Bragantia Print ISSN 0006-8705 Table of contents Bragantia vol.61 no.3 Campinas Sept./Dec. 2002 Editorial Pommer, Celso Valdevino • text in portuguese • pdf in portuguese Botany and Plant Physiology • Optical microscopy studies and scanning electron microscopy in leaf the Mentha spicata and Mentha spicata x suaveolens (Lamiaceae) Martins, Maria Bernadete Gonçalves • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Plant Breeding • Diallel analyses and heterosis in popcorn varieties Scapim, Carlos Alberto; Pacheco, Cleso Antônio Patto; Tonet, Aelton; Braccini, Alessandro De Lucca e; Pinto, Ronald José Barth • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Natural and artificial pollination of Atemoya in Brazil Melo, Marcelo Rosa; Pommer, Celso Valdevino; Kavati, Ryosuke • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Crop Production and Management • Performance of five young clones of rubber tree in the São Paulo Occidental plateau region Cavalcante, Juliane Ribeiro; Conforto, Elenice de Cássia • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Soil Fertility and Plant Nutrition • Bulb yield and pseudogrowing incidence of vernalizated garlic as influenced by potassic and nitrogen fertilization Büll, Leonardo Theodoro; Bertani, Rosemary Marques de Almeida; Villas Bôas, Roberto Lyra; Fernandes, Dirceu Maximino • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Flue dust as zinc source to corn and its effect in heavy metals availability Santos, Glaucia Cecília Gabrieli dos; Abreu, Cleide Aparecida de; Camargo, Otávio Antonio de; Abreu, Mônica Ferreira de • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Soils and Irrigation • Soil microorganisms phosphatase producers in different agricultural systems Nahas, Ely • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Arbuscular mycorrhizal and organic matter on the acclimatization of banana-tree seedlings, cv. Nanicão Matos, Rosa Maria Barbosa; Silva, Eliane Maria Ribeiro da; Brasil, Felipe da Costa • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Agricultural Engineering • Characteristics of spray produced by Yamaho nozzle 'D' series Ramos, Hamilton Humberto; Matuo, Tomomassa; Bernardi, José Augusto; Gonzalez Maziero, José Valdemar • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Analysis of nozzle type and spraying volume of a fungicide applied on the bean crops Garcia, Luiz Claudio; Justino, Altair; Ramos, Hamilton Humberto • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Methodology and Experimental Techniques • Models of minimization of residual biomass Sartori, Maria Márcia Pereira; Florentino, Helenice de Oliveira • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Using imagery analysis software for evaluation of spraying coverage Firveda, Márcio Carvalho; Cantalogo-Junior, Alécio; Ramos, Hamilton Humberto; Antonio Carlos Loureiro, Lino; Corrêa, Ila Maria • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.61 no.3 Campinas Sept./Dec. 2002 EDITORIAL Celso Valdevino Pommer Editor-Chefe Bragantia, uma das mais destacadas revistas nacionais de Ciências Agronômicas, é publicada pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas (SP), desde 1941. São 61 volumes compostos por cerca de 30 mil páginas de informações relacionadas às mais importantes culturas e práticas agrícolas fomentando a economia paulista e nacional. Em suas páginas foram publicadas informações de grande repercussão científica, econômica e social como as relacionadas ao cultivo de cafeeiros em solos de cerrado, as quais permitiram extraordinária modificação no perfil das regiões produtoras do País, bem como a descrição e as recomendações de cultivo de muitas das principais variedades cultivadas em solos nacionais. A utilização de meios avançados e eficientes de veiculação de informações potencializam a importância dos resultados das pesquisas institucionais, tornando-os com freqüência impactantes no cenário agrícola. Em sintonia com esses avanços, Bragantia encontra-se, desde 1997, disponível em um site próprio e também na SciELO (Scientific Eletronic Library Online), a mais importante biblioteca eletrônica nacional, implementada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisas do Estado de São Paulo) em parceria com a BIREME (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde) e com apoio recente do CNPq. Em dezembro de 2002, reconhecendo a importância das pesquisas em ciências agronômicas desenvolvidas pelo Instituto Agronômico, a SciELO decidiu pela inclusão em seu portal da coleção completa da Revista Bragantia. Dentre as mais tradicionais revistas científicas publicadas por instituições de pesquisa do País, Bragantia passará a ser o primeiro periódico integralmente disponível online. A partir desse projeto, as informações científicas publicadas pelo IAC desde 1941, e disponíveis até então apenas em bibliotecas institucionais ou para um número limitado de assinantes, estarão disponíveis em rede. Cientistas, estudantes, extensionistas, produtores rurais, empresários do setor comercial e industrial e internautas diversos, terão acesso a mais de centenas de notas e artigos científicos que poderão ser recuperados, a partir de mecanismos de buscas por autor, ano e palavras-chave presentes no título, resumo ou abstract dos artigos. Além disso, serão impressos conjuntos de CD-Rom com o conteúdo dos 61 volumes, e os mesmos mecanismos de busca online vão permitir acesso às informações aos usuários que ainda não estejam conectados à internet. Esta iniciativa pioneira de parceria IAC/SciELO certamente deverá ser adotada por todos os importantes periódicos das mais diversas áreas do conhecimento que divulgam com eficiência a ciência nacional e contribuem para o desenvolvimento intelectual e socioeconômico do País. © 2007 Instituto Agronômico Avenida Barão de Itapura, 1481 Editorial Bragantia, uma das mais destacadas revistas nacionais de Ciências Agronômicas, é publicada pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas (SP), desde 1941. São 61 volumes compostos por cerca de 30 mil páginas de informações relacionadas às mais importantes culturas e práticas agrícolas fomentando a economia paulista e nacional. Em suas páginas foram publicadas informações de grande repercussão científica, econômica e social como as relacionadas ao cultivo de cafeeiros em solos de cerrado, as quais permitiram extraordinária modificação no perfil das regiões produtoras do País, bem como a descrição e as recomendações de cultivo de muitas das principais variedades cultivadas em solos nacionais. A utilização de meios avançados e eficientes de veiculação de informações potencializam a importância dos resultados das pesquisas institucionais, tornando-os com freqüência impactantes no cenário agrícola. Em sintonia com esses avanços, Bragantia encontra-se, desde 1997, disponível em um site próprio e também na SciELO (Scientific Eletronic Library Online), a mais importante biblioteca eletrônica nacional, implementada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisas do Estado de São Paulo) em parceria com a BIREME (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde) e com apoio recente do CNPq. Em dezembro de 2002, reconhecendo a importância das pesquisas em ciências agronômicas desenvolvidas pelo Instituto Agronômico, a SciELO decidiu pela inclusão em seu portal da coleção completa da Revista Bragantia. Dentre as mais tradicionais revistas científicas publicadas por instituições de pesquisa do País, Bragantia passará a ser o primeiro periódico integralmente disponível online. A partir desse projeto, as informações científicas publicadas pelo IAC desde 1941, e disponíveis até então apenas em bibliotecas institucionais ou para um número limitado de assinantes, estarão disponíveis em rede. Cientistas, estudantes, extensionistas, produtores rurais, empresários do setor comercial e industrial e internautas diversos, terão acesso a mais de centenas de notas e artigos científicos que poderão ser recuperados, a partir de mecanismos de buscas por autor, ano e palavras-chave presentes no título, resumo ou abstract dos artigos. Além disso, serão impressos conjuntos de CD-Rom com o conteúdo dos 61 volumes, e os mesmos mecanismos de busca online vão permitir acesso às informações aos usuários que ainda não estejam conectados à internet. Esta iniciativa pioneira de parceria IAC/SciELO certamente deverá ser adotada por todos os importantes periódicos das mais diversas áreas do conhecimento que divulgam com eficiência a ciência nacional e contribuem para o desenvolvimento intelectual e socioeconômico do País. Celso Valdevino Pommer Editor-Chefe Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.61 no.3 Campinas Sept./Dec. 2002 BOTÂNICA E FISIOLOGIA VEGETAL Estudos de microscopia óptica e de microscopia eletrônica de varredura em folhas de Mentha spicata e de Mentha spicata x suaveolens (Lamiaceae) Optical microscopy studies and scanning electron microscopy in leaf the Mentha spicata and Mentha spicata x suaveolens (Lamiaceae) Maria Bernadete Gonçalves Martins Departamento de Zoologia e Botânica, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Caixa Postal 136, 15054-000 São José do Rio Preto (SP). E-mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo de anatomia foliar por meio de microscopia óptica e de microscopia eletrônica de varredura em Mentha spicata L. e Mentha spicata X suaveolens, caracterizando histologicamente a lâmina foliar. Secções transversais e paradérmicas da região mediana do limbo foliar mostraram a presença de epiderme unisseriada, coberta por uma fina camada de cutícula, apresentando tricomas glandulares do tipo capitado e peltado e não glandulares unisseriados multicelulares, não ramificados. O mesofilo de ambas as espécies é dorsiventral, com parênquima paliçádico uniestratificado, com células alongadas e rico em inclusões citoplasmáticas. O parênquima lacunoso é formado por três a quatro camadas de células irregulares. Os tricomas capitados presentes são classificados como do tipo I, e apresentam-se com uma célula basal, uma célula peduncular e uma grande célula apical, cujo formato varia de circular a piriforme. Os tricomas peltados consistem de uma célula basal, uma célula peduncular curta, larga e unicelular, com paredes externas cutinizadas e uma cabeça grande multicelular com 12 células secretoras, distribuídas radialmente em dois círculos concêntricos, o central com 4 células e o externo com 8 células, as quais acumulam o produto da secreção em uma cavidade entre a cutícula e as células secretoras; o pé do tricoma glandular está inserido em 11 células epidérmicas. Há predominância de tricomas capitados em relação aos tricomas peltados em ambas as espécies de Mentha. Palavras-chave: Mentha, tricomas, anatomia foliar. ABSTRACT The objective of the present work is to make a study of leaf anatomy through optic microscopy and eletronic microscopy of scanning in Mentha spicata L. and Mentha spicata X suaveolens, characterizing the leaf blade histology. Cross and paradermic sections of the leaf, showed the presence of uniseriate epidermal cells covered by a fine cuticle layer, presenting gland trichomes of multicellular type capitate and peltate and no gland trichomes, not ramified. The mesophyll of both species mantain with uniseriate palisade parenchyma only in high epidermal, prolonged cells, and rich in cytoplasmic inclusions. Lacunary parenchyma is formed by 3 to 4 layers of irregular cells. The capitate trichomes are classified as type I they presented with a basal, a pedunculary and a great apical cell, whose format varies from circular to periform. Peltate trichomes consist of a basal cell, a short, wide and unicellular stalk cell, with cutinized external walls and one great multicellular head with 12 secretory cells distributed in two concentrical circles. The trunk has 4 cells and the external one 8 cells, which accumulate the product of the secretion in a cavity between cuticle and the secretor cells, as the foot of glandular trichomes is inserted in 11 epidermal cells. There is a predominance of capitate trichomes in relation to peltate trichomes in both species of Mentha. Key words: Mentha, trichomes, leaf anatomy. 1. INTRODUÇÃO As Lamiaceae compreendem uma família pertencente à Ordem Tubiflorae (Lamiales), abrangendo cerca de 200 gêneros e, aproximadamente, 3.200 espécies, distribuídas em todo o mundo. Menta é o nome comum de aproximadamente 25 espécies perenes do gênero Mentha, que se desenvolve melhor em regiões de clima temperado. O nome é mais bem usado para se referir a algum membro das Lamiaceae, freqüentemente chamada pela família das mentas pelo fato de as plantas dessa família serem caracterizadas por suas folhagens aromáticas. As mentas verdadeiras, entretanto, são restritas a pequenos grupos e por muitos híbridos. Propagam-se por sementes, porém os híbridos de menta são estéreis e podem se propagar por replante de estolhos (JOLY, 1983). São cultivadas como ervas, cujas folhas podem ser secas e usadas como flavorizantes e seu óleo essencial é usado como aromatizante pelas indústrias farmacêuticas em fragrâncias, na medicina e como condimento alimentar. O gênero Mentha é taxonomicamente complexo, em relação à variação na plasticidade fenotípica e à variabilidade genética. Muitas espécies são capazes de hibridização com outras (HALLIDAY e BEADLE, 1972). Óleos essenciais constituem um grupo importante dos produtos econômicos de origem vegetal. A produção de óleos essenciais nas plantas está geralmente associada à presença de estruturas secretoras especializadas, tais como tricomas glandulares, ductos de óleos ou resinas que contêm grande variedade de terpenos, considerados os sítios primários de acúmulos desse material (FAHN, 1979). Poucas espécies da família Lamiaceae foram estudadas anatomicamente, e em Mentha piperita (AMELUNXEN, 1967); M. rubescens (BRUNI e MODENESI, 1983); Salvia glutinosa e S. pratensis (SCHNEPE, 1972); Thymus capitatus (DANILOVA e KASHINA, 1989; WERKER et al., 1985); Thymus vulgaris (BRUNI e MODENESI, 1983); Calmintha menthifolia (HANDILOU et al. 1991); Origanum dictammus (BOSABILIDIS e TSEKOS, 1982); O. vulgare (WERKER et al., 1985); O. basilicum (WERKER et al., 1993); Coryothymus capitatus, Majorana syriaca, Melissa officinalis, Micromeria fruticosa, Rosmarinus officinalis, Salvia officinalis, S. fruticosa, Satureja thymbra (WERKER et al., 1985) foi observada a presença de secreção de óleo essencial nos tricomas glandulares. Em variedades de Mentha piperita e M. rubescens, verificou-se a presença de dois tipos de tricomas glandulares: peltados e capitados. Somente os tricomas peltados apresentavam secreção de monoterpenos (BRUN et al., 1991). Tricomas glandulares são estruturas secretoras freqüentemente presentes nas Lamiaceae que secretam óleos essenciais, variando o número de células secretoras, o comprimento da célula peduncular, a quantidade do óleo secretado, a densidade e seu arranjo na epiderme (METCALFE e CHALK, 1983). WERKER et al. (1985) estudaram a estrutura anatômica dos tricomas secretores de algumas espécies de Lamiaceae e verificaram que os tricomas peltados e capitados diferem na morfologia, início e duração da atividade secretora, modo de secreção e tipo de material secretado. Nos vegetais, o termo secreção pode ser descrito como complexos processos de separação ou isolamento de determinadas substâncias do protoplasma celular, nos quais se inserem a síntese de substâncias, o acúmulo e o armazenamento em compartimentos internos da célula e, até a eliminação em espaços intercelulares (subcuticulares e entre células adjacentes), na superfície externa da planta (FAHN, 1979, 1988; SCHNEPF, 1972). O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo da anatomia foliar por meio de microscopia óptica e de microscopia eletrônica de varredura em Mentha spicata L. e M. spicata X suaveolens, caracterizando histologicamente a lâmina foliar. 2. MATERIAL E MÉTODOS Os espécimes vegetais estudados foram cultivados na Área Experimental do Departamento de Botânica, IBILCE, UNESP, sendo as mudas provenientes do Horto de Plantas Medicinais, da ESALQ-USP, Piracicaba (SP). As populações de Mentha spicata L. e M. spicata X suaveolens não receberam nenhum tratamento especial no seu cultivo. Utilizaram-se folhas adultas, colhidas no estádio vegetativo da planta. O preparo do material, para obtenção do laminário histológico usado para microscopia óptica, constituiu-se basicamente de processos usuais utilizados em microtomia, que incluem: fixação em FAA 50% por 24 horas, desidratação na série alcoólica (etílica), infiltração em parafina, emblocamento, seccionamento, coloração e montagem das amostras (JOHANSEN, 1940). As peças incluídas em parafina foram seccionadas em micrótomo rotativo (Leitz Wetzlar, Germany), obtendo-se secções transversais da lâmina foliar com 10 a 15 mm de espessura. Paralelamente, efetuaramse cortes paradérmicos à mão livre, com lâmina de aço, na superfície foliar para observação de estômatos, células epidérmicas, morfologia das estruturas secretoras e inserção nas células epidérmicas. A fim de se obter uma análise preliminar dos compostos secundários produzidos em Mentha spicata L. e em M. spicata X suaveolens, optou-se por realizar testes microquímicos. Para os testes microquímicos, as folhas adultas, frescas, foram seccionadas à mão livre com lâmina de aço, transversalmente na região mediana do mesofilo. Os cortes obtidos foram colocados em vidro de relógio contendo água destilada e, posteriormente, selecionados em microscópio estereoscópio (Carl Zeiss tipo Jena). Finalizada a seleção, os cortes foram distribuídos em vidros de relógio contendo, respectivamente, vermelho de rutênio (Economou-Amilli citado por SOSSAE, 1995) a fim de detectar a presença de mucilagem e pectinas e de Safra/Blau, para análise de celulose e com azul de toluidina (O'BRIEN et al., 1964); coloração policromática para detectar RNA (púrpura); DNA (azul-esverdeado) e lignina e polifenóis (verde). Foram realizadas mensurações, em 20 campos da região mediana do limbo foliar, através de ocular de retículo micrométrico para avaliar a espessura total do limbo entre as espécies. Paralelamente, prepararam-se amostras foliares para microscopia eletrônica de varredura. O material foi fixado em Karnovsky modificado (glutaraldeído 2,5%, formaldeído 2,5% em tampão cacodilato de sódio 0,05 M, pH 7,2), pós-fixado com tetróxido de ósmio (OsO4) e desidratados em soluções crescentes de acetona (30%, 50%, 70%, 90% e 100%). Posteriormente, os espécimes foram levados à secagem ao ponto crítico com CO2 líquido (Balzers CPD 030) e, em seguida, ao metalizador (MED 010 da Balzers) para cobertura da superfície com uma fina camada de ouro e examinados em microscópio eletrônico de varredura. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O aspecto morfológico característico de Mentha spicata X suaveolens é de uma planta herbácea, prostrada, aromática, que não forma semente, por se tratar de um híbrido, cujo nome popular é "hortelã", "hortelã-crespa" (Figura 1A). Mentha spicata L. diferencia-se pela folha mais estreita e pela essência fortemente aromática que exala de suas folhas. Apresenta flores arroxeadas com posterior formação de sementes, cujo nome popular é "hortelãpimenta", "hortelã-de-folha-fina" (Figura 1B). Secções transversais e paradérmicas da região mediana de folhas adultas de M. spicata X suaveolens e de M. spicata L. mostraram a presença de epiderme unisseriada, coberta por uma fina camada de cutícula com tricomas glandulares do tipo capitado (Tipo I) e peltado em ambas as faces, e de tricomas não glandulares (tectores), unisseriados, multicelulares, não ramificados, predominantes na epideme abaxial (Figuras 2 a 4). As células da epiderme abaxial de Mentha spicata X suaveolens são irregulares, sendo as células da face adaxial ligeiramente maiores (Figura 3A-C). SOSSAE (1995), trabalhando com Tetradenia riparia (Lamiaceae) também observou que as células epidérmicas na face adaxial são maiores que as da face abaxial. A epiderme na face abaxial de M. spicata X suaveolens mostra a presença de esferocristais ou massas cristalinas sendo eliminadas pelas células epidérmicas (Figura 5E). Os esferocristais aparecem nas células epidérmicas, nas faces abaxial e adaxial de ambas as espécies, porém em maior proporção em M. spicata X suaveolens (Figuras 5A, B, D e E). O mesofilo de ambas as espécies de Mentha é dorsiventral; o parênquima paliçádico é unisseriado, com células alongadas, dispostas perpendicularmente à superfície do limbo. Há presença de inclusões citoplasmáticas em forma de drusas, distribuídas nas células epidérmicas e nas células do parênquima paliçádico. A análise comparada da espessura do mesofilo de Mentha spicata L. e de Mentha spicata X suaveolens mostrou menor espessura do limbo foliar de M. spicata X suaveolens em relação ao limbo de M. spicata (Figuras 5 B-E). O mesofilo de Mentha spicata X suaveolens em comparação com o de M. spicata L. apresenta o parênquima paliçádico com células mais curtas e mais largas. As células da epiderme são maiores e mais irregulares e apresentam menor número de inclusões citoplasmáticas em forma de esferocristais ou massas cristalinas (Figuras 2 e 3). SOSSAE (1995), estudando anatomicamente as folhas de Tetradenia ripara, observou o mesofilo heterogêneo e assimétrico, o parênquima paliçádico bisseriado, com células de vários tamanhos, alongadas e ricas em inclusões citoplasmáticas em forma de drusas. BONZANI e ESPINAR (1993) estudaram, anatomicamente, três espécies de Lamiaceae usadas na medicina popular: Minthostachys mollis (Kunth) Griseb; Mentha citrata Ehrh e Marrubium vulgare L., para verificar a presença de esferocristais ou massas cristalinas de diosmina; observaram a presença dos cristais em células epidérmicas e nos espaços intercelulares somente em Minthostachys mollis, sendo os cristais ausentes em Mentha citrata Ehrh e Marrubium vulgare L. O parênquima lacunoso consta de três a quatro camadas de células irregulares, com projeções estendendo de uma célula a outra, formando espaços entre si (Figuras 2 e 3). Geralmente, os tricomas peltados e capitados diferem em morfologia, início e duração da atividade secretora, modo de secreção e tipo de material secretado. O tricoma capitado presente em Mentha spicata X suaveolens é classificado como do Tipo I e apresenta-se com uma ou duas células no pedúnculo e uma grande célula, cujo formato varia de circular a piriforme, constituindo a cabeça. Nesses tricomas, o material secretado é expelido para o exterior (Figura 3B e C), enquanto nos tricomas peltados, o material permanece no espaço subcuticular (Figura 3D). Há predominância de tricomas capitados em relação aos tricomas peltados em Mentha spicata X suaveolens e em M. spicata (Figuras8B, E; 9B, C). Resultados semelhantes foram obtidos por MAFFEI et al. (1986) em Mentha viridis lavanduliodora, em todos os períodos e estádios de desenvolvimento, em que o número total de tricomas decresce durante a floração e torna a aumentar após esse período. Durante a floração, porém, os tricomas, embora em menor número, contêm mais óleo essencial que nos outros períodos. Contrastando com muitas espécies de Lamiaceae, Thymus vulgaris apresenta apenas um único tipo de tricoma peltado produzindo substância lipofílica. O tricoma glandular peltado é constituído por oito células na cabeça, responsáveis pela produção de óleo essencial (BRUNI e MODENESE, 1983). Os tricomas peltados (subséssil) de Mentha spicata e de M. spicata X suaveolens, consistem de uma célula basal, uma célula do pedúnculo curta, larga e unicelular, com paredes externas cutinizadas e uma cabeça grande multicelular com 12 células secretoras, distribuídas radialmente, em dois círculos concêntricos: o central com quatro células e o mais externo com oito, inseridos em 11 células epidérmicas que envolvem a célula do pé do tricoma (Figuras 2C; 3D; 4D; 6C, E, F; 7B, C, E, F e 10A, B, C). Estudos realizados em Origanum dictamnus L. (Lamiaceae) revelaram que o tricoma glandular "scale" é composto por 12 células na cabeça, uma no pescoço e outra na base (BOSABALIDIS e TSEKOS, 1982). HEINRICH (1973); BOSABALIDIS e TSEKOS (1984) também observaram semelhanças em outras espécies de Lamiaceae no arranjo radial dos tricomas peltados, envolvidos por 13 a 15 células epidérmicas, o que difere em relação a este trabalho. BOSABILIDIS (1990), estudando tricomas glandulares de Satureja thymbra, observou o arranjo radial de 13 células epidérmicas ao redor da célula do pé glandular. Foram realizados testes microquímicos preliminares para constatar a presença de alguns compostos secundários em ambas as espécies. Obtiveram-se resultados positivos em conteúdos protoplasmáticos pelo teste com vermelho de Rutênio, para detectar a presença de mucilagem e pectinas (Figura 5B e E); com Safra-Blau, para análise de celulose (Figura 5A e D) e com azul de toluidina; coloração policromática para identificar RNA (púrpura) e DNA (azulesverdeado) (Figura 5 C e F). SERRATO-VALENTI et al. (1997) estudaram a superfície foliar de plantas de Salvia aurea L. e observaram a presença de tricomas glandulares e tricomas não glandulares, incluindo dois tipos de tricomas glandulares, capitado e peltado, com diferenças na estrutura e processo de secreção. A cabeça do tricoma peltado é formada por seis a oito células secretoras, arranjadas em círculo simples, o que não é característica típica de Lamiaceae. Em Leonotis leonurus há um arranjo similar (ASCENSÃO et al., 1995), mas em outras espécies da mesma família, tais como espécies de Origamum (BOSABILIDIS e TSEKOS, 1984), Satureja thymbra (BOSABILIDIS, 1990) e espécies diferentes ecaminadas por WERKER et al. (1985), um número alto de células da cabeça é arranjada em dois círculos concêntricos. Contrariamente, em outras espécies dessa família, tal como Ocimum basilicum (WERKER, 1993), a cabeça do tricoma peltado é formada por quatro células centrais únicas. WATANABE (1993), em observações com microscopia eletrônica de varredura em diferentes formas de tricomas glandulares em grande número de plantas aromáticas, observou que para alfazema, hortelã-pimenta, alfavaca, orégano, sálvia e tomilho, os tricomas peltados formam coroas circulares e cada uma possui de 4 a 12 células secretoras de óleo, o que está de acordo com este trabalho. MRAZ (1998) estudou tricomas de Teucrium montanum (Lamiaceae), em microscopia de luz e de varredura, observando que os tricomas peltados são formados por uma célula basal, uma peduncular e por 4 a 8 células glandulares na cabeça. A figura 9 mostra a superfície da folha de Mentha spicata L em MEV: (A) face adaxial da folha; (B) detalhe do tricoma tector inserido na nervura principal da folha na face abaxial e (C) face abaxial da folha. Monoterpenos incluem o maior componente do óleo essencial das mentas, abrangendo Mentha X pipeita e M. spicata (LAURENCE, 1981). A biossíntese e acumulação de monoterpenos em Mentha é especificamente localizada nos tricomas glandulares e originada no plastídeo (leucoplasto) das células secretoras altamente especializadas, estrutura glandular não fotossintética (TURNER et al., 1999). Notáveis transformações ultra-estruturais ocorrem na secreção das glândulas peltadas de Mentha X piperita, que correlacionam com o pico de produção de monoterpenos no desenvolvimento das folhas (TURNER et al., 1999, 2000; GERSHENZON et al., 2000; MCCONKEY et al., 2000) que sugerem possíveis funções dos leucoplastos e SER, na biossíntese e exportação de monoterpenos. 4. CONCLUSÕES 1. Mentha spicata (hortelã-de-folha-fina) se diferencia de Mentha spicata X suaveolens (hortelãcrespa) por apresentar folhas fortemente aromáticas e flores arroxeadas com posterior formação de frutos e sementes. 2. O mesofilo de ambas as espécies de Mentha é classificado como dorsiventral, com parênquima paliçádico uniestratificado, com células alongadas e ricas em inclusões citoplasmáticas em forma de esferocristais. Ocorrem tricomas glandulares do tipo capitado e peltado e tricomas não glandulares unisseriados, multicelulares não ramificados. 3. O limbo foliar de Mentha spicata X suaveolens apresenta menor espessura em relação ao limbo foliar de Mentha spicata. 4. Mentha spicata X suaveolens apresenta o parênquima paliçádico com células mais curtas e mais largas. Apresenta maior número de inclusões citoplasmáticas em forma de esferocristais em relação ao mesofilo de M. spicata. 5. Os tricomas capitados presentes em ambas as espécies são classificados como do tipo I e apresentam uma célula basal, uma peduncular e uma grande célula apical, cujo formato varia de circular a piriforme. Nesses tricomas, o material é expelido para o exterior, enquanto nos tricomas peltados, permanece no espaço subcuticular. 5. Os tricomas peltados de Mentha spicata L. e de Mentha spicata X suaveolens consistem de uma célula basal, uma peduncular curta e larga, com paredes externas cutinizadas. Apresenta célula apical multicelular, com 12 células secretoras distribuídas radialmente em dois círculos concêntricos. O círculo central possui quatro células secretoras e o externo, oito células secretoras; o acúmulo da secreção fica em uma cavidade formada entre a cutícula e as células secretoras e o tricoma é inserido sob 11 células epidérmicas. 7. Em relação à presença de compostos secundários, obtiveram-se resultados positivos em conteúdos protoplasmáticos por meio de testes microquímicos para presença de mucilagens e pectinas em ambas as espécies. 8. Há predominância de tricomas capitados em relação aos tricomas peltados nas duas espécies estudadas. AGRADECIMENTOS Ao Professor Dr. Elliot Kitajima, coordenador do NAP/MEPA (Núcleo de Apoio à Pesquisa/Microscopia Eletrônica em Pesquisa Agropecuária), ESALQ-USP, pela utilização do microscópio eletrônico de varredura PV (LEO 435VP). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMELUNXEN, F. Einige Beobachtungen na den Blatzellen von Mentha piperita L. Planta Medica, Stuttgart, v.15, p.32-34, 1967. [ Links ] ASCENSÃO, L.; MARQUES, N.; PAIS, M.S. Glandular trichomes on vegetative and reproductive organs of Leonotis leonurus (Lamiaceae). Annals of Botany, London, v.75, p.619-626. 1995. [ Links ] BONZANI, N.; ESPINAR, A.L. Estudios anatomicos de tres espécies de Lamiaceae usada em medicina popular. Acta Farmaceutica Bonaerense, Buenos Aires, v. 12, n.3, p.113-123, 1993. [ Links ] BOSABALIDIS, A.M. Glandular trichomes in Satureza thymbra leaves. Annals of Botany, London, v.65, p.71-78, 1990. [ Links ] BOSABALIDIS, A.M.; TSEKOS, I. Glandular hair formation in Origanum species. 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Links ] Recebido para publicação em 10 de julho de 2001 e aceito em 8 de outubro de 2002 © 2007 Instituto Agronômico Avenida Barão de Itapura, 1481 13020-902 Campinas SP - Brazil Tel.: +55 19 3231-5422 - ramal 116 Fax: (55 19) 3231-5422 - ramal 215 [ Estudos de Microscopia em Mentha spicata e Mentha spicata x suaveolens 205 BOTÂNICA E FISIOLOGIA VEGETAL ESTUDOS DE MICROSCOPIA ÓPTICA E DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA EM FOLHAS DE MENTHA SPICATA E DE MENTHA SPICATA X SUAVEOLENS (LAMIACEAE)(1) MARIA BERNADETE GONÇALVES MARTINS(2) RESUMO O presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo de anatomia foliar por meio de microscopia óptica e de microscopia eletrônica de varredura em Mentha spicata L. e Mentha spicata X suaveolens, caracterizando histologicamente a lâmina foliar. Secções transversais e paradérmicas da região mediana do limbo foliar mostraram a presença de epiderme unisseriada, coberta por uma fina camada de cutícula, apresentando tricomas glandulares do tipo capitado e peltado e não glandulares unisseriados multicelulares, não ramificados. O mesofilo de ambas as espécies é dorsiventral, com parênquima paliçádico uniestratificado, com células alongadas e rico em inclusões citoplasmáticas. O parênquima lacunoso é formado por três a quatro camadas de células irregulares. Os tricomas capitados presentes são classificados como do tipo I, e apresentam-se com uma célula basal, uma célula peduncular e uma grande célula apical, cujo formato varia de circular a piriforme. Os tricomas peltados consistem de uma célula basal, uma célula peduncular curta, larga e unicelular, com paredes externas cutinizadas e uma cabeça grande multicelular com 12 células secretoras, distribuídas radialmente em dois círculos concêntricos, o central com 4 células e o externo com 8 células, as quais acumulam o produto da secreção em uma cavidade entre a cutícula e as células secretoras; o pé do tricoma glandular está inserido em 11 células epidérmicas. Há predominância de tricomas capitados em relação aos tricomas peltados em ambas as espécies de Mentha. Palavras-chave: Mentha, tricomas, anatomia foliar. ABSTRACT OPTICAL MICROSCOPY STUDIES AND SCANNING ELECTRON MICROSCOPY IN LEAF THE MENTHA SPICATA AND MENTHA SPICATA X SUAVEOLENS (LAMIACEAE) The objective of the present work is to make a study of leaf anatomy through optic microscopy and eletronic microscopy of scanning in Mentha spicata L. and Mentha spicata X suaveolens, characterizing the leaf blade histology. Cross and paradermic sections of the leaf, showed the presence of uniseriate epidermal cells covered by a fine cuticle layer, presenting gland trichomes of multicellular type capitate and peltate and no gland trichomes, not ramified. The mesophyll of both species mantain with uniseriate palisade parenchyma only in high epidermal, prolonged cells, and rich in cytoplasmic inclusions. Lacunary parenchyma is formed by 3 to 4 layers of irregular cells. The capitate trichomes are classified as type I they presented with a basal, a pedunculary and a great apical cell, whose format varies from circular to periform. Peltate trichomes consist of a basal cell, a short, wide and unicellular stalk cell, with cutinized external walls and one great multicellular head with 12 secretory cells distributed in two concentrical circles. The trunk has 4 cells and the external one 8 cells, which accumulate the product of the secretion in a cavity between cuticle and the secretor cells, as the foot of glandular trichomes is inserted in 11 epidermal cells. There is a predominance of capitate trichomes in relation to peltate trichomes in both species of Mentha. Key words: Mentha, trichomes, leaf anatomy. (1) Recebido para publicação em 10 de julho de 2001 e aceito em 8 de outubro de 2002. (2) Departamento de Zoologia e Botânica, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Caixa Postal 136, 15054-000 São José do Rio Preto (SP). E-mail: [email protected] Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 205-218, 2002 206 M.B.G. MARTINS 1. INTRODUÇÃO As Lamiaceae compreendem uma família pertencente à Ordem Tubiflorae (Lamiales), abrangendo cerca de 200 gêneros e, aproximadamente, 3.200 espécies, distribuídas em todo o mundo. Menta é o nome comum de aproximadamente 25 espécies perenes do gênero Mentha, que se desenvolve melhor em regiões de clima temperado. O nome é mais bem usado para se referir a algum membro das Lamiaceae, freqüentemente chamada pela família das mentas pelo fato de as plantas dessa família serem caracterizadas por suas folhagens aromáticas. As mentas verdadeiras, entretanto, são restritas a pequenos grupos e por muitos híbridos. Propagam-se por sementes, porém os híbridos de menta são estéreis e podem se propagar por replante de estolhos (JOLY, 1983). São cultivadas como ervas, cujas folhas podem ser secas e usadas como flavorizantes e seu óleo essencial é usado como aromatizante pelas indústrias farmacêuticas em fragrâncias, na medicina e como condimento alimentar. O gênero Mentha é taxonomicamente complexo, em relação à variação na plasticidade fenotípica e à variabilidade genética. Muitas espécies são capazes de hibridização com outras (HALLIDAY e BEADLE, 1972). Óleos essenciais constituem um grupo importante dos produtos econômicos de origem vegetal. A produção de óleos essenciais nas plantas está geralmente associada à presença de estruturas secretoras especializadas, tais como tricomas glandulares, ductos de óleos ou resinas que contêm grande variedade de terpenos, considerados os sítios primários de acúmulos desse material (FAHN, 1979). Poucas espécies da família Lamiaceae foram estudadas anatomicamente, e em Mentha piperita (AMELUNXEN, 1967); M. rubescens (BRUNI e MODENESI, 1983); Salvia glutinosa e S. pratensis (SCHNEPF, 1972); Thymus capitatus (DANILOVA e KASHINA, 1989; WERKER et al., 1985); Thymus vulgaris (BRUNI e MODENESI, 1983); Calmintha menthifolia (HANDILOU et al. 1991); Origanum dictammus (BOSABALIDIS e TSEKOS, 1982); O. vulgare (WERKER et al., 1985); O. basilicum (WERKER et al., 1993); Coryothymus capitatus, Majorana syriaca, Melissa officinalis, Micromeria fruticosa, Rosmarinus officinalis, Salvia officinalis, S. fruticosa, Satureja thymbra (WERKER et al., 1985) foi observada a presença de secreção de óleo essencial nos tricomas glandulares. Em variedades de Mentha piperita e M. rubescens, verificou-se a presença de dois tipos de tricomas glandulares: peltados e capitados. Somente os tricomas peltados apresentavam secreção de monoterpenos (BRUN et al., 1991). Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 205-218, 2002 Tricomas glandulares são estruturas secretoras freqüentemente presentes nas Lamiaceae que secretam óleos essenciais, variando o número de células secretoras, o comprimento da célula peduncular, a quantidade do óleo secretado, a densidade e seu arranjo na epiderme (METCALFE e CHALK, 1983). W ERKER et al. (1985) estudaram a estrutura anatômica dos tricomas secretores de algumas espécies de Lamiaceae e verificaram que os tricomas peltados e capitados diferem na morfologia, início e duração da atividade secretora, modo de secreção e tipo de material secretado. Nos vegetais, o termo secreção pode ser descrito como complexos processos de separação ou isolamento de determinadas substâncias do protoplasma celular, nos quais se inserem a síntese de substâncias, o acúmulo e o armazenamento em compartimentos internos da célula e, até a eliminação em espaços intercelulares (subcuticulares e entre células adjacentes), na superfície externa da planta (FAHN, 1979, 1988; SCHNEPF, 1972). O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo da anatomia foliar por meio de microscopia óptica e de microscopia eletrônica de varredura em Mentha spicata L. e M. spicata X suaveolens, caracterizando histologicamente a lâmina foliar. 2. MATERIAL E MÉTODOS Os espécimes vegetais estudados foram cultivados na Área Experimental do Departamento de Botânica, IBILCE, UNESP, sendo as mudas provenientes do Horto de Plantas Medicinais, da ESALQ-USP, Piracicaba (SP). As populações de Mentha spicata L. e M. spicata X suaveolens não receberam nenhum tratamento especial no seu cultivo. Utilizaram-se folhas adultas, colhidas no estádio vegetativo da planta. O preparo do material, para obtenção do laminário histológico usado para microscopia óptica, constituiu-se basicamente de processos usuais utilizados em microtomia, que incluem: fixação em FAA 50% por 24 horas, desidratação na série alcoólica (etílica), infiltração em parafina, emblocamento, seccionamento, coloração e montagem das amostras (JOHANSEN , 1940). As peças incluídas em parafina foram seccionadas em micrótomo rotativo (Leitz Wetzlar, Germany), obtendo-se secções transversais da lâmina foliar com 10 a 15 µm de espessura. Paralelamente, efetuaram-se cortes paradérmicos à mão livre, com lâmina de aço, na superfície foliar para observação de estômatos, células epidérmicas, morfologia das estruturas secretoras e inserção nas células epidérmicas. Estudos de Microscopia em Mentha spicata e Mentha spicata x suaveolens A fim de se obter uma análise preliminar dos compostos secundários produzidos em Mentha spicata L. e em M. spicata X suaveolens, optou-se por realizar testes microquímicos. Para os testes microquímicos, as folhas adultas, frescas, foram seccionadas à mão livre com lâmina de aço, transversalmente na região mediana do mesofilo. Os cortes obtidos foram colocados em vidro de relógio contendo água destilada e, posteriormente, selecionados em microscópio estereoscópio (Carl Zeiss tipo Jena). Finalizada a seleção, os cortes foram distribuídos em vidros de relógio contendo, respectivamente, vermelho de rutênio (Economou-Amilli citado por S OSSAE , 1995) a fim de detectar a presença de mucilagem e pectinas e de Safra/Blau, para análise de celulose e com azul de toluidina (O’BRIEN et al., 1964); coloração policromática para detectar RNA (púrpura); DNA (azul-esverdeado) e lignina e polifenóis (verde). Foram realizadas mensurações, em 20 campos da região mediana do limbo foliar, através de ocular de retículo micrométrico para avaliar a espessura total do limbo entre as espécies. Paralelamente, prepararam-se amostras foliares para microscopia eletrônica de varredura. O material foi fixado em Karnovsky modificado (glutaraldeído 2,5%, formaldeído 2,5% em tampão cacodilato de sódio 0,05 M, pH 7,2), pós-fixado com tetróxido de ósmio (OsO4) e desidratados em soluções crescentes de acetona (30%, 50%, 70%, 90% e 100%). Posteriormente, os espécimes foram levados à secagem ao ponto crítico com CO2 líquido (Balzers CPD 030) e, em seguida, ao metalizador (MED 010 da Balzers) para cobertura da superfície com uma fina camada de ouro e examinados em microscópio eletrônico de varredura. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O aspecto morfológico característico de Mentha spicata X suaveolens é de uma planta herbácea, prostrada, aromática, que não forma semente, por se tratar de um híbrido, cujo nome popular é “hortelã”, “hortelã-crespa” (Figura 1A). Mentha spicata L. diferencia-se pela folha mais estreita e pela essência fortemente aromática que exala de suas folhas. Apresenta flores arroxeadas com posterior formação de sementes, cujo nome popular é “hortelãpimenta”, “hortelã-de-folha-fina” (Figura 1B). Secções transversais e paradérmicas da região mediana de folhas adultas de M. spicata X suaveolens e de M. spicata L. mostraram a presença de epiderme unisseriada, coberta por uma fina camada de cutícula 207 com tricomas glandulares do tipo capitado (Tipo I) e peltado em ambas as faces, e de tricomas não glandulares (tectores), unisseriados, multicelulares, não ramificados, predominantes na epideme abaxial (Figuras 2 a 4). As células da epiderme abaxial de Mentha spicata X suaveolens são irregulares, sendo as células da face adaxial ligeiramente maiores (Figura 3A-C). SOSSAE (1995), trabalhando com Tetradenia riparia (Lamiaceae) também observou que as células epidérmicas na face adaxial são maiores que as da face abaxial. A epiderme na face abaxial de M. spicata X suaveolens mostra a presença de esferocristais ou massas cristalinas sendo eliminadas pelas células epidérmicas (Figura 5E). Os esferocristais aparecem nas células epidérmicas, nas faces abaxial e adaxial de ambas as espécies, porém em maior proporção em M. spicata X suaveolens (Figuras 5A, B, D e E). O mesofilo de ambas as espécies de Mentha é dorsiventral; o parênquima paliçádico é unisseriado, com células alongadas, dispostas perpendicularmente à superfície do limbo. Há presença de inclusões citoplasmáticas em forma de drusas, distribuídas nas células epidérmicas e nas células do parênquima paliçádico. A análise comparada da espessura do mesofilo de Mentha spicata L. e de Mentha spicata X suaveolens mostrou menor espessura do limbo foliar de M. spicata X suaveolens em relação ao limbo de M. spicata (Figuras 5 B-E). O mesofilo de Mentha spicata X suaveolens em comparação com o de M. spicata L. apresenta o parênquima paliçádico com células mais curtas e mais largas. As células da epiderme são maiores e mais irregulares e apresentam menor número de inclusões citoplasmáticas em forma de esferocristais ou massas cristalinas (Figuras 2 e 3). SOSSAE (1995), estudando anatomicamente as folhas de Tetradenia ripara, observou o mesofilo heterogêneo e assimétrico, o parênquima paliçádico bisseriado, com células de vários tamanhos, alongadas e ricas em inclusões citoplasmáticas em forma de drusas. B ONZANI e E SPINAR (1993) estudaram, anatomicamente, três espécies de Lamiaceae usadas na medicina popular: Minthostachys mollis (Kunth) Griseb; Mentha citrata Ehrh e Marrubium vulgare L., para verificar a presença de esferocristais ou massas cristalinas de diosmina; observaram a presença dos cristais em células epidérmicas e nos espaços intercelulares somente em Minthostachys mollis, sendo os cristais ausentes em Mentha citrata Ehrh e Marrubium vulgare L. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 205-218, 2002 208 M.B.G. MARTINS A A B Figura 1. Aspecto geral de plantas adultas. A: Mentha spicata X suaveolens; B: M. spicata L. O parênquima lacunoso consta de três a quatro camadas de células irregulares, com projeções estendendo de uma célula a outra, formando espaços entre si (Figuras 2 e 3). Geralmente, os tricomas peltados e capitados diferem em morfologia, início e duração da atividade secretora, modo de secreção e tipo de material secretado. O tricoma capitado presente em Mentha spicata X suaveolens é classificado como do Tipo I e apresenta-se com uma ou duas células no pedúnculo e uma grande célula, cujo formato varia de circular a piriforme, constituindo a cabeça. Nesses tricomas, o material secretado é expelido para o exterior (Figura 3B e C), enquanto nos tricomas peltados, o material permanece no espaço subcuticular (Figura 3D). Há predominância de tricomas capitados em relação aos tricomas peltados em Mentha spicata X suaveolens e em M. spicata (Figuras 8B, E; 9B, C). Resultados semelhantes foram obtidos por MAFFEI et al. (1986) em Mentha viridis lavanduliodora, em todos os períodos e estádios de desenvolvimento, em que o número total de tricomas decresce durante a floração e torna a aumentar após esse período. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 205-218, 2002 B C Figura 2. Secção transversal da lâmina foliar de Mentha spicata L. A: Corte transversal da lâmina foliar (200x); B: Detalhe de tricoma capitado do Tipo I (400x); C: Detalhe de tricoma peltado (200x). e = epiderme; pp = parênquima paliçádico; pl = parênquima lacunoso; cb = célula basal; cp = célula peduncular; ca = célula apical; es = espaço subcuticular; tp = tricoma peltado; pc = parede celular. Estudos de Microscopia em Mentha spicata e Mentha spicata x suaveolens 209 A B C D Figura 3. Secção transversal da lâmina foliar de Mentha spicata X suaveolens. A: Corte transversal do limbo foliar (200x); B: Detalhe de tricoma capitado na face adaxial da epiderme (400x); C: Detalhe de tricoma capitado na face abaxial da epiderme (400x); D: Detalhe do tricoma peltado (400x). e = epiderme; pp = parênquima paliçádico; pl = parênquima lacunoso; cb = célula basal; cp = célula peduncular; ca = célula apical; es = espaço subcuticular; tp = tricoma peltado, f = floema, x = xilema. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 205-218, 2002 Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 205-218, 2002 3um D B Figura 4. Secção paradérmica da lâmina foliar de Mentha spicata L. e de Mentha spicata X suaveolens. A: Epiderme adaxial de M. spicata (200x); B: Epiderme abaxial M. spicata (200x); C: Epiderme adaxial de M. spicata X suaveolens (200x); D: Epiderme abaxial M. spicata X suaveolens (200x). ce = célula epidérmica; e = estômato; tp = tricoma peltado. C A 210 M.B.G. MARTINS Estudos de Microscopia em Mentha spicata e Mentha spicata x suaveolens 211 A D B C E F Figura 5. Secção transversal da lâmina foliar de Mentha spicata L. (A, B, C) e de Mentha spicata X suaveolens (D, E, F). Testes microquímicos. A e D: Coloração com Safranina/Astra–Blau (200x); B e E: Coloração com vermelho de rutênio (200x); C e F: Coloração com azul de toluidina (200x). e = epiderme; pp = parênquima paliçádico; pl = parênquima lacunoso; si = substância inorgânica. Durante a floração, porém, os tricomas, embora em menor número, contêm mais óleo essencial que nos outros períodos. Contrastando com muitas espécies de Lamiaceae, Thymus vulgaris apresenta apenas um único tipo de tricoma peltado produzindo substância lipofílica. O tricoma glandular peltado é constituído por oito células na cabeça, responsáveis pela produção de óleo essencial (BRUNI e MODENESE, 1983). Os tricomas peltados (subséssil) de Mentha spicata e de M. spicata X suaveolens, consistem de uma célula basal, uma célula do pedúnculo curta, larga e unicelular, com paredes externas cutinizadas e uma cabeça grande multicelular com 12 células secretoras, distribuídas radialmente, em dois círculos concêntricos: o central com quatro células e o mais externo com oito, inseridos em 11 células epidérmicas que envolvem a célula do pé do tricoma (Figuras 2C; 3D; 4D; 6C, E, F; 7B, C, E, F e 10A, B, C). Estudos realizados em Origanum dictamnus L. (Lamiaceae) revelaram que o tricoma glandular “scale” é composto por 12 células na cabeça, uma no pescoço e outra na base (B OSABALIDIS e T SEKOS , 1982). Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 205-218, 2002 M.B.G. MARTINS 212 A D B E C F Figura 6. Micrografia eletrônica de varredura (MEV) da epiderme na face adaxial de Mentha spicata X suaveolens. A: Detalhe do tricoma capitado em vista frontal (700x); B: Detalhe do tricoma capitado em vista lateral (1.150x); C: Detalhe do tricoma peltado e capitado (450x); D: Estômato (750x); E: Tricoma peltado com 12 células secretoras arranjadas em dois círculos concêntricos (1.000x); F: Tricoma peltado (875x). H EINRICH (1973); B OSABALIDIS e T SEKOS (1984) também observaram semelhanças em outras espécies de Lamiaceae no arranjo radial dos tricomas peltados, envolvidos por 13 a 15 células epidérmicas, o que difere em relação a este trabalho. B OSABALIDIS (1990), estudando tricomas glandulares de Satureja thymbra, observou o arranjo radial de 13 células epidérmicas ao redor da célula do pé glandular. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 205-218, 2002 Foram realizados testes microquímicos preliminares para constatar a presença de alguns compostos secundários em ambas as espécies. Obtiveram-se resultados positivos em conteúdos protoplasmáticos pelo teste com vermelho de Rutênio, para detectar a presença de mucilagem e pectinas (Figura 5B e E); com Safra-Blau, para análise de celulose (Figura 5A e D) e com azul de toluidina; coloração policromática para identificar RNA (púrpura) e DNA (azul-esverdeado) (Figura 5 C e F). Estudos de Microscopia em Mentha spicata e Mentha spicata x suaveolens A B C 213 D E F Figura 7. Micrografia eletrônica de varredura (MEV) da epiderme abaxial de Mentha spicata X suaveolens. A: Detalhe do tricoma não secretor, tector (750x); B: Detalhe do tricoma peltado e de estômato (775x); C: Detalhe do tricoma peltado, mostrando o produto da secreção granular (470x); D: Células da nervura principal com tricoma capitado senescente (1.000x); E: Detalhe do tricoma secretor peltado com 12 células secretoras arranjadas em dois círculos, estômato e tricoma capitado (500x); F: Detalhe de tricoma peltado com espaço subcuticular (seta) (490x). SERRATO-VALENTI et al. (1997) estudaram a superfície foliar de plantas de Salvia aurea L. e observaram a presença de tricomas glandulares e tricomas não glandulares, incluindo dois tipos de tricomas glandulares, capitado e peltado, com diferenças na estrutura e processo de secreção. A cabeça do tricoma peltado é formada por seis a oito células secretoras, arranjadas em círculo simples, o que não é característica típica de Lamiaceae. Em Leonotis leonurus há um arranjo similar (ASCENSÃO et al., 1995), mas em outras espécies da mesma família, tais como espécies de Origamum (B OSABALIDIS e T SEKO s, 1984), Satureja thymbra (Bosabalidis, 1990) e espécies diferentes ecaminadas por WERKER et al. (1985), um número alto de células da cabeça é arranjada em dois círculos concêntricos. Contrariamente, em outras Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 205-218, 2002 M.B.G. MARTINS 214 A D B E C F Figura 8. Micrografia eletrônica de varredura (MEV) da epiderme de Mentha spicata L. A: Detalhe do tricoma não secretor (tector) e de células epidérmicas na face adaxial com paredes sinuosas (650x); B: tricoma peltado e tricoma unisseriado multicelular na epiderme face adaxial (310x); C: Tricomas capitados e tricoma peltado na epiderme face adaxial (480x); D: Epiderme na face abaxial, com abundantes tricomas tectores multicelulares (280x); E: Epiderme na face adaxial com tricomas capitados (900x); F: Epiderme na face adaxial, mostrando a presença de estômatos e de tricoma capitado (1.050x). espécies dessa família, tal como Ocimum basilicum (W ERKER , 1993), a cabeça do tricoma peltado é formada por quatro células centrais únicas. W ATANABE (1993), em observações com microscopia eletrônica de varredura em diferentes formas de tricomas glandulares em grande número de plantas aromáticas, observou que para alfazema, hortelã-pimenta, alfavaca, orégano, sálvia e tomilho, Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 205-218, 2002 os tricomas peltados formam coroas circulares e cada uma possui de 4 a 12 células secretoras de óleo, o que está de acordo com este trabalho. M RAZ (1998) estudou tricomas de Teucrium montanum (Lamiaceae), em microscopia de luz e de varredura, observando que os tricomas peltados são formados por uma célula basal, uma peduncular e por 4 a 8 células glandulares na cabeça. Estudos de Microscopia em Mentha spicata e Mentha spicata x suaveolens A E B F 215 C G H D Figura 9. Micrografia eletrônica de varredura da superfície foliar de Mentha spicata L. A: Vista frontal da epiderme na face adaxial da folha (74x). Presença de tricomas peltados e capitados; B: Epiderme na face abaxial da folha. Detalhe de tricoma tector na nervura principal (250x); C: Epiderme na face abaxial da folha. Notar a grande quantidade de tricomas capitados em relação ao tricoma peltado (500x). Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 205-218, 2002 M.B.G. MARTINS 216 A B C D Figura 10. Secções paradérmicas da folha de Mentha spicata L. na face adaxial da epiderme. A: Tricoma peltado formado por 12 células secretoras, dispostas em dois círculos concêntricos. Detalhe das 11 células epidérmicas circundando a célula do pé unicelular do tricoma (200x); B: Idem em detalhe (400x); C e D: Secções paradérmicas da folha de Mentha spicata X suaveolens na face adaxial de epiderme (200x). Tricoma peltado formado por 12 células secretoras, dispostas em dois círculos concêntricos, quatro células constituindo a coroa central e oito células circundando a coroa. A figura 9 mostra a superfície da folha de Mentha spicata L em MEV: (A) face adaxial da folha; (B) detalhe do tricoma tector inserido na nervura principal da folha na face abaxial e (C) face abaxial da folha. Monoterpenos incluem o maior componente do óleo essencial das mentas, abrangendo Mentha X pipeita e M. spicata (LAURENCE, 1981). A biossíntese e acumulação de monoterpenos em Mentha é especificamente localizada nos tricomas glandulares e originada no plastídeo (leucoplasto) das células Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 205-218, 2002 secretoras altamente especializadas, estrutura glandular não fotossintética (TURNER et al., 1999). Notáveis transformações ultra-estruturais ocorrem na secreção das glândulas peltadas de Mentha X piperita, que correlacionam com o pico de produção de monoterpenos no desenvolvimento das folhas (TURNER et al., 1999, 2000; GERSHENZON et al., 2000; MCCONKEY et al., 2000) que sugerem possíveis funções dos leucoplastos e SER, na biossíntese e exportação de monoterpenos. Estudos de Microscopia em Mentha spicata e Mentha spicata x suaveolens 4. CONCLUSÕES 1. Mentha spicata (hortelã-de-folha-fina) se diferencia de Mentha spicata X suaveolens (hortelã-crespa) por apresentar folhas fortemente aromáticas e flores arroxeadas com posterior formação de frutos e sementes. 2. O mesofilo de ambas as espécies de Mentha é classificado como dorsiventral, com parênquima paliçádico uniestratificado, com células alongadas e ricas em inclusões citoplasmáticas em forma de esferocristais. Ocorrem tricomas glandulares do tipo capitado e peltado e tricomas não glandulares unisseriados, multicelulares não ramificados. 3. O limbo foliar de Mentha spicata X suaveolens apresenta menor espessura em relação ao limbo foliar de Mentha spicata. 4. Mentha spicata X suaveolens apresenta o parênquima paliçádico com células mais curtas e mais largas. Apresenta maior número de inclusões citoplasmáticas em forma de esferocristais em relação ao mesofilo de M. spicata. 5. Os tricomas capitados presentes em ambas as espécies são classificados como do tipo I e apresentam uma célula basal, uma peduncular e uma grande célula apical, cujo formato varia de circular a piriforme. Nesses tricomas, o material é expelido para o exterior, enquanto nos tricomas peltados, permanece no espaço subcuticular. 5. Os tricomas peltados de Mentha spicata L. e de Mentha spicata X suaveolens consistem de uma célula basal, uma peduncular curta e larga, com paredes externas cutinizadas. Apresenta célula apical multicelular, com 12 células secretoras distribuídas radialmente em dois círculos concêntricos. O círculo central possui quatro células secretoras e o externo, oito células secretoras; o acúmulo da secreção fica em uma cavidade formada entre a cutícula e as células secretoras e o tricoma é inserido sob 11 células epidérmicas. 7. Em relação à presença de compostos secundários, obtiveram-se resultados positivos em conteúdos protoplasmáticos por meio de testes microquímicos para presença de mucilagens e pectinas em ambas as espécies. 8. Há predominância de tricomas capitados em relação aos tricomas peltados nas duas espécies estudadas. AGRADECIMENTOS Ao Professor Dr. Elliot Kitajima, coordenador do NAP/MEPA (Núcleo de Apoio à Pesquisa/ Microscopia Eletrônica em Pesquisa Agropecuária), ESALQ-USP, pela utilização do microscópio eletrônico de varredura PV (LEO 435VP). 217 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMELUNXEN, F. 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Email: [email protected] IIEmbrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 371, 35701-970 Sete Lagoas (MG) RESUMO Realizaram-se cruzamentos dialélicos entre nove populações de milho-pipoca (Zea mays L.) UNB-2, RS-20, UEM-J1, UEM-M2, CMS-42, CMS-43, Viçosa, Beija-flor e a geração avançada do híbrido triplo Zélia - para a obtenção dos 36 híbridos F1's a fim de alcançar informação dos valores da capacidade combinatória e heterose. Essas populações e os F1's foram avaliados em ensaios, em dois anos agrícolas (98/99 e 99/00), em Iguatemi (PR), com três repetições por ano. Os resultados permitiram recomendar compostos formados entre as populações de alta capacidade geral de combinação (CGC) para rendimento de grãos, UNB-2 e CMS-42 e as populações de alta CGC para capacidade de expansão, Zélia, RS-20 e UEM-M2. As populações Beija-flor e RS-20 foram recomendadas para iniciar programa de seleção recorrente recíproca, pois se complementam em relação ao rendimento de grãos e à capacidade de expansão (CE). Para CE, houve heteroses positiva e negativa, verificando-se dominância não unidirecional. Palavras-chave: Zea mays L., compostos, cruzamentos dialélicos, rendimento e capacidade de expansão. ABSTRACT A diallel set of crosses among nine varieties of popcorn (Zea mays L.) - UNB-2, RS-20, UEMJ1, UEM-M2, CMS 42, CMS 43, Viçosa, Beija-flor and advanced generation of hybrid three-way Zélia) and their hybrid combinations was carried out to obtain capacity hability and heterosis estimates. These varieties and F1's were evaluated in two crop years (98/99 and 99/00) with three replications each year in Iguatemi, State of Paraná, Brazil. The results allowed the synthesis of composts based in varieties of high combining ability for yield, like UNB-2 and CMS-42 and the varieties Zélia, RS-20 e UEM-M2 to popping expansion. The varieties Beija-flor and RS-20 were recommend to be used in a reciprocal recurrent selection program. For popping expansion there are positive and negative heterosis, indicating non unidericional dominance. Key words: Zea mays L.; composites, diallel crosses, yield, popping expansion. 1. INTRODUÇÃO O milho-pipoca é alimento bastante apreciado no Brasil. No entanto, seu plantio comercial é bastante modesto. De acordo com GALVÃO et al. (2000) foram importadas em 1998 aproximadamente 61 mil toneladas, e a produção nacional foi cerca de 20 mil toneladas de grãos. Isso se deve, sobretudo, à baixa qualidade da pipoca disponível no mercado brasileiro devido à limitação de cultivares de alta qualidade e tecnologia de produção inadequada. No melhoramento do milho-pipoca deve-se levar em consideração, além da produtividade e caracteres agronômicos, aspectos relacionados à qualidade da pipoca, como textura e maciez. Ao agricultor interessa produtividade elevada e os demais atributos de boa população de milho normal; ao consumidor, alta capacidade de expansão (CE), que confere à pipoca melhor textura e maciez. Nesse contexto, comparação inicial entre as populações brasileiras e norte-americanas de milho-pipoca mostrava que a qualidade da pipoca brasileira era muito inferior à da norteamericana. No primeiro Ensaio Nacional de Milho-Pipoca, realizado no ano agrícola 1991/92, a CE média foi de 17,5 mL.mL-1 e a média da melhor cultivar foi de 20,8 mL.mL-1. Na década de 40, a CE de híbridos e populações comerciais nos Estados Unidos variava de 23,2 a 32,7 mL.g1. Uma boa população de milho-pipoca deve ter CE acima de 21 mL.mL-1. Valores acima de 26 mL.mL-1 indicam excelente pipoca (GALVÃO et al., 2000). Recentemente, SAWAZAKI et al. (2000) e GALVÃO et al. (2000) obtiveram bons resultados de produtividade e capacidade de expansão em São Paulo e Minas Gerais. Nesses ensaios, a capacidade de expansão média variou de 32 a 36 mL.g-1 e a produtividade média de grãos ficou acima de 4.000 kg.ha-1. São híbridos de linhagens Guarani e IAC-64 obtidos no Instituto Agronômico (IAC), em Campinas (SP), que apresentaram boa adaptação à região, cujos resultados se aproximam dos melhores híbridos norte-americanos. Apesar desses avanços, o número reduzido de cultivares é limitante para expansão da cultura no Brasil, haja vista que as empresas empacotadoras não trabalham com o milho-pipoca nacional devido à pouca oferta no mercado que é decorrente da falta de sementes. Nesse contexto, é necessário que novos programas de melhoramento sejam iniciados por empresas públicas ou privadas. Para se ter sucesso no programa são necessárias populações com alta variabilidade. Uma das técnicas genético-estatísticas mais apropriadas tem sido a análise de cruzamentos dialélicos em razão do grande número de informações genéticas que pode oferecer ao melhorista (CRUZ, 1990; CRUZ e REGAZZI, 1994). Poucos trabalhos têm sido relatados quanto à análise dialélica em milho-pipoca. Avaliação da CE de seis populações e de seus híbridos F1's, realizada por SAWAZAKI et al. (1986), mostrou amplas possibilidades de melhoramento da CE com o uso de híbridos intervarietais. ZANETTE (1989) analisou dialelo entre sete populações de milho-pipoca e concluiu existir heterose para CE, embora esta não tenha variado de cruzamento para cruzamento. ANDRADE (1995) analisou dialelo entre seis populações de milho-pipoca, seus 15 híbridos F1's e 15 híbridos F1's recíprocos. A população Viçosa foi identificada como a mais promissora, podendo ser utilizada em híbridos ou como fonte de linhagens para uso em programas de melhoramento intra- ou interpopulacionais. O híbrido Viçosa x Roxa mostrou-se o mais desejável quando se consideraram simultaneamente os caracteres rendimento de grãos e capacidade de expansão. Assim, as duas foram recomendadas para iniciar programa de seleção recorrente recíproca, como Rosa Claro e Beija-flor. Recentemente, LARISH e BREWBAKER (1999) analisaram dois dialelos, um de seis populações de milho-pipoca (quatro dos trópicos e duas americanas) e outro de cinco linhagens americanas para as características rendimento de grãos e capacidade de expansão nos trópicos. Houve heterose positiva para rendimento de grãos e heterose negativa para capacidade de expansão para os dois dialelos. A razão entre a capacidade geral de combinação e a capacidade específica de combinação foi alta para todas as características, o que permitiria ganhos por seleção. Ambos os dialelos possibilitaram afirmar que os melhoristas dos trópicos deveriam trabalhar com o grupo heterótico formado pelas populações Supergold e Jap Hulless. Devido à inexistência de relatos no Brasil de análise dialélica com as populações UNB-2, RS20, UEM-J1, UEM-M2, CMS-42, CMS-43, geração avançada do híbrido triplo Zélia, Viçosa e Beija-flor, realizou-se este trabalho com o objetivo de avaliar a capacidade geral de combinação e heterose das populações de milho-pipoca pelos métodos de GRIFFING (1956) e GARDNER e EBERHART (1966) e indicar quais as melhores combinações para a formação de composto de grãos de cor amarela. 2. MATERIAL E MÉTODOS Foram realizados cruzamentos dialélicos entre nove populações de milho-pipoca (UNB-2, RS20, UEM-J1, UEM-M2, CMS-42, CMS-43, geração avançada do híbrido triplo Zélia, Viçosa e Beija-flor). Para a obtenção dos híbridos, as populações foram semeadas em quatro linhas de 10 metros de comprimento pareadas em todas as combinações possíveis. Na época do florescimento foram feitos todos os cruzamentos possíveis entre as populações, manualmente, por meio de polinização planta a planta, com mistura de pólen. Realizou-se a multiplicação das populações em lote à parte, por meio de polinização manual com mistura de pólen. A seguir, descrição de cada população: UNB-2 - a população UNB-2 originou-se de seleção em 'Composto Indígena', que a ESALQ/USP, de Piracicaba (SP), doou à Universidade Nacional de Brasília (DF). Com isso, gerou-se a população UNB-1, que foi cruzada com a população de milho-pipoca Americana, cujas progênies selecionadas foram cruzadas com uma população de milho-pipoca de grãos amarelos e resistente a Exserohilum turcicum. Após dois ciclos de seleção massal obteve-se uma população formada por plantas resistentes, com alta produção e com grãos amarelos. Tal população foi retrocruzada por três vezes com a Americana, originando a UNB-2, de polinização aberta. UEM M2 e UEM-J1 - são populações locais mantidas por pequenos agricultores, com genealogia desconhecida. Foram doadas para a Universidade Estadual de Maringá (PR), em 1996. A partir desse ano, foram submetidas a dois ciclos de seleção massal para características de sanidade foliar. Viçosa e Beija-flor - pertencem à Universidade Federal de Viçosa (MG) e foram desenvolvidas com base em cruzamentos entre populações locais e híbridos norte-americanos. RS-20 - população comercial desenvolvida pelo IPAGRO e comercializada pela AGROESTE-SC. População derivada do híbrido triplo Zélia - cultivar comercial da empresa PIONEER. Apresenta quatro gerações de acasalamento ao acaso. Pode ser considerada uma população em equilíbrio. CMS 42 e CMS-43 - o Composto Pipoca Amarelo Redondo (CMS-42) foi formado com base em 25 materiais de grãos amarelos e o Composto Pipoca Branco Redondo (CMS-43), em 33 materiais de grãos brancos, ambos selecionados no Banco Ativo de Germoplasma da EMBRAPA (CNPMS), Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo, Sete Lagoas (MG), quanto à resistência a Puccinia spp. e ao Helminthosporium turcicum. Em Maringá, foram submetidos a dois ciclos de seleção massal para características de sanidade foliar. Os ensaios foram desenvolvidos em campos experimentais da Universidade Estadual de Maringá em dois anos (98/99 e 99/2000), no delineamento em blocos casualizados com três repetições e 36 tratamentos. Cada parcela foi representada por duas fileiras de 5 m de comprimento. O espaçamento entre fileiras foi de 0,9 m. Nas parcelas, o plantio foi feito em covas espaçadas de 0,2 m, com duas sementes por cova, deixando-se após o desbaste, realizado aos 20-25 dias após a emergência, uma planta por cova, de forma que cada parcela ficasse com 50 plantas. Efetuaram-se os tratos culturais de acordo com a necessidade da cultura. As características avaliadas foram: altura da planta (AP) - tomada do nível do solo à inserção da folha bandeira, em seis plantas competitivas por parcela, após o pendoamento; altura da espiga (AE) - medida do nível do solo até a inserção da espiga superior no colmo, nas mesmas seis plantas por parcela; umidade dos grãos (UG) - obtida em uma amostra de grãos de cada parcela; rendimento de grãos (RG) - obtido pela pesagem dos grãos debulhados na parcela e transformados em kg.ha-1 corrigido para umidade de 15,5% e capacidade de expansão (CE) - obtida como a razão entre o volume da pipoca expandida e o volume dos grãos crus. Para cada parcela, estourou-se amostra de 30 mL de grãos, medida em proveta graduada de 100 mL, em pipoqueira elétrica com controle automático de temperatura, regulada para 237 oC, cedida pela EMBRAPA - Milho e Sorgo. Mediu-se o volume da pipoca expandida em proveta graduada de 1.000 mL. O volume de grãos submetidos ao estouro foi retirado da parte centro-basal das espigas. Antes de se avaliar a capacidade de expansão, as amostras de grãos e a amostra-piloto de 1,0 kg que serviu para monitoramento da umidade, foram armazenadas em câmara seca e fria. Efetuou-se o procedimento para obtenção da característica capacidade de expansão somente a partir do dia em que a amostrapiloto atingiu umidade próxima de 12% (HOSENEY et al., 1983). Inicialmente, realizou-se a análise da variância em cada ano, seguindo o modelo adotado. A homogeneidade das variâncias residuais dos anos foi avaliada por meio do teste do F máximo a 5% de probabilidade. Os efeitos de tratamentos e de anos foram considerados fixos. As análises da variância foram feitas usando-se o programa SAEG (GOMES e BRAGA, 1992) desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa. Analisou-se a homogeneidade das médias estimadas segundo o teste de SCOTT e KNOTT (1974), a 5% de probabilidade. Fez-se a aplicação do teste por meio do programa SAEG (GOMES e BRAGA, 1992). Com base nos resultados das análises da variância, as somas de quadrados de tratamentos foram decompostas em capacidade geral de combinação. Para a decomposição, utilizou-se o método 4, modelo 1, de GRIFFING (1956), em que o sistema dialélico consta de híbridos F1's. Posteriormente, para avaliação da heterose empregou-se o método de GARDNER e EBERHART (1966). A análise dialélica foi feita usando-se o programa GENES (CRUZ, 1997), desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente, procederam-se as análises da variância em cada ano. Uma vez que o teste F máximo não revelou, a 5% de probabilidade, heterogeneidade entre os quadrados médios do resíduo das análises individuais, para todos os caracteres, foi possível a realização das análises da variância conjunta, considerando-se os dois anos. No quadro 1 são apresentados os coeficientes de variação para todos os caracteres. De acordo com a classificação elaborada por SCAPIM et al. (1995) esses coeficientes são considerados como médios. A característica CE não apresenta classificação própria, no entanto, apresentouse dentro dos limites aceitáveis para a experimentação agrícola (c.v. = 12,5% e 13,8%), quando comparada com outros autores (VENDRUSCOLO, 1997; PACHECO et al., 1998 e SIMON, 2000), ficando acima quando comparado com SAWASAKI et al. (1986), que encontraram c.v. = 5,3%. Os quadrados médios de anos foram significativos, a 5% de probabilidade, para todos os caracteres, com exceção do rendimento de grãos, indicando a existência de diferenças entre as médias dos anos para esses caracteres. Apenas os caracteres capacidade de expansão e rendimento de grãos apresentaram significância quanto à interação de populações x anos, mostrando que as populações comportaram-se distintamente nos dois anos. As médias dos caracteres agronômicos das populações e dos híbridos são apresentadas no quadro 1, juntamente com seus agrupamentos pelo teste de SCOTT e KNOTT (1974), a 5% de probabilidade. Para altura de plantas e altura de espigas observaram-se a formação de quatro grupos (Quadro 1). Mesmo os tratamentos que apresentaram maiores altura de planta e da espiga (1,77 m e 1,00 m) não serão limitantes para a colheita. Para rendimento de grãos e capacidade de expansão, o agrupamento das médias foi feito em cada ano separadamente, uma vez que houve interação dos tratamentos com os ambientes (Quadro 1). Os tratamentos que apresentaram maiores rendimento de grãos, nos dois anos, foram Viçosa x UNB-2, Viçosa x CMS-42 e UNB-2 x UEM J1. Suas produções variaram de 2.997 kg.ha-1 a 3.652 kg.ha-1, conforme o ano. Esses valores são considerados satisfatórios. Para CE, observou-se a formação de quatro grupos no primeiro ano e cinco grupos no segundo. A população RS-20, os híbridos Beija-flor x RS-20; RS-20 x UEM M2 estiveram presentes e se destacaram nos dois primeiros grupos nos dois anos. As médias de CE das populações neste trabalho foram de 12,0 mL.mL-1 no ano agrícola 98/99 e 15,5 mL.mL-1 em 99/00, sendo o maior valor observado de 21,5 mL.mL-1 em 99/00. As médias de CE dos híbridos intervarietais foram de 13,0 mL.mL-1 no ano agrícola 98/99 e 13.5 mL.mL-1 em 99/2000. Assim, a capacidade de expansão é fator limitante ao uso comercial dos híbridos intervarietais aqui testados. O fato parece ser comum às populações brasileiras de milho-pipoca, com raras exceções, como Zélia que é híbrido triplo; IAC-112, híbrido simples e a população BRS-Ângela, melhorada a partir da CMS-43, por meio de quatro ciclos de seleção entre e dentro de progênies de meios-irmãos (PACHECO et al., 1998). É interessante comparar os valores de CE obtidos neste trabalho com aqueles de populações comerciais. Segundo ZINSLY e MACHADO (1987), o valor mínimo de CE da população comercial deve ser 15. Gama et al. (1990) consideraram altos os valores acima de 25; provavelmente, esses autores se referiam à unidade mL.mL-1. GALVÃO et al. (2000) apresentaram discussão interessante sobre essa avaliação, visto que nos EUA a medida comercial mais utilizada é mL.g-1. Na escala, mL.mL-1, o valor de 18 a 20 é considerado aceitável, de 21 a 26, bom e acima de 26, excelente, segundo os autores. Percebe-se que, apesar dos baixos valores de CE, os trabalhos de melhoramento indicam perspectivas de sucesso no melhoramento intrapopulacional para essa variável, empregandose diferentes populações e métodos de melhoramento, como os relatados por PACHECO et al. (1998), LARISH e BREWBAKER (1999), PEREIRA e AMARAL-JÚNIOR (2001) e SIMON (2000). Esses artigos indicam a predominância de efeitos aditivos e alta herdabilidade no sentido restrito para essa característica. Nos dois anos, o rendimento de grãos não se mostrou de forma consistente em todos os tratamentos que se destacaram para a capacidade de expansão, citados anteriormente. Por outro lado, os híbridos intervarietais mais produtivos, Viçosa x UNB-2, Viçosa x CMS-42 e UNB2 x UEM-J1; não apresentaram alta capacidade de expansão. Assim, nenhum dos híbridos pôde ser considerado superior para os caracteres rendimento de grãos e capacidade de expansão, simultaneamente. As somas de quadrados de capacidade geral (CGC) foram significativas (P< 0,05) para todos os caracteres. Tal fato evidencia a variabilidade genética entre as populações estudadas e a manifestação de ação gênica aditiva, situação favorável ao melhoramento. As estimativas dos efeitos da CGC ( ) das populações encontram-se no quadro 2. Baixo valor indica que a média dos híbridos em que a população i participa não difere muito da de média geral do dialelo. Alto valor, positivo ou negativo, revela que a população i é muito melhor ou pior que as demais populações incluídas no dialelo, com relação à média de seus a população que possuir maior freqüência de alelos favoráveis híbridos. Apresentará maior (CRUZ e VENCOVSKY, 1989). Uma vez que houve interação da CGC com anos para capacidade de expansão e rendimento de grãos, os efeitos de capacidade geral de combinação das populações genitoras foram estimados em cada ano separadamente (Quadro 2). As populações UNB-2, CMS-42 e UEM-J1 apresentaram positivos nos dois anos para rendimento de grãos, enquanto as populações Zélia, RS-20, UEM-M2 e CMS 43 apresentaram efeitos negativos. As populações Beija-flor e Viçosa apresentaram efeitos positivos ou negativos, conforme o ano. Para capacidade de expansão, as populações Zélia, RS-20, UEM-M2, CMS-43 e CMS-42 apresentaram gi positivos nos dois anos, enquanto as populações Beija-flor, Viçosa, UNB-2 e UEM-J1 apresentaram negativos. Para programas de melhoramento de milho-pipoca interessa encontrar populações que reúnam genes favoráveis quanto à produção e expansão altas. As populações que apresentaram as maiores freqüências de alelos favoráveis para produção, UNB-2 e UEM-J1, foram também as que apresentaram as menores freqüências de alelos favoráveis para expansão. As populações Zélia, UEM M2 e RS-20, que se destacaram para expansão, foram piores em produção. A positivas para rendimento de população CMS-42 foi a única a apresentar estimativas de grãos e capacidade de expansão. No entanto, as estimativas positivas de rendimento foram baixas em relação às outras populações. Dessa forma, nenhuma população pôde ser identificada como a mais promissora para ser usada em programa de melhoramento intrapopulacional. Os quadrados médios dos efeitos de populações e de heterose foram significativos para todos os caracteres, com exceção da heterose para AE, indicando que as populações não constituem grupo homogêneo (diferem quanto à CGC) e que há manifestação de heterose em seus híbridos, ou seja, a heterose interfere na CGC. Ao se desdobrar a soma de quadrados de heterose e as interações entre heteroses (média, varietal e específica) e os anos para altura da planta e da espiga, apenas o quadrado médio da heterose média apresentou significância. Isso mostra que a variância das freqüências gênicas entre as populações é alta em locos com dominância. A não-significância dos efeitos de heterose varietal e específica, por outro lado, sugere que as populações não diferem nas suas respectivas freqüências gênicas médias e têm a mesma dispersão de freqüências gênicas (VENCOVSKY, 1970). Verificou-se que os efeitos se mantiveram constantes nos dois anos. Para rendimento de grãos, o desdobramento da heterose e das interações heteroses x anos foi significativo (P < 0,05). Isso significa que existe variância suficiente das freqüências gênicas entre as populações, que algumas delas diferem entre si, quanto às freqüências gênicas médias ou quanto ao grau de dispersão dessas freqüências. Diferenças entre os graus de complementação das freqüências podem também estar presentes. Além disso, esses efeitos não se mantiveram constantes nos dois anos. Para o caráter capacidade de expansão, o quadrado médio da heterose média não apresentou significância. O contrário ocorreu com os quadrados médios da heterose varietal e específica. Esse fato confirma a existência de dominância bidirecional na determinação deste caráter. Admitindo-se que o quadrado médio de heterose seja significativo, e a dominância, unidirecional, os quadrados médios das heteroses varietal e específica serão significativos apenas se o quadrado médio da heterose média for também (VENCOVSKY, 1970). Para os caracteres altura da planta e da espiga, as populações que apresentaram os maiores UEM-J1, UNB-2 e Beija-flor (Quadro 3). As populações RS-20 e UEM-M2, por outro lado, apresentaram as menores estimativas. foram Para rendimento de grãos, as populações UNB-2, Zélia, CMS-43 apresentaram dois anos, enquanto as populações RS-20 e UEM-M2, negativos. Para capacidade de expansão, as populações Zélia, RS-20 e UEM-M2 apresentaram positivos nos dois anos, enquanto as populações Beija-flor, Viçosa, UNB-2, CMS-42 e UEM-J1, período (Quadro 3). Valores positivos de positivos nos negativos no mesmo indicam populações de maior potencial per se, ou seja, para programas de melhoramento intrapopulacionais, em razão do efeito aditivo dos genes. Logo, não foi possível encontrar população com valores positivos de para rendimento de grãos e capacidade de expansão. As estimativas da heterose dos híbridos, em relação à média das populações genitoras (HMP), encontram-se no quadro 4. A heterose de híbrido é função do quadrado das diferenças de freqüências gênicas entre as populações e do grau de dominância. Assim, para que haja heterose é necessário que exista diversidade genética entre as populações e algum grau de dominância. A ausência de heterose, entretanto, não implica ausência de diversidade genética entre as populações ou ausência de dominância, uma vez que o somatório dos desvios de dominância pode ser nulo, quando estes apresentam sinais positivos e negativos. Para os caracteres altura de planta, altura de espiga e rendimento de grãos, alguns híbridos apresentaram heterose negativa, sem consistência nos dois anos. Dessa forma, pode-se deduzir que para esses caracteres, os desvios de dominância atuaram predominantemente no sentido de aumentá-los. Para capacidade de expansão, obtiveram-se HMP positivos e negativos nos dois anos, de forma consistente, indicando a existência de dominância não unidirecional na determinação desse caráter. Heterose negativa para capacidade de expansão foi relatada por ANDRADE (1995) e LARISH e BREWBAKER (1999), evidentemente, utilizando outras populações. Para altura de planta e de espiga, o híbrido Zélia x UEM-J1 apresentou o maior valor de HMP. Para rendimento de grãos, a maior heterose foi apresentada pelo híbrido Viçosa x CMS-42, enquanto os híbridos Viçosa x RS-20 e UNB-2 x RS-20 apresentaram HMP negativos no ano agrícola 98/99. Para capacidade de expansão, os híbridos CMS-3 x UEM J1, UNB-2 x Zélia, Beija Flor x RS-20 apresentaram heteroses positiva nos dois anos. No entanto, não são híbridos promissores, haja vista as baixas médias para capacidade de expansão nos dois anos, com exceção, do híbrido Beija-flor x RS-20, que apresentou média razoável. Para os caracteres altura de planta, da espiga e rendimento de grãos a heterose média foi significativa, com estimativas ( ) de 0,047 ± 0,023 m, 0,038 ± 0,018 m e 444,75 ± 79,0 kg.ha-1 respectivamente (Quadro 5). Para capacidade de expansão, a heterose média não foi significativa (P > 0,05), conseqüentemente as heteroses varietais e específicas explicaram praticamente toda a heterose observada. Esse resultado demonstra que para a variável CE, no conjunto, essas populações não são favoráveis para explorar o efeito de heterose em híbridos. Para rendimento de grãos e capacidade de expansão, as heteroses varietais e específicas explicaram praticamente toda a heterose observada, com ampla vantagem para a heterose específica (com mais de 70% de heterose total). Para rendimento de grãos, a população CMS-42 apresentou hi elevado, nos dois anos, diferenciando-se dos demais, mostrando ser o mais divergente dentro do grupo de populações testadas (Quadro 5). Com relação a heteroses específicas (Sij), destacaram-se os híbridos Viçosa x UNB-2, CMS 42 x Viçosa, Beija-flor x RS-20 (Quadro 6). Para capacidade de expansão, as populações CMS-43, CMS-42 e UEM J1, apresentaram heteroses varietais positivas nos dois anos, podendo ser consideradas divergentes em relação ao grupo. Com relação às heteroses específicas, destacaram-se os híbridos RS-20 x Beija-flor e Viçosa x UEMM2, cujas estimativas foram positivas nos dois anos. A dificuldade em reunir alta produtividade e boa capacidade de expansão em um mesmo híbrido ficou evidenciada, pois os híbridos Viçosa x UNB-2 e Viçosa x CMS-42, os mais desejáveis do ponto de vista da produção, encontram-se entre os piores para expansão; o híbrido RS-20 x Beija-flor, mais desejável do ponto de vista da expansão, apresenta médias de produtividade inferior ao desejável para o lançamento de um híbrido intervarietal. Embora neste trabalho não tenha sido possível identificar um híbrido que reunisse alto rendimento de grãos e boa capacidade de expansão, algumas estratégias para sua obtenção podem ser analisadas. Uma estratégia para se obter populações de milho-pipoca de alta produtividade e boa capacidade de expansão seria a síntese de compostos para programas de melhoramento intrapopulacional. A escolha das populações para a formação desses compostos deve se basear na CGC, que depende de efeitos aditivos. Assim, recomendam-se compostos formados entre as populações de alta CGC para rendimento de grãos, UNB-2 e CMS-42 e as populações de alta CGC para capacidade de expansão, população derivada do híbrido triplo Zélia, RS-20 e UEM-M2. Outra opção seria iniciar programa de seleção recorrente recíproca com as populações Beijaflor x RS-20. Esse híbrido apresenta heterose específica (Sij) positiva para rendimento de grãos e capacidade de expansão. Muita atenção deve ser dada à capacidade de expansão. A inter-relação entre os parâmetros estimados pelos dois métodos utilizados é relatada na literatura (VENCOVSKY, 1970; CRUZ e VENCOVSKY, 1989 e SINGH e SINGH, 1984). Sabe-se que os efeitos da CGC de duas populações estimados pelo método de GRIFFING (1956) devem-se, em parte, ao contraste entre os efeitos de populações e ao contraste entre os efeitos de heterose varietal, estimados pelo método de GARDNER e EBERHART (1966). Partindo desse ponto, as populações que apresentaram os maiores efeitos da CGC para rendimento de grãos foram UNB-2 e CMS-42. A população UNB-2 apresentou superior a CMS-42, sendo o hi do composto CMS-42 bem superior. A população UNB-2 mostrou-se superior à CMS-42 quanto ao comportamento per se, enquanto CMS-42 determinou maior valor heterótico nos híbridos em que participou. Para capacidade de expansão as populações RS-20, Zélia e UEM-M2 apresentaram maiores efeitos da CGC. Todas apresentaram comportamento per se como o principal determinante do efeito da CGC. 4. CONCLUSÕES 1. Recomendam-se compostos formados entre as populações de alta capacidade geral de combinação (CGC) para rendimento de grãos, UNB-2 e CMS-42 e as populações de alta CGC para capacidade de expansão, Zélia, RS-20 e UEM-M2. 2. As populações Beija-flor e RS-20 foram recomendadas para iniciar programa de seleção recorrente recíproca, uma vez que se complementam em relação ao rendimento de grãos e à capacidade de expansão. 3. Para CE houve heteroses positiva e negativa, verificando-se dominância não unidirecional. 4. As populações e híbridos intervarietais apresentam alto rendimento de grãos e baixa capacidade de expansão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, R.A. Cruzamentos dialélicos entre seis variedades de milho-pipoca. 1995. 79f. Tese (Mestrado em Genética e Melhoramento) - Universidade Federal de Viçosa. [ Links ] CRUZ, C.D. Aplicação de algumas técnicas multivariadas no melhoramento de plantas. 1990. 188f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz, Piracicaba. [ Links ] CRUZ, C.D. Programa Genes: Aplicativo Computacional em Genética e Estatística. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1997. 443p. [ Links ] CRUZ, C.D.; REGAZZI, A.J. 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[ Links ] Análise Dialética e Heterose de Populações de Milho Pipoca 219 MELHORAMENTO GENÉTICO VEGETAL ANÁLISE DIALÉLICA E HETEROSE DE POPULAÇÕES DE MILHO-PIPOCA(1) CARLOS ALBERTO SCAPIM(2); CLESO ANTÔNIO PATTO PACHECO(3), AELTON TONET(2); ALESSANDRO DE LUCCA E BRACCINI(2); RONALD JOSÉ BARTH PINTO(2) RESUMO Realizaram-se cruzamentos dialélicos entre nove populações de milho-pipoca (Zea mays L.) – UNB-2, RS-20, UEM-J1, UEM-M2, CMS-42, CMS-43, Viçosa, Beija-flor e a geração avançada do híbrido triplo Zélia – para a obtenção dos 36 híbridos F1’s a fim de alcançar informação dos valores da capacidade combinatória e heterose. Essas populações e os F1’s foram avaliados em ensaios, em dois anos agrícolas (98/99 e 99/00), em Iguatemi (PR), com três repetições por ano. Os resultados permitiram recomendar compostos formados entre as populações de alta capacidade geral de combinação (CGC) para rendimento de grãos, UNB-2 e CMS-42 e as populações de alta CGC para capacidade de expansão, Zélia, RS-20 e UEM-M2. As populações Beija-flor e RS-20 foram recomendadas para iniciar programa de seleção recorrente recíproca, pois se complementam em relação ao rendimento de grãos e à capacidade de expansão (CE). Para CE, houve heteroses positiva e negativa, verificando-se dominância não unidirecional. Palavras-chave: Zea mays L., compostos, cruzamentos dialélicos, rendimento e capacidade de expansão. ABSTRACT DIALLEL ANALYSES AND HETEROSIS IN POPCORN VARIETIES A diallel set of crosses among nine varieties of popcorn (Zea mays L.) – UNB-2, RS-20, UEM-J1, UEM-M2, CMS 42, CMS 43, Viçosa, Beija-flor and advanced generation of hybrid three-way Zélia) and their hybrid combinations was carried out to obtain capacity hability and heterosis estimates. These varieties and F1’s were evaluated in two crop years (98/99 and 99/00) with three replications each year in Iguatemi, State of Paraná, Brazil. The results allowed the synthesis of composts based in varieties of high combining ability for yield, like UNB-2 and CMS-42 and the varieties Zélia, RS20 e UEM-M2 to popping expansion. The varieties Beija-flor and RS-20 were recommend to be used in a reciprocal recurrent selection program. For popping expansion there are positive and negative heterosis, indicating non unidericional dominance. Key words: Zea mays L.; composites, diallel crosses, yield, popping expansion. 1. INTRODUÇÃO O milho-pipoca é alimento bastante apreciado no Brasil. No entanto, seu plantio comercial é bastante modesto. De acordo com GALVÃO et al. (2000) foram importadas em 1998 aproximadamente 61 mil toneladas, e a produção nacional foi cerca de 20 mil toneladas de grãos. Isso se deve, sobretudo, à baixa qualidade da pipoca disponível no mercado brasileiro devido à limitação de cultivares de alta qualidade e tecnologia de produção inadequada. No melhoramento do milho-pipoca deve-se levar em consideração, além da produtividade e caracteres agronômicos, aspectos relacionados à qualidade da pipoca, como textura e maciez. Ao agricultor interessa produtividade elevada e os demais atributos de boa população de milho normal; ao consumidor, alta capacidade de expansão (CE), que confere à pipoca melhor textura e maciez. (1) Recebido para publicação em 18 de julho de 2001 e aceito em 14 de agosto de 2002. (2) Departamento de Agronomia, Universidade Estadual de Maringá, 87020-900 Maringá (PR). E-mail: [email protected] (3) Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 371, 35701-970 Sete Lagoas (MG). Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 219-230, 2002 220 C.A. SCAPIM et al. Nesse contexto, comparação inicial entre as populações brasileiras e norte-americanas de milhopipoca mostrava que a qualidade da pipoca brasileira era muito inferior à da norte-americana. No primeiro Ensaio Nacional de Milho-Pipoca, realizado no ano agrícola 1991/92, a CE média foi de 17,5 mL.mL-1 e a média da melhor cultivar foi de 20,8 mL.mL-1. Na década de 40, a CE de híbridos e populações comerciais nos Estados Unidos variava de 23,2 a 32,7 mL.g-1. Uma boa população de milho-pipoca deve ter CE acima de 21 mL.mL-1. Valores acima de 26 mL.mL-1 indicam excelente pipoca (GALVÃO et al., 2000). Recentemente, SAWAZAKI et al. (2000) e GALVÃO et al. (2000) obtiveram bons resultados de produtividade e capacidade de expansão em São Paulo e Minas Gerais. Nesses ensaios, a capacidade de expansão média variou de 32 a 36 mL.g-1 e a produtividade média de grãos ficou acima de 4.000 kg.ha-1. São híbridos de linhagens Guarani e IAC-64 obtidos no Instituto Agronômico (IAC), em Campinas (SP), que apresentaram boa adaptação à região, cujos resultados se aproximam dos melhores híbridos norte-americanos. Apesar desses avanços, o número reduzido de cultivares é limitante para expansão da cultura no Brasil, haja vista que as empresas empacotadoras não trabalham com o milho-pipoca nacional devido à pouca oferta no mercado que é decorrente da falta de sementes. Nesse contexto, é necessário que novos programas de melhoramento sejam iniciados por empresas públicas ou privadas. Para se ter sucesso no programa são necessárias populações com alta variabilidade. Uma das técnicas genético-estatísticas mais apropriadas tem sido a análise de cruzamentos dialélicos em razão do grande número de informações genéticas que pode oferecer ao melhorista (CRUZ, 1990; CRUZ e REGAZZI, 1994). Poucos trabalhos têm sido relatados quanto à análise dialélica em milho-pipoca. Avaliação da CE de seis populações e de seus híbridos F1’s, realizada por S AWAZAKI et al. (1986), mostrou amplas possibilidades de melhoramento da CE com o uso de híbridos intervarietais. ZANETTE (1989) analisou dialelo entre sete populações de milho-pipoca e concluiu existir heterose para CE, embora esta não tenha variado de cruzamento para cruzamento. A NDRADE (1995) analisou dialelo entre seis populações de milho-pipoca, seus 15 híbridos F1’s e 15 híbridos F1’s recíprocos. A população Viçosa foi identificada como a mais promissora, podendo ser utilizada em híbridos ou como fonte de linhagens para uso em programas de melhoramento intra- ou Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 219-230, 2002 interpopulacionais. O híbrido Viçosa x Roxa mostrouse o mais desejável quando se consideraram simultaneamente os caracteres rendimento de grãos e capacidade de expansão. Assim, as duas foram recomendadas para iniciar programa de seleção recorrente recíproca, como Rosa Claro e Beija-flor. Recentemente, L ARISH e B REWBAKER (1999) analisaram dois dialelos, um de seis populações de milho-pipoca (quatro dos trópicos e duas americanas) e outro de cinco linhagens americanas para as características rendimento de grãos e capacidade de expansão nos trópicos. Houve heterose positiva para rendimento de grãos e heterose negativa para capacidade de expansão para os dois dialelos. A razão entre a capacidade geral de combinação e a capacidade específica de combinação foi alta para todas as características, o que permitiria ganhos por seleção. Ambos os dialelos possibilitaram afirmar que os melhoristas dos trópicos deveriam trabalhar com o grupo heterótico formado pelas populações Supergold e Jap Hulless. Devido à inexistência de relatos no Brasil de análise dialélica com as populações UNB-2, RS-20, UEM-J1, UEM-M2, CMS-42, CMS-43, geração avançada do híbrido triplo Zélia, Viçosa e Beija-flor, realizou-se este trabalho com o objetivo de avaliar a capacidade geral de combinação e heterose das populações de milho-pipoca pelos métodos de GRIFFING (1956) e GARDNER e EBERHART (1966) e indicar quais as melhores combinações para a formação de composto de grãos de cor amarela. 2. MATERIAL E MÉTODOS Foram realizados cruzamentos dialélicos entre nove populações de milho-pipoca (UNB-2, RS-20, UEM-J1, UEM-M2, CMS-42, CMS-43, geração avançada do híbrido triplo Zélia, Viçosa e Beija-flor). Para a obtenção dos híbridos, as populações foram semeadas em quatro linhas de 10 metros de comprimento pareadas em todas as combinações possíveis. Na época do florescimento foram feitos todos os cruzamentos possíveis entre as populações, manualmente, por meio de polinização planta a planta, com mistura de pólen. Realizou-se a multiplicação das populações em lote à parte, por meio de polinização manual com mistura de pólen. A seguir, descrição de cada população: UNB-2 – a população UNB-2 originou-se de seleção em ´Composto Indígena‘, que a ESALQ/USP, de Piracicaba (SP), doou à Universidade Nacional de Brasília (DF). Com isso, gerou-se a população UNB-1, que foi cruzada com a população de milho- Análise Dialética e Heterose de Populações de Milho Pipoca pipoca Americana, cujas progênies selecionadas foram cruzadas com uma população de milho-pipoca de grãos amarelos e resistente a Exserohilum turcicum. Após dois ciclos de seleção massal obteve-se uma população formada por plantas resistentes, com alta produção e com grãos amarelos. Tal população foi retrocruzada por três vezes com a Americana, originando a UNB-2, de polinização aberta. UEM M2 e UEM-J1 – são populações locais mantidas por pequenos agricultores, com genealogia desconhecida. Foram doadas para a Universidade Estadual de Maringá (PR), em 1996. A partir desse ano, foram submetidas a dois ciclos de seleção massal para características de sanidade foliar. Viçosa e Beija-flor – pertencem à Universidade Federal de Viçosa (MG) e foram desenvolvidas com base em cruzamentos entre populações locais e híbridos norte-americanos. RS-20 – população comercial desenvolvida pelo IPAGRO e comercializada pela AGROESTE-SC. População derivada do híbrido triplo Zélia – cultivar comercial da empresa PIONEER. Apresenta quatro gerações de acasalamento ao acaso. Pode ser considerada uma população em equilíbrio. CMS 42 e CMS-43 – o Composto Pipoca Amarelo Redondo (CMS-42) foi formado com base em 25 materiais de grãos amarelos e o Composto Pipoca Branco Redondo (CMS-43), em 33 materiais de grãos brancos, ambos selecionados no Banco Ativo de Germoplasma da EMBRAPA (CNPMS), Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo, Sete Lagoas (MG), quanto à resistência a Puccinia spp. e ao Helminthosporium turcicum. Em Maringá, foram submetidos a dois ciclos de seleção massal para características de sanidade foliar. Os ensaios foram desenvolvidos em campos experimentais da Universidade Estadual de Maringá em dois anos (98/99 e 99/2000), no delineamento em blocos casualizados com três repetições e 36 tratamentos. Cada parcela foi representada por duas fileiras de 5 m de comprimento. O espaçamento entre fileiras foi de 0,9 m. Nas parcelas, o plantio foi feito em covas espaçadas de 0,2 m, com duas sementes por cova, deixando-se após o desbaste, realizado aos 20-25 dias após a emergência, uma planta por cova, de forma que cada parcela ficasse com 50 plantas. Efetuaram-se os tratos culturais de acordo com a necessidade da cultura. As características avaliadas foram: altura da planta (AP) - tomada do nível do solo à inserção da folha bandeira, em seis plantas competitivas por parcela, após o pendoamento; altura da espiga (AE) - medida do nível do solo até a inserção da espiga 221 superior no colmo, nas mesmas seis plantas por parcela; umidade dos grãos (UG) - obtida em uma amostra de grãos de cada parcela; rendimento de grãos (RG) - obtido pela pesagem dos grãos debulhados na parcela e transformados em kg.ha-1 corrigido para umidade de 15,5% e capacidade de expansão (CE) - obtida como a razão entre o volume da pipoca expandida e o volume dos grãos crus. Para cada parcela, estourou-se amostra de 30 mL de grãos, medida em proveta graduada de 100 mL, em pipoqueira elétrica com controle automático de temperatura, regulada para 237 oC, cedida pela EMBRAPA - Milho e Sorgo. Mediu-se o volume da pipoca expandida em proveta graduada de 1.000 mL. O volume de grãos submetidos ao estouro foi retirado da parte centro-basal das espigas. Antes de se avaliar a capacidade de expansão, as amostras de grãos e a amostra-piloto de 1,0 kg que serviu para monitoramento da umidade, foram armazenadas em câmara seca e fria. Efetuou-se o procedimento para obtenção da característica capacidade de expansão somente a partir do dia em que a amostra-piloto atingiu umidade próxima de 12% (HOSENEY et al., 1983). Inicialmente, realizou-se a análise da variância em cada ano, seguindo o modelo adotado. A homogeneidade das variâncias residuais dos anos foi avaliada por meio do teste do F máximo a 5% de probabilidade. Os efeitos de tratamentos e de anos foram considerados fixos. As análises da variância foram feitas usando-se o programa SAEG (GOMES e BRAGA, 1992) desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa. Analisou-se a homogeneidade das médias estimadas segundo o teste de SCOTT e KNOTT (1974), a 5% de probabilidade. Fez-se a aplicação do teste por meio do programa SAEG (GOMES e BRAGA, 1992). Com base nos resultados das análises da variância, as somas de quadrados de tratamentos foram decompostas em capacidade geral de combinação. Para a decomposição, utilizou-se o método 4, modelo 1, de GRIFFING (1956), em que o sistema dialélico consta de híbridos F 1’s . Posteriormente, para avaliação da heterose empregou-se o método de GARDNER e EBERHART (1966). A análise dialélica foi feita usando-se o programa GENES (CRUZ, 1997), desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente, procederam-se as análises da variância em cada ano. Uma vez que o teste F máximo não revelou, a 5% de probabilidade, heterogeneidade Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 219-230, 2002 C.A. SCAPIM et al. 222 entre os quadrados médios do resíduo das análises individuais, para todos os caracteres, foi possível a realização das análises da variância conjunta, considerando-se os dois anos. No quadro 1 são apresentados os coeficientes de variação para todos os caracteres. De acordo com a classificação elaborada por SCAPIM et al. (1995) esses coeficientes são considerados como médios. A Quadro 1. Médias das populações genitoras e de seus híbridos F1’s para quatro caracteres em milho-pipoca População Altura de planta Altura de espiga m Beija-flor Viçosa UNB-2 Zélia CMS 43 CMS 42 RS 20 UEM M2 UEM J1 Médias das populações 1x2 1x3 1x4 1x5 1x6 1x7 1x8 1x9 2x3 2x4 2x5 2x6 2x7 2x8 2x9 3x4 3x5 3x6 3x7 3x8 3x9 4x5 4x6 4x7 4x8 4x9 5x6 5x7 5x8 5x9 6x7 6x8 6x9 7x8 7x9 8x9 Médias dos híbridos CV (%) 1,67 a 1,66 a 1,70 a 1,50 c 1,66 a 1,49 c 1,31 d 1,43 c 1,64 b 1,56 1,75 a 1,68 a 1,57 b 1,70 a 1,72 a 1,57 b 1,62 b 1,60 a 1,73 b 1,60 a 1,67 a 1,66 a 1,34 d 1,65 a 1,63 b 1,68 a 1,69 a 1,63 b 1,46 c 1,60 b 1,75 a 1,58 b 1,60 b 1,38 d 1,63 b 1,77 a 1,73 a 1,49 c 1,57 b 1,67 a 1,45 c 1,52 c 1,73 a 1,40 d 1,60 b 1,58 b 1,61 7,0 0,93 a 0,90 b 0,90 b 0,75 c 0,88 b 0,85 b 0,55 e 0,70 d 0,87 b 0,82 0,93 a 0,87 b 0,80 c 0,92 a 0,93 a 0,81 c 0,87 b 0,90 b 0,92 a 0,84 b 0,88 b 0,91 b 0,68 d 0,88 b 0,86 b 0,85 b 0,89 b 0,90 b 0,72 c 0,80 c 1,00 a 0,79 c 0,89 b 0,72 c 0,86 b 0,96 a 0,97 a 0,76 c 0,83 b 0,94 a 0,74 c 0,82 b 0,98 a 0,67 d 0,84 b 0,83 b 0,85 10,0 Rendimento de grãos 98/99 99/2000 kg.ha-1 1.673 c 1.425 c 1.820 c 1.437 c 2.661 b 2.819 a 1.472 d 935 d 1.666 c 2.597 a 1.600 c 1.474 c 833 d 904 d 1.355 d 1.376 c 1.282 d 1.888 b 1.596 1.650 2.847 b 2.825 a 2.747 b 2.543 a 1.240 d 1.564 c 1.687 c 2.605 a 1.987 c 2.501 a 1.840 c 2.773 a 1.674 c 1.452 c 1.541 c 1.853 b 3.368 a 3.134 a 2.353 b 1.423 c 2.188 c 2.026 b 3.652 a 3.089 a 1.071 d 877 d 1.631 c 1.911 b 1.873 c 955 d 1.580 c 2.604 a 2.490 b 2.112 b 1.483 d 2.814 a 929 d 1.478 c 1.882 c 2.783 a 3.176 a 2.997 a 2.193 c 1.478 c 2.742 b 2.061 b 736 d 1.455 c 1.435 d 1.531 c 2.578 b 3.312 a 1.784 c 2.053 b 1.824 c 1.706 b 2.131 c 2.513 a 1.764 c 1.905 b 1.892 c 1.316 c 2.230 c 2.820 a 3.209 a 2.028 b 1.637 c 969 d 2.180 c 2.432 a 1.773 c 2.722 a 2.037 2.128 18,83 19,16 Capacidade de expansão 98/99 99/2000 mL.mL-1 9,0 d 13,8 c 9,8 c 14,6 c 9,3 d 14,2 c 18,0 a 17,7 b 7,8 d 15,7 c 8,2 d 13,0 d 19,0 a 21,5 a 12,2 c 19,5 a 6,7 d 9,3 e 12,0 15,5 11,4 c 5,7 e 8,0 d 15,4 c 10,0 c 14,0 c 13,8 b 11,8 d 9,4 d 11,6 d 17,4 a 19,5 a 15,8 b 8,2 e 10,8 c 12,5 d 7,5 d 8,3 e 10,6 c 15,2 c 10,0 c 10,9 d 10,5 c 10,7 d 8,2 d 9,0 e 15,0 b 16,5 c 15,3 b 7,7 e 17,0 a 17,3 b 12,2 c 13,5 d 15,8 b 10,5 d 16,0 b 17,4 b 11,5 c 13,4 d 12,2 c 10,5 d 17,0 a 17,0 b 15,0 b 20,0 a 15,4 b 15,0 c 16,7 a 16,8 c 9,0 d 11,8 d 12,0 c 14,5 c 7,2 d 14,2 c 17,8 a 15,8 c 14,2 b 15,8 c 13,2 b 15,0 c 14,5 b 14,7 c 14,2 b 12,7 d 16,5 a 19,5 a 16,7 a 11,9 d 7,8 d 12,3 d 13,0 13,5 12,50 13,80 Médias seguidas por uma mesma letra constituem um grupo homogêneo de acordo com o agrupamento de SCOTT e KNOTT (1974). Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 219-230, 2002 Análise Dialética e Heterose de Populações de Milho Pipoca característica CE não apresenta classificação própria, no entanto, apresentou-se dentro dos limites aceitáveis para a experimentação agrícola (c.v. = 12,5% e 13,8%), quando comparada com outros autores (VENDRUSCOLO, 1997; PACHECO et al., 1998 e SIMON, 2000), ficando acima quando comparado com SAWAZAKI et al. (1986), que encontraram c.v. = 5,3%. Os quadrados médios de anos foram significativos, a 5% de probabilidade, para todos os caracteres, com exceção do rendimento de grãos, indicando a existência de diferenças entre as médias dos anos para esses caracteres. Apenas os caracteres capacidade de expansão e rendimento de grãos apresentaram significância quanto à interação de populações x anos, mostrando que as populações comportaram-se distintamente nos dois anos. As médias dos caracteres agronômicos das populações e dos híbridos são apresentadas no quadro 1, juntamente com seus agrupamentos pelo teste de SCOTT e KNOTT (1974), a 5% de probabilidade. Para altura de plantas e altura de espigas observaram-se a formação de quatro grupos (Quadro 1). Mesmo os tratamentos que apresentaram maiores altura de planta e da espiga (1,77 m e 1,00 m) não serão limitantes para a colheita. Para rendimento de grãos e capacidade de expansão, o agrupamento das médias foi feito em cada ano separadamente, uma vez que houve interação dos tratamentos com os ambientes (Quadro 1). Os tratamentos que apresentaram maiores rendimento de grãos, nos dois anos, foram Viçosa x UNB-2, Viçosa x CMS-42 e UNB-2 x UEM J1. Suas produções variaram de 2.997 kg.ha-1 a 3.652 kg.ha-1, conforme o ano. Esses valores são considerados satisfatórios. Para CE, observou-se a formação de quatro grupos no primeiro ano e cinco grupos no segundo. A população RS-20, os híbridos Beija-flor x RS-20; RS-20 x UEM M2 estiveram presentes e se destacaram nos dois primeiros grupos nos dois anos. As médias de CE das populações neste trabalho foram de 12,0 mL.mL-1 no ano agrícola 98/99 e 15,5 mL.mL-1 em 99/00, sendo o maior valor observado de 21,5 mL.mL-1 em 99/00. As médias de CE dos híbridos intervarietais foram de 13,0 mL.mL-1 no ano agrícola 98/99 e 13.5 mL.mL-1 em 99/2000. Assim, a capacidade de expansão é fator limitante ao uso comercial dos híbridos intervarietais aqui testados. O fato parece ser comum às populações brasileiras de milho-pipoca, com raras exceções, como Zélia que é híbrido triplo; IAC-112, híbrido simples e a população BRS-Ângela, melhorada a partir da CMS43, por meio de quatro ciclos de seleção entre e dentro 223 de progênies de meios-irmãos (PACHECO et al., 1998). É interessante comparar os valores de CE obtidos neste trabalho com aqueles de populações comerciais. Segundo ZINSLY e MACHADO (1987), o valor mínimo de CE da população comercial deve ser 15. GAMA et al. (1990) consideraram altos os valores acima de 25; provavelmente, esses autores se referiam à unidade mL.mL-1. GALVÃO et al. (2000) apresentaram discussão interessante sobre essa avaliação, visto que nos EUA a medida comercial mais utilizada é mL.g-1. Na escala, mL.mL-1, o valor de 18 a 20 é considerado aceitável, de 21 a 26, bom e acima de 26, excelente, segundo os autores. Percebe-se que, apesar dos baixos valores de CE, os trabalhos de melhoramento indicam perspectivas de sucesso no melhoramento intrapopulacional para essa variável, empregando-se diferentes populações e métodos de melhoramento, como os relatados por PACHECO et al. (1998), LARISH e BREWBAKER (1999), PEREIRA e AMARAL-JÚNIOR (2001) e SIMON (2000). Esses artigos indicam a predominância de efeitos aditivos e alta herdabilidade no sentido restrito para essa característica. Nos dois anos, o rendimento de grãos não se mostrou de forma consistente em todos os tratamentos que se destacaram para a capacidade de expansão, citados anteriormente. Por outro lado, os híbridos intervarietais mais produtivos, Viçosa x UNB-2, Viçosa x CMS-42 e UNB-2 x UEM-J1; não apresentaram alta capacidade de expansão. Assim, nenhum dos híbridos pôde ser considerado superior para os caracteres rendimento de grãos e capacidade de expansão, simultaneamente. As somas de quadrados de capacidade geral (CGC) foram significativas (P< 0,05) para todos os caracteres. Tal fato evidencia a variabilidade genética entre as populações estudadas e a manifestação de ação gênica aditiva, situação favorável ao melhoramento. As estimativas dos efeitos da CGC (g i) das populações encontram-se no quadro 2. Baixo valor de gi indica que a média dos híbridos em que a população i participa não difere muito da média geral do dialelo. Alto valor, positivo ou negativo, revela que a população i é muito melhor ou pior que as demais populações incluídas no dialelo, com relação à média de seus híbridos. Apresentará maior gi a população que possuir maior freqüência de alelos favoráveis (CRUZ e VENCOVSKY, 1989). Uma vez que houve interação da CGC com anos para capacidade de expansão e rendimento de grãos, os efeitos de capacidade geral de combinação das Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 219-230, 2002 C.A. SCAPIM et al. 224 populações genitoras foram estimados em cada ano separadamente (Quadro 2). As populações UNB-2, CMS-42 e UEM-J1 apresentaram gi positivos nos dois anos para rendimento de grãos, enquanto as populações Zélia, RS-20, UEM-M2 e CMS 43 apresentaram efeitos negativos. As populações Beijaflor e Viçosa apresentaram efeitos positivos ou negativos, conforme o ano. Para capacidade de expansão, as populações Zélia, RS-20, UEM-M2, CMS-43 e CMS-42 apresentaram gi positivos nos dois anos, enquanto as populações Beija-flor, Viçosa, UNB-2 e UEM-J1 apresentaram gi negativos. Para programas de melhoramento de milhopipoca interessa encontrar populações que reúnam genes favoráveis quanto à produção e expansão altas. As populações que apresentaram as maiores freqüências de alelos favoráveis para produção, UNB-2 e UEM-J1, foram também as que apresentaram as menores freqüências de alelos favoráveis para expansão. As populações Zélia, UEM M2 e RS-20, que se destacaram para expansão, foram piores em produção. A população CMS-42 foi a única a apresentar estimativas de g i positivas para rendimento de grãos e capacidade de expansão. No entanto, as estimativas positivas de rendimento foram baixas em relação às outras populações. Dessa forma, nenhuma população pôde ser identificada como a mais promissora para ser usada em programa de melhoramento intrapopulacional. Os quadrados médios dos efeitos de populações e de heterose foram significativos para todos os caracteres, com exceção da heterose para AE, indicando que as populações não constituem grupo homogêneo (diferem quanto à CGC) e que há manifestação de heterose em seus híbridos, ou seja, a heterose interfere na CGC. Ao se desdobrar a soma de quadrados de heterose e as interações entre heteroses (média, varietal e específica) e os anos para altura da planta e da espiga, apenas o quadrado médio da heterose média apresentou significância. Isso mostra que a variância das freqüências gênicas entre as populações é alta em locos com dominância. A não-significância dos efeitos de heterose varietal e específica, por outro lado, sugere que as populações não diferem nas suas respectivas freqüências gênicas médias e têm a mesma dispersão de freqüências gênicas (VENCOVSKY, 1970). Verificou-se que os efeitos se mantiveram constantes nos dois anos. Para rendimento de grãos, o desdobramento da heterose e das interações heteroses x anos foi significativo (P < 0,05). Isso significa que existe variância suficiente das freqüências gênicas entre as populações, que algumas delas diferem entre si, quanto às freqüências gênicas médias ou quanto ao grau de dispersão dessas freqüências. Diferenças entre os graus de complementação das freqüências podem também estar presentes. Além disso, esses efeitos não se mantiveram constantes nos dois anos. Para o caráter capacidade de expansão, o quadrado médio da heterose média não apresentou significância. O contrário ocorreu com os quadrados médios da heterose varietal e específica. Esse fato confirma a existência de dominância bidirecional na determinação deste caráter. Admitindo-se que o quadrado médio de heterose seja significativo, e a dominância, unidirecional, os quadrados médios das heteroses varietal e específica serão significativos apenas se o quadrado médio da heterose média for também (V ENCOVSKY, 1970). Para os caracteres altura da planta e da espiga, as populações que apresentaram os maiores Vi foram UEM-J1, UNB2 e Beija-flor (Quadro 3). As populações RS-20 e UEM-M2, por outro lado, apresentaram as menores estimativas. Quadro 2. Estimativas de efeitos de capacidade geral de combinação (gi) em milho pipoca, segundo o método de GRIFFING (1956) População Beija-flor Viçosa UNB-2 Zélia CMS-43 CMS-42 RS 20 UEM M2 UEM J1 AP AE Média m 0,044 0,019 0,049 -0,011 0,031 0,024 -0,174 -0,043 0,059 Média 0,028 0,011 0,017 -0,020 0,021 0,042 -0,128 -0,038 0,068 RG 98/99 kg.ha-1 -108,597 380,637 190,466 -208,867 -37,301 393,797 -601,915 -261,32 253,099 CE 99/2000 155,607 -112,205 491,169 -228,285 -89,54 236,499 -574,602 -46,697 168,055 98/99 mL.mL-1 -0,984 -2,141 -0,470 1,044 0,116 0,159 1,016 1,730 -0,470 AP = Altura de planta; AE = Altura de espiga; RG = Rendimento de grãos; CE = Capacidade Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 219-230, 2002 99/2000 -1,348 -3,448 -0,262 2,710 0,767 0,224 1,910 1,295 -1,848 Análise Dialética e Heterose de Populações de Milho Pipoca 225 Quadro 3. Estimativas dos efeitos de populações (Vi) para quatro caracteres em milho-pipoca População RG 98/99 CE 99/00 AP 98/99 AE 99/00 -2,12 -1,32 -1,82 6,90 -3,32 -2,92 7,90 1,10 -4,42 mL.mL-1 -1,68 -0,87 -1,28 2,23 0,22 -2,48 6,03 4,03 -6,20 kg.ha-1 Beija-flor Viçosa UNB-2 Zélia CMS-43 CMS-42 RS-20 UEM-M2 UEM-J1 77,22 224,03 1064,94 -123,30 70,73 3,51 -762,66 -240,50 -313,97 -225,88 -213,56 1168,46 -715,80 946,75 -176,01 -746,33 -274,87 237,24 Média m 0,095 0,060 0,113 -0,035 0,073 0,004 -0,313 -0,102 0,104 Média m 0,078 0,043 0,052 0,049 0,050 0,067 -0,258 -0,090 0,107 RG = Rendimento de grãos; CE = Capacidade de expansão; AP = Altura de planta; AE = Altura de espiga. Para rendimento de grãos, as populações UNB-2, Zélia, CMS-43 apresentaram Vi positivos nos dois anos, enquanto as populações RS-20 e UEM-M2, Vi negativos. Para capacidade de expansão, as populações Zélia, RS-20 e UEM-M2 apresentaram Vi positivos nos dois anos, enquanto as populações Beija-flor, Viçosa, UNB-2, CMS-42 e UEM-J1, Vi negativos no mesmo período (Quadro 3). Valores positivos de V i indicam populações de maior potencial per se, ou seja, para programas de melhoramento intrapopulacionais, em razão do efeito aditivo dos genes. Logo, não foi possível encontrar população com valores positivos de Vi para rendimento de grãos e capacidade de expansão. As estimativas da heterose dos híbridos, em relação à média das populações genitoras (HMP), encontram-se no quadro 4. A heterose de híbrido é função do quadrado das diferenças de freqüências gênicas entre as populações e do grau de dominância. Assim, para que haja heterose é necessário que exista diversidade genética entre as populações e algum grau de dominância. A ausência de heterose, entretanto, não implica ausência de diversidade genética entre as populações ou ausência de dominância, uma vez que o somatório dos desvios de dominância pode ser nulo, quando estes apresentam sinais positivos e negativos. Para os caracteres altura de planta, altura de espiga e rendimento de grãos, alguns híbridos apresentaram heterose negativa, sem consistência nos dois anos. Dessa forma, pode-se deduzir que para esses caracteres, os desvios de dominância atuaram predominantemente no sentido de aumentá-los. Para capacidade de expansão, obtiveram-se HMP positivos e negativos nos dois anos, de forma consistente, indicando a existência de dominância não unidirecional na determinação desse caráter. Heterose negativa para capacidade de expansão foi relatada por ANDRADE (1995) e LARISH e BREWBAKER (1999), evidentemente, utilizando outras populações. Para altura de planta e de espiga, o híbrido Zélia x UEM-J1 apresentou o maior valor de HMP. Para rendimento de grãos, a maior heterose foi apresentada pelo híbrido Viçosa x CMS-42, enquanto os híbridos Viçosa x RS-20 e UNB-2 x RS-20 apresentaram HMP negativos no ano agrícola 98/99. Para capacidade de expansão, os híbridos CMS-3 x UEM J1, UNB-2 x Zélia, Beija Flor x RS-20 apresentaram heteroses positiva nos dois anos. No entanto, não são híbridos promissores, haja vista as baixas médias para capacidade de expansão nos dois anos, com exceção, do híbrido Beija-flor x RS-20, que apresentou média razoável. Para os caracteres altura de planta, da espiga e rendimento de grãos a heterose média foi significativa, com estimativas (h) de 0,047 ± 0,023 m, 0,038 ± 0,018 m e 444,75 ± 79,0 kg.ha-1 respectivamente (Quadro 5). Para capacidade de expansão, a heterose média não foi significativa (P > 0,05), conseqüentemente as heteroses varietais e específicas explicaram praticamente toda a heterose observada. Esse resultado demonstra que para a variável CE, no conjunto, essas populações não são favoráveis para explorar o efeito de heterose em híbridos. Para rendimento de grãos e capacidade de expansão, as heteroses varietais e específicas explicaram praticamente toda a heterose observada, com ampla vantagem para a heterose específica (com mais de 70% de heterose total). Para rendimento de grãos, a população CMS-42 apresentou hi elevado, nos dois anos, diferenciandose dos demais, mostrando ser o mais divergente Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 219-230, 2002 C.A. SCAPIM et al. 226 Quadro 4. Estimativas da heterose em relação à média das populações genitoras (HMP)para quatro caracteres em milho-pipoca Híbridos RG CE 98/99 99/00 98/99 kg.ha Beija-flor x Viçosa 99/002 mL.mL -1 -1 -8,5 AP AE Média Média m m 0,09 0,02 1.100,0 1.394,0 2,0 Beija-flor x UNB-2 580,5 420,7 -1,2 1,4 -0,01 -0,04 Beija-flor x Zélia -333,2 384,4 -3,5 -1,7 -0,01 -0,05 Beija-flor x CMS 43 17,2 594,3 5,4 -3,0 0,02 0,01 Beija-flor x CMS 42 350,7 1.051,8 0,8 -1,8 0,14 0,03 Beija-flor x RS 20 587,0 1.608,4 3,4 1,8 0,08 0,06 Beija-flor x UEM M2 159,5 51,7 5,2 -8,4 0,07 0,05 Beija-flor x UEM J1 64,1 196,8 2,9 1,0 -0,06 -0,003 Viçosa x UNB-2 127,5 1.006,2 -2,1 -6,1 0,05 0,02 Viçosa x Zélia 711,0 237,5 -3,3 -0,9 0,01 0,01 Viçosa x CMS 43 444,5 9,4 1,2 -4,3 0,007 -0,004 Viçosa x CMS 42 1.943,0 1.633,7 1,5 -3,1 0,08 0,03 Viçosa x RS 20 -255,2 -293,5 -6,2 -9,0 -0,15 -0,04 44,0 504,4 4,0 -0,5 0,10 0,08 Viçosa x UEM J1 322,16 -707,5 7,1 -4,2 -0,02 -0,02 UNB-2 x Zélia -486,6 727,5 3,3 1,4 0,07 0,02 UNB-2 x CMS 43 326,5 -595,7 3,6 -1,5 0,01 -0,005 UNB-2 x CMS 42 -647,6 667,2 7,0 -3,1 0,03 0,02 UNB-2 x RS 20 -817,5 -384,0 1,9 -0.4 -0,04 -0,004 Viçosa x UEM M2 UNB-2 x UEM M2 -126,0 685,7 0,7 -3,5 0,03 -0,003 UNB-2 x UEM J1 1.205,3 643,6 4,2 -1,2 0,07 0,12 Zélia x CMS 43 623,5 -287,5 4,1 0,3 0,003 -0,02 Zélia x CMS 42 1.206,4 866,0 1,9 4,6 0,10 0,08 Zélia x RS 20 -417,2 535,5 -3,1 -4,6 -0,02 0,07 21,5 376,2 1,6 -1,8 0,16 0,13 1.200,5 1.900,0 -3,3 -1,7 0,19 0,14 Zélia x UEM M2 Zélia x UEM J1 CMS 43 x CMS 42 151,3 17,6 4,0 0,1 0,16 0,09 CMS 43 x RS 20 574,4 -44,8 -6,2 -4,4 -0,001 0,04 CMS 43 x UEM M2 620,6 526,4 7,8 -1,8 0,03 0,03 CMS 43 x UEM J1 290,1 -337,5 6,9 3,3 0,02 0,06 CMS 42 x RS 20 675,8 126,3 -0,4 -2,2 0,05 0,03 CMS 42 x UEM M2 852,9 1.394,8 4,3 -1,5 0,06 0,04 CMS 42 x UEM J1 1768 347,0 6,7 1,5 0,16 0,11 RS 20 x UEM M2 542,5 -171,2 0,9 -1,0 0,03 0,04 1.122,6 1.035,8 3,8 -3,5 0,11 0,12 454,3 1.090,0 -1,6 -2,1 0,04 0,04 RS 20 x UEM J1 UEM J1 x UEM M2 RG = Rendimento de grãos; CE = Capacidade de expansão; AP = Altura de planta; AE = Altura de espiga. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 219-230, 2002 Análise Dialética e Heterose de Populações de Milho Pipoca 227 Quadro 5. Estimativas das heteroses de populações (hi) e média (h), e desvio-padrão (DP) de h, para quatro caracteres em milho-pipoca População RG 98/99 99/00 kg.ha Beija-flor CE -147,20 98/99 99/00 mL.mL -1 -1 268,54 0,07 -0,51 AP AE - - m m - - Viçosa 268,62 -5,42 -1,48 -3,00 - - UNB-2 -342,00 -93,06 0,44 0,37 - - Zélia -147,22 129,62 -2,41 1,59 - - -72,67 -562,92 1,76 0,65 - - CMS-43 CMS-42 392,04 324,50 1,61 1,46 - - RS-20 -220,58 -201,43 -2,92 -1,10 - - UEM-M2 -141,07 90,80 1,19 -0,71 - - UEM-J1 410,09 49,43 1,73 1,24 - - h 444,57 477,83 1,82 -1,96 0,047 0,038 79,0 133 0,36 0,33 0,023 0,018 DP (h) RG = Rendimento de grãos; CE = Capacidade de expansão; AP = Altura de planta; AE = Altura de espiga. dentro do grupo de populações testadas (Quadro 5). Com relação a heteroses específicas (Sij), destacaramse os híbridos Viçosa x UNB-2, CMS 42 x Viçosa, Beija-flor x RS-20 (Quadro 6). Para capacidade de expansão, as populações CMS-43, CMS-42 e UEM J1, apresentaram heteroses varietais positivas nos dois anos, podendo ser consideradas divergentes em relação ao grupo. Com relação às heteroses específicas, destacaram-se os híbridos RS-20 x Beijaflor e Viçosa x UEM-M2, cujas estimativas foram positivas nos dois anos. A dificuldade em reunir alta produtividade e boa capacidade de expansão em um mesmo híbrido ficou evidenciada, pois os híbridos Viçosa x UNB-2 e Viçosa x CMS-42, os mais desejáveis do ponto de vista da produção, encontram-se entre os piores para expansão; o híbrido RS-20 x Beija-flor, mais desejável do ponto de vista da expansão, apresenta médias de produtividade inferior ao desejável para o lançamento de um híbrido intervarietal. Embora neste trabalho não tenha sido possível identificar um híbrido que reunisse alto rendimento de grãos e boa capacidade de expansão, algumas estratégias para sua obtenção podem ser analisadas. Uma estratégia para se obter populações de milhopipoca de alta produtividade e boa capacidade de expansão seria a síntese de compostos para programas de melhoramento intrapopulacional. A escolha das populações para a formação desses compostos deve se basear na CGC, que depende de efeitos aditivos. Assim, recomendam-se compostos formados entre as populações de alta CGC para rendimento de grãos, UNB-2 e CMS-42 e as populações de alta CGC para capacidade de expansão, população derivada do híbrido triplo Zélia, RS-20 e UEM-M2. Outra opção seria iniciar programa de seleção recorrente recíproca com as populações Beija-flor x RS-20. Esse híbrido apresenta heterose específica (Sij) positiva para rendimento de grãos e capacidade de expansão. Muita atenção deve ser dada à capacidade de expansão. A inter-relação entre os parâmetros estimados pelos dois métodos utilizados é relatada na literatura (VENCOVSKY, 1970; CRUZ e VENCOVSKY, 1989 e SINGH e SINGH, 1984). Sabe-se que os efeitos da CGC de duas populações estimados pelo método de GRIFFING (1956) devem-se, em parte, ao contraste entre os efeitos de populações e ao contraste entre os efeitos de heterose varietal, estimados pelo método de G ARDNER e EBERHART (1966). Partindo desse ponto, as populações que apresentaram os maiores efeitos da CGC para rendimento de grãos foram UNB-2 e CMS-42. A população UNB-2 apresentou Vi superior a CMS-42, sendo o hi do composto CMS-42 bem superior. A população UNB-2 mostrou-se superior à CMS-42 quanto ao comportamento per se, enquanto CMS-42 determinou maior valor heterótico nos híbridos em que participou. Para capacidade de expansão as populações RS-20, Zélia e UEM-M2 apresentaram maiores efeitos da CGC. Todas apresentaram comportamento per se como o principal determinante do efeito da CGC. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 219-230, 2002 C.A. SCAPIM et al. 228 Quadro 6. Estimativas da heterose específica (Sij) para dois caracteres em milho-pipoca Híbrido RG CE 98/99 99/00 98/99 99/02 mL.mL kg.ha -1 -1 Beija-flor x Viçosa 534,25 Beija-flor x UNB-2 625,16 -232,54 -3,48 3,49 Beija-flor x Zélia 483,30 -491,57 -2,98 -0,87 Beija-flor x CMS 43 -207,55 410,85 1,74 -1,13 Beija-flor x CMS 42 -338,68 19,11 -2,71 -0,79 Beija-flor x RS 20 510,27 1063,39 4,42 5,42 3,18 -785,43 2,11 -5,26 Beija-flor x UEM J1 -643,34 -598,99 -0,68 2,17 Viçosa x UNB-2 756,28 626,89 -2,82 -1,50 Viçosa x Zélia 145,00 -364,50 -1,22 2,42 Viçosa x CMS 43 -196,08 99,90 -0,89 0,06 Viçosa x CMS 42 837,62 836,74 -0,45 0,40 Viçosa x RS 20 -747,73 -564,48 -3,61 -2,97 Viçosa x UEM M2 -528,22 -58,77 2,47 5,13 Viçosa x UEM J1 801,12 -1229,18 4,97 0,52 UNB-2 x Zélia -441,97 213,15 3,50 1,33 UNB-2 x CMS 43 296,63 417,59 -0,37 -0,52 UNB-2 x CMS 42 -1141,66 -42,14 3,17 -2,97 UNB-2 x RS 20 -699,50 -657,24 2,51 2,23 UNB-2 x UEM M2 -87,56 210,09 -2,69 -1,15 UNB-2 x UEM J1 692,62 209,37 0,20 -0,90 Zélia x CMS 43 398,84 -332,05 2,92 0,00 Zélia x CMS 42 516,94 -75,98 0,87 3,54 Zélia x RS 20 -493,90 129,52 0,41 -3,13 Zélia x UEM M2 -134,72 -332,00 1,00 -0,72 Zélia x UEM J1 493,10 1243,43 -4,49 -2,57 CMS 43 x CMS 42 612,70 -221,78 -1,19 -0,00 CMS 43 x RS 20 423,02 241,79 -6,85 -1,99 CMS 43 x UEM M2 389,73 520,66 3,02 0,22 CMS 43 x UEM J1 Beija-flor x UEM M2 653,40 1,58 -3,02 -491,89 -301,79 1,62 3,36 CMS 42 x RS 20 59,74 -474,60 -0,91 -0,65 CMS 42 x UEM M2 157,35 501,64 -0,32 -0,33 CMS 42 x UEM J1 521,37 -504,76 1,57 0,80 RS 20 x UEM M2 459,53 -538,26 0,81 2,77 RS 20 x UEM J1 488,55 709,87 3,21 -1,67 UEM J1 x UEM M2 -259,30 472,05 -6,39 -0,66 RG = Rendimento de grãos; CE = Capacidade de expansão. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 219-230, 2002 Análise Dialética e Heterose de Populações de Milho Pipoca 4. CONCLUSÕES 1. Recomendam-se compostos formados entre as populações de alta capacidade geral de combinação (CGC) para rendimento de grãos, UNB-2 e CMS-42 e as populações de alta CGC para capacidade de expansão, Zélia, RS-20 e UEM-M2. 2. As populações Beija-flor e RS-20 foram recomendadas para iniciar programa de seleção recorrente recíproca, uma vez que se complementam em relação ao rendimento de grãos e à capacidade de expansão. 3. Para CE houve heteroses positiva e negativa, verificando-se dominância não unidirecional. 4. As populações e híbridos intervarietais apresentam alto rendimento de grãos e baixa capacidade de expansão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, R.A. Cruzamentos dialélicos entre seis variedades de milho-pipoca. 1995. 79f. Tese (Mestrado em Genética e Melhoramento) – Universidade Federal de Viçosa. CRUZ, C.D. 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E-mail: [email protected] IVBolsista da Fapesp VCom bolsa de produtividade científica do CNPq RESUMO Para estudar a polinização da atemóia (Annona squamosa L. x A. cherimola) e determinar a técnica de polinização que produz frutos em maior quantidade e melhor qualidade, montou-se um experimento de polinização. O experimento foi realizado com a cultivar Gefner, no período de novembro de 2000 a março de 2001, em pomar comercial, localizado em Lins (SP), a 424 metros de altitude. As plantas apresentavam 13 anos de idade. Empregou-se o delineamento de blocos ao acaso, com cinco tratamentos e seis repetições. Os tratamentos foram os seguintes: 1) polinização manual (pólen de A. squamosa L.); 2) polinização manual (pólen da atemóia cultivar Gefner); 3) polinização manual (pólen da atemóia cultivar African Pride); 4) polinização manual (pólen da atemóia cultivar PR-3); 5) polinização natural ou aberta. A avaliação do vingamento dos frutos ocorreu dez dias após a polinização e da quantidade dos frutos com conformação perfeita ou defeituosa, aos 40 dias. Os frutos foram colhidos 120 dias após a polinização e pesados individualmente. Amostraram-se, também, três frutos para as seguintes determinações: massa de sementes e da polpa, número de sementes por 100 gramas de polpa, teor de sólidos solúveis totais, acidez total e relação sólidos solúveis/acidez. Para a atemóia, a polinização com pólen de A. squamosa L. foi mais efetiva, aumentando o vingamento de frutos (80,5%, comparado com outros quatro tratamentos, que foi menos de 22%), a produção e a porcentagem de frutos perfeitos. Palavras-chave: atemóia, anonáceas, polinização artificial e natural, fontes de pólen. ABSTRACT An experiment was carried out to study atemoya pollination and to determine the pollination method that produces fruits in larger amount and quality. The experiment was accomplished with cultivar Gefner, in the period of November 2000 to March 2001, in a commercial orchard located in the county of Lins - SP, at an altitude of 424 meters. The plants were 13 years old. The experimental design was in randomized blocks, with 5 treatments and 6 replicates. The treatments were as follows: 1) hand pollination (pollen of A. squamosa L.); 2) hand pollination (pollen of atemoya cultivar Gefner); 3) hand pollination (pollen of atemoya cultivar African Pride); 4) hand pollination (pollen of atemoya cultivar PR-3); 5) natural (open) pollination. The evaluation of fruit set happened 10 days after the pollination and the amount of fruits with perfect or defective shape after 40 days. Atemoya fruits were picked 120 days after the pollination and individually weighed. 3-fruit samples of each treatment were taken, for the following determinations: seed and pulp weigh, number of seeds per 100 g of pulp, total soluble solids content, total acidity and soluble solids/acidity ratio. The pollination of atemoya with pollen of A. squamosa L. was more effective, increasing the fruit set (80.5% compared to less than 22% in the other treatments), fruit production and percentage of perfect fruits. Key words: atemoya, hand pollination, natural pollination, pollen source. 1. INTRODUÇÃO Escolheu-se estudar a atemóia, por se tratar de fruta muito saborosa com boa potencialidade econômica de cultivo no Brasil (especialmente para pequenos produtores). Estima-se que sejam cultivados 10.000 ha de anonáceas no Brasil (CARMO, 2000), dos quais 1.000 ha correspondem à atemóia, distribuídos em, aproximadamente, 500 ha na região Nordeste do país e 500 ha no Sudeste brasileiro. A cultura de atemóia, um híbrido entre A. squamosa L. (fruta-do-conde ou ata) e A. cherimola Mill. (cherimóia), proporciona boa remuneração ao produtor, pois o preço de uma caixa com oito frutos de 450 g pode alcançar R$15,00. Uma planta adulta, manejada adequadamente, pode produzir até 20 caixas de frutos de boa qualidade (TOKUNAGA, 2000). A produtividade da atemóia, porém, é baixa, devido à escassez de informações a respeito dos tratos culturais, além da polinização natural deficiente, pela ocorrência da dicogamia protogínica. Esse fenômeno se deve à falta de sincronia no amadurecimento dos órgãos florais feminino e masculino dessas fruteiras. Para incrementar a produtividade, Schroeder citado por RICHARDSON e ANDERSON (1996) propôs, para as condições da Califórnia - EUA, o emprego da polinização artificial ou manual. A polinização artificial apresenta a vantagem de produzir frutos em maior quantidade, de maior tamanho e de melhor formato. Com seu uso, pode-se aproveitar melhor a primeira florada, manejar e escalonar a colheita dos frutos, polinizando as flores das partes mais baixas da planta (GUIRADO, 1992). Por outro lado, essa operação eleva os custos de produção da cultura; para se obter produtividade de 10 Mg.ha-1, são necessárias duzentas horas de trabalho para polinizar um hectare (FARRÉ e HERMOSO, 1997). A polinização artificial pode apresentar resultados diferentes, dependendo da cultivar fornecedora do pólen. Schwarzenberg citado por GARDIAZABAL e ROSENBERG (1993) realizou experimento de polinização em 1946 e comprovou que o uso de pólen das mesmas cultivares de cherimóia apresentou resultados de vingamento de frutos superiores ao pólen oriundo de cultivares diferentes. Saint Marie citado por GARDIAZABAL e ROSENBERG (1993) constatou que o emprego do pólen da cultivar Bronceada apresentou resultados superiores ao do pólen de 'Santa Júlia', quando polinizados em cultivares distintas. DUARTE e ESCOBAR (1997) polinizaram a cultivar Cumbe de cherimóia e observaram que polens da cultivar Bronceada e Cumbe apresentaram resultados superiores aos da atemóia cultivar Gefner. KAVATI et al. (1997), com o objetivo de aumentar a frutificação de atemóia e melhorar o formato dos frutos, demonstraram a necessidade da realização de mais estudos sobre a polinização. O presente trabalho visou comparar distintas maneiras de polinizar a atemóia nas condições climáticas paulistas e verificar quais as fontes de pólen que poderiam promover maior vingamento dos frutos de atemóia e os efeitos da polinização na quantidade e qualidade dos frutos produzidos. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em propriedade situada em Lins (SP), à altitude de 425 metros, com as seguintes coordenadas geográficas: 21°40'S e 49°45'W. O clima é do tipo Aw, com temperatura média anual estimada em 23 °C e precipitação média anual de 1.239 mm, com chuvas concentradas no verão. O solo da área experimental foi classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo. O pomar foi composto por 350 plantas de atemóia, com 13 anos de idade, predominando a cultivar Gefner. Avaliaram-se os frutos a partir do início de novembro de 2000 até o final de março de 2001. Durante o período experimental, as plantas receberam os mesmos tratos culturais (adubação, controle fitossanitário, capina, irrigação) utilizados pelo agricultor. O tratamento fitossanitário foi realizado com intervalo de três dias, antes e após a polinização. O delineamento experimental empregado foi o de blocos ao acaso (DBC). As plantas selecionadas de atemóia cv. Gefner receberam os cinco tratamentos, em seis repetições. Os tratamentos aplicados foram os seguintes: 1. Polinização manual (pólen de A. squamosa L.); 2. Polinização manual (pólen da mesma cultivar); 3. Polinização manual (pólen de atemóia cultivar African Pride); 4. Polinização manual (pólen de atemóia cultivar PR-3); 5. Polinização natural ou aberta. Foram escolhidas 30 plantas com idade e vigor semelhantes e utilizadas 18 flores por tratamento em cada bloco para constituir uma parcela. Aplicaram-se os cinco tratamentos em cada planta de atemóia cv. Gefner. A polinização iniciou-se às 6h30min e encerrou-se às 10h de 1º/11/2000. As flores não foram ensacadas. Marcaram-se as flores que receberam os tratamentos, na altura do pedúnculo, no instante da polinização, com fitas de plástico colorido. Para obtenção do pólen adotou-se o método, adaptado de GUIRADO (1992), que consistiu do seguinte: a partir das 15 h, colheu-se, aleatoriamente, número de flores igual ao número que seria polinizado na manhã seguinte, as quais se encontravam em antese, no estádio fêmea (que ainda não tivessem passado para o estádio macho). Colheram-se, preferencialmente, flores surgidas em ramo de um ano, pois estas não frutificam bem, mas são boas fornecedoras de pólen. Dessa forma, procurou-se interferir o menos possível no potencial produtivo das plantas. As flores colhidas foram colocadas em bandejas plásticas e cobertas com outra bandeja. Levadas ao galpão, foram distribuídas em camada única em pratos plásticos para evitar fermentação do pólen e mantidas em condições ambientais naturais. Na manhã seguinte, às 6 horas, as flores foram levadas para o campo e mantidas em caixa de papelão com tampa. Conforme a necessidade, extraiu-se o pólen das flores com os dedos. A seguir, com o auxílio de um pincel, o pólen foi agrupado e colocado em aplicador apropriado. Depois, introduziu-se a canícula do aplicador entre as pétalas até aproximar-se do estigma de cada flor, fazendo-se duplo bombeamento para assegurar boa polinização. Antes de cada polinização, o aplicador foi agitado em movimentos verticais para soltar o pólen aderido no fundo do recipiente. Terminada a operação, marcou-se a flor polinizada com tira de plástico colorido. Os parâmetros ou variáveis estudados foram avaliados da seguinte maneira: a) Antes da colheita - Porcentagem de vingamento de frutos: dez dias após a polinização, efetuou-se a contagem do número de frutos vingados e calculou-se a porcentagem de vingamento. - Porcentagem de frutos perfeitos: aos quarenta dias após a polinização, foram contados os frutos com contornos perfeitos e imperfeitos e determinada a porcentagem de frutos perfeitos. b) Após a colheita - Porcentagem final de frutos colhidos: na colheita, contou-se o número de frutos e determinouse a porcentagem de frutos colhidos em relação aos vingados. - Massa dos frutos colhidos: os frutos colhidos foram pesados logo após a colheita com o auxílio de uma balança com precisão de 0,1 grama. - Produção total: estimada pela porcentagem de frutos vingados e a massa fresca média. Para as avaliações a seguir, foram amostrados, sempre que possível, três frutos por planta. - Massa de polpa: pesou-se a polpa dos frutos provenientes da amostra. - Massa das sementes: as sementes de cada um dos frutos amostrados foram pesadas. - Número de sementes por 100 gramas de polpa: as sementes de cada fruto amostrado foram contadas; posteriormente, calculou-se sua relação com 100 gramas de polpa. - Sólidos solúveis totais: os teores de sólidos solúveis totais foram medidos com refratômetro de mesa e expressos em oBrix. - Acidez total titulável e pH: a acidez total foi determinada por titulometria, expressa em porcentagem, e o pH, com o auxílio de um determinador de pH. - Relação entre sólidos solúveis totais e acidez total titulável. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando a influência das condições ambientais sobre o sucesso da polinização, efetuaramse observações sobre temperatura e chuva registradas antes e depois do período de polinização (Quadro 1). Observa-se que a faixa de temperatura no período foi elevada, o que não favoreceu a polinização. As chuvas em nada contribuíram para aumentar a umidade do ar. No quadro 2, verifica-se que a polinização com pólen de A. squamosa L. mostrou-se mais eficiente que as demais no aumento da porcentagem de frutos vingados, o que confirma as observações dos agricultores locais, podendo ser utilizada com vantagem em relação à polinização com o pólen de outras cultivares. A porcentagem de vingamento, usando-se pólen de Gefner, esteve na mesma ordem de grandeza dos resultados obtidos por DUARTE et al. (1999), que verificaram 13,79% de vingamento utilizando pólen de atemóia 'Gefner' e 4,91% para o controle. Em outro experimento em Honduras, esses autores observaram 0,0% de vingamento para o controle. Os resultados superiores, obtidos com pólen de A. squamosa L., poderiam ser explicados pelo menor tamanho dos grãos e pela maior quantidade de grãos de pólen que seriam pulverizados em cada aplicação de polinização1. Entretanto, há necessidade de mais estudos para determinar os fatores que levaram a esses resultados, como viabilidade, conservação e germinação do pólen. A porcentagem de frutos vingados poderia ser melhor caso as temperaturas fossem mais amenas (Quadro 1), à semelhança do que ocorre com a cherimóia. O tratamento 1 (polinização com pólen de fruta-do-conde) foi superior aos demais na produção total colhida (Quadro 2). A massa fresca média dos frutos do tratamento 1 foi de 385 gramas, valor considerado bom para comercialização (KAVATI, 1992) e se assemelha ao valor médio encontrado por GEORGE et al. (1997) para a cultivar Gefner, que foi de 350 gramas. O peso dos frutos dos demais tratamentos foi inferior a 300 gramas. Na comercialização são considerados frutos pequenos. Examinando os dados do quadro 3, percebe-se que o tratamento 1 (polinização com pólen de fruta-do-conde) foi superior aos demais, indicando a importância do emprego da prática de polinização artificial com essa fonte de pólen para a obtenção de maior quantidade de frutos comercializáveis (perfeitos). A determinação do número médio de sementes por fruto foi prejudicada devido ao descarte de frutos antes da colheita provocado pelo ataque intenso da broca dos frutos Cerconota anonella. Os índices de número de sementes por 100 g de polpa foram todos superiores ao valor 10 (Quadro 4) que é o máximo aceito para o programa de melhoramento australiano de atemóia (GEORGE e BROADLEY, 1999) e diferiu do número encontrado por GEORGE et al. (1997), que encontraram 14,5 sementes por 100 g de polpa. Essa característica pode ser inerente à cultivar. Verificou-se que o teor de sólidos solúveis variou de 19,6º a 23,8 ºBrix, valores aceitáveis, segundo o padrão australiano, que determina frutos aceitáveis acima de 18 ºBrix (SCHELDEMAN e VAN DAMME, 1999). A relação SST/ATT ótima não é conhecida (Quadro 5). 4. CONCLUSÕES 1. Na polinização manual da atemóia, cultivar Gefner, com pólen de diferentes fontes, o da fruta-do-conde (A. squamosa L.) foi mais efetivo que o da própria cultivar e também que o das atemóias cvs. African Pride e PR-3, aumentando a porcentagem de frutos vingados e a de frutos perfeitos e a de produção total colhida. 2. Quando se comparou a polinização artificial (manual) da atemóia cv. Gefner com a natural, esta foi superada apenas quando se usou o pólen da fruta-do-conde; o pólen das outras fontes (atemóias cvs. African Pride e PR-3) mostrou efeito semelhante ao da polinização natural na porcentagem de frutos vingados e de frutos perfeitos e na produção total colhida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARMO, A.J. 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(Boletim Técnico, 233) Links ] Recebido para publicação em 21 de março e aceito em 26 de agosto de 2002 1 Engenheiro Agrônomo Ryosuke Kavati, comunicação pessoal © 2007 Instituto Agronômico Avenida Barão de Itapura, 1481 13020-902 Campinas SP - Brazil Tel.: +55 19 3231-5422 - ramal 116 Fax: (55 19) 3231-5422 - ramal 215 [ Polinização Artificial da Atemóia 231 POLINIZAÇÃO ARTIFICIAL DA ATEMÓIA COM DIVERSAS FONTES DE PÓLEN COMPARADA COM A NATURAL(1) MARCELO ROSA MELO(2,5); CELSO VALDEVINO POMMER(3,6); RYOSUKE KAVATI(4) RESUMO Para estudar a polinização da atemóia (Annona squamosa L. x A. cherimola) e determinar a técnica de polinização que produz frutos em maior quantidade e melhor qualidade, montou-se um experimento de polinização. O experimento foi realizado com a cultivar Gefner, no período de novembro de 2000 a março de 2001, em pomar comercial, localizado em Lins (SP), a 424 metros de altitude. As plantas apresentavam 13 anos de idade. Empregou-se o delineamento de blocos ao acaso, com cinco tratamentos e seis repetições. Os tratamentos foram os seguintes: 1) polinização manual (pólen de A. squamosa L.); 2) polinização manual (pólen da atemóia cultivar Gefner); 3) polinização manual (pólen da atemóia cultivar African Pride); 4) polinização manual (pólen da atemóia cultivar PR-3); 5) polinização natural ou aberta. A avaliação do vingamento dos frutos ocorreu dez dias após a polinização e da quantidade dos frutos com conformação perfeita ou defeituosa, aos 40 dias. Os frutos foram colhidos 120 dias após a polinização e pesados individualmente. Amostraram-se, também, três frutos para as seguintes determinações: massa de sementes e da polpa, número de sementes por 100 gramas de polpa, teor de sólidos solúveis totais, acidez total e relação sólidos solúveis/acidez. Para a atemóia, a polinização com pólen de A. squamosa L. foi mais efetiva, aumentando o vingamento de frutos (80,5%, comparado com outros quatro tratamentos, que foi menos de 22%), a produção e a porcentagem de frutos perfeitos. Palavras-chave: atemóia, anonáceas, polinização artificial e natural, fontes de pólen. ABSTRACT NATURAL AND ARTIFICIAL POLLINATION OF ATEMOYA IN BRAZIL An experiment was carried out to study atemoya pollination and to determine the pollination method that produces fruits in larger amount and quality. The experiment was accomplished with cultivar Gefner, in the period of November 2000 to March 2001, in a commercial orchard located in the county of Lins - SP, at an altitude of 424 meters. The plants were 13 years old. The experimental design was in randomized blocks, with 5 treatments and 6 replicates. The treatments were as follows: 1) hand pollination (pollen of A. squamosa L.); 2) hand pollination (pollen of atemoya cultivar Gefner); 3) hand pollination (pollen of atemoya cultivar African Pride); 4) hand pollination (pollen of atemoya cultivar PR-3); 5) natural (open) pollination. The evaluation of fruit set happened 10 days after the pollination and the amount of fruits with perfect or defective shape after 40 days. Atemoya fruits were picked 120 days after the pollination and individually weighed. 3-fruit samples of each treatment were taken, for the following determinations: seed and pulp weigh, number of seeds per 100 g of pulp, total soluble solids content, total acidity and soluble solids/acidity ratio. The pollination of atemoya with pollen of A. squamosa L. was more effective, increasing the fruit set (80.5% compared to less than 22% in the other treatments), fruit production and percentage of perfect fruits. Key words: atemoya, hand pollination, natural pollination, pollen source. 1 ( ) Recebido para publicação em 21 de março e aceito em 26 de agosto de 2002. 2 ( ) Mestre em Agricultura Tropical e Subtropical, área de concentração em Tecnologia de Produção Agrícola, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected] (3) Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócios de Frutas, IAC, Caixa Postal 11, 13200-970 Jundiaí (SP). E-mail: [email protected] (4) Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), Lins (SP). E-mail: [email protected] (5) Bolsista da Fapesp. 6 ( ) Com bolsa de produtividade científica do CNPq. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 231-236, 2002 M.R. MELO et al. 232 1. INTRODUÇÃO Escolheu-se estudar a atemóia, por se tratar de fruta muito saborosa com boa potencialidade econômica de cultivo no Brasil (especialmente para pequenos produtores). Estima-se que sejam cultivados 10.000 ha de anonáceas no Brasil (CARMO, 2000), dos quais 1.000 ha correspondem à atemóia, distribuídos em, aproximadamente, 500 ha na região Nordeste do país e 500 ha no Sudeste brasileiro. A cultura de atemóia, um híbrido entre A. squamosa L. (fruta-do-conde ou ata) e A. cherimola Mill. (cherimóia), proporciona boa remuneração ao produtor, pois o preço de uma caixa com oito frutos de 450 g pode alcançar R$15,00. Uma planta adulta, manejada adequadamente, pode produzir até 20 caixas de frutos de boa qualidade (TOKUNAGA, 2000). A produtividade da atemóia, porém, é baixa, devido à escassez de informações a respeito dos tratos culturais, além da polinização natural deficiente, pela ocorrência da dicogamia protogínica. Esse fenômeno se deve à falta de sincronia no amadurecimento dos órgãos florais feminino e masculino dessas fruteiras. Para incrementar a produtividade, Schroeder citado por RICHARDSON e ANDERSON (1996) propôs, para as condições da Califórnia - EUA, o emprego da polinização artificial ou manual. A polinização artificial apresenta a vantagem de produzir frutos em maior quantidade, de maior tamanho e de melhor formato. Com seu uso, pode-se aproveitar melhor a primeira florada, manejar e escalonar a colheita dos frutos, polinizando as flores das partes mais baixas da planta (G UIRADO , 1992). Por outro lado, essa operação eleva os custos de produção da cultura; para se obter produtividade de 10 Mg.ha -1, são necessárias duzentas horas de trabalho para polinizar um hectare (FARRÉ e HERMOSO, 1997). A polinização artificial pode apresentar resultados diferentes, dependendo da cultivar fornecedora do pólen. Schwarzenberg citado por GARDIAZABAL e ROSENBERG (1993) realizou experimento de polinização em 1946 e comprovou que o uso de pólen das mesmas cultivares de cherimóia apresentou resultados de vingamento de frutos superiores ao pólen oriundo de cultivares diferentes. Saint Marie citado por GARDIAZABAL e ROSENBERG (1993) constatou que o emprego do pólen da cultivar Bronceada apresentou resultados superiores ao do pólen de ‘Santa Júlia’, quando polinizados em cultivares distintas. D UARTE e E SCOBAR (1997) polinizaram a cultivar Cumbe de cherimóia e observaram que polens da cultivar Bronceada e Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 231-236, 2002 Cumbe apresentaram resultados superiores aos da atemóia cultivar Gefner. KAVATI et al. (1997), com o objetivo de aumentar a frutificação de atemóia e melhorar o formato dos frutos, demonstraram a necessidade da realização de mais estudos sobre a polinização. O presente trabalho visou comparar distintas maneiras de polinizar a atemóia nas condições climáticas paulistas e verificar quais as fontes de pólen que poderiam promover maior vingamento dos frutos de atemóia e os efeitos da polinização na quantidade e qualidade dos frutos produzidos. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em propriedade situada em Lins (SP), à altitude de 425 metros, com as seguintes coordenadas geográficas: 21°40’S e 49°45’W. O clima é do tipo Aw, com temperatura média anual estimada em 23 °C e precipitação média anual de 1.239 mm, com chuvas concentradas no verão. O solo da área experimental foi classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo. O pomar foi composto por 350 plantas de atemóia, com 13 anos de idade, predominando a cultivar Gefner. Avaliaram-se os frutos a partir do início de novembro de 2000 até o final de março de 2001. Durante o período experimental, as plantas receberam os mesmos tratos culturais (adubação, controle fitossanitário, capina, irrigação) utilizados pelo agricultor. O tratamento fitossanitário foi realizado com intervalo de três dias, antes e após a polinização. O delineamento experimental empregado foi o de blocos ao acaso (DBC). As plantas selecionadas de atemóia cv. Gefner receberam os cinco tratamentos, em seis repetições. Os tratamentos aplicados foram os seguintes: 1. Polinização manual (pólen de A. squamosa L.); 2. Polinização manual (pólen da mesma cultivar); 3. Polinização manual (pólen de atemóia cultivar African Pride); 4. Polinização manual (pólen de atemóia cultivar PR-3); 5. Polinização natural ou aberta. Foram escolhidas 30 plantas com idade e vigor semelhantes e utilizadas 18 flores por tratamento em cada bloco para constituir uma parcela. Aplicaram-se os cinco tratamentos em cada planta de atemóia cv. Gefner. A polinização iniciou-se às 6h30min e encerrou-se às 10h de 1º/11/2000. As flores não foram ensacadas. Marcaram-se as flores que receberam os tratamentos, na altura do pedúnculo, no instante da polinização, com fitas de plástico colorido. Polinização Artificial da Atemóia Para obtenção do pólen adotou-se o método, adaptado de G UIRADO (1992), que consistiu do seguinte: a partir das 15 h, colheu-se, aleatoriamente, número de flores igual ao número que seria polinizado na manhã seguinte, as quais se encontravam em antese, no estádio fêmea (que ainda não tivessem passado para o estádio macho). Colheram-se, preferencialmente, flores surgidas em ramo de um ano, pois estas não frutificam bem, mas são boas fornecedoras de pólen. Dessa forma, procurou-se interferir o menos possível no potencial produtivo das plantas. As flores colhidas foram colocadas em bandejas plásticas e cobertas com outra bandeja. Levadas ao galpão, foram distribuídas em camada única em pratos plásticos para evitar fermentação do pólen e mantidas em condições ambientais naturais. Na manhã seguinte, às 6 horas, as flores foram levadas para o campo e mantidas em caixa de papelão com tampa. Conforme a necessidade, extraiu-se o pólen das flores com os dedos. A seguir, com o auxílio de um pincel, o pólen foi agrupado e colocado em aplicador apropriado. Depois, introduziu-se a canícula do aplicador entre as pétalas até aproximar-se do estigma de cada flor, fazendo-se duplo bombeamento para assegurar boa polinização. Antes de cada polinização, o aplicador foi agitado em movimentos verticais para soltar o pólen aderido no fundo do recipiente. Terminada a operação, marcou-se a flor polinizada com tira de plástico colorido. Os parâmetros ou variáveis estudados foram avaliados da seguinte maneira: a) Antes da colheita - Porcentagem de vingamento de frutos: dez dias após a polinização, efetuou-se a contagem do número de frutos vingados e calculou-se a porcentagem de vingamento. - Porcentagem de frutos perfeitos: aos quarenta dias após a polinização, foram contados os frutos com contornos perfeitos e imperfeitos e determinada a porcentagem de frutos perfeitos. b) Após a colheita - Porcentagem final de frutos colhidos: na colheita, contou-se o número de frutos e determinou-se a porcentagem de frutos colhidos em relação aos vingados. - Massa dos frutos colhidos: os frutos colhidos foram pesados logo após a colheita com o auxílio de uma balança com precisão de 0,1 grama. - Produção total: estimada pela porcentagem de frutos vingados e a massa fresca média. 233 Para as avaliações a seguir, foram amostrados, sempre que possível, três frutos por planta. - Massa de polpa: pesou-se a polpa dos frutos provenientes da amostra. - Massa das sementes: as sementes de cada um dos frutos amostrados foram pesadas. - Número de sementes por 100 gramas de polpa: as sementes de cada fruto amostrado foram contadas; posteriormente, calculou-se sua relação com 100 gramas de polpa. - Sólidos solúveis totais: os teores de sólidos solúveis totais foram medidos com refratômetro de mesa e expressos em oBrix. - Acidez total titulável e pH: a acidez total foi determinada por titulometria, expressa em porcentagem, e o pH, com o auxílio de um determinador de pH. - Relação entre sólidos solúveis totais e acidez total titulável. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando a influência das condições ambientais sobre o sucesso da polinização, efetuaram-se observações sobre temperatura e chuva registradas antes e depois do período de polinização (Quadro 1). Observa-se que a faixa de temperatura no período foi elevada, o que não favoreceu a polinização. As chuvas em nada contribuíram para aumentar a umidade do ar. No quadro 2, verifica-se que a polinização com pólen de A. squamosa L. mostrou-se mais eficiente que as demais no aumento da porcentagem de frutos vingados, o que confirma as observações dos agricultores locais, podendo ser utilizada com vantagem em relação à polinização com o pólen de outras cultivares. A porcentagem de vingamento, usando-se pólen de Gefner, esteve na mesma ordem de grandeza dos resultados obtidos por DUARTE et al. (1999), que verificaram 13,79% de vingamento utilizando pólen de atemóia ‘Gefner’ e 4,91% para o controle. Em outro experimento em Honduras, esses autores observaram 0,0% de vingamento para o controle. Os resultados superiores, obtidos com pólen de A. squamosa L., poderiam ser explicados pelo menor tamanho dos grãos e pela maior quantidade de grãos de pólen que seriam pulverizados em cada aplicação de polinização (5) . Entretanto, há necessidade de mais estudos para determinar os fatores que levaram a esses resultados, como viabilidade, conservação e germinação do pólen. A porcentagem de frutos vingados poderia ser melhor 5 ( ) Engenheiro Agrônomo Ryosuke Kavati, comunicação pessoal. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 231-236, 2002 M.R. MELO et al. 234 Quadro 1. Temperatura e precipitação observadas no período anterior e posterior à polinização de flores de atemóia. Lins (SP), 2000 Datas 27/10 28/10 29/10 30/10 31/10 1º/11 2/11 3/11 4/11 5/11 6/11 Temperatura mínima ºC 27,0 28,0 31,0 31,0 30,0 37,0 36,0 37,0 38,0 34,0 34,0 caso as temperaturas fossem mais amenas (Quadro 1), à semelhança do que ocorre com a cherimóia. O tratamento 1 (polinização com pólen de fruta-do-conde) foi superior aos demais na produção total colhida (Quadro 2). A massa fresca média dos frutos do tratamento 1 foi de 385 gramas, valor considerado bom para comercialização (KAVATI , 1992) e se assemelha ao valor médio encontrado por GEORGE et al. (1997) para a cultivar Gefner, que foi de 350 gramas. O peso dos frutos dos demais tratamentos foi inferior a 300 gramas. Na comercialização são considerados frutos pequenos. Examinando os dados do quadro 3, percebe-se que o tratamento 1 (polinização com pólen de fruta-do-conde) foi superior aos demais, indicando a importância do emprego da prática de polinização artificial com essa fonte de pólen para Temperatura máxima ºC 22,0 17,0 17,0 19,0 18,0 22,0 22,0 22,0 23,0 23,0 22,0 Precipitação mm 0,0 15,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 a obtenção de maior quantidade de frutos comercializáveis (perfeitos). A determinação do número médio de sementes por fruto foi prejudicada devido ao descarte de frutos antes da colheita provocado pelo ataque intenso da broca dos frutos Cerconota anonella. Os índices de número de sementes por 100 g de polpa foram todos superiores ao valor 10 (Quadro 4) que é o máximo aceito para o programa de melhoramento australiano de atemóia (GEORGE e BROADLEY, 1999) e diferiu do número encontrado por GEORGE et al. (1997), que encontraram 14,5 sementes por 100 g de polpa. Essa característica pode ser inerente à cultivar. Verificou-se que o teor de sólidos solúveis variou de 19,6º a 23,8 ºBrix, valores aceitáveis, segundo o padrão australiano, que determina frutos aceitáveis acima de 18 ºBrix (SCHELDEMAN e VAN DAMME, 1999). A relação SST/ATT ótima não é conhecida (Quadro 5). Quadro 2. Efeito do modo de polinização e do pólen sobre o número médio de frutos vingados, porcentagem de frutos vingados, produção total e massa fresca média de atemóia cv. Gefner. Lins (SP), 2000 Tratamento 1. Polinização manual (pólen de A. squamosa L.) 2. Polinização manual (pólen da mesma cultivar) 3. Polinização manual (pólen da atemóia African Pride) 4. Polinização manual (pólen da atemóia PR-3) 5. Polinização natural ou aberta F (trat.) CV (%) Fruto vingado Fruto vingado nº médio 14,5 a 3,8 b 2,3 b 0,3 b 0,3 b 101,6* 131,0 % 80,5 a 21,3 b 13,0 b 1,9 b 1,9 b 89,3* 131,0 Produção total colhida kg 10.805,76 a 956,32 b 252,87 b 225,79 b 167,5* 176,6 Massa fresca média g 385,92 239,08 252,87 225,79 - Médias seguidas das mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5%. *: Significativo a 5%. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 231-236, 2002 Polinização Artificial da Atemóia 235 Quadro 3. Porcentagem(1) de frutos perfeitos de atemóia cv. Gefner, nos diferentes tratamentos de polinização. Lins (SP), 2000 Tratamento Fruto perfeito(2) % 77,6 a 21,1 b 33,0 b 9,1 b 33,0 b 9,4* 98,9 1. Polinização manual (pólen de A. squamosa L.) 2. Polinização manual (pólen da mesma cultivar) 3. Polinização manual (pólen da atemóia cv. African Pride) 4. Polinização manual (pólen da atemóia PR-3) 5. Polinização natural ou aberta F (trat.) CV (%) (1) Dados iniciais transformados em arcsen da raiz quadrada de (x + 0,025). (2) Fruto perfeito: fruto com contornos sem reentrâncias. Médias seguidas das mesmas letras não diferem entre si ao nível de 5% pelo teste de Tukey. *: Significativo a 5%. Quadro 4. Resultados médios dos tratamentos sobre algumas características dos frutos de atemóia cv. Gefner. Lins (SP) 2000. Tratamento Compri- Diâmetro mento Fruto Casca Semente Polpa Semente Sementes por maduro 100 g de polpa cm cm g n.o n.o 1. Polinização manual (pólen de A. squamosa L.) 9,3 8,1 341,5 78,0 25,3 238,2 68,1 2. Polinização manual (pólen da mesma cultivar) 8,7 7,5 235,7 58,4 12,3 164,6 37,5 22,8 3. Polinização manual (pólen da atemóia cv. African Pride) 8,3 7,9 237,2 68,7 21,6 146,9 63,0 42,9 4. Polinização manual (pólen da atemóia PR-3) 5. Polinização natural ou aberta - - 9,5 7,6 213,4 57,2 19,3 136,9 28,6 - - 52,0 38,0 Quadro 5. Efeitos dos tratamentos sobre alguns parâmetros dos frutos de atemóia cv. Gefner. Lins (SP), 2000 Tratamento Sólidos solúveis totais o Brix 1. Polinização manual (pólen de A. squamosa L.) 22,3 2. Polinização manual (pólen da mesma cultivar) 19,6 3. Polinização manual (pólen da atemóia cv. African Pride) 21,4 4. Polinização manual (pólen da atemóia PR-3) 5. Polinização natural ou aberta 23,8 4. CONCLUSÕES 1. Na polinização manual da atemóia, cultivar Gefner, com pólen de diferentes fontes, o da frutado-conde (A. squamosa L.) foi mais efetivo que o da própria cultivar e também que o das atemóias cvs. African Pride e PR-3, aumentando a porcentagem de frutos vingados e a de frutos perfeitos e a de produção total colhida. 2. Quando se comparou a polinização artificial (manual) da atemóia cv. Gefner com a natural, esta foi superada apenas quando se usou o pólen da fruta-doconde; o pólen das outras fontes (atemóias cvs. African Pride e PR-3) mostrou efeito semelhante ao da polinização natural na porcentagem de frutos vingados e de frutos perfeitos e na produção total colhida. Acidez total titulável % 0,60 0,50 0,43 0,54 pH SST/ATT 4,65 4,77 4,79 4,72 37,2 39,2 49,8 44,1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARMO, A.J. Atemóia e pinha vão bem no noroeste de SP. Estado de São Paulo, São Paulo, 10 de maio de 2000. Suplemento Agrícola, n.2322, p.10-11. DUARTE, O.; ESCOBAR, O. Mejora del cuajado de chirimoya (Annona cherimola Mill.) cv. Cumbe, mediante polinización manual autogama y alogama. Proceedings of the Interamerican Society for Tropical Horticulture, n.41, 162-165, 1997. DUARTE, O.; PINEDA, A.; RODRIGUEZ, P.P. Mejora del cuajado en atemoya Gefner (Annona squamosa L. x Annona cherimola Mill.) con diversos tratamientos de polinización manual. Proceedings of the Interamerican Society for Tropical Horticulture, n.43, 1999. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 231-236, 2002 236 M.R. MELO et al. FARRÉ, J.M.; HERMOSO, J.M. El chirimoyo (Annona cherimola Mill.) en España. In: SÃO JOSÉ, A.R.; SOUZA, I.V.B.; MORAIS, O.M.; REBOUÇAS, T.N.H. (Eds.). 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(Boletim Técnico, 233) Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 231-236, 2002 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.61 no.3 Campinas Sept./Dec. 2002 FITOTECNIA Desempenho de cinco clones jovens de seringueira na região do Planalto Ocidental Paulista Performance of five young clones of rubber tree in the São Paulo Occidental plateau region Juliane Ribeiro CavalcanteI; Elenice de Cássia ConfortoII IBolsista PIBIC-UNESP/CNPq de Zoologia e Botânica, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas UNESP, Rua Cristóvão Colombo, 2.265, 15054-000 São José do Rio Preto (SP). E-mail: [email protected] IIDepartamento RESUMO A Região do Planalto Ocidental Paulista tem se destacado como pólo produtor de borracha natural. Visando fornecer informações sobre a adaptação dos clones de seringueira [Hevea brasiliensis (Wildd. ex. Adr. de Juss) Müell. Arg.] RRIM 600, GT 1, RRIM 701, IAN 873 e PB 235, em São José do Rio Preto (SP), realizaram-se avaliações de alguns caracteres de sua biologia, pelo acompanhamento das trocas gasosas e mensuração do desenvolvimento vegetativo durante os primeiros 18 meses após o enxerto sobre Tjir 16. A altura de RRIM 600 atingiu, em média, 3,74 m e o diâmetro do caule de IAN 873 e RRIM 600, 2,50 cm. PB 235 apresentou o menor índice relativo de crescimento durante o período. No período úmido, os valores das trocas gasosas não diferiram significativamente entre os clones, com valores médios da taxa fotossintética de 9,45 µmol.m-2.s-1; para a taxa de transpiração, 3,84 mmol.m2.s-1, e para a condutância estomática, de 0,096 mol.m-2.s-1. Diferenças entre os valores de trocas gasosas ocorreram apenas no período seco, com redução mais acentuada para PB 235. Considerando o conjunto dos caracteres analisados, o desempenho dos clones IAN 873 e RRIM 600 foi superior, e do clone PB 235, inferior. Palavras-chave: adaptação, trocas gasosas, Hevea brasiliensis, enxertia. ABSTRACT The region of São Paulo Occidental Plateau is well known for its part as a major producer of natural rubber. In order to obtain information about adaptation of rubber tree clones [Hevea brasiliensis (Wildd. ex. Adr. de Juss) Müell. Arg.] RRIM 600, RRIM 701, IAN 873, PB 235 and GT 1, in the city of São José do Rio Preto some biologic characteristics were evaluated. Analysis were performed by monitoring gas exchanges and by measuring vegetative development, during the 18 months after engraft on the Tjir 16 clonal rootstocks. The height of RRIM 600 reached a mean of 3,74 m, and the diameter of the stem of IAN 873 and RRIM 600 reached the mean of 2,50 cm. Clone PB 235 presented the lowest relative growth during the period. During the wet period, the values of the gas exchange did not show significant variation among the clones; the mean value of photosynthetic rates was 9,45 µmol.m-2.s-1; of transpiration rates was 3,84 mmol.m-2 s-1, and of stomatic conductance was 0,096 mol.m-2 s1. Differences in values of gas exchanges were observed only during the dry period, with notably large reduction for clone PB 235. The characteristics analyzed lead to the conclusion that performances of clones IAN 873 and RRIM 600 were superior, and that of clone PB 235 were inferior. Key words: adaptation, gas exchanges, Hevea brasiliensis, grafting. 1. INTRODUÇÃO A borracha natural, obtida a partir da seringueira [Hevea brasiliensis (Wildd. ex. Adr. de Juss) Müell. Arg.] corresponde à maior parte da matéria prima utilizada no transporte, indústria e material bélico. A borracha sintética, obtida do petróleo, possui quase que a mesma composição química da borracha natural e, embora suas propriedades físicas sejam viáveis para diversos usos, não apresentam qualidade suficiente para a confecção de luvas cirúrgicas, preservativos, pneus de automóveis, caminhões e certos revestimentos. No País, na área tradicional, atualmente a heveicultura estende-se pela Amazônia Tropical Úmida, Mato Grosso e Bahia; em regiões não tradicionais, a seringueira é cultivada nos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Maranhão, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e São Paulo (AGRIDATA, 1999). Em 1998, quase a totalidade da produção brasileira ocorreu nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, e no Estado da Bahia (IAC, 1999). Atualmente, o Estado de São Paulo, onde o material clonal foi introduzido em 1952, desponta como líder da produção nacional de borracha natural, com cerca de 45.000 hectares plantados com seringueira, abrangendo mais de 2.500 produtores (CORTEZ e BENESI, 2000). Embora a planta apresente excepcionais condições de rusticidade e de capacidade de adaptação a um grande número de padrões climáticos e edáficos, é uma planta de clima tropical que, quando levada para o litoral paulista, encontrou dificuldades de ordem fitossanitária, mas se adaptou muito bem à Região do Planalto Paulista, cujo clima e solo eram favoráveis para seu desenvolvimento e produção (CATI, 1999). Nessa região, destaca-se o pólo de produção em torno de São José do Rio Preto (Barretos, General Salgado, Catanduva, Tupã, Olímpia), em razão do clima seco no período de troca das folhas, junho a setembro (PINO et al., 1996). Os seringais paulistas apresentam produtividade média superior a 1.200 kg.ha-1 por ano, atingindo valores acima de 1.500 kg.ha-1 por ano, onde há maior conhecimento tecnológico. Esse índice, quando comparado com as médias dos tradicionais países produtores (Tailândia, com 1.100 kg.ha-1; Indonésia, com 750 kg.ha-1 e Malásia, com 1.000 kg.ha-1) colocam o Estado de São Paulo entre as regiões mais produtivas do mundo (IAC, 1999). Em 2001, o Estado atingiu uma produção total de 45.000 mil toneladas de borracha seca (BORRACHA ATUAL, 2002), com uma produção prevista para 53.000 toneladas em 2006 (CORTEZ e BENESI, 2000). A sangria da seringueira evoluiu para uma combinação de alternativas que envolvem diversos mecanismos de incisão da casca, canaletas condutoras de látex, modos de estimulação e sistemas de coleta e armazenamento da borracha produzida, sendo a combinação de todos esses fatores definida como sistema de explotação (BERNARDES, 1995). As características genéticas das cultivares e condições ambientais, além dos fatores socioeconômicos como o preço da borracha e o custo, disponibilidade e qualificação da mão-de-obra, vão determinar qual o melhor sistema a ser adotado. Visando aumentar a produção nacional de látex, vários estudos devem ser realizados, a fim de se conhecer características que auxiliem na escolha de plantas de melhor desempenho, visto que alguns clones, mesmo sendo altamente produtivos em determinada região, podem não o ser em outros locais, já que os parâmetros de desenvolvimento estão sujeitos às condições ambientais (MORETI et al., 1994). Em Pindorama (SP), quando enxertados sobre IAN 873, os clones RRIM 600, RRIM 701, GT 1, PB 235 e IAN 873 apresentaram bom desenvolvimento vegetativo (GONÇALVES et al., 1994); em Olímpia (SP), três deles (RRIM 600, IAN 873 e PB 235) são cultivados comercialmente quando enxertados sobre Tjir 16. Devido a essas informações positivas sobre tais clones, objetivou-se conhecer as respostas fisiológicas e as do desenvolvimento dos cinco clones mencionados, quando enxertados sobre Tjir 16, nas condições climáticas de São José do Rio Preto (SP), distante, aproximadamente, 55 km de Olímpia e Pindorama, a fim de fornecer dados adicionais sobre a adaptação desses clones. Para isso, realizaram-se análises da anatomia foliar, acompanhamento do desenvolvimento vegetativo e monitoração das trocas gasosas durante os primeiros 18 meses de desenvolvimento após a enxertia. 2. MATERIAL E MÉTODOS O material vegetal utilizado constituiu-se de mudas do tipo toco de raiz nua, preparadas em janeiro de 1998, consistindo de porta-enxerto obtidos de sementes do clone Tjir 16 e dos enxertos dos clones RRIM 600, PB 235, IAN 873, RRIM 701 e GT 1 (fornecidos pelo Instituto Agronômico (IAC), em Campinas, por intermédio da Estação Experimental de Pindorama, atualmente, Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico de Agronegócios do Centro Norte). Esses enxertos fazem parte dos clones recomendados para produção em grande escala para a região de Planalto (GONÇALVES et al., 1991). Após aclimatação (permanência de 45 dias protegidas por sombrite 50%), as mudas foram transferidas para a Área Experimental do Departamento de Zoologia e Botânica da UNESPIBILCE, Campus de São José do Rio Preto (SP), e plantadas em solo classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo, com textura arenosa média, em fase de relevo suave ondulado, variação Lins Marília, segundo a classificação atual da EMBRAPA-CNPS apud PRADO (2000), tendo recebido os tratos culturais convencionais, relativos à adubação química e controle fitossanitário (CARDOSO, 1980). As plantas de cada clone foram dispostas em parcelas lineares, com 15 plantas úteis cada uma, espaçadas 1,0 m dentro da linha e 1,5 m na entrelinha. Em maio/98 e maio/99 foram realizadas mensurações dos parâmetros de crescimento relativos ao diâmetro do caule (tomado a 10 cm acima do calo de enxertia, com uso de paquímetro) e altura da parte aérea de todas as plantas em estudo. Para eliminar o efeito da desuniformidade inicial, adotou-se o cálculo do incremento de altura e diâmetro em relação à medida anterior, definida como índice relativo de crescimento (IRC), conforme proposto por BERNARDES (1995). Os estudos de anatomia foliar e de trocas gasosas foram realizados com folhas expostas diretamente à radiação solar, do segundo lançamento expandido, sem sinais de predações ou doenças, totalmente expandidas e sem sinais de senescência, utilizando-se sempre o folíolo médio (LLERAS e MEDRI, 1978). Para a determinação da freqüência estomática, seccionou-se o folíolo foi em três partes iguais (região apical, mediana e basal), as quais foram colocadas em solução de Jeffrey para remoção da epiderme inferior, corada com safranina hidroalcoólica (JOHANSEN apud CONFORTO et al., 1997). Prepararam-se 15 lâminas de cada clone e examinaram-se 10 campos por lâmina, utilizando microscópio com câmara clara. O número observado por campo foi depois extrapolado para mm2 de área foliar. Nos meses de agosto a outubro de 1998 e de janeiro a junho de 1999, foi monitorado o curso das trocas gasosas, com uso do equipamento portátil por infravermelho (ADC, UK, modelo LCA4), determinando-se as taxas fotossintética (A), de transpiração (E) e condutância estomática (gs). Assumindo-se que não há variação na resistência entre os folíolos laterais e medianos (Resnick e Mendes apud CONFORTO et al., 1998), o equipamento foi posicionando no folíolo mediano, na região de maior densidade estomática, evitando as nervuras e bordo foliar (BERGONCI, 1981). Obtiveram-se as medidas entre 8h e 10h30min, horário considerado por vários autores como o mais favorável para as trocas gasosas porque está próximo da recuperação noturna do estado hídrico foliar e há radiação fotossintética ativa suficiente (KANNO, 1993; ROJAS, 2002). Foi adotado um intervalo máximo de 60 minutos entre as medidas, com seis repetições por clone e duas mensurações dentro do horário estipulado. Os parâmetros climáticos do período de estudo (média das temperaturas máxima e mínima e precipitação total) foram fornecidos pelo Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes, da Secretaria da Agricultura e Abastecimento da Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto (SP). Os valores dos parâmetros de crescimento e das características anatômicas foram submetidos ao teste F (Microcal-Origin 4.0, 1995), e as comparações das médias, feitas pelo teste de Tukey (SAS, 1990), segundo GOMES (1987). Antes das análises, os valores de fotossíntese e de transpiração foram convertidos em x 0,5, e os valores de condutância estomática em log (x.100), segundo MEDICI et al. (2001), sendo apresentados nas tabelas em seus valores originais. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Parâmetros climáticos durante o período de experimento Os valores das temperaturas máxima e mínima e precipitação total no período de estudo são apresentados na Figura 1. A análise desses valores permite identificar dois períodos distintos quanto à disponibilidade de água, ou seja, meses com precipitação acima ou abaixo de 100 mm; essa diferença será utilizada para comparar os valores das trocas gasosas nos meses denominados 'úmidos' e 'secos' respectivamente. 3.2. Anatomia foliar Os valores médios da densidade estomática por mm2, bem como os do teste F e da comparação das médias, são mostrados no quadro 1. MARTINS et al. (1993) consideram que, embora a relação entre o número estomático e a eficiência do seu funcionamento não seja muito evidente, a manutenção do controle hídrico via número estomático é bastante significativo. Além disso, a análise da densidade estomática é necessária para posicionar corretamente a câmara foliar do analisador por infravermelho, uma vez que a área em contato com a folha é de apenas 6,25 cm2; verificaram-se nessas plantas folíolos maduros com 78 cm2 de área (COUTINHO e CONFORTO, 1998). Estudos ecofisiológicos com seringueira sugerem a utilização do folíolo mediano (MEDRI e LLERAS, 1983), na região com maior densidade estomática (CONFORTO et al., 1998). Assim, em quatro dos cinco clones, o melhor posicionamento do aparelho foi na região basal do folíolo médio, e somente para RRIM 701, na região mediana. A freqüência estomática do clone IAN 873 foi superior a dos demais, independentemente da região estudada. Diversos fatores, porém, atuam na determinação do número estomático, dentre eles, a ploidia (Medri e Lleras apud COUTINHO e CONFORTO, 2001); o local de cultivo, idade da folha e grau de exposição à radiação solar, além da altura em que se encontra a folha (Medri apud COUTINHO e CONFORTO , 2001). 3.3. Desenvolvimento vegetativo Em Hevea, o diâmetro do caule é o parâmetro mais importante, pois com base no grau de maturidade do plantio, decide-se o início da sangria (CHANDRASEKAR et al., 1998). No Brasil, adota-se o perímetro mínimo de 45 cm a 1,20 m acima do solo (Bernardes et al., 1992, 1995). A idade em que se atinge tal perímetro varia de acordo com a região de cultivo, e entre cultivares. Em muitos clones, as plantas alcançam o valor ideal em idade inferior a sete anos (IAC apud Gonçalves et al., 1993); verificou-se que na região de São José do Rio Preto (SP), PB 235 alcançou a média de 45 cm aos cinco anos e IAN 873, aos cinco anos e meio (GONÇALVES et al., 1993). Os valores obtidos para a altura da planta e diâmetro do caule são apresentados no quadro 2. Os valores para altura da planta refletem seu bom desenvolvimento, pois em plantas com dois anos de idade, nas condições de Manaus (AM), GONÇALVES e ROSSETTI (1982) relataram, para 14 clones, variação entre 2,93 m e 2,31 m. Na mesma combinação de enxertos e porta-enxertos utilizada neste trabalho, em estudos desenvolvidos em Pindorama (SP) com plantas de um ano, GONÇALVES et al. (1994) verificaram alturas médias de 1,70 m para GT 1; 1,62 m para RRIM 701; 1,88 m para IAN 873; 1,96 m para PB 235 e 2,17 m para RRIM 600. Desse modo, a diferença relatada (Quadro 2) não poderia ser atribuída somente à diferença de idade de quatro meses. Nesses dois locais, o clone RRIM 600 destacou-se dentre os demais. Com relação ao diâmetro do caule, GT 1 e RRIM 701 apresentaram menor valor que os demais, mas os valores deste estudo foram superiores aos verificados por GONÇALVES et al. (1994) em Pindorama (1,35 para GT 1; 1,41 para RRIM 701; 1,36 para IAN 873; 1,42 para PB 235 e 1,46 para RRIM 600). Comparando o desenvolvimento dos mesmos clones do presente estudo, quando cultivados em Tabapuã (SP), observou-se valores próximos de incremento anual de circunferência do tronco para PB 235, GT 1 e IAN 873, mas naquele local, houve maior incremento para RRIM 701, e menor para RRIM 600 (GONÇALVES et al., 1993); nessas condições, RRIM 600 atingiu o perímetro necessário para entrada em sangria somente aos sete anos, e RRIM 701, aos seis anos. LAVORENTI et al. (1990) concluíram, para plantas com três anos e meio, que o perímetro do caule foi o caracter que mais influenciou a produção. Tanto a altura da planta quanto o diâmetro do caule são componentes associados à produtividade, embora a magnitude de sua importância tenha se manifestado diferentemente entre alguns estudos realizados. Assim, GONÇALVES e ROSSETTI (1982) observaram em plantas de dois anos de idade, pela realização de miniteste de produção, que, embora a altura tenha variado entre 2,93 m e 2,31 m, a produção oscilou de 49,46 mg a 4,53 mg de borracha seca/corte, concluindo ser impossível correlacionar os dois caracteres. GONÇALVES et al. (1984) verificaram alta correlação fenotípica e genética entre produção e altura da planta, e produção e diâmetro do caule, evidenciando a possibilidade de se obter clones jovens (dois anos) de boa capacidade produtiva e grande vigor. Desse modo, no melhoramento genético, a característica do entrenó curto deve ser incluída, pois deixaria de ser utilizada grande quantidade de fotoassimilados para a formação de galhos e ramos muito longos, os quais não contribuem para a produção e representam apenas tecido de consumo (MORAES, 1980). Em estudos com plantas de um ano de idade, o efeito direto baixo da altura sobre a produção, confirmou que a seleção para plantas mais baixas deve ser considerada (VASCONCELLOS e ABREU, 1983). LEMOS-FILHO et al. (1993), trabalhando com clones de seringueira em Piracicaba (SP), observaram que as temperaturas podem causar restrições ao crescimento da planta em algumas épocas do ano; esses autores verificaram que temperaturas próximas a 16 °C, para os clones RRIM 600 e GT 1, seriam necessárias para manter a iniciação dos fluxos sucessivos de folhas, enquanto o crescimento em altura, de temperaturas maiores, sendo a de 19 °C considerada crítica para a expansão celular. Esses valores também variaram conforme o local de estudo; em Lavras (MG), as temperaturas críticas foram de 15 °C e 20 °C respectivamente (Pereira et al. apud LEMOS-FILHO et al., 1993). No presente estudo, embora os clones estivessem sujeitos às mesmas condições locais de radiação, precipitação, temperaturas e suprimento mineral, os índices relativos de crescimento diferiram significativamente entre os clones, tanto para o diâmetro do caule quanto para a altura da planta, indicando, ambos, menor desenvolvimento para PB 235 e maior para RRIM 600, evidenciando diferença na eficiência do uso dos recursos de produção disponíveis no local. Os valores de trocas gasosas, especialmente no período seco (Quadro 3) corroboram essas evidências. 3.4. Trocas gasosas Análises preliminares das curvas diárias das trocas gasosas mostraram que, de modo geral, os parâmetros fisiológicos acompanharam as flutuações das características ambientais, sendo possível agrupar os valores em dois períodos, denominados períodos úmidos e períodos secos (Figura 1). Os resultados são apresentados no quadro 3. Os valores médios das trocas gasosas diferiram entre os períodos seco e úmido, porém diferenças significativas entre os clones foram observadas somente no período seco, para os três caracteres mensurados. No período úmido, o valor médio da taxa fotossintética foi de 9,45 µmol.m-2.s-1, da taxa de transpiração, de 3,84 mmol.m-2.s-1, e da condutância estomática, de 0,096 mol.m-2.s-1. A taxa fotossintética ficou abaixo daquela citada por LARCHER (2000), que aponta valores máximos para seringueira, de 20 a 26 µmol.m-2.s-1, mas ficou dentro da faixa de variação encontrada por DEY et al. (1995), para plantas de 18 meses de idade, cultivadas na Índia, que verificaram valores entre 4,1 a 14,3 µmol.m-2.s-1. Os valores de transpiração também estão de acordo com outros relatados na literatura; CASCARADO et al. (1993) verificaram para plantas de 8 meses, em plena turgescência, valores máximos de 3,6 mmol.m-2.s-1, e GOMES e KOZLOWSKI (1988) obtiveram para plantas de 11 meses, valores máximos de 5,27 mmol.m-2.s-1 . Quanto à condutância estomática, os valores obtidos foram superiores aos observados por COUTINHO e CONFORTO (2001) em pés-francos de 10 meses de idade, também na cidade de São José do Rio Preto (em média, 0,070 mol m-2 s-1). Segundo Schulze e Hall apud MACHADO e LAGOA (1994), a luz, disponibilidade hídrica do solo e umidade relativa são os principais fatores ambientais que afetam o comportamento estomático. Durante o período seco, uma queda da taxa fotossintética, da transpiração e da condutância estomática foi verificada para todos os clones, em magnitudes diferentes. O aparato estomático da seringueira é relatado como bastante sensível (Resnick e Mendes apud MARTINS et al., 1993); BRUNINI e CARDOSO (1998) constataram fechamento estomático em clones de seringueira após sete dias de estresse hídrico em condições de casa de vegetação. Em campo, contudo, o déficit hídrico, em geral, desenvolve-se mais gradualmente (KRAMER, 1983), e no presente estudo, nos horários em que foram realizadas as mensurações, o fechamento estomático não foi verificado. KRISHNA et al. (1991) observaram, em plantas de dois anos de idade, em campo, sem irrigação adicional, que a taxa fotossintética média decresceu de 10 para 2 µmol.m-2.s-1; a transpiração decresceu de 9 para 0,5 mmol.m-2.s-1, e a resistência estomática aumentou de 1,41 para 6,94 cm-2.s-1; as modificações ocorreram com muito maior intensidade que no presente estudo, pois, no período seco, a redução da fotossíntese foi maior para RRIM 701 e PB 235 (em média, 44%) que para os demais (em média, 26%). O clone PB 235 sofreu também a maior redução na taxa de transpiração (em média, 51%) e maior restrição na abertura estomática (em média, 60%), revelando este clone o mais sensível ao período seco, corroborando os dados do quadro 2, que o apontaram como o de menor índice de crescimento relativo durante o período. Segundo KRISHNA et al. (1991), a transpiração cuticular da seringueira seria muito grande; por isso, apesar das reduções na condutância estomática, a redução da transpiração poderia ser menos intensa. Por sua vez, diferenças entre clones quanto ao decréscimo da taxa de transpiração pode estar relacionado não somente à freqüência estomática (esta relação é mais fortemente observada em plantas jovens), mas também com mudanças na resistência na interface raiz-solo, que sofre variação durante as épocas do ano (Clemens e Jones apud CONCEIÇÃO, 1983). Assim, embora a freqüência estomática tenha sido estatisticamente semelhante para GT 1, PB 235 e RRIM 600, não foi possível uma correlação desses valores com as taxas de transpiração e de condutância estomática. De acordo com Kozlowski apud CONCEIÇÃO et al. (1985), a velocidade no fechamento é mais importante ao escape à desidratação que às diferenças no tamanho e freqüência dos estômatos. A redução da transpiração foi bastante eficiente no período seco, para todos os clones. 4. CONCLUSÃO Durante o período avaliado, nas condições experimentais descritas, a análise do desenvolvimento vegetativo e das trocas gasosas durante o período seco indicou que o desempenho dos clones RRIM 600 e IAN 873 foi superior, e o de PB 235, inferior aos demais. AGRADECIMENTOS Ao Sr. José Donizette Buzatto, pela doação dos porta-enxertos e orientações técnicas de cultivo; ao Sr. Isabelino Fávaro, pelo cuidado na manutenção das plantas; à Bióloga Regiane Peres, pelo auxílio nos experimentos de campo; e ao Departamento de Física e Pólo Computacional da UNESP de São José do Rio Preto, pelo uso dos softwares. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRIDATA. Agricultura: seringueira. [Online]. Disponível em: http://www.agridata.mg.gov.br/sering.htm. [acesso em 11 nov. de 1999] [ Links ] BERGONCI, J.I. Estudos ecofisiológicos relacionados com o balanço de CO2 durante a ontogenia foliar em Hevea brasiliensis Müell. Arg. 1981. 53f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Viçosa. [ Links ] BERNARDES, M.S. Sistemas de explotação precoce de seringueira cultivar RRIM 600 no Planalto Ocidental do Estado de São Paulo. 1995. 182f. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba. 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Visando fornecer informações sobre a adaptação dos clones de seringueira [Hevea brasiliensis (Wildd. ex. Adr. de Juss) Müell. Arg.] RRIM 600, GT 1, RRIM 701, IAN 873 e PB 235, em São José do Rio Preto (SP), realizaram-se avaliações de alguns caracteres de sua biologia, pelo acompanhamento das trocas gasosas e mensuração do desenvolvimento vegetativo durante os primeiros 18 meses após o enxerto sobre Tjir 16. A altura de RRIM 600 atingiu, em média, 3,74 m e o diâmetro do caule de IAN 873 e RRIM 600, 2,50 cm. PB 235 apresentou o menor índice relativo de crescimento durante o período. No período úmido, os valores das trocas gasosas não diferiram significativamente entre os clones, com valores médios da taxa fotossintética de 9,45 µmol.m-2.s-1; para a taxa de transpiração, 3,84 mmol.m-2.s-1, e para a condutância estomática, de 0,096 mol.m-2.s-1. Diferenças entre os valores de trocas gasosas ocorreram apenas no período seco, com redução mais acentuada para PB 235. Considerando o conjunto dos caracteres analisados, o desempenho dos clones IAN 873 e RRIM 600 foi superior, e do clone PB 235, inferior. Palavras-chave: adaptação, trocas gasosas, Hevea brasiliensis, enxertia. ABSTRACT PERFORMANCE OF FIVE YOUNG CLONES OF RUBBER TREE IN THE SÃO PAULO OCCIDENTAL PLATEAU REGION The region of São Paulo Occidental Plateau is well known for its part as a major producer of natural rubber. In order to obtain information about adaptation of rubber tree clones [Hevea brasiliensis (Wildd. ex. Adr. de Juss) Müell. Arg.] RRIM 600, RRIM 701, IAN 873, PB 235 and GT 1, in the city of São José do Rio Preto some biologic characteristics were evaluated. Analysis were performed by monitoring gas exchanges and by measuring vegetative development, during the 18 months after engraft on the Tjir 16 clonal rootstocks. The height of RRIM 600 reached a mean of 3,74 m, and the diameter of the stem of IAN 873 and RRIM 600 reached the mean of 2,50 cm. Clone PB 235 presented the lowest relative growth during the period. During the wet period, the values of the gas exchange did not show significant variation among the clones; the mean value of photosynthetic rates was 9,45 µmol.m-2.s-1; of transpiration rates was 3,84 mmol.m-2 s-1, and of stomatic conductance was 0,096 mol.m-2 s-1. Differences in values of gas exchanges were observed only during the dry period, with notably large reduction for clone PB 235. The characteristics analyzed lead to the conclusion that performances of clones IAN 873 and RRIM 600 were superior, and that of clone PB 235 were inferior. Key words: adaptation, gas exchanges, Hevea brasiliensis, grafting. (1) Recebido para publicação em 25 de fevereiro e aceito em 22 de outubro de 2002. (2) Bolsista PIBIC-UNESP/CNPq. 3 ( ) Departamento de Zoologia e Botânica, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – UNESP, Rua Cristóvão Colombo, 2.265, 15054-000 São José do Rio Preto (SP). E-mail: [email protected] Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 237-245, 2002 J.R. CAVALCANTE e E.C. CONFORTO 238 1. INTRODUÇÃO A borracha natural, obtida a partir da seringueira [Hevea brasiliensis (Wildd. ex. Adr. de Juss) Müell. Arg.] corresponde à maior parte da matéria prima utilizada no transporte, indústria e material bélico. A borracha sintética, obtida do petróleo, possui quase que a mesma composição química da borracha natural e, embora suas propriedades físicas sejam viáveis para diversos usos, não apresentam qualidade suficiente para a confecção de luvas cirúrgicas, preservativos, pneus de automóveis, caminhões e certos revestimentos. No País, na área tradicional, atualmente a heveicultura estende-se pela Amazônia Tropical Úmida, Mato Grosso e Bahia; em regiões não tradicionais, a seringueira é cultivada nos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Maranhão, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e São Paulo (AGRIDATA, 1999). Em 1998, quase a totalidade da produção brasileira ocorreu nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, e no Estado da Bahia (IAC, 1999). Atualmente, o Estado de São Paulo, onde o material clonal foi introduzido em 1952, desponta como líder da produção nacional de borracha natural, com cerca de 45.000 hectares plantados com seringueira, abrangendo mais de 2.500 produtores (CORTEZ e BENESI, 2000). Embora a planta apresente excepcionais condições de rusticidade e de capacidade de adaptação a um grande número de padrões climáticos e edáficos, é uma planta de clima tropical que, quando levada para o litoral paulista, encontrou dificuldades de ordem fitossanitária, mas se adaptou muito bem à Região do Planalto Paulista, cujo clima e solo eram favoráveis para seu desenvolvimento e produção (CATI, 1999). Nessa região, destaca-se o pólo de produção em torno de São José do Rio Preto (Barretos, General Salgado, Catanduva, Tupã, Olímpia), em razão do clima seco no período de troca das folhas, junho a setembro (PINO et al., 1996). Os seringais paulistas apresentam produtividade média superior a 1.200 kg.ha-1 por ano, atingindo valores acima de 1.500 kg.ha-1 por ano, onde há maior conhecimento tecnológico. Esse índice, quando comparado com as médias dos tradicionais países produtores (Tailândia, com 1.100 kg.ha-1; Indonésia, com 750 kg.ha-1 e Malásia, com 1.000 kg.ha-1) colocam o Estado de São Paulo entre as regiões mais produtivas do mundo (IAC, 1999). Em 2001, o Estado atingiu uma produção total de 45.000 mil toneladas de borracha seca (BORRACHA ATUAL, 2002), com uma produção prevista para 53.000 toneladas em 2006 (CORTEZ e BENESI, 2000). Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 237-245, 2002 A sangria da seringueira evoluiu para uma combinação de alternativas que envolvem diversos mecanismos de incisão da casca, canaletas condutoras de látex, modos de estimulação e sistemas de coleta e armazenamento da borracha produzida, sendo a combinação de todos esses fatores definida como sistema de explotação (BERNARDES, 1995). As características genéticas das cultivares e condições ambientais, além dos fatores socioeconômicos como o preço da borracha e o custo, disponibilidade e qualificação da mão-de-obra, vão determinar qual o melhor sistema a ser adotado. Visando aumentar a produção nacional de látex, vários estudos devem ser realizados, a fim de se conhecer características que auxiliem na escolha de plantas de melhor desempenho, visto que alguns clones, mesmo sendo altamente produtivos em determinada região, podem não o ser em outros locais, já que os parâmetros de desenvolvimento estão sujeitos às condições ambientais (MORETI et al., 1994). Em Pindorama (SP), quando enxertados sobre IAN 873, os clones RRIM 600, RRIM 701, GT 1, PB 235 e IAN 873 apresentaram bom desenvolvimento vegetativo (GONÇALVES et al., 1994); em Olímpia (SP), três deles (RRIM 600, IAN 873 e PB 235) são cultivados comercialmente quando enxertados sobre Tjir 16. Devido a essas informações positivas sobre tais clones, objetivou-se conhecer as respostas fisiológicas e as do desenvolvimento dos cinco clones mencionados, quando enxertados sobre Tjir 16, nas condições climáticas de São José do Rio Preto (SP), distante, aproximadamente, 55 km de Olímpia e Pindorama, a fim de fornecer dados adicionais sobre a adaptação desses clones. Para isso, realizaram-se análises da anatomia foliar, acompanhamento do desenvolvimento vegetativo e monitoração das trocas gasosas durante os primeiros 18 meses de desenvolvimento após a enxertia. 2. MATERIAL E MÉTODOS O material vegetal utilizado constituiu-se de mudas do tipo toco de raiz nua, preparadas em janeiro de 1998, consistindo de porta-enxerto obtidos de sementes do clone Tjir 16 e dos enxertos dos clones RRIM 600, PB 235, IAN 873, RRIM 701 e GT 1 (fornecidos pelo Instituto Agronômico (IAC), em Campinas, por intermédio da Estação Experimental de Pindorama, atualmente, Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico de Agronegócios do Centro Norte). Esses enxertos fazem parte dos clones recomendados para produção em grande escala para a região de Planalto (GONÇALVES et al., 1991). Desempenho de clones de seringueira na Região do Planalto Ocidental Paulista Após aclimatação (permanência de 45 dias protegidas por sombrite 50%), as mudas foram transferidas para a Área Experimental do Departamento de Zoologia e Botânica da UNESPIBILCE, Campus de São José do Rio Preto (SP), e plantadas em solo classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo, com textura arenosa média, em fase de relevo suave ondulado, variação Lins Marília, segundo a classificação atual da EMBRAPA-CNPS apud PRADO (2000), tendo recebido os tratos culturais convencionais, relativos à adubação química e controle fitossanitário (CARDOSO, 1980). As plantas de cada clone foram dispostas em parcelas lineares, com 15 plantas úteis cada uma, espaçadas 1,0 m dentro da linha e 1,5 m na entrelinha. Em maio/98 e maio/99 foram realizadas mensurações dos parâmetros de crescimento relativos ao diâmetro do caule (tomado a 10 cm acima do calo de enxertia, com uso de paquímetro) e altura da parte aérea de todas as plantas em estudo. Para eliminar o efeito da desuniformidade inicial, adotouse o cálculo do incremento de altura e diâmetro em relação à medida anterior, definida como índice relativo de crescimento (IRC), conforme proposto por BERNARDES (1995). Os estudos de anatomia foliar e de trocas gasosas foram realizados com folhas expostas diretamente à radiação solar, do segundo lançamento expandido, sem sinais de predações ou doenças, totalmente expandidas e sem sinais de senescência, utilizandose sempre o folíolo médio (LLERAS e MEDRI, 1978). Para a determinação da freqüência estomática, seccionouse o folíolo foi em três partes iguais (região apical, mediana e basal), as quais foram colocadas em solução de Jeffrey para remoção da epiderme inferior, corada com safranina hidroalcoólica (JOHANSEN apud CONFORTO et al., 1997). Prepararam-se 15 lâminas de cada clone e examinaram-se 10 campos por lâmina, utilizando microscópio com câmara clara. O número observado por campo foi depois extrapolado para mm2 de área foliar. Nos meses de agosto a outubro de 1998 e de janeiro a junho de 1999, foi monitorado o curso das trocas gasosas, com uso do equipamento portátil por infravermelho (ADC, UK, modelo LCA-4), determinando-se as taxas fotossintética (A), de transpiração (E) e condutância estomática (gs). Assumindo-se que não há variação na resistência entre os folíolos laterais e medianos (Resnick e Mendes apud CONFORTO et al., 1998), o equipamento foi posicionando no folíolo mediano, na região de maior densidade estomática, evitando as nervuras e bordo foliar (B ERGONCI , 1981). Obtiveram-se as 239 medidas entre 8h e 10h30min, horário considerado por vários autores como o mais favorável para as trocas gasosas porque está próximo da recuperação noturna do estado hídrico foliar e há radiação fotossintética ativa suficiente (KANNO, 1993; ROJAS, 2002). Foi adotado um intervalo máximo de 60 minutos entre as medidas, com seis repetições por clone e duas mensurações dentro do horário estipulado. Os parâmetros climáticos do período de estudo (média das temperaturas máxima e mínima e precipitação total) foram fornecidos pelo Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes, da Secretaria da Agricultura e Abastecimento da Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto (SP). Os valores dos parâmetros de crescimento e das características anatômicas foram submetidos ao teste F (Microcal-Origin 4.0, 1995), e as comparações das médias, feitas pelo teste de Tukey (SAS, 1990), segundo GOMES (1987). Antes das análises, os valores de fotossíntese e de transpiração foram convertidos em x 0,5, e os valores de condutância estomática em log (x.100), segundo M EDICI et al. (2001), sendo apresentados nas tabelas em seus valores originais. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Parâmetros climáticos durante o período de experimento Os valores das temperaturas máxima e mínima e precipitação total no período de estudo são apresentados na Figura 1. A análise desses valores permite identificar dois períodos distintos quanto à disponibilidade de água, ou seja, meses com precipitação acima ou abaixo de 100 mm; essa diferença será utilizada para comparar os valores das trocas gasosas nos meses denominados ‘úmidos’ e ‘secos’ respectivamente. 3.2. Anatomia foliar Os valores médios da densidade estomática por mm2, bem como os do teste F e da comparação das médias, são mostrados no quadro 1. MARTINS et al. (1993) consideram que, embora a relação entre o número estomático e a eficiência do seu funcionamento não seja muito evidente, a manutenção do controle hídrico via número estomático é bastante significativo. Além disso, a análise da densidade estomática é necessária para posicionar corretamente a câmara foliar do analisador por infravermelho, uma vez que a área em contato com a folha é de apenas 6,25 cm 2; verificaram-se nessas plantas folíolos maduros com 78 cm2 de área (COUTINHO e CONFORTO, 1998). Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 237-245, 2002 J.R. CAVALCANTE e E.C. CONFORTO 240 3.3. Desenvolvimento vegetativo Em Hevea, o diâmetro do caule é o parâmetro mais importante, pois com base no grau de maturidade do plantio, decide-se o início da sangria (CHANDRASEKAR et al., 1998). No Brasil, adota-se o perímetro mínimo de 45 cm a 1,20 m acima do solo (BERNARDES et al., 1992, 1995). A idade em que se atinge tal perímetro varia de acordo com a região de cultivo, e entre cultivares. Em muitos clones, as plantas alcançam o valor ideal em idade inferior a sete anos (IAC apud Gonçalves et al., 1993); verificouse que na região de São José do Rio Preto (SP), PB 235 alcançou a média de 45 cm aos cinco anos e IAN 873, aos cinco anos e meio (GONÇALVES et al., 1993). Os valores obtidos para a altura da planta e diâmetro do caule são apresentados no quadro 2. Os valores para altura da planta refletem seu bom desenvolvimento, pois em plantas com dois anos de idade, nas condições de Manaus (AM), GONÇALVES e ROSSETTI (1982) relataram, para 14 clones, variação entre 2,93 m e 2,31 m. Na mesma combinação de enxertos e portaenxertos utilizada neste trabalho, em estudos desenvolvidos em Pindorama (SP) com plantas de um ano, GONÇALVES et al. (1994) verificaram alturas médias de 1,70 m para GT 1; 1,62 m para RRIM 701; 1,88 m para IAN 873; 1,96 m para PB 235 e 2,17 m para RRIM 600. Desse modo, a diferença relatada (Quadro 2) não poderia ser atribuída somente à diferença de idade de quatro meses. Nesses dois locais, o clone RRIM 600 destacou-se dentre os demais. Figura 1: Média das temperaturas máxima e mínima, e pluviosidade total no período entre agosto/1998 e junho/1999, em São José do Rio Preto (SP). Fonte: Secretaria da Agricultura e Abastecimento. Estudos ecofisiológicos com seringueira sugerem a utilização do folíolo mediano (MEDRI e LLERAS, 1983), na região com maior densidade estomática (CONFORTO et al., 1998). Assim, em quatro dos cinco clones, o melhor posicionamento do aparelho foi na região basal do folíolo médio, e somente para RRIM 701, na região mediana. A freqüência estomática do clone IAN 873 foi superior a dos demais, independentemente da região estudada. Diversos fatores, porém, atuam na determinação do número estomático, dentre eles, a ploidia (Medri e Lleras apud COUTINHO e CONFORTO, 2001); o local de cultivo, idade da folha e grau de exposição à radiação solar, além da altura em que se encontra a folha (Medri apud COUTINHO e CONFORTO, 2001). Quadro 1. Valores médios e desvio-padrão (entre parênteses) da densidade estomática em três regiões do folíolo médio de cinco clones de seringueira Parâmetro IAN 873 GT1 RRIM 701 mm Região apical Região mediana Região Basal F Pr > F PB 235 RRIM 600 F Pr > F 2 707,93 481,89 492,02 473,78 479,43 253,4- 0,0001 (61,22) Ab (48,90) B (21,23) Bc (42,51) B (46,43) Bab - - 649,20 504,97 568,52 465,41 468,83 337,08 0,0001* (45,22) Ab (38,58) C (15,56) Ba (42,63) C (42,22) Cb - - 789,01 490,21 499,22 474,12 489,64 554,54 0,0001* (48,01) Aa (39,06) C (37,65) Bb (38,95) C (31,93) Ca - - 33,46 2,75 13,05 1,17 4,07 - - 0,0001* 0,0668 ns 0,0001* 0,3113 ns 0,0185* - - Letras minúsculas referem-se à comparação dentro da coluna; letras maiúsculas, à comparação dentro da linha, pelo teste Tukey. ns: Não significativo. * Significativo a 5% de probabilidade. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 237-245, 2002 Desempenho de clones de seringueira na Região do Planalto Ocidental Paulista 241 Quadro 2. Valores médios e desvio-padrão (entre parêntesis) para altura da planta (AP) e diâmetro do caule (DC) aos 16 meses de idade (05/99), e índice relativo de crescimento (IRC) entre as idades de 4 e 16 meses, para cinco clones de seringueira Clone IAN 873 GT 1 RRIM 701 PB 235 RRIM 600 F Pr > F AP (m) DC (cm) 05/99 IRC 282,86 ( 6,52) b 280,57 (32,19) b 243,57 (35,92) c 241,86 (38,20) c 374,29 (46,01) a 13,78 0,0001* 7,37 (0,98) ab 8,49 (1,61) a 7,40 (1,53) ab 5,94 (1,56) b 9,16 (2,58) a 4,53 0,006 * 05/99 2,50 (0,17) a 1,74 (0,13) b 1,68 (0,18) b 2,28 (0,16) a 2,55 (0,38) a 24,15 0,0001* IRC 3,10 (0,37) ab 2,36 (0,49) abc 2,18 (0,23) bc 1,67 (0,89) c 3,76 (0,73) a 6,53 0,001 * * médias estatisticamente diferentes (com 5% de probabilidade) são seguidas por letras diferentes. Com relação ao diâmetro do caule, GT 1 e RRIM 701 apresentaram menor valor que os demais, mas os valores deste estudo foram superiores aos verificados por GONÇALVES et al. (1994) em Pindorama (1,35 para GT 1; 1,41 para RRIM 701; 1,36 para IAN 873; 1,42 para PB 235 e 1,46 para RRIM 600). Comparando o desenvolvimento dos mesmos clones do presente estudo, quando cultivados em Tabapuã (SP), observou-se valores próximos de incremento anual de circunferência do tronco para PB 235, GT 1 e IAN 873, mas naquele local, houve maior incremento para RRIM 701, e menor para RRIM 600 (GONÇALVES et al., 1993); nessas condições, RRIM 600 atingiu o perímetro necessário para entrada em sangria somente aos sete anos, e RRIM 701, aos seis anos. LAVORENTI et al. (1990) concluíram, para plantas com três anos e meio, que o perímetro do caule foi o caracter que mais influenciou a produção. Tanto a altura da planta quanto o diâmetro do caule são componentes associados à produtividade, embora a magnitude de sua importância tenha se manifestado diferentemente entre alguns estudos realizados. Assim, G ONÇALVES e R OSSETTI (1982) observaram em plantas de dois anos de idade, pela realização de miniteste de produção, que, embora a altura tenha variado entre 2,93 m e 2,31 m, a produção oscilou de 49,46 mg a 4,53 mg de borracha seca/corte, concluindo ser impossível correlacionar os dois caracteres. GONÇALVES et al. (1984) verificaram alta correlação fenotípica e genética entre produção e altura da planta, e produção e diâmetro do caule, evidenciando a possibilidade de se obter clones jovens (dois anos) de boa capacidade produtiva e grande vigor. Desse modo, no melhoramento genético, a característica do entrenó curto deve ser incluída, pois deixaria de ser utilizada grande quantidade de fotoassimilados para a formação de galhos e ramos muito longos, os quais não contribuem para a produção e representam apenas tecido de consumo (MORAES, 1980). Em estudos com plantas de um ano de idade, o efeito direto baixo da altura sobre a produção, confirmou que a seleção para plantas mais baixas deve ser considerada (VASCONCELLOS e ABREU, 1983). LEMOS-FILHO et al. (1993), trabalhando com clones de seringueira em Piracicaba (SP), observaram que as temperaturas podem causar restrições ao crescimento da planta em algumas épocas do ano; esses autores verificaram que temperaturas próximas a 16 °C, para os clones RRIM 600 e GT 1, seriam necessárias para manter a iniciação dos fluxos sucessivos de folhas, enquanto o crescimento em altura, de temperaturas maiores, sendo a de 19 °C considerada crítica para a expansão celular. Esses valores também variaram conforme o local de estudo; em Lavras (MG), as temperaturas críticas foram de 15 °C e 20 °C respectivamente (Pereira et al. apud LEMOS-FILHO et al., 1993). No presente estudo, embora os clones estivessem sujeitos às mesmas condições locais de radiação, precipitação, temperaturas e suprimento mineral, os índices relativos de crescimento diferiram significativamente entre os clones, tanto para o diâmetro do caule quanto para a altura da planta, indicando, ambos, menor desenvolvimento para PB 235 e maior para RRIM 600, evidenciando diferença na eficiência do uso dos recursos de produção disponíveis no local. Os valores de trocas gasosas, especialmente no período seco (Quadro 3) corroboram essas evidências. 3.4. Trocas gasosas Análises preliminares das curvas diárias das trocas gasosas mostraram que, de modo geral, os parâmetros fisiológicos acompanharam as flutuações das características ambientais, sendo possível Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 237-245, 2002 J.R. CAVALCANTE e E.C. CONFORTO 242 -2 -1 Quadro 3. Média e desvio-padrão (entre parêntesis) e valores de F para as trocas gasosas (taxa fotossintética, A, em µmol m s ; -2 -1 -2 -1 taxa de transpiração, E, em mmol m s ; condutância estomática, gs, em mol m s ) para cinco clones de seringueira, em duas épocas do ano Clone Períodos Úmidos Períodos Secos A E gs A E gs 9,17 (1,40) 3,46 (1,32) 0,08 (0,01) 6,82 (0,93)a 2,29 (0,40)ab 0,06 (0,01)ab GT 1 9,14 (1,70) 3,82 (0,96) 0,10 (0,02) 6,15 (0,95)a 2,15 (0,43)b 0,06 (0,01)a RRIM 701 9,53 (1,47) 4,18 (1,00) 0,10 (0,01) 5,66 (0,64)ab 2,34 (0,25)ab 0,06 (0,01)a PB 235 9,51 (1,20) 4,02 (1,06) 0,10 (0,01) 4,99 (0,48)b 1,97 (0,56)b 0,04 (0,01)b IAN 873 RRIM 600 9,91 (2,13) 3,72 (1,03) 0,10 (0,02) 6,86 (1,31)a 2,99 (0,43)a 0,05 (0,01)ab F 0,287 0,495 1,141 4,941 3,77 3,82 Pr > F 0,883 ns 0,739 ns 0,356 ns 0,004 * 0,019 * 0,013 * * médias estatisticamente diferentes (com 5% de probabilidade) são seguidas por letras diferentes. agrupar os valores em dois períodos, denominados períodos úmidos e períodos secos (Figura 1). Os resultados são apresentados no quadro 3. Os valores médios das trocas gasosas diferiram entre os períodos seco e úmido, porém diferenças significativas entre os clones foram observadas somente no período seco, para os três caracteres mensurados. No período úmido, o valor médio da taxa fotossintética foi de 9,45 µmol.m-2.s-1, da taxa de transpiração, de 3,84 mmol.m-2.s-1, e da condutância estomática, de 0,096 mol.m-2.s-1. A taxa fotossintética ficou abaixo daquela citada por LARCHER (2000), que aponta valores máximos para seringueira, de 20 a 26 µmol.m-2.s–1, mas ficou dentro da faixa de variação encontrada por DEY et al. (1995), para plantas de 18 meses de idade, cultivadas na Índia, que verificaram valores entre 4,1 a 14,3 µmol.m-2.s-1. Os valores de transpiração também estão de acordo com outros relatados na literatura; C ASCARDO et al. (1993) verificaram para plantas de 8 meses, em plena turgescência, valores máximos de 3,6 mmol.m-2.s-1, e GOMES e KOZLOWSKI (1988) obtiveram para plantas de 11 meses, valores máximos de 5,27 mmol.m-2.s-1 . Quanto à condutância estomática, os valores obtidos foram superiores aos observados por COUTINHO e CONFORTO (2001) em pés-francos de 10 meses de idade, também na cidade de São José do Rio Preto (em média, 0,070 mol m-2 s-1). Segundo Schulze e Hall apud MACHADO e LAGOA (1994), a luz, disponibilidade hídrica do solo e umidade relativa são os principais fatores ambientais que afetam o comportamento estomático. Durante o período seco, uma queda da taxa fotossintética, da transpiração e da condutância estomática foi verificada para todos os clones, em Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 237-245, 2002 magnitudes diferentes. O aparato estomático da seringueira é relatado como bastante sensível (Resnick e Mendes apud MARTINS et al., 1993); BRUNINI e CARDOSO (1998) constataram fechamento estomático em clones de seringueira após sete dias de estresse hídrico em condições de casa de vegetação. Em campo, contudo, o déficit hídrico, em geral, desenvolve-se mais gradualmente (KRAMER, 1983), e no presente estudo, nos horários em que foram realizadas as mensurações, o fechamento estomático não foi verificado. KRISHNA et al. (1991) observaram, em plantas de dois anos de idade, em campo, sem irrigação adicional, que a taxa fotossintética média decresceu de 10 para 2 µmol.m-2.s-1; a transpiração decresceu de 9 para 0,5 mmol.m-2.s-1, e a resistência estomática aumentou de 1,41 para 6,94 cm-2.s-1; as modificações ocorreram com muito maior intensidade que no presente estudo, pois, no período seco, a redução da fotossíntese foi maior para RRIM 701 e PB 235 (em média, 44%) que para os demais (em média, 26%). O clone PB 235 sofreu também a maior redução na taxa de transpiração (em média, 51%) e maior restrição na abertura estomática (em média, 60%), revelando este clone o mais sensível ao período seco, corroborando os dados do quadro 2, que o apontaram como o de menor índice de crescimento relativo durante o período. Segundo KRISHNA et al. (1991), a transpiração cuticular da seringueira seria muito grande; por isso, apesar das reduções na condutância estomática, a redução da transpiração poderia ser menos intensa. Por sua vez, diferenças entre clones quanto ao decréscimo da taxa de transpiração pode estar relacionado não somente à freqüência estomática (esta relação é mais fortemente observada em plantas Desempenho de clones de seringueira na Região do Planalto Ocidental Paulista jovens), mas também com mudanças na resistência na interface raiz-solo, que sofre variação durante as épocas do ano (Clemens e Jones apud CONCEIÇÃO, 1983). Assim, embora a freqüência estomática tenha sido estatisticamente semelhante para GT 1, PB 235 e RRIM 600, não foi possível uma correlação desses valores com as taxas de transpiração e de condutância estomática. De acordo com Kozlowski apud CONCEIÇÃO et al. (1985), a velocidade no fechamento é mais importante ao escape à desidratação que às diferenças no tamanho e freqüência dos estômatos. A redução da transpiração foi bastante eficiente no período seco, para todos os clones. 4. CONCLUSÃO Durante o período avaliado, nas condições experimentais descritas, a análise do desenvolvimento vegetativo e das trocas gasosas durante o período seco indicou que o desempenho dos clones RRIM 600 e IAN 873 foi superior, e o de PB 235, inferior aos demais. AGRADECIMENTOS Ao Sr. José Donizette Buzatto, pela doação dos porta-enxertos e orientações técnicas de cultivo; ao Sr. Isabelino Fávaro, pelo cuidado na manutenção das plantas; à Bióloga Regiane Peres, pelo auxílio nos experimentos de campo; e ao Departamento de Física e Pólo Computacional da UNESP de São José do Rio Preto, pelo uso dos softwares. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRIDATA. Agricultura: seringueira. [Online]. Disponível em: http://www.agridata.mg.gov.br/sering.htm. [acesso em 11 nov. de 1999] BERGONCI, J.I. Estudos ecofisiológicos relacionados com o balanço de CO2 durante a ontogenia foliar em Hevea brasiliensis Müell. Arg. 1981. 53f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Viçosa. BERNARDES, M.S. Sistemas de explotação precoce de seringueira cultivar RRIM 600 no Planalto Ocidental do Estado de São Paulo. 1995. 182f. Tese (Doutorado) Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba. 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E-mail: [email protected] IICom bolsa de produtividade científica do CNPq RESUMO Com o objetivo de estudar a influência da interação N x K na cultura do alho (Allium sativum L.) vernalizado, instalaram-se dois experimentos em casa de vegetação telada, em vasos retangulares de cimento-amianto contendo 50 kg de terra da camada arável em Latossolo Vermelho-Escuro Álico, textura média. Ambos os experimentos constituíram fatorial 4 x 4. Em 1993, estudaram-se quatro níveis de potássio no plantio (original, 4%, 8% e 16% da CTC) e quatro níveis de nitrogênio em cobertura (40, 80, 160 e 320 kg.ha-1) aplicados em duas parcelas, metade aos 30 dias e metade aos 50 dias após a emergência (DAE). O experimento de 1994 compreendeu quatro níveis de potássio e os mesmos quatro níveis de nitrogênio, ambos aplicados parcelados em cobertura, mantendo-se constante o nível de potássio aplicado no plantio. Aos 70 DAE coletaram-se duas plantas de cada vaso para diagnose foliar. Os resultados indicaram redução na concentração foliar de nitrogênio pela adubação potássica, tanto no plantio quanto na cobertura, havendo, entretanto, aumento nos teores de potássio com a concentração de nitrogênio no tecido; aumento na concentração de clorofila com os níveis de potássio no tecido foliar, em virtude de variações nas doses de fertilizante potássico aplicado no plantio e com as doses de nitrogênio em cobertura; favorecimento das elevações nas doses da adubação nitrogenada em cobertura na incidência de pseudoperfilhamento na cultura, que não foi influenciada pela adubação potássica no plantio ou em cobertura; aumento na produção de bulbos com adubação nitrogenada em cobertura. Palavras-chave: Allium sativum L., alho vernalizado, pseudoperfilhamento, adubação potássica, adubação nitrogenada. ABSTRACT Two experiments were carried out under greenhouse conditions, with the objective of studying the influence of N x K interaction on vernalizated garlic (Allium sativum L.) grown in 50 kg pots. Both experiments were in factorial 4 x 4: (a) one in 1993 with four potassium levels in the sowing (original, 4%, 8% and 16% of CEC) and four levels of nitrogen in covering (40, 80, 160 and 320 kg.ha-1) applied half at 30 and the remaining at 50 days after seed emergency (DAE); (b) the other in 1994, with four potassium levels and four nitrogen levels, both splitted and applied in covering. At 70 DAE two plants per pot were collected for nutritional diagnosis. The results indicated that the leaf concentration of nitrogen was slightly reduced by K fertilization applied in the sowing or in covering. However, there were increases in the potassium concentration with the nitrogen concentration in the leaves; the chlorophyll concentration increased with the potassium levels in the leaves, because of variations in K fertilizer rates applied in the sowing, and with the nitrogen rates in covering; increases in N fertilizer rates in covering enhanced the pseudogrowing incidence in the culture, that was not affected by K fertilization in the sowing or in covering; the bulb yield was slightly increased by nitrogen fertilization in covering. Key words: Allium sativum L.; vernalizated garlic; pseudogrowing; potassic fertilization; nitrogen fertilization. 1. INTRODUÇÃO O pseudoperfilhamento, também denominado superbrotamento, constitui, sem dúvida, um dos maiores problemas na cultura do alho, principalmente nas cultivares que produzem o chamado "alho nobre". De acordo com SOUZA e CASALI (1986) e resultados relatados nas revisões de literatura realizadas por NAKAGAWA (1993) e SILVA (1991), a elevada absorção de nitrogênio é um dos fatores que contribuem de forma marcante para a ocorrência do pseudoperfilhamento. Por outro lado, as maiores produções de alho são obtidas com plantas mais vigorosas e bem supridas em nitrogênio. Da análise desse paradoxo pode-se inferir que a dose de nitrogênio utilizada deve ser tão elevada quanto possível para se obter o máximo de produtividade, sem, contudo, favorecer o aparecimento do pseudoperfilhamento. Uma das formas de reduzir o pseudoperfilhamento em plantas cultivadas em solos bem supridos em nitrogênio é o controle do excesso na absorção desse nutriente, por meio de adubação potássica (NAKAGAWA, 1993). Entretanto, KONKEL et al. (1991) e BÜLL et al. (1994) não observaram efeitos de aplicações de potássio, por ocasião do plantio, na incidência do pseudoperfilhamento na cultura do alho, o mesmo ocorrendo na época da adubação potássica em cobertura. Saliente-se que esses trabalhos foram realizados com tratamentos desvinculados de variações em doses de nitrogênio. Com relação à adubação nitrogenada, os resultados são mais discrepantes. SENO et al. (1990) e SILVA (1991) não observaram qualquer efeito de aplicação de nitrogênio em cobertura sobre o pseudoperfilhamento no alho, na cultivar Roxo Pérola de Caçador; aumentos consideráveis na incidência dessa anomalia, em virtude da elevação nas doses da adubação nitrogenada em cobertura, foram observados por ALVARENGA e SANTOS (1982), MORAES e LEAL (1986), IZIOKA (1990) e RESENDE e SOUZA (2001). Pretendeu-se com este trabalho estudar a influência de relações N x K na incidência do pseudoperfilhamento e na produção de bulbos na cultura do alho vernalizado. 2. MATERIAL E MÉTODOS O estudo consistiu na instalação de dois experimentos em casa de vegetação telada do Departamento de Recursos Naturais da Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu UNESP, um em 1993 e outro em 1994. Utilizaram-se vasos de cimento-amianto, com superfície de 48 x 30 cm, contendo 50 kg de terra da camada superficial (até 25cm) de Latossolo Vermelho-Escuro - textura média; simularam-se, o máximo possível, as condições normais dos canteiros de cultivo. As análises químicas iniciais (RAIJ e QUAGGIO, 1983) das amostras de terra utilizadas nos experimentos de 1993 e 1994, respectivamente, são: pH (CaCl2): 4,1 e 4,0; MO: 26 e 23 g.dm-3; P: 2 e 1mg.dm-3; cátions trocáveis e CTC em mmolc.dm-3, a saber: K: 0,7 e 0,5; Ca: 2,0 e 3,0; Mg: 3,0 e 1,8; CTC: 63 e 58, e saturação por bases (V): 8% e 9%. Os tratamentos do experimento de 1993 constituíram um fatorial com quatro níveis de potássio no plantio e quatro níveis de nitrogênio, aplicado em cobertura, os quais foram dispostos em delineamento inteiramente casualizado, com três repetições. O cálculo de níveis de potássio esperados foram: original (1%); 4%; 8% e 16% da capacidade de troca de cátions (CTC) saturada com potássio, níveis que, de acordo com dados obtidos por BÜLL et al. (1998), podem ser considerados insuficiente, adequado, adequado e excessivo respectivamente. Utilizou-se o cloreto de potássio comercial (60% de K2O), nas quantidades de zero; 7,1; 16,9 e 37,0 gramas adicionadas aos vasos contendo 50 kg de terra, o que equivale a 0, 196, 467 e 1.025 kg.ha-1 respectivamente; essas quantidades foram aplicadas na forma sólida, juntamente com a adubação de plantio. Os níveis de nitrogênio calculados equivaleram a 40, 80, 160 e 320 kg.ha-1 de N, aplicados em duas parcelas: metade aos 30 dias e metade aos 50 dias após a emergência (DAE), utilizando-se uréia nas quantidades totais por tratamento de: 1,9; 3,8; 7,6 e 15,3 gramas por vaso respectivamente. A aplicação foi feita na forma de solução aquosa. Os tratamentos do experimento de 1994 constituíram fatorial compreendendo quatro níveis de potássio e quatro de nitrogênio, ambos aplicados, parceladamente, em cobertura. As doses de nitrogênio foram as mesmas do ensaio de 1993. As doses de potássio em cobertura equivaleram àquelas aplicadas no plantio do experimento de 1993. Além da cobertura, aplicouse o potássio também no plantio em dose correspondente à metade do nível considerado mais adequado (8%) por BÜLL et al. (1998), ou seja, 8,45g de cloreto de potássio comercial em cada vaso contendo 50 kg de terra. Os tratamentos foram dispostos em delineamento inteiramente casualizado, com três repetições. Para ambos os experimentos, aplicaram-se 250 mg.kg-1 de fósforo em toda a massa de solo antes de sua adição aos vasos. O fósforo foi aplicado na forma de termofosfato, com 18% de P2O5 (160 g por vaso), isto é, 1.325 kg.ha-1 de P2O5. O termofosfato foi aplicado a fim de fornecer fósforo, cálcio, magnésio e micronutrientes, além de corrigir a acidez excessiva. Adotou-se esse procedimento para evitar a retirada de todo o solo contido no vaso por ocasião da adubação de plantio, caso realizasse a calagem antecipada. Além do termofosfato, aplicaram-se 1,0 kg por vaso de esterco de curral curtido (40 t.ha-1) e o potássio. Em seguida, os solos foram incubados por um período de 10 dias, mantendo-se a umidade a 70% da capacidade máxima de retenção de água. Os vasos foram cobertos com material impermeável para evitar perdas de água por evaporação. Passado o período de incubação, efetuou-se o plantio do alho cv. Roxo Pérola de Caçador, utilizando-se, em cada vaso, 10 bulbilhos vernalizados a 4 oC durante 45 dias, com massa individual entre 2 e 3 gramas. Os vasos foram dispostos em duas linhas com espaçamento de 10 cm entre plantas, na linha, e 15 cm entre as linhas. Realizou-se o plantio do primeiro experimento em 12/5/93, e o segundo em 27/5/94. No pré-plantio do primeiro experimento, coletaram-se amostras de solo de cada tratamento, com 10 dias de incubação. As amostras de solos foram analisadas segundo o método de RAIJ e QUAGGIO (1983), cujos teores de potássio determinados foram: 2,6; 4,2; 6,3 e 8,3 mmolc.dm3 de K, respectivos aos quatro níveis anteriormente mencionados. Os demais índices analíticos não apresentaram variação expressiva entre os tratamentos, e os valores médios atingidos foram: pH (CaCl2) 5,4; 31 g.dm-3 de MO; 86 mg.dm-3 de P; 26 mmolc.dm-3 de Ca; 21 mmolc.dm-3 de Mg e 62% de saturação por bases. Coletaram-se amostras de folhas de duas plantas por vaso para análise química, de acordo com BATAGLIA et al. (1983), aos 70 DAE para o primeiro experimento e aos 90 DAE para o segundo. Durante o ciclo da cultura, para ambos os experimentos, avaliou-se o desenvolvimento das plantas, medindo o comprimento da maior folha e o teor de clorofila. Os dados das leituras do clorofilômetro MINOLTA SPAD foram transformados pela fórmula: y = 0,0996x - 0,152, em que: y = teor de clorofila na folha, mg.dm-2 e x = leitura do aparelho. Determinou-se o índice de formato transversal por meio da relação entre as medidas da altura e do maior diâmetro do bulbo. Por ocasião da colheita avaliou-se o total de plantas com pseudoperfilhamento. A produção de bulbos foi avaliada após um período de "cura" de 30 dias. Todos os dados foram analisados estatisticamente, sendo submetidos à análise da variância. As doses de potássio e de nitrogênio foram submetidas à análise de regressão. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Variação nas doses de K no plantio e N em cobertura - experimento de 1993 No quadro 1 são apresentados os teores de N, P e K encontrados nas folhas das plantas coletadas aos 70 dias após a emergência, que corresponde, aproximadamente, ao período da diferenciação em bulbilhos. A análise da variância não evidenciou interação entre os tratamentos, mostrando efeito linear apenas para nitrogênio (r2 = 0,70), fósforo (r2 = 0,97) e potássio (r2 = 0,88), em doses de potássio, e para nitrogênio e potássio em doses de nitrogênio, tendo também efeito quadrático para nitrogênio em doses de nitrogênio (r2 = 0,99). Os teores médios de nitrogênio aumentaram de acordo com as doses de fertilizante nitrogenado aplicado. Em plantas de tomate, de acordo com BARKER et al. (1967), houve redução nos níveis de nitrogênio com o aumento da concentração de potássio no tecido foliar. À medida que não apresenta interação, estudos mais aprofundados tornam-se necessários para que se previna a incidência de pseudoperfilhamento, por um possível controle exercido pelo potássio sobre a excessiva absorção de nitrogênio. Por sua vez, SOARES et al. (1984) não encontraram qualquer efeito de aplicação de doses crescentes de potássio sobre a absorção de nitrogênio, por plantas de tomate. À exceção do fósforo, que apresentou redução na concentração no tecido foliar com o aumento da dose de potássio aplicada, não foram observados, para os demais macronutrientes, efeitos dos tratamentos. Não foram confirmados, portanto, os efeitos de inibição competitiva do potássio sobre a absorção de cálcio e magnésio nessa cultura (BÜLL et al., 1994; 1998). No presente experimento, o cálcio e o magnésio foram fornecidos pelo termofosfato, ao passo que, nos ensaios desenvolvidos pelos autores citados, o fornecimento se fez pela aplicação de carbonatos. Os teores médios encontrados na matéria seca da parte aérea foram de 4,8 g.kg 1 de Ca, 4,0 g.kg -1 de Mg e 9,8 g.kg -1 de S. Os teores de clorofila das folhas (Quadro 1), avaliados aos 45 DAE, portanto após a primeira adubação nitrogenada em cobertura, sofreram influência apenas dos níveis de potássio, observando-se tendência de aumento na concentração de clorofila com a elevação da dose de fertilizante potássico aplicado. Observou-se efeito quadrático (r2 = 0,99) entre as variáveis. As variações nas doses de nitrogênio aplicadas, a despeito das funções desse nutriente como componente do grupo pirrólico na molécula da clorofila, não promoveram aumentos na síntese desse composto. RESENDE (1994) sugeriu o período de 6 a 9 dias como intervalo para se obter o máximo de aumento do teor de clorofila, devido à aplicação do nitrogênio, tendo como parâmetros de avaliação os mesmos pressupostos neste trabalho. Entretanto, não se verificou efeito significativo entre essas variáveis, pela análise de regressão. Na avaliação do comprimento da maior folha (Quadro 1), 38 dias após a aplicação da segunda adubação em cobertura com nitrogênio, verificaram-se efeitos apenas das variações nas doses de potássio, ressaltando-se que a dose mais elevada de potássio proporcionou redução no crescimento, em relação ao nível original desse nutriente no solo. Tais resultados concordam com os obtidos por Büll et al. (1994), embora não se constatassem, no presente trabalho, efeitos de inibição competitiva do potássio. A ausência de efeitos do nitrogênio sobre o desenvolvimento das plantas pode ser atribuída ao fornecimento desse nutriente, pela adubação orgânica, bem como ao considerável teor original de matéria orgânica do solo. As variações nas doses de potássio aplicadas no plantio, bem como nas doses de nitrogênio em cobertura, não influenciaram a incidência de pseudoperfilhamento. A média geral do experimento, indica, para esse parâmetro, 36% a incidência dessa anomalia, índice elevado ao se considerar a média de 5% a 10% como aceitável para culturas de boa produtividade (NAKAGAWA, 1993). Esse alto índice ocorreu provavelmente em razão do elevado suprimento de N fornecido pelas doses de N e da mineralização da matéria orgânica. A adubação orgânica utilizada, equivalente a 40 t.ha-1, correspondeu à recomendação para essa cultura no Estado de São Paulo (LISBÃO e FORNASIER, 1992). Há que se salientar o elevado valor do coeficiente de variação (62%) obtido para esse parâmetro, dificultando uma análise conclusiva. Com relação ao potássio aplicado no plantio, KONKEL et al. (1991) e BÜLL et al. (1998) obtiveram resultados semelhantes. A ausência de efeitos de nitrogênio aplicado em cobertura para este parâmetro também foi observada com a mesma cultivar por SENO et al. (1990), os quais aplicaram doses em cobertura que variaram de 33 a 262 kg.ha-1 de N e, por SILVA (1991), com a aplicação de 20 a 100 kg.ha-1 de N. Em contrapartida, ALVARENGA e SANTOS (1982) observaram elevação no pseudoperfilhamento em plantas de alho da cultivar Juréia com aplicação de 100 kg.ha-1 de N na forma de salitre do Chile, sendo metade dessa dose em cobertura. MORAES e LEAL (1986), estudando níveis (0 a 150 kg.ha-1) e parcelamento de nitrogênio na cv. São Lourenço, verificaram aumento na incidência dessa anomalia: quanto maior a dose, mais tardia a aplicação do fertilizante nitrogenado. Elevação no pseudoperfilhamento em função de elevação nas doses de N, em cobertura, com a cultivar Roxo Pérola de Caçador foi observado por IZIOKA (1990), em Terra Roxa Estruturada, principalmente quando associada à aplicação de torta de mamona no plantio. Com a cultivar Quitéria, RESENDE e SOUZA (2001) observaram que a porcentagem de bulbos pseudoperfilhados aumentou linearmente com o incremento das doses de nitrogênio (0 a 160 kg.ha-1). O índice de formato não foi influenciado pelos tratamentos. O valor médio obtido no experimento, igual a 0,86, indica bulbos com formato achatado, portanto de bom valor comercial. As médias de produção de bulbos (Quadro 1), à semelhança do ocorrido com o índice de formato e o pseudoperfilhamento, também não revelam influência dos tratamentos, contrariando dados anteriores obtidos por BÜLL et al. (1994; 1998), os quais demonstraram elevação na produção de bulbos com o aumento na dose de potássio aplicada no plantio. Vale ressaltar que no presente trabalho houve aplicação de matéria orgânica por ocasião do plantio, possibilitando, provavelmente, adequado suprimento de potássio, mesmo nas menores doses de fertilizante potássico aplicadas, o que não foi feito nos experimentos realizados por esses autores. Ausência de respostas a nitrogênio, aplicado em cobertura, sobre a produção de bulbos nessa cultura também foi observada em outros trabalhos, como os de SENO et al. (1990) e NAKAGAWA et al. (1990) com a cultivar Quitéria, com doses de 20 e 40 kg.ha-1 de N, e NAKAGAWA et al. (1991) com a cultivar deste trabalho, aplicando 15 e 30 kg.ha-1 de N. Por outro lado, outros trabalhos mostram expressivas respostas à aplicação de nitrogênio sobre a cultura, como os realizados por MENEZES-SOBRINHO et al. (1973) com as cultivares Amarante, Branco Mineiro e Barbado Rio Grande, com aplicações de 100 e 200 kg.ha-1 de N no plantio; FERRARI e CHURATAMASCA (1975) com a cultivar Amarante com doses de 25 a 75 kg.ha-1 de N no plantio; ALVARENGA e SANTOS (1982) com as cultivares Juréia e Dourado com doses de 50 e 100 kg.ha-1 de N no plantio, e NAKAGAWA et al. (1990) com a mesma cultivar deste trabalho e doses de 15 e 30 kg.ha-1 de N, em cobertura, aplicadas aos sete dias após a diferenciação em bulbilhos. A não-resposta à adubação nitrogenada em cobertura, obtida neste trabalho, deve estar associada ao teor original elevado de matéria orgânica no solo, aliado à aplicação da adubação orgânica, prática rotineira dos produtores de alho. Confirmando essas considerações, IZIOKA (1990) obteve aumento na produção de bulbos em decorrência de adubação nitrogenada em cobertura, apenas em areia quartzosa com baixo teor de matéria orgânica (1,2%), ao passo que em terra roxa estruturada, com 2,7% de matéria orgânica, a produção de bulbos não foi afetada pela aplicação de torta de mamona no plantio, nem pela adubação nitrogenada em cobertura. RESENDE e SOUZA (2001) obtiveram aumento da produtividade total até a dose de 149,2 kg.ha-1 de N; houve redução linear na produtividade comercial com o incremento da dose de nitrogênio. A ausência de resposta, segundo os autores, deve-se, provavelmente, além da alta incidência de pseudoperfilhamento promovida pelo incremento das doses de nitrogênio, ao teor de matéria orgânica do solo, considerado alto. 3.2. Variação nas doses de N e K em cobertura - experimento de 1994 Os teores de N, K e S no tecido foliar das plantas coletadas aos 90 DAE, portanto após as adubações nitrogenadas e potássicas em cobertura, encontram-se relacionados no quadro 2. A concentração de nitrogênio aumentou com as doses desse nutriente, mostrando efeito quadrático, não sendo, porém, influenciada pelas aplicações de potássio, podendo-se inferir a ineficiência do controle da absorção de nitrogênio por aplicações tardias de potássio, em cobertura, ou seja, na época da diferenciação em bulbilhos (70 DAE). A concentração de potássio no tecido foliar não foi afetada pela adubação potássica, mas aumentou significativamente com a adubação nitrogenada, mostrando efeito quadrático, confirmado pela análise de regressão significativa (r2 = 0,94). A análise também revela interação significativa N x K. O resultado contrasta com dados de ADAMS et al. (1973), que observaram redução na absorção de potássio com aplicações de nitrogênio na cultura do tomateiro. Entretanto, SOARES et al. (1984) não verificaram efeito do nitrogênio sobre a absorção do potássio pelo tomateiro. De acordo com USHERWOOD (1982) e FAGERIA (1982), quando a disponibilidade de potássio era adequada, adições de nitrogênio aumentavam consideravelmente a absorção do potássio, por plantas de milho e arroz, em razão do estímulo das adubações nitrogenadas no crescimento vegetativo. O mesmo fato deve ter ocorrido no presente trabalho, confrontando-se dados de concentração de nitrogênio e potássio na planta com os de produção de bulbos. As concentrações de fósforo, cálcio, magnésio e enxofre na planta não foram afetadas pelos tratamentos. Os teores médios encontrados na matéria seca da parte aérea foram de 1,8 g.kg 1 de P; 3,6 g.kg -1 de Ca; 3,8 g.kg -1 de Mg e 5,8 g.kg -1 de S. A figura 1 mostra que os teores de clorofila nas folhas foram influenciados pelos tratamentos com nitrogênio apenas a partir dos 75 DAE, portanto 45 e 25 dias após, respectivamente, a primeira e a segunda adubação em cobertura. O resultado indica, a exemplo do ocorrido no experimento de 1993, para essa cultura, intervalo consideravelmente maior que o sugerido por RESENDE (1994), para se obter o máximo aumento do teor de clorofila, em virtude da aplicação de nitrogênio. A figura 1 mostra nítida redução na concentração de clorofila dos 30 aos 60 DAE, que pode ser atribuída à diluição desse composto, em face do maior crescimento das plantas, aliado, provavelmente, ao período de tempo ainda insuficiente para incorporação do nitrogênio aplicado, sobretudo na segunda adubação em cobertura. Na avaliação realizada aos 75 DAE, a partir da qual se evidenciam as diferenças entre as doses de nitrogênio, notam-se significativos aumentos na concentração de clorofila, em especial nos tratamentos que receberam as maiores doses, mantendo-se até 90 DAE, cuja avaliação demonstra as maiores diferenças entre as doses, com nítida vantagem da maior dose sobre as demais. Tais diferenças são mantidas inclusive aos 105 DAE, quando se verifica nova redução nos teores da clorofila, em vista da redistribuição do nitrogênio da planta, principalmente para a formação dos bulbos. A análise de regressão confirma a tendência de aumentos na síntese de clorofila com a adição de nitrogênio, em todos os modelos testados nas avaliações aos 75, 90 e 105 DAE. A elevação nos níveis da adubação potássica em cobertura, embora com efeitos pouco aparentes nas variações nos níveis desse nutriente por ocasião do plantio (experimento de 1993), promoveu aumento na concentração de clorofila das folhas, mostrando efeito linear nas avaliações aos 90 DAE e efeito quadrático aos 105 DAE e não significativo aos 75 DAE (Quadro 2). Houve interação significativa N x K para as avaliações feitas aos 90 e 105 DAE. Nas demais épocas de avaliação, o potássio não influenciou esse parâmetro. Os resultados sugerem que prováveis aumentos na síntese de clorofila das folhas de plantas de alho, promovidos por adubações potássicas passam a ser menos evidentes quando feitas tardiamente. O comprimento da maior folha na avaliação aos 90 DAE revela efeitos do nitrogênio e da interação N x K nesse parâmetro. Os maiores valores foram obtidos sem aplicação de nitrogênio em cobertura, decrescendo com a elevação na dose da adubação nitrogenada. A porcentagem de plantas com pseudoperfilhamento (Quadro 2), embora com o elevado coeficiente de variação obtido, demonstra nítida tendência de aumento, com a elevação na dose de fertilizante nitrogenado em cobertura, confirmada pela análise, mostrando efeito quadrático (r2 = 0,99) - Figura 2. A incidência dessa anomalia está estreitamente relacionada a aplicações de doses excessivas de nitrogênio, principalmente em cobertura, segundo demonstram os resultados de ALVARENGA e SANTOS (1982), MORAES e LEAL (1986) e IZIOKA (1990). Por outro lado, trabalhos existem nos quais a adição de nitrogênio não influenciou a incidência do pseudoperfilhamento. São os casos de SENO et al. (1990), SILVA (1991), além do resultado do experimento de 1993, no qual as plantas mostraram-se menos vigorosas que neste experimento. A cultivar utilizada no presente trabalho, classificada como produtora de "alho nobre", por ter adaptação climática forçada, pela vernalização, para plantio em regiões menos frias que as de origem, sofre forte influência das variações climáticas, que podem alterar o desenvolvimento da planta e levar a respostas diferentes de ano para ano. As variações na adubação potássica em cobertura, a exemplo do ocorrido com aplicação no plantio no experimento de 1993, não influenciaram a porcentagem de plantas com pseudoperfilhamento, confirmando os resultados obtidos por NAKAGAWA et al. (1990; 1992; 1995) com a mesma cultivar. Tais resultados sugerem, ao contrário da prática adotada por alguns produtores de "alho nobre", não ser eficiente o controle do pseudoperfilhamento pelas aplicações tardias de potássio. Conforme demonstrado anteriormente (Quadro 2), a adubação potássica em cobertura não inibiu a absorção de nitrogênio pelas plantas, corroborando essas considerações. O índice de formato do bulbo (Quadro 2) diminuiu sob a dose maior de nitrogênio, mostrando efeito linear e não foi influenciado pelas doses de potássio. A produção de bulbos (Quadro 2) não foi influenciada isoladamente pela adubação potássica em cobertura. NAKAGAWA et al. (1990; 1992; 1993) também não observaram respostas à adubação potássica, em cobertura, sobre a produção de bulbos. Com relação à adubação nitrogenada em cobertura, nota-se que as maiores produções de bulbos foram obtidas com as duas maiores doses, revelando efeito linear e efeito significativo da interação N x K. Entretanto, como a adubação nitrogenada em cobertura elevou as concentrações foliares, tanto do nitrogênio quanto do potássio, em claro efeito de sinergia (Quadro 2), de acordo com as considerações de SUMMER e FARINA (1986), torna-se mais adequado relacionar a produção de bulbos ao produto N x K no tecido foliar. 4. CONCLUSÕES 1. A concentração foliar de nitrogênio foi reduzida pela adubação potássica, no plantio ou em cobertura, havendo, entretanto, elevação nos teores de potássio com a concentração de nitrogênio no tecido. 2. A concentração de clorofila aumentou com os níveis de potássio no tecido foliar, em função de variações nas doses de fertilizante potássico aplicados no plantio e com as doses de nitrogênio em cobertura. 3. Aumentos nas doses da adubação nitrogenada em cobertura favoreceram a incidência de pseudoperfilhamento na cultura, a qual não foi influenciada pela adubação potássica no plantio ou em cobertura. 4. A produção de bulbos foi maior com adubação nitrogenada em cobertura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMS, P.; WINSOR, G.W.; DONALD, J.D. The effect of N, K and subirrigation on the yield, quality and composition of single triess tomatoes. Journal of Horticultural Science, Cambridge, v.48, p.123-33, 1973. [ Links ] ALVARENGA, M.A.R.; SANTOS, M.L.B. Efeito de fontes e níveis de nitrogênio sobre o desenvolvimento e produção de duas cultivares de alho (Allium sativum, L.). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 22., 1982. Vitória. Resumos... Vitória: Sociedade de Olericultura do Brasil, 1982. p.304. [ Links ] BARKER, A.V.; MAYNARD, D.N.; LACHMAN, N.H. Induction of tomato item and leaf lesions, and potassium deficiency by excessive ammonium nutrition. Soil Science, Baltimore, v.103, p.319327, 1967. [ Links ] BATAGLIA, O.C.; FURLANI, A.M.C.; TEIXEIRA, J.P.F.; FURLANI, P.R.; GALLO, J.R. Métodos de análise química de plantas. Campinas: Instituto Agronômico, 1983. 48p. 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[ Links ] Recebido para publicação em 12 de junho de 2000 e aceito em 14 de agosto de 2002 1 Trabalho apresentado no XIII Congresso Latino Americano de Ciência do Solo, em Águas de Lindóia (SP), 1996. © 2007 Instituto Agronômico Avenida Barão de Itapura, 1481 13020-902 Campinas SP - Brazil Tel.: +55 19 3231-5422 - ramal 116 Fax: (55 19) 3231-5422 - ramal 215 Produção de Bulbos e Incidência de Pseudoperfilhamento na Cultura do Alho 247 FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS PRODUÇÃO DE BULBOS E INCIDÊNCIA DE PSEUDOPERFILHAMENTO NA CULTURA DO ALHO VERNALIZADO EM FUNÇÃO DE ADUBAÇÕES POTÁSSICAS E NITROGENADAS(1) LEONARDO THEODORO BÜLL(2,3); ROSEMARY MARQUES DE ALMEIDA BERTANI(2); ROBERTO LYRA VILLAS BÔAS(2); DIRCEU MAXIMINO FERNANDES(2) RESUMO Com o objetivo de estudar a influência da interação N x K na cultura do alho (Allium sativum L.) vernalizado, instalaram-se dois experimentos em casa de vegetação telada, em vasos retangulares de cimento-amianto contendo 50 kg de terra da camada arável em Latossolo Vermelho-Escuro Álico, textura média. Ambos os experimentos constituíram fatorial 4 x 4. Em 1993, estudaram-se quatro níveis de potássio no plantio (original, 4%, 8% e 16% da CTC) e quatro níveis de nitrogênio em cobertura (40, 80, 160 e 320 kg.ha-1) aplicados em duas parcelas, metade aos 30 dias e metade aos 50 dias após a emergência (DAE). O experimento de 1994 compreendeu quatro níveis de potássio e os mesmos quatro níveis de nitrogênio, ambos aplicados parcelados em cobertura, mantendo-se constante o nível de potássio aplicado no plantio. Aos 70 DAE coletaram-se duas plantas de cada vaso para diagnose foliar. Os resultados indicaram redução na concentração foliar de nitrogênio pela adubação potássica, tanto no plantio quanto na cobertura, havendo, entretanto, aumento nos teores de potássio com a concentração de nitrogênio no tecido; aumento na concentração de clorofila com os níveis de potássio no tecido foliar, em virtude de variações nas doses de fertilizante potássico aplicado no plantio e com as doses de nitrogênio em cobertura; favorecimento das elevações nas doses da adubação nitrogenada em cobertura na incidência de pseudoperfilhamento na cultura, que não foi influenciada pela adubação potássica no plantio ou em cobertura; aumento na produção de bulbos com adubação nitrogenada em cobertura. Palavras-chave: Allium sativum L., alho vernalizado, pseudoperfilhamento, adubação potássica, adubação nitrogenada. ABSTRACT BULB YIELD AND PSEUDOGROWING INCIDENCE OF VERNALIZATED GARLIC AS INFLUENCED BY POTASSIC AND NITROGEN FERTILIZATION Two experiments were carried out under greenhouse conditions, with the objective of studying the influence of N x K interaction on vernalizated garlic (Allium sativum L.) grown in 50 kg pots. Both experiments were in factorial 4 x 4: (a) one in 1993 with four potassium levels in the sowing (original, 4%, 8% and 16% of CEC) and four levels of nitrogen in covering (40, 80, 160 and 320 kg.ha-1) applied half at 30 and the remaining at 50 days after seed emergency (DAE); (b) the other in 1994, with four potassium levels and four nitrogen levels, both splitted and applied in covering. At 70 DAE two plants per pot were collected for nutritional diagnosis. The results indicated that the leaf concentration of nitrogen was slightly reduced by K fertilization applied in the sowing or in covering. However, there were increases in the potassium concentration with the nitrogen concentration in the leaves; the chlorophyll concentration increased with the potassium levels in the leaves, because of variations in K fertilizer rates applied in the sowing, and with the nitrogen rates in covering; increases in N fertilizer rates in covering enhanced the pseudogrowing incidence in the culture, that was not affected by K fertilization in the sowing or in covering; the bulb yield was slightly increased by nitrogen fertilization in covering. Key words: Allium sativum L.; vernalizated garlic; pseudogrowing; potassic fertilization; nitrogen fertilization. (1) Trabalho apresentado no XIII Congresso Latino Americano de Ciência do Solo, em Águas de Lindóia (SP), 1996. Recebido para publicação em 12 de junho de 2000 e aceito em 14 de agosto de 2002. (2) Departamento de Recursos Naturais - Ciência do Solo, Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA/UNESP), Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu (SP). E-mail: [email protected] (3) Com bolsa de produtividade científica do CNPq. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 247-255, 2002 L.T. BÜLL et. al. 248 1. INTRODUÇÃO O pseudoperfilhamento, também denominado superbrotamento, constitui, sem dúvida, um dos maiores problemas na cultura do alho, principalmente nas cultivares que produzem o chamado “alho nobre”. De acordo com SOUZA e CASALI (1986) e resultados relatados nas revisões de literatura realizadas por NAKAGAWA (1993) e SILVA (1991), a elevada absorção de nitrogênio é um dos fatores que contribuem de forma marcante para a ocorrência do pseudoperfilhamento. Por outro lado, as maiores produções de alho são obtidas com plantas mais vigorosas e bem supridas em nitrogênio. Da análise desse paradoxo pode-se inferir que a dose de nitrogênio utilizada deve ser tão elevada quanto possível para se obter o máximo de produtividade, sem, contudo, favorecer o aparecimento do pseudoperfilhamento. Uma das formas de reduzir o pseudoperfilhamento em plantas cultivadas em solos bem supridos em nitrogênio é o controle do excesso na absorção desse nutriente, por meio de adubação potássica (NAKAGAWA, 1993). Entretanto, KONKEL et al. (1991) e BÜLL et al. (1994) não observaram efeitos de aplicações de potássio, por ocasião do plantio, na incidência do pseudoperfilhamento na cultura do alho, o mesmo ocorrendo na época da adubação potássica em cobertura. Saliente-se que esses trabalhos foram realizados com tratamentos desvinculados de variações em doses de nitrogênio. Com relação à adubação nitrogenada, os resultados são mais discrepantes. SENO et al. (1990) e SILVA (1991) não observaram qualquer efeito de aplicação de nitrogênio em cobertura sobre o pseudoperfilhamento no alho, na cultivar Roxo Pérola de Caçador; aumentos consideráveis na incidência dessa anomalia, em virtude da elevação nas doses da adubação nitrogenada em cobertura, foram observados por ALVARENGA e SANTOS (1982), MORAES e LEAL (1986), IZIOKA (1990) e RESENDE e SOUZA (2001). Pretendeu-se com este trabalho estudar a influência de relações N x K na incidência do pseudoperfilhamento e na produção de bulbos na cultura do alho vernalizado. 2. MATERIAL E MÉTODOS O estudo consistiu na instalação de dois experimentos em casa de vegetação telada do Departamento de Recursos Naturais da Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu - UNESP, um em 1993 e outro em 1994. Utilizaram-se vasos de Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 247-255, 2002 cimento-amianto, com superfície de 48 x 30 cm, contendo 50 kg de terra da camada superficial (até 25cm) de Latossolo Vermelho-Escuro - textura média; simularam-se, o máximo possível, as condições normais dos canteiros de cultivo. As análises químicas iniciais (RAIJ e QUAGGIO, 1983) das amostras de terra utilizadas nos experimentos de 1993 e 1994, respectivamente, são: pH (CaCl2): 4,1 e 4,0; MO: 26 e 23 g.dm-3; P: 2 e 1mg.dm-3; cátions trocáveis e CTC em mmolc.dm-3, a saber: K: 0,7 e 0,5; Ca: 2,0 e 3,0; Mg: 3,0 e 1,8; CTC: 63 e 58, e saturação por bases (V): 8% e 9%. Os tratamentos do experimento de 1993 constituíram um fatorial com quatro níveis de potássio no plantio e quatro níveis de nitrogênio, aplicado em cobertura, os quais foram dispostos em delineamento inteiramente casualizado, com três repetições. O cálculo de níveis de potássio esperados foram: original (1%); 4%; 8% e 16% da capacidade de troca de cátions (CTC) saturada com potássio, níveis que, de acordo com dados obtidos por BÜLL et al. (1998), podem ser considerados insuficiente, adequado, adequado e excessivo respectivamente. Utilizou-se o cloreto de potássio comercial (60% de K2O), nas quantidades de zero; 7,1; 16,9 e 37,0 gramas adicionadas aos vasos contendo 50 kg de terra, o que equivale a 0, 196, 467 e 1.025 kg.ha-1 respectivamente; essas quantidades foram aplicadas na forma sólida, juntamente com a adubação de plantio. Os níveis de nitrogênio calculados equivaleram a 40, 80, 160 e 320 kg.ha-1 de N, aplicados em duas parcelas: metade aos 30 dias e metade aos 50 dias após a emergência (DAE), utilizando-se uréia nas quantidades totais por tratamento de: 1,9; 3,8; 7,6 e 15,3 gramas por vaso respectivamente. A aplicação foi feita na forma de solução aquosa. Os tratamentos do experimento de 1994 constituíram fatorial compreendendo quatro níveis de potássio e quatro de nitrogênio, ambos aplicados, parceladamente, em cobertura. As doses de nitrogênio foram as mesmas do ensaio de 1993. As doses de potássio em cobertura equivaleram àquelas aplicadas no plantio do experimento de 1993. Além da cobertura, aplicou-se o potássio também no plantio em dose correspondente à metade do nível considerado mais adequado (8%) por BÜLL et al. (1998), ou seja, 8,45g de cloreto de potássio comercial em cada vaso contendo 50 kg de terra. Os tratamentos foram dispostos em delineamento inteiramente casualizado, com três repetições. Para ambos os experimentos, aplicaram-se 250 mg.kg-1 de fósforo em toda a massa de solo antes de sua adição aos vasos. O fósforo foi aplicado na forma de termofosfato, com 18% de P2O5 (160 g por vaso), Produção de Bulbos e Incidência de Pseudoperfilhamento na Cultura do Alho isto é, 1.325 kg.ha -1 de P2O 5. O termofosfato foi aplicado a fim de fornecer fósforo, cálcio, magnésio e micronutrientes, além de corrigir a acidez excessiva. Adotou-se esse procedimento para evitar a retirada de todo o solo contido no vaso por ocasião da adubação de plantio, caso realizasse a calagem antecipada. Além do termofosfato, aplicaram-se 1,0 kg por vaso de esterco de curral curtido (40 t.ha-1) e o potássio. Em seguida, os solos foram incubados por um período de 10 dias, mantendo-se a umidade a 70% da capacidade máxima de retenção de água. Os vasos foram cobertos com material impermeável para evitar perdas de água por evaporação. Passado o período de incubação, efetuou-se o plantio do alho cv. Roxo Pérola de Caçador, utilizando-se, em cada vaso, 10 bulbilhos vernalizados a 4 oC durante 45 dias, com massa individual entre 2 e 3 gramas. Os vasos foram dispostos em duas linhas com espaçamento de 10 cm entre plantas, na linha, e 15 cm entre as linhas. Realizou-se o plantio do primeiro experimento em 12/5/93, e o segundo em 27/5/94. No pré-plantio do primeiro experimento, coletaram-se amostras de solo de cada tratamento, com 10 dias de incubação. As amostras de solos foram analisadas segundo o método de RAIJ e QUAGGIO (1983), cujos teores de potássio determinados foram: 2,6; 4,2; 6,3 e 8,3 mmolc.dm-3 de K, respectivos aos quatro níveis anteriormente mencionados. Os demais índices analíticos não apresentaram variação expressiva entre os tratamentos, e os valores médios atingidos foram: pH (CaCl2) 5,4; 31 g.dm-3 de MO; 86 mg.dm-3 de P; 26 mmolc.dm-3 de Ca; 21 mmolc.dm-3 de Mg e 62% de saturação por bases. Coletaram-se amostras de folhas de duas plantas por vaso para análise química, de acordo com BATAGLIA et al. (1983), aos 70 DAE para o primeiro experimento e aos 90 DAE para o segundo. Durante o ciclo da cultura, para ambos os experimentos, avaliou-se o desenvolvimento das plantas, medindo o comprimento da maior folha e o teor de clorofila. Os dados das leituras do clorofilômetro MINOLTA SPAD foram transformados pela fórmula: y = 0,0996x - 0,152, em que: y = teor de clorofila na folha, mg.dm-2 e x = leitura do aparelho. Determinou-se o índice de formato transversal por meio da relação entre as medidas da altura e do maior diâmetro do bulbo. Por ocasião da colheita avaliou-se o total de plantas com pseudoperfilhamento. A produção de bulbos foi avaliada após um período de “cura” de 30 dias. Todos os dados foram analisados estatisticamente, sendo submetidos à análise da 249 variância. As doses de potássio e de nitrogênio foram submetidas à análise de regressão. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Variação nas doses de K no plantio e N em cobertura – experimento de 1993 No quadro 1 são apresentados os teores de N, P e K encontrados nas folhas das plantas coletadas aos 70 dias após a emergência, que corresponde, aproximadamente, ao período da diferenciação em bulbilhos. A análise da variância não evidenciou interação entre os tratamentos, mostrando efeito linear apenas para nitrogênio (r2 = 0,70), fósforo (r2 = 0,97) e potássio (r2 = 0,88), em doses de potássio, e para nitrogênio e potássio em doses de nitrogênio, tendo também efeito quadrático para nitrogênio em doses de nitrogênio (r2 = 0,99). Os teores médios de nitrogênio aumentaram de acordo com as doses de fertilizante nitrogenado aplicado. Em plantas de tomate, de acordo com BARKER et al. (1967), houve redução nos níveis de nitrogênio com o aumento da concentração de potássio no tecido foliar. À medida que não apresenta interação, estudos mais aprofundados tornam-se necessários para que se previna a incidência de pseudoperfilhamento, por um possível controle exercido pelo potássio sobre a excessiva absorção de nitrogênio. Por sua vez, SOARES et al. (1984) não encontraram qualquer efeito de aplicação de doses crescentes de potássio sobre a absorção de nitrogênio, por plantas de tomate. À exceção do fósforo, que apresentou redução na concentração no tecido foliar com o aumento da dose de potássio aplicada, não foram observados, para os demais macronutrientes, efeitos dos tratamentos. Não foram confirmados, portanto, os efeitos de inibição competitiva do potássio sobre a absorção de cálcio e magnésio nessa cultura (BÜLL et al., 1994; 1998). No presente experimento, o cálcio e o magnésio foram fornecidos pelo termofosfato, ao passo que, nos ensaios desenvolvidos pelos autores citados, o fornecimento se fez pela aplicação de carbonatos. Os teores médios encontrados na matéria seca da parte aérea foram de 4,8 g.kg –1 de Ca, 4,0 g.kg –1 de Mg e 9,8 g.kg –1 de S. Os teores de clorofila das folhas (Quadro 1), avaliados aos 45 DAE, portanto após a primeira adubação nitrogenada em cobertura, sofreram influência apenas dos níveis de potássio, observandose tendência de aumento na concentração de clorofila com a elevação da dose de fertilizante potássico aplicado. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 247-255, 2002 L.T. BÜLL et. al. 250 Quadro 1. Concentração de N, P e K na folha de plantas de alho coletadas aos 70 dias após a emergência (DAE), comprimento da maior folha (88 DAE), teores de clorofila nas folhas (45 DAE) e produção de bulbos de plantas de alho, em decorrência de variações nas doses de potássio no plantio e nas doses de nitrogênio em cobertura. Experimento de 1993 Doses Dose de K K0 K1 K2 K3 Efeitos(1) Dose de N N0 N1 N2 N3 Efeitos CV (%) Nutriente N P g.kg-1 MS K Comprimento cm Clorofila mg.dm-2 Produção de bulbos g por 6 plantas 40 38 38 37 L** 3,0 2,7 2,6 2,3 L** 33 37 37 41 L** 73 70 67 66 L** 5,6 5,8 6,1 6,1 L*,Q* 116 109 104 103 NS 35 37 40 41 L**,Q** 5 2,7 2,5 2,8 2,6 NS 15 35 35 39 39 L** 10 71 70 68 66 NS 9 5,9 5,7 5,9 6,1 NS 7 106 114 109 103 NS 21 * ** (1) L: efeito linear; Q: efeito quadrático; NS: Não significativo; : P < 0,05; : P < 0,01. Observou-se efeito quadrático (r2 = 0,99) entre as variáveis. As variações nas doses de nitrogênio aplicadas, a despeito das funções desse nutriente como componente do grupo pirrólico na molécula da clorofila, não promoveram aumentos na síntese desse composto. RESENDE (1994) sugeriu o período de 6 a 9 dias como intervalo para se obter o máximo de aumento do teor de clorofila, devido à aplicação do nitrogênio, tendo como parâmetros de avaliação os mesmos pressupostos neste trabalho. Entretanto, não se verificou efeito significativo entre essas variáveis, pela análise de regressão. Na avaliação do comprimento da maior folha (Quadro 1), 38 dias após a aplicação da segunda adubação em cobertura com nitrogênio, verificaramse efeitos apenas das variações nas doses de potássio, ressaltando-se que a dose mais elevada de potássio proporcionou redução no crescimento, em relação ao nível original desse nutriente no solo. Tais resultados concordam com os obtidos por Büll et al. (1994), embora não se constatassem, no presente trabalho, efeitos de inibição competitiva do potássio. A ausência de efeitos do nitrogênio sobre o desenvolvimento das plantas pode ser atribuída ao fornecimento desse nutriente, pela adubação orgânica, bem como ao considerável teor original de matéria orgânica do solo. As variações nas doses de potássio aplicadas no plantio, bem como nas doses de nitrogênio em Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 247-255, 2002 cobertura, não influenciaram a incidência de pseudoperfilhamento. A média geral do experimento, indica, para esse parâmetro, 36% a incidência dessa anomalia, índice elevado ao se considerar a média de 5% a 10% como aceitável para culturas de boa produtividade (NAKAGAWA, 1993). Esse alto índice ocorreu provavelmente em razão do elevado suprimento de N fornecido pelas doses de N e da mineralização da matéria orgânica. A adubação orgânica utilizada, equivalente a 40 t.ha-1, correspondeu à recomendação para essa cultura no Estado de São Paulo (LISBÃO e FORNASIER, 1992). Há que se salientar o elevado valor do coeficiente de variação (62%) obtido para esse parâmetro, dificultando uma análise conclusiva. Com relação ao potássio aplicado no plantio, KONKEL et al. (1991) e BÜLL et al. (1998) obtiveram resultados semelhantes. A ausência de efeitos de nitrogênio aplicado em cobertura para este parâmetro também foi observada com a mesma cultivar por SENO et al. (1990), os quais aplicaram doses em cobertura que variaram de 33 a 262 kg.ha-1 de N e, por SILVA (1991), com a aplicação de 20 a 100 kg.ha-1 de N. Em contrapartida, ALVARENGA e S ANTOS (1982) observaram elevação no pseudoperfilhamento em plantas de alho da cultivar Juréia com aplicação de 100 kg.ha-1 de N na forma de salitre do Chile, sendo metade dessa dose em cobertura. MORAES e LEAL (1986), estudando níveis (0 a 150 kg.ha-1) e parcelamento de nitrogênio na cv. Produção de Bulbos e Incidência de Pseudoperfilhamento na Cultura do Alho São Lourenço, verificaram aumento na incidência dessa anomalia: quanto maior a dose, mais tardia a aplicação do fertilizante nitrogenado. Elevação no pseudoperfilhamento em função de elevação nas doses de N, em cobertura, com a cultivar Roxo Pérola de Caçador foi observado por IZIOKA (1990), em Terra Roxa Estruturada, principalmente quando associada à aplicação de torta de mamona no plantio. Com a cultivar Quitéria, RESENDE e SOUZA (2001) observaram que a porcentagem de bulbos pseudoperfilhados aumentou linearmente com o incremento das doses de nitrogênio (0 a 160 kg.ha-1). O índice de formato não foi influenciado pelos tratamentos. O valor médio obtido no experimento, igual a 0,86, indica bulbos com formato achatado, portanto de bom valor comercial. As médias de produção de bulbos (Quadro 1), à semelhança do ocorrido com o índice de formato e o pseudoperfilhamento, também não revelam influência dos tratamentos, contrariando dados anteriores obtidos por BÜLL et al. (1994; 1998), os quais demonstraram elevação na produção de bulbos com o aumento na dose de potássio aplicada no plantio. Vale ressaltar que no presente trabalho houve aplicação de matéria orgânica por ocasião do plantio, possibilitando, provavelmente, adequado suprimento de potássio, mesmo nas menores doses de fertilizante potássico aplicadas, o que não foi feito nos experimentos realizados por esses autores. Ausência de respostas a nitrogênio, aplicado em cobertura, sobre a produção de bulbos nessa cultura também foi observada em outros trabalhos, como os de SENO et al. (1990) e NAKAGAWA et al. (1990) com a cultivar Quitéria, com doses de 20 e 40 kg.ha-1 de N, e N AKAGAWA et al. (1991) com a cultivar deste trabalho, aplicando 15 e 30 kg.ha-1 de N. Por outro lado, outros trabalhos mostram expressivas respostas à aplicação de nitrogênio sobre a cultura, como os realizados por MENEZES-SOBRINHO et al. (1973) com as cultivares Amarante, Branco Mineiro e Barbado Rio Grande, com aplicações de 100 e 200 kg.ha-1 de N no plantio; FERRARI e C HURATA-M ASCA (1975) com a cultivar Amarante com doses de 25 a 75 kg.ha-1 de N no plantio; A LVARENGA e S ANTOS (1982) com as cultivares Juréia e Dourado com doses de 50 e 100 kg.ha-1 de N no plantio, e NAKAGAWA et al. (1990) com a mesma cultivar deste trabalho e doses de 15 e 30 kg.ha-1 de N, em cobertura, aplicadas aos sete dias após a diferenciação em bulbilhos. A não-resposta à adubação nitrogenada em cobertura, obtida neste trabalho, deve estar associada ao teor original elevado de matéria orgânica no solo, aliado à aplicação da adubação orgânica, prática 251 rotineira dos produtores de alho. Confirmando essas considerações, IZIOKA (1990) obteve aumento na produção de bulbos em decorrência de adubação nitrogenada em cobertura, apenas em areia quartzosa com baixo teor de matéria orgânica (1,2%), ao passo que em terra roxa estruturada, com 2,7% de matéria orgânica, a produção de bulbos não foi afetada pela aplicação de torta de mamona no plantio, nem pela adubação nitrogenada em cobertura. RESENDE e SOUZA (2001) obtiveram aumento da produtividade total até a dose de 149,2 kg.ha-1 de N; houve redução linear na produtividade comercial com o incremento da dose de nitrogênio. A ausência de resposta, segundo os autores, deve-se, provavelmente, além da alta incidência de pseudoperfilhamento promovida pelo incremento das doses de nitrogênio, ao teor de matéria orgânica do solo, considerado alto. 3.2. Variação nas doses de N e K em cobertura – experimento de 1994 Os teores de N, K e S no tecido foliar das plantas coletadas aos 90 DAE, portanto após as adubações nitrogenadas e potássicas em cobertura, encontramse relacionados no quadro 2. A concentração de nitrogênio aumentou com as doses desse nutriente, mostrando efeito quadrático, não sendo, porém, influenciada pelas aplicações de potássio, podendo-se inferir a ineficiência do controle da absorção de nitrogênio por aplicações tardias de potássio, em cobertura, ou seja, na época da diferenciação em bulbilhos (70 DAE). A concentração de potássio no tecido foliar não foi afetada pela adubação potássica, mas aumentou significativamente com a adubação nitrogenada, mostrando efeito quadrático, confirmado pela análise de regressão significativa (r2 = 0,94). A análise também revela interação significativa N x K. O resultado contrasta com dados de ADAMS et al. (1973), que observaram redução na absorção de potássio com aplicações de nitrogênio na cultura do tomateiro. Entretanto, SOARES et al. (1984) não verificaram efeito do nitrogênio sobre a absorção do potássio pelo tomateiro. De acordo com U SHERWOOD (1982) e FAGERIA (1982), quando a disponibilidade de potássio era adequada, adições de nitrogênio aumentavam consideravelmente a absorção do potássio, por plantas de milho e arroz, em razão do estímulo das adubações nitrogenadas no crescimento vegetativo. O mesmo fato deve ter ocorrido no presente trabalho, confrontando-se dados de concentração de nitrogênio e potássio na planta com os de produção de bulbos. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 247-255, 2002 L.T. BÜLL et. al. 17 39 56 43 L**,Q** 62 0,83 0,83 0,83 0,79 L** 4 128 123 137 134 L* 8 As concentrações de fósforo, cálcio, magnésio e enxofre na planta não foram afetadas pelos tratamentos. Os teores médios encontrados na matéria seca da parte aérea foram de 1,8 g.kg –1 de P; 3,6 g.kg –1 de Ca; 3,8 g.kg –1 de Mg e 5,8 g.kg –1 de S. A figura 1 mostra que os teores de clorofila nas folhas foram influenciados pelos tratamentos com nitrogênio apenas a partir dos 75 DAE, portanto 45 e 25 dias após, respectivamente, a primeira e a segunda adubação em cobertura. O resultado indica, a exemplo do ocorrido no experimento de 1993, para essa cultura, intervalo consideravelmente maior que o sugerido por RESENDE (1994), para se obter o máximo aumento do teor de clorofila, em virtude da aplicação de nitrogênio. 25 28 29 30 L**,Q** 6 24 29 30 31 L*,Q* 5 Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 247-255, 2002 (1) NS: Não significativo; L: efeito linear; Q: efeito quadrático; *: P < 0,05; **: P < 0,01. 28 27 29 29 NS Dose de K K0 K1 K2 K3 Efeitos(1) Dose de N N0 N1 N2 N3 Efeitos CV(%) 29 29 29 28 NS 6,4 5,6 6,1 5,2 L** 10 84 80 80 77 L** 4 5,4 5,8 5,9 6 L**,Q** 3 5,8 6,3 6,2 6,5 L**,Q** 2 5,8 6,2 6,4 6,3 L**,Q** 4 40 38 32 44 NS 82 80 79 80 NS 5,8 5,8 5,9 5,6 L*,Q* 6,1 6,1 6,2 6,3 L* 5,8 5,7 6,3 5,6 NS 6,2 6,2 6,2 6,2 NS % 0,84 0,83 0,81 0,81 NS 130 128 129 134 NS g por 6 plantas Produção de bulbos Índice deformato 90 DAE cm 90 DAE mg.dm-2 Pseudoperfilhamento Comprimento 105 DAE Clorofila 75 DAE S K g.kg-1MS Nutriente N Doses Quadro 2. Concentração de N, K, S na folha de plantas de alho coletadas aos 90 dias após a emergência (DAE), teores de clorofila nas folhas (75, 90 e 105 DAE), comprimento da maior folha (90 DAE), pseudoperfilhamento, índice de formato (altura/diâmetro) e produção de bulbos de plantas de alho, em decorrência de variações nas doses de nitrogênio e potássio em cobertura. Experimento de 1994 252 Figura 1. Teor de clorofila de folhas de plantas de alho submetidas a variações nas doses da adubação nitrogenada em cobertura aos 30 e 50 dias após a emergência. Experimento de 1994. A figura 1 mostra nítida redução na concentração de clorofila dos 30 aos 60 DAE, que pode ser atribuída à diluição desse composto, em face do maior crescimento das plantas, aliado, provavelmente, ao período de tempo ainda insuficiente para incorporação do nitrogênio aplicado, sobretudo na segunda adubação em cobertura. Na avaliação realizada aos 75 DAE, a partir da qual se evidenciam as diferenças entre as doses de nitrogênio, notam-se significativos aumentos na concentração de clorofila, em especial nos tratamentos que receberam as maiores doses, mantendo-se até 90 DAE, cuja avaliação demonstra as maiores diferenças entre as doses, com nítida vantagem da maior dose sobre as demais. Tais diferenças são mantidas inclusive aos 105 DAE, quando se verifica nova redução nos teores da clorofila, em vista da redistribuição do nitrogênio da planta, principalmente para a formação dos bulbos. Produção de Bulbos e Incidência de Pseudoperfilhamento na Cultura do Alho A análise de regressão confirma a tendência de aumentos na síntese de clorofila com a adição de nitrogênio, em todos os modelos testados nas avaliações aos 75, 90 e 105 DAE. A elevação nos níveis da adubação potássica em cobertura, embora com efeitos pouco aparentes nas variações nos níveis desse nutriente por ocasião do plantio (experimento de 1993), promoveu aumento na concentração de clorofila das folhas, mostrando efeito linear nas avaliações aos 90 DAE e efeito quadrático aos 105 DAE e não significativo aos 75 DAE (Quadro 2). Houve interação significativa N x K para as avaliações feitas aos 90 e 105 DAE. Nas demais épocas de avaliação, o potássio não influenciou esse parâmetro. Os resultados sugerem que prováveis aumentos na síntese de clorofila das folhas de plantas de alho, promovidos por adubações potássicas passam a ser menos evidentes quando feitas tardiamente. O comprimento da maior folha na avaliação aos 90 DAE revela efeitos do nitrogênio e da interação N x K nesse parâmetro. Os maiores valores foram obtidos sem aplicação de nitrogênio em cobertura, decrescendo com a elevação na dose da adubação nitrogenada. A porcentagem de plantas com pseudoperfilhamento (Quadro 2), embora com o elevado coeficiente de variação obtido, demonstra nítida tendência de aumento, com a elevação na dose de fertilizante nitrogenado em cobertura, confirmada pela análise, mostrando efeito quadrático (r2 = 0,99) - Figura 2. A incidência dessa anomalia está estreitamente relacionada a aplicações de doses excessivas de nitrogênio, principalmente em cobertura, segundo demonstram os resultados de ALVARENGA e SANTOS (1982), MORAES e LEAL (1986) e IZIOKA (1990). Por outro lado, trabalhos existem nos quais a adição de nitrogênio não influenciou a incidência do pseudoperfilhamento. São os casos de SENO et al. (1990), S ILVA (1991), além do resultado do experimento de 1993, no qual as plantas mostraramse menos vigorosas que neste experimento. A cultivar utilizada no presente trabalho, classificada como produtora de “alho nobre”, por ter adaptação climática forçada, pela vernalização, para plantio em regiões menos frias que as de origem, sofre forte influência das variações climáticas, que podem alterar o desenvolvimento da planta e levar a respostas diferentes de ano para ano. As variações na adubação potássica em cobertura, a exemplo do ocorrido com aplicação no plantio no experimento de 1993, não influenciaram a porcentagem de plantas com pseudoperfilhamento, confirmando os resultados obtidos por NAKAGAWA et 253 Figura 2. Relação entre o pseudoperfilhamento e a concentração de nitrogênio em plantas de alho submetidas a variações nas doses da adubação nitrogenada e potássica em cobertura. Experimento de 1994. al. (1990; 1992; 1995) com a mesma cultivar. Tais resultados sugerem, ao contrário da prática adotada por alguns produtores de “alho nobre”, não ser eficiente o controle do pseudoperfilhamento pelas aplicações tardias de potássio. Conforme demonstrado anteriormente (Quadro 2), a adubação potássica em cobertura não inibiu a absorção de nitrogênio pelas plantas, corroborando essas considerações. O índice de formato do bulbo (Quadro 2) diminuiu sob a dose maior de nitrogênio, mostrando efeito linear e não foi influenciado pelas doses de potássio. A produção de bulbos (Quadro 2) não foi influenciada isoladamente pela adubação potássica em cobertura. NAKAGAWA et al. (1990; 1992; 1993) também não observaram respostas à adubação potássica, em cobertura, sobre a produção de bulbos. Com relação à adubação nitrogenada em cobertura, nota-se que as maiores produções de bulbos foram obtidas com as duas maiores doses, revelando efeito linear e efeito significativo da interação N x K. Entretanto, como a adubação nitrogenada em cobertura elevou as concentrações foliares, tanto do nitrogênio quanto do potássio, em claro efeito de sinergia (Quadro 2), de acordo com as considerações de SUMNER e FARINA (1986), torna-se mais adequado relacionar a produção de bulbos ao produto N x K no tecido foliar. 4. CONCLUSÕES 1. A concentração foliar de nitrogênio foi reduzida pela adubação potássica, no plantio ou em cobertura, havendo, entretanto, elevação nos teores de potássio com a concentração de nitrogênio no tecido. 2. A concentração de clorofila aumentou com os níveis de potássio no tecido foliar, em função de Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 247-255, 2002 L.T. BÜLL et. al. 254 variações nas doses de fertilizante potássico aplicados no plantio e com as doses de nitrogênio em cobertura. 3. Aumentos nas doses da adubação nitrogenada em cobertura favoreceram a incidência de pseudoperfilhamento na cultura, a qual não foi influenciada pela adubação potássica no plantio ou em cobertura. 4. A produção de bulbos foi maior com adubação nitrogenada em cobertura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMS, P.; WINSOR, G.W.; DONALD, J.D. The effect of N, K and subirrigation on the yield, quality and composition of single triess tomatoes. Journal of Horticultural Science, Cambridge, v.48, p.123-33, 1973. ALVARENGA, M.A.R.; SANTOS, M.L.B. Efeito de fontes e níveis de nitrogênio sobre o desenvolvimento e produção de duas cultivares de alho (Allium sativum, L.). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 22., 1982. Vitória. Resumos... Vitória: Sociedade de Olericultura do Brasil, 1982. p.304. KONKEL, S. Efeitos do vinhoto e do cloreto do potássio sobre os rendimentos total e comercial e superbrotamento de bulbos de alho (Allium sativum L.). Horticultura Brasileira, Brasília, v.9, p.41, 1991. 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O experimento foi realizado em casa de vegetação, utilizando-se dois Latossolos Vermelhos e em dois valores de pH (5,0 e 6,0). As fontes de zinco foram o pó-de-aciaria e o sulfato de zinco aplicados nas doses de 0, 5, 50 e 150 mg.dm-3 de Zn. Fez-se a extração de Zn, Pb, Cd, Cr e Ni do solo utilizando-se as soluções de DTPA e de Mehlich-1. A menor dose de Zn adicionada ao solo, nas duas fontes, proporcionou teores na parte aérea da planta superiores ao nível crítico para a cultura. As concentrações dos metais Pb, Cd, Cr e Ni, tanto na parte aérea como no solo, foram menores que os níveis críticos para toxicidade. Os coeficientes de correlação entre o Zn extraído do solo pelas duas soluções e a concentração de Zn na parte aérea do milho foram significativos e semelhantes para ambos os solos. O mesmo não foi observado para os outros elementos. Conclui-se que, nas condições estudadas, o pó-de-aciaria é uma fonte eficiente de Zn para o milho; os extratores são adequados para determinar a disponibilidade desse elemento, ineficientes, entretanto, para os outros metais estudados. O pH alterou a disponibilidade do Zn diminuindo a disponibilidade com seu aumento. Palavras-chave: metais pesados, resíduo siderúrgico, extratores. ABSTRACT The purpose of this study was to assess the effect of application of increasing doses of flue dust on the accumulation and availability of the metals Zn, Cd, Cu, Ni and Pb in two surface soil samples and in corn plants (Zea mays L.). The experiment was carried out at the Instituto Agronômico de Campinas, São Paulo State, Brazil, under greenhouse conditions, using corn as test plant, grown in two Typic Eutrorthox at two pH levels (5,0 e 6,0). The Zn sources were flue dust and pure ZnSO4 applied at the following rates: 0; 5; 50 and 150 mg.dm-3 Zn. The extraction of Zn, Cd, Pb, Cr and Ni from the soil was accomplished using the DTPA-TEA pH 7,5 and Mehlich-1 solutions methods. The smallest Zn dose added to the soil as flue dust provided higher values than the critical levels for the aerial part of the plant. The Pb, Cd, Cr and Ni concentrations were, in the aerial part and in the soil, lower than the critical levels for toxicity. The correlation coefficients between the Zn extracted from the soil by the two solutions and Zn concentration in corn aerial part were significant and similar in both soils. It may be concluded, in the conditions studied, that flue dust is an efficient source of Zn to corn, and that the extractants were efficient to indicate its phytoavailability, but unefficient to the other metal studied. Zinc availability decreased with increasing pH. Key words: heavy metals, metallurgic residues, extractants. 1. INTRODUÇÃO As indústrias siderúrgicas produzem vários resíduos que podem causar problemas ambientais, dependendo da forma e do local onde são descartados. Além disso, a disposição desses resíduos pode ser dispendiosa, elevando os custos da empresa. O aproveitamento de alguns desses materiais como fertilizante é uma forma de reduzir custos, bem como o impacto no ambiente (GUIDI et al., 1988). Muitos trabalhos têm mostrado o potencial de resíduos siderúrgicos como corretivos e fertilizantes (ACCIOLY, 1996; AMARAL-SOBRINHO et al., 1997; ANDERSON e PARKPIAN, 1998; SILVA, 1999). Dentre eles, destaca-se o pó-de-aciaria, obtido na produção do aço que contém aproximadamente 12% de Zn e representa fonte potencial deste nutriente para as plantas. Entretanto, o pó-de-aciaria apresenta em sua constituição alguns metais pesados que podem provocar efeitos negativos em componentes bióticos e abióticos do ambiente, quando é utilizado na agricultura ou disposto de forma inadequada, pois pode resultar na transferência desses metais pesados do solo para as plantas e na sua entrada na cadeia alimentar em teores acima dos aceitáveis (PETRUZZELLI et al., 1989). Entre os metais pesados que ocorrem nos resíduos, pode-se citar o Cd, Pb, Cr e Ni, sendo suas concentrações dependentes do processo de geração de cada resíduo. ACCIOLY (1996), utilizando pó-de-aciaria contendo 1,3% de Pb, e 0,01% de Cd, observou que os teores desses elementos no milho estavam abaixo dos limitesconsiderados tóxicos para a alimentação humana e animal. Ressalta-se que, dependendo das características físicas e químicas do resíduo, a disponibilidade dos metais pesados nele contidos não é imediata, e sim gradual, liberando-os à medida que o resíduo vai reagindo com os constituintes do solo. As propriedades físicas e químicas do solo também são importantes por influenciarem a disponibilidade dos metais para as plantas (MATOS et al., 1995). Muitos trabalhos têm demonstrado que a retenção e solubilidade dos metais pesados no solo são fortemente influenciadas pelo pH (HARTER, 1983; CUNHA et al., 1994; MARTINEZ e MOTTO, 2000; ALCÂNTARA e CAMARGO, 2001; DIAS et al., 2001), pela quantidade de metal no solo (BASTA e TABATABAI, 1992), pela CTC (ZIPER et al., 1988; CUNHA et al., 1994), pela matéria orgânica (ELLIOT et al., 1986; LEWIS e RULE, 2001) e pela mineralogia do solo (ZIPER et al., 1988). O pH possui forte influência na retenção de metais no solo, sendo esta maior em pH elevado (BASTA et al., 1993; CUNHA et al., 1994; MARTINEZ e MOTTO, 2000; ALCÂNTARA e CAMARGO, 2001; DIAS et al., 2001). A disponibilidade de metais pesados, incluindo Pb, Ni, Cd e Cu nos solos, decresceu rapidamente quando o pH do solo aumentou de quatro para seis (MAZUR, 1997). A solubilidade do Zn no solo é altamente dependente do pH, decrescendo cem vezes para cada aumento de uma unidade no pH (LINDSAY, 1972). Além disso, solos com teores elevados de argila e matéria orgânica, por apresentarem maior CTC, possuem maior capacidade de retenção de metais catiônicos que solos mais arenosos e com teores menores de matéria orgânica (SHUMAN, 1985; CUNHA et al., 1994; MATOS et al., 1996; AMARAL et al., 1996). A matéria orgânica, embora represente, em geral, menos de 5% dos componentes sólidos, é responsável por, aproximadamente, 30% a 65% da CTC dos solos minerais e mais de 50% da CTC dos solos arenosos e orgânicos, daí sua importância na retenção de metais no solo. A disponibilidade do metal pode ser avaliada usando-se um extrator apropriado, no qual a quantidade extraída é correlacionada com a quantidade ou com a concentração do elemento nas plantas. É o sistema mais empregado nas pesquisas (ABREU et al., 2002). Os extratores podem ser classificados em diversas categorias, dentre elas, soluções ácidas e soluções complexantes. Os extratores ácidos extraem os metais, principalmente, pela dissolução dos minerais de argila, sendo a quantidade dependente da concentração do ácido, do tempo de extração e da relação solo/solução. As soluções ácidas mais testadas para extração das formas disponíveis de metais para as plantas são: HCl 0,1 mol.L-1 e Mehlich-1. As soluções quelantes combinamse com o íon metálico em solução formando complexos solúveis, diminuindo a sua atividade iônica na solução do solo. Em conseqüência, os íons dessorvem da superfície do solo ou da fase sólida para restabelecer o equilíbrio das formas iônicas na solução (ABREU et al., 2002). Os agentes quelantes mais usados, visando à seleção de métodos químicos para avaliar a disponibilidade de metais em amostras de solos brasileiros são o EDTA e o DTPA pH 7,3 (BATAGLIA e RAIJ, 1994) sendo este o mais difundido (ABREU et al., 1995). O DTPA foi desenvolvido, inicialmente, para avaliar a disponibilidade de Cu, Fe, Mn, e Zn, e o Mehlich-1, para verificar a disponibilidade de P e cátions trocáveis. Esses métodos, entretanto, tiveram seu uso ampliado e atualmente têm sido usados também para Pb, Cd e Ni (KORCAK e FANNING, 1978; SCHARUER et al., 1980; SOLTANPOUR, 1991). SILVA (1999) verificou que a solução de HCl 0,1 mol.L-1 mostrou-se eficiente para avaliar a disponibilidade do Zn em solos que receberam o pó-de-aciaria; ineficiente, porém para avaliar a disponibilidade do Pb e do Cu. RIBEIRO-FILHO et al. (2001), trabalhando com as soluções de DTPA e Mehlich-1, observaram que ambas foram adequadas para avaliar a disponibilidade de Cd, Ni, Zn e Pb. Resultados semelhantes foram observados por ABREU et al. (1998) para Pb extraído com DTPA e Mehlich3. ACCIOLY (1996), ao avaliar o efeito da aplicação de um pó-de-aciaria ao solo, constatou que os extratores Mehlich-1 e DTPA não foram eficientes em extrair o Pb e o Cd do solo, sendo apenas para o Zn. Percebe-se que para os metais Cd, Pb, Cr e Ni ainda não há uma definição clara de pesquisa sobre quais métodos usar. No Brasil, os resultados obtidos relativo ao emprego de diferentes extratores de metais pesados do solo são bastante contraditórios, em especial, aqueles referentes à disponibilidade de Pb, Cd, Cr e Ni, metais freqüentemente encontrados em resíduos siderúrgicos (ABREU et al., 1995). Tendo em vista o potencial de uso de pó-de-aciaria como fonte de zinco para as plantas, a possibilidade de acúmulo de metais não desejados no solo por esse material, sua disponibilidade para as plantas e a sua entrada na cadeia alimentar, deve-se investigar a utilização agronômica desse resíduo. Por isso, o objetivo deste trabalho foi avaliar a disponibilidade de zinco para o milho e o acúmulo de metais pesados no solo e na planta pelo uso do pó-de-aciaria. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em casa de vegetação, em Campinas (SP), de novembro de 2000 a janeiro de 2001, utilizando-se amostras superficiais (0-20 cm de profundidade) de dois Latossolos Vermelhos, coletadas nos municípios de Rio das Pedras e Jaboticabal (SP), identificadas e aqui denominadas LVd-RP e LVd-J respectivamente. Os solos apresentaram as seguintes características: matéria orgânica = 33 e 27 g.dm-3; pH em CaCl2 0,01 mol.L-1 = 4,1 e 4,3; argila = 320 e 250 g.kg-1; areia fina = 260 e 340 g.kg-1 e areia grossa 170 e 310 g.kg1, respectivamente, para LVd-RP e LVd-J. O resíduo utilizado, proveniente de uma indústria paulista produtora de aço, apresentou, além da granulometria muito fina, em forma de pó, os seguintes teores de metais extraídos pelo método da água-régia (ABREU et al., 1996a): Fe = 684 g.kg-1; Zn = 122 g.kg-1; Mn = 63 g.kg1; Pb = 24 g.kg-1; Cr = 6,0 g.kg-1; Al = 3,5 g.kg-1; Cu = 2,3 g.kg-1; Ni = 0,48 g.kg-1 e Cd = 0,13 g.kg-1, apresentando, também, pH CaCl2 = 9,4 e pH H2O = 9,6. As amostras de solo foram secas, peneiradas e, seqüencialmente, aplicaram-se CaCO3 e MgO p.a. na relação 4:1 de Ca/Mg na quantidade necessária para elevar o pH em CaCl2 0,01 mol.L1 de cada amostra de solo a 5,0 e a 6,0, segundo curva de incubação. O período de incubação foi de 15 dias, mantendo-se a umidade próxima à capacidade de campo. Decorrido esse período, realizou-se a adubação básica misturando-se ao solo, 300 mg.dm-3 de fósforo, na forma de superfosfato triplo granulado (passado em peneira de 2 mm). Além do P, misturou-se às amostras uma solução contendo o equivalente a, em mg.dm-3, 60 de N, 100 de K, 30 de S, 1 de Cu e 0,5 de B. Utilizaram-se como fonte desses elementos o nitrato de potássio, sulfato de amônio, ácido bórico e sulfato de cobre. Todos os reagentes utilizados foram de grau analítico. O delineamento experimental foi inteiramente casualisado, em esquema fatorial, 2 (produtos) x 4 (doses) x 2 (pH) x 2 (solos), com três repetições. Os produtos foram o pó-de-aciaria e o sulfato de zinco p.a., aplicados nas doses 0, 5, 50 e 150 mg.dm-3 de Zn. Decorridos sete dias da aplicação dos tratamentos, retirou-se uma subamostra de 100 cm3 de solo de cada vaso de plástico, com capacidade de 2 L, a fim de determinar os teores de Zn, Pb, Cd, Cr e Ni. Os extratores utilizados foram: (a) DTPA (LINDSAY e NORVELL, 1978) e (b) Mehlich1 (Mehlich, 1953). As relações solo:solução foram de 1:2 (DTPA) e 1:10 (Mehlich-1). Determinaram-se os teores dos metais nos extratos por espectrometria de emissão atômica com plasma de argônio (ICP-AES). Procedeu-se a semeadura do milho, híbrido BR 201, utilizando-se dez sementes por vaso, deixando-se, depois do desbaste, cinco plantas. Após o desbaste, em intervalos de cinco dias, adicionaram-se 20 mL por vaso de uma solução contendo 50 mg.dm-3 de N por aplicação. Usaram-se como fontes o nitrato de cálcio e o de sulfato de amônio de forma alternada. Realizou-se o corte da parte aérea aos 50 dias da emergência, sendo o material seco em estufa com circulação forçada de ar a 70 ºC até peso constante, moído e submetido à digestão via úmida, em forno microondas, de acordo com ABREU (1997). Os dados foram submetidos à análise de regressão simples entre os teores de metais na parte aérea do milho e os extraídos dos solos pelos dois extratores. O programa de análise estatística empregado foi o MINITAB versão 13.0. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A produção de matéria seca da parte aérea do milho não foi influenciada significativamente pela aplicação de doses crescentes de Zn ao solo (dados não apresentados), independentemente da fonte ou do solo, indicando que o teor natural de Zn dos solos era suficiente para atender a demanda das plantas. Resultado semelhante foi relatado por ACCIOLY (1996) em experimento com pó-de-aciaria e plantas de milho e alface. Como a concentração e o acúmulo de Zn na matéria seca da parte aérea do milho revelaram comportamentos semelhantes, optou-se por apresentar somente a concentração de Zn na parte aérea. Os teores de Zn na parte aérea do milho variaram de 14,4 a 522,8 mg.kg-1 no LVd-J e de 18,1 a 267,5 mg.kg-1 no LVd-RP, ultrapassando o teor considerado como tóxico, 95 mg.kg-1 (GUPTA e GUPTA, 1998), nas doses mais altas das duas fontes. Resultados semelhantes foram observados por Silva (1999) e ACCIOLY (1996). Ressalta-se que na avaliação visual das plantas, aos 40 dias da emergência, notou-se o amarelecimento das folhas mais novas naqueles tratamentos que receberam 150 mg.dm-3 de Zn, independentemente do solo ou do pH, o que pode ser decorrente da toxicidade de Zn (Adriano et al., 1971). Para ambas as fontes testadas, o aumento da dose de zinco foi acompanhado pelo aumento da concentração do nutriente na parte aérea das plantas de milho, sendo a relação linear e significativa (Figura 1). Entretanto, o pó-de-aciaria proporcionou teores de Zn na parte aérea do milho menores que o sulfato de zinco, discordando dos resultados apresentados por ACCIOLY (1996) e Silva (1999) que encontraram teores de zinco na parte aérea maiores nos tratamentos com pó-de-aciaria que nos tratamentos com sulfato de zinco. No LVd-J, com a aplicação de 50 mg.dm-3 de Zn ao solo, foram obtidos 78,93 e 151,89 mg de Zn por quilo de matéria seca, respectivamente, para o pó-de-aciaria e para o sulfato de zinco; a mesma tendência foi observada para o LVd-RP. Ressalta-se que mesmo usando a menor dose (5 mg.dm-3), esta foi suficiente para proporcionar teores de Zn na parte aérea acima do nível crítico para plantas de milho que está em torno de 15 mg.kg-1 (TERMAN et al., 1972). Esses resultados evidenciaram que, apesar de o pó-de-aciaria ser capaz de suprir a planta em Zn, a dose necessária será maior que aquela recomendada para o sulfato de zinco, graças à sua menor solubilidade. As maiores concentrações de Zn na parte aérea do milho ocorreram quando as plantas foram cultivadas no LVd-J (Figura 1). Essa diferença pode ser em virtude das características físico-químicas dos solos, uma vez que o LVd-RP apresentou teores de argila e matéria orgânica maiores que o LVd-J, o que pode ter proporcionado maior retenção de zinco nesse solo. De acordo com alguns autores, solos com teores elevados de argila e matéria orgânica, por apresentarem maior CTC, possuem maior capacidade de retenção de zinco que solos mais arenosos e com menores teores de matéria orgânica (CUNHA et al., 1994; MATOS et al., 1996). Os teores de Cd, Cr e Ni na matéria seca do milho apresentaram, respectivamente, as seguintes amplitudes: 0,01 a 0,18; 0,04 a 2,24 e 0,01 a 1,24 mg.kg-1 e estão abaixo dos níveis considerados críticos para toxicidade. De acordo com MCNICHOL e BECKETT (1985), teores acima de 8 mg.kg-1 de Ni, 4 mg.kg-1 de Cd e 2 mg.kg-1 de Cr podem ocasionar toxicidade em muitas plantas, diminuindo a produção. A amplitude de variação dos teores de Pb na parte aérea do milho foi ligeiramente maior que as verificadas para Ni, Cr e Cd, sendo de 0,01 a 6,1 mg.kg-1. Essas concentrações estão abaixo daquelas consideradas como tóxicas para o milho, 15 mg.kg-1 (GRÜN et al., 1985) e 30 mg.kg-1 (KABATA-PENDIAS e PENDIAS, 1992). Entretanto, comparando-se a concentração de Pb na parte aérea do milho cultivado em solo que não recebeu adição de Zn com a concentração de Pb no milho que recebeu 150 mg.dm-3 de Zn sob a forma de pó-de-aciaria, observa-se que houve, em média, acréscimo de 1,0 e 5,0 mg.kg-1 na concentração de Pb na parte aérea do milho, respectivamente, para o LVd-J e LVd-RP. Embora tenha sido observada variação nos teores de Cd, Cr, Ni e Pb na parte aérea do milho, não houve efeito significativo da dose do pó-de-aciaria na concentração desses metais com exceção para o Pb e Ni. Resultado semelhante foi observado por SILVA (1999) em experimento com pó-de-aciaria em plantas de feijão. Os teores de Zn nos solos apresentaram amplitude de 0,8 a 94,4 mg.dm-3 (DTPA) e 2,3 a 109,3 mg.dm-3 (Mehlich-1) (Figura 2). Cabe destacar que, mesmo tendo sido observados sintomas visuais de toxicidade de Zn nas plantas, os teores do elemento no solo foram inferiores ao teor sugerido como tóxico, 130 mg.kg-1, conforme INTER-DEPARTMENTAL COMMITTEE ON THE REDEVELOPMENT OF CONTAMINATED LAND (1987). É importante mencionar que este teor sugerido como tóxico foi obtido com solução de EDTA 0,05 mol.L-1, enquanto neste experimento utilizaram-se as soluções de DTPA e Mehlich-1 para extraí-lo do solo. Considerando todos os tratamentos, os teores de Pb no solo variaram de 0,23 a 7,23 mg.dm-3 (DTPA) e 0,01 a 7,7 mg.dm-3 (Mehlich-1). Esses resultados estão acima dos teores encontrados por Abreu et al. (1995), em amostras superficiais de solos do Estado de São Paulo, que observaram amplitude de variação para o Pb de 0,8 a 5,9 mg.dm-3 (DTPA) e 1,1 a 2,6 mg.dm-3 (Mehlich-1). Entretanto, estão abaixo de 20 mg.dm-3 de Pb (DTPA), considerado como elevado por WALLACE e WALLACE (1994). Apesar de o Cd, Cr e Ni estarem presentes na constituição química do pó-de-aciaria, a análise de solo por DTPA indicou a presença desses metais em baixas concentrações, 0,01 a 0,15; 0,01 a 0,29 e 0,01 a 0,25 mg.dm-3, sendo impossível detectar esses metais quando se utilizou a solução de Mehlich-1, concordando com ACCIOLY (1996) e SILVA (1999). Esses resultados estão de acordo, também, com os de ABREU et al. (2001) ao analisarem 5.614 amostras do Estado de São Paulo, cujos teores máximos observados de Cd, Cr, e Ni foram 1,0; 0,0 e 1,1 mg.dm-3 respectivamente. Ressalta-se que os teores de Cr e Ni foram inferiores aos níveis considerados como tóxicos, 20 e 25 mg.kg-1 extraídos com EDTA 0,05 mol.L-1 (INTERDEPARTMENTAL COMMITTEE ON THE REDEVELOPMENT OF CONTAMINATED LAND, 1987) e o teor de Cd foi inferior a 3,0 mg.kg-1. Segundo MENGEL e KIRKBY (1987) solos com teores de Cd acima desse valor são impróprios para o cultivo agrícola. É interessante observar o comportamento diferencial dos extratores DTPA e Mehlich-1, usados para avaliar a disponibilidade de Zn às plantas. Verifica-se que o Mehlich-1 apresentou maior capacidade de extração que o DTPA, independentemente do tratamento aplicado (Figura 2). A maior extração do Mehlich-1 deve-se à sua elevada acidez que, provavelmente, solubilizou parte do Zn adsorvido aos óxidos, enquanto o DTPA 7,3, por ser um extrator alcalino, não conseguiu fazê-lo. Resultados semelhantes foram observados por RIBEIRO-FILHO et al. (1999). Os extratores foram eficientes em avaliar a disponibilidade de zinco para plantas de milho (Figura 3). Resultado semelhante foi relatado por ACCIOLY (1996) em experimento com pó-deaciaria em plantas de milho e alface. Os coeficientes de correlação entre o Zn extraído do solo pelas soluções de DTPA e Mehlich-1 e a sua concentração na parte aérea do milho foram menores para o pó-de-aciaria que para o sulfato de zinco, com exceção do DTPA no LVd-RP, que apresentou 0,71 e 0,72 como coeficientes de correlação para o sulfato de zinco e para o pó-de-aciaria (Figura 3). Para o LVdJ os coeficientes de determinação foram: 0,92 e 0,72 (DTPA) e 0,91 e 0,69 (Mehlich-1), respectivamente, para o sulfato de zinco e pó-de-aciaria, sendo observado efeito similar para o LVd-RP. Em uma avaliação mais detalhada do comportamento dos extratores em relação à mudança de pH, observa-se que, independentemente da fonte de zinco utilizada, os extratores foram eficientes em avaliar a disponibilidade do Zn apenas no LVd-J, não o sendo para o LVd-RP, a menos quando se utilizou o sulfato de zinco a pH 6 (Figura 4). Por meio da análise de regressão linear, realizada entre o teor de Zn extraído do solo pelas soluções extratoras e a concentração do elemento na parte aérea do milho (Figura 4), independentemente da fonte utilizada, verifica-se diminuição na disponibilidade do elemento com o aumento do pH. À medida que o pH aumentou de 5,0 para 6,0, houve diminuição dos teores de Zn na parte aérea do milho, independentemente do solo e da fonte utilizada. Com a elevação do pH ocorre a diminuição das formas livres de Zn2+ pela complexação do Zn com o OH- (SHUMAN, 1986). Admitindo-se que a espécie livre Zn2+ é a forma predominantemente absorvida, sua diminuição explica a menor absorção de Zn pelas plantas (MACHADO e PAVAN, 1987). Para ambos os solos verifica-se que o pó-de-aciaria proporcionou menores teores de zinco na parte aérea que o sulfato de zinco, o que pode estar relacionado à sua menor solubilidade em água quando comparado ao sulfato de zinco. Entretanto, também podem estar relacionadas com as diferenças nos constituintes adicionados com os metais, pois os sais metálicos adicionam apenas o ânion ligado ao metal enquanto o pó-de-aciaria adiciona óxidos metálicos. ABREU et al. (1996b) verificaram para o manganês, em plantas de soja, menor eficiência dos óxidos em relação ao sulfato. Em geral, o Zn foi mais disponível no LVd-J que no LVd-RP (Figura 4). Essa tendência se deve às características físico-químicas dos solos. O LVd-J apresenta menor teor de argila e de matéria orgânica que o LVd-RP, que possibilita menor adsorção de Zn nos colóides do solo, tornando-o mais disponível às plantas, fato também registrado por COUTO et al. (1985). Para SHUMAN (1975), solos com elevados conteúdos de matéria orgânica e argila possuem maior capacidade de adsorção e maior energia de ligação para adsorção de Zn, que os arenosos com pouca matéria orgânica e argila. Quanto à capacidade dos extratores em avaliar a disponibilidade dos metais Pb, Cd, Cr e Ni para plantas de milho, verificou-se (dados não apresentados) que nenhum deles foi eficiente. Para os metais Cd, Cr e Ni a falta de correlação pode ter ocorrido, entre outros fatores, em virtude das baixas concentrações nas amostras de solo. Já para o Pb a falta de correlação significativa pode ser decorrente da pequena variação dos teores do elemento no solo e na planta. Resultados semelhantes foram relatados por ABREU et al. (1995) ao avaliar a eficiência dos métodos DTPA e Mehlich-1 para metais pesados. 4. CONCLUSÕES 1. O pó-de-aciaria pode ser considerado potencial fonte de zinco para o milho, sem causar a contaminação do solo por metais pesados. 2. Os extratores DTPA e Mehlich-1 podem ser utilizados como métodos químicos para indicar a fitodisponibilidade de zinco em latossolos adubados com pó-de-aciaria. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, C.A.; ABREU, M.F.; BERTON, R.S. Análise química de solos para metais pesados. In: TÓPICOS CIÊNCIAS DO SOLO. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2002. v.2, p.148. [ Links ] ABREU, C.A.; ABREU, M.F.; RAIJ, B. van; SANTOS, W.R. Comparação de métodos de análise para avaliar a disponibilidade de metais pesados em solos. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v.19, p.463-468, 1995. [ Links ] ABREU, C.A.; RAIJ, B. van.; TANAKA, R.T. Fontes de manganês para a soja na análise de solo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v.20, p.91-97, 1996b. [ Links ] ABREU, C.A.; SANTOS, W.R.; PAZ GONZALEZ, A. Routine Soil Analysis as Diagnostic Criteria for Heavy Metals Contamination. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON THE BIOGEOCHEMISTRY OF TRACE ELEMENTS, 6th 2001. Guelph, Canada. (CD-Rom) [ Links ] ABREU, C.A.; ABREU, M.F.; ANDRADE, J.C. 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O experimento foi realizado em casa de vegetação, utilizando-se dois Latossolos Vermelhos e em dois valores de pH (5,0 e 6,0). As fontes de zinco foram o pó-de-aciaria e o sulfato de zinco aplicados nas doses de 0, 5, 50 e 150 mg.dm-3 de Zn. Fez-se a extração de Zn, Pb, Cd, Cr e Ni do solo utilizando-se as soluções de DTPA e de Mehlich-1. A menor dose de Zn adicionada ao solo, nas duas fontes, proporcionou teores na parte aérea da planta superiores ao nível crítico para a cultura. As concentrações dos metais Pb, Cd, Cr e Ni, tanto na parte aérea como no solo, foram menores que os níveis críticos para toxicidade. Os coeficientes de correlação entre o Zn extraído do solo pelas duas soluções e a concentração de Zn na parte aérea do milho foram significativos e semelhantes para ambos os solos. O mesmo não foi observado para os outros elementos. Conclui-se que, nas condições estudadas, o pó-de-aciaria é uma fonte eficiente de Zn para o milho; os extratores são adequados para determinar a disponibilidade desse elemento, ineficientes, entretanto, para os outros metais estudados. O pH alterou a disponibilidade do Zn diminuindo a disponibilidade com seu aumento. Palavras-chave: metais pesados, resíduo siderúrgico, extratores. ABSTRACT FLUE DUST AS ZINC SOURCE TO CORN AND ITS EFFECT IN HEAVY METALS AVAILABILITY The purpose of this study was to assess the effect of application of increasing doses of flue dust on the accumulation and availability of the metals Zn, Cd, Cu, Ni and Pb in two surface soil samples and in corn plants (Zea mays L.). The experiment was carried out at the Instituto Agronômico de Campinas, São Paulo State, Brazil, under greenhouse conditions, using corn as test plant, grown in two Typic Eutrorthox at two pH levels (5,0 e 6,0). The Zn sources were flue dust and pure ZnSO4 applied at the following rates: 0; 5; 50 and 150 mg.dm-3 Zn. The extraction of Zn, Cd, Pb, Cr and Ni from the soil was accomplished using the DTPA-TEA pH 7,5 and Mehlich-1 solutions methods. The smallest Zn dose added to the soil as flue dust provided higher values than the critical levels for the aerial part of the plant. The Pb, Cd, Cr and Ni concentrations were, in the aerial part and in the soil, lower than the critical levels for toxicity. The correlation coefficients between the Zn extracted from the soil by the two solutions and Zn concentration in corn aerial part were significant and similar in both soils. It may be concluded, in the conditions studied, that flue dust is an efficient source of Zn to corn, and that the extractants were efficient to indicate its phytoavailability, but unefficient to the other metal studied. Zinc availability decreased with increasing pH. Key words: heavy metals, metallurgic residues, extractants. (1) Trabalho financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Parte da tese de Mestrado da primeira autora. Recebido para publicação em 5 de dezembro de 2001 e aceito em 23 de setembro de 2002. (2) Aluna de Mestrado do Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected]. (3) Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais, IAC. 4 ( ) Bolsista da FAPESP. 5 ( ) Com bolsa de produtividade científica do CNPq. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 257-266, 2002 G.C.G. SANTOS et al. 258 1. INTRODUÇÃO As indústrias siderúrgicas produzem vários resíduos que podem causar problemas ambientais, dependendo da forma e do local onde são descartados. Além disso, a disposição desses resíduos pode ser dispendiosa, elevando os custos da empresa. O aproveitamento de alguns desses materiais como fertilizante é uma forma de reduzir custos, bem como o impacto no ambiente (GUIDI et al., 1988). Muitos trabalhos têm mostrado o potencial de resíduos siderúrgicos como corretivos e fertilizantes (A CCIOLY , 1996; A MARAL -S OBRINHO et al., 1997; ANDERSON e PARKPIAN, 1998; SILVA, 1999). Dentre eles, destaca-se o pó-de-aciaria, obtido na produção do aço que contém aproximadamente 12% de Zn e representa fonte potencial deste nutriente para as plantas. Entretanto, o pó-de-aciaria apresenta em sua constituição alguns metais pesados que podem provocar efeitos negativos em componentes bióticos e abióticos do ambiente, quando é utilizado na agricultura ou disposto de forma inadequada, pois pode resultar na transferência desses metais pesados do solo para as plantas e na sua entrada na cadeia alimentar em teores acima dos aceitáveis (PETRUZZELLI et al., 1989). Entre os metais pesados que ocorrem nos resíduos, pode-se citar o Cd, Pb, Cr e Ni, sendo suas concentrações dependentes do processo de geração de cada resíduo. ACCIOLY (1996), utilizando pó-deaciaria contendo 1,3% de Pb, e 0,01% de Cd, observou que os teores desses elementos no milho estavam abaixo dos limitesconsiderados tóxicos para a alimentação humana e animal. Ressalta-se que, dependendo das características físicas e químicas do resíduo, a disponibilidade dos metais pesados nele contidos não é imediata, e sim gradual, liberando-os à medida que o resíduo vai reagindo com os constituintes do solo. As propriedades físicas e químicas do solo também são importantes por influenciarem a disponibilidade dos metais para as plantas (MATOS et al., 1995). Muitos trabalhos têm demonstrado que a retenção e solubilidade dos metais pesados no solo são fortemente influenciadas pelo pH (HARTER, 1983; C UNHA et al., 1994; M ARTINEZ e M OTTO , 2000; ALCÂNTARA e CAMARGO, 2001; DIAS et al., 2001), pela quantidade de metal no solo (BASTA e TABATABAI, 1992), pela CTC (ZIPER et al., 1988; CUNHA et al., 1994), pela matéria orgânica (ELLIOT et al., 1986; LEWIS e RULE, 2001) e pela mineralogia do solo (ZIPER et al., 1988). O pH possui forte influência na retenção de metais no solo, sendo esta maior em pH elevado (BASTA et Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 257-266, 2002 al., 1993; CUNHA et al., 1994; MARTINEZ e MOTTO, 2000; ALCÂNTARA e CAMARGO, 2001; DIAS et al., 2001). A disponibilidade de metais pesados, incluindo Pb, Ni, Cd e Cu nos solos, decresceu rapidamente quando o pH do solo aumentou de quatro para seis (MAZUR , 1997). A solubilidade do Zn no solo é altamente dependente do pH, decrescendo cem vezes para cada aumento de uma unidade no pH (LINDSAY, 1972). Além disso, solos com teores elevados de argila e matéria orgânica, por apresentarem maior CTC, possuem maior capacidade de retenção de metais catiônicos que solos mais arenosos e com teores menores de matéria orgânica (SHUMAN, 1985; CUNHA et al., 1994; MATOS et al., 1996; AMARAL et al., 1996). A matéria orgânica, embora represente, em geral, menos de 5% dos componentes sólidos, é responsável por, aproximadamente, 30% a 65% da CTC dos solos minerais e mais de 50% da CTC dos solos arenosos e orgânicos, daí sua importância na retenção de metais no solo. A disponibilidade do metal pode ser avaliada usando-se um extrator apropriado, no qual a quantidade extraída é correlacionada com a quantidade ou com a concentração do elemento nas plantas. É o sistema mais empregado nas pesquisas (A BREU et al., 2002). Os extratores podem ser classificados em diversas categorias, dentre elas, soluções ácidas e soluções complexantes. Os extratores ácidos extraem os metais, principalmente, pela dissolução dos minerais de argila, sendo a quantidade dependente da concentração do ácido, do tempo de extração e da relação solo/solução. As soluções ácidas mais testadas para extração das formas disponíveis de metais para as plantas são: HCl 0,1 mol.L-1 e Mehlich1. As soluções quelantes combinam-se com o íon metálico em solução formando complexos solúveis, diminuindo a sua atividade iônica na solução do solo. Em conseqüência, os íons dessorvem da superfície do solo ou da fase sólida para restabelecer o equilíbrio das formas iônicas na solução (ABREU et al., 2002). Os agentes quelantes mais usados, visando à seleção de métodos químicos para avaliar a disponibilidade de metais em amostras de solos brasileiros são o EDTA e o DTPA pH 7,3 (BATAGLIA e RAIJ, 1994) sendo este o mais difundido (ABREU et al., 1995). O DTPA foi desenvolvido, inicialmente, para avaliar a disponibilidade de Cu, Fe, Mn, e Zn, e o Mehlich-1, para verificar a disponibilidade de P e cátions trocáveis. Esses métodos, entretanto, tiveram seu uso ampliado e atualmente têm sido usados também para Pb, Cd e Ni (KORCAK e FANNING, 1978; SCHARUER et al., 1980; SOLTANPOUR, 1991). SILVA (1999) verificou que a solução de HCl 0,1 mol.L-1 mostrou- Pó-de-aciaria como Fonte de Zinco para o Milho se eficiente para avaliar a disponibilidade do Zn em solos que receberam o pó-de-aciaria; ineficiente, porém para avaliar a disponibilidade do Pb e do Cu. RIBEIRO-FILHO et al. (2001), trabalhando com as soluções de DTPA e Mehlich-1, observaram que ambas foram adequadas para avaliar a disponibilidade de Cd, Ni, Zn e Pb. Resultados semelhantes foram observados por ABREU et al. (1998) para Pb extraído com DTPA e Mehlich-3. ACCIOLY (1996), ao avaliar o efeito da aplicação de um pó-de-aciaria ao solo, constatou que os extratores Mehlich-1 e DTPA não foram eficientes em extrair o Pb e o Cd do solo, sendo apenas para o Zn. Percebe-se que para os metais Cd, Pb, Cr e Ni ainda não há uma definição clara de pesquisa sobre quais métodos usar. No Brasil, os resultados obtidos relativo ao emprego de diferentes extratores de metais pesados do solo são bastante contraditórios, em especial, aqueles referentes à disponibilidade de Pb, Cd, Cr e Ni, metais freqüentemente encontrados em resíduos siderúrgicos (ABREU et al., 1995). Tendo em vista o potencial de uso de pó-de-aciaria como fonte de zinco para as plantas, a possibilidade de acúmulo de metais não desejados no solo por esse material, sua disponibilidade para as plantas e a sua entrada na cadeia alimentar, deve-se investigar a utilização agronômica desse resíduo. Por isso, o objetivo deste trabalho foi avaliar a disponibilidade de zinco para o milho e o acúmulo de metais pesados no solo e na planta pelo uso do pó-de-aciaria. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em casa de vegetação, em Campinas (SP), de novembro de 2000 a janeiro de 2001, utilizando-se amostras superficiais (0-20 cm de profundidade) de dois Latossolos Vermelhos, coletadas nos municípios de Rio das Pedras e Jaboticabal (SP), identificadas e aqui denominadas LVd-RP e LVd-J respectivamente. Os solos apresentaram as seguintes características: matéria orgânica = 33 e 27 g.dm-3; pH em CaCl2 0,01 mol.L-1 = 4,1 e 4,3; argila = 320 e 250 g.kg-1; areia fina = 260 e 340 g.kg -1 e areia grossa 170 e 310 g.kg -1 , respectivamente, para LVd-RP e LVd-J. O resíduo utilizado, proveniente de uma indústria paulista produtora de aço, apresentou, além da granulometria muito fina, em forma de pó, os seguintes teores de metais extraídos pelo método da água-régia (ABREU et al., 1996a): Fe = 684 g.kg-1; Zn = 122 g.kg-1; Mn = 63 g.kg-1; Pb = 24 g.kg-1; Cr = 6,0 g.kg-1; Al = 3,5 g.kg-1; Cu = 2,3 g.kg-1; Ni = 0,48 g.kg-1 e Cd = 0,13 g.kg-1, apresentando, também, pH CaCl2 = 9,4 e pH H2O = 9,6. 259 As amostras de solo foram secas, peneiradas e, seqüencialmente, aplicaram-se CaCO3 e MgO p.a. na relação 4:1 de Ca/Mg na quantidade necessária para elevar o pH em CaCl2 0,01 mol.L-1 de cada amostra de solo a 5,0 e a 6,0, segundo curva de incubação. O período de incubação foi de 15 dias, mantendo-se a umidade próxima à capacidade de campo. Decorrido esse período, realizou-se a adubação básica misturando-se ao solo, 300 mg.dm-3 de fósforo, na forma de superfosfato triplo granulado (passado em peneira de 2 mm). Além do P, misturou-se às amostras uma solução contendo o equivalente a, em mg.dm-3, 60 de N, 100 de K, 30 de S, 1 de Cu e 0,5 de B. Utilizaram-se como fonte desses elementos o nitrato de potássio, sulfato de amônio, ácido bórico e sulfato de cobre. Todos os reagentes utilizados foram de grau analítico. O delineamento experimental foi inteiramente casualisado, em esquema fatorial, 2 (produtos) x 4 (doses) x 2 (pH) x 2 (solos), com três repetições. Os produtos foram o pó-de-aciaria e o sulfato de zinco p.a., aplicados nas doses 0, 5, 50 e 150 mg.dm-3 de Zn. Decorridos sete dias da aplicação dos tratamentos, retirou-se uma subamostra de 100 cm3 de solo de cada vaso de plástico, com capacidade de 2 L, a fim de determinar os teores de Zn, Pb, Cd, Cr e Ni. Os extratores utilizados foram: (a) DTPA (LINDSAY e NORVELL, 1978) e (b) Mehlich-1 (MEHLICH, 1953). As relações solo:solução foram de 1:2 (DTPA) e 1:10 (Mehlich-1). Determinaram-se os teores dos metais nos extratos por espectrometria de emissão atômica com plasma de argônio (ICP-AES). Procedeu-se a semeadura do milho, híbrido BR 201, utilizando-se dez sementes por vaso, deixando-se, depois do desbaste, cinco plantas. Após o desbaste, em intervalos de cinco dias, adicionaram-se 20 mL por vaso de uma solução contendo 50 mg.dm-3 de N por aplicação. Usaramse como fontes o nitrato de cálcio e o de sulfato de amônio de forma alternada. Realizou-se o corte da parte aérea aos 50 dias da emergência, sendo o material seco em estufa com circulação forçada de ar a 70 ºC até peso constante, moído e submetido à digestão via úmida, em forno microondas, de acordo com ABREU (1997). Os dados foram submetidos à análise de regressão simples entre os teores de metais na parte aérea do milho e os extraídos dos solos pelos dois extratores. O programa de análise estatística empregado foi o MINITAB versão 13.0. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 257-266, 2002 G.C.G. SANTOS et al. 260 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A produção de matéria seca da parte aérea do milho não foi influenciada significativamente pela aplicação de doses crescentes de Zn ao solo (dados não apresentados), independentemente da fonte ou do solo, indicando que o teor natural de Zn dos solos era suficiente para atender a demanda das plantas. Resultado semelhante foi relatado por ACCIOLY (1996) em experimento com pó-de-aciaria e plantas de milho e alface. Como a concentração e o acúmulo de Zn na matéria seca da parte aérea do milho revelaram comportamentos semelhantes, optou-se por apresentar somente a concentração de Zn na parte aérea. Os teores de Zn na parte aérea do milho variaram de 14,4 a 522,8 mg.kg-1 no LVd-J e de 18,1 a 267,5 mg.kg-1 no LVd-RP, ultrapassando o teor considerado como tóxico, 95 mg.kg-1 (GUPTA e GUPTA, 1998), nas doses mais altas das duas fontes. Resultados semelhantes foram observados por SILVA (1999) e ACCIOLY (1996). Ressalta-se que na avaliação visual das plantas, aos 40 dias da emergência, notou-se o amarelecimento das folhas mais novas naqueles tratamentos que receberam 150 mg.dm-3 de Zn, independentemente do solo ou do pH, o que pode ser decorrente da toxicidade de Zn (ADRIANO et al., 1971). Para ambas as fontes testadas, o aumento da dose de zinco foi acompanhado pelo aumento da concentração do nutriente na parte aérea das plantas de milho, sendo a relação linear e significativa (Figura 1). Entretanto, o pó-de-aciaria proporcionou teores de Zn na parte aérea do milho menores que o sulfato de zinco, discordando dos resultados apresentados por ACCIOLY (1996) e SILVA (1999) que encontraram teores de zinco na parte aérea maiores nos tratamentos com pó-de-aciaria que nos tratamentos com sulfato de zinco. No LVd-J, com a aplicação de 50 mg.dm-3 de Zn ao solo, foram obtidos 78,93 e 151,89 mg de Zn por quilo de matéria seca, respectivamente, para o póde-aciaria e para o sulfato de zinco; a mesma tendência foi observada para o LVd-RP. Ressalta-se que mesmo usando a menor dose (5 mg.dm-3), esta foi suficiente para proporcionar teores de Zn na parte aérea acima do nível crítico para plantas de milho que está em torno de 15 mg.kg-1 (TERMAN et al., 1972). Esses resultados evidenciaram que, apesar de o póde-aciaria ser capaz de suprir a planta em Zn, a dose necessária será maior que aquela recomendada para o sulfato de zinco, graças à sua menor solubilidade. As maiores concentrações de Zn na parte aérea do milho ocorreram quando as plantas foram cultivadas no LVd-J (Figura 1). Essa diferença pode ser em virtude das características físico-químicas dos solos, Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 257-266, 2002 Figura 1. Concentração de zinco na parte aérea do milho, influenciada por doses de zinco supridas via sulfato de zinco (SZ) e pó-de-aciaria (PÓ) a dois latossolos. *, **: Significativos ao nível de 5% e 1% respectivamente. uma vez que o LVd-RP apresentou teores de argila e matéria orgânica maiores que o LVd-J, o que pode ter proporcionado maior retenção de zinco nesse solo. De acordo com alguns autores, solos com teores elevados de argila e matéria orgânica, por apresentarem maior CTC, possuem maior capacidade de retenção de zinco que solos mais arenosos e com menores teores de matéria orgânica (CUNHA et al., 1994; MATOS et al., 1996). Os teores de Cd, Cr e Ni na matéria seca do milho apresentaram, respectivamente, as seguintes amplitudes: 0,01 a 0,18; 0,04 a 2,24 e 0,01 a 1,24 mg.kg1 e estão abaixo dos níveis considerados críticos para toxicidade. De acordo com MC NICHOL e BECKETT (1985), teores acima de 8 mg.kg-1 de Ni, 4 mg.kg-1 de Cd e 2 mg.kg-1 de Cr podem ocasionar toxicidade em muitas plantas, diminuindo a produção. A amplitude de variação dos teores de Pb na parte aérea do milho foi ligeiramente maior que as verificadas Pó-de-aciaria como Fonte de Zinco para o Milho para Ni, Cr e Cd, sendo de 0,01 a 6,1 mg.kg-1. Essas concentrações estão abaixo daquelas consideradas como tóxicas para o milho, 15 mg.kg-1 (GRÜN et al., 1985) e 30 mg.kg-1 (KABATA-PENDIAS e PENDIAS, 1992). Entretanto, comparando-se a concentração de Pb na parte aérea do milho cultivado em solo que não recebeu adição de Zn com a concentração de Pb no milho que recebeu 150 mg.dm-3 de Zn sob a forma de pó-de-aciaria, observa-se que houve, em média, acréscimo de 1,0 e 5,0 mg.kg-1 na concentração de Pb na parte aérea do milho, respectivamente, para o LVd-J e LVd-RP. Embora tenha sido observada variação nos teores de Cd, Cr, Ni e Pb na parte aérea do milho, não houve efeito significativo da dose do pó-de-aciaria na concentração desses metais com exceção para o Pb e Ni. Resultado semelhante foi observado por SILVA (1999) em experimento com póde-aciaria em plantas de feijão. Os teores de Zn nos solos apresentaram amplitude de 0,8 a 94,4 mg.dm-3 (DTPA) e 2,3 a 109,3 mg.dm-3 (Mehlich-1) (Figura 2). Cabe destacar que, mesmo tendo sido observados sintomas visuais de toxicidade de Zn nas plantas, os teores do elemento no solo 261 foram inferiores ao teor sugerido como tóxico, 130 mg.kg-1, conforme INTER-DEPARTMENTAL COMMITTEE ON THE REDEVELOPMENT OF CONTAMINATED LAND (1987). É importante mencionar que este teor sugerido como tóxico foi obtido com solução de EDTA 0,05 mol.L-1, enquanto neste experimento utilizaram-se as soluções de DTPA e Mehlich-1 para extraí-lo do solo. Considerando todos os tratamentos, os teores de Pb no solo variaram de 0,23 a 7,23 mg.dm-3 (DTPA) e 0,01 a 7,7 mg.dm-3 (Mehlich-1). Esses resultados estão acima dos teores encontrados por ABREU et al. (1995), em amostras superficiais de solos do Estado de São Paulo, que observaram amplitude de variação para o Pb de 0,8 a 5,9 mg.dm-3 (DTPA) e 1,1 a 2,6 mg.dm-3 (Mehlich-1). Entretanto, estão abaixo de 20 mg.dm-3 de Pb (DTPA), considerado como elevado por WALLACE e WALLACE (1994). Apesar de o Cd, Cr e Ni estarem presentes na constituição química do pó-de-aciaria, a análise de solo por DTPA indicou a presença desses metais em baixas concentrações, 0,01 a 0,15; 0,01 a 0,29 e 0,01 a 0,25 mg.dm-3, sendo impossível detectar esses metais quando se utilizou a solução de Mehlich-1, Figura 2. Teores de zinco extraídos pelas soluções de DTPA e Mehlich-1 influenciados por doses de zinco supridas via pó-de-aciaria (PÓ) e sulfato de zinco (SZ) a dois latossolos. **: Significativo ao nível de 1%. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 257-266, 2002 262 G.C.G. SANTOS et al. Figura 3. Relação entre os teores de zinco extraídos dos latossolos pelas soluções de DTPA e Mehlich-1 e a concentração do elemento na matéria seca da parte aérea do milho. *, **: Significativos ao nível de 5% e 1% respectivamente. concordando com ACCIOLY (1996) e SILVA (1999). Esses resultados estão de acordo, também, com os de ABREU et al. (2001) ao analisarem 5.614 amostras do Estado de São Paulo, cujos teores máximos observados de Cd, Cr, e Ni foram 1,0; 0,0 e 1,1 mg.dm -3 respectivamente. Ressalta-se que os teores de Cr e Ni foram inferiores aos níveis considerados como tóxicos, 20 e 25 mg.kg-1 extraídos com EDTA 0,05 mol.L -1 (I NTER -D EPARTMENTAL C OMMITTEE ON THE REDEVELOPMENT OF CONTAMINATED LAND, 1987) e o teor de Cd foi inferior a 3,0 mg.kg-1. Segundo MENGEL e KIRKBY (1987) solos com teores de Cd acima desse valor são impróprios para o cultivo agrícola. É interessante observar o comportamento diferencial dos extratores DTPA e Mehlich-1, usados para avaliar a disponibilidade de Zn às plantas. Verifica-se que o Mehlich-1 apresentou maior capacidade de extração que o DTPA, independentemente do tratamento aplicado (Figura 2). A maior extração do Mehlich-1 deve-se à sua elevada acidez Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 257-266, 2002 que, provavelmente, solubilizou parte do Zn adsorvido aos óxidos, enquanto o DTPA 7,3, por ser um extrator alcalino, não conseguiu fazê-lo. Resultados semelhantes foram observados por RIBEIRO-FILHO et al. (1999). Os extratores foram eficientes em avaliar a disponibilidade de zinco para plantas de milho (Figura 3). Resultado semelhante foi relatado por ACCIOLY (1996) em experimento com pó-de-aciaria em plantas de milho e alface. Os coeficientes de correlação entre o Zn extraído do solo pelas soluções de DTPA e Mehlich-1 e a sua concentração na parte aérea do milho foram menores para o póde-aciaria que para o sulfato de zinco, com exceção do DTPA no LVd-RP, que apresentou 0,71 e 0,72 como coeficientes de correlação para o sulfato de zinco e para o pó-de-aciaria (Figura 3). Para o LVd-J os coeficientes de determinação foram: 0,92 e 0,72 (DTPA) e 0,91 e 0,69 (Mehlich-1), respectivamente, para o sulfato de zinco e pó-deaciaria, sendo observado efeito similar para o LVd-RP. Pó-de-aciaria como Fonte de Zinco para o Milho 263 Figura 4. Relação entre os teores de zinco extraídos dos dois latossolos pelas soluções de DTPA e Mehlich-1 e a concentração do elemento na matéria seca da parte aérea do milho em dois diferentes valores de pH (5 e 6). ns, *, **: Não significativo e significativos ao nível de 5% e 1% respectivamente. Em uma avaliação mais detalhada do comportamento dos extratores em relação à mudança de pH, observa-se que, independentemente da fonte de zinco utilizada, os extratores foram eficientes em avaliar a disponibilidade do Zn apenas no LVd-J, não o sendo para o LVd-RP, a menos quando se utilizou o sulfato de zinco a pH 6 (Figura 4). Por meio da análise de regressão linear, realizada entre o teor de Zn extraído do solo pelas soluções extratoras e a concentração do elemento na parte aérea do milho (Figura 4), independentemente da fonte utilizada, verifica-se diminuição na disponibilidade do elemento com o aumento do pH. À medida que o pH aumentou de 5,0 para 6,0, houve diminuição dos teores de Zn na parte aérea do milho, independentemente do solo e da fonte utilizada. Com a elevação do pH ocorre a diminuição das formas livres de Zn2+ pela complexação do Zn com o OH(SHUMAN, 1986). Admitindo-se que a espécie livre Zn2+ é a forma predominantemente absorvida, sua diminuição explica a menor absorção de Zn pelas plantas (MACHADO e PAVAN, 1987). Para ambos os solos verifica-se que o pó-de-aciaria proporcionou menores teores de zinco na parte aérea que o sulfato de zinco, o que pode estar relacionado à sua menor solubilidade em água quando comparado ao sulfato de zinco. Entretanto, também podem estar relacionadas com as diferenças nos constituintes adicionados com os metais, pois os sais metálicos adicionam apenas o ânion ligado ao metal enquanto o pó-de-aciaria adiciona óxidos metálicos. ABREU et al. (1996b) verificaram para o manganês, em plantas de soja, menor eficiência dos óxidos em relação ao sulfato. Em geral, o Zn foi mais disponível no LVd-J que no LVd-RP (Figura 4). Essa tendência se deve às características físico-químicas dos solos. O LVd-J apresenta menor teor de argila e de matéria orgânica que o LVd-RP, que possibilita menor adsorção de Zn nos colóides do solo, tornando-o mais disponível às plantas, fato também registrado por COUTO et al. (1985). Para SHUMAN (1975), solos com elevados conteúdos de matéria orgânica e argila possuem maior capacidade de adsorção e maior energia de Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 257-266, 2002 G.C.G. SANTOS et al. 264 ligação para adsorção de Zn, que os arenosos com pouca matéria orgânica e argila. Quanto à capacidade dos extratores em avaliar a disponibilidade dos metais Pb, Cd, Cr e Ni para plantas de milho, verificou-se (dados não apresentados) que nenhum deles foi eficiente. Para os metais Cd, Cr e Ni a falta de correlação pode ter ocorrido, entre outros fatores, em virtude das baixas concentrações nas amostras de solo. Já para o Pb a falta de correlação significativa pode ser decorrente da pequena variação dos teores do elemento no solo e na planta. Resultados semelhantes foram relatados por ABREU et al. (1995) ao avaliar a eficiência dos métodos DTPA e Mehlich-1 para metais pesados. 4. CONCLUSÕES 1. O pó-de-aciaria pode ser considerado potencial fonte de zinco para o milho, sem causar a contaminação do solo por metais pesados. 2. Os extratores DTPA e Mehlich-1 podem ser utilizados como métodos químicos para indicar a fitodisponibilidade de zinco em latossolos adubados com pó-de-aciaria. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, C.A.; ABREU, M.F.; BERTON, R.S. Análise química de solos para metais pesados. In: TÓPICOS CIÊNCIAS DO SOLO. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2002. v.2, p.1-48. ABREU, C.A.; ABREU, M.F.; RAIJ, B. van; SANTOS, W.R. Comparação de métodos de análise para avaliar a disponibilidade de metais pesados em solos. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v.19, p.463-468, 1995. 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E-mail: [email protected] IICom bolsa de produtividade científica do CNPq RESUMO Considerando-se que uma forma de prover fosfato disponível para as plantas é através da atividade mineralizadora microbiana do fósforo orgânico, avaliou-se a influência da planta (braquiária, guandu e sem planta), dos fertilizantes (superfosfato simples, fosfato de rocha e sem adubo) e da calagem (com e sem calcário) nas populações de microrganismos produtores de fosfatases ácida e alcalina. Do total de bactérias, 70,6% apresentaram atividade de fosfatase alcalina e 58,2% de fosfatase ácida e dos fungos, 64,3% e 84,7% respectivamente. Esses dados mostram número significativo de microrganismos com habilidade de mineralização do fósforo orgânico. Observou-se efeito restritivo do guandu sobre as bactérias e fungos produtores de fosfatases alcalina e ácida, cujos números foram sempre inferiores aos obtidos com a cultura de braquiária ou com as parcelas sem cultivo. Maior número de bactérias produtoras de fosfatase alcalina foi obtido nos tratamentos com superfosfato e controle do que com fosfato de rocha. Ao contrário, para os fungos, encontrou-se maior número nas parcelas não fertilizadas que as adubadas com fosfato. O número de fungos com atividade de fosfatase ácida diminuiu por efeito da calagem, enquanto o das bactérias aumentou. Finalmente, o número de bactérias produtoras de fosfatase alcalina superou o de fungos. Palavras-chave: bactérias, fungos, fosfatase ácida, fosfatase alcalina, fosfato de rocha, superfosfato, braquiária, guandu, calagem. ABSTRACT Considering that one way for providing available phosphate to plants is by the microbial activity for the mineralization of organic phosphorus, the influence of plants (Brachiaria ruziziensis, Cajanus cajan and control), fertilizers (superphosphate, rock phosphate and control) and liming (with and without lime) was evaluated in the microorganisms populations of the acid and alkaline phosphatase producers. Among bacteria, 70,6% showed alkaline phosphatase activity and 58,2% acid phosphatase activity and among fungi, 64,3% and 84,7%, respectively. These numbers show that a significant population of microorganisms shows ability for organic phosphorus mineralization. Restrictive effect of the C. cajan was observed on the bacteria and fungi producers of the alkaline and acid phosphatases whose numbers always were lower to those obtained with the B. ruziziensis or with the plots without cultivation. Larger number of alkaline phosphatase bacterial producers was obtained in the treatments with superphosphate and control than that with rock phosphate. On the opposite, for fungi, a larger number was found in the plots with no fertilizer compared to the ones with fertilizer. The population of fungi having acid phosphatase activity decreased in the limed plots whereas the bacterial population increased. Finally, the alkaline phosphatase bacterial producers showed higher enzymatic activity than those of the fungi. Key words: bacteria, fungi, acid phosphatase, alkaline phosphatase, rock phosphate, superphosphate, Brachiaria ruziziensis, Cajanus cajan, liming. 1. INTRODUÇÃO Os microrganismos são reconhecidos por sua habilidade em promover transformações bioquímicas dos nutrientes e por sua importância em prover os elementos nutritivos de interesse às plantas, principalmente N, P e S (PAUL e CLARK, 1989). Pode-se inferir essas transformações pela quantificação do número de microrganismos ou por sua atividade (NANNIPIERI et al., 1978; VIEIRA e NAHAS, 1998). Pelas transformações dos compostos fosfatados, por meio de reações de solubilização do fósforo inorgânico e de mineralização do fósforo orgânico, forma-se fosfato solúvel que pode ser utilizado pelas plantas para seu crescimento (BERTON et al., 1997). Contudo, pouca importância tem sido dada aos compostos orgânicos fosfatados uma vez que em inúmeros solos constituem a maior fração do fósforo, podendo contribuir para o crescimento de plantas. Os compostos P-orgânicos do solo constituem-se, principalmente, por fitinas, ácidos nucléicos, fosfolipídeos e seus derivados (CASIDA, 1959) e são hidrolisados por enzimas dos grupos das fitases, nucleases e fosfolipases, podendo formar, no final do processo de hidrólise, fosfomonoésteres que são hidrolisados pelas fosfomonoesterases (PANG e KOLENKO, 1986). Essas enzimas são conhecidas genericamente pelo nome de fosfatases e catalisam a hidrólise de compostos fosfatados orgânicos com a produção de fósforo solúvel. Inúmeras fosfatases são reconhecidas por sua habilidade em hidrolisar mono ou diésteres fosfóricos (FEDER, 1973), tendo sido estudadas em vários microrganismos em seus aspectos bioquímicos e fisiológicos (HAN et al., 1987). No solo, têm-se contemplado os estudos sobre o isolamento e a caracterização dos microrganismos, mas não com o objetivo de avaliar o potencial de mineralização do P orgânico pelas populações microbianas em diferentes ambientes. Mais de 2.000 culturas foram isoladas de 68 solos em meios enriquecidos, observando-se que a atividade de fitase extracelular foi encontrada nos fungos mas não em bactérias e leveduras (SHIEH e WARE, l968). GREAVES et al. (1970) demonstraram que a bactéria isolada de solo Cytophaga johnsonii produziu nucleases extracelulares que degradaram rapidamente DNA e RNA produzindo ortofosfato inorgânico. Microrganismos isolados de três espécies de gramíneas de pastagem mostraram habilidade em degradar fenolftaleína difosfato, glicerofosfato de sódio, fitato de sódio, lecitina e os ácidos nucléico e ribonucléico (GREAVES e WEBLEY, 1965). Dentre as três bactérias isoladas de solo, uma, pertencente ao gênero Pseudomonas, apresentou alta atividade de fitase e as outras, atividade enzimática para degradação de pentafosfatos e tetrafosfatos (COSGROVE et al., 1970). A bactéria isolada do solo contaminado por chumbo, Citrobacter sp., mostrou habilidade em acumular fosfato de cádmio em decorrência da produção de ácido fosfórico liberado pela fosfatase secretada pela bactéria ( MONTGOMERY et al., 1995). Populações de microrganismos de solo produtores das fosfatases ácida e alcalina ou os fatores que influenciam seu crescimento têm sido pouco estudados. Linhagens de Rhizobium apresentaram altos níveis de fosfatase alcalina mas não as três linhagens de Bradyrhizobium (SMART et al., 1984). Inúmeras fosfatases têm sido observadas em fungos micorrízicos (TARAFDAR, 1995). Embora sem estabelecer uma relação significativa, TARAFDAR e JUNGK (1987) mostraram que o aumento da atividade das fosfatases ácida e alcalina correspondeu ao aumento da comunidade de fungos e bactérias na rizosfera de várias plantas. Tem-se relatado que a atividade das fosfatases de microrganismos foi reprimida por concentrações crescentes de fosfato (NAHAS, 1989). Sugeriu-se que o aumento das populações de microrganismos solubilizadores decorreu da baixa disponibilidade de fósforo em solo adicionado de fosfato natural (MACHADO et al., 1983). Além disso, esse efeito solubilizador estaria sujeito a um mecanismo de controle pela concentração de fosfato (NAHAS e ASSIS, 1992). A velocidade de mineralização foi positivamente associada ao pH do solo (THOMPSON et al., 1954) e ao teor de matéria orgânica (BRAMS, 1973). A aplicação de diferentes materiais orgânicos acarretou aumento na liberação de fosfato solúvel em solo tratado com fosfato natural (MINHONI et al., 1991). MCKERCHER e TOLLEFSON (1978) demonstraram que a mineralização de fosfolipídeos e ácidos nucléicos forneceu a quantidade de fosfato necessária ao desenvolvimento de cevada. O objetivo deste estudo foi quantificar a comunidade de microrganismos mineralizadores do fósforo orgânico, produtores de fosfatases ácida e alcalina, bem como o efeito do manejo agrícola, caracterizado pela variação do tipo de planta, da fonte de fósforo e da calagem, sobre essas populações. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Realização do ensaio A gramínea Brachiaria ruziziensis (braquiária) e a leguminosa Cajanus cajan (guandu) foram cultivadas em parcelas de 18 m2 de Latossolo Vermelho-Escuro, em Comendador Gomes (MG), contendo 1,5 g.kg-1 de MO; 4 mg.dm-3 de P e pH em CaCl2, 4,5. Nessas parcelas, aplicaram-se 400 kg.ha-1 de P2O5 na forma de superfosfato simples ou fosfato natural de Araxá; 1,3 t.ha-1 de calcário e, aos 30 dias, 60 kg.ha-1 de N em cobertura. O ensaio de campo e a coleta das amostras foram descritos em trabalho anterior (BARROTI e NAHAS, 2000). Um total de 10 subamostras de cada parcela, coletadas na profundidade de 0 a 20 cm, foi reunido em amostras compostas, peneiradas em peneira de malha de 2 mm e conservadas em sacos plásticos à temperatura de 4 oC. 2.2. Contagem de microrganismos Para a contagem de bactérias e fungos totais do solo utilizaram-se os meios de BUNT e ROVIRA (1955) e de MARTIN (1950) e os procedimentos utilizados foram descritos em BARROTI e NAHAS (2000). Das bactérias e fungos crescidos nesses meios, obteve-se um total de 900 e 720 isolados, respectivamente, selecionados com base em suas características morfológicas. Os isolados foram conservados em geladeira à temperatura de 4 ºC (BARROTI, 1998). Para as contagens de microrganismos produtores das fosfatases ácida e alcalina e a medida da atividade enzimática, os isolados foram inoculados no centro de placas contendo meio salino acrescido de 1,5% (p/v) de ágar, corrigindo-se o pH para 7,4 para as bactérias e 5,6 para os fungos (NAHAS et al., 1994b), e incubados por 2 a 3 dias à temperatura de 25 oC. Mediu-se o diâmetro das colônias e, a seguir, as placas foram inundadas com solução de pnitrofenilfosfato 6 mmol.L-1 acrescido de tampão-acetato 0,1 mol.L-1, pH 5,4, para a fosfatase ácida e de tampão-glicina 0,3 mol.L-1, pH 9,0 para a fosfatase alcalina e incubadas a 37 oC por 90 minutos. Mediu-se, também, o diâmetro do halo amarelo formado pela transformação do pnitrofenilfosfato, resultante da atividade das fosfatases. A relação entre os dois diâmetros constituiu o índice adotado para avaliar a habilidade do microrganismo em produzir a enzima fosfatase. A proporção de isolados de cada tratamento, com atividade das enzimas estudadas, permitiu estimar as populações de microrganismos produtores das fosfatases. 2.3. Análise estatística Os 18 tratamentos foram arranjados em um experimento em blocos ao acaso com fatorial, 3 x 3 x 2 (duas espécies vegetais e ausência de planta; dois tipos de adubo fosfatado e ausência de adubo; e com e sem calagem) com duas repetições e as médias, analisadas pelo teste de Tukey (P < 0,05). Os resultados das contagens microbianas foram transformados em log x. Realizou-se a análise estatística dos dados utilizando-se o programa ESTAT. Análises de correlação foram efetuadas, calculando-se a equação de regressão e o coeficiente de correlação linear (r). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os números de bactérias com atividade da fosfatase ácida variaram de 2,64 a 7,95 x 106 ufcs.g-1 de solo seco e apresentaram uma média de 4,54 x 106 ufcs.g-1 de solo seco, que correspondeu a 58,2% do total de bactérias (Quadro 1). O maior número foi encontrado no solo cultivado com braquiária, 5,89 x 106 ufcs.g-1 de solo seco, representando um acréscimo significativo de 19,8% em relação ao controle e de 38% em relação ao guandu. Ocorreu, também, aumento significativo de 15,9% do número encontrado em solo com calcário em relação ao solo que não se adicionou esse nutriente. A adubação com os fosfatos não influiu no número de bactérias produtoras de fosfatase ácida, não se encontrando interação significativa entre os tratamentos. Os números de bactérias com atividade de fosfatase alcalina variaram de 3,62 a 8,24 x 106 ufcs.g-1 de solo seco dependendo do tratamento considerado (Quadro 1); apresentaram uma média de 5,52 x 106 ufcs.g-1 de solo seco que correspondeu a 70,6% do total de bactérias. No solo cultivado com guandu, observou-se a menor contagem, constituindo redução significativa (P < 0,05) de 21,2% em relação ao controle e de 26,9% em relação ao solo cultivado com braquiária. A adição de superfosfato no solo aumentou significativamente o número de bactérias produtoras da fosfatase alcalina (média de 6,18 x 106 ufcs.g-1 de solo seco) em relação à contagem observada em solo com adição de fosfato natural (média de 4,91 x 106 ufcs.g-1 solo seco) mas não a do controle (média de 5,53 x 106 ufcs.g-1 de solo seco). Não foi obtido efeito significativo da calagem ou da interação entre os tratamentos (P < 0,05) (Quadro 1). O número de colônias de fungos com atividade da fosfatase ácida variou de 6,28 a 14,63 x 104 ufcs.g-1 de solo seco, obtendo-se uma média de 10,47 x 104 ufcs.g-1 de solo seco, que correspondeu a 84,7% do total de fungos (Quadro 2). Constatou-se efeito significativo da planta e da calagem mas não do adubo; as maiores contagens foram obtidas na ausência de planta. A média verificada no tratamento sem planta, 10,99 x 104 ufcs.g-1 de solo seco, diferiu significativamente do tratamento com guandu (média de 10,04 x 104 ufcs.g-1 de solo seco) mas não do tratamento com braquiária (média de 10,39 x 104 ufcs.g-1 de solo seco). Embora com uma diferença de apenas 5,6%, constatou-se diferença significativa entre os tratamentos com calagem (média de 10,77 x 104 ufcs.g-1 de solo seco) e sem calagem (média de 10,17 x 104 ufcs.g-1 de solo seco). Todas as interações entre os tratamentos foram significativas, observando-se aumento do número de colônias de fungos produtores da fosfatase ácida (Quadro 2) nas parcelas não adubadas e não cultivadas em relação aos demais tratamentos. Quando se fez a adubação com superfosfato, obteve-se maior contagem de fungos no solo com braquiária que nas demais condições e quando se utilizou fosfato natural, a maior contagem ocorreu no solo de guandu com calagem. O número de fungos com atividade da fosfatase alcalina em solo submetido a diferentes condições de cultivo variou de 4,77 a 11,86 x 104 ufcs.g-1 de solo seco (Quadro 2), apresentando uma média de 7,94 x 104 ufcs.g-1 de solo seco, que correspondeu a 64,3% do total de fungos; a maior contagem foi obtida nas parcelas sem planta e sem calagem. Observou-se efeito significativo da planta, do adubo mas não da calagem; todas as interações foram significativas. Com relação ao efeito da planta, os resultados obtidos no controle não diferiram do tratamento com braquiária, mas ambos diferiram do tratamento com guandu, cuja redução da contagem foi de 24,7% em relação ao controle. A maior comunidade de fungos produtores de fosfatase alcalina foi encontrada em solo fertilizado com superfosfato (média de 8,57 x 104 ufcs.g-1 de solo seco) e a menor em solo adubado com fosfato natural (média de 7,44 x 104 ufcs.g-1 de solo seco). Esse efeito foi mais pronunciado em solo cultivado com braquiária e fertilizado com superfosfato onde ocorreram as maiores contagens de fungos com atividade da fosfatase alcalina. Em geral, menor número de colônias de fungos com atividade da fosfatase alcalina foi obtido na presença de guandu (Quadro 2). Não se observou tendência consistente mostrando a influência dos diversos tratamentos sobre a atividade enzimática nas bactérias e fungos isolados. Do total de isolados bacterianos, 28,4% e 40,6%, em média, apresentaram atividade da fosfatase alcalina e da ácida respectivamente (Figuras 1 e 2). Portanto, 59% a 72% das bactérias isoladas e 60% a 78% dos fungos apresentaram atividade das fosfatases. Essa atividade aumentou das faixas menores para as maiores, respectivamente, 1,9% do total com atividade da fosfatase alcalina (faixa > 5,1) e de 0,7% do total com atividade da fosfatase ácida (faixa de 4,1 a 5,0) (Figura 1). Resultados semelhantes foram obtidos com os isolados dos fungos; as faixas de maior atividade foram de 2,6 a 3,0 (0,7 % do total) para a fosfatase alcalina e > 3,1 (0,2 % do total) para a fosfatase ácida (Figura 2). O número de microrganismos produtores das fosfatases no presente estudo foi maior que o apresentado em 13 diferentes solos, incluindo pastos, florestas e área experimental para cultura anual (NAHAS et al., 1994b). Esse aumento deve-se, provavelmente, à influência das plantas e da adubação utilizadas neste estudo sobre a comunidade microbiana total e produtora das enzimas. Ao contrário do observado nas contagens dos microrganismos totais (BARROTI e NAHAS, 2000), o número das bactérias e de fungos produtores das fosfatases foi afetado significativamente pelos tratamentos. Ademais, obteve-se correlação significativa entre o número de bactérias totais e o número de bactérias produtoras da fosfatase alcalina (r = 0,64**) e da fosfatase ácida (r = 0,67**) (Figura 3) mas não entre os fungos. Como microrganismos heterotróficos, poderia se esperar que as bactérias e os fungos produtores de fosfatases respondessem a uma fonte de C e energia e aos outros nutrientes adicionados ou existentes no solo, em particular ao fósforo (HIGASHIDA e TAKAO, 1986). Portanto, independentemente de sua habilidade de secretar essas enzimas que seria regulada pelos teores de fosfato disponível, reprimindo ou desreprimindo sua atividade (NAHAS et al., 1982), a comunidade microbiana produtora de fosfatases tenderia a aumentar como resposta à adição de fertilizantes. Contudo, o efeito da fonte de fósforo ocorreu apenas sobre as bactérias produtoras da fosfatase alcalina cujas populações foram maiores nos tratamentos com superfosfato e controle que o tratamento fosfato natural, e para os fungos, de modo inverso, maior número foi encontrado na ausência que na presença de adubação fosfatada. Respostas à adubação fosfatada nem sempre têm sido coerentes, principalmente com relação aos fungos. KANAZAWA et al. (1988) obtiveram contagem menor de bactérias totais e maior de fungos que o controle em solo adubado com 12 a 300 kg.ha-1.ano-1 de fertilizante fosfatado. Aumento das populações de fungos também foi obtida por SAIVE et al. (1972). LIMA et al. (1996) verificaram aumento das populações de bactérias mas não das de fungos, corroborando os resultados obtidos neste trabalho, pela aplicação de 0 a 800 kg.ha-1 de P2O5 em cultura de tomateiro. A literatura tem apontado o efeito das plantas na variação da contagem de bactérias e grupos fisiológicos bacterianos na rizosfera e solo não rizosférico de plantas (MILLER et al., 1989). Tem sido assinalado que essa variação está relacionada à secreção de compostos químicos na rizosfera e à idade das plantas (ROVIRA e MCDOUGALL, 1967; MERCKX et al., 1987). Fora do âmbito da rizosfera, os relatos da literatura com referência ao efeito do solo cultivado sobre os microrganismos são bastante genéricos e escassos. Por ser uma planta fixadora de N2 atmosférico enriquecendo o ambiente, o guandu deveria propiciar maior crescimento microbiano, contudo, de modo geral, as populações de bactérias e fungos produtores de fosfatases diminuíram na presença dessa cultura quando se comparou com a de braquiária ou controle, sem planta. Nessa situação, pode-se depreender que o fator limitante para desenvolvimento microbiano foi o fósforo e não o nitrogênio. Efeito favorável da braquiária foi obtido com o aumento do número de bactérias solubilizadoras de fosfato de rocha (BARROTI e NAHAS, 2000), confirmando os resultados deste trabalho. Alem disso, os fungos produtores de fosfatases tiveram aumento das populações no solo não cultivado quando se comparou com os demais tratamentos. O maior enraizamento da braquiária pode ter favorecido o crescimento das bactérias. Por outro lado, a produção de metabólitos como o ácido psicídico, composto fenólico ausente em outras plantas como soja e sorgo (AE et al., 1990), pode ter influenciado de algum modo o crescimento microbiano. O efeito da calagem foi verificado apenas para as bactérias e fungos produtores da fosfatase ácida. Enquanto as populações de fungos com atividade fosfatásica diminuíram por efeito da calagem, as das bactérias aumentaram. Estes resultados estão de acordo com a análise de correlação que foi significativa entre o índice de pH (P < 0,05) e o número de bactérias produtoras da fosfatase alcalina (r = 0,49*) e da fosfatase ácida (r = 0,51*) (Figura 3), revelando que um aumento do valor do pH devido à calagem elevaria as populações de bactérias produtoras dessas enzimas. Os fungos apresentaram correlação não significativa. De acordo com estes resultados, IVARSON (1977) obteve aumento no número de bactérias com o aumento do pH, em decorrência de calagem, mas diminuição da contagem de fungos. HIGASHIDA e TAKAO (1986) obtiveram também correlação positiva e consideraram que o pH do solo é um fator que controla o número de bactérias. FLORES et al. (1988) mostraram que a produção de fósforo pelas populações mineralizadoras aumentou com o acréscimo do pH nos solos de savana; no solo de pinho, porém, aumentou até pH 5 e depois diminuiu. A participação dos fungos foi maior que as bactérias neste processo, diferentemente dos resultados deste trabalho. Enquanto as bactérias apresentaram maior freqüência de isolados com atividade da fosfatase alcalina, para os fungos isso ocorreu com a atividade da fosfatase ácida. Além disso, as bactérias apresentaram maior atividade que os fungos para as duas enzimas (Figura 1), confirmando JONER e JAKOBSEN (1995) que mencionaram a fosfatase alcalina como a mais encontrada nas bactérias. Essa resposta decorre também do fato de que a fosfatase alcalina apresentou maior atividade em pH acima de 7,0 (NAHAS et al., 1994a), e as bactérias podem ter sido favorecidas pela seletividade do meio de cultura de BUNT e ROVIRA (1955) que tinha pH 7,2. 4. CONCLUSÕES 1. Encontrou-se, no solo estudado, número expressivo de bactérias ou de fungos produtores das fosfatases ácida ou alcalina, constituindo mais de 50% de bactérias ou de fungos totais. Verificou-se diminuição desses microrganismos no solo cultivado com guandu quando se comparou com os outros tratamentos. 2. Somente as bactérias e os fungos produtores de fosfatase alcalina foram influenciados pela adubação fosfatada, aumentando, respectivamente, nas parcelas adubadas com superfosfato ou controle. 3. Apenas os números de bactérias produtoras de fosfatase ácida aumentaram com a calagem. 4. Uma porcentagem inferior a 2% do total de microrganismos produtores das fosfatases apresentou alta atividade enzimática. AGRADECIMENTOS À FAPESP pelo auxílio financeiro concedido para a execução desta pesquisa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AE, N.; ARIHARA, J.; OKADA, K.; YOSHIHARA, T.; JOHANSEN, C. Phosphorus uptake by pigeon pea and its role in cropping systems of the Indian subcontinent. Science, Washington, v.248, p.477-480, 1990. [ Links ] BARROTI, G. Características microbiológicas e físico-químicas de solo adubado com fosfato natural em diferentes tipos de cultivos. 1998. 81f. 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E-mail: [email protected] IIIDoutorando em Agronomia, Área Ciência do Solo, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected] IVCom bolsa de produtividade científica do CNPq RESUMO Com o objetivo de avaliar o efeito da inoculação de fungo micorrízico arbuscular na produção de mudas de qualidade, em sistema de pouco insumo, realizou-se um experimento com mudas micropropagadas de bananeira, cultivar Nanicão, em casa de vegetação do Centro Nacional de Pesquisa de Agrobiologia (Seropédica/RJ), em julho de 1998. O delineamento experimental empregado foi o de blocos ao acaso com quatro repetições, constituindo-se os tratamentos por três substratos (0, 10% e 20% de matéria orgânica), na presença e ausência de Glomus clarum. A partir dos 65 dias de aclimatização, as mudas desenvolvidas no substrato sem matéria orgânica, submetidas a inoculação com G. clarum, apresentaram efeito positivo significativo da inoculação na altura e no número de folhas. Aos 93 dias, as mudas infectadas, cultivadas no substrato com 0 e 10% de matéria orgânica, mostraram altura e diâmetro superior às não-infectadas. Na colheita, aos 95 dias, constatou-se aumento significativo da massa de folha, pseudocaule e raízes secas, bem como do conteúdo total de fósforo (P) das mudas infectadas em relação às não-infectadas com G. clarum. A avaliação da razão de eficiência radicular mostrou que as mudas dos substratos sem matéria orgânica e com 10%, infectadas com G. clarum, apresentaram maior razão do que as não-infectadas. De maneira geral, a presença de matéria orgânica no substrato proporcionou efeito positivo no desenvolvimento das mudas de bananeira 'Nanicão'. Palavras-chave: fungo micorrízico arbuscular, micropropagação, Glomus clarum, Musa spp. ABSTRACT With the objective of evaluating the inoculation effect of arbuscular mycorrhizal fungus on the development of good-quality banana seedlings, cv. Nanicão, under a low-input system, a greenhouse experiment was done at Seropédica, State of Rio de Janeiro, Brazil, in the National Center of Agrobiology Research, in 1998. The experimental design was a randomized block, with four repetitions. The treatments consisted of growing micropropagated seedlings in three substrata with 0, 10 and 20% of organic matter, in the presence or absence of the fungus Glomus clarum. The results showed a significant positive effect of the inoculation on seedling height and number of leaves, 65 days after acclimatization. At 93 days, this positive effect was shown also by the pseudostem diameter. After harvest, the seedlings inoculated with G. clarum showed a significant increase in leaf, pseudostem and root dry matter, as well as total phosphorus content and radicular ratio efficiency in comparison to non-inoculated seedlings. As a rule, the addition of organic matter to the substratum led to an increase in the development of banana seedlings, cv. Nanicão, even in the absence of G. clarum. Key words: arbuscular mycorrhizal fungi, micropropagation, Glomus clarum, Musa spp. 1. INTRODUÇÃO O Brasil é o maior produtor de banana da América do Sul, contribuindo com 37% na produção do continente (FAO, 1997). De modo geral, os cultivos seguem os padrões tradicionais, com baixos índices de capitalização e tecnologia, na maioria dos Estados brasileiros. Nos Estados de São Paulo, Santa Catarina e nos perímetros irrigados do Nordeste tem-se observado o uso de diferentes tecnologias que propiciam produção maior e de melhor qualidade (SOUZA e TORRES-FILHO, 1997). Nos últimos anos, a propagação da bananeira por meio da cultura de ápices caulinares in vitro tem possibilitado a produção de mudas sadias, em número mais elevado que os métodos convencionais (SOUZA et al., 1994). O desenvolvimento desta técnica para micropropagação do gênero Musa tem recebido considerável atenção nos últimos quinze anos e já se encontra bem estabelecida (CRONAUER e KRIKORIAN, 1984). No emprego de mudas micropropagadas existe a necessidade de um período de aclimatização, em viveiro, para que as mudas adquiram condições de serem levadas ao campo. Nessa etapa, que se processa em situações controladas, utiliza-se substrato desinfestado, sendo de grande relevância a introdução de fungo micorrízico arbuscular (FMA). Os efeitos nutricionais são os mais evidentes e consistentes daqueles atribuídos às micorrizas, estando diretamente relacionados ao crescimento e à produção de plantas. Esse fato se deve, entre outros, a uma geometria mais favorável das hifas em relação às raízes da planta, à cinética de absorção de água e nutrientes diferentes e a alterações químicas na área de rizosfera/hifosfera que possibilitam maior e melhor distribuição da área de absorção (BOLAN, 1991). Deve-se considerar, contudo, que as espécies e cultivares podem diferir em seus requerimentos nutricionais devido, basicamente, a diferenças nas taxas de crescimento e na habilidade de captar e utilizar o fósforo (P) do solo (BARROW, 1977). Pesquisas com diferentes culturas têm mostrado a importância do emprego de FMAs na produção de mudas micropropagadas (NIEMI e VESTBERG, 1992; LOVATO et al., 1994). Na otimização deste processo considera-se, como fator de grande relevância, a composição do substrato. Diferentes estudos (SOUZA et al., 1987; VERMA e ARYA, 1998) demonstram a importância do esterco na composição de substratos para a produção de mudas. SOUZA et al. (1989) verificaram, em mudas de café, que a presença de esterco de curral no substrato proporcionou a obtenção de maiores respostas para todas as características de crescimento avaliadas, não alterando a colonização das raízes por FMA. Neste trabalho, objetivou-se avaliar os efeitos do FMA na aclimatização de bananeiras micropropagadas, em substratos com três níveis de matéria orgânica, visando à produção de mudas de qualidade em sistemas de baixo insumo. 2. MATERIAL E MÉTODOS A partir de mudas micropropagadas de bananeira, cv. Nanicão, instalou-se um experimento em casa de vegetação da Embrapa Agrobiologia, no município de Seropédica (RJ), em julho de 1998, com duração de três meses. O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso com quatro repetições e quatro plantas por parcela, constituindo-se os tratamentos por três níveis de matéria orgânica (0, 10%, e 20 % de esterco de gado curtido), na presença e ausência do FMA Glomus clarum. O substrato básico constituiu-se de uma mistura de solo Argissolo Vermelho-Amarelo e areia de rio lavada, na proporção de 2:1 (v:v), denominando-se esta mistura substrato 1. Os substratos 2 e 3 foram constituídos pelo substrato 1 acrescido, respectivamente, de 10% e 20% de matéria orgânica, composta de esterco de gado curtido. Procedeu-se, em seguida, as determinações químicas dos substratos e da matéria orgânica (EMBRAPA, 1979) e a análise granulométrica dos substratos (EMBRAPA, 1997; RAVELLI-NETO et al., 1994) - Quadros 1 e 2. Com base na análise química realizou-se a adubação do substrato com 0% de matéria orgânica, utilizando-se superfosfato simples (50 mg.kg-1) e cloreto de potássio (25 mg.kg-1). Para a neutralização do Al usou-se calcário dolomítico (500 mg.kg-1). Após a homogeneização do solo com os fertilizantes, realizaram-se as determinações químicas do substrato; os dados são apresentados no quadro 1. Os substratos foram desinfestados com brometo de metila, de acordo com recomendações do fabricante, empregando-se como recipientes baldes de plástico branco, com capacidade de 10 litros. No tratamento com FMA empregaram-se 140 esporos de G. clarum por planta, sendo este inóculo proveniente da coleção de cultura da Embrapa Agrobiologia. Para a reposição de microrganismos e da flora, eliminados pela desinfestação do substrato, preparou-se um filtrado com base em 2 kg de solo não brometado, ao qual se acrescentou 2,5 L de água. Essa mistura foi passada em peneira de 0,053 µm e deixada em repouso para decantação. Após a finalização desse processo, realizaram-se duas filtragens em papel-filtro quantitativo (filtragem rápida - 50 s). O filtrado resultante foi elevado a 2 L, aplicando-se, em todos os vasos, uma razão de 20 mL. Avaliaram-se as mudas aos 32, 65 e 93 dias após o plantio, verificando-se a altura da planta, o diâmetro do pseudocaule à altura do colo e o número de folhas ativas. Na colheita, aos 95 dias de aclimatização, as plantas amostradas foram separadas em folhas, pseudocaule e sistema radicular. As folhas e pseudocaule foram colocadas em estufa a 65oC, até a obtenção de massa seca constante, quando se realizou a pesagem. As raízes foram lavadas e separadas do substrato, sendo seus eixos recuperados em peneiras de 2 mm. Os eixos radiculares foram digitalizados em scanner de mesa, com uma resolução de 100 dpi e quantização de 256 tons de cinza. As imagens obtidas foram analisadas com o auxílio do software SIARCS 3.0 (JORGE, 1996) sendo quantificadas a área superficial radicular e o comprimento radicular total. A seguir, separou-se 0,4 g de raízes finas para determinar a porcentagem de colonização micorrízica, sendo usado, para o clareamento e a coloração de raízes, o método de KOSKE e GEMMA (1989). As raízes restantes foram colocadas na estufa para secagem, pesando-as consecutivamente até a obtenção de uma massa constante. A partir destas quantificações calcularam-se os valores de área e comprimento radicular específico (cm2.g-1 e mg-1). Na parte aérea e nas raízes secas em estufa determinou-se o conteúdo total de P por digestão nitro-perclórica e dosagem colorimétrica pelo molibdato de amônio (BATAGLIA et al., 1983), calculando-se, a partir desse dado, a razão de eficiência radicular (conteúdo total de P na planta/área radicular). Os dados obtidos foram analisados pelo programa MSTAT-C, sendo a comparação das médias feita pelo teste de Tukey a 5%. Os dados referentes ao número de folhas e colonização micorrízica foram transformados para se ajustarem à distribuição normal, sendo o primeiro em raiz quadrada de (x + 0,5) e o segundo em arco-seno da raiz quadrada da porcentagem. Em relação ao substrato, embora seja um fator quantitativo, optou-se, para sua avaliação, pela análise da variância com teste de médias. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Aos 65 dias de aclimatização, verificou-se que as mudas com G. clarum, no substrato sem matéria orgânica, apresentaram altura superior ao controle sem fungo (Quadro 3). Resposta similar foi observada, aos 93 dias, no substrato com 10% de matéria orgânica. Comparandose os substrato, dentro do tratamento com FMA, verificou-se que as mudas com 10% de matéria orgânica mostravam altura superior àquelas sem matéria orgânica, desde a primeira avaliação, aos 32 dias. Contudo, somente aos 65 dias, as mudas do substrato com 20% de matéria orgânica apresentaram altura superior àquelas sem matéria orgânica. No tratamento sem FMA, observou-se, a partir dos 65 dias, maior altura nas mudas cultivadas com matéria orgânica (Quadro 3). Na avaliação do diâmetro à altura do colo, verificou-se, aos 93 dias, que as mudas com FMA foram superiores às sem FMA, nos substratos com 0 e 10% de matéria orgânica (Quadro 3). Entretanto, considerando-se os substratos, notou-se, a partir dos 65 dias, maior diâmetro nas mudas com matéria orgânica, independentemente da presença ou ausência do FMA. No número de folhas ativas observou-se resposta idêntica, desde a primeira avaliação, aos 32 dias. Aos 93 dias, contudo, no tratamento com FMA, não se verificaram diferenças entre os substratos com 0% e 10% de matéria orgânica. Os dados mostraram, ainda, interação entre os substratos e os tratamentos com e sem FMA, verificando-se, a partir dos 65 dias, maior número de folhas nas mudas infectadas com FMA, cultivadas no substrato sem matéria orgânica (Quadro 3). Pode-se observar que aos 65 dias, essas três variáveis apresentaram comportamento similar, nos três substratos empregados. Esse fato pode refletir um estádio de maior desenvolvimento das mudas que possibilitaria, assim, maior colonização das raízes pelo FMA, estando essas condições associadas a uma adaptação às condições edafoclimáticas experimentais e à instalação de uma simbiose eficiente. Cabe assinalar aumento considerável da colonização micorrízica, bem como a presença de diferenças significativas entre os tratamentos, com e sem FMA, a partir dessa época. Diferentes estudos (SOUZA et al., 1987; SOUSA, 1994; VERMA e ARYA, 1998) têm mostrado a importância do esterco na composição de substratos para a produção de mudas. Entretanto, quando se emprega inóculo de fungo micorrízico deve-se avaliar, com mais atenção, a quantidade e o tipo de material empregado como adubo orgânico. SOUZA et al. (1989) verificaram que a presença de esterco de curral no substrato proporcionou maior desenvolvimento das mudas de café, não sendo alterada a colonização micorrízica das raízes. De acordo com ALMEIDA et al. (1988) a composição química do esterco é variável, devendo ser considerada na interpretação dos resultados experimentais. Pela análise dos substratos pode-se observar que a adição de esterco induziu alterações nas propriedades químicas e físicas dos substratos, que podem justificar as respostas positivas encontradas nas variáveis de crescimento avaliadas. Deve-se considerar, contudo, que o emprego do G. clarum constituiu um fator adicional importante para maior desenvolvimento das mudas. Segundo MARSCHNER e DELL (1994), os fungos micorrízicos possibilitam um maior crescimento das plantas, basicamente, pelo aumento da absorção de nutrientes. Na colheita, aos 95 dias, constataram-se diferenças na massa de folha e pseudocaule secos das mudas entre os três substratos, sendo os maiores valores obtidos com 20% de matéria orgânica (Quadro 4). Quanto à massa de raízes secas, verificou-se que as mudas cultivadas com matéria orgânica mostraram valores 7,6 vezes superiores aos daquelas sem esse adubo. Considerando-se os tratamentos com e sem FMA, observou-se que as mudas infectadas foram superiores às não-infectadas, em massa de folha, pseudocaule e raízes secas, independentemente do substrato empregado (Quadro 4). WEBER e AMORIM (1994) verificaram resposta similar em mudas de mamoeiro infectadas com FMAs, as quais apresentaram, aos 120 dias após o transplantio, maior produção de matéria seca do que as não-infectadas. VERMA e ARYA (1998), trabalhando com matéria orgânica e fungos micorrízicos na aclimatização de mudas micropropagadas de bambu, observaram aumento significativo na altura e na biomassa seca das plantas. A área e o comprimento radicular específico das mudas cultivadas em substrato sem matéria orgânica foram significativamente maiores do que com esse adubo. Por outro lado, essas variáveis não foram influenciadas pela presença e ausência de FMA (Quadro 4). A análise dessas características é importante para avaliar o potencial de crescimento de raízes finas visando à maior absorção de nutrientes. Estudos desenvolvidos por GAHOONIA e NIELSEN (1998) mostraram forte evidência da participação substancial das raízes finas na absorção de fósforo do solo. A análise do conteúdo total de P das plantas revelou diferenças entre os três substratos, nos tratamentos com e sem FMA; o substrato com 20% de matéria orgânica apresentou os maiores valores. Observou-se, ainda, que o conteúdo de P foi maior nas mudas infectadas que nas não-infectadas, nos três substratos estudados (Quadro 5). Considerando-se a eficiência de absorção, no tratamento com FMA, as mudas dos substratos com matéria orgânica apresentaram uma razão de eficiência radicular maior que aquelas sem esse adubo. Por outro lado, no tratamento sem FMA verificou-se uma relação direta da razão de eficiência com os níveis de matéria orgânica, ocorrendo os maiores valores no tratamento com 20% de matéria orgânica. Comparando-se a presença ou a ausência de micorriza, observou-se que nos substratos com 0% e 10% de matéria orgânica, as mudas com FMA foram superiores às sem FMA, ao passo que com 20% não houve diferença (Quadro 5). MARSCHNER (1995) considerou a morfologia da raiz como o fator mais importante na eficiência de absorção de P. No entanto, CLARKSON (1985) assinalou que a absorção de P é regulada por mecanismos de feedback, que podem operar ao nível de planta como um todo ou ao nível celular. Pesquisas desenvolvidas por PEARSON e JAKOBSEN (1993) evidenciaram a influência do fungo micorrízico na absorção desse elemento, assim como a variação desse efeito entre as espécies fúngicas. No tratamento com FMA, a colonização micorrízica, avaliada a partir da porcentagem de raízes colonizadas, mostrou diminuição acentuada no tratamento com adição de matéria orgânica, independentemente da quantidade adicionada (Quadro 5). SOUZA et al. (1991) não observaram alteração na colonização das raízes de mudas de cafeeiro, na presença de matéria orgânica no substrato (30% em volume), enquanto VERMA e ARYA (1998) citaram aumento da colonização com o uso de matéria orgânica (25% em volume) em mudas de bambu. 4. CONCLUSÕES 1. A inoculação com G. clarum propiciou maior crescimento e maior número de folhas nas mudas de bananeira cultivadas no substrato sem matéria orgânica, a partir dos 65 dias de aclimatização. 2. As mudas infectadas com G. clarum apresentaram, nos três substratos estudados, conteúdo total de P superior às não-infectadas. 3. O substrato com matéria orgânica possibilitou maior desenvolvimento das mudas de bananeira, cv. Nanicão, independentemente da presença do fungo micorrízico G. clarum. 4. A adição de matéria orgânica ao substrato acarretou diminuição acentuada na colonização das raízes por G. clarum. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, D.L. de; SANTOS, G. de A.; DE-POLLI, H. et al. Manual de adubação para o Estado do Rio de Janeiro. Itaguaí:Universidade Rural, 1988. 179p. (Série Ciências Agrárias, 2). [ Links ] BARROW, N.J. Phosphorus uptake and utilization by tree seedlings. Australian Journal of Botany, Bronx, v.25, n 6, p.571-584, 1977. [ Links ] BATAGLIA, O.C.; FURLANI, A.M.C.; TEIXEIRA, J.P.F et al. Métodos de análise química de plantas. Campinas: Instituto Agronômico, 1983. 46p. (Boletim Técnico, 78). [ Links ] BOLAN, N.S. A critical review on the role of mycorrhizal fungi in the uptake of phosphorus by plants. Plant and Soil, Dordrecht, v.134, n.2, p.189-207, 1991. [ Links ] CLARKSON, D.T. Factors affecting mineral nutrient acquisition by plants. 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[ Links ] Micorriza Arbuscular e Matéria Orgânica na Aclimatização de Mudas de Bananeira 277 MICORRIZA ARBUSCULAR E MATÉRIA ORGÂNICA NA ACLIMATIZAÇÃO DE MUDAS DE BANANEIRA, CULTIVAR NANICÃO(1) ROSA MARIA BARBOSA MATOS(2); ELIANE MARIA RIBEIRO DA SILVA(3); FELIPE DA COSTA BRASIL(4, 5) RESUMO Com o objetivo de avaliar o efeito da inoculação de fungo micorrízico arbuscular na produção de mudas de qualidade, em sistema de pouco insumo, realizou-se um experimento com mudas micropropagadas de bananeira, cultivar Nanicão, em casa de vegetação do Centro Nacional de Pesquisa de Agrobiologia (Seropédica/RJ), em julho de 1998. O delineamento experimental empregado foi o de blocos ao acaso com quatro repetições, constituindo-se os tratamentos por três substratos (0, 10% e 20% de matéria orgânica), na presença e ausência de Glomus clarum. A partir dos 65 dias de aclimatização, as mudas desenvolvidas no substrato sem matéria orgânica, submetidas a inoculação com G. clarum, apresentaram efeito positivo significativo da inoculação na altura e no número de folhas. Aos 93 dias, as mudas infectadas, cultivadas no substrato com 0 e 10% de matéria orgânica, mostraram altura e diâmetro superior às não-infectadas. Na colheita, aos 95 dias, constatou-se aumento significativo da massa de folha, pseudocaule e raízes secas, bem como do conteúdo total de fósforo (P) das mudas infectadas em relação às não-infectadas com G. clarum. A avaliação da razão de eficiência radicular mostrou que as mudas dos substratos sem matéria orgânica e com 10%, infectadas com G. clarum, apresentaram maior razão do que as não-infectadas. De maneira geral, a presença de matéria orgânica no substrato proporcionou efeito positivo no desenvolvimento das mudas de bananeira ‘Nanicão’. Palavras-chave: fungo micorrízico arbuscular, micropropagação, Glomus clarum, Musa spp. ABSTRACT ARBUSCULAR MYCORRHIZAL AND ORGANIC MATTER ON THE ACCLIMATIZATION OF BANANA-TREE SEEDLINGS, CV. NANICÃO With the objective of evaluating the inoculation effect of arbuscular mycorrhizal fungus on the development of good-quality banana seedlings, cv. Nanicão, under a low-input system, a greenhouse experiment was done at Seropédica, State of Rio de Janeiro, Brazil, in the National Center of Agrobiology Research, in 1998. The experimental design was a randomized block, with four repetitions. The treatments consisted of growing micropropagated seedlings in three substrata with 0, 10 and 20% of organic matter, in the presence or absence of the fungus Glomus clarum. The results showed a significant positive effect of the inoculation on seedling height and number of leaves, 65 days after acclimatization. At 93 days, this positive effect was shown also by the pseudostem diameter. After harvest, the seedlings inoculated with G. clarum showed a significant increase in leaf, pseudostem and root dry matter, as well as total phosphorus content and radicular ratio efficiency in comparison to non-inoculated seedlings. As a rule, the addition of organic matter to the substratum led to an increase in the development of banana seedlings, cv. Nanicão, even in the absence of G. clarum. Key words: arbuscular mycorrhizal fungi, micropropagation, Glomus clarum, Musa spp. (1) Extraído da tese de doutorado da primeira autora,apresentada à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Recebido para publicação em 11 de janeiro de 2002 e aceito em 17 de setembro de 2002. (2) Agronomia – Área Ciência do Solo. E-mail:[email protected] (3) Embrapa Agrobiologia. Estrada Rio-São Paulo, km 47, Caixa Postal 74505, 23851-970 Seropédica (RJ). E-mail: [email protected] (4) Doutorando em Agronomia, Área Ciência do Solo, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected] (5) Com bolsa de produtividade científica do CNPq. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 277-283, 2002 R.M.B. MATOS et al. 278 1. INTRODUÇÃO O Brasil é o maior produtor de banana da América do Sul, contribuindo com 37% na produção do continente (FAO, 1997). De modo geral, os cultivos seguem os padrões tradicionais, com baixos índices de capitalização e tecnologia, na maioria dos Estados brasileiros. Nos Estados de São Paulo, Santa Catarina e nos perímetros irrigados do Nordeste tem-se observado o uso de diferentes tecnologias que propiciam produção maior e de melhor qualidade (SOUZA e TORRES-FILHO, 1997). Nos últimos anos, a propagação da bananeira por meio da cultura de ápices caulinares in vitro tem possibilitado a produção de mudas sadias, em número mais elevado que os métodos convencionais (SOUZA et al., 1994). O desenvolvimento desta técnica para micropropagação do gênero Musa tem recebido considerável atenção nos últimos quinze anos e já se encontra bem estabelecida (CRONAUER e KRIKORIAN, 1984). No emprego de mudas micropropagadas existe a necessidade de um período de aclimatização, em viveiro, para que as mudas adquiram condições de serem levadas ao campo. Nessa etapa, que se processa em situações controladas, utiliza-se substrato desinfestado, sendo de grande relevância a introdução de fungo micorrízico arbuscular (FMA). Os efeitos nutricionais são os mais evidentes e consistentes daqueles atribuídos às micorrizas, estando diretamente relacionados ao crescimento e à produção de plantas. Esse fato se deve, entre outros, a uma geometria mais favorável das hifas em relação às raízes da planta, à cinética de absorção de água e nutrientes diferentes e a alterações químicas na área de rizosfera/hifosfera que possibilitam maior e melhor distribuição da área de absorção (BOLAN, 1991). Deve-se considerar, contudo, que as espécies e cultivares podem diferir em seus requerimentos nutricionais devido, basicamente, a diferenças nas taxas de crescimento e na habilidade de captar e utilizar o fósforo (P) do solo (BARROW, 1977). Pesquisas com diferentes culturas têm mostrado a importância do emprego de FMAs na produção de mudas micropropagadas (NIEMI e VESTBERG, 1992; LOVATO et al., 1994). Na otimização deste processo considera-se, como fator de grande relevância, a composição do substrato. Diferentes estudos (SOUZA et al., 1987; VERMA E ARYA, 1998) demonstram a importância do esterco na composição de substratos para a produção de mudas. S OUZA et al. (1989) verificaram, em mudas de café, que a presença de esterco de curral no substrato proporcionou a obtenção de maiores respostas para todas as Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 277-283, 2002 características de crescimento avaliadas, não alterando a colonização das raízes por FMA. Neste trabalho, objetivou-se avaliar os efeitos do FMA na aclimatização de bananeiras micropropagadas, em substratos com três níveis de matéria orgânica, visando à produção de mudas de qualidade em sistemas de baixo insumo. 2. MATERIAL E MÉTODOS A partir de mudas micropropagadas de bananeira, cv. Nanicão, instalou-se um experimento em casa de vegetação da Embrapa Agrobiologia, no município de Seropédica (RJ), em julho de 1998, com duração de três meses. O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso com quatro repetições e quatro plantas por parcela, constituindose os tratamentos por três níveis de matéria orgânica (0, 10%, e 20 % de esterco de gado curtido), na presença e ausência do FMA Glomus clarum. O substrato básico constituiu-se de uma mistura de solo Argissolo Vermelho-Amarelo e areia de rio lavada, na proporção de 2:1 (v:v), denominando-se esta mistura substrato 1. Os substratos 2 e 3 foram constituídos pelo substrato 1 acrescido, respectivamente, de 10% e 20% de matéria orgânica, composta de esterco de gado curtido. Procedeu-se, em seguida, as determinações químicas dos substratos e da matéria orgânica (EMBRAPA, 1979) e a análise granulométrica dos substratos (EMBRAPA, 1997; RAVELLI-NETO et al., 1994) - Quadros 1 e 2. Com base na análise química realizou-se a adubação do substrato com 0% de matéria orgânica, utilizando-se superfosfato simples (50 mg.kg-1) e cloreto de potássio (25 mg.kg-1). Para a neutralização do Al usou-se calcário dolomítico (500 mg.kg -1 ). Após a homogeneização do solo com os fertilizantes, realizaram-se as determinações químicas do substrato; os dados são apresentados no quadro 1. Os substratos foram desinfestados com brometo de metila, de acordo com recomendações do fabricante, empregando-se como recipientes baldes de plástico branco, com capacidade de 10 litros. No tratamento com FMA empregaram-se 140 esporos de G. clarum por planta, sendo este inóculo proveniente da coleção de cultura da Embrapa Agrobiologia. Para a reposição de microrganismos e da flora, eliminados pela desinfestação do substrato, preparou-se um filtrado com base em 2 kg de solo não brometado, ao qual se acrescentou 2,5 L de água. Essa mistura foi passada em peneira de 0,053 µm e deixada em repouso para decantação. Após a finalização desse processo, realizaram-se duas Micorriza Arbuscular e Matéria Orgânica na Aclimatização de Mudas de Bananeira 279 Quadro 1. Análise química dos substratos com 0, 10 e 20 % de matéria orgânica (estrume de curral curtido) Substrato pH (H2O) 0% 10% 20% Matéria orgânica Al 5,4 5,7 6,5 8,4 0,0 0,0 0,0 0,0 Ca mmolc.dm-3 20 22 28 48 Mg P K mg.kg-1 9 18 18 62 7 24 37 375 63 450 704 5049 Quadro 2. Análise granulométrica dos substratos com 0%, 10% e 20 % de matéria orgânica (estrume de curral curtido) Substrato 0% 10% 20% Areia grossa 65 65 63 Areia fina % 9 10 10 Argila total Grau de floculação Densidade real 22 22 23 9 13 17 2,51 2,49 2,52 filtragens em papel-filtro quantitativo (filtragem rápida - 50 s). O filtrado resultante foi elevado a 2 L, aplicando-se, em todos os vasos, uma razão de 20 mL. Avaliaram-se as mudas aos 32, 65 e 93 dias após o plantio, verificando-se a altura da planta, o diâmetro do pseudocaule à altura do colo e o número de folhas ativas. Na colheita, aos 95 dias de aclimatização, as plantas amostradas foram separadas em folhas, pseudocaule e sistema radicular. As folhas e pseudocaule foram colocadas em estufa a 65 oC, até a obtenção de massa seca constante, quando se realizou a pesagem. As raízes foram lavadas e separadas do substrato, sendo seus eixos recuperados em peneiras de 2 mm. Os eixos radiculares foram digitalizados em scanner de mesa, com uma resolução de 100 dpi e quantização de 256 tons de cinza. As imagens obtidas foram analisadas com o auxílio do software SIARCS 3.0 (JORGE, 1996) sendo quantificadas a área superficial radicular e o comprimento radicular total. A seguir, separou-se 0,4 g de raízes finas para determinar a porcentagem de colonização micorrízica, sendo usado, para o clareamento e a coloração de raízes, o método de KOSKE e GEMMA (1989). As raízes restantes foram colocadas na estufa para secagem, pesando-as consecutivamente até a obtenção de uma massa constante. A partir destas quantificações calcularamse os valores de área e comprimento radicular específico (cm2.g-1 e mg-1). Na parte aérea e nas raízes secas em estufa determinou-se o conteúdo total de P por digestão nitro-perclórica e dosagem colorimétrica pelo molibdato de amônio (B ATAGLIA et al., 1983), calculando-se, a partir desse dado, a razão de Condutividade elétrica mS.cm-1 0,2 1,2 3,3 eficiência radicular (conteúdo total de P na planta/ área radicular). Os dados obtidos foram analisados pelo programa MSTAT-C, sendo a comparação das médias feita pelo teste de Tukey a 5%. Os dados referentes ao número de folhas e colonização micorrízica foram transformados para se ajustarem à distribuição normal, sendo o primeiro em raiz quadrada de (x + 0,5) e o segundo em arco-seno da raiz quadrada da porcentagem. Em relação ao substrato, embora seja um fator quantitativo, optouse, para sua avaliação, pela análise da variância com teste de médias. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Aos 65 dias de aclimatização, verificou-se que as mudas com G. clarum, no substrato sem matéria orgânica, apresentaram altura superior ao controle sem fungo (Quadro 3). Resposta similar foi observada, aos 93 dias, no substrato com 10% de matéria orgânica. Comparando-se os substrato, dentro do tratamento com FMA, verificou-se que as mudas com 10% de matéria orgânica mostravam altura superior àquelas sem matéria orgânica, desde a primeira avaliação, aos 32 dias. Contudo, somente aos 65 dias, as mudas do substrato com 20% de matéria orgânica apresentaram altura superior àquelas sem matéria orgânica. No tratamento sem FMA, observou-se, a partir dos 65 dias, maior altura nas mudas cultivadas com matéria orgânica (Quadro 3). Na avaliação do diâmetro à altura do colo, verificou-se, aos 93 dias, que as mudas com FMA foram superiores às sem FMA, nos substratos com 0 Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 277-283, 2002 R.M.B. MATOS et al. 280 Quadro 3. Altura, diâmetro à altura do colo e número de folhas ativas de bananeiras ‘Nanicão’, com e sem Glomus clarum, em substratos com três níveis de matéria orgânica, em três épocas de avaliação, sob condições de casa de vegetação Substrato Altura Com FMA Sem FMA cm 0% 10% 20% 2,27 Ba 5,11 Aa 4,42 ABa 2,60 Aa 4,74 Aa 4,93 Aa 0% 10% 20% 6,00 Ba 18,10 Aa 16,22 Aa 3,67 Bb 16,13 Aa 18,33 Aa 0% 10% 20% CV (%) 11,78 Ba 28,77 Aa 30,87 Aa 7,10 4,68 Cb 23,03 Bb 30,69 Aa Diâmetro Com FMA Sem FMA 32 dias 0,55 Aa 0,81 Aa 0,76 Aa 65 dias 0,86 Ba 2,21 Aa 2,11 Aa 93 dias 1,37 Ca 3,19 Ba 3,63 Aa 5,39 No de folhas Com FMA Sem FMA folhas.pl-1 0,61 Aa 0,77 Aa 0,82 Aa 3,94 Ba 5,38 Aa 5,75 Aa 4,31 Ba 5,38 Aa 6,31 Aa 0,79 Ba 2,00 Aa 2,18 Aa 7,00 Ba 9,75 Aa 9,38 Aa 5,75 Bb 9,56 Aa 10,00 Aa 0,85 Cb 2,72 Bb 3,59 Aa 8,56 Ba 8,88 ABa 10,13 Aa 5,92 5,88 Bb 8,69 Aa 9,94 Aa Médias seguidas por letras diferentes, maiúsculas na coluna e minúsculas na linha, dentro do mesmo fator, diferem pelo teste de Tukey ao nível de 5%. e 10% de matéria orgânica (Quadro 3). Entretanto, considerando-se os substratos, notou-se, a partir dos 65 dias, maior diâmetro nas mudas com matéria orgânica, independentemente da presença ou ausência do FMA. No número de folhas ativas observou-se resposta idêntica, desde a primeira avaliação, aos 32 dias. Aos 93 dias, contudo, no tratamento com FMA, não se verificaram diferenças entre os substratos com 0% e 10% de matéria orgânica. Os dados mostraram, ainda, interação entre os substratos e os tratamentos com e sem FMA, verificando-se, a partir dos 65 dias, maior número de folhas nas mudas infectadas com FMA, cultivadas no substrato sem matéria orgânica (Quadro 3). Pode-se observar que aos 65 dias, essas três variáveis apresentaram comportamento similar, nos três substratos empregados. Esse fato pode refletir um estádio de maior desenvolvimento das mudas que possibilitaria, assim, maior colonização das raízes pelo FMA, estando essas condições associadas a uma adaptação às condições edafoclimáticas experimentais e à instalação de uma simbiose eficiente. Cabe assinalar aumento considerável da colonização micorrízica, bem como a presença de diferenças significativas entre os tratamentos, com e sem FMA, a partir dessa época. Diferentes estudos (SOUZA et al., 1987; SOUSA, 1994; VERMA e ARYA, 1998) têm mostrado a importância do esterco na composição de substratos para a produção de mudas. Entretanto, quando se emprega inóculo Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 277-283, 2002 de fungo micorrízico deve-se avaliar, com mais atenção, a quantidade e o tipo de material empregado como adubo orgânico. SOUZA et al. (1989) verificaram que a presença de esterco de curral no substrato proporcionou maior desenvolvimento das mudas de café, não sendo alterada a colonização micorrízica das raízes. De acordo com A LMEIDA et al. (1988) a composição química do esterco é variável, devendo ser considerada na interpretação dos resultados experimentais. Pela análise dos substratos pode-se observar que a adição de esterco induziu alterações nas propriedades químicas e físicas dos substratos, que podem justificar as respostas positivas encontradas nas variáveis de crescimento avaliadas. Deve-se considerar, contudo, que o emprego do G. clarum constituiu um fator adicional importante para maior desenvolvimento das mudas. Segundo MARSCHNER e DELL (1994), os fungos micorrízicos possibilitam um maior crescimento das plantas, basicamente, pelo aumento da absorção de nutrientes. Na colheita, aos 95 dias, constataram-se diferenças na massa de folha e pseudocaule secos das mudas entre os três substratos, sendo os maiores valores obtidos com 20% de matéria orgânica (Quadro 4). Quanto à massa de raízes secas, verificou-se que as mudas cultivadas com matéria orgânica mostraram valores 7,6 vezes superiores aos daquelas sem esse adubo. Considerando-se os tratamentos com e sem FMA, observou-se que as mudas infectadas foram Micorriza Arbuscular e Matéria Orgânica na Aclimatização de Mudas de Bananeira 281 Quadro 4. Massa de folha, pseudocaule e raízes secas, área e comprimento radicular específico de mudas de bananeira ‘Nanicão’, em substratos com três níveis de matéria orgânica, com e sem Glomus clarum, na colheita, aos 95 dias de aclimatização Tratamentos 0% 10% 20% Com FMA Sem FMA CV (%) Folha Pseudocaule Raízes 1,39 C 8,92 B 13,04 A 8,45 A 7,11 B 14,13 g.pl-1 0,48 C 4,39 B 6,52 A 4,13 A 3,46 B 13,24 0,59 B 4,33 A 4,62 A 3,51 A 2,84 B 23,81 Área radicular específica cm2.g-1 140,46 A 77,09 B 88,24 B 100,77 A 103,09 A 11,54 Comprimento radicular específico m.g-1 8,17 A 3,59 B 3,54 B 5,30 A 4,90 A 16,77 Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem pelo teste Tukey ao nível de 5%. Quadro 5. Conteúdo total de P na planta, razão de eficiência radicular e porcentagem de colonização micorrízica de mudas de bananeira ‘Nanicão’, em substratos com três níveis de matéria orgânica, com e sem Glomus clarum, na colheita, aos 95 dias de aclimatização Substrato 0% 10% 20% CV (%) Fósforo Razão de eficiência radicular Com FMA Sem FMA mg.pl-1 4,96 Ca 0,59 Cb 32,47 Ba 15,04 Bb, 45,15 Aa 34,80 Ab Com FMA Sem FMA µg P.cm-2 39,10 Ba 21,52 Cb 95,90 Aa 48,81 Bb 103,03 Aa 95,93 Aa 11,02 14,30 Colonização micorrízica Com FMA Sem FM % 61,24 Aa 8,80 Ba 4,23 Ba 0,00 Ab 0,00 Ab 0,00 Ab 34,42 Médias seguidas por letras diferentes, maiúsculas na coluna e minúsculas na linha, dentro do mesmo fator, diferem pelo teste Tukey ao nível de 5%. superiores às não-infectadas, em massa de folha, pseudocaule e raízes secas, independentemente do substrato empregado (Quadro 4). W EBER e A MORIM (1994) verificaram resposta similar em mudas de mamoeiro infectadas com FMAs, as quais apresentaram, aos 120 dias após o transplantio, maior produção de matéria seca do que as não-infectadas. VERMA e ARYA (1998), trabalhando com matéria orgânica e fungos micorrízicos na aclimatização de mudas micropropagadas de bambu, observaram aumento significativo na altura e na biomassa seca das plantas. A área e o comprimento radicular específico das mudas cultivadas em substrato sem matéria orgânica foram significativamente maiores do que com esse adubo. Por outro lado, essas variáveis não foram influenciadas pela presença e ausência de FMA (Quadro 4). A análise dessas características é importante para avaliar o potencial de crescimento de raízes finas visando à maior absorção de nutrientes. Estudos desenvolvidos por GAHOONIA e NIELSEN (1998) mostraram forte evidência da participação substancial das raízes finas na absorção de fósforo do solo. A análise do conteúdo total de P das plantas revelou diferenças entre os três substratos, nos tratamentos com e sem FMA; o substrato com 20% de matéria orgânica apresentou os maiores valores. Observou-se, ainda, que o conteúdo de P foi maior nas mudas infectadas que nas não-infectadas, nos três substratos estudados (Quadro 5). Considerando-se a eficiência de absorção, no tratamento com FMA, as mudas dos substratos com matéria orgânica apresentaram uma razão de eficiência radicular maior que aquelas sem esse adubo. Por outro lado, no tratamento sem FMA verificou-se uma relação direta da razão de eficiência com os níveis de matéria orgânica, ocorrendo os maiores valores no tratamento com 20% de matéria orgânica. Comparando-se a presença ou a ausência de micorriza, observou-se que nos substratos com 0% e 10% de matéria orgânica, as mudas com FMA foram superiores às sem FMA, ao passo que com 20% não houve diferença (Quadro 5). MARSCHNER (1995) considerou a morfologia da raiz como o fator mais importante na eficiência de absorção de P. No entanto, CLARKSON (1985) assinalou que a absorção de P é regulada por mecanismos de Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 277-283, 2002 R.M.B. MATOS et al. 282 feedback, que podem operar ao nível de planta como um todo ou ao nível celular. Pesquisas desenvolvidas por P EARSON e J AKOBSEN (1993) evidenciaram a influência do fungo micorrízico na absorção desse elemento, assim como a variação desse efeito entre as espécies fúngicas. No tratamento com FMA, a colonização micorrízica, avaliada a partir da porcentagem de raízes colonizadas, mostrou diminuição acentuada no tratamento com adição de matéria orgânica, independentemente da quantidade adicionada (Quadro 5). SOUZA et al. (1991) não observaram alteração na colonização das raízes de mudas de cafeeiro, na presença de matéria orgânica no substrato (30% em volume), enquanto VERMA e ARYA (1998) citaram aumento da colonização com o uso de matéria orgânica (25% em volume) em mudas de bambu. 4. CONCLUSÕES 1. A inoculação com G. clarum propiciou maior crescimento e maior número de folhas nas mudas de bananeira cultivadas no substrato sem matéria orgânica, a partir dos 65 dias de aclimatização. 2. As mudas infectadas com G. clarum apresentaram, nos três substratos estudados, conteúdo total de P superior às não-infectadas. 3. O substrato com matéria orgânica possibilitou maior desenvolvimento das mudas de bananeira, cv. Nanicão, independentemente da presença do fungo micorrízico G. clarum. 4. A adição de matéria orgânica ao substrato acarretou diminuição acentuada na colonização das raízes por G. clarum. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, D.L. de; SANTOS, G. de A.; DE-POLLI, H. et al. 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Castellane, 14884-000 Jaboticabal (SP) RESUMO O presente trabalho tem como objetivo avaliar algumas das características da pulverização produzida por pontas Yamaho da série 'D'. Avaliaram-se os tamanhos de gotas das pontas D3, D4, D5, D6 e D8 nas pressões de 703, 1.055, 1.406, 1.758, 2.110, 2.461 e 2.813 kPa (100, 150, 200, 250, 300, 350 e 400 psi), por meio de um equipamento laser marca Malvern, modelo Mastersizer. Avaliou-se, também, a vazão dessas pontas às pressões de 703, 1.125, 1.406, 1.828, 2.110, 2.532 e 2.813 kPa (100, 160, 200, 260, 300, 360 e 400 psi), comparando-as com as especificadas pelo fabricante. As gotas produzidas por todas as pontas, em todas as pressões analisadas, caracterizaram uma pulverização muito fina, o que, na agricultura, pode potencializar perdas por evaporação e deriva. Para todas as pontas, exceto para a D8 nas pressões de 1.828, 2.532 e 2.813 kPa, a diferença entre vazão observada e a especificada pelo fabricante foi superior a 5%. Concluiu-se que as pontas, além de não possuírem vazão uniforme, podem provocar a contaminação do aplicador e do ambiente em virtude do espectro de gotas produzido. Palavras-chave: agrotóxicos, pulverizador, pontas de pulverização. ABSTRACT This study evaluated the characteristics of spray produced by Yamaho nozzle tip 'D' series. The droplet size of nozzle tips D3, D4, D5, D6 and D8 were evaluated at 703, 1.050, 1.406, 1.758, 2.110, 2.461 e 2.813 kPa pressures (100, 200, 250; 350, e 400 psi) by means of laser equipment, as well as the flow rate of nozzle tip at the pressures of 702, 1.125, 1.406, 1.828, 2.110, 2.532 e 2.813 kPa (100, 160, 200, 260, 300; 360 e 400 psi) which were compared with values indicated by manufacturer. The droplet produced at all pressures presented a very fine spray, which in agriculture may promote losses by evaporation and drift. For all nozzle tips, except D8 in pressures 1.828, 2.532 e 2.813 kPa, the difference between the observed flow rate indicated by the manufacturer was higher than 5%. The paper demonstrates that the nozzle tip tested, in spite of not having uniform flow rate, may promote the contamination of spray operator and environment due to the droplet spectrum produced. Key words: pesticides, sprayers, spraying nozzle. 1. INTRODUÇÃO Apesar da evolução verificada nos pulverizadores e em seus componentes, nos últimos anos, marcadamente pela introdução de dispositivos eletrônicos que proporcionaram a possibilidade da redução do volume de calda aplicado e o aumento na eficiência da pulverização, a aplicação de agrotóxicos em alguns setores da agricultura, como a olericultura e a floricultura, continua sendo realizada de maneira bastante primitiva. Nesses setores, utiliza-se, ainda, o pulverizador semi-estacionário, equipado com longas mangueiras, cujo tanque permanece fixo durante a aplicação e o aplicador se desloca com uma lança de pulverização no interior da cultura. Tal método se caracteriza por utilizar pressões de trabalho e volumes de calda por área bastante elevados; além do grande desperdício, faz com que o aplicador fique exposto à calda pulverizada. Os pulverizadores semi-estacionários são normalmente equipados com ponteiras de dois ou três bicos, onde são posicionadas as pontas hidráulicas de pulverização do tipo leque. Dentre as pontas utilizadas, destacam-se as da Yamaho, da série 'D'; verifica-se que, apesar de sua importância nesse segmento, praticamente não há estudo sobre as características da pulverização que proporcionam, razão pela qual se elaborou este trabalho. 2. MATERIAL E MÉTODOS Para análise, selecionaram-se três pontas de cada um dos modelos D3, D4, D5, D6 e D8, de jato plano da Yamaho, de um lote de 25 pontas novas, que foram submetidas à análise do tamanho de gotas e vazão em decorrência da pressão. A avaliação do tamanho das gotas foi realizada no Laboratório do Departamento de Fitossanidade da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Jaboticabal (SP), utilizando-se um equipamento laser da marca Malvern, modelo Mastersizer. Para análise, as pontas foram posicionadas a aproximadamente 50 cm acima do laser e a 50 cm do ponto de emissão (posição mais adequada à leitura de gotas abaixo de 700 µm) e colocadas a trabalhar a pressões entre 703 e 2.813 kPa (100 e 400 psi), com variação de 352 kPa (50 psi). Durante a avaliação, o bico era movimentado de modo que o leque interceptasse transversalmente o laser, permitindo a amostragem de toda a área de pulverização. Cada uma das três pontas de cada modelo foi analisada individualmente e constituiu uma repetição. À média dos diâmetros medianos volumétricos (DMV)2 para cada ponta, aplicou-se uma análise de regressão a fim de determinar a equação que fornecesse o tamanho da gota em função da pressão. Para possibilitar a classificação da pulverização, avaliaram-se, nas mesmas condições, as pontas SF11001 a 450 kPa, SF11003 a 300 kPa, SF11006 a 200 kPa e SF8008 a 250 kPa, que atendem, respectivamente, as exigências como pontas de referência para divisão entre as classes muito fina/fina, fina/média, média/grossa e grossa/muito grossa (FAO, 1997; MATTHEWS, 1999). As avaliações de uniformidade de vazão foram realizadas no Laboratório de Tecnologia de Aplicação de Agrotóxicos do Centro de Mecanização e Automação Agrícola do Instituto Agronômico (IAC). Para a análise, cada ponta foi montada em um pulverizador semiestacionário e colocada a trabalhar a pressões de 703; 1.125; 1.406; 1.828,4; 2.110; 2.532 e 2.813 kPa (100, 160, 200, 260, 300, 360 e 400 psi). Para coleta do volume, após regulagem da pulverização, colocou-se o bico, por três minutos, dentro de um recipiente com boca estreita e capacidade de 20 litros. Realizaram-se três amostragens por ponta e os resultados foram transformados em L.min-1. Como as vazões das pontas da Yamaho são fornecidas para uma única pressão (1.969 kPa ou 280 psi), considerada ideal (YAMAHO, sd), calcularam-se as vazões para as demais, conforme as orientações de MATUO (1990) e SPRAYING SYSTEMS CO. (1999), pela fórmula: em que: L1: vazão conhecida da ponta na pressão P1 (L.min-1); P1: pressão de trabalho para proporcionar a vazão L1 (kPa); L 2: vazão desconhecida (L.min-1); P2: pressão de trabalho (kPa). Os manômetros utilizados nos ensaios de tamanho de gotas e vazão possuíam escala de 0 a 4.219 kPa (0 a 600 psi) e foram previamente aferidos com manômetro-padrão. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise da regressão mostrou que o diâmetro mediano volumétrico (DMV) foi uma função cúbica da pressão, com r superiores a 0,99, conforme se verifica no quadro 1. Aplicando-se as equações à faixa de pressão estudada, obtém-se o gráfico da figura 1. Observa-se, para todas as pontas, uma redução no tamanho das gotas em função do aumento da pressão, conforme o esperado para pontas hidráulicas de pulverização (MATTHEWS, 1979; MATUO, 1990). Apesar de não se esperar o cruzamento entre as linhas das pontas D5 e D6, ocorrida próxima a 1.969 kPa (280 psi), os tamanhos de gotas calculados para 2.813 kPa (400 psi) foram 54 e 52 µm respectivamente. Essa diferença de 2 µm não é significativa para a pulverização agrícola, portanto não interfere na representatividade das equações. Como o DMV obtido para a ponta de referência F110/0,48/4,5, que separa as classes muito fina e fina, foi de 129 µm, observase pela figura 1 que todas as pontas, em toda a faixa de pressão estudada, apresentam pulverização muito fina. Analisando-se os dados obtidos para a variação do tamanho de gotas em função da porcentagem do volume pulverizado, para as pressões de 1.758 e 2.110 kPa (250 e 300 psi), respectivamente, a menor e a maior pressão recomendada pelo fabricante, obtêm-se os gráficos das figuras 2 e 3. Tais gráficos foram obtidos plotando-se diretamente a média do tamanho de gotas para cada uma das porcentagens de volume acumulado, por isso as curvas não apresentam formato regular como na figura 1. Observa-se que, em qualquer das duas pressões consideradas, pelo menos 90% do volume pulverizado é constituído por gotas inferiores a 150 µm e 35% por gotas inferiores a 50 µm. Considerando-se que as gotas com diâmetros inferiores a 150 µm devem ser evitadas pelo alto potencial de deriva que apresentam (CHRISTOFOLETTI, 1990; ZHU et al., 1994; MATTHEWS, 1999), e que as de diâmetro igual ou inferior a 50 µm não conseguem se depositar, permanecendo suspensas no ar indefinidamente ou até evaporarem, impossibilitando o controle de sua deposição (ZHU et al., 1994; OKZAN, 2001), todas as pontas estudadas possuem elevado risco de perda por evaporação e deriva. Tal fato eleva o risco de contaminação tanto do aplicador como do ambiente. A perda, entretanto, nesse tipo de pulverização, pode ser reduzida em função da alta energia cinética, fornecida às gotas pela pressão e pela corrente de ar em direção ao alvo, criada pelo deslocamento das gotas em alta velocidade. Mesmo assim, observa-se exposição do aplicador superior a 3 L de calda por hora de trabalho (RAMOS et al., 2000) e perda superior a 70% do produto aplicado (CHAIM et al., 1999). Os resultados das vazões nas diferentes pressões podem ser observados no quadro 2. Os dados mostram que, exceto para a ponta D8 trabalhando a 1.828; 2.532 e 2.813 kPa (260, 360 e 400 psi respectivamente), a diferença entre as vazões calculadas e observadas encontraram-se sempre acima de 5%, não atendendo, portanto, ao padrão de uniformidade proposto por FAO (1997). 4. CONCLUSÃO As pontas Yamaho da série 'D' analisadas, além de não possuírem vazão uniforme, produzem espectro de gotas muito fino, o que pode potencializar as perdas de calda por evaporação e deriva, provocando maior contaminação do aplicador e do ambiente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHAIM, A.; CASTRO, V.L.S.S.; CORRALES, F.M.; GALVÃO, J.A.H.; CABRAL, O.M.R.; NOCOLELLA, G. Método para monitorar perdas na aplicação de agrotóxicos na cultura do tomate. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.34, n.5, p.741-747, 1999. [ Links ] CHRISTOFOLETTI, J.C. 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Desenvolvimento de pulverizador para culturas encanteiradas com vistas à redução da exposição do aplicador. III: Avaliação da exposição dérmica. Revista Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.20, n.3, p.221228, 2000. [ Links ] SPRAYING SYSTEMS Co. Teejet - produtos de pulverização para agricultura, 46M-BR/P. Wheaton, Illinois, 1999. 104p. [ Links ] ZHU, H.; REICHARD, D.L.; FOX, R.D.; BRAZEE, R.D.; OZKAN, H.E. Simulation of drift of discrete sizes of water droplets from field sprayers. Transaction of the ASAE, St. Joseph, v.37, n.5, p.1401-1407, 1994. [ Links ] Recebido para publicação em 13 de novembro de 2001 e aceito em 9 de agosto de 2002 Pulverização Produzida por Pontas Yamaho da Série ‘D’ 285 ENGENHARIA AGRÍCOLA CARACTERÍSTICAS DA PULVERIZAÇÃO PRODUZIDA POR PONTAS YAMAHO DA SÉRIE ‘D’(1) HAMILTON HUMBERTO RAMOS(2); TOMOMASSA MATUO(3); JOSÉ AUGUSTO BERNARDI(2); JOSÉ VALDEMAR GONZALEZ MAZIERO(2) RESUMO O presente trabalho tem como objetivo avaliar algumas das características da pulverização produzida por pontas Yamaho da série ‘D’. Avaliaram-se os tamanhos de gotas das pontas D3, D4, D5, D6 e D8 nas pressões de 703, 1.055, 1.406, 1.758, 2.110, 2.461 e 2.813 kPa (100, 150, 200, 250, 300, 350 e 400 psi), por meio de um equipamento laser marca Malvern, modelo Mastersizer. Avaliou-se, também, a vazão dessas pontas às pressões de 703, 1.125, 1.406, 1.828, 2.110, 2.532 e 2.813 kPa (100, 160, 200, 260, 300, 360 e 400 psi), comparando-as com as especificadas pelo fabricante. As gotas produzidas por todas as pontas, em todas as pressões analisadas, caracterizaram uma pulverização muito fina, o que, na agricultura, pode potencializar perdas por evaporação e deriva. Para todas as pontas, exceto para a D8 nas pressões de 1.828, 2.532 e 2.813 kPa, a diferença entre vazão observada e a especificada pelo fabricante foi superior a 5%. Concluiu-se que as pontas, além de não possuírem vazão uniforme, podem provocar a contaminação do aplicador e do ambiente em virtude do espectro de gotas produzido. Palavras-chave: agrotóxicos, pulverizador, pontas de pulverização. ABSTRACT CHARACTERISTICS OF SPRAY PRODUCED BY YAMAHO NOZZLE ‘D’ SERIES This study evaluated the characteristics of spray produced by Yamaho nozzle tip ‘D’ series. The droplet size of nozzle tips D3, D4, D5, D6 and D8 were evaluated at 703, 1.050, 1.406, 1.758, 2.110, 2.461 e 2.813 kPa pressures (100, 200, 250; 350, e 400 psi) by means of laser equipment, as well as the flow rate of nozzle tip at the pressures of 702, 1.125, 1.406, 1.828, 2.110, 2.532 e 2.813 kPa (100, 160, 200, 260, 300; 360 e 400 psi) which were compared with values indicated by manufacturer. The droplet produced at all pressures presented a very fine spray, which in agriculture may promote losses by evaporation and drift. For all nozzle tips, except D8 in pressures 1.828, 2.532 e 2.813 kPa, the difference between the observed flow rate indicated by the manufacturer was higher than 5%. The paper demonstrates that the nozzle tip tested, in spite of not having uniform flow rate, may promote the contamination of spray operator and environment due to the droplet spectrum produced. Key words: pesticides, sprayers, spraying nozzle. (1) Trabalho integrante das atividades do Programa Segurança e Saúde do Trabalhador Rural (Convênio SAA/SP e FUNDACENTRO). Recebido para publicação em 13 de novembro de 2001 e aceito em 9 de agosto de 2002. (2) Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Engenharia e Automação, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 26, 13201-970 Jundiaí (SP). E-mail: [email protected] 3 ( ) Departamento de Fitossanidade, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (UNESP), Via de acesso Prof. Paulo D. Castellane, 14884-000 Jaboticabal (SP). Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 285-290, 2002 H.H. RAMOS et al. 286 1. INTRODUÇÃO Apesar da evolução verificada nos pulverizadores e em seus componentes, nos últimos anos, marcadamente pela introdução de dispositivos eletrônicos que proporcionaram a possibilidade da redução do volume de calda aplicado e o aumento na eficiência da pulverização, a aplicação de agrotóxicos em alguns setores da agricultura, como a olericultura e a floricultura, continua sendo realizada de maneira bastante primitiva. Nesses setores, utiliza-se, ainda, o pulverizador semiestacionário, equipado com longas mangueiras, cujo tanque permanece fixo durante a aplicação e o aplicador se desloca com uma lança de pulverização no interior da cultura. Tal método se caracteriza por utilizar pressões de trabalho e volumes de calda por área bastante elevados; além do grande desperdício, faz com que o aplicador fique exposto à calda pulverizada. Os pulverizadores semi-estacionários são normalmente equipados com ponteiras de dois ou três bicos, onde são posicionadas as pontas hidráulicas de pulverização do tipo leque. Dentre as pontas utilizadas, destacam-se as da Yamaho, da série ‘D’; verifica-se que, apesar de sua importância nesse segmento, praticamente não há estudo sobre as características da pulverização que proporcionam, razão pela qual se elaborou este trabalho. 2. MATERIAL E MÉTODOS Para análise, selecionaram-se três pontas de cada um dos modelos D3, D4, D5, D6 e D8, de jato plano da Yamaho, de um lote de 25 pontas novas, que foram submetidas à análise do tamanho de gotas e vazão em decorrência da pressão. A avaliação do tamanho das gotas foi realizada no Laboratório do Departamento de Fitossanidade da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Jaboticabal (SP), utilizando-se um equipamento laser da marca Malvern, modelo Mastersizer. Para análise, as pontas foram posicionadas a aproximadamente 50 cm acima do laser e a 50 cm do ponto de emissão (posição mais adequada à leitura de gotas abaixo de 700 µm) e colocadas a trabalhar a pressões entre 703 e 2.813 kPa (100 e 400 psi), com variação de 352 kPa (50 psi). Durante a avaliação, o bico era movimentado de modo que o leque interceptasse transversalmente 4 o laser, permitindo a amostragem de toda a área de pulverização. Cada uma das três pontas de cada modelo foi analisada individualmente e constituiu uma repetição. À média dos diâmetros medianos volumétricos (DMV)(4) para cada ponta, aplicou-se uma análise de regressão a fim de determinar a equação que fornecesse o tamanho da gota em função da pressão. Para possibilitar a classificação da pulverização, avaliaram-se, nas mesmas condições, as pontas SF11001 a 450 kPa, SF11003 a 300 kPa, SF11006 a 200 kPa e SF8008 a 250 kPa, que atendem, respectivamente, as exigências como pontas de referência para divisão entre as classes muito fina/ fina, fina/média, média/grossa e grossa/muito grossa (FAO, 1997; MATTHEWS, 1999). As avaliações de uniformidade de vazão foram realizadas no Laboratório de Tecnologia de Aplicação de Agrotóxicos do Centro de Mecanização e Automação Agrícola do Instituto Agronômico (IAC). Para a análise, cada ponta foi montada em um pulverizador semi-estacionário e colocada a trabalhar a pressões de 703; 1.125; 1.406; 1.828,4; 2.110; 2.532 e 2.813 kPa (100, 160, 200, 260, 300, 360 e 400 psi). Para coleta do volume, após regulagem da pulverização, colocou-se o bico, por três minutos, dentro de um recipiente com boca estreita e capacidade de 20 litros. Realizaram-se três amostragens por ponta e os resultados foram transformados em L.min-1. Como as vazões das pontas da Yamaho são fornecidas para uma única pressão (1.969 kPa ou 280 psi), considerada ideal (Y AMAHO , sd), calcularam-se as vazões para as demais, conforme as orientações de MATUO (1990) e SPRAYING SYSTEMS Co. (1999), pela fórmula: L1 = P1 L2 = P2 em que: L1: vazão conhecida da ponta na pressão P1 (L.min-1); P1: pressão de trabalho para proporcionar a vazão L1 (kPa); L 2: vazão desconhecida (L.min-1); P2: pressão de trabalho (kPa). Os manômetros utilizados nos ensaios de tamanho de gotas e vazão possuíam escala de 0 a 4.219 kPa (0 a 600 psi) e foram previamente aferidos com manômetro-padrão. ( ) Diâmetro da gota que divide o volume pulverizado em duas partes iguais. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 285-290, 2002 Pulverização Produzida por Pontas Yamaho da Série ‘D’ 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise da regressão mostrou que o diâmetro mediano volumétrico (DMV) foi uma função cúbica da pressão, com r superiores a 0,99, conforme se verifica no quadro 1. Aplicando-se as equações à faixa de pressão estudada, obtém-se o gráfico da figura 1. Observa-se, para todas as pontas, uma redução no tamanho das gotas em função do aumento da pressão, conforme o esperado para pontas hidráulicas de pulverização (MATTHEWS, 1979; MATUO, 1990). Apesar de não se esperar o cruzamento entre as linhas das pontas D5 e D6, ocorrida próxima a 1.969 kPa (280 psi), os tamanhos de gotas calculados para 2.813 kPa (400 psi) foram 54 e 52 µm respectivamente. Essa diferença de 2 µm não é significativa para a pulverização agrícola, portanto não interfere na representatividade das equações. Como o DMV obtido para a ponta de referência F110/0,48/4,5, que separa as classes muito fina e fina, foi de 129 µm, observa-se pela figura 1 que todas as pontas, em toda a faixa de pressão estudada, apresentam pulverização muito fina. Analisando-se os dados obtidos para a variação do tamanho de gotas em função da porcentagem do volume pulverizado, para as pressões de 1.758 e 2.110 kPa (250 e 300 psi), respectivamente, a menor e a maior pressão recomendada pelo fabricante, obtêm- 287 se os gráficos das figuras 2 e 3. Tais gráficos foram obtidos plotando-se diretamente a média do tamanho de gotas para cada uma das porcentagens de volume acumulado, por isso as curvas não apresentam formato regular como na figura 1. Observa-se que, em qualquer das duas pressões consideradas, pelo menos 90% do volume pulverizado é constituído por gotas inferiores a 150 µm e 35% por gotas inferiores a 50 µm. Considerando-se que as gotas com diâmetros inferiores a 150 µm devem ser evitadas pelo alto potencial de deriva que apresentam (CHRISTOFOLETTI, 1990; ZHU et al., 1994; MATTHEWS, 1999), e que as de diâmetro igual ou inferior a 50 µm não conseguem se depositar, permanecendo suspensas no ar indefinidamente ou até evaporarem, impossibilitando o controle de sua deposição (ZHU et al., 1994; OKZAN, 2001), todas as pontas estudadas possuem elevado risco de perda por evaporação e deriva. Tal fato eleva o risco de contaminação tanto do aplicador como do ambiente. A perda, entretanto, nesse tipo de pulverização, pode ser reduzida em função da alta energia cinética, fornecida às gotas pela pressão e pela corrente de ar em direção ao alvo, criada pelo deslocamento das gotas em alta velocidade. Mesmo assim, observa-se exposição do aplicador superior a 3 L de calda por hora de trabalho (RAMOS et al., 2000) e perda superior a 70% do produto aplicado (CHAIM et al., 1999). Figura 1. Variação do tamanho de gotas determinadas pela pressão das pontas Yamaho da série ‘D’. Linhas verticais ininterruptas representam as pressões máxima e mínima, e a pontilhada, a pressão ideal de trabalho, recomendada pelo fabricante. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 285-290, 2002 H.H. RAMOS et al. 288 Quadro 1. Equações para determinação do DMV decorrentes da pressão de trabalho, para as pontas Yamaho da série ‘D’ Ponta Equação R D3 DMV = 99,20036 – (0,3852786 x P) + (1,176372E-03 x P2) – (1,314395E-06 x P3) 0,9996 D4 DMV = 106,8499 – (0,3894048 x P) + (1,043716E-03 x P2) – (1,060365E-06 x P3) 0,9980 D5 DMV = 106,1964 – (0,2476241 x P) + (3,575929E-04 x P ) – (1,847794E-07 x P ) 0,9999 D6 DMV = 102,9310 – (0,2885739 x P) + (6,711184E-04 x P ) – (6,340420E-07 x P ) 0,9985 D8 DMV = 112,2271 – (0,2511880 x P) + (3,974102E-04 x P2) – (2,448577E-07 x P3) 0,9984 2 2 3 3 DM: diâmetro mediano volumétrico, em micrômetros. P: pressão de trabalho, em psi (1 psi = 7,032349 kPa). Figura 2. Variação do tamanho de gotas em razão do volume pulverizado para pontas Yamaho da série ‘D’ trabalhando a 1.758 kPa. Os dados da seqüência MF/F correspondem à pulverização da ponta-referência para divisão entre as classes muito fina e fina. Figura 3. Variação do tamanho de gotas em razão do volume pulverizado para pontas Yamaho da série ‘D’ trabalhando a 2.110 kPa. Os dados da seqüência MF/F correspondem à pulverização da ponta-referência para divisão entre as classes muito fina e fina. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 285-290, 2002 Pulverização Produzida por Pontas Yamaho da Série ‘D’ 289 Quadro 2. Comparação das vazões especificadas pelo fabricante com as vazões observadas para pontas Yamaho da série ‘D’ Pressão (psi)(1) Ponta 100 160 Vazão Fab. (2) Dif. Vazão Obs. Fab. L/min 200 Dif. Vazão Obs. (2) 260 Fab Dif. Vazão Obs. (2) Fab. Dif. Obs. (2) % L/min % L/min % L/min D3 0,45 0,59 -31,80 0,57 0,74 -30,13 0,63 0,83 -31,70 0,72 0,94 -30,58 % D4 0,50 0,65 -30,30 0,63 0,81 -29,16 0,70 0,91 -29,83 0,80 1,04 -29,43 D5 0,54 0,74 -37,72 0,68 0,94 -38,60 0,76 1,06 -38,82 0,87 1,19 -37,04 D6 0,69 0,84 -21,65 0,88 1,08 -22,70 0,98 1,19 -21,83 1,12 1,38 -23,59 D8 1,05 0,97 6,93 1,32 1,25 5,20 1,48 1,40 5,64 1,69 1,61 4,63 Pressão (psi)(1) Ponta 300 Vazão Fab. (2) 0,78 0,86 0,93 1,20 1,81 Dif. Obs. L/min D3 D4 D5 D6 D8 360 1,03 1,12 1,31 1,48 1,71 Vazão Fab. (2) % L/min -32,49 -30,69 -40,42 -22,86 5,79 0,85 0,94 1,02 1,32 1,98 400 Dif. Obs. 1,11 1,24 1,44 1,62 1,89 Vazão Fab (2) % L/min -30,74 -32,07 -41,00 -23,45 4,90 0,90 0,99 1,08 1,39 2,09 Dif. Obs. % 1,19 1,30 1,48 1,71 2,00 -32,30 -31,08 -37,93 -23,50 4,61 (1) 1 psi = 7,032349 kPa. (2) Calculada com base na vazão a 280 psi, fornecida pelo fabricante (YAMAHO, sd). Os resultados das vazões nas diferentes pressões podem ser observados no quadro 2. Os dados mostram que, exceto para a ponta D8 trabalhando a 1.828; 2.532 e 2.813 kPa (260, 360 e 400 psi respectivamente), a diferença entre as vazões calculadas e observadas encontraram-se sempre acima de 5%, não atendendo, portanto, ao padrão de uniformidade proposto por FAO (1997). 4. CONCLUSÃO As pontas Yamaho da série ‘D’ analisadas, além de não possuírem vazão uniforme, produzem espectro de gotas muito fino, o que pode potencializar as perdas de calda por evaporação e deriva, provocando maior contaminação do aplicador e do ambiente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHAIM, A.; CASTRO, V.L.S.S.; CORRALES, F.M.; GALVÃO, J.A.H.; CABRAL, O.M.R.; NOCOLELLA, G. Método para monitorar perdas na aplicação de agrotóxicos na cultura do tomate. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.34, n.5, p.741-747, 1999. CHRISTOFOLETTI, J.C. Manual Shell de máquinas e técnicas de aplicação de defensivos agrícolas. São Paulo: Shell, 1992. 124p. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS (FAO). - Approved status for agricultural pesticide sprayers: Portable (operator-carried) sprayers. Sprayer specifications. Roma, 1997. v.1, 27p. INDÚSTRIA E COMÉRCIO YAMAHO LTDA. Catálogo geral: completa linha de bicos e acessórios para pulverizadores agrícolas. Diadema: YAMAHO, sd. 6p. MATTHEWS, G.A. Application of pesticides to crops. London: Imperial College Press, 1999. 325p. MATTHEWS, G.A. Pesticide application methods. London: Longman, 1979. 332p. MATUO, T. Técnicas de aplicação de defensivos agrícolas. Jaboticabal: FUNEP, 1990. 139p. OKZAN, H.E. Bulletin 816: Reducing spray drift. Ohio State University Extension Bulletin. Disponível em: www.ag.ohio-state.edu/~ohioline/b816/ b816_6.html. RAMOS, H.H.; MATUO, T.; MAZIERO, J.V.G.; YANAI, K.; CORRÊA, I.M. Desenvolvimento de pulverizador Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 285-290, 2002 H.H. RAMOS et al. 290 para culturas encanteiradas com vistas à redução da exposição do aplicador. III: Avaliação da exposição dérmica. Revista Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.20, n.3, p.221-228, 2000. SPRAYING SYSTEMS Co. Teejet – produtos de pulverização para Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 285-290, 2002 agricultura, 46M-BR/P. Wheaton, Illinois, 1999. 104p. ZHU, H.; REICHARD, D.L.; FOX, R.D.; BRAZEE, R.D.; OZKAN, H.E. Simulation of drift of discrete sizes of water droplets from field sprayers. Transaction of the ASAE, St. Joseph, v.37, n.5, p.1401-1407, 1994. Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.61 no.3 Campinas Sept./Dec. 2002 ENGENHARIA AGRÍCOLA Análise da pulverização de um fungicida na cultura do feijão, em função do tipo de ponta e do volume aplicado Analysis of nozzle type and spraying volume of a fungicide applied on the bean crops Luiz Claudio GarciaI; Altair JustinoII; Hamilton Humberto RamosIII IAcadêmico de Agronomia. Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Rua Paulo Pinheiro Schimdt, 366, Uvaranas, 84031-520 Ponta Grossa (PR). E-mail: [email protected] IIDepartamento de Engenharia Agrícola e Ciências do Solo, UEPG IIICentro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Engenharia e Automação, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 26, 13201-970 Jundiaí (SP) RESUMO A cultura do feijão (Phaseolus vulgaris L.) é uma das mais importantes na agricultura brasileira. A ocorrência de doenças é um sério fator de influência no seu desenvolvimento e produtividade. Objetivou-se com o experimento instalado no município de Ponta Grossa (PR) analisar diferentes condições de pulverização para aplicação de um fungicida. Semeou-se a cultivar carioca FT-Bonito em janeiro de 2001. Realizou-se a pulverização do ingrediente ativo azoxystrobin com pulverizador costal pressurizado com CO2. Os tratamentos foram compostos por dois tipos de pontas (jato plano e cônico vazio) e por dois métodos de determinação do volume de calda aplicado, fornecido pelo fabricante e pelo índice de área foliar - IAF. O volume definido pelo IAF foi acurado pela proporcionalidade com o máximo valor do referido índice, obtido previamente por meio de ensaio em estufa. Avaliaram-se a incidência e severidade das doenças e a produtividade. O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados e as médias obtidas, comparadas pelo teste de Tukey e os grupos de médias, pelo teste de Scheffé. Os dados obtidos demonstraram que foi necessário o tratamento fúngico para a região dos Campos Gerais, na safra das secas, principalmente para o controle de mancha-angular (Phaeoisariopsis griseola). Verificou-se que o tipo de ponta utilizado foi indiferente em relação ao controle quando se aplicou azoxystrobin. O volume de calda pulverizado pode ser calculado com base no IAF da cultura, com economia até de 69% do custo de aplicação, nas condições do ensaio. Palavras-chave: área foliar, severidade, produtividade. ABSTRACT Bean (Phaseolus vulgaris L.) is one of the most important crop in Brazilian agriculture. Fungi diseases are among the most restraining production factor. A test was performed aiming to analyze the spraying effect of fungicide based on nozzle type and application volume of a fungicide. The variety carioca FT-Bonito was planted in January/2001 on an experimental plot in Ponta Grossa, State of Paraná. The active ingredient azoxystrobin was sprayed using a pressurized costal spray with CO2. The treatments were composed by two types of nozzles (fan and empty cone) and by two methods of volume determination (manufacturer's recommendation and Leaf Area Index - LAI). The volume for the LAI method was defined by the proportionality with the maximum value of the related index, previously obtained in a greenhouse. The incidence productivity and disease severity were evaluated. The experimental design was plots with random blocks. The average values were compared by Tukey test while group of average values were compared by Scheffé test. The data showed that the treatment with fungicide was necessary for the Campos Gerais area, in the drought season harvest, mainly for the control of the angular leaf spot disease caused by Phaeoisariopsis griseola. Different nozzle types showed no differences when using azoxystrobin. The volume sprayed could be calculated on the culture LAI basis, with economy of up to 69% of the application cost, in the test conditions. Key words: leaf area, severity, productivity. 1. INTRODUÇÃO O Brasil produz e consome, em média, 3,25 milhões de toneladas de feijão por ano, número que coloca o país em segundo lugar no ranking mundial de produtores e consumidores; dentro da federação, o Estado do Paraná apresenta o maior volume de produção (EMBRAPA, 2000). Atualmente, cerca de 60 doenças atacam a cultura do feijão, sendo 31 causadas por fungos, das quais as tradicionalmente importantes na região dos Campos Gerais são a antracnose (Colletotrichum lindemuthianum), ferrugem (Uromyces appendiculatus) e mancha-angular (Phaeoisariopsis griseola), podendo-se empregar a aplicação de fungicidas específicos como componente da estratégia de controle dessas doenças (DALLA-PRIA et al., 1999). Considerando uma pulverização sobre a superfície da cultura, com indicação da quantidade do produto por hectare (dose), em lavoura nova, para um hectare do terreno poderá haver menos de um hectare de folhas, mas em pouco tempo esse hectare de terreno poderá ter várias vezes a área em hectares de superfície vegetal, e, evidentemente, não se deve indicar o mesmo volume de calda para situações tão diferentes. Em geral, a indicação da dose por hectare não vem acompanhada de referência quanto ao tamanho das plantas, no qual reside uma forma de desajuste, normalmente acentuado em plantas pequenas, que pode representar uma sobredosagem apreciável (MATUO, 1990). A escolha da ponta de pulverização está condicionada ao alvo que se deseja atingir. RAMOS et al. (1998) concluíram que, para jatos plano e cônico em alturas de 0,15; 0,30 e 0,45 m do alvo, quando o objetivo da pulverização é atingir um alvo horizontal ou a parte superior de um alvo inclinado, o tipo de jato é indiferente, sendo viável a seleção da ponta em virtude de outras variáveis da pulverização, como por exemplo, o vento. Para alvos verticais, quando o objetivo é apenas a parte frontal, situação que poderia ocorrer na aplicação de produtos sistêmicos, a forma do jato não tende a influir na deposição. No entanto, quando o objetivo é a deposição em ambas as faces, pode-se obter melhores resultados utilizando-se ponta com jato do tipo cônico ou plano duplo. Buscando testar as recomendações dos autores citados, o experimento teve como objetivo avaliar a pulverização de um fungicida sistêmico preventivo para o controle de antracnose, ferrugem e mancha-angular na cultura do feijão, em função do tipo de ponta e do volume de calda utilizado, levando-se em consideração a produtividade e os custos da aplicação. 2. MATERIAL E MÉTODOS Realizou-se a semeadura da cultivar carioca FT-Bonito, para o ensaio de determinação da área foliar, em vasos de 5 litros, protegidos por estufa de não-tecido, contendo substrato Plant Max®, em 15 de dezembro de 2000. O índice de área foliar (IAF), em todos os estádios de desenvolvimento da cultura, foi medido pela fórmula proposta por IAMAUTI (1995): A = 2,1 x (L)2, em que A é a área foliar (cm2) e L, a largura máxima do folíolo central do trifólio (cm). O experimento em campo foi instalado na Fazenda-Escola Capão da Onça, município de Ponta Grossa (PR), altitude de 900 m, 25o16' de latitude Sul e 50o16' de longitude Oeste, clima Cfb, em parcelas de 3 x 7 m, relevo plano, Argissolo Vermelho-Amarelo Alumínico alissólico, em sistema de plantio direto sob a palha. Utilizando uma semeadora Semeato modelo PS6, realizou-se a semeadura em 30 de janeiro de 2001, empregando-se o mesmo lote de sementes dos vasos em estufa, com espaçamento de 0,45 m entre linhas e 0,08 m entre plantas. As plântulas emergiram em 4 de fevereiro do mesmo ano. Demais atividades de manejo (adubações, controle de plantas daninhas e pragas) foram conduzidas similarmente em todas parcelas, conforme os procedimentos normais recomendados para essa cultura e adotados pela fazenda-escola. Os tratamentos foram constituídos por quatro aplicações (JA-1 com calda determinada pelo IAF; JA-2 com calda de 200 L.ha-1; 110-UF-01 com calda determinada pelo índice de área foliar - IAF e 110-UF-02 com calda de 200 L.ha-1) e pela testemunha (sem tratamento fúngico). Os filtros para bicos utilizados foram de malha 80 para as pontas JA-1 e 110-UF-01 e malha 50 para as pontas JA-2 e 110-UF-02, conforme recomendações do fabricante (Jacto, 2001). Pontas da série UF são do tipo jato plano com fabricação em Kematal® e as pontas da série JA são do tipo jato cônico vazio com fabricação em cerâmica. As aplicações foram realizadas com pulverizador costal pressurizado com CO2, barra munida de quatro bicos, espaçados em 0,5 m entre si, pressão de 211 KPa, utilizando o ingrediente ativo azoxystrobin, fungicida sistêmico preventivo, para o controle de antracnose (Colletotrichum lindemuthianum), ferrugem (Uromyces appendiculatus) e mancha-angular (Phaeoisariopsis griseola). Antes de cada pulverização, mediu-se o IAF pelo mesmo método empregado nas plantas em estufa, definindo o volume da calda pela proporção entre o valor encontrado e o índice máximo obtido na mesma cultivar em cultivo protegido, considerandose 200 L.ha-1 como o volume a ser aplicado na situação de IAF máximo. Os diferentes volumes de calda foram obtidos pela variação na velocidade de aplicação. Os efeitos do tratamento fungicida, das pontas e do volume da calda pulverizado sobre a cultura foram avaliados aos 72 dias após a emergência pela coleta, ao acaso, de 30 folhas de cada parcela (10 na parte superior, 10 na parte mediana e 10 na parte inferior das plantas). Mediu-se a incidência das doenças, utilizando-se as escalas diagramáticas de severidade, apresentadas em DALLA-PRIA et al. (1999). Também se mensurou a produtividade, colhendo-se a cultura aos 87 dias após a emergência, com quatro repetições de 1 m2, escolhidas aleatoriamente, totalizando 4 m2 por parcela. Retirou-se a umidade e as impurezas, pesou-se e converteu-se a referida produção em kg.ha1. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com 4 repetições. Analisou-se a homocedasticidade pelo teste de Hartley; posteriormente, aplicou-se o teste F. A comparação múltipla de médias foi realizada pelo teste de Tukey. Para a verificação dos contrastes que envolvem grupos de médias, utilizou-se o teste de Scheffé, conforme indicações de BANZATTO e KRONKA (1995). O cálculo da diferença do custo da pulverização, entre os métodos de determinação do volume de calda fornecido pelo fabricante e IAF, teve como base os dados da FUNDAÇÃO ABC (2001), levando-se em conta mão-de-obra, trator de 52,2-66,2kW/4R, pulverizador com tanque de 200 L e barra de 14 m. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Obteve-se o ponto máximo do IAF, em condições de estufa, aos 60 dias após a emergência, no estádio de antese plena. O IAF máximo foi 8, significando haver oito vezes mais superfície de folhas do que superfície de solo. Quando da instalação da cultura no campo, o IAF máximo foi de 2,5, aos 40 dias após a emergência. Tal fato ocorreu pelo alto grau de incidência e severidade da doença denominada mancha-angular, que entre os sintomas apresenta desfolhamento precoce (Figura 1). Com a medição do IAF antes de cada pulverização, chegou-se aos volumes de calda pulverizada pelo estádio de desenvolvimento da cultura (Quadro 1). Alerta-se que em condições de campo, as pontas JA-1 e 110-UF-01, por necessitarem de peneira malha 80 para o bico, podem não representar soluções viáveis, principalmente para as formulações pó molhável (PM) e suspensão concentrada (SC). Historicamente, a ocorrência da mancha-angular já é comum na safra da seca na região dos Campos Gerais (PR), mesmo com controle químico preventivo. O ano agrícola 2000/01 apresentou, porém, condições climáticas ideais para proliferação do agente etiológico Phaeoisariopsis griseola, com temperaturas entre 18 oC e 25 oC, períodos de alta umidade para infecção e desenvolvimento e intervalos com baixa umidade para disseminação de esporos (Figura 2). Em relação às doenças ferrugem e antracnose, não se constataram incidência e severidade significativa de ambas na cultura, o que também é freqüente para este período na região. Verifica-se que houve diferença estatística significativa na produtividade da cultura do feijão entre a testemunha e os tratamentos, com grau de confiança superior a 99% de probabilidade. Já entre os tratamentos, não se observou diferença significativa no que se refere à produtividade (Figura 3). Ao aplicar o teste de Scheffé para testar os possíveis contrastes entre os grupos de médias que envolviam aplicação com ponta tipo jato plano versus cônico vazio, concluiu-se pela nãosignificância com grau de confiança superior a 95% de probabilidade. Ao testar as médias de produtividade obtidas por pulverização com volume de calda de 200 L.ha-1 em contraste com o volume definido pelo IAF, verificou-se diferença não significativa ao nível de 5%. Considerando o custo da pulverização, que segundo a FUNDAÇÃO ABC (2001) era de R$30,44 por hora, em abril de 2001, observa-se que, nas condições do ensaio, os custos com a aplicação seriam reduzidos de R$5,44 por hectare para o volume de 200 L.ha-1 para R$3,62; R$2,42 e R$1,67 por hectare, respectivamente, para os volume de 135, 90 e 60 L.ha-1. Dessa forma, pode-se obter redução até de 69% nos custos com a aplicação pela adequação do volume por meio da área foliar, sem que isso resulte em perda de eficiência do fungicida azoxystrobin. 4. CONCLUSÕES 1. O tratamento fúngico, na safra da seca, foi necessário para a cultura do feijão na região dos Campos Gerais (PR), principalmente para mancha-angular. 2. Para o tratamento de doenças fúngicas, com azoxystrobin nas condições do ensaio, o tipo de ponta escolhida, jato cônico vazio ou plano foi indiferente. 3. A severidade da mancha-angular e a produtividade da cultura não foram influenciadas pelo método de determinação do volume da calda, entretanto, o da calda pulverizada, calculada com base no IAF, reduz até 69% o custo da aplicação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANZATTO, D.A.; KRONKA, S.N. Experimentação Agrícola. 3.ed. Jaboticabal: FUNEP, 1995. 247p. [ Links ] DALLA-PRIA, M.; SILVA, O.C. da; COSTA, J.L. da S.; SOUZA, E.D. de T.; BERNI, R.F. Métodos de avaliação das doenças. In: CANTERI, M.G. Principais doenças fúngicas do feijoeiro. Ponta Grossa: Editora UEPG, 1999. p.17-25. [ Links ] EMBRAPA. Feijão. Disponível em: http://www.embrapa.com.br. Acesso em: 5 de março de 2001. [ Links ] FUNDAÇÃO ABC. Custo de mecanização agrícola. Castro: Fundação ABC, 2001. ano 3, n.14, p.33. [ Links ] IAMAUTI, M.T. Avaliação de danos causados por Uromyces appendiculatus no feijoeiro. 1995. 93f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba. [ Links ] JACTO. Produtos. On-line. Disponível em: http://www.jacto.com.br. Acesso em: 5 de janeiro [ Links ] de 2001. MATUO, T. Técnicas de aplicação de defensivos agrícolas. Jaboticabal: FUNEP, 1990, p.386. [ Links ] RAMOS, H.H.; MATUO, T.; ALMEIDA, A.N. et al. Cobertura do alvo pela pulverização com bico hidráulico em função do tipo de jato, posição do alvo e altura de aplicação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 27., 1998, Poços de Caldas. Anais... Lavras: UFLA/SBEA, 1998. v.3, p.169-171. [ Links ] Recebido para publicação em 28 de novembro de 2001 e aceito em 29 de agosto de 2002 Experimento financiado por bolsa da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PIBIC/UEPG/CNPq) © 2007 Instituto Agronômico Avenida Barão de Itapura, 1481 13020-902 Campinas SP - Brazil Tel.: +55 19 3231-5422 - ramal 116 Fax: (55 19) 3231-5422 - ramal 215 Análise da Pulverização de um Fungicida na Cultura do Feijão 291 ANÁLISE DA PULVERIZAÇÃO DE UM FUNGICIDA NA CULTURA DO FEIJÃO, EM FUNÇÃO DO TIPO DE PONTA E DO VOLUME APLICADO(1) LUIZ CLAUDIO GARCIA(2); ALTAIR JUSTINO(3); HAMILTON HUMBERTO RAMOS(4) RESUMO A cultura do feijão (Phaseolus vulgaris L.) é uma das mais importantes na agricultura brasileira. A ocorrência de doenças é um sério fator de influência no seu desenvolvimento e produtividade. Objetivou-se com o experimento instalado no município de Ponta Grossa (PR) analisar diferentes condições de pulverização para aplicação de um fungicida. Semeou-se a cultivar carioca FTBonito em janeiro de 2001. Realizou-se a pulverização do ingrediente ativo azoxystrobin com pulverizador costal pressurizado com CO2. Os tratamentos foram compostos por dois tipos de pontas (jato plano e cônico vazio) e por dois métodos de determinação do volume de calda aplicado, fornecido pelo fabricante e pelo índice de área foliar - IAF. O volume definido pelo IAF foi acurado pela proporcionalidade com o máximo valor do referido índice, obtido previamente por meio de ensaio em estufa. Avaliaram-se a incidência e severidade das doenças e a produtividade. O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados e as médias obtidas, comparadas pelo teste de Tukey e os grupos de médias, pelo teste de Scheffé. Os dados obtidos demonstraram que foi necessário o tratamento fúngico para a região dos Campos Gerais, na safra das secas, principalmente para o controle de mancha-angular (Phaeoisariopsis griseola). Verificou-se que o tipo de ponta utilizado foi indiferente em relação ao controle quando se aplicou azoxystrobin. O volume de calda pulverizado pode ser calculado com base no IAF da cultura, com economia até de 69% do custo de aplicação, nas condições do ensaio. Palavras-chave: área foliar, severidade, produtividade. ABSTRACT ANALYSIS OF NOZZLE TYPE AND SPRAYING VOLUME OF A FUNGICIDE APPLIED ON THE BEAN CROPS Bean (Phaseolus vulgaris L.) is one of the most important crop in Brazilian agriculture. Fungi diseases are among the most restraining production factor. A test was performed aiming to analyze the spraying effect of fungicide based on nozzle type and application volume of a fungicide. The variety carioca FT-Bonito was planted in January/2001 on an experimental plot in Ponta Grossa, State of Paraná. The active ingredient azoxystrobin was sprayed using a pressurized costal spray with CO2. The treatments were composed by two types of nozzles (fan and empty cone) and by two methods of volume determination (manufacturer’s recommendation and Leaf Area Index - LAI). The volume for the LAI method was defined by the proportionality with the maximum value of the related index, previously obtained in a greenhouse. The incidence productivity and disease severity were evaluated. The experimental design was plots with random blocks. The average values were compared by Tukey test while group of average values were compared by Scheffé test. The data showed that the treatment with fungicide was necessary for the Campos Gerais area, in the drought season harvest, mainly for the control of the angular leaf spot disease caused by Phaeoisariopsis griseola. Different nozzle types showed no differences when using azoxystrobin. The volume sprayed could be calculated on the culture LAI basis, with economy of up to 69% of the application cost, in the test conditions. Key words: leaf area, severity, productivity. (1) Experimento financiado por bolsa da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PIBIC/UEPG/CNPq). Recebido para publicação em 28 de novembro de 2001 e aceito em 29 de agosto de 2002. (2) Acadêmico de Agronomia. Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Rua Paulo Pinheiro Schimdt, 366, Uvaranas, 84031-520 Ponta Grossa (PR). E-mail: [email protected] 3 ( ) Departamento de Engenharia Agrícola e Ciências do Solo, UEPG. 4 ( ) Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Engenharia e Automação, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 26, 13201-970 Jundiaí (SP). Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 291-295, 2002 L.C. GARCIA et al. 292 1. INTRODUÇÃO 2. MATERIAL E MÉTODOS O Brasil produz e consome, em média, 3,25 milhões de toneladas de feijão por ano, número que coloca o país em segundo lugar no ranking mundial de produtores e consumidores; dentro da federação, o Estado do Paraná apresenta o maior volume de produção (EMBRAPA, 2000). Atualmente, cerca de 60 doenças atacam a cultura do feijão, sendo 31 causadas por fungos, das quais as tradicionalmente importantes na região dos Campos Gerais são a antracnose (Colletotrichum lindemuthianum), ferrugem (Uromyces appendiculatus) e mancha-angular (Phaeoisariopsis griseola), podendo-se empregar a aplicação de fungicidas específicos como componente da estratégia de controle dessas doenças (DALLA-PRIA et al., 1999). Considerando uma pulverização sobre a superfície da cultura, com indicação da quantidade do produto por hectare (dose), em lavoura nova, para um hectare do terreno poderá haver menos de um hectare de folhas, mas em pouco tempo esse hectare de terreno poderá ter várias vezes a área em hectares de superfície vegetal, e, evidentemente, não se deve indicar o mesmo volume de calda para situações tão diferentes. Em geral, a indicação da dose por hectare não vem acompanhada de referência quanto ao tamanho das plantas, no qual reside uma forma de desajuste, normalmente acentuado em plantas pequenas, que pode representar uma sobredosagem apreciável (MATUO, 1990). A escolha da ponta de pulverização está condicionada ao alvo que se deseja atingir. RAMOS et al. (1998) concluíram que, para jatos plano e cônico em alturas de 0,15; 0,30 e 0,45 m do alvo, quando o objetivo da pulverização é atingir um alvo horizontal ou a parte superior de um alvo inclinado, o tipo de jato é indiferente, sendo viável a seleção da ponta em virtude de outras variáveis da pulverização, como por exemplo, o vento. Para alvos verticais, quando o objetivo é apenas a parte frontal, situação que poderia ocorrer na aplicação de produtos sistêmicos, a forma do jato não tende a influir na deposição. No entanto, quando o objetivo é a deposição em ambas as faces, pode-se obter melhores resultados utilizando-se ponta com jato do tipo cônico ou plano duplo. Buscando testar as recomendações dos autores citados, o experimento teve como objetivo avaliar a pulverização de um fungicida sistêmico preventivo para o controle de antracnose, ferrugem e manchaangular na cultura do feijão, em função do tipo de ponta e do volume de calda utilizado, levando-se em consideração a produtividade e os custos da aplicação. Realizou-se a semeadura da cultivar carioca FTBonito, para o ensaio de determinação da área foliar, em vasos de 5 litros, protegidos por estufa de nãotecido, contendo substrato Plant Max®, em 15 de dezembro de 2000. O índice de área foliar (IAF), em todos os estádios de desenvolvimento da cultura, foi medido pela fórmula proposta por IAMAUTI (1995): A = 2,1 x (L)2, em que A é a área foliar (cm2) e L, a largura máxima do folíolo central do trifólio (cm). O experimento em campo foi instalado na Fazenda-Escola Capão da Onça, município de Ponta Grossa (PR), altitude de 900 m, 25o16’ de latitude Sul e 50o16’ de longitude Oeste, clima Cfb, em parcelas de 3 x 7 m, relevo plano, Argissolo VermelhoAmarelo Alumínico alissólico, em sistema de plantio direto sob a palha. Utilizando uma semeadora Semeato modelo PS6, realizou-se a semeadura em 30 de janeiro de 2001, empregando-se o mesmo lote de sementes dos vasos em estufa, com espaçamento de 0,45 m entre linhas e 0,08 m entre plantas. As plântulas emergiram em 4 de fevereiro do mesmo ano. Demais atividades de manejo (adubações, controle de plantas daninhas e pragas) foram conduzidas similarmente em todas parcelas, conforme os procedimentos normais recomendados para essa cultura e adotados pela fazenda-escola. Os tratamentos foram constituídos por quatro aplicações (JA-1 com calda determinada pelo IAF; JA-2 com calda de 200 L.ha-1; 110-UF-01 com calda determinada pelo índice de área foliar - IAF e 110UF-02 com calda de 200 L.ha-1) e pela testemunha (sem tratamento fúngico). Os filtros para bicos utilizados foram de malha 80 para as pontas JA-1 e 110-UF-01 e malha 50 para as pontas JA-2 e 110-UF02, conforme recomendações do fabricante (JACTO, 2001). Pontas da série UF são do tipo jato plano com fabricação em Kematal® e as pontas da série JA são do tipo jato cônico vazio com fabricação em cerâmica. As aplicações foram realizadas com pulverizador costal pressurizado com CO2, barra munida de quatro bicos, espaçados em 0,5 m entre si, pressão de 211 KPa, utilizando o ingrediente ativo azoxystrobin, fungicida sistêmico preventivo, para o controle de antracnose (Colletotrichum lindemuthianum), ferrugem (Uromyces appendiculatus) e manchaangular (Phaeoisariopsis griseola). Antes de cada pulverização, mediu-se o IAF pelo mesmo método empregado nas plantas em estufa, definindo o volume da calda pela proporção entre o valor encontrado e o índice máximo obtido na mesma cultivar em cultivo protegido, considerando-se 200 Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 291-295, 2002 Análise da Pulverização de um Fungicida na Cultura do Feijão L.ha-1 como o volume a ser aplicado na situação de IAF máximo. Os diferentes volumes de calda foram obtidos pela variação na velocidade de aplicação. Os efeitos do tratamento fungicida, das pontas e do volume da calda pulverizado sobre a cultura foram avaliados aos 72 dias após a emergência pela coleta, ao acaso, de 30 folhas de cada parcela (10 na parte superior, 10 na parte mediana e 10 na parte inferior das plantas). Mediu-se a incidência das doenças, utilizando-se as escalas diagramáticas de severidade, apresentadas em DALLA-PRIA et al. (1999). Também se mensurou a produtividade, colhendose a cultura aos 87 dias após a emergência, com quatro repetições de 1 m2, escolhidas aleatoriamente, totalizando 4 m2 por parcela. Retirou-se a umidade e as impurezas, pesou-se e converteu-se a referida produção em kg.ha-1. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com 4 repetições. Analisou-se a homocedasticidade pelo teste de Hartley; posteriormente, aplicou-se o teste F. A comparação múltipla de médias foi realizada pelo teste de Tukey. Para a verificação dos contrastes que envolvem grupos de médias, utilizou-se o teste de Scheffé, conforme indicações de BANZATTO e KRONKA (1995). O cálculo da diferença do custo da pulverização, entre os métodos de determinação do volume de calda fornecido pelo fabricante e IAF, teve como base os dados da FUNDAÇÃO ABC (2001), levando-se em conta mão-de-obra, trator de 52,2-66,2kW/4R, pulverizador com tanque de 200 L e barra de 14 m. 293 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Obteve-se o ponto máximo do IAF, em condições de estufa, aos 60 dias após a emergência, no estádio de antese plena. O IAF máximo foi 8, significando haver oito vezes mais superfície de folhas do que superfície de solo. Quando da instalação da cultura no campo, o IAF máximo foi de 2,5, aos 40 dias após a emergência. Tal fato ocorreu pelo alto grau de incidência e severidade da doença denominada mancha-angular, que entre os sintomas apresenta desfolhamento precoce (Figura 1). Com a medição do IAF antes de cada pulverização, chegou-se aos volumes de calda pulverizada pelo estádio de desenvolvimento da cultura (Quadro 1). Alerta-se que em condições de campo, as pontas JA-1 e 110-UF-01, por necessitarem de peneira malha 80 para o bico, podem não representar soluções viáveis, principalmente para as formulações pó molhável (PM) e suspensão concentrada (SC). Historicamente, a ocorrência da mancha-angular já é comum na safra da seca na região dos Campos Gerais (PR), mesmo com controle químico preventivo. O ano agrícola 2000/01 apresentou, porém, condições climáticas ideais para proliferação do agente etiológico Phaeoisariopsis griseola, com temperaturas entre 18 oC e 25 oC, períodos de alta umidade para infecção e desenvolvimento e intervalos com baixa umidade para disseminação de esporos (Figura 2). Em relação às doenças ferrugem Figura 1. Índice da área foliar (IAF), durante o ciclo da cultivar de feijão FT-Bonito, safra da seca, plantada em estufa e campo. Ponta Grossa (PR), 2001. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 291-295, 2002 L.C. GARCIA et al. 294 Quadro 1. Pulverização de azoxystrobin, com equipamento costal pressurizado por CO , sobre a cultivar de feijão FT2 Bonito, na safra da seca, utilizando-se pontas do tipo jato cônico vazio e jato plano e com volume de calda indicada pelo fabricante do produto e determinada pelo índice de área foliar Data da pulverização Dias após a emergência 19/2/2001 15 06/3/2001 30 21/3/2001 45 Pontas Filtro do bico Volume da calda JA-1 jato cônico vazio JA-2 jato cônico vazio 110-UF-01 jato plano 110-UF-02 jato plano JA-1 jato cônico vazio JA-2 jato cônico vazio 110-UF-01 jato plano 110-UF-02 jato plano JA-1 jato cônico vazio JA-2 jato cônico vazio 110-UF-01 jato plano 110-UF-02 jato plano Malha 80 Malha 50 Malha 80 Malha 50 Malha 80 Malha 50 Malha 80 Malha 50 Malha 80 Malha 50 Malha 80 Malha 50 60 L.ha-1 (determinado pelo IAF) 200 L.ha-1 (indicado pelo fabricante) 60 L.ha-1 (determinado pelo IAF) 200 L.ha-1 (indicado pelo fabricante) 90 L.ha-1 (determinado pelo IAF) 200 L.ha-1 (indicado pelo fabricante) 90 L.ha-1 (determinado pelo IAF) 200 L.ha-1 (indicado pelo fabricante) 135 L.ha-1 (determinado pelo IAF) 200 L.ha-1 (indicado pelo fabricante) 135 L.ha-1 (determinado pelo IAF) 200 L.ha-1 (indicado pelo fabricante) Figura 2. Severidade de mancha-angular na cultivar de feijão FT-Bonito, na safra da seca, para tratamento fúngico com azoxystrobin, utilizando-se pontas do tipo jato cônico vazio e plano e com volume de calda indicada pelo fabricante do produto e determinada pelo índice de área foliar. Médias seguidas por diferentes letras maiúsculas diferem, entre si, pelo teste de Tukey ao nível de 1% de probabilidade. A diferença foi significativa para aos blocos, pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. DMS (Tukey) igual a 4,54 e CV correspondente a 24,02%. Figura 3. Produtividade da cultivar de feijão FT-Bonito, na safra da seca, para tratamento fúngico com azoxystrobin, utilizando-se pontas do tipo jato cônico vazio e plano e com volume de calda indicada pelo fabricante do produto e determinada pelo índice de área foliar. Médias seguidas por diferentes letras maiúsculas diferem, entre si, pelo teste de Tukey ao nível de 1%. A diferença foi significativa para os blocos, pelo teste de Tukey ao nível de 5%. DMS (Tukey) igual a 704,05 e CV correspondente a 15,48%. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 291-295, 2002 Análise da Pulverização de um Fungicida na Cultura do Feijão e antracnose, não se constataram incidência e severidade significativa de ambas na cultura, o que também é freqüente para este período na região. Verifica-se que houve diferença estatística significativa na produtividade da cultura do feijão entre a testemunha e os tratamentos, com grau de confiança superior a 99% de probabilidade. Já entre os tratamentos, não se observou diferença significativa no que se refere à produtividade (Figura 3). Ao aplicar o teste de Scheffé para testar os possíveis contrastes entre os grupos de médias que envolviam aplicação com ponta tipo jato plano versus cônico vazio, concluiu-se pela não- significância com grau de confiança superior a 95% de probabilidade. Ao testar as médias de produtividade obtidas por pulverização com volume de calda de 200 L.ha-1 em contraste com o volume definido pelo IAF, verificouse diferença não significativa ao nível de 5%. Considerando o custo da pulverização, que segundo a FUNDAÇÃO ABC (2001) era de R$30,44 por hora, em abril de 2001, observa-se que, nas condições do ensaio, os custos com a aplicação seriam reduzidos de R$5,44 por hectare para o volume de 200 L.ha-1 para R$3,62; R$2,42 e R$1,67 por hectare, respectivamente, para os volume de 135, 90 e 60 L.ha-1. Dessa forma, pode-se obter redução até de 69% nos custos com a aplicação pela adequação do volume por meio da área foliar, sem que isso resulte em perda de eficiência do fungicida azoxystrobin. 295 3. A severidade da mancha-angular e a produtividade da cultura não foram influenciadas pelo método de determinação do volume da calda, entretanto, o da calda pulverizada, calculada com base no IAF, reduz até 69% o custo da aplicação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANZATTO, D.A.; KRONKA, S.N. Experimentação Agrícola. 3.ed. Jaboticabal: FUNEP, 1995. 247p. DALLA-PRIA, M.; SILVA, O.C. da; COSTA, J.L. da S.; SOUZA, E.D. de T.; BERNI, R.F. Métodos de avaliação das doenças. In: CANTERI, M.G. Principais doenças fúngicas do feijoeiro. Ponta Grossa: Editora UEPG, 1999. p.17-25. EMBRAPA. Feijão. Disponível em: http:// www.embrapa.com.br. Acesso em: 5 de março de 2001. FUNDAÇÃO ABC. Custo de mecanização agrícola. Castro: Fundação ABC, 2001. ano 3, n.14, p.33. IAMAUTI, M.T. Avaliação de danos causados por Uromyces appendiculatus no feijoeiro. 1995. 93f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba. JACTO. Produtos. On-line. Disponível em: http:// www.jacto.com.br. Acesso em: 5 de janeiro de 2001. 4. CONCLUSÕES MATUO, T. Técnicas de aplicação de defensivos agrícolas. Jaboticabal: FUNEP, 1990, p.3-86. 1. O tratamento fúngico, na safra da seca, foi necessário para a cultura do feijão na região dos Campos Gerais (PR), principalmente para mancha-angular. 2. Para o tratamento de doenças fúngicas, com azoxystrobin nas condições do ensaio, o tipo de ponta escolhida, jato cônico vazio ou plano foi indiferente. RAMOS, H.H.; MATUO, T.; ALMEIDA, A.N. et al. Cobertura do alvo pela pulverização com bico hidráulico em função do tipo de jato, posição do alvo e altura de aplicação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 27., 1998, Poços de Caldas. Anais... Lavras: UFLA/SBEA, 1998. v.3, p.169-171. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 291-295, 2002 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.61 no.3 Campinas Sept./Dec. 2002 METODOLOGIA E TÉCNICAS EXPERIMENTAIS Modelos de minimização de biomassa residual1 Models of minimization of residual biomass Maria Márcia Pereira SartoriI, II; Helenice de Oliveira FlorentinoI, III IDepartamento de Bioestatística, Instituto de Biociências/UNESP, Caixa Postal 510, 18608-080 Botucatu (SP) IIProjeto financiado pelo CNPq IIIAuxílio-Pesquisa da FAPESP RESUMO No Brasil, a biomassa residual do cultivo de cana-de-açúcar é representada por folhas, palhas, ponteiros e frações de colmo que somam uma produção aproximada de 108 milhões de toneladas por ano; quantidade que permitiria a produção de 10,2 MWh de energia. Existem muitas cultivares como opção de plantio resultantes de programas de melhoramento visando à resistência a pragas, a doenças e à adaptação ao tipo de solo, cuja escolha é feita em virtude da produtividade física, bem como da produção de sacarose. Essa seleção pode ser auxiliada por modelos de otimização, visando minimizar a quantidade de resíduo de colheita, com ou sem imposições sobre a quantidade de energia obtida da biomassa. Pode, também, ser auxiliada pela maximização da quantidade de energia da biomassa residual com imposições sobre a quantidade de resíduo a ser gerada. A decisão sobre qual modelo deve ser usado é determinada pelo administrador da empresa com auxílio de alguns critérios. O objetivo deste trabalho é apresentar três modelos e o lucro alcançado com o uso da energia gerada por essa biomassa. Os resultados indicaram o modelo III, que prevê a maximização da geração de energia pela biomassa na escolha de cultivares, considerando a área disponível para o plantio, a produção de sacarose e a produção de biomassa em quatro anos de cultivo. O lucro obtido com o uso desse modelo foi calculado em 939 US$/ha.ano. Palavras-chave: resíduo de colheita, otimização, cana-de-açúcar. ABSTRACT In Brazil, the residual biomass of the sugarcane cultivation is represented by leaves, straw, tips and stalk fractions that together represent a production of about 108 million tons per year. Such amount could allow the production of 10.2 MWh of energy. There are many sugarcane cultivars resulting from improvement programs seeking resistance to pests, diseases and adaptation to the soil type. Their choice is made in function of the physical productivity as well as the sucrose production. That selection can be aided by optimization models, seeking to minimize the amount of crop residue with or without impositions about the amount of obtained energy from the biomass. It can also be aided by the maximization of the amount of energy of the residual biomass with impositions on the amount of residue to be generated. The decision on which model should be used is determined by the company administrator. Such decision can be made with aid of some approaches. The objective of this work is to present the profit in the use of the energy generated by that biomass as a decision criteria in the choice of the models. The results indicated the model III, that foresees the maximization of energy generation from the biomass with choice of cultivars taking into account the available area for the plantation, the sucrose production and the biomass production in four years of cultivation. The profit with the use of that model was calculated as being 939 US$/ha.year. Key words: crop residue, optimization , sugarcane. 1. INTRODUÇÃO Confirma-se na literatura que o manejo adequado de uma lavoura canavieira se inicia pela correta escolha das variedades, caso contrário, pode comprometer a produtividade e a lucratividade da empresa (PMGCA, 1999). Existe, portanto, uma busca contínua de novas variedades em função da vida relativamente curta da maioria das variedades comerciais (BRIEGER, 1978) e da possibilidade de obtenção de uma que supere as usuais. Mesmo assim, a escolha certa para o plantio não é tarefa fácil, pois depende de um conjunto de informações fundamentais sobre os fatores agronômicos e industriais, bem como da interação de todos os fatores bióticos, abióticos, administrativos e econômicos (PMGCA, 1999). Os dados de biomassa residual podem ser mais uma opção para escolha das variedades, porque possibilitam melhores resultados econômicos e auxiliam na implantação desse resíduo no sistema de produção. Na tentativa de minimizar o impacto ambiental e as influências causadas na produtividade e, conseqüentemente, na lucratividade das empresas alcooleiras, pesquisadores têm persistido na escolha da variedade que gere menor quantidade de resíduos, sem perder as características de produção, o que, muitas vezes, pode ser feito com auxílio da programação matemática. A otimização é importante ferramenta matemática utilizada, sobretudo, na área sucroalcooleira. SUPARAPORN (1991) desenvolveu um modelo de programação linear para determinar a produção necessária de algumas culturas em fazendas da região de Changwat Sukhothai. Esse modelo foi comparado com o plano de produção atual. Além de mostrar-se apto a determinar a produção necessária das culturas, apresentou como resultado um aumento de 318,37% na renda líquida. Na tentativa de maximizar a renda líquida do setor agrícola em unidades sucroalcooleiras, SOFFNER et al. (1993) criaram um modelo de programação linear que se mostrou apto a descrever e simular o sistema agrícola de uma empresa produtora de açúcar e álcool. Embora os resultados tenham sido satisfatórios, não se considerou a redução dos resíduos. Para maximizar o lucro dos produtores de cana-de-açúcar, com base nos rendimentos e custos de produção, BRUNORO e LEITE (1999) desenvolveram um modelo de otimização apto a mensurar a redução do custo total unitário de produção em função do planejamento da quantidade e distribuição de variedades para as sub-regiões próximas a usina. CHAUDHRY et al. (1996) e SINGELS et al. (1999) desenvolveram modelos de otimização para avaliar a irrigação na cultura de cana-de-açúcar, os quais auxiliaram de forma direta na decisão de utilizar ou não a irrigação nessa cultura. DANTAS-NETO (1994) e PEREIRA MENDES (1996) desenvolveram modelos para otimização do padrão de cultivo, em áreas irrigadas, com base nas respostas das culturas à água. Observa-se em SARTORI et al. (2001) que a escolha de variedades para o plantio da cultura de cana-de-açúcar pode ser auxiliada por modelos matemáticos de otimização que minimizam a quantidade de resíduo de colheita ou maximizam a energia contida nesses resíduos. Além do potencial energético dessa biomassa, contam a favor dessa energia as questões ambientais, a manutenção de empregos e a projeção de vida limitada para os recursos energéticos de fontes naturais (EID et al., 1998). Esses modelos podem ser mais bem explorados com a análise de novos critérios de decisão, como o custo de coleta da biomassa residual de colheita. 2. DESCRIÇÃO DOS MODELOS 2.1. Modelo I Com o primeiro modelo pretende-se minimizar a biomassa residual em função da escolha de variedades (2.1.1) que são adaptáveis ao tipo de solo, tendo como restrição a área disponível para plantio (2.1.2) e a produção de sacarose no mínimo igual à produção média entre as variedades pré-selecionadas (2.1.3). Esse modelo permite escolher a variedade, a área a ser destinada para o plantio e a previsão de produção de pol e de biomassa residual. em que: i = 1, 2, ... , n as variedades que fazem parte do sistema; Ai: a quantidade de biomassa residual para cada variedade i em hectare; xi: a área em hectare a ser determinada para cada variedade i; b: a área em hectare disponível para o plantio; α: a produção de pol em t/ha para a variedade i; : a média de produção de pol entre as variedades pré-selecionadas. 2.2. Modelo II O segundo modelo consiste em minimizar a biomassa residual pela escolha de variedades (2.2.1), adaptáveis ao tipo de solo, tendo como restrição, além da área disponível de plantio (2.2.2) e da produção de sacarose no mínimo igual à produção média entre as variedades préselecionadas (2.2.3), a média de produção de energia disponível nessa biomassa (2.2.4). Esse modelo tem como resultado a escolha da variedade, a área a ser destinada para o plantio de cada variedade, a previsão de produção de sacarose e de biomassa residual e a produção de energia dessa biomassa. em que: i = 1, 2, ... , n as variedades que fazem parte do sistema; Ai: a produtividade média do resíduo de colheita para variedade i, em t.ha-1; xi: a variável que determina a área para o plantio da variedade i, em hectare; b: a área total disponível para plantio, em hectare; :a produtividade média de pol.ha-1, entre as variedades, t.ha-1; αi: a produtividade média de pol.ha-1 para variedade i, t.ha-1; : a produção média de energia, entre as variedades, em kJ.ha-1; βi: a produção média de energia para variedade i, kJ.ha-1. 2.3. Modelo III Com o terceiro modelo é possível maximizar a produção de energia da biomassa residual em função da escolha de variedades (2.3.1), que são adaptáveis ao tipo de solo, impondo restrições sobre a área disponível para o plantio (2.3.2), a produção de sacarose (2.3.3) e a produção de biomassa em quatro anos de cultivo (2.3.4). Os resultados são a escolha da variedade e da área a ser destinada para o plantio, a previsão de produção de pol e de biomassa residual e também a produção de energia dessa biomassa. em que: i = 1, 2, ... , n as variedades que fazem parte do sistema; Bi: o PECI (produção de energia calorífica inferior (SARTORI, 2001) da biomassa residual de colheita para a variedade i, em kJ.ha-1; xi: a variável que determina a área para o plantio da variedade i, em hectare; b: a área disponível para plantio, em hectare; : a produção média de pol, em t.ha-1; αi: a produção média de pol.ha-1 para a variedade i, em t.ha-1; : a produção média de biomassa residual de colheita, em t.ha-1; µi: a produção média de biomassa residual de colheita para a variedade i, t.ha-1; 3. CRITÉRIO DE DECISÃO Utilizou-se como critério de decisão o lucro alcançado com a venda da energia gerada com a biomassa, o qual é obtido pela diferença entre o preço de venda (Pv) da energia produzida a partir da biomassa residual de colheita de cana verde e o custo total (CT) de sua produção. Deve-se determinar esse lucro para cada modelo, que será comparados e avaliados de acordo com as necessidades da empresa. O preço de venda é dado pela expressão: Pv = Br/Q x P, em que: Br é a quantidade em toneladas de biomassa residual, determinada com base nas variedades escolhidas pelos modelos matemáticos; Q é a quantidade em tonelada de biomassa residual usada para gerar um MWh de energia, e P é o preço, em dólar, para produção dessa energia. O custo total (CT) é dado pela soma dos custos de enfardamento (Ce), de carregamento (Cc) e de transporte (Ct), ou seja: CT = Ce + Cc + Ct . Esse critério auxilia na escolha, dentre os modelos propostos, de qual deve ser usado para definir a variedade de cana-de-açúcar e a área a ser plantada, a fim de atender às necessidades da usina, respeitando as questões ambientais (não praticar a queima na précolheita) e evitar a redução da faixa de lucro da empresa ou proporcionar aumento. 4. APLICAÇÃO Apresenta-se a seguir uma aplicação dessa técnica matemática para os dados obtidos em SARTORI (2001), com o custo total analisado sobre dados de biomassa5 enfardada pela máquina JS-90. Para o cálculo do preço de venda usou-se Q = 0,5 t/MWh e P = 26 US$/MWh. Como a biomassa residual difere em cada ano de desenvolvimento da cultura ou corte (SARTORI, 2001), utilizaram-se dados de quatro cortes da cultura para cada variedade, obtendo como resultado final (Pv-CT), em US$/ha.ano, o valor médio para os quatro primeiros cortes da cultura. Os resultados apresentados nos quadros 1, 2 e 3, foram determinados com base no poder calorífico inferior. O menor valor de produção de biomassa residual total foi de 533.345,42 t, do modelo I; de 580.007,46 t do modelo II, e de 602.898,29 t do modelo III para quatro cortes da cultura, originando 436.512; 461.777 e 461.814 toneladas de pol, e gerando 1.243,37; 1.443,65 e 1.498,69 TJ de energia, respectivamente, para os três modelos estudados (Quadros 1, 2 e 3). Os resultados demonstram que, dentre as cinco variedades propostas, as duas escolhidas pelo modelo II e III são as mesmas, RB72454 e RB855113, diferindo, no entanto, na quantidade a ser plantada (Quadros 2 e 3). Isso pode ter ocorrido por causa da variação da produção de energia em virtude da variedade (SARTORI, 2001). O modelo I seleciona duas variedades, RB835486 e RB72454 (Quadro 1); a variedade RB72454 é a mesma escolhida pelos modelos II e III. Portanto, se analisados globalmente, os três modelos escolheram três variedades que diferem em decorrência da opção de aproveitamento do resíduo de colheita para a produção de energia. Na tentativa de avaliar melhor os resultados obtidos pelos modelos, possibilitando sua utilização para a escolha correta de variedades, utilizou-se o critério de decisão proposto na seção anterior. Os custos para as operações de enfardamento, carregamento e transporte para os modelos I, II e III estão mostrados nos quadros 4, 5 e 6. Nota-se que o custo total sofre influência do tipo de modelo, uma vez que a produção de biomassa residual varia em função da escolha da variedade. Verifica-se no quadro 7 o custo total (CT), o preço de venda (Pv) e o lucro (Pv-CT) para cada modelo. Com relação ao lucro, pode-se observar que os modelos II e III apresentam melhores resultados, tendo como alternativa a produção de energia elétrica com base na biomassa. Em termos de porcentagem, observa-se que na escolha de variedades feita pelo modelo II é produzido 8,75% mais biomassa que pelo modelo I, no entanto, apresenta aumento no lucro anual por hectare de 8,30%. Comparando o modelo III com I e II, os aumentos foram, respectivamente, de 13% e 4,34% no lucro e 13,04% e 3,95% na produção de biomassa. 5. CONCLUSÕES 1. A avaliação dos modelos, realizada com base no critério de lucro de produção de energia, confirmou a viabilidade econômica dessa produção a partir da biomassa residual de colheita. Ressalta-se a importância de estudos de coleta desse material sem o processo de enfardamento, pois este consome cerca de 60% do lucro de produção. 2. Verificou-se, nos três modelos, que a produção de energia de biomassa residual das variedades escolhidas geraram lucro para a empresa de cana-de-açúcar. 5. Com o critério de decisão utilizado, o modelo III apresentou o melhor resultado, proporcionando lucro de 939 US$/ha.ano. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRIEGER, F. Situação do melhoramento da cana-de-açúcar no estado de São Paulo. In: 50 anos de Estação Experimental de Piracicaba. Campinas: Instituto Agronômico, 1978, p.82. [ Links ] BRUNORO, J.A.B.; LEITE, C.A.M. Escolha ótima de variedades de cana-de-açúcar por meio de programação matemática. Revista Ceres, Viçosa, v.46, n.264, p.111-124, 1999. [ Links ] CHAUDHRY, F.H.; LEME, E.J.A; CAMP, C.R.; SADLER, E.J.; YODER, R.E. Optimal irrigation scheduling of sugar cane by net profit maximization through dynamic programming. In: PROCEEDINGS OF THE INTERNATIONAL CONFERENCE. San Antonio, USA: St Joseph, 1996. p.1122-1127. [ Links ] DANTAS-NETO, J. Modelos de decisão para otimização do padrão de cultivo, em áreas irrigadas, baseados nas funções de resposta das culturas à água. 1994. 134f. Tese (Doutorado em Irrigação) - Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP, Botucatu. [ Links ] EID, F.; CHAN, K.; PINTO, S.S. Tecnologia e co-geração de energia na indústria sucroalcooleira paulista: uma análise da experiência e dificuldades de difusão. Informações Econômicas, São Paulo, v.28, n.5, 1998. [ Links ] PEREIRA MENDES, A.R. Programação matemática aplicada à otimização de padrões de culturas irrigadas. 1996. 128f. Dissertação (Mestrado em Irrigação) - Universidade Federal da Paraíba, Campina Grande. [ Links ] PMGCA. Programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Biotecnologia Vegetal, 1999. [ Links ] SARTORI, M.M.P. Otimização da produção de energia e biomassa do resíduo de colheita em variedades de cana-de-açúcar. 2001. 121f. Tese (Doutorado em Agronomia/Energia na agricultura) - Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP, Botucatu. [ Links ] SARTORI, M.M.P.; FLORENTINO, H.O.; BASTA, C.; LEÃO, A.L. Determination of the optimal quantity of crop residues for energy in sugarcane crop management using linear programming in variety selection and planting strategy. Energy, Elsevier, n.26, p.1031-1040, 2001. [ Links ] SINGELS, A.; BEZUIDENHOUT, C.N.; SCHMIDT, E.J.; HOGARTH, D.M. Evaluating strategies for scheduling supplementary irrigation of sugarcane in South Africa. In: CONFERENCE OF THE AUSTRALIAN SOCIETY OF SUGAR CANE TECHNOLOGISTS, 5., 1999, Townsville, Australia. Proceedings… Townsville: PK Editorial Services, 1999. v.1, p.219-226. [ Links ] SOFFNER, R.K.; MILAN, M.; RIPOLI, T.C.C. Gerenciamento global de sistema agrícola em unidades sucroalcooleiras através de programação linear. Stab - Açúcar, álcool e subprodutos, Piracicaba, v.11, n.5, p.16-19, 1993. [ Links ] SUPARAPORN, S. Crop production planning for increasing farmers' income. In: CHANGWAT SUKHOTHAI. 1991. Bangkok, Thailand. Proceedings.... Bangkok, Thailand, [s.n.], 1991. p.104. Recebido para publicação em 5 de dezembro de 2001 e aceito em 31 de julho de 2002 Modelos de Minimização de Biomassa Residual 297 METODOLOGIA E TÉCNICAS EXPERIMENTAIS MODELOS DE MINIMIZAÇÃO DE BIOMASSA RESIDUAL(1 ) MARIA MÁRCIA PEREIRA SARTORI(2,3); HELENICE DE OLIVEIRA FLORENTINO(2,4) RESUMO No Brasil, a biomassa residual do cultivo de cana-de-açúcar é representada por folhas, palhas, ponteiros e frações de colmo que somam uma produção aproximada de 108 milhões de toneladas por ano; quantidade que permitiria a produção de 10,2 MWh de energia. Existem muitas cultivares como opção de plantio resultantes de programas de melhoramento visando à resistência a pragas, a doenças e à adaptação ao tipo de solo, cuja escolha é feita em virtude da produtividade física, bem como da produção de sacarose. Essa seleção pode ser auxiliada por modelos de otimização, visando minimizar a quantidade de resíduo de colheita, com ou sem imposições sobre a quantidade de energia obtida da biomassa. Pode, também, ser auxiliada pela maximização da quantidade de energia da biomassa residual com imposições sobre a quantidade de resíduo a ser gerada. A decisão sobre qual modelo deve ser usado é determinada pelo administrador da empresa com auxílio de alguns critérios. O objetivo deste trabalho é apresentar três modelos e o lucro alcançado com o uso da energia gerada por essa biomassa. Os resultados indicaram o modelo III, que prevê a maximização da geração de energia pela biomassa na escolha de cultivares, considerando a área disponível para o plantio, a produção de sacarose e a produção de biomassa em quatro anos de cultivo. O lucro obtido com o uso desse modelo foi calculado em 939 US$/ha.ano. Palavras-chave: resíduo de colheita, otimização, cana-de-açúcar. ABSTRACT MODELS OF MINIMIZATION OF RESIDUAL BIOMASS In Brazil, the residual biomass of the sugarcane cultivation is represented by leaves, straw, tips and stalk fractions that together represent a production of about 108 million tons per year. Such amount could allow the production of 10.2 MWh of energy. There are many sugarcane cultivars resulting from improvement programs seeking resistance to pests, diseases and adaptation to the soil type. Their choice is made in function of the physical productivity as well as the sucrose production. That selection can be aided by optimization models, seeking to minimize the amount of crop residue with or without impositions about the amount of obtained energy from the biomass. It can also be aided by the maximization of the amount of energy of the residual biomass with impositions on the amount of residue to be generated. The decision on which model should be used is determined by the company administrator. Such decision can be made with aid of some approaches. The objective of this work is to present the profit in the use of the energy generated by that biomass as a decision criteria in the choice of the models. The results indicated the model III, that foresees the maximization of energy generation from the biomass with choice of cultivars taking into account the available area for the plantation, the sucrose production and the biomass production in four years of cultivation. The profit with the use of that model was calculated as being 939 US$/ha.year. Key words: crop residue, optimization , sugarcane. (1) Trabalho apresentado no XXIV Congresso Nacional de Matemática Aplicada e Computacional, Belo Horizonte (MG), em 2001. Recebido para publicação em 5 de dezembro de 2001 e aceito em 31 de julho de 2002. (2) Departamento de Bioestatística, Instituto de Biociências/UNESP, Caixa Postal 510, 18608-080 Botucatu (SP). (3) Projeto financiado pelo CNPq. 4 ( ) Auxílio-Pesquisa da FAPESP. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 297-303, 2002 M.M.P. SARTORI e H.O. FLORENTINO 298 1. INTRODUÇÃO Confirma-se na literatura que o manejo adequado de uma lavoura canavieira se inicia pela correta escolha das variedades, caso contrário, pode comprometer a produtividade e a lucratividade da empresa (PMGCA, 1999). Existe, portanto, uma busca contínua de novas variedades em função da vida relativamente curta da maioria das variedades comerciais (BRIEGER , 1978) e da possibilidade de obtenção de uma que supere as usuais. Mesmo assim, a escolha certa para o plantio não é tarefa fácil, pois depende de um conjunto de informações fundamentais sobre os fatores agronômicos e industriais, bem como da interação de todos os fatores bióticos, abióticos, administrativos e econômicos (PMGCA, 1999). Os dados de biomassa residual podem ser mais uma opção para escolha das variedades, porque possibilitam melhores resultados econômicos e auxiliam na implantação desse resíduo no sistema de produção. Na tentativa de minimizar o impacto ambiental e as influências causadas na produtividade e, conseqüentemente, na lucratividade das empresas alcooleiras, pesquisadores têm persistido na escolha da variedade que gere menor quantidade de resíduos, sem perder as características de produção, o que, muitas vezes, pode ser feito com auxílio da programação matemática. A otimização é importante ferramenta matemática utilizada, sobretudo, na área sucroalcooleira. SUPARAPORN (1991) desenvolveu um modelo de programação linear para determinar a produção necessária de algumas culturas em fazendas da região de Changwat Sukhothai. Esse modelo foi comparado com o plano de produção atual. Além de mostrar-se apto a determinar a produção necessária das culturas, apresentou como resultado um aumento de 318,37% na renda líquida. Na tentativa de maximizar a renda líquida do setor agrícola em unidades sucroalcooleiras, S O F F N E R et al. (1993) criaram um modelo de programação linear que se mostrou apto a descrever e simular o sistema agrícola de uma empresa produtora de açúcar e álcool. Embora os resultados tenham sido satisfatórios, não se considerou a redução dos resíduos. Para maximizar o lucro dos produtores de canade-açúcar, com base nos rendimentos e custos de produção, BRUNORO e LEITE (1999) desenvolveram um modelo de otimização apto a mensurar a redução do custo total unitário de produção em função do Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 297-303, 2002 planejamento da quantidade e distribuição de variedades para as sub-regiões próximas a usina. CHAUDHRY et al. (1996) e SINGELS et al. (1999) desenvolveram modelos de otimização para avaliar a irrigação na cultura de cana-de-açúcar, os quais auxiliaram de forma direta na decisão de utilizar ou não a irrigação nessa cultura. DANTAS-NETO (1994) e PEREIRA MENDES (1996) desenvolveram modelos para otimização do padrão de cultivo, em áreas irrigadas, com base nas respostas das culturas à água. Observa-se em SARTORI et al. (2001) que a escolha de variedades para o plantio da cultura de cana-deaçúcar pode ser auxiliada por modelos matemáticos de otimização que minimizam a quantidade de resíduo de colheita ou maximizam a energia contida nesses resíduos. Além do potencial energético dessa biomassa, contam a favor dessa energia as questões ambientais, a manutenção de empregos e a projeção de vida limitada para os recursos energéticos de fontes naturais (E ID et al., 1998). Esses modelos podem ser mais bem explorados com a análise de novos critérios de decisão, como o custo de coleta da biomassa residual de colheita. 2. DESCRIÇÃO DOS MODELOS 2.1. Modelo I Com o primeiro modelo pretende-se minimizar a biomassa residual em função da escolha de variedades (2.1.1) que são adaptáveis ao tipo de solo, tendo como restrição a área disponível para plantio (2.1.2) e a produção de sacarose no mínimo igual à produção média entre as variedades préselecionadas (2.1.3). Esse modelo permite escolher a variedade, a área a ser destinada para o plantio e a previsão de produção de pol e de biomassa residual. (2.1.1) (2.1.2) (2.1.3) (2.1.4) Modelos de Minimização de Biomassa Residual em que: i = 1, 2, ... , n as variedades que fazem parte do sistema; Ai: a quantidade de biomassa residual para cada variedade i em hectare; xi: a área em hectare a ser determinada para cada variedade i; b: a área em hectare disponível para o plantio; α: a produção de pol em t/ha para a variedade i; α: a média de produção de pol entre as variedades pré-selecionadas. 2.2. Modelo II O segundo modelo consiste em minimizar a biomassa residual pela escolha de variedades (2.2.1), adaptáveis ao tipo de solo, tendo como restrição, além da área disponível de plantio (2.2.2) e da produção de sacarose no mínimo igual à produção média entre as variedades pré-selecionadas (2.2.3), a média de produção de energia disponível nessa biomassa (2.2.4). Esse modelo tem como resultado a escolha da variedade, a área a ser destinada para o plantio de cada variedade, a previsão de produção de sacarose e de biomassa residual e a produção de energia dessa biomassa. (2.2.1) (2.2.2) (2.2.3) (2.2.4) (2.2.5) em que: i = 1, 2, ... , n as variedades que fazem parte do sistema; Ai: a produtividade média do resíduo de colheita para variedade i, em t.ha-1; xi: a variável que determina a área para o plantio da variedade i, em hectare; b: a área total disponível para plantio, em hectare; α: a produtividade média de pol.ha -1, entre as variedades, t.ha-1; αi: a produtividade média de pol.ha-1 para variedade i, t.ha-1; 299 β: a produção média de energia, entre as variedades, em kJ.ha-1; βi: a produção média de energia para variedade i, kJ.ha-1. 2.3. Modelo III Com o terceiro modelo é possível maximizar a produção de energia da biomassa residual em função da escolha de variedades (2.3.1), que são adaptáveis ao tipo de solo, impondo restrições sobre a área disponível para o plantio (2.3.2), a produção de sacarose (2.3.3) e a produção de biomassa em quatro anos de cultivo (2.3.4). Os resultados são a escolha da variedade e da área a ser destinada para o plantio, a previsão de produção de pol e de biomassa residual e também a produção de energia dessa biomassa. (2.3.1) (2.3.2) (2.3.3) (2.3.4) (2.3.5) em que: = 1, 2, ... , n as variedades que fazem parte do i sistema; Bi: o PECI (produção de energia calorífica inferior (SARTORI, 2001) da biomassa residual de colheita para a variedade i, em kJ.ha-1; xi: a variável que determina a área para o plantio da variedade i, em hectare; b: a área disponível para plantio, em hectare; α: a produção média de pol, em t.ha-1; αi: a produção média de pol.ha-1 para a variedade i, em t.ha-1; µ: a produção média de biomassa residual de colheita, em t.ha-1; µi: a produção média de biomassa residual de colheita para a variedade i, t.ha-1; Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 297-303, 2002 M.M.P. SARTORI e H.O. FLORENTINO 300 3. CRITÉRIO DE DECISÃO Utilizou-se como critério de decisão o lucro alcançado com a venda da energia gerada com a biomassa, o qual é obtido pela diferença entre o preço de venda (Pv) da energia produzida a partir da biomassa residual de colheita de cana verde e o custo total (CT) de sua produção. Deve-se determinar esse lucro para cada modelo, que será comparados e avaliados de acordo com as necessidades da empresa. O preço de venda é dado pela expressão: Pv = Br/Q x P, em que: Br é a quantidade em toneladas de biomassa residual, determinada com base nas variedades escolhidas pelos modelos matemáticos; Q é a quantidade em tonelada de biomassa residual usada para gerar um MWh de energia, e P é o preço, em dólar, para produção dessa energia. O custo total (CT) é dado pela soma dos custos de enfardamento (Ce), de carregamento (Cc) e de transporte (Ct), ou seja: CT = Ce + Cc + Ct . Esse critério auxilia na escolha, dentre os modelos propostos, de qual deve ser usado para definir a variedade de cana-de-açúcar e a área a ser plantada, a fim de atender às necessidades da usina, respeitando as questões ambientais (não praticar a queima na pré- colheita) e evitar a redução da faixa de lucro da empresa ou proporcionar aumento. 4. APLICAÇÃO Apresenta-se a seguir uma aplicação dessa técnica matemática para os dados obtidos em SARTORI (2001), com o custo total analisado sobre dados de biomassa(5) enfardada pela máquina JS-90. Para o cálculo do preço de venda usou-se Q = 0,5 t/ MWh e P = 26 US$/MWh. Como a biomassa residual difere em cada ano de desenvolvimento da cultura ou corte (SARTORI, 2001), utilizaram-se dados de quatro cortes da cultura para cada variedade, obtendo como resultado final (PvCT), em US$/ha.ano, o valor médio para os quatro primeiros cortes da cultura. Os resultados apresentados nos quadros 1, 2 e 3, foram determinados com base no poder calorífico inferior. O menor valor de produção de biomassa residual total foi de 533.345,42 t, do modelo I; de 580.007,46 t do modelo II, e de 602.898,29 t do modelo III para quatro cortes da cultura, originando 436.512; 461.777 e 461.814 toneladas de pol, e gerando 1.243,37; 1.443,65 e 1.498,69 TJ de energia, respectivamente, para os três modelos estudados (Quadros 1, 2 e 3). Os resultados demonstram que, dentre as cinco variedades propostas, as duas escolhidas pelo modelo II e III são as mesmas, RB72454 e RB855113, diferindo, no entanto, na quantidade a ser plantada (Quadros 2 e 3). Isso pode ter ocorrido por causa da variação da produção de energia em virtude da variedade (SARTORI, 2001). O modelo I seleciona duas variedades, RB835486 e RB72454 (Quadro 1); a variedade RB72454 é a mesma escolhida pelos modelos II e III. Portanto, se analisados globalmente, os três modelos escolheram três variedades que diferem em decorrência da opção de aproveitamento do resíduo de colheita para a produção de energia. Na tentativa de avaliar melhor os resultados obtidos pelos modelos, possibilitando sua utilização para a escolha correta de variedades, utilizou-se o critério de decisão proposto na seção anterior. Os custos para as operações de enfardamento, carregamento e transporte para os modelos I, II e III estão mostrados nos quadros 4, 5 e 6. Nota-se que o custo total sofre influência do tipo de modelo, uma vez que a produção de biomassa residual varia em função da escolha da variedade. Quadro 1. Área, produção de pol, produção de energia e quantidade de resíduo para cada variedade escolhida pelo modelo I Variedades SP791011 RB835486 RB72454 RB855113 RB855536 Exigências Resultados Área ha 0 3.254 2.746 0 0 6.000 6.000 5 Pol t 0 225.150 211.362 0 0 436.512 436.512 Energia TJ 0 594,27 649,10 0 0 1.243,37 Resíduo t 0 272.726,49 260.618,93 0 0 533.345,42 ( ) Os dados de biomassa em US$/t foram obtidos no Informativo do Centro de Tecnologia da Copersucar, de1998. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 297-303, 2002 Modelos de Minimização de Biomassa Residual 301 Quadro 2. Área, produção de pol, energia disponível e quantidade de resíduo para cada variedade escolhida pelo modelo II Variedades SP791011 RB835486 RB72454 RB855113 RB855536 Exigências Resultados Área ha 0 0 5.573 427 0 6.000 6.000 Pol t 0 0 428.917 32.860 0 436.512 461.777 Energia TJ 0 0 1.317,21 126,44 0 1.141,52 1.443,65 Resíduo t 0 0 528.873,08 51.134,38 0 580.007,46 Quadro 3. Área, produção de pol, energia disponível e quantidade de resíduo para cada variedade escolhida pelo modelo III Variedades SP791011 RB835486 RB72454 RB855113 RB855536 Exigências Resultados Área ha 0 0 4.655 1.345 0 6.000 6.000 Pol t 0 0 358.240 103.574 0 436.512 461.814 Energia TJ 0 0 1.100,16 398,53 0 1.498,69 Resíduo t 0 0 441.725,66 161.172,63 0 602.898,29 602.898,29 Quadro 4. Custos de enfardamento, carregamento, transporte, por variedade selecionada no modelo I Operações Enfardamento Carregamento Transporte Custo/variedade Custo total Custo por variedade RB835486 RB72454 US$ 2.372.720 2.267.385 545.453 521.238 1.063.633 1.016.414 3.981.806 3.805.037 - Custo por operação US$ 4.640.105 1.066.691 2.080.047 7.786.843 Quadro 5. Custos de enfardamento, carregamento, transporte, por variedade selecionada no modelo II Operações Enfardamento Carregamento Transporte Custo/variedade Custo Total Custo por variedade RB72454 RB855113 US$ 4.601.196 444.869 1.057.746 102.269 2.062.605 199.424 7.721.547 746.562 - Custo por operação US$ 5.046.065 1.160.015 2.262.029 8.468.109 Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 297-303, 2002 M.M.P. SARTORI e H.O. FLORENTINO 302 Quadro 6. Custos de enfardamento, carregamento, transporte, por variedade selecionada no modelo III Custo por variedade RB72454 RB855113 US$ 3.843.013 1.402.202 883.452 322.345 1.722.730 628.573 6.449.195 2.353.120 - Operações Enfardamento Carregamento Transporte Custo/variedade Custo Total Custo por operação US$ 5.245.215 1.205.797 2.351.303 8.802.315 Quadro 7. Custo total (CT), preço de venda de energia (Pv) produzida pela biomassa residual de colheita em quatro cortes e lucro, para os modelos I, II e III Modelos Modelo I Modelo II Modelo III CT 7.786.843 8.468.109 8.802.315 Pv US$ 27.733.961 30.068.354 31.350.710 Verifica-se no quadro 7 o custo total (CT), o preço de venda (Pv) e o lucro (Pv-CT) para cada modelo. Com relação ao lucro, pode-se observar que os modelos II e III apresentam melhores resultados, tendo como alternativa a produção de energia elétrica com base na biomassa. Em termos de porcentagem, observa-se que na escolha de variedades feita pelo modelo II é produzido 8,75% mais biomassa que pelo modelo I, no entanto, apresenta aumento no lucro anual por hectare de 8,30%. Comparando o modelo III com I e II, os aumentos foram, respectivamente, de 13% e 4,34% no lucro e 13,04% e 3,95% na produção de biomassa. 5. CONCLUSÕES 1. A avaliação dos modelos, realizada com base no critério de lucro de produção de energia, confirmou a viabilidade econômica dessa produção a partir da biomassa residual de colheita. Ressaltase a importância de estudos de coleta desse material sem o processo de enfardamento, pois este consome cerca de 60% do lucro de produção. 2. Verificou-se, nos três modelos, que a produção de energia de biomassa residual das variedades escolhidas geraram lucro para a empresa de canade-açúcar. 5. Com o critério de decisão utilizado, o modelo III apresentou o melhor resultado, proporcionando lucro de 939 US$/ha.ano. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 297-303, 2002 Lucro 19.947.119 21.600.245 22.548.396 Lucro US$/ha.ano 831 900 939 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRIEGER, F. Situação do melhoramento da cana-de-açúcar no estado de São Paulo. In: 50 anos de Estação Experimental de Piracicaba. Campinas: Instituto Agronômico, 1978, p.82. BRUNORO, J.A.B.; LEITE, C.A.M. 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Dissertação (Mestrado em Irrigação) - Universidade Federal da Paraíba, Campina Grande. Modelos de Minimização de Biomassa Residual PMGCA. Programa de melhoramento genético da canade-açúcar. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Biotecnologia Vegetal, 1999. SARTORI, M.M.P. Otimização da produção de energia e biomassa do resíduo de colheita em variedades de cana-deaçúcar. 2001. 121f. Tese (Doutorado em Agronomia/ Energia na agricultura) – Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP, Botucatu. SARTORI, M.M.P.; FLORENTINO, H.O.; BASTA, C.; LEÃO, A.L. Determination of the optimal quantity of crop residues for energy in sugarcane crop management using linear programming in variety selection and planting strategy. Energy, Elsevier, n.26, p.1031-1040, 2001. SINGELS, A.; BEZUIDENHOUT, C.N.; SCHMIDT, E.J.; HOGARTH, D.M. Evaluating strategies for 303 scheduling supplementary irrigation of sugarcane in South Africa. 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Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 297-303, 2002 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.61 no.3 Campinas Sept./Dec. 2002 METODOLOGIA E TÉCNICAS EXPERIMENTAIS NOTA Uso de software para análise de imagem em avaliação da cobertura de pulverização Using imagery analysis software for evaluation of spraying coverage Márcio Carvalho FirvedaI; Alécio Cantalogo-JuniorI; Hamilton Humberto RamosII; Antonio Carlos Loureiro LinoII; Ila Maria CorrêaII IGraduando em Agronomia. Estagiário do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Engenharia e Automação Agrícola (CMAA), Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 26, 13201-970 Jundiaí (SP) IICentro de Mecanização e Automação Agrícola, IAC. E-mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho teve como objetivo avaliar a menor concentração do traçador fluorescente Poliglow 830 YLS, necessária para um suficiente contraste com a superfície vegetal, bem como desenvolver uma rotina para determinar a cobertura de pulverização no software para análise de imagens IDRISI. Para avaliação, misturaram-se, previamente, três doses de traçador fluorescente Poliglow 830 YLS (5, 12,5 e 25 g) a 10 g de uma formulação de mancozeb, diluídas em 5 L de água (0,001, 0,0025 e 0,005% p.v. do traçador) e aplicadas, com três diferentes tamanhos de gotas (muito grossa, fina e muito fina) em Hibiscus spp. Após a completa secagem da calda, retiraram-se amostras de folhas, as quais foram levadas ao laboratório e analisadas sob luz ultravioleta; selecionou-se, visualmente, uma folha com deposição leve, média e pesada de cada um dos nove tratamentos. A menor dose do traçador proporcionou uma fluorescência bastante incipiente mesmo para análise visual. As demais folhas foram fotografadas com câmera digital, em ambiente totalmente escuro, sob iluminação ultravioleta. Assim, desenvolveu-se uma rotina de análise de imagens que permitiu a automatização das análises de cobertura. O software mostrou-se ferramenta adequada e eficiente na avaliação da cobertura de pulverização na superfície vegetal estudada. A maior concentração do traçador melhorou a sensibilidade da análise. Palavras-chave: pulverização, distribuição, análise de imagens, traçador fluorescente. ABSTRACT The present work aimed to evaluate the smallest concentration of the tracer fluorescent Poliglow 830 YLS necessary for an adequate contrast with the plant surface, as well as to develop a process for determination of spraying coverage using the software IDRISI for imagery analysis. Three doses of the fluorescent tracer Poliglow 830 YLS (5, 12.5 and 25 g) were previously mixed to 10 g of a mancozeb formulation, diluted in 5 L of water (0.001, 0.0025 e 0.005% w.v. of tracer) and applied on Hibiscus spp, with three different sizes of drops (very large, fine and very fine). After the complete drying of the carrier, samples of leaves were collected, taken to the laboratory and analyzed under ultra-violet light, where a leaf was visually selected with light, medium and heavy deposition, for each one of the nine treatments. The smallest dose of the tracer provided a quite incipient fluorescency for visual analysis, therefore being discarded. The other leaves were photographed with digital camera, in a totally dark atmosphere, under ultra-violet illumination. With these images, a routine analysis was developed in the software IDRISI, which allowed the automation of the coverage analyses. The software IDRISI showed to be an appropriate and efficient tool in the evaluation of the spraying coverage in the plant surface studied. The largest concentration of the tracer improved the sensitivity of the analysis. Key words: spraying, distribution, imagery analysis, fluorescent tracer. Introdução A mistura de aditivos, pó ou líquido, às formulações a serem pulverizadas, como meio de avaliação qualitativa e quantitativa dos depósitos, é bastante antiga. Inicialmente, utilizavamse os compostos cúpricos; a partir daí, vários outros métodos começaram a ser estudados. Na busca por novos métodos, HIMEL (1969), SHARP (1973), TOMPKINS et al. citados por ABI SAAB (1996) e EVANS et al. (1994) adicionaram suspensões de pigmentos fluorescentes ao produto a ser aplicado nas plantas, substâncias que se destacam facilmente sob luz ultravioleta pela fluorescência. Segundo Raetano (1996), a utilização desses materiais fluorescentes apresenta vantagem, pois, sendo invisíveis nas folhas, diminui a tendência de escolha na coleta das amostras; além disso, os depósitos são facilmente visualizados em presença de luz ultravioleta (BLB 15). Apesar da vantagem do uso dos pigmentos fluorescentes, pode-se citar como desvantagem o fato de, em sua grande maioria, serem pouco solúveis em água. Com isso, faz-se necessário misturá-los previamente aos espalhantes adesivos a fim de melhorar sua dispersão no meio aquoso, como sugerido por RAETANO (1996). Tal mistura, porém, pode afetar os resultados em virtude da redução na tensão superficial da água proporcionada pelo espalhante (PALLADINI, 2000). Considerando esse fato, ABI SAAB (1996) utilizou com sucesso a técnica de misturar o pigmento Luxcor LRM 100 (derivado de uréia/formaldeído) a uma formulação de pó molhável. Segundo esse autor, tal artifício permitiu uma dispersão adequada do pigmento na água, sem a utilização de espalhantes. Normalmente, o critério adotado para a avaliação dos depósitos, quando se empregam traçadores fluorescentes, tem sido uma escala de notas visual, variável em função da porcentagem ou intensidade de cobertura, conforme descrita por BULLOCK et al. (1968), PALLADINI (1990) e RAETANO (1996). A automação de tais análises, por meio da análise de imagens dos alvos pulverizados por equipamentos eletrônicos, tem sido estudada e foi utilizada com sucesso por Steden citado por ABI SAAB (1996) e EVANS et al. (1994). Essa técnica, entretanto, apresenta limitações, como a necessidade de um grande contraste da imagem para que a avaliação seja precisa (SALYANI et al., 1987). Torna-se importante, contudo, o estudo da concentração do pigmento fluorescente e da rotina de análise para que os resultados obtidos sejam precisos e representem, adequadamente, a cobertura obtida em pulverização. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a menor concentração do traçador fluorescente Poliglow 830 YLS necessária para um suficiente contraste com a superfície vegetal, bem como desenvolver uma rotina para determinar a cobertura de pulverização no software para análise de imagens IDRISI. Material e Métodos Os experimentos foram realizados no Centro de Mecanização e Automação Agrícola (CMAA), do Instituto Agronômico (IAC), localizado em Jundiaí (SP). Utilizou-se o pigmento fluorescente Poliglow 830 YLS que, segundo estudos realizados por Raetano (1996), com diferentes tipos de traçadores, mostrou-se mais adequado à avaliação qualitativa da pulverização. Por ser pouco solúvel em água, misturou-se previamente o traçador a uma formulação de mancozeb para dispersão do pigmento - técnica proposta por ABI SAAB (1996). Dessa forma, três doses do pigmento (5, 12,5 e 25 g) foram misturadas a 10 g da formulação de mancozeb, pesadas em balança digital com precisão de 0,1 g e acondicionadas em balões volumétricos para transporte até a área experimental. Para se obter análise mais completa, optou-se por trabalhar com três espectros diferentes de gotas. Para isso, selecionaram-se as pontas de pulverização AI11002, XR11002 e TX-8, da SPRAYING SYSTEMS Co. que, segundo as especificações do fabricante, produzem, respectivamente, gotas muito grossa, fina e muito fina, a 4 bar de pressão (SPRAYING SYSTEMS Co., sd). Os tratamentos constituíram-se da combinação de três concentrações do traçador com três diferentes espectros de gotas, em nove condições. Realizaram-se as aplicações com um pulverizador costal motorizado marca Guarany, trabalhando à mínima aceleração (pressão de 400 kPa), sobre plantas de Hibiscus spp. dispostas em 'cerca viva', com 1,5 m de altura e 50 m de comprimento. A calda foi preparada em jarra graduada com capacidade de 1 L, onde o volume de água era medido, colocado aos poucos nos balões volumétricos e, posteriormente, no pulverizador até completar 5 L (concentrações de 0,001, 0,0025 e 0,005% p.v. do traçador). Para minimizar possíveis interferências, realizou-se uma tríplice lavagem do tanque do pulverizador quando as caldas foram substituídas. Após 30 minutos da aplicação, tempo suficiente para a secagem da calda, coletaram-se nove folhas de cada parcela (três na parte superior, três na central e três na inferior da planta), totalizando 81 folhas, que foram acondicionadas em sacos plásticos devidamente identificados, e enviadas ao laboratório para análise. Em laboratório fotográfico (sem qualquer incidência de luz externa), as folhas coletadas foram analisadas visualmente sob luz ultravioleta; selecionaram-se para a análise, três folhas de cada parcela, com diferentes graus de cobertura (pesada, média e leve). A menor dose, 5 g de Poliglow 830 YLS (0,001% p.v.), foi insuficiente para possibilitar um contraste adequado entre a deposição e a folha para análise visual, sendo descartada na análise eletrônica. Doses de 12,5 g (0,0025% p.v.) ou superior mostraram-se adequadas a essa análise. Para digitalização das imagens, as folhas selecionadas foram postas sobre um suporte de vidro, sob o qual se colocou um papel branco para aumentar o contraste do fundo com a imagem. Duas lâmpadas ultravioletas (BLB-FL-15W-T8) foram posicionadas a 15 cm de altura em relação à posição das folhas e 20 cm de distância entre si. As imagens foram captadas por câmera fotográfica digital Kodak modelo DC120, posicionada perpendicularmente a uma distância aproximada de 70 cm da folha (mínima distância focal possível), com o máximo de zoom (3x), velocidade de abertura 1:1 e com o flash desligado. As imagens obtidas foram transferidas para um computador no formato JPG e, posteriormente, transformadas em BMP para possibilitar a análise no software IDRISI. De acordo com EASTMAN Jr (1997), o IDRISI é um sistema de informação geográfica e um software para processamento de imagens; líder na funcionalidade analítica raster, cobrindo todo o espectro de necessidade de sistema de informação geográfica (SIG) e de sensoriamento remoto, desde a consulta ao banco de dados e modelagem espacial até realce e classificação de imagens, possibilitando, também, pela divergência de cores, calcular diferenças de áreas em uma mesma superfície. As características de realce e classificação da imagem, bem como o cálculo de áreas foram utilizados no desenvolvimento da rotina para avaliação da cobertura de pulverização da superfície foliar. Resultados e Discussão Para a análise das imagens no IDRISI, dentre as diferentes opções disponíveis nas tabelas de cores, o modo 'Color Composit 256', que divide o espectro em um conjunto de 256 cores, proporcionou maior precisão nos limites entre folha, cobertura e fundo (Figura 1). Observouse que, nesse modo de exibição, a imagem foi composta por um conjunto de, aproximadamente, 25 cores, e os conjuntos que formavam a folha, a cobertura e o fundo foram distintos. Utilizando o 'Reclass', que permite reclassificar como única cor toda uma faixa de cores, foi possível agrupar os diferentes conjuntos em apenas três cores. Assim, as cores de 0 a 55 foram agrupadas no Grupo I; as de 56 a 178 no Grupo II; as de 179 a 256 no Grupo III, correspondentes, respectivamente, à folha, deposição e fundo (Figura 1). Nas deposições leves ou muito baixas, a faixa de folha por vezes se confundia com a cobertura. Nesse caso, as cores foram inicialmente reunidas em cinco diferentes grupos e, posteriormente, utilizou-se novamente o 'Reclass' para se obter apenas os três pretendidos. Obtida a imagem, utilizou-se o analisador de áreas para conseguir, em pixels, a área correspondente a cada uma das cores. A área coberta foi calculada em vista da porcentagem da área da calda em relação à área da folha + calda. A rotina de análise desenvolvida no IDRISI mostrou-se eficiente no cálculo da área coberta, apresentando resultados diferentes ao obtidos de forma visual (Quadros 1 e 2). Para as coberturas consideradas visualmente leves, médias e pesadas, as análises variaram entre 77% e 91%; 69% e 97%; 51% e 95%, respectivamente, para a menor concentração do traçador (0,0025% p.v.), quando avaliadas pela rotina desenvolvida no IDRISI. Para maior concentração do traçador (0,005% p.v.), as coberturas determinadas pelo IDRISI variaram, respectivamente, entre 41% e 74%; 79% e 83%; 79% e 100%. Observa-se, na menor concentração do traçador, que a diferença entre a análise visual e a automatizada foi elevada. Atribuem-se tais diferenças, principalmente às áreas de baixa cobertura, com conseqüente baixa luminescência, o que dificulta a visualização. Na maior concentração, além da diferença entre as formas de análise ser menor, a amplitude de variação dentro de uma mesma classe também foi reduzida. Tal fato se deve ao maior contraste entre a área coberta e a folha, em concordância com o observado por SALYANI et al. (1987). Portanto, o aumento na concentração do traçador, ou mesmo a utilização de um outro que emita fluorescência em uma faixa bem distinta do verde, pode simplificar e elevar a eficiência da operação. Outro fator limitante observado foi a não-fixação da câmera durante a aquisição das fotos. Quando isso ocorreu, devido ao longo tempo de abertura do diafragma, formou-se um halo, mais perceptível nas bordas das folhas, o qual, algumas vezes, dificultou a identificação da área de transição. Resolveu-se tal problema com a fixação da câmera sobre um tripé apropriado. Conclusões 1. O Poliglow 830 YLS, quando misturado ao mancozeb em formulação pó molhável e doses superiores a 12,5 g por 5 litros de água (0,0025% p.v.) na calda de pulverização, possibilita um contraste suficiente para a análise digital dos resultados. 2. A elevação na quantidade do traçador, de 12,5 para 25,0 g por 5 litros (0,0025% p.v. e 0,005% p.v. respectivamente), diminuiu a diferença entre o sistema visual e o automatizado de análise, além de reduzir a diferença entre a maior e a menor cobertura dentro de uma mesma classe (leve, média ou pesada). 3. O software IDRISI mostrou-se ferramenta adequada e eficiente na avaliação da cobertura proporcionada pela pulverização na superfície vegetal estudada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABI SAAB, O.J.G. Avaliação de um sistema de aplicação de defensivos utilizado em videiras no município de Londrina/PR. 1996. 65f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP, Botucatu. [ Links ] BULLOCK, R.C.; BROOKS, R.F.; WHITNEY, J.D. A method of evaluating pesticide application equipment for Florida citrus. Journal of Economic Entomology, Lanham, v.61, n.6, p.15111514, 1968. [ Links ] EASTMAN Jr. Idrisi for windows: user's guide, version 2.0. 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[ Links ] Recebido para publicação em 25 de outubro de 2001 e aceito em 29 de agosto de 2002 © 2007 Instituto Agronômico Avenida Barão de Itapura, 1481 13020-902 Campinas SP - Brazil Tel.: +55 19 3231-5422 - ramal 116 Fax: (55 19) 3231-5422 - ramal 215 Software de Análises de Imagem em Avaliação da Cobertura de Pulverização 305 NOTA USO DE SOFTWARE PARA ANÁLISE DE IMAGEM EM AVALIAÇÃO DA COBERTURA DE PULVERIZAÇÃO(1) MÁRCIO CARVALHO FIRVEDA(2 ); ALÉCIO CANTALOGO-JUNIOR(2); HAMILTON HUMBERTO RAMOS(3 ); ANTONIO CARLOS LOUREIRO LINO(3); ILA MARIA CORRÊA(3) RESUMO O presente trabalho teve como objetivo avaliar a menor concentração do traçador fluorescente Poliglow 830 YLS, necessária para um suficiente contraste com a superfície vegetal, bem como desenvolver uma rotina para determinar a cobertura de pulverização no software para análise de imagens IDRISI. Para avaliação, misturaram-se, previamente, três doses de traçador fluorescente Poliglow 830 YLS (5, 12,5 e 25 g) a 10 g de uma formulação de mancozeb, diluídas em 5 L de água (0,001, 0,0025 e 0,005% p.v. do traçador) e aplicadas, com três diferentes tamanhos de gotas (muito grossa, fina e muito fina) em Hibiscus spp. Após a completa secagem da calda, retiraram-se amostras de folhas, as quais foram levadas ao laboratório e analisadas sob luz ultravioleta; selecionouse, visualmente, uma folha com deposição leve, média e pesada de cada um dos nove tratamentos. A menor dose do traçador proporcionou uma fluorescência bastante incipiente mesmo para análise visual. As demais folhas foram fotografadas com câmera digital, em ambiente totalmente escuro, sob iluminação ultravioleta. Assim, desenvolveu-se uma rotina de análise de imagens que permitiu a automatização das análises de cobertura. O software mostrou-se ferramenta adequada e eficiente na avaliação da cobertura de pulverização na superfície vegetal estudada. A maior concentração do traçador melhorou a sensibilidade da análise. Palavras-chave: pulverização, distribuição, análise de imagens, traçador fluorescente. ABSTRACT USING IMAGERY ANALYSIS SOFTWARE FOR EVALUATION OF SPRAYING COVERAGE The present work aimed to evaluate the smallest concentration of the tracer fluorescent Poliglow 830 YLS necessary for an adequate contrast with the plant surface, as well as to develop a process for determination of spraying coverage using the software IDRISI for imagery analysis. Three doses of the fluorescent tracer Poliglow 830 YLS (5, 12.5 and 25 g) were previously mixed to 10 g of a mancozeb formulation, diluted in 5 L of water (0.001, 0.0025 e 0.005% w.v. of tracer) and applied on Hibiscus spp, with three different sizes of drops (very large, fine and very fine). After the complete drying of the carrier, samples of leaves were collected, taken to the laboratory and analyzed under ultra-violet light, where a leaf was visually selected with light, medium and heavy deposition, for each one of the nine treatments. The smallest dose of the tracer provided a quite incipient fluorescency for visual analysis, therefore being discarded. The other leaves were photographed with digital camera, in a totally dark atmosphere, under ultra-violet illumination. With these images, a routine analysis was developed in the software IDRISI, which allowed the automation of the coverage analyses. The software IDRISI showed to be an appropriate and efficient tool in the evaluation of the spraying coverage in the plant surface studied. The largest concentration of the tracer improved the sensitivity of the analysis. Key words: spraying, distribution, imagery analysis, fluorescent tracer. (1) Recebido para publicação em 25 de outubro de 2001 e aceito em 29 de agosto de 2002. 2 ( ) Graduando em Agronomia. Estagiário do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Engenharia e Automação Agrícola (CMAA), Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 26, 13201-970 Jundiaí (SP). 3 ( ) Centro de Mecanização e Automação Agrícola, IAC. E-mail: [email protected] Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 305-310, 2002 306 M.C. FIRVEDA et al. Introdução A mistura de aditivos, pó ou líquido, às formulações a serem pulverizadas, como meio de avaliação qualitativa e quantitativa dos depósitos, é bastante antiga. Inicialmente, utilizavam-se os compostos cúpricos; a partir daí, vários outros métodos começaram a ser estudados. Na busca por novos métodos, HIMEL (1969), SHARP (1973), Tompkins et al. citados por ABI SAAB (1996) e EVANS et al. (1994) adicionaram suspensões de pigmentos fluorescentes ao produto a ser aplicado nas plantas, substâncias que se destacam facilmente sob luz ultravioleta pela fluorescência. Segundo RAETANO (1996), a utilização desses materiais fluorescentes apresenta vantagem, pois, sendo invisíveis nas folhas, diminui a tendência de escolha na coleta das amostras; além disso, os depósitos são facilmente visualizados em presença de luz ultravioleta (BLB 15). Apesar da vantagem do uso dos pigmentos fluorescentes, pode-se citar como desvantagem o fato de, em sua grande maioria, serem pouco solúveis em água. Com isso, faz-se necessário misturá-los previamente aos espalhantes adesivos a fim de melhorar sua dispersão no meio aquoso, como sugerido por RAETANO (1996). Tal mistura, porém, pode afetar os resultados em virtude da redução na tensão superficial da água proporcionada pelo espalhante (PALLADINI, 2000). Considerando esse fato, ABI SAAB (1996) utilizou com sucesso a técnica de misturar o pigmento Luxcor LRM 100 (derivado de uréia/formaldeído) a uma formulação de pó molhável. Segundo esse autor, tal artifício permitiu uma dispersão adequada do pigmento na água, sem a utilização de espalhantes. Normalmente, o critério adotado para a avaliação dos depósitos, quando se empregam traçadores fluorescentes, tem sido uma escala de notas visual, variável em função da porcentagem ou intensidade de cobertura, conforme descrita por BULLOCK et al. (1968), P ALLADINI (1990) e R AETANO (1996). A automação de tais análises, por meio da análise de imagens dos alvos pulverizados por equipamentos eletrônicos, tem sido estudada e foi utilizada com sucesso por Steden citado por ABI SAAB (1996) e EVANS et al. (1994). Essa técnica, entretanto, apresenta limitações, como a necessidade de um grande contraste da imagem para que a avaliação seja precisa (SALYANI et al., 1987). Torna-se importante, contudo, o estudo da concentração do pigmento fluorescente e da rotina de análise para que os resultados obtidos sejam precisos e representem, adequadamente, a cobertura obtida em pulverização. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a menor concentração do traçador fluorescente Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 305-310, 2002 Poliglow 830 YLS necessária para um suficiente contraste com a superfície vegetal, bem como desenvolver uma rotina para determinar a cobertura de pulverização no software para análise de imagens IDRISI. Material e Métodos Os experimentos foram realizados no Centro de Mecanização e Automação Agrícola (CMAA), do Instituto Agronômico (IAC), localizado em Jundiaí (SP). Utilizou-se o pigmento fluorescente Poliglow 830 YLS que, segundo estudos realizados por RAETANO (1996), com diferentes tipos de traçadores, mostrouse mais adequado à avaliação qualitativa da pulverização. Por ser pouco solúvel em água, misturou-se previamente o traçador a uma formulação de mancozeb para dispersão do pigmento – técnica proposta por ABI SAAB (1996). Dessa forma, três doses do pigmento (5, 12,5 e 25 g) foram misturadas a 10 g da formulação de mancozeb, pesadas em balança digital com precisão de 0,1 g e acondicionadas em balões volumétricos para transporte até a área experimental. Para se obter análise mais completa, optou-se por trabalhar com três espectros diferentes de gotas. Para isso, selecionaram-se as pontas de pulverização AI11002, XR11002 e TX-8, da Spraying Systems Co. que, segundo as especificações do fabricante, produzem, respectivamente, gotas muito grossa, fina e muito fina, a 4 bar de pressão (SPRAYING SYSTEMS CO., sd). Os tratamentos constituíram-se da combinação de três concentrações do traçador com três diferentes espectros de gotas, em nove condições. Realizaram-se as aplicações com um pulverizador costal motorizado marca Guarany, trabalhando à mínima aceleração (pressão de 400 kPa), sobre plantas de Hibiscus spp. dispostas em ‘cerca viva’, com 1,5 m de altura e 50 m de comprimento. A calda foi preparada em jarra graduada com capacidade de 1 L, onde o volume de água era medido, colocado aos poucos nos balões volumétricos e, posteriormente, no pulverizador até completar 5 L (concentrações de 0,001, 0,0025 e 0,005% p.v. do traçador). Para minimizar possíveis interferências, realizou-se uma tríplice lavagem do tanque do pulverizador quando as caldas foram substituídas. Após 30 minutos da aplicação, tempo suficiente para a secagem da calda, coletaram-se nove folhas de cada parcela (três na parte superior, três na central e três na inferior da planta), totalizando 81 folhas, que foram acondicionadas em sacos plásticos devidamente identificados, e enviadas ao laboratório para análise. Software de Análises de Imagem em Avaliação da Cobertura de Pulverização 307 Em laboratório fotográfico (sem qualquer incidência de luz externa), as folhas coletadas foram analisadas visualmente sob luz ultravioleta; selecionaram-se para a análise, três folhas de cada parcela, com diferentes graus de cobertura (pesada, média e leve). A menor dose, 5 g de Poliglow 830 YLS (0,001% p.v.), foi insuficiente para possibilitar um contraste adequado entre a deposição e a folha para análise visual, sendo descartada na análise eletrônica. Doses de 12,5 g (0,0025% p.v.) ou superior mostraram-se adequadas a essa análise. Para digitalização das imagens, as folhas selecionadas foram postas sobre um suporte de vidro, sob o qual se colocou um papel branco para aumentar o contraste do fundo com a imagem. Duas lâmpadas ultravioletas (BLB-FL-15W-T8) foram posicionadas a 15 cm de altura em relação à posição das folhas e 20 cm de distância entre si. As imagens foram captadas por câmera fotográfica digital Kodak modelo DC120, posicionada perpendicularmente a uma distância aproximada de 70 cm da folha (mínima distância focal possível), com o máximo de zoom (3x), velocidade de abertura 1:1 e com o flash desligado. As imagens obtidas foram transferidas para um computador no formato JPG e, posteriormente, transformadas em BMP para possibilitar a análise no software IDRISI. De acordo com EASTMAN Jr (1997), o IDRISI é um sistema de informação geográfica e um software para processamento de imagens; líder na funcionalidade analítica raster, cobrindo todo o espectro de necessidade de sistema de informação geográfica (SIG) e de sensoriamento remoto, desde a consulta ao banco de dados e modelagem espacial até realce e classificação de imagens, possibilitando, também, Para a análise das imagens no IDRISI, dentre as diferentes opções disponíveis nas tabelas de cores, o modo ‘Color Composit 256’, que divide o espectro em um conjunto de 256 cores, proporcionou maior precisão nos limites entre folha, cobertura e fundo (Figura 1). Observou-se que, nesse modo de exibição, a imagem foi composta por um conjunto de, aproximadamente, 25 cores, e os conjuntos que formavam a folha, a cobertura e o fundo foram distintos. Utilizando o ‘Reclass’, que permite reclassificar como única cor toda uma faixa de cores, foi possível agrupar os diferentes conjuntos em apenas três cores. Assim, as cores de 0 a 55 foram agrupadas no Grupo I; as de 56 a 178 no Grupo II; as de 179 a 256 no Grupo III, correspondentes, respectivamente, à folha, deposição e fundo (Figura 1). Nas deposições leves ou muito baixas, a faixa de folha por vezes se confundia com a cobertura. Nesse caso, as cores foram inicialmente reunidas em cinco diferentes grupos e, posteriormente, utilizou-se novamente o ‘Reclass’ para se obter apenas os três pretendidos. Obtida a imagem, utilizou-se o analisador de áreas para conseguir, em pixels, a área correspondente a cada uma das cores. A área coberta foi calculada em vista da porcentagem da área da calda em relação à área da folha + calda. (A) (B) pela divergência de cores, calcular diferenças de áreas em uma mesma superfície. As características de realce e classificação da imagem, bem como o cálculo de áreas foram utilizados no desenvolvimento da rotina para avaliação da cobertura de pulverização da superfície foliar. Resultados e Discussão Figura 1. Imagem de folha pulverizada com traçador fluorescente e analisada no software IDRISI sob a paleta de cores ´Color Composit 256´ (A) e, após, reclassificada em fundo (cinza-escuro), folha (preto) e cobertura (cinza-claro), visualizada sob a paleta de cores ´Qualitative 16´ (B). Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 305-310, 2002 308 Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 305-310, 2002 M.C. FIRVEDA et al. Software de Análises de Imagem em Avaliação da Cobertura de Pulverização 309 Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 305-310, 2002 310 M.C. FIRVEDA et al. A rotina de análise desenvolvida no IDRISI mostrou-se eficiente no cálculo da área coberta, apresentando resultados diferentes ao obtidos de forma visual (Quadros 1 e 2). Para as coberturas consideradas visualmente leves, médias e pesadas, as análises variaram entre 77% e 91%; 69% e 97%; 51% e 95%, respectivamente, para a menor concentração do traçador (0,0025% p.v.), quando avaliadas pela rotina desenvolvida no IDRISI. Para maior concentração do traçador (0,005% p.v.), as coberturas determinadas pelo IDRISI variaram, respectivamente, entre 41% e 74%; 79% e 83%; 79% e 100%. Observa-se, na menor concentração do traçador, que a diferença entre a análise visual e a automatizada foi elevada. Atribuem-se tais diferenças, principalmente às áreas de baixa cobertura, com conseqüente baixa luminescência, o que dificulta a visualização. Na maior concentração, além da diferença entre as formas de análise ser menor, a amplitude de variação dentro de uma mesma classe também foi reduzida. Tal fato se deve ao maior contraste entre a área coberta e a folha, em concordância com o observado por SALYANI et al. (1987). Portanto, o aumento na concentração do traçador, ou mesmo a utilização de um outro que emita fluorescência em uma faixa bem distinta do verde, pode simplificar e elevar a eficiência da operação. Outro fator limitante observado foi a não-fixação da câmera durante a aquisição das fotos. Quando isso ocorreu, devido ao longo tempo de abertura do diafragma, formou-se um halo, mais perceptível nas bordas das folhas, o qual, algumas vezes, dificultou a identificação da área de transição. Resolveu-se tal problema com a fixação da câmera sobre um tripé apropriado. Conclusões 1. O Poliglow 830 YLS, quando misturado ao mancozeb em formulação pó molhável e doses superiores a 12,5 g por 5 litros de água (0,0025% p.v.) na calda de pulverização, possibilita um contraste suficiente para a análise digital dos resultados. 2. A elevação na quantidade do traçador, de 12,5 para 25,0 g por 5 litros (0,0025% p.v. e 0,005% p.v. respectivamente), diminuiu a diferença entre o sistema visual e o automatizado de análise, além de reduzir a diferença entre a maior e a menor cobertura dentro de uma mesma classe (leve, média ou pesada). 3. O software IDRISI mostrou-se ferramenta adequada e eficiente na avaliação da cobertura proporcionada pela pulverização na superfície vegetal estudada. Bragantia, Campinas, v. 61, n. 3, 305-310, 2002 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABI SAAB, O.J.G. Avaliação de um sistema de aplicação de defensivos utilizado em videiras no município de Londrina/PR. 1996. 65f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP, Botucatu. BULLOCK, R.C.; BROOKS, R.F.; WHITNEY, J.D. A method of evaluating pesticide application equipment for Florida citrus. Journal of Economic Entomology, Lanham, v.61, n.6, p.1511-1514, 1968. 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