Editorial

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1 : Cadernos do Mercado de Valores Mobiliários
Editorial
A edição n.º 50 dos Cadernos do Mercado de
Valores Mobiliários inclui três artigos de cariz
económico.
O primeiro artigo analisa a associação entre as
características de governação das empresas não
financeiras cotadas na Euronext Lisbon e o risco do mercado de capitais. Nele se procura determinar se características relativas ao governo
societário podem ajudar a prever variações futuras do risco associado a um determinado título e se essas características podem ser utilizadas
para monitorizar o risco de uma carteira de títulos ao longo do tempo. Tendo previamente concluído que a incerteza dos investidores aumentou durante o período da recente crise financeira
global, o autor testa várias hipóteses relacionadas com o nível de risco (total e idiossincrático)
das empresas nacionais e as características do
seu sistema de governo societário, e conclui que
as empresas com um maior número de administradores não executivos apresentam menor aumento de risco. Por outro lado, empresas com
um número relativamente maior de administradores independentes exibem maior aumento do
risco, o que é consistente com resultados reportados em estudos anteriores segundo os quais os
administradores independentes não têm acesso
a toda a informação relevante, o que limita a
sua eficácia no acompanhamento das ações dos
gestores e na redução de conflitos de agência
entre os acionistas que detêm o controlo da empresa e os demais. Ora, dado que o aumento do
risco total se materializa em perda de valor para
os acionistas e condiciona a gestão estratégica
das empresas, o autor afirma que a identificação
de características que aumentam a suscetibilidade de as cotações das ações sofrerem maiores
variações em períodos de incerteza pode ajudar
gestores e reguladores a melhorar os mecanismos de governação das empresas e evitar que
essas caraterísticas sejam condicionadas por
restrições decorrentes do desempenho das cotações acionistas.
O segundo texto analisa as determinantes do
crédito vencido nos bancos de capital aberto da
OCDE, e procura identificar as características
bancárias, macroeconómicas, regulamentares e
de organização dos sistemas financeiros associados a maiores volumes de crédito com imparidade. Assim, os autores tentam encontrar resposta para as seguintes questões: i) as características intrínsecas dos bancos influenciam o
incumprimento em que os clientes bancários
incorrem? ii) as condições macroeconómicas
influenciam o nível de incumprimento? iii) a
regulamentação e a supervisão bancárias influenciam o crédito com imparidade? e iv) existem
diferenças significativas no volume de crédito
com imparidade das instituições bancárias em
atividade em países com sistemas financeiros
orientados para os bancos, face aos orientados
para o mercado? Os resultados apresentados
permitem concluir que bancos com melhor qualidade da gestão e de maior dimensão registam
menos crédito vencido. No mesmo sentido,
bancos com maior liquidez também apresentam
níveis de incumprimento mais reduzidos. Do
ponto de vista macroeconómico, a taxa de juro
não influencia o cumprimento das obrigações
de crédito de clientes, mas o incumprimento
tende a diminuir em contextos de maior crescimento económico e em países com maior PIB
per capita. Por fim, a existência de maior regulamentação e de uma supervisão mais intensa
estão associados a menor incumprimento, enquanto o volume de incumprimento tende a ser
inferior em países cujos sistemas financeiros
estão mais orientados para os mercados.
O último artigo procura avaliar se os fundos de
investimento que investem na China chamam
mais a atenção dos investidores do que os
2 : Cadernos do Mercado de Valores Mobiliários
Editorial
fundos que investem noutras economias emergentes, analisando de que forma as notícias sobre as economias daqueles países podem servir
como indicador da atenção do investidor. O
autor conclui não existir um efeito de atração
dos fundos que investem na China, ou qualquer
efeito capaz de induzir uma entrada de fundos
quando surgem notícias positivas sobre a economia chinesa. Ao invés, esse efeito de atração
existe nos fundos de investimento que operam
nos mercados indiano e brasileiro. No caso das
notícias negativas sobre as economias, apenas
em alguns casos se detetou um efeito de aver-
são dos investidores aos fundos que investem
na China quando surgem notícias negativas sobre a economia chinesa, mas nos demais países
verificou-se que perante notícias negativas existiu um claro movimento de saída de fluxos de
investimento. Neste contexto, as notícias da
imprensa especializada podem funcionar como
um importante mecanismo de redução dos custos de pesquisa de informação no mercado de
fundos de investimento.
Não faltam, pois, motivos de interesse para uma
leitura atenta desta edição dos Cadernos.
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