UFABC - BC0205 – Princípios de Termodinâmica - Curso 2015.2 Prof. Germán Lugones CAPÍTULO 8 Supernova, Victor Vasarely , 1961. Estabilidade de sistemas termodinâmicos Azul 3, Joan Miró (1960) Estabilidade intrínseca O princípio de máximo para a entropia estabelece que: dS = 0 d2S < 0 (extremo) (mínimo) Ainda não exploramos as consequências da segunda condição. Faremos isso neste capítulo. Para isso consideremos dois subsistemas idênticos, cada um deles descrito pela relação fundamental S = S(U,V,N), ambos separados por uma parede totalmente restritiva (adiabática, impermeável, fixa...). Suponhamos que a dependência de S com U é dada pela seguinte figura. Se removemos uma quantidade de energia ΔU de um subsistema e a transferimos para o outro subsistema, a entropia total deve mudar de 2×S(U,V,N) para S(U+ΔU,V,N) + S(U−ΔU,V,N). Mas pela forma da entropia na figura, teríamos que a entropia final diminui em relação à inicial ! Se a restrição adiabática fosse removida nesse sistema, haveria um fluxo espontâneo de energia através da parede. Um sistema aumentaria a sua energia e a sua temperatura às expensas do outro. Isto leva a uma perda de homogeneidade que é a marca registrada de uma transição de fase → o sistema seria termodinamicamente instável. Para que o sistema seja estável devemos impor a condição de concavidade da entropia: para todo ΔU. Esta condição é denominada condição de estabilidade global. Quando ΔU → 0, temos uma condição de concavidade local, que será demonstrada mais adiante: A condição de equilíbrio global é mais restritiva e mais geral, já que vale para variações ΔU arbitrárias, não apenas variações infinitesimais. A condição de equilíbrio local é mais fraca, e garante a estabilidade do sistema em relação a pequenas variações de ΔU. As mesmas considerações anteriores se aplicam a variações de volume ΔV. O sistema será estável se verifica a condição global De onde obtemos, para ΔV → 0, a condição local Veja que a estabilidade global requer que a curva que representa a entropia, fique sempre abaixo de sua família de curvas tangentes. Exemplo: Apenas a região CDE viola a forma diferencial (ou “local”) da condição de estabilidade, já que ∂2S/∂X2 > 0. Toda a região BCDEF viola a condição “global” de estabilidade, já que as retas tangentes nesse intervalo, não ficam sempre por cima da curva de entropia. A s re g i õ e s B C e E F s ã o localmente estáveis mas globalmente instáveis. A condição de equilíbrio global para variações arbitrárias de ΔU e ΔV é: i.e. neste caso a superfície S(U,V,....) deve ficar sempre abaixo de sua família de planos tangentes. A condição de equilíbrio local pode ser obtida expandindo o lado esquerdo da equação anterior em série de Taylor até segunda ordem. Isso leva à condição: Usando a condição SUU ≣ ∂2S/∂U2 ≤ 0, obtém-se: A equação anterior leva às seguintes condições de estabilidade local: e adicionalmente, Em um espaço de r+2 dimensões (S, X0, X1, ...., Xr), a estabilidade global requer que a hiper-superfície de entropia, fique sempre abaixo de sua família de hiper-planos tangentes. Condições de estabilidade para os potenciais termodinâmicos Para a energia interna é fácil reformular as condições de estabilidade. A entropia deve ser máxima, mas a energia interna deve ser mínima. Portanto a condição de concavidade da entropia se converte em uma condição de convexidade da energia interna. Para que a energia interna represente estados estáveis, a superfície de U, deve estar acima da sua família de planos tangentes: As condições de convexidade local são: O princípio pode ser estendido aos potenciais termodinâmicos. Para isso lembremos que: @U P = @X Exemplo: X= @U T = @S S= Das expressões acima obtemos: @U [P ] @P @U [T ] = @T @X @ = @P @P ✓ @X 1 = @P = @P @X Portanto, @ 2 U [P ] = @P 2 @F @T @U [P ] @P ◆ 1 @ @X @U @X = = @ 2 U [P ] @P 2 1 @2U @X 2 1 @2U @X 2 Isto é, o sinal de ∂2U[P]/∂P2 deve ser o negativo do sinal de ∂2U/∂X2. Se U é uma função convexa de X, então U[P] é uma função côncava de P. Pelo teorema anterior temos: @2U @S 2 0 , @ 2 U [T ] @2F = 0 2 2 @T @T Por outro lado, já mostramos que: @2U = 2 @V @P @V 0 Agora escrevemos a pressão como P = - ∂F/∂V. Portanto, @2F @V 2 0 Em consequência, obtemos: i.e., o potencial de Helmholtz é uma função côncava da temperatura e uma função convexa do volume. Da mesma forma, é fácil mostrar que a condição de estabilidade para a entalpia é: e para o potencial de Gibbs é: Em geral, a condição de estabilidade (para N constante) estabelece que a energia interna e os potenciais termodinâmicos devem ser funções convexas das variáveis extensivas, e funções côncavas das variáveis intensivas. Consequências físicas da estabilidade Vamos relacionar as condições de estabilidade local com o sinal de grandezas físicas como cP, cV, etc.... A Eq. (8.2) requer que e, portanto, cV ≥ 0; i.e. a capacidade calorífica deve ser positiva em um sistema estável. De forma similar, a convexidade do potencial de Helmholtz em relação ao volume leva a: Portanto, 𝜅T ≥ 0. Usando as relações de Maxwell e o método dos Jacobianos, foi demonstrado na aula passada que Da mesma forma, é possível mostrar que Usando as duas equações anteriores, e considerando que cV ≥ 0 e 𝜅T ≥ 0, é fácil ver que: cP ≥ cV ≥ 0 𝜅T ≥ 𝜅S ≥ 0 ✒︎ Portanto, em um sistema estável, a adição de calor a pressão ou volume constante, necessariamente aumenta a sua temperatura. ✒︎Quando o volume diminui, tanto isotermicamente quanto isentropicamente, deve haver um aumento de pressão em um sistema estável. Princípio de Le Chatelier O conteúdo físico dos dois critérios de estabilidade é conhecido como princípio de Le Chatelier. De acordo com esse princípio, o critério de estabilidade leva a que os processos espontâneos induzidos por um desvio do equilíbrio em uma parte do sistema são tais que tendem a restabelecer o equilíbrio do mesmo. Por exemplo, consideremos um sistema estável com temperatura uniforme. Se por uma flutuação termodinâmica, a temperatura em uma parte do sistema aumenta um pouco em relação à média, deverá surgir um fluxo de calor saindo desde essa parte mais quente que restabelecerá a uniformidade da temperatura.