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Nematoide zooparasita pode ajudar mulheres a engravidar mais vezes
Mais de um bilhão de pessoas estão infectadas com vermes intestinais (nematoides
zooparasitas), principalmente em áreas tropicais com falta de saneamento básico. Um
dos mais comuns é a lombriga gigante Ascaris lumbricoides (figura abaixo), cujas
fêmeas podem crescer até 30 cm de comprimento ou mais. Vivem na luz do intestino e
ali espoliam parte do alimento digerido pelo hospedeiro. Outros vermes, como os
ancilostomídeos Ancylostoma duodenale e Necator americanus, agentes do “amarelão”,
são pequenos “vampiros”. Eles abocanham o forro do intestino, causam exsanguinação
e sugam parte do sangue do hospedeiro que escorre do local lesionado.
Considerados apenas alguns de seus hábitos, esses vermes parasitas de humanos têm
muito em comum com um feto no útero. O sistema imunológico considera tanto um
nematoide zooparasita quanto um feto como intrusos, razão pela qual ambos precisam
desenvolver estratégias que levem ao que os pesquisadores chamam de tolerância
imunológica (estado de não-reatividade específica do sistema imunológico frente a
determinado antígeno). Tais parasitas podem desencadear até algumas estratégias de
defesa semelhantes às que ocorrem durante a gravidez, como, por exemplo, estimulando
as células T, mediadoras da repressão a ataques por organismos invasores.
Por causa dessas semelhanças, o biólogo Aaron Blackwell, pesquisador da Universidade
da Califórnia/Santa Barbara, e seus colaboradores questionaram se essas infecções
parasitárias não poderiam, de certo modo, “abrir um caminho” para a gravidez. Para
tanto, realizaram estudo utilizando dados baseados no povo indígena Tsimane, que vive
na floresta amazônica da Bolívia.
O povo Tsimane, cerca de 16.000 pessoas, sobrevive da caça, pesca e cultivo de arroz.
Ao redor de 15% a 20% deles hospedam a lombriga gigante e mais de 50% carregam
ancilostomídeos. As mulheres infectadas incluídas no estudo geralmente não sabiam
que estavam albergando os parasitas, Efeitos adversos à saúde só foram bem visíveis
nas mulheres portadoras de ancilostomídeos, que apresentavam menores valores de
índice de massa corporal e de nível de hemoglobina no sangue; os ancilostomídeos
também se mostraram prejudiciais à fertilidade, sendo que as mulheres portadoras
tiveram o primeiro filho com idade mais alta e o intervalo de tempo entre suas gestações
aumentou. Como resultado do estudo, os pesquisadores estimaram que as mulheres
sofrendo dessas verminoses davam à luz três filhos a menos que as não doentes, o que
só não chegava a ser algo dramático porque as mulheres de Tsimane geravam, em
média, nove filhos!
Em contraste, a lombriga gigante (Ascaris) revelou-se uma “bênção” para a reprodução.
Nas mulheres infectadas por essa espécie de nematoide, o tempo entre gestações
encurtou, bem como a primeira gravidez ocorreu em faixa etária mais baixa, além de
que se verificou que poderiam suportar melhor dar à luz a duas crianças a mais que as
não parasitadas. “É algo um pouco contra-intuitivo”, disse Blackwell à revista Science.
“Estimulando positivamente” o sistema imunológico humano, espécimes de Ascaris
podem quase não causar inflamações e, assim, favorecer a concepção e implantação do
embrião no útero, especulam os pesquisadores. Ancilostomídeos, por outro lado, não
são tão bons em inibir a inflamação e os danos decorrentes da sucção de sangue e
espoliação de nutrientes aparentemente anulam eventuais efeitos benéficos sobre a
fertilidade que pudessem advir do parasitismo. Blackwell e colaboradores estão agora
analisando amostras de sangue das mulheres visando a determinar quais as células e
moléculas imunes que os vermes alteram.
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