Artigo de atualização Dengue - Instituto Hahnemanniano do Brasil

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A r t i go de
atualização
Dengue – Atualização Epidemiológica e
Abordagem Homeopática Preventiva e Curativa
Dengue – Epidemiological Updating –
Curative and Preventive Approach
J O R G E A N T O L I N I 1, L U I Z F I G U E I R A P I N T O 2,
R E G I N A RO D R I G U E S 3 , V I C T O R B E R B A R A 4
m
Unitermos: Dengue, Saúde pública,Terapêutica homeopática, Flavivírus, Phosphorus,
Eupatorium perfoliatum.
m
I NTRODUÇÃO
O Dengue constitui-se em um dos maiores
problemas de saúde pública atualmente nos
trópicos1. O agente infeccioso causal, um
Arbovírus do gênero Flavivírus da família
Flaviviridae, com seus sorotipos DEN-1, DEN-2,
DEN-3 e DEN-4, tem revelado modificações
em seu comportamento clínico.Tais alterações
acarretam quadros de gravidade e índices de
letalidade crescentes, à semelhança de outros
microorganismos que determinam
enfermidades de caráter epidêmico e que, por
isso, necessitam de estudo epidemiológico e
clínico constantes.2
De acordo com a Organização Mundial de
Saúde (OMS), anualmente, cerca de 80 milhões
de pessoas são infectadas pelo agente do Dengue
em 100 países de diversos continentes. No
Brasil, as primeiras epidemias de Dengue
Clássico e Febre Hemorrágica do Dengue
(FHD) relatadas datam das décadas de 1980 e
1990, respectivamente1. Os surtos epidêmicos de
FHD, que cursaram com elevada taxa de ataque
e letalidade, ocorreram em função da introdução
dos sorotipos DEN-2 e DEN-33. A possibilidade
1. Médico Homeopata e Geriatra, Professor Assistente de Clínica Homeopática da UniRio e Chefe do Serviço de
Homeopatia do IASERJ. Coordenador do Curso de Pós-graduação em Homeopatia do Instituto Hahnemanniano do Brasil.
2. MSc. Professor Adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e Coordenador
do Curso de Pós-graduação em Homeopatia do Instituto Hahnemanniano do Brasil.
3. Médica Homeopata e Epidemiologista da Secretaria Municipal de Saúde – RJ.
4. Médico Epidemiologista da Secretaria Estadual de Saúde (RJ) e da Secretaria Municipal de Saúde (RJ).

Homeopat. Bras., 8(2): 70-80, 2002
Artigo de
atualização
de penetração do sorotipo DEN-4, aumentando
a circulação simultânea dos sorotipos, e a
existência de um elevado número de indivíduos
suscetíveis atualmente no Brasil permite a
previsão de um surto epidêmico de proporções
elevadas, o que requer a adoção de medidas
preventivas urgentes.
A infestação por Aedes aegypti, principal
vetor do Dengue no Brasil, é uma realidade e a
sua erradicação a médio prazo tornou-se
impossível, tendo em vista a degradação
ambiental que favorece a sua disseminação. Esse
fato associado à inexistência de uma vacina
efetiva tem dificultado o controle e a prevenção
do Dengue pelos órgãos governamentais. E, para
complicar a situação, a terapêutica alopática não
dispõe de medicamento de ação etiológica
eficaz, limitando-se o tratamento às drogas
sintomáticas, aos cuidados gerais e à manutenção
do equilíbrio hidro-eletrolítico e hematológico
dos pacientes infectados.2
No presente estudo, realizou-se uma
pesquisa bibliográfica epidemiológica do
Dengue, especialmente da epidemia mais
recente, ocasionada predominantemente pelo
sorotipo DEN-3, no Estado do Rio de Janeiro.
Apresentou-se, ainda, a atualização da situação
epidemiológica e os riscos atuais para a saúde
pública, além de quatro versões, segundo as
distintas concepções do pensamento
homeopático. O que se propõe é uma
terapêutica preventiva e curativa baseada na
repertorização e na correlação dos quadros
clínicos e fisiopatológicos do Dengue Clássico e
da Febre Hemorrágica do Dengue com a
matéria médica homeopática.
H ISTÓRIA EPIDEMIOLÓGICA DO
D ENGUE NO B RASIL E NO MUNDO
O Dengue tem sido relatado nas Américas
há mais de 200 anos. Segundo a literatura, os
Homeopat. Bras.
primeiros relatos datam de 1779, 1780 e 1784,
em Java, na Filadélfia (EUA) e em Cádez e
Sevilha, respectivamente4. Antes do isolamento
do vírus do Dengue na década de 1950, apenas
os critérios clínico-epidemiológicos podiam ser
utilizados para caracterizar um surto, que
ocorria de forma maciça e súbita.
A partir dos primeiros relatos foram
registradas, então, verdadeiras pandemias. A
primeira pandemia ocorreu no Caribe e na
Costa Atlântica dos EUA, em 1827, coincidindo
com o aumento do transporte comercial entre
os portos. A segunda pandemia ocorreu no
período de 1848 a 1850, incluindo as cidades de
Havana e Nova Orleans, já apresentando casos
com manifestações hemorrágicas. A terceira
pandemia registrada aconteceu entre 1879 e
1880, incluindo Cuba, Panamá, Porto Rico,
Ilhas Virgens e Venezuela.Também neste
período, em 1879, ocorreu um importante surto
da doença em Queensland, Austrália.
Posteriormente, nesta cidade, mais dois surtos
foram registrados: um em 1885 e outro em
1897, no qual 75% da população adoeceu, e os
relatos revelam vários casos hemorrágicos.
Após a década de 1960, a circulação do vírus
do Dengue intensificou-se nas Américas. A
partir de 1963, houve circulação comprovada
dos sorotipos DEN-2 e DEN-3 em vários
países, tornando-se, desde então, endêmico na
América Tropical.4,5
Em 1977, o sorotipo DEN-1 penetrou nas
Américas, inicialmente pela Jamaica. A partir de
1980, foram notificadas epidemias em vários
países, aumentando consideravelmente a magnitude do problema. Os principais surtos
registrados foram: Brasil (1982/1986-1996),
Bolívia (1987), Paraguai (1988), Equador (1988),
Peru (1990) e Cuba (1977/1981). A FHD
afetou Cuba em 1981 e foi um evento de
extrema importância na história da doença nas
m
vol.8 · n 02 · 2002

Artigo de
Américas, tendo sido a primeira epidemia de
Dengue Hemorrágico, com 344.203
notificações, das quais 33,7% dos pacientes
necessitaram de hospitalização. A letalidade foi
de 0,46/1000 casos4,5. Essa epidemia foi causada
pelo sorotipo DEN-2, tendo sido este o
primeiro relato de Febre Hemorrágica do
Dengue ocorrido fora do Sudoeste Asiático e
do Pacífico Ocidental. A segunda epidemia
ocorreu na Venezuela, em 1989, e em
1990/1991 alguns casos foram notificados no
Brasil no Estado do Rio de Janeiro e, em 1994,
na cidade de Fortaleza, Ceará.
No Brasil, o Dengue atualmente constitui
um sério problema de saúde pública. Isso gera
uma responsabilidade pública e social, cujo
combate fica a cargo do Ministério da Saúde, da
Fundação Nacional de Saúde e das Secretarias
Estaduais e Municipais de Saúde. Atualmente, as
principais medidas preventivas são o controle
intensivo dos nascedouros e o cuidado prestado
às pessoas acometidas pela doença.
A literatura5,6 apresenta relatos de epidemias
no Estado de São Paulo, no ano de 1916, e na
cidade de Niterói, em 1923. Sendo que a
primeira epidemia documentada clínica e
laboratorialmente ocorreu em 1981–1982, em
Boa Vista, Roraima, e foi ocasionada pelos
sorotipos DEN-1 e DEN-4. A partir de 1986,
foram registradas epidemias em diversos Estados
da Federação. A primeira epidemia de maior
relevância no Brasil ocorreu no Rio de Janeiro
nos anos de 1986 e 1987, atingindo 1 milhão de
pessoas, e foi atribuída ao sorotipo DEN-1. Os
Estados do Ceará, Alagoas, Pernambuco, Bahia,
Minas Gerais,Tocantins, São Paulo, Mato Grosso
e Mato Grosso do Sul notificaram surtos no
período de 1986 a 1993. A introdução do
sorotipo DEN-2 foi detectada em 1990, no
Estado do Rio de Janeiro, sendo posteriormente
identificado em Tocantins, Alagoas e Ceará.

Homeopat. Bras.
atualização
Atualmente, a transmissão de dengue existe em
20 Estados da Federação, com circulação
simultânea dos sorotipos DEN-1 e DEN-2 em
14 deles.
H ISTÓRIA EPIDEMIOLÓGICA DO
D ENGUE NO R IO DE J ANEIRO
De acordo com a Secretaria Estadual de
Saúde do Rio de Janeiro7,o Dengue apresentou
a sua primeira manifestação epidêmica no Estado
a partir de abril de 1986 tendo sido provocada
pelo sorotipo DEN-1. Novas epidemias foram
registradas em 1990 e 1991, quando identificouse a presença do sorotipo DEN-2 em 462 casos
com manifestações hemorrágicas, causando oito
óbitos. A intensificação do combate ao vetor
manteve o número de casos baixo entre 1992 e
1994, mas em 1995 e 1996 surgiram focos
intensos da doença, novamente com a presença
do sorotipo DEN-2. E, nos anos de 1998 e
1999, com a deterioração progressiva das
medidas de controle por parte da União,
ocorreram surtos epidêmicos ocasionados
principalmente pelo sorotipo DEN-1. No biênio
2001 e 2002 houve a maior de todas as
epidemias desde então, com vasta disseminação
do vetor por todo o Estado e o registro
crescente de FHD com óbitos atribuídos à
introdução do sorotipo DEN-3 (Gráfico 1).
No Estado do Rio de Janeiro, o
Dengue vem se caracterizando como uma
doença de caráter bianual e que aparece
invariavelmente no verão, atingindo uma alta
taxa de positividade sorológica nos meses de
janeiro a junho. No entanto, durante todo o
ano de 2001, o Dengue se apresentou de
forma endêmica com a presença permanente
da infecção (Gráfico 1). As epidemias de
Dengue atingem com mais intensidade os
adultos do que as crianças, considerando-se
que a idade acima dos 15 anos representa mais
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vol.8 · n 02 · 2002
Artigo de
atualização
G RÁFICO 1
NOTIFICAÇÃO MENSAL DE CASOS SUSPEITOS DE DENGUE NOS MESES DE OUTUBRO A JULHO, NOS ANOS DE 1986 A 2002.
100000
90000
Outubro
80000
Novembro
70000
Dezembro
60000
Janeiro
Fevereiro
50000
Março
40000
Abril
30000
Maio
Junho
20000
Julho
10000
2000/01
2001/02
1999/2000
1998/1999
1996/1997
1986/1987
1990/91
1994/95
0
Fonte: Dados da Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Rio de Janeiro.
G RÁFICO 2
PERCENTUAL DOS CASOS NOTIFICADOS DE DENGUE NO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO SEGUNDO A FAIXA ETÁRIA NOS ANOS DE 1995 A 2002.
Faixa etária (anos)
Ano (%)
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
<1
0,6
0,3
1,1
0,5
1,2
0,4
0,2
0,3
1–4
2,2
1,8
2,4
1,9
3,9
1,9
1,7
2,4
5 - 14
13,5
10,6
7,1
11,9
13,5
11,2
11,3
12,5
15 e +
83,7
87,3
89,4
85,7
81,4
86,5
86,8
84,8
Total
100
100
100
100
100
100
100
100
Fonte: Setor de Vigilância Epidemiológica da Superintendência de Saúde Coletiva da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro.
Obs.: dados atualizados até novembro de 2002, sujeitos à revisão.
de 80% dos casos notificados (Gráfico 2). No
entanto, podem estar ocorrendo falhas no
diagnóstico clínico de diversas viroses
inespecíficas ou doenças exantemáticas infantis,
que devem ser diferenciadas sorologicamente
do Dengue.
Homeopat. Bras.
A SPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS
Nas Américas, o vírus transmissor do
Dengue tem como hospedeiro o mosquito da
família Culicidae e da espécie Aedes aegypti,
enquanto na Ásia essa função cabe ao Aedes
albopictus. No Brasil, apesar da ampla dispersão
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vol.8 · n 02 · 2002

Artigo de
atualização
do Aedes aegypti na região Sudeste, a literatura
não registra a sua associação com a
transmissão do vírus do Dengue, que persiste
na natureza mediante o ciclo de transmissão
homem – Aedes aegypti – homem. Na Ásia e
na África há descrições de um ciclo selvagem
envolvendo o macaco.2,5
O mosquito após repasto de sangue
infectado está apto a transmitir o vírus
transcorridos de oito a 12 dias de incubação
extrínseca. A transmissão mecânica também é
possível, quando o repasto é interrompido e o
mosquito imediatamente se alimenta num
hospedeiro susceptível próximo. Não há
transmissão por contato direto de um doente ou
de suas secreções com uma pessoa sadia, nem de
fontes de água ou alimento5. A transmissão viral
transovariana no vetor tem sido descrita3.
Entre as razões para o aumento da
disseminação do vírus do Dengue estão a
urbanização descontrolada, o saneamento básico
inadequado, a presença crescente no meio
ambiente de pneus e objetos feitos de plástico
descartáveis que favorecem o acúmulo de água,
o aumento das viagens, principalmente as aéreas,
que permitem o transporte de mosquitos
transmissores infectados e o controle
intermitente do vetor em sua forma larvária ou
adulta2,5. O período de incubação da doença,
que varia de dois a sete dias, associado a um
período de viremia de quatro a cinco dias
possibilita a introdução deste vírus em diferentes
estados brasileiros e em países dos diversos
continentes por meio dos passageiros que se
encontram em trânsito8.
A SPECTOS
IMUNOLÓGICOS
E LABORATORIAIS
A suscetibilidade ao vírus do Dengue é
universal e a infecção por um sorotipo
confere imunidade homóloga permanente e

Homeopat. Bras.
imunidade parcial e temporária contra os
outros sorotipos.
Na infecção aguda há uma resposta
imunológica primária e uma secundária.
A resposta primária ocorre em pessoas não
expostas anteriormente ao Flavivírus, quando o
título de anticorpos se eleva lentamente.
A resposta secundária se dá em indivíduos
sensibilizados previamente por outro sorotipo,
quando o título de anticorpos se eleva de forma
intensa e rápida. E, em relação à suscetibilidade
individual à FHD, há três principais teorias que
tentam explicar sua ocorrência. A primeira delas
relaciona o aparecimento de FHD à virulência
da cepa infectante, de modo que as formas mais
graves sejam resultantes de cepas extremamente
virulentas. A segunda, chamada de teoria de
Halstead, relaciona a FHD com infecções
seqüênciais por diferentes sorotipos do vírus do
Dengue, num período de três meses a cinco
anos. Nessa teoria, a resposta imunológica na
segunda infecção é exacerbada, o que resulta
numa forma mais grave da doença. Já a terceira
teoria, denominada hipótese integral de
multicausalidade, atribui o aparecimento da
FHD à interação entre a virulência da cepa, à
teoria de Halstead e a determinados fatores de
risco. Os fatores de risco apontados são:
■ Fatores individuais: menores de 15 anos e
lactentes, adultos do sexo feminino, raça
branca, bom estado nutricional, presença
de doenças crônicas (diabetes, asma
brônquica, anemia falciforme),
preexistência de anticorpos, intensidade da
resposta imune anterior.
■ Fatores virais: virulência da cepa
circulante, sorotipo viral que esteja
circulando no momento.
■ Fatores epidemiológicos: existência de
população suscetível, presença de vetor
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vol.8 · n 02 · 2002
Artigo de
atualização
No leucograma dos infectados, geralmente,
observa-se leucopenia com neutropenia. Na
FHD, nota-se ainda trombocitopenia e
hemoconcentração, que pode ser precedida pela
diminuição no número das plaquetas. 2,8
eficiente, alta densidade vetorial, intervalo de
tempo calculado entre três meses e cinco
anos entre duas infecções por sorotipos
diferentes, seqüência das infecções e ampla
circulação do vírus.
Embora não se saiba qual é o sorotipo mais
patogênico, tem-se observado que as
manifestações hemorrágicas mais graves estão
associadas ao sorotipo DEN-25. No entanto, no
surto de 2000 ocorrido no Estado do Rio de
Janeiro, a maior gravidade dos casos se deu com
o sorotipo DEN-37. Esta ocorrência pode ser
atribuída à suscetibilidade individual, além de
que também se deve considerar que a
intensidade da transmissão do vírus do Dengue
e a circulação simultânea de vários sorotipos
aumentam os fatores de risco.2, 3, 6, 8
Após a introdução do vírus do Dengue no
organismo humano ocorre uma viremia que
pode durar até quatro dias, possibilitando o
isolamento e a sorotipagem do vírus. A partir
dessa fase, é possível detectar os anticorpos
específicos. As técnicas mais utilizadas para isso
são o MaC Elisa e a Inibição da
Hemaglutinação. A detecção dos anticorpos da
classe Ig-M indica infecção ativa ou recente,
enquanto os anticorpos da classe Ig-G persistem
por um longo período e vão decrescendo com
o passar do tempo.
Na primo-infecção pelo vírus do Dengue,
a interpretação sorológica é simples.
Contudo, quando ocorre uma segunda ou
terceira infecção, há um aumento precoce e
acentuado de Ig-G logo nos primeiros dias da
doença, com títulos baixos ou não detectáveis
de Ig-M. Atualmente, está disponível a
hibridização in situ e a Reação da Cadeia de
Polimerase (PCR) para detectar o genoma e
os antígenos virais. Para a identificação do
vírus nos tecidos (casos letais) recomenda-se
a imunohistoquímica.
Homeopat. Bras.
I MAGEM
CLÍNICA DO
D ENGUE
O Dengue é uma doença infecciosa que
pode se apresentar assintomaticamente, na forma
branda ou na forma hemorrágica grave,
podendo evoluir com choque hipovolêmico.
O Dengue Clássico apresenta-se com
início súbito, febre alta (39-40ºC), mal-estar,
astenia, mialgias, cefaléia com dor
retrorbitaria intensa que piora com os
movimentos oculares, náuseas, vômitos,
artralgias intensas e, menos freqüentemente,
diarréia, vertigem, tontura e tosse
improdutiva. Em alguns pacientes pode
ocorrer ainda rinofaringite, linfadenomegalias
generalizadas, assim como hepatomegalia e
hemorragias de pequena intensidade, como
epistaxe, púrpura e hematúria2,8. Em crianças,
é comum o aparecimento de exantema
pruriginoso, máculo-papular ou
escalartiniforme, que se dissemina a partir do
tronco e acomete caracteristicamente a região
palmar e plantar.2,6,8
A FHD inicia-se como o Dengue Clássico
que, após três ou quatro dias, evolui com
hepatomegalia dolorosa, hidropsias,
plaquetopenia, hemoconcentração, coagulação
intra-vascular disseminada e hemorragias. Nesses
casos, a infecção viral determina uma hepatite
aguda, com elevação das transaminases e
manutenção das taxas de bilirrubinas, que pode
evoluir para necrose dos hepatócitos.2,4
I MAGEM
REPERTORIAL E PATOGENÉTICA
A sintomatologia do Dengue descrita na
literatura9,10 e apresentada na forma de imagem
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
Artigo de
atualização
clínica da enfermidade possibilita a sua
transcrição em rubricas repertoriais, de acordo
com a propedêutica homeopática11, conforme
apresentado na Tabela I.
TABELA II
PRINCIPAIS MEDICAMENTOS REPRESENTATIVOS
DA IMAGEM REPERTORIAL DO DENGUE CLÁSSICO.
Medicamentos
Homeopáticos
Sintomas
cobertos
Pontuação
Eupatorium perfoliatum
22
39
Arsenicum album
21
49
Natrum muriaticum
21
49
Pulsatila
21
49
Rhus toxicodendrum
21
41
Sepia
21
36
Bryonia alba
20
48
Phosphorus
20
46
Belladona
20
45
DOR, cefaléia em geral –
Fronte, na – movimento na –
olhos, dos
Calcarea carbonica
20
42
Sulphur
20
42
DOR, cefaléia em geral –
Fronte, na – Olhos – olhos –
atrás dos
Lycopodium clavatum
20
41
Nux vomica
19
48
China officinalis
18
36
Aconitum napellus
18
36
Kali carbonicum
18
33
Lachesis trigonocephalus
18
31
Carbo vegetabilis
18
30
Ignatia amara
18
27
Ipecacuanha
17
36
TABELA I
RUBRICAS REPERTORIAIS REPRESENTATIVAS
DA IMAGEM CLÍNICA DO DENGUE CLÁSSICO.
Seção
Rubricas
VERTIGEM
VERTIGEM
VERTIGEM
CEFALÉIA – durante
CABEÇA
DOR, cefaléia em geral
CABEÇA
DOR, cefaléia em geral –
alternando com – dor –
articulações
CABEÇA
CABEÇA
OLHO
DOR
PALADAR
INSÍPIDO
ESTÔMAGO
NÁUSEAS
ESTÔMAGO
NÁUSEAS – febre – durante
ESTÔMAGO
VÔMITO
ESTÔMAGO
VÔMITO – febril, calor –
durante
ESTÔMAGO
VÔMITO – febril, calor – após
RETO
DIARRÉIA
TOSSE
FEBRE – durante
COSTAS
DOR
RUBRICAS REPERTORIAIS REPRESENTATIVAS DA
IMAGEM CLÍNICA DA FEBRE HEMORRÁGICA DO DENGUE.
COSTAS
DOR – febril, calor - durante
Seção
EXTREMIDADES
DOR
NARIZ E OLFATO EPISTAXE
EXTREMIDADES
DOR – febre, durante
BOCA
SANGRAMENTO
EXTREMIDADES
DOR – Ossos
ABDOME
AUMENTADO - fígado
FEBRE
FEBRE – calor febril em geral
ABDOME
FEBRE
ARDENTE – calor
DOR – dolorimento – dor
surda – fígado
PELE
ERUPÇÕES - EXANTEMAS
ABDOME
PELE
ERUPÇÕES - EXANTEMAS
– pruriginosa
DOR – dolorimento – dor
surda – fígado – febril, calor,
durante
BEXIGA
HEMORRAGIA
TABELA III
GENERALIDADES FRAQUEZA
continua
GENERALIDADES FRAQUEZA – febre – durante

Homeopat. Bras.
m
Rubricas
vol.8 · n 02 · 2002
Artigo de
continuação
Seção
Rubricas
EXTREMIDADES
DOR – hepáticos, com
sintomas
PELE
ERUPÇÕES – PETÉQUIAS
PELE
PÚRPURA – hemorrágica
GENERALIDADES HEMORRAGIAS
GENERALIDADES HIDROPISIAS – Fígado, por
doença do
GENERALIDADES INCHAÇO em geral –
gânglios, dos
GENERALIDADES INFLAMAÇÃO – fígado, do;
hepatite
TABELA IV
PRINCIPAIS MEDICAMENTOS REPRESENTATIVOS
DA IMAGEM REPERTORIAL DA
FEBRE HEMORRÁGICA DO DENGUE.
Medicamentos
homeopáticos
Sintomas
cobertos
Pontuação
Arsenicum álbum
32
69
Phosphorus
30
72
Nux vomica
30
70
Natrum muriaticum
30
65
Belladona
29
64
Lycopodium clavatum
29
62
Rhus toxicodendrum
28
58
Lachesis trigonocephalus
28
54
Bryonia alba
27
62
Sulphur
27
58
Calcarea carbonica
26
57
China officinalis
26
56
Sepia
26
47
Carbo vegetabilis
26
47
Eupatorium perfoliatum
26
43
Arnica montana
25
51
Pulsatila
24
57
Silicea
24
51
Ferrum metallicum
24
48
Conium maculatum
24
47
Homeopat. Bras.
atualização
De acordo com a classificação
hahnemanniana de doença, o Dengue, na sua
forma clássica ou na FHD, caracteriza-se como
uma doença dinâmica, aguda e coletiva
(DDAC) e ocorre nos indivíduos de uma
população que se encontram suscetíveis e com
predisposição mórbida. O Dengue depende,
principalmente, de condições ambientais
desfavoráveis, da proliferação de vetores e da
patogenicidade ou virulência do agente.
Apresenta sintomas comuns aos indivíduos
acometidos e difere das doenças dinâmicas
agudas e individuais (DDAI), que ocorrem por
uma condição psórica de um indivíduo em
particular12. Dessa forma, a abordagem
terapêutica homeopática nas DDAC se apóia na
seleção do medicamento que representa a
enfermidade, o que pode ser realizado por meio
do estudo de sua imagem clínica seguido de
repertorização homeopática e identificação do
medicamento patogeneticamente semelhante,
conforme evidenciado na literatura13. Este
procedimento permite eleger o medicamento
homeopático mais semelhante à enfermidade,
que pode ser denominado de gênio epidêmico
e que, no Dengue Clássico, resulta no
Eupatorium perfoliatum, conforme consta da
Tabela II. Tal resultado é concordante com os
dados da literatura14.
O estudo dos sintomas da FHD associados
àqueles característicos do Dengue Clássico
resultou em um total de 39 sintomas e suas
respectivas rubricas que foram em seguida
repertorizados, conforme apresentados nas
Tabelas III e IV, respectivamente. A fisiopatologia
atual da FHD – que cursa com interações
sorológicas diversas acarretando um verdadeiro
pânico imunológico e um tropismo hepático
com discrasias sangüíneas – encontra uma
similitude com o medicamento homeopático
Phosphorus, que apresenta 30 dos 39 sintomas
m
vol.8 · n 02 · 2002

Artigo de
repertorizados e com um total de 79 pontos
(Tabela IV), por este apresentar em sua
patogenesia tropismo hepático, discrasias
sangüíneas e fenômenos hemorrágicos15.
O Phosphorus, que é um medicamento
peculiar à constituição fosfórica e anti-sifilínico15,
apresenta-se como um medicamento
circunstancial da FHD atual em que se verifica a
presença de associações sorológicas diversas e
sério comprometimento hepático. Entretanto, a
indicação do medicamento Phosphorus na FHD
pode significar que aqueles indivíduos de
constituição fosfórica e portadores de sifilinismo
são os mais suscetíveis à FHD e os que
apresentam maior risco para o seu pleno
desenvolvimento, até o êxito final. Este raciocínio
apóia-se no fato de que a constituição fosfórica
apresenta uma deficiência imunitária específica, e
que no sifilinismo há aparentemente uma
deficiência na resposta Ig-M e Ig-G17, conforme
se verifica na FHD.
O medicamento Arsenicum album pode
estar recomendado em alguns casos do
Dengue, do mesmo modo como empregado
com êxito no tratamento da febre amarela,
segundo a literatura18. Entretanto, a
fisiopatologia desse medicamento difere
daquela do Dengue, sendo um medicamento
sifilínico ou Simillimum do paciente.
A presença do medicamento China
officinalis na repertorização sugere a sua
utilidade como um medicamento
circunstancial, tendo em vista que certos
sintomas patogenéticos presentes em sua
matéria médica15,16 são semelhantes a alguns
quadros clínicos do Dengue, especialmente o
agravamento pela desidratação e o intenso
abatimento. Os demais medicamentos presentes
na repertorizaçao apresentam, da mesma
forma, alguma semelhança com o Dengue e
podem ser úteis a determinados pacientes.

Homeopat. Bras.
atualização
V ERSÕES
PARA A
ABORDAGEM TERAPÊUTICA DE
PATOLOGIAS EPIDÊMICAS
A amplitude da Homeopatia requer que se
lance mão de diferentes instrumentos para se
compreender a complexibilidade da vida
humana. Para isso, apresenta algumas versões,
como olhares científicos sob diferentes ângulos,
que se propõem a interpretar a epidemia em
questão. A esse procedimento denomina-se
“olhar fenomenológico” que se contrapõe ao
convencionalismo forjado e absolutista da
máquina científica que insiste em defender
uma única interpretação das experiências
vividas. Segundo o médico italiano e
especialista em fenomenologia Mauro
Maldonato20, o mapa do movimento
fenomenológico nada mais é que uma
constelação de olhares, uma theoria de visões.
1ª Versão:
Busca do Simillimum do paciente, com base na
avaliação idiossincrásica do mesmo.14
2ª Versão:
Hahnemann aborda a uniformidade dos
sintomas de uma epidemia e afirma que “cada
epidemia é de caráter peculiar, uniforme,
comum a todos os indivíduos atacados e,
quando este caráter se encontra na totalidade
de sintomas comuns a todos, leva-nos à
descoberta do remédio (específico)
homeopático adequado para todos os
casos.12,14 Assim, buscar o medicamento
Simillimum do “Gênio Epidêmico”12 significa
possibilitar o reequilíbrio energético de todos
os pacientes atingidos.
3ª Versão:
No quadro grave do Dengue, além do
medicamento que cubra o Gênio Epidêmico,
deve-se avaliar os fatores de risco subjacentes,
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vol.8 · n 02 · 2002
Artigo de
atualização
tais como asma brônquica, alergias, DPOC,
doenças cardiovasculares, anemia falciforme,
diabetes mellitus, e o emprego prévio pelo
paciente de medicamentos como AAS,
antiinflamatórios, anticoagulantes,
pentoxifilina, imunossupressores, etc., e
abordá-los especificamente, sob o ponto de
vista terapêutico.
A BSTRACT
4ª Versão:
A presença de diferentes sorotipos na população
infectante e infectada, propiciando reações
imunológicas cruzadas, resulta em maior
gravidade do quadro clínico, o que pode ser
acentuado nos pacientes portadores de
sifilinismo e de biotipologia fosfórica ou
sulfúrica magra.
C ONCLUSÃO
A filosofia homeopática considera que a
causa das doenças está na Psora e que, nas
enfermidades agudas e de caráter epidêmico,
deve se estabelecer o medicamento que lhe
apresenta semelhança patogenética, e que se
denomina “gênio epidêmico”. Nesse aspecto, o
Eupatorium perfoliatum ainda constitui o principal
medicamento semelhante ao Dengue atual, ao
passo que nas suas formas graves o Phosphorus é
o mais indicado. Nas epidemias, há que se
dialogar com especialidades médicas, como é o
caso dos profissionais da área de Epidemiologia,
uma vez que questões referentes ao meio
ambiente, à proliferação de vetores, à resistência
dos mesmos aos inseticidas habituais, à
suscetibilidade maciça da população, entre
outros fatores, podem requerer uma visão
contextualizada da doença.
Typical Dengue and Dengue Haemorrhagic Fever
amount to one of the most serious current problems
facing public health. Its high rate of occurrence and
mortality is due to the simultaneous presence of
different serotypes.The possibility of serotype DEN-4
penetration into Brazil, given the high number of
susceptible individuals, may bring about the outbreak
of an epidemic of vast proportions, a prospect that calls
for the adoption of pressing preventive measures.The
eradication of the Flavivírus vector is apparently
impracticable and the absence of a vaccine encumbers
its control and prevention. Besides, allopathic therapy
lacks an etiological medicament.This study portrays
the present epidemiological situation concerning
Dengue in Rio de Janeiro and the consequent risks to
public health.Through the correlation of clinical and
physiopathological data of the disease with the
homeopathic medical matter, it is proposed the
preventive and prophylactic use of Phosphorus and
Eupatorium perfoliatum medicaments by turns for
the present Dengue Haemorrhagic Form.
Key words: Dengue, Public health,
Homeopathic therapeutics, Flavivírus,
Phosphorus, Eupatorium perfoliatum.
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Endereço para correspondência:
IHB – Rua Frei Caneca, 94/2o andar – Centro – RJ
e-mail: [email protected]
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