Comissão Pró-Yanomami C CPY tJp»cl Abril 97 GOVERNO ATRASA OPERAÇÃO PARA EXPULSAR GARIMPEIROS E SALVAR YANOMAMp; No dia 11 de abril o presidente Fernando Henrique Cardoso passou algumas horaslem Boa Vista, ^ capital de Roraima. Reuniu-se com o presidente da Venezuela, Rafael Caldera, e assinou ^cprdosconjuntes"' para pavimentação da rodovia de Boa Vista à fronteira da Venezuela e para o fornecimento dê energia da hidrelétrica venezuelana em Guri para Boa Vista, projetos que acelerarão o desenvolvimento de Roraima e inevitavelmente colocarão mais pressão sobre as reservas indígenas. O presidente, no entanto, não fez qualquer menção à operação prometida há muito tempo pelo governo para expulsar os milhares de garimpeiros que invadiram a área yanomami. A proteção às áreas indígenas é uma obrigação constitucional do governo federal. A verba foi prometida, mas não foi repassada à Funai em Boa Vista. Sem verba a operação não pode ser iniciada, apesar de terem sido feitos alguns sobrevôos para detectar acampamentos de garimpeiros dentro da área yanomami. De acordo com um jornal de Boa Vista, a Funai, a Polícia Federal e as Forças Armadas pretendem organizar um grupo de trabalho permanente para remover os garimpeiros, ao invés de fazer apenas uma operação isolada. Deve concentrar-se na região dos rios Mucajaí e Couto Magalhães, para começar. Um porta-voz da Funai informou que 16 balsas foram detectadas nos rios Uraricoera e Parima e acredita-se que outras 30 estejam na região. Cada uma tem uma tripulação de 8, atingindo um total de 300 a 400 pessoas em apenas uma área. VENE2UELA..ÍRASIL DADOS YANOMAMI POPULAÇÃO: 9.386 índios, divididos em 188 comunidades (Roraima / Amazonas) Fonte: DSY-RR, Março 95 TAMANHO DA ÁREA: 96.649 km2 DATA DA DEMARCAÇÃO: 25 de maio de 1992 I I Área Tradicional Yanomami I I Área de atuação da CCPY LOCALIZAÇÃO GEOGRÃFICA: Estados de Roraima e Amazonas, Norte do Brasil AMAZONAS'.ROBAIMA A PRESENÇA GARIMPEIRA A SITUAÇÃO DE SAÚDE Em 3 de março índios xiriana, subgrupo lingüístico yanomami, de oito aldeias se reuniram para discutir o atraso da Funai e da Fundação Nacional de Saúde (FNS) na instalação de uma cantina no posto do Ericó. A cantina foi prometida para agosto de 1996, como uma maneira de evitar as conseqüências negativas das trocas entre os índios e os garimpeiros instalados rio abaixo. Muitas aldeias yanomami continuam a sofrer com a presença garimpeira, com casos de malária, TB e mortes e ferimentos por armas de fogo. Os índios estão trocando ouro e diamantes por comida, roupas, ferramentas e utensílios, sementes e anzóis, sempre com desvantagem: preços baixos pelos minérios, preços altos pelos bens. • Na reunião de fevereiro do NISI (Núcleo Interinstitucional de Saúde) em Roraima, foi informado que "existe grande revolta em muitas aldeias Yanomami, devido a roubos perpetrados por garimpeiros na roça das comunidades, grande mortalidade de peixes e doenças difundidas pelo garimpo, ameaças e tiros contra os indígenas, sem que nenhuma providência efetiva seja adotada pelas autoridades." Nos garimpos "os Xiriana são expostos a doenças, prostituição e ao consumo de álcool. Freqüentemente recebem "presentes" dos garimpeiros, interessados em suas mulheres, e em voltarem a trabalhar dentro da Área Indígena. E comum a ocorrência de conflitos como o de setembro último, quando o indígena Paulista foi gravemente esfaqueado por um garimpeiro." Chamou-se a atenção para a situação da região Xicoi-Olomai, que tem a taxa de mortalidade mais alta da área yanomami. Com apenas 4% da população, responde por 15% das mortes e tem taxa de crescimento populacional negativa. A Médecins du Monde, organização nãogovernamental francesa, que já trabalha em outras aldeias yanomami, propôs incluir essa região em suas operações. Os xiriana encerraram a reunião pedindo que a Funai e a FNS cumpram sua promessa e instalem a cantina. Os números de uma pesquisa de 1995 em uma região sem assistência médica permanente mostra a importância do atendimento de saúde. Em 3 de abril o proprietário de uma cantina em um dos garimpos ilegais no território yanomami foi morto a tiros durante uma briga pela área. Juvenal Aires do Nascimento estava trabalhando no garimpo Escorrega há pouco mais de um ano. Um jornal local informou que o garimpo, que existe há dois anos, com pelo menos 50 garimpeiros, "nunca foi incomodado pela polícia." O coeficiente de mortalidade infantil (mortes de crianças abaixo de um ano de idade para cada 1.000 nascidos vivos) foi 241, maior do que a do sub-Saara africano, em comparação com 163 para os yanomami como um todo. A mortalidade geral (mortes por 1.000 habitantes) foi de 36.6 em comparação com 22.9 para a área total yanomami. A irmã do garimpeiro assassinado disse que a polícia registrou a morte como tendo acontecido em outro local, para esconder o fato de que havia ocorrido em um garimpo ilegal. t ■ialc ri CCPY ■ UPDATE 92 78% das mortes ocorreram sem assistência médica, em comparação com 53% para a área como um todo. FINANCIAMENTO DO PROGRAMA DE SAÚDE A assistência médica de saúde torna-se difícil devido às constantes crises enfrentadas pela FNS. "Cora o fira do contrato e conseqüente dispensa dos servidores, as atividades desenvolvidas pela FNS na Terra Indígena lanomami seriam paralisadas", alertou o jornal Folha de Boa Vista era 21 de raarço. No fim de abril os contratos de 4 anos dos 126 profissionais de saúde expiraram e a contratação dos 219 profissionais de saúde aprovados em concurso em novembro passado ainda não tinha sido autorizada. Só uma decisão de última hora estendendo os contratos de 126 profissionais de saúde, que devem expirar no fim de abril, por mais 6 meses, evitou o colapso da assistência médica para as populações indígenas. Além disso, a autorização para contratar 214 profissionais de saúde aprovados em concursos em novembro passado foi finalmente concedida pelo Ministro da Saúde, O PROJETO DE SAÚDE DA CCPY O PROJETO DE EDUCAÇÃO SITUAÇÃO MACUXI A Rainforest Foundation da Noruega aceitou participar do Projeto de Educação por um período de 8 anos, a partir de 1998. Os fundos serão levantados pela Associação dos Alunos Secundaristas da Noruega, através da "Operação Um Dia de Trabalho"(OW). Nesse dia, ao invés de ir à escola, os estudantes saem procurando trabalho e doando o que recebera para a campanha. O Dia de Trabalho é parte de uma semana inteira dedicada ao estudo do tema, do projeto e do país escolhido. A decisão do Ministro da Justiça de reduzir o tamanho da área macuxi em 300.000 hectares tem sido duramente criticada por ONGs brasileiras e estrangeiras. Isso significa não apenas que cinco vilas de garimpeiros, incluindo bordéis, têm permissão para permanecer dentro da área indígena tradicional, raas também que até 20 aldeias indígenas, cora áreas de recursos naturais, estão agora localizadas fora dos limites oficiais da reserva. Uma missão de sete pessoas, incluindo três dos estudantes que estão organizando a campanha (OW) e membros da Rainforest Foundation, visitou o Deraini no fim de abril, para aprender mais sobre a sociedade yanomami e produzir material de ensino apropriado para uso nas escolas norueguesas. Três alunos da escola do Deraini estão atualmente sendo treinados em Boa Vista como agentes de saúde pela Dr3 Deise Alves Francisco e Marcos Teodório do Carmo, membros da equipe de saúde da CCPY. através de um projeto financiado pela ONG dinamarquesa IWGIA (Grupo de Trabalho Internacional para Assuntos Indígenas). Apenas após uma audiência cora o Ministro da Saúde foi liberada a verba destinada ao Projeto de Saúde da CCPY até junho. Um novo projeto para a continuação do trabalho está sendo agora elaborado pela equipe de saúde. COALIZÃO DA AMAZÔNIA REALIZA FÓRUM EM WASHINGTON Era maio, dois índios yanomami e um macuxi participaram de um fórum organizado pela Amazon Coalition em Washington. Os yanomami, que contaram com o apoio financeiro da RAN (Rainforest Action Network), são Davi Kopenawa e Roberto Ahiahipitheri e o macuxi é João Adalberto. A coordenadora da CCPY em São Paulo, Claudia Andujar, que já foi membro do Conselho Diretor da Coalizão, também participou. Audiências com senadores e com a Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos foram agendadas. Depois de um estudo detalhado do despacho do Ministro, o ISA (Instituto Socioarabiental) concluiu que havia erros e distorções que violavam os direitos territoriais indígenas inscritos na Constituição. Também continha erros de informação, omitindo dados históricos. A alegação do Ministro de que é de "interesse público" permitir a permanência de vilas de garimpeiros e de ura recéra-criado município, economicamente inviável, foi demolida pela análise do ISA. A ONG indicou que as vilas eram centros de atividades ilegais e de evasão de impostos, de destruição ambiental e de violência. Onze índios foram assassinados era conflitos nos últimos 6 anos. O ISA apelou ao Ministro e à Funai para que o despacho fosse revogado. tíl uén+ nayihík* fama* Em 1995. metade de toda apopulação yanomami estava cora malária (499.5 por 1.000 habitantes), enquanto que a incidência de TB era de 600 por 100.000, era comparação com 56 para o total da população brasileira. hoxikh hvxiyai- frase a éJie a oni CCPY - UPDATE 92 rOpe r■ ■ ANTROPÓLOGO AMERICANO NAPOLEON CHAGNON INDESEJÁVEL O convite recente feito ao antropólogo americano Napoleon Chagnon para lecionar na Universidade Federal de Roraima foi duramente criticado pelos antropólogos brasileiros. O líder yanomami Davi Kopenawa escreveu uma carta ao presidente da Funai, Júlio Gaiger, pedindo-lhe para recusar a Chagnon autorização para visitar áreas indígenas. "Nós não esquecemos que na época do massacre do Haximu esse mesmo Chagnon falou que era tudo mentira, que os yanomami estavam inventando o massacre... Ele nunca teve interesse em ajudar na preservação do meio ambiente e das áreas indígenas. Ele só tem interesse nele mesmo, querendo ficar importante e ganhar dinheiro." Chagnon é o autor de The Fierce People, no qual alegou que os yanomami sofriam de falta de proteínas em sua dieta, o que os predispunha à violência, teoria que. aparentemente, agora abandonou, Acredita-se que esteja participando do polêmico projeto Human Genome Diversity Project. que coleta amostras sangüíneas de grupos indígenas pelo mundo. Depois de dar um curso de cinco dias em Boa Vista, solicitou à Funai permissão para visitar Maturacá, uma grande aldeia yanomami perto do Pico da Neblina, no Estado do Amazonas, A Funai recusou e seu paradeiro é desconhecido. / mii GARIMPEIROS LEVAM DOENÇA YANOMAMI A UTRAS ÁREAS No Brasil a oncocercose é encontrada apenas entre os yanomami. Em geral, 25 por cento da população é portadora e em algumas aldeias essa taxa chega a 100%, Transmitida por diversas espécies do mosquito Simulium, se não tratada essa doença pode levar à cegueira total, Agora a doença surgiu no Brasil central, em Minaçul, Estado de Goiás, e a FNS acredita que deve ter sido levada pelos garimpeiros. VENEZUELA O Tribunal Superior da Venezuela reconheceu o direito dos povos indígenas do Estado do Amazonas a participar da decisão sobre a divisão territorial desse Estado. A resolução do Supremo derrubou uma lei estadual aprovada pela Assembléia Legislativa que retalhava o Estado em seis municipalidades, separando grupos étnicos e forçando outros a viver com seus inimigos ancestrais. A nova lei estava em total desacordo com a própria Constituição do Estado, que o define como um Estado multiétnico e pluricultural que respeita as culturas, tradições e posse de terras dos povos indígenas, restringindo as atividades de mineração até o ano 2050. A nova lei teria permitido que terras comuns se tornassem propriedade da administração municipal, o que representa na prática que os grupos étnicos, que geralmente não têm escritura de propriedade, poderiam ser expulsos e a terra vendida a fazendeiros ou empresas de mineração. 300 representantes de 19 grupos étnicos se reuniram no final de fevereiro perto de Puerto Ayacucho e elaboraram seu próprio plano, propondo sete áreas, que incluíam uma área especial separada para os yanomami. Eles desenvolveram "uma forma de divisão municipal ancestral, respeitando os limites do meio ambiente, da cosmovisão de cada povo. seus locais sagrados e sua governabilidade independente", nas palavras de Guillermo Guevara. coordenador geral da ORPIA, organização regional dos povos indígenas da Amazônia, Ao invés de prefeitos, as municipalidades, que têm maioria indígena, terão uma forma de governo coletivo exercido por coordenadores, A CCPY é uma organização brasileira, independente e sem finalidade lucrativa. Seus principais objetivos são apoiar e defender a vida, os direitos, a cultura e aterrado povo yanomami. Sede: Rua Manoel daNóbrega 111, cj. 32, 04001-900 São Paulo, SP, Brasil. Telefone: (011) 289-1200. Fax: 284-6997. Correio eletrônico: ccpysp@uol,com.br Escritório Regional: Rua Capitão Bessa 272, Bairro São Pedro, 69306-620, Boa Vista, Roraima, Brasil. Telefone: (095) 224-7568. Fax: 224-3441. Correio eletrônico: ccpyrr@technet,com.br Coordenação Editorial: Claudia Andujar. Jornalista: Jan Rocha. Correspondente: Cario Zacquini. Tradução: Lúcia Coutinho. Design Gráfico: Roberto Strauss. Ilustração pág. 1: Ciça Fittipaldi. OS UPDATES SÃO PRODUZIDOS GRAÇAS À COLABORAÇÃO DO FAFO (NORUEGA) E DA OXFAM (REINO UNIDO) CCPY- UPDATE 92