Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre Dissertação de Mestrado Padrão de parasitismo de Struthanthus flexicaulis (Mart.) Mart. (Loranthaceae) e seus efeitos na comunidade vegetal de um campo rupestre sobre canga do Quadrilátero Ferrífero (MG) Fabiana Alves Mourão Orientadora: Claudia Maria Jacobi Co-orientador: José Eugênio Cortes Figueira (Depto. de Biologia Geral – ICB / UFMG) Belo Horizonte, setembro de 2007 Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre Padrão de parasitismo de Struthanthus flexicaulis (Mart.) Mart. (Loranthaceae) e seus efeitos na comunidade vegetal de um campo rupestre sobre canga do Quadrilátero Ferrífero (MG) Dissertação apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais, como pré-requisito do Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre, para a obtenção do título de Mestre em Ecologia. Fabiana Alves Mourão Orientadora: Claudia Maria Jacobi Co-orientador: José Eugênio Cortes Figueira (Depto. de Biologia Geral – ICB / UFMG) Belo Horizonte, setembro de 2007 Minhas primeiras perguntas sobre os fenômenos da natureza surgiram no quintal da casa do meu avô Antônio. Dedico este trabalho a ele, uma pessoa que foi muito querida por todos e é muito, mais muito especial para mim. i “Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas”. Luís Fernando Veríssimo. ii Agradecimentos A Claudia Maria Jacobi, argentina de sangue quente, mas de um coração gigantesco, que me deu total assistência durante estes dois anos. Obrigada Claudia, pela orientação, ensinamentos, exemplo de profissionalismo, pelas horas de descontração, infinitas sugestões e conselhos, puxões de orelha e principalmente por sua amizade. A José Eugênio Côrtes Figueira (o Zé), por ter acreditado no meu potencial, mesmo quando eu mesma não acreditava. Por ter me incentivado a trabalhar com Struthanthus flexicaulis (a espécie da canga que eu mais gostei) e contribuir com idéias brilhantes e metodologias criativas. Obrigada Zé, por ser meu grande amigo e por ter me conduzido tão bem neste caminho. A Flávio Fonseca do Carmo, pelas intermináveis idas a campo que estreitaram os laços de amizade e renderam muitas conversas e aprendizados sobre a canga. A Eugênia, Izabela, Pedro, Luiza e Diogo pelo companheirismo e ajuda na coleta de dados. A todos os colegas do laboratório de Interação Animal-Planta (em especial a Marina Beirão e Felipe pelo apoio nos trabalhos de campo e literatura) e todos os amigos do laboratório de Ecologia de Populações (Luisa, Nessim, Léo, Marilene, Tatá, Fabi Couto, Lu, Augusto Cá) por tornarem meus dias mais alegres. Ao prof. Fernando Vale pelos ensinamentos de anatomia vegetal e as inúmeras discussões sobre os padrões anatômicos do parasitismo de S. flexicaulis. A Mariana Pimenta pelo auxilio com os cortes anatômicos, interpretação dos dados e amizade. Aos membros da banca, Kátia Torres Ribeiro, Rosy Mary dos Santos Isaias e Geraldo Wilson Fernandes (membro suplente), que gentilmente aceitaram avaliar esta dissertação. Ao Programa ECMVS pelo apoio recebido nas saídas de campo. À secretaria do curso por resolver pacientemente todas as minhas dificuldades. Aos professores do curso pelos ensinamentos e amizade. Aos colegas de curso que compartilharam comigo os bons e maus momentos vividos durante as aulas e o curso de campo. Ao IEF pela licença de coleta, aos funcionários do Parque Estadual da Serra do Rola Moça pelo apoio logístico e à FAPEMIG pelo auxílio financeiro (CRA 89/04). A Tadeu Guerra, por disponibilizar sua dissertação, livros e artigos que muito contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho. Às melhores e eternas amigas: Angel e Aninha que sempre me apoiaram e me empurraram para frente, nunca me deixando ficar triste. A Marcelinho por me fazer acreditar que esse dia ia chegar...e chegou!!! E aos milhões de amigos do ICB!!! iii A Deus, por guiar os meus caminhos e torná-los mais simples e felizes a cada dia. Aos meus pais Heliana e Ronaldo que não entendem muito bem o que eu faço, mas sempre torceram pelo meu sucesso. Às minhas irmãs Renata e Luciana por me fazer exercitar o dom da paciência, mas também por serem motivos de muitas alegrias. Ao meu primo Fernando pelo exemplo de força e coragem. A Rick, meu biólogo de finais de semana, por reduzir meu estresse e cuidar tão bem de mim. A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para meu crescimento pessoal e profissional e a alguém que eventualmente eu tenha me esquecido de agradecer. OBRIGADA!!! iv Sumário Resumo...........................................................................................................................01 Abstract.........................................................................................................................03 Capítulo 1 - Hospedeiras de Struthanthus flexicaulis (Mart.) Mart. (Loranthaceae) e caracterização anatômica do parasitismo...............................................................05 Capítulo 2 - Efeitos do parasitismo de Struthanthus flexicaulis sobre uma população de Mimosa calodendron.............................................................................25 Capítulo 3 - Especificidade por hospedeiras ou parasitismo aleatório de Struthanthus flexicaulis Mart. (Mart.) (Loranthaceae)?..........................................42 Considerações Finais...................................................................................................61 v Resumo A família Loranthaceae é composta por aproximadamente 1000 espécies distribuídas em 75 gêneros. Dentre estes, 6 gêneros e 36 espécies já foram descritas para todo o cerrado brasileiro. O gênero Struthanthus é o principal, com 16 espécies. S. flexicaulis é uma das hemiparasitas brasileiras mais comuns, com ampla distribuição nas áreas de cerrado do Brasil Central. São consideradas epiparasitas porque crescem sobre o caule das hospedeiras e hemiparasitas porque fotossintetizam, mas obtém 60% dos carboidratos das hospedeiras. Esta espécie possui folhas verdes oblongo-abovaladas com tamanhos variados (entre 0,9 a 3,0 cm). Suas flores medem aproximadamente de 34 mm e os frutos 6-7 mm. Tem ramos longos e flageliformes, onde se formam os apressórios, estruturas que facilitam a fixação da parasita nas hospedeiras. Após a fixação do apressório, a conexão entre a parasita e a hospedeira envolve a penetração do haustório, uma estrutura circular e dilatada que invade os tecidos vasculares. O objetivo desta dissertação foi compreender o padrão de parasitismo de Struthanthus flexicaulis e seus possíveis efeitos na comunidade vegetal sobre canga do Parque Estadual da Serra do Rola Moça (MG). Esta dissertação foi estruturada da seguinte maneira: Resumo, Abstract, Capítulos 1, 2 e 3, e Considerações Finais. O Capítulo 1 aborda o levantamento das hospedeiras de S. flexicaulis em um campo rupestre sobre canga do Quadrilátero ferrífero (MG)as formas de vida mais parasitadas e a descrição anatômica do padrão de hemiparasitismo para cinco hospedeiras abundantes na área. No Capítulo 2, foram avaliados os efeitos do parasitismo sobre a cobertura foliar e a produção de frutos de Mimosa calodendron (Fabaceae). Neste capítulo, as características da estrutura populacional de M. calodendron foram descritas, com objetivo de avaliar os efeitos do parasitismo em indivíduos de tamanhos diferentes. Finalmente, no Capítulo 3 o parasitismo em diferentes hospedeiras foi quantificado, gerando uma discussão sobre suas possíveis causas. Os resultados indicam que S. flexicaulis é generalista, atacando mais de 40 espécies nos campos ferruginosos. Dentre as diversas formas de vida, o número de espécies fanerófitas atacadas foi maior, possivelmente devido à permanência de suas partes aéreas durante todo o ano. Estudos anatômicos das espécies escolhidas demonstraram que a parasita não encontra nenhuma defesa mecânica, anatômica ou histoquímica na interação com as hospedeiras, exceto com Vellozia compacta 1 (Velloziaceae). V compacta possui um pseudocaule que impede a penetração do haustório e consequentemente o parasitismo. Os efeitos do parasitismo sobre o valor adaptativo de hospedeiras foi estudado numa população de 390 indivíduos de Mimosa calodendron. A mortalidade pode ser aumentada pelo parasitismo, pois com exceção de um único indivíduo, todos morreram associados a S. flexicaulis. O número de indivíduos parasitados aumentou conforme o tamanho. A cobertura foliar e o número de frutos produzidos por indivíduos parasitados foram menores que em não parasitados. Mimosas muito parasitadas apresentaram copas de 75 a 95% menores que as não parasitadas. E os indivíduos parasitados produziram menos de 100 frutos (produção média=37), em comparação com os não parasitados que produziram em média 144. Uma conseqüência destes efeitos negativos é a diminuição do número de indivíduos de M. calodendron ao longo do tempo. A influência do parasitismo associada aos fatores abióticos estressantes podem levar a hospedeira à morte influenciando negativamente a permanência de M. calodendron na canga. A taxa de parasitismo por espécie foi analisada numa área de aproximadamente 9 ha, em 208 parcelas de 16 m2. Das 24 espécies parasitadas, 17 eram dicotiledôneas e 7 monocotiledôneas. As espécies mais abundantes na comunidade foram: Mimosa calodendron (20,5%), Lychnophora pinaster (12,6%) (Asteraceae), Sebastiana glandulosa (9,9%) (Euphorbiaceae), Eriope macrostachya (7,7%) (Lamiaceae) e Vellozia compacta (5,2%). De maneira geral, parcelas densas foram as mais ricas, possuíam mais indivíduos de M. calodendron e mais espécies foram parasitadas. S. flexicaulis mostrou duas tendências quanto às taxas de parasitismo, diretamente associadas ao hábito das plantas. Embora o parasitismo na comunidade tenha se mostrado aleatório, pois a maioria das hospedeiras é parasitada de acordo com a proporção em que aparece na comunidade, arbustivas foram mais parasitadas do que herbáceas. Isto foi atribuído à preferência das aves dispersoras das sementes de S. flexicaulis. Apesar do padrão aleatório, há evidências de que algumas espécies, como M. calodendron, podem ser parasitadas acima da média para sua categoria, indicando uma possível especificidade. Palavras chaves: Canga, especificidade, hospedeiras, parasitismo, Struthanthus flexicaulis. 2 Abstract The family Loranthaceae is composed of approximately 1000 species distributed among 75 genera. Of these, 6 genera and 36 species have been described for all the Brazilian cerrado. Struthanthus is the main genus, with 16 species. S. flexicaulis is one of the most common Brazilian hemiparasites, widely distributed throughout the cerrado of central Brazil. They are considered epiparasites because they grow over the branches of their hosts and hemiparasites because they photosynthesize, but obtain 60% of the carbohydrates from their hosts. The species has green, oblong-aboval leaves of varied sizes (between 0,9 and 3,0 cm). Its flowers are of approximately 3-4 mm and fruits 6-7 mm. It has long, flagelliform branches, where the appressoria, structures that aid in the fixation of the parasite to the host, are formed. After the appresorium is fixed, the connection between parasite and host involves the penetration of the haustorium, a circular, dilated structure that invades the vascular tissues. The objective of this dissertation was to understand the pattern of parasitism of Struthanthus flexicaulis and its effects on the plant community over ironstone outcrops in Serra do Rola Moça State Park (MG). This dissertation was structured as follows: Resumo, Abstract, Chapters 1, 2 and 3, and Final Comments. Chapter 1 deals with the survey of hosts of S. flexicaulis in this environment and the anatomical description of the pattern of hemiparasitism in five hosts that are abundant in the area. In Chapter 2 the effects of parasitism on leaf cover and fruit production of M. calodendron was evaluated intending to access the effects of parasitism in individuals of different sizes. The population structure of M. calodendron is described here. Finally, in Chapter 3, the parasitism on different hosts was quantified, and the possible causes discussed. The results indicate that S. flexicaulis is a generalist, attacking more than 40 species in rupestrian ferruginous fields. Among several life forms the number of phanerophyte species attacked was the largest, possibly due to the permanence of their aerial parts during the whole year. Anatomical studies of five selected species showed that the parasite does not encounter any mechanical, anatomical or histochemical defense from their hosts, except Vellozia compacta (Velloziaceae). V compacta has a pseudocaule that prevents haustorium penetration and consequently the parasitism itself. The effects of parasitism on host fitness was studied in a population of 390 individuals 3 of M. calodendron. Host mortality may increase with parasitism, because with the exception of one individual, all others died associated with S. flexicaulis. The number of parasitized individuals increased with size. The leaf cover and the number of fruits produced by parasitized individuals were less than by non-parasitized ones. Heavily parasitized individuals of M. calodendron suffered a reduction of 75 to 95% of leaf cover, and all parasitized individuals produced less than 100 fruits (average production = 37), comparing with the non-parasitated that had an average production of 144. A consequence of these negative effects is the decrease of M. calodendron individuals throughout time. The influence of parasitism associated with the stressing abiotic factors may lead to the host’s death, influencing the permanence of M. calodendron in the area. The rate of parasitism per species was analyzed in an area of approximately 9 ha, in 208 quadrats of 16 m2. The most abundant species were M. calodendron (20,5%), Lychnophora pinaster (12,6%) (Asteraceae), Sebastiana glandulosa (9,9%) (Euphorbiaceae), Eriope macrostachya (7,7%) (Lamiaceae) and V. compacta (5,2%). In general, densest quadrats were the richest, contained more individuals of M. calodendron and more species were parasitized. S. flexicaulis showed two tendencies regarding the rates of parasitism, directly associated with the habit of the plants. Although parasitism in the community appeared random, given that most hosts were parasitized proportionally to their abundances, shrubs were more parasitized than herbs. This was attributed to the preference of the birds that disperse S. flexicaulis seeds. In spite of the random pattern, there are evidences that some species, such as M. calodendron, may be parasitized above the mean for their category, possibly indicating specificity. Keywords: canga, specificity, hosts, parasitism, Struthanthus flexicaulis. 4 Capítulo 1 Hospedeiras de Struthanthus flexicaulis (Mart.) Mart. (Loranthaceae) e caracterização anatômica do parasitismo. Resumo As plantas parasitas constituem um interessante grupo para diversos estudos ecológicos porque podem modificar a estrutura da comunidade em que estão inseridas. Os objetivos deste trabalho foram: realizar o levantamento das hospedeiras de S. flexicaulis em campos rupestres ferruginosos, discutir a preferência por formas de vida destas hospedeiras e identificar possíveis defesas e características anatômicas do processo de hemiparasitismo em cinco espécies de plantas comuns dos campos ferruginosos do Parque Estadual do Rola Moça pertencentes a diferentes famílias. Na área de estudo foram encontradas 85 espécies de plantas vasculares distribuídas em 34 famílias. Struthanthus flexicaulis parasitou 44 espécies de 19 famílias, sendo cinco monocotiledôneas, uma angiosperma basal e 13 . Estes números representam 52% das espécies parasitadas. As famílias que apresentaram o maior número de espécies parasitadas foram Asteraceae (8 espécies), Myrtaceae (4 espécies), Fabaceae e Orchidaceae (4 espécies cada). A comunidade vegetal dos campos ferruginosos apresentou alta diversidade e também elevada porcentagem de parasitismo. O estabelecimento da parasita foi maior em fanerófitas possivelmente devido a permanência de suas partes aéreas durante todo o ano. A anatomia das espécies escolhidas sugere que a parasita não encontra nenhuma defesa mecânica, anatômica ou histoquímica que impeça a penetração do haustório na interação com as hospedeiras, exceto em V. compacta. Palavras chaves: Anatomia, canga, hospedeiras, lista de espécies, Struthanthus flexicaulis. Introdução As plantas parasitas constituem um interessante grupo para diversos estudos ecológicos, pois podem modificar a estrutura e dinâmica da comunidade onde estão 5 inseridas, reduzindo a biomassa e alterando a alocação de recursos das espécies hospedeiras (Press & Phoenix, 2005). Apesar deste efeito negativo nas espécies parasitadas, podem também desempenhar papel benéfico na comunidade exercendo um efeito top down em suas hospedeiras. O impacto na estrutura da comunidade pode ser grande, principalmente se as espécies mais parasitadas forem as dominantes e o parasitismo permitir a existência de espécies competitivamente subordinadas (Press, 1998). Além disso, são utilizadas como fonte de recursos para uma variedade de organismos, entre eles polinizadores, dispersores (Aukema, 2003) tais como: 66 famílias de aves e 30 famílias de mamíferos, estendendo a 12 e 10 ordens respectivamente (Watson, 2001). Os principais dispersores de sementes das mais de 700 espécies das famílias Eremolepidaceae, Misodendraceae, Loranthaceae e Santalaceae (as duas últimas ocorrendo no Brasil) são aves, motivo pelo qual estas parasitas são vulgarmente conhecidas como ervas-de-passarinho (Arruda et al., 2006). A especificidade de hospedeiras nas plantas parasitas é um fator chave no estudo do grupo, embora não haja um padrão claro nem mesmo dentro de uma família (Norton & De Lange, 1999). Em ambientes homogêneos, onde há a predominância de apenas uma espécie, a especificidade pode ser vantajosa, pois aumentaria a eficiência na retirada de nutrientes e sais minerais da hospedeira. Na Nova Zelândia, as ervas-depassarinho Alepis flavida, Peraxilla colensoi e P. tetrapétala são especialistas parasitando diferentes espécies de Nothofagus (Norton & Carpenter, 1998). Entretanto, ser especialista em ambientes heterogêneos, onde muitas espécies são encontradas numa mesma área, pode ser desvantajoso, pois aumenta a dificuldade –seja por parte da planta ou do agente dispersor– de encontrar o hospedeiro específico, tornando inviável a sobrevivência em um ambiente onde este hospedeiro ocorre em baixas densidades (Norton & Carpenter, 1998; Arruda et al., 2006). Em condições ambientais severas, tais como altas temperaturas, baixa disponibilidade de água e escassez de solo, a falta de especificidade também seria vantajosa para o estabelecimento das parasitas. Foi sugerido que o grau de especificidade está relacionado não somente à abundância local como também ao grau de constância das hospedeiras no tempo e no espaço (Norton & Carpenter, 1998; Norton & De Lange, 1999), que facilita tanto o crescimento vegetativo quanto o recrutamento por sementes. Entretanto, a facilidade de encontrar a hospedeira é somente um dos fatores que contribuem para esta especificidade, junto com outros anatômicos e até químicos que promovem o reconhecimento da hospedeira e a formação do haustório (Rodl & Ward, 2002; Press & Phoenix, 2005; Arruda et al., 2006). 6 A família Loranthaceae é constituída de 75 gêneros (Calvin & Wilson, 2006), distribuídos em todos os continentes, exceto nos pólos (Calder & Bernardt, 1983). No Brasil foram descritas cerca de 100 espécies, distribuídas em dez gêneros (Souza & Lorenzi, 2005). São consideradas epiparasitas, porque crescem sobre o caule das hospedeiras, e hemiparasitas, porque retiram água e sais minerais de suas hospedeiras, mas possuem folhas clorofiladas capazes de realizar fotossíntese (Calder & Bernardt, 1983; Ehleringer et al., 1985; Calvin & Wilson, 2006). O interesse primário na pesquisa de Loranthaceae têm sido os aspectos anatômicos e embriológicos (Venturelli, 1981, 1984a, 1984b; Venturelli & Kraus, 1989) enquanto as relações hemiparasitahospedeiras têm sido comparativamente pouco estudadas. Entretanto, algumas pesquisas focalizando estas interações (Kuijt, 1969; Press & Grave, 1995; Dzerefos et al., 2003) sugerem que representantes desta família sejam generalistas, utilizando com sucesso uma grande variedade de espécies hospedeiras, graças à eficácia de suas raízes altamente especializadas do tipo haustório. Este padrão foi confirmado em lorantáceas brasileiras (Monteiro et al., 1992; Arruda et al., 2006). Os haustórios são as estruturas mais diversificadas em Loranthaceae que em qualquer outra família de plantas parasitas (Wilson & Calvin, 2005). São considerados os tipos mais comuns de raízes epicorticais, ocorrendo em mais de 55% de todos os gêneros aéreos desta família (Calvin & Wilson, 2006). O desenvolvimento do haustório pode ser estimulado ou inibido dependendo da interação fisiológica parasita-hospedeira e terá particularidades anatômicas que facilitarão em maior ou menor grau a fixação, germinação das sementes e penetração deste haustório no xilema das hospedeiras (Calvin & Wilson, 1995; Roxburgh & Nicolson, 2005). Vários relatos detalham variações no desenvolvimento do haustório em diferentes espécies de plantas parasitas, e uma mesma espécie de planta parasita pode reagir diferentemente a hospedeiras distintas (Knutson, 1983). As características estruturais dos galhos da hospedeira e disposição destes representam uma condição básica para uma possível ocorrência das ervas-depassarinho. A rugosidade dos galhos pode facilitar a fixação das sementes tornando-as resistentes à remoção causada por ação dos ventos e das chuvas (Arruda et al., 2006). Embora López & Ornelas (2002) não tenham encontrado nenhuma relação entre a sobrevivência das plântulas e características dos galhos, Arruda et al. (2006) afirmaram que galhos com diâmetros muito grandes, acima de 3,0 cm, podem dificultar a penetração do haustório. As ervas-de-passarinho se estabelecem melhor e sobrevivem 7 em galhos com diâmetros variando entre 1,0 e 1,4 cm (Sargent, 1995). Características anatômicas como a espessura do caule e a concentração de polifenóis nas células das hospedeiras, na medida em que aumentam, influenciam negativamente o sucesso do estabelecimento de espécies parasitas (Hariri et al., 1992). As aves dispersoras desempenham um papel fundamental no ciclo de vida da parasita depositando suas sementes diretamente nos galhos das plantas. Características como tamanho (Thompson & Mahall, 1983) e arquitetura das hospedeiras podem influenciar o comportamento destas aves, aumentando ou diminuindo a deposição de sementes (Overton, 1993; Aukema & Martinez del Rio, 2002a). Após a dispersão as sementes necessitam de uma hospedeira compatível, ou seja, que não apresente defesas efetivas contra a fixação, germinação e a penetração do haustório, pois se houver incompatibilidade, elas podem não ser capazes de se estabelecer ou podem não sobreviver caso se estabeleçam (Yan, 1993; Roxburgh & Nilcolson, 2005). De acordo com Aukema e Martinez del Rio (2002b), essas diferenças ocorrem devido a três fatores principais: 1) susceptibilidade diferencial dos hospedeiros ao ataque das parasitas (tanto estruturais (forma) quanto químicas); 2) deposição diferencial de sementes da parasita refletindo o hábito da ave dispersora conforme a preferência por poleiros e 3) diferenças anatômicas das espécies (estrutura dos tecidos) interferindo na persistência da parasita ao longo do tempo. A estrutura de algumas hospedeiras pode ser modificada durante o período seco, pois suas partes aéreas sofrem dessecamento. Raunkier (1934) propôs classificar as plantas através do grau de proteção dos pontos de crescimento (gemas apicais). O sistema de classificação consiste em 5 classes: fanerófitas (gema apical aérea, acima de 25 cm); caméfitas (gema apical acima do solo mas abaixo de 25 cm); hemicriptófitas (gema apical na superfície do solo); geófitas (gema apical abaixo do solo) e terófitas, composta pelas plantas anuais (Veloso et. al, 1991). Este trabalho teve dois objetivos. O primeiro foi realizar o levantamento das hospedeiras de S. flexicaulis em campos rupestres ferruginosos e discutir a preferência por formas de vida destas hospedeiras segundo a classificação proposta por Raunkier (1934) revista por Veloso et.al.(1991). O segundo foi identificar possíveis defesas e características anatômicas do processo de hemiparasitismo em cinco espécies de plantas comuns dos campos ferruginosos do Parque Estadual do Rola Moça pertencentes a diferentes famílias. Procurou-se caracterizar os padrões anatômicos de resposta ao parasitismo entre as espécies, observando apenas as características de defesa após o 8 estabelecimento das sementes. Para isso a seguinte pergunta foi formulada: 1) S. flexicaulis consegue parasitar diversas hospedeiras em função da ausência de mecanismos de defesas? Supõe-se que as plantas não apresentam defesas contra o parasitismo de S. flexicaulis. Materiais e métodos Caracterização da área O estudo foi realizado em uma área de canga couraçada no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, localizado a 35 km de Belo Horizonte (20° 03’ 60” S, 44° 02’ 00” W), porção noroeste do Quadrilátero Ferrífero, MG. Esta região, no sul da Serra do Espinhaço, está entre as áreas do Estado de Minas Gerais consideradas prioritárias para a conservação da biodiversidade, devido à sua diversidade, alta porcentagem de espécies endêmicas, e ameaças antrópicas, representadas principalmente pelas atividades de mineração a céu aberto (Drummond et al., 2005). O clima da região é do tipo mesotérmico, com uma pronunciada estação seca de abril a setembro e temperatura média anual de 25°C (IBRAM, 2003). A vegetação dos campos ferruginosos é dominada por monocotiledôneas como orquídeas, gramíneas, canelas-de-ema e dicotiledôneas como Mimosa calodendron (Fabaceae), Lychnophora pinaster (Asteraceae) e Stachytarpheta glabra (Verbenaceae) (Vincent, 2004; Jacobi et al., 2007). A comunidade vegetal estudada cresce sobre canga couraçada, um substrato muito compacto de minério de ferro, de coloração marrom a negra, com baixíssima erodibilidade, de porosidade e permeabilidade variáveis (Klein, 2000; Rosière & Chemale, 2000; Vilela et al., 2004). Os solos, incipientes e rasos, geralmente com acúmulo de matéria orgânica em pequenas fendas e depressões formadas no substrato, apresentam baixo teor de umidade e nutrientes, e alto teor de metais pesados (Vincent, 2004). Os ventos constantes e altos índices de radiação ultravioleta contribuem para a severidade do ambiente, agravada durante a estação seca. Struthanthus flexicaulis (Mart.) Mart. S. flexicaulis pertence à família Loranthaceae e é considerada uma das hemiparasitas brasileiras mais comuns, com ampla distribuição nas áreas de cerrado do Brasil Central (Rizzini, 1980). O hemiparasitismo é caracterizado pela capacidade da planta em fabricar açúcares através da fotossíntese, mas depende da retirada de água e 9 nutrientes das hospedeiras por meio de raízes especializadas (haustórios) sendo parcialmente dependentes destas. O transporte de água e nutrientes através do xilema ocorre devido a pressões negativas no topo da planta pela evapotranspiração nas folhas. O xilema contribui para o crescimento em espessura do corpo vegetal, em seu completo estágio de desenvolvimento, o xilema secundário constitui a madeira ou lenho. Essa água pode ser difundida basicamente de duas maneiras: 1) exclusivamente pelo espaço extracelular (apoplástico) sem atravessar qualquer membrana ou 2) movimentando-se através de uma rede de citoplasmas celulares (simplástico) no interior das células (Taiz & Zeiger, 2004). Quando ocorre o parasitismo estes dois mecanismos podem ser utilizados para a extração de água e sais minerais. Esta espécie possui ramos longos e flageliformes, onde se formam os apressórios, estruturas que facilitam a fixação da parasita nas hospedeiras. As folhas são verdes oblongo-abovaladas com tamanhos variados; e as flores e frutos pequenos (3-4 mm e 6-7 mm, respectivamente) (Fig. 1). O mesocarpo é composto por uma substância pegajosa (visco), sendo muito consumido pela Guaracava-de-topete Elaenia cristata (Tyrannidae), seu principal dispersor em campos rupestres quartizidicos na porção sul da Cadeia do Espinhaço (Guerra, 2005). Levantamento florístico Para o levantamento das hospedeiras de S. flexicaulis, foi percorrida uma área de campo ferruginoso de aproximadamente 9 ha, variando de 1350 a 1450m de altitude, durante o final da estação chuvosa e início da estação seca, nos meses de março a julho de 2006 (três dias/ mês). Restringiu-se a coleta de dados aos meses de março a julho porque durante a estação seca muitas geófitas perdem suas partes aéreas e as terófitas desaparecem e não seriam contabilizadas na amostragem. Todas as espécies de plantas vasculares foram identificadas. Aquelas sustentando ramos de S. flexicaulis foram examinadas externamente para verificar a formação de apressórios, estrutura que fixa a parasita ao caule das hospedeiras indicando a existência de haustórios ou a utilização apenas como suporte, folha modificada que se enrola no galho das hospedeiras. A lista das famílias de Angiospermas seguiu a classificação do Angiosperm Phylogeny Group – APG II (2003). Para caracterizar as formas de vida das hospedeiras, foram consideras as principais classes de Raunkiaer, revistas por Veloso et al. (1991). Anatomia do parasitismo 10 Para identificar possíveis defesas e características anatômicas do processo de hemiparasitismo de S. flexicaulis foram escolhidas cinco espécies comuns nos campos ferruginosos. Destas, quatro são arbustivas: Mimosa calodendron (Fabaceae), Lychnophora pinaster (Asteraceae), Stachytarpheta glabra (Verbenaceae), Eriope macrostachya (Lamiaceae) e uma herbácea, Vellozia compacta (Velloziaceae). Todas as espécies são fanerófitas, mas possuem características distintas próprias de cada família. As espécies escolhidas apresentam visualmente características distintas quanto à textura de caule. A rugosidade dos galhos varia em maior e menor grau entre as espécies escolhidas e em V. compacta o caule é recoberto por camadas de folhas (pseudocaule). As descrições anatômicas foram baseadas em ramos parasitados e não parasitados, que na sua maioria encontravam-se numa fase inicial do crescimento secundário. Fragmentos da hemiparasita e das cinco hospedeiras, com desenvolvimento de apressórios, em vários estágios de desenvolvimento dos haustórios, foram coletados e fixados em FAA (formaldeído 37–40%, ácido acético glacial e álcool etílico 50% 1:1:18 v/v) e armazenados em álcool etílico 70% (Johansen, 1940). Após a fixação, o material foi seccionado em cortes transversais e longitudinais com o auxílio de micrótomo de mesa Spencer e à mão livre. As secções foram clarificadas em hipoclorito e coradas pela mistura de azul de astra e safranina, ambos aquosos a 1%, na proporção 9:1 (v/v), e montadas em gelatina glicerinada de Kaiser (Kraus & Arduin, 1997). Testes histoquímicos foram realizados para um melhor entendimento da relação parasita/hospedeira visando a detecção de derivados fenólicos diretamente em material fixado em sulfato ferroso 4% em formalina (Johansen, 1940), por 48 horas. Os compostos fenólicos formam uma classe de compostos do metabolismo secundário quimicamente heterogêneo podendo ser tóxicos e conferir defesas químicas (alelopatia) e até mesmo mecânicas (lignificação dos tecidos) contra o ataque de herbívoros e parasitas (Crawley, 1997). Solução de cloreto férrico foi usada para evidenciar compostos fenólicos (Kraus & Arduin, 1997) e floroglucina ácida para identificar lignina (Kraus & Arduin, 1997). Além dos testes para a detecção de compostos fenólicos, foram realizados testes para lipídios e amido. Os lipídeos são importantes para a estruturação e funcionamento das plantas e desempenham várias funções, tais como armazenamento de energia, proteção contra a perda de água nos tecidos expostos (ceras), e ainda ativam defesas vegetais contra o ataque de muitos insetos e patógenos (Taiz & Zeiger, 2004). Faz parte deste grupo a suberina, uma camada cerosa e hidrofóbica, cuja deposição 11 (suberificação) ocorre como forma de reparo de lesões causadas nos tecidos vegetais. Tanto os lipídios quanto o amido são importantes no armazenamento de energia e integridade estrutural (componentes de açúcares e fosfato). O material-controle foi mantido em metanol por 36 horas antes da fixação. As substâncias lipídicas foram testadas com Sudan III em cortes transversais de material recém-coletado (Kraus & Arduin, 1997). As seções-controle foram mantidas em clorofórmio:metanol (1:1, v/v) aquecido a 600C por 90 minutos (Pearse, 1968). Para a detecção de amido foi utilizado o reagente de Lugol (Jensen, 1962). As seções-controle foram submetidas à digestão pela amilase salivar. Registros dos aspectos que mais se destacaram como característicos das plantas foram realizados através de fotomicrografias e desenhos do material seccionado com o auxílio do fotomicroscópio Olympus BH2-BHS com câmara clara acoplada, no Laboratório de Anatomia Vegetal do Departamento de Botânica da UFMG. Resultados e Discussão Na área de estudo foram encontradas 85 espécies de plantas vasculares distribuídas em 34 famílias, com predominância de (24 famílias). Struthanthus flexicaulis apresentou comportamento generalista, parasitando um total de 44 espécies de 19 famílias, sendo cinco monocotiledôneas, uma angiosperma basal e 13 (Tab. 1). Estes números representam 52% das espécies parasitadas. As famílias que apresentaram o maior número de espécies parasitadas foram Asteraceae (8 espécies), Myrtaceae (4 espécies), Fabaceae e Orchidaceae (4 espécies cada). Nas monocotiledôneas, os apressórios são formados principalmente nas folhas e inflorescências, com exceção de Vellozia spp., em que também foram encontrados apressórios no fruto e no pseudocaule. Nas demais angiospermas, os apressórios são formados principalmente nos ramos apicais (Tab. 1, Fig. 2). Além dos apressórios notou-se que as folhas da parasita se enrolavam nos galhos das hospedeiras, utilizandoos como sustentação. Não foi observado a formação de apressório em Tibouchina sp.. Houve predominância de hospedeiras fanerófitas (73%). Esta forma de vida, representada por nanofanerófitas (indivíduos abaixo de 2 e acima de 0,25 m, segundo Veloso et al., 1991) foi a mais freqüente na área de estudo, totalizando 64% das espécies. As caméfitas e hemicriptófitas, menos representativas, tiveram 14% de espécies parasitadas respectivamente. As formas de vida menos comuns, duas geófitas e 12 uma terófita, não foram parasitadas (Fig. 3). A representatividade de hospedeiras fanerófitas foi maior do que sua proporção no total de espécies. Uma das causas da especificidade por fanerófitas pode ser atribuída à permanência de suas partes aéreas durante todo o ano, facilitando o estabelecimento da parasita. Durante a estação seca no cerrado, o déficit hídrico pode ocorrer durante 5 a 7 meses (Nimer & Brandão, 1989). Muitas plantas com outras formas de vida – terófitas, geófitas, mas também caméfitas e hemicriptófitas – sofrem redução total, parcial ou dessecação das partes aéreas durante os meses de seca, fazendo com que as fanerófitas sejam as principais e mais confiáveis fornecedoras de água e nutrientes para S. flexicaulis. Muitas hospedeiras fanerófitas de S. flexicaulis corresponderam àquelas espécies preponderantes na paisagem estudada, e apontadas entre as mais abundantes em outros campos ferruginosos (Vincent 2004, Jacobi et al., 2007). Entre elas destacaram-se os subarbustos Mimosa calodendron, Lychnophora pinaster, Baccharis reticularia e Stachytarpheta glabra, e as orquídeas Sophronitis caulescens e Acianthera teres. Estes resultados corroboram outros trabalhos que mostraram que a abundância do hospedeiro pode favorecer a especificidade da parasita uma vez que as interações tornam-se freqüentes (Norton & Carpenter, 1998; Norton & De Lange, 1999). As Loranthaceae apresentam uma baixa especificidade por hospedeiros em comunidades heterogêneas como florestas tropicais úmidas, (Norton & Carpenter, 1998), savanas (Dzerefos et al., 2003) e cerrados (Arruda et al., 2006), em que abundâncias relativas das espécies são baixas quando comparadas a regiões temperadas. Nos cerrados, 47 espécies foram amostradas e destas, aproximadamente 18% estavam parasitadas (Arruda et al., 2006). Nota-se claramente que as espécies do cerrado foram bem menos parasitadas que as espécies deste trabalho. Os campos ferruginosos constituem um exemplo de comunidade vegetal com alta diversidade em que 52% das espécies amostradas foram parasitadas. Os cortes anatômicos permitiram visualizar a emissão de haustório e contato entre o sistema vascular da hospedeira com a hemiparasita nas espécies M. calodendron, L. pinaster, S. glabra e E. macrostachya (Fig. 2). Todas as espécies apresentaram crescimento secundário, mesmo quando o diâmetro do caule era inferior a 1 cm. Durante o crescimento secundário ocorre a deposição de novos tecidos vasculares e fibras aumentando o diâmetro do caule. Em M. calodendron e L. pinaster ocorre a presença de alta densidade pêlos tectores na epiderme, que poderiam facilitar a adesão das sementes da parasita em seus galhos. Durante a dispersão ornitocórica, as sementes 13 regurgitadas e depositadas nos galhos das hospedeiras podem ser removidas pela ação dos ventos fortes e das chuvas, muito comum em campos ferruginosos. Em todas as espécies estudadas observou-se a adesão do apressório (Fig. 2) e a penetração do haustório. O haustório, após atravessar a epiderme, desenvolve-se através do córtex (camada mais interna) e, dependendo do estágio de crescimento do caule, atravessa uma barreira mecânica passando por entre os feixes de fibras, até atingir o xilema secundário. Nas plantas sujeitas a déficit hídrico, como as espécies deste trabalho, os vasos condutores (xilema e floema) são estreitos, mais agrupados e bastante numerosos (Appezzato-da-Glória & Carmello-Guerreiro, 2004). Nos cortes, pode-se observar que o haustório entra em contato com o xilema secundário em ângulo reto ou de forma periférica, envolvendo-o parcialmente. Poucas vezes foi registrado o haustório dentro do xilema secundário. Nestas raras situações acredita-se que houve uma inserção do haustório pela continuidade de crescimento da hospedeira. O tipo de conexão entre o xilema da hospedeira e da hemiparasita sugere que a absorção de água e sais minerais ocorre por mecanismos simplastos (por entre as células) e apoplasto (espaço extracelular), como observado por Pate et al. (1898). Dentre as espécies estudadas, as características epidérmicas e peridérmicas não indicam nenhuma defesa efetiva para prevenir o parasitismo, uma vez que nenhuma delas apresenta propriedades esfoliativas que impediriam a fixação de sementes, a penetração das raízes sugadoras, ou outras características eficientes no impedimento do parasitismo. Em nenhuma das espécies parasitadas as barreiras mecânicas formadas por fibras e esclereides (células com paredes muito lignificadas e espessas) foram suficientes para um bloqueio efetivo da instalação e penetração do haustório. Em um ambiente estressante como a canga, estas espécies podem não investir em defesas contra o parasitismo porque estes mecanismos envolvem gastos de energia. Testes com floroglucina acidificada mostraram níveis diferenciados de lignificação entre as hospedeiras, mas sem conferir uma barreira mecânica (Fig. 4). Não foi observada nenhuma defesa histoquímica. Testes com Sudan mostraram que apenas em S. glabra houve uma ligeira suberificação próxima ao haustório, sem caracterizar um mecanismo de cicatrização que bloqueasse a penetração do mesmo. Em V. compacta, apesar de haver formação de apressório, não foi registrada a presença de parasitismo no caule, uma vez que esse é protegido por uma espessa camada de bainhas foliares mortas que impede o acesso do haustório ao caule. A formação de haustório nessa espécie ocorreu somente nas folhas. O haustório perfura a 14 lâmina foliar transversalmente sem um contato direto com o sistema vascular da hospedeira (Fig. 2). V. compacta, por possuir porte herbáceo e estrutura morfoanatômica (pseudocaule) com menor capacidade de instalação dos haustórios, foi considerada como suporte para a hemiparasita, sem um aparente fluxo de água e outros compostos entre elas. Testes com cloreto férrico não mostraram acúmulos de compostos fenólicos que indicassem uma resposta ao estresse nas hospedeiras, mas foram encontrados em S. flexicaulis. Estes testes demonstraram um acúmulo acentuado de compostos fenólicos principalmente no apressório e no haustório em todas as interações com as 5 espécies, não caracterizando uma resposta específica. Testes com lugol detectaram amido no apressório e no haustório de S. flexicaulis e em pequena concentração nas hospedeiras. O amido é uma forma de reserva de carboidratos e pode ser utilizado no crescimento dos tecidos vegetais (Larcher, 2000). A presença de amido em quantidades variáveis, no apressório e no haustório, foi freqüente, sem que uma relação direta possa ser estabelecida. A comunidade vegetal dos campos ferruginosos apresentou alta diversidade e também elevada porcentagem de parasitismo. O estabelecimento da parasita foi maior em fanerófitas possivelmente devido a permanência de suas partes aéreas durante todo o ano. A anatomia das espécies escolhidas demonstrou que a parasita não encontra nenhuma defesa mecânica, anatômica ou histoquímica na interação com as hospedeiras, exceto em V. compacta. As únicas ações eficientes registradas, no nível anatômico, para impedimento do parasitismo são: a espessura da periderme revestindo o caule, ou pela disposição de bainhas de folhas como em V. compacta, e a incapacidade de absorção do haustório em caules jovens e em folhas, devido à organização primária do tecido vascular nesses órgãos. As plantas dos campos ferruginosos devem enfrentar o efeito combinado de fatores estressantes como elevadas temperaturas, escassez de água, escassez de nutrientes e reduzida camada de solo e talvez por esse motivo não invistam em defesas contra o parasitismo. Referências bibliográficas Angiosperm Phylogeny Group. 2003. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants. APG II. Botanical Journal of the Linnean Society, 141: 399-436. 15 Appezzato-da-Glória, B. & Carmello-Guerreiro, S. M. 2004. Anatomia Vegetal. 2˚ed. Viçosa. 438 p. Arruda, R.; Carvalho, L. N.; Del-Claro, K. 2006. Host specificity of a Brazilian mistletoe, Struthanthus aff. polyanthus (Loranthaceae), in cerrado tropical savanna. Flora, 201: 127-134. Aukema, J. E.; del Rio, C. M. 2002 (a). Where does a fruit-eating bird deposit mistletoe seeds? Seed deposition patterns and an experiment. Ecology, 83: 3489-3496. Aukema, J. E.; del Rio, C. M. 2002(b). 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Forma de vida: Cam = caméfita, Fan = fanerófita, Geo = geófita, Hem = hemicriptófita, Ter = terófita. Local de formação de haustório: Inflor = inflorescência, Pseu = pseudocaule. Família Espécie Pteridófitas Polypodiaceae Microgramma squamulosa (Kaulf.) de la Sota Polypodium minarum Weath. Angiospermas Basais Lauraceae Ocotea tristis (Nees) Mez Piperaceae Peperomia decora Dahlst. Peperomia gallioides Kunth Monocotiledôneas Alstroemeriaceae Alstroemeria plantaginea Mart. Araceae Anthurium minarum Sakuragui & Mayo Bromeliaceae Aechmea bromeliaefolia (Rudge) Baker Billbergia minarum L.B.Sm. Dyckia cf. simulans L.B. Sm. Vriesea minarum L.B. Sm. Cyperaceae Bulbostylis fimbriata C.B.Clarke Lagenocarpus rigidus Nees. Orchidaceae Acianthera teres (Lindl.) Borba Epidendrum secundum Vell. Habenaria sp. Oncidium blanchetti Rchb.f. Prosthechea vespa (Vell.) W.E. Higgins Sophronitis caulescens (Lindl.) Van den Berg & M.W.Chase Poaceae Andropogon bicornis L. Andropogon ingratus Hack. Melinis minutiflora P. Beauv. Panicum sellowii Nees. Paspalum scalare Trin. Forma de vida Formação de Haustório Hem Hem - Fan Ramo Cam Cam - Geo - Cam - Hem Hem Hem Hem Folha Folha Folha Cam Cam Folha/Inflor Cam Cam Geo Cam Cam Cam Folha Inflor Inflor Folha Hem Hem Hem Hem Hem Folha/Inflor Folha 20 Tabela 1 – (continuação) Velloziaceae Vellozia compacta Mart. Vellozia crassicaulis Mart. ex Schult. f. Vellozia graminea Pohl. Acanthaceae Justicia riparia Kameyama Apocynaceae Ditassa mucronata Mart. Ditassa sp. Asteraceae Ageratum fastigiatum (Gardn.) R.M. King & H. Rob. Ageratum myriadenium R.M.King & H. Rob. Aspilia sp. Baccharis pingraea DC. Baccharis reticularia DC. Chromolaena sp. 1 Chromolaena sp. 2 Dasyphyllum candolleanum (Gardner) Cabrera Eremanthus erythropappus (DC.) N.F.F. MacLeish Koanophyllon adamantium (Gardn.) R.M. King & H. Rob. Lychnophora pinaster Mart. Symphyopappus brasiliensis (Gardn.) R.M.King & H Rob. Trichogonia sp. Trixis vauthieri DC. Stevia sp. Begoniaceae Begonia rufa Thunb. Cactaceae Arthrocereus glaziovii (K. Schum.) N.P.Taylor & D.C. Zappi Celastraceae Maytenus gonoclada Mart. Clusiaceae Clusia arrudae Planchon & Triana Convolvulaceae Evolvulus filipes Mart. Ipomoea sp. Euphorbiaceae Croton serratoideus Radcl.-Sm. & Govaerts Sebastiania glandulosa (Mart.) Pax Fabaceae Bauhinia rufa R.Grah. Copaifera langsdorffii Desf. Fan Cam Cam Folha/Pseu Fruto - Fan - Fan Fan - Fan Fan Fan Fan Fan Fan Fan Fan Fan Fan Fan Fan Fan Fan Fan Ramo Ramo Ramo Ramo Ramo Ramo Ramo Folha/Ramo - Fan - Cam - Fan Ramo Fan Ramo Cam Cam - Fan Fan Ramo Ramo Fan Fan Ramo Ramo 21 Tabela 1 – (continuação) Mimosa calodendron Mart. Periandra mediterranea Taub Lamiaceae Eriope macrostachya Mart. ex Benth. Vitex sellowiana Cham. Malpighiaceae Byrsonima variabilis A. Juss. Heteropterys sp. Melastomataceae Leandra australis (Cham.) Cogn. Microlicia sp. Tibouchina sp. Tibouchina multiflora Cogn. Meliaceae Cabralea canjerana (Vell.) Mart. Myrtaceae Eugenia sonderiana O.Berg Myrcia mutabilis (O.Berg) N.J.E. Silveira Myrcia splendens DC. Siphoneugena densiflora O.Berg Nyctaginaceae Guapira opposita (Vell.) Reitz Ochnaceae Ouratea semiserrata Engl. Portulacaceae Portulaca hirsutissima Cambess. Rubiaceae Alibertia vaccinioides K. Schum. Borreria cf. capitata (Ruiz & Pav.) DC. Coccocypselum lanceolatum Pers. Galiante angustifolia (Cham. & Schltdl.) Cabral Psychotria vellosiana Benth. Sapindaceae Matayba mollis Radlk. Solanaceae Solanum refractifolium Sendt. Solanum subumbellatum Vell. Styracaceae Styrax ferrugineus Nees & Mart. Verbenaceae Lantana camara L. Stachytarpheta glabra Cham. Vochysiaceae Vochysia sp. Famílias Total (34) Espécies Total (85) Fan Fan Ramo Ramo Fan Fan Ramo - Fan Fan Fan Fan Fan Fan Hem Folha Ramo Inflor/Ramo Fan - Fan Fan Fan Fan Ramo Ramo Ramo Ramo Fan Ramo Fan - Cam - Fan Ter Fan Fan Fan Ramo Ramo Ramo Fan - Fan Fan Ramo Fan Ramo Fan Fan Ramo Fan Parasitadas (19) Parasitadas (44) - 22 A B C D E Fig.1- Struthanthus flexicaulis (Mart.) Mart. A) Ramos longos e flageliformes com folhas verdes oblongo-abovaladas de tamanhos variados; B) Frutos; C) Botões e flores; D) Germinação da semente; E) Apressórios (indicados pela setas). Escala: Barra = 1cm 23 B A C Sf Er Sf Mc D E Sf Vc F Sf Mc Ha G Xi Mc Fig. 2 - A) Corte transversal de Struthanthus flexicaulis (Sf) e Eriope macrostachya (Er). Assinalado pela seta, nota-se o início da emissão do haustório; B) Detalhe da fixação da hemiparasita no galho de Mimosa calodendron (Mc); C) Haustório de S. flexicaulis (Sf) em contato com o xilema de M. calodendron (Mc) D e E) Parasitismo observado na folha de Vellozia compacta (Vc); F) Corte transversal de S. flexicaulis (Sf) e M. calodendron (Mc), nota-se o haustório em contato com o xilema da hospedeira; G) Detalhe da figura F, haustório de S. flexicaulis (Ha) em contato com o xilema (Xi) de M. calodendron. Escalas: Cortes anatômicos – barra = 200µc; fotos – barra = 1cm 24 A) B) Fig. 3- Classificação das espécies em Formas de vida: Fanerófitas (fan) =gema apical acima de 25 cm; Caméfita (cam) = gema apical acima do solo mas abaixo de 25 cm; Hemicriptófita (hem) = gema apical na superfície do solo; Geófita (geo) = gema apical abaixo do solo e Terófita (ter)= plantas anuais. A) estrutura da comunidade e B) espécies parasitadas. Teste Hospedeiras Hemiparasita Cloreto Férrico (compostos fenólicos) Sudan (suberina) Lugol (amido) Floroglucina acidificada (lignina) Sem acúmulo Alta concentração Ausente Ligeira suberização Baixa concentração Anéis de fibras floemáticas ou pericíclicas Alta concentração Esclereídes Fig. 4- Resultado dos testes histoquímicos realizados com as cinco hospedeiras e a hemiparasita S. flexicaulis. 25 Capítulo 2 Efeitos do parasitismo de Struthanthus flexicaulis (Loranthaceae) sobre uma população de Mimosa calodendron (Fabaceae). Resumo O valor adaptativo das hospedeiras pode ser influenciado pelo parasitismo. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do parasitismo de Struthanthus flexicaulis sobre uma população de Mimosa calodendron em um afloramento ferruginoso, espécie dominante na vegetação de canga. A estrutura populacional de M. calodendron foi analisada a partir de 390 indivíduos e o número de indivíduos parasitados aumentou conforme o aumento do diâmetro da copa. A maior proporção de indivíduos parasitados (76,92%) foi observado em plantas de diâmetro da copa superior a 170 cm. O aumento do índice de parasitismo (IP) teve correspondência com maior redução da cobertura foliar da hospedeira e menor produção de frutos. De uma maneira geral, mimosas muito parasitadas (IP > 1,5) apresentaram copas de 75 a 95% menores. As hospedeiras parasitadas produziram menos de 100 frutos e as não parasitadas produziram em média 144 frutos, sendo este valor muito variado. A influência do parasitismo e os fatores abióticos podem levar a hospedeira à morte influenciando negativamente a permanência de M. calodendron na canga e possivelmente regulando a comunidade favorecendo a diversidade local. Palavras chaves: Canga, cobertura foliar, índice de parasitismo, Mimosa calodendron, produção de frutos, Struthanthus flexicaulis. Introdução O valor adaptativo (ou fitness) de um organismo é definido como sua contribuição à geração seguinte na população, então fatores que afetem a produção e viabilidade das sementes estão entre os mais importantes a serem avaliados. A produção de frutos e sementes em uma planta pode ser reduzida por muitos fatores, dentre os quais se encontra o parasitismo (Press & Phoenix, 2005). As plantas parasitas podem alterar as taxas de sobrevivência e fecundidade de suas hospedeiras e, portanto 26 modificar a estrutura e dinâmica de populações (Press & Phoenix, 2005) e consequentemente das comunidades. De acordo com Graves (1995), os efeitos do parasitismo geralmente podem ser compreendidos por uma combinação de quatro fatores: 1) o tamanho da parasita; 2) a taxa de crescimento e atividade metabólica da parasita; 3) o grau de dependência dos recursos retirados das hospedeiras e; 4) o estágio de desenvolvimento da hospedeira. O crescimento da parasita implica em aumento na retirada de nutrientes e água das plantas parasitadas. A água torna-se um fator crítico quando a retenção desta no ambiente é baixa e a temperatura é elevada. Além disso, a presença das parasitas eleva as taxas de transpiração de suas hospedeiras (Bowie & Ward, 2004). Assim acabam causando estresse hídrico nas plantas parasitadas (Bowie & Ward, 2004). Em alguns casos, a influência do parasitismo chega a extremos, podendo levar sua hospedeira à morte (Aukema, 2003). A retirada de água e nutrientes das hospedeiras, necessários à sobrevivência das parasitas, acontece por meio de haustórios, uma estrutura circular e dilatada que invade tecidos vasculares (Riopel & Timko, 1995; López de Buen & Ornelas, 2002). Ao invadir o sistema vascular das hospedeiras, as parasitas podem alterar o crescimento, alometria, reprodução e fisiologia das mesmas reduzindo significativamente seu desempenho (Press et al., 1999). O parasitismo de Pinus por Psittacanthus ssp. (Loranthaceae) reduz seu crescimento devido à perda de cobertura foliar e remoção de nutrientes e água (Howell & Mathiasen, 2004). Os efeitos na alometria e arquitetura das hospedeiras podem reduzir a capacidade fotossintética e alterar as taxas de respiração (Ehleringer et al., 1985). O tempo de infestação da parasita é outro fator muito importante na determinação da magnitude da redução do crescimento das hospedeiras (Howell & Mathiasen, 2004). As hospedeiras podem apresentar suscetibilidade diferencial ao ataque das parasitas (Aukema & Martinez del Rio, 2002). Dentro de uma população este fato deve ocorrer uma vez que as plantas apresentam estágios de desenvolvimento diferenciados como idade e tamanho. Quando os indivíduos de uma população são analisados isoladamente, nota-se que num intervalo de tempo, enquanto alguns crescem, outros permanecem do mesmo tamanho, alguns se reproduzem e outros morrem em idades préreprodutivas (Figueira, 1998). Muitas hospedeiras desenvolvem resistência ao parasitismo criando mecanismos de defesa (Aukema, 2003). Estes mecanismos incluem características físicas (arquitetura da hospedeira) que impedem a deposição da semente e/ou defesas estruturais e bioquímicas que previnem o estabelecimento das plântulas 27 depois que a semente foi depositada (Reid et al., 1995; Medel, 2000). O estágio de desenvolvimento da hospedeira pode contribuir para a deposição diferencial de sementes da parasita pela ave dispersora refletindo seu padrão de preferência por poleiros e diferenças anatômicas das espécies interferindo na persistência da parasita ao longo do tempo (Aukema & Martinez del Rio, 2002). As sementes depositadas necessitam fixar-se ao galho das hospedeiras, pois uma conexão entre a semente e a hospedeira é essencial para o estabelecimento e sobrevivência das plântulas da parasita (Norton & Carpenter, 1998). Se não houver esta conexão, não ocorrerá a penetração do haustório e estas plântulas não sobreviverão (Roxburgh & Nilcolson, 2005). O desenvolvimento das plântulas da parasita é dependente da “qualidade” das hospedeiras, ou seja, dos recursos disponíveis para seu crescimento (Press & Phoenix, 2005). Estas plântulas sobrevivem melhor em hospedeiras mais abundantes (Roxburgh & Nicolson, 2005) e ricas em nitrogênio, como as leguminosas (Bowie & Ward, 2004). Por esse motivo, hospedeiras mais ricas nutricionalmente são as mais afetadas. Isto ocorre porque a sobrevivência e reprodução da parasita é aumentada nestas hospedeiras (Kelly, 1990). A maioria das Loranthaceae é generalista (Kuijt 1969; Press & Grave 1995; Dzerefos et al., 2003). Estudos de autores como Guerra (2005) e Mourão et al. (2006) encontraram o mesmo para Struthanthus flexicaulis, confirmando o padrão observado por Norton & Carpenter (1998) para Loranthaceae em regiões tropicais. Por ser uma hemiparasita, S. flexicaulis realiza fotossíntese, mas retira água e sais minerais de suas hospedeiras. A dispersão desta hemiparasita pode ocorrer de duas maneiras: através da deposição de sementes regurgitadas pelas aves dispersoras (dispersão ornitocórica), motivo pelo qual são vulgarmente conhecidas como erva-de-passarinho (Arruda et al., 2006), ou através da emissão de ramos a vizinhas mais próximas (dispersão vegetativa). O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do hemiparasitismo de Struthanthus flexicaulis sobre uma população de Mimosa calodendron em um afloramento ferruginoso. Para isso as seguintes perguntas foram formuladas: 1) Como está estruturada a população de M. calodendron? 2) O parasitismo afeta igualmente os indivíduos de M. calodendron de tamanhos diferentes na população? Supõe-se que os diversos estágios de M. calodendron serão afetados de maneira desigual pelo parasitismo. 28 Métodos Área de estudo Este estudo foi realizado em uma área de campo rupestre sobre canga, localizado no Parque Estadual da Serra do Rola Moça - MG (20o03’60”S, 44o02’00”W), região sul do Quadrilátero Ferrífero (QF). O QF é uma área prioritária para a conservação no Estado de Mina Gerais, pois apresenta elevada diversidade biológica, muitas espécies endêmicas e está sujeito a fortes pressões antrópicas (Drummond et al., 2005). O clima da região é caracterizado por uma pronunciada estação seca de abril a setembro e temperatura média anual é de 25°C. Os campos rupestres ferruginosos apresentam alta incidência solar, reduzida camada de matéria orgânica, escassez de água e solos escassos com elevadas concentrações de metais pesados (Silva et al., 1996; Klein, 2000; Rosière & Chemale, 2000; Vilela et al., 2004). Nestes campos a vegetação possui diversas adaptações morfológicas e fisiológicas necessários à sua sobrevivência a estes fatores tais como, folhas coriáceas ou suculentas, modificação de órgãos em estrutura de reserva, pêlos nas folhas (Viana & Lombardi, 2007), necessárias ao seu estabelecimento, pois devem enfrentar o efeito combinado destes fatores estressantes. A vegetação é baixa, composta por poucos indivíduos de porte arbóreo, dominada por como Asteraceae, Fabaceae e Myrtaceae e monocotiledôneas como Poaceae, Cyperaceae e Orchidaceae (Vincent, 2004). Algumas espécies são de extrema importância, como é o caso de Mimosa calodendron, uma leguminosa dominante que contribui para a estruturação desta comunidade (Jacobi et al., 2007). Sua copa produz sombra que ameniza a temperatura do solo facilitando o estabelecimento de outras espécies. Struthanthus flexicaulis Mart. (Mart.) Struthanthus é um dos principais gêneros de plantas parasitas no cerrado brasileiro e é composto por 16 espécies, todas hemiparasitas (Barboza, 2000). O hemiparasitismo é caracterizado pela capacidade da erva de passarinho em fabricar açúcares através da fotossíntese, mas depende da retirada de água e nutrientes das hospedeiras (Calder & Bernardt, 1983; Ehleringer et al., 1985; Calvin & Wilson, 2006). Possui ramos longos, flageliformes, folhas oblongo-abovadas, com flores e frutos pequenos (3-4 mm e 6-7 mm respectivamente). Seus frutos contêm uma substância pegajosa no mesocarpo 29 (visco) responsável pela adesão ao substrato (Rizzini, 1995), sendo consumidos e dispersados principalmente pela Guaracava-de-topete Elaenia cristata (Tyrannidae) (Guerra, 2005). As sementes regurgitadas são depositadas nos galhos das hospedeiras e quando se estabelecem formam o haustório primário. Quando as sementes germinam e crescem, outro mecanismo de dispersão de Struthanthus flexicaulis é observado. A parasita se fixa, através de raízes epicorticais caulinares (Calvin & Wilson, 2006), em diversas partes das hospedeiras tais como caules, folhas e inflorescências (Mourão et al., 2006). Estes ramos emitidos podem atingir a vizinha mais próxima e, através do contágio, dispersar vegetativamente. Mimosa calodendron Mart. Mimosa calodendron (Fabaceae) é uma leguminosa abundante nos campos rupestres sobre canga, e freqüentemente atacada pela hemiparasita Struthanthus flexicaulis (Loranthaceae). Acredita-se que M. calodendron seja endêmica dos campos rupestres sobre canga do Quadrilátero Ferrífero (Barneby, 1991). Esta hospedeira é perene e de porte arbustivo, o que permite que seja utilizada como poleiro por diversas aves, inclusive as dispersoras de S. flexicaulis. M. calodendron tende à agregação (vide cap. 3), pois a maioria de suas sementes cai próximo da planta-mãe e quando se estabelecem formam grandes manchas verdes na paisagem. Estas manchas são facilmente localizadas pelas aves, que depositam as sementes de S. flexicaulis regurgitadas, promovendo a dispersão. Coleta de dados Para a análise do efeito do parasitismo, foi demarcada uma área de 80 x 40m2 onde todos os indivíduos de M. calodendron foram marcados. Nestes indivíduos foram tomadas medidas de altura total e diâmetro máximo. Em seguida, estes mesmos indivíduos foram ainda separados em categorias: parasitado ou não parasitado; vivo ou morto; e com deposição de sementes de S. flexicaulis e/ou parasitas que apresentavam um ou mais haustórios secundários. Os haustórios secundários se formam através do contato do ramo da parasita com o galho das hospedeiras. Já o primário se forma através da conexão da semente da parasita e o galho das hospedeiras (vide cap.1). Os indivíduos foram separados em classes de tamanho, avaliadas pelo diâmetro máximo. Esta escolha foi baseada no hábito da parasita que utiliza a copa das hospedeiras para se fixar e retirar os nutrientes e água. Além disso, utilizando uma correlação de Spearman, foi 30 demonstrado que a altura dos indivíduos está correlacionada com o diâmetro máximo (rs=0,732; n= 342; p<0,0001). Os indivíduos com diâmetro de copa menor que 30 cm localizados dentro desta área não estavam parasitados e por esse motivo foram incluídos apenas na análise da estrutura populacional. Os dados de cobertura foliar e produção de frutos foram coletados durante a estação chuvosa, nos meses de janeiro a abril de 2006. Para analisar o efeito de S. flexicaulis sobre a cobertura foliar de M. calodendron foram escolhidos 50 indivíduos parasitados. Utilizou-se um quadrado de 100 cm2, que foi colocado sobre a copa da hospedeira em três diferentes localizações (formando um triângulo) e estas áreas foram fotografadas. Em laboratório, através de registro fotográfico foram calculadas as porcentagens de cobertura foliar. As hospedeiras foram medidas em sua altura total e diâmetro máximo. A área da copa foi estimada através do cálculo da área de uma circunferência (πR2) onde R = diâmetro máximo/2. Para avaliar o efeito na produção de frutos de mimosas, 60 indivíduos (30 não parasitados e 30 parasitados) foram marcados e as medidas de altura e diâmetro foram tomadas para cálculo da área da copa. Em cada indivíduo (parasitado e não parasitado) foram coletados todos os frutos situados dentro de uma moldura de área de 300cm2, que foi colocada aleatoriamente sobre a copa da mimosa. Em laboratório o número de frutos foi contabilizado. Para estimar o índice de parasitismo (IP), foram realizados transectos paralelos distantes 10 cm um do outro que se iniciavam a 10 cm da copa das mimosas, e o número de toques dos ramos da parasita (NT) foram contabilizados (Fig.1). Ao final, os valores obtidos foram somados e divididos pela área (A). O IP é utilizado para estimar o tamanho de S. flexicaulis dentro da copa das hospedeiras. Os indivíduos de mimosa não parasitados (NP) receberam o valor zero. Indivíduos na fase inicial da infestação (quando forma-se o primeiro haustório) receberam o valor 1 dividido pela área da mimosa. Como os resíduos não apresentaram distribuição normal, a Correlação de Spearman foi utilizada para relacionar a área da copa das mimosas com o IP. Para avaliar a emissão de ramos da parasita para fora das copas das hospedeiras, 20 indivíduos de mimosas parasitados foram marcados e as medidas de altura total, e diâmetro máximo foram tomadas. Calculou-se o IP e contou-se o número de ramos da parasita emitidos que saíam das copas das hospedeiras. 31 Legenda Parasita Mimosa Transectos Distância (borda e entre transectos) 10cm Fig.1- Metodologia utilizada para o cálculo do Índice de Parasitismo IP=Σ ( NT) / A. Análises estatísticas Utilizou-se logaritmo na base 10 para homogeneizar a variância dos dados. Correlações de Spearman foram utilizadas para avaliar as relações entre o índice de parasitismo (IP) com a área das mimosas, a cobertura foliar e o número de frutos produzidos. Utilizou-se regressão linear para verificar a influência do parasitismo sobre a produção dos frutos de M. calodendron parasitadas e não parasitadas, e para relacionar o número de ramos produzidos com o IP. Resultados Neste estudo, 390 indivíduos foram avaliados para a descrição da estrutura populacional de Mimosa calodendron. O grupo de mimosas separado em classes de diâmetro e em categorias de formas de parasitismo está representado nas Figs. 2 e 3. A altura dos indivíduos variou de 15 a 155 cm e o diâmentro máximo da copa de 10 a 210 cm. Nesta população apenas um indivíduo estava morto sem estar parasitado, os demais (43) apresentavam vestígios da parasita ou ramos vivos que buscavam novas hospedeiras. A altura dos indivíduos mostrou-se correlacionada com o diâmetro da copa (rs=0,732; n= 342; p<0,0001). O número de indivíduos parasitados e a mortalidade aumentaram, com pequenas variações, conforme o aumento do diâmetro da copa de M. calodendron (Fig.2). O maior número de indivíduos parasitados (76,92%) foi observado em plantas de diâmetro superior a 170 cm. Mimosas com diâmetros menores (10-30 cm) não foram parasitadas. O parasitismo na segunda classe (diâmetro entre 30 e 50 cm) foi o menor (24%) e apenas 2% dos indivíduos estavam mortos. Ao analisar a forma de parasitismo, poucas eram as hospedeiras parasitadas apenas por deposição de sementes. Este depósito ocorreu na primeira (30-50 cm), na 32 quinta (111-130 cm) e nas duas últimas (<151 cm) classes de diâmetro (Fig. 3). Os indivíduos parasitados apenas por parasita com pelo menos um haustório secundário, ocorreram em grandes proporções nas classes intermediárias de diâmetro da copa da hospedeira. Esta amostragem representa a dispersão vegetativa. A porcentagem de parasitismo por ramos diminui com o aumento das classes de diâmetro, ocorrendo o inverso entre as plantas parasitadas por sementes e estes mesmos ramos. Em diâmetros maiores (> 131 cm), o parasitismo por deposição de sementes e por ramos com haustórios secundários foi aproximadamente 40, 67 e 63 % nas três últimas classes, respectivamente. O índice de parasitismo esteve positivamente correlacionado com a área da copa das mimosas (Fig.4). Os ramos da parasita crescem, emitem ramos laterais que se prendem em novos galhos da hospedeira formando haustórios secundários. A equação que descreve esta reta é y= -3.408 + 1.504x (r2 =0,418). Como o índice de parasitismo aumenta com o aumento da área da copa, então em hospedeiras de copas maiores a parasita pode emitir mais ramos. A emissão de ramos pela parasita está correlacionada positivamente com o índice de parasitismo (y=3.772 + 1.340x; r2= 0,514 n=19 p<0,001) (Fig.5). Nas 50 mimosas utilizadas para avaliar a perda de cobertura foliar, o IP variou de 0,008 a 2,496. Observou-se que, quanto maior o valor de IP menor era a cobertura foliar (Fig. 6). Obteve-se correlações negativas significativas entre o índice de parasitismo e cobertura foliar (rs= 0,508; n= 47 p<0,0001). Mimosas muito parasitadas (IP > 1,5) apresentaram copas de 75 a 95% menores que indivíduos não parasitados. As porcentagens de cobertura foliar variaram de 7 a 95%. Nas 60 mimosas utilizadas para avaliar a produção de frutos, o valor do IP dentre as parasitadas variou de 0,005 a 0,028. De uma maneira geral, todas as hospedeiras parasitadas produziram menos de 100 frutos. A exceção foi uma hospedeira cujo valor do IP foi de 0,015 que produziu 207 frutos. Em média, as hospedeiras parasitadas produziram 37 frutos. Dentre as hospedeiras não parasitadas, houve variação no número de frutos produzidos, porém 60% dos indivíduos produziram mais de 100 frutos. O maior número de frutos produzidos foi de 385 e a média foi de 144. Quanto maior o índice de parasitismo menor o número de frutos produzidos (Fig.7). A correlação negativa entre o índice de parasitismo e a produção de frutos foi de rs = 0,700; n=57 p<0,0001. 33 A) B) Fig. 2 – Estrutura populacional de Mimosa calodendron. A) Número de indivíduos em valores absolutos e B) porcentagens. Não parasitados Parasitados Mortos. A) B) Fig. 3 - Formas de parasitismo em indivíduos de Mimosa calodendron. A) Número de indivíduos em valores absolutos e B) Porcentagens. Deposição de sementes Haustório secundário Sementes e haustório secundário 34 6 Log Parasitismo 5 4 3 2 1 0 2 3 4 5 Log Área (cm2) 6 Fig. 4 - Relação entre a área da copa dos indivíduos de M. calodendron e o índice de parasitismo IP ( rs= 0,627; n=47; p<0,0001). 120 Número de ramos 100 80 60 40 20 0 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 Índice de parasitismo 1.2 Fig. 5 - Relação entre o índice de parasitismo e o número de ramos emitidos pela parasita para fora da copa. (y=3.772 + 1.340x; r2= 0,514 n=19 p<0,001) 35 Log Cobertura Foliar 5 4 3 2 1 0 1 2 Índice de Parasitismo (IP) 3 Fig. 6- Relação entre o índice de parasitismo e a cobertura foliar de Mimosa calodendron (rs= 0,508; n= 47 p<0,0001). 6 Log Frutos 5 4 3 2 1 0 0 1 2 Índice de Parasitismo 3 Fig. 7 - Relação entre o índice de parasitismo e a produção de frutos de Mimosa calodendron.(y= 4.671- 1.127x; n= 57 r2= 0,465 p<0,0001). 36 Discussão Dentro de uma população de hospedeiras, indivíduos maiores tendem a ser mais parasitados (Norton et al., 1995; Aukema & Martinez Del Rio, 2002). Os resultados obtidos neste trabalho corroboram tal afirmação. Isso pode ser explicado pelas estratégias de dispersão adotadas pela parasita. Na dispersão ornitocórica, as aves são responsáveis por depositar as sementes de S. flexicaulis em indivíduos de M. calodendron que lhes são mais atrativos como poleiro, abrigo e alimento representado pelos frutos da própria parasita. O encontro de plantas mais baixas para serem utilizadas como poleiro pode ser dificultada, pois plantas maiores são mais visíveis. A altura das hospedeiras tende a ser positivamente correlacionada com a intensidade de infestação da parasita (Overton, 1994; Lei, 1999). Na dispersão vegetativa a passagem de ramos da parasita de uma hospedeira a outra pode ser influenciada pelo tamanho das mimosas. Como as hospedeiras maiores são as mais parasitadas, é mais provável que os ramos emitidos por estas plantas atinjam vizinhas de alturas semelhantes, intensificando ainda mais o parasitismo entre estes indivíduos. O tamanho das hospedeiras influencia as taxas de sobrevivência e a fecundidade das parasitas. Para crescer e investir em estruturas reprodutivas, S. flexicaulis necessita retirar mais água e nutrientes de suas hospedeiras. Da mesma forma, a sobrevivência e reprodução das hospedeiras dependem do tamanho da parasita (Kelly, 1990). Mimosas muito grandes (diâmetro acima de 170 cm) podem ser capazes de sobreviver ao ataque de S. flexicaulis, pois estas hospedeiras podem apresentar um sistema radicular mais desenvolvido capaz de absorver mais água. Em contrapartida, o ataque da parasita diminui os recursos disponíveis para que estas hospedeiras invistam em crescimento e reprodução. Em casos extremos de parasitismo a mortalidade pode ocorrer, pois a retirada de recursos pela S. flexicaulis somada às condições edafo-climáticas da canga aumentam ainda mais o estresse na hospedeira. A canga é caracterizada pela escassez de água, nutrientes, reduzida camada de solo e elevadas temperaturas e altas concentrações de metais pesados no solo são fatores limitantes (Silva et al., 1996; Vincent, 2004). Entretanto, no período de amostragem as hospedeiras deveriam estar vigorosas, pois o estresse hídrico foi minimizado pelas chuvas. No período seco a mortalidade de M. calodendron possivelmente aumentaria já que se agrava a escassez de água. Houve predominância de parasitas com haustórios secundários em todas as classes de diâmetro, mas a proporção parasitada por sementes e parasitas com 37 haustórios secundários aumentou consideravelmente da primeira à última classe. Isto indica uma provável tendência das sementes serem depositadas no mesmo indivíduo ou em indivíduos mais próximos, podendo levar a agregação da parasita. O parasitismo inicial aumenta as chances de novas infecções, pois hospedeiras já parasitadas podem oferecer frutos da erva-de-passarinho às aves. Estas aves acabam depositando novas sementes na mesma hospedeira. Uma das causas atribuídas à agregação de parasitas tem sido a limitada dispersão das sementes (ornitocórica) que resulta em altas taxas de reinfecção (Overton, 1994). Entretanto, vários estudos têm investigado os processos populacionais que induzem a distribuição agregada de parasitas em hospedeiras e as causas têm sido atribuídas a diferenças na imunidade ou diferenças na taxa de parasitismo (Hassel & May, 1989; Dobson, 1989). Em indivíduos maiores o índice de parasitismo aumenta, demonstrando que a permanência da erva-de-passarinho na copa das mimosas é aumentada, intensificando seus efeitos sobre a hospedeira. Os efeitos de S. flexicaulis são intensificados e uma perda considerável da cobertura foliar é observada. Neste estágio, deve ocorrer a redução nas taxas fotossintéticas (Crawley, 1997) e possivelmente um estresse hídrico na hospedeira. A perda de folhas das hospedeiras pode fazer com que o investimento em estruturas reprodutivas seja menor, pois a planta necessita utilizar a energia armazenada para manter as funções vitais. Os efeitos da defoliação são maiores em plantas mais jovens, sendo criticamente dependente da idade em que ocorre a perda de folhas (Crawley, 1997). Uma simulação de remoção de 10% da cobertura foliar do arbusto Piper arieianum (Piperaceae) nos primeiros estágios de vida (3 meses antes da floração) teve um impacto muito grande no número total de sementes produzidas (Marquis, 1992). Os efeitos negativos do parasitismo sobre os indivíduos de M. calodendron podem ocorrer em cascata. A diminuição no número de folhas provoca uma redução na capacidade fotossintética da hospedeira. Para tentar suprir esta redução na fotossíntese, a planta poderá investir em reposição de novas folhas. Com isso, a alocação de recursos para a reprodução diminui e o número de estruturas reprodutivas produzidas torna-se menor. Altera-se o número de frutos produzidos (Crawley, 1997). Assim, a contribuição das hospedeiras a gerações futuras diminui ao longo do tempo. A mortalidade pode ser aumentada pelo parasitismo, pois com exceção de um único indivíduo, todos os que morreram estavam associados a S. flexicaulis. A mortalidade foi maior em hospedeiras maiores e nessas classes de tamanho a probabilidade de produzirem mais frutos é maior quando comparadas a hospedeiras menores (Silvertown & Lovett-Doust, 1993). Como 38 já mencionado, um efeito extremo do parasitismo pode levar à morte da hospedeira (Aukema, 2003), mas a mortalidade causada exclusivamente por parasitismo é muito difícil de ser avaliada. Os fatores abióticos como escassez de água, nutrientes e elevadas temperaturas, poderiam, juntamente com o parasitismo, influenciar negativamente a permanência de M. calodendron na canga. Bibliografia Arruda, R.; Carvalho, L. N. & Del-Claro, K. 2006. Host specificity of a Brazilian mistletoe, Struthanthus aff. polyanthus (Loranthaceae), in cerrado tropical savanna. Flora, 201: 127-134. Aukema, J. E. & del Rio, C. M. 2002. 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A espécie mais abundante foi Mimosa calodendron (Fabaceae) representada por 1820 indivíduos sendo 66,4% parasitados. M. calodendron pode servir como fonte disseminadora de propágulos da parasita para os demais indivíduos. S. flexicaulis mostra duas tendências de parasitismo relacionadas com o hábito da hospedeira. As subarbustivas/arbustivas podem ser parasitadas tanto pela deposição de sementes pela ave dispersora (dispersão ornitocórica) quanto emissão de ramos de S. flexicaulis vindos de hospedeiras vizinhas (dispersão vegetativa). Já as hospedeiras herbáceas são parasitadas apenas pela dispersão vegetativa. Por exemplo, a sub-arbustiva/arbustiva B. reticularia, representada por 307 indivíduos na comunidade, teve 121 parasitados, já a gramínea classificada como herbácea Andropogon ingratus esteve representada por 353 indivíduos e destes apenas 20 parasitados. Ainda, apesar de a maioria das espécies terem sido parasitadas proporcionalmente de acordo com suas abundâncias, algumas mostram taxa de parasitismo acima dos valores médios, como M. calodendron. Palavras chaves: Canga, comunidade vegetal, formas de dispersão, Struthanthus flexicaulis. Introdução Fatores como o clima, o solo e as interações ecológicas impõem limites para a sobrevivência, reprodução e estabelecimento das plantas (Larcher, 2000). Condições ambientais muito severas, como escassez de água e nutrientes, impedem o estabelecimento de muitas espécies e limitam o crescimento de outras (Larson et al., 43 2000). Afloramentos rochosos caracterizam-se por muitas destas condições adversas (Ribeiro et al., 2006). A superfície da rocha constitui uma barreira ecológica para muitas plantas devido à baixa capacidade de retenção de água, escassez de nutrientes, dificuldade na retenção e germinação de sementes, exposição a ventos fortes e insolação (Larson et al., 2000). As plantas de afloramentos rochosos são adaptadas a crescer em solos pobres, rasos e com tendência a deficiência hídrica, crescem vagarosamente e frequentemente apresentam porte pequeno, possibilitando a manutenção da concentração adequada de minerais e água nos tecidos (Larson et al., 2000). Uma exceção ao que foi exposto acima são as plantas parasitas, cuja distribuição é menos afetada por condições edáficas, hidrológicas e nutricionais, devido à capacidade de retirar água e nutrientes das hospedeiras (Ehleringer & Marshall, 1995). Entretanto, suas hospedeiras sofrem flutuações em larga escala de acordo com a disponibilidade de recursos, limitando a distribuição destas parasitas (Ehleringer & Marshall, 1995). Tanto as parasitas quanto as hospedeiras podem responder rapidamente a mudanças na disponibilidade de recursos (Calvin & Wilson, 2006) variando seus padrões de crescimento quando aumentam a eficiência na aquisição destes (Wareing, 1964; Salzman, 1985; Slade & Hutchings, 1987; Kelly, 1990). A produtividade e a permanência das plantas parasitas na comunidade são dependentes da “qualidade” dos recursos obtidos, por isso a maioria destas pode apresentar especificidade por hospedeiras (Press & Phoenix, 2005). As parasitas são capazes de escolher entre suas potenciais hospedeiras (Kelly, 1992) parasitando apenas um subgrupo de espécies (Penning & Callaway, 2002). A escolha de hospedeiras pode estar relacionada a estratégias de forrageamento numa tentativa de aumentar a sobrevivência e reprodução (Kelly, 1990). As plantas parasitas são capazes forragear no tempo e no espaço em que estão inseridas. O forrageio no tempo ocorre quando as parasitas produzem sementes que somente quebram a dormência em determinadas hospedeiras (Press & Graves, 1995). Já o forrageio no espaço é reflexo de um crescimento seletivo ou a penetração do haustório é seletiva nos tecidos das hospedeiras (Callaway & Penning, 1998). Por outro lado, Norton e Carpenter (1998) e Norton e De Lange (1999) sugeriram que a especificidade está relacionada à abundância local de hospedeiras e o grau de constância destas no tempo e no espaço, hipótese da fragmentação do recurso proposta por Janzen (1981). Hospedeiras abundantes (Norton & Carpenter, 1998), perenes (Kelly et al., 1988), com altas concentrações de nitrogênio (Radomiljac et al., 1999) ou que possuem sistema vascular facilmente acessível e/ou 44 com pequena capacidade de defesa (Press & Phoenix, 2005), são frequentemente muito parasitadas. Uma litologia bastante discutida na literatura é a canga (Simmons, 1963; Marshak & Alkmim, 1989; Klein, 2000), mas a comunidade vegetal que cresce neste substrato ainda é pouco estudada (Silva, 1991; Vincent, 2004; Viana & Lombardi, 2007; Jacobi et al., 2007). A vegetação encontrada na canga é baixa, composta por poucos indivíduos de porte arbóreo, dominada por eudicotiledôneas como Asteraceae, Fabaceae e Myrtaceae, e monocotiledôneas como Poaceae, Cyperaceae e Orchidaceae (Vincent, 2004). Nestes campos, a vegetação tem sua distribuição limitada pela escassez de água e nutrientes, temperaturas elevadas e reduzida camada de solo, e deve enfrentar o efeito combinado de fatores estressantes (Silva et al., 1996; Klein, 2000; Rosière & Chemale, 2000; Vilela et al., 2004). A fina camada de solo, quando existente, é constituída de metais pesados e minério de ferro (Silva et al., 1996) e se acumula em fissuras e reentrâncias da rocha. A vegetação adere-se a essas fissuras, onde a água pode ficar algum tempo retida na estação chuvosa (Silva, 1991), crescendo entre as fendas e em pequenos acúmulos de matéria orgânica (Barth, 1987). Como as fissuras na rocha aparecem irregularmente na paisagem, permitem a formação de um mosaico onde eventualmente estão presentes ilhas de vegetação (Barth, 1987). O solo influencia na sobrevivência das plantas em cada ilha contribuindo para a heterogeneidade fisionômica da comunidade (Vincent, 2004). Estudos recentes têm demonstrado que a diversidade encontrada em campos rupestres sobre canga é alta (Jacobi et al., 2007; Viana & Lombardi, 2007). Dentre as espécies encontradas está uma espécie hemiparasita Struthanthus flexicaulis Mart. (Mart.), pertencente à família Loranthaceae. Como as demais espécies da família, S. flexicaulis realiza fotossíntese, mas necessita retirar os suprimentos de água e nutrientes das plantas hospedeiras por meio de raízes epicorticais caulinares especializadas denominadas haustórios (Calder & Bernardt, 1983; Ehleringer et al., 1985; Barboza, 2000; Calvin & Wilson, 2006; Arruda et al., 2006). Esta espécie é generalista quanto ao número de espécies hospedeiras (Mourão et al., 2006) confirmando o padrão descrito por Norton & Carpenter (1998) para Loranthaceae em regiões tropicais. Struthanthus flexicaulis mantém uma estreita relação com a guaracava-de-topete Elaenia cristata (Tyrannidae), seu principal dispersor (Guerra, 2005). Esta ave se alimenta dos pequenos frutos de S. flexicaulis (6-7 mm) cujo mesocarpo é composto por uma substância pegajosa (visco). Após o consumo, a semente regurgitada é depositada e 45 prende-se em diversas partes das hospedeiras, tais como caules, ramos apicais, folhas e frutos. Dentre as hospedeiras parasitadas, merece destaque a leguminosa Mimosa calodendron (Fabaceae), que fixa nitrogênio e é muito abundante na canga (vide cap. 2). Esta hospedeira é utilizada como poleiro por diversas aves, inclusive as dispersoras de S. flexicaulis. M. calodendron é facilmente localizada pelas aves, que depositam as sementes de S. flexicaulis regurgitadas, promovendo a dispersão. Após o estabelecimento, as plântulas crescem e emitem ramos laterais que podem atingir a vizinha mais próxima e, através do contágio, dispersar vegetativamente. O objetivo deste trabalho foi avaliar se o parasitismo de S. flexicaulis é aleatório e varia de acordo com a abundância das espécies presentes na comunidade. Para isso as seguintes perguntas foram formuladas: 1) Como a densidade de hospedeiras influencia o parasitismo? 2) A presença de M. calodendron interfere no parasitismo de outras espécies? 3) O hábito das hospedeiras interfere nas chances de parasitismo? Supõe-se que na canga S. flexicaulis parasita as hospedeiras proporcionalmente de acordo com suas abundâncias, mas que uma possível especificidade pode ocorrer entre a parasita e determinadas hospedeiras. Métodos O estudo foi realizado em uma área de campo rupestre ferruginoso, localizado no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (20o03’60”S, 44o02’00”W) a 35 km de Belo Horizonte, MG. O clima é caracterizado por ventos fortes, variação térmica diária elevada, uma pronunciada estação seca de abril a setembro e temperatura média anual de 25°C propiciando a ocorrência de queimadas. A vegetação na área estudada é composta principalmente por Mimosa calodendron (Fabaceae), uma das espécies importantes na estruturação da comunidade (Jacobi et al., 2007). Além desta, estão presentes muitas espécies de Asteraceae, Orchidaceae e Poaceae (Vincent, 2004). O levantamento dos dados foi realizado nos meses de maio e junho de 2006, antes do desaparecimento de muitas terófitas e das partes aéreas das geófitas. Foram traçados 9 transectos paralelos de comprimentos variados, atravessando o campo rupestre ferruginoso de uma extremidade a outra, distantes 50m entre si, cobrindo uma área de aproximadamente 9 ha e perímetro de 1,9 km. Definiu-se como espécies focais S. flexicaulis e/ou M. calodendron, por ser uma leguminosa abundante e visivelmente 46 muito parasitada, e com ajuda de GPS todos os pontos que continham uma ou ambas foram georeferenciados. Em cada ponto georefenciado, considerou-se uma parcela de 4x4 m2, onde foram realizados levantamentos da riqueza e da abundância das espécies que apresentavam altura ≥ 30cm. Além disso, foram tomadas notas do número de indivíduos parasitados de cada espécie. Utilizou-se a correlação de Spearman para avaliar a relação entre o total de indivíduos e o total parasitado em cada parcela, uma vez que os resíduos não apresentaram distribuição normal. Para obter uma distribuição de pontos mais bem comportada utilizou-se log na base 10 para transformação dos dados. Uma Análise de Componentes Principais (PCA) foi realizada para avaliar o parasitismo nas parcelas amostradas. As variáveis utilizadas foram: o número de indivíduos encontrados (excluindo de M. calodendron), a riqueza de espécies, o número de M. calodendron e o número de indivíduos parasitados. O critério adotado para esta análise foi o dos altos valores, ou seja, seriam significativos os eixos que apresentassem valores maiores ou iguais a 1. Foi utilizada a distribuição de Poisson e calculado o índice de agregação para M. calodendron. Este índice é calculado dividindo-se a variância de espécies pela média das parcelas amostradas, o resultado igual a 1 indica uma distribuição aleatória, < 1 uma distribuição regular e > 1 uma distribuição agregada (Zar, 1999). A agregação foi calculada para verificar se o agrupamento de hospedeiras facilita a transmissão do parasitismo. Utilizou-se uma regressão linear para avaliar a relação entre o parasitismo e a densidade de mimosas na parcela. As porcentagens dos indivíduos representados na comunidade e dos indivíduos parasitados foram plotados em um gráfico de dispersão para a observação das tendências do parasitismo. Levando-se em consideração a taxonomia e o hábito, as espécies foram agrupadas em categorias: A) eudicotiledôneas e monocotiledôneas B) sub-arbustivas/arbustivas e herbáceas. Adotou-se como critério de classificação espécies sub-arbustivas/arbustivas aquelas que possuem pelo menos um caule principal e galhos laterais, capazes de servir como poleiro para aves; e herbáceas as espécies que não são capazes de suportar o peso da aves dispersora e/ou que possuem apenas um caule sem inserção de galhos ou são formadas por tufos de folhas. Foram classificadas como herbáceas as sub-arbustivas Sebastiania glandulosa (Euphorbiaceae), Periandra mediterranea (Fabaceae) e Ageratum fastigiatum (Asteraceae). Estas espécies apresentam apenas a base liginificada e por esse motivo não conseguem dar sustentação à ave dispersora. As equações das retas foram encontradas através de regressão linear. 47 Em seguida comparou-se cada reta através da inclinação das tangentes e os valores do intercepto segundo metodologia de Zar (1999). As diferenças entre os valores encontrados, tanto para as tangentes quanto para os interceptos foram comparados com teste t de Student. Resultados Nos transectos foram demarcadas 208 parcelas nas quais foram registrados 8860 indivíduos distribuídos em 49 espécies pertencentes a 19 famílias. A riqueza variou de 3 a 20 espécies por parcela, sendo que 83% destas apresentaram entre 6 e 14 espécies. A riqueza esteve positivamente correlacionada com o número de indivíduos na parcela (Fig. 1). Já o número de indivíduos variou de três a 123, mas 47,6% das parcelas apresentaram valores intermediários entre 30 e 60 indivíduos. As espécies mais abundantes foram: Mimosa calodendron (20,5%) (Fabaceae), Lychnophora pinaster (12,6%) (Asteraceae), Sebastiana glandulosa (9,9%) (Euphorbiaceae), Eriope macrostachya (7,7%) (Lamiaceae) e Vellozia compacta (5,2%) (Velloziaceae). Vinte e nove espécies pertencentes a 13 famílias estiveram representadas por menos de 1%. 3.0 Riqueza (log) 2.5 2.0 1.5 1.0 1 2 3 4 Densidade (log) 5 Fig. 1- Relação entre a densidade de indivíduos nas parcelas e a riqueza (y= 0,525 + 0,458x ; rs= 0,774, n=207; p<0,0001). 48 Das 208 parcelas amostradas apenas 41 não possuíam indivíduos parasitados e dentre as parasitadas (167), aproximadamente 43% apresentaram entre 3 e 10 indivíduos (Fig.2). O parasitismo foi maior em parcelas mais densas. Observações em campo permitiram concluir que o espalhamento de S. flexicaulis pode ocorrer de duas maneiras: emitindo ramos laterais que crescem até atingir novas hospedeiras (dispersão vegetativa) ou através da deposição de sementes nos galhos das hospedeiras realizada pelas aves dispersoras (dispersão ornitocórica). A dispersão vegetativa envolve a passagem dos ramos de uma hospedeira para outra e pode ser impedida por barreiras ambientais como as rochas desnudas, cujas temperaturas são mais elevadas que a temperatura das plantas. Muitos ramos sobre as rochas têm sua extremidade danificada e emitem novos ramos laterais. Este benefício propicia novas chances de encontro com as hospedeiras. Total de indivíduos parasitados 60 50 40 30 20 10 0 0 50 100 Total de indivíduos na parcela 150 Fig. 2 - Relação entre o parasitismo e a densidade de indivíduos nas parcelas (rs= 0,652, n=208; p<0,001). A Análise de Componentes Principais (PCA) indicou que parcelas mais densas são as mais ricas, mais parasitadas e apresentam também mais indivíduos de M. calodendron. O primeiro eixo da PCA explicou 65% da variância encontrada e todas as variáveis (número de indivíduos excluindo de M. calodendron, riqueza de espécies, o número de M. calodendron e número de indivíduos parasitados) estão correlacionadas 49 ao primeiro eixo conforme os valores apresentados na tabela 1. A explicação obtida para os demais eixos da análise foi menor que 1. Tabela 1. Análise de Componentes Principais com os valores das correlações observadas entre as variáveis e o primeiro eixo. Variância do 1º componente: 2.606 Coef. de correlação com o 1º componente Variável Número de indivíduos/Parcela (exceto M. calodendron) Total de indivíduos parasitados Riqueza em espécies Número de M. calodendron 0.877 0.819 0.830 0.691 A distribuição de Poisson e o índice de agregação confirmam o padrão agregado observado para M. calodendron. O valor do índice de agregação foi de 5,42 (Fig. 4). O número de indivíduos de M. calodendron amostrados por parcela variou de 1 a 37 e das 208 parcelas 7,21% apresentaram apenas um indivíduo, 31,25% entre 2 e 5 indivíduos e 61,54% acima de 6 indivíduos. A média do número de M. calodendron por parcela foi de 8,75 e a variância de 47,406. 30 Índice de agregação= 5,42 20 Obs. Esp. 10 0 0 10 20 30 Número de Mimosas / parcela Fig. 4- Distribuição de Poisson esperada para Mimosa calodendron no campo rupestre ferruginoso (n=208, parcelas de 16m2). 50 Espécies parasitadas (Log) 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 Total de mimosas (Log) 4 Fig. 5 – Relação entre o número de espécies parasitadas e a densidade de mimosas. No eixo x o total de mimosas reflete o valor da densidade, a área de cada parcela é 16m 2. A equação da reta é y = 0,421 + 0,924x; r2 = 0,641 n=160 p<0,001. Ao analisar o parasitismo na comunidade, 25 espécies tiveram menos de 10 indivíduos amostrados. Dentre estas espécies apenas 6 foram representadas por apenas 1 indivíduo na comunidade e não estavam parasitadas: Ouratea semiserrata (Ochnaceae), Oncidium blanchetti (Orchidaceae), Vellozia sp.(Velloziaceae), Ocotea sp. (Lauraceae), Leandra sp. (Melastomataceae) e Myrcia sp. (Myrtaceae). As demais espécies geralmente apresentavam grandes flutuações nas taxas de parasitismo, devido ao seu pequeno número. Estas 25 espécies, por terem sido pouco representativas na comunidade, foram excluídas da análise. Dentre as outras, 17 são eudicotiledôneas e 7 são monocotiledôneas (Fig. 3A) e, segundo o critério adotado neste estudo, 11 eudicotiledôneas foram classificadas como sub-arbustivas/arbustivas e as demais como herbáceas (Fig. 3B). Das 1820 plantas amostradas de M. calodendron, 1209 (66,4%) estavam parasitadas. As demais espécies como L. pinaster, representada por 1121 plantas, Baccharis reticularia por 307, Eriope macrostachya por 690, Stachytarpheta glabra por 373, Symphyopappus brasiliensis por 227 e Trixis vauthieri por 165, todas subarbustivas/arbustivas, foram parasitadas nas respectivas proporções: 42,2%, 39,4%, 28%, 25%, 18% e 15,7%. Comparando-se estas porcentagens de parasitismo com 51 herbáceas nota-se enorme diferença. A sub-arbustiva/arbustiva B. reticularia com 307 indivíduos, por exemplo, apresentou 121 parasitados, já a gramínea classificada como herbácea Andropogon ingratus, representada em número semelhante (353 indivíduos), teve apenas 20 indivíduos parasitados. S. flexicaulis mostra duas tendências quanto ao parasitismo, não importando o critério de divisão das espécies (Fig. 3). Tanto na Fig. 3A (teste t de Student para tangente: 1,68 gl=20; p<0,001 e teste t de Student para o intercepto: -0,70 gl=21; p<0,001) quanto na Fig. 3B (teste t de Student para tangente: - 14,24 gl=20; p<0,001 e teste t de Student para o intercepto: -0,86 gl=21; p<0,001) as inclinações das retas apresentam diferenças significativas. Na Fig. 3A, a reta de maior inclinação (y = - 2,684 + 0,733x) compreende as espécies eudicotiledôneas. A forte inclinação da reta é sustentada principalmente por algumas espécies como M. calodendron, B. reticularia e L. pinaster. A reta de menor inclinação (y = 2,897 + 0,801x), constituída por monocotiledôneas, é principalmente influenciada por 2 espécies. Lagenocarpus rigidus atua sobre esta inclinação deslocando-a para cima e Ageratum fastigiatum atua desviando-a para baixo. Quando as espécies foram comparadas quanto a seu hábito, 6 dicotiledôneas pequenas foram agrupadas na classe das herbáceas juntamente com todas as monocotiledôneas (Fig. 3B). Na Fig. 3B, a reta de maior inclinação (y = - 3,573 + 1,368x) compreende em sua maioria espécies de porte sub-arbustivo/arbustivo. Tibouchina multiflora, entretanto, classificada como sub-arbustiva/arbustiva, foi representada por 453 plantas das quais apenas 9,5% foram parasitadas. A reta menos inclinada (y = - 1,401 + 0,851x) apresenta espécies de porte herbáceo e/ou orquídeas como Epidendrum secundum e Sophronitis caulescens, que foram incluídas na amostra devido ao comprimento das hastes das inflorescências (igual ou superior a 30 cm). Comparando-se os gráficos da Fig. 3 percebe-se que as espécies são parasitadas de acordo com a abundância em que aparecem na comunidade. O parasitismo em Baccharis pingraea é melhor explicado na Fig. 3A, quando o hábito não era levado em consideração. Já o parasitismo nas espécies Periandra mediterranea, Peperomia decora e Microlicia sp. foi melhor explicado quando faziam parte da divisão quanto ao hábito. 52 A) mim Indivíduos Parasitados 1000 lic eri seb bre sta sym lag per gal tib 100 het psy tri pin epi 10 mir sof vel and mic pas age pep 1 10 B) 100 1000 Abundância das Espécies mim Indivíduos Parasitados 1000 lic eri bre sta sym lag per gal tib 100 het psy epi 10 mir sof tri pin seb vel and mic pas age pep 1 10 100 1000 Abundância das Espécies Fig.3 – Relação entre o parasitismo e a abundância das espécies. A) Taxonomia Espécies Dicotiledôneas descritas de cima para baixo: mim= Mimosa calodendron; lic=Lychnophora pinaster; eri= Eriope macrostachya; seb= Sebastiania glandulosa; bre= Baccharis reticularia; sta= Stachytarpheta glabra; sym= Symphyopappus brasiliensis; per= Periandra mediterranea; tib=Tibouchina multiflora; gal= Galiante angustifólia; tri=Trixis vauthieri; het= Heteropterys sp; pys= Psychotria vellosiana; pin= Baccharis pingraea; mic= Microlicia sp. mir=Myrtaceae sp.; pep= Peperomia decora (y = 2,684 + 0,733x). Espécies herbáceas descritas de cima para baixo: lag= Lagenocarpus rigidus; vel= Vellozia compacta; and= Andropogon ingratus; epi= Epidendrum secundum; pas= Paspalum scalare; age= Ageratum fastigiatum, sof= Sophronitis caulescens (y = 2,897+ 0,801x). 53 Fig. 3 (cont.)– B) Hábito. Espécies arbustivas descritas de cima para baixo: mim= Mimosa calodendron; lic=Lychnophora pinaster; eri= Eriope macrostachya; bre= Baccharis reticularia; sta= Stachytarpheta glabra; sym= Symphyopappus brasiliensis; tib=Tibouchina multiflora; tri=Trixis vauthieri; het= Heteropterys sp; pys= Psychotria vellosiana; mir= Myrtaceae sp. (y=3,573 + 1,368x). Espécies herbáceas descritas de cima para baixo: seb= Sebastiania glandulosa; per= Periandra mediterranea; lag= Lagenocarpus rigidus; gal= Galiante angustifolia; vel= Vellozia compacta; and= Andropogon ingratus; pin= Baccharis pingraea; mic= Microlicia sp.; epi= Epidendrum secundum; pas= Paspalum scalare; age= Ageratum fastigiatum, sof= Sophronitis caulescens (y = -1,401 + 0,851x). Discussão Os resultados evidenciam que o contágio das hospedeiras e a permanência da parasita em afloramentos ferruginosos são dependentes da densidade, ou seja, do número de hospedeiras encontradas em cada parcela. De uma maneira geral, parcelas densas foram as mais ricas, possuíam mais indivíduos de M. calodendron e mais espécies foram parasitadas. A proximidade dos indivíduos na parcela, isto é, o aumento na densidade, pode facilitar a passagem de ramos da parasita entre uma hospedeira parasitada e as demais. Como M. calodendron é a espécie mais abundante na canga e também a mais parasitada, a presença desta leguminosa pode facilitar a transmissão de S. flexicaulis por meio de dispersão vegetativa às demais hospedeiras. Além disso, M. calodendron, pela sua distribuição agregada e porte sub-arbustivo/arbustivo torna-se B) bastante atrativa para as aves dispersoras. A agregação pode facilitar a localização de manchas na paisagem por estas aves e aumentar as chances de deposição de sementes (dispersão ornitocórica) (Aukema & Martinez Del Rio, 2002). Hospedeiras já parasitadas por indivíduos adultos oferecem frutos para as aves, que aumentam seu tempo de permanência nestes poleiros. Desta maneira, chances de ocorrerem novas deposições de sementes aumentam (Stamps, 1988). Observou-se duas tendências quanto ao parasitismo de S. flexicaulis em afloramentos ferruginosos, um parasitismo mais acentuado em hospedeiras de porte sub-arbustivo/arbustivo e menos acentuado em hospedeiras herbáceas. O modo de dispersão vegetativo da parasita somado à preferência das aves dispersoras podem ser responsáveis por essas tendências. As hospedeiras de porte sub-arbustivos/arbustivos podem ser parasitadas tanto pela deposição de sementes pela ave dispersora (dispersão ornitocórica) quanto emissão de ramos de S. flexicaulis vindos de hospedeiras vizinhas (dispersão vegetativa). Já as hospedeiras herbáceas são parasitadas apenas pela 54 dispersão vegetativa. Essas espécies, cuja estrutura não suportaria o peso de uma ave (peso aproximado de Elaenia cristata = 18g, ver Ridgely & Tudor, 1994), dificilmente seriam utilizadas como poleiro pelas aves dispersoras sendo, desta maneira, contagiadas apenas por ramos vindos de plantas adjacentes (dispersão vegetativa). O pseudocaule de V. compacta possui espessura considerável, e teoricamente poderia dar sustentação à ave dispersora. Embora tenha este potencial, as folhas são duras e pontiagudas dificultando ou mesmo impedindo o pouso das aves. Além disso, mesmo que as sementes da parasita fossem depositadas o pseudocaule, formado por camadas de bainhas foliares secas, dificultaria a penetração do haustório e consequentemente o estabelecimento da parasita (Mourão et al., 2006). Dentre as hospedeiras eudicotiledôneas de porte sub-arbustivo/arbustivo, M. calodendron, Baccharis reticularia, Lychnophora pinaster, Eriope macrostachya, Stachytarpheta glabra e Trixis vauthieri apresentaram considerável porcentagem de parasitismo, mas foram parasitadas, com pequenas variações, proporcionalmente às abundâncias encontradas na comunidade. Essa proporcionalidade parece refletir uma falta de preferência das aves dispersoras por estes arbustos que podem lhes servir como poleiro e abrigo. Entretanto, diferentemente dessas espécies, o parasitismo observado em Tibouchina multiflora foi baixo em relação a sua abundância na comunidade. Vários fatores poderiam explicar este resultado como, por exemplo, o fracasso do estabelecimento das sementes, defesas contra o crescimento do haustório e até mesmo a escolha da ave dispersora por outros tipos de poleiro. Os galhos de T. multiflora são pouco numerosos e muito inclinados verticalmente (aproximadamente 85˚) o que poderia dificultar o pouso destas aves. Neste estudo, notou-se que M. calodendron foi muito parasitada, indicando uma possível especificidade por esta espécie. Como a leguminosa M. calodendron é a mais abundante e freqüentemente parasitada, esta interação ao longo do tempo pode promover a especificidade favorecendo ainda mais o parasitismo na comunidade. A especificidade da parasita por determinadas hospedeiras pode ser favorecida pelas freqüentes interações entre elas (Norton & Carpenter, 1998). O fato de M. calodendron ser a mais abundante na comunidade indica uma possível dominância ecológica sobre as demais espécies. A evolução da especificidade por hospedeiras está altamente correlacionada com o desenvolvimento da dominância ecológica em comunidade de plantas (Barlow & Wiens, 1977). Além da abundância, um outro fator que pode favorecer esta especificidade de S. flexicaulis por M. calodendron é a qualidade da 55 hospedeira. Foi sugerido, por exemplo, que a quantidade de nitrogênio disponível nas hospedeiras interfere na distribuição de plantas parasitas (Dean et al., 1994). Um experimento de fertilização com nitrogênio em hospedeiras de Cuscuta subinclusa (Convolvulaceae) induziu um aumento no crescimento desta (Kelly, 1990). Vários trabalhos têm demonstrado que as leguminosas são as hospedeiras preferencialmente atacadas por plantas parasitas devido a esta capacidade de fixação de nitrogênio (Radomiljac et al., 1999; Bowie & Ward, 2004). As herbáceas, representadas por algumas dicotiledôneas e todas as monocotiledôneas, apresentaram o mesmo padrão observado para as sub- arbustivas/arbustivas e mantêm-se as tendências de parasitismo proporcional às abundâncias na comunidade. Na dispersão vegetativa, a altura e a proximidade das hospedeiras podem interferir nas chances de parasitismo, sendo maiores quando as hospedeiras vizinhas estão mais próximas e apresentam alturas semelhantes (Aukema, 2003). Plantas localizadas em volta de hospedeiras já infectadas podem ser mais facilmente contaminadas (Arruda et al., 2006). As herbáceas próximas às hospedeiras podem ser mais facilmente parasitadas e estas chances aumentam quando a distância entre elas diminui, com foi verificado pela relação entre densidade e taxa de parasitismo. O aumento da densidade certamente aproxima os indivíduos facilitando o contágio por ramos vindos de hospedeiras parasitadas. Entretanto, as herbáceas monocotiledôneas são capazes de sobreviver longe das manchas de vegetação formadas principalmente pela agregação de M. calodendron. Este afastamento pode dificultar a chegada de ramos de S. flexicaulis a essas hospedeiras, tornando-as menos parasitadas que o esperado para suas abundâncias. V. compacta, por exemplo, pode ser mais tolerante às condições ambientais extremas. Esta espécie possui, além das defesas mecânicas, um mecanismo chamado de pecilohidria, que a permite dessecar durante o período seco e reidratar no período chuvoso, quando as condições ambientais são mais amenas (Gaff, 1987). O parasitismo observado em Baccharis pingraea foi mais bem explicado quando classificada na categoria Taxonomia, pois foi posicionada mais próxima à reta. Já em outras espécies como Periandra mediterranea, Peperomia decora e Microlicia sp. o parasitismo foi mais bem explicado quando estas foram classificadas na categoria Hábito. Estas variações só podem ter ocorrido associadas à dispersão vegetativa, já que nenhuma destas espécies tem condições de receber sementes da parasita através da dispersão ornitocórica. 56 A dispersão vegetativa apresenta um padrão aleatório, pois S. flexicaulis, ao emitir ramos, não faz distinção entre as hospedeiras. É importante lembrar que, como constatado no capítulo 1, não parece haver nenhuma defesa mecânica, anatômica ou histoquímica na interação com S. flexicaulis em várias das principais hospedeiras. Na ausência de defesas, os ramos na dispersão vegetativa fixam-se formando haustórios sem dificuldade, e talvez esta ausência de defesas seja a regra geral no ambiente de canga. Este padrão aleatório não ocorre na dispersão ornitocórica uma vez que envolve agentes dispersores. Neste caso, ocorre a seleção prévia de hospedeiras podendo promover a especificidade entre estas e a parasita. Indiretamente as aves favorecem os freqüentes encontros entre ambas (hospedeiras e S. flexicaulis). Como a maioria das espécies foi parasitada proporcionalmente de acordo com suas abundâncias, isto indica que provavelmente há um equilíbrio entre as formas de dispersão de S. flexicaulis. Talvez as restrições para pouso da ave dispersora sejam o grande diferencial na taxa de parasitismo entre arbustivas e herbáceas. Bibliografia Arruda, R.; Carvalho, L. N. & Del-Claro, K. 2006. Host specificity of a Brazilian mistletoe, Struthanthus aff. polyanthus (Loranthaceae), in cerrado tropical savanna. Flora, 201: 127-134. Aukema, J. E. & del Rio, C. M. 2002. Where does a fruit-eating bird deposit mistletoe seeds? Seed deposition patterns and an experiment. Ecology, 83: 3489-3496. Aukema, J. E. 2003. Vectors, viscin, and Viscaceae: mistletoes as parasites, mutualists and resources. Frontiers in Ecology and the Environment, 1: 212-219. Barboza, M. A. 2000. Loranthaceae e Viscaceae no bioma cerrado. Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília, Distrito Federal. 69 p. Barlow, B. A & Wiens, D. 1977. Host-parasite resemblance in Australian mistletoes: the case for cryptic mimicry. Evolution, 31: 69-84. Barth, O. M. 1987. 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Talvez, o estresse produzido pelas condições da canga seja tão alto que as hospedeiras não tenham condições fisiológicas de investir seus recursos para a fabricação de estruturas de defesa. Ao se avaliar a interação S. flexicaulis-hospedeiras, foi possível compreender um pouco mais sobre a estruturação da comunidade vegetal dos campos rupestres ferruginosos. Esta interação pode ser chave para a manutenção da biodiversidade na região, pois apesar de S. flexicaulis parasitar proporcionalmente as abundâncias em que suas hospedeiras aparecem na comunidade, ela possivelmente controla a expansão de Mimosa calodendron (Fabaceae). Por ser uma leguminosa e fixar nitrogênio, M. calodendron pode ser uma forte competidora para as demais espécies no ambiente de canga. Muitos indivíduos de Mimosa calodendron morreram parasitados, mas isso não foi observado para outras espécies. A mortalidade está associada a elevadas taxas de infestação da parasita e provavelmente aos fatores abióticos estressantes da canga, como elevadas temperaturas e escassez de água. Além disso, é sugestivo dizer que M. calodendron é uma espécie focal do parasitismo, servindo de fonte de propágulos de ramos da parasita às demais hospedeiras, pois é a mais abundante, tem distribuição agregada e serve como poleiro para as aves dispersoras. O parasitismo em M. calodendron foi um pouco maior que o esperado para a sua abundância na canga. E como os freqüentes encontros entre parasitas e hospedeiras podem levar a especificidade, talvez a especificidade entre S. flexicaulis e M. calodendron seja apenas uma questão de tempo. Futuros experimentos com sementes devem ser realizados para avaliar uma possível especificidade por hospedeiras nos primeiros estágios do crescimento de S. flexicaulis, para modelar o espalhamento desta hemiparasita nos campos ferruginosos, e determinar se esta é realmente uma espécie-chave na comunidade em que se encontra inserida. 62