Análise Vital –Texto 1/10 1 O que é ANÁLISE VITAL Conceito. A ANÁLISE VITAL é uma metodologia para diagnosticar oportunidades e/ou necessidades de mudança e para definir caminhos seguros para sua implementação com sucesso. A palavra mudança é aplicada neste contexto em sentido lato, pois abrange desde reengenharias de processos e projetos de melhoria da qualidade até – e principalmente - a própria invenção (ou reinvenção) de negócios. Também a dualidade de objetos do verbo diagnosticar – incluindo oportunidades, além de necessidades – caracteriza o caráter pró-ativo da abordagem metodológica. Além disso, chama-se Análise Vital porque encara a organização como um organismo vivo, em busca da realização de sua missão, lutando para sobreviver em ambiente de alta competitividade, hostil e mutante (ao qual deve se adaptar e no qual pretende influir) e mantendo íntegras e em equilíbrio suas funções vitais. As vantagens práticas desta analogia estão ilustradas em conceitos e exemplos apresentados no decorrer do texto. O Primeiro Ciclo: Análise Vital de Sistemas. A ANÁLISE VITAL foi desenvolvida inicialmente tendo em vista a especificação de sistemas de informação de qualidade. Partindo do princípio de que a informação só existe na medida em que apoia a ação, a Análise Vital de Sistemas (ref. 1) preconiza que é preciso, antes de mais nada, conhecer o alvo da informação: as ações do negócio. De fato, só existirá informação “médica” se apoiar a ação “curar o paciente”, “educacional”, se contribuir para “alfabetizar”; “ecológica” se “promover o desenvolvimento sustentável”, policial se “garantir a segurança do cidadão” etc. Afirmar que a informação deve apoiar a ação é redundância, porque informação que não apoia a ação não é informação, é dado. Por definição, o “sapo-dado” só se transforma no “príncipe-informação” quando aumenta o conhecimento de alguém, capacitando este alguém para bem executar uma tarefa. Daí a impossibilidade de se pensar em informação divorciada da ação. Este enfoque resultou numa proposta metodológica baseada em dois modelos concatenados: o do negócio e o da informação; o segundo sempre dependendo da definição correta do primeiro. Repetindo, para a precisão Análise Vital –Texto 2/10 do tiro (informação) é necessário o mapeamento preciso do alvo (ações do negócio). O Segundo Ciclo: Análise Vital de Negócios. Não obstante o sucesso alcançado em diversos projetos de Sistemas de Informação (ver lista de aplicações em anexo), chegou-se à conclusão de que se poderia obter resultados ainda melhores da ANÁLISE VITAL, ampliando seu foco para além das variáveis informação e tecnologia da informação. De fato, para implementar mudanças significativas em negócios deve-se atuar de forma coordenada sobre todas as variáveis que condicionam os processos empresariais, a saber: informação, tecnologia, organização, pessoas, materiais e infra-estrutura, como ilustrado na figura I. Figura I 2 - Premissas Metodológicas Toda metodologia, como qualquer ciência, se fundamenta num conjunto limitado de princípios ou idéias primitivas, sobre os quais o pensamento metodológico é construído. Em síntese, são as seguintes as premissas da ANÄLISE VITAL : I - O Objetivo da Metodologia é garantir a Cadeia da Qualidade: Instrumento > Negócio > Cliente Estendendo o conceito apresentado no item anterior (informação-ação), para qualquer variável de mudança ou instrumento gerencial - seja ele um sistema de informação, uma estrutura organizacional, um planejamento estratégico ou uma nova tecnologia -, pode-se dizer que ele só terá qualidade na medida que incorporar qualidade às ações do negócio. Este, por sua vez, só terá obtido qualidade se cumprir sua missão em níveis de excelência, o que significa proporcionar qualidade para seu cliente. Assim se forma a cadeia de qualidade , ilustrada na figura II. Por esta razão, a metodologia de ANÁLISE VITAL tem na formulação da Missão e das Ações do Negócio o ponto de partida para a investigação de mudanças. Desta forma, os instrumentos gerenciais e operacionais serão projetados para apoiar as ações do negócio e para garantir o atendimento das necessidades dos clientes desse negócio. Análise Vital –Texto 3/10 Assim, os três níveis da cadeia da qualidade devem ser monitorados através de indicadores de desempenho específicos. •II - Investigação de Mudanças através de Perguntas: Na investigação de mudanças empresariais, principalmente as baseadas em tecnologia de informação, deve-se formular e responder às três perguntas seguintes: 1a Por que mudar? Para se criar um novo processo é preciso ter clareza quanto aos objetivos de qualidade do negócio que se espera alcançar. Em outras palavras, o negócio é o alvo, ou o porquê, da mudança e o sucesso da mudança, ou a precisão do tiro, depende da conhecimento do alvo. Para se responder a esta pergunta deve-se Idealizar o Negócio Futuro, o que significa justificar a mudança. 2a O que mudar? Uma vez conhecido o porquê da mudança (o negócio idealizado) trata-se de especificar, através das variáveis de mudança, os requisitos de novos processos capazes de materializá-lo, isto é, conceituar a mudança. 3a Como mudar? Só após conhecermos a justificativa da mudança e os requisitos dos novos processos ou sistemas é que estaremos em condições de projetá-los e implementá-los com sucesso.. Apesar da obviedade do procedimento descrito, é comum as mudanças começarem diretamente pela definição dos “comos”, sem se ter clareza de “o que” delas se espera e “por que” são necessárias. A ansiedade em obter logo os resultados faz com que se mude sem saber o destino, sem um mapa ou plano de viagem. Esta tem sido uma das principais causas do insucesso no uso da tecnologia da informação na transformação dos processos organizacionais, nas reengenharias e outros bichos. III - Investigação Coletiva e Consensual: A melhor forma para diagnosticar necessidades e vislumbrar oportunidades de mudança empresarial, bem como, para escolher o caminho para implementá-las é através da investigação coletiva e consensual, com a participação de todas as áreas responsáveis e/ou impactadas pela mudança. Análise Vital –Texto 4/10 Esta forma de trabalho se justifica porque é rápida, gera soluções mais criativas, inovadoras e eficazes e garante o comprometimento de todos com sua implementação. A tentativa de produzir um novo processo a partir de visões setoriais (A, B e C na figura da direita) estanques leva, na maioria das vezes, à criação de um objeto” non sense” como o Triângulo de Escher, em que cada vértice parece fazer sentido isoladamente, mas o conjunto não. Ao contrário, o trabalho coletivo gera um processo de sinergia entre as áreas envolvidas (A, B e C na figura da direita), de modo que “o todo se torna maior que a soma das partes” IV - Postura Pró-ativa na Definição de Objetivos: Na investigação dos alvos de mudança deve-se adotar uma atitude próativa, isto é, ao invés de perguntar o que está errado hoje busca-se identificar, de forma idealizada, o que gostaríamos de ter amanhã. Assim, além da ação corretiva (eliminando as imperfeições ora existentes), está-se agindo também de modo aperfeiçoativo (melhorando processos que aparentemente estão indo bem) e preventivo (evitando que processos considerados sem problemas se deteriorem). Quando se investiga a mudança a partir do que existe de errado (estado L 1 da figura) tende-se a estabelecer alvos pobres . Nestes casos, o máximo que se consegue é corrigir o que está incomodando (estado K 2 da figura). Ao contrário, o foco no que se gostaria de ter de forma idealizada (estado J 3 da figura) abre alvos de mudança mais ricos, pois, além de se corrigir o que está ruim, busca-se também aperfeiçoar o que está “bom”. O momento adequado para se mudar um processo é no estado K 2 da figura e não no estado L 1. Entretanto isto é pouco praticado pois as empresas, como as pessoas, são reativas, só pensam em mudar quando algo vai mal: clientes cancelam contratos, a concorrência ganha mercado, os resultados econômicos apresentam prejuízo etc. Além disso, deve-se considerar que mudando no estado K 2, está-se agindo também preventivamente, pois “o estado K 2 é a véspera do L 1”.3 Modelo de Gestão do Negócio 31 - Modelo do Negócio O objetivo do Modelo do Negócio é descrever a essência da organização que gostaríamos de ter para servir de alvo para nossa ação de mudança. O Análise Vital –Texto 5/10 Modelo do Negócio funciona como um mapa que guiará o investigador de sistemas na decisões de implementação, conduzindo-o a um porto seguro. Modelo de Gestão do Negócio é representado por uma estrutura de ações que constitui a essência do negócio e tem como objetivo a realização da Visão Empresarial. As ações do negócio são declaradas através de estruturas Objeto(s)” “Verbo + Toda organização existe para transformar, qualquer que seja seu porte ou área de atuação. A missão de qualquer negócio é sempre fazer alguma coisa. A própria origem latina da palavra negócio significa “nego + ócio” (não ócio), o que na República Romana consistia em ter uma atividade produtiva para a sociedade (res publica). Portanto representar a essência de um negócio é descrever esta estrutura de ação que a organização se propõe a realizar. A ação de nível mais elevado é denominada missão e representa a razão de existir do negócio. Por exemplo, um hospital poderia ter missão: · Promover Saúde ou · Prestar Serviços Médico-hospitalares Ao definirmos a missão estamos caracterizando a essência, a alma, o caráter do negócio. Retomando o exemplo anterior, qualquer hospital pode ser visto como um “promotor de saúde” e, ao mesmo tempo, como um “prestador de serviços médicos”. Entretanto, asduas missões acima enunciadas conduzem a negócios de personalidades bem diferentes. Se nossa existência se justifica simplesmente para prestar serviços médicos, estamos assumindo uma postura reativa: se alguém nos procura com algum mal, tratamos de curá-la, isto é, para atuarmos deve haver a doença. Por outro lado, a formulação “promover saúde” é mais abrangente, pois inclui, além de eliminar o mal, evitá-lo. Neste caso, mais do que apenas prestar os serviços médicos deve-se evitar que o serviço médico seja necessário, o que inclui também ações preventivas tais como a educação do paciente, a recomendação de dietas, exercícios físicos e práticas higiênicas defensivas e a vacinação. Tudo isso sem contar a ação sobre a saúde mental e espiritual do indivíduo. Análise Vital –Texto 6/10 Este exemplo serviu para ilustrar como diferentes formulações de missão podem levar à criação de organizações com “almas” bem diversas. As ações que constituem o primeiro nível de decomposição da missão são denominadas funções vitais do negócio. Exemplo: Missão: Prestar Serviços Médico Hospitalares Funções Vitais: Þ Atender Pacientes Þ Diagnosticar Necessidades Þ Fazer Exames Complementares Þ Prescrever Tratamento Þ Aplicar Tratamento Þ Cobrar Serviços Estas funções são denominadas vitais por serem essenciais para a sobrevivência do negócio. Caso alguma delas esteja apresentando desempenho inadequado o cumprimento da missão é comprometido. A ANALISE VITAL tem este nome porque se baseia na análise das funções vitais do negócio, encarando-o como se fosse um organismo vivo. Portanto, não se espera das funções vitais apenas um alto desempenho individual mas também que atuem de forma equilibrada e harmônica entre si. As distinções e coincidências entre os conceitos de funções vitais e processos de negócio serão apresentadas e discutidas no decorrer deste trabalho. Na construção do modelo do negócio, cada função vai sendo definida através da estrutura de ações que a compõem. Este processo se repete até o nível necessário para o diagnóstico de necessidades ou oportunidades de mudança que pretendemos efetuar. Deve-se lembrar que o nível de diagnóstico varia de acordo com o objetivo da análise. Por exemplo, se a intenção é definir apenas um sistema de informações para os executivos executivos do alto escalão (EIS) o nível de aprofundamento do modelo pode ser menor do que o necessário para automatizar todo o negócio. Análise Vital –Texto 7/10 O apêndice A apresenta um exemplo hipotético de um Modelo de Nagócio para uma sapataria. III - O Que é Negócio? A Análise Vital considera negócio tudo aquilo que pode ser visto como tal, o que inclui tanto uma empresa como um conglomerado de empresas, uma função de uma ou de um conjunto de empresas, um processo, um setor, um projeto ou até um grupo de trabalho. Em qualquer dos casos enumerados o “negócio” pode ser compreendido e modelado através de sua missão, clientes, produtos e serviços que produz, funções e processos, objetivos de qualidade, indicadores de desempenho, diretrizes estratégicas e agentes. Além disso, a Análise Vital vem sendo aplicada com sucesso em uma gama de projetos de mudança com diferentes propósitos, tais como: especificação de sistemas de informação, EIS - Executive Information Systems, reengenharia de processos empresariais, planejamento estratégico ou setorial (PDI, RH etc), gestão pela qualidade total e projetos diversos. 22 - Propriedades Objetivo de Qualidade As ações do Negócio devem ser qualificadas através de propriedades objetivo e focadas através de diretrizes empresariais. As propriedades objetivo representam os requisitos relevantes que a Ação deve apresentar. de qualidade As propriedades objetivo de qualidade podem ser de dois tipos: (M) Meio quando qualificam o modo de executar a ação Exemplo: Ação : Proporcionar ao Mercado Seguros de Pessoas (F)•Lucratividade (F)•Satisfação dos Clientes (M) •Ética (F)•Participação (market share) (M) •Ética (M) •Competitividade As propriedades fim demonstram a eficácia da Ação, isto é, se ela produziu os resultados esperados. Análise Vital –Texto 8/10 As propriedades meio determinam o grau de vulnerabilidade com que a ação é realizada. No apêndice B está apresentado uma sugestão de glossário com as propriedades de qualidade mais comuns. 23 - Indicadores de Desempenho O nível de qualidade das Ações do Negócio é quantificado através de indicadores de desempenho. Os indicadores de desempenho são usados para: •estabelecimento de metas de qualidade; •monitoramento do desempenho da qualidade. Os indicadores de desempenho são compostos de dois elementos: •o índice de medida da qualidade •a visão de análise do desempenho. Exemplo: Ação: Comercializar Seguros Propriedade de Qualidade: Lucratividade Índice: LO Lucro Operacional = % Lucro em relação ao Faturamento Visão de Análise: Por Mês / Por Regional / Por Plano O Modelo de Negócio deve explicitar as metas de qualidade das ações do negócio, através dos Indicadores de desempenho Tipos de Indicadores de desempenho a) Indicador Objetivo é aquele mede diretamente o resultado da ação Ex. Quantidade de peças produzidas por minuto para medir a produtividade da ação fabricar peças; tempo médio entre a solicitação e o atendimento para medir a agilidade da função atender clientes etc... b) Indicador Subjetivo é aquele em que o resultado da ação é medido de forma indireta, através da opinião de terceiros. Ex. Pesquisa de opinião junto aos usuários para avaliar a utilidade do sistema, sua completeza etc... Pesquisa junto à equipe para medir o nível de comprometimento dos participantes etc... Análise Vital –Texto 9/10 c) Indicador Indireto é aquele que tenta avaliar a qualidade de uma ação através do resultado de outra correlata. Ex, Quantidade média anual de horas de treinamento per capita, para medir a qualidade capacitação técnica da atividade desenvolver sistemas, investimento em tecnologia em relação ao faturamento para medir modernidade no atender pacientes. d) Indicador Inverso é aquele em que se mede a qualidade da ação ou produto pela ausência de qualidade. Ex. Tempo total de inatividade do sistema por mês para medir a continuidade do processamento; quantidade mensal de queixas no PROCON, para medir a ética empresarial, etc... 24 - Diretrizes Empresariais Diretrizes Empresariais são paradigmas dinâmicos (limites e valores) que norteiam o desenvolvimento das Ações do Negócio, garantindo a covergência de esforços e a concentração de recursos no sentido da consecução dos objetivos de qualidade estabelecidos. A grande vantagem das diretrizes empresariais está no estabelecimento de focos comuns. As diretrizes, entretanto, como todo paradigma, apresentam um lado negativo: restringem as alternativas de ação e inibem a criatividade. Por esta razão, as diretrizes devem ser permanentemente justificadas para não se estabelecer diretrizes limitadoras, que engessam a ação ao invés de servir de trilho para o sucesso. Exemplo: Missão: PROMOVER SAÚDE > Função Vital: ATENDER PACIENTES Diretrizes : •desospitalização •idade e classe social dos pacientes •patologia 25 - Agentes e Matriz de Atividades x Responsabilidades O Modelo de Gestão deve estabelecer os agentes das ações do negócio e a relação de responsabilidade x autoridade destes agentes. Análise Vital –Texto 10/10 São agentes das ações de um negócio quaisquer pessoas ou órgãos da empresa (ou até mesmo de outras empresas por ela contratada) cuja atuação pode ter influência sobre o desempenho da ação. Exemplos de Agentes: Agente Diretor é o agente que estabelece metas de desempenho para a Ação. Agente Controlador é aquele que monitora o desempenho da Ação em relação às metas. Agente Executor é aquele realiza a Ação de modo a atingir as metas fixadas. Agente Planejador é aquele que assessora na fixação das metas e na alocação dos recursos à Ação. Agente Auditor é aquele que audita os resultados e procedimentos da Ação. Agente Auditor é aquele que audita os resultados e procedimentos da Ação. Agente Legalizador é aquele que garante que a Ação seja executada de acordo com a lei. Agente Contabilizador é aquele que é responsável por registrar os fatos contábeis e fiscais da Ação. Exemplo de matriz de atividades x responsabilidades: Ação 1 = Calcular Preço Ação 2 = Dimensionar Mercado Ação 3 = Oferecer Produtos 26 - Considerações Finais sobre o Modelo do Negócio O Modelo do Negócio é utilizado como referência para a análise de mudança nos processos empresariais. No caso de Desenvolvimento de Sistemas, devemos selecionar as ações que serão objeto da mudança e identificar quais os agentes destas ações, para em seguida investigar suas necessidades de informação, como ilustrado no exemplo apresentado no Apêndice A. O Apêndice C apreenta um exemplo de Modelo de Negócio desenvolvido para a reengenharia de processos da FUNCATE - Fundação de Ciência, Aplicação e Tecnologia Espaciais.