Instituto Federal Minas Gerais – IFMG Licenciatura Plena em Geografia Talita Ferreira Gonzaga Alves ASPECTOS SOCIAIS E GEOLÓGICOS DA ÁREA URBANA DE OURO PRETO: UM ESTUDO DE CASO DO BAIRRO SÃO FRANCISCO DE PAULA Minas Gerais – Brasil Outubro - 2012 Talita Ferreira Gonzaga Alves ASPECTOS SOCIAIS E GEOLÓGICOS DA ÁREA URBANA DE OURO PRETO: UM ESTUDO DE CASO DO BAIRRO SÃO FRANCISCO DE PAULA Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Geografia do Instituto Federal Minas Gerais – IFMG, campus Ouro Preto, sob a orientação do Professor Reginato Fernandes dos Santos Ouro Preto Coordenadoria de Geografia do IFMG 2012 A474a Alves, Talita Ferreira Gonzaga Aspectos sociais e geológicos da área urbana de Ouro Preto: um estudo de caso do Bairro São Francisco de Paula [manuscrito] / Talita Ferreira Gonzaga Alves. – 2012. 72 f. : il. Orientador(a): Prof. Reginato Fernandes dos Santos Monografia (Graduação) – Instituto Federal Minas Gerais, Campus Ouro Preto. Licenciatura em Geografia. 1. Geologia. – Monografia. 2. Mecânica do solo. – Monografia. 3. Deslizamento de Terra. – Monografia. 4. Uso e Ocupação do Solo. – Monografia. 5. Espaço Urbano (Ouro Preto - MG). – Monografia. I. Santos, Reginato Fernandes dos. II. Instituto Federal Minas Gerais, Campus Ouro Preto. Licenciatura em Geografia. III. Título. CDU 55 Catalogação: Biblioteca Tarquínio J. B. de Oliveira - IFMG – Campus Ouro Preto Talita Ferreira Gonzaga Alves ASPECTOS SOCIAIS E GEOLÓGICOS DA ÁREA URBANA DE OURO PRETO: UM ESTUDO DE CASO DO BAIRRO SÃO FRANCISCO DE PAULA Monografia apresentada Instituto Federal Minas Gerais – IFMG, campus Ouro Preto, como parte das exigências do Curso de Licenciatura em Geografia, para a obtenção do título de Licenciado. APROVADA EM: 05 de novembro de 2012. __________________________________________ Prof. MSc. Reginato Fernandes dos Santos Instituto Federal de Minas Gerais – IFMG Campus Ouro Preto (Orientador) __________________________________________ Prof.(a) MSc. Érica Silva Fabri Centro Universitário Newton Paiva - BH (Membro da banca examinadora) __________________________________________ Prof.MSc. Salatiel Assis Resende Instituto Federal de Minas Gerais – IFMG Campus Ouro Preto (Membro da banca examinadora) DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais Sérgio e Zettinha por todo seu incondicional amor e apoio, e aos meus irmãos Caio e João Paulo pela confiança e paciência. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, que me guiou para que eu concretizasse o meu trabalho me dando a força espiritual necessária nessa empreitada rumo a novos horizontes; Aos meus pais Sérgio e Zettinha pelo apoio, amor, carinho e confiança depositados e também pelas sábias palavras durante todo o meu processo de formação, muito obrigada; Aos meus irmãos Caio e João Paulo pelo carinho, paciência e amor; Ao Leone César pelo apoio, paciência e ajuda que obtive dele durante a realização da minha pesquisa. Aos meus primos Jéssica (Téia) e Pedro Paulo, obrigado pela compreensão e paciência que tiveram durante essa jornada. Á Karla, minha prima e colega de curso que me apoiou e me ajudou muito durante o meu processo de formação. Obrigada por tudo! A minha pequenina menina Nanda, por deixar meus dias mais divertidos; As amizades verdadeiras que fiz durante esses quatro anos de graduação: Izabela, Kelly e Eude,Waleska e Simei,amigos que levarei para sempre; As minhas amigas que fiz durante a minha estadia em Ouro Preto, Shênia e Nivea, muito obrigada pelas palavras de amizade e carinho e também pelas boas risadas que vocês me proporcionaram. Obrigada também a Dani, pelas palavras de conforto e tranquilidade, pessoas que posso considerar como verdadeiras amigas; Aos “meus meninos” da APAE, que com apenas um sorriso, um toque ou uma palavra me mostravam a cada dia, o verdadeiro sentido da vida. Aprendi um pouco com cada pequenino. As colegas que fiz durante o meu trabalho na APAE-Ouro Preto em especial Arlete, Karina e Edna obrigada a todas vocês; Aos meus familiares e amigos (Fernanda, Iara e Felipe) que me auxiliaram de alguma forma nessa minha jornada; ao meu orientador Prof.Reginato Fernandes dos Santos, que com toda paciência e dedicação me auxiliou nessa caminhada. Aos professores do CODAGEO, muito obrigada. “É necessário ainda que se desenvolva um novo entendimento, uma nova cultura que entenda que as chuvas acima da média e as encostas instáveis não têm culpa de nada. Cabe a nós entender os sinais que a Natureza nos dá e resolver os problemas da melhor forma possível. Isso se faz com ciência e informação.” (Picanço, 2010) Sumário 1 - INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8 1.1 - Tema ............................................................................................................................... 8 1.2 - Problema ......................................................................................................................... 9 1.3 - Objetivos......................................................................................................................... 9 1.3.1 - Objetivo Geral .......................................................................................................... 9 1.3.2 - Objetivos Específicos............................................................................................. 10 1.4 - Justificativa ................................................................................................................... 10 2 - BASES CONCEITUAIS ..................................................................................................... 11 2.1 - Contextualização da Cidade de Ouro Preto .................................................................. 11 2.2 - Caracterizações Geológica e Geomorfológica ............................................................. 13 2.2.1 – O Quadrilátero Ferrífero........................................................................................ 14 2.3 – Movimentos de Massa ................................................................................................. 20 2.3.1 - Fatores que afetam o movimento de massa ........................................................... 22 2.3.2 - Classificação de movimento gravitacional de massa ............................................. 25 2.3.3 - Previsão dos Movimentos de Massa ...................................................................... 31 2.3.4 - Análise de estabilidade .......................................................................................... 33 2.3.5 - Ocupação de Áreas Inadequadas ........................................................................... 34 3 – METODOLOGIA............................................................................................................... 39 3.1 – Pesquisas Bibliográficas .............................................................................................. 39 3.2 - Coletas de Dados .......................................................................................................... 40 3.2.1- Visita de reconhecimento ........................................................................................ 40 3.2.2 Elaboração do questionário socioeconômico ........................................................... 42 3.2.3 Visita para aplicação do questionário....................................................................... 43 3.3 - Avaliação dos Resultados ............................................................................................. 43 3.4 - Elaboração da cartilha preventiva................................................................................. 43 4– APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS .................................................. 44 4.1 – Caracterizações dos Movimentos Gravitacionais de Massa - Um foco para Ouro Preto .............................................................................................................................................. 44 4.1.1– O Bairro São Francisco de Paula............................................................................ 45 4.2 – Trabalho de Campo ...................................................................................................... 46 4.1.2 Resultados obtidos do questionário de avaliação socioeconômica dos moradores do Bairro São Francisco de Paula .......................................................................................... 49 5- CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 55 6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 57 APÊNDICE I ............................................................................................................................ 62 APÊNDICE II ........................................................................................................................... 69 PLANOS PREVENTIVOS DE DEFESA CIVIL ( PPDC) ..................................................... 72 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Vista parcial da Serra de Ouro Preto, com destaque para os bairros Veloso e São Francisco de Paula. ................................................................................................................... 12 Figura 2 - Limite geográfico do Município de Ouro Preto, com ênfase na distinção entre município e microrregião.......................................................................................................... 12 Figura 3 - Localização geográfica e geomorfológica do bairro São Francisco de Paula. Observa-se, no detalhe da foto, a encosta sul da Serra de Ouro Preto. Fonte: Mapa do COMDEC, modificado por Reginato Fernandes ...................................................................... 14 Figura 4 - Mapa do Quadrilátero Ferrífero em destaque Ouro Preto-MG/Fonte: Modificado de Alkmim & Marshak,1998. ........................................................................................................ 15 Figura 5 - Imagem de satélite do Quadrilátero Ferrífero (Extraído do site: http://www.geoparkquadrilatero.org) ....................................................................................... 15 Figura 6 - Coluna Estratigráfica proposta para o Quadrilátero Ferrífero (Alkmim e Marshak (1998)). ..................................................................................................................................... 17 Figura 7- Esquema ilustrativo de escorregamento induzido em talude de corte/Fonte: Tominaga,2009 ......................................................................................................................... 27 Figura 8 – Exemplos dos tipos de escorregamentos/Fonte: (modificada de Infanti Jr. & Fornasari Filho, 1998; organizada por Fábio Reis). ................................................................. 28 Figura 9- Desenho ilustrativo da queda de bloco se movimentando fazendo com que partes de um maciço rochoso desagregados das encostas íngremes caem em queda livre/Fonte:Modificada de Infanti Jr e Fornasari Filho,1998;organizada por Fábio Reis. ....... 29 Figura 10-Desenho ilustrativo do tombamento se movimentando fazendo com que ocorra a rotação dos blocos rochosos/Fonte: Modificada de Infanti Jr e Fornasari Filho, 1998;organizada por Fábio Reis. .............................................................................................. 30 Figura 11-Desenho ilustrativo do rolamento de blocos que movimenta os blocos na encosta abaixo/Fonte: Modificada de Infanti Jr e Fornasari Filho, 1998;organizada por Fábio Reis. .. 30 Figura 12-Desenho ilustrativo do rastejos se movimentando, fazendo com que movimente lentamente a terra para a encosta abaixo/Fonte: Modificada de Infanti Jr e Fornasari Filho,1998;organizada por Fábio Reis. .................................................................................... 31 Figura 13 - A) No início da área pesquisada ocorre a presença do itabirito, mostrando a direção do mergulho da rocha através da escala (caneta). B) Mais ao centro do bairro pode ser observada a presença de filito, na qual sobre este se localiza uma casa com alto risco de deslizamento devido o filito ser uma rocha friável e com maior facilidade de escorregamentos. .................................................................................................................................................. 40 Figura 14 - Corte de encosta onde se expõe um filito alterado e com um alto ângulo de mergulho. .................................................................................................................................. 41 Figura 15 - Relação entre os mergulhos das camadas de rochas e o movimento de massa local. .................................................................................................................................................. 42 Figura 16 - A) Pequeno movimento massa atrás de uma residência e a inclinação do solo para a rua. B) Remoção da cobertura vegetal deflagrando o deslizamento do solo. C) Área com alto índice de filito, desenvolvendo uma facilidade para a movimentação do solo. D) Cenário que apresenta um tipo de ruptura, na qual ocorre a infiltração da na superfície do talude umedecendo o solo e deste modo advém a perda de resistência ao cisalhamento. .................. 45 Figura 17 - Ilustração que mostra uma força gravitacional maior aplicada ao conjunto de camada com maior mergulho....................................................................................................47 Figura 18- Modelo de uma bússola geológica do tipo Brunton ..............................................47 Figura 19 - Esquema ilustrativo de uma camada apresentando a representação da direção e do mergulho de uma camada .....………………………………………………………………...48 Figura20– Medindo a direção do mergulho das rochas............................................................48 Figura 21 – Orientação das camadas geológicas.....................................................................48 LISTA DE PRANCHAS E GRÁFICOS Prancha 1 - Resultados obtidos para os itens: escolaridade, naturalidade, tempo de moradia no bairro e o porque de morar no bairro. ....................................................................................... 49 Prancha 2 - Resultados obtidos para os itens: renda familiar, quantidade de deslizamentos presenciados, quantidade de deslizamentos que afetaram a residência dos moradores e se os moradores já teve pretensão de sair do bairro. ......................................................................... 50 Prancha 3 - Resultados obtidos para os itens: posição da prefeitura em relação aos deslizamentos, a prefeitura propõem medidas para prevenir os moradores destes deslizamentos, o que os moradores fazem quando esta em período chuvoso e quando o morador veio para o bairro, sabia que se tratava de uma área de risco. ................................... 51 Prancha 4 - Resultados obtidos para os itens: o crescimento desordenado acelerado do bairro influencia para a ocorrência dos deslizamentos, qual a orientação técnica que o morador buscou para a construção da resistência do mesmo e o que o morador acha que deve ser feito para diminuir os incidentes causados pelos deslizamentos de massa. ...................................... 52 Gráfico - 1 Perfil socioeconômico dos moradores do bairro São Francisco de Paula, descrevendo os principais fatores para a compreensão das diversificadas opiniões sobre os movimentos de massa. .............................................................................................................. 53 Gráfico - 2 Características destacadas no perfil socioeconômico dos moradores do bairro São Francisco de Paula. ................................................................................................................... 53 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Coluna estratigráfica simplificada para o Quadrilátero Ferrífero (Fonte: CPRM) 16 Quadro 2 - Fatores deflagradores dos movimentos de encosta (Varnes, 1978). ...................... 21 Quadro 3 - Classificação dos movimentos de encosta segundo Varnes (1978) ....................... 26 Quadro 4 - Agentes e causas dos escorregamentos (Guidicini e nieble, 1976) ........................ 27 6 RESUMO Palavras chave: deslizamentos, Ouro Preto e ocupação humana. O presente trabalho tem como objetivo a análise parcial das situações de risco geológico no município de Ouro Preto, Minas Gerais, com ênfase para o Bairro São Francisco de Paula, conhecido popularmente como “Morro do Piolho”. Em função da carência de espaços físicos e, em partes, pelo descaso do poder público, alguns locais da cidade de Ouro Preto são adotados como áreas de crescimento urbano. Crescimento esse que, com a ausência de infraestrutura básica e condições de moradia inadequadas, colocam a população exposta a áreas de risco geológico. Dentre esses riscos geológicos, destacam-se os movimentos de massa, frequêntes na área estudada. Nesse trabalho foram levantados os principais movimentos de massa ocorridos no bairro, através de pesquisas bibliográficas e pesquisas de campo. Além do levantamento histórico, o trabalho possibilitou que os moradores fossem conscientizados, dos riscos e das possíveis precauções que devem adotar em relação à preservação das suas moradias e, principalmente, de suas vidas. Diante dos estudos de campo foi possível classificar os principais perigos geotécnicos existentes em que a área estudada está sujeita. O que foi observado no Bairro São Francisco de Paula foi uma grande variedade típica de rochas propensa à instabilidade geotécnica. O que se conclui sobre os resultados da pesquisa é que a comunidade do Morro do Piolho não possui nenhuma informação sobre os processos de movimentos de massa e o poder público não auxilia a comunidade com medidas mitigadoras, para a minimização dos danos provenientes da ocorrência de um risco. Ao final deste trabalho foi elaborada uma cartilha informativa para a comunidade do bairro São Francisco de Paula, com o intuito de informar sobre pontos relevantes dos movimentos de massa, e assim buscar a atenção dos governantes para que possam minimizar os efeitos desses processos naturais e acelerado pelo homem sobre o bairro proporcionando melhor qualidade de vida para essa população economicamente desfavorecidas da cidade histórica de Ouro Preto. 7 ABSTRACT KEY WORDS: landslides, Ouro Preto and human occupation. The present study aims to partial analysis of geological risk situations in the city of Ouro Preto, Minas Gerais, with emphasis on the Neighborhood São Francisco de Paula, popularly known as "Morro do Piolho." Due to the lack of physical spaces and, in parts, by the indifference of the public, some places in the city of Ouro Preto are adopted as urban growth areas. That this growth, with the absence of basic infrastructure and inadequate housing conditions, put the population exposed to areas of geological risk. Among these geological risks, stand out mass movements, very common in the study area. In this work were raised major mass movements occurred in the neighborhood, through literature searches and field surveys. In addition to the historical survey, the work has enabled the residents were aware, even superficially (the time available), potential risks and precautions they should take in relation to the preservation of their homes, and especially of their lives. Before the field studies was possible to classify the major geotechnical hazards existing in the area studied this subject. What was observed in the São Francisco neighborhood was a wide variety of typical rocks prone to geotechnical instability. What follows on the results of the research is that the community of Morro do Piolho, has no information about the processes of mass movements and the government does not help the community with mitigation measures, to minimize the damage from the occurrence of a risk. At the end of this paper we present a informative booklet to the community of San Francisco neighborhood, in order to inform relevant points of mass movements, and thus get the attention of the rulers so that they can minimize the effects of these natural processes (and accelerated by man) about the neighborhood and thus provide better quality of life for this population of economically disadvantaged historic city of Ouro Preto. 8 1 - INTRODUÇÃO 1.1 - Tema O crescimento populacional desordenado e o acelerado processo de urbanização dos municípios têm contribuído para a geração de um vasto número de ocorrências de movimentos de massa. “Os movimentos de massa consistem em um importante processo natural que atua predominantemente na dinâmica das vertentes, fazendo parte da evolução geomorfológica em regiões serranas. Entretanto, o crescimento da ocupação urbana indiscriminada em áreas desfavoráveis, com o planejamento inadequado do uso do solo e sem a adoção de técnicas adequadas de estabilização, está disseminando a ocorrência de acidentes associados a estes processos, que muitas vezes abrangem dimensões de desastres” (Tominaga, 2007) Esse cenário de urbanização desordenada é facilmente observado no município de Ouro Preto, estado de Minas Gerais, na região em que a população vem sendo afetada direta e indiretamente. A interferência direta acontece com as famílias que residem nos locais específicos dos movimentos de massa, impossibilitando a permanência dessas famílias em suas casas, durante alguns períodos do ano. Por outro lado, a incidência de catástrofes dessa natureza deixa toda a população em “estado de alerta” e, especificamente, para a cidade de Ouro Preto, essa preocupação influencia na principal atividade comercial local, o turismo. Visto esse grande impacto que os movimentos de massa podem causar, o estudo dos mesmos torna-se pertinente dentro desse contexto. O presente trabalho insere-se, nesse contexto, tem como tema central o estudo dessa enorme ocorrência de movimentos de massa na cidade de Ouro Preto, são poucas medidas eficazes e preventivas foram aplicadas ao longo dos vários acidentes ocorridos na região. Portanto, esta análise será realizada com vista a buscar uma visão integrada da questão geográfica-geológica, relacionada com a questão social, apresentando possíveis medidas para que as catástrofes naturais tenham minimizadas suas consequências para a população no referido município. 9 1.2 - Problema Na cidade de Ouro Preto, a ocupação de áreas de risco é comum, mesmo com a conscientização constante dessas temeridades. Tal ocupação pode ser justificada ou entendida pelos seguintes fatores: aumento acelerado da população, o descaso parcial do poder público, a escassez de áreas urbanas, valorização urbana exponencial, a irresponsabilidade da população, e ainda, o cenário geológico-geográfico da cidade. Inevitavelmente, a maioria desses fatores afeta a camada social de baixo poder aquisitivo, fato esse observado no bairro São Francisco de Paula, área selecionada para o desenvolvimento do presente trabalho. Dentre esse conjunto de fatores que tornam “problemática” a ocupação do bairro São Francisco de Paula, somente dois podem ser modificados como consequência de uma simples pesquisa, são eles: a irresponsabilidade da população e o descaso do poder público. A irresponsabilidade da população pode ser justificada, em partes, pela falta de conhecimento técnico do uso e ocupação dos solos. Desse modo, uma conscientização das pessoas que residem (ou que pretendem residir) nesses locais pode contribuir para a diminuição de incidentes ocasionados por movimentos de massa. Por outro lado, o descaso do poder público, que é evidente nesses locais, somente será modificado se a sociedade der grande publicidade às suas necessidades. Nesse caso, o interesse público não ficará manifestado somente em momentos “convenientes”, reclamações essa, constante e unânime entre a população da região estudada. Enfim, o problema central é responder ao questionamento básico que se anuncia abaixo: “Quais são os impactos e o porquê de não haver soluções eficazes para o processo de movimento de massa na região de Ouro Preto, particularmente no bairro São Francisco de Paula (Morro do Piolho)?” 1.3 - Objetivos 1.3.1 - Objetivo Geral O desenvolvimento desse estudo tem por finalidade geral transmitir informações de pesquisa acadêmica e avaliar os aspectos sociais e geológicos que levam a ocorrência do processo de movimento de massa no bairro São Francisco de Paula, Ouro Preto-MG. 10 1.3.2 - Objetivos Específicos A fim de alcançar o objetivo geral da pesquisa, configuram-se como objetivos específicos as seguintes etapas: verificação do histórico dos principais acidentes naturais de movimentos da massa já ocorridos no município de Ouro Preto; seleção de uma área de risco mais desprovida de estudos e cuidados; avaliação de campo da área selecionada; levantamento das principais rochas aflorantes na região selecionada; levantamento da demanda local da comunidade em relação aos riscos eminentes buscar medidas eficazes(e.g Cartilha) que possam vir a ser executadas na região estudada. 1.4 - Justificativa Na região urbana de Ouro Preto, em decorrência do seu histórico de movimentos de massa, bem como das suas consequências, deve ser ressaltada a pertinência de estudos de vulnerabilidade associados a esses movimentos de massa, principalmente em locais onde a visibilidade pública e política são menores. Portanto, a pesquisa aqui delineada, justifica-se como instrumento de auxílio, diante da questão dos condicionantes geológicos e geomorfológicos, para a real expansão urbana desses locais. 11 2 - BASES CONCEITUAIS Nesta parte do trabalho será abordada a caracterização da área estudada, juntamente com o resultado da revisão bibliográfica que tem como principal finalidade apresentar os diversificados conceitos sobre o assunto, expondo-o no desenvolvimento da pesquisa. Deste modo, foram enfatizados os principais conceitos relacionados aos movimentos de massa, caracterizando os variados tipos de movimentos, os riscos geológicos inerentes aos mesmos, seus principais condicionantes e os fatores que estimulam a ocorrência desses processos naturais. Dentro do contexto sobre os eventos geológicos para a pesquisa ora apresentada, os enfoques teórico e metodológico foram empregados de modo a possibilitar que o resultado da pesquisa possa contribuir diretamente com os moradores da região estudada. Objetiva-se evitar novas catástrofes e ainda, buscar um meio de alertar ao poder público para que elaborem planos que solucionem estes incidentes. 2.1 - Contextualização da Cidade de Ouro Preto A cidade de Ouro Preto teve origem no final do século XVII, tendo a exploração mineral, de ouro, como principal atividade impulsionadora do seu crescimento. A ocupação inicial aconteceu nas poucas áreas estáveis e planas que a geografia atípica de Ouro Preto possui. Por outro lado, a atividade minerária sempre teve destaque nas íngremes encostas auríferas da região. Tais encostas representam hoje, alguns dos principais bairros de Ouro Preto, que sofrem com os movimentos gravitacionais de massa (FIG.1). Atualmente, a cidade de Ouro Preto, localizada na região central do Estado de Minas Gerais, possui uma população aproximada de 70 mil habitantes. De acordo com Gomes et al (1998) Ouro Preto está situada na extremidade sudeste da região conhecida como Quadrilátero Ferrífero, que ocupa uma área de 7.000Km2, na zona mínero-metalúrgica do Estado de Minas Gerais, a 100 km da capital, Belo Horizonte. Do ponto de vista geomorfológico, a cidade de Ouro Preto está implantada em um grande vale limitado pelas serras de Ouro Preto, ao norte, e Itacolomi, ao sul. Tal cenário coloca a cidade de Ouro Preto entre altas montanhas de desenvolvimento linear e áreas aplainadas com altitudes diversas e vales alongados. 12 Figura 1 - Vista parcial da Serra de Ouro Preto, com destaque para os bairros Veloso e São Francisco de Paula. De acordo com as informações coletadas na Prefeitura Municipal de Ouro Preto (PMOP), os limites geográficos da cidade encontram-se nas coordenadas: latitude 20º17’15’’ e longitude 43º30'29 (FIG.2). Figura 2 - Limite geográfico do Município de Ouro Preto, com ênfase na distinção entre município e microrregião. 13 2.2 - Caracterizações Geológica e Geomorfológica A cidade histórica de Ouro Preto possui características geológicas e geomorfológicas desfavoráveis para uma organização urbana. Estes fatores, somados à pluviosidade da região, desenvolvem na cidade graves problemas geotécnicos. Esses elementos geológicos , juntamente com o crescimento urbano desordenado, resultado de uma expansão sem planejamento, proporcionam na região inúmeras situações de risco. Essas situações se agravam a cada ocorrência de excesso de chuva, acarretando amplos problemas tanto no âmbito social, econômico e ambiental, tal como citado por (Carvalho & Galvão, 2006): “Nas cidades brasileiras, marcadas pela exclusão sócio-espacial que lhes é característica, há outro fator que aumenta ainda mais a frequência dos deslizamentos: a ocupação das encostas por assentamentos precários, favelas,vilas e loteamentos irregulares. A remoção da vegetação, a execução de cortes e aterros instáveis para construção de moradias e vias de acesso, a deposição de lixo nas encostas, a ausência de sistemas de drenagem de águas pluviais e coleta de esgotos, a elevada densidade populacional e a fragilidade das moradias aumentam tanto a frequência das ocorrências como a magnitude dos acidentes. Levantamentos de risco realizados em encostas de vários municípios brasileiros indicam que, em todos eles, a falta de infraestrutura urbana é uma das principais causas dos fenômenos de deslizamentos no Brasil. Dessa forma, uma política eficiente de prevenção de risco de deslizamentos em encostas deve considerar como áreas prioritárias de atuação os assentamentos precários e deve também fazer parte das políticas municipais de habitação, saneamento e planejamento urbano.” Abordando sobre a caracterização geológica da cidade, o site www.ouroprees.com.br (site de Ouro Preto) publicou um parecer do engenheiro geológico Romero César Gomes (2012), quando questionado sobre os deslizamentos em Ouro Preto diz: “A cidade está encravada entre estas duas serras, com vales profundos e encostas íngremes, que apresentam desníveis superiores a 300m em relação às partes baixas da cidade. Num contexto geral, as estruturas geológicas estão orientadas de norte para sul, ou seja, da Serra de Ouro Preto para a Serra do Itacolomi. Assim, os bairros localizados ao longo da Serra de Ouro Preto seriam, portanto, mais afetados não apenas pelas condições naturais desfavoráveis, mas também pelos outros aspectos citados anteriormente. Na região sul da cidade, as condições geológicas são bem mais favoráveis e um bom exemplo disso é a estrada de acesso a Saramenha, que possui cortes verticais em xisto com vários metros de altura, sem maiores problemas de instabilização destes taludes”. No ensejo da resposta do Eng. Romero Gomes, a bairro São Francisco de Paula encontra-se exatamente na encosta da Serra de Ouro Preto, região com condições naturais desfavoráveis (FIG.3). Essas condições se agravam nos períodos chuvosos do ano, onde há 14 um avanço na vulnerabilidade nos lugares suscetíveis a erosão e aos deslizamentos generalizados das encostas. Figura 3 - Localização geográfica e geomorfológica do bairro São Francisco de Paula. Observa-se, no detalhe da foto, a encosta sul da Serra de Ouro Preto. Fonte: Mapa do COMDEC, modificado por Reginato Fernandes 2.2.1 – O Quadrilátero Ferrífero O Quadrilátero Ferrífero (FIG.4) representa uma região geologicamente importante do Pré-Cambriano brasileiro, contendo riquezas minerais como ouro, ferro e manganês. De acordo com Dorr (1959), o Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais compõe uma das áreas clássicas da geológica Pré-Cambriana, devido os extensos depósitos de minério de Ferro que se encontram na área. 15 Figura 4 - Mapa do Quadrilátero Ferrífero em destaque Ouro Preto-MG/Fonte: Modificado de Alkmim & Marshak,1998. Com tamanha importância no quesito recursos mineral, a região do Quadrilátero Ferrífero candidatou-se e, tem grande possibilidade, de tornar-se um Geopark da UNESCO (FIG.5), sendo justificado como sendo um local que abriga alguns dos principais recursos minerais do Estado de Minas Gerais, além de relevante patrimônio natural e cultural. Figura 5 - Imagem de satélite do Quadrilátero Ferrífero (Extraído do site: http://www.geoparkquadrilatero.org) 16 Os recursos naturais do Quadrilátero Ferrífero estão associados às litologias presentes na região. Essas litologias, por outro lado, possuem um papel fundamental nos problemas geotécnicos visualizados na cidade de Ouro Preto, que ocorrem, basicamente, como consequência do tipo e do posicionamento das sequências de rochas presentes na região. De acordo com o mapa geológico de Ouro Preto, as rochas predominantes na cidade são basicamente: quartzitos, filitos e itabiritos. Essas rochas compõem, juntamente com outras sequências, a coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero, apresentada no Quadro 1, bem como na FIG.6, proposta por Alkmim e Marshak (1998). Quadro 1 - Coluna estratigráfica simplificada para o Quadrilátero Ferrífero (Fonte: CPRM) COBERTURAS SEDIMENTARES RECENTES SUPERGRUPO ESPINHAÇO Grupo Conselheiro Mata Formação Cambotas PROTEROZÓICO Grupo Itacolomi Grupo Sabará Formação Barreiro Grupo Piracicaba SUPERGRUPO MINAS Grupo Caraça Grupo Maquiné ARQUEANO Formação Fecho do Funil Formação Cercadinho Grupo Itabira SUPERGRUPO RIO DAS VELHAS Formação Taboões Formação Gandarela Formação Cauê Formação Batatal Formação Moeda Formação Casa Forte Grupo Nova Lima Formação Palmital Xisto metassedimentar e metavulcânico Grupo QuebraOsso Associação metavulcânica máfica-ultramáfica TERRENOS GRANITO-GNÁISSICOS-ARQUEANOS Nessa proposta estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero, é possível obsevar subdivisões hierárquicas que representam os supergrupos, os grupos e as formações. A criação de uma coluna estratigráfica regional visa organizar os diferentes tipos de rochas presentes em uma dada região. O agrupamento ou a organização em cada nível dessas divisões é estabelecido com base na relação geográfica, geológica e temporal que as sequências de rochas possuem. O conhecimento da distribuição geográfica original e atual dos mesmos tipos de rochas, assim como suas características de formação e sua composição, 17 aliado a idade das mesmas são as ferramentas necessárias para construção dessa coluna estratigráfica regional. A divisão inicial de uma coluna estratigráfica é iniciada com um agrupamento, das litologias em supergrupos. Dentro desses supergrupos, um novo nível pode ser criado para agrupar conjuntos de sequencias mais afins, são chamados grupos. Por outro lado, é possível ainda através de especificidades criarem um novo subnível dentro dos grupos, sendo eles as formações. Nesse subnível as sequências de rochas são bem caracterizadas. Figura 6 - Coluna Estratigráfica proposta para o Quadrilátero Ferrífero (Alkmim e Marshak (1998)). Especificamente, o Quadrilátero Ferrífero é subdividido litoestratigráficamente, do seguinte modo: Embasamento Cristalino, Supergrupos Minas, Supergrupos Rio das Velhas e Grupo Itacolomi. • Embasamento Cristalino É composto por complexos gnáissicos metamórficos, como por exemplo, o Complexo Moeda e o Complexo do Bação e entre outros tipos de complexos. Estes são constituídos por rochas gnáissicas polideformadas de composição tonalítica a granítica (Ladeira et al.1983, Teixeira 1982, ). 18 • Supergrupo Rio das Velhas As rochas metavulcânicas e metassedimentares foram denominadas por Dor et al. (1957) como Série Rio das Velhas, sendo esta conceituada anteriormente por Derby (1906) de Série Minas. Seguido de uma ampla discussão, essas series (consideradas atualmente como Supergrupos) se dividiram em dois grupos: Nova Lima, na base e Maquiné, no topo. No grupo Maquiné, ocorre à divisão de duas formações segundo Dorr (1969), sendo a Formação Palmital formada por quartzitos sericílitos, filitos quartzos e filitos e em seguida a Formação Casa Forte caracterizada por Gair (1962), é formada por quartzitos seríciticos, cloríticos a xistosos e filitos. Ladeira (1980) subdivide o Grupo Nova Lima em três unidades, da base para o topo: • Unidade Metavulcânicas; constituída por serpentinitos, esteatitos, talco-xistos, anfibolitos metamorfisados, metabasaltos e metatufos, alem de komatiítos com estrutura spnifex. • Unidade Metassedimentar Química; representada por xistos carbonáticos, metacherts, formações ferríferas bandadas e filitos. • Unidade Metassedimentar Clástica; representada por quartzo-xistos, quartzo filitos, quartzitos impuros e metaconglomerados. • Supergrupos Minas O Supergrupo Minas (anteriormente definida por Derby (1906) de Série Minas) é subdividida da base para o topo nos grupos Tamanduá, Caraça, Itabira e Piracicaba. O Grupo Tamanduá é definido por Simmons & Maxwell(1961) como sendo constituído por quartzitos, filitos, xistos quartzos e argilosos, itabiritos filíticos e dolomíticos, conglomerados e quartzitos grosseiros, sendo encontrados na Serra do Tamanduá. O grupo Caraça é formado por quartzitos Caraça e xisto Batatal (Dorr et al. 1957), este se transformou em Formação Batatal definido por Maxwel(1958), sendo esta formação formada por filitos sericílitos, grafitosos podendo apresentar clorita e sedimentos carbonaticos (Dorr, 1969) e Wallace (1958) redenominou o quartzo de Caraça para Formação da Moeda, esta que segundo Villaça (1981) seria representada por conglomerados e quartzitos grosseiros de origem fluvial e quartzitos finos e filitos de origem transicional-marinha. 19 O grupo Itabira foi subdividido em duas formações, da base para o topo como é colocado por Door, (1969), sendo que estas formações são denominadas como Formação Cauê representada por uma formação ferrífera do tipo lago superior e subordinadamente por itabiritos dolomíticos e anfibolíticos com pequenas lentes de filitos e margas e alguns horizontes manganesíferos. A formação Gandarela é conceituada por Dorr(1958), como uma formação constituída por camadas de rochas carbonaticas representadas principalmente por dolomitos seguidos por itabiritos, filitos dolomíticos e filitos. O Grupo Piracicaba e subdivido em cinco formações, segundo Dorr et al. (1957) • Formação Cercadinho Representada por quartzito ferrugionoso, filito ferruginoso, filito, quartzito, e pequenas intercalações de dolomito; esta formação segundo Moraes (1985) é constituído por um deposito do deltático. • Formação Fecho do Funil Representada por filito dolomítico, filitos e dolomitos impuros; • Formação Tabões Representada por quartzitos fino e maciço; • Formação Barreiro Representada por filito e filito grafitoso; • Formação Sabará Representada por filito, clorita-xisto, grauvacas e localmente tufos e cherts. • Grupo Itacolomi A Série Itacolomi é definida por Guimarães(1931) como unidade que assenta discordantemente sobre os sedimentos da Série Minas, sendo atualmente conhecida como Grupo Itacolomi constituída por quartzitos, quartzitos conglomeráticos e lentes de conglomerado com seixos de itabirito, filito, quartzito e quartzo de veio depósitos em ambiente deltálico (Dorr, 1969). Dorr (1969) ainda aborda três períodos de deformação constituída no Quadrilátero Ferrífero, que seriam: o primeiro é atuação pós-deposição do Supergrupo Rio das Velha e anterior à deposição do Supergrupo Minas; o segundo período seria a deposição do Supergrupo Minas e do Grupo Itacolomi e por ultimo, após a deposição do grupo Itacolomi, que abrangeu toda sequência de rochas do Quadrilátero Ferrífero. 20 2.3 – Movimentos de Massa Analisando a importância do conceito de movimento de massa e seus demais condicionantes, é necessário avaliar as demais opiniões sobre o tema, buscando a maneira de abordar distintas terminologias e conceitos sobre o assunto, e assim desta forma poder verificar os principais fatores que influenciam e desenvolvem na ocorrência do processo de movimento de massa. É extenso e diverso as varias terminologias e conceitos que são dados para os movimentos de massa que se insere nas demais revisões bibliográficas, na qual vários autores colocam suas diferentes classificações. Assim, neste tópico serão citados alguns autores e suas caracterizações sobre os movimentos de massa. Podemos classificar o processo de movimento de massa como um fator que acaba surtindo efeito negativo para a sociedade, causando assim um desastre natural. Deste modo, como e colocado por Tobin e Montz (1997) estes desastres é um resultado do impacto de fenômenos naturais extremos ou intensos sobre um sistema social, que geram prejuízos a toda sociedade do lugar. Porem sabe-se que esta ação de movimento de massa, não ocorre somente devido aos desastres naturais, podemos agrega-los juntamente com a ação antrópica que com suas ações resultam em processos impresumíveis. São amplas e diversificadas as demais concepções sobre o conceito de movimento de massa, pois são muitas as distintas variedades de materiais que se inserem neste processo. Segundo Tominaga (2007) estes movimentos se definem como a movimentação do solo e de demais materiais ao longo da vertente, sendo “manipulada” pela ação gravitacional, tendo como diminuição de resistência o auxilio de outros meios, como exemplo a água que afeta a resistência do solo. São várias as classificações denominadas pelos diversos autores, o conceito determinado por Varnes (1978), baseia-se no tipo de movimento e no tipo de material transportado. Já por Hutchinson (1988), sugere uma proposta bastante abstrusa, baseando na morfologia da massa em movimento e em critérios associados ao tipo de material, mecanismo de ruptura, velocidade do movimento, condições de poro-pressão e às características do fabric do solo, considerando que estes movimentos são influenciados pela litologia, geologia, geomorfologia e o clima do lugar. Selby (1993) aborda os tópicos que são utilizados para a diferenciação do movimento, o modo de deformação, a geometria da massa movimentada e o conteúdo de água. 21 Varnes (1978) desenvolve suas ideais mediante a análise dos principais condicionantes e mecanismos de deflagração dos escorregamentos, distinguindo os fundamentais fatores que aumentam e diminuem a resistências de terrenos, agregados a fenômenos naturais e antrópicos a que estão associados como pode ser observado no Quadro 2. Quadro 2 - Fatores deflagradores dos movimentos de encosta (Varnes, 1978). AÇÃO FATORES FENOMENOS NATURAIS/ANTRÓPICOS Remoção de massa(lateral ou da base) Erosão, escorregamentos Cortes Peso da água de chuva, neve, granizo, etc. Sobrecarga Aumento da solicitação Solicitação dinâmicas Pressões laterais Características inerentes ao material Mudança ou fatores variáveis Redução da resistência Outras causas Acumulo natural de material (depósitos) Peso da vegetação Construção de estruturas, aterros,etc. Terremotos, ondas, vulcões, etc. Explosões, tráfego, sismos induzidos Água em trincas, congelamento, material expansivo. etc. Textura,estrutura, geometria, etc Características geomecânicas do material, estado de tensões iniciais Mudança nas características do material Intemperismo, redução da coesão, ângulo de atrito Elevação do nível de água Enfraquecimento devido ao rastejo progressivo Ação das raízes das arvores e buracos de animais Augusto Filho (1994) definiu estes movimentos de massa como movimentos induzidos pela aceleração gravitacional, sendo que estes processos ocorrem em encostas mais elevadas ou regiões montanhosas. Sabemos que devido às diversas condições climáticas e grandes extensões de montanhas existente no país, este poderá se afetado pelos desastres associados aos movimentos de massa nas encostas. “A movimentação gravitacional de massa é um importante fator geológico que pode se desencadear em qualquer circunstância e/ou momento, podendo vir acontecer tanto em encosta escarpadas e instáveis quanto em terrenos de baixa declividade sob certas condições geológicas e hidrogeológicas. Amaral et al (1996).” O movimento de massa é conceituado como movimentos de solo ou material rochoso encosta abaixo sob a influência da gravidade, sendo que pode considerar que o homem é um fundamental agente modificador dos “movimentos” da encosta, que é afetada devida a expansão urbana juntamente com a ocupação inadequada na área de risco. 22 Segundo Wicander et al2009 ( pg. 243) “O movimento de massa é definido como movimento de descida, pela encosta abaixo, de material, sob a influência direta da gravidade. Sendo que, a maior ocorrência de movimentação gravitacional de massa é desencadeada pelo intemperismo e, normalmente, envolve o material de superfície na qual este se move a velocidades que variam de lentos como o caso dos rastejamentos e movimentos rápidos referentes às quedas de blocos ou escorregamentos.” A água é um fator primordial para o acontecimento do movimento de massa, porém a “implacável e ininterrupta atração da gravidade” é o principal fator para desencadeamento deste movimento. Portanto, sabe-se que são muitos os fatores que desencadeiam o processo de movimento gravitacional de massa, é citado como exemplo à mudança de declividade da encosta, saturação da água e a “quebra” do material. 2.3.1 - Fatores que afetam o movimento de massa É notável a presença de vários condicionantes que afetam para com o acontecimento destes movimentos. Segundo Guerra et al (2010) estes aspectos estão associados aos processos geológicos e geomorfológicos, sendo assim será exposta neste item alguns fatores condicionantes, segundo Guerra et al (2010) e Wincander (2009), que influenciam para tal evento. Declividade da encosta: A declividade de uma encosta pode influenciar de maneira direta para a geração do processo de movimentos de massa. A angulação da encosta e a frequência dos movimentos afetam neste fator. Quanto mais íngreme se encontra a encosta, menos estável ela é. Portanto, é possível perceber que quanto maior a declividade da encosta, maior é o componente de força induzindo ao surgimento de movimento de massa. Porém, segundo Salter et al(1981) através de alguns estudos realizados na Nova Zelândia, percebeu-se que os movimentos de massa não ocorriam somente em encosta íngremes. Tal fator é abordado devido às variações no tipo de cobertura vegetal e de que nas encostas íngremes já teriam sido removidos materiais de movimentos de massa passados. Depósitos de Encosta: Segundo Reneau et al.(1984) estes depósitos assumem um fator de suma importância para o acontecimentos de movimentos de massa, que são assentados tanto na 23 forma de tálus (formação em ambiente de alta energia) como de coluvio (formação em ambiente de baixa energia). Estes depósitos são caracterizados pela sua heterogeneidade interna, na qual se resultam no processo de movimentação gravitacional de massa. Guerra et al(2010) descreve depósitos da seguinte forma: “Muitos depósitos de encosta repousam diretamente sobre a rocha sã, gerando uma descontinuidade mecânica e hidrológica ao longo desse contato. A drástica diminuição das condutividades hidráulica nesse contato favorece a geração de fluxos d’água subsuperficiais, com forte componente lateral. Ao longo desse contato, condição critica de poropressão positiva podem ser alcançadas durante eventos pluviométricos de alta intensidade, favorecendo a geração de escorregamentos translacionais.” Intemperismo e Clima: A ocorrência de movimentos de massa se dá nas superfícies das encostas, na qual o material não se consolida deste modo em contato com a Terra, ocasiona o intemperismo, sendo que este se decompõe e desintegra reduzindo a resistência do solo, aumentando a probabilidade de movimentos de massa, ou seja, quanto maior a demanda do intemperismo maior é a possibilidade de ocorrer o processo de movimentação. Diante desses fatores, colocase o clima como um papel fundamental na velocidade e no tipo de intemperismo, somados estes a outros aspectos, que desencadeiam os movimentos. Água: É um processo determinante para a movimentação gravitacional, a quantidade deste fator influencia na estabilidade da encosta. O peso da água que é infiltrado à encosta é um ponto essencial para que ocorra o desmoronamento. O excesso de água infiltrado no material da encosta acaba ocasionando a perda de coesão do material, ou seja, o solo se torna uma pasta instável deslizando encosta abaixo. Os índices pluviométricos podem ocasionar a deflagração dos escorregamentos, sendo considerado que os grandes acidentes relacionados a movimentos de massa ocorrem em época de período chuvoso. Maragon (2006) explana que a água subterrânea é gerada através da infiltração das águas de chuvas, fazendo com que este processo de infiltração, seja de suma importância na recarga da água no substrato. Devido ao excesso de água infiltrada no solo ocasiona a redução da resistência do solo, gerando a instabilização da encosta e conduzindo aos processos de movimentos de massa. 24 Falhas e Fraturas: Estes processos têm sido considerados um condicionante essencial para a ocorrência de movimento de massa. Derre e Patton(1970), descreve: “As falhas atuam como caminhos preferenciais de alteração, permitindo que a frente de intemperismo avance para o interior do maciço de modo muito mais afetivo.” As falhas, seguido de determinadas descontinuidades, resultam na quebra de blocos não alterados, originando um aumento de heterogeneidade do maciço rochoso, ou seja, “são fraturas ao longo da qual as rochas em lados opostos a ela moveram-se paralelamente à superfície da fratura” Wincander et al 2010 (pg 223). A direção do mergulho das fraturas acaba influenciando para a ocorrência de escorregamentos em encosta, sendo que com a presença de fraturas ocasiona a passagem do intemperismo mais rapidamente, tornando mais fácil o processo de movimento de massa. Descontinuidade do Solo e Geologia: Segundo Rulon e Freeze, (1985) são varias os condicionantes que podem estar inseridos dentro do saprolito e do solo residual, na qual o tipo de solo influencia para o tipo de processo de movimento de massa afetando então a estabilidade da encosta. A geologia de uma área é um fator determinante para a estabilidade da encosta. O que pode ser registrado é que este tipo de processo, o movimento gravitacional de massa, ocorre nas encostas com camadas rochosas subjacentes que estão mergulhadas em uma mesma direção que nas encostas com camadas rochosas horizontais, sendo assim, quando isso ocorre à água pode infiltrar com mais facilidade diminuindo a coesão e o atrito entre as camadas adjacentes, deste modo com a infiltração da água fazendo com que desgaste a rocha e dilate a abertura não se suportando o peso da rocha causando o deslizamento. Fator antrópico: Este fator somado com fator natural afeta diretamente a estabilidade da encosta, quando é depositado na encosta aterro ou empilhamento de material desagregado, fazendo com que o peso adicional dos materiais depositados aumenta a pressão da água interna do material, tornando o solo da encosta enfraquecido, trazendo assim consequências trágicas para a sociedade. As diversas formas de ocupação inadequada do solo ocasionam movimentos de massa, deste modo acelera e amplia os fatores de instabilização. Pode-se colocar que as 25 principais interferências antropicas que induzem os processos de instabilização das encostas seriam: remoção da cobertura de vegetal, lançamentos e concentração de águas servidas, lançamento de entulho e lixo nas encostas; execução deficiente de aterros, vibrações produzidas por tráfegos pesado, e entres outros fatores. Segundo Mendoça et al(1998,p. 458 – 459) mencionam que as ações atropicas : “[...] promovem a diminuição da resistência dos materiais envolvidos e/ou elevam a magnitude das solicitações que contribuem para a deflagração de movimentos de massa” 2.3.2 - Classificação de movimento gravitacional de massa São várias as classificações para os tipos de movimentos de massa, Sharpe (1938) foi o mentor que desenvolveu a primeira classificação surtindo efeito positivo e servindo de base para demais estudos. São diversas as propostas de pesquisa implicadas pelos distintos autores, os estudos mais recentes que se destacaram foi a de Varnes (1958 e 1978, Quadro 3), Huchinson (1988), Sassa (1989) e Augusto Filho, (1992). Portanto, a seguir serão abordadas as principais classes de movimentos de massa. Podem-se classificar os movimentos de massa em três etapas de ocorrência: velocidade do movimento (rápido ou lento); tipo de movimento e tipo de material envolvido no processo de movimento de massa. Wicander et al (2009) descreve os movimentos de massa lento e rápidos da seguinte forma: movimentos gravitacionais de massa rápidos seriam aqueles que envolvem o deslocamento rápido do material na encosta abaixo, envolvendo rocha, solos ou detritos sendo considerado um processo totalmente perigoso. Já o movimento gravitacional lento, o próprio nome já relata, é quase imperceptível à movimentação de massa neste processo, porém é através dele que ocorre o maior volume de movimentação de material desagregado na encosta abaixo. Os tipos de movimento gravitacional de massa são classificados como: corridas (flows), escorregamentos (escorregamentos rotacionais, escorregamentos translacionais) quedas de blocos e rastejos. 26 Quadro 3 - Classificação dos movimentos de encosta segundo Varnes (1978) TIPO DE MOVIMENTO ROCHA QUEDAS TOMBAMENTOS ROTACIONAL ESCORREGAM ENTOS TRANSLACIONAL EXPANSÕES LATERAIS CORRIDAS/ ESCOAMENTOS de rocha de rocha Poucas unidades Poucas unidades Muitas unidades abatimento de rocha de blocos rochosos de rocha de rocha de rocha (rastejo profundo) TIPO DE MATERIAL SOLO (ENGENHARIA) FINO GROSSEIRO de terra de detritos de terra de detritos abatimento de abatimento de terra detritos de blocos de de blocos de terra detritos de terra de detritos de terra de detritos de terra de detritos (rastejo de solo) COMPLEXOS:Combinação de 2 dos principais tipo. Corridas (flows) Segundo Guerra et al (2010), este processo se classifica como movimento rápidos, nos quais o material flui como um fluido viscoso. Esse tipo de movimentos inicia-se com quedas de blocos e escorregamentos tornando mais tarde o que se classifica como corida de massa. Wincander et al (2009) coloca dois tipos de materiais de corridas de massas, nomeados como fluxos de lama, fluxos de detritos, fluxos de terra e solifluxão, sendo que: Fluxos de lama: Ocorre a presença de fragmentos grande de fluidos e são movimentos rápidos decorrentes ao excesso de água. Fluxos de detritos: Partículas maiores que o fluxo de lama, não ocorre com tanto excesso de água, tendo a velocidade lenta, porem transportam matérias de grandes dimensões. Fluxos de terra: Dos três fluxos, é o processo que ocorre mais lentamente, tendo dimensões variadas. Solifluxão: é um movimento lento, encosta abaixo, de sedimento saturado de água da superfície. Escorregamentos É o movimento de massa (rápido) do material na encosta abaixo. Guerra et al( 2010) caracteriza como um processo rápido de ruptura bem definida, fazendo com que aja um diferenciação de material deslizado, na qual o material deslizado pode compor, solo, rocha ou um somatório dos dois materiais. Guidicini e Nieble(1984) classifica o escorregamento como “movimento coletivo de materiais terrosos e /ou rochosos, independentemente da diversidade de processos, causa , velocidades formas e demais 27 características”. No quadro 4, é possível observar os agentes e a causas dos escorregamentos descritos por (Guidicini e nieble, 1976). Quadro 4 - Agentes e causas dos escorregamentos (Guidicini e nieble, 1976) AGENTES Predisponentes Complexos geologicos, complexo morfológico, complexo climatohidrológicos, gravitade, calor, solar, tipo de vegetação. Efetivos Preparatórios Imediatos Pluviiosidade, Chuvas erosão pela água intensas, e vento, fusão do gelo congelamento e e neves, degelo, variação erosão, da temperartura, terremoto, dissolução ondas, vento, química, ação de ação do fontes e homem. mananciais, oscilaçao do freático, ação de animais e antrópica Internas Efeito das oscilaçoes térmicas; Redução dos parâmetros de resistência por intemperismo. CAUSAS Externas Mudanças na geometria do sistema; Efeitos de vibrações; Mudanças naturais na inclinação das camadas. Intermediárias Elevação do nível piezométrico em massas "homogeneas"; Elevação da coluna de água em descontinuidades; Rebaixamento rápido do lençol freático. Erosão subterrânea retrogressiva (piping); Diminuição do efeito de coesão aparente. Figura 7- Esquema ilustrativo de escorregamento induzido em talude de corte/Fonte: Tominaga,2009 28 Os escorregamentos podem ser divididos em dois processos: escorregamentos rotacionais e escorregamentos translacionais. É possível ver a ilustração dos escorregamentos descritos acima, na FIG.8. a) Escorregamentos Rotacionais ou Circulares Movimento que ocorre nas superfícies de ruptura de curvas. Segundo Wincander et al (2009) este processo, ocorre devido ao deslocamento do material ao longo desta ruptura de curva, sendo caracterizado pela rotação traseira do bloco escorregado. Este movimento é iniciado, principalmente, devido ao processo de erosão fluvial no sopé da encosta ou cortes na base dos materiais, acarretando a remoção do material sobreposto (Fernandes & Amaral, 1996). Este movimento é um processo frequente nas encostas serranas do sudeste brasileiro, na qual é notável a presença de um manto de alteração, envolvendo em solos superficiais (Vargas, 1966). b) Escorregamento Translacional ou Planares Movimentação de rochas na encosta abaixo, aplicadas em superfícies de rupturas com forma planar (Wincander et al (2009). Os planos de ruptura destes movimentos envolvem em uma profundidade de 0,5m e 5,0m, considerados como escorregamentos de movimentação raso e compridos (Fernandes & Amaral, (1996). Figura 8 – Exemplos dos tipos de escorregamentos/Fonte: (modificada de Infanti Jr. & Fornasari Filho, 1998; organizada por Fábio Reis). c) Escorregamento em Cunha Este tipo de escorregamento esta coligado a saprolitos e maciços rochosos, sendo que, ocorre a presença de duas estruturas planares que são adversas à estabilidade, acarretando o deslocamento de um prisma ao longo do eixo de intersecção destes planos, sendo mais 29 comum a ocorrência deste processo em talude de corte ou em encosta que sofreu algum tipo de mudança. (ABGE, 1998). Movimentos de Blocos Rochosos Segundo (ABGE, 1998), os movimentos de blocos rochosos se originam devido aos deslocamentos, por gravidade, de blocos ou placas de rochas, sendo classificadas de vários tipos, conforme a seguir. a) Queda de Blocos É um tipo de movimentação que faz com que, partes de um maciço rochoso desagregados das encostas íngremes, caem em queda livre (FIG.9). Segundo Guidicini e Nieble (1984) estes movimentos são rápidos, fazendo com que os pedaços de maciços rochosos desagreguem da encosta, caindo pela ação da gravidade em queda livre. Este processo inicia-se devido à presença de descontinuidades na rocha, como exemplo, fraturas e bandamentos composicionais, assim como a ação do intemperismo físico e químico. Figura 9- Desenho ilustrativo da queda de bloco se movimentando fazendo com que partes de um maciço rochoso desagregados das encostas íngremes caem em queda livre/Fonte:Modificada de Infanti Jr e Fornasari Filho,1998;organizada por Fábio Reis. b) Tombamentos de Blocos É um tipo de movimentação que se deve pela ocorrência de rotação dos blocos rochosos, condicionado pela presença de estruturas geológicas encontradas no maciço rochoso (FIG.10). 30 Figura 10-Desenho ilustrativo do tombamento se movimentando fazendo com que ocorra a rotação dos blocos rochosos/Fonte: Modificada de Infanti Jr e Fornasari Filho, 1998;organizada por Fábio Reis. c) Rolamento de Blocos Movimentos de blocos nas encostas, sendo encontrados parcialmente imersos em matriz terrosa (FIG.11). Figura 11-Desenho ilustrativo do rolamento de blocos que movimenta os blocos na encosta abaixo/Fonte: Modificada de Infanti Jr e Fornasari Filho, 1998;organizada por Fábio Reis. d) Desplacamento Movimento que se dá devido ao desprendimento de placas de rocha que se constituem a partir de estruturas, sendo que, este desprendimento ocorre em queda livre ou por deslizamentos em uma superfície íngreme. 31 Rastejos É um fenômeno de movimentação lenta e contínua da massa de solo de um talude, exibindo movimentos plásticos, cuja geometria e o desenvolvimento de ruptura, não se desenvolvem de forma definida. Este movimento afeta principalmente horizontes superficiais de solo e também rochas alteradas quando evoluída o rastejamento, surgindo assim os escorregamentos, causando um processo de movimentos rápidos. (ABGE,1998). Figura 12-Desenho ilustrativo do rastejos se movimentando, fazendo com que movimente lentamente a terra para a encosta abaixo/Fonte: Modificada de Infanti Jr e Fornasari Filho,1998;organizada por Fábio Reis. 2.3.3 - Previsão dos Movimentos de Massa Para obtiver uma previsão de processos de movimentos de massas e a diminuição de suas consequências são necessárias o estudo detalhado da frequência, características geológicas e geomorfológicas que se compõem para a formação dos deslizamentos em uma área geográfica. Sendo assim, este estudo depende da descrição e da caracterização dos condicionantes formadores destes processos (no caso, deslizamentos passados) seguidos de caracterização de condicionantes que influenciam em movimentos de massas futuros. É importante também, junto com as demais características, o estabelecimento de normas ou medidas de redução de acidentes causados por este tipo de movimentação. Os fundamentais procedimentos de previsão de movimentos de massa são divididos em quatros grupos, que seria: (a) análise da distribuição dos movimentos de massa no campo, (b) analise baseada em mapeamentos geotécnicos, (c) aplicação de modelos com bases estatísticas e (d) aplicação de modelos matemáticos (Fernandes et al., 2001) 32 a) Análise da distribuição de massa É através desta ánalise que se determina a distribuição de cicatrizes e dos depósitos (passados, recentes ou atuais), que pode dominar futuros processos de distribuição de instabilidade de encostas (Amaral, 1996). b) Análise com base em mapas geotécnicos São atribuídas notas ou passos, e na combinação/integração desses diversos planos de informação, utiliza os métodos utilizados do especialista em questão. ( Silva et al., 1996). São mapas de sustentabilidade a deslizamentos, que fornecem informações técnicoscientificos para prevenção de qualquer tipo de movimentação, avaliando a probabilidade temporal seguido da magnitude e velocidade dos deslizamentos na região em risco (Fernandes et al.,2001). Através destas informações coletadas dos mapas de sustentabilidade a deslizamentos, ocorre a preparação das cartas de riscos a deslizamentos que envolvem a identificação dos riscos, juntamente com a caracterização dos condicionantes formadores e da área de risco em questão, sendo assim, possível a analise de diferentes graus de riscos. Para a construção da carta de risco de deslizamentos, é necessário passar por três fases: Levantamento de Dados, Mapeamento de Campo e Representação Cartográfica. i) Levantamento de Dados: aborda a coleta de dados juntamente com as características físicas do solo, abordando todos os tipos de processos passados que afetaram a determinada região. A coleta desses dados se dá devido às fotografias, os diversos mapas geocientíficos, sondagens do subsolo e entre outros procedimentos que acarretam para o levantamento de dados. ii) Mapeamento de Campo: seguido da investigação de campo juntamente com o levantamento de dados, reconhecendo os materiais geológicos presente na área afetada, com a conferição das informações adquiridas pelo levantamento. Deste modo, é feito a análise geomorfológicas do lugar, juntamente com as informações sobres os deslizamentos e as áreas de risco, sendo assim são descritas dentro da carta de risco: áreas afetadas por deslizamentos no passado, feições de atividade de deslizamentos, cadastros de risco das áreas, pontos e trechos de ocorrências de movimentos de massa, grau de risco de acidentes, medidas de prevenção aos movimentos de massa. iii) Representação Cartográfica: é a última parte da elaboração da carta de risco. Ocorre deste modo, através dos dados obtidos, a representação do risco (mapa com os pontos de áreas de risco). 33 c) Modelos em Bases Estatísticas Este procedimento se utiliza através do principio da existência de relações funcionais de correlação entre processos condicionantes e a distribuição dos movimentos de massa. Deste modo, analisou os fatores condicionantes que desenvolveu um processo de massa em uma determinada região no passado, serão os mesmos movimentos de massa que originarão no futuro. (Carrara et al., 1991 ) d) Modelos Matemáticos Buscam reproduzir os sistemas ambientais com base em equações físicas que descrevem o comportamento dos fatores que influenciam na ocorrência de movimento de massa, sendo que estes modelos podem ser divididos em estocásticos e determinísticos. (Beven; Kirkby, 1979). Os padrões estocásticos se conceituam por expressões que envolvem variáveis, parâmetros matemáticos e outros componentes aleatórios (Chorley; Hagget, 1975). Os padrões determinísticos são caracterizados pelas noções matemáticas de relações exatas, de causa e efeito, incidem num conjunto de afirmações matemáticas a partir das consequências únicas podem ser concluídas. (Chorley; Hagget, 1975). Sendo assim, na concepção para a previsão de movimentos de massa, destacam-se os modelos que utilizam equações matemáticas na análise de estabilidade de encostas juntamente com modelos hidrológicos (Montgomery; Dietrich, 1994;) 2.3.4 - Análise de estabilidade Os escorregamentos são processos de movimentos de massa com maior incidência em todos os lugares, desencadeiam as corridas de massa (Amaral, 1996). Deste modo, é bastante enfatizado o desenvolvimento de modelos para previsão de escorregamentos ou outros modelos de movimentos de massa. O processo de escorregamentos esta acoplado ao conjunto de tensões presentes nos materiais das vertentes (Selby, 1993). Como é colocado por Colângelo (1991): “O relativo estado de equilíbrio mantido entre as forças atuantes na vertente acontece quando as forças de coesão e o atrito entre as partículas de solo são suficientemente resistentes à componente de cisalhamento mais a carga sobrejacente.” 34 E Selby, (1993) coloca que: “A coesão e o atrito são propriedades inerentes dos materiais e constituem a sua resistência ao cisilhamento.A tensão de cisalhamento ultrapassa a resistência dos materiais ou esta ultima diminuiu, os materiais perdem sua estabilidade e ocorrem movimentos de massa. A poropressao positiva da água sobre o plano de ruptura contribui para alterar a estabilidade da encosta por reduzir a tensão normal efetiva e também a tensão cisalhante do solo”. Sendo assim, através das analise de previsão obtém o calculo do fator de segurança dos taludes (Selby, 1993), sendo que este fator representa a relação entre as forças de resistência que causam a ocorrência do deslocamento do material acoplado em uma encosta. “As análises de talude infinito tem sido amplamente aplicadas em investigações de estabilidade de encostas naturais, particularmente nas quais a espessura do manto do solo é muito menor que a do comprimento da encosta e o plano de ruptura é aproximadamente paralelo à superfície da encosta”(Selby, 1993) Farah (2003) explana que a estabilidade de uma encosta quando se encontra em seu estado natural é classificada em três características: geométricas, geológicas (tipos de solos e rocha) e no ambiente geográfico em que se aplica (clima, cobertura vegetal, etc). As alterações naturais ou artificiais destes processos resultam na alteração da estabilidade da encosta. 2.3.5 - Ocupação de Áreas Inadequadas A maior parte das áreas de ocupação inadequada ocorre por motivos socioeconômicos, fazendo com que modifique inadequadamente estas áreas e tornando-as mais susceptíveis a movimentos gravitacionais de massa. Segundo Farah (2003), as cidades brasileiras se encontram em uma divisão de “duas cidades” classificando uma com “preceitos urbanísticos e legais” e a outras com uma ocupação inadequada e desordenada, como é visivelmente observado nos demais morros, onde sucedem os maiores índices de movimentos de massa. Para Giudice, op. cit., p.34, “as mudanças ambientais resultam das transformações que operam nos sistemas naturais, manifestadas através de desequilíbrios, impactos e degradação de modo geral, e é consequência dos processos sócioeconômicos que influenciam na organização espacial, em particular nas áreas urbanas, onde as ações antrópicas mais intensas podem gerar reações adversas à natureza” 35 Inúmeras encostas que foram ocupadas de modo inadequado originaram um processo de alteração nas propriedades do solo, fazendo com que modifique a resistência do solo tornando-o mais vulnerável a deslizamentos e outros tipos de movimentação. Farah (2003) descreve acidentes deste tipo de ocupação que se originaram em épocas de chuvas influenciando na deflagração dos processos de instabilização das encostas. O descaso e a incapacidade do poder publico em solucionar estes problemas de ocupação inadequada, vem aumentando estas ocupações de maneira grave em terrenos propícios a este tipo de processo. Em muitas cidades do Brasil, o crescimento populacional se deve ao desenvolvimento de atividades industriais na qual essa demanda habitacional se desenvolve de maneira desordenada dentro das zonas periféricas, sendo ocupadas em encostas por camadas sociais de menor renda, arriscando assim as vidas de inúmeras pessoas. São vários os fatores prejudiciais decorrentes deste processo, além das diversas perdas materiais e as fatalidades (morte), estas instabilizações de encosta podem causar desordens sociais, fazendo com que o poder público, implante atuações corretivas para essas pessoas afetadas, ações como: remoção da população dos lugares em risco, edificações de qualidade (acesso às informações de pessoas especializadas), alojamentos, estruturas de contenção, áreas de preços acessíveis com segurança, entre outros. Essa demanda de expansão populacional desordenada vem acontecendo nos dias de hoje com grande frequência em áreas inapropriadas, na qual se localizam em difícil acesso, menor valorização e com preços mais acessíveis a camadas sociais de baixo poder aquisitivo. 2.3.5.1 - Instabilidade de encostas devido à ocupação urbana São vários os fatores condicionantes que proporcionam e associam no desenvolvimento de movimento de massa. Os demais processos a seguir originam a instabilidade de encostas devido à ocupação urbana. 1) Erosão As erosões nas encostas urbanas promovem situações de risco à sociedade, pois influencia de maneira grandiosa, devido ao seu grande poder de destruição que afeta diretamente e indiretamente a todos e transformando o condicionante mais abordado para a expansão urbana e infraestrutura inadequada. (Fornasari,1992) 36 As ocupações inadequadas em áreas decorrentes de processos erosivos aceleram e expandem os riscos de acidentes, causando instabilidades nas encostas e gerando acidentes geotécnicos. Essas ocupações acontecem devidas tentativas de conter a erosão, soluções nada eficazes como aterros de lixo, que alem de não controlar o processo erosivo obtém ao desenvolvimento de ravinas e a contaminação dos solos. Podemos colocar também os desmatamentos e as formas de uso inadequado na ocupação de solos (obras civis, agricultura, etc.). (Fornasari,1992). O fator que desencadeia este agravamento para o processo erosivo nas encostas, é decorrente do rápido crescimento desordenado e inadequado da população urbana, um processo de urbanização caracterizado sem total planejamento que leva para sociedade riscos assinalados, e fatais. 2) Rastejos (Cortes ou aterros em corpos de tálus) Segundo o IPT (1991) o conceito de tálus é definido como os depósitos do solo com diversificados tipos de fragmentos que se localizam no sopé da encosta. São formações de acúmulos de material escorregado que se empilha na encosta. Quando ocorre a alteração na geometria da encosta (o surgimento de um corte na encosta devido, por exemplo, a presença de aterros na superfície daquela), modificando o lençol freático ocasiona a intabilização na encosta, tendo como consequência processos de movimentação de massas caracterizados como rastejos, sendo que possivelmente ao se evoluir geram grandes escorregamentos IPT (1991). O processo da chuva pode contribuir para o agravamento e aceleração deste processo. 3) Escorregamentos Ao remover a cobertura vegetal e alterar resistência do solo este processo prejudica as condições de estabilidade das encostas, por ser um processo determinado pelo comparecimento da água e da ação da gravidade. Sendo assim, considerado um processo de movimento de massa que acarretará trincas no solo e nas paredes de resistências, originando deste modo, um agravamento por onde ocorre (IPT, 1991). 37 4) Desmoronamento nas estradas Quando ocorre a alteração na geometria das encostas através de um corte para a implantação de vias, esta execução pode acarretar a deflagração das rochas (ate mesmo rochas que não sofreu alteração) e a intabilzação do solo podendo incidir o desmoronamento (Farah, 2003) 5) Corridas de massa Quando ocorre a ocupação inadequada em áreas de relevo com presença de morros e com possíveis encostas instáveis, poderá causar a movimentação de massas (deslizamentos) nas encostas, juntamente seguido de outros fatores como geologia, geomorfologia, vegetação, clima (Farah, 2003). 6) Vazamento nas redes de abastecimento de água e esgoto Segundo o IPT (1991), quando ocorrem vazamentos nas redes de abastecimento de água e esgoto, passando entre a rupturas encontradas ocasionam a saturação do solo diminuindo sua resistência, fazendo com que afete a estrutura geológica das encostas e da permeabilidade do solo. 7) Execução inadequada de aterros A execução incorreta de aterros resulta nos processos de movimentos de massa, quando simplesmente o material é “jogado” na superfície do terreno, sem algum planejamento adequado. Deste modo, ocorre mais facilmente o atilamento da água dentro do solo, aumentando seu grau de saturação, com o excesso de índice pluviométrico, as chuvas exercem uma deformação excessiva que ocasiona a ruptura no aterro (IPT, 1991). 8) Deposição de lixo Ao depositar o lixo em uma encosta, tem-se como consequência um fator condicionante que permite uma rápida saturação juntamente com um aumento de peso, fazendo com que haja uma movimentação fazendo com que este processo envolva o lixo e outros tipos de material deflagrado, afetando a estabilidade das encostas. (IPT, 1991). 38 9) Remoção da vegetação Através da cobertura vegetal obtém-se a estabilização de encostas, não ocorrendo processos de movimentação gravitacional de massa. Com efeito favorável, pode-se colocar que a cobertura vegetal redistribui as águas provenientes da chuva (as copas das arvores impedem um impacto direto na superfície do terreno, diminuindo o efeito negativo da quantidade de água que infiltra no solo) e acréscimo da resistência do solo devido às raízes (essas que aumentam a resistência do solo). Quando ocorre a remoção da vegetação de maneira não planejada, acontece com mais frequência os processos de escorregamento superficiais de erosão. Com a cobertura vegetal, cria-se uma menor infiltração de água ocasionando uma resistência (através da raiz) no solo (IPT, 2001). 39 3 – METODOLOGIA Esta etapa da pesquisa foi separa em três fases, conforme descrição a seguir: • Pesquisa bibliográfica: nesta etapa foi feito o levantamento histórico (livros, monografias, teses, artigos, pesquisas no COMDEC de Ouro Preto- Coordenadoria Municipal de Defesa Civil) sobre os acidentes naturais provocados por movimentos de massa na cidade de Ouro Preto. Esse levantamento propiciou a escolha do Bairro São Francisco de Paula, pois neste há uma carência de estudos sobre movimento de massa, e um o descaso do poder público com aquela localidade. Sobre o bairro São Francisco de Paula foi analisada a incidência de movimento de massa e fatores que ocasionam este processo, sendo feita a análise do mapa de risco de Ouro Preto para que pudesse ser feita a avaliação dos pontos de risco encontrados na cidade histórica. • Análise da localidade e coleta dos dados: reconhecimento da área afetada juntamente com a realização prévia de um levantamento geológico de campo caracterizando as principais rochas aflorentes na região selecionada; levantamento da demanda local da comunidade em relação aos riscos eminentes, análise e verificação da estabilidade da mesma, análise técnica dos fatores influentes e condicionantes dos movimentos de massa que afetam o bairro. Foram realizados dois trabalhos de campos, o primeiro com o intuito de reconhecer a área e o segundo para a aplicação do questionário socioeconômico nos moradores do bairro São Francisco de Paula. • Avaliação dos resultados finais: interpretação final dos dados. Análises da área do bairro São Francisco de Paula abordando a incidência de movimentos de massa que ocorreu nesta área. Análise dos resultados do questionário, contendo informações sobre o morador do bairro e suas opiniões sobre este processo e o descaso da prefeitura em relação com o assunto. Elaboração de uma cartilha contendo informações de medidas preventivas que possam vir a ser implantadas, conscientizando os moradores do bairro São Francisco de Paula, Ouro Preto/ MG. 3.1 – Pesquisas Bibliográficas Através dos históricos e pesquisas sobre o processo de movimentos de massa foi possível verificar os diversificados conceitos e terminologias sobre o assunto aqui abordado. 40 Com estas pesquisas, ficou mais fácil compreender, por exemplo, as características que propiciam a ocorrência de movimentos de massa. Deste modo, foram avaliadas e coletadas as informações para a composição desta pesquisa. 3.2 - Coletas de Dados Depois de buscar as informações necessárias sobre os movimentos gravitacionais de massa que ocorrem em grande frequência na cidade histórica de Ouro Preto, foi realizada a coleta de informações na área de estudo. Três etapas completam a coleta de dados, são elas: 3.2.1- Visita de reconhecimento A visita iniciou-se no Boroni Palace Hotel, em frente ao Terminal Rodoviário de Ouro Preto, que se encontra dentro da área estudada (Bairro São Francisco de Paula). Foi verificada a estabilidade do local, bem como, feita uma análise dos tipos de rochas e seus posicionamentos. Pode ser analisado na primeira visita de campo que as principais rochas aflorantes na região, se compõem com a presença de quartzito, itabirito e filito (FIG.13). Figura 13 - A) No início da área pesquisada ocorre a presença do itabirito, mostrando a direção do mergulho da rocha através da escala (caneta). B) Mais ao centro do bairro pode ser observada a presença de filito, na qual sobre este se localiza uma casa com alto risco de deslizamento devido o filito ser uma rocha friável e com maior facilidade de escorregamentos. Como é descrito por Fontes, (1984) o itabirito é bastante importante como minério de ferro para indústria siderúrgica sendo caracterizada uma rocha mais resistente com transformação de sedimentos ferruginosos composta principalmente de quartzo e hematita. O filito é derivado dos argilitos e siltitos de grau de metamorfismo mais acentuado que as 41 ardósia, de xistosidade finamente espaçada e granulação fina compondo o grupo Itacolomi e grupo Piracicaba, sendo que esta rocha esta propicia a escorregamentos. Exibem lustro acetinado e sedoso devido à presença de sericita podendo ser muitas vezes material de origem de solos (devido a estes fatores, ocorrem com mais facilidade a movimentação do material). E por fim, uma rocha predominante na região de Ouro Preto, os quartzitos, são caracterizados como rochas duras, que resistem à alteração tanto intempérica quanto hidrotermal. Ocorrem na forma de grandes afloramentos, que se destacam nas serras de Ouro Preto (Dorr, 1969). Com o reconhecimento da área através da caracterização dos tipos de rochas encontradas no bairro, bem como pelas medições das estruturas, observou-se que o filito é a rocha que predomina nos locais com um maior número de incidência de movimentos de massa (FIG.14). Nesse trabalho de análise superficial das estruturas geológicas foi utilizada uma bússola que permite a identificação da direção e do mergulho das camadas. Portanto, ao avaliar um corte de encosta, o perfil foi caracterizado nesta região: tipos de rochas, atitude das camadas de rochas, descontinuidade, estruturas, textura e mineralogia de rochas e solos da região. Figura 14 - Corte de encosta onde se expõe um filito alterado e com um alto ângulo de mergulho. Com o auxílio de métodos de investigação geológica, foi possível identificar que os movimentos de massa têm uma relação direta com o posicionamento espacial das camadas, tal como pode ser observado na FIG. 15. 42 Figura 15 - Relação entre os mergulhos das camadas de rochas e o movimento de massa local. Na FIG.15, observa-se a cicatriz de um grande escorregamento. Uma análise próxima ao local observa-se que o posicionamento das camadas, em pontos distintos, interfere na configuração do movimento. O destaque em amarelo localiza-se na entrada do bairro São Francisco de Paula, enquanto o destaque em rosa encontra-se ao lado do Boroni Palace Hotel. A combinação do posicionamento das camadas, bem como o tipo de rocha presente (filitos e itabiritos), resultou claramente em uma cunha de instabilidade ampliada com o excesso de chuvas no período. A presença de água no solo (ou nas rochas) altera a resistência mecânica do mesmo, de modo que o próprio peso ocasiona a movimentação de massa. 3.2.2 Elaboração do questionário socioeconômico Como complemento ao trabalho de campo, um questionário socioeconômico (encontra no APÊNDICE II) foi confeccionado e aplicado aos moradores do Bairro São Francisco de Paula. O questionário, com 15 perguntas objetivas, buscou o reconhecimento do perfil desses moradores, bem como o sentimento que os mesmos possuem com a postura do poder público em relação ao bairro, e ainda, o conhecimento que os mesmos têm sobre os movimentos de massa. 43 A partir das informações do questionário de pesquisa foram confeccionados os gráficos correspondentes às respostas dadas pelos moradores. Desse modo, o perfil geral dos moradores fica mais bem definido. 3.2.3 Visita para aplicação do questionário O segundo trabalho de campo foi realizado no dia 08 de maio de 2012, no bairro São Francisco de Paula, teve como intuito a aplicação do questionário de pesquisa dos moradores. O questionário foi sobreposto para 20 famílias da região . 3.3 - Avaliação dos Resultados Através da coleta de informações foi realizada a avaliação dos resultados obtidos nos trabalhos de campo. Os dados foram organizados em tabelas e gráficos para uma melhor visualização dos resultados. As informações geradas através do questionário socioeconômico possibilitaram a verificação o perfil do morador e a sua percepção sobre os movimentos de massa que ocorrem na área em que habitam. Sendo notória a falta de conhecimento dos moradores sobre a questão. 3.4 - Elaboração da cartilha preventiva Como resultado do trabalho, uma cartilha foi confeccionada para que possa auxiliar na conscientização os moradores, com atitudes simples que podem evitar (ou minimizar) os movimentos de massa, que por ventura, possam afetar suas vidas. A cartilha é composta por informações prévias de cada processo de movimento de massa, abordando seus respectivos conceitos. Além destas informações também contém imagens da área estudada e principais fatores, como medidas preventivas e situações que geram algum tipo de risco, que possam auxiliar os moradores da região (APÊNDICE I). Contudo, este trabalho por si só não poderá solucionar os problemas advindos dos movimentos de massa e apenas auxiliar, de forma elucidativa, os moradores das áreas de instabilidade e os prejuízos devido à falta de orientação, e talvez deste modo fazer com que o poder administrativo do governo “desperte” para estes problemas que estão se tornando frequentes na sociedade. 44 4– APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS 4.1 – Caracterizações dos Movimentos Gravitacionais de Massa - Um foco para Ouro Preto O que pode ser notado na cidade de Ouro Preto é que os incidentes ocorrem ocasionalmente em períodos chuvosos, causando danos materiais e vários outros transtornos para a população local. As fortes chuvas já provocaram grandes catástrofes em Ouro Preto no decorrer dos anos. Contudo, a chuva não é o único fator que vem agravando o processo de movimento de massa na cidade. A ocupação desordenada nesta localidade, particularmente das encostas, de forma cada vez mais abrangente e desordenada, aumenta substancialmente a dimensão dos riscos associados a movimentos íngremes e descontrolados de massas de solos e/ou rochas (escorregamentos de forma geral). As chuvas não representam senão um dos aspectos a serem considerados na tentativa de análise de condições que conduzem ao aparecimento de escorregamentos. Inúmeros fatores têm importância. Se não todos, quase todos os escorregamentos registrados em nosso meio fisiográfico estão associados a episódios de elevada pluviosidade, de duração compreendida entre algumas poucas horas até alguns dias. Guidicini et al Nieble (1983). Os movimentos de massa, ou movimentos gravitacionais de massa, constituem elementos que alteram constantemente a paisagem de determinado lugar, sendo que parte dessa mudança se dá através do fator natural ou antrópico. Segundo Bandeira (2003), os fatores antrópicos são responsáveis pela maioria dos fenômenos de escorregamentos, deslizamentos e entres outros, sendo induzidos pela ocupação inadequada nas encostas. As condições geomorfológicas e geológicas de Ouro Preto se agravam devido ao clima da cidade. O clima da localidade é chuvoso, segundo Gomes et al.(1998), o índice pluviométrico é de 1723,6m do tipo tropical. A temperatura média da cidade é de 18.5 C, tendo a média máxima anual de 23,2 C e a média mínima anual é de 14,6 C. Como é colocado por Carvalho (1982), Ouro Preto encontra-se com características de um clima tropical de montanha em que a baixa latitude é equilibrada pela altitude e conformação orográfica regional. Os verões são suaves e os invernos são brandas com baixas temperaturas e elevadas umidade atmosférica (Gomes et al, 1998). 45 No contexto geológico regional, o município de Ouro Preto encontra-se em uma área de domínio diversificados tipos de minerais do conjunto do quadrilátero ferrífero tendo a presença notória das rochas quartzitos, itabiritos, filitos, gnaisses e entre outros. Devido às características geológicas e geomorfológicas da cidade de Ouro Preto, são várias as áreas de risco encontradas na localidade. Os traços do relevo variam entre montanhoso e ondulado, caracterizados como vertentes íngremes e vales profundos, sendo este marcado por cristas rochosas (Gomes et al, 1998). A vegetação que domina em Ouro Preto encontra-se nos domínios dos campos e das capoeiras, possuindo amplas áreas remanescentes da Mata Atlântica. 4.1.1– O Bairro São Francisco de Paula O Bairro São Francisco de Paula localiza-se na encosta sul da Serra de Ouro Preto, na região do Complexo Rodoviário da cidade. É conhecido ainda, como Morro do Piolho (FIG.16). Poucas são as informações sobre este bairro, verifica-se que o mesmo está situado em uma área de risco na qual sua caracterização geológica baseia-se na presença de filito e itabirito. Figura 16 - A) Pequeno movimento massa atrás de uma residência e a inclinação do solo para a rua. B) Remoção da cobertura vegetal deflagrando o deslizamento do solo. C) Área com alto índice de filito, desenvolvendo uma facilidade para a movimentação do solo. D) Cenário que apresenta um tipo de ruptura, na qual ocorre a infiltração da na superfície do talude umedecendo o solo e deste modo advém a perda de resistência ao cisalhamento. 46 4.2 – Trabalho de Campo Durante o trabalho de campo foram observados alguns aspectos peculiares do Bairro São Francisco de Paula, tais como a precariedade das construções, os tipos de rochas em exposição no local, bem como o posicionamento espacial dos mesmos. Esse posicionamento espacial é importante, pois existe uma relação direta entre o posicionamento de uma camada e sua propensão ao deslocamento. Em suma, quanto maior o ângulo de mergulho maior é a resultante da gravidade que "empurra" a rocha para a movimentação (FIG.17). Figura 17 - Ilustração que mostra uma força gravitacional maior aplicada ao conjunto de camada com maior mergulho. O posicionamento de uma camada no espaço pode ser feito com o auxílio de uma bússola geológica (FIG.18). Com esse equipamento é possível se medir a atitude de uma camada. Entende-se como atitude as medidas de DIREÇÃO e MERGULHO, a atitude das descontinuidades em relação a uma estrutura geológica ou superfície de encostas rochosas naturais pode levar à sua estabilidade ou favorecer a ocorrência de deslocamentos. A direção representa o ângulo formado entre a linha Norte-Sul (dada pela agulha da bússola) e uma linha horizontal da camada. Enquanto isso, o mergulho de uma camada representa o ângulo formado entre a linha de máximo inclinação de um plano e a sua projeção em um plano horizontal, a reta do mergulho é a reta de máxima inclinação no plano, perpendicular à direção (FIG.19). 47 Figura 18- Modelo de uma bússola geológica do tipo Brunton (Fonte: www.mercadolivre.com.br) Direção Mergulho Figura 19 - Esquema ilustrativo de uma camada apresentando a representação da direção e do mergulho de uma camada. A posição ocupada no espaço por uma estrutura geológica planar é determinada pela sua direção e pelo o ângulo de mergulho, ou seja, a inclinação do talude. Foram analisados dois pontos de mergulhos distintos das camadas, o primeiro ponto de coleta de amostragem da atitude da camada se deu ao lado do Boroni Palace Hotel e o segundo ponto no inicio da entrada do bairro São Francisco de Paula (FIG. 20). 48 Figura 20 – Medindo a direção do mergulho das rochas/ Foto:Reginato Fernandes Com os resultados das medidas obtidas no trabalho de campo e nos pontos coletados os dados, conclui-se que o mergulho médio é de 50º por envolver uma orientação desfavorável das camadas geológicas sendo agravada pela ocupação desordenada do espaço físico, principalmente para o estabelecimento de construções, onde cortes de encostas são efetuados para nivelamento dos terrenos. Figura 21 – Orientação das camadas geológicas 49 4.1.2 Resultados obtidos do questionário de avaliação socioeconômica dos moradores do Bairro São Francisco de Paula As informações coletadas do questionário utilizado como ferramenta de pesquisa foram tabuladas e apresentadas nos gráficos a seguir(Pranchas 1,2,3 e 4): Prancha 1 - Resultados obtidos para os itens: escolaridade, naturalidade, tempo de moradia no bairro e o porque de morar no bairro. Descrição prévia dos resultados: o que pode ser observado nesta primeira análise dos dados coletados do perfil dos moradores do bairro São Francisco de Paula é que, por exemplo, no primeiro gráfico referente a escolaridade 53,3% dos moradores possuem escolaridade de 1º grau completo e que 87% dos entrevistados são naturais de Ouro Preto, sendo que 53% moram a mais de 15 anos na área estudada ( bairro São Francisco de Paula) e o motivo de ter escolhido esta localidade seria o acesso a terrenos de preços acessíveis, correspondentes a 43% das pessoas entrevistadas. 50 Prancha 2 - Resultados obtidos para os itens: renda familiar, quantidade de deslizamentos presenciados, quantidade de deslizamentos que afetaram a residência dos moradores e se os moradores já teve pretensão de sair do bairro. Descrição prévia dos resultados: Nesta prancha pode ser verificado que 60% dos moradores obtém a renda familiar entre 1 e 3 salários mínimos, e também com 60% dos mesmos presenciaram de 1 a 3 deslizamentos nos últimos 10 anos, sendo que 93,33% colocou que nenhum destes deslizamentos afetaram suas moradias, e apesar dos acontecidos e de ser uma área de risco somente 53,33% dos moradores tem pretensão de sair do local. 51 Prancha 3 - Resultados obtidos para os itens: posição da prefeitura em relação aos deslizamentos, a prefeitura propõem medidas para prevenir os moradores destes deslizamentos, o que os moradores fazem quando esta em período chuvoso e quando o morador veio para o bairro, sabia que se tratava de uma área de risco. Descrição prévia dos resultados: Neste item foi verificado que a maioria dos entrevistados 93,33% dizem que a prefeitura não faz nada para auxiliar os moradores sobre os processos de movimentos de massa no bairro e que 66,7 % dizem que a mesma não propõem medidas para prevenção dos deslizamentos. Quando esta em período chuvoso 86,67% dos moradores colocaram que saem de suas casas em busca de abrigo seguro e os mesmos 73,33% abordaram que não sabiam que o bairro São Francisco de Paula se tratava de uma área de risco. 52 Prancha 4 - Resultados obtidos para os itens: o crescimento desordenado acelerado do bairro influencia para a ocorrência dos deslizamentos, qual a orientação técnica que o morador buscou para a construção da resistência do mesmo e o que o morador acha que deve ser feito para diminuir os incidentes causados pelos deslizamentos de massa. Descrição previa dos resultados: Na última prancha, pode ser analisado que 66,67% dos moradores acham que a expansão urbana que se aplica no bairro influencia para que se intensifique o aumento de deslizamentos no local. Quando perguntado a forma de orientação técnica que o morador teve na construção de sua residência, os dados coletados foram 40% buscaram auxílio com especializados (engenheiro civil) e 40% obtiveram conhecimentos próprios. Em 66,67% dos casos, os moradores entendem que a prefeitura deveria realizar medidas preventivas que busquem diminuir estes incidentes causados pelos processos de movimentação. Através do questionário foi possível traçar o perfil dos moradores do bairro verificar dados socioeconômicos importantes que mostram as diversificadas opiniões sobre os movimentos de massa que ocorrem no local estudado. O resultado final do perfil do morador do bairro pode ser observado no gráfico 1. 53 Gráfico - 1 Perfil socioeconômico dos moradores do bairro São Francisco de Paula, descrevendo os principais fatores para a compreensão das diversificadas opiniões sobre os movimentos de massa. No gráfico do perfil socioeconômico destacam-se três características do morador do bairro São Francisco de Paula, apresentadas no gráfico 2. 100,00% 90,00% 93,33% 87,00% 80,00% 73,33% 70,00% LEGENDA: 60,00% Ouropretano(a) 50,00% Moradores que dizem que a prefeitura não se manifesta 40,00% 30,00% Moradores que desconheciam a situação de risco local 20,00% 10,00% 0,00% Ouropretano(a) Moradores que dizem que a prefeitura não se manifesta Moradores que desconheciam a situação de risco local Gráfico - 2 Características destacadas no perfil socioeconômico dos moradores do bairro São Francisco de Paula. 54 De acordo com o gráfico socioeconômico pode ser analisado três pontos importantes para o contexto desta pesquisa. Primeiramente, observa-se que a maior parte dos entrevistados do bairro São Francisco de Paula (entendidos como 87%) são naturais da cidade histórica de Ouro Preto, que por sua vez já conhecem a região. Contudo, foi percebido que os moradores acreditam que a prefeitura de Ouro Preto não fornece informações necessárias aos moradores dos bairros localizados em áreas de risco, não propondo medidas eficazes que auxiliem os moradores, portanto 93,33% dos moradores colocam que a prefeitura não se manifesta em relação aos deslizamentos no bairro. Deste modo, os moradores desconheciam e desconhecem as áreas de situação de risco, devido à ineficiência da prefeitura de Ouro Preto de divulgar e propor soluções que previnam a vida e as moradias dos ouropretanos. Os aspectos descritos nos gráficos acima estão altamente interligados com os eventos geológicos que veem acontecendo na região do Morro do Piolho. Na prancha 1,2,3 e 4 é notório a ligação de cada fator, pois sabe-se que a maioria do bairro é natural de Ouro Preto e conhecia parcialmente os históricos dos eventos geológicos, e diante desses fatos ainda muitas pessoas continuaram a residir no local provocando corte irregulares e propiciando as acelerações do movimento de massa. A porcentagem de quantos deslizamentos os moradores presenciaram é de que 60% atribuíram que já viram de 1 a 3 deslizamentos (sendo que um foi fatal) no bairro, e ainda diante desses dados eles permaneceram na localidade. Os eventos geológicos continuam o governo municipal não faz nada, e agora que os moradores sabem que estão em áreas de risco, ainda permanecem em casa e construindo sem qualquer tipo de planejamento e apenas esperando a chuva começar para que saiam de suas residências e esperem para que um novo incidente ocorra, sem buscar as medidas necessárias junto com a prefeitura da região. Estes índices colocam em questão a avaliação dos moradores para com a segurança destes locais situados em áreas de risco, incluindo a falta de compreensão da dinâmica ambiental dos mesmos juntamente com a ineficiência da gestão do governo. Desse modo, a falta de conhecimento dos moradores e a deficiência recorrente de nossas políticas habitacionais, a população insiste em construir sem nenhum conhecimento prévio do local, instalando sua residência em áreas geologicamente desfavoráveis, que podem culminar, dentro outros, na ruptura das encostas ou dos taludes. Nesse caso, a obtenção de informações técnicas é fundamental para que esse tipo de eventualidade catastrófica não aconteça. 55 5- CONSIDERAÇÕES FINAIS A origem das áreas de moradias irregulares é resultado do constante crescimento populacional juntamente com o aumento de fluxos migratórios que geram um intenso crescimento desordenado nas cidades do Brasil, causado pela falta de políticas governamentais e agravado pelo estado de pobreza da população. A expansão populacional acarretou o aparecimento de moradias em áreas impróprias, sujeitas a deslizamentos, lugares com o solo com baixa capacidade de suporte para fundações e áreas de encosta. Estas áreas apresentam uma carência em vários fatores, como na infraestrutura, segurança e principalmente na ocupação de encostas em áreas denominadas de risco. Como é colocado por Carvalho et al.(2007,p.3) “A ausência e má aplicação de uma política de habitação e de desenvolvimento urbano levou boa parte da população a ocupar as áreas ambientalmente frágeis, especialmente em margens de rios e encostas.” Os acidentes relacionados aos movimentos de massa verificados na região de Ouro Preto são, historicamente, deflagrados por eventos chuvosos (intensos e contínuos), que ocorrem geralmente, entre os meses de dezembro a fevereiro. Como exemplo, esse período entre os anos de 2011 e 2012 deu-se o enorme deslizamento próximo à rodoviária. Além dos altos índices pluviométricos as condições geológicas e geomorfológicas da cidade, tornam mais propicio a novos incidentes. Por fim, a pesquisa considera que: • o poder público necessita de um investimento em infra-estrutura e regulamentação da moradia proporcionando o conforto necessário aos moradores, auxiliando-os da melhor forma. Necessita também, de planos e medidas que minimizem esses tipos de eventos geológicos nas áreas de riscos trazendo segurança para os moradores da determinada localidade. Um ponto importante observado ao longo do trabalho reside no fato da área estudada, mesmo sendo foco de inúmeros movimentos de massa, não possuir o mesmo foco quando se trata de pesquisas e informações que possam tornar mínimo os prejuízos dos moradores do bairro. Em Ouro Preto, como em outras cidades existe o Plano Preventivo da Defesa Civil (PPDC) coordenado pela Defesa Civil local, onde são gerenciados os pontos de risco na cidade. Contudo, esse plano necessita de uma melhor divulgação para aqueles envolvidos diretamente no “problema”. 56 • os moradores devem buscar informações, históricos de movimentos de massas em sua cidade e principalmente na área em que residem. Buscar seus direitos, e fazer com que os governantes cumpram seu papel e auxiliam na melhoria do bem estar da população e preservação do ambiente. • as instituições de ensino, com seus profissionais na área, poderiam divulgar informações ( palestras,entrevistas,cartilhas etc...) abordando questões importantes sobre os riscos que o processo de movimento de massa vem causando a sociedade. Diante desses fatos, o grande aumento desses loteamentos em áreas de riscos é advindo da ineficiência do poder público, como a falta de informação necessária sobre estas áreas, sendo assim recomenda-se uma melhor eficiência quanto da parte de informação e uma melhor interação entre a iniciativa privada e o poder publico com o intuito de evitar esses transtornos que vem afetando cidades históricas, como Ouro Preto. É imprescindível, portanto promover planos de ação e criar estratégias por parte dos poderes públicos, privados, e também da comunidade, visando alcançar de forma competente no processo de informação para a sociedade, resultando o bem estar da população. Desta forma, diante do conhecimento prévio sobre a situação da área em questão, o propósito desta pesquisa foi analisar os métodos existentes para a prevenção de deslizamentos na região e abordar de forma enfatizante o descaso do poder público com a sociedade ouropretana. A pesquisa abordou a falta de informação dos moradores do bairro São Francisco de Paula sobre os movimentos de massa. Deste modo foi elaborado uma cartilha informativa para que a sociedade pudesse se atentar aos tipos de processo natural, que se torna cada vez mais frequente na cidade. Outros estudos devem ser realizados nesta área de risco de Ouro Preto, para que sejam criados novos planos e medidas eficazes que evitem a ocupação inadequada das encostas, visando à melhora e a segurança de vida dos moradores da cidade histórica. 57 6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABGE – Associação Brasileira de Geologia de Engenharia,1998. p. 243 a 281/301 a 310 ALKMIM F.F., MARSHAK S., 1998. The Transamazonian orogeny in the Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, Brazil: Paleoproterozoic collision and collapse in the Souhtern São Francisco Craton region. Precambrian Res., 90: 29-58 AMARAL, C. P. (1996) Escorregamentos no Rio de Janeiro: inventário, condicionantes e redução do risco. Tese de Doutorado, Eng.Civil, PUC-Rio. AMARAL, C. P. VARGAS,E. e KRAUTER, E.(1996) Analysis of Rio de Janeiro Landslides Inventory Data.7 th International Symposium on landslides,Trondhein,Norway,June. AUGUSTO FILHO, O. Escorregamentos em encostas naturais e ocupadas: análise e controle. In:. BITAR, O. Y. 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Bairro São Francisco de Paula – Morro do Piolho Baseada no Trabalho de pesquisa: ASPECTOS SOCIAIS E GEOLÓGICOS DA ÁREA URBANA DE OURO PRETO: UM ESTUDO DE CASO DO BAIRRO SÃO FRANCISCO DE PAULA Orientanda: Talita Ferreira Gonzaga Alves Orientador: Reginato Fernandes do Santos Figura 1- Deslizamento na rodoviária de Ouro Preto MG 2012/Foto: Reginato Fernandes 63 1 - DESLIZAMENTOS/ESCORREGAMENTOS A situação de risco já existe o que deve levar em conta que a CHUVA agrava este tipo de risco. Caracterizam-se por movimentos gravitacionais de massa que ocorrem de forma rápida e cuja superfície de ruptura é nitidamente definida por limites laterais e profundos, bem caracterizados. O que deve ser observado para que ocorram os escorregamentos: 1-Tipo de solo: sua constituição, granulometria e nível de coesão 2-Declividade da encosta:cujo grau define o ângulo de repouso, em função do peso das camadas, da granulometria e nível de coesão; 3-Água de embebição :que contribui para aumentar o peso específico das camadas; reduzir o nível de coesão e o atrito, responsáveis pela consistência do solo, e lubrificar as superfícies de deslizamento. CAUSAS: A ocupação inadequadada e a expansão acelerada da população originam danos letais a sociedade e/aos moradores da determinada localidade. A seguir pode ser observados principais fatores que acarretam o deslizamento devido a influência antrópica, fatores como: • • • • • • • Lançamento de águas servidas; Infiltrações de águas de fossas sanitárias; Cortes realizados com declividade e altura excessivas; Realização de construção civil em áreas de risco. Execução inadequada de aterros; Deposição inadequada do lixo; Remoção descontrolada da cobertura vegetal. Figura 2 - Pequenos escorregamentos no bairro São Francisco de PaulaOP/Foto: Reginato Fernandes 64 2 - PERGUNTAS FREQUENTES SOBRE OS DESLIZAMENTOS (Fornecidas pela Defesa Civil de Porto Alegre ). 1-O que dizer a promessas para recebimento de lotes em morros? Não se deixe enganar por promessas fáceis e ilusórias para obter um lote ou uma casa em morros ou áreas de risco. Os riscos de desastres são muito altos. Não desmate morro e encostas para assentamento de casas e outras construções civis. 2- O que devo fazer ao verificar os riscos de deslizamento de um morro ou encosta? Avise aos seus vizinhos sobre o perigo, no caso de casas construídas em áreas de risco de deslizamento. Avise, também, imediatamente ao Corpo de Bombeiros e à Defesa Civil. Convença as pessoas que moram nas áreas de risco a saírem de casa durante as chuvas; 3- Você pode fazer junto com a sua comunidade um plano de evacuação. O que é um plano de evacuação? Se você está morando numa área de risco, tenha com sua vizinhança um plano de evacuação com um sistema de alarme. É um plano que permite salvar a sua vida e de seus vizinhos. 4- Quais são os sinais que indicam que pode ocorrer um deslizamento? Se você observar o aparecimento de fendas, depressões no terreno, rachaduras nas paredes das casas, inclinação de tronco de árvores, de postes e o surgimento de minas d'água, avise imediatamente a Defesa Civil. 5- O que posso fazer para evitar um deslizamento? Não destrua a vegetação das encostas; Você pode consertar vazamentos o mais rápido possível e não deixar a água escorrendo pelo chão o ideal é construir canaletas; Junte o lixo em depósitos para o dia da coleta e não o deixe entulhado no morro; Não amontoe sujeira e lixo em lugares inclinados porque eles entopem a saída de água e desestabilizam os terrenos, provocando deslizamentos; Não jogue lixo em vias públicas ou barreiras, pois ele aumenta o peso e o perigo de deslizamento. Jogue o lixo e entulho em latas ou cestos apropriados; Não dificulte o caminho das águas de chuva com lixo, por exemplo; As barreiras em morros devem ser protegidas por drenagem de calhas e canaletas para escoamento da água da chuva; Não faça cortes nos terrenos de encostas sem licença da Prefeitura, para evitar o agravamento da declividade. 6- Qual a espessura de solo da encosta? Quanto mais espesso o solo na encosta mais perigo de deslizamento. 7-Qual a inclinação ou caída dos terrenos na encosta? Quanto mais em “pé” mais propicio a ocorrência escorregamento. de 8- Qualquer intervenção na encosta é motivo de risco e pode provocar escorregamentos? 65 O solo de encosta apesar de parecer firme e resistente, nem sempre é de fato, e quando este fica encharcado de água umedece o solo tornando-o mais “movediço”. Se você tirar parte do solo para aumentar uma casa, ou fizer casa nova ou para tirar terra para aterrar, você vai estar tirando o pilar que sustenta o solo e provocando o deslizamento. Figura 3 - Construção civil em área coberta por filito, material friável que desintegra facilmente/Foto: Talita Gonzaga. 9- O que fazer quando ocorrer um deslizamento? Se você observar um princípio de deslizamento, avise imediatamente a Defesa Civil do seu Município e o Corpo de Bombeiros, bem como o máximo de pessoas que residem na área do deslizamento; afaste-se e colabore para que curiosos mantenham-se afastados do local do deslizamento, poderá haver novos deslizamentos. 3 - MEDIDAS PREVENTIVAS: Essa desordenada e acelerada expansão urbana em áreas de risco pode ser controlada ou amenizada, se houver um consenso do poder público em auxiliar medidas eficazes para as comunidades locais. O poder público de Ouro Preto (MG) poderia implantar serviços como: - Esgotamento de águas servidas “implantação de uma rede de esgotos, separada da rede de drenagem de águas pluviais, para permitir a coleta e a condução das águas servidas. Evitando o lançamento de águas servidas no solo infiltrando, acarretando em deslizamentos”. - Sistema de drenagem das águas pluviais “a implantação de sistemas de águas pluviais adequados às descargas máximas estimadas e o revestimento e proteção da superfície. Evitando a diminuição da resistência do solo que provoca a ruptura de cortes e aterros” - Rede de abastecimento d’água “implantação e manutenção adequada da rede de abastecimento d’água e da educação da comunidade sobre os riscos provocados por redes clandestinas e improvisados. Evitando o rompimento de tubulações na rede de abastecimento d’água que provoca a saturação do solo, aumentando sua instabilidade e facilita os deslizamentos.” - Rede de esgotos sanitários 66 a construção da rede de esgotos sanitários. Evitando A infiltração de água das fossas sanitárias provoca a gradual saturação do solo das encostas e facilita os escorregamentos. - Controle da Declividade e da Altura dos Cortes “através da educação comunitária e da elaboração de normas rígidas de urbanização. Evitando a execução indiscriminada de cortes com a finalidade de construir estradas ou residências, principalmente com inclinações e alturas excessivas e incompatíveis com a resistência intrínseca do solo, facilita os escorregamentos.” -Controle de Aterros “a drenagem do terreno, a correção das fundações e a compactação do aterro seguida da proteção de sua superfície, com vegetação. Evitando aterros executados sem uma limpeza prévia do terreno, com material de empréstimo inadequado e sem compactação suficiente, criam condições favoráveis á infiltração de água e á erosão.” - Controle do Lixo “definição de locais adequados para a colocação do lixo, bem como a coleta do mesmo por serviço de limpeza urbana. Evitando a disposição inadequada do lixo, que normalmente é lançado nas linhas de drenagem naturais, concorre para aumentar os riscos de escorregamento; já que o lixo é fofo, tem alta-porosidade, facilitando sua embebição, com o aumento de seu peso.” - Controle da Cobertura Vegetal “Refazer a cobertura vegetal e desenvolver barreiras vegetais, para facilitar a contenção de massas escorregadas. Evitando O desmatamento das cristas das elevações e das encostas íngremes permite o impacto direto das gotas de chuva no terreno que facilita a erosão e a infiltração de água e diminuindo-a coesão do solo.” - Mapeamento a área de risco Quando houver sinais de deslizamentos faça deixe os documentos de cada familiar separado e de fácil acesso. 4- COMO IDENTIFICAR UM DESLIZAMENTO?: • “Verificar a estrutura de sua casa, muros e terrenos, observando se aparecem rachaduras e fissuras que podem ser indicativos de movimentações do terreno com possibilidade de evoluir para a ruptura e queda da moradia. Neste caso deve-se procurar um técnico competente ou a defesa civil local para fazer uma avaliação urgente”. • Inclinação de casa arvore e postes; • Água mais barrenta do que o normal; • Construção civil realizada em local de risco; • Aparecimento de fenda ou rachaduras; • Depressões no terreno; 67 Figura 4- Área inclinada no deslizamento/Foto:Talita Gonzaga Bairro São Francisco propicio a Figura 5 - Pequenos escorregamentos no bairro São Francisco de Paula/Foto:Talita Gonzaga 68 5- TELEFONES DE EMERGÊNCIA: Ambulância SAMU 24h_______________________________192 Corpo de Bombeiro__________________________________ 193 Defesa Civil de Ouro Preto (Condec)_______________ 3559-3121 Policia Civil________________________________________ 190 Policia Federal______________________________________ 194 Prefeitura Municipal de Ouro Preto________________ 3559-3200 F Figura 6 - Deslizamentos antigos e recentes no bairro São Francisco de Paula/Foto:Reginato Fernandes “A SOBREVIVÊNCIA NÃO DEPENDE DA SORTE E SIM DE PROCEDIMENTOS ADEQUADOS” 6- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: CARVALHO, C. S. & GALVÃO, T. (Org) 2006. Prevenção de Riscos de Deslizamentos em Encostas:Guia para Elaboração de Políticas Municipais. Brasília: Ministério das Cidades; Cities Alliance, 2006. FERNANDES, N. F. & AMARAL, C. P. 1996. Movimentos de massa: uma abordagem geológico geomorfológica. In: GUERRA, A. J. T. e CUNHA, S. B. (org) Geomorfologia e Meio Ambiente. Bertrand, Rio de Janeiro. p. 123-194 Cartilha da Defesa Civil de Porto Alegre Cartilha da Defesa Civil do estado do Rio De Janeiro BRASIL. Secretaria Especial de Defesa Civil. Política Nacional de Defesa Civil. Brasília, 1994 CUNHA, Márcio Angelielri. et al. Ocupação de encostas. São Paulo: IPT, 1991 TOMINAGA.Lídia .et al. Desastres naturais:conhecer para prevenir 2009. PIRES.Fernando et al. Ações preventivas em áreas de risco:Cartilha sobre desastres naturais e deslizamentos. 69 APÊNDICE II QUESTIONÁRIO DA PESQUISA Caro morador, este questionário é parte da pesquisa da Monografia elaborada pela acadêmica Talita Ferreira Gonzaga Alves, aluna do 7º período do Curso de Geografia do IFMG - Campus Ouro Preto. O presente visa contribui com um levantamento de ocorrências de movimentos de massa na cidade de Ouro Preto, mais especificamente no Bairro São Francisco de Paula. Com este instrumento de pesquisa buscaremos conhecer melhor a região e as opiniões dos moradores desta localidade. Portanto, sua opinião é de fundamental importância para este estudo. Não existem respostas certas ou erradas, suas informações serão mantidas em sigilo absoluto. ANTECIPADAMENTE AGRADECEMOS SUA ATENÇÃO E COOPERAÇÃO NOME DO BAIRRO: No. DO QUESTIONARIO: ENDEREÇO: No. DOMICILIO: ENTREVISTADO(A): SEXO: DATA DA PESQUISA: ___/___/____ Feminino Masculino 1 - Grau de escolaridade: ( ) Analfabeto ( ( ) 2º Grau Completo ( Incompleto ( ) 1º Grau Incompleto ( ) 2º Grau Incompleto ) Técnico Completo ( ) Técnico Incompleto ( ) Superior ) Superior Completo 2 - É natural de Ouro Preto? ) 1º Grau Completo ( 70 ( ) Sim ( ) Não 3 - Desde quando você mora no Bairro? ( ) Menos de 1 ano ( ) Entre 1 e 3 anos ( ) Entre 3 e 5anos ( ) Entre 5 e 10anos ( ) Entre 10 e 15anos ( ) Acima de 15 anos 4 - Quais fatos que o levou a morar no Bairro? ( ) Proximidade de família ( ) Aluguel de preço acessível ( ) Terrenos de preços acessíveis ( )Proximidade do trabalho ( ) Localização privilegiada 5 - Qual é a renda familiar mensal? ( ) Menos de 1 salário mínimo ( ) Entre 1 e 3 salários mínimos ( ) Entre 3 a 5 salários mínimo ( ) Acima de 5 salários mínimos 6 - Quantos deslizamentos você já presenciou no bairro nos últimos 10 anos? ( ) Nenhum ( ) De 1 a 3 ( ) De 3 a 5 ( ) De 5 a 10 ( ) Acima de 10 7- Quantos deslizamentos já afetaram sua residência? ( ) Nenhum ( ) De 1 a 3 ( ) De 3 a 5 ( ) De 5 a 10 ( ) Acima de 10 8 - Você já teve pretensão de sair do Bairro? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não quis opinar 9- Qual é a posição da prefeitura em relação a estes deslizamentos? ( ) Ajuda Parcialmente ( ( ) Outros ) Auxilia frequentemente ( ) Nunca fez nada em relação 10- A prefeitura propõem medidas para prevenir os moradores destes deslizamentos?Se sim quais? ( ) Sim ( ) Não 71 11- O que vocês moradores, fazem quando esta em período chuvoso? ( ) Permanecem em suas casas ( ) Saem de suas casas buscam abrigos em casas vizinha ( ) Abandonam a casa e o bairro ( ) Não fazem nada ( ) Outros 12- Quando você veio morar no bairro, sabia que se tratava de uma área de risco? ( ) Sim ( ) Não ( ) Possuía poucas informações sobre local ( ) Outros 13- Você acha que a o crescimento desordenado acelerado do bairro, influencia para que tenha o aumento dos deslizamentos? ( ) Sim ( ) Não ( )Talvez ( ) Outros 14- Qual orientação técnica você buscou para a construção da sua casa? ( ) Nenhuma ( ) Conhecimento próprios ( ) Pedreiro ( ) Técnico ( ) Engenheiro Civil 15- O que você acha que deve ser feito para diminuir estes incidentes? ( ) Nada ( ) Medidas preventivas realizadas pela prefeitura ( ) Conscientização dos moradores ( ) Outros Obrigada pela compreensão! 72 ANEXO I PLANOS PREVENTIVOS DE DEFESA CIVIL ( PPDC) Algumas medidas preventivas e sugestões que reduzem a consequência dos processos de movimentos gravitacional de massa, que são aplicadas pelos Planos Preventivos de Defesa Civil (PPDC). O PPDC tem como finalidade abordar e permitir a implantação de medidas preventivas referentes a ocorrência de acidentes geológicos, visando a diminuição de ocorrência deste processo e deste modo pode amenizar as consequências colocando meios eficazes de poder se habitar seguramente uma localidade que se encontra em área de risco. Segundo SILVA da L.E et al (1998) pg. 308(ABGE) Os planos preventivos caracterizam-se por agirem diretamente sobre as consequências a serem geradas quando do registro de acidentes, e não por impedirem a ocorrência ou reduzirem a magnitude do(s) processo(s) geológico(s). Através do PPDC é possível obter critérios que se enquadram em cada tipo de processo de movimento de massa, podendo deste modo, dependendo do grau do processo de movimentação pode ser feita a retirada dos moradores da área de risco, colocando- as em um lugar seguro e depois de passado o processo, permitir a volta daqueles para suas residências e deste modo analisar a área e formular de forma segura, uma medida que faça com que seja estabilizado o processo de deslizamento. Este plano pode ser considerado temporário,(medidas temporárias que buscam a segurança dos moradores) e posteriormente analisar e formular medidas eficazes para a sociedade. A PPDC é composta em quatro etapas fundamentais para sua aplicação e estruturação, como: elaboração, implantação, operação e acompanhamento e avaliação SILVA da L.E et al 1998 (ABGE). Seguindo com estas etapas, • A fase de elaboração É construída através de informações técnicas- cientificas que abordem o estudo de condicionantes que ocasionam processos geológicos, identificação da área, e outros fatores que auxiliam para a construção do PPDC e a prevenção de acidentes geológicos. 73 • A fase de implantação Caracteriza-se com a definição do sistema operacional dos planos preventivos, que se define com as atividades realizadas como: estabelecimento dos procedimentos, definição de atividades, aplicação de informações para com a população residente de áreas de riscos geológicos e o treinamento e a divulgação de pessoas que possam informar e amenizar consequências trazidas pelo processo. É também oferecido para as equipes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e prefeituras municipais, cursos que proporcionam melhor entendimento deste processo, fazendo com que elaborem medidas de orientação. • A fase de operação Definiu-se, quando ocorre o acompanhamento técnico dos planos preventivos, ou seja, é quando é realizada a elaboração das medidas preventivas e aplicadas nas áreas de riscos. • A fase de avaliação Esta fase se aplica pela avaliação das medidas propostas pelo PPDC, verificando falhas eventuais na formação daquele, permitindo deste modo ajustes necessários e evitando problemas ocasionados por processos de massa e assim através das correções realizadas no PPDC, aplicá-las seguramente nas áreas e recuperando a mesma. Defesa Civil de Ouro Preto Em Ouro Preto existe o órgão de Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMDEC) que apenas oferece uma assistência para os moradores de áreas de riscos geológicos da cidade. Portanto os COMDEC fornecem informações parciais para a população, porem ainda não elabora planos ou medidas que cessassem os danos provocados pelos diversos movimentos de massa que ocorre na cidade histórica de Ouro Preto.