HÁBITOS DE FOTOPROTEÇÃO E CUIDADOS COM O CÂNCER DE PELE: UMA REVISÃO COSSETIM, Tamires de Lima1; HANSEN, Dinara²; GIACOMOLLI, Cristiane Maria Haggeman²; DEUSCHLE, Viviane Cecília Kessler Nunes²; REIS, Gislaine². Resumo: A pele é o maior órgão do corpo humano e tem importante função de defesa contra a radiação ultravioleta. Por isso são necessários cuidados diários para proteger este órgão desta radiação, prevenindo assim o câncer de pele, que hoje se apresenta como o de maior incidência e que acomete principalmente pessoas que ficam expostas por muito tempo ao sol sem a devida proteção. Assim, o objetivo deste estudo foi realizar uma revisão de artigos para destacar os hábitos de fotoproteção e cuidados com o câncer de pele apresentados pela população visando contribuir para que a sociedade se habitue a proteger-se, principalmente através do uso do protetor. Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, realizada por meio de pesquisa nas bases de dados eletrônicas Google Acadêmico, Scielo e Pub Med, no período de busca de 2010 a 2016. Foram descritos nove artigos que pesquisaram hábitos de fotoproteção, fatores de risco para o câncer de pele e conhecimento acerca dos riscos da radiação ultravioleta na pele em diferentes populações. Foi possível perceber que grande parte do público pesquisado não tem o hábito de utilizar meios de fotoproteção diários e desconhecem os cuidados necessários com a pele e os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de pele, mesmo sendo trabalhadores que desenvolvem atividades diárias expostos ao sol. Conclui-se que há necessidade de implementar ações de educação em saúde para estimular maiores cuidados com a pele, diminuindo assim a incidência do câncer de pele na população. Abstract: The skin is the largest organ of the human body and plays an important defensive function against ultraviolet radiation. So are needed daily care to protect this body of this radiation, thus preventing skin cancer, which now appears as the higher incidence and mainly affects people who are exposed for a long time in the sun without proper protection. The objective of this study was to review articles to highlight the photoprotection habits and care of the skin cancer presented by the population to contribute to society is accustomed to protect itself, mainly through the use of protector. This is a systematic review of the literature conducted by research in electronic databases Google Scholar, Scielo and Pub Med, the search period 2010-2016. Nine articles were described who searched photoprotection habits, risk factors for skin cancer and knowledge about the risks of ultraviolet radiation on the skin in different populations. It was revealed that much of the researched public does not have the habit of using daily means of photoprotection and ignore the necessary care with the skin and the risk factors for the development of skin cancer, even though workers who develop daily activities exposed to the sun. It is concluded that there is need to implement health education activities to stimulate better care of their skin, thereby reducing the incidence of skin cancer in the population. 1 Acadêmica do 6º Semestre do Curso de Tecnologia em Estética e Cosmética da Universidade de Cruz AltaUNICRUZ, bolsista de iniciação científica-PIBIC/UNICRUZ. E-mail: [email protected]; 2 Docentes do Centro de Ciências da Saúde e Agrárias da Universidade de Cruz Alta-UNICRUZ. E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]. Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 624 Palavras- Chave: Câncer de pele. Proteção solar. Melanoma. Radiação Ultravioleta. Keywords: Skin cancer. Solar protection. Melanoma. Ultraviolet radiation. INTRODUÇÃO A pele é o órgão de maior extensão no corpo humano, sendo responsável por 16% do peso total, composta por três camadas, a epiderme, derme e hipoderme. Ela tem funções de proteção contra os agentes externos, calor, infecções e luz, funcionando como um termômetro, pois regula a temperatura corporal, de tal modo que ajuda nas reservas de água, lipídios, controle do fluxo sanguíneo, funções sensoriais e vitaminas (BARDINI, LOURENÇO FISSMER, 2012; BISINELLA, SIMÕES, 2010). Trata-se de um órgão que está a todo o momento sujeita a danos, fenômenos patogênicos que podem alterar a integridade, dentre os quais se destacam as neoplasias malignas. Estas são divididas em melanoma e não melanoma (carcinomas basocelular e espinocelular), sendo muito comuns em humanos e vem aumentando o número de casos (BARDINI, LOURENÇO FISSMER, 2012; BISINELLA, SIMÕES, 2010; CHINEM, MIOT, 2011; FERREIRA, NASCIMENTO, ROTTA, 2011). Essas lesões podem ocorrer em qualquer localidade da pele e, quando descobertas na fase inicial, são de fácil tratamento e cura, porém há risco de metástases nos casos de diagnóstico tardio. Dentre os não-melanomas, o carcinoma espinocelular é mais agressivo e tem muitas chances de desenvolver metástases, já o basocelular tem um desenvolvimento mais lento e é muito difícil de surgir metástases, o maior índice dele é na região cefálica, a lesão resulta em uma coloração amarelo-palha, com característica papulosa translucida. Ambos, se diagnosticados precocemente, são mais fáceis de tratar (BARDINI, LOURENÇO FISSMER, 2012; OLIVEIRA, GLAUSS, PALMA, 2011). O câncer de pele é o de maior incidência, superando vários tipos de câncer, e vem crescendo a cada dia, com novos casos. Ele é mais observado em pessoa com mais de 40 anos, com fototipo I e II, história familiar de carcinomas de pele, características como olhos e cabelos claros, sardas na infância, imunossupressão, situações de exposição muito prolongadas ao sol como em exercícios físicos e atividades rurais (BARDINI, LOURENÇO FISSMER, 2012; BISINELLA, SIMÕES, 2010; CHINEM, MIOT, 2011). Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 625 A prolongada exposição sem proteção à radiação ultravioleta é agressiva para a pele, pois se torna um fator de grande risco de estimulação da camada germinativa, desencadeando o risco de um câncer de pele (BISINELLA, SIMÕES, 2010; POMPEU et al, 2013; OLIVEIRA, GLAUSS, PALMA, 2011). A radiação ultravioleta é muitas vezes a causadora deste dano, pois através dela ocorre a carcinogênese, processo que inicia a mutação das células sadias, degradando o seu DNA, e após desenvolvendo o processo inflamatório pelo efeito cumulativo da radiação resultando no câncer. O processo de malignização acontece após manifestações cutâneas como queimaduras, espessamento da epiderme, hiperpigmentação, modificações actínicas e ceratoses solares. (BARDINI, LOURENÇO FISSMER, 2012; BISINELLA, SIMÕES, 2010; CHINEM, MIOT, 2011; POMPEU et al, 2013; NASSER, 2010; SGARBI, CARMO, ROSA, 2007). Os indivíduos que se expõem continuamente à radiação ultravioleta, sem a devida proteção, antes de seus 20 anos de vida, estão mais predispostos ao surgimento do melanoma maligno (BISINELLA, SIMÕES, 2010). Assim, justifica-se a necessidade de, desde a infância, criar-se o hábito de aplicar o protetor solar, prevenindo possíveis danos futuros. É nesta etapa da vida que ocorre exposição três vezes maior ao sol em um ano quando comparado à vida adulta. Os protetores, para serem efetivos, devem apresentar um fator de proteção de 30, para ter uma eficácia melhor, protegendo dos raios UVA e UVB (BISINELLA, SIMÕES, 2010), variando conforme o grau de pigmentação da pele (fototipo). O carcinoma basocelular é o mais comum das neoplasias malignas, descrito por Jacob em 1827. Estudos dizem que se origina nas células pluripotentes imaturas da epiderme. Os índices são bastantes altos também em indivíduos albinos. Evidências falam que o carcinoma basocelular aparece de 10 a 50 anos após a pessoa ter estado exposta à radiação, sendo que 50% da população com mais de 50 anos irá desenvolver algum tipo de neoplasia, e o sol é o responsável por 70 a 80% dos casos de neoplasias. Os homens são os mais acometidos, pois tem menor adesão aos cuidados com a saúde, se expõem ao sol muito mais que as mulheres e não usam meios e proteção (CHINEM, MIOT, 2011; OLIVEIRA, GLAUSS, PALMA, 2011). O melanoma é considerado o câncer mais agressivo, caracterizado por manchas hiperpigmentadas irregulares e a face é o local mais acometido. Suas causas podem ser por fatores hormonais, sendo agravados pela exposição à radiação ultravioleta, pele mais pigmentada e mulheres em período fértil (PURIM, AVELAR, 2012; OLIVEIRA, GLAUSS, PALMA, 2011; NASSER, 2010). Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 626 A conscientização quanto ao uso de meios de proteção solar é a melhor saída para que o número de câncer diminua. Os meios de proteção consistem em um menor tempo de exposição solar, uso de filtros solares podendo ser físicos ou químicos (esse deve ser escolhido conforme o fototipo e biótipo), chapéu, roupas compridas ou com filtro solar e óculos de sol (POMPEU et al, 2013; PURIM, AVELAR, 2012; OLIVEIRA, GLAUSS, PALMA, 2011). Estudos também relatam que ingestão de altas doses de café pode reduzir em 30% a prevalência de câncer de pele não melanoma, pois age como um fotoprotetor, reduzindo a carcinogênese (CHINEM, MIOT, 2011). Os índices de câncer de pele nos últimos anos são alarmantes conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), e para prevenir que esses números cresçam, é necessária a conscientização da população acerca da aquisição de hábitos de proteção contra a radiação ultravioleta utilizando os devidos acessórios de proteção como óculos, chapéu, roupas adequadas, guarda-sol, protetor solar e de evitar exposições nos horários de maior radiação, entre 10:00 e 16:00 horas, e quando se expor. Torna-se assim muito importante conhecer os hábitos de cuidados com a pele e fatores de risco para o câncer de pele apresentados pela população para que possam ser pensadas e executadas medidas preventivas que propiciem a redução do número de casos de câncer de pele no Brasil e no mundo. Para tal, pesquisas vêm sendo realizadas, as quais abordam os principais fatores de risco para câncer de pele e os hábitos dos indivíduos quanto aos cuidados com a pele. Neste sentido, para conhecer o que há na literatura acerca destas características da população, objetivou-se realizar revisão sistemática de artigos que abordam esta temática, de suma importância para a saúde pública. METODOLOGIA Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, realizada por meio de pesquisa nas bases de dados eletrônicas Google Acadêmico, Scielo e Pub Med, no período de busca de 2007 A 2016. A pesquisa dos artigos foi realizada no mês de junho de 2016. Os descritores utilizados para o levantamento de artigos foram: câncer de pele, proteção solar, melanoma, não-melanoma, radiação UV, exposição solar, hábitos de exposição solar e fotoproteção. Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 627 O conteúdo dos artigos selecionados foi avaliado na medida em que se tratavam de estudos descritivos de delineamento experimental (ensaios clínicos) ou observacional (estudo de caso, estudos de Coorte) referentes aos hábitos de exposição solar e fatores de risco para o câncer de pele em diferentes populações. RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram selecionados para este estudo 9 artigos que estavam de acordo com a temática proposta. Dentre estes, o estudo de Bardini, Lourenço e Fissmer (2012), objetivou avaliar o conhecimento geral sobre o câncer de pele e os hábitos de proteção, em pacientes de um ambulatório médico de dermatologistas. Foram entrevistados 116 pacientes, destes a maioria era mulher (74,1%), sendo a média de idade de 44,19 anos. Dentre todos os entrevistados 18,4% foram ao médico com suspeitas de câncer de pele e 3,5% já tinham o diagnóstico da doença. Ao analisar fatores de risco, 11,2% destes pacientes tinham histórico pessoal de câncer de pele e 19% histórico familiar. A cor dos olhos que predominou foi de olhos escuros (76,8%) e 29,3% tinham fototipo II, caracterizada por ser clara, sensível e que dificilmente bronzeia. Segundo Morégula et al (2015), a maioria da população se enquadra nas características de pele de Fitzpatrick e Diffey, predominando pele branca, cabelos castanhos e sensibilidade ao sol, isso retrata que pessoas de fototipo claro são mais propensas a ter câncer de pele, pois tem uma significativa sensibilidade a radiação ultravioleta. Quanto aos hábitos de exposição, 25,9% dos entrevistados se expunham ao sol diariamente em decorrência do trabalho e 44,8% se expunham diariamente por outros fatores, sendo o principal horário de exposição entre as nove e as quinze horas (31,1%). Como o câncer de pele é um dos mais incidentes, alguns fatores são considerados de risco. Esses fatores foram observados conforme o passar dos anos quando foi percebido um aumento significativo em pessoas com certas características. Já está comprovado que a exposição à radiação ultravioleta está associada a praticamente todos os tipos de câncer de pele, mas fatores fenotípicos e histórico familiar ganham uma atenção especial por serem considerados fatores que podem contribuir com o aparecimento do câncer (BARDINI, LOURENÇO FISSMER, 2012). Ainda, dentre os entrevistados, 57,8% não fazia o uso do protetor solar diariamente e a forma de proteção mais utilizada foi o boné (19%). Quanto ao conhecimento, 81% dos entrevistados afirmaram ter Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 628 conhecimento sobre os danos causados pelo sol, destacando-se como mais conhecido o câncer de pele para 57,9% dos entrevistados. O conhecimento adquirido por eles, na maioria das vezes, advinha da mídia, destacando-se a televisão para 32,8% dos participantes. O trabalho de Bisinella e Simões (2010) pesquisou acerca dos hábitos de exposição solar dos estudantes de uma cidade do Paraná, objetivando analisar se os participantes utilizavam medidas de proteção contra os raios solares. O estudo contou com 150 voluntários, com média de idade de 17 anos, de ambos os sexos, com pequeno predomínio do sexo feminino (51%). Dentre os entrevistados, 93% eram brancos e destes, 5% tinham efélides na face. Grande parte dos estudantes relatou expor-se diariamente à radiação nos horários críticos (70%), sem utilizar proteção diariamente (41%). Outros (38%) relataram nunca utilizar meios de proteção solar, destacando-se que apenas 21% dos estudantes disse usar diariamente. Quando questionados sobre a utilização de algum meio físico para se proteger, verificou-se que 83% dos estudantes não utilizavam esse tipo de proteção e as informações dos entrevistados a respeito dos cuidados com a pele foi adquirida pela mídia, sendo citada por 88% alunos. Ao perguntar sobre os riscos que o sol pode trazer e quais suas consequências, 7% dos entrevistados referiram não ter a mínima noção destes riscos. Finalizando a pesquisa, foi questionado se os estudantes tinham hábitos de utilizar fotoprotetor no período de inverno. A resposta de 81% dos estudantes foi não, estando totalmente expostos aos efeitos nocivos da radiação. O uso de meio de proteção com chapéu, óculos, roupas adequadas e filtro solar são de uma significância muito grande para prevenir o câncer de pele, mas muitas pessoas não utilizam destes recursos. O estudo de Souza et al (2016) também levantou o hábito de utilização do fotoprotetor e observou que somente 53% dos entrevistados utilizavam uma vez ao dia, sendo esses indivíduos a maioria do sexo feminino (61%). Esse dado vem de encontro com o que Chinem e Oliveira (2011) observaram quando afirmam que a mulher é mais responsável ao ponto de utilizar mais os meios de fotoproteção, e que os homens são mais acometidos com o câncer por não se cuidar. O artigo de Pompeu et al (2013), apresentou estudo comparativo sobre conscientização dos hábitos de fotoproteção e dos fatores de risco da carcinogênese de pele em trabalhadores de rua, com 400 participantes voluntários. Dentre estes, 50,5% eram do sexo feminino, a raça que predominou foi a branca (45%), sendo que as idades variaram de 18 a 55 anos. Em relação a maior exposição à radiação, 76% dos entrevistados relataram ficar expostos entre as dez da manha e às dezesseis horas da tarde, porém somente 26% faziam o uso diário do Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 629 protetor solar. Quanto ao fator de proteção, 63% dos trabalhadores utilizava protetor solar com FPS variando entre 08 a 30 destacando que 53% deles aplicavam no rosto e membros superiores e 45,5% reaplicavam durante o dia. Somente 12% dos entrevistados sabiam dizer sobre qual radiação UV o protetor solar agia e destes, 94% responderam que o protetor tem eficácia para a radiação UVA e UVB e a maioria dos trabalhadores (92%) acreditava que um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer era a radiação ultravioleta. Percebeu-se assim que grande parte dos voluntários se expõe nos horários de maior risco, não utilizam o filtro solar e quando utilizam não o reaplicam, sendo de grande importância a conscientização por parte destes trabalhadores (BISINELLA e SIMÕES, 2010). No estudo de Morégula (2015), realizado com 72 estudantes do curso de enfermagem da Universidade Estadual de Santa Catarina, que teve como objetivo verificar o conhecimento sobre a exposição solar e medidas de proteção contra a radiação ultravioleta, foi destacado que dentre os entrevistados, 26,4% achavam que ter o corpo bronzeado era considerado saudável pela pigmentação da pele, o que não é verídico. Este dado se apresenta como muito preocupante a ponto de saber que essas pessoas ficam muito tempo expostas à radiação ultravioleta e muitas vezes sem nenhum tipo de proteção. Essa exposição muitas vezes pode desencadear alterações na pele que aparecerão somente no futuro, visto que inicialmente são observadas somente as queimaduras solares, que podem evoluir para manchas, as quais podem culminar em câncer de pele. O estudo feito em Taubaté por Ferreira, Nascimento e Rotta (2011), visou identificar os fatores de risco para o câncer de pele em 264 pacientes que buscaram atendimento para esta patologia em ambiente hospitalar. Os pesquisadores contaram com 132 casos de câncer de pele não melanoma e 132 indivíduos sem câncer de pele, com outras dermatoses. Dentre todos os participantes, 59% foram do gênero feminino e a média de idade foi de 68,5 anos para o grupo com câncer e 67,4 anos para o grupo sem câncer. Dos entrevistados do grupo com câncer, 68,2% possuíam o carcinoma basocelular e o restante (31,8%) era portador do carcinoma espinocelular. Sobre os fototipo, houve variação do I a V, tendo como base a classificação de Fitzpatrick, caracterizados como indivíduos com peles de tonalidades variando de muito claras a morena clara. Houve destaque para a ascendência europeia em 105 pessoas (70,1%) que relataram ter que se expor à radiação por motivos ocupacionais, mais da metade (58%) ficava o dia inteiro exposto e 47,7% utilizava o filtro solar em ambos os grupos. O estudo concluiu que os fatores de risco para o câncer de pele neste grupo foram cor Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 630 de pele clara, período prolongado de exposição à radiação ultravioleta e histórico familiar de câncer. Outra pesquisa, feita com 100 trabalhadores rurais, verificou que 80% dos entrevistados trabalhavam a mais de 10 anos expostos ao sol, sendo alguns há 50 anos na atividade. Dentre estes, foi relatado que a única proteção utilizada era o chapéu e camisa de manga longa. Quanto ao câncer de pele, 17% dos trabalhadores rurais declararam ter câncer de pele na família e 14% já tinham o diagnóstico da doença. Deste modo percebeu-se que estes trabalhadores não tinham uma boa orientação a respeito da importância da utilização do protetor solar e os que tinham algum conhecimento, era incorreto ou carente de informação (SOUSA et al, 2012). O estudo de Purim e Avelar (2012) teve como objetivo avaliar os hábitos de exposição à radiação solar entre as gestantes de um hospital, orientando as mesmas para a fotoproteção no pré-natal. A amostra foi de 109 mulheres com média de idade de 28,2 anos, sendo destas, 25 portadoras de melasma, de distribuição centro-facial (68%). Somente 36% das mulheres tinham história de melasma na família, sendo a maioria (56%) do lar. Mais de metade das mulheres apresentavam fototipo III (52%) caracterizada por pele que normalmente queima, porém bronzeia moderadamente, 84% relataram ficar cerca de 1 a 2 horas diariamente expostas ao sol, predominando os horários de dez horas da manha às quinze horas da tarde. Somente 24% das gestantes faziam uso de protetor solar diariamente. Aquelas que não utilizavam, alegaram como motivo a falta de hábito. As pacientes também foram questionadas sobre o impacto da presença de melasmas na qualidade de vida e o resultado demonstrou frustração, pois não gostam de sua aparência, apresentando-se como muito incômodo pra elas. Estes dados vêm de encontro com o estudo de Handel (2013), realizado com mulheres que possuíam melasma, o qual levantou fatores de risco para o aparecimento do melasma e impacto deste na vida das mulheres. Os fatores mais destacados foram a questão do fototipo, sendo mais comum em pessoas de fototipo III, IV e V (Fitzpatrick), problemas hormonais e gravidez. O mesmo estudo observou que a partir do momento em que a mulher adquire um melasma ela fica sensível e o emocional fica abalado, podendo desenvolver quadro de estresse descontrolável, sendo o impacto tão grande ao ponto de algumas entrarem em depressão e até mesmo tentarem o suicídio. A conscientização para a prevenção do melasma seria a melhor forma para combater esse número alarmante e reduzir casos de câncer de pele (HANDEL, 2013). Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 631 A pesquisa de Oliveira, Glauss e Palma (2011), realizada com professores de educação física a respeito dos hábitos relacionados à exposição solar, contou com a participação de 123 professores que possuíam um ano de prática profissional, de ambos os sexos predominando o sexo masculino (56,9%), com a média de idade de 33,7 anos. Obtiveram-se os seguintes resultados: 64,2% dos professores trabalhavam totalmente exposto ao sol e destes muitos não se protegiam adequadamente, sendo percebido que os homens se cuidavam menos que as mulheres, os horários que foram mais citados de exposição solar foram das dez horas da manhã às dezesseis horas da tarde e, considerando as características da pele, verificou-se que 43,9% possuíam pele que queima muito facilmente e bronzeia muito discretamente (fototipo II). Os autores concluíram que os professores deveriam cobrir algumas áreas do corpo para desenvolverem suas atividades e ficarem protegidos da radiação ultravioleta. Também foi destacado que as mulheres se importam mais com a proteção do que os homens. Comparando com outro estudo, feito com esportistas de meia maratona, também foi perceptível a falta de proteção dos atletas visto que, dentre os entrevistados, foram encontrados casos de neoplasias malignas e pessoas com histórico familiar. Muitos deles, quando fazem as provas ou treinos, tentam se proteger, mas a durabilidade do protetor não é adequada sendo que muito raramente param no meio da maratona para reaplicar (PURIM, TITSKI, LEITE, 2013). Estudo feito com alunos universitários mostrou que os dados entram em concordância principalmente no que se refere à fotoproteção, muito importante para a prevenção contra o câncer de pele. Ficou evidenciada a falta conscientização quanto ao uso dos acessórios e do protetor solar, destacando-se que os entrevistados sabiam que a radiação ultravioleta é a responsável pela maioria das mutações de células sadias (CASTILHO, SOUSA, LEITE, 2010) A relação entre a radiação ultravioleta e a carcinogênese foi o tema descrito no artigo de Sgarb, Carmo e Rosa (2007), que teve como objetivo revisar fatores de risco e reforçar a importância de prevenção do câncer de pele, utilizando filtro solar e demais formas de proteção. Com o alto crescimento no número de câncer de pele e, sabendo que a radiação solar é um dos maiores responsáveis por isso, deve-se estar sempre utilizando filtros solares para prevenir o câncer de pele e ter condições de vida mais saudável. O artigo de Nasser (2010) objetivou estudar a suscetibilidade à radiação UVB em pacientes que possuíam melanoma maligno e verificar se este é um fator de risco para desencadear o câncer de pele. Foram selecionados 88 voluntários sendo divididos em dois grupos: o grupo constituído por 27 pacientes que possuía melanoma maligno e o grupo Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 632 controle composto por 61 pessoas sem câncer. Em ambos os grupos a predominância foi do sexo feminino. Foi feito a divisão entre os grupos suscetíveis e resistentes a Radiação UVB. Os resultados apontaram que pessoas suscetíveis têm 9,7 mais vezes chances de ter câncer do que os resistentes. Dentre os pacientes que eram portadores de melanoma maligno, 81,5% foram considerados suscetíveis. Nas pessoas do grupo controle, 68,8% foram considerados resistentes. A localização dos melanomas nas pessoas suscetíveis foi de 45% nas áreas expostas à radiação e o restante nas áreas não expostas. Dentre as pessoas do grupo de controle 60% tiveram maior número de lesões primárias localizadas nas áreas expostas. Este estudo mostrou que a maioria dos portadores de melanoma maligno era suscetível e que pessoas que não tem câncer, mas são suscetíveis, tem 9,7 maior chance de adquirir um melanoma do que o restante da população. Por isso os indivíduos que são suscetíveis devem tomar medidas de prevenção, como por exemplo, usar filtro solar diariamente. No estudo epidemiológico de Clavico (2015), feito sobre melanoma maligno, foi destacado que o sexo mais acometido é o feminino entrando em concordância com o artigo citado anteriormente. Esse dado pode estar associado à maior busca das mulheres por atendimento, visto que normalmente procuram investigar o que está alterado em seu corpo ao contrário do público masculino (CLAVICO, 2015). O estudo de Chinem e Miot (2011), sobre o carcinoma basocelular, destacou que se trata de um tipo de câncer que vem aumentando cada vez mais sua incidência e que o mesmo já é considerado problema de saúde pública. As causas do carcinoma basocelular estão associadas à exposição à radiação ultravioleta, pessoas de fototipo claro, pessoas idosas, histórico familiar de câncer, cabelos e olhos claros, presença de efélides, pessoa que praticam atividades no ambiente rural e imunossupressão. Vale ressaltar que esta mutação pode se dar em lesões já existentes como: queratoses actínicas, lentigos solares e telengectasias faciais. O estudo de Souza (2016), no qual foram pesquisadas as alterações mais frequentes e presentes entre os indivíduos expostos ao sol, evidenciou a presença de lesões pré-cancerígenas como nevos, efélides, manchas esbranquiçadas, bolhas, queimaduras solares, irritações na pele, verrugas e lesões de difícil cicatrização. Revista Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão vol. 4 n°1 633 CONSIDERAÇÕES FINAIS OU CONCLUSÃO Através desta revisão foi possível perceber que a mutação das células sadias ocorre principalmente depois de exposições frequentes à radiação ultravioleta e que os meios de proteção ainda são a melhor opção para prevenir esta lesão que acomete. Porém, ficou evidente que, mesmo pessoas que trabalham expostas ao sol, não possuem o hábito de utilizar o protetor solar e/ou outros meios de proteção à radiação ultravioleta, já apresentando, em grande maioria, lesões pré-cancerígenas. Destaca-se assim a necessidade de ampliar ações de conscientização da população sobre os riscos do excesso da radiação ultravioleta na pele, incentivando o uso de meios de proteção, para que se torne um ato habitual, visando proteger a pele dos radicais livres e evitar um possível câncer de pele maligno. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BARDINI. G; LOURENÇO. D; FISSMER. M. C; Avaliação do Conhecimento e Hábitos de Pacientes Dermatológicos em Relação ao Câncer da Pele. Arquivos Catarinenses de Medicina. 2010. BISINELLA.V; SIMÕES. N.D.P; Avaliação dos Hábitos de Exposição Solar dos Estudantes de uma Cidade Situada no Interior do Estado Paraná. Rev. Bras. Terap. Saúde, Curitiba, v. 1, n. 1, p. 37-50, jul/dez. 2010. CASTILHO, I.G; SOUSA, M.A.A; LEITE, M.S; Fotoexposição e fatores de risco para câncer de pele: uma avaliação de hábitos e conhecimentos entre estudantes universitários. Anais Brasileiros de Dermatologia. RJ. 2010. CLAVICO, L.S; et al. 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