Mark Levine-programa de improvisação

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Manu Falleiros –Oficina de Improvisação
Pré-requisitos para um músico de jazz1
Existem certos pré-requisitos para se tornar um bom músico de jazz.
Você deve ter:
-Talento (“ouvidos”, ritmo, senso de forma)
-Determinação (comprometimento com a música)
-Educação (professores, mentores)
-Ambição
O último – ambição – é o mais importante de todos. Não entenda ambição como desejar ser uma “estrela
da música”, mas no sentido de ter a vontade, o desejo, a perseverança, voracidade para praticar. Um bom
músico de jazz não espera ninguém dizer pra ele o que deve ser feito. Se você não tem essa qualidade, todo
talento do mundo não te serve pra nada.
Conforme você for estudando, muitas questões irão surgir, e talvez você tenha a sorte de ter um professor
ou mentor que podem respondê-las. Uma boa coisa para lembrar, contudo, é que você vai encontrar as
respostas para suas perguntas no seu quarto de estudo.
A sua coleção de Cds ou gravações contém a história, teoria e prática do jazz. Quase todos os grandes
jazzistas da atualidade aprenderam e acumularam conhecimento teórico através da escuta, transcrição e
análise de músicas e solos das gravações.
Como praticar
-Toque sempre musicalmente.
Mesmo quando você praticar escalas e exercícios, toque musicalmente. Toque com paixão e intensidade.
Pratique as melodias das músicas da maneira mais bela e íntima que você puder. O que conta é como você
toca.
-Toque tudo em todos os tons.
Padrões, idéias, clichês e temas. O verdadeiro “pulo do gato” para o músico de jazz não é quando ele
consegue tocar todos os clichês, mas quando consegue tocar um clichê em qualquer música, e em qualquer
tom. Tocar em outros tons clarifica suas idéias e mostra suas deficiências.
-Saiba exatamente o que praticar.
Concentre-se naquilo que você não toca bem.
Depois de um ensaio ou show, lembre-se daquilo que não saiu bem, e comece seu estudo exatamente com
isso. Se você observar suas deficiências, sempre vai praticar o que realmente precisa.
IMPORTANTE: Mantenha um caderno com anotações sobre coisas musicalmente interessantes e que você
precisa estudar ou pesquisar.
O que praticar
Contamos que o músico já tenha passado pelos rudimentos do instrumento, que inclui toda a técnica para
se tocar (sonoridade, escalas, arpejos, articulações, estudos e repertório) e que tenha uma formação
musical e artística sólida. Se você não tem certeza peça orientação ao seu professor.
-Clichês e padrões.
1
Adaptação com base no livro “The jazz theory book” de Mark Levine.
Manu Falleiros –Oficina de Improvisação
É necessário praticar clichês e padrões para ter seus dedos, mente e olhos todos sintonizados, de maneira
que se esteja confortável na mais ampla extensão de situações musicais. Os clichês e padrões devem se
tornar parte do seu inconsciente musical, algo como uma biblioteca imediata. Ao mesmo tempo eles não
devem ser tudo o que você é. O interessante seria que você desenvolvesse suas próprias idéias, ou seja,
invente também seus próprios clichês e padrões.
Clichês a padrões geralmente são um recurso útil em músicas de andamento elevado, afinal a mente não
tem muito tempo para pensar e os dedos confiam no que é seguro e conhecido. Use os clichês e padrões
para conhecer seu instrumento.
Todo grande solista pratica clichês e padrões. Quando você praticá-los não se preocupe em que você
poderá se transformar em uma cópia de outro músico do qual os clichês você “roubou”. Este medo é
injustificado. Muitos poucos músicos conseguem soar como uma cópia de outro. Se você tem alguma
sensibilidade artística, você não tem o que se preocupar. A sua experiência de vida é única.
O problema em ser único e reconhecido pelo seu som é resultado de um processo lento e gradual de
aquisição de linguagem musical advinda de fontes diversas, que envolvem o ambiente cultural em que você
vive.
Transcrição
É, sem dúvidas o exercício mais importante, se realizado corretamente.
Consiste nas seguintes etapas:
1. Escutar,
2. Cantar,
3. Escrever,
4. Decorar.
Escolha um solo apropriado: no seu instrumento que não seja muito longo para você não perder a
esperança de terminá-lo, o professor pode te ajudar na escolha. Uma boa opção é escolher um Blues ou um
Standard que você conheça. Não escolha qualquer solista, ou um que você ache “legal”, escolha os solistas
que criaram as fundações do estilo, peça ajuda ao seu professor.
Dicas: se você não conseguir ouvir as notas com certeza, faça uma gravação em velocidade mais baixa,
existem hoje inúmeros programas de computador que possuem este recurso. Antes de começar, escute o
solo todo, muitas vezes para ter uma idéia geral.
Cantar: antes de ir para o seu instrumento, você deve ser capaz de cantar decor o solo todo, afinado, no
tempo e com as inflexões do solista, custe o tempo que for para conseguir. Cante junto com a gravação.
Escrever: Comece contando quantos compassos têm este solo (improviso) e divida uma pauta conforme o
número de compassos, deixe espaço suficiente, não vá colocar dez compassos numa única linha. Determine
a tonalidade da música, consiga a partitura original.
Escute um trecho e cante todas as notas com certeza, você vai ter que escutar várias vezes o mesmo
trecho. Então você pode optar por escrever apenas as figuras rítmicas ou apenas as alturas melódicas. Em
seguida complete uma com a outra que não estiver escrita. Feito isto procure imitar todas as articulações
do solista e anotá-las.
Pratique o solo até conseguir copiar todas as inflexões do solista. Pratique até tocar decor, sem a partitura.
Manu Falleiros –Oficina de Improvisação
Escreva as cifras da música na partitura do solo e embaixo de cada nota o número relacionado ao intervalo
do acorde em questão. Esta é uma análise para que se possa saber que notas o solista usa em
determinados acordes e como se dá sua construção melódica, uso de clichês, padrões, escalas, motivos.
Escolha uma frase significativa do solo (seu professor pode te orientar), escreva ela numa folha separada
em todos os tons e estude no instrumento até decorar tudo. Estude por ciclos, exemplo: cromático,
diatônico, tons inteiros, terças, quartas, quintas. O objetivo é tocar decor.
Escreva um solo sobre a harmonia de outra música (ou da mesma que você está estudando) e tente aplicar
no momento mais adequado a frase que você selecionou. Refaça a corrija seu solo até que não soe muito
artificial. Estude seu próprio solo por cima de uma base ou metrônomo até você decorar.
Agora, finalmente, aplique a frase adequadamente num solo improvisado (em outra música, ou na mesma),
faça o uso de um playback.
Muitas vezes encontramos pessoas que não conseguem “mergulhar no som”, quer dizer perceber as
nuances do solista. Gravar-se e depois escutar criticamente pode ajudar a perceber os pontos de diferença
entre você e o solista.
Enquanto você não puder tocar perfeitamente IDÊNTICO ao original você ainda não terminou o estudo.
Improvisação Idiomática
O jazz é um gênero musical que usa extensivamente a improvisação, contudo esta improvisação é
idiomática. Isto significa que existem “regras” para improvisar. Estas “regras”, são procedimentos típicos, e
na verdade já foram compiladas em inúmeros livros, mas eles não contêm o significado musical da
improvisação. Os livros são apenas manuais de como tocar e combinas notas e ritmos.
A maneira correta de se estudar é se envolver com os procedimentos do estilo, para isso, precisamos
reconhecer que o jazz é um gênero de muitos estilos: swing, bebop,hardbop, latin, fusion,etc.
Existem solistas que representam melhor um determinado estilo, peça orientação ao seu professor.
Conhecer os procedimentos é uma coisa, estar imerso na linguagem é outra, porque envolve o
conhecimento da cultura. Conhecer os procedimentos é a parte fácil, qualquer um, através de livros ou
escolas pode adquirir esse conhecimento porque ele já está tudo formalizado em manuais de “como
improvisar.” Aplicar esse conhecimento já é algo que demanda mais energia, poucos alunos se prestam a
fazer isso, ou fazem, mas sem determinação, quer dizer ao sabor do acaso, sem foco ou musicalidade.
Agora, conseguir improvisar dentro da linguagem, de maneira musical e com propriedade é algo para
poucos. Se você souber todos os procedimentos teóricos e suas aplicações: escalas, frases, clichês,
substituições, arpejos, etc., isto não significa nem garante que você sabe improvisar, e muito menos
improvisar dentro de uma linguagem de maneira criativa. A linguagem depende da sua vivência é uma
experiência viva que você tem que ter contato com grandes músicos e ter o que compartilhar com eles
(capital cultural e de habilidade), nesse caso o ambiente no qual você está envolvido é fundamental. Além
disso você precisar ter o despertar uma sensibilidade especial.
Improvisar dentro de uma linguagem é algo complexo porque envolve não apenas o conhecimento teórico,
mas um envolvimento pessoal e profundo no que se faz, você deve usar todos os meios para criar o
máximo de pontos de contato com a cultura: biografias, livros de história, livros sobre estilo, análise, livros
de sociologia, de história, etc, e se possível se mudar para um local no qual a cena musical seja intensa. Se
isso não for possível, então você deve transformar a cena do local onde você está. Existe uma diferença
Manu Falleiros –Oficina de Improvisação
considerável entre ouvir a reprodução de uma obra musical pelo Cd e o contato direto com a música ao
vivo.
A única maneira de tocar com honestidade é, além de praticar o que já foi descrito fazer parte de um grupo
que toque regularmente, ou seja: também se aprende fazendo, chega um momento em que você deve
deixar os manuais na biblioteca e arriscar.
Habilidades
Uma vez que se está familiarizado com os procedimentos da improvisação idiomática no jazz, existem
certas habilidades que devem ser desenvolvidas.
Aqui tem uma lista do conhecimento de base:
-Saber harmonia, o que significa conhecer e analisar a obras dos compositores românticos e modernos,
-Conhecer a evolução da historia do jazz e sua relação sociológica e política,
-Estudar sistemas de composição, desde contraponto a música contemporânea,
-Praticar rítmica profundamente.
Outras habilidades são mais específicas e requerem um treinamento exaustivo:
-Poder tocar qualquer coisa em qualquer tom,
-Dominar os procedimentos de aplicação de escalas e acordes nas progressões,
-Identificar auditivamente qualquer tipo de relação intervalar.
Ainda é indispensável que você procure:
-Decorar repertório de “Standards” da sua região,
-Decorar solos cantando,
-Escutar música de outras culturas.
Manuel Silveira Falleiros2000 © todos os direitos reservados.
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