O ESPAÇO COMO PROMOTOR DE MÚLTIPLAS LINGUAGENS NA EDUCAÇÃO INFANTIL. LIMA, José Milton de – FCT / UNESP/PP [email protected] LIMA, Márcia Regina Canhoto de - FCT / UNESP/PP [email protected] BOCHORNY, Jucileny - FCT/UNESP/PP [email protected] DUARTE, Thaís - FCT/UNESP [email protected] Eixo Temático: Educação Infantil. Equipe do Projeto: Fernanda Mafra Cabral; Munique Cunha Mascaro e Patrícia Pérez Cimino (Curso de Arquitetura e Urbanismo). Agencia Financiadora: Programa Núcleo de Ensino – Pró-Reitoria de Graduação da UNESP. Resumo A proposta de pesquisa e intervenção sobre o espaço de múltiplas linguagens visa diagnosticar, estudar e desenvolver ambientes voltados à Educação Infantil. Assume como princípios o respeito às infâncias e suas culturas, sem preceder o tempo de desenvolvimento das crianças, considerando a complexidade de cada período etário e a diversidade sóciocultural. Esses ambientes de intervenção são espaços que promovem sensações distintas, não permitindo uma rigidez na disposição do mobiliário, para isso é necessário um estudo projetual deste ambiente, por arquitetos, possibilitando um desenvolvimento de intervenção eficiente. Para tanto, integra e delimita funções de atividades, sendo as principais: o movimento, a atividade rítmica, o espaço do faz de conta, do jogo de papéis como elementos que permitem a interpretação do mundo adulto, a fantasia, as artes, a leitura e, principalmente a brincadeira. No contexto de construção e implementação de um projeto pedagógico, o espaço de múltiplas linguagens é imprescindível na aplicação de atividades que favoreçam a aprendizagem da criança, e também o desenvolvimento pleno de todas as suas faculdades humanas, permitindo condições de trabalho mais adequadas para os professores de Educação Infantil, possibilitando a melhoria da educação oferecida nas instituições públicas. Sendo assim, o espaço de múltiplas linguagens atua como um suporte básico para que o educador possa exercer o seu papel de mediador no desenvolvimento das diversas linguagens no ensino voltado à infância. Portanto, esse projeto de pesquisa e intervenção estuda formas de adaptar as salas de aula tradicionais e rígidas da Educação Infantil para espaços de múltiplas linguagens, fundamentados no respeito às culturas das infâncias, na Teoria Histórica Cultural e na Sociologia da Infância. Sendo o campo de estudo e atuação a Rede Municipal de Educação Infantil do Município de Álvares Machado – SP. 10638 Palavras Chave: Educação. Infância. Espaço. Introdução Avaliações realizadas por diversas instituições e entidades revelam a necessidade de melhoria da qualidade da educação na realidade brasileira. A educação formal continua sendo um meio essencial para a emancipação humana e para a preparação do sujeito para responder as complexas exigências do contexto histórico atual. Leontiev (1978), dando ênfase à educação, afirma que o movimento da história e o desenvolvimento humano só são plenamente possíveis, a partir do processo de transmissão às gerações mais novas das aquisições da cultura alcançadas pelo homem na sua trajetória histórica. Segundo o autor, o nível de progresso histórico de uma sociedade pode ser julgado pelo nível de desenvolvimento do seu sistema educacional. Quanto mais a humanidade progride, quanto mais complexa se manifesta a sociedade, mais importante e específico se torna o papel de educar. Negar ao homem o direito à cultura humana é negar o direito ao seu pleno desenvolvimento. Completa Leontiev (1978), que os aspectos principais que determinam as desigualdades entre os homens não provêm das diferenças biológicas, mas são resultantes das condições sociais, econômicas e culturais. Comprometer-se, portanto, com uma nova etapa na história da humanidade é colaborar, entre outros fatores, na superação da dicotomia entre trabalho intelectual e trabalho corporal, na criação de sistemas educacionais que garantam o desenvolvimento humano multilateral e harmonioso, assegurando a cada um a possibilidade de participar de todas as manifestações da vida humana. O ser humano, desde o seu nascimento, necessita receber as condições adequadas que possibilitem o seu pleno desenvolvimento. A criança quando nasce, esclarece Venguer (1986, p.2336), recebe a estrutura e as funções do organismo, como uma herança de seus antecessores. Recebe, também, o sistema nervoso, o cérebro humano que, dependendo das condições de vida e de educação, é capaz de se converter no órgão responsável pela atividade psíquica própria do homem. O adulto desempenha o papel de mediador e, através da comunicação sistemática e das condições objetivas que oferece, propicia os meios para que a criança incorpore a experiência social, desenvolva as suas qualidades psíquicas e a sua personalidade. As influências educativas, no entanto, não podem sobrecarregar a criança e necessitam ser dosadas e variadas. Estimulados – e mesmo pressionados – por pais e mães que crêem possível e desejável antecipar a aprendizagem dos conteúdos do Ensino Fundamental, professores e professoras da Educação Infantil criam salas de aula com rotina, espaço, relações e expectativas típicas do trabalho educativo com as crianças no Ensino Fundamental. (MELLO, 2007, p.3) 10639 A perspectiva desse projeto, portanto, é a de contemplar múltiplas linguagens: as interações sociais, a brincadeira, as atividades lúdico-expressivas, artísticas e o jogo, considerando que tais meios são indicados por diferentes vertentes teóricas (Fröebel, Wallon, Bruner, Piaget, Vygotsky, Sarmento) como fundamentais para o desenvolvimento da criança. E, ainda, é possível constatar, sem muito esforço, que essas atividades são secundarizadas no contexto da Educação Infantil. Com essa perspectiva de Educação Infantil, as etapas do desenvolvimento da criança não são respeitadas e estas fases passam a ser preenchidas com outros elementos, muitas vezes, de forma equivocada e precoce, não permitindo à criança vivenciar as diversas possibilidades de exercer a infância. A criança não é vista como ator social, mesmo pertencente a uma categoria que tem identidade e cultura não reduzidas totalmente às culturas dos adultos. Esta relativa autonomia das crianças frente aos adultos é uma questão fundamental para entendê-las como sujeitos de identidade e culturas próprias. O projeto conta com a Coordenação de docentes dos Departamentos de Educação e Educação Física e com a participação de discentes universitários dos Cursos de Educação Física, Pedagogia e Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Ciências e Tecnologia. Desenvolve um trabalho coletivo e interdisciplinar, buscando garantir os fundamentos e as diretrizes norteadoras da pesquisa, tais como a questão pedagógica e projetual do espaço arquitetônico e urbano. O projeto é de natureza interdisciplinar e busca estreitar a parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Álvares Machado e a Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNESP, Campus de Presidente Prudente. Como diagnóstico inicial, procurou-se levantar as condições objetivas de trabalho, visando reorganizar espaços que ampliassem as possibilidades de utilização dos eixos estruturadores das culturas da infância, permitindo uma maior fluidez no desenvolvimento da Educação Infantil fundamentado no contexto histórico-cultural. O projeto mostra-se relevante ao compreender a brincadeira, o jogo, a fantasia, as atividades lúdico-expressivas, o movimento, as interações sociais como eixos das culturas da infância e conteúdos privilegiados e indispensáveis no contexto da Educação Infantil para a aprendizagem e o desenvolvimento das capacidades humanas das crianças. A busca de interfaces entre concepções de infância, criança, educação, aliadas à configuração de um espaço de múltiplas linguagens e com condições diversas, torna-se essencial para uma maior compreensão do trabalho que vem sido desenvolvido pela equipe. Desenvolvimento O espaço de múltiplas linguagens visa promover ambientes voltados para o respeito às infâncias e suas culturas, além de mediar junto aos professores o aprendizado nos ambientes de Educação Infantil, sem preceder o tempo de desenvolvimento das crianças considerando a 10640 complexidade de cada período etário e a diversidade sócio-cultural. Com isso, esse projeto de pesquisa estuda formas de adaptar as salas de aula tradicionais e rígidas da Educação Infantil para espaços de múltiplas linguagens. É comum encontrar instituições de Educação Infantil, que tomam como base o padrão de organização espacial utilizados no Ensino Fundamental e Médio, ou seja, esses espaços estão dispostos em uma direção só, isto é, visam concentrar as atenções dos alunos para o educador, privilegiando o ensino de linguagens básicas que se restringem a escrita e numérica (matemática). Este posicionamento do profissional, transmissor de conteúdos, restringe a socialização entre alunos e hierarquiza a relação professor aluno, colocando um posicionamento que o inferioriza. Considerando esse modelo educacional, as atividades lúdicas e a diversificação das múltiplas linguagens são minimizadas como atividades extras que não incorporam no aprendizado das crianças à brincadeira, a fantasia, a arte, o movimento, dentre várias linguagens possíveis, sendo assim, aponta uma desvalorização das culturas da infância. A creche e a escola da infância podem e devem ser o melhor lugar para a educação das crianças pequenas – crianças até os 6 anos - , pois aí se pode intencionalmente organizar as condições adequadas de vida e educação para garantir a máxima apropriação das qualidades humanas – que são externas ao sujeito no nascimento e precisam ser apropriadas pelas novas gerações por meio de sua atividade nas situações vividas coletivamente. O conjunto de estudos desenvolvidos pela ótica histórico-cultural aponta como condição essencial para essa máxima apropriação das qualidades humanas pelas crianças pequenas o respeito às suas formas típicas de atividade: o tateio, a atividade com objetos, a comunicação entre as crianças, e entre elas e os adultos, o brincar. (MELLO, 2007, p.3) Tendo em vista estes conceitos, essa não é a realidade encontrada nas instituições de Educação Infantil, que na maioria das vezes antecipam a aprendizagem do Ensino Fundamental e para tanto são criados ambientes monótonos sem direcionamento para as necessidades lúdicas da criança. De acordo com isto, a necessidade do estudo do espaço por meio de arquitetos, visa atender as expectativas abordadas na teoria e aplicadas à realidade. Portanto, o papel do arquiteto aborda elementos que devem ser fundamentados nas diversidades socioeconômicas, culturais e que caracteriza o espaço físico do lugar, buscando o caráter urbanístico de integração da comunidade com a escola, considerando o impacto que a instituição de ensino causa na escala do bairro. Como adequar o espaço às atividades lúdicas? De acordo com o Ministério da Educação (MEC), (BRASIL, 2006) os parâmetros fundamentais para ambientes da Educação Infantil buscam ampliar os diferentes olhares sobre o espaço, visando construir o ambiente físico destinado à Educação Infantil, promotor de aventuras, descobertas, criatividade, desafios, aprendizagem e que facilite a 10641 interação criança–criança, criança–adulto e deles com o meio ambiente. O espaço lúdico infantil deve ser dinâmico, vivo, “brincável”, explorável, transformável e acessível para todos. Partindo desse princípio, o espaço é um dos mediadores que interfere na aprendizagem, socialização e na relação sensível, ligada a percepção ambiental do indivíduo. O espaço arquitetônico está presente no cotidiano do ser humano e afeta diretamente a sensibilidade de forma diversificada, interferindo na relação entre o espaço e o ser social, acarretando em um processo ligado a subjetividade humana. O espaço físico remete a uma percepção sensível, ao imaginário arquitetônico e urbano que esse lugar se faz presente nas relações permeadas pela emotividade e objetividade (envolve a questão funcional do ambiente). Sendo assim, todo o período escolar, assim como referências arquitetônicas e urbanas, marcam lembranças que serão carregadas durante o período da infância até a vida adulta. A questão ordenadora do espaço pode promover sensações distintas, sendo boas ou não. O modelo tradicional não deveria ser utilizado em ambientes para a Educação Infantil, pois esse promove a inibição das atividades plausíveis para crianças, como a brincadeira e as diversas linguagens que podem ser trabalhadas em um ambiente voltado às culturas da infância, ou seja, um espaço de múltiplas linguagens. Um espaço de múltiplas linguagens não permite uma rigidez na disposição do mobiliário, logo, as carteiras enfileiradas não atingem os objetivos de um ambiente assim. Esse espaço deve integrar e delimitar funções de atividades, sendo as principais: o movimento, atividades rítmicas, o espaço da casinha (onde a criança resgata o cotidiano de um adulto por meio de sua visão, acarreta na simulação do mundo adulto), a fantasia, as artes, a leitura e o que margeia todas essas atividades, a brincadeira. Estando profundamente envolvida pela ação com objetos, a criança volta-se também para outras formas de atividade constitutivas das linhas acessórias de desenvolvimento, tais como a modelagem, o desenho, a construção de objetos, a realização de pequenos encargos por iniciativa própria etc. a percepção de si mesma como alguém que pode empreender uma vasta gama de ações encontra-se em franca ampliação, aprimorando, consequentemente, as formas de percepção do mundo físico e social. (MARTINS; ARCE, 2007) Desta forma, para contribuir com o estudo na linha de pesquisa de espaços de múltiplas linguagens para as infâncias, podemos citar como experiência as Escolas e Creches voltadas à Educação Infantil situadas no município de Álvares Machado, interior de São Paulo. Através destas instituições pudemos realizar um estudo de caso, onde posteriormente foi realizado um projeto levando em consideração as necessidades das crianças, indo de acordo com o que é proposto e fundamentado no estudo dos espaços de múltiplas linguagens. 10642 A princípio foram feitas visitas às Escolas de Educação Infantil do município de Álvares Machado, com o intuito de diagnosticar problemas espaciais e estruturais das edificações, buscando analisar os potenciais de intervenções possíveis para as Escolas visitadas, considerando as problemáticas de cada instituição. Por meio destes levantamentos, compreendendo o quadro geral das escolas, buscamos um elemento comum de intervenção, tal como adaptação de salas convencionais para espaços de múltiplas linguagens. Em uma sala de aula padrão, atualmente sem uso, propusemos um espaço onde as crianças pudessem realizar suas atividades e desenvolver as diversas linguagens. Este ambiente conta com diferentes espaços, tais como: leitura, fantasia, arte, casinha e também com uma parede brincante, que possui um caráter lúdico, fundamentado em estudos realizados ao longo da pesquisa, que passará a complementar o ambiente desenvolvido. Esta parede tem como principal objetivo a interação da criança com o espaço, permitindo com que a ela interfira no ambiente em que se encontra, apropriando-se deste espaço e tendo a liberdade de recriá-lo constantemente. De acordo com os Parâmetros Básicos de Infra-estrutura para Instituições de Educação Infantil, proposto pelo MEC, o/a professor/a, junto com as crianças, prepara o ambiente da Educação Infantil, organiza-o a partir do que sabe que é bom e importante para o desenvolvimento de todos e incorpora os valores culturais das famílias em suas propostas pedagógicas, fazendo-o de modo que as crianças possam ressignificá-lo e transformá-lo. A criança pode e deve propor, recriar e explorar o ambiente, modificando o que foi planejado. (BRASIL, 2006, p.7). Sendo assim, o acabamento da parede brincante foi feito com uma tinta imantada, a qual receberá peças em imãs com formas geométricas de diversos tamanhos, sendo estas revestidas com EVA, um material muito utilizado em brinquedos pedagógicos. A utilização das formas geométricas como elemento característico da parede tem como objetivo incentivar o desenvolvimento das crianças a fim de que elas se sintam parte do espaço, apropriando-se dele, se sentindo apta a modificá-lo, recriando novas formas de ambiente. O espaço da leitura conta com um tatame de EVA, com almofadas para garantir o conforto das crianças que ali farão suas atividades. No espaço da arte foi criada uma disposição das carteiras de forma que elas estivessem próximas à lousa, gerando uma maior interação e aproximação do educador e do aluno. Tendo em vista esta interação, propusemos que a lousa fosse estendida até o chão, atribuindo à criança uma maior autonomia na utilização do espaço, propiciando ao mesmo tempo um convívio harmonioso entre o educador e criança através desta aproximação. O espaço da casinha possui uma 10643 área delimitada, contendo objetos e mobiliário, assim desenvolvendo as diversas atividades características desse ambiente. O espaço da fantasia por sua vez, é destacado pelo “palco de apresentações”, pela arara de fantasias e o espelho, onde a criança tem a liberdade de “ver e ser vista”, ou seja, um espaço localizado no centro da sala, respeitando a circulação necessária, possibilitando a criança incorporar personagens que fazem parte do seu cotidiano. O espaço de múltiplas linguagens necessita de um planejamento construído junto com uma proposta pedagógica direcionada a Educação Infantil, um ambiente que permita o desenvolvimento das crianças e suas culturas. Segundo Mamede, a organização do ambiente físico e do tempo na creche é outro aspecto a ser levado em consideração na construção da proposta; devem ser planejados para que a criança possa interagir e apropriar-se dos espaços, equipamentos e materiais, de forma segura, desafiante e sem depender sempre dos educadores. (MAMEDE, 2001, p.51). O ambiente precisa de elementos que permitam a acessibilidade da criança, visando o alcance de todos os objetos, possibilitando a exploração do mundo lúdico aberto ao imaginário infantil. Para isso, são feitos espaços, denominados por alguns autores como ”cantinhos”, que interpretam o mundo adulto, instigam a investigação dos movimentos do corpo, da utilização da sensibilidade (aguça as compreensão sensorial), trabalham com a cognição, enfim estimulam a ludicidade e as relações sociais. Nesta perspectiva, Mamede, ao analisar um ambiente voltado para finalidades semelhantes, destaca que: Essa sala possui “cantinhos” onde se encontram brinquedos e objetos que podem ser usados livremente. Ela pode conter desníveis, caminho, nichos, túneis, pequenas escadas, pequenas divisórias vazadas por onde as crianças se olham e se comunicam caixas grandes blocos de espuma, poltronas, quadros, espelhos, barras de caminhar para suscitar a curiosidade, a exploração e as descobertas (MAMEDE, 2001, p.51). O espaço é o segundo mediador no desenvolvimento das crianças, sendo o primeiro, o educador. Com isso, devemos levar em consideração a importância da criação de espaços que realmente desenvolvam as múltiplas linguagens necessárias e atribuídas a cada fase da infância. Estes espaços devem atender obrigatoriamente a ergonomia das crianças que farão uso, assim como a segurança das mesmas precisa ser preservada. O ambiente ao ser criado deve se adequar à criança, agregando elementos que caracterize a ludicidade, isso se dá através de espaços fluídos, bem distribuídos e que se apliquem as necessidades 10644 da aprendizagem das crianças por meio de atividades que garantam o desenvolvimento das múltiplas linguagens. O espaço de múltiplas linguagens deve ser pensado de forma que ele se torne um ambiente de descobertas, visando aguçar os sentidos humanos a fim de explorar, sentir, experimentar, onde a criança tenha a liberdade de vivenciar de forma prazerosa as atividades lúdicas. Metodologia A metodologia orientadora do projeto é a pesquisa-ação e para Barbier (2002), esse tipo de pesquisa conduz o pesquisador a: [...] a reconhecer sua parte fundamental na vida afetiva e imaginária de cada uma na sociedade. Ele descobre todos os reflexos míticos e poéticos, assim como o sentido do sagrado frequentemente dissimulado nas atividades mais banais e cotidianas. Para emprestar sentido às formas de socialidade encontradas e para partilhá-las e discutí-la [...] (BARBIER, 2002, p. 15) Essa compreensão da metodologia impulsiona-nos a fazer uso da pesquisa-ação com acompanhamento in loco das experiências diárias dos sujeitos, isso permite (re) conhecer os sujeitos e seus espaços e construir com eles práticas possíveis; tendo como instrumento a observação participante. Dezin apud Lüdke (1978) descreve como sendo a de um observador participante aquela que combina observação, questionário, participação direta. O autor compreende que os compromissos do observador são: [...] O “observador como participante” é um papel em que a identidade do pesquisador e os objetivos do estudo são revelados ao grupo pesquisado desde o início. Nessa posição, o pesquisador pode ter acesso a uma gama variada de informações, até mesmo confidenciais, pedindo cooperação ao grupo. Contudo, terá em geral que aceitar o controle do grupo sobre o que será ou não tornado público pela pesquisa. (LÜDKE et al, 1986, p. 29). Nesta perspectiva e de acordo com Morin (apud BARBIER, 2002), pretende-se comprometer os docentes, buscando contar com a participação da maioria, em todas as dimensões: na definição da problemática e das necessidades, nos questionamentos e atividades de estudo, na metodologia e participar juntamente com os profissionais nas intervenções, principalmente no que se refere, nesse caso em particular, a organização do espaço. 10645 Além de reuniões de esclarecimentos e busca de um contrato para a realização da pesquisa coletiva, realizou-se visitas em todas escolas do município. A partir daí colhemos as primeiras análises sobre o espaço e sua funcionalidade. Concomitante a isso iniciamos as discussões com professores, nos seminários, para aderência ao projeto, discussão de concepções e aplicação de questionários. O registro do diagnóstico foi desenvolvido pelo grupo de pesquisadores, alunos bolsistas, colaboradores e pelos profissionais de cada instituição. Como fruto dessas “coletas” de informações temos: imagens digitais, fotografias e banco de dados com as tabulações dos questionários respondidos pelos profissionais. Periodicamente todos envolvidos na pesquisa se encontram para discussão e aprofundamento teórico, nessa atividade os textos são pré- estabelecidos com antecedência pelo grupo e têm como finalidade ampliar as concepções sobre infância, educação e aprendizagem, e fundamentar as práticas educativas, tanto dos profissionais de educação como dos discentes bolsistas e colaboradores envolvidos no projeto. Considerações finais. A rede de Educação Infantil do município de Álvares Machado apresentou problemas de infraestruturas ocasionadas pela falta de manutenção e principalmente pela inadequação das escolas e creches que estão implantadas em edificações residenciais, que foram adaptadas de forma imediatistas para tentar suprir a demanda da população local. Por meio do diagnóstico, foram apontados possíveis potenciais de intervenção viáveis para uma melhora a médio e a longo prazo, através de projetos arquitetônicos que serão desenvolvidos pelos estudantes de Arquitetura e Urbanismo em conjunto com estudantes da Educação Física e Pedagogia, além de Docentes da área da Educação. Este projeto de pesquisa tem como objetivo o desenvolvimento das questões multidisciplinares, possibilitando um trabalho completo que venha a agregar conceitos relacionados à Educação Infantil, aplicados à resolução projetual para possíveis intervenções dos espaços, onde é imprescindível a atuação do arquiteto na realização de projetos de ambientes que visam colaborar com o educador na mediação e no desenvolvimento da criança respeitando cada uma de suas fases. Por isso, é importante ressaltar que ao mesmo tempo em que se pensa o espaço em projeto, tem sido realizado um trabalho de formação continuada dos educadores, visando à reflexão das concepções que possibilita o direcionamento do trabalho na Educação Infantil. Sendo assim, não é coerente criar um espaço de múltiplas linguagens sem que haja uma interação do educador com o ambiente de forma que ele saiba utilizá-lo em benefício do desenvolvimento das crianças, pautado no respeito às culturas das infâncias. Referências LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Horizonte, 1978. 10646 MAMEDE, M. M. Caminhando para a Construção de uma Pedagogia Interativa na Creche, Brasília, v.18, n.73, p. 41-53, jul. 2001. MARTINS, L. M. Especificidades do Desenvolvimento Afetivo-Cognitivo de Crianças de 4 a 6 Anos. In: ARCE, Alessandra. DUARTE, Newton. Brincadeira de papéis sociais na Educação Infantil: as contribuições de Vigotski, Leontiev e Elkonin. São Paulo: Xamã, 2006 MELLO, S. A. Infância e humanização: algumas considerações na perspectiva histórico-cultural. In: PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 25, n. 1, jan./jun. 2007. BRASIL. Ministério da Educação/Secretaria da Educação Básica. Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil . Brasília: MEC/SEB, 2006. VENGUER, L. Temas de Psicologia Pre-escolar. Havana: Pueblo y Educacion, 1986, p.23-36.