes responsáveis na 1ª fase da expiração Neurónios da rampa expiratória – Iniciam a actividade durante a inspiração e continuam na 2ª fase da expiração Neurónios pré-inspiratórios – Iniciam a actividade antes dos neurónios inspiratórios precoces. b) Quimiorreceptores i) Centrais: Mitchell Schlaefler Loeschke ii) Periféricos Corpos aórticos Seio carotídeo Detectam alterações de pH iii) Pulmonares (regulam a respiração mecânica) Página 61 Receptores de estiramento pulmonar (Reflexo Hering – Bauer – Desligam a rampa inspiratória/expiratória quando os músculos atingem o limite) Receptores de irritação – Provocam tosse/espirro; Receptores C (proteína transmembranar cujo terminal-N está localizado extracelularmente). Receptores do nariz e vias aéreas superiores – espirro/tosse Receptores J – Activos quando existe um excesso de líquido nos alvéolos. Induzem hiperventilaçºão e drenagem linfática Receptores articulares e musculares – induzem uma respiração mais funda no exercício físico. Dor e Temperatura Aumentam a frequência respiratória Baroreceptores arteriais Condicionam a respiração Sistema Gama – Impede o rompimento das fibras do diafragma ao parar a inspiração profunda c) Regulação humoral A frequência respiratória aumenta com o aumento de PCO2 e diminuição de PO2 Os quimioreceptores periféricas são mais sensíveis à PO2 que os centrais d) Regulação Reflexa Seios aórticos e carotídeos (é dominante quando o volume sanguíneo diminui) Aumento da pressão sanguínea inibe o centro respiratório Aumento de O2 inibe o centro respiratório Zona de reflexo de Bainbridge (é dominante quando o volume sanguíneo aumenta) Aumento da pressão sanguínea estimula o centro respiratório Contrário aos seios aórticos e carotídeos e) Resposta ao exercício: Exercício físico, baixa pH e PCO2 aumenta estimulando a ventilação A temperatura aumenta estimulando a ventilação Página 62 Sangue Principais funções do sangue: Respiração Nutrição Excreção Balanço hidroelectrolítico Balanço ácido-base Temperatura corporal Defesa imunológica Transporte de hormonas e regulação metabólica Hemostase Constituintes do sangue: Plasma - fluido onde circulam electrólitos, nutrientes, metabolitos, vitaminas, hormonas, gases e proteínas dissolvidas Elementos figurados o Eritrócitos (RBC’s), glóbulos vermelhos ou hemácias – transportam o O2 e desempenham um papel importante na regulação do pH o Leucócitos (WBC’s), glóbulos brancos o Plaquetas, trombócitos – necessários à hemostase. Hematócrito (Hct) é a percentagem ocupada por eritrócitos no volume total do sangue. As proteínas plasmáticas estão envolvidas na defesa imunitária e regulação da pressão oncótica, o que mantém o volume sanguíneo constante. Por ligação às proteínas plasmáticas, compostos insolúveis em água podem ser transportados no sangue e muitas substâncias podem ser protegidas de se desintegrarem e da excreção renal. A ligação de pequenas moléculas às proteínas plasmáticas reduz a sua eficácia osmótica. Muitas delas estão envolvidas na coagulação e fibrinólise. Para além disso ainda intervém na resposta inflamatória, hormonas, enzimas e antiproteases. Eritrócitos A principal função dos eritrócitos é transportar a hemoglobina que, por sua vez, leva o oxigénio desde os pulmões até aos tecidos Os eritrócitos normais são bicôncavos, apesar de o seu aspecto poder variar bastante quando passam nos capilares. Os eritrócitos normais têm um excesso de membrana celular para a quantidade de conteúdo que têm. Por isso, a deformação destas células não exige um grande estiramento da membrana e, consequentemente, as células não lisam. A quantidade média de eritrócitos por milímetro cúbico é de 5 200 000. Página 63 Os eritrócitos têm a faculdade de concentrar a hemoglobina. Nas pessoas normais, a quantidade de hemoglobina está quase sempre próxima do nível máximo em cada célula. Cada grama de hemoglobina pode combinar-se com 1039 mm de O2. Génese das células sanguíneas. Todas as células sanguíneas derivam das chamadas células-mãe hematopoiéticas pluripotentes. A partir da diferenciação das ditas células vão-se formando as células sanguíneas circulantes. À medida que estas células se reproduzem, uma pequena percentagem permanece exactamente igual às células pluripotentes originais e ficam retidas na medula óssea, mantendo-se assim uma reserva constante. A primeira geração de novas células não se pode diferenciar como pertencente a um tipo concreto de células sanguíneas, apesar de já estarem encaminhadas a originar um determinada linha celular: são chamadas as células mãe comprometidas. A proliferação e reprodução de diferentes células mãe estão sob o controlo de múltiplas proteínas chamadas indutores de proliferação, que activam a dita proliferação mas não a sua diferenciação. Esta activa-se pelo grupo de proteínas denominadas indutores da diferenciação. Cada proteína indutora provoca a diferenciação da célula mãe, em um ou mais passos, para formar um dos tipos de células sanguíneas adultas. A formação de indutores de diferenciação está controlada por factores externos à medula óssea. No caso dos eritrócitos, a exposição do organismo a baixas concentrações de O2 durante um período prolongado estimula a proliferação, a diferenciação e a produção de um número muito elevado de eritrócitos. Regulação da produção de eritrócitos: função da eritropoietina A massa total de eritrócitos no sistema circulatório está regulada entre limites estreitos. Qualquer circunstância que reduza abaixo do normal a quantidade de oxigénio que se transporta aos tecidos, aumenta a produção de eritrócitos. O principal factor que estimula a produção de eritrócitos é a eritropoietina. Esta é formada principalmente nos rins (80-90%)e no fígado. Quando se removem os dois rins ou uma doença renal os destrói, surge uma anemia grave, já que a quantidade de eritropoietina que se forma nos tecidos não renais apenas permite a formação de 1/3 a ½ dos eritrócitos que o organismo necessita. A vitamina B12 e o ácido fólico são importantes para a maturação final dos eritrócitos. A falta de qualquer uma destas vitaminas produz uma diminuição na quantidade de DNA (síntese) e, consequentemente, provoca uma fraqueza na maturação e divisão celular. Para além disso, os eritrócitos tornam-se maiores que o normal, formando megaloblastos. Estas Página 64 células têm fórmulas irregulares e uma membrana muito fina: são capazes de transportar O2 normalmente, mas a sua fragilidade diminui o seu tempo de vida a metade. Formação da hemoglobina A síntese de hemoglobina começa quando os eritrócitos estão ainda num estado de proeritroblastos e continua até à fase de reticulócitos, quando as células abandonam a medula óssea e entram na corrente sanguínea. Quatro cadeias de hemoglobina juntam-se para que esta se torne funcional. A sua característica mais importante é a capacidade de se unir reversivelmente com o oxigénio. O átomo de O2 une-se laxamente a uma das ligações de coordenação do átomo de ferro que existe na hemoglobina. Anemias Anemia - défice de eritrócitos e pode dever-se a uma perda rápida ou a uma produção lenta dos mesmos. Anemia por perda de sangue – ocorre após uma hemorragia grave. O organismo é capaz de repor o plasma em 1 a 3 dias, mas a concentração de eritrócitos continua baixa. Para normalizar o número de eritrócitos são necessários 3 a 4 semanas. Anemia aplástica – ocorre por falta função da medula óssea. Pode dever-se a uma exposição à radiação gama, alguma substância industrial química tóxica ou uma reacção adversa a um fármaco. Anemia megaloblástica – ocorre por falta de vitamina B12, ácido fólico ou de factor intrínseco. A carência de alguma das ditas substâncias provoca uma reprodução lenta dos eritrócitos na medula óssea. Assim os eritrócitos tornam-se megaloblastos. Anemia hemolítica – ocorre como consequência da fragilidade dos eritrócitos, que lisam ao passar os capilares. O número de eritrócitos é normal ou maior do que o normal, no entanto, o seu tempo de vida é muito curto. Anemia de células falciformes – é um tipo de anemia hemolítica devida à composição anormal das cadeias de hemoglobina. Quando esta anemia se expõe a uma [O2] baixa, precipita no interior dos eritrócitos formando cristais, fazendo com que as células fiquem em forma de foice e sejam muito frágeis. Resistência do organismo à infecção Leucócitos, granulócitos, sistema monócito – macrófago, inflamação Os leucócitos são elementos móveis no sistema de protecção do organismo. Formam-se na medula óssea e no tecido linfático, e logo se transportam no sangue até às zonas Página 65 inflamadas, onde realizam uma defesa rápida e poderosa contra os agentes infecciosos que possam existir. Existem vários tipos de leucócitos: Neutrófilos Eosinófilos Basófilos Monócitos Linfócitos Os três primeiros são polimorfonucleares, têm um aspecto granular pelo que se chamam granulócitos/”polis”. Os granulócitos e os monócitos protegem o corpo de organismos invasores, ingerindo-os por fagocitose. Os linfócitos actuam geralmente junto ao sistema imunitário agregando-se de maneira específica com o organismo invasor e destruindo-o. Génese dos leucócitos. A partir das células mãe hematopoiéticas pluripotentes formam-se duas estirpes de leucócitos: a linha mielocítica e a linha linfocítica. Os granulócitos e os monócitos pertencem à primeira e os linfócitos à segunda. Os primeiros só se formam na medula óssea. Os linfócitos produzem-se nos diferentes órgãos linfáticos, como os gânglios linfáticos, o baço e o timo. A esperança de vida dos leucócitos é bastante variável. Propriedades defensivas dos neutrófilos e dos macrófagos Os neutrófilos e os monócitos são os principais responsáveis pelo ataque e destruição das bactérias, vírus e outros agentes nocivos. Os neutrófilos são células maduras que podem atacar e destruir bactérias e vírus no sangue circulante. Já os monócitos apenas atingem maturação nos tecidos e transformam-se em macrófagos tecidulares. São atraídos para as zonas inflamadas por quimiotaxis. A função mais importante dos neutrófilos e macrófagos é a fagocitose. Quando ocorre uma lesão, existem substâncias que circulam no sangue e aumentam a permeabilidade dos capilares, produzindo-se a saída de grande quantidade de líquido para o espaço intersticial e uma migração dos granulócitos e monócitos até aos tecidos afectados. Eosinófilos - Combatem os efeitos da histamina na resposta alérgica; actuam por fagocitose ou libertação do conteúdo dos seus grânulos. Basófilos - Libertam heparina, histamina e serotonina, que actuam em reacções alérgicas e anti-parasitárias. Página 66 Imunidade inata e imunidade adquirida A imunidade é a capacidade do corpo para resistir aos ataques de quase todos os organismos e toxinas que podem causar danos. A maioria dos organismos têm uma imunidade inata, que consistem em acções comuns, como a fagocitose de bactérias, a destruição de organismos patogénicos pelas secreções ácidas e enzimas digestivas, a resistência da pele à invasão e a presença de certos compostos químicos no sangue que atacam e destroem os organismos estranhos e as toxinas. A imunidade adquirida é a capacidade do corpo para apresentar mecanismos muito específicos e eficazes contra agentes invasores concretos, como certas bactérias, vírus e toxinas potencialmente mortais, ou mesmo contra outros tecidos estranhos provenientes de outros organismos. A imunidade adquirida inicia-se por antigénios. Os linfócitos são a base deste tipo de imunidade. Podem ser encontrados em vários tecidos linfáticos que estão distribuídos por todo o corpo, de maneira a poder interceptar organismos invasores e toxinas que se disseminam rapidamente. Há duas populações de linfócitos. Os linfócitos T maturam-se no timo e são responsáveis pela imunidade mediada por células. Os linfócitos B modificam-se no fígado e depois na medula óssea durante a vida fetal, sendo responsáveis pela imunidade humoral. O timo processa linfócitos T. Os linfócitos dividem-se rapidamente e distribuem-se pelos tecidos linfáticos de todo o corpo. O fígado e a medula óssea processam os linfócitos B, que se diferenciam dos T por segregarem anticorpos activamente, que são grandes moléculas proteicas que se combinam com o antigénio e destroem-no. A diversidade de linfócitos B é muito maior que de linfócitos T e uma vez processados migram para todos os tecidos linfáticos onde se armazenam. Hemostasia e Coagulação do Sangue O termo hemostasia significa prevenção da perda de sangue. Quando um vaso se lesiona ou rompe, a hemostasia consegue-se por meio de: 1) um espasmo vascular; 2) a formação de um tampão plaquetário; 3) a formação de um coágulo sanguíneo devido à coagulação do sangue, e 4) a proliferação final de tecido fibroso para fechar de maneira permanente a lesão do vaso. Página 67 Hemostase Primária Quando há uma lesão vascular, as plaquetas aderem ao colagénio e ao factor Van Willebranz existente no endotélio do vaso sanguíneo, incham e adquirem formas irregulares e libertam grandes quantidades de serotonina, tromboplastina e ADP que atraem outras plaquetas, acabando por se formar o tampão plaquetar. Para evitar a formação de um tampão demasiado grande, o endotélio liberta algumas substâncias, como NO e as prostacilinas. Hematose Secundária Na hemostase secundária há formação de um coágulo sanguíneo em 3 passos essenciais: 1) Activação sequencial de vários factores de coagulação, muitos deles sintetizados no fígado e dependentes da vitamina K , originando o complexo activador da protombina 2) O complexo activador cataliza a conversão da protombina em trombina 3) A trombina actua sobre o fibrinogénio convertendo-se em fibras de fibrina que formam uma rede entre as plaquetas, células sanguíneas e plasma, dando origem ao coágulo sanguíneo. Finalmente dá-se a dissolução do coágulo, (quando o tecido está reparado) através da fibrinólise. A fibrina é degradada pela plasmina, levando à produção de fragmentos circulantes que são depois destruídos por outras proteinases ou pelos rins e fígado. O plasminogénio é convertido em plasmina por acção de diversos activadores tecidulares, como o tPA e o pro UK. Página 68 Equilíbrio Ácido-Base Este é um capítulo auxiliar de modo a compreender termos que se são dados ao longo do tempo. Perguntas específicas sobre isto não saiem. pH fisiológico: 7,35 – 7,45 Equação de Henderson-Hasselbach [A− ] 𝑝𝐻 = 𝑝𝐾𝑎 + log ( ) [HA] [HCO− ] 3 𝑝𝐻𝑓𝑖𝑠𝑖𝑜𝑙ó𝑔𝑖𝑐𝑜 = 6,1 + log (P (CO )∗0,0301 ) a 2 Pa(CO2) – Pressão Alveolar Acidémia: valor de pH do sangue abaixo do valor de referência 7,35. Acidose: situação que leva a uma diminuição do pH abaixo de valores fisiológicos. Pode ser compensada, restabelcendo-se o valor de pH normal mas permanecem alterações em [HCO3-] e Pa(CO2). Alcalémia: valor de pH do sangue acima do valor de referência 7,45. Alcalose: semelhante à acidose mas para valores de pH superiores ao fisiológico. Alterações primárias do numerador e denominador da equação: Alterações metabólicas alterações no ião bicarbonato (alterações no numerador): o [HCO3-] => pH => alcalose o [HCO3-] => pH => acidose Valores de [HCO3-] são controlados principalmente ao nível dos rins, onde se dá: o o o Reabsorção de HCO3-; Formação de ácidos tituláveis; Excreção de NH4+ (amónia). Alterações respiratórias alterações na pressão parcial de CO2 (alterações no denominador): o Pa(CO2) => pH => acidose o Pa(CO2) => pH => alcalose Pa(CO2) é modificável pela respiração Na gasimetria arterial medem-se valores de pH do sangue, as concentrações de HCO3-, Pa(CO2) e Pa(O2), e ainda o “anion gap”. Anion gap, ou hiato iónico, representa os aniões que não são medidos directamente, como proteínas aniónicas, fosfatos, sulfatos e aniões orgânicos. O seu valor ronda os 10-12 mmol/L e calcula-se através da expressão: Página 69 𝐴𝐺 = 𝑁𝑎+ − (𝐶𝑙 − + 𝐻𝐶𝑂3− ) Na+ ião mais importante medido na gasimetria Os distúrbios ácido-base podem ser simples (maioria das situações) ou mistos (bastante complexos e difíceis de diagnosticar). O nosso organismo tem mecanismo de compensação que tentam manter pH do sangue dentro dos valores fisiológicos. Nota: Os mecanismos de compensação regulam o pH mas não corrigem os problemas que levam aos próprios distúrbios ácido-base. Predições de compensação: Acidose metabólica o PaCO2 baixa 1,25 mm Hg por cada 1 mmol/L de [HCO3-] que baixa; o 1 [HCO3-] => 1,25 PaCO2 Alcalose metabólica o PaCO2 sobe 0,75 mm Hg por cada 1 mmol/L de [HCO3-] que aumenta; o 1 [HCO3-] => 1,25 PaCO2 Acidose respiratória o Aguda: [HCO3-] aumenta 1 mmol/L por cada aumento de 10 mm Hg na PaCO2 o Crónica: [HCO3-] aumenta 4 mmol/L por cada aumento de 10 mm Hg na PaCO2 Alcalose respiratória o [HCO3-] diminui 2 mmol/L por cada decréscimo de 10 mm Hg na PaCO2 o [HCO3-] diminui 4 mmol/L por cada decréscimo de 10 mm Hg na PaCO2 Causas de acidose metabólica com anion gap aumentado: Insuficiência renal mais frequentes Diabetes Acidose láctica (desportista e doentes terminais) Cetoacidose (tipo de acidose metabólica que é causada por altas concentrações de cetoácidos, formados pela deaminação dos aminoácidos) diabética ou alcoólica Toxinas (etilenoglicol, metanol, ou salicilatos) Causas de acidose metabólica sem anion gap aumentado: Perda gastrointestinal de bicarbonato o Diarreia o Drenagem pancreática ou do intestino delgado o Uretero-sigmoidostomia, ansa jejuanl, ansa ileal o Fármacos (cloreto de cálcio, sulfato de magnésio, colestiramina) Acidose Renal o Distúrbios dos tubos renais o Aumento do ião K+ (hipercaliémia) Hipercaliémia (grande [K+] no sangue) induzida por fármacos Outras Página 70 Sistema Renal 1. Funções do rim Filtro – Remove produtos metabólicos e toxinas (excreta ureia, creatinina, bilirrubina, substâncias tóxicas ingeridas, etc.) Manutenção do equilíbrio electrolítico e ácido-base – Regula concentrações iónicas (Na+, K+,…) e regula o pH fisiológico através da regeneração de HCO3- e eliminação de H+ Produção hormonal: o Renina – Controlo de pressão arterial a longo/médio prazo o Vitamina D3 – aumenta o metabolismo (fixação) de Fósforo e Cálcio o Eritropoeitina – Estimula a formação de eritrócitos (eritropioese) o Prostoglandinas e bradiquininas – Controlo da pressão arterial local Gliconeogénese 2. Anatomia fisiológica do Rim Os rins são órgãos retroperitoniais divididos em 2 grandes regiões: Parte mais periférica é compacta – córtex; Parte medial (interior) designada por medula; A medula está dividida em múltiplas massas de tecidos em forma de cone denominadas pirâmides renais. A sua base está na fronteira entre o córtex e a medula e termina na “papilla”, que se projecta para a pélvis renal (espaço em forma de túnel) e é a continuação da parte superior do uréter. O bordo exterior da pélvis está dividido em cálices maiores e cálices menores que recolhem a urina e a conduzem ate à bexiga. Os rins recebem cerca de 20% do débito cardíaco através da artéria renal que entra no rim pelo Hilo e se vai ramificando progressivamente até formar artérias interlobares, arteríolas aferentes que se ramificam originando os capilares glomerulares onde se dá a filtração. Os capilares unem-se para formar a arteríola eferente que origina uma rede de capilares secundária: os capilares peritubulares. Página 71 Unidade funcional do rim: nefrónio A cápsula de Bowman envolve o novelo e é para onde vai o plasma. O sangue chega ao nefrónio pelo arteríola aferente e sai pela arteríola eferente. São os nefrónios os responsáveis pela produção de urina. Cada um contém uma rede capilar (glomérulo) sujeita a elevadas pressões hidrostáticas, dando-se a filtração. É aqui que se inicia a produção de urina. O filtrado (supostamente sem proteínas) passa para a cápsula de Bowman. Grande parte das substâncias no plasma (excepto as proteínas) são livremente filtradas de modo que a sua concentração no filtrado na cápsula de Bowman é praticamente a mesma que no plasma. Á medida que o filtrado passa da cápsula de Bowman para os tubos contornados proximais, sofre modificações por reabsorção de água e solutos específicos de volta à circulação, e também por secreção de outras substâncias para os túbulos por parte dos capilares peritubulares. Em geral, a reabsorção tubular é mais importante que as secreções tubulares, na formação de urina. Mas, a secreção desempenha um papel importante na determinação das quantidades de iões potássio, hidrogénio e outras substâncias que são excretadas na urina. Grande parte das substâncias que precisam de ser libertadas no sangue (especialmente produtos metabólicos como ureia, ácido úrico ente outras) são pouco reabsorvidas, sendo excretadas em elevadas quantidades na urina. Outras substâncias estranhas como drogas, também são reabsorvidas no sistema tubular mas, além disso, são segregadas do sangue para os túbulos, pelo que as suas taxas de excreção também são elevadas. Cada um destes processos – filtração glomerular, reabsorção tubular e secreção tubular – é regulado de acordo com as necessidades do corpo. Nota: cerca de 20% do plasma que passa pela arteríola aferente é filtrado para a cápsula de Bowman e deste filtrado cerca de 99% é reabsorvido para a circulação. Excreção urinária = (Filtração – reabsorção) + secreção Página 72 3. Micção Processo de esvaziamento da bexiga: i. Bexiga enche-se progressivamente de urina e a pressão no seu interior vai aumentando ii. Sensores de pressão que existem nas suas paredes enviam sinais sensoriais pelos nervos pélvicos até à porção sacral da medula, iniciando assim o reflexo de micção, e um estímulo de contracção da bexiga é enviado por fibras parassimpáticas iii. Estes reflexos dão-se constantemente mas só quando a pressão da bexiga já é demasiado alta e os reflexos muito frequentes e fortes é que é desencadeada o relaxamento voluntário do esfíncter externo e a bexiga é finalmente esvaziada 4. Filtração glomerular Barreiras de filtração glomerular: A membrana de filtração glomerular tem 3 camadas diferentes que funcionam como uma barreira para vários tipos de substâncias/moléculas: o Endotélio fenestrado (revestimento interno da membrana) – funciona como uma barreira mecânica retendo substâncias de acordo com o seu tamanho. Retém os elementos figurados do sangue e proteínas. o Membrana basal – formada por glicoproteínas de carga negativa. Deixa passar livremente líquido mas retém substâncias de acordo com a sua dimensão e sobretudo de acordo com a sua carga eléctrica – cargas negativas não retidas. Principal barreira à filtração à de macromoléculas (principalmente proteínas). o Podócitos – última camada e para além de ajudar na filtração de proteínas forma uma “malha” em torno do glomérulo e mantém a sua integridade. Débito Renal (DR) – quantidade de sangue que passa pelo rim; Taxa de filtração glomerular (TFG) – quantidade de sangue filtrado a nível dos glomérulos capilares na cápsula de Bowman; A TFG tem alguns determinantes: o Diferença entre as pressões hidroestáticas intracapilar (55 mm Hg, favorável à filtração) e no espaço de Bowman (- 15 mm Hg, desfavorável – espaço de bowman é o interior da cápsula). Representa-se ΔP e o seu balanço é favorável à filtração (ΔP= 55-15 =40 mm Hg) o Diferença entre a pressão oncótica (determinada pela quantidade de proteínas do fluido) intracapilar (30 mm Hg, desfavorável) e no espaço de Bowman (≈ 0 mm Hg, favorável). O balanço destas pressões é desfavorável e representa-se por Δπ o Área e permeabilidade da superfície de filtração, o que se dá o nome de coeficiente de filtração glomeral e representa-se por Ks. A TFG pode ser calculada matematicamente em mL/ min, através da expressão: 𝐾𝑠 ∗ (𝛥𝑃 − 𝛥𝜋) = 𝐾𝑠 ∗ (40 − 30) = 10 ∗ 𝐾𝑠 Alterações na permeabilidade das membranas ou nas várias pressões mencionadas podem alterar a TFG a favor ou contra a filtração. Página 73 a) Mecanismos de regulação da TFG e DR externos A activação do sistema nervoso simpático estimula a diminuição do DR e da TFG Só acontece em casos mais severos de diminuição da pressão arterial (PA) Esta estimulação é conseguida através da vasoconstrição da arteríola aferente (aumenta resistência arteriolar), reduzindo o fluxo sanguíneo (impede a diminuição de volémia e diminui a pressão hidroestática – poupa água) e aumenta a pressão. Regulação hormonal Angiotensina II Vasoconstritor arteriolar Previne redução do TFG em PA baixa Aumenta a absorção de Na+ e H2O Prostaglandina Vasodilatador Previne a redução acentuada de TFG b) Mecanismos de autoregulação do DR e TFG A PA influencia pouco a TFG devido aos mecanismos de autoregulação; O aparelho justaglomerular detecta variações na composição do fluido filtrado (este controlo denomina-se de retrocontrolo tubulo-glomerular); Complexo formado por 3 tipos de células: extraglomerulares, justaglomerulares e mácula densa Célula da Mácula densa – células especializadas da junção da Ansa de Henle com o tubo contornado distal e contactam com as arteríolas aferente e eferente. Funcionam como um sensor para o feedback/retrocontrolo tubuloglomerular que permite o ajuste da TFG: o Quando a TFG aumenta a reabsorção de Na+ e Cl- não é tão eficaz. Consequentemente as células da mácula densa vão detectar um aumento da [NaCl] no filtrado e vão induzir a contracção da arteríola aferente, provocando uma diminuição da TFG (mecanismo de feedback negativo). o Se TFG decresce, provoca uma maior reabsorção de Na+ e Cl - na porção ascendente da ansa de Henle => redução de [NaCl] na mácula densa causa a dilatação das arteríolas aferentes (através da prostaglandina) e aumento da produção de renina (ciclo na página seguinte). Autoregulação miogénica Capacidade dos vasos sanguíneos de resistirem à distensão durante períodos de PA aumentada; Dilatação aumenta a passagem de Ca2+ do fluido extracelular para a célula, causando uma contracção do músculo liso Impede o aumento do TFG nestas condições Página 74 Pressão Arterial inibe inibe ΔP glomerular TFG Reabsorção de NaCl proximal [NaCl] na mácula densa Renina Resistência arteriolar eferente Angiotensina I Angiotensina II Resistência arteriolar eferente 5. Reabsorção Tubular (Mecanismos de transporte tubular) Transporte máximo: taxa máxima à qual um soluto pode ser transportado. Como o transporte da maioria das substâncias para os túbulos está associado a sistemas específicos (passivos ou activos), a determinada altura pode ocorrer saturação das proteínas/ sistemas transportadores. Neste momento atingiu-se o transporte máximo Movimento do material filtrado do lúmen para o plasma pelos capilares peritubulares a) Vias de reabsorção: 3 Transporte mediado (activo) o O Na+ é reabsorvido activamente através dos canais de sódio devido à sua elevada concentração no lúmen. o Responsável pelo elevado consumo energético do rim e permite estabelecer gradientes de concentração de Na+ necesserários ao transporte de outras substâncias. o Existem também bombas que fazem o transporte para K+, H+, Ca2+ Difusão o Devido à absorção de Na+ (activamente), cria-se um gradiente de potencial, pelo que o Cl- se difunde passivamente para a corrente, e reguladas por hormonas o Água é sempre reabsorvida por osmose (transporte de água é assegurado por canais próprios – aquapurinas – e está sempre dependente do gradiente de diversos iões, como o Na+ fornece a Página 75 o o o o força necessária para o movimento da água por osmose a partir do túbulo renal). 60%-70% da reabsorção de água dá-se no tubo contornado proximal (TCP) e depende do gradiente de Na+. No TC distal a permeabilidade à agua é regulada pela hormona ADH. A difusão de H2O no TCP cria um excesso de concentração de Cl- no lúmen tubular, favorecendo a sua difusão a favor do gradiente eléctrico. A ureia é reabsorvida pela mesma razão. Difusão simples: CO2 e ureia Difusão facilitada - através de canais iónicos: Na+, Cl-, K+ Transporte paracelular o Os produtos reabsorvidos atravessam espaços intercelulares o É a via utilizada pelas proteínas, Ca2+, Cl-, H2O, etc, em alguns segmentos do nefrónio I – transporte activo; II – difusão; III – transporte paracelular Página 76 b) Reabsorção no tubo contornado proximal Na 1ª metada dá-se a reabsorção de Na+ por co-transporte de glucose, aminoácidos. o Na membrana apical existem transportadores específicos que utilizam a energia do transporte de Na+ a favor do seu gradiente (para o interior da célula) para transportar uma molécula de glucose contra o seu gradiente electroquímico (também para dentro da célula). Uma vez no meio intracelular a glicose é difundida passivamente para o fluido intersticial. o O transporte de glucose está assim dependente da actividade da bomba Na+/K+ ATPase que é responsável por eliminar sódio do meio intracelular, em troca de potássio Na 2ª metade dá-se a reabsorção de Cl-. c) Reabsorção na Ansa de Henle A ansa de Henle divide-se em 3 partes funcionais que desempenham funções diferentes: i. Porção fina descendente Bastante permeável a H2O e moderadamente permeável a alguns solutos Permite a difusão simples de substâncias através das suas paredes Página 77 ii. Porção grossa ascendente Bastante impermeável a água Possui células epiteliais com elevada actividade metabólica Estas células permitem a absorção activa de Na+, Cl- e K+, e de outros solutos como Ca2+, HCO3-, Mg2+ Secreta-se H+ HCO3- é totalmente filtrado no glomérulo. No lúmen dos túbulos renais HCO3- combina-se com H+ que foi excretado e forma H2CO3. Este ácido dissocia-se em H2O e CO2 por acção da enzima anidrase carbónica e o CO2 é difundido para o interior da célula. Aí volta a associar-se a H2O e forma outra vez H2CO3 que, por sua vez forma H+ + HCO3-. Os iões bicarbonato podem então retornar à corrente sanguínea. iii. Porção fina ascendente Bastante impermeável a água Não se dá reabsorção significativa d) Reabsorção no tubo contornado distal e ducto colector Ambos impermeáveis à ureia Permitem a reabsorção de Na+ (e outros iões) activamente Secretam H+ (têm papel fundamental no equilíbrio ácido-base) Sujeitos a acção de hormonas, nomeadamente à aldosterona e ADH o Aldosterona estimula a absorção distal de Na+ e eliminação de K+ e H+ o ADH controla a permeabilidade destes segmentos à água, controlando assim o grau de diluição da urina: Elevadas quantidades de ADH TCD torna-se permeável a água, permitindo a sua reabsorção urina muito concentrada Ausência de ADH permeabilidade dos túbulos é baixa, e a urina torna-se mais diluída 6. Mecanismo de Contra-Corrente A multiplicação em contracorrente é o mecanismo pelo qual o conteúdo de dois tubos adjacentes se desloca em direcções opostas originando concentração de solutos progressivamente maiores. O gradiente de concentração entre os dois ramos da ansa é estabelecido com gasto de energia e tem por base 3 propriedades: a. Transporte activo de sódio e co-transporte de potássio, cloreto e outros iões ao longo dos ramos ascendentes (porção grossa); b. Baixa permeabilidade à água dos ramos ascendentes; c. Alta permeabilidade à água dos ramos descendentes. Página 78 Para que a maior parte da água filtrada seja reabsorvida e se excrete uma urina concentrada é fundamental manter uma pressão osmótica (concentração de solutos) elevada na medula renal. Para tal facto contribui o mecanismo de contra-corrente da ansa de Henle. Paralela à ansa existe um conjunto de vasos (vasa recta) que se dispõe em contracorrente em relação ao fluxo do túbulo renal e que ajuda a manter a hiperosmolaridade da medula e o gradiente da ansa: o No ramo ascendente da vasa recta vai haver entrada de água e saída de sais, o que torna a medula hiperosmótica e contribui para a reabsorção de água no ramo descendente da ansa de Henle. o No ramo ascendente da ansa circula um fluido hiposmótico devido à reabsorção de sais e à impermeabilidade à água. No ramo correspondente da vasa recta (ramo descendente) vai verificar-se saída de água e a entrada de sais, ficando o sangue progressivamente mais concentrado. 7. Clearance (depuração) de creatina Forma de avaliar a função renal. Creatina - substância excretada para os tubulos renais que não volta a ser reabsorvida. Se os rins funcionam mal, [creatina] aumenta no sangue. Clearance – quantidade de sangue que contem determinada substância, por Δt. Se tiver uma substância que não seja reabsorvida nem excretada pelos túbulos renais, consegue-se saber a clearance que foi excretada e então saber que essa é a quantidade de substância que passou do sangue para as cápsulas de Bowman. 𝑐𝑙𝑒𝑎𝑟𝑎𝑛𝑐𝑒 ∗ [ ] 𝑃𝑙𝑎𝑠𝑚á𝑡𝑖𝑐𝑎 = [ ] 𝑈𝑟𝑖𝑛á𝑟𝑖𝑎 ∗ 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑈𝑟𝑖𝑛á𝑟𝑖𝑜 Página 79 Sistema Digestivo Funções Principais Fornecer continuamente água, electrólitos e nutrientes. São necessários Movimento do conteúdo ao longo do tubo digestivo; Secreção de sucos digestivos e digestão dos alimentos; Absorção de água, electrólitos e produtos da digestão; Circulação de sangue para absorção e controlo; Controlo por sistemas locais, nervosos e hormonais. Anatomia do sistema digestivo Princípios gerais da mobilidade gastrointestinal Características Gerais da parede intestinal As funções motoras do tubo digestivo realizam por diversas camadas de músculo liso. A parede intestinal é composta por, de fora para dentro: Página 80 1. 2. 3. 4. 5. Serosa Camada muscular longitudinal Camada muscular circular Submucosa Mucosa A zona profunda da mucosa contém fibras dispersas de músculo liso, a muscularis mucosae. O músculo liso gastrointestinal funciona com um síncicio. As fibras lisas dos músculos longitudinais e circulares estão conectadas electricamente por vários gap junctions que permitem a passagem de iões de uma célula para as outras. Cada camada muscular funciona como um síncicio: e quando em algum ponto da massa muscular aparece um potencial de acção, propaga-se em todas as direcções do músculo. A distância percorrida depende da excitabilidade do músculo. Existem ainda algumas conexões entre as duas camadas, o que pode provocar a excitação de uma a partir da outra. Actividade eléctrica do músculo liso gastrointestinal Este músculo liso é excitado de forma quase contínua. Esta actividade é feita de duas formas: ondas lentas e ondas rápidas. As ondas lentas ocorrem ritmicamente, e não são potenciais de acção. São geradas por interacções complexas entre as células do músculo liso e as células de Cajal, que se pensa serem “pacemakers” para as células do músculo liso. As ondas rápidas, ou spikes, são potenciais de acção, e acontecem quando o potencial da célula sobe acima de -40 mV. Quanto mais alto for o potencial da célula, maior a frequência destas ondas. Em repouso, o potencial da membrana é normalmente -56 mV. Quando o potencial sobe acima deste valor (despolarização) as fibras ficam mais excitáveis. Quando o potencial desce abaixo deste valor (hiperpolarização) as fibras ficam menos excitáveis. Factores de despolarização: distensão do músculo, estimulação com acetilcolina, estimulação de nervos parassimpáticos que segregam acetilcolina nas suas terminações, estimulação por hormonas gastrointestinais Factores de hiperpolarização: efeito da noradrenalina ou adrenalina sobre a membrana muscular, estímulo de nervos simpáticos que segregam acetilcolina nas suas terminações Página 81 Controlo Neuronal da função gastrointestinal: Sistema Nervoso Entérico O sistema nervoso está totalmente alojado nas paredes do tracto alimentar, começando no esófago e terminando no ânus. Alberga aproximadamente 100 milhões de neurónios. Este sistema controla especialmente os movimentos e secreções gastrointestinais. O SNE é constituído por 2 plexos: o plexo exterior (ou plexo mesentério / plexo de Auerbach), situado entre as duas camadas musculares. A sua estimulação produz: 1) aumento do tónus da parede intestinal; 2) maior intensidade das contracções rítmicas; 3)aumento da frequências das contracções; 4) maior velocidade de condução. o plexo interior (ou plexo submucosal / plexo de Meissner), situado na submucosa. Controla as secreções e o fluxo sanguíneo. Controlo autónomo do sistema gastrointestinal Os nervos parassimpáticos aumentam a actividade do sistema nervoso entérico. Por sua vez, este intensifica a actividade da maioria das funções gastrointestinal. A inervação parassimpática do tubo digestivo é formada pelas divisões craneal e sacra. O sistema nervoso parassimpático craneal inerva, através dos nervos vago, o esófago, o pâncreas e a primeira parte do intestino grosso. O sistema nervoso parassimpático sacro inerva, através dos nervos pélvicos, a parte distal do intestino grosso. O cólon sigmóide, o recto e o ânus estão especialmente inervados por fibras parassimpáticas, que intervêm nos reflexos da defecação. Reflexos gastrointestinais Existem 3 tipos de reflexos essenciais: Reflexos que estão totalmente integrados na parede do tracto intestinal, no SNE controlam a secreção gastrointestinal, o peristaltismo, as contracções de mistura, os efeitos locais inibidores, etc. Reflexos desde o tracto alimentar até aos gânglios simpáticos e de novo até ao tracto alimentar transmitem sinais a longa distância, como os do estômago que provocam a evacuação do cólon (reflexo gastrocólico), do cólon e intestino delgado que inibem a mobilidade e secreções gástricas (reflexo enterogástrico) e reflexos originados no cólon que inibem o esvaziamento do conteúdo ileal e no cego (reflexo cólico-ileal) Reflexos desde o tracto alimentar até à medula espinhal ou tronco cerebral e para trás de novo consistem especialmente em: 1) reflexos originados no estômago e duodeno -> tronco cerebral -> estômago através do nervo vago, que controlam a actividade motora e secretora; 2) reflexos dolorosos que provocam uma inibição geral da totalidade do aparelho digestivo; e 3) reflexos de defecação que viajam do cólon e recto -> medula espinhal e regressão para produzir fortes contracções do cólon, recto e abdómen. Página 82 Hormonas gastrointestinais Secretina Gastrina Colecistoquinina Péptido inibidor gástrico (pepsinogénio?) Tipos Funcionais de movimentos no tubo digestivo Dividem-se em dois tipos: Propulsivos (Peristalse). Os movimentos progressivos ou peristálticos, são responsáveis pela progressão dos alimentos ao longo do tracto gastrointestinal a uma velocidade que permita a sua digestão e absorção. Dão-se principalmente no esófago e intestino e caracterizam-se pelo aparecimento de anéis contrácteis ao longo do músculo. Contracções envolventes. São responsáveis por manter o alimento e os sucos digestivos bem misturados e homogeneizados. Por vezes, os próprios movimentos peristálticos desempenham esta função. Ao longo do tubo digestivo as características específicas de cada tipo de movimento vão variando de acordo com a função e necessidade de cada órgão / região. Trânsito e mistura dos alimentos no tubo digestivo Ingestão dos alimentos Depois de ingerida, a comida segue os dois processos seguintes até chegar ao estômago: 1. Mastigação A maior parte dos músculos envolvidos neste processo são inervados pelo ramo motor do 5º nervo cranial. A maior parte da mastigação deve-se a reflexo mastigativo. 2. Deglutição Este processo pode ser dividido em duas fases: fase voluntária e fase involuntária. Na primeira, a comida é voluntariamente enviada para a faringe por pressão da língua contra o palato. A segunda, que é involuntária, ocorre do seguinte modo: a traqueia é encerrada momentaneamente e o esófago aberto, e uma onda rápida peristáltica iniciada pelo sistema nervoso na faringe força o bolo alimentar para o esófago, sendo que este processo leva menos de 2 segundos a ocorrer. No esófago, a comida é conduzida até ao estômago por dois tipos de movimentos peristálticos: primários e secundários, sendo que os primários são continuações das ondas peristálticas que começam na faringe, e os secundários resultam da distensão do esófago causada por comida retida. Ou seja, os movimentos secundários iniciam-se quando os primários não são suficientes. Página 83 Funções motoras do estômago O estômago tem 3 funções essenciais: armazenamento de grandes quantidades de comida até que possa ser processada, envolvimento da comida com os sucos gástricos até à formação do quimo, e saída do quimo para o duodeno a um ritmo que permita a sua absorção. 1. Função de armazenamento À medida que a comida entra no estômago, vai-se depositando de modo que a comida mais recente se encontre mais próxima do esófago e a mais antiga se encontre mais próxima da parede oposta do estômago. Quando a comida começa a ser demasiada no estômago, o reflexo vagovagal que vai do estômago até ao tronco cerebral reduz o tónus muscular no estômago, o que causa o seu relaxamento, para que caiba mais comida. 2. Envolvimento da comida A retropulsão é um mecanismo importante de mistura. Cada vez que uma onda peristáltica passa pelo antro até ao piloro, o músculo pilórico se contrai, dificultando ainda mais o esvaziamento através do piloro. A maior parte do conteúdo do antro é comprimido e retrocede através do anel peristáltico até ao corpo do estômago. Os sucos digestivos são secretados pelas glândulas gástricas. Estas secreções entram imediatamente em contacto com as porções de comida mais próximas da parede do estômago. No estômago, as ondas constrictoras peristálticas fracas (ou ondas envolventes) ajudam no envolvimento da comida com os sucos. No final do envolvimento com os sucos, está formado o quimo. 3. Saída do quimo O esvaziamento do estômago é promovido por intensas contracções peristálticas na base do estômago. Ao mesmo tempo, este esvaziamento é contrariado por vários graus de resistência à passagem do quimo pelo piloro. Regulação do esvaziamento do estômago Durante o esvaziamento do estômago dão-se intensas contracções do antro do estômago e a passagem de alimentos para o duodeno é controlada pelo nível de relaxamento / contracção do esfíncter pilórico. Este, por sua vez, é controlado por reflexos hormonais e nervosos provenientes do estômago e principalmente do duodeno. O grau de enchimento do estômago e a secreção de gastrina estimulam os movimentos peristálticos e promovem o esvaziamento. Por outro lado, reflexos enterogástricos e hormonas segregadas pelo duodeno, como a colecistoquinina e a secretina, inibem o processo de esvaziamento quando já existe quimo suficiente no intestino ou quando este é excessivamente ácido, é hiper / hipotónico ou quando contém demasiadas gorduras ou proteínas mal processadas. Página 84 Movimentos do intestino delgado Os movimentos do intestino delgado têm como função a fragmentação e digestão do bolo alimentar e a sua progressão ao longo do intestino. Estes movimentos devem ser lentos, para permitir a correcta digestão e absorção, e podem dividir-se em 4 tipos: As contracções segmentares são responsáveis por fragmentar o bolo alimentar e misturá-lo com as enzimas digestivas. Provocam, ao longo do intestino, zonas de contracção intercaladas com zonas de dilatação e podem ser isoladas, regularmente espaçadas, irregularmente espaçadas ou fracas regularmente espaçadas. Os movimentos peristálticos são de curta duração e têm pouco poder de progressão, sendo necessárias 3 a 5 horas para que o quimo passe desde o piloro até à válvula ileocecal. Esta actividade é grandemente induzida após uma refeição. Isto é causado parcialmente pela entrada do quimo no duodeno, mas também devido ao reflexo gastrointestinal que é iniciado pela distensão do estômago e conduzido pelo plexo mesentérico até ao intestino. No entanto, estes movimentos podem também ser controlados por: gastrina, CCK, insulina, motilina e serotina. As contracções da mucosa muscular mantém o intestino pragueado e têm como principal função aumentar a superfície de absorção. Por último, a contracção das vilosidades intestinais ajuda a misturar o bolo alimentar com as secrecções e a escoar o conteúdo dos vasos linfáticos. Função da válvula ileocecal A principal função desta válvula é impedir o refluxo dos componentes fecais do cólon para o intestino delgado. Esta válvula encerra quando existe demasiada pressão sobre ela e tenta empurrar os componentes fecais para o interior do cólon. Movimentos do cólon No cólon dá-se essencialmente a absorção de água e electrólitos e o armazenamento das fezes até que estas sejam expulsas. Os movimentos que ocorrem neste órgão são de 3 tipos: Os movimentos de mistura, ou hausteração, provocam contracções ao longo do cólon que são responsáveis por remexer as fezes e mantê-las em contacto com a mucosa para que a água e outras substâncias possam ir sendo absorvida. Em conjunto com as ondas de contracção dos movimentos peristálticos possibilitam a progressão da massa fecal. Os movimentos em massa são movimentos peristálticos modificados que levam ao desaparecimento das haustras (segmentação) e ao movimentos das fezes até ao recto para posterior defecação. Página 85 Quando as fezes pressionam o interior do recto, existe desde logo o desejo de defecar. Isto inclui o reflexo de contracção do recto e o relaxamento dos esfíncteres anais. A saída das fezes é impedida de duas formas: um esfíncter anal interno, situado no interior do ânus, e um esfíncter anal externo, composto de músculo estriado, e cuja acção é voluntária. Funções secretoras do tracto alimentar Funções das glândulas secretoras: A maioria das regiões produzem enzimas digestivas As glândulas mucosas segregam muco para lubrificar e proteger todas as regiões do tubo digestivo Princípios gerais da secreção no tubo digestivo O contacto dos alimentos com o epitélio estimula a secrecção. Esta estimulação activa o SNE. Estes estímulos podem ser: 1) tactéis; 2) irritação química; 3) distensão da parede intestinal. A estimulação parassimpática aumenta os índices de secreção glandular. Em particular, os nervos glossofaríngico e vago estimulam as glândulas do tracto superior. A estimulação simpática pode ter um duplo efeito sobre a secreção glandular, podendo aumentá-la ou diminuí-la. Diversas hormonas, como a gastrina, a colecistoquinina ou a secretina, são secretadas no tracto GI e lançadas na corrente sanguínea actuando depois como estimuladores ou inibidores em diversos órgãos. Existem 3 tipos fundamentais de secreção: Na secreção endócrina as células / glândulas produzem hormonas que são lançadas para a corrente sanguínea e postas em circulação podendo actuar em tecidos muito distantes. Na secreção parácrina as células segregam mensageiros químicos que actuam em células adjacentes, não entrando em circulação. Na secreção autócrina as substâncias secretadas para o meio extracelular actuam na própria célula secretora. Existem essencialmente 4 tipos de glândulas: 1. Glândulas mucosas unicelulares chamadas células mucosas, localizadas na superfície do epitélio na maior parte do tracto alimentar 2. Invaginações do epitélio para a submucosa, localizadas em vários locais do tracto alimentar 3. Glândulas tubulares, típicas do estômago e duodeno superior 4. Glândulas salivares, pâncreas e fígado, as chamadas glândulas complexas, que estão associadas ao tracto alimentar Secreção de substâncias orgânicas A secreção processa-se da seguinte forma: 1. O nutriente necessário para a formação da secreção tem de chegar à base da célula glandular; 2. As mitocôndrias usam a energia do nutriente para formar ATP; Página 86 3. O ATP é usado para sintetizar as substâncias secretoras orgânicas; 4. Estas substâncias são transportadas para o retículo endoplasmático, e depois para o complexo de Golgi; 5. Aqui, estes materiais são transformados, e reenviados sob a forma de vesículas secretórias; 6. Estas vesículas permanecem inactivas até chegar o sinal nervoso que causa a libertação do seu conteúdo através da superfície da célula; Secreção de água e electrólitos; A secreção processa-se da seguinte forma: 1. Estimulação nervosa causa o transporte de iões cloreto para o interior da célula; 2. O aumento de electronegatividade causa a entrada de iões positivos, como o sódio 3. O excesso de cargas negativas e positivas causa, por osmose, a entrada de água na célula; 4. A pressão na célula aumenta, e logo a seguir começa a diminuir, através da saída tanto de água como de electrólitos para o exterior da célula; Propriedades protectoras e lubrificantes do muco O muco é uma mistura de água, electrólitos e glicoproteínas, que por sua vez são constituídas por polissacarídeos e pequenas quantidades de proteínas. Este muco tem a capacidade de permitir um movimento mais fácil da comida ao longo do tubo digestivo e evita que esta cause danos nas paredes do tracto alimentar. Secreção da saliva A saliva é secretada pelas glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais. Na sua constituição entra: a ptialina (ou amilose salivar), que digere polímeros de glícidos, como o amido; muco que lubrifica o bolo alimentar e protege a mucosa da boca; grandes quantidades de iões potássio e bicarbonato; e iões sódio e cloro em concentrações bastante inferiores às do plasma sanguíneo. A produção de saliva é controlada pelo SN parassimpático e, em menor grau, pelo SN simpático. Estímulos olfactivos e tácteis provenientes da língua, boca e faringe estimulam o núcleo salivatório do tronco cerebral e promovem o aumento da secreção salivar. Secreção esofágica As secreções no esófago são apenas mucosas e servem para lubrificar os elementos que intervém na deglutição. Ao longo do esófago existem portanto glândulas mucosas simples. Página 87 Mais abaixo, perto do estômago, existem também glândulas mucosas compostas, cujas secreções previnem escoriações no esófago por parte da comida. Secreção gástrica Características da secreção gástrica A mucosa estomacal tem dois tipos principais de glândulas: Gástricas: são constituídas por 3 tipos de células: mucosas, pépticas e parietais. As primeiras segregam muco, as segundas pepsinogénio e as terceiras ácido clorídrico. O pepsinogénio necessita de activação para formar a pepsina, activação essa que é feita em contacto com o ácido clorídrico. Pilóricas: são estruturalmente semelhantes às anteriores, mas contém poucas células pépticas e quase nenhumas parietais. Assim, a sua função é praticamente apenas a segregação de muco para protecção da mucosa pilórica. Células mucosas superficiais A superfície do estômago está coberta células mucosas superficiais, que segregam grandes quantidades de muco, que cobre a mucosa do estômago, e o protege contra a acidez do ambiente dentro deste, já que este muco é alcalino. Estimulação da secreção do ácido gástrico A segregação deste ácido é sobretudo controlada por sinais endócrinos e nervosos. Para além disso, as células parietais operam em conjunto com as células ECL, que segregam histamina. A produção de HCL dá-se nas células parietais do estômago, onde ocorre o transporte activo de iões Cl- do citoplasma para o lúmen e de iões Na+ no sentido oposto. Consequentemente, cria-se um potencial negativo no lúmen que promove a difusão de K+ e Na+. Simultaneamente no interior da célula a água dissocia-se em OH- e H+. H+ é transportada para o lúmen em troca de K+ (via H+ / K+ ATPase) e reage com o cloro dando origem a HCL. Os iões OH- combinamse com CO2, que entra na célula e são difundidas para o fluido extracelular sob a forma de HCO3-. O HCl produzido é então secretado do lúmen das células parietais para o estômago. Função e regulação da gastrina A gastrina é uma hormona produzida pelas células G do antro do estômago e duodeno. A sua principal função é estimular a secreção de ácidos pela mucosa gástrica mas também actua no Página 88 sentido de promover a motilidade do estômago e do intestino delgado, os movimentos de massa do cólon e o crescimento do estômago, intestino e pâncreas exócrino. A sua produção é estimulada pela presença de a.a. e proteínas no estômago, pela actividade do vago e por factores circulatórios. Por outro lado a presença de ácido inibe a sua secrecção. Regulação da secreção de pepsinogénio Esta regulação ocorre em resposta a dois sinais: estimulação das células pépticas por acetilcolina libertada pelos nervos vagos plexos nervosos entéricos gástricos, ou em resposta à presença de ácido no estômago. Assim, a presença de pepsina no estômago depende da quantidade de acido lá existente. Fases da secreção gástrica A secreção gástrica divide-se em 3 fases: 1. Fase cefálica: ocorre antes da comida entrar no estômago, e esta secreção é resultado de sinais neurológicos que chegam ao estômago principalmente enquanto a comida está na boca ou no esófago estimulando o nervo vago e levam à produção de 20% da secreção total gástrica. 2. Fase gástrica: ocorre assim que a comida entra no estômago, por reflexos vagovagais, reflexos entéricos locais, e por mecanismos gástricos. Todos causam a secreção de suco gástrico e representam 70% da secreção total gástrica. 3. Fase intestinal: ocorre quando o quimo entra no duodeno no qual é estimulada a secreção de sucosgástricos, de secretina e de colecistoquinina. Secreção pancreática O suco pancreático, produzido no centro acinar pancreático, juntamente com grandes quantidades de iões bicarbonato, é conduzido através do ducto pancreático que depois desagua no ducto hepático antes de despejar o seu conteúdo no duodeno. Este suco é segregado em resposta à presença de quimo na porção superior do intestino delgado. Enzimas digestivas pancreáticas As mais importantes são a tripsina, a quimotripsina, e a carboxipolipeptidase. A mais abundante é de longe a tripsina. A enzima que degrada os carbohidratos produzida no pâncreas é a amilase pancreática, e as que degradam os lípidos são a lipase pancreática, a colesterol esterase e a fosfolipase. Quando são sintetizadas, estas encontram-se inactivas, e são activadas assim que chegam ao tracto intestinal por enzimas específicas. Página 89 Regulação da secreção panceática A produção de enzimas é estimulada principalmente estimulada pela presença de péptidos no intestino; gorduras que levam à secreção de quantidades semelhantes de água, HO3- e enzimas; o aumento da acidez provoca principalmente produção de HCO3. Ácidos gordos e aminoácidos levam À libertação de colicistoquinina (CCK) (estimula a secreção enzimática) e HCl leva a um aumento da secretina (estimula a secreção de HCO3-) A secreção pancreática dá-se em 3 fases: cefálica, gástrica e intestinal. Nas duas primeiras há secreção maioritariamente de enzimas, estimulada hormonalmente e pelo nervo vago. No entanto, Sá na fase intestinal, com a secreção de grandes quantidades de HCO3-, agua e electrólitos em resposta à chegada do quimo é que grande parte das enzimas flui para o intestino. Função da secretina A secretina é uma hormona produzida no duodeno e no jejuno aquando da presença de ácido gástrico nestas regiões. Tem um efeito inibidor na secreção de ácidos e na motilidade do estômago e estimula a produção de bicarbonato pelo pâncreas e fígado, o que ajuda a neutralizar o ácido. Promove também a secreção de enzimas, pois potencia a acção de CCK, e o crescimento da porção exócrina deste órgão. Função da colecistoquinina A CCK é uma hormona produzida no duodeno e jejuno aquando da presença de péptidos ou ácidos gordos nestas regiões. A CCK inibe a secreção de ácido e o esvaziamento gástrico. Por outro lado estimula a secreção de bicarbonato pelo fígado e pâncreas; promove a secreção de enzimas pelo pâncreas e o crescimento da sua porção exócrina; e estimula a contracção da vesícula biliar e o relaxamento do esfíncter de Oddi, permitindo a libertação de bílis e sucos pancreáticos. Secreção e regulação de bicarbonato Iões bicarbonato são secretados para o duodeno a partir de células do epitélio glandular. CO2 é difundido a partir do sangue para o interior das células combina-se com a água, numa reacção catalisada pela anidrase carbónica, para dar origem a H2CO3 que logo se dissocia em HCO3- e H+. Os HCO3- são transportados activamente para o lúmen dos tubos pancreáticos em conjunto com o Na+ «. A concentração destes iões no meio intracelular é reposta pela troca activa de H+ (sai) e Na+ (entra) entre a célula e o sangue. O movimento de Na+ e HCO3- cria um gradiente osmótico no lúmen que leva à passagem de água por osmose para os ductos e à criação de uma solução osmótica. Cerca de 70% da secreção pancreática de bicarbonato ocorre durante a fase intestinal da digestão e é regulada hormonalmente. O aumento da concentração de ácido vindo do estômago estimula a produção de secretina pelo intestino delgado. Esta hormona entra em Página 90 circulação e actua no pâncreas, onde pode ser potenciada pela presença de CCK promovendo a secreção de bicarbonato. O aumento do fluxo deste ião para o intestino neutraliza o HCl, o que inibe a secreção de secretina e, consequentemente, de HCO3-. Secreção de bílis pelo fígado. Funções da via biliar O fígado desempenha funções muito importantes. Pode-se destacar: a sua função endócrina (activa e degrada hormonas); a formação, secreção e armazenamento da bílis; o seu papel na regulação do metabolismo de nutrientes (glícidos, lípidos) e síntese proteica; As suas funções de coagulação (sintetiza factores de coagulação e fibrinogénio); A sua participação na desintoxicação do sangue. Os sais biliares (bílis) desempenham duas funções principais: emulsionam os lípidos ajudando à sua digestão e participam na absorção de gorduras (ácidos gordos, colestrol, etc.) no intestino. Mais de 90% desses sais são reabsorvidos. Por outro lado eleminam os produtos residuais do sangue. A circulação enterohepática tem início com a síntese de sais biliares pelo fígado. De seguida estes são transportados através do ducto biliar até à vesícula biliar, onde ficam armazenados, ou directamente para o intestino. Aí ajudam na digestão e absorção das gorduras e cerca de 5% dos sais são excretados nas feses. O restante é absorvido pelo epitélio intestinal e é levado de volta ao fígado pela veia porta. Regulação da entrada da bílis no duodeno A presença de ácidos gordos no duodeno aumenta a secreção de CCK, que entra em circulação. O aumento da sua concentração e a estimulação do SNE e SN parassimpático (durante as fases gástrica e cefálica) provoca a contracção da vesícula biliar e o relaxamento do esfíncter de Oddi provocando o aumento do fluxo de bílis para o duodeno. Secreções do intestino delgado No intestino, as chamadas glândulas de Brunner, segregam grandes quantidades de muco alcalino (protecção contra pH ácido), como resposta a estímulos físicos, estimulação vagal, ou secretina. Estas células são inibidas por estimulação simpática. Secreção do suco intestinal Página 91 O epitélio na mucosa intestinal contém células secretoras, que segregam fluido extracelular quase puro e muco. Regulação da secreção no intestino delgado No intestino delgado, a secreção é regulada por reflexos nervosos entéricos locais, especialmente por reflexos iniciados devido a estímulos físicos (irritação, por exemplo) por parte do quimo no intestino. Secreções no intestino grosso A mucosa do intestino grosso tem como função principal segregar muco, que contém uma quantidade considerável de iões bicarbonato. A taxa à qual este muco é segregado é determinada principalmente por estímulos físicos. Este muco tem como função proteger o intestino grosso contra agressões provocadas pelas fezes e contra bactérias. Digestão e absorção no tracto gastrointestinal A grande maioria dos alimentos que ingerimos são digeridos por acção de enzimas, num processo denominado hidrólise, que requer o consumo de uma molécula de água. Digestão e absorção dos hidratos de carbono A digestão dos carbohidratos é maioritariamente químico, embora possa ser facilitada pela digestão mecânica devido aos movimentos do tubo digestivo. A hidrólise de polissacarídeos tem início na boca quando os alimentos se misturam com a amilase presente na saliva. Nesta primeira fase dá origem a maltose e a pequenos polímeros de glucose. Quando o alimento atinge o estômago, a acidez do meio bloqueia a acção da amilase salivar. A digestão dos restantes glícidos dá-se já no intestinom para onde é secretada amilase pancreática. Os monossacarídeos resultantes são absorvidos no intestino. A glucose e a galactose são absorvidas por um mecanismo de co-transporte de sódio. A frutose á absorvida em parte por difusão facilitada, e o restante é convertido em glicose e transportado como descrito acima. Página 92 Digestão e absorção de proteínas A digestão das proteínas é fundamentalmente química. No estômago a enzima pepsina inicia o processo de digestão clivando algumas ligações peptídicas entre aminoácidos e dando origem a proteases e polipéptidos. Já no intestino diversas enzimas presentes no suco pancreático dão continuidade ao processo: tripsina e quimiotripsina quebram as proteínas em péptidos mais pequenos; carboxipolipeptidase cliva aminoácidos dos terminais carboxilo das proteínas. Nas microvilosidades são produzidas peptidases que actuam formando di/tripéptidos e alguns aminoácidos livres que são finalmente absorvidos pela membrana luminar do epitélio intestinal por um mecanismo semelhante ao transporte de glucose. Alguns aminoácidos são também transportados por difusão facilitada. Digestão e absorção de lípidos A digestão de gorduras é fundamentalmente química. Na boca é produzida lipase o que permite que alguns triglicéridos vão sendo degradados no estômago. No entanto, é no intestino que se dá a maior parte da digestão. A bílis contém os sais biliares e lecticina (um fosfolípido) que juntamente com a agitação mecânica proporcionada pelos movimentos do tubo digestivo é fundamental para a emulsão de gorduras. A lipase secretada pelo pâncreas actua então sobre as gorduras emulsionadas e degrada-as em ácidos gordos e gliceróis. Os sais biliares ajudam também na digestão dos lípidos, através da formação de micelas de tamanho reduzido, e que são solúveis em água. Esta acção dos sais biliares facilita bastante a absorção dos lípidos digeridos. Depois, os ácidos gordos e gliceróis saem da micela para o epitélio, pois também são solúveis na membrana do epitélio, deixando a micela livre para actuar de novo. Deste modo, cerca de 97% dos lípidos digeridos são absorvidos desta forma. Página 93 Absorção de água e electrólitos A absorção de água ao longo do tubo digestivo dá-se essencialmente por osmose, enquanto que os electrólitos são absorvidos por outros processos. Quando o quimo está suficientemente diluído os gradientes de concentração permitem a absorção de água por osmose na mucosa intestinal. Um dos factores que contribui para a criação do gradiente osmótico que permite a absorção de água é o transporte activo de iões do epitélio intestinal para os espaços intercelulares. O sódio é absorvido por transporte activo, os iões cloreto por difusão, e os iões bicarbonato combinam-se com hidrogénio formando ácido carbónico que depois se dissocia em água e dióxido de carbono, sendo que este último é expulso pelos pulmões. Outros iões são também absorvidos, como o cálcio, cuja absorção depende da quantidade necessária pelo organismo; o ferro é também absorvido, também de acordo com as necessidades do organismo. Para além destes, há também a absorção de potássio, magnésio, fosfato e outros. Absorção no intestino grosso A mucosa do intestino grosso tem uma elevada capacidade para absorver sódio e iões cloreto. Esta mucosa segrega iões bicarbonato e absorve em igual número iões cloreto. Este bicarbonato serve essencialmente para combater a acidez criada por acção bacteriana no intestino grosso. O intestino grosso consegue absorver um máximo de 5 a 8 litros de água e electrólitos por dia, sendo que o excesso aparecerá sob a forma de diarreia. Página 94 Osso – Sistema Locomotor Elevada dureza Elevada resistência Elevada vascularização Elevada taxa metabólica Grande actividade durante toda a vida Grande capacidade de auto-regeneração Constituição Parte orgânica (30%) – flexibilidade Parte inorgânica (70%) – rigidez Tecido conjuntivo especializado Células Substância intersticial Funções Mecânicas o Suporte para o corpo contra forças externas. Age como um sistema de alavanca para transferir força o Protecção para os órgãos internos Metabólicas (na medula óssea formam-se células sanguíneas (hematopoiese) e armazenamento de cálcio) Estrutura microscópica O estudo microscópico do tecido ósseo permite distinguir a substância óssea compacta e a esponjosa. Embora os elementos constituintes sejam os mesmos nos dois tipos de substância óssea, eles dispõem-se diferentemente conforme o tipo considerado e aí o seu aspecto macroscópico também difere. Substância óssea compacta: as lâminas de tecido ósseo encontram-se fortemente unidas umas às outras pelas suas faces, sem que haja espaço livre interposto. é mais densa e rija Substância óssea esponjosa: as lâminas ósseas, mais irregulares em forma e tamanho, arranjam-se de forma a deixar entre si espaços ou lacunas que se comunicam umas com as outras e que, à semelhança do canal medular, contém medula. Página 95 Nos ossos longos, a diáfise é composta por osso compacto externamente ao canal medular, enquanto as epífises são compostas por osso esponjoso envolto por uma fina camada de osso compacto. Nos ossos planos, a substância esponjosa situa-se entre duas camadas de substância compacta. Nos ossos da abóbada craniana, a substância esponjosa é chamada de díploe. Os ossos curtos são formados por osso esponjoso revestido por osso compacto, como nas epífises dos ossos longos. O osso é formado por um tipo de tecido conjuntivo (tecido ósseo). É caracterizado por uma substância intersticial (osteóide): Matriz orgânica o 95% fibras colagéneas (tipo 1) o 5% fibras não colagéneas (ex: osteocalcina) Mineral o cálcio (fosfato de cálcio –semelhante à hidroxiapatite) o outros minerais (magnésio, sódio, potássio, plutónio, chumbo, estrôncio) É constituído por três tipos de células: Osteócitos - estão dentro da matriz óssea; há comunicação entre os osteócitos por onde passam pequenos iões, esta característica é essencial para a manutenção da matriz, quando esta célula morre há reabsorção pela matriz. Osteoblastos - são responsáveis pela produção da parte orgânica da matriz, ou seja, colágeno tipo I, proteoglicanas e glicoproteínas. Concentram fosfato de cálcio e participam da mineralização óssea. Quando forma a matriz a mesma ao redor do osteoblasto e que não esta calcificada ainda chama-se osteóide. Osteoclastos - são células gigantes, intensamente ramificadas. Elas secretam para dentro da matriz óssea iões de hidrogénio, colagenases e hidrolases, digerindo a matriz óssea e dissolvendo os cristais de sais de cálcio. A actividade desta célula é comandada pela calcitonina e paratormona. Por fim, podemos ainda distinguir os dois tipos de unidades funcionais que depende da disposição lamelar. No osso compacto temos o sistema de Havers (osteon) enquanto que no osso trabecular temos o sistema fragmentado por lamelas. Formação óssea Ossificação intramembranosa – o processo parte dos núcleos de ossificação, que se expandem e se juntam ao longo do tempo. o Ossos planos (principalmente crânio) e diáfise de ossos longos o Crescimento em largura Página 96 Ossificação endocondral – ocorre quendo as células mesodérmicas se transformam em células produtoras de cartilagem, antes do início da formação do osso. Processo mais lento que o anterior. o Ossos curtos e epífises de ossos longos o Crescimento em comprimento Remodelação óssea Objectivos o Renovação do tecido ósseo o Adaptação a novas solicitações mecânicas o Homeostasia do cálcio Unidades de remodelação óssea o Reabsorção (osteoclastos) / formação (osteoblastos) o Frequência de activação Unidade de remodelação óssea 1º -Activação dos osteoclastos 2º -reabsorção 3º -inversão (delimitação –linha cimentante) 4º -formação (osteoblastos) 5º -mineralização Ciclo de remodelação óssea Activação e Reabsorção Os osteoclastos são recrutados para a superfície e reabsorvem uma quantidade de mineral, criando uma cavidade - lacuna de Howship - no osso trabecular. Essa fase dura em torno de duas semanas e é seguida por um período de aparente inactividade no sítio da reabsorção. Inversão Durante essa fase, os osteoclastos desaparecem e são substituídos por macrófagos, cuja função não está inteiramente elucidada, mas que parece ser a de depositar uma substância que inicia a cimentação. Como esse processo ocorre entre a remoção do osso e a sua subsequente substituição, é chamado de fase de reversão. Formação e mineralização Por um sinal desconhecido, os osteoblastos - células que sintetizam a nova matriz - aderem-se à superfície da cavidade. Essas células sintetizam colagénio e outras proteínas não colagenosas, que são secretadas dentro da cavidade para formar o osteóide, uma matriz não mineralizada, que o será mais tarde, formando-se osso novo. Essa fase de formação pode levar vários meses para se estabelecer. Página 97 Portanto, unidade de remodelação óssea é uma porção de osso continuamente reabsorvido (pelos osteoclastos) e depositado (pelos osteoblastos) a um ritmo (frequência de activação) que permita não só a renovação do tecido ósseo mas também a sua adaptação a novas solicitações mecânicas e a manutenção dos níveis sanguíneos de cálcio adequados. Pico de massa óssea é a altura na vida de um indivíduo em que a sua densidade óssea é maior. Ocorre por volta dos 30 anos. O aumento dos níveis de remodelação óssea leva ao aparecimento de zonas de perfuração e zonas de fragilidade, podendo levar à formação de neuropatologias. Fisiologia do Cálcio Coagulação do sangue Actividade muscular – papel importante na contracção dos músculos cardíaco, liso e esquelético. Condução nervosa – importante para a excitabilidade normal da célula e condução do impulso nervoso Integridade da membrana celular – manutenção da permeabilidade da membrana de todas as células vivas. Normalmente o nível plasmático de cálcio é mantido dentro de limites estreitos: 2.10 –2.60 mmol / Lou 8.5 –10.5 mg / 100 ml. Mas quando este reduz abaixo dos limites gera-se hipocalcemia, que se pode repercutir em: Excitabilidade aumentada do SNC –por aumento da permeabilidade aos iões sódio, podendo levar a despolarizações espontâneas – Fenómenos de tetania: início para valores de 6,5mg/dl e letais para 4mg/dl – Sinais de Chvostek e Trousseau – Espasmo laríngeo Dilatação e insuficiência cardíaca Alterações da coagulação Por outro lado se esse nível exceder o limite superior gera-se hipercalcemia, que se repercute em: Depressão do SNC (12 mg/dl – 15mg/dl) Diminuição do intervalo QT Obstipação Precipitação de cristais de fosfato de cálcio (17 mg/dl) Absorção O cálcio é absorvido parcialmente no intestino (cerca de 35% - dependente da quantidade ingerida). A absorção intestinal do cálcio ocorre fundamentalmente através de um mecanismo de transporte activo (dependente da Vit D). Ocorre excreção de cálcio através das secreções intestinais e da descamação da mucosa, pelo que cerca de 90% se elimina nas fezes. Eliminação Cerca de 10% do cálcio ingerido é excretado na urina. Página 98 Cerca de 99% do filtrado glomerular é reabsorvido. Aproximadamente 90% nos túbulos proximais e na ansa de Henle e os restantes 10% nos túbulos distais e nos ductos colectores de forma selectiva, dependente da concentração plasmática de cálcio. O factor mais importante no controle da excreção renal é a PTH. Fisiologia do fósforo Síntese de nucleótidos – fundamental para a síntese de DNA e RNA Metabolismo energético – formação de fosfocratina, ADP e ATP Mensageiros celulares – síntese de segundos mensageiros como o AMPc e o GMPc. A absorção de fósforo é feita de forma quase total por difusão passiva (excepto para o fosfato eliminado nas fezes em combinação com o cálcio não absorvido), sendo praticamente todo absorvido. A eliminação de fosfato é praticamente totalmente renal, dependente da concentração plasmática e da taxa de filtração. Hormonas A parathorma é uma hormona polipeptídica (84 a.a.) produzida nas paratiróides que é estimulada por hipocalcemia, desencadeando uma resposta hipercalcemiante e hipofosforemiante. Atinge o osso (aumento da remodelação óssea), rim (aumento da reabsorção do cálcio e diminuição da reabsorção do fósforo) e o intestino (aumento da absorção do cálcio). A vitamina D é uma hormona esteróide (liposdolúvel) que se forma na pele sob a acção dos U.V (colecalciferol). É hidroxilada no fígado (25 –hidrocolecalciferol) e no rim (1,25 dehidrocolecalciferol). Pode ser ingerida na dieta e efectua uma resposta hipercalcemiante e hiperfosforemiante. A ausência desta causa osteomalácea e raquitismo. Atinge o osso (aumento da reabsorção óssea e mineralização da substância osteóide), rim (aumento da reabsorção do cálcio e do fósforo) e o intestino (aumento da absorção do cálcio e do fósforo). A calcitonina é uma hormona polipeptídica (32 a.a.) produzida na tiróide (células C) que é estimulada por hipercalcemia desencadeando uma resposta hipocalcemiante e hipofosforemiante. Atinge o osso (diminuição da reabsorção óssea), rim (diminuição da reabsorção do cálcio e do fósforo) e o intestino (pensa-se que diminui a absorção de cálcio). Existem ainda outras hormonas como os estrogénios, androgénios, hormonas tiroideias, corticoesteróides e a hormona do crescimento que afectam a remodelação óssea. Biomecânica Do ponto de vista biomecânico, o tecido ósseo tem um comportamento: Bifásico – apresentando resistência e leveza devido à presença de compostos orgânicos (fibras de colagénio tipo I -30%) e compostos inorgânicos (matriz de cristais de Ca – 70%). Se o osso só tivesse cristais de cálcio comportava-se como o aço mas como tem colagénio também este confere-lhe ductibilidade e capacidade de absorção de tensões Não – linear – pois depende de diversos factores como a idade, o envelhecimento, a regulação hormonal, entre outros. Elástico – Plástico. A resposta elástica ocorre no início da solicitação do osso, onde o comprimento de mesmo volta ao comprimento inicial após a retirada da carga. Esta Página 99 não excede 3% do comprimento total do osso. A resposta plástica é uma deformação permanente do osso (mesmo após a retirada da carga) decorrente de microfracturas e desestruturação trabecular. Antecede a fractura macroscópica do osso. Anisotrópico – o tecido ósseo define-se por diferentes propriedades mecânicas em diferentes direcções. A grande maioria dos biomateriais é isotrópico, ou seja, define as suas propriedades apenas numa direcção que é igual às outras Resistência óssea - reflexo da quantidade de osso e da qualidade óssea. Quantidade óssea o Massa óssea o Densidade mineral óssea (g/cm2) o Tamanho ósseo Qualidade óssea o Macroarquitectura (geometria óssea) o Microarquitectura Espessura e número de trabéculas e conectividade trabecular Espessura e porosidade cortical o Remodelação ou turnover ósseo : formação e reabsorção o Propriedades dos materiais Mineralização Microfracturas Pontes de colagéneo e tipos de colagéneo Osteoporose – doença sistémica do esqueleto (e silenciosa) caracterizada por uma diminuição da resistência óssea, predispondo a um aumento do risco de fractura. Características: Densidade mineral óssea baixa (DMO) (≥ -2,5, quando a normal é > -1,0) Deterioração da micro-estrutura óssea Fragilidade óssea Risco aumentado de fractura É a mais comum das doenças ósseas metabólicas Não é exclusiva mas está ligada ao envelhecimento Fracturas osteoporóticas: coluna vertebral, colo do fémur, extremidade distal do punho (Colles). A fractura do colo do fémur está associada à elevada mortalidade da doença Página 100 Agradecimentos: Sofia Faria (autora do capítulo Sentidos Químicos, Sangue, Sistema Digestivo e Sistema Locomotor) Inês Amorim (resumos deixados escritos à mão de algumas matérias) Vasco Duarte (Sistema Renal, Sistema Respiratório, Sistema Cardiovascular – uma parte Ana Mafalda Valente (Sistema Nervoso, Cardiovascular) Dude que deixou os outros resumos de fisiologia (muito obrigado) Guyton (um bacano) Página 101