http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 CARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM DA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE BANANAL, SÃO PAULO, BRASIL Dimas Antônio da Silva IF / SMA [email protected] Mônica Pavão IF / SMA [email protected] Ciro Koiti Matsukuma IF / SMA [email protected] INTRODUÇÃO A Estação Ecológica de Bananal (EEB), com 884,00 ha, foi criada pelo Decreto Estadual nº. 26.890, de 12 de março de 1987. Situada na Serra da Bocaina, divisa do Estado de São Paulo e Rio de Janeiro, apresenta relevo de escarpas, com altitudes que variam de 1.200 a 1.900 metros, onde se destaca o Pico do Caracol. É uma área de refúgio natural para as espécies endêmicas da floresta latifoliada subtropical e Mata Atlântica de altitude (mata nebulosa), com destaque para bromélias raras (SÃO PAULO, 1998). Essa unidade de conservação integra o Sistema Estadual de Florestas e é administrada pela Fundação Florestal, da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, criado pela Lei Federal nº. 9.985, de 18 de julho de 2000, determina que as unidades de conservação devem possuir um plano de manejo que abrange a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos. A zona de amortecimento é definida como sendo “o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade”. Os corredores ecológicos, por sua vez, 3044 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 correspondem a “porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais”. Segundo IBAMA (2002), o limite de 10 km ao redor da unidade de conservação deverá ser o ponto de partida para a definição da zona de amortecimento. A partir deste limite são aplicados critérios para a inclusão, exclusão e ajuste de áreas da zona de amortecimento. Conforme IBGE (2006), o Levantamento do Uso e Cobertura da Terra indica a distribuição geográfica da tipologia de uso, identificada através de padrões homogêneos da cobertura terrestre. Envolve pesquisas de escritório e de campo, voltadas para a interpretação, análise e registro de observações da paisagem, concernentes aos tipos de uso e cobertura da terra, visando a sua classificação e espacialização através de cartas. Ainda segundo IBGE (2006), esse tipo de levantamento é de grande utilidade para o conhecimento atualizado das formas de uso e de ocupação do espaço, constituindo importante ferramenta de planejamento e de orientação à tomada de decisão. Com base nas considerações anteriormente apresentadas, esse trabalho tem como objetivos: - realizar o mapeamento do uso da terra na área de abrangência da EEB; - identificar as pressões geradas pelas atividades humanas realizadas no entorno da EEB; e - subsidiar a elaboração da proposta de Zona de Amortecimento da EEB. MATERIAIS E MÉTODO Área de estudo A área de estudo representada pela EEB e sua área de abrangência, com 32.269,38 ha, está localizada na Serra da Bocaina, entre as coordenadas 22 o41’ a 22o54’ latitude S e 44o14’ a 44o31’ longitude W Gr. Está totalmente inserida no município de Bananal, extremo leste do Estado de São Paulo, Brasil (Figura 1). 3045 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Figura 1. Localização da Área de Estudo. Conforme o sítio da Prefeitura de Bananal 1, a população estimada do município é de 10.233 habitantes. O seu auge econômico ocorreu em torno do século XIX, com a produção do café. Grandes fazendas e palacetes urbanos são ainda o testemunho desse período. Posteriormente, os cafezais deram lugar às pastagens para criação de gado. Hoje, a cidade de Bananal se destaca pelo turismo, atraindo visitantes para conhecer a sua história e arquitetura, como também, o exuberante patrimônio natural, com cachoeiras, rios e matas, representado pela Serra da Bocaina. 1 Disponível em: < http://www.bananal.sp.gov.br/>. Acesso em: jun. de 2014. 3046 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Segundo IPT (1981), a Serra da Bocaina é um planalto cristalino maturamente dissecado, inclinado para SE. Suas maiores elevações situam-se próximo à borda que cai para o Vale do Paraíba, a NE, atingindo altitudes de 1900-2000 metros. A área de estudo é caracterizada pelo relevo montanhoso, onde predominam as “serras alongadas” e secundariamente, são encontrados os “morros paralelos” e os “morros com serras restritas”. O clima da região pode ser caracterizado como subtropical úmido com três meses secos ao ano e precipitação média anual entre 1.250 e 1.500 mm. A temperatura média anual varia entre 20º e 33ºC, sendo que, a temperatura média máxima absoluta varia de 36º a 38ºC e a média mínima absoluta em torno de 0º e 4ºC (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2011). Metodologia Esse trabalho foi realizado com base em revisão bibliográfica e cartográfica, de interpretação de imagens de satélite SPOT 2 (datas 30/07/2008 e 07/09/2007) com resolução espacial de 2,5 metros) e trabalhos de campo. A classificação do uso e ocupação da terra utilizou os seguintes elementos de interpretação: tonalidade/cor, textura, tamanho, forma, sombra, altura, padrão e localização. As categorias de uso e ocupação da terra foram reunidas em três grupos: Vegetação natural, Usos agrícolas e Outros usos. A chave de classificação elaborada para o mapeamento é apresentada na Tabela 01. Conforme Kronka (2005), na década de 70, com o início do Projeto RADAM, os fitogeógrafos brasileiros passaram a utilizar o sistema de classificação da vegetação baseado no conceito fisionômico-ecológico hierárquico de Ellemberg & Mueller-Dombois (1966). Em 1982 o Projeto RADAMBRASIL, um desdobramento do Projeto RADAM abrangendo todo o território nacional, publicou o clássico “Classificação da vegetação brasileira adaptada a um sistema universal” de Veloso & Góes Filho (1982), que posteriormente, com pequenas alterações, foi incorporado pelo IBGE nos mapas de vegetação. Nesse trabalho, as categorias de vegetação foram mapeadas como florestas primárias e florestas secundárias, sendo posteriormente associadas ao Sistema de classificação de Veloso & Góes Filho (1982), resultando na nomenclatura aqui apresentada. 2 Nota de crédito: Imagens orbitais digitais multiespectrais Spot 2007-2009, adquiridas pela Coordenadoria de Planejamento Ambiental - CPLA da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA). 3047 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Foram realizados trabalhos de campo visando um maior conhecimento da área de pesquisa, a conferência das categorias de uso da terra já mapeadas, a identificação de vetores de pressão e elaboração de documentário fotográfico. Conforme Fundação Florestal (2011) foram estabelecidos os seguintes critérios para definição da área de abrangência em torno da EEB: sub-bacias hidrográficas; maciços florestais remanescentes; atividades impactantes realizadas no entorno; e proximidade com outras unidades de conservação. Desta forma, a área de abrangência da EEB ficou assim estabelecida: ao norte da EEB a ocupação antrópica está consolidada por atividades agropecuária e urbana. Dado que a EEB que se localiza em um divisor de águas, buscou-se englobar as microbacias de segunda à quarta ordem localizada na face norte e pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Foram incluídos também os maciços florestais localizados no entorno da EEB considerados prioritários para criação de novas unidades de conservação de proteção integral de acordo com o Programa BIOTA/FAPESP. Os principais maciços florestais estão localizados ao sul e a sudoeste da unidade de conservação em sentido ao Parque Estadual Cunhambebe, no estado do Rio de Janeiro e ao Parque Nacional da Bocaina, respectivamente, e a noroeste, de forma contígua à EEB, a APA Federal Rio Paraíba do Sul. Esses critérios foram ponderados visando adequar o desenho da área de abrangência, que também utilizou os limites municipais como critério de ajuste. 3048 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Tabela 01. Chave de classificação - Uso e ocupação da terra na área de abrangência da EE Bananal. USO E OCUPAÇÃO DA TERR A COR TEXTURA A S P E C T O S A S S O C IA D O S V e g e ta ç ã o N a tu ra l S a m a m b a ia l F lo r e s ta O m b r ó fila D ensa v e r m e lh o c la r o lis a O c o r r e e m á r e a s d e d e c liv e a c e n t u a d o , p r in c ip a lm e n t e a o lo n g o d a b a c ia d o R io B a n a n a l e à s m a r g e n s d e e s t r a d a s v ic in a is . v e r m e lh o e s c u r o ru g o s a T ip o v e g e t a c io n a l lo c a liz a d o e m v e r t e n t e s ín g r e m e s . F lo r e s t a O m b r ó fila M is ta v e r m e lh o e s c u r o ru g o s a T ip o v e g e t a c io n a l lo c a liz a d o e m v e r t e n t e s ín g r e m e s . V e g e t a ç ã o S e c u n d á r ia d a F lo r e s ta O m b r ó fila D ensa v e r m e lh o c la r o a m é d io lis a a m é d ia T i p o v e g e t a c i o n a l c o m d e l im it a ç ã o i r r e g u l a r , l o c a l i z a d o p r i n c i p a lm e n t e e m á r e a s p l a n a s o u n a s p r o x i m i d a d e s d e r io s e e s t r a d a s v ic in a is . O c o r r e c o m m a io r e x p r e s s ã o n o s e t o r n o r t e d a á r e a d e a b r a n g ê n c ia . V e g e t a ç ã o S e c u n d á r ia d a F lo r e s ta O m b r ó fila M is ta v e r m e lh o c la r o a m é d io lis a a m é d ia T ip o v e g e t a c io n a l lo c a liz a d o p r in c ip a lm e n t e e m á r e a s d e m a io r e s a lt it u d e s a o s u l e s u d o e s t e d a á r e a d e a b r a n g ê n c ia . V e g e ta ç ã o S e c u n d á r ia d a F lo r e s ta E s ta c io n a l S e m id e c id u a l v e r m e lh o m é d io lis a T ip o v e g e t a c io n a l d e p o u c a e x p r e s s ã o n a á r e a , c o m o c o r r ê n c ia d e p o u c o s p o lí g o n o s à n o r d e s te d a á r e a d e a b r a n g ê n c ia . V e g e ta ç ã o d e V á rz e a v e r m e lh o m é d io lis a T ip o v e g e t a c io n a l lo c a liz a d o e m t e r r e n o s b a ix o s e m a is o u m e n o s p la n o s q u e s e e n c o n tr a m ju n t o à s m a r g e n s d o s r io s . P a s ta g e m e /o u C a m p o A n tr ó p ic o v e r m e lh o c la r o lis a Á r e a s lo c a liz a d a s p r in c ip a lm e n t e a o n o r te d a á r e a d e a b r a n g ê n c ia e s e c u n d a r ia m e n t e a o lo n g o d e r io s e e s t r a d a s . R e f lo r e s t a m e n t o v e r m e lh o e s c u r o r u g o s a a m é d ia E m s u a m a io r ia , p la n t io s a n t ig o s d e p in u s , e u c a lip t o e a r a u c á r ia . O c o r r e c o m m a io r e x p r e s s ã o p r ó x im o a o c e n t r o d a á r e a d e a b r a n g ê n c ia . R e f lo r e s t a m e n t o c o m s u b - b o s q u e d e e s p é c ie s n a t iv a s v e r m e lh o e s c u r o ru g o s a O c o r r e n a s p r o x im id a d e s d e á r e a s d e r e f lo r e s t a m e n t o e d if e r e d e s t e p e lo t ip o d e m a n e jo . S e r r a r ia - im ó v e l r u r a l b ra n c o a z u la d o lis a R e p re s a v e r m e lh o e s c u r o lis a M a s s a d ’á g u a c o m p r e s e n ç a d e b a r r a g e m , lo c a liz a d a p r ó x im o à F a z . B o c a in a . A s s o c ia d a à c r ia ç ã o d e T r u t a s . P is c ic u lt u r a azul lis a P r e s e n ç a d e t a n q u e s c o m f o r m a r e g u la r . S o lo n u A flo r a m e n to R o c h o s o b ra n c o v e r m e lh o e s c u r o lis a lis a Á r e a c o m to ta l a u s ê n c ia d e c o b e r tu r a v e g e ta l. L o c a l i z a - s e p r e d o m i n a n t e m e n t e e m l o c a i s d e a l t i t u d e s e l e v a d a s , a c o m p a n h a n d o a s c r is t a s . U s o s A g r íc o la s O u tro s u s o s L o c a liz a d o p ró x im o à á r e a d e r e flo r e s t a m e n t o , p re s e n ç a d e v ia s d e a c e s s o q u e s e lig a m à s á r e a s d e r e f lo r e s t a m e n t o . RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 02 e Figura 02 apresentam a caracterização da paisagem da área de abrangência da EEB. Tabela 02. Quantificação das classes de uso e ocupação da terra na área de abrangência da EE Bananal. USO E OCUPAÇÃO DA TERRA ÁREA (HA) % Vegetação Natural Samambaial 277,81 0,86 Floresta Ombrófila Densa 3.513,68 10,89 Floresta Ombrófila Mista 1.251,73 3,88 Vegetação Secundária da Floresta Ombrófila Densa 9.425,31 29,21 Vegetação Secundária da Floresta Ombrófila Mista 8.561,76 26,53 Vegetação Secundária da Floresta Estacional Semidecidual Vegetação de Várzea Subtotal 53,20 0,16 123,23 0,38 23.206,72 71,92 Usos Agrícolas Pastagem e/ou Campo Antrópico 6.585,70 20,41 Reflorestamento 1.349,16 4,18 Reflorestamento com sub-bosque de espécies nativas 3049 817,23 2,53 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Subtotal 8.752,09 27,12 Outros usos Serraria - imóvel rural Represa Piscicultura Solo nu Afloramento Rochoso Subtotal TOTAL 3,80 0,01 62,48 0,19 2,10 0,01 2,92 239,16 310,46 0,01 0,74 0,96 32.269,27 100,00 As áreas cobertas pela Floresta Ombrófila Densa somam 3.513,68 ha (10,89%) e ocupam, predominantemente, o setor central da área de abrangência, formando um corredor no sentido nordeste-sudoeste que engloba boa parte da EEB. Essas florestas são encontradas no Sertão da Invernada e em “relevo montanhoso” formado pelas Serra do Campestre, Serra da Carioca, Serra do Turvo e parte da Serra da Bocaina. Por sua vez, a Floresta Ombrófila Mista ocupa 1.251,73 ha (3,88%). Localiza-se ao sul da EEB recobrindo o relevo de “morros paralelos” (Sertão da Encruzilhada e Fazenda Conceição do Rio do Braço) e no extremo sudoeste da área de abrangência ocupando relevo de “morros com serras restritas” (Fazenda Rio Vermelho e Fazenda Ananás). 3050 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Conforme IBGE (1991), a característica ombrotérmica da Floresta Ombrófila Densa está presa aos fatores climáticos tropicais de elevadas temperaturas (médias de 25º) e de alta precipitação bem distribuída durante o ano (de 0 a 60 dias secos), o que determina uma situação bioecológica praticamente sem período biologicamente seco. Já a Floresta Ombrófila Mista, também conhecida como “mata-de-araucária ou pinheiral”, é um tipo de vegetação do planalto Meridional, onde ocorria com maior freqüência. Esta área é considerada como o seu atual “clímax climático”, contudo esta floresta apresenta disjunções florísticas em refúgios situados na Serra do Mar e da Mantiqueira, muito embora no passado tenha se expandido bem mais ao norte porque a família Araucariaceae apresentava dispersão paleogeográfica que sugere uma ocupação diferente da atual. As áreas de Floresta Ombrófila Densa e de Floresta Ombrófila Mista ainda são muito procuradas por caçadores e palmiteiros, por abrigarem ricos exemplares da fauna e flora locais. Além das Florestas Primárias, a área de abrangência também é ocupada por Florestas de Formação Secundária, a saber: Vegetação Secundária da Floresta Ombrófila 3051 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Densa, Vegetação Secundária da Floresta Ombrófila Mista e Vegetação Secundária da Floresta Estacional Semidecidual. Esses tipos vegetacionais somam 18.040,27 ha (85,43%) e distribuem-se por toda a área de abrangência, independente do tipo de relevo, exceto no setor norte onde predominam as pastagens e/ou campos antrópicos. A Vegetação de Várzea com área de 123,23 ha (0,38%) ocorre ao longo do córrego Campo Comprido, próximo à localidade de mesmo nome, no extremo noroeste da área de estudo, em meio a áreas de reflorestamento. Segundo IBGE (1991), no sistema secundário (antrópico) estão incluídas todas as comunidades secundárias brasileiras. São aquelas áreas onde houve intervenção humana para uso da terra, seja com a finalidade mineradora, agrícola ou pecuária, descaracterizando a vegetação primária. Assim sendo, essas áreas, quando abandonadas, logo depois do seu uso antrópico, reagem diferentemente de acordo com o tempo e com o uso, dando origem à chamada vegetação secundária. Conforme Carvalho et al. (1998) as áreas rurais do Vale do Paraíba passaram por vários estágios agrícolas nos últimos cinqüenta anos; substitui-se o cultivo do café pelas pastagens, pela criação extensiva de gado e diversificou-se a agricultura. Segundo SMA (1997), no entorno da EEB foram detectadas pressões causadas por desmatamento de vegetação em estágio inicial de regeneração em áreas de preservação permanente; e em menor escala, a prática de queimadas para limpeza de áreas de roça pela população tradicional. FUNDAÇÃO FLORESTAL (2011) acrescenta que a região da Serra da Bocaina, principalmente a porção voltada para o Vale do Rio Paraíba sofreu processo de degradação bastante acentuado desde a época cafeeira, onde a cidade de Bananal representou um dos grandes centros produtores. Posteriormente, a região foi explorada para a produção de carvão vegetal que abastecia siderúrgicas locais, como a Siderúrgica Barbará localizada no município de Barra Mansa-RJ. Desde então, a região passa por processo de completo abandono e atualmente sofre, ainda que em pequena escala, com o turismo desordenado e a especulação imobiliária. Pode-se dizer que a fisionomia da vegetação secundária atual em seus vários estágios de regeneração é resultante do histórico de ocupação da área caracterizado pela sucessão de atividades econômicas. Nesse sentido seria interessante a realização de 3052 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 estudos evolutivos de uso e ocupação da terra para uma melhor compreensão da realidade atual. Os samambaiais ocupam 277,81 ha (0,86%) da área de estudo. Distribuem-se predominantemente, nas “serras alongadas”, nas encostas do Vale do Rio Bananal e próximo à localidade de Alegrinho, no extremo oeste da área de abrangência. Ocorrem associados a manchas de vegetação secundária e também próximos a áreas de pastagens que sofrem queimadas frequentes. Loschi et al. (2011), em estudo sobre a colonização de uma voçoroca, comentam que, de maneira geral, a ordenação das espécies na voçoroca mostra que as espécies do grupo das “graminóides” tendem a ser mais abundantes nas áreas mais baixas, úmidas e relativamente mais férteis, ocorrendo o contrário para as espécies do grupo das “samambaias”, já que estas se tornam mais abundantes à medida que há uma ascensão topográfica, com a consequente redução da umidade e aumento do adensamento do solo. As pastagens e/ou campos antrópicos somam 6.585,70 ha (20,41%) da área de abrangência. São encontrados predominantemente, no setor norte, nos vales dos rios Bananal e Turvo, e também extremo leste da área, no Sertão da Encruzilhada. Estas pastagens são formadas, em geral, pela gramínea braquiária, considerada uma espécie com alto potencial invasor em fragmentos florestais. Conforme Macedo & Zimmer (1993), áreas de pastagens cultivadas ou nativas, mal-formadas ou mal-manejadas, normalmente apresentam algum grau de degradação. Independente dos cultivares utilizados, a pastagem quando não sofre nenhuma prática de manejo relevante (adubação, vedação da pastagem, dentre outros) tem um ciclo de produção naturalmente decadente. Com o tempo, há queda de produção, relacionada às práticas de manejo: carga animal, modalidade de pastejo, queima, roçagem, adubação, dentre outros. As pastagens localizadas nos vales dos rios Bananal e Turvo apresentam alto grau de degradação ocasionado principalmente, pelo emprego de técnicas primitivas como o uso do fogo para renovação das mesmas, fato este observado durante os trabalhos de campo. Constatou-se também nas áreas de pastagem, a ocorrência generalizada de erosão linear na forma de sulcos, ravinas e boçorocas, fato acentuado pelas vertentes 3053 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 íngremes da região. Esses processos erosivos são desencadeados a partir do desmatamento, manejo inadequado do solo e o pisoteio animal intensivo. Nas áreas ocupadas por pastagens e/ou campos antrópicos são encontrados os principais núcleos rurais da área de abrangência (Sertão do Turvo, Sertão das Cobras, Vale do Rio Vermelho, Sertão da Madeirit, Sertão da Encruzilhada e Fazenda Conceição do Rio do Braço) que exercem sobre a EEB as seguintes pressões antrópicas: extração ilegal de recursos florestais, dentre eles o palmito e a caça (principalmente na região da Serra do Turvo); a extração de recursos madeireiros; e a transformação da paisagem em áreas de pasto com a consequente invasão de braquiária (SMA, 1997). Os setores cobertos por reflorestamentos de espécies exóticas (pinus e eucaliptos) somam 1.349,16 ha, o que representa 4,18% da área de abrangência. As áreas do Sertão da Madeirit, próximas à área da EEB, anteriormente ocupadas por reflorestamento de pinus ellioti, passam hoje por um processo de regeneração da vegetação natural. Todavia, mesmo após a remoção dos plantios, observou-se em trabalhos de campo a invasão de pinus nas áreas onde serão implantadas as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) relativas ao Projeto Águas da Bocaina. O pinus ellioti é uma espécie de crescimento rápido que compete com espécies nativas de crescimento mais lento. Devido à agressividade da espécie, sombreia rapidamente as espécies nativas e quando atingem a maturidade disseminam suas sementes pelo vento, que se propagam com facilidade inibindo a recuperação da vegetação nativa. No que se refere especificamente ao plantio do gênero pinus, Bechara (2003) comenta que o pinus elliotti possui maior capacidade invasora do que o pinus taeda. No Brasil, estas são as duas espécies do gênero com maior invasibilidade. Os ambientes mais susceptíveis à invasão de Pinus em ordem crescente, são: solos expostos, dunas, campos naturais, vegetação arbustiva e florestas. A camada de serapilheira acumulada sob os talhões de pinus dificulta sua regeneração, sendo o número de plantas nesta área doze vezes menor do que em área de solo exposto por gradagem. Analogamente, a regeneração de espécies nativas, sob a densa serapilheira de pinus, também é dificultada. O mesmo autor enfatiza que é essencial fundamentar ações de controle desta invasora, restauração ecológica de ambientes contaminados, conscientização ambiental e políticas públicas para eliminar o processo de contaminação biológica. 3054 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Segundo Vital (2007), quando uma floresta de eucalipto é plantada em área de vegetação natural ou seminatural, isso certamente acarretará algum efeito sobre a fauna e a flora da região. Isso pode ocorrer por causa de sombras, competição por água e nutrientes, perturbações no solo, efeitos alelopáticos ou efeitos cumulativos sobre o solo. Se as florestas forem implantadas em áreas degradadas ou áreas anteriormente utilizadas para outros cultivos e pastagens, observar-se-á elevação da biodiversidade de flora e fauna. Em florestas de eucalipto a biodiversidade, tanto de fauna quanto de flora, é menor do que a encontrada em florestas naturais, sendo, por outro lado, maior do que a encontrada em pastagens e outras lavouras. O autor conclui que os impactos ambientais do eucalipto sobre a água, o solo e a biodiversidade parecem depender fundamentalmente das condições prévias ao plantio, na região onde será implantada a floresta, bem como do bioma onde será inserida e das técnicas de manejo empregadas. De acordo com tais condições iniciais, as plantações de eucaliptos podem gerar impactos ambientais benéficos ou deletérios ao meio ambiente. Além dos reflorestamentos de espécies exóticas destinados à exploração comercial, são encontrados na área de estudo os reflorestamentos com sub-bosque de espécies nativas, que ocupam 817,23 ha (2,53%). Localizam-se, sobretudo ao sul da EEB na Fazenda Conceição do Rio do Braço; no extremo noroeste da área de abrangência nas proximidades do Bairro Campo Comprido e Serra das Perobeiras, onde há efetivamente exploração madeireira; e no sudoeste, nas proximidades da Fazenda Califórnia. O manejo inadequado dos talhões de reflorestamento permitiu a regeneração da vegetação nativa, propiciando o desenvolvimento de um expressivo sub-bosque. Nesse caso, a retirada da madeira seria extremamente danosa à vegetação nativa, que ao longo das décadas se recuperou. Em favor do contínuo florestal estabelecido pelos reflorestamentos com sub-bosque de espécies nativas, sugere-se que não haja a exploração de madeira, que nesse momento tem a função de proteção à flora, fauna e solo. Além disso, as condições topográficas da região não são favoráveis à exploração comercial destes reflorestamentos. Os afloramentos rochosos ocupam 239,16 hectares (0,74%) da área de estudo. São encontrados em relevo de “serras alongadas”, predominando nas encostas do Vale do Rio Bananal e do Vale do Rio Turvo, no setor norte da área de abrangência da EE Bananal. Cabe aqui ressaltar a importância dos afloramentos rochosos, enquanto beleza cênica, contribuindo para a valorização da paisagem. 3055 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Meirelles et al. (1999) comentam que apesar de sua singularidade como habitats, a ocorrência de várias espécies endêmicas e à fragilidade do ecossistema envolvido, os afloramentos rochosos brasileiros não são protegidos por legislação ambiental específica. Além de sua fragilidade natural, as ilhas de habitat em afloramentos rochosos também são muito vulneráveis às ações humanas, sendo ameaçados por vandalismo, poluição e incêndios. Na área de abrangência ocorrem também outros usos da terra, porém são pouco expressivos, tais como: represa (62,48 ha; 0,19 %), serraria desativada (3,8 ha; 0,01 %), piscicultura (2,10 ha; 0,01 %) e solo nu (2,92 ha; 0,01 %). A caracterização da paisagem do entorno da EEB e a identificação das pressões exercidas pelas atividades antrópicas colaboram, portanto, para a elaboração do plano de manejo da referida unidade de conservação, a delimitação de sua zona de amortecimento e corredores ecológicos, e o estabelecimento de normas de uso do solo, que visam a preservação deste setor da Serra da Bocaina. CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso da terra predominante no entorno da EEB é caracterizado pela presença de vegetação natural (71,92 %). Secundariamente, ocorrem pastagens e/ou campos antrópicos (20,41 %) e reflorestamentos de pinus e eucaliptos (6,71 %). Os remanescentes de vegetação nativa formam um importante corredor ecológico com o Parque Nacional da Serra da Bocaina e o Parque Estadual Cunhambebe, localizados nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. A conexão das florestas primárias e secundárias com as referidas unidades de conservação propicia condições para a recomposição e enriquecimento da flora e fauna locais. Todavia, a área de abrangência da EEB está sujeita à extração ilegal de recursos florestais, exploração madeireira, transformação da paisagem natural em pastagens e turismo desordenado. REFERÊNCIAS BECHARA, F. C. Restauração ecológica de restingas contaminadas por Pinus no Parque Florestal do Rio Vermelho. Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em Biologia Vegetal da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003, 136 p. CARVALHO, José Luiz de; RAIMUNDO, S.; MARETTI, Claudio. Planos de Manejos das Unidades de Conservação - Estação Ecológica de Bananal - Plano de gestão ambiental, fase 1. Revista: Documentos Ambientais, São Paulo, SMA, 1998 e caderno 02 do suplemento do Diário Oficial 3056 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 do Estado, de 28 de março de 1998. São Paulo, p. 1-108, 1998. FUNDAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO E A PRODUÇÃO FLORESTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Termo de Referência para a elaboração do plano de manejo da Estação Ecológica de Bananal. Núcleo Planos de Manejo-Fundação Florestal/Divisão de Dasonomia-Instituto Florestal. 2011. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS. Roteiro Metodológico de Planejamento - Parque Nacional Reserva Biológica, Estação Ecológica. Brasília: IBAMA/MMA, 2002. 135 p. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. 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RESUMO A Estação Ecológica de Bananal (EEB) apresenta alta diversidade quanto à flora da Mata Atlântica e abriga fauna que inclui muitas espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. Esta unidade de conservação ambiental tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. A caracterização da paisagem da área de abrangência da EEB baseia-se principalmente, no levantamento do uso da terra. Esse tema retrata as atividades humanas desenvolvidas sobre a superfície terrestre e constitui-se, portanto, em importante ferramenta de planejamento ambiental. Com base nesta premissa, o trabalho tem como objetivos realizar o levantamento do uso da terra no entorno da EEB e subsidiar a elaboração do seu Plano de Manejo e da Zona de Amortecimento. A área de abrangência, com 32.269,38 ha, inclui a totalidade da EEB e a sua bacia hidrográfica. Está localizada no município de Bananal, Estado de São Paulo, Brasil, entre as coordenadas 22o41’ a 22o54’ latitude S e 44o14’ a 44o31’ longitude W Gr. O trabalho foi realizado com base em revisão bibliográfica e cartográfica, interpretação de imagens de satélite SPOT do ano de 2008 e trabalhos de campo. O uso da terra predominante no entorno da EEB é caracterizado pela presença de vegetação natural (71,92%). Secundariamente, ocorrem pastagens e/ou campos antrópicos (20,41%) e reflorestamentos de pinus e eucaliptos (6,71%). Os remanescentes de vegetação nativa formam um importante corredor ecológico com o Parque Nacional da Serra da Bocaina e o Parque Estadual Cunhambebe, localizados nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. A conexão das florestas primárias e secundárias com as referidas unidades de conservação propicia condições para a recomposição e enriquecimento da flora e fauna locais. Todavia, a área de abrangência da EEB está sujeita à extração ilegal de recursos florestais, exploração madeireira, transformação da paisagem natural em pastagens e turismo desordenado. Palavras-chave: planejamento ambiental; uso da terra; unidade de conservação. 3058