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PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Análise da ocorrência dos afastamentos por doença dos profissionais
de enfermagem em um hospital público
Analysis of disease occurrence of removal of professional nursing in a public hospital
Análisis de la ocurrencia de la enfermedad de la eliminación de la enfermería profesional en un hospital
público
Marianne Lopes Chaves
Graduando em Enfermagem pela Faculdade
NOVAFAPI e-mail: [email protected]
Mônica Rodrigues de Araújo
Graduando em Enfermagem pela Faculdade
NOVAFAPI.
Susane de Fátima Ferreira de
Castro
Enfermeira. Mestre em Políticas Públicas. Docente da
Faculdade NOVAFAPI, email: susaneffcastro@hotmail.
com
Luciane dos Anjos Formiga
Cabral
Enfermeira. Especialista em Enfermagem Médico
Cirúrgica em Prevenção e Controle das Infecções
Hospitalares.
RESUMO
Estudo de natureza quantitativa, realizado em Teresina (PI), com o objetivo de analisar a ocorrência
e as causas de afastamentos por doença dos profissionais de enfermagem e conhecer as principais
patologias que esses profissionais são acometidos. Os dados foram coletados através da análise documental do livro de registro de atestados dos funcionários, dos atestados arquivados na gestão
de pessoas e através de formulários. Após a coleta, os resultados foram organizados em tabelas e
gráficos, e analisados e discutidos conforme as variáveis preponderantes. Quanto ao sexo, 93% dos
trabalhadores são do sexo feminino. A prevalência de atestados foi na UTI (17%). A principal causa
de absenteísmo foi a Convalescença após cirurgia (10%). Quanto ao número de dias, os maiores
índices foram de 6 a 30 dias de afastamento (48%). Com relação ao número de atestados médicos
apresentado, a prevalência foi de 1 atestado por funcionário. Concluiu-se que é importante o desenvolvimento de políticas e ações que tenham a saúde do trabalhador como foco, evitando-se assim o
aumento dos gastos públicos, a redução da assistência prestada ao usuário e proporcionando uma
melhor qualidade de vida a essa população.
Descritores: Saúde do trabalhador. Absenteísmo. Enfermagem.
ABSTRACT
Quantitative study, conducted in Teresina (PI), in order to analyze the occurrence and causes of sickness absenteeism of nursing professionals and know the main pathologies that these professionals are involved. Data were collected through document analysis of the register of certificates of
employees, the certificates filed in the management of people and through form. After collection,
the results were organized in tables and charts, and analyzed and discussed as the predominant
variables. Regarding gender, 93% of workers are female. The prevalence of certificates was in the
ICU (17%). The main cause of absenteeism was the convalescence after surgery (10%). Regarding
the number of days, the highest rates were from 6 to 30 days off (48%). Regarding the number of
medical certificates submitted, the prevalence was attested by an employee. It was concluded that
it is important to the development of policies and actions that have a focus on worker health, thus
avoiding the increase in government spending, reducing assistance to the user and providing a
better quality of life for this population.
Descriptors: Occupational health. Absenteeism. Nursing.
RESUMEN
Submissão: 06/08/2011
Aprovação: : 05/09/2011
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Estudio cuantitativo, realizado en Teresina (PI), con el fin de analizar la incidencia y las causas de
absentismo de los profesionales de enfermería y conocer las principales patologías que estos profesionales están afectados. Los datos fueron recogidos a través de análisis de documentos del registro
de los certificados de los empleados, el certificado que se presenten en la gestión de las personas y a
través del formulario. Después de la colección, los resultados fueron organizados en tablas y gráficos,
y análisis y discusión de las variables predominantes. En cuanto al género, el 93% de los trabajadores
son mujeres. La prevalencia de los certificados se encontraba en la UCI (17%). La principal causa de
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.24-29, Out-Nov-Dez. 2011.
Análise da ocorrência dos afastamentos por doença dos profissionais de enfermagem em um hospital público
ausentismo fue la convalecencia después de la cirugía (10%). En cuanto
al número de días, las tasas más altas eran de 6 a 30 días fuera (48%). En
cuanto al número de los certificados médicos presentados, la prevalencia
fue confirmada por un empleado. Se concluyó que es importante para el
desarrollo de políticas y acciones que tengan un enfoque en la salud de
los trabajador es, evitando así el aumento del gasto público, reducción de
la ayuda para el usuario y proporcionar una mejor calidad de vida de esta
población.
Descriptores: Salud ocupacional. El absentismo. de enfermería.
1
INTRODUÇÃO
A saúde no mundo tem evoluído em termos tecnológicos, com
avanços científicos por meios de diagnósticos e terapêuticas e cada vez
mais observa-se investimentos que possibilitam a prevenção, melhoria ou
cura das doenças. Estes avanços permitiram também investimentos na
saúde dos profissionais, buscando condições de trabalho e preservando
a saúde do trabalhador.
A saúde do trabalhador é o conjunto de atividades que se destina,
através de ações de vigilância e vigilância sanitária, à promoção e proteção
da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação
da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das
condições de trabalho (ANZAI, 2008).
A Política Nacional de Saúde do Trabalhador visa à redução dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, através de ações de promoção,
reabilitação e vigilância na área de saúde. Suas diretrizes compreendem a
atenção integral à saúde, a articulação intra e intersetorial, a participação
popular, o apoio a estudos e a capacitação de recursos humanos (BRASIL,
2004).
Na equipe de saúde, a enfermagem – enfermeiros, técnicos e auxiliares em enfermagem representam uma parcela significativa dos trabalhadores da saúde, atuando não somente no âmbito hospitalar, como
também a domicílio, exercendo atividades que exigem esforço e força
física tais como mudança de decúbito do paciente.
As doenças ocupacionais têm se tornado algo comum no ambiente hospitalar e em sua maioria acometem a equipe de enfermagem, uma
vez que esses profissionais lidam diretamente com o paciente, materiais
perfuro cortantes, equipamentos, soluções e outros (SILVA et al. 2010).
Segundo Mantovani e Teixeira (2009, p. 415) “Os enfermeiros compartilham os perfis de adoecimento e morte da população em geral, em
função de sua idade, gênero, grupo social ou inserção em um grupo específico de risco”. Estes prestam uma assistência ininterrupta 24 horas por dia
que visa o cuidado e recuperação sempre levando em conta o bem-estar
do paciente. Os profissionais são passíveis de alterações de saúde que
muitas vezes estão associadas à forma como reagem e respondem aos
eventos do trabalho. Vale ressaltar que o trabalho exerce forte influência
sobre a saúde, e que, se não exercido de forma adequada, os profissionais
podem adoecer ou morrer por causas relacionadas ao trabalho.
A ocorrência de acidentes e de doenças relacionadas ao trabalho
nos trabalhadores de enfermagem tem sido relatada em inúmeros estudos, evidenciando uma séria problemática no campo da saúde pública
que reflete, diretamente, na qualidade de vida do trabalhador e na qualidade da assistência prestada aos usuários. Isto porque os trabalhadores
são recursos para essa assistência e os processos de desgaste, ao gerarem
limitações e comprometimentos, implicam, muitas vezes, no afastamento
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.24-29, Out-Nov-Dez. 2011.
do trabalho, gerando o absenteísmo (SANCINETTI et al. 2009).
O processo de trabalho de enfermagem permite a interação do trabalhador com cargas de trabalho que geram diversos processos de desgaste e implicam na ausência do trabalhador. O absenteísmo por doença
compromete a qualidade de vida do trabalhador de enfermagem, o que
irá refletir na qualidade da assistência prestada aos usuários.
Diante dessa questão este estudo tem como objetivo de pesquisa
analisar a ocorrência dos afastamentos por doença dos profissionais de
enfermagem em um hospital público.
2
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa de natureza descritiva com abordagem
quantitativa realizado
em um hospital de referência do estado, localizado na cidade de
Teresina-PI.
O número de sujeitos da pesquisa está condicionado ao número de
atestados médicos apresentados pelos profissionais de enfermagem. Conforme dados da instituição, informou que recebeu 296 atestados médicos
no ano de 2010, representando cerca de 25 atestados por mês. Constituindo, portanto a fonte de dados da pesquisa.
Os critérios de inclusão utilizados foram todos os profissionais de
enfermagem de ambos os sexos, que se afastaram de suas atividades no
ano de 2010 mediante atestados médicos. Ficaram exclusos os que estão
fora deste período.
A população total de atestados era de 296, sendo que destes, 166
não foram usados porque não estavam preenchidos de forma correta, de
modo que 130 atestados compuseram a amostra do estudo.
Para a coleta de dados foi utilizada uma análise documental do livro
de registro de atestados dos funcionários de enfermagem e dos atestados
arquivados na gestão de pessoas, e ainda através de formulário, tendo as
variáveis: Código Internacional de Doenças (CID – 10) -patologia, número
de atestados, número de dias de afastamento, setor e sexo. Durante essa
coleta foi preservada a identidade dos profissionais envolvidos na pesquisa.
A coleta de dados foi realizada somente através dos atestados médicos apresentados pelos profissionais de enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem) no ano de 2010, não havendo, portanto
participação direta destes profissionais.
Após a coleta, os dados foram organizados em tabelas e gráficos,
utilizando o Microsoft Excel 2007 e os resultados apresentados foram analisados e discutidos conforme as variáveis preponderantes e suas interrelações, com a literatura pertinente.
Foram respeitadas as normas da Comissão Nacional da Ética em
Pesquisa (CONEP), contidas na resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde e a pesquisa só foi iniciada após autorização pelo Hospital Getúlio
Vargas de Teresina – PI. E aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
da Faculdade NOVAFAPI, sob nº de CAAE nº. 0189.0.043.000-11.
3
RESULTADOS
A seguir, apresenta-se os resultados da pesquisa, com a prevalência
dos funcionários que apresentaram atestados médico de acordo com o
sexo, setor de trabalho, diagnóstico médico, número de dias de afastamento durante o ano e reincidência de atestados apresentados por um
mesmo funcionário.
25
Chaves, M. L.; et al.
Gráfico 1. Prevalência dos funcionários que apresentaram atestados
médico de acordo com o sexo. Teresina-PI, 2011 (n=130)
Considerando que o total de atestados médicos analisados foi de
130, a tabela 2 mostra que a convalescença após cirurgia foi a principal
causa de afastamento 14 (10%), seguida de hipertensão essencial 10 (8%),
diarréia 10 (8%), além de pessoas em contato com serviços de saúde 5
(4%), dor lombar baixa 5 (4%), transtornos de discos lombares 4 (3%) e
por último dengue 4 (3%). As outras patologias somaram 78, o que correspondeu a 60%.
Gráfico 2. Número de dias de afastamento durante o ano. Teresina-PI, 2011(n =130)
Fonte: Pesquisa direta
O gráfico 1 mostra que dos 130 atestados que foram analisados
no estudo, 7% do grupo estudado são homens, enquanto que 93% dos
trabalhadores são mulheres.
Tabela 1 - Número de afastamentos dos funcionários segundo o setor de
trabalho. Teresina-PI, 2011 (n=130)
Setor
n
%
UTI
22
17,0
Cl. Médica
13
10,0
Cl. Cirúrgica
12
9,2
CME
12
9,2
Facime
10
7,7
Cl. Especializada
9
6,9
Neurologia
9
6,9
Ginecologia
8
6,2
Ortopedia
8
6,2
Dermatologia
5
3,8
Urologia
5
3,8
Oftalmologia
4
3,1
Ambulatório
3
2,3
Centro Cirúrgico
3
2,3
Pneumologia
3
2,3
Nefrologia
3
2,3
Endoscopia
Total
1
130
0,8
100
Na tabela 1 observa-se que o setor que mais apresentou atestado
médico foi a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), com um nº de 22 atestados, o que corresponde a 17,0% do total, logo seguida da Clínica Médica
com 13 atestados (10%); A Clínica Cirúrgica e CME (Central de Material
Esterilizado) apresentaram o mesmo número de atestados 12 (9,2%).
Tabela 2 – Percentuais dos atestados conforme o diagnóstico médico. Teresina-PI, 2011 (n =130).
Patologia CID 10
n
%
Convalescença após cirurgia
Z 54.0
14
10%
Hipertensão essencial
I 10
10
8%
Diarréia
A 09
10
8%
Pessoas em contato com os serviços de saúde Z 76
5
4%
Dor lombar baixa
M 54.5
5
4%
Transtornos de discos lombares
M 51.1
4
3%
Dengue
A 90
4
3%
Outras Patologias
78
60%
Total
130
100%
Fonte: Pesquisa direta
26
Fonte: Pesquisa direta
Em relação ao número de dias de afastamentos, os maiores índices
estiveram entre trabalhadores que possuíram de 6 a 30 dias de afastamento (48%), ou seja, um número menor que dois meses, 28% apresentaram
de 1 a 5 dias de afastamento, enquanto que 24% dos funcionários apresentaram 31 dias ou mais.
Gráfico 3. Reincidência de atestados apresentados por um mesmo
funcionário. Teresina-PI, 2011 (n =130)
Fonte: Pesquisa direta
O gráfico 3 mostra o nº de atestados médicos apresentado por funcionário durante o ano em estudo, em que predominou 1 atestado por
funcionário, ou seja, 67 trabalhadores apresentaram 1 atestado, 34 apresentaram 2 atestados, 23 apresentaram 3 atestados, 4 funcionários apresentaram 4 atestados e 1 trabalhador apresentou 5 atestados e um único
trabalhador apresentou 6 atestados durante o ano.
4
DISCUSSÃO
Na amostra em estudo, o predomínio foi de funcionários do sexo
feminino, estimativa já esperada, visto que essa predominância do sexo
feminino é característica da profissão enfermagem, o que está refletido
no local da pesquisa, pois a maior parte do quadro de enfermagem é do
sexo feminino.
O trabalho de enfermagem é marcante não somente por caracterizar-se como uma profissão essencialmente integrada por pessoas do sexo
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.24-29, Out-Nov-Dez. 2011.
Análise da ocorrência dos afastamentos por doença dos profissionais de enfermagem em um hospital público
feminino, como também pela especificidade das ações desenvolvidas no
dia-a-dia (GUERRER; BIANCHI, 2008).
Segundo Severino e Costa (2010), a predominância do sexo feminino na profissão da enfermagem continua como uma variável ainda universal, apesar da inclusão do sexo masculino está cada vez maior.
Vale ressaltar, ainda, que isto não significa que as mulheres adoeçam mais que os homens, mas que elas buscam com maior frequência os
serviços de saúde para realização de exames de rotina e prevenção, facilitando assim a identificação do diagnóstico e o tratamento precoce. No
entanto os homens procuram mais esses serviços por motivo de doença,
ou seja, quando o quadro da doença se encontra em estágio mais avançado ou grave, o que dificulta a possibilidade de recuperação.
Desde suas origens, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) se destina
ao tratamento e cuidado de pacientes gravemente doentes, em situação
limite. É vista como um local estressante, onde o profissional de saúde
pode, a qualquer momento, lidar com o agravamento do quadro do paciente e até a morte (MIRANDA; STANCATO, 2008).
Verifica-se que em setores críticos como a UTI, a equipe de enfermagem compõe a maior equipe de trabalho dentro da unidade onde a
responsabilidade e o nível de atenção exigido são elevados, apesar do
funcionário cuidar muitas vezes de apenas um paciente. As atividades desenvolvidas por esses profissionais exigem bastante esforço físico, como é
o caso da mudança de decúbito, banho no leito, número diário de trocas
de lençol, ou seja, procedimentos à beira do leito, que determinam um
ritmo de trabalho intenso, ficando o funcionário mais vulnerável a riscos
de lesões articulares, por exemplo.
O bom desempenho e a alta produtividade dos trabalhadores estão diretamente relacionados com o ambiente organizacional em que o
trabalhador está inserido. A jornada de trabalho em UTI é muito exaustiva
por existirem diversas intercorrências, submetendo o trabalhador a lidar
diretamente com a morte onde são vivenciados sentimentos como angústia e ansiedade. Situações estas que diariamente contribuem para o
estresse dos profissionais (FARIA; BARBOZA; DOMINGOS, 2005).
O segundo setor em que houve maior afastamento dos seus profissionais foi a Clínica médica. O perfil desta clínica são pacientes crônicos,
geralmente àqueles que permaneceram vários dias na UTI. Ou seja, são
pacientes altamente dependentes da assistência de enfermagem, estando
o número de profissionais reduzidos para o cuidado destes, o que sobrecarrega o trabalhador.
Para Torres e Pinho (2006), os setores que apresentaram os mais elevados coeficientes de licença médica, no período estudado, foram: Clínica
Médica e UTI. Essas diferenças podem ser explicadas pelas características
do trabalho nessas unidades, onde o ambiente é tenso com o manejo de
situações intensas e penosas, podendo contribuir com os transtornos de
ordem física, química e psicológica, aumentando os riscos de agravos à
saúde e afastamento do trabalho.
A clínica cirúrgica também está incluída nestes setores. Apesar da
rotatividade de seus
pacientes ser maior, eles ainda merecem cuidados especializados,
pois muitas vezes estão com drenos, sondas, grandes curativos. Tudo isso
exige atenção e uma boa assistência dos profissionais, que constantemente põe a sua mecânica corporal em prática, visando à recuperação de seus
pacientes, o que se não for feito de maneira adequada, poderá provocar
doenças ocupacionais ao longo do tempo.
Outro setor que mereceu destaque foi a CME (Central de Material
Esterilizado), pois é um local muito desgastante, devido a seu ambiente
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.24-29, Out-Nov-Dez. 2011.
fechado que restringe a interação social, trazendo desgaste físico e mental
aos seus funcionários.
De acordo com Lopes et al (2007), o trabalho desenvolvido na CME
torna-se rotineiro, monótono e fragmentado, com um grande número de
atividades a serem realizadas com urgência, rigor e responsabilidade, exigindo destes trabalhadores equilíbrio físico e mental no desenvolvimento
de suas atividades laborativas.
A causa principal dos afastamentos dos profissionais de enfermagem foi devido à convalescença após cirurgia, não sendo possível especificar, com as informações disponíveis, o procedimento cirúrgico ao qual
o funcionário foi submetido, por não estar devidamente registrado nos
atestados médico.
O estudo de Cunha (2007) mostra que a convalescença após cirurgia foi, isoladamente, o diagnóstico de maior freqüência, sendo este
confirmado em pesquisa de campo, revelando que 34% foram relativas
a cirurgias do aparelho digestivo, 26% do aparelho geniturinário, 11% do
sistema osteomuscular e 10% de condições decorrentes de causas externas.
A hipertensão essencial foi a segunda maior causa de afastamento
por doença. Isto é facilmente justificável, visto que a enfermagem é uma
profissão estressante. Para Cavagioni e Pierin (2011), os profissionais de
saúde que atuam em serviços hospitalares estão expostos a ambientes
conflituosos, alta exigência de trabalho, estresse físico e mental, alteração
no ritmo circadiano, dentre outros fatores que podem contribuir para o
surgimento da hipertensão arterial e consequentemente aumentar o risco
cardiovascular.
É válido afirmar também que muitos profissionais se afastaram de
suas atividades laborais por apresentarem episódios de diarréia. Esta condição se deve ao fato de que os profissionais alimentam-se muitas vezes
erroneamente, ou seja, não mantém um padrão de alimentação saudável
devido à correria do dia a dia. Tudo isto pode gerar uma imunidade baixa,
estando o trabalhador mais vulnerável a adquirir doenças.
As condições inadequadas de trabalho vivenciadas pelos profissionais de enfermagem podem acarretar em inúmeros problemas de saúde:
transtornos alimentares, de eliminação e estresse. Além disso, a equipe de
enfermagem encontra-se exposta a todos os tipos de riscos, físicos, biológicos, ergonômicos, psicológicos e de acidentes em seu ambiente de trabalho. Sendo assim, esses problemas podem afetar diretamente a saúde
dos trabalhadores, desencadeando o adoecimento e, consequentemente,
provocar o absenteísmo (MARTINATO et al. 2010).
Quanto ao número de dias dos afastamentos do trabalho verifica-se que a duração de 6 a 30 dias foi a prevalente. Tais dados podem sugerir casos crônicos ou agudos, necessitando assim que o trabalhador
mantenha-se afastado de suas atividades por mais dias, para uma melhor
investigação.
Em relação ao número de atestados, observou-se que um atestado
por ano é um evento passageiro, podendo acometer qualquer profissional
durante um ano de trabalho. No entanto a imprevisibilidade do atestado
médico de poucos dias desorganiza o setor, uma vez que a Gerência de
Enfermagem terá pouco tempo para recrutar outro profissional para cobrir a ausência na escala de serviço. Os afastamentos desfalcam as escalas
interferindo diretamente na assistência prestada ao cliente exigindo tanto
uma organização do setor de trabalho, quanto dos profissionais relativo à
quantidade e disponibilidade.
Alguns funcionários apresentaram reincidência de atestados, e isto
é visto como algo preocupante, pois após determinado período de afas27
Chaves, M. L.; et al.
tamento, o trabalhador necessita novamente ficar ausente do trabalho, ou
por não se recuperar totalmente ou por haver novos episódios da doença.
Barboza e Soler (2003) aponta que esse perfil de afastamento se
assemelha ao dos portadores de doenças crônicas, como a hipertensão, os
quais, após determinado período de licença, freqüentemente necessitam
permanecer ausentes por não estar em condições de retornar ao trabalho.
Esses dados são importantes para uma melhor com¬preensão
do fenômeno e para inter-venções no serviço mais significativas para a
prevenção efetiva das doenças no trabalho e na promoção da saúde dos
trabalhadores.
5
CONCLUSÃO
Segundo os objetivos definidos para este estudo verificou-se que
ocorreram 130 episódios de afastamentos do trabalho, por atestado médico, no período de janeiro a dezembro de 2010, envolvendo os trabalhadores de enfermagem. Tal fato revela que os profissionais de enfermagem
estão sujeitos a episódios de adoecimento dentro do seu próprio ambiente de trabalho.
Na análise dos afastamentos por doença, verificou-se que o sexo
feminino foi o predominante. O setor que mais apresentou atestado foi a
UTI. Em relação às principais causas de absenteísmo está a convalescença
após cirurgia, não sendo possível identificar que patologia levou esta cirurgia, pois os atestados analisados estavam isentos desta causa. A partir
do estudo realizado, foi constatado que uma parte dos atestados médicos
28
apresentava ausência de informações importantes para sua análise, desta
forma deve haver uma melhor capacitação dos profissionais quanto ao
preenchimento correto destes atestados.
A cerca do número de dias de afastamento, o estudo mostrou a
predominância de seis a trinta dias de atestado. A aproximação com o objetivo do estudo permitiu verificar que houve a reincidência de atestado
médico por um mesmo profissional. A partir disso, foi possível verificar
que esta reincidência é prejudicial para a instituição hospitalar, pois tem
que arcar com mais recursos financeiros, e principalmente para a saúde do
trabalhador, visto que ele necessitou ausentar-se de seu trabalho por mais
um episódio de doença.
Nesse sentido, os dados reafirmam a necessidade de desenvolver
estratégias de cuidado com os trabalhadores da instituição em estudo.
Muitas vezes, o foco das instituições hospitalares são os doentes, estando
seus trabalhadores em segundo plano. É necessária a adoção de medidas que visem diminuir as ausências da equipe ao trabalho por motivo de
doença, melhorando a qualidade da assistência, bem como seu nível de
satisfação no trabalho contribuindo para uma assistência de enfermagem
mais humanizada.
Entende-se que é extremamente importante o desenvolvimento
de políticas e ações que tenham a saúde do trabalhador como objeto de
atenção, incluindo estratégias de cuidado e proteção a esses trabalhadores de enfermagem, evitando-se assim o aumento dos gastos públicos, a
redução da assistência prestada ao usuário o que irá proporcionar uma
melhor qualidade de vida a essa população.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.24-29, Out-Nov-Dez. 2011.
Análise da ocorrência dos afastamentos por doença dos profissionais de enfermagem em um hospital público
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