iv rifib - Instituto Biológico

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ANAIS
IV REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO
INSTITUTO BIOLÓGICO
V ENCONTRO SOBRE DOENÇAS E PRAGAS DO CAFEEIRO
PROMOÇÃO:
INSTITUTO BIOLÓGICO
SINDICATO RURAL DE RIBEIRÃO PRETO
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO AGRONEGÓCIO DA REGIÃO DE RIBEIRÃO
PRETO
RIBEIRÃO P RETO - SP
26 A 29 DE JUNHO DE 2001
REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO
BIOLÓGICO, 4. ENCONTRO SOBRE DOENÇAS E PRAGAS DO
CAFEEIRO, 5. Ribeirão Preto, SP, 2001. Anais da IV Reunião
Itinerante de Fitossanidade do Instituto Biológico e do V Encontro sobre
pragas e doenças do cafeeiro. Coordenados por José Roberto Scarpellini,
Zuleide A. Ramiro, Amaury da S. dos Santos, Genésio A. de Paula e
Silva e Monika Bergamashi.
Ribeirão Preto, SP.
Instituto Biológico, 2001.
225p.
2
APRESENTAÇÃO
O Instituto Biológico, em parceria com o Sindicato Rural de
Ribeirão Preto e Associação Brasileira de Agronegócios da Região de
Ribeirão Preto promove o V Encontro Sobre Pragas e Doenças do
cafeeiro, juntamente com a IV Reunião Itinerante de Fitossanidade do
Instituto Biológico, com o objetivo de divulgar conhecimentos gerados
pelos seus técnicos, interagir com a comunidade científica e com
produtores rurais e técnicos que atuam nos principais segmentos
agrícolas da macroregião de Ribeirão Preto.
No momento em que, com a globalização se vislumbra a queda de
barreiras para comercialização agrícola entre países, maximiza-se a
importância da sanidade animal e vegetal, que poderá ser a grande
barreira na exportação e importação de produtos agrícolas. Os países e os
Estados mais preparados, com certeza vão sair na frente, bem como
aqueles adequados à competitividade, no que estes eventos estarão
divulgando técnicas e aprimoramento de tecnologias, que deverão reduzir
custos de produção e incrementar a produtividade agropecuária.
Foram muitos os temas propostos, quando do atendimento ao
convite, pela comunidade produtiva da agropecuária da macroregião de
Ribeirão Preto, mas com o apoio de representantes das cadeias
produtivas,
os
quais
encontram-se
participando
da
comissão
organizadora, um programa suscinto e dirigido a região foi obtido,
prestigiando a cultura do café, cana-de-açúcar; fruteiras, hortaliças,
aperfeiçoamento
de
tecnologias
ligadas
a
defensivos
amendoim, soja, milho e girassol, além do bloco da pecuária.
agrícolas,
Estes eventos, antes de tentar ensinar ao produtor, manejo,
técnicas e táticas para o melhor desempenho sustentado da nossa
agropecuária, pretendem aflorar subsídios para novas investigações e
pesquisas e tecnologias, enunciados por aqueles que vivem o campo dia
após dia, e sentem a dificuldade de alimentar milhões, portanto produtor
rural, nosso grande parceiro, estes eventos são seus, participe!!
AS REUNIÕES ITINERANTES DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO
BIOLÓGICO
Concebida como um instrumento de aproximação entre a pesquisa
e os diferentes elos da cadeia produtiva, em especial agricultores e
profissionais da extensão rural, as Reuniões Itinerantes de Fitossanidade
do Instituto Biológico, conhecidas como RIFIB, tiveram como embrião o
Simpósio sobre Controle de Pragas da Região do Paranapanema,
realizado em Assis no ano de 1994 e que discutia, de forma mais
específica, os problemas afetos ao controle de insetos, ácaros e
nematóides das culturas estabelecidas naquela região.
As Reuniões Itinerantes de Fitossanidade do Instituto Biológico
fazem parte de um projeto cujo objetivo é fortalecer o relacionamento
entre o Instituto Biológico (IB) e seus parceiros e usuários, em especial
os produtores rurais. Para isso, a RIFIB tem caráter itinerante, ou seja, ela
vai ao encontro do produtor e discute os temas levantados por eles
diretamente ou por seus representantes através de Sindicatos Rurais e
Cooperativas. Nesse processo também participam instituições oficiais e
empresas ligadas a cadeia produtiva.
Conhecer a demanda e a extensão dos problemas fitossanitários
que afetam as culturas de importância econômica para o Estado de São
4
Paulo sempre foi a missão do IB e que tem agora pela frente o cenário de
novos desafios marcados pela abertura do mercado internacional com a
globalização e a criação de blocos econômicos, onde as barreiras
fitossanitárias serão utilizadas na proteção de mercados.
Doenças e pragas, sejam exóticas ou nativas, são componentes
importantes quando se considera custos de produção e, muitas vezes,
limitam a produção de alimentos. Exemplo recente desta problemática foi
observada, na safra 97/98, em Miguelópolis, quando altas populações da
mosca branca atingiram as culturas de algodão e soja com severos danos
econômicos. Naquela oportunidade, o IB chegou a desenvolver alguns
trabalhos na região e a participar de discussões técnicas junto ao
Sindicato Rural de Miguelópolis. Foi a partir dessa época que iniciaramse os contatos para ampliar as discussões com vistas a outros problemas
fitossanitários que fossem do interesse dos produtores da região. Nascia
assim a RIFIB, tendo como primeiro parceiro o Sindicato Rural de
Miguelópolis e um programa composto por 19 temas, envolvendo as
culturas da soja, milho, feijão e algodão, abordados por 17 Pesquisadores
do IB, provenientes dos diferentes Centros de Pesquisa da Instituição.
Cerca de 120 participantes prestigiaram o evento.
A II RIFIB foi realizada em Marília, no período de 08 a 11 de
julho de 1999, e contou como parceiro na organização com a Cooperativa
dos Cafeicultores da região de Marília. Um público de 400 pessoas, em
sua grande maioria formada de produtores rurais, tiveram oportunidade
de assistir 21 palestras abordando diferentes temas entre os quais
nematóides, doenças, insetos e controle químico das plantas daninhas nas
cultura de café, melancia e amendoim. Nessa oportunidade foram
também apresentadas algumas palestras que escapavam ao tema sanidade
mas atendia às necessidades de esclarecimentos levantados pela
Coopemar. Com a colaboração de colegas de outras instituições da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, ESALQ/USP e
UNESP, Câmpus de Jaboticabal, foi possível atender a programação.
A III RIFIB teve lugar na cidade de Mogi das Cruzes entre 17 e
19 de outubro de 2000 com a participação de 200 pessoas. Através da
parceria com o Sindicato Rural daquela cidade foi elaborado um
programa técnico com base no perfil regional e nas sugestões levantadas
junto aos produtores da região do Alto Tietê, importante polo na
produção e abastecimento de hortaliças e frutas para a Grande São Paulo,
bem como na exportação de flores. Além da abordagem dos problemas
fitossanitários enfrentados pelos produtores de hortaliças, frutas, flores e
cogumelos da região um novo componente foi adicionado com a
reivindicação dos criadores de codorna para que o programa atendesse
aos problemas sanitários do setor. Ficava assim marcada a entrada da
área de sanidade animal do IB nas reuniões itinerantes.
Chegamos à IV RIFIB em junho de 2001, com sede em Ribeirão
Preto, e tendo como organizadores, além do IB, o Sindicato Rural e a
Associação Brasileira do Agronegócio da região de Ribeirão Preto. O
extenso programa a ser cumprido foi elaborado após a manifestação de
vários segmentos dos agronegócios e com a colaboração de instituições e
empresas do setor a quem agradecemos o envio de seus técnicos,
notáveis especialistas em sua área de atuação, imprescindíveis para o
êxito do Encontro. Como em todas as reuniões itinerantes já realizadas, o
aperfeiçoamento das tecnologias de aplicação de defensivos e os
cuidados especiais com a segurança na aplicação serão enfocados, da
mesma forma que as empresas terão seu espaço para apresentação de
6
novas tecnologias, principalmente na área de controle fitossanitário. Aos
organizadores externamos nosso reconhecimento pelo esforço e
dedicação com que se empenharam para assegurar aos participantes desta
reunião efetiva contribuição para o avanço do conhecimento e redução
dos problemas locais.
Antonio Batista Filho
Diretor
Centro Experimental do Instituto
Biológico
COMISSÃO ORGANIZADORA
COORDENADORES
José Roberto Scarpellini – IB/CAR/LSAV Ribeirão Preto
Zuleide A. Ramiro – IB/CEIB/LMI Campinas
Amaury da S. dos Santos – IB/CEIB/LF Campinas
Genésio A. de Paula e Silva – Sindicato Rural de Ribeirão Preto
Monika Bergamaschi – Associação Brasileira dos Agronegócios da
Região de Ribeirão Preto
MEMBROS
Agostinho Mário Boggio – COOPERCITRUS
Ana Maria de Faria – IB/CAR/LSAV Ribeirão Preto
Antonio Batista Filho – IB/CEIB
Carlos Gaeta Filho – EDR Ribeirão Preto - CATI
Célia Matilde Tegon C. Neves – EDA Ribeirão Preto - CDA
Denizart Bolonhezi – NAAM/IAC-Ribeirão Preto
Fernando Rodrigues Pavão – COCAPEC
José Carlos C. dos Santos – IB/CAR/LSAV Ribeirão Preto
José Eduardo Marcondes de Almeida – CEIB/IB
Mário Eidi Sato – CEIB/IB
Marçal Zuppi da Conceição – ANDEF
Nelson Wanderlei Perioto – IB/CAR/LSAV Ribeirão Preto
Oswaldo Alonso – CANOESTE
Ricardo Ribeiro Mendonça – CAROL
Rogéria Inês Rosa Lara – IB/CAR/LSAV Ribeirão Preto
Tiyo Okada Murakami – IB/CAR/LSAV Ribeirão Preto
AGRADECIMENTOS
A Comissão organizadora externa seus agradecimentos a todos
aqueles que contribuíram para o êxito desta reunião. Aos palestrantes
pelo pronto atendimento aos nossos convites e a todos os participantes,
agricultores, técnicos de empresas e entidades oficiais sem os quais este
encontro não faria sentido.
Finalizando,
agradecemos
a
todos
os
colaboradores
e
patrocinadores do evento, sem o que esta reunião não se realizaria.
Ø AEAARP
–
ASSOCIAÇÃO
DE
ENGENHEIROS,
ARQUITETOS E AGRÔNOMOS DE RIBEIRÃO PRETO
Ø ANDEF - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE DEFESA VEGETAL
Ø AVENTIS CROPSCIENCE DO BRASIL LTDA
Ø BASF BRASILEIRA S/A IND. QUÍMICAS
Ø BAYER DO BRASIL S. A. - PROTEÇÃO DE PLANTAS
8
Ø DOW AGROSCIENCES
Ø FMC DO BRASIL S/A INDÚSTRIA E COMÉRCIO
Ø HOKKO
DO
BRASIL
AGROPECUÁRIA LTDA.
INDÚSTRIA
QUÍMICA
E
Ø SENAR - SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM
RURAL – SÃO PAULO
Ø SEBRAE – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS DE SÃO PAULO
Ø SIPCAM AGRO S/A
Ø SYNGENTA PROTEÇÃO DE CULTIVOS LTDA
A redação e ortografia dos artigos são de inteira responsabilidade
dos respectivos autores
SUMÁRIO
OS NEMATÓIDES DE GALHA QUE INFECTAM O CAFEEIRO NO BRASIL 10
O AGRONEGÓCIO CAFÉ NO MUNDO : SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVA
20
MANEJO INTEGRADO DAS DOENÇAS BIÓTICAS E ABIÓTICAS DO CAFEEIRO
27
COLLETOTRICHUM EM CAFEEIRO
36
BREVIPALPUS PHOENICIS , ÁCARO VETOR DA MANCHA -ANULAR EM
CAFEEIRO
41
MÉTODOS ALTERNATIVOS DE APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS EM CAFEEIROS
52
MANEJO DE PRAGAS NA CULTURA DO CAFEEIRO
59
MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA CULTURA DO AMENDOIM
72
PRINCIPAIS DOENÇAS FÚNGICAS DO AMENDOIM E CONTROLE
83
MONITORAMENTO DE P RAGAS E DOENÇAS DO GIRASSOL CULTIVADO NA
“SAFRINHA ” 93
MONITORAMENTO E CONTROLE DE PROBLEMAS FITOSSANITÁRIOS DM
CULTURAS DE SAFRINHA : P RAGAS EM MILHO
100
DOENÇAS DO MILHO SAFRINHA NO ESTADO DE SÃO PAULO 113
MANEJO DE PRAGAS DE SOLO NA CULTURA DA SOJA 130
NEMATÓIDES NA CULTURA DA SOJA 142
DOENÇAS FOLIARES DA SOJA E SEU CONTROLE
147
PLANTIO DIRETO DE CULTURAS DE SUCESSÃO SOBRE PALHADA DE CANA
CRUA 158
BARREIRAS FITOSSANITÁRIAS NA COMERCIALIZAÇÃO NO MERCOSUL
169
CERTIFICADO FITOSSANITÁRIO DE ORIGEM 172
USO CORRETO E S EGURO DOS PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS 175
PRAGAS QUARENTENÁRIAS 179
TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS –
EQUIPAMENTOS TERRESTRES PARA PULVERIZAÇÃO - ASPECTOS CRÍTICOS
NA APLICAÇÃO DE D EFENSIVOS A GRÍCOLAS. 185
SITUAÇÃO ATUAL E CONTROLE DE CIGARRINHA DA CANA - DE-AÇÚCAR
201
CONTROLE DAS PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA CANA - DE-AÇÚCAR
210
MANEJO ECOLÓGICO DE PRAGAS DOS CITROS
220
MOSCA - DAS- FRUTAS EM FRUTICULTURA
228
MANCHA PRETA OU PINTA PRETA DOS CITROS
240
MOSCA BRANCA EM HORTALIÇAS 248
MANEJO DE PRAGAS EM CULTURAS DE TOMATE E PIMENTÃO
254
DOENÇAS FÚNGICAS DO TOMATEIRO E DO PIMENTÃO 267
CONTROLE DE I NSETOS VETORES DE VÍRUS EM HORTALIÇAS
281
SOLARIZAÇÃO DO SOLO NO CONTROLE DE FITOPATÓGENOS 290
MANEJO INTEGRADO :O PÇÃO OU NECESSIDADE PARA SE CULTIVAR
HORTALIÇAS EM AMBIENTE PROTEGIDO
299
MANEJO DA RESISTÊNCIA DO CARRAPATO BOOPHILUS M ICROPLUS A
ACARICIDAS 311
CLOSTRIDIOSES NA ESPÉCIE O VINA 318
EIMERIOSE O VINA
325
DOENÇAS DA REPRODUÇÃO 333
PROGRAMA NACIONAL DE M ELHORIA DA QUALIDADE DO LEITE 343
ESTUDO DAS TERAPIAS DA MASTITE CATARRAL DOS BOVINOS NA CLÍNICA
DE O BSTETRICIA E GINECOLOGIA DA ESCOLA SUPERIOR DE MEDICINA
VETERINÁRIA DE HANNOVER 355
RAIVA RURAL E URBANA
358
10
Os Nematóides de Galha que Infectam o cafeeiro no Brasil
Professor Assistente Doutor, Nematologista Jaime Maia dos Santos
Departamento de Fitossanidade, UNESP/Faculdade de Ciencias Agrárias
e Veterinárias, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n, CEP
14884-900 Jaboticabal - Sao Paulo. E- mail: [email protected]
1. Súmula Histórica
No final do século XIX, entre agosto de 1886 e novembro de
1887, Dr. Emil August Göldi, naturalista suíço que trabalhava no Museu
Nacional, no Rio de Janeiro, escreveu um documento que se tornou um
marco na história da Nematologia no Brasil e no mundo. Trata-se do
conhecido “Relatorio sobre a Molestia do Cafeeiro na Provincia do Rio
de Janeiro”. Esse documento contém a descrição de Meloidogyne Goeldi
g. n. e sua espécie tipo, M. exigua sp. n. A esse nematóide, o autor
atribuiu a causa da doença que vinha dizimando os cafezais da então
Província do Rio de Janeiro, desde cerca de 20 anos atrás (GOELDI,
1892). No citado relatório, o autor fez menção a existência de duas
formas da doença, nos seguintes termos:
“a) uma fórma chronica. O pé não morre sinão mezes depois
do apparecimento dos primeiros symptomas exteriores supra -citados
e alcança ás vezes o anno seguinte.
b) uma fórma aguda ou fulminante. O pé morre de repente
em 8 a 15 dias, sem antes ter apresentado distinctamente os
symptomas supra-citados”.
Sobre esse aspecto do problema, o autor ainda fez o seguinte
comentário:
"No principio da minha estada na zona da molestia do
cafeeiro - achava-me então (Agosto a Novembro de 1886) nas
grandes plantações da Serra Vermelha - eu tinha largamente
occasião de ver exemplos da primeira fórma; mas apezar de todos os
meus esforços não me foi possivel encontrar um unico exemplar da
segunda.
Mais tarde (Janeiro de 1887) achei um primeiro exemplo do
lado esquerdo do baixo rio Parahyba, entre Grumarim e Monte
Verde (Fazenda de Santa Theresa), e recentemente (Junho de 1887)
observei outros em enorme quantidade, maior mesmo do que a de
exemplares da fórma chronica."
Essas informações podem ser consideradas os primeiros fatos que
dão suporte à hipótese de que outras espécies de Meloidogyne Goeldi,
além de M. exigua, já estavam ocorrendo na região. De fato, das cerca de
80 espécies dos nematóides de galha descritas, 14 infectam o cafeeiro e,
dessas, seis ocorrem no Brasil. Além dessas seis, já se tem conhecimento
de, pelo menos, duas outras novas espécies por serem descritas em
cafeeiro, no Estado de São Paulo. Além desse considerável número de
espécies que ocorrem no País, outros fatos dão suporte a essa hipótese: 1)
a Nematologia, como Ciência, estava apenas “nascendo”, naquela época.
Não havia conhecimentos morfo-anatômicos dos fitonematóides,
suficientes para uma caracterização precisa das populações; 2) o gênero e
sua espécie tipo estavam sendo descritos na ocasião. Por conseguinte,
não se conhecia outras espécies, salvo Meloidogyne javanica (Treub,
1885) Chitwood, 1949 que havia sido descrita em Java, como Heterodera
javanica, infectando a cana de açúcar (Saccharum officinarum L.), dois
12
anos antes da conclusão do referido relatório (TREUB, 1885). Por
oportuno, o relatório de GOELDI (1892) contém, apenas, uma breve
menção desse fato; 3) provavelmente, a caracterização do gênero e de sua
espécie tipo foi feita com base no estudo de populações que causavam a
doença em sua “fórma chronica”, conforme a descrição dada pelo autor.
De fato, à época, tanto quanto atualmente, essa expressão da doença era
muito mais comum que a outra referida como “fórma aguda ou
fulminante” (GOELDI, 1892). Na Zona da Mata, Alto Paranaíba e Sul de
Minas Gerais, na maior parte dos cafezais do Espírito Santo, e na região
geo-econômica de Vitória da Conquista - BA, além de outras regiões
produtoras de café das Américas do Sul e Central, essa é, senão a única, a
forma predominante da doença; 4) não se reconhece, atualmente, a
“fórma aguda ou fulminante” da doença causada por M. exigua em
cafeeiros, conforme o relato de GOELDI (1892); 5) a agressividade de
populações de outras espécies de Meloidogyne ao cafeeiro (C. arabica),
tais como Meloidogyne incognita (KOFOID & WHITE, 1919) CHITWOOD,
1949, Meloidogyne coffeicola LORDELLO & ZAMITH, 1960 e de
Meloidogyne
paranaensis CARNEIRO et al., 1996, geralmente resulta
num quadro sintomatológico que mais se aproxima da descrição do autor
para a “fórma aguda ou fulminante” da doença, que de qualquer
expressão dos sintomas resultante da ação de M. exigua. Do exposto,
infere-se que, outras espécies de Meloidogyne, além de M. exigua,
também contribuíram para forçar a substituição da cafeicultura pela cana
de açúcar no Estado do Rio de Janeiro e, além disso, estiveram sempre
envolvidas entre as causas da mobilidade do principal pólo de produção
de café no Brasil. Com efeito, depois do Rio de Janeiro, o Estado do
Paraná tornou-se o principal pólo de produção de café, detendo o status
de maior produtor por vários anos.
As geadas, em conjunção com os nematóides, notadamente M.
incognita, M. coffeicola e M. paranaensis, e as crises do preços do
produto no mercado internacional, causaram enormes revezes à
cafeicultura no Estado do Paraná, levando os paulistas à liderança na
produção brasileira.
Em São Paulo, as geadas não foram tão determinantes para o
decréscimo na produção de café como o foram no Paraná. Os nematóides
de galhas (Meloidogyne spp.) devastaram a cafeicultura das regiões
conhecidas como Mogiana, Alta Paulista, Nova Alta Paulista,
Sorocabana, Noroeste e outras. Na região geo-econômica de Ribeirão
Preto, por exemplo, nos municípios de Adamantina, Cafelândia, Dracena,
Garça, Marília, Tupi Paulista, Vera Cruz, e muitos outros, os danos à
cultura foram devastadores. Os mineiros, então, passaram à liderança na
produção e ainda detêm o status de maiores produtores. Isso por não
terem as espécies mais agressivas disseminadas dentro de suas fronteiras
e, principalmente, pela expansão da cultura no cerrado. Dificilmente, o
Estado de Minas Gerais perderá a liderança na produção brasileira de
café. Primeiro, porque o Estado detém extensas áreas aptas para
cafeicultura que ainda não foram plantadas. Segundo, porque já há, hoje,
um razoável nível de conhecimento entre os médios e grandes
cafeicultores sobre o problema. Terceiro, porque grande parte dos novos
investimentos na cafeicultura, em áreas de fronteiras agrícolas, são feitos
por cafeicultores que vieram de áreas devastadas pelos nematóides e que,
naturalmente, vão se precaver contra a repetição do insucesso. Quarto,
porque o Estado de Minas Gerais criou uma estrutura invejável de
14
fiscalização contra a introdução de pragas e doenças em suas fronteiras
que, hoje, pode ser considerado um exemplo para todo o País. O IMA,
órgão da Secretaria de Estado da Agricultura em Minas, composto por
jovens idealistas e bem treinados, executam um trabalho de fiscalização
fitossanitária e educação dos agricultores mineiros que, inclusive, inspira,
hoje, a política de outros Estados para o setor. Há de se considerar,
também, o trabalho de uma geração de agrônomos que, no antigo IBC,
notadamente na décadas de 1970 e 1980, fincaram os alicerces da nova
cafeicultura no Brasil. O trabalho anônimo de muitos desses
profissionais, contando com a participação direta de outros Colegas do
Ministério da Agricultura de então, garantiram a não introdução em
Minas Gerais de espécies devastadoras de nematóides de galha do
cafeeiro, tais como M. incognita, M. paranaensis e M. coffeicola.
Somente nos anos de 1976 e 1977, no Estado de São Paulo, três
milhões de mudas de cafeeiro infestadas foram destruídas, para impedir a
dispersão dos nematóides de galha (CURI, 1982). Contudo, no Estado de
São Paulo, à época, os nematóides já estavam enormemente distribuídos
e, por conseguinte, os benefícios da prática não foram tão sentidos. Foi a
cafeicultura mineira a maior beneficiária dessa prática corajosa e
acertada.
2. Espécies de Meloidogyne que Infectam o Cafeeiro no Brasil
SANTOS & TRIANTAPHYLLOU (1992) relataram os resultados de
um estudo realizado no Departamento de Fitopatologia da Universidade
Estadual da Carolina do Norte, EUA, envolvendo 88 populações de
nematóides de galhas coletadas nos Estados do Paraná, São Paulo, Minas
Gerais, Espírito Santo e Bahia, em raízes de cafeeiro e/ou em plantas
daninhas dentro de cafezais. Com base nos fenótipos isoenzimáticos para
esterase, e em estudos morfo-anatômicos aos microscópios óptico e
eletrônico de varredura, identificaram 23 populações de M. incognita
(fenótipo isoenzimático para esterase classificado como I1); 17
populações de M. exigua (VF1); 13 populações de M. javanica (J3); 15
populações de uma espécie não descrita, na época, com o fenótipo
isoenzimático F1; 10 populações de outra espécie nova com o fenótipo
isoenzimático denominado, na ocasião, de S1M1 e uma população de
outra espécie nova que não exibia bandas de esterase. A espécie com
fenótipo F1, CARNEIRO et al. (1976) a descreveram e a nomearam M.
paranaensis e a população que não exibia bandas de esterase, SANTOS
(1997) a descreveu e a nomeou M. goeldii. Nenhuma das 13 populações
de M. javanica infectou o cafeeiro. Com efeito, nenhuma delas havia sido
recuperadas de raízes de cafeeiro mas, de plantas daninhas ou de
amostras de solo de cafezais. Assim, as espécies que infectam o cafeeiro
no Brasil são: M. exigua, M. incognita, M. coffeicola, M. hapla, M.
paranaensis e M. goeldii. Dessas, M. incognita, M. coffeicola e M.
paranaensis são as mais destrutivas.
3. As Práticas de Manejo de Nematóides em Cafezais
Em nosso País, onde as estratégias de manejo das populações
desses nematóides, no passado, foram baseadas, principalmente, em
métodos não químicos, a inexistência de pessoal treinado na identificação
das espécies, em parte, impediu o progresso na luta contra essas pragas.
Para utilização do manejo químico de nematóides, o conhecimento da
espécie presente não é um requisito. De fato, entre os nematicidas, não há
uma especificidade de produtos para esse ou aquele nematóide,
16
comparável à que se observa entre os inseticidas, acaricidas, fungicidas e
herbicidas. Ao contrário, na prática, considera-se que um certo
nematicida sistêmico tem a mesma eficiência para todos os nematóides
presentes numa gleba. As formulações, os ativos, e as técnicas de
aplicação, hoje, são muito mais eficazes do que eram há alguns anos. Em
culturas perenes infestadas, tais como cafeeiro e citros (nematóide dos
citros, Tylenchulus semipenetrans, e Pratylenchus spp.), não se pode
abdicar da intervenção sistemática com aplicação de nematicidas. Além
de prejuízos à produtividade, advindos dos danos causados pelos
nematóides, o encurtamento da vida produtiva da lavoura é uma perda
usualmente ignorada.
No presente, técnicas moleculares, notadamente a di entificação
dos fenótipos isoenzimáticos para esterase, a utilização da microscopia
eletrônica de varredura e o estudo de novos caracteres morfométricos e
anatômicos têm possibilitado significativo avanço na identificação de
espécies de Meloidogyne. Os programas de melhoramento, hoje, têm
muito mais chances de sucesso do que tiveram no passado, visto que, as
espécies contra as quais se estaria introduzindo um determinado gene de
resistência, hoje, podem ser identificadas com a precisão que não se tinha
no passado. Com isso, hoje pode se ter o conhecimento preciso da
distribuição das espécies, identificando-se as mais agressivas, contra as
quais o melhoramento deve ser priorizado, o que redundaria em muito
maior benefício para a cafeicultura de uma região. O enfoque pode ser
dado, inclusive, a nível de propriedade.
A utilização da enxertia do cafeeiro, como medida de manejo de
nematóides, iniciada na Guatemala em fins dos anos 50, conforme
STRAUBE & SCHIEBER (1959), citados por SCHIEBER (1966) e REYNA
(1966), citado por SCHIEBER (1968), foi aperfeiçoada na então Seção de
Genética do IAC de Campinas e garantiu a sobrevivência da cafeicultura
em muitas áreas em São Paulo e no Paraná. Os insucessos são atribuídos
às dificuldades para identificação precisa das espécies de Meloidogyne,
tanto na fase inicial de avaliação das linhagens de porta-enxertos, quanto
mais tarde, nas áreas onde os materiais enxertados foram plantados.
A enxertia do cafeeiro, no entanto, ainda não foi explorada no
todo. Com efeito, a alta resistência de C. canephora var. Robusta a
Pratylenchus coffeae, ainda não foi explorada no Brasil, visto que esse
nematóide, apesar de seu alto potencial destrutivo, ainda está muito
pouco distribuído nas regiões cafeeiras do País. A resistência de C.
canephora a M. exigua, também, ainda não está sendo explorada, visto
que é generalizada a crença que não se trata de um nematóide muito
nocivo ao cafeeiro. Contudo, a experiência tem mostrado que M. exigua,
também, pode comprometer a renovação de lavouras em áreas infestadas.
Essa ameaça paira sobre a cafeicultura do Sul do Estado de Minas Gerais
que, em sua grande parte, está em idade de renovação e tem M. exigua
amplamente distribuída por toda região. A renovação nos moldes
tradicionais, utilizando pé franco, certamente, vai significar uma
dificuldade a mais para a sobrevivência da cafeicultura na região.
A entrada de outros países no mercado de café e as mudanças de
hábitos dos consumidores, em relação à bebida, são ameaças reais aos
bons preços do produto no mercado internacional de café. Além disso, a
presença de M. exigua em altas populações, nas áreas em renovação do
Sul de Minas, vai exigir a aplicação de nematicidas, elevando,
consideravelmente, os custos de produção. Esses aspectos, não trazem
bons presságios para a cafeicultura da região.
18
Se examinarmos o rol de culturas perenes no Brasil, veremos que são
raríssimas as que não são enxertadas. O cafeeiro está entre essas. É
sabido e aceito que, em qualquer cultura muito melhorada, e poucas
perenes o foram quanto o café, o ganho de qualquer característica,
sempre ocorre em detrimento da perda de rusticidade. Com o cafeeiro
também foi assim. A enxertia de uma variedade de C. arabica em um
porta-enxerto de C. canephora var. robusta, certamente restitui ao
primeiro, parte da rusticidade perdida no melhoramento da cultura. De
fato, pesquisas em São Paulo já mostraram que a produção de parcelas
enxertadas de uma variedade de C. arabica, sobre o porta-enxerto de C.
canephora var. Apoatã, desenvolvido no IAC, produziu até cerca de 30%
mais que a mesma de C. arabica não enxertada, ambas plantadas em
áreas contíguas e não infestadas por nematóides. Esse benefício,
considerado um aditivo à resistência a M. exigua, os cafeicultores do Sul
de Minas, e de outras áreas infestadas em renovação, estão assumindo
que vão perdê- lo, também.
O plantio de Crotalaria spp., ou outras plantas antagonistas, nas
entrelinhas, não é uma prática eficaz no controle de Meloidogyne spp.
Isto porque os nematóides se concentram nas raízes e solo da rizosfera,
embaixo da copa do cafeeiro, onde a ação das raízes de uma Crotalaria
sp., plantada nas entrelinhas, não se dará. A ação das raízes de Crotalaria
spp. é endógena. Se os juvenis de segundo estádio dos nematóides não
penetrarem em suas raízes não serão afetados. Por conseguinte, culturas
perenes infestadas irão requerer um tratamento anual com nematicidas.
Nas áreas de fronteira, e em culturas não infestadas, a medida de manejo
mais eficaz é a prevenção. Atitudes de profissionais têm que ser adotadas
em todas as propriedades. As visitas devem ser restritas e cuidados
especiais têm que ser adotados no trânsito de máquinas e veículos e na
aquisição de mudas de plantas para quebra-vento. Os nematóides do
cafeeiro podem ser introduzidos na fazenda, também, em mudas de
frutíferas destinadas à implantação de um pomar, ou mesmo em mudas
de plantas ornamentais, destinadas aos jardins da sede, entradas da
fazenda e outros. Meloidogyne incognita, por exemplo, um dos
nematóides mais devastadores dos cafezais, infecta quase todas as
espécies de plantas dessas categorias e pode ser introduzida na fazenda
por mudas infectadas dessas plantas.
4. LITERATURA CITADA
CARNEIRO, R.M.D.G.; CARNEIRO, R.G., ABRANTES , I.M.O.; SANTOS,
M.S.N.A.; ALMEIDA , M.R.A. Meloidogyne paranaensis n. sp.
(Nemata: Meloidogynidae), a root-knot nematode parasitizing coffee
in Brazil. J. Nematol., 28: 177-189, 1996.
CURI, S.M. Coffee culture problems caused by root-knot nematodes in
Brazil. In: Research And Planning Conference On Root-Knot
Nematodes
Meloidogyne
spp.,
1982,
Brasília.
Proceedins...
Department of Plant Biology/University of Brasília, 1982. p.35-42.
GOELDI, E.A. Relatório sobre a molestia do cafeeiro na Provincia do Rio
de Janeiro. Arch. Mus. Nac., .8:1-21, 1892.
SANTOS, J.M. DOS. Estudos das principais espécies de Meloidogyne
Goeldi que infectam o cafeeiro no Brasil com descrição de
Meloidogyne goeldii sp. n. 1997. 153 f. Tese (Doutorado em
Agronomia) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade
Estadual Paulista, Botucatu, 1997.
20
SANTOS, J.M. DOS; TRIANTAPHYLLOU, H.H. Determinação dos fenótipos
isoenzimáticos e estudos comparativos da morfologia de 88
populações de Meloidogyne spp. parasitas do cafeeiro. Nematol.
Bras., 16: 88, 1992.
SCHIEBER, E. Nematode problems of coffee. In: GROVER JÚNIOR, C.S.;
PERRY, V.G. Tropical Nematology. Gainesville: Center for Tropical
Agriculture, 1968. p.81-92.
SCHIEBER, E. Nemátodos que atacan al café en Guatemala, su
distribuición, sintomatología y control. Turrialba, 16: 130-135, 1966.
TREUB, M. Onderzoekingen over serehzeik suikerriet gedaan in s’Lands
Plantentuin te Buitenzorg. Mededeelingen uit’s Lands Plantentuin,
Buitenzorg, .2: 1-39. 1885.
O AGRONEGÓCIO CAFÉ NO M UNDO: SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVA
Engenheiros Agrônomos e Pesquisadores Científicos Luiz Moricochi &
Sebastião Nogueira Júnior
Diretor do Centro de Estudos de Comercialização, Instituto de Economia
Agrícola. Av. Miguel Stefano, 3900. Cep 04301-903, São Paulo - SP.
Fone: 11-5073-8477/ 5073-0244. E- mail: [email protected]
1. Produção
Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
(USDA), a produção mundial de café no ano 2000 foi da ordem de 115
milhões de sacas. Não existe consenso, entretanto, em torno desse
número, inclusive com outras fontes estimando volume menor. O volume
maior do total produzido é representado pelo café arábico seguido do
café robusta/conilon, com mais de 40 milhões de sacas. O principal país
produtor de café é o Brasil com volume de 31,1 milhões de sacas,
segundo a EMBRAPA, cifra que poderia ter superado 40 milhões de
sacas, não fossem os problemas de clima ocorridos nos anos de 1999
(seca e geadas) e de 2000 (seca). Em seguida vem o Vietnã com mais de
13 milhões de sacas. Esse país produzia, 10 anos atrás, pouco mais de
1milhão sacas de café, surpreendendo, portanto, como novo e segundo
ator mais importante no cenário cafeeiro do mundo. Para se ter uma idéia
do dinamismo da cafeicultura vietnamita, basta citar que esse país supera
a Colômbia, hoje terceiro produtor mundial com menos de 12 milhões de
sacas, embora detendo apenas metade da área cultivada em relação ao
país sul- americano. Em seguida, como grandes produtores, destacam-se
Indonésia, México, India, Guatemala, Costa do Marfim, Etiópia e
Uganda. Esses 10 países respondem em conjunto por quase 80% da
produção mundial de café.
2. Consumo
Também, existem controvérsias quanto ao volume de café
consumido no mundo. A Organização Internacional do Café (OIC), por
exemplo, estima o consumo atual em 102 milhões de sacas contra 108
milhões de sacas de outras fontes. Desse total, \cerca de 25 milhões de
sacas são utilizados nos próprios países produtores.
Inúmeros são os fatores que influenciam o consumo de café no
mundo, tais como, preços, renda, população, hábitos de consumo,
qualidade do produto, novos produtos, educação, preço de bebidas
alternativas e marketing. É mais do que óbvia a importância dos fatores
preço, renda e população afetando o consumo. Entretanto, é preciso estar
22
atento para o fato de que os mesmos isoladamente podem ser até menos
determinantes do que a ação em conjunto dos demais fatores. Um
exemplo: o preço do café no varejo americano subiu, em valor real, cerca
de 13% entre os anos de 1946 e 2000. Com esse incremento de preço e
levando-se em consideração o coeficiente de elasticidade - preço da
demanda de café, estimada em –0,373 pelo Banco Mundial, poder-se ia
esperar que o consumo americano de café experimentasse uma queda da
ordem de 5% no período. No entanto, a redução no consumo foi bem
maior, da ordem de 50%, passando de 8 para 4 kg per capita! No caso
estadunidense, dois outros fatores foram determinantes para diminuir o
consumo de café: a perda de qualidade da matéria-prima utilizada na
indústria e a concorrência das bebidas alternativas que tinham um apelo
maior para os jovens, representadas principalmente pelos “soft drinks”
(refrigerantes e isotônicos de modo geral). Acrescente-se ainda que a
acirrada concorrência entre as diferentes marcas dessas bebidas através
da mídia acabava penalizando ainda mais o uso de café.
O hábito de consumo, por sua vez, é importante variável a ser
considerada nos estudos de demanda de café. A respeito disso, é
importante destacar que enquanto em alguns países esse costume tem que
ser criado e/ou estimulado, em outros tem que ser pelo menos mantido.
No primeiro caso, pode ser citada a China, que tem apresentado elevado
incremento na demanda (fala-se em mais de 15% no último ano) embora
seu volume total seja ainda baixo (estimativas tem variado entre 400 mil
e 600mil sacas) a despeito de sua elevada população (mais de 1,2 bilhão
de pessoas). O país possui uma cultura inteiramente voltada para a
ingestão de chá, devido à ainda bastante arraigada crença de que o café
faz mal a saúde. A mesma situação ocorre praticamente em toda a Ásia
com exceção do Japão. Entretanto, entre os países que ainda tomam
pouco café, embora com mercado mais promissor a prazo mais curto,
pode ser citada a Rússia que consome apenas 300g per capita. Com o seu
processo de recuperação econômica, a Rússia vem experimentando
expressivo incremento na utilização do café, com a vantagem da
existência de menores barreiras culturais na sua utilização, quando
comparada com a China.
No norte e no oeste da Europa, entretanto, o consumo, apesar de
elevado, encontra-se estagnado. A saída para esses casos seria procurar
novas formas de apresentação da bebida. O café solúvel, cujo consumo
mundial ultrapassa hoje 18 milhões de sacas (equivalente- café verde), é
resultado de esforços da pesquisa, iniciados no começo do século
passado, mas com resultados comerciais práticos alcançados somente
nos anos 30 quando houve superprodução de café no Brasil. Outro
exemplo de inovação é o café enlatado, consumido na forma gelada e que
responde por 1/3 do consumo de café no Japão, apreciado principalmente
pelo segmento jovem da população e que movimenta mais de US$10
bilhões. Segundo alguns analistas, a reativação no consumo de café na
Alemanha que se observa no momento deve-se à criatividade da sua
industria que tem disponibilizado uma gama enorme de novas
alternativas para consumo, como, por exemplo, café com leite, café com
creme e capuccino com diferentes aromas, entre outras. A produção de
solúvel teria dobrado nos últimos 10 anos na Alemanha graças a essas
formas diferenciadas de utilização e que, no conjunto, respondem por
mais de 70% das vendas de solúvel. Esses exemplos são citados apenas
para mostrar que a inovação seria a saída para ativar os mercados que
24
apresentam elevado consumo per capita, mas que se encontram
estagnados.
A educação, na medida em que tem influência direta na renda
individual ou familiar, é também fator importante no consumo de café.
Mas uma variável decisiva, que deveria ser encarada com maior
seriedade, pois envolve todos segmentos, refere-se ao marketing. O café
colombiano tornou-se conhecido no mundo graças aos recursos da ordem
de US$ 40 milhões (hoje o montante de recursos é menor) gastos
anualmente no passado para a sua divulgação no exterior. Entretanto, o
grande desafio do setor é o desenvolvimento de ações conjuntas para
aumentar a demanda total do produto, tendo como principal foco
despertar o interesse da população jovem.
Finalmente,
devem
ser
desenvolvidas
ações
nos
países
produtores, visando mudar de forma radical seus padrões de consumo.
Não se concebe que países como Colômbia, Indonésia, Vietnan e
México, entre outros, mantenham baixa proporção de consumo em
relação a sua produção. É provável que o mercado mundial de café não
estivesse com os preços tão aviltados se houvesse um esforço dos países
produtores para aumentar o seu consumo interno, com ganho adicional
estimamados empiricamente em 13 a 15 milhões de sacas.
3. Preços
Sem maiores considerações de natureza teórica, pode-se dizer que
o ajuste entre as condições de oferta e demanda de qualquer bem
econômico se faz basicamente via preços. Obviamente que existem
momentos em que, baseando-se em expectativas verdadeiras ou não, se
queira tirar proveito de determinada situação. Mas, se essas expectativas
não estiverem bem aderentes às reais condições de oferta e demanda, o
resultado será o fracasso total. Imagine-se por exemplo a seguinte
situação hipotética: o volume de equilíbrio mundial (sem excesso ou
escassez de café) é da ordem de 100 milhões de sacas anuais (lembrando
que esse número é apenas hipotético), o consumo de café cresce 1,5% e a
oferta aumenta 5% ao ano. Cinco anos depois, a produção aumentará
para 128 milhões de sacas, enquanto que o consumo mal chegará aos 108
milhões de sacas. Seriam 20 milhões de sacas de diferença em apenas 5
anos! Teoricamente, essa situação de excesso de produto poderia ser
contornada pelo desenvolvimento de ações tanto do lado da demanda
quanto do lado da oferta. Entretanto, como são ações de caráter mais
estrutural do que conjuntural não resolveriam o problema a curto prazo.
Do lado da oferta, por exemplo, o problema seria atenuado se houvesse
uma coordenação forte e consciente de planejamento da produção,
visando dissuadir os produtores a aumentar afoitamente a área de café
quando os preços se encontrassem bem acima dos custos de produção.
Contudo, como esse planejamento é ainda inexistente e até utópico
devido aos interesses particulares, o mercado se alterna entre períodos de
preços extremamente favoráveis e desfavoráveis. Esses preços atingiram
US$400 em janeiro de 1986, caíram para US$40 em 1992 e voltaram a
subir até atingir US$200 em maio de 1997, quando teve início a fase
descendente que perdura até os dias de hoje. Essa fase negativa deve
durar até que seja desovada (?) uma grande safra mundial, que ainda está
por vir, se não houver quaisquer contratempos de clima e outra
intempéries. A partir daí, seguramente, o ciclo se repetirá com nova fase
de preços ascendentes. Entretanto, se houver alteração nas expectativas
de grande safra, em decorrência de problemas climáticos (secas
26
prolongadas, geadas, terremotos, furacões etc), poderá ocorrer reversão
mais cedo no ciclo de preços. No mundo todo (inclusive Vietnan), o café
já vem enfrentando sérios problemas de preços. No caso particular dos
produtores brasileiros, essas dificuldades foram agravadas pelo
inconveniente Plano de Retenção conduzido pela Associação dos Países
Produtores de Café (APPC) e apoiado firmemente pela maior parte das
lideranças do setor e pelas autoridades brasileiras. Só a partir de abril
próximo passado é que o Brasil procurou encontrar uma saída para essa
armadilha, embora seja impossível recuperar os prejuízos causados pelo
referido Plano. Estimam-se que mais de US$ 380 milhões deixaram de
ser internalizados pelo setor produtivo em momento mais oportuno.
4. Conclusão
O setor cafeeiro está passando por situação bastante delicada. Mas
a história econômica desse produto mostra que isso sempre acontece, ou
seja, momentos de grandes dificuldades são quase que inevitáveis como
decorrência de fase expansionista que os antecede. É reconfortante,
entretanto, saber que chegarão de novo os momentos em que haverá
recuperação de preços. É preciso estar preparado essa situação.
Gerenciamento dos negócios é palavra- chave nessa conjuntura: saber
comprar bem os insumos, evitar desperdícios na propriedade e ficar
atento às oscilações de mercado. Assim procedendo, certamente o
produtor fará com que a atual “crise” se transforme em boas
oportunidades de negócio, conforme também é o significado dessa
palavra no ideograma oriental.
5. Literatura Consultada
COFFEE BUSINESS. Rio de Janeiro. Oficina de Comunicação e
Marketing, 2000
MORICOCHI, LUIZ; MARTIN,NELSON B; VEGRO, C ELSO L. R. Políticas de
Intervenção No Mercado de Café. Anuário Estatístico do Café 20002001 6. Ed Rio de Janeiro, p./28-37,2000.
MUIR, K.S. Coffee Consumption: more than we think? F.O.Licht
International Coffee Report , 15: 171-179, 2000
VEGRO, CELSO L. R.; MARTIN, NELSON B;& MORICOCHI, L.. Sistema de
Produção de Café: estudos de custos e competitividade. Informações
Econômicas, 30: 37-44. 2000.
M ANEJO INTEGRADO DAS DOENÇAS BIÓTICAS E ABIÓTICAS DO
CAFEEIRO
Laércio Zambolim
Professor Titular do Departamento de Fitopatologia da Universidade
Federal de Viçosa, Viçosa –
MG, CEP 36.570-000,
E-mail:
[email protected].
Produzir café com qualidade mantendo a sustentabilidade da
lavoura com menor agressão ao meio ambiente é fator vital para a
economia cafeeira no mundo moderno. Tornou-se importante não só
aumentar a produtividade, mas reduzir os custos de produção, buscar
constantemente a qualidade para que novos mercados possam ser
identificados, e atenção às demandas da sociedade, para que o seu bemestar seja atingido. Além disto, a utilização de técnicas e métodos
28
modernos de manejo devem ser equilibradas, de tal maneira que o meio
ambiente não seja agredido, mas conservado (Tabela 1).
Tabela 1 – Sucesso na cafeicultura para se buscar a sustentabilidade
Produtividade
Aumento
Custo de Produção
Redução
Qualidade
Busca Constante
Bem-estar
Sociedade
Identificação
Novos Mercados
Conservação
Meio ambiente
Sustentabilidade
A qualidade que tanto se busca e que tanto se espera do produto
final é função de todos os fatores de produção que são empregados na
cafeicultura. Desde a escolha da variedade (característica genética), do
local de plantio, da fertilização, do controle fitossanitário até a escolha do
tratamento que é dado ao café na colheita, do beneficiamento, da
armazenagem e do meio ambiente irão influenciar a qualidade.
As doenças do cafeeiro vêm ao longo dos anos, afetando a
qualidade e a produtividade do café. A busca da qualidade e da
sustentabilidade na cultura do café tem como pilar de sustentação do
Manejo Integrado. No Manejo Integrado, como enfatiza KOGAN (1988),
todos os esforços devem ser buscados para que tais objetivos sejam
atingidos: o econômico, o ecológico e o sociológico. Na medida em que
se procura produzir com qualidade observando a relação custo/benefício,
a ecologia da região, o emprego de práticas de conservação do solo e da
água em todos os sentidos e da lavoura cafeeira, e o bem-estar da
sociedade (o consumidor), o cafeicultor está preparado para enfrentar a
globalização. As doenças podem ser de natureza biótica ou infecciosa e
de natureza abiótica ou não- infecciosa. As doenças de natureza bióticas
mais comuns são: a ferrugem ainda é a principal doença biótica que
incide no cafeeiro, desde sua descoberta no Brasil, há mais de 30 anos,
com predominância da raça II de Hemileia vastatrix; a mancha-de-olhopardo pode surgir nas lavouras com deficiência nutricional; a mancha de
Phoma, em talhões da lavoura sujeitos a ventos frios; a mancha de
Ascochyta e mancha Aureolada em regiões com alta umidade e chuvas
finas constantes; a mancha anular ocorre em reboleiras nas lavouras
sendo transmitida por acaro, com ocorrência esporádica, e os nematoides
de galhas com maior severidade em solos arenosos. As doenças de
natureza abióticas comumente observadas a campo destacam-se: seca de
ramos ortotrópicos e plagiotrópicos, murcha e seca das plantas, declínio
da planta e da produção, queda de frutos, amarelecimento e escaldadura
de folhas. Há ainda outras doenças, de importância secundária, que só se
manifestam sob certas condições. O amarelinho do cafeeiro, cujo agente
causal a bactéria fastidiosa, Xyllela fastidiosa, segundo a literatura pode
ser encontrada no xilema das plantas depauperadas nutricionalmente e
pouco vigorosas, e a antracnose cujos sintomas de necrose dos ramos e
frutos apresentam associação com espécies de estirpes fracas do gênero
Colletotrichum. Frequentemente nas áreas necrosadas têm sido isolados
30
as espécies C. gloeosporioides e C. acutatum. Tais espécies de
Colletotrichum têm sido isoladas de frutos em formação, desde a fase de
chumbinho até a maturação sugerindo que o fungo penetra durante a
floração permanecendo no estado latente dentro de fruto, e de ramos com
ou sem sintomas de necrose, sugerindo que o fungo também é endofítico
nos ramos e manifesta os sintomas de necrose após a planta ter sofrido
algum estresse (estiagem prolongada) ou sob condições de extrema
umidade causada por chuvas finas constantes por vários dias.
Os principais fatores de produção que devem ser observados na
produção do cafeeiro são: 1 – plantio de variedades superiores; 2 –
nutrição adequada e equilibrada; 3 – espaçamento compatível com a
variedade, o tipo de solo, a topografia e o tipo de colheita; 4 – o clima
onde a cultura será implantada; 5 – intensidade de doenças, pragas e
plantas daninhas; 6 – características físicas do solo; 7 – disponibilidade
de água no solo; 8 – teor de matéria orgânica no solo; 9 – topografia da
região; 10 – altitude; 11 – exposição solar em que a cultura é instalada; e
12 – o potencial genético da variedade.
As doenças vão em maior ou menor grau proporcionar a redução
na produtividade, dependendo da suscetibilidade da cultivar e do clima
da região. De um modo geral, a ferrugem reduz de 35 a 40% da
produção; em anos com déficit hídrico acentuado pode-se chegar a 50%.
O pico de máxima intensidade da ferrugem varia de região para região e
está em função do clima, da altitude, e se a variedade é precoce, média ou
tardia etc. Devido a estes fatores o controle de doença deve ser feito,
baseando-se no clima, na fenologia da planta e na amostragem de folhas.
Em anos agrícolas de alta carga da lavoura, a ferrugem atinge a
severidade máxima próximo à colheita; em anos de baixa produtividade,
a ferrugem pode não atingir nível de controle (5 – 10% de folha com
ferrugem). Em se tratando da mancha de Phoma, prejuízos de 10 – 50%
podem ocorrer, dependendo das condições do local em que a cultura é
implantada. Em locais sujeitos a ventos frios constantes, em altitudes
superiores a 1000m, a cultura pode tornar-se inviável. Em altitudes
inferiores a 1000m a doença também pode ocorrer, mas com menor
severidade, principalmente em plantas localizadas na direção dos ventos
e na periferia das lavouras. Em lavouras não sujeitas a ação de ventos o
controle químico só é viável, quando a porcentagem de infecção atingir
10 – 20%. A mancha-de-olho-pardo ocorre na cultura do café no campo
e, em mudas, se ocorrerem as seguintes condições: deficiências
nutricionais e desequilíbrio nutricional e em exposições sujeitas à intensa
insolação, principalmente lavouras na exposição poente. Nestas
condições ocorre rápida perda de água das folhas e frutos, o que
predispõe as plantas ao ataque da mancha-de-olho-pardo, levando à
desfolha e consequentemente seca de ramos e queda de frutos. Manchade-Ascochyta – trata-se de uma doença muito comum em viveiros e no
campo em lavouras formadas sob condições de extrema umidade. O
excesso de irrigação em viveiro, principalmente em mudas formadas em
tubetes, pode predispor as mudas no ataque da doença, levando-as à
morte prematura. Sob condições de campo, a doença pode ocorrer
também quando as lavouras são adensadas a semi-adensadas e quando
ocorrer de 10 a 15 dias de chuvas finas e freqüentes com a formação de
nevoeiro. Atualmente, a doença tem sido muito destrutiva na região
cafeicultora de Vitória da Conquista na Bahia. A mancha aureolada surge
na cultura do café quando as plantas são injuriadas por chuva de pedra,
pelas rodas dos pivôs centrais ao passar sob as plantas, por implementos
32
agrícolas, principalmente sob condições de irrigação por pivô central. O
adensamento das plantas também contribui para o aumento da severidade
da mancha aureolada. Como a doença é causada por uma bactéria, injúria
e presença de água são necessários para a penetração e infecção. Os
nematóides do gênero Meloidogyne que atacam o cafeeiro, devem ser
identificados em nível de espécie para que sejam tomadas as medidas de
controle específicas. De um modo geral, tais nematóides causam maiores
prejuízos sob condições de solo arenoso ou argiloso arenoso. O ácaro da
leprose transmite o vírus da mancha anular que provoca desfolha e queda
de frutos. Torna-se necessário, portanto, identificar o ácaro da leprose nas
folhas, proceder a amostragem para se determinar se a praga atingiu ou
não o nível de controle para que acaricidas específicos sejam
recomendados ou não.
Uma das medidas recomendadas para o controle da ferrugem e do
bicho mineiro do cafeeiro é a aplicação de fungicida sistêmico misturada
à inseticida sistêmico, no solo, no início da estação chuvosa. Entretanto,
tal medida tem afetado a sustentabilidade da lavoura quando a mistura é
empregada por vários anos consecutivos (4 – 5 anos) em anos de alta e de
baixa carga da lavoura. O cafeicultor ao empregar tal medida não leva em
consideração a severidade da ferrugem e nem do bicho mineiro, pois os
produtos são aplicados antes do surgimento da doença e da praga.
Portanto, neste tipo de recomendação não se leva em consideração o
nível de equilíbrio e nem o nível de controle, fatores essenciais no
manejo integrado.
As principais doenças abióticas que incidem no cafeeiro são a
seca de ramos plagiotrópicos e ortotrópicos, seca de ponteiros, declínio
das plantas, amarelecimento das plantas, queda prematura de frutinhos,
seca repentina das plantas, escaldadura das folhas e murcha das plantas.
Tais doenças podem ser causadas por vários fatores tais como ventos
frios, raízes tortas, sistema radicular deficiente, camada adensada do solo,
altitude elevada com ventos frios, sulcos e, ou, covas rasas, deficiências
nutricionais, raios, chuva de pedra, insolação intensa e constante das
plantas, seca prolongada, baixas temperaturas e queima por misturas de
defensivos agrícolas (Tabela 2).
Para se proceder o manejo integrado das doenças do cafeeiro
deve-se observar os seguintes pontos: cuidado com a exposição poente da
lavoura; proceder o sulcamento e a formação de covas adequados;
empregar plantas do tipo quebra-vento e que possa também reduzir a
insolação na lavoura; fertilização e calagem do sulco de plantio ou das
covas; emprego de matéria orgânica no plantio quando for possível;
proceder a fertilização de acordo com a análise do solo e foliar; uso de
micronutriente foliar de acordo com a análise (cobre, zinco e boro são
essenciais para quase todas as regiões). O manganês é essencial para
algumas regiões do cerrado; proceder amostragens para se determinar a
necessidade de atomização de defensivos para a ferrugem, mancha-dePhoma, mancha-de-Ascochyta, ácaro da leprose transmissora do vírus da
mancha-anular e mancha-de-olho-pardo. As atomizações devem ser
feitas também, levando-se em consideração o clima, regime de chuvas,
fenologia da planta, altitude, nível nutricional das plantas, espaçamento,
topografia da região e carga pendente; e deve-se levar em consideração
também a área a ser tratada com fungicidas. Áreas muito extensas,
superiores a 500 mil plantas demandam grande quantidade de máquinas
para cobrir toda a área para o controle de doenças e correções de
deficiências nutricionais. Além disto, o tempo envolvido nas atomizações
34
é longo, e em muitos casos o cafeicultor não colocará o produto em
tempo na planta para o controle de uma praga ou doença. Daí a
necessidade de se realizar o planejamento da lavoura para se proceder o
controle fitossanitário. No planejamento, neste caso, deve-se levar em
consideração as aplicações de defensivos via solo e via foliar, quando
necessários.
Tabela 2 – Doenças abióticas ou não infecciosas do cafeeiro e suas
causas.
Doenças
Prováveis Causas
abióticas
Seca
de
ramos Ventos frios no inverno e na primavera
ponteiro
Altitude elevada associada a ventos frios
Chuva de granizo
Alta carga de frutos associado a deficiência
nutricional
Déficit hídrico
Camada adensada do solo
Covas ou sulcos rasos
Baixas temperaturas
Raízes tortas e sistema radicular pouco desenvolvido
Deficiência e desequilíbrio nutricional
Queda prematura Deficiência e desequilíbrio nutricional antes do
de chumbinhos
florescimento
Estresse hídrico associado a altas temperaturas
Predominância de chuvas finas e constantes por
longo período (apodrece o pedúnculo facilitando o
ataque de Colletotrichum e outros fungos e
bactérias)
Ataque de fungos tais como Phoma, Cercospora e
vírus da mancha anular.
Óvulos não fecundados.
Declínio
das Raízes pouco desenvolvidas e ou tortas
plantas
Ataque de nematóides
Deficiência e desequilíbrio nutricional
Ataque de mosca-do-berne
Escaldadura
das Insolação intensa
folhas em plantas
(até 1 ano)
Murcha
das Estresse hídrico
plantas
(anos
Predominância de alta temperatura
de
alta Solos arenosos
carga de frutos)
Faísca elétrica
Afogamento do coleto das plantas
Pião torto
Raízes tortas
Camada adensada no solo
Covas rasas
Amarelecimento
Deficiência nutricional
Déficit hídrico
Toxidez
causada
por
fertilizantes,
herbicidas,
micronutrientes por via foliar, fungicidas etc.
36
Faísca elétrica
COLLETOTRICHUM EM CAFEEIRO
Pesquisador Científico Osvaldo Paradela Filho
Eng. Agrônomo, Instituto Agronômico de Campinas, Av. Barão de
Itapura, 1481; Campinas, SP. E- mail: [email protected]
Entre os patógenos que afetam o cafeeiro diferentes espécies do
gênero Colletotrichum têm-se destacado ultimamente, podendo, em
determinadas condições causar perdas na produtividade.
No Brasil, vários isolados do fungo já foram identificados. Esses
isolados foram referidos como formas das espécies Colletotrichum
coffeanum e Colletotrichum gloeosporioides.
Na África já foram definidos três isolados considerados como
formas das espécies Colletotrichum gloeosporioides, Colletotrichum
acutatum e Colletotrichum kahawae (sin. Colletotrichum coffeanum).
Colletotrichum kahawae causa a doença denominada CBD
“Coffee Berry Disease”, no Quênia, na Etiópia e em outras regiões de
elevada altitude da África. Dependendo da virulência do isolado, pode
destruir e derrubar até 80% dos frutos cerejas.
As Doenças e os Sintomas
A doença mais antiga atribuída a esse fungo é a “seca dos ramos”
ou “seca dos ponteiros”. Os sintomas são desfolhamento e morte
descendente dos ramos. Esse tipo de sintoma também é atribuído a
algumas espécies do gênero Phoma. Esse isolado de Colletotrichum
sempre foi reconhecido como um saprófita que habita a casca do
cafeeiro,
afetando
ramos
quando
favorecido
por
ferimentos,
principalmente em períodos de umidade elevada.
Outra
denominação
de
doença
conhecida
causada
por
Colletotrichum spp. é “antracnose”. O fungo incide sobre ramos e frutos
que sofrem injúrias. Também provoca manchas irregulares necróticas
próximas às margens das folhas. Em folhas novas de ramos novos, o
fungo provoca abscisão. Finalmente, em plântulas de viveiros e
sementeiras ele induz o aparecimento de manchas pardas no caule que
podem levar a plântula à morte. Esses sintomas são atribuídos a isolados
dos fungos Colletotrichum gloeosporioides e Colletotrichum kahawae.
Como ocorre com a “seca dos ramos”, os isolados dos fungos
causadores da antracnose também foram reconhecidos por outros
pesquisadores como fungos que normalmente se encontram nas lavouras
como saprófitas, mas podem passar a causar danos em lavouras mal
manejadas. Em regiões altas, a incidência é maior porque apresenta mais
umidade e temperaturas amenas.
A possível mistura de isolados de Colletotrichum spp. que ocorre
no Estado de São Paulo tem permitido a observação no cafeeiro de um
quadro sintomatológico que apresenta as seguintes características em
condições naturais de campo:
Ø Escurecimento e morte das estípulas dos nós sempre afetando
primeiro as da base do ramo, e em seguida infectando as próximas em
direção ao ponteiro.
Ø Lesões necróticas nos ramos de cor parda passando a preta, sempre
caminhando da base do ramo para o ponteiro.
38
Ø Lesões necróticas em folhas.
Ø Queda das folhas, sendo primeiro as da base, caminhando em seguida
para o ponteiro do ramo.
Ø Lesões necróticas pardas, passando a negras, em gemas, flores,
chumbinhos e frutos.
Ø Provoca a morte e queda das flores e chumbinhos.
Ø Enegrecimento e morte de ramos.
Ø Retardamento
do
desenvolvimento
das
plântulas
em
viveiro
provocado por lesões no caule.
Observações realizadas nos últimos anos têm mostrado que os
sintomas mais críticos e prejudiciais para o cafeeiro são aqueles em que o
fungo incide sobre gemas, flores e chumbinho, provocando sua morte e
queda, e enegrecimento e morte de ramos. Isto sugere que o isolado
patogênico do fungo tem preferência por tecidos em crescimento. Os
sintomas não estão relacionados com plantas injuriadas ou culturas mal
manejadas; pelo contrário eles são mais intensos e evidentes em culturas
novas e muito bem conduzidas.
Todos os sintomas apresentados, ou parte deles ocorrem
invariavelmente em todas as lavouras de café do Estado de São Paulo,
como também em muitos viveiros.
O Fungo e as Condições Favoráveis
Colletotrichum spp. do cafeeiro são parasitas facultativos.
Apresentam uma fase parasítica e uma fase saprofítica. A fase saprofítica
pode-se constituir em importante fonte de inóculo para a sua
disseminação.
Entre os fatores de disseminação do fungo entre e dentro das
plantas, destacam-se a chuva, vento, insetos, implementos, homem, etc.
As mudas têm-se mostrado a maneira mais eficiente de se introduzir o
patógeno em uma nova cultura de cafeeiro.
O ambiente exerce efeito marcante na sobrevivência e fase
saprofítica de parasitas facultativos. Períodos contínuos de alta umidade
favorecem o desenvolvimento da doença. Temperaturas mais baixas, em
torno de 22o C, beneficiam o fungo, tornando os sintomas mais intensos.
Os fatores ambientais podem estar selecionando isolados mais
patogênicos ou estimulando o mecanismo do fungo que permite passar
rapidamente da fase saprofítica para a fase patogênica.
Medidas de Controle
A medida de controle recomendada é o uso de defensivos
agrícolas. Produtos de ação sistêmica devem impedir que o fungo se
desenvolva, colonizando ramos, gemas, flores, chumbinho e frutos. Os
produtos de contato atuam reduzindo a disseminação do fungo na planta.
Para o controle de Colletotrichum spp., produtos de ação
sistêmica como benomyl, tiofanato metílico, tebuconazole, tiofanato
metílico + clorotalonil e difenoconazole, e produtos de contato como
trifenil acetato de estanho, prochloraz e trifenil hidroxido de estanho,
foram altamente eficientes em condições de laboratório.
A eficiência do tratamento com esses produtos tem sido variável,
dependendo do isolado do fungo envolvido no processo de infecção.
O período de florescimento e formação de frutos é o mais crítico e
deve ser protegido. Deve-se fazer um acompanhamento da lavoura para
se verificar o início do aumento da doença.
40
Iniciado o florescimento, se ocorrer um período prolongado de
umidade relativa alta, aplicar produto de ação sistêmica. Se
posteriormente houver evolução da doença, o agricultor deve repetir o
tratamento. Proteger sempre a fase de chumbinho quando houver
ocorrência de chuvas prolongadas.
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BREVIPALPUS PHOENICIS, ÁCARO VETOR DA M ANCHA-ANULAR EM
CAFEEIRO
Paulo Rebelles Reis
EPAMIG-CTSM/EcoCentro, Caixa Postal 176, CEP 37.200-000, Lavras,
MG .E-mail: [email protected]
1. Introdução
O ácaro Brevipalpus phoenicis (GEIJSKES , 1939) (Acari:
Tenuipalpidae) tem sido relatado vivendo em cafeeiros no Brasil, pelo
menos desde 1950 (A Infestação, 1951) e posteriormente foi
correlacionado com a mancha-anular (CHAGAS, 1973) causada por vírus
do grupo dos Rhabdovirus (CHAGAS, 1988). É de distribuição
cosmopolita, infestando diversas espécies vegetais (REIS, 1974;
TRINDADE & CHIAVEGATO, 1994).
Até 1988 a doença, mancha-anular do cafeeiro, não tinha ainda
representado problema econômico, embora em 1986 tenha sido associada
a uma intensa desfolha devido a um inverno com baixa precipitação
pluvial, condição muito favorável ao ácaro (CHAGAS, 1988).
Desde 1990, com destaque para 1995, a infestação de B. phoenicis
e da mancha-anular, têm sido relatadas em Minas Gerais causando
intensa desfolha em cafeeiros, principalmente na região do Alto
Paranaiba (FIGUEIRA et al., 1996), sendo também constatada a presença
42
do ácaro nas demais regiões cafeeiras do Brasil, tanto em cafeeiro
arábica, quanto em canéfora (MATIELLO , 1987).
Brevipalpus phoenicis, ácaro-plano, ou da leprose como é
conhecido na citricultura, é uma séria praga da cultura dos citros
(CHIAVEGATO, et al., 1982; CHIAVEGATO, 1991) atacando as folhas,
ramos e principalmente os frutos, causando prejuízos. Seu levantamento
e controle em citros são indispensáveis a cada ano.
No cafeeiro, segundo CHAGAS (1973), desde 1970 quando foi
constatada a ferrugem-do-cafeeiro, Hemileia vastatrix, no Brasil, a
atenção dos cafeicultores foi despertada para diversos tipos de manchas
que ocorriam nas folhas. Muitas amostras apresentavam sintomas da
mancha-anular do cafeeiro. Segundo o autor, em folhas afetadas pela
mancha-anular, foi observada, com certa freqüência, a presença de ácaros
avermelhados, cujo aspecto e dimensões assemelhavam-se aos de B.
phoenicis associado à leprose nos laranjais paulistas. Posteriormente
foram identificados como sendo mesmo B. phoenicis.
2. Etiologia e Sintomas da Mancha-anular do Cafeeiro
CHAGAS (1973) conseguiu reproduzir os sintomas da manchaanular, em mudas de Coffea arabica ‘Mundo Novo’, através da
infestação com ácaros provenientes de lavoura de café apresentando a
doença. Os resultados obtidos indicaram que o ácaro B. phoenicis, além
de estar associado a leprose dos citros (MUSUMECI & ROSSETTI, 1963) e à
clorose- zonada (ROSSETTI et al., 1965), está também associado à
mancha-anular do cafeeiro. Essa espécie de ácaro foi também associada à
mancha-anular
do
ligustro, Ligustrum
lucidum
Ait.
(Oleaceae)
(RODRIGUES & NOGUEIRA , 1996), cujo agente causal provavelmente é
um vírus (Ligustrum Ringspot Virus) como relatado por LIMA et al.
(1991).
Em 1986, segundo CHAGAS (1988), devido a condições
ambientais muito favoráveis ao ácaro, a mancha-anular foi associada à
queda de folhas. Relata ainda o autor que os sintomas aparecem nas
folhas e nos frutos do cafeeiro, e caracterizam-se por manchas cloróticas,
de contorno quase sempre bem delimitado, às vezes com um ponto
necrótico central. Nas folhas as manchas tomam constantemente forma
de anel, podendo coalescer, abrangendo grande parte do limbo. Nos
frutos, os sintomas também aparecem na forma de anéis.
SILVA et al. (1992) dia gnosticaram em 1991 a “leprose do
cafeeiro” transmitida pelo ácaro, por julgarem, pelos sintomas, ser
diferente da mancha-anular, ocorrendo no Alto Paranaíba em Minas
Gerais, com prejuízos iniciais significativos. Nos anos subseqüentes, e,
principalmente em 1994/1995, verificaram uma grande expansão da
doença naquela e em outras regiões.
PALLINI F ILHO et al. (1992) em levantamentos de ácaros
realizados no Sul de Minas, em 1989/1990, constataram a ocorrência do
ácaro B. phoenicis em baixa população e não notaram a presença de
mancha-anular.
MATIELLO et al. (1995) mencionaram que as plantas atacadas, e
com sintomas do ataque do ácaro, ficam bastante desfolhadas, de dentro
para fora, ficando “ocas”. Os frutos apresentam lesões cor de ferrugem
(marrom claro) evoluindo depois para uma cor negra, alguns recobertos
por fungos oportunistas (tipo Colletotrichum), aparecendo um pó branco
sobre as lesões. Os autores constataram também lesões em ramos e, em
menor escala, morte de gemas apicais nos ramos de dentro das plantas.
44
Como ocorre em citros (RODRIGUES et al., 1997), também em
cafeeiro duas hipóteses podem ser estabelecidas para explicar a
sintomatologia do ataque, ou seja, as lesões podem ser causadas por uma
toxina injetada pelo ácaro no tecido das plantas ou o ácaro é o vetor de
um patógeno, provavelmente um vírus. A transmissão da leprose em
citros pela enxertia (CHAGAS & ROSSETTI, 1983 citados por RODRIGUES
et al., 1997) e mecanicamente (COLARICCIO et al., 1995) reforça a
hipótese de que a doença nessa cultura é causada por um patógeno,
porém
não
descarta
a
segunda,
ou
podem
ocorrer
as
duas
simultaneamente.
Segundo RODRIGUES et al. (1997) a característica não sistêmica
atribuída ao vírus ressalta a importância do vetor B. phoenicis na
epidemiologia da doença, porque a presença do ácaro é condição
essencial, sem a qual não ocorre a sua disseminação. Relatam ainda,
esses autores, a ocorrência de partículas semelhante a vírus, como
resultados da análise de secções ultrafinas de tecidos do ácaro sob
microscópio eletrônico, os quais relatam como sendo similares aos vírus
de plantas dos grupos Badnavirus e Rhabdovirus, tal qual o relato de
KITAJIMA et al. (1971) em tecido foliar de citros. Ainda RODRIGUES et al.
(1997), pelo local e quantidade de partículas encontradas, relatam a
possibilidade do vírus multiplicar-se dentro do vetor, B. phoenicis.
3. Distribuição Espacial do Ácaro Brevipalpus phoenicis em Cafeeiro
Como é relatado para os citros, para a mesma espécie de ácaro,
foi constatada a presença do B. phoenicis nas folhas, ramos e frutos do
cafeeiro. Nas folhas os ácaros localizam-se na página inferior, próximos
às nervuras, principalmente a central. Nos frutos, ácaros e ovos,
encontram-se preferencialmente na coroa e pedúnculo, sendo também
encontrados em fendas e lesões na casca dos frutos com aspecto de
cortiça. O maior número de ovos e ácaros é encontrado no terço inferior
das plantas, tanto nas folhas, ramos e frutos. Nas folhas, o maior número
de ovos e ácaros é encontrado naquelas do terço inferior e posição interna
da planta, e em menor número nas da parte superior e posição externa da
planta. Já nos ramos o maior número de ovos e ácaros é encontrado na
parte distal, que é a parte verde dos ramos, onde estão as folhas, e o
menor número na parte do ramo que não apresenta folhas, ou do interior
das plantas. De modo geral, o número de ovos é sempre maior que o de
ácaros. Os ramos apresentam o menor número de ovos e ácaros, quando
comparados às folhas e frutos (REIS et al., 2000c). Estes resultados
diferem em parte daqueles encontrados para citros com a mesma espécie
de ácaro (CHIAVEGATO & KHARFAN, 1993), onde a maior preferência foi
para frutos e ramos, e os locais menos adequados foram as folhas, porém
é possível que hajam diferenças conforme a época do ano.
4. Dano
Além da queda de folhas já relatada anteriormente, ocorre
também uma redução na qualidade do café, provavelmente em função da
posterior ocorrência de fungos associados às infestações do ácaro, que
ocasionarão fermentações indesejáveis durante a secagem do café. Após
o ataque do ácaro os frutos ficam predispostos à penetração de
microorganismos,
como
é
o
caso
do
fungo
Colletotrichum
gloeosporioides, e que é comum ser encontrado em condições
saprofíticas em cafeeiro.
46
Através da medida da atividade da polifenol oxidase de amostras
de café, com e sem ataque do ácaro, foi constatado uma piora na
qualidade da bebida do café proveniente dos grãos atacados, que de
bebida mole passou a bebida dura (REIS & CHAGAS, no prelo).
5. Manejo do Ácaro da Mancha-anular
Fenbutatin-oxide (Torque 500 SC, 80 ml/100 litros de água),
hexythiazox (Savey 500 PM, 3g), clofentezine (Acaristop 500 SC, 40
ml), abamectin (Vertimec 18 CE, 30 ml), tetradifon (Tedion 80 CE, 300
ml) e enxofre (Kumulus 800 PM, 500 g), previamente selecionados como
seletivos a dois ácaros inimigos naturais de B. phoenicis, os ácaros
predadores I. zuluagai (REIS et al., 1998a) e E. alatus (REIS et al.,
1999a), foram testados no controle do ácaro da mancha-anular em cafezal
altamente infestado. Com uma só aplicação dos produtos com atomizador
costal motorizado e gasto de 1000 litros de calda por hectare, alto volume
de calda acaricida necessário para melhor eficiência no controle desse
ácaro (O LIVEIRA & REIFF, 1998; O LIVEIRA et al., 1998), os produtos mais
eficientes e respectivas porcentagens de eficiências de controle foram:
enxofre (88%), fenbutatin-oxide (86%), abamectin (70%) e tetradifon
(64%). O hexythiazox e clofentezine não mostraram efeito de controle do
ácaro no campo. O efeito ovicida de todos os produtos foi avaliado em
laboratório, pulverizados com torre de pulverização (2,12±0,09 mg/cm2 ),
e somente o hexythiazox apresentou 100% de ação ovicida, seguido do
fenbutatin-oxide com 51%. Quanto ao efeito residual sobre a mortalidade
dos ácaros, obtido em semi-campo, o enxofre, fenbutatin-oxide e
abamectin apresentaram mortalidade até 30 dias da aplicação,
hexythiazox e tetradifon até 15 dias e clofentezine menos de 5 dias (REIS
et al., 1998b).
Outros produtos como o dicofol (Kelthane) 480 SC (Reis et al.,
1999b) e o propargite (Omite) 720 CE (REIS et al., 2000a), também
muito eficientes no controle do ácaro da mancha-anular, devem ser
utilizados com maior cautela por não possuírem seletividade fisiológica à
ácaros predadores do ácaro B. phoenicis (REIS et al., 1998a e 1999a).
6. Considerações Finais
O ácaro da mancha-anular ou ácaro-plano, B. phoenicis, adquiriu
"status" de praga por veicular o vírus da mancha-anular em cafeeiro.
Ocorre durante o ano todo, porém apresenta maior população nos
períodos ma is secos do ano, onde seu monitoramento deve ser acentuado
(REIS et al., 2000b).
Os resultados obtidos por REIS et al. (2000c) mostram que
amostragens do ácaro da mancha-anular, para efeito de controle, serão
mais representativas se forem feitas em ramos e frutos do terço inferior, e
folhas mais internas do terço inferior das plantas. Dão informações
também de quais partes das plantas devem ser alvo de produtos
fitossanitários para o controle do ácaro, ou seja, o equipamento a ser
utilizado deve proporciona r um depósito dos produtos nas partes
interiores das plantas, principalmente dos terços inferior e médio.
Devido à maior quantidade de ovos presentes nos ramos e frutos,
em relação às demais fases do desenvolvimento do ácaro (REIS et al.,
2000b), o uso de produtos fitossanitários com ação ovicida aumenta a
eficiência de controle do B. phoenicis. Como a presença de ácaros
predadores é significativa (REIS et al., 2000b) e com grande potencial de
48
predação (REIS et al., 2000d), o uso de produtos seletivos favorece o
manejo do ácaro da mancha-anular.
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M ÉTODOS ALTERNATIVOS DE APLICAÇÃO DE D EFENSIVOS EM
CAFEEIROS
Dr. Octávio Nakano
Prof. Titular do Depto. de Entomologia Fitopatologia e Zoologia
Agrícola - ESALQ/USP. E-mail: [email protected]
As áreas cultivadas de café no Brasil tem apresentadas altas e
baixas, principalmente em função das geadas; sua ocorrência desanima
os produtos atingidos sem incentivo para novos plantios; entretanto as
oscilações nos preços do café, a nível internacional, estimularam o
plantio em áreas não favoráveis a essa adversidade climática. Tais áreas,
conhecidas por região do cerrado, passaram a exigir novas tecnologias
devido a pobreza do solo e predominância de secas; essas condições
tornaram os cafezais mais vulneráveis as pragas e doenças, obrigando a
pesquisa a desenvolver modificações no controle das mesmas, com a
finalidade de reduzir os custos de produção.
De outro lado, a sociedade cada vez mais exigente quanto aos
processos ecológicos tem direcionado as pesquisas nas aplicações de
defensivos menos poluentes, minimizando os problemas toxicológicos.
Novas leis começam a surgir, com proteção a fauna e a flora e alguns
importadores do café passaram a exigir café orgânico, sem tratamento
químico.
A aplicação de defensivos em cafezais já vem de longa data; a
literatura tem relatado novas modalidades de controle químico, iniciada
pelas pulverizações nas folhas com inseticidas ou fungicidas sistêmicos;
posteriormente, para evitar lavagens dos produtos pelas chuvas e também
agressão aos inimigos naturais ou contaminação ao aplicador, surgiram o
sistêmicos granulados para aplicação no solo.
Alguns sistêmicos foliares como o dimetoato, tiveram suas
formulações modificadas para se adaptarem ao uso no solo, pois devido a
sus alta solubilidade, foi necessária a confecção de camadas intercaladas
do ingrediente ativo, para uma liberação lenta.
A utilização de aplicação combinada de inseticida com fungicida
no solo, surgiu por volta de 1980, visando o controle simultâneo do bicho
mineiro e da ferrugem do cafeeiro. A termonebulização com piretroides
já era recomendada desde 1979 visando o uso da substancia pastosa
(poli-butadieno / poli-acaricida) contendo 10% de Citrolane (mefosfolan)
aplicado no tronco dos cafeeiros com o auxilio de pincel e o
esguichamento de inseticidas também no caule das plantas surgirem em
1984; pulverizadores eletrodinâmicos no controle do bicho mineiro
foram lançados em 1986; sua grande vantagem é o direcionamento das
gotas inseticidas sem deriva, com redução considerável do ingrediente
ativo.
Porém, a utilização de sistêmicos granulados de solo continuava a
predominar e todos eles com elevada toxidade como: aldicarbe,
54
carbofuran, disulfotom, forate, passaram a preocupar os ambientalistas,
principalmente após problemas surgidos com a contaminação de águas
em regiões montanhosas, onde podem ser levados pelas chuvas.
Com isso, as pesquisas se iniciaram novamente com novas
modalidades de aplicação como o esguicho manual ou tratorizado no
caule; outro tipo de aplicação ainda em fase de teste é o band-aid
envolvendo o caule das plantas, processo mais trabalhoso, mas com a
vantagem de proteger o inseticida da degradação pelos raios solares, das
lavagens pelas chuvas, com conseqüente aumento no efeito residual,
menor risco ao aplicador e menos agressivo aos inimigos naturais.
O aparecimento de um novo grupo de inseticida sistêmico,
denominado neonicotinoide, com DL50 muito mais seguro comparado
aos sistêmicos fosforados e carbamatos, passou a oferecer aos
cafeicultores métodos mais seguro de aplicação em qualquer dos sistemas
já preconizados.
As técnicas de aplicação desses novos defensivos voltaram a ser
testadas com sucesso por ser um ativo com local de atuação diferenciado
no sistema nervoso dos insetos, portanto, com possibilidade de
resistência remota. Sua relativa estabilidade tanto no solo como aplicado
no caule estão oferecendo resultados satisfatórios excelentes resultados.
Mas, a preocupação com os processos ecológicos, tem feito surgir
novas legislações preocupando as empresas tanto sob aspecto econômico
da produção de defensivos quanto ao aspecto toxicológico. Taxas
elevadas
passaram
a
ser
cobradas
pelos
órgãos
fiscalizadores
inviabilizando o registro de novos produtos. Com isso, os genéricos
começam a ser utilizados novamente surgindo a necessidade de pesquisas
visando técnicas de aplicações menos poluentes ou menos agressivas ao
agroecosistemas.
O uso de microencapsulados ganha espaço novamente, na
tentativa de reduzir o contato do homem aos defensivos com o DL 50
dermal comprometedor ao mesmo tempo em que se consegue maior
efeito residual sobre as pragas. Já existem no mercado o Paracap,
formulação microencapsulada do Paratiom metil e o piretroide Lambda cialothrina, este último pouco e menos irritante, com maior ação residual.
A nova legislação passa a exigir também que as embalagens de
defensivos sejam rcolhidas após o seu uso; pesquisas visando a redução
dessas embalagens também já foram iniciadas, surgindo novas
formulações para minimizar essa exigência, tornando o inseticida menos
poluente quando comparado aos pós e as formulações liquidas.
Novos métodos alternativos para o uso de defensivos deverão
surgir em conseqüência de novas exigências, seja pela legislação, seja
devido a redução de custos e também pelo aspecto inovador, oferecendo
aos usuários processos moderno e mais competitivos em relação a
concorrência.
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M ANEJO DE PRAGAS NA CULTURA DO CAFEEIRO
Pesquisador Científico José Roberto Scarpellini
Eng. Agrônomo, Laboratório de Sanidade Animal e Vegetal de Ribeirão
Preto – Centro de Ação Regional, Instituto Biológico. R. Peru, 1472-A,
CEP 14075-310 Ribeirão Preto, SP. Email: [email protected]
1. Introdução
O café vem perdendo gradativamente sua importância nas
exportações brasileiras, tendo representado 70% na década de 20,
passando a 50% em 1960 e atualmente tem ficado em torno de 5%,
embora o Brasil continue como maior exportador (22% do mercado em
1998) e maior produtor mundial (34,5 milhões de sacas em 1998). A
produção mundial é de 106 milhões de sacas (1998) sendo a taxa de
crescimento nesta década de 0,2%, indicando uma estagnação do
consumo (ORMOND et al., 1999). O Estado de São Paulo é o segundo
produtor brasileiro (20%), atrás somente de Minas Gerais (38%).
Maiores produções, menores desequilíbrios biológicos e controle
mais eficiente de pragas e doenças que infestam a cultura do café, têm
sido obtidos com a aplicação de práticas integradas e o planejamento de
táticas a serem empregadas na intervenção no agroecossistema cafeeiro,
ou seja, o Manejo Integrado de Pragas na cultura cafeeira. Consideram-se
estratégias o conhecimento e utilização adequada da adubação, época de
plantio, espaçamentos, fenologia das plantas, irrigação, nutrição,
reguladores de crescimento de plantas, reguladores de crescimento de
insetos, seletividade dos inseticidas/acaricidas e variedades resistentes.
As táticas a serem utilizadas são: preservação do controle biológico
60
natural, controle biológico artificial (liberações de inimigos naturais),
controle químico baseado em níveis de dano e uso de práticas culturais
(BUSOLI , comunicação pessoal).
Para se fazer Manejo Integrado de Pragas é preciso levar em
consideração quatro fatores: Amostragens (conhecer a dinâmica
populacional das pagas); Níveis de danos econômicos, combinação de
todas as técnicas disponíveis (táticas e estratégias) e raciocinar que nem
todo ácaro ou inseto se constitui numa praga (BUSOLI , comunicação
pessoal). Para seu emprego é preciso conhecer: métodos de amostragem
(monitoramento); comportamento e biologia das pragas; fenologia das
plantas; níveis de ação; níveis de dano; inseticidas seletivos (controle
natural); controle integrado; inimigos naturais e outros artrópodos;
práticas culturais; influência de fatores ecológicos (físicos, substrato,
alimento e fatores biótipos).
2. Conhecimento das Pragas
O inseto/ácaro passa a ser considerado praga, quando atinge uma
população que começa a apresentar danos econômicos á cultura. A mais
importante delas, e praga chave no cafeeiro é o bicho mineiro Leucoptera
coffeellum (Guérin-Menéville (Lepidoptera: Lyonetiidae)).
Ø
Bicho
mineiro
Leucoptera
coffeellum
(Guérin-Menéville)
(Lepidoptera: Lyonetiidae).
Sua ocorrência está fortemente ligada aos fatores meteorológicos.
Quando ocorrem veranicos longos, os estragos feitos pelo bicho mineiro
é muito grande, a ele sendo atribuídos a queda excessiva de folhas. Em
anos de secas, as infestações têm sido especialmente altas.
O bicho mineiro á a lagarta branca, cujo adulto é uma mariposa
pequena, que fica alojada no baixeiro da planta, voando quando as folhas
da saia são agitadas. A mariposa coloca os ovos na página superior da
folha (28 a 50 ovos/fêmea) e a lagartinha assim que eclode (± 5 dias de
incubação), penetra através da cutícula e se aloja no “parênquima”, de
cujos tecidos se alimenta. Ao completar o desenvolvimento (10 a 40 dias)
a lagarta abandona a galeria em que viveu e prendendo-se em fios de
seda procura empupar em folhas mais próximas do solo (5 a 40 dias para
a emergência). Produzem até 7 gerações por ano, com um ciclo total de
20-30 dias (verão) e 40-45 dias (inverno).
Os surtos de bicho mineiro ocorridos em 1972/73 e 1973/74
foram referidos por AMANTE et al. (1974), como sendo causados por um
desequilíbrio ecológico que favoreceu o aumento populacional do
lepidóptero. O efeito colateral dos fungicidas cúpricos foi demonstrado
em Minas Gerais e São Paulo por PAULINI et al. (1976) e MARCONATO et
al. (1976), respectivamente. GRAVENA (1983) observou que 82% das
folhas com lesões da praga caem antecipadamente àquelas sem lesão.
GRAVENA (1984), comprovou também o favorecimento populacional do
bicho mineiro face às pulverizações de fungicidas cúpricos, sugerindo a
redução de pulverizações dos mesmos e adotando-se inseticidas seletivos
para o controle do bicho mineiro.
Nos anos normais, com quedas regulares de chuvas durante o
inverno, não existe o problema do bicho mineiro. Nos anos de seca
quando sua ocorrência é mais grave, ocorre maior queda de folhas,
principalmente devido ao déficit hídrico, tendendo as plantas a liberarem
as folhas (reservas nutricionais da planta) que estão contribuindo menos
com a fotossíntese (no caso folhas danificadas pelo bicho mineiro).
62
Existem muitos inseticidas disponíveis no mercado para o
controle por pulverizações foliares, mas salvaguardando o custobenefício, a preferência por inseticidas granulados sistêmicos, que
controlem simultaneamente bicho mineiro e ferrugem, reduzindo a
população de cigarras é uma opção em várias localidades, sendo
prejudicado em áreas onde o bicho mineiro ocorre tardiamente (MaioAgosto).
Ø
Broca do café Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera:
Scolytidae).
A história de broca do café H. hampei começa em 1913 quando o
então diretor do Instituto Agronômico alertou sobre a possibilidade da
entrada da broca, principal praga do cafeeiro em outros países, com a
importação direta de mudas pelos fazendeiros (BERTHET , 1913). Em
1924 é anunciado pela imprensa a entrada da praga fatal e é constituída
uma comissão para debelação da praga cafeeira, que vai fazer
importantes investigações sobre o assunto e em 1927 é transformada no
Instituto Biológico de Defesa Sanitária Animal e Vegetal, hoje Instituto
Biológico de São Paulo (BATISTA FILHO, 1988).
De acordo com GALLO et al. (1988) o adulto da broca do café é
um besourinho preto luzidio; medindo a fêmea cerca de 1,65 mm de
comprimento por 0,73 mm de largura. O macho é menor e possui cerca
de 1,18 mm de comprimento por 0,73 mm de largura. O corpo é
subcilíndrico, ligeiramente recurvado para frente. Os élitros possuem
cerdas e escamas filiformes. Os machos não voam e não deixam nunca os
frutos onde se originaram. A razão sexual é de 1 macho para cada 10
fêmeas. A fêmea após o acasalamento perfura o fruto, geralmente na
região da coroa e começa a construir uma galeria desagregando pequenas
partículas da estrutura da casca. REIS & SOUZA (1986) afirmam que não
se deve confundir a broca, com a falsa broca H. obscurus (FABRICIUS,
1801) que possui cerdas espatuladas, mais largas e com cinco a seis
estrias longitudinais. A falsa broca alimenta-se somente da polpa do fruto
bem seca, não atingindo os cotilédones, não se constituindo uma praga. É
relatado também casos de ataque de broca em armazenamento e até em
frutos guardados no refrigerador.
OLIVEIRA FILHO (1927) relacionou o ataque da broca em diversos
estágios de desenvolvimento dos frutos de café, afirmando que o ataque
da broca no estágio “Chumbinho” (2-4 mm) de Ø, 3 meses após as
floradas gerais ou parciais com conteúdo quase líquido, é sempre na
coroa e em geral são abandonados logo que o inseto chega ao líquido.
Aos quatro meses os cotilédones ainda não estão formados e quase
líquidos, atacado, não se desenvolvem. Com cinco meses o pergaminho
está formado e a galeria é terminada onde é feita a oviposição ou de onde
emigram para outro fruto. BENASSI (1989) afirma que o estágio preferido
pela fêmea da broca para perfuração é o “verdolengo”, isto é, quando o
fruto começa a ficar colorido, os frutos verdes passam a tomar cor de
maduros.
Quando o café é beneficiado aparecem 3 categorias de café: a de
grãos perfeitos ou sãos, a de broqueados, em mistur a com os primeiros e
o café escolha. Além dessas categorias, que implicam em perfeição ou
em defeitos do lote considerado, há que ser levada em conta, uma quarta
categoria, parte do café que foi destruída, que desaparece e determina
perda de peso ocasionada pela broca. Quando o grau de infestação é
muito alto, diminui a porcentagem de grãos perfeitos e aumenta a de
64
grãos inteiros, porém perfurados, a de café escolha é a de grãos
quebrados.
Do ponto de vista comercial, o café broqueado entra com grande
parcela da responsabilidade na inferiorização do tipo, portanto, na
depreciação comercial, pois cinco grãos perfurados constituem um
defeito. A proporção sexual é de um macho para 9,75 fêmeas. A fêmea
penetra no fruto abrindo uma galeria, cujo inicio ou orifício de
penetração normalmente esta na coroa ou disco do fruto. Atingida a
semente, a galeria é alargada em câmara piriforme, na qual são postos os
ovos.
O período de incubação varia de 4 a 16 dias (com média de 7,6
dias). A larva atinge o completo desenvolvimento de 9 a 20 dias (13,8
dias em media) e o período pupal é de 4 a 10 dias (com média de 6,3
dias). A fecundidade média é de 74,1 ovos, com variação de 31 a 119
ovos. A longevidade média dura 156,6 dias, com variação de 81 a 282
dias. Durante um ano, fo rmam-se 7 gerações durante o período de
produção (Novembro/Dezembro) e (Julho/Agosto) desenvolvendo-se 4 a
5 gerações do inseto.
O ataque aos frutos novos tem inicio a partir de outubro,
dependendo do grau de desenvolvimento desses frutos. O ataque inicial é
mais intenso ou mais acentuado, de acordo com a população existente no
cafezal, abrigada nos frutos velhos da safra anterior. Essa população,
representada pôr numero maior ou menor de indivíduo, desde que
controlada ou determinada pelos seguintes fatores: Quantidade de frutos
velhos da safra anterior, intensidade da queda pluvial durante os meses
de inverno e intensidade da infestação da safra anterior.
As chuvas precoces de Julho-Setembro, quando ocorrem,
umedecem os frutos velhos, permitindo a reprodução a partir dessa
época. Os cafeeiros beneficiados pelas boas condições florescem mais
cedo. Quando os frutos atingem o grau de ‘’verdolengo-granados’’ a
população de brocas, formada pelos indivíduos remanescentes da safra
anterior é intensificada pela reprodução no início da nova frutificação, é
grande, sendo o ataque inicial intenso. Nestas condições, a infestação
será elevada em Novembro/Dezembro. Ao contrário, faltando chuva até
Outubro/Novembro, a população para ataque inicial é pequena, formada
apenas pelos indivíduos que conseguiram transpor os meses de entresafra, abrigados nos frutos velhos. Esta condição repetida por vários anos
seguidos faz com que a infestação da broca não chegue a tornar-se
elevada. Para reduzir a infestação no inicio de cada frutificação são
recomendadas algumas medidas, como por exemplo, o repasse, cujo
objetivo é reduzir a população na entre - safra e no inicio da frutificação.
Atualmente o combate da broca é feito somente com produtos
como Thiodan CE e Lorsbam 480 BR, quando a infestação está em torno
de 3 a 5 % dos frutos. Outras aplicações podem ser necessárias e
normalmente são determinadas pela queda das chuvas. THOMAZIELLO et
al. (1996) recomendam duas a três pulverizações de endosulfan no
período
de
trânsito
(Outubro
a
dezembro),
seguindo
antigas
recomendações, logo do aparecimento da praga. GALLO et al. (1988)
recomendam aplicação com nível de infestação de 3-5% de frutos
broqueados. Também REIS & SOUZA (1986) recomendam de 3 a 5% de
infestação para iniciar o controle da broca com os produtos disponíveis
no mercado (endosulfan e clorpirifós, apenas), mas ressalvando que esse
66
nível pode ser mutável dependendo do preço do café e do custo do
controle na época.
JACOBSEN et al. (1997) estudaram em laboratório a morfologia e
fisiologia de populações resistentes a cyclodienos, verificando grande
sobrevivência em linhagens resistentes ao endosulfan.
Ø Cigarras-do-cafeeiro – Quesada gigas; Fidicina pronae, Dorisiana
drewsani, Carineta fasciculata
As cigarras do cafeeiro são insetos que apresentam diversas fases
em seu ciclo de desenvolvimento (GALLO et al., 1978; SOUZA et al., 1983
e NAKANO et al., 1981), causando prejuízo pela contínua sucção de seiva
nas raízes das plantas, ocasionando o definhamento progressivo das
lavouras, com
queda
prematura
de
folhas,
“envaretamento”
e
principalmente decréscimo acentuado na produção. MARTINELLI &
ZUCCHI (1997) relatam que as cigarras do cafeeiro, no Brasil, estão
registradas para os estados de minas Gerais, São Paulo e Paraná, onde
tem caus ado sérios problemas à cultura. Relatam ainda que as principais
espécies pertencem aos gêneros: Quesada, Carineta, Dorisiana e
Fidicimna.
Com o início do periodo chuvoso, a maioria das regiões cafeeiras
do Brasil, especialmente Sul de Minas Gerais e Alta Mogiana/SP é
infestada por cigarras. Elas passam a maior parte de sua vida no solo e
são percebidas pelo agricultor no momento da emergência do adulto, pelo
seu canto estridente. SOUZA et al. (1984) afirmam que o cafeeiro pode
suportar uma infestação de aproximadamente 35 ninfas de Quesada gigas
por cova, devendo ser considerado este nível na tomada de decisão para
que seja efetuado o controle químico. Uma das primeiras recomendações
para o controle da praga foi feito por F ONSECA & ARAÚJO (1939) que
preconizaram o uso do bissulfeto de carbono e tetracloreto de carbono.
HEINRICH & PUPPIN NETO (1967) mostraram em seus estudos alta
porcentagem de redução de ninfas móveis de cigarras pelos inseticidas
sistêmicos Forate a 5% (50 e 100g p.c./cova) e dissulfoton a 2,5% (75 e
100g p.c./cova). Vários outros ensaios realizados posteriormente, visando
conhecer a eficiência de doses, tipos de formulações e modos de
aplicação de inseticidas sistêmicos (D`ANTONIO & LUZIN, 1981;
D`ANTONIO & PAULA , 1980; D`ANTONIO & DAMATO NETO, 1986; e
ZANBOM et al., 1981).
Ø
Mosca da-raíz Chiromiza vittata Wiedmann, 1820 (Diptera:
Stratiomyidae)
A mosca-da-raíz do cafeeiro Chiromyza vittata é uma praga que
está presente em inúmeras lavouras de café adultas de minas Gerais, São
Paulo, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeio,e Paraná (D’ANTONIO, 1991).
O ‘status’ taxonômico da mosca-das-raízes foi realizado por PUJOL-LUZ
& VIEIRA (2000) descrevendo a espécie C. vittata. Sua constatação deuse em meados de 1986, no município de Oliveira, região de Campos
Vertentes, em Minas gerais, através da presença de uma grande
quantidade de larvas do inseto no sistema radicular de cafeeiros (SOUZA
& REIS, 1989). Suas larvas mastigadoras podem ser encontradas em
grande número/cova infestadas, alimentando-se das raízes das plantas,
perfurando as mais grossas (porta de entrada para patógenos) e
consumindo as radicelas, mais importantes, pois são as absorventes.
Dessa forma, os cafeeiros definham, não respondendo normalmente aos
68
tratos culturais realizados, prejudicando a produção dos cafeeiros. O
controle químico tem sido ineficiente.
Ø
Lagartas desfolhadoras
Eacles imperialis magnifica = verde, marrom no meio
Lonomia circunstans = verde-escuras, urticantes, principalmente nos
ponteiros
Oiketicus Kirbyi = bicho cesto, construido de folhas e ramos
Megalopyge lanata = marrom peluda
Ø
Cochonilhas
Cerococcus
catenarius
Coccus viridis
Dysmicoccus
cryptus
Orthezia
praelonga
Ø
Pinaspis aspidistrae
Planococcus citri
Pseudococcus constocki
Saissetia coffeae
Ácaros
Oligonychus ilicis = vermelho
Polyphagotarsonemus latus = branco
Brevipalpus phoenicis = ácaro plano, mancha anular
3. Amostragens e Tomada de Decisão
Bicho mineiro (época crítica = Abril – Agosto – Outubro) Dividir a área em talhões (5 a 10 ha) – Amostrar 50 plantas, 2 folhas de
cada lado da planta, preferencialmente parte mediana da planta (4º par de
folha, no ramo). Marcar nº de folhas com galerias (atacadas), nº de larvas
vivas, predação. Determinar a porcentagem de folhas com larvas vivas.
Contagem deve ser quinzenal. O controle deve ser feito com 30% de
folhas minadas (BUSOLI , comunicação pessoal).
Broca (época crítica = Outubro a Fevereiro) - Dividir a área em
talhões (5 a 10 ha) – Amostrar 100 plantas, coletando 1 fruto
(preferencilamente verdolengo) de cada planta. Observar se tem orificio
da broca ou não. Se possível verificar a larva. Determinar a porcentagem
de frutos com furo da broca. Contagem deve ser quinzenal. O controle
deve ser feito com 3 a 5% de frutos broqueados. Praticamente só temos a
opção de endosulfan em pulverização.
Cigarras (época crítica = Outubro a Fevereiro) - Dividir a área em
talhões (5 a 10 ha) – Amostrar 5-10 plantas, realizando uma trincheira ao
lado da planta (1,0 x 1,0 x 0,8 m) e contando-se o número de ninfas
móveis presentes. Multiplica a quantidade encontrada por dois. Controle
com 35 ninfas/planta em média.
4. Referências Bibliográficas
AMANTE, E.; ABRAHÃO, U.; D ANDRETTA , J.B. Prejuízos Causados Pelo
Bicho Mineiro Perileucoptera coffeella (Guérin-Menéville, 1842) In:
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de
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Instituto Biológico do Estado de São Paulo. Arq. Inst. Biol. 1988, 9 p.
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p. (EMCAPA, Documentos, 57)
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controle das cigarras do cafeeiro. In: Congresso Brasileiro de
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para o controle das cigarras do cafeeiro. In: Congresso Brasileiro de
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em São Paulo e possibilidades de seu controle. O Biológico, 5: 285291, 1939
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M ANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA CULTURA DO AMENDOIM
Pesquisadores Científicos José Roberto Scarpellini* & Antonio Carlos
Busoli
*Eng. Agrônomo, Laboratório de Sanidade Animal e Vegetal de Ribeirão
Preto – Centro de Ação Regional, Instituto Biológico. R Peru, 1472-A,
CEP 14075-310 Ribeirão Preto, SP. E- mail: [email protected]
1. Introdução
A
produção
brasileira
de
amendoim
em
casca
é
de
aproximadamente 150 mil toneladas anuais, obtidas em sua maior parte
no Estado de São Paulo, onde se destacam como principais produtoras a
região da Alta Mogiana e Alta paulista. Nestas regiões a cultura tem
importância social significativa, caracterizando-se como agricultura
familiar, exploradas em áreas de pequeno e médio porte, ajustando-se
perfeitamente à renovação de canaviais e pastagens. O amendoim já teve
maior expressão na agricultura paulista, com grande emprego de mão de
obra (especialmente urbana) e uma ótima opção de atividade econômica
para micro e pequenos produtores.
Apresenta um grande potencial, para tornar-se um suprimento
protéico acessível à população de baixa renda, ameaçado pela presença
de aflatoxina (substâncias tóxicas ao homem e animais), causado por dois
fungos (bolores) denominados Aspergillus
flavus
e Aspergillus
parasiticus , que tem grande preferência pelo amendoim, apesar de
ocorrerem em outros grãos.
A cultura mantém em seu agroecossistema uma série de espécies
de insetos associadas, apresentando insetos-pragas no solo, nas raízes e
na parte aérea (Gallo et al., 1988) . Embora o estrago ocasionado por
insetos-praga s possa ser diferente
para locais e anos, a maioria das
pragas tem ampla distribuição (GABRIEL et al., 1996).
2. Principais Pragas Associadas à Cultura do Amendoim
Pragas do solo
Lagarta Rosca Agrotis ipsilon (HUFNAGEL, 1767) (Lepidoptera:
Noctuidae). Plantas novas apresentam o caule seccionado na região do
coleto, por lagartas de coloração cinza-escuro a verde-escuro.
Lagarta Elasmo Elasmopalmus lignosellus (ZELLER, 1848)
(Lepidoptera: Pyralidae). Região inferior das hastes, ao nível do solo,
74
apresentam galerias mistas de teia e terra, causado por lagartas muito
ativas, verde-azuladas.
Pragas das raízes
Percevejo
Castanho
Scaptocoris
castanea
PERTY,
1830
(Hemiptera: Cydnidae). Raízes apresentam aglomerados de insetos
sugadores, adultos de coloração castanha e que exalam odor
desagradável, característicos do grupo.
Percevejo preto Cyrtomenus mirabilis (P ERTY, 1836) (Hemiptera:
Cydnidae) Raízes apresentam aglomerados de insetos sugadores, adultos
de coloração preta e que exalam odor desagradável, característicos do
grupo.
Pragas da parte aérea
Tripes Enneothrips flavens, MOULTON, 1941 e Caliothrips
brasiliensis (MORGAN, 1929) (Thysanoptera: Thripidae). Ponteiros com
folíolos apresentando estrias e deformações; pequenos insetos de corpo
alongado, amarelados e sem asas quando jovens e alados (asas franjadas)
e cor marrom-escuro quando adultos.
De acordo com CALCAGNOLO & TELLA (1965), é a praga mais
importante da cultura do amendoim, devido aos elevados prejuízos e
ocorrência generalizada nas lavouras, em níve is populacionais muito
elevados. Considerado praga chave (LASCA et al., 1997), a maioria dos
trabalhos realizados em amendoim no Brasil, referem-se aos danos e
controle deste inseto (ALMEIDA & ARRUDA , 1962; BATISTA , 1967;
ROSSETTO et al., 1968; LARA et al., 1970; CALCAGNOLO et al., 1974;
LARA et al., 1975; PÁSSARO et al., 1991; BACHEGA & BUSOLI , 1992;
JORGE, 1993; MAZZO, 1994).
Cigarrinhas Empoasca
kraemeri
ROSS & MOORE,
1957
(Homoptera; Cicadellidae). Folhas apresentando pequenos insetos, muito
ativos, com hábito de locomoção lateral, de corpo estreito e de coloração
verde e amarelo claro.
Lagarta do pescoço vermelho – Stegasta bosquella (CHAMBERS,
1875) (Lepidoptera: Gelechiidae). Brotos perfurados com lagartas em
seu interior. As lagartinhas são branco esverdeadas, com cabeça preta e
os dois primeiros segmentos torácicos avermelhados. É de grande
ocorrência em anos secos, com períodos longos de veranicos, quando o
controle do tripes fica impraticável, bem como desta lagarta.
Há controvérsias sobre sua importância, apesar de ser considerada praga
secundária. MATUO (1973) verificou altas infestações da lagarta-dopescoço-vermelho e relatou que não afetou a produção. CALCAGNOLO &
RENZI (1975) concluiram que a praga afetou em até 65 % a produção.
Lagarta da soja – Anticarsia gemmatalis HUEBNER, 1818
(Lepidoptera: Noctuidae). Atacam folhas e brotos novos. São lagartas de
coloração verde e marrom, com quatro estrias longitudinais brancas.
Agitando-se os ramos atacados as lagartas caem ao solo com facilidade.
Lagarta
militar -
Spodoptera
frugiperda
(SMITH,
1797)
(Lepidoptera: Noctuidae) – Também causam desfolhamento, causados
por lagartas pardo-escuras
Curuquerê-dos-capinzais
–
Mocis
latipes
(GUEN,
1852)
(Lepidoptera: Noctuidae) – folhas danificadas por lagartas verdes, com
cabeça globosa e com estrias, caracteristicamente “andam medindo
palmos”.
76
Ácaro vermelho – Tetranychus evansi BAKER & PRITCHARD, 1960
(Acari: tetranychidae) – provoca clorose das folhas, observa-se na página
inferior das folhas, grande quantidade de teias, com as colônias de
ácaros, verdes quando jovens e vermelho intenso quando adultos.
Ácaro Rajado – Tetranychus urticae (KOCH, 1836) (Acari:
Tetranychidae) – provoca amarelecimento de folhas, na página superior,
tornando-se vermelha depois. Presença de teia na página inferior das
folhas (região mediana), com ácaros que geralmente tem 2 manchas
esverdeadas no dorso.
3. Manejo do Tripes
Amostragem:
A amostragem, para conhecimento da infestação do tripes deve
ser iniciada 15 a 20 dias após a semeadura do amendoim e repetida
semanalmente durante todo o período de ataque do tripes (oito semanas
em média). Em cada amostragem deverá ser examinado 30 folíolos para
a constatação da presença ou ausência do tripes. A coleta desses folíolos
deve ser feita em 30 pontos (1 folíolo por ponto) distribuídos ao acaso no
talhão. Deverão ser coletados folíolos dos ponteiros das plantas, fechados
ou ligeiramente abertos. O folíolo onde for constatado pelo menos um
tripes será considerado infestado (LASCA et al., 1997).
Tomada de decisão:
O nível de controle recomendado para iniciar o controle químico
dos tripes em amendoim é de 30% de folíolos infestados com qualquer
número de ninfas de tripes (NC = 30%).
Controle:
Controle químico: No controle com defensivos químicos (curativos)
deve-se dar preferência aqueles produtos sistêmicos, ou de contato,
fosforados, carbamatos e piretróides (registrados no MAARA para a
cultura), detalhados na Tabela 1, a seguir. Aplicar com a planta
vegetando, ou seja, evitar veranicos.
Tratamento de sementes: Como o tripes é de ocorrência constante, tem-se
obtido bons resultados até 30 dias após a germinação com thiamethoxam
e imidacloprid em tratamento de sementes (usar após registro no
MAARA). A aplicação de carbofuram SC no sulco também é
recomendada (Compêndio de defensivos agrícolas, ANDREI , 1999)
Controle cultural:
Evitar plantio em épocas secas e de estiagem; Usar
sementes de boa qualidade, para manter “stand” de 15 a 20 plantas/m
linear; para “plantio das secas” fazer rotação de culturas, ou destruir
”tigueras” (restos culturais e plantas nascidas na colheita do plantio das
águas).
Controle biológico: Existe um complexo de tripes na cultura, e não
apenas os dois citados, muitos deles agindo como predadores, por isso,
evitar aplicações preventivas, pois está eliminando a possibilidade do
controle natural.
4. Manejo de Lagartas
Amostragem:
A amostragem, para conhecimento da infestação de lagartas
desfolhadoras deve ser semanalmente, amostrando-se 20 pontos
distribuídos ao acaso no talhão,
lagartas/metro linear de cultura.
verificando-se o número de
78
No caso da lagarta-do-pescoço-vermelho (LPV) amostrando-se 20
pontos distribuídos ao acaso no talhão, examinando-se 20 ponteiros.
Tomada de decisão:
O nível de controle recomendado para iniciar o controle químico
de lagartas desfolhadoras é de 5-6 lagartas médias-grandes/ metro linear
de cultura ou 10 lagartas menores que 1 cm por metro linear de cultura.
No caso de lagarta-do-pescoço-vermelho recomenda-se a
intervenção química quando a cada 5 ponteiros examinados for
observado 1 lagartinha (NC = 20%).
Controle:
Controle cultural:
Plantios precoces tendem a escapar da época de maior ataque de
lagartas desfolhadoras (fevereiro)
Usar sementes de boa qualidade, para manter “stand” de 15 a 20
plantas/m linear.
Para “plantio das secas” fazer rotação de culturas, ou destruir
”tigueras” do amendoim, soja e milho.
Controle biológico:
Fazer uso de inseticidas específicos (lagarticidas) a base da
bactéria Bacillus thuringiensis. Deve ser aplicado quando as lagartas são
menores que 1 cm de comprimento. São encontradas no mercado várias
marcas comerciais como Dipel, Dipel F, Dipel PM, Ecotech Pro, Bactur,
Xen Tari, embora não registrados para amendoim (ANDREI, 1999).
Usar os inseticidas mais seletivos possíveis e estritamente
necessários a fim de preservar os inimigos naturais que ocorrem
naturalmente, como:
Parasitos de ovos: Trichogramma pretiosum
Predadores de ovos: Geocoris punctipes, Orius insidiosus, Orius
tristicolor, e de lagartas: tesourinha (Dermaptera), joaninhas (Cycloneda
sanguinea e Scymnus sp.), aranhas e ácaros fitoseídeos, percevejos
pentatomidae (Podisus spp.) e rediuvídeos, Calosoma sp., Callida spp., e
vespas (Vespidae).
Parasitóides: himenópteros (Ichneumonidae, Scelionidae, Braconidae) e
dípteros taquinídeos.
Microorganismos entomopatogênicos naturaisw: fungos (Nomuraea
rileyi e Entomophthora sp.) e vírus (Baculovirus spp.)
Para “plantio das secas” fazer rotação de culturas, ou destruir
”tigueras” do amendoim, soja e milho.
Controle químico: Inseticidas recomendados, conforme tabela 1
Apesar de registrado apenas para o tripes, o carbofuran G
parece ter ação sobre percevejos e lagarta elasmo.
5. Bibliografia Consultada
ALMEIDA , P.R. & ARRUDA , H.V. Controle do tripes causador do
prateamento das folhas de amendoim por meio de inseticidas.
Bragantia, 21: 679-687, 1962.
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80
BACHEGA , A.R. & BUSOLI , A.C. Determinação do nível de controle do
tripes do prateamento do amendoim Enneothrips flavens
(Moulton,
1941)
(Thysanoptera:
Thripidae)
na
região
de
Sertãozinho, SP. FAI/Ituverava, SP, 1992, 30 p. (Trabalho de
graduação).
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JORGE, J.M. Resistência de genótipos de amendoim (Arachis hypogea
L.)
ao
ataque
de
Enneothrips
flavens
(Moulton,
1941)
(Thysanoptera: Thripidae), na região de Jaboticabal, SP – Brasil.
– FCAV-Unesp/Jaboticabal, 1993, 54p. (Trabalho de graduação).
LARA , F.M.; SÁ, CARVALHO, R.P.L. & SILVEIRA NETO, S. Ensaio de
controle do tripes e da lagarta-do-pescoço-vermelho em amendoim e
seus efeitos na produção. O Solo, 62 :17-21, 1970.
LARA , F.M.; SÁ, L..A.M.; SOBUE, S. & FERREIRA , M.T. Controle do
tripes do amendoim Enneothrips flavens (Moulton, 1941), em cultura
“da seca” O Biológico, 41 :251-255. 1975.
LASCA , D.H.C.; NEVES, G.S.; MARCELINO, M.C.S., BUSOLI , A.C.;
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MIP Amendoim – Instruções à rede . Campinas, Coordenadoria de
Assitência Técnica Integral, 1997. 6p (Manual 74).
MAZZO, A.A. Avaliação da população de tripes do prateamento
Enneothrips flavens (Moulton, 1941) (Thysanoptera: Thripidae), e
danos causados a cultura do amenoim das águas e das secas . –
FCAV-Unesp/Jaboticabal, 1990, 94p. (Trabalho de graduação).
ROSSETTO, C. J.; Pompeu, A.S. & Tella, R.
Moulton
(Thysanoptera:
Trhipidae)
Enneothrips flavens,
causando
prateamento
do
amendoinzeiro no Estado de São Paulo. Ciência e Cultura, 20: 257,
1968.
Tabela 1: Guia prático de produtos registrados para o controle de pragas
do ame ndoim. (Compêndio defensivos agrícolas, ANDREI, 1999).
Principio
ativo (i.a.)
Acephate
Produtos
comerciais
Acefato
Fersol
Cefanol
Orthene
BR
Grupo
químico
Classe
Toxicol
ógica
Organofosforad III
o
sistêmico
750
Bacillus
thuringiensis
Betacyflutrin
Dipel PM
Inseticida
biológico
Bulldock 125 piretróides
SC
IV
Carbaryl
Carbamato não II
sistêmico
Clorpirifós
Etil
Sevin 480 SC
Sevin 850 PM
Carbaril fersol
480SC
Carbaril fersol
pó 75
Clorpirifós
480 CE
Organofosforad
o
I
Cyflutrin
Baytroid CE
Piretróides
II
II
Pragas
Tripes
Lagartapescoçovermelho
Cigarrinhaverde
lagartas
Tripes
Lagartapescoçovermelho
Tripes
Elasmo
Cigarrinha
verde
lagartas
Tripes
Lagartapescoçovermelho
Tripes
Lagartapescoçovermelho
82
Deltametrina
Decis 25 CE
Piretróides
Dimetoato
Agritoato 400 Organofosforad
CE
o
Tiomet
400
CE
I
Enxofre
Thiovit
IV
Enxofre
Fenitrothion
III
Sumithion
Organofosforad
400 PM
o
Sumithion
500 CE
Metamidopho Hamidop 600 Organofosforad
s
CE
o
Metafós 600
CE
Matasip
Stron
Tamaron BR
Monocrotofos Agrophos 400 Organofosforad
CE
o
Azodrin CE
Nuvacron 400
CE
Parathion
Folidol
600 Organofosforad
metilico
CE
o
I
Parathion
methyl
Folisuper
I
Triclorfon
Triclorfon 500 Organofosforad
Organofosforad
o
Tripes
Lagartapescoçovermelho
Tripes
lagartas
Cigarrinha
verde
ácaros
Ácaro
vermelho
Tripes
lagartas
I
I
I
I
II
Tripes
Lagartas
Ácaro rajado
Lagartapescoçovermelho
I
Tripes
Lagartas
Ácaros
I
Tripes
Lagartas
Ácaro
vermelho
Lagartapescoçovermelho
Lagartas
Lagartapescoçovermelho
Lagartas
II
Carbofuran
Dissulfoton
Phorate
Terbufos
o
Furadan 50 G Carbamato
Solvirex 50 G Organofosforad
o
Granutox 50 Organofosforad
G
o
Counter 50 G Organofosforad
o
I
II
I
I
Tripes
Tripes,
cigarrinhas
Percevejo
preto
Tripes
e
cigarrinhas
Tripes
PRINCIPAIS DOENÇAS FÚNGICAS DO AMENDOIM E CONTROLE
Pesquisadora Científica Aparecida Marques de Almeida
Eng. Agrônoma, Laboratório de Sanidade Animal e Vegetal de Bauru –
Centro de Ação Regional do Instituto Biológico, Cx. .Postal 399, CEP
17030-000, Bauru - SP, Tel. (14) 230-3257. E- mail: ibbaur [email protected]
1. Introdução
O amendoim é suscetível ao ataque de diversos insetos e
microorganismos que podem afetar, com maior ou menor grau de
severidade, a produção agrícola ou a qualidade do produto, no campo, no
transporte ou no armazenamento.
Aproximadamente 50 gêneros de fungos causam doenças no
amendoim, mas só alguns são importantes para a cultura.
No Estado de São Paulo ou no Brasil, nem todas essas doenças
foram constatadas ou identificadas. Em nossas condições, no entanto as
perdas devido às doenças são consideradas um dos principais fatores que
contribuem para o baixo rendimento da cultura do amendoim,
84
principalmente se considerarmos que o cultivar mais plantado mostra-se
altamente suscetível às principais doenças que aqui ocorrem.
A produção comercial do amendoim só é viável mediante o
controle de determinadas pragas e doenças que afetam a cultura. O uso de
fungicidas,
práticas
culturais
e
cultivares
resistentes
tem
sido
desenvolvidos, com o objetivo de controlar patógenos específicos.
Além dos problemas relacionados com o impacto ambiental, o
uso de defensivos na cultura do amendoim contribui para elevar o seu
custo de produção.
2. Principais Doenças Foliares
As doenças da parte aérea, pela sua localização ou por eficiência
dos produtos químicos, têm seu controle facilitado quando comparadas
com as doenças por fungos de solo. Entretanto, a importância dessas
doenças não deve ser subestimada, pois quando a incidência se dá no
inicio do ciclo da cultura
e não são tomadas medidas de controle,
causam desfolha e seca prematuras das plantas afetando sensivelmente a
produção.
As mais comumente encontradas são: manchas foliares,
verrugose, mancha barrenta e ferrugem.
2.1. Cercosporioses
Entre as doenças foliares as manchas, causadas por Cercospora
arachidicola Hori (mancha castanha) e Cercosporidium personatum B&
C Deighton (mancha preta), tem sido responsáveis por grande redução na
produção comercial do amendoim devido à desfolha (15 a 50 % da
produção), em várias regiões do mundo. Dificilmente se encontra uma
cultura em fim de ciclo sem sintomas dessas doenças. A massa foliar
caída aumenta a incidência da murcha de Sclerotium, elevando ainda
mais os prejuízos.
Os sintomas primários das manchas foliares são lesões necróticas.
A mancha castanha mede até 12 mm de diâmetro, tem forma arredondada
irregular, halo amarelo. As frutificações são observadas na superfície
superior das folhas, já a mancha preta é menor, mede até 7 mm de
diâmetro, arredondadas com bordas mais uniformes, o halo amarelado é
indistinto ou ausente, e as frutificações no patógeno predominam na
superfície inferior da folha.
Os sintomas, além das folhas podem aparecer nos pecíolos, caule,
pedúnculo e vagens. A doença começa nas folhas mais velhas, avançando
progressivamente para as folhas mais novas.
Provavelmente devido a pequenas diferenças nas condições que
favorecem as duas doenças, principalmente temperaturas, a mancha
castanha aparece mais precocemente, no plantio de setembro a
novembro, atualmente adotado no Estado de São Paulo, em áreas de
renovação de canaviais.
O fungo sobrevive de uma estação a outra como conídio ou
micélio, em restos de culturas e plantas voluntárias. Estes podem
permanecer por até 10 meses e por este motivo que a doença se mantém
quando se faz uma ou duas safras/ano.
O controle das doenças pode ser feito através da integração de
diversas medidas que visam reduzir o inóculo inicial e a taxa de infecção,
retardando o início da epidemia.
É recomendável a rotação de culturas com espécies não
pertencentes ao gênero Arachis, por 2 a 3 anos, medida já adotada na
86
renovação de canaviais. A incorporação de restos de cultura através de
aração profunda tem eficiência em retardar o inicio das epidemias, como
também a destruição de plantas voluntárias ou tigueras as medidas que
reduzem a taxa de infecção pode ser citado o uso de cultivares
resistentes. Embora exista fonte de resistência nas espécies silvestres, nos
cultivares comerciais está ausente. O cultivar IAC-Caiapó é considerado
moderadamente resistente a moderadamente suscetível.Os cultivares do
Grupo Virginia são mais resistentes que os do Grupo Valência e Spanish.
A utilização de fungicidas para o controle desta doença é uma
prática corrente. No entanto, a aplicação indiscriminada de fungicidas,
pode ter efeito indesejável, pois tem-se observado o aparecimento de
raças tolerantes a benomyl.
Os produtos químicos para o controle da doença, são
recomendados para serem aplicados periodicamente a intervalos
regulares. Dependendo da persistência nas plantas elas podem ser
aplicados 3 x 4 vezes durante o ciclo, a partir dos 35-40 dias da
emergência.
Os fungicidas recomendados são à base de benomyl, bitertanol,
clorotalonil, difeconazole, hidróxido de cobre, mancozeb, oxicloreto de
cobre, propiconazole, tebuconazole, trifenil acetato de estanho, trifenil
hidróxido de estanho e ziram.
A época de aplicação de fungicidas, normalmente, tem sido
baseado no calendário, nem sempre coincidindo com a presença da
doença nos cultivos comerciais. Atualmente, existem resultados de
pesquisas, utilizando-se de modelos de previsão da ocorrência de
doenças, visando racionalização do uso dos fungicidas. Modelos do tipo
agrometeorológicos têm surgido com certa frequência na literatura
especializada.
2.2. Verrugose - Sphaceloma arachidis Bit & Jenk
Este patógeno é responsável por lesões em folhas, pecíolos e
hastes das plantas de amendoim. A coalescência das lesões em pecíolos e
hastes resulta em distorções nos referidos órgãos (hiperplasia e
hipertrofia dos tecidos), sendo as plantas severamente afetadas têm seu
desenvolvimento prejudicado, ocasionando quebra de produção de
vagens.
O fungo sobrevive de uma estação para outra, nos restos de
cultura e em plantas voluntárias e é disseminado da lesão na própria
planta por respingos de chuva.
As medidas de controle que reduzem o inóculo inicial, já descritas
para as cercosporioses, são também eficientes em retardar o início das
epidemias de verrugose. O cultivar IAC-caiapó é considerado
moderadamente resistente a verrugose.
2.3. Mancha barrenta - Phoma arachidicola Marasas, Pauer &
Boerema
Doença de importância secundária fazendo seu aparecimento no
terço final do ciclo vegetativo da cultura, na maioria das vezes sem
gravidade, manifestando-se na forma de numerosas lesões, pequenas,
esparsas, de cor pardacenta na página superior das folhas. Posteriormente
estas coalescem, formando lesões maiores, que abrangem grandes áreas
dos folíolos, passando, também a serem visíveis na superfície inferior. As
folhas afetadas apresentam-se como salpicadas de barro daí o seu nome.
88
Esta doença é responsável pela diminuição na área fotossintética
dos folíolos infectados, embora com menor intensidade que as
cercosporioses, pois os folíolos não caem até que estejam completamente
cobertos pela mancha.
As medidas de controle utilizadas no controle das cercosporioses
tem mantido a mancha barrenta em níveis aceitáveis de ocorrência. O
cultivar IAC-caiapó é considerado resistente a esta mancha.
2.4. Ferrugem - Puccinia arachidicola
De ocorrência menos frequente, vem aumentando em importância
em anos recentes. O estádio em que a cultura se encontra é importante no
caso de incidências severas. No florescimento os danos são maiores.
A ferrugem caracteriza-se pelos sintomas de formação de
pústulas, em ambas as faces do folíolo afetado de coloração avermelhada
a marrom-escura, pulverulentas devido a presença de esporos, facilmente
disseminados pelo vento, chuva e insetos. Estas pústulas podem juntarse, vindo a destruir a maior parte do limbo foliar. As folhas novas são
mais suscetíveis. Alta umidade durante a estação favorece a ocorrência
da doença.
Para o controle, são adotadas medidas de exclusão para as regiões
não contaminadas. Logo após a introdução, são adotadas medidas de
erradicação.
A rotação de culturas é medida recomendável para o controle da
doença. Fungicidas a base de triazóis, o tebuconazole, cyproconozole,
clorotalonil são eficientes.
2.5. Mofo cinzento - Botrytis cinerea Pers. ex. Fries
É uma doença de pequena importância econômica, ocorrendo
esporadicamente
no
amendoim
das
secas,
devido
as
menores
temperaturas.
A doença se manifesta por sintomas reflexos de murcha e
amarelecimento das folhas, em consequência dos sintomas primários
necróticos nas hastes. A necrose dos tecidos da haste
se estende,
atingindo pedúnculos, vagens, colo e parte das raízes sob condições de
alta umidade os tecidos afetados se revestem de um crescimento
pulverulento cinzento constituído pelo micélio e frutificações do fungo.
No campo, as plantas afetadas tendem a se distribuir em
reboleiras, podem morrer e, quando colhidas, desprendem as vagens com
facilidade, as vagens afetadas são escuras, chochas ou apresentam
sementes enrugadas e mal desenvolvidas.
3. Doenças Causadas por Fungos do Solo em Sementes e Plântulas
No grupo de doenças do solo podem ser destacados os fungos
Aspergillus spp, Rhizopus sp, Fusarium spp, Macrophomina phaseolina,
Rhyzoctonia solani, Sclerotium rolfsii, pela frequência que ocorrem e
pela sua ação sobre as sementes, prejudicando a germinação ou causando
dano às plântulas. De um modo geral, um total de 15% de perdas é
atribuida a esses fungos. Devido às características desses fungos, o
tratamento químico de sementes com fungicidas torna-se uma prática
obrigatória para o amendoim.
3.1. Rizoctoniose - Rhizoctonia solani Kuhn
É uma das principais doenças do amendoim no Estado de São
Paulo. Ocorre com frequência na forma de damping-off de pré e pós-
90
emergência resultando em baixo stand inicial e é correlacionada com
podridão de ginóforos e vagens.
A podridão de vagens, que pode ocorrer no final do ciclo,
caracteriza-se por ocasionar enegrecimento parcial ou total das vagens,
com sementes pequenas, enrugadas e de coloração mais clara que o
normal. Estas vagens destacam-se facilmente da planta. Muitas va gens
são perdidas na colheita. Vagens colhidas produzem sementes infectadas
que têm seu valor comercial reduzido, quando destinadas ao consumo, ou
baixo vigor e germinação, reduzindo seu valor cultural, quando utilizadas
como semente. As vagens infectadas resistem muito mal ao
armazenamento.
A sobrevivência do fungo de uma estação de cultivo para outra se
dá facilmente em restos de cultura ou outro substrato orgânico, uma vez
que o fungo tem grande capacidade saprofítica. Também há possibilidade
de sobrevivência através de escleródios, que germinam estimulados por
exsudatos de hospedeiros suscetíveis ou pela presença de matéria
orgânica no solo. Como R. solani possui uma ampla gama de hospedeiros
cultivados e selvagens e restos orgânicos destas plantas são
periodicamente adicionados ao solo, sua sobrevivência dá-se por longos
períodos na maioria dos solos.
A disseminação é realizada através de sementes, solo, água,
implementos agrícolas e próprio micélio. As condições que favorecem a
incidência da doença são alta umidade e temperatura amena na fase de
germinação e emergência das plântulas, ou seja, condições que mantém
os tecidos tenros por mais tempo.
O controle é efetuado por tratamento de sementes com fungicidas
a base de quintozene, captan, thiram, carboxin, carboxin + thiram, uso de
sementes sadias, rotação de culturas por 3 a 4 anos, com culturas não
hospedeiras, como milho, arroz, trigo, soja, etc.; nas áreas muito
contaminadas. Recomenda-se arações profundas, para incorporar restos
de culturas, acelerando sua decomposição.
3.2. Murcha de Sclerotium - Sclerotium rolfsii sacc
A murcha de Sclerotium é provavelmente a mais importante
doença que afeta a cultura do amendoim no Estado de São Paulo,
constituindo-se em solos arenosos e principalmente em época chuvosa e
quente o maior problema.
As plantas afetadas murcham com maior ou menor intensidade.
Quando arrancadas, observa-se podridão escura desde a região do colo
até as raízes, podendo propagar-se para os ginóforos e vagens. Em
condições de calor e umidade, desenvolve-se na região do colo, micélio
de cor branca e aspecto cotonoso, onde são produzidos os escleródios,
órgãos de resistência do fungo que permanecem viáveis no solo por
longo período de tempo a espera de condições favoráveis para a
germinação.
O fungo é cosmopolita e, além disso, é capaz de multiplicar-se na
matéria orgânica morta no solo, como ocorre nas áreas de renovação de
canaviais na região de Ribeirão Preto, onde o patógeno se reproduz nos
restos de cultura da cana-de-açúcar.
A sobrevivência do fungo ocorre principalmente através dos
escleródios e em restos de cultura, mesmo de plantas não hospedeiras. A
longevidade do escleródio é superior a 5 anos. A disseminação do fungo
de um campo para outro se dá principalmente pelo transporte de
materiais contaminados (solo, estercos, mudas, sementes, etc.) podendo
92
atuar como agente, de disseminação o homem, os animais, o vento e a
água. Dentro de um mesmo campo, o patógeno é disseminado durante os
tratos culturais, pela água de superfície e diretamente através do
crescimento do micélio do fungo.
As condições que favorecem a incidência da murcha são alta
umidade e alta temperatura (25 º-35ºC.) S. rolfsii é altamente exigente em
oxigênio. Este fator limita a germinação dos escleródios no interior de
solos pesados e o desenvolvimento do patógeno só ocorre próximo da
superfície. A decomposição das folhas caídas devido a cercosporioses
estimula a germinação dos escleródios.
As práticas de controle recomendadas são: rotação de cultura,
tratamento contra doenças da parte aérea, evitando assim a queda de
folhas e o acúmulo de matéria orgânica no solo, aração profunda visando
ao enterrio dos restos de cultura anterior; e calagem. O controle químico
através do tratamento do solo com fungicidas não é economicamente
recomendado. Realizar bom controle de plantas daninhas, eliminando
assim os hospedeiros selvagens. O controle biológico, utilizando espécies
de Trichoderma antagonista comprovado de S.rolfsii, é uma prática que
tem sido relatada, bem como o uso da solarização.
3.3. Mofo amarelo – Aspergillus sp
Como doença da planta de amendoim, tem pequena importância.
Entretanto os fungos desse gênero são considerados importantes pelas
toxinas cancerígenas denominadas aflatoxinas.
Em São Paulo, o amendoim é colhido principalmente entre final
de dezembro e início de fevereiro, portanto durante os meses de alta
precipitação (acima de 200 mm mensais). A alta temperatura e umidade
dificultam a secagem após o arrancamento e o armazenamento,
favorecendo o aparecimento da aflatoxina.
4. Referências Bibliográficas
ANDREI, E. (coord.) 1993. Compêndio de defensivos agrícolas. 4 ed.
São Paulo, Organização Andrei Ltda 448 p.
PORTER, D.M.; SMITH, D.H.; RODRIGUEZ -KABANA , R. Compedium of
peanut diseases. APS Press, 1984, 73p.
KIMATI et al. Guia de fungicidas agrícolas: recomendações por
cultura. Grupo Paulista de Fitopatologia. 2 ed. Jaboticabal: Grupo
Paulista de Fitopatologia, 1997. 225p.
M ONITORAMENTO DE PRAGAS E DOENÇAS DO G IRASSOL CULTIVADO
NA “SAFRINHA”
Pesquisadora Científica Dra. Maria Regina G. Ungaro
Eng. Agrônoma, Instituto Agronômico de Campinas, Caixa Postal 28,
CEGRAN, Campinas, SP, CEP 13001-970. E- mail: [email protected]
1. Introdução
O girassol (Helianthus annuus L.) é originário da América do
Norte. O gênero Helianthus compreende 50 espécies, sendo duas delas,
H. annuus e H. tuberosus, cultivadas como plantas alimentícias. O
girassol cultivado apresenta uma estreita base genética, sendo bastante
deficiente em genes que condicionam resistência a doenças e pragas. Mas
esses genes podem ser encontrados nas espécies selvagens, como é o
caso da resistência à ferrugem e ao míldio.
94
No Brasil, o seu óleo industrial já é o segundo mais consumido. O
cultivo no Estado de São Paulo vem aumentando há algum tempo,
geralmente cultivado na “safrinha”, tem-se prestado a diferentes
utilizações: grãos para a extração de óleo industrial e medicinal,
alimentação humana e animal; forragem; silagem; produção de mel.
Pragas e doenças podem comportar-se de maneira bastante
diversa dependendo do sistema de manejo adotado, da rotação de
culturas, do tipo de solo e da época de plantio, principalmente.
2. Pragas
Espécies selvagens de girassol co-evoluíram com insetos
herbívoros e seus entomófagos no ambiente de origem na América do
Norte, o que torna o problema com pragas muito mais importantes nessa
região que no restante do mundo (SCHNEITER, 1997). Por sorte, a maioria
das espécies de insetos associados ao girassol é inócua ou benéfica para
as plantas, e suas relações variam de obrigatórias a puramente casuais ou
não essenciais (MCGREGOR, 1976).
Uma grande variedade de insetos se alimenta sobre girassol
cultivado no Brasil. A lagarta de Chlosyne lacinia saundersii tem sido a
praga mais freqüentemente detectada. LOURENÇÃO & UNGARO (1983)
encontraram níveis de desfolha que variavam de 19 a 58%. A borboleta
oviposita em diversas espécies. Dependendo do estágio em que o ataque
começa, a produção de grãos pode chegar a ser totalmente inviabilizada.
Além
da
lagarta-do-girassol
estão
associadas
à
cultura
Rachiplusia nu, que destrói plantas jovens; Agrotis ipsilon; a broca
Diabrotica speciosa que destrói as folhas (GALLO et al. 1988); Empoasca
kraemeri (MILANEZ et al. 1986); o besouro Cyclocephala melanocephala
que se alimenta dos capítulos e grãos em formação (UNGARO, 1978),
Phyllophaga cuyabana (OLIVEIRA et al., 1998) e os pentatomídeos
Euschistus heros (MALAGUIDO & PANIZZI, 1998 a, b), Piezodorus
guildinii, Acrosternum armigera, Nezara viridula, Thyanta perditor e
Thyanta sp (MALAGUIDO & PANIZZI, 1998c). A constatação dessas
espécies de pentatomídeos na cultura do girassol é preocupante pois elas
estão presentes também na cultura da soja, onde E. heros, N. viridula e P.
guildinii são consideradas pragas de importância econômica. Some-se a
isto que Euschistus heros teve sua ocorrência registrada na cultura do
girassol por F ERREIRA & PANIZZI (1982), indicando uma provável
utilização do girassol pelo percevejo como hospedeiro alternativo.
MALAGUIDO & PANIZZI (1998c), realizando levantamento em girassol na
região de Londrina-PR, relataram muitos pentatomídeos que são
considerados pragas em soja e que poderão ser importantes também em
girassol, exigindo inclusive medidas de controle.
Um problema a se considerar é que muitos insetos, considerados
pragas principais nas culturas de soja e milho, vêm adquirindo resistência
aos inseticidas. Além deles, existem também outros insetos presentes nas
culturas que são considerados pragas secundárias, mas que, nos últimos
anos, vêm adquirindo o “status” de praga principal em virtude de sua
constância
e
elevada
população,
indicando
uma
mudança
de
comportamento da entomofauna nessas culturas.
No Estado de São Paulo insetos de solo como broca-do-colo,
lagarta-rosca, lagarta-elasmo, corós e percevejo-castanho têm surgido na
cultura da soja em níveis crescentes, causando falhas na emergência ou
amarelecimento após esta, havendo em alguns casos a necessidade de
replantio (RAMIRO, 1998).
96
O manejo do solo também influencia o comportamento da
entomofauna. Com o plantio direto ocorre uma recuperação da
microbiota do solo, o que leva ao aumento de matéria orgânica e,
conseqüentemente ao incremento da entomofauna, tanto de pragas quanto
de inimigos naturais.
O monitoramento da cultura do plantio ao florescimento é
essencial para evitar maiores danos. Seguem exemplos com algumas
pragas:
As lagartas geralmente ocorrem em reboleiras, nas bordaduras ou
em áreas restritas. Assim, o acompanhamento sistemático da cultura
permite detectá-las e controlá- las mais eficientemente e com me nor gasto
de defensivos. Quando os focos de lagarta começam a aparecer já no
final do florescimento, não há necessidade de controle, pois ele será
bastante difícil e com baixo retorno econômico.
O tratamento de sementes impede ou reduz bastante o ataque de
pombas e formigas.
3. Doenças
O girassol é hospedeiro de pelo menos 35 microrganismos
patogênicos, principalmente fungos, os quais, sob certas condições
climáticas, interferem na fisiologia normal da planta, podendo causar
significativas reduções na produção e na qualidade do material.
Afortunadamente, poucos causam sérias perdas econômicas.
No Brasil, as principais doenças que têm ocorrido são causadas
por
fungos
do
gênero Alternaria,
especialmente
A.
helianthi,
Diaphorte/Phomopsis helianthi, Sclerotinia sclerotiorum, Oidium spp,
Botrytis cinerea; algumas bactérias, como Erwinia carotovora e
Pseudomonas spp; nematóides do gênero Meloidogyne. Atualmente com
importância bastante reduzida, a ferrugem, causada pelo fungo Puccinia
helianthi, foi a principal causa do fracasso do cultivo do girassol na
década de 60 (UNGARO, 1982).
A cultura do girassol, como opção econômica para compor
sistemas de produção agrícola, exige o manejo adequado das diversas
doenças que a colonizam, sendo este o fator mais limitante em algumas
das regiões produtoras.
A mancha de alternaria parece ser predominante em todas as
épocas de semeadura nas diferentes regiões de cultivo, apesar de variar
bastante em intensidade e na possibilidade de dano, enquanto a podridão
branca (S. sclerotiorum) ocorre principalmente em condições de
temperatura amena e alta umidade, o que praticamente inviabiliza o
cultivo do girassol como cultura comercial, quando as condições de clima
são predisponentes.
Além
de
S.
sclerotiorum,
diversos
fungos
que
atuam
individualmente ou em complexo causam podridões radiculares ou da
base do caule e murchas em girassol. Entre eles, destacam-se Sclerotium
rolfsii, agente causal da podridão do colo e tombamento, Macrophomina
phaseolina, causando podridão negra da raiz e Verticillium dahliae, que
ocasiona murcha. Esses fungos estão amplamente distribuídos nas
regiões de cultivo do girassol no mundo e, sob condições de estresse das
plantas, podem causar danos econômicos ou incrementar aqueles
inicialmente ocasionados por outros fungos (ZIMMER & HOES , 1978;
DAVET et al., 1991; P EREYRA & ESCANDE, 1994).
As condições ótimas para que uma doença ocorra e se desenvolva
é o resultado da combinação de três fatores: hospedeiro susceptível,
98
patógeno infectivo e condições favoráveis do ambiente. Qualquer
alteração em um destes fatores causa uma correspondente alteração na
expressão da doença.
As culturas da “safrinha” encontram ambiente com condições
favoráveis ao aparecimento de problemas com pragas e doenças, uma vez
que a cultura que a antecede pode servir de porta de entrada e de
reservatório desses organismos.
Muitas das doenças do girassol são transmitidas pela semente;
algumas dependem de restos culturais infectados ou da ação do vento.
Práticas culturais podem ser instrumentos bastante úteis no
controle ou na disseminação de patógenos, especialmente nos de solo. O
cultivo superficial ou plantio direto sob condições de baixas
temperaturas, aceleram a deterioração dos esclerócios de S. sclerotiorum,
diminuindo a entrada da doença pelas raízes; no entanto, ainda fica
preservado suficiente inóculo para causar infecção nos capítulos. O
cultivo profundo enterra grande parte dos esclerócios, favorecendo a
infecção pelas raízes, sob condições de solo úmido (SCHNEITER, 1997).
Assim, plantio direto ou cultivo raso em regiões mais frias e cultivo
profundo em áreas secas poderão ser utilizados para quebrar a seqüência
dos dois sistemas epidemiológicos de S. sclerotiorum.
Patógenos causadores de tombamento em soja, de pré e pós
emergência e podridão de raízes, os quais são disseminados também
através de sementes, como Fusarium spp., Sclerotium
rolfsii,
Macrophomina phaseolina, Rhizoctonia solani, Sclerotinia sclerotiorum,
entre outros, vêm-se acentuando com a prática do cultivo de áreas
extensivas, do plantio sucessivo e da adoção de medidas de controle
inadequadas; poderão aumentar ainda mais com a sucessão soja-girassol,
uma vez que ambos são hospedeiros dos mesmos organismos.
4. Referências Bibliográficas
BOIÇA JÚNIOR, A.L., A.C. BOLONHEZI & J. PACCINI NETO. 1984.
Levantamento de insetos-pragas e seus inimigos naturais em girassol
(Helianthus annuus L.), cultivado em primeira e segunda época, no
município de Selvíria-MS. An. Soc. Entomol. Brasil, 13: 192-195.
DAVET , P.; PÉRÈS, A.; REGNAULT , Y.; TOURVIELLE, D.’PENAUD, A. Les
maladies du tournesol. Paris: CETIOM, 1991. 72p.
FERREIRA , B.S.C. & A.R. PANIZZI. Percevejos - pragas da soja no norte
do Paraná: abundância em relação à fenologia da planta e hospedeiros
intermediários. In: Seminário Nacional de Pesquisa de Soja, p.140 –
151, 1982.
LOURENÇÃO, A.L. & UNGARO, M.R.G. Preferência para alimentação de
lagartas de Chlosyne lacinia
saundersii Doubleday & Hewitson,
1849, em cultivares de girassol. Bragantia, 42:281-286, 1983.
MALAGUIDO, A.B. & A.R. PANIZZI. 1998 a. Pentatomofauna associated
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MALAGUIDO, A.B. & A.R. PANIZZI. 1998 b. Danos de Euschistus heros
(Fabr.) (Hemiptera:Pentatomidae) em aquênios de girassol. An. Soc.
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MALAGUIDO, A.B. & A.R. PANIZZI. 1998 c. Pentatomofauna associated
with sunflower in Northern Paraná State, Brazil. An. Soc. Entomol.
Brasil 27: 473-475.
100
MCGREGOR, S.E. 1976. Insect pollination of cultivated crop specie s. In:
SCHNEITER, A. A. Sunflower Technology and Production. Madison,
American Society of Agronomy, 1997. 834P.
MORAES, S.A.; UNGARO, M.R.G. & M ENDES, B.M.J. Alternaria
helianthi, agente causal de doença em girassol. Campinas,
Fundação Cargill, 1983. 20p.
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RAMIRO, Z.A. Pragas na cultura da soja. In Reunião Itinerante de
Fitossanidade do Instituto Biológico, 1, Miguelópolis, 1998. 139 p.
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UNGARO, M.R.G. O girassol no Brasil. O Agronômico, 34:43-62, 1982.
ZIMMER, D.E.; HOES, J,A. Diseases. In: CARTER, J.F. ed. Sunflower
science and technology. Madison: American Society of Agronomy,
1978. p.225-262.
M ONITORAMENTO E CONTROLE DE PROBLEMAS FITOSSANITÁRIOS DM
CULTURAS DE SAFRINHA : PRAGAS EM M ILHO
Pesquisador Científico Romildo Cássio Siloto
Biólogo, Laboratório de Entomologia Econômica, Centro Experimental
do Instituto Biológico, Instituto Biológico, Cx. Postal 70, CEP 13001970, Campinas-SP, tel. (19) 3252-8342. E- mail [email protected]
1. Introdução
Dentre as plantas graníferas cultivadas no Brasil, o milho
constitui-se como uma das mais importantes. Sua exploração se dá tanto
na pequena propriedade como também em grandes áreas e com a
utilização de tecnologias avançadas.
No Estado de São Paulo a cultura do milho ocupa, em média, uma
área de 1,2 milhões de hectares, perdendo apenas para a cultura da canade-açúcar (SÃO PAULO AGRÍCola, 2000). Dentro desse panorama destacase o cultivo de safrinha, considerado uma segunda safra do milho.
O crescente desenvolvimento dessa modalidade de cultivo está associado
à adoção, por parte dos produtores, das tecnologias resultantes dos
trabalhos de pesquisas desenvolvidos ao longo dos últimos anos
(DUARTE et al., 2000).
Dentre os diversos fatores que podem afetar a estabilidade da
cultura de milho safrinha estão os fatores bióticos, destacando-se o
problema com as pragas. O atual modelo de produção agrícola aumentou
a oferta de alimento para os insetos, favoreceu o surgimento de pragas
exóticas, mudou o status de pragas secundárias para primárias e
principalmente provocou um efeito multiplicador das pragas já existentes
na cultura (GERAGE & BIANCO, citados por DUARTE, 2000).
Assim, o estabelecimento de táticas adequadas de manejo é uma
importante ferramenta para que as pragas não atinjam níveis de danos
econômicos e tornem-se limitantes à produção.
2. Importância das Pragas na Safrinha de Milho
A cultura do milho é explorada em todas as regiões do Estado de
São Paulo, divididas em 40 EDRs (Escritório de Desenvolvimento
Regional). Essa exploração se dá na safra principal ou safra de verão e
102
também na segunda safra ou safra de outono- inverno (“safrinha”),
geralmente em sucessão à cultura da soja.
Na agricultura paulista a área cultivada com milho safrinha
representa aproximadamente um terço (cerca de 400 mil hectares) do
total cultivado no Estado (DUARTE et al., 2000). Segundo dados do
Instituto de Economia Agrícola (2000), na EDR de Ribeirão Preto, em
1999, a área cultivada com milho safrinha foi de 1.450 ha (11,6% do total
da região), com um produção aproximada de 2.000 kg/ha.
De pouca expressão no início da década de 90, o cultivo de milho
safrinha vem aumentando significativamente nos últimos anos. Ainda
que na maioria das regiões a produtividade seja menor que a da safra de
verão, a safrinha tem se tornado uma alternativa de aumento de renda, em
face de possibilidade de melhores preços de venda na entressafra e de um
menor custo de produção.
Nesse sentido a ampliação dos conhecimentos sobre as
características técnicas, organização e estrutura de produção tornam-se
importantes para o estabelecimento de ações que visem a estabilidade da
cultura. Essa estabilidade pode ser afetada por diversos fatores e dentre
eles, o controle de pragas merece grande atenção.
As pragas influem diretamente na produtividade por afetarem as
plantas em suas diferentes fases de desenvolvimento e principalmente em
função de reduzirem o número mínimo de plantas na colheita, uma vez
que podem ocasionar a morte das sementes ou das plântulas. O milho
produzido na safrinha pode ser atacado pelas mesmas pragas da safra de
verão e em alguns casos, com maior severidade. Sendo uma cultura com
um número relativamente pequeno de plantas por unidade de área, a
perda delas pelo ataque de pragas pode significar prejuízo na produção.
O plantio em grandes áreas na safra de verão, associado ao cultivo
intensivo de safrinha sucedendo a soja ou mesmo o milho e incluindo-se
o incremento de áreas com o sistema de plantio direto, têm provocado
uma mudança no panorama de distribuição das pragas (GASSEN , 1999). A
presença contínua do milho no campo proporciona um efeito
multiplicador das pragas na cultura, exigindo que sejam controladas a um
nível que não causem danos econômicos.
O controle de pragas ainda é feito em grande parte através da
aplicação de inseticidas, que aumentam consideravelmente o custo de
produção. Além de poder inviabilizar economicamente a cultura, o
número cada vez maior de pulverizações vem provocando a eliminação
indiscriminada de inimigos naturais, favorecendo a seleção de
populações resistentes e expondo ambiente, agricultores e consumidores
aos riscos de contaminação. Assim deve-se considerar a importância da
utilização de técnicas de manejo integrado de pragas, através da seleção e
uso adequado de medidas de controle.
Dentre os procedimentos que devem ser observados destacam-se
o conhecimento do cultivo anterior e as pragas que nele ocorreram; a
identificação das pragas presentes na cultura e quais deverão ser
manejadas; as técnicas de monitoramento; a determinação do nível de
dano e o estabelecimento de estratégias de ação.
3. Pragas de Solo
As pragas de solo são constituídas na sua maioria por insetos,
embora outros artrópodes como centopéias, piolhos–de-cobra, lesmas e
caracóis também possam causar danos em plantas cultivadas.
104
As informações sobre as pragas de solo presentes nas áreas em
cultivos anteriores ajudam no monitoramento e no estabelecimento de
estratégias de manejo. Quando a cultura é instalada em áreas de plantio
convencional, o controle cultural por meio de preparo do solo pode
reduzir significativamente a população. Quando se utiliza o sistema de
plantio direto deve-se lançar mão de outras táticas de controle. O
tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos é um controle
preventivo que protege as plântulas contra boa parte das pragas de solo,
seja pela morte do inseto ou pela repelência. Entretanto essa proteção se
dá em média até 3-4 semanas após a semeadura e no caso de algumas
pragas esse método pode não proporcionar um controle eficiente após
esse período. A pulverização no sulco de plantio pode ser uma
alternativa, mas deve-se considerar a viabilidade desse método em
função dos custos de produção. Enfatiza-se assim a necessidade de se
fazer uma amostragem das pragas na área do cultivo e nas áreas
adjacentes, levando-se sempre em conta os cultivos anteriores.
De um modo geral as pragas de solo são classificadas em
subterrâneas ou da superfície do solo. As pragas subterrâneas podem
atacar sementes em processo de germinação ou danificar as raízes de
plantas já estabelecidas. As da superfície do solo atacam plantas desde as
recém-germinadas até as de estágio de 4-6 folhas (aproximadamente 3040 cm). Nos dois casos, tanto as pragas subterrâneas como as da
superfície são limitantes da produção uma vez que podem reduzir o
número adequado de plantas por unid ade de área.
4. Pragas Subterrâneas
As principais pragas subterrâneas que causam prejuízos na cultura
de milho safrinha são os cupins, a larva-alfinete, os corós e os
percevejos-castanhos.
Ø
Cupins = Os cupins (Heterotermes sp; Cornitermes sp e
Procornitermes sp) atacam as sementes de milho, nas áreas plantadas
próximas aos seus ninhos. Eles destroem as sementes antes da
germinação, reduzindo o número de plantas. Quando o ataque é intenso
às vezes é necessário se fazer o replantio. O tratamento de sementes
pode ser uma alternativa embora o controle biológico com iscas com
entomopatógenos também seja uma medida viável.
Ø
Larva-alfinete
= Os danos causados pela larva-alfinete
(Diabrotica speciosa) são conhecidos por “pescoço-de-ganso”. O
ataque das larvas nas raízes adventícias causam tombamento nas
plantas e os nós superiores que ficam em contato com o solo acabam
por se enraizar, formando um encurvamento típico. Com isso há
problemas na colheita mecanizada, resultando em perdas de espigas e
grãos. O controle preventivo não é recomendado devido ao seu alto
custo. A melhor tática ainda é o monitoramento e controle nas culturas
anteriores.
Ø
Coró = Os corós podem atacar as sementes, plântulas e raízes
provocando uma diminuição de plantas na colheita. O controle físico
por meio de preparo do solo não é efetivo para os corós. O tratamento
de sementes pode ser uma alternativa para as infestações que ocorrem
até as primeiras semanas após a germinação.
Ø
Percevejo-castanho = Os percevejos-castanhos (Scaptocoris
castanea) são insetos sugadores das raízes. No milho safrinha, as
infestações ocorrem principalmente após a germinação das plântulas.
106
As plantas atacadas não conseguem se desenvolver e nos casos de
infestações mais severas há necessidade de se fazer o replantio. Tanto
as formas imaturas (ninfas) quanto os adultos podem atacar a cultura.
Esse ataque ocorre muitas vezes na forma de reboleiras. O controle
preventivo via tratamento de sementes não tem demonstrado bons
resultados. A aplicação de inseticidas no sulco de plant io proporciona
uma melhor proteção nas primeiras semanas após a germinação.
5. Pragas da Superfície do Solo
Destacam-se principalmente a lagarta-elasmo e lagarta-rosca.
Ø
Lagarta-elasmo = A lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignoselus)
ataca as plantas na região de crescimento, ocasionado o sintoma
conhecido por “coração- morto” devido à morte das folhas centrais.
Como a lagarta-elasmo é uma praga bastante destrutiva há necessidade
de se fazer um monitoramento constante, principalmente nas áreas com
histórico de ocorrência da praga. Tão logo seja detectada sua presença
na cultura, deve-se iniciar o controle. Quando se utilizar produtos
químicos, a pulverização deverá ser feita em alto volume (> 350 l/ha) e
com jato dirigido para a base da planta.
Ø
Lagarta-rosca = As infestações da lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)
podem ocorrer nas plantas de milho mais desenvolvidas, mas também
logo após a germinação. A lagarta ataca o colmo da planta junto ao
solo. Nas plantas maiores os danos são mais significativos uma vez que
a injúria se dará na região de crescimento e provocando a sua morte. O
tratamento de sementes proporciona um relativo controle quando as
infestações ocorrem até 2-3 semanas após a emergência da planta. A
partir daí as infestações devem ser controladas por meio de
pulverizações em alto volume com jato dirigido para a base das plantas.
6. Pragas da Parte Aérea
As pragas da parte aérea que merecem maior atenção na safrinha
são os tripes, as cigarrinhas, os percevejos barriga-verde e percevejoverde-da-soja, a broca-da-cana-de-açúcar e a lagarta-do-cartucho.
Ø
Tripes = A importância dos tripes na safrinha se dá em função de
poderem reduzir o número de plantas na colheita. Muitas informações
precisam ainda ser pesquisadas, mas a sua ocorrência nos períodos
secos pode demandar medidas de controle. O tratamento de sementes
tem controlado a praga nas infestações que ocorrem no início da
cultura.
Ø
Cigarrinha das pastagens = A cigarrinha das pastagens (Deois
flavopicta)
tem
considerável
impacto
na
cultura
do
milho
principalmente quando ocorrem infestações nas primeiras semanas
após a emergência das plantas. A sucção da seiva e injeção de toxinas
provocam secamento e até morte das plântulas. Em plantas maiores
ocorre redução de crescimento. Na época de safrinha podem ocorrer
picos populacionais que coincidem com os estágios mais suscetíveis
das plantas. É importante monitorar as áreas adjacentes à cultura,
principalmente nas áreas próximas de pastagens, decidindo-se por um
controle nas bordas, tanto da lavoura como das pastage ns. Os adultos,
cuja fase é a que causa danos nas plantas, podem ser controlados com
inseticidas de contato.
Ø
Cigarrinha -do-milho = A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis)
tem importância para a cultura mais pelos seus danos indiretos do que
108
diretos. Os danos diretos causados pela sucção da seiva são ainda
poucos estudados e aparentemente não são de nível econômico. O
controle da praga se dá mais visando a redução de doenças. A
cigarrinha-do-milho é um vetor de micoplasma que causa uma doença
no milho conhecida por “enfezamento”, caracterizada por apresentar
estrias amareladas nas folhas e reduzir a velocidade de crescimento das
plantas. Dentre as táticas de controle, a recomendação é a de utilização
de genótipos resistentes à doença. Em grandes áreas pode ser feito
também a pulverização nas bordaduras, evitando a entrada da praga
para dentro da lavoura.
Ø
Percevejos = Os percevejos que têm infestado a cultura de milho
safrinha são o percevejo barriga-verde (Dichelops furcatus) e o
percevejo- verde-da-soja (Nezara viridula). Esses insetos sugam a seiva
provocando um perfilhamento das plantas e reduzindo a produção. Em
plântulas mais novas pode ocorrer secamento, provocando prejuízos
ainda maiores. É importante o monitoramento na área a fim de se
realizar o controle com inseticidas. Esse controle deve ser realizado
quando forem encontrados mais de um percevejo por m2 .
Ø
Broca-da-cana-de-açúcar
=
A
broca-da-cana-de-açúcar
(Diatraea saccharalis) vem crescendo em importância na cultura de
milho safrinha em diversas regiões. Essa praga que não costuma
apresentar danos econômicos na safra de verão está agora se
constituindo num problema na safrinha, uma vez que as infestações têm
ocorrido no início da cultura em plântulas recém- germinadas. As larvas
penetram no colmo e alimentam-se no seu interior, atingindo o ponto
de crescimento e provocando a morte da planta. Como as lagartas se
alojam no interior do colmo, o controle com produtos químicos se torna
mais difícil e uma possibilidade de manejo é a utilização de
parasitóides de ovos como Trichogramma spp.
Ø
Lagarta-do-cartucho
= O manejo da lagarta-do-cartucho
(Spodoptera frugiperda), praga chave na cultura do milho, deve ser
motivo de atenção, pois infestações tanto na safra como na safrinha
provocam danos em praticamente todos os estágios de desenvolvimento
da planta. Quando a infestação se dá no início da cultura, logo após a
emergência, as plântulas geralmente não resistem ao ataque e acabam
morrendo, diminuindo-se assim o número de plantas por unidade de
área. Nessa fase as plântulas apresentam-se com uma área foliar
reduzida e o controle com inseticidas acaba sendo oneroso pelo
desperdício de produto durante as aplicações. O baixo poder residual e
por vezes o efeito da radiação solar também podem afetar a eficiência
dos produtos. Resultados de pesquisas feitas com tratamento de
sementes têm mostrado diferenças bastante significativas entre número
de plantas mortas em áreas tratadas em relação às áreas não tratadas,
embora haja uma variação na eficiência de diferentes inseticidas. De
qualquer maneira é uma estratégia importante pois possibilita um
ganho de tempo até que as primeiras pulverizações sejam efetuadas, de
tal sorte que ocorre uma menor interferência nos inimigos naturais.
Nos estágios de desenvolvimento mais adiantados a eficiência dos
produtos fica comprometida em função da pulverização tratorizada não
permitir que os mesmos atinjam a lagarta dentro do cartucho, devendo-se
assim realizar as pulverizações em alto volume.
A lagarta-do-cartucho pode atacar também a espiga do milho.
Quando o ataque ocorre nos grãos, os prejuízos são menores. Entretanto
se o ataque ocorrer na inserção da espiga antes da formação dos grãos,
110
esses não chegam a se formar e aí os prejuízos são mais significativos. O
controle com métodos convencionais é bastante difícil nesse tipo de
infestação.
Outro fator que tem comprometido a eficiência de controle com
produtos químicos é a seleção de populações resistentes da praga aos
inseticidas. Mesmo com o aumento no número de pulverizações e das
doses aplicadas, o controle não tem sido eficiente. Além disso, essas
táticas elevam sobremaneira os custos de produção e provocam
desequilíbrios no ambiente pela eliminação dos inimigos naturais.
Os inimigos naturais exercem importante papel no controle da
lagarta-do-cartucho, contribuindo na diminuição da praga no campo.
Dentre os inimigos naturais de S. frugiperda destacam-se a “tesourinha”
e 4 espécies de vespas, predador e parasitóides de ovos e lagartas,
respectivamente. São inimigos naturais que atuam nas fases iniciais da
cultura e portanto evitam maiores danos nas plantas.
Ø
Tesourinha (Doru luteipes) = A tesourinha é um importante
predador da lagarta-do-cartucho e tem presença mais constante na
cultura do milho. Tanto as formas imaturas quanto os adultos predam
ovos e lagartas pequenas e podem ser encontrados tanto nas fases de
desenvolvimento vegetativo, abrigados dentro do cartucho, como nas
fases de desenvolvimento reprodutivo, principalmente na espiga.
Embora os adultos tenham certa tolerância a alguns grupos de produtos
(biológicos e reguladores de crescimento), as formas imaturas são bem
mais sensíveis. A presença da tesourinha em 70% das plantas
possibilita que a lagarta-do-cartucho se mantenha controlada. Assim,
produtos e aplicações seletivas são importantes fatores que devem ser
considerados nas estratégias de manejo da praga.
Ø
Parasitóides Trichogramma spp e Telenomus remus = São
pequenas vespas, parasitóides de ovos de S.frugiperda. Devido ao seu
bom desempenho e da facilidade de criação em laboratório com baixo
custo, esses parasitóides tem sido utilizados em áreas comerciais de
diversas regiões.
Campoletis flavicincta = É uma pequena vespa que coloca seus
ovos no interior de lagartas recém-eclodidas . A lagarta parasitada
alimenta-se muito pouco e quando a larva do parasitóide está prestes a
sair, a lagarta parasitada deixa o cartucho e dirige-se para as folhas mais
altas, onde permanece imóvel até que morra, pela perfuração do seu
abdome pelo parasitóide.
Chelonus insularis = É uma pequena vespa que coloca os seus
ovos dentro dos ovos da lagarta-do-cartucho, porém permite que ocorra a
eclosão das suas lagartas. Essas lagartas, que então já nascem parasitadas,
não conseguem provocar muitos danos na planta. Elas acabam saindo
precocemente de dentro do cartucho e dirigem-se ao solo, onde se
abrigam dentro de um casulo. Nesse casulo a larva do parasitóide irá
terminar o seu desenvolvimento e transformar-se em pupa.
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112
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mercado de milho “safrinha”. In: Seminário sobre a Cultura do
Milho Safrinha, Campinas: IAC. p.127-132, 1999.
DOENÇAS DO M ILHO SAFRINHA NO ESTADO DE SÃO PAULO
Pesquisadora Científica Gisèle Maria Fantin1 ,Herberte Pereira da Silva 2
& Aildson Pereira Duarte3
1
Eng. Agrônoma, Lab. de Fitopatologia, Centro Experimental do Instituto
Biológico, Instituto Biológico, Cx. Postal 70, CEP 13001-970,
Campinas-SP. E- mail: [email protected]
2
Sementes DowAgroSciences Ltda, Caixa Postal 12, 38490-000,
Indianópolis-MG.
3
Pesquisador Científico, Instituto Agronômico, C.P. 263, 19800-000,
Assis-SP.
1. Introdução
A cultura do milho safrinha, que é semeada de janeiro a abril sem
irrigação, tornou-se uma importante fonte de renda para o agricultor. Na
safrinha o custo de produção é menor e o preço de venda do milho no
mercado é mais elevado comparado à safra de verão. Isso compensa a
baixa produtividade obtida pela maioria dos agricultores, em torno de 2 a
4 t/ha. Ressalte-se que a produtividade tem aumentado nos últimos anos
devido ao emprego de cultivares cada vez mais produtivos e resistentes
às doenças, ao uso de insumos (fertilizantes, inseticidas e herbicidas) e,
visando minimizar o riscos de perdas e aumentar o potencial de
produção, à antecipação da semeadura.
A área do milho safrinha cresceu rapidamente na última década,
sendo que atualmente, são cultivados cerca de 2,6 milhões de hectares, o
que corresponde a 27% e 22% da área total de milho na região CentroSul e no País respectivamente.
114
Por outro lado, vem sendo observado um aumento na ocorrência
de doenças nessa época e no verão, as quais podem acarretar diminuição
da produtividade e da qualidade dos grãos.
Inovações tecnológicas, como no caso do sistema de plantio
direto, em que a palhada deixada na superfície do solo tem uma
contribuição positiva, pode contribuir negativamente para o controle de
algumas doenças do milho, cujos agentes causais tem a capacidade de
sobreviver nos restos culturais e infectar o milho no plantio da safra
seguinte. Também a má utilização de tecnologias na cultura, tais como
populações de plantas acima da recomendada e a inadequada utilização
da água de irrigação, contribuíram para o agravamento do quadro de
doenças.
Algumas doenças, cujos patógenos sobrevivem apenas em plantas
vivas, vêm sendo favo recidas pela ampliação das épocas de semeadura.
O longo período no qual há instalação de lavouras proporciona maior
multiplicação destes patógenos e leva ao aumento dessas doenças na
cultura, que desta forma se disseminam com maior eficiência para
culturas mais novas em áreas próximas.
Estes fatos, aliados às condições climáticas do outono- inverno
favorecerem a intensificação de doenças até então consideradas de
importância secundária, fundamentaram críticas severas de que estas
doenças poderiam inviabilizar o cultivo do milho em algumas regiões do
país. Porém, o maior rigor na recomendação dos cultivares, utilizando-se
materiais reconhecidamente resistentes às doenças que ocorrem
regionalmente, associado às recomendações de manejo adequado da
cultura, mostraram que é possível conviver com esta nova realidade.
2. Identificação e Manejo das Principais Doenças
2.1. Doenças Causadas por Fungos
2.1.1. Manchas Foliares
2.1.1.1. Mancha de Phaeosphaeria
A mancha foliar do milho causada pelo fungo Phaeosphaeria
maydis, também denominada de mancha branca ou pinta branca
apresenta distribuição generalizada pelas áreas produtoras de milho na
safra e safrinha no Estado de São Paulo e no Brasil. É bastante favorecida
por umidade elevada e dias chuvosos. Produz lesões esbranquiçadas, em
geral arredondadas, com 0,3 a 2,0 cm.
Controle - Recomenda-se o uso de cultivares resistentes, evitar o
plantio de cultivares mais suscetíveis em épocas ou locais muito úmidos
ou chuvosos. A rotação de culturas e a destruição dos restos culturais
ajudam a complementar o manejo da doença.
2.1.1.2. Queima de turcicum
A
queima
ou
mancha
foliar
de Exserohilum
turcicum
(helmintosporiose comum), tem sido mais importante nos plantios do
início de safra e também nos de final de safrinha, quando as condições de
temperatura amena favorecem seu desenvolvimento. As lesões típicas
sobre as folhas de milho são grandes, alongadas, elípticas, variando de
2,5 a 15 cm de comprimento (média de 6 a 10 cm), de cor palha.
Controle - Recomenda-se o uso de híbridos ou variedades mais
resistentes. Em casos de monocultura, no sistema convencional de
manejo de solos, recomenda-se a aração profunda para destruição dos
restos culturais. No sistema de plantio direto deve ser feita a rotação de
culturas.
116
2.1.1.3. Mancha de Cercospora
A mancha foliar de Cercospora do milho, causada pelo fungo
Cercospora zeae-maydis, é também denominada de cercosporiose. Esta
doença passou a ser considerada importante a partir da última safrinha,
em 2000. É considerada, atualmente, a principal doença do milho nos
plantios de safrinha na região de Rio Verde-GO. No Estado de São Paulo
tem se evidenciado principalmente na região norte, mas já foi detectada,
este ano, na região centro.
A severidade da doença aumenta em condições de temperatura
moderada a alta, com alta umidade relativa, com formação de orvalho e,
principalmente, pela ocorrência de dias nublados ou chuvosos
consecutivos. Causa lesões foliares de cor palha a cinza, com 0,5 a 7 cm de
comprimento, estreitas e limitadas na largura pelas nervuras secundárias da
folha, o que lhes confere a forma retangular alongada típica.
Controle - A principal medida para o controle desta doença é o uso
de cultivares resistentes. Práticas culturais como rotação e principalmente o
enterrio de restos de cultura auxiliam bastante a diminuir a sobrevivência
do patógeno no solo, que é a principal fonte de inóculo.
2.1.2. Ferrugens
2.1.2.1. Ferrugem Comum
A doença caracteriza-se pela presença de pústulas geralmente
alongadas, de coloração marrom, principalmente nas folhas, nas duas
faces, em discretas faixas transversais. É favorecida por temperaturas
amenas e alta umidade.
Controle - É feito, essencialmente, através do cultivo de materiais
com maior resistência, evitando-se a semeadura de cultivares suscetíveis
em épocas com temperatura muito amena, principalmente na fase
vegetativa da cultura.
2.1.2.2. Ferrugem Polissora
Esta doença tem sido mais danosa nos plantios mais tardios da
safra de verão e nos de início da safrinha, quando ocorrem temperaturas
elevadas.
Pode disseminar-se amplamente em grandes áreas de
monocultura com milho suscetível. Os sintomas são pústulas de cor
canela, pequenas, circulares a ovais principalmente na superfície superior
da folhas.
Controle - O método mais eficiente de controle é a utilização de
cultivares mais resistentes, evitando-se a semeadura de cultivares com
maior suscetibilidade em regiões onde ocorrem temperatura e umidade
elevadas. Se viável, não proceder semeaduras em extensas áreas de
monocultura, principalmente se escalonados..
2.1.2.3. Ferrugem Tropical
A ferrugem tropical ou branca é favorecida por ambiente úmido e
temperatura moderada a alta. As pústulas são brancas a amareladas, em
pequenos grupos, principalmente na superfície superior das folhas.
Controle - É feito através do uso de cultivares de milho com
maior resistência, em todas as épocas de plantio.
Pode ser
complementado, se possível, evitando–se plantios contínuos de milho em
monocultura.
118
Pelo fato das ferrugens serem patógenos biotróficos (sobrevivem
apenas em plantas vivas), o enterrio dos restos de cultura não se constitui
num método de controle deste grupo de doenças.
2.1.3. Podridões de Colmo
Afetam o processo normal de enchimento de grãos levando à
formação de espigas menores. Indiretamente, podem levar a perdas de
espigas pelo comprometimento de sua qualidade com o apodrecimento
pelo contato com o solo úmido ou por afetar a colheita mecânica, pela
necessidade de gastos extras com a catação manual das espigas.
No milho safrinha, sob condições climáticas do outono-inverno, a
disponibilidade diária de calor é menor que nos cultivos de verão. Em
conseqüência, a perda de umidade dos grãos é mais lenta, fazendo com
que o ciclo se alongue em quase um mês, expondo as plantas por mais
tempo a condições adversas. Isso, juntamente com o estresse, devido à
pouca disponibilidade de água para a cultura, requer atenção especial na
escolha de cultivares, com relação a resistência às doenças que provocam
acamamento e quebramento de plantas e aos patógenos depreciadores da
qualidade dos grãos.
2.1.3.1. Podridão de Colmo por Colletotrichum
Esta doença é causada pelo fungo Colletotrichum graminicola.
Pode ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento das plantas, podendo
levá-las à seca prematura, embora seja mais comum logo após o
florescimento. Condições que predispõe a esta doença são temperatura
moderada a alta e umidade elevada, com extensos períodos nublados.
Controle - Recomenda-se o uso de cultivares resistentes,
adubação equilibrada e rotação de culturas, principalmente no sistema
plantio direto (incidência maior). O enterrio dos restos de cultura, com a
destruição das estruturas do patógeno, é um meio eficiente de controle
em áreas com alta infestação. É importante o tratamento de sementes.
2.1.3.2. Podridão do Colmo por Stenocarpella (Diplodia)
A podridão do colmo causada por Stenocarpella maydis é
bastante comum e ocorre após o florescimento das plantas. Esta doença é
mais severa em regiões com temperaturas moderadas e, principalmente,
ambiente úmido.
A predisposição a esta doença é aumentada
fundamentalmente por estresses, principalmente estresse hídrico antes do
florescimento seguido de período chuvoso.
Controle - O método mais eficiente de controle desta doença é o
plantio de cultivares mais resistentes.
São importantes, também, práticas que evitam o estresse da
planta, principalmente o uso de adubação equilibrada e densidade de
plantio adequada. Adubações nitrogenadas em cobertura não afetam a
doença, mas devem ser equilibradas, principalmente evitando deficiência
de potássio associada a altas doses de nitrogênio. Outros tipos de
estresse, como os causados por plantas daninhas e insetos, também
devem ser evitados. A colheita na época adequada auxilia a restringir os
danos causados pela doença.
A rotação de culturas é muito importante para diminuir o inóculo
do solo. O uso de sementes sadias e o tratamento de sementes evitam a
disseminação da doença através desta fonte de inóculo.
120
2.1.3.3. Podridão do Colmo por Fusarium
Tem ocorrido com maior intensidade em regiões secas e quentes,
principalmente quando a polinização é antecedida por um período seco e
seguida por um período chuvoso. É também bastante favorecida por
ferimentos, muitas vezes associada a injúrias das plantas por pragas
subterrâneas ou nematóides.
Os agentes causais desta doença são Fusarium moniliforme (F.
verticillioides) e Fusarium subglutinans.
Controle - Resistência da planta complementada por rotação de
culturas, práticas culturais que evitem estresses da planta e, no caso do
sistema convencional de manejo do solo, incorporação dos restos de
cultura. Devem ser utilizadas sementes tratadas com fungicidas.
2.1.4. Podridões de Espiga
As podridões de espigas chegam a causar danos consideráveis,
principalmente em condições de alta umidade no final do ciclo das
plantas, como longos períodos chuvosos entre a floração e a colheita.
Acamamento de plantas (quando as espigas tocam o chão), espigas sem
pedúnculo pendente, mau empalhamento, ataques de insetos e ferimentos
em geral tendem a aumentar os danos. Os prejuízos não são apenas na
produtividade, como na qualidade, palatabilidade e valor nutritivo dos
grãos. Além disso, vários patógenos também produzem toxinas que
podem ter efeito cancerígeno e até letal a aves, animais e ao homem.
Para o agricultor, entre os problemas de qualidade de grãos de
milho, o que tem realmente demandado maior preocupação é a qualidade
fitossanitária - expressa pela porcentagem de grãos “ardidos”. O termo
grão “ardido” diz respeito aos grãos ou pedaços de grãos que perdem a
sua coloração característica em mais de 25%. Os grãos “ardidos” são o
reflexo das podridões de espigas.
2.1.4.1. Podridão de Espiga por Stenocarpella (Diplodia)
Esta doença, causada por Stenocarpella maydis (Diplodia maydis)
e ocasionalmente S. macrospora também denominada de podridão seca, é
bastante freqüente e considerada a mais destrutiva entre as que afetam a
espiga. É mais danosa na região sul do país, embora ocorra em muitas
outras regiões.
É favorecida por seca antes do florescimento, seguida de alta
umidade. A infecção não parece ser favorecida por ferimentos ou mal
empalhamento das espigas, mas aquelas que não apresentam pedúnculo
pendente podem ter sua suscetibilidade aumentada.
Controle - Recomenda-se o uso de cultivares com maior
resistência. A rotação de culturas, o manejo adequado de matéria
orgânica e, no caso do sistema convencional de manejo do solo, o bom
preparo de solo com aração e gradagem, reduzem sensivelmente o
potencial de inóculo no solo. O uso de densidade de plantio adequada
para o híbrido também é muito importante.
Além desta, devem ser
utilizadas outras medidas que também reduzem estresses na planta,
principalmente o uso de adubação equilibrada e o controle de plantas
daninhas. O tratamento de sementes diminui a disseminação através
desta fonte de inóculo e a colheita precoce, com o armazenamento
adequado, abaixo de 18% de umidade, inicialmente, para as espigas, e de
15%, para os grãos, restringem o desenvolvimento da doença.
2.1.4.2. Podridão de Espiga por Fusarium
122
É a mais comum e disseminada doença de espigas, sendo
encontrada em praticamente todos os campos de milho. Geralmente está
associada a danos por insetos, injúrias mecânicas e mal empalhamento
das espigas. É favorecida por temperatura elevada e ambiente seco no
início da cultura seguido por condições úmidas (chuvas freqüentes) no
florescimento.
Os sintomas de podridão geralmente aparecem em grãos isolados
ou em grupos.
Controle - Recomenda-se, o uso de cultivares mais resistentes, a
colheita precoce e o armazenamento dos grãos sob condições de umidade
relativa abaixo de 15%. O controle de pragas, para evitar ferimentos nas
espigas, e a eliminação de plantas daninhas, para diminuir estresses da
planta, também são importantes. No sistema convencional de manejo do
solo, a aração profunda da área a ser plantada pode ter efeito na
diminuição do inóculo do solo.
O tratamento de sementes auxilia na redução do inóculo das
sementes e protege as plântulas do patógeno presente no solo. Embora o
patógeno esteja freqüentemente associado às sementes, estas não são a
principal fonte de inóculo.
2.2. Doenças Causadas por Molicutes
2.2.1. Enfezamentos
Chegam a causar severos danos à cultura, principalmente na
safrinha e nos plantios tardios da safra de verão. São transmitidos pelo
mesmo vetor, a cigarrinha Dalbulus maidis. Apesar de comum a presença
dos enfezamentos na mesma planta, os sintomas mais evidentes geralmente
são os do enfezamento vermelho.
2.2.1.1. Enfezamento Vermelho
A incidência desta doença vem aumentando nesta década, chegando
a ser limitante em materiais muito suscetíveis. É favorecida por
temperaturas moderadas a altas. Seu agente causal é um fitoplasma.
O sintoma mais comum é o avermelhamento dos bordos e pontas
das folhas mais novas, o qual geralmente evolui para uma necrose. Quando
há infecção de plantas bem novas, ocorre um nanismo acentuado da planta
e a formação de numerosas espigas pequenas, sem grãos ou com poucos
grãos frouxos e pequenos. Em geral, a infecção é tardia, mas, mesmo em
plantas com sintomas leves, o enchimento de grãos pode ser bastante
prejudicado.
2.2.1.2. Enfezamento Pálido
O enfezamento pálido é favorecido por temperaturas mais altas que
as que favorecem o enfezamento vermelho e seus sintomas típicos têm sido
observados com menor freqüência no Estado de São Paulo.
Esta doença é causada pelo espiroplasma denominado Spiroplasma
kunkelii. Os sintomas típicos da doença são longas faixas de cor amarelo
limão a esbranquiçadas, as quais podem atingir toda a extensão da folha.
Dependendo das condições ambientais, pode ocorrer avermelhamento das
folhas e não há formação das faixas, dificultando sua identificação no
campo. Com infecção mais severa, em plantas bem jovens, há maior
encurtamento de internódios, com formação de numerosas espigas
pequenas, como para o enfezamento vermelho.
Controle - Recomenda-se, tanto para o enfezamento vermelho
como o pálido, principalmente, a utilização de cultivares com maior
124
resistência. Se possível, devem ser evitados plant ios sucessivos,
principalmente tardios, pois a cigarrinha, que é constantemente associada
ao milho, pode atingir altas populações no decorrer do ano agrícola, e
apresentar maiores concentrações do patógeno, disseminando amplamente
a doença.
2.3. Viroses
2.3.1. Mosaico Comum
O mosaico comum é também denominado mosaico da cana-deaçúcar. Esta virose tem apresentado incidência elevada no Estado de São
Paulo ultimamente. A transmissão do vírus, agente causal da doença, pode
ser feita por mais de 20 espécies de afídeos, principalmente pulgões, entre
eles Rhopalosiphum maidis, Schizaphis graminum e Myzus persicae.
Os sintomas típicos da doença são áreas alongadas de cor verde
clara entremeadas às de verde normal.
Há diferenças quanto ao nível de resistência entre os materiais
cultivados, mas ainda não existem informações mais completas sobre
recomendação de cultivares visando o controle desta doença.
Controle - Deve-se evitar, se possível, plantios tardios, pela maior
população de insetos vetores do vírus. Além disto, devem ser eliminadas
gramíneas selvagens hospedeiras (capim massambará, colchão, colonião e
capim-arroz) e evitados os plantios nas proximidades de culturas de canade-açúcar infectadas com o vírus, que podem ser fontes de inóculo.
2.3.2. Risca do Milho
A risca do milho é a virose mais comum nos cultivos de milho em
nosso país. Nos últimos anos, tem ocorrido com muita freqüência em
plantios tardios. A transmissão do vírus da risca é feita pela mesma
cigarrinha que transmite os enfezamentos: Dalbulus maidis.
Os sintomas apresentam-se como linhas cloróticas estreitas e
interrompidas.
Controle - Os cultivares comerciais de milho apresentam diferentes
níveis de resistência ao vírus, porém esta característica ainda não foi bem
explorada. Evitar plantios tardios e, se viável, a eliminação de plantas
voluntárias de milho também podem contribuir para a redução da
incidência da virose.
3. Emprego de Sementes Sadias ou Tratadas:
O manejo integrado das doenças deve se iniciar pelo emprego de
sementes de boa qualidade sanitária, praticamente livres de patógenos ou
tratadas com fungicidas e doses apropriadas. O tratamento de sementes é
eficiente para controle de patógenos transportados pelas sementes, de
fácil aplicação, de baixo custo e de pequeno impacto ambiental.
No Brasil, são registrados para tratamento de sementes de milho:
Captan, Fludioxonil, Quintozene (PCNB), Thiabendazol, Tolylfluanid,
Thiram, Fludioxonil + Metalaxyl e Carboxin + Thiram. A maioria das
empresas produtoras de sementes de milho utilizam o Captan.
4. Controle Através de Resistência:
No início da expansão da safrinha, as doenças eram consideradas
fatores limitantes à produtividade; contudo, nos últimos anos, estas tem
ocorrido com intensidade menor e seus danos tem sido mais baixos. Um
dos principais fatores que tem proporcionado maior controle de doenças
126
é o uso de cultivares mais resistentes às doenças que ocorrem
regionalmente.
Em testes regionais realizados no Estado de São Paulo, nas
safrinhas de 1999 e de 2000, os híbridos simples e triplos (HST) que se
destacaram como mais resistentes à mancha de Phaeosphaeria foram:
P3021, CO9560, C333B, Tork, AS1533, AG5011, CD3121, BRS3101,
C747, Fort, Z8486, DKB350 e A2288 e os híbridos duplos e variedades
(HDV) que apresentaram menor severidade da doença foram: C435,
C444, AL25, IACV3 e C125.
Quanto à ferrugem comum, evidenciaram-se como mais
resistentes à doença os seguintes HST: Fort, AG8080, Z8392, A2288,
DinaCO32, Master, Tork, CD3121, AS1544, Dina766, P30F80 e XL269
e os seguintes HDV: Balu184, Traktor, SHS8447, C444, AS32,
Savana185, Z8447, CD3211 e AL30. Apresentaram menor severidade
da queima de turcicum os HDV: C125 e Traktor.
Os HST que apresentaram menor porcentagem de plantas com
sintomas de enfezamento foram: Z8486, CO9560, Z8392, Avant, Z8501,
XL221, P3041, DinaCO32, AG8080, Tork, XB7011 e A2288 e os HDV
foram: XB8010, C444, AG122, Traktor, C125 e C701. Ao mosaico os
HST com menor incidência da doença foram: AG6016, P3041, C929,
Dina766, C333B, Z8486, SHS5050, P30F80, BRS3101, AG9010,
AGN3150, AG8080 e AGN3180 e os HDV foram: AL34, C435, C125,
SHS4040, C444, C701 e IACV3.
5. Medidas Gerais de Controle de Doenças
A adequada utilização das medidas de controle das doenças do
milho visa a prevenção da ocorrência das doenças mais importantes da
cultura, levando a uma maior produtividade com melhor qualidade dos
grãos. As medidas mais importantes de controle, a serem tomadas na
instalação e condução de uma cultura, se resumem nos seguintes passos:
1. Conhecer a importância das principais doenças nos diferentes locais e
épocas de plantio, possibilitando a utilização de cultivares mais
resistentes às doenças potencialmente mais importantes para cada região
e época de plantio.
2. Fazer rotação de culturas.
3. Sob monocultura, dar preferência ao sistema convencional de manejo
do solo, realizando bom preparo com incorporação dos restos culturais e
evitar plantios escalonados.
4. Manejar o solo para ter boas condições para a germinação das
sementes.
5. Utilizar sementes com boa qualidade sanitária, física e fisiológica,
tratadas com fungicida.
6. Utilizar a densidade de semeadura
recomendada para o cultivar
utilizado.
7. Realizar adubação de semeadura e cobertura, de modo a fornecer os
nutrientes em quantidade e proporção adequadas às plantas.
8. Controlar plantas daninhas.
9. Realizar o manejo das pragas.
10. Manejar adequadamente a água em campos irrigados.
11. Não atrasar a operação de colheita e, se necessário, realizá- la
antecipadamente.
12. Armazenar adequadamente as sementes, logo após a colheita.
Estas medidas de controle apresentam efeitos maiores ou menores
sobre os tipos de doenças, podendo variar, também, de acordo com
128
outros fatores como as condições ambientais ou a presença e quantidade
das fontes de inóculo.
6.. Bibliografia
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M ANEJO DE PRAGAS DE SOLO NA CULTURA DA SOJA1
Lenita J. Oliveira & Clara B. Hoffmann-Campo
Pesquisadora em Entomologia, Embrapa Soja. Caixa Postal 231. 86001970, Londrina, PR
As chamadas pragas de solo, em geral são insetos fitófagos de
hábito subterrâneo que podem atacar todas as estruturas subterrâneas das
plantas, mas englobam, também, aqueles que vivem na superfície do
solo, sob a liteira, cortando ou broqueando o “colo” da planta. Diversas
espécies de insetos pertencentes, principalmente, às ordens Diptera,
Lepidoptera, Coleoptera e Hemiptera são citadas na literatura como
pragas de hábito subterrâneo, em soja. Além dos insetos, também têm
ocorrido em soja outros grupos de pragas de solo ou de superfície, como
Diplopoda, lesmas e caracóis. Um levantamento realizado pela Embrapa
Soja mostrou que, nas últimas cinco safras, as principais pragas de solo
que ocorreram na cultura da soja foram: larvas do complexo de corós
(Col.: Scarabaeoidea), percevejo-castanho-da-raiz (Hem.: Cydnidae),
lagarta elasmo (Lep.: Piralydae), cochonilha-de-raiz (Hom.: Coccoidea),
1
Manuscrito aprovado para publicação pelo Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja
sob o nº 071/2001
piolhos-de-cobra (Diplopoda), lesmas (Veronicellidae) e caracóis. Mais
de 70% dos relatos, onde houve dano econômico à lavoura, se referiam a
dois grupos de pragas de raiz: o complexo de corós e percevejo-castanhoda-raiz.
Esses grupos de insetos são polífagos, mas enquanto ninfas e
adultos do percevejo castanho sugam raízes de várias famílias de plantas,
no grupo de corós, adultos e larvas apresentam hábitos alimentares
distintos. As larvas são rizófagas e os adultos consomem folhas de várias
espécies. A multiplicidade de hospedeiros associada aos hábitos
subterrâneos desses grupos de insetos dificultam muito o seu controle.
Tanto os corós como os percevejos de raiz passam todas as fases de
desenvolvimento no interior do solo e apenas os adultos saem em
revoadas ao entardecer retornando depois, ao solo.
O complexo de corós inclui vários gêneros e a espécie
predominante varia de região para região, mas todas têm hábitos
semelhantes e causam o mesmo tipo de dano à soja. Phyllophaga
cuyabana e Plectris sp. predominam em lavouras de soja, na região
Centro-Oeste e Norte do Paraná, respectivamente. Liogenys sp. ocorre
em Goiás e Mato Grosso do Sul, mas há outras espécies de
Scarabaeoidea
ainda
não
identificadas,
igualmente
importantes,
danificando soja no Sudoeste de São Paulo, Triângulo Mineiro e Mato
Grosso (7). A espécie P. cuyabana é a mais estudada, e, na prática, têm
se observado que, do ponto de vista de manejo, vários resultados obtidos
para essa espécie podem ser adaptados às diferentes regiões ecológicas,
desde que consideradas as variações nas condições ambientais, que no
caso do Cerrado, podem adiantar o início das revoadas de adultos.
132
O nome popular “percevejo castanho” designa um grupo
composto de várias espécies, pertencentes à família Cydnidae, subfamília
Scaptocorinae. Esse grupo tem ampla distribuição geográfica na região
Neotropical e, no Brasil, duas espécies, Scaptocoris castanea e
Atarsocoris brachiariae, vêm causando grandes danos à agropecuária,
em pastagens, soja e algodão, principalmente na região dos Cerrados. A.
brachiariae inicialmente associada a pastagens, também foi observada
atacando soja. As duas espécies são muito semelhantes e são facilmente
reconhecíveis pelo odor característico e desagradável que exalam,
durante o preparo de solo em áreas infestadas. Quando expostos à
superfície, esses percevejos emitem um som estridente. No seu “habitat”,
a cópula e oviposição ocorrem no solo.
Comumente, o ataque de corós e percevejo-castanho-da-raiz
ocorre em reboleiras ou focos, que podem variar de poucos metros até
vários hectares, distribuídos irregularmente na área infestada. Dentro das
reboleiras, pode ocorrer redução da população de plantas, devido à morte,
quando o ataque ocorre no início do desenvolvimento da soja, e
amarelecimento das folhas e redução do crescimento das plantas quando
o ataque é mais tardio. A intensidade dos danos é devida não só da
população e da idade dos insetos, mas também do desenvolvimento
radicular da planta, tanto em função do estádio de desenvolvimento da
cultura, como de outros fatores como, por exemplo, presença de camadas
de solo adensadas, prejudicando a expansão das raízes. Os efeitos dos
danos no sistema radicular, na produção de grãos podem ser
intensificados sob condições de solos pobres ou sob condições de
estresse hídrico em épocas críticas.
Os danos causados por cochonilhas-da-raiz em soja são
localizados e geralmente não justificam o controle. Danos por lagartaelasmo ocorrem em geral, em épocas de estiagem e temperaturas altas e
embora a praga possa causar graves prejuízos, não há medidas de
controle eficientes, especialmente após a detecção do ataque. Os caracóis
e lesmas ocorrem em ambientes úmidos e em soja seu ataque é eventual e
localizado. Os piolhos-de-cobra também ocorrem em reboleiras, às vezes
causando danos severos.
O manejo de pragas polífagas, de ciclo longo e hábitos
subterrâneos, como corós e percevejo castanho, deve ser feito
considerando o sistema de produção como um todo e não apenas durante
o período em que a cultura principal está no campo. Várias medidas
podem ser adotadas para diminuir a população de pragas de solo ou
aumentar a tolerância da soja a elas.
Época de semeadura: A manipulação da época de semeadura da
soja, como estratégia de manejo de pragas, baseia-se no princípio de
evasão hospedeira e/ou aumento da tolerância da cultura aos danos
causados pelas pragas. Esta estratégia funciona bem para pragas como os
corós, especialmente P. cuyabana que apresenta um padrão relativamente
estável de distribuição estacional e sincronizado com o sistema de
produção de soja nas regiões de ocorrência. Preferencialmente, as áreas
infestadas por corós devem ser semeadas antes que as larvas atinjam 1,0
cm e, se possível, antes das primeiras revoadas de adultos.
Manejo de plantas hospedeiras e não hospedeiras: Algumas
espécies vegetais, como Crotalaria juncea, Crotalaria spectabilis e
algodão, prejudicam o desenvolvimento das larvas de
P. cuyabana,
especialmente no início da fase larval, quando podem aumentar a
134
mortalidade das larvas (9) e podem ser usadas como alternativa em áreas
infestadas, em rotação com a soja e outras culturas atacadas por corós. C.
spectabilis pode ser utilizada também como cultura que antecede a soja,
associada a cultivares tardias desta leguminosa, nas áreas com maior
nível de infestação. As larvas serão negativamente afetadas desde que
consumam C. spectabilis por pelo menos 20 dias. Portanto, a semeadura
da crotalária deve ser realizada antes da primeira revoada, deixando a
cultura no campo, pelo menos, 20 a 25 dias após o início das revoadas. A
prática do cultivo de soja, milho ou girassol de safrinha contribui para o
aumento de população de corós de um ano para outro e deve ser evitada.
Para percevejo-castanho-da-raiz, ainda não há dados conclusivos
que permitam fazer indicações para rotação de cultura com a soja. Mas,
apesar de seu alto grau de polifagia, existem diferenças na preferência
e/ou suscetibilidade de diversas espécies vegetais, sendo Brachiaria
humidicola um dos hospedeiros preferenciais de percevejo castanho (1).
Observações de campo e ensaios coordenados pela Embrapa Soja
indicaram que, entre as culturas anuais, o algodão é mais suscetível aos
danos do que a soja, que, por sua vez, é menos tolerante que o milho e o
milheto.
Manejo de solo: O ataque de soja por larvas de corós ocorre tanto
em sistema de semeadura direta como em convencional. O padrão de
distribuição do P. cuyabana, no perfil do solo, indica que o manejo deste
pode contribuir para diminuir a população, através de dano mecânico às
larvas, da sua exposição a aves e a outros predadores e do deslocamento
de larvas em diapausa e pupas para camadas do solo com condições de
umidade e temperatura de maior amplitude de variação e, portanto,
menos adequadas à sobrevivência das fases inativas do inseto. A época e
o tipo de implemento utilizado no preparo do solo são fundamentais para
o sucesso desse método de controle. A mortalidade larval pode ser
atribuída mais à exposição a fatores adversos logo após o preparo, do que
a mudanças nas condições do solo. As reduções na população de corós
foram mais evidentes em parcelas preparadas com implementos mais
pesados, como o arado de aiveca (6). Para o preparo do solo das áreas,
onde houve sinais de danos, antes da cultura de verão, devem ser
utilizados implementos que atinjam maior profundidade e possam
deslocar as larvas para a superfície, pois, nesta época, embora a
população esteja inativa e mais suscetível a perturbações, grande parte
dos indivíduos se encontra abaixo de 20 cm de profundidade, dentro de
câmaras. Em áreas muito infestadas, o preparo do solo pode ser associado
à semeadura no início da época recomendada e ao uso de cultivares
precoces, diminuindo, assim, o risco de dano e possibilitando o preparo
de solo, antes da cultura de inverno. Nesse caso, o preparo do solo pode
ser realizado com arado de disco, desde que realizado logo após a
colheita da soja, mas antes de as larvas iniciarem a diapausa, que ocorre,
preferencialmente, a mais de 20 cm de profundidade no solo, portanto,
fora do alcance desse tipo de implemento.
O percevejo-castanho-da-raiz, como os corós, tem ocorrido tanto
em áreas de semeadura direta como em áreas com manejo convencional
do solo. Alguns estudos mostraram que o efeito da cobertura vegetal foi
maior do que o efeito do manejo do solo, quando as operações de preparo
são realizadas antes dos cultivos de verão, época na qual, em geral, a
população está localizada abaixo de 20cm de profundidade (10). Ensaios
realizados nas safras 98/99 e 99/2000, embora não conclusivos, mostram
tendência de se repetir, para o percevejo castanho o mesmo padrão dos
136
corós, ou seja, o efeito da operação de preparo é imediato e localizado,
devido à exposição destes insetos à fatores adversos. Estudos
comparando áreas de semeadura direta com áreas gradeadas (duas
passagens de grade aradora atingindo até 25 cm de profundidade),
mostraram que o efeito da gradagem foi aparentemente maior nas
camadas superficiais, especialmente nos primeiros 10cm, não atingindo,
entretanto, a população situada abaixo de 20 cm, que representava 50%
da população existente no local (10). Um estudo realizado 1998 no Mato
Grosso em área de semeadura direta mostrou que a subsolagem realizada
com baixíssima umidade, seguida de duas gradagens e a aivecagem
seguida de uma gradagem diminuíram significativamente a população de
percevejo-castanho-das-raízes (3).
O efeito do preparo de solo sobre corós e percevejo-castanhoda-raiz é maior, quando a operação é realizada nas horas mais quentes
do dia e com implementos que atingem maior profundidade. Entretanto,
para outras pragas de solo, como cochonilhas de raízes, cuja capacidade
de movimentação no perfil do solo é insignificante e, normalmente, são
encontradas nas camadas superficiais, o efeito do sistema de manejo do
solo pode ser mais significativo, embora não haja estudos conclusivos a
respeito (7).
Piolhos-de-cobra, lesmas e caracóis também ocorrem com maior
freqüência em lavouras de semeadura direta, mas também já foram
observados ataques em áreas de manejo convencional do solo.
O preparo de solo pode ser um componente dentro do sistema de
manejo de pragas rizófagas em soja. Entretanto, sua utilização não pode
ser generalizada, pois a eficiência na redução da população depende de
muitos fatores, como época do preparo, implemento utilizado,
condições
microclimáticas
durante
o
preparo,
estádio
de
desenvolvimento do inseto, nível populacional e distribuição do inseto
no perfil do solo. O revolvimento do solo em áreas de semeadura direta
unicamente com o objetivo de controlar pragas rizófagas, como corós e
percevejo-castanho-da-raiz, não é recomendado, a não ser de forma
eventual e localizada nos focos com alta infestação, pois seu efeito no
controle dessas pragas nem sempre é satisfatório a ponto de compensar
a perda dos benefícios da semeadura direta.
Controle biológico: Vários agentes de controle biológico de P.
cuyabana foram observados destacando-se patógenos em ovos, larvas e
adultos e dípteros parasitóides de adultos. Foram identificados os fungos
Beauveria bassiana (principalmente em adultos) e Metarhizium anisopliae
(em larvas e adultos) e uma bactéria isolada de larvas, identificada como
Bacillus sp., possivelmente B. popilliae (9). Essa bactéria e outras do
genêro Serratia, têm sido usadas com grande êxito para controle de
escarabeídeos em outros países, como a Nova Zelândia. De maneira geral,
M. anisopliae mostrou, em laboratório, maior potencial de controle de
larvas de corós que os demais fungos. O percevejo castanho também possui
vários inimigos naturais, destacando-se as formigas e patógenos. Fungos
entomopatogênicos dos gêneros Metarhizium, Beauveria e Paecilomyces já
foram isolados desse inseto e apresentaram, em laboratório, potencial para
controle da praga. O fungo M. anisopliae apresentou maior virulência para
adultos de S. castanea do que B. bassiana e Paecilomyces (8). Entretanto, a
eficiência dos fungos em cond ições de campo, tanto para corós como para
percevejo castanho, é muito irregular e depende, principalmente,
condições de umidade do solo na época de aplicação.
das
138
Controle químico: O controle químico de corós (5) e percevejo
castanho, em soja, até o momento, têm se mostrado pouco viável, em
função do hábito subterrâneo destes insetos. Vários grupos de pesquisa
(2,4,5,8,11,13) vem testando inseticidas misturados à semente e aplicados
no solo diretamente no sulco de semeadura para controle dessas pragas,
mas, para a soja, ainda não há nenhum inseticida eficiente e registrado
com essa finalidade. Também não há, até o momento, inseticidas
recomendados para controle da lagarta-elasmo, cochonilha-da-raiz,
lesmas, caracóis e piolho-de-cobra em soja.
Medidas para aumentar a tolerância da soja a pragas de solo
rizófagas: O dano causado por pragas de solo à soja é indireto, devido à
sucção de seiva ou ingestão de raízes. Assim, qualquer medida que
favoreça o crescimento da planta e o desenvolvimento de seu sistema
radicular, aumentará também o seu grau de tolerância a esses insetos.
Várias medidas podem ser tomadas, destacando-se: a) inoculação com
bactérias fixadoras de nitrogênio, que favorece o aumento do sistema
radicular, especialmente raízes secundárias; b) evitar a formação de
camadas de solo adensadas; c) correção da fertilidade do solo, que favorece
o desenvolvimento da planta e, consequentemente, das raízes; e d) correção
da acidez do solo, para que a menor disponibilidade de alumínio e um
suprimento adequado de Ca e Mg, propiciem maior desenvolvimento
radicular (5,7).
Alternativas potenciais para o manejo de pragas rizófagas em
soja: Grupos de plantas altas ou árvores, próximos às áreas infestadas,
geralmente são sítios de agregação de adultos de corós. Em áreas com
histórico de ataque da praga, pode-se semear milho, girassol, C. juncea
ou soja, em cultivo antecipado, de maneira que as plantas estejam bem
desenvolvidas na época do início das revoadas e funcionem como focos
de agregação de adultos, para controle localizado dos mesmos com
inseticidas químicos ou biológicos. Girassol e C. juncea estimulam a
alimentação das fêmeas e podem potencializar a ingestão de produtos
químicos ou biológicos (bactérias), aplicados sobre as folhas dessas
culturas.
Os adultos de P. cuyabana, principalmente os machos, são
atraídos por luz amarela (10), que pode ser utilizada em armadilhas para
monitoramento ou associadas a outros métodos de controle. O feromônio
sexual, produzido pela fêmea de P.cuyabana é outra linha de pesquisa em
desenvolvimento e poderá servir como atraente, associado ou não às
armadilhas luminosas, para concentração de adultos, facilitando seu
monitoramento ou controle. Para percevejo-castanho-da-raiz essa linha
de pesquisa ainda não foi desenvolvida, mas também há possibilidade de
utilização de feromônios em seu manejo, no futuro.
O manejo de pragas de solo em soja depende da associação de
inseticidas químicos ou biológicos e práticas culturais que permitam a
convivência com a praga, baseadas principalmente em sua biologia e
comportamento. Embora, vários aspectos comportamentais já tenham
sido desvendados, ainda há grande necessidade de estudos nessa linha,
para várias espécies. O entendimento das relações inseto-planta dentro de
uma visão holística do sistema de produção também é fundamental para o
manejo cultural dessas pragas.
Literatura Consultada
1. AMARAL, J.L. DO; M EDEIROS, M. O; OLIVEIRA ,C.; OLIVEIRA , E. A. S.
Estudo das preferências alimentares do percevejo castanho das
140
raízes das gramíneas (Atarsocoris brachiariae Becker, 1996). In:
Encontro de Biólogos do Crb1, 8., Cuiabá, 1997. Cuiabá:
UFMT. 1997. p. 66.
2. AMARAL, J.L. DO; MEDEIROS, M. O; OLIVEIRA ,C.; OLIVEIRA , E. A. S.;
OLIVEIRA , C.; F ERNANDES, L.M.S. Efeito de inseticidas sistêmicos
e não sistêmicos misturados no adubo no controle do percevejo
castanho das raízes. In: XXII Reunião de Pesquisa de Soja da
Região Central do Brasil, Embrapa Soja. p.69-70, 2000.
3. AMARAL, J.L. DO ; MEDEIROS, M. O; OLIVEIRA ,C.; OLIVEIRA , E. A. S.;
OLIVEIRA , C.; FERNANDES , L.M.S. Efeito da subsolagem e da
aivecagem em áreas de plantio direto de soja, no controle do
percevejo castanho das raízes. In: XXII Reunião de Pesquisa de
Soja da Região Central do Brasil, Embrapa Soja. p.68-69, 2000.
4. NAKANO, O. & FLORIM, A.C.P. Ensaio visando o controle do
percevejo castanho com alguns inseticidas. In: Workshop sobre
Percevejo Castanho da Raiz, Embrapa Soja. p. 54, 1999.
(Embrapa Soja. Documentos, 127).
5. NUNES J R, J.; OLIVEIRA , L. J.; CORSO, I.C.; FARIAS, L. C.; Controle
químico de corós (Scarabaeoidea) em soja. In: XXII Reunião de
Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil, Embrapa Soja.
p.58-59, 2000.
6. OLIVEIRA , L. J.; HOFFMANN-CAMPO, C. B.; GARCIA , M. A. Effect of
soil management on the white grub population and damage in
soybean. Pesq. Agropec. Bras., 35: .887-894, 2000.
7. OLIVEIRA , L. J. Manejo das principais pragas das raízes da soja. In:
CÂMARA , G. M. de Sousa (ed.) Soja: tecnologia da produção II.
Piracicaba: ESALQ/LPV, 2000. p.153-178.
8. OLIVEIRA , L.J. (org.). Efeito de inseticidas químicos e de fungos
entomopatogênicos
sobre
o
percevejo-castanho-da-raiz:
resultados da safra 99/00. Embrapa Soja. 36p, 2000.
(Documentos/ Embrapa Soja, ISSN 1516-78x, n 150).
9. OLIVEIRA , L.J.; GARCIA , M.L.; HOFFMANN-CAMPO, C.B.;F ARIAS,
J.R.B;
SOSA -GOMEZ ,
D.R;
CORSO,
I.C.
Coró-da-soja
Phyllophaga cuyabana (Moser 1918). Londrina. 30p, 1997.
(EMBRAPA-CNPSo. Circular técnica, 20).
10. OLIVEIRA , L.J.; MALAGUIDO, A.B.; NUNES, JR. J. ; CORSO, I. C.; DE
ANGELIS, S.; FARIAS, L.C.; HOFFMANN-CAMPO, C.B.; LANTMANN,
A. Percevejo-castanho-da-raiz em sistema de produção de
soja. Embrapa Soja. 44p, 2000. (Circular Técnica 28).
11. RAGA , A. & SILOTO, R.C. Resultados de pesquisa de controle químico
do percevejo castanho Scaptocoris castanea em cultura de milho
safrinha no estado de São Paulo. In: Workshop sobre Percevejo
Castanho da Raiz, Embrapa Soja. p.55-56, 1999. (Embrapa Soja.
Documentos, 127).
12. SANTOS, B. Bioecologia de Phyllophaga cuyabana (Moser 1918)
(Coleoptera: Scarabaeidae), praga do sistema radicular da
soja [Glycine max (L.) Merrill, 1917]. Piracicaba, 1992. 111 p.
Dissertação Mestrado-ESALQ/USP.
13. WORKSHOP SOBRE PERCEVEJO CASTANHO DA RAIZ, 1999, Embrapa
Soja. 68p, 1999. (Embrapa Soja. Documentos, 127).
142
NEMATÓIDES NA CULTURA DA SOJA
Pesquisador Científico Carlos Eduardo Rossi
Engenheiro
Agrônomo
-
Laboratório
de
Nematologia,
Centro
Experimental do Instituto Biológico, Instituto Biológico, Caixa Postal 70,
CEP 13001-970, Campinas – SP. E- mail: [email protected]
1. Introdução
A soja, uma das culturas de maior importância econômica para o
Brasil, vem apresentando, a cada ano, prejuízos crescentes causados por
nematóides. Trata-se de uma planta sensível a esses parasitos e, para a
dificuldade do produtor, os danos podem ser atribuídos a fatores
diversos.
Nematóides são animais microscópicos, usualmente chamados de
vermes (designação antiga dada também a minhocas e outros
organismos, cuja forma do corpo é longa e delgada), essencialmente
aquáticos. Existem espécies que se alimentam de fungos, de bactérias e
também de plantas, dentre outros hábitos alimentares. Os parasitos de
plantas vivem no solo ou no interior de estruturas vegetais, tais como:
folhas, caules e, principalmente, raízes. Possuem uma estrutura similar à
uma agulha de seringa, o estilete, pelo qual introduzem substâncias nas
células digerindo-as e em seguida sugam o líquido resultante. É dessa
forma que os nematóides parasitos de plantas se alimentam.
Os problemas com nematóides na agricultura, fundamentalmente,
são fruto do desequilíbrio ocasionado por práticas agrícolas inadequadas,
tais como a monocultura por safras seguidas.
Mais de 20 gêneros de nematóides já foram detectados associados
com soja no Brasil (CARNIELLI & SOUZA , 1989). Desses, Heterodera (o
nematóide de cisto) e Meloidogyne (o nematóide de galha) apresentam
importância econômica para essa cultura e serão mais bem detalhados.
2. Nematóide de Cisto da Soja
Trata-se de um nematóide extremamente nocivo à sojicultura
mundial. Os prejuízos causados por ele podem chegar a 100% em
algumas áreas altamente infestadas. Sua descoberta em solo brasileiro
aconteceu na safra 91/92 nos Estados de Minas Gerais (LIMA et al.,
1992), Mato Grosso (LORDELLO et al, 1992) e Mato Grosso do Sul
(MONTEIRO & MORAIS, 1992). Em São Paulo foi detectado na safra 94/95
na região de Assis (ROSSI et al., 1995). Atualmente, encontra-se
distribuído pelas principais regiões de cultivo de soja do Brasil.
O cisto que proporciona o nome comum ao nematóide é a cutícula
da fêmea adulta morta encontrando-se em seu interior cerca de 300 ovos
que podem permanecer viáveis por um longo tempo à espera de uma
planta hospedeira. A soja cultivada em campo infestado estimula os
juvenis a emergirem dos cistos e penetrarem nas raízes. A partir daí,
parasitam de forma sedentária passando por várias fases jovens até a
formação do adulto. Há cruzamento entre nematóides de diferentes raças,
o que gera muita variabilidade.
Sintomas e Danos
Como o nematóide tem pouca mobilidade, há uma tendência das
infestações ocorrerem em reboleiras. Os sintomas são plantas mal
desenvolvidas com aparência de deficiência nutricional, folhas esparsas e
144
amareladas, poucas flores, às vezes a haste raquítica e desnuda e
nodulação precária. A utilização de implementos no momento do preparo
do solo dissemina o nematóide pela área.
O sinal mais característico é a fêmea globosa esbranquiçada
aderida à raiz.
O prejuízo direto causado pelo parasitismo de um indivíduo em
uma planta é desprezível, mas quando se considera centenas de
indivíduos, comum em altas infestações, o dano passa a ser evidente. É
mais intenso em solos leves ou arenosos e onde há pH elevado (DIAS et
al., 2000).
Controle
Em vista da soja e de poucas outras plantas (feijão, tremoço, azuki
etc) serem as únicas hospedeiras do nematóide, a rotação de culturas é a
medida de controle mais recomendada. Entretanto, o cisto que se
encontra no solo após a colheita da soja, protege os ovos por um longo
tempo. Assim, a melhor estratégia é integrar rotação de culturas com
cultivares de soja resistentes. Já existem disponíveis quase uma dezena
de cultivares com resistência genética ao parasito. Há muita variabilidade
dentro da população devido à reprodução cruzada do nematóide. Dentre
as 16 raças possíveis, a 3 é a mais comum em nosso país. O plantio
consecutivo de uma mesma cultivar resistente seleciona a população e a
inviabiliza para as próximas safras. Medidas como limpeza de
implementos e máquinas, eliminar soja “tiguera” da área infestada após a
colheita, plantio direto na palha, evitam a disseminação e a multiplicação
do nematóide. O manejo adequado do solo, mantendo níveis altos de
matéria orgânica, saturação de bases dentro do recomendado, adubação
equilibrada e ausência de camadas compactadas aumenta a tolerância da
soja ao nematóide (EMBRAPA , 2000).
3. Os Nematóides de Galhas
Ao contrário da espécie anterior, esses nematóides atacam muitas
culturas e estão distribuídos por quase todas as áreas agricultáveis. Há
duas principais espécies que parasitam soja: Meloidogyne javanica e M.
incognita, sendo a primeira a predominante. A presença dessas espécies
em altas infestações é considerada fator limitante.
Sintomas
A presença de reboleiras com plantas de porte mais reduzido,
amareladas e com folhas apresentando manchas cloróticas entre as
nervuras (folha carijó) caracteriza um sintoma da presença desse
nematóide na lavoura. Entretanto, é nas raízes que se encontra o sintoma
típico do parasitismo desse organismo que lhe proporcionou o seu nome
comum: as galhas. Essas são engrossamentos de forma esférica isolados
ou podendo se coalescerem modificando totalmente a morfologia da raiz,
não destacados facilmente como os nódulos de Bradyrhizobium que
podem se formar na raiz principal e nas demais.
Controle
A decisão de se controlar a população do nematóide deve ser
tomada muito antes da instalação da lavoura, pois as medidas são
preventivas. O controle é baseado em adoção de rotação de culturas com
plantas não hospedeiras, que no caso dessas espécies, não apresenta
muitas opções, e cultivares com resistência genética ao parasito.
146
Inicialmente, necessita-se conhecer qual (is) a(s) espécie(s) que
estão presentes na área. Para isso é preciso enviar uma amostra de solo e
raízes para um laboratório de nematologia, a fim de que seja feita a
identificação específica.
Para M. javanica pode-se cultivar em rotação em áreas
reconhecidamente infestadas milho resistente (‘C 811’, ‘BR 3123’, ‘C
491’ ‘AG 5016’, ‘Tork’ ‘X 1297 J’, ‘XL 357’ etc), amendoim, algodão,
sorgo resistente (‘AG 2005-E’ e ‘AG 2501-C’) e mamona (DIAS et al.,
1998; 2000). Rotação de culturas com adubos verdes (crotalárias, aveia
preta, milheto e alfafa) melhora as propriedades físicas, químicas e
biológicas do solo, além de que a presença de plantas não hospedeiras
evita a multiplicação do nematóide.
As cultivares de soja: ‘Bragg’, ‘BR-6’, ‘BR-30’, ‘IAC-8’, ‘BRS65’, ‘Celeste’, ‘CD-201’, ‘CD-203’, ‘FT-Cometa’, ‘Conquista’, ‘Iguaçu’
apresentam resistência a essa espécie e podem ser utilizadas em
esquemas de rotação de culturas para um melhor desempenho das
mesmas.
Para M. incognita, as opções são mais restritas: amendoim, milho
‘P30F80’, crotalárias, mucuna-preta, aveia preta, guandu e, as cultivares
de soja: ‘BR-36’, ‘BRSMG 68’, ‘Garantia’, ‘Liderança’, ‘Renascença’,
‘Matrinchã’, ‘CD 201’, ‘CD 202’, ‘CD 203’, ‘IAC 8’, ‘IAC 12’,
‘Conquista’, ‘Pequi’, ‘Pioneira’, ‘Iguaçu’.
4. Referências Bibliográficas
CARNIELLI , A; SOUZA , M.I.F. Nematóides em soja: resumos
informativos. EMBRAPA/DID. 169p, 1989. (Resumos Informativos,
29).
DIAS, W.P. Controle de nematóides fitoparasitas associados à cultura da
soja. Resultados de Pesquisa da Embrapa Soja. Embrapa/CNPSo.
P.11-21, 1998. (Embrapa soja. Documentos, 125).
DIAS, W.P.; GARCIA , A.; SILVA , J.F.V. Nematóides associados à cultura
da soja no Brasil. In: Congresso Brasileiro de Nematologia p. 59-65,
2000.
EMPRESA BRASILEIRA DE P ESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA ).
Recomendações técnicas para a cultura da soja na Região Central
do Brasil 1999/2000. Londrina, 2000.
LIMA, R.D.; F ERRAZ, S. & SANTOS, J.M. Ocorrência de Heterodera sp.
em soja no triângulo mineiro. Nematol. Bras. 16: 101-102, 1992.
LORDELLO , A.I.L.; LORDELLO, R.R.A. & QUAGGIO, J.A. Ocorrência do
nematóide de cisto da soja (Heterodera glycines) no Brasil. Revista
de Agricultura, 67: 223-225, 1992.
MONTEIRO, A.R. & MORAIS, S.R.A.C. Ocorrência do nematóide de cisto
da soja, Heterodera glycines Ichinohe, 1952, prejudicando a cultura
em Mato Grosso do Sul. Nematol. Bras., 16: 101,1992.
ROSSI, C.E.; MONTEIRO, A.R. & RAMIRO, Z.A. Ocorrência do nematóide
de cisto, Heterodera glycines Ichinohe, 1952, em cultura de soja, no
Estado de São Paulo. Revista de Agricultura, 70: 37-39, 1995.
DOENÇAS FOLIARES DA SOJA E S EU CONTROLE
Eng. Agr. Renato Arantes Pinto
Coordenador de Desenvolvimento Técnico Comercial - Aventis
CropScience Brasil Ltda. Av. Maria Coelho Aguiar, 215, Bloco B, 20
Andar, São Paulo, SP, CEP 05804-902. Tel. (14) 9601 0073, Fax (14)
424 4304. E- mail: [email protected]
148
1. Introdução
Considerando-se todo o complexo de doenças causadas por
fungos, bactérias, nematóides e vírus que ocorrem na soja, pode-se dizer
que existem cerca de 40 que já foram identificadas no Brasil. Esse é um
número bastante expressivo, e a cada ano surgem novas doenças que
complementam esse número. Diversos fatores têm contribuído para isso,
é claro, como a própria monocultura ou a sucessão soja/milho safrinha no
cerrado, não se constituindo por si só uma rotação de cultura pela própria
definição do termo. Com isso, os restos culturais são uma forma de
aumento de patógenos, além do fato de que existem muitas áreas
irrigadas que têm plantio de soja no outono/inverno como forma de
produção de sementes, fazendo com a cultura esteja presente durante
todo o ano. Outro fator a ser considerado é o próprio melhoramento
genético para obtenção de novas variedades, que muitas vezes prioriza
determinadas características vinculadas ao aumento de produtividade e
descarta características intrínsecas da própria planta vinculada a
resistência natural, não que isso não seja importante, pois é claro existem
hoje inúmeras variedades hoje com excelente potencial produtivo, fruto
da brilhante pesquisa nesse segmento, que até possibilitou o plantio da
cultura em diversas regiões e situações do país.
Mais um fator, a maioria dos patógenos é transmitida através das
sementes e, portanto o uso de sementes sadias ou o tratamento das
sementes torna-se vital para a não disseminação e a introdução da doença
no ciclo produtivo. Com relação ao uso de sementes totalmente sadias,
pode-se dizer que o uso entre os agricultores não é totalmente
generalizado, com muitos deles reproduzindo suas próprias sementes até
os dias de hoje, desconsiderando aspectos essenciais de sanidade. Agora
com relação ao uso do tratamento de sementes, essa tecnologia acabou se
disseminando com grande força, sendo que a grande maioria dos
agricultores a consideram importante, principalmente quando os
benefícios são evidenciados após um período de estiagem logo após o
plantio, mas o tratamento de sementes até uma década atrás não tinha
toda essa força.
A seguir, constam os nomes comuns e aos agentes causais de
doenças que ocorrem na soja ocasionadas por fungos, bactérias, vírus e
nematóides:
2. Doenças Fúngicas
Crestamento foliar de Cercospora e Mancha
púrpura da semente
Cercospora kikuchi
Ferrugem
Phakopsora meibomiae
Mancha foliar de Alternaria
Alternaria sp.
Mancha foliar de Ascochyta
Ascochyta sojae
Mancha parda
Septoria glycines
Mancha “olho-de-rã”
Cercospora sojina
Mancha foliar de Myrothhecium
Myrothecium roridum
Oídio
Microsphaera diffusa
Míldio
Peronospora manshurica
Mancha foliar de Phyllosticta
Mancha alvo
Mela ou requeima da soja
Antracnose
Phyllosticta sojicola
Corynespora cassiicola
Rhizoctonia solani
Colletotrichum
dematium
truncata
Necrose da base do pecíolo
etiologia não identificada
var.
150
Seca da haste e da vagem
Phomopsis spp.
Seca da vagem
Fusarium spp.
Mancha de levedura
Nematospora corily
Podridão branca da haste
Sclerotinia sclerotiorum
Podridão parda da haste
Phialophora gregata
Podridão da raiz e da haste
Phytophthora megasperma f.
sp. sojae
Cancro da haste
Phomopsis
phaseoli
f.sp.
meridionalis
Podridão de carvão
Podridão radicular de Cylindrocladium
Macrophomina phaseolina
Cylindrocladium
clavatum
Tombamento e murcha de Sclerotium
Sclerotium rolfsii
Tombamento e morte em reboleira
Rhizoctonia solani
Podridão vermelha da raiz
Fusarium
solani
f.sp.
glycines
Podridão radicular de Rosellinia
Rosellinia sp.
Podridão radicular de Corynespora
Corynespora cassiicola
3. Doenças Bacterianas
Crestamento bacteriano
Pseudomonas syringae pv.
glycinea
Pústula bacteriana
Xanthomonas campestris pv.
glycines
Fogo selvagem
tabaci
Pseudomonas syringae pv.
4. Doenças Causadas por Vírus
Mosaico comum da soja
Vírus do Mosaico Comum
da Soja
Queima do broto
Vírus da necrose Branca do
Fumo
Mosaico amarelo do feijoeiro
Vírus do Mosaico Amarelo
do Feijoeiro
Mosaico cálico
Vírus do Mosaico da Alfafa
5. Doenças Causadas por Nematóides
Nematóide de galhas
Meloigogyne incognita
Meloidogyne javanica
Meloidogyne arenaria
Nematóide de cistos
Heterodera glycines
Analisando-se então as doenças foliares, principal abordagem do
assunto, estudos comprovam que, sob condições favoráveis, as populares
DFCs (Doenças de Final de Ciclo) chegam a reduzir o rendimento da
soja em mais de 20%, o que vale a uma perda anual aproximada de seis
milhões de toneladas (100 milhões de sacas), o que representa em
valores, cerca de 1 bilhão de dólares, considerando-se o preço médio da
saca de US$ 10,00. Esse, sem dúvida, é um aspecto que contribui para
reduzir o rendimento médio da soja a nível nacional, Contudo, é válido
considerar que com o advento do controle químico nos últimos anos e a
sua enorme expansão, que será abordado posteriormente, esse montante
vem caindo a cada ano.
Dentro das DFCs, existem três doenças a serem consideradas
como de grande importância, como a mancha “olho-de-rã” (Cercospora
152
sojina), a mancha parda (Septoria glycines) e o crestamento foliar ou
mancha púrpura (Cercospora kikuchi). O oídio (Microsphaera diffusa)
também tem sido considerado uma doença altamente expressiva, mas sua
ocorrência normalmente se dá antes do final do ciclo da cultura.
Mancha “olho -de-rã” (C. sojina)
Ø Condições ideais: temperaturas médias entre 24 e 28 ºC, duração do
molhamento foliar ideal de uma hora e a precipitação pluvial no período
de ocorrência favorecem o estabelecimento do patógeno;
Ø Aspectos epidemiológicos: transmitido pelas sementes contaminadas,
o patógeno sobrevive em restos culturais, existem vários hospedeiros
para o patógeno, a doença é do tipo policíclica, isto é, existem várias
infecções durante a mesma safra, os propágulos do patógeno são
disseminados pelo vento a longas distâncias e a distribuição na lavoura
ocorre de forma generalizada;
Ø Formas de controle: uso de sementes livres da doença, rotação de
culturas, uso de variedades resistentes, enterrio dos restos culturais e
emprego do controle químico através de fungicidas.
Mancha parda (S. glycines)
Ø Condições ideais: temperaturas médias entre 16 e 18 ºC, duração do
molhamento foliar ideal de seis horas e a precipitação pluvial no período
de ocorrência favorecem o estabelecimento do patógeno;
Ø Aspectos epidemiológicos: transmitido pelas sementes contaminadas,
o patógeno sobrevive em restos culturais, a doença é do tipo policíclica,
os propágulos do patógeno são disseminados pelo vento a longas
distâncias, os propágulos são disseminados pelos respingos da chuva e
pelo vento a longas distâncias, e a distribuição na lavoura ocorre de
forma generalizada;
Ø Formas de controle: uso de sementes livres da doença, rotação de
culturas, uso de variedades resistentes (resistência parcial, com
necessidade de complemento com outras medidas de controle), enterrio
dos restos culturais e emprego do controle químico através de fungicidas.
Crestamento foliar ou Mancha púrpura (C. kikuchi)
Ø Condições ideais: temperaturas médias entre 28 e 30 ºC, duração do
molhamento foliar ideal de 24 a 48 horas e a precipitação pluvial no
período de ocorrência favorecem o estabelecimento do patógeno;
Ø Aspectos epidemiológicos: transmitido pelas sementes contaminadas,
o patógeno sobrevive em restos culturais, existem vários hospedeiros
para o patógeno, a doença é do tipo policíclica, isto é, existem várias
infecções durante a mesma safra, os propágulos do patógeno são
disseminados pelo vento a longas distâncias e a distribuição na lavoura
ocorre de forma generalizada;
Ø Formas de controle: uso de sementes livres da doença, rotação de
culturas, uso de variedades resistentes (resistência parcial, com
necessidade de complemento com outras medidas de controle), enterrio
dos restos culturais e emprego do controle químico através de fungicidas.
Crestamento foliar ou Mancha púrpura (C. kikuchi)
Ø Condições ideais: temperaturas médias de 18 ºC;
Ø Aspectos epidemiológicos: existem vários hospedeiros para o
patógeno, a doença é do tipo policíclica, isto é, existem várias infecções
durante a mesma safra, os propágulos do patógeno são disseminados pelo
154
vento a longas distâncias e a distribuição na lavoura ocorre de forma
generalizada;
Ø Formas de controle: uso de variedades e emprego do controle
químico através de fungicidas.
Ø Apesar de se considerar como importante para a redução de diversas
doenças o uso de sementes isentas do patógeno, a rotação de culturas, o
enterrio de restos culturais e o uso de variedades resistentes, na prática
normalmente isso não ocorrem na íntegra, visto que como foi comentado
anteriormente, o uso de sementes totalmente sadias nem sempre são
utilizadas, fazendo com que haja a introdução da doença não só na
lavoura implantada como nas proximidades, através da disseminação dos
propágulos pelo vento.
Ø A rotação de culturas, apesar de ser plenamente aconselhada, nem
sempre ocorre porque toda a estrutura produtiva do agricultor, assistência
técnica e infra estrutura de recebimento, na maioria das vezes estão
voltadas para poucas culturas, como existe atualmente no cerrado (soja,
milho e algodão), inviabilizando a introdução de outras culturas que
promoveriam a redução dos patógenos. Dependendo da região, o enterrio
também não é uma prática a ser aconselhada com veemência, pois estaria
se destruindo todo um sistema positivamente implantado de enormes
vantagens atualmente que é o plantio direto.
Ø O uso de variedades resistentes é sem dúvida a melhor forma de
controle das doenças, o entrave se dá no fato de que a resistência não é
completa para todas as doenças, e quando é, muitas vezes a variedade
não é altamente produtiva ou não aconselhada na região a ser implantada.
Dessa forma, em função desses aspectos, o uso do controle químico com
o emprego de fungicidas vem se generalizado, e a cada ano mais
agricultores se beneficiam dessa tecnologia. Instituições renomadas
recomendam o emprego dessa técnica, como a Embrapa Soja. Na Tabela
1, constam os principais fungicidas recomendados para DFCs, extraídos
da XXII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central de Brasil.
Tabela 1. Fungicidas recomendados para doenças de final de ciclo. XXII
Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Cuiabá, MT.
2000.
Nome comum
Nome
Dose
comercial
i.a. ¹(gr/ha)
p.c.²
(gr
ml/ha)
1.
Azoxystrobin
+ Priori + Nimbus 50 + 224
200 + 500
Adjuvante
2. Benomyl
Benlate
250
500
3. Carbendazin
Derosal
/ 250
500
50
200
Bendazol
4. Difenoconazole
Score
5. Tiofanato Metílico
Cercobin
500 300 a 400
600 a 800
SC
6. Tebuconazole
Folicur
/ 150
750
Constant
¹ ingrediente ativo; ² produto comercial
Na Tabela 2, constam os principais fungicidas recomendados para
oídio (M. diffusa), extraídos da XXII Reunião de Pesquisa de Soja da
Região Central de Brasil.
O carbendazin (Derosal) é sem dúvida um dos produtos pioneiros
nesse segmento, com eficiência e custo/benefício favorável, comprovado
156
a cada safra por milhares de sojicultores. No caso das DFCs, para se
maximizar o controle, a aplicação dos fungicidas deve ser feita entre os
estádios de desenvolvimento R5.1 e R5.5 e se até esses estádios as
condições climáticas estiverem favoráveis à ocorrência das doenças. Já
no caso do oídio, o momento da aplicação depende do nível de infecção e
do estádio de desenvolvimento da soja, sendo que a aplicação deve ser
feita quando o nível de infecção atingir 40 a 50% da área foliar. A
aplicação deve ser repetida se, após 10 a 15 dias da primeira aplicação,
for observada evolução da doença e desde que a soja não tenha atingido o
estádio R6, quando não há mais necessidade de aplicações para o
controle dessa doença.
Tabela 2. Fungicidas recomendados para o controle de oídio (M.
diffusa). XXII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil.
Cuiabá, MT. 2000.
Nome comum NOME
Dose
COMERCIA
L
i.a. ¹(gr/ha) p.c.² (gr ml/ha)
1. Benomyl
Benlate
250
500
2.
Condor
50 a 60
250 a 300
Bromuconazole
3. Carbendazin
Derosal
/ 250
500
50
200
Bendazol
4.
Score
Difenoconazole
5.
Tiofanato Cercobin
Metílico
500 300 a 400
600 a 800
SC
6. Tebuconazole Folicur
/ 150
750
Constant
7. Enxofre
Kumulus
2000
2500
¹ ingrediente ativo; ² produto comercial
Com a implantação e a difusão cada vez mais permanente dessa
forma de controle nas diversas fronteiras agrícolas da soja, é possível
minimizar os prejuízos dessas principais doenças foliares, fazendo com
que a média de produtividade da cultura venha a aumentar, superando os
atuais 2300 kg/ha, além de se poder fazer uso de variedades altamente
produtivas que não tenham uma resistência completa a todas as doenças,
e de se preservar um sistema de plantio reconhecido como extremamente
valioso que é o plantio direto, eliminando-se, portanto em muitos casos o
enterrio.
6. Bibliografia Consultada
EMBRAPA . Centro nacional de Pesquisa de Soja (Londrina, PR).
Recomendações técnicas para a cultura da soja na região central
do Brasil 1999/2000. Londrina, 1999. 226p (EMBRAPA-CNPSo).
Documentos, 132).
HENNING, A.A.; CAMPO, R.J.;S FREDO, G.J. Tratamento com fungicidas,
aplicação de micronutrientes e inoculação de sementes de soja.
Londrina:
EMBRAPA-CNPSo,
1997.
6p.
(EMBRAPA-CNPSo.
Comunicado Técnico, 58).
HOMECHIN, M. Rotação de culturas e a incidência de patógenos da
soja. EMBRAPA-CNPSo, 1983. 6p. (EMBRAPA-CNPSo. Pesquisa
em andamento, 6).
158
YORINORI, J.T.; HOMECHIN, M. Doenças de soja identificadas no Estado
do Paraná no período de 1971 a 1976. Fitopatol. Bras.,.2: 108, 1977.
PLANTIO D IRETO DE CULTURAS DE S UCESSÃO SOBRE PALHADA DE
CANA CRUA
Pesquisador Científico Denizart Bolonhezi1 & Oswaldo Siroshi
Tanimoto2
1
Engo .Agrônomo, Instituto Agronômico de Campinas, Núcleo de
Agronomia da Alta Mogiana, Ribeirão Preto/SP, Cx. Postal 271. E- mail:
[email protected]
2
Engo .Agrônomo, Consultor Técnico da CATI – Casa da Agricultura de
Aramina/SP, tel: (16)-3752-1324
1. Introdução
O Brasil é o segundo país em área cultivada com Sistema Plantio
Direto (SPD), estimando-se cerca de 13,47 milhões de ha, que
representam 25% da área total utilizada para agricultura (DERPSCH,
2000). Dentre as vantagens já comprovadas pela pesquisa e validadas
pelos agricultores, a redução no custo de produção e a maior
disponibilidade de água para as culturas tem sido apregoadas, mais
recentemente, como as principais razões para adoção do sistema. Nos
últimos dois anos, a área do Estado de São Paulo com SPD aumentou
cerca
de
670%,
podendo-se
estimar
que
na
safra
2000/01,
aproximadamente 600 mil ha foram cultivados neste sistema (TANIMOTO,
2001). Contribuiu para este crescimento; o estímulo governamental
através de crédito para compra de implementos (4% de juros ao ano), a
realização de diversos eventos de divulgação e o surgimento de duas
novas situações de renovação de áreas agrícolas, que são; produção de
grãos sobre canaviais colhidos mecanicamente sem despalha à fogo
(“cana crua”) e sobre pastagens degradadas.
As empresas do setor sucro-alcooleiro paulistas, em função de
legislação (Decreto Estadual no 41.719/97 e no 42.056/97) vem tendo que
reduzir gradativamente as queimadas de canaviais. Consequentemente
tem ocorrido aumento do uso de máquinas colhedoras de “cana crua”,
que deixam sobre a superfície do solo, após a colheita, cerca de 15 t.ha -1
de matéria seca, formando uma camada de palhada de 8 a 10 cm de
espessura. Pode-se dizer, que somente na região de Ribeirão Preto-SP,
próximo de 50% das áreas são colhidas sem queimadas. Considerando
que anualmente são renovados 150 mil ha colhidos sem queimar,
somente no Estado de São Paulo, o SPD da cultura de sucessão sobre
palhada de cana-de-açúcar, surge como uma expressiva e inovadora
iniciativa.
Os pioneiros desta iniciativa são técnicos e produtores da região
NE de São Paulo que vem há três anos, através de observações de campo
conseguindo bons resultados, sobretudo com a soja. Concomitantemente,
o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), iniciou pesquisas que tem
ajudado a elucidar algumas questões. Todavia, em virtude da
complexidade deste novo ambiente agrícola, existem muitas dúvidas a
serem esclarecidas. Sendo assim, este texto tem como objetivos; fornecer
um referencial teórico, reunir resultados parciais e apresentar alguns
aspectos que podem se constituir em demandas de pesquisa.
160
2. Característica deste Sistema de Produção
No sistema de produção da cana-de-açúcar em São Paulo, desde o
final da década de 70, é preconizado, por ocasião da renovação dos
canaviais, o cultivo de culturas graníferas com os objetivos de gerar
receita e proporcionar os benefícios da rotação de culturas. Normalmente,
são mais indicadas espécies leguminosas, procurando além do
fornecimento de nitrogênio, melhorar as características físicas e
biológicas do solo, reduzir a população de patógenos, nematóides e
outras pragas. Embora predomine o cultivo de soja e amendoim, o uso de
espécies de adubos verdes, principalmente de Crotalaria juncea e mucuna
preta, é prática comum em algumas áreas, podendo proporcionar
aumentos na produção de 22 a 47%, o que representa um acréscimo de
até 5 t .ha -1 de açúcar (MASCARENHAS & TANAKA , 2000). O sistema
plantio direto vem agregar a estes objetivos, os benefícios de não
movimentar o solo no período de maior pluviosidade, reduzindo os riscos
com erosão.
Neste sistema, todas as operações de preparo do solo são
substituídas pela destruição química da soqueira da cana-de-açúcar com
herbicida sistêmico (de 5 a 6 L.ha -1 de glifosate), que deve ser realizada
quando as plantas estiverem em torno de 60 cm de altura. Os canaviais
colhidos de junho até primeira quinzena de setembro favorecem o
manejo químico e possibilitam a semeadura da soja em tempo hábil,
liberando as áreas para plantio da “cana de ano e meio”. De maneira
geral, as áreas destinadas à colheita mecanizada sem queimar, são
sistematizadas, extensas e mais próximas das cidades, consistindo em
vantagem para o arrendatário. A presença da palhada, além de conservar
maior umidade por ocasião da semeadura, uniformizando a emergência
das plântulas, contribui para economizar no uso de herbicidas pósemergentes. A redução no número de operações economiza até 71% no
consumo de diesel, 62% na mão-de-obra e aumenta a vida útil dos
tratores (trabalho sem poeira). Por outro lado, a adoção deste sistema
exige investimento em semeadoras adequadas e maior conhecimento
técnico do produtor (TANIMOTO, 2001).
3. Referencial Teórico
Com relação ao plantio direto da soja, grande parte do acervo de
informações encontrado na literatura pode ser adaptado para a condição
de palhada de cana-de-açúcar, principalmente os conhecimentos sobre
manejo de herbicidas. Todavia, frequentemente surgem dúvidas sobre a
aplicação de N na semeadura, mas foi constatado, em solos recebendo
grande quantidade de resíduos vegetais (até 26 t.ha -1 de matéria seca com
alta relação C/N), que não houve nenhuma resposta à aplicação de até 30
kg de N/ha. Outros trabalhos indicam que as taxas máximas de fixação
biológica de nitrogênio ocorrem após o florescimento, não justificando
qualquer suplementação com fertilizante nitrogenado, que poderia inibir
a atividade das bactérias simbióticas fixadoras de nitrogênio (HUNGRIA &
CAMPO, 2000). Estes autores alertam que os solventes utilizados em
fungicidas
podem
ser
tóxicos
ao
Bradyrhizobium,
reduzindo
drásticamente a sua população e consequentemente os benefícios da
fixação biológica do nitrogênio.
BOLONHEZI et al.(2000), através de pesquisa realizada em
Ribeirão Preto/SP, avaliaram dentre outras características a produção da
cultivar de soja IAC-Foscarin 31 com diferentes doses de calcário no
sistema convencional e plantio direto sobre palhada de cana-de-açúcar.
162
Verificaram que não houve diferença significativa entre o convencional
(2882 kg.ha -1 ) e o sistema plantio direto (2772 kg.ha-1 ), na média das
doses de calcário. Neste projeto iniciado em 1998, que está em
andamento, após a colheita da soja foi realizado o plantio de cana-deaçúcar nos dois sistemas.TASSO JÚNIOR (2000), em estudo comparativo
do comportamento das culturas de amendoim, soja e milho, no sistema
plantio direto sobre palhada de cana-de-açúcar, constatou um aumento
significativo na produção de grãos de soja e milho no sistema plant io
direto. Para as cultivares de amendoim avaliadas, verificou redução na
produção de grãos, embora a análise dos custos de produção tenham
indicado maior renda líquida. Nesta última safra, TANIMOTO (2001),
avaliou 13 cultivares de soja através de parcelas demonstrativas, obtendo
produções que variaram de 2.705 kg.ha -1 (cv BRS-133) até 3288 kg.ha -1
(cv. Vencedora). Nesta avaliação, não houve diferença entre as
produções de grãos de algumas cultivares, quando semeadas em condição
de palhada e de cana queimada. Vale mencionar, que o custo de produção
por saco de soja, média de todas as cultivares, foi de R$15,39 no
convencional e R$ 13,35 no sistema plantio direto.
Convém salientar que para a cultura do amendoim, devido as
peculiaridades morfo-fisiológicas desta espécie, que desenvolve seus
frutos na sub-superfície do solo, trabalhos na literatura nacional que
versem sobre a viabilidade de sua implantação no sistema plantio direto
são quase inexistentes. Estudos de produção de amendoim em plantio
direto ou em cultivo mínimo, comparativos ao preparo de solo
convencional, têm sido feitos em outros países, geralmente associados a
plantios em sucessão a outras culturas anuais. Entretanto, essas práticas
são ainda pouco difundidas por causa da preocupação com as perdas
quantitativas e qualitativas de produção.
No Texas (EUA), o amendoim produzido sobre plantio direto
apresentou perdas de produtividade da ordem de 33% (GRICHAR &
BOSWELL, 1987). No Estado de Virginia (EUA), dois sistemas de cultivo
mínimo foram estudados, tendo-se observado reduções médias de 19%
na produtividade em relação ao tratamento convencional, e resultados
inconsistentes com relação ao tamanho dos grãos comerciais (WRIGHT &
PORTER, 1991). Estudando formas de reduzir a erosão, W RIGHT (1991)
avaliou sistema de semeadora com implemento que realiza preparo de
solo em faixa na linha de semeadura, e verificaram ganhos em torno de
10% em produtividade, em relação às práticas convencionais. SHOLAR et
al. (1995) revisaram a literatura sobre produção de amendoim em plantio
direto ou cultivo mínimo, e observaram resultados variados com relação
aos efeitos dos sistemas conservacionistas sobre a população final de
plantas, produtividade e qualidade comercial dos grãos. Em alguns
ambientes, as produções foram iguais ou maiores do que no sistema
convencional.
A maioria dos trabalhos mencionada anteriormente atribui ao
desempenho negativo do plantio direto do amendoim, à presença de
resíduos da cultura anterior, que favorecem o desenvolvimento de
doenças nas vage ns, principalmente ocasionadas por Sclerotium rolfsii.
Entretanto, um interessante estudo realizado por PORTER & WRIGHT
(1991) no Estado de Virginia (EUA), concluiu que tanto a incidência (%
de infecção) quanto a severidade (% de queda de folhas) de Cercospora
arachidicola
(“pinta
preta”
ou
“manha
castanha”)
foram
significativamente diminuídas no SPD. Estes autores explicam que a
164
palhada reduziu a dispersão até as folhas, pelas gotas da chuva, das
estruturas do fungo presentes no solo. Trabalhos conduzidos no Estado
da Georgia (EUA), verificaram menor infestação por Thrips sp. e menor
severidade de Rhizoctonia sp. no sistema cultivo mínimo. GRISCHAR &
SMITH (1992), observaram em cinco cultivares diferentes, que em
condição de menor umidade, a infecção por Sclerotium rolfsii foi menor
no plantio direto.
Considerando que a cultura do amendoim apresenta maiores
dificuldades técnicas para seu cultivo no SPD e cientes da falta de
estudos realizados até o presente, BOLONHEZI et al. (2001), vêm
conduzindo em Ribeirão Preto/SP, experimentos comparando os sistemas
convencional (arado de aiveca e grade), cultivo mínimo (subsolador) e
plantio direto de duas cultivares de amendoim sobre palhada de cana-deaçúcar. Os dados parciais, demonstraram que a produção de grãos foi
30% maio no SPD em relação ao convencional, mesmo com redução de
16% na população final de plantas. Pode-se inferir, que a grande
quantidade de palhada de cana (cerca de 10 t.ha -1 ) nas parcelas do
tratamento plantio direto, contribuiu para aumentar a disponibilidade de
água, atenuando a deficiência hídrica ocorrida no período e refletindo em
um aumento de 9 % no rendimento de grãos (Tabela 1). É importante
comentar que os resultados referentes ao ano agrícola 2000/01, ainda não
tabulados, sinalizam redução na produção de grãos para a cultivar IACTatu ST no SPD.
Os mesmos tratamentos avaliados em condição de palhada de
cana-de-açúcar, estão sendo testados sobre Brachiaria sp., buscando
responder a realidade da região oeste do Estado de São Paulo, na qual a
cultura do amendoim entra em sucessão com pastagem, predominando
semeadura na época da seca.
4. Considerações Finais
O resultados experimentais gerados até o momento não são
suficientes para formalizar uma recomendação oficial. Porém, as
observações de campo validam esta tecnologia que, no caso da soja
apresentam produções nos mesmos patamares do sistema convencional e
com a grande vantagem de reduzir custos, além de preservar o solo.
Dentre as demandas de pesquisa a serem sugeridas, convém serem
destacados para o contexto da cultura da soja os seguintes temas: estudo
de aplicação de micronutrientes (molibdênio e cobalto), inoculação com
estirpes melhoradas de Bradyrhizobium versus aplicação de nitrogênio na
semeadura, avaliação de genótipos de soja ma is adaptados ao SPD na
palhada, distribuição do sistema radicular, máquinas eficientes para solos
argilosos e fungicidas para tratamento de sementes.
Com relação a cultura do amendoim, ainda são importantes
estudos comparativos entre os diferentes sistemas de cultivo, procurando
quantificar e qualificar melhor os resultados obtidos no SPD. Vale
destacar a necessidade de pesquisas sobre a viabilidade do arranquio
mecânico das plantas no SPD, que parece ser dificultado pela soqueira
da cana-de-açúcar. Convém salientar a necessidade de pesquisas sobre: a
aplicação de doses de cálcio (gesso e calcário) em superfície, o uso de
inoculantes, doses de nitrogênio na semeadura, comportamento de
cultivares com portes diferentes (rasteiros e eretos), incidência e
severidade de manchas foliares e fungos de solo, além do controle de
pragas (cochonilhas de raiz e cupins). Devido à maior umidade nas
166
vagens ocasionada pela palhada, podem aumentar os riscos de
aparecimento de alfatoxina.
A possibilidade de realizar o plantio direto mecanizado da canade-açúcar, após a cultura de sucessão ou sobre cana (“cana de ano”),
poderá intensificar os problemas ocorridos com ataques de cigarrinhas
(Mahanarva posticata e M. fimbriolata), que já vem ocasionando sérios
prejuízos em áreas de colheita sem queima. Outras pragas como
Migdolus spp. e cupins também podem ter seu controle dificultado.
Existem relatos sobre a possibilidade de aumento de populações de
roedores e tatus em áreas de “cana crua”, que necessitariam de novas
investigações.
Tabela 1.Comportamento de duas cultivares de amendoim semeadas no
sistema convencional, cultivo mínimo e plantio direto sobre palhada de
cana-de-açúcar. Ribeirão Preto/SP, 2000.
Sistema
Amend Produç No de Mass Massa Stand Rendim
De
oim
ão de Vage a de das
Final
ento de
Cultivo
em
grãos ns
100
hastes (pl/48 grãos(%
(SC)
casca (kg.ha - por
Grão (g/100 m2 )
)
- 1
(kg.ha )
plant s (g) pl)
1
)
a
Convencio 1746
1054 B 8.5 A 59.1 1338
119 A 62.4 B
nal
A
A
A
Cultivo
1849
1267
10.0 57.8 1011 B 102 B 68.5 A
Mínimo
A
AB
A
A
Plantio
1881
1350
9.2
58.2 910 B 103 B 71.4 A
Direto
A
A
A
A
Teste F
0.53 ns 5.55 * 2.68 0.98 9.62 * 12.2
11.28 **
d.m.s
421 282
ns
ns
313
**
5.9
(Tukey5%)
1.6
2.9
12
Cultivares
(C)
IAC-Tatu 1735 B 1168
3.5 B 45.9 591 B 78 B
66.6 A
ST
A
B
IAC1917
1279
14.8 70.8 1582
138 A 68.3 A
Caiapó
A
A
A
A
A
Teste F
9.62 * 3.64 ns 284.6 253.4 186 ** 447.94 2.08 ns
d.m.s
132
132
**
**
165
**
2.6
(Tukey5%)
1.5
3.5
7
Interação
SC x C
Teste F
6.89 * 3.10 ns 1.09 2.22 5.23 * 5.25 * 0.50 ns
C.V.(%)
15.0
15.0
ns
ns
18.8
7.3
5.7
parcela
7.9
11.7
11.9 3.2
16.4
6.5
4.2
C.V.(%)
17.8 6.5
subparcela
Fonte: BOLONHEZI et al. (2001), dados enviado para o XXVIII Congresso
Brasileiro de Ciência do Solo.
. Bibliografia
BOLONHEZI, D.; CANTARELLA , H.; PEREIRA , J.C.V.N.A. & LANDELL,
M.G.A. Produção de soja com diferentes doses de calcário no sistema
convencional e plantio direto sobre palhada de cana-de-açúcar. In:
Fertbio 2000, UFSM, 2000. (CD –ROM).
BOLONHEZI, D.; P EREIRA , J.C.V.N.A.: DE SORDI, G.; GODOY, I.J. &
CANTARELLA , H. Comportamento de duas cultivares de amendoim
nos sistemas, convencional, cultivo mínimo e plantio direto sobre
palhada de cana-de-açúcar. In: Congresso Brasileiro de Ciência do
Solo, EMBRAPA-CNPSO, 2001. (no prelo)
DERPSCH, R. A Expansão Mundial do Plantio Direto. Revista Plantio
Direto, 59: 32-40, 2000.
GRICHAR, W.J. & BOSWELL, T.E. Comparison of no-tillage, minimum,
and full tillage cultural practices on peanuts. Peanut Science, 14:
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GRICHAR, W.J. & SMITH, O.D. Interaction of tillage and cultivars in
peanut production systems. Peanut Science, 19: 95-98, 1992.
MASCARENHAS, H.A.A. & TANAKA , R.T. Soja e adubos verdes, uma boa
opção na renovação do canavial. O Agronômico, 52: 19, 2000.
MINTON, N.A. CSINOS, A.S.;L YNCH, R.E. & BRENNEMAM, T.B. Effects
of two cropping and two tillage systems and pesticides on peanut pest
management. Peanut Science, 18: 41-46, 1991.
HUNGRIA , M. & CAMPO, R.J. Interrelações da microbiologia com a
fertilidade do solo. In: Fertbio 2000, 2000. (CD –ROM).
PORTER, D.M. & W RIGHT, F.S. Early leafspot of peanuts: Effect of
conservational tillage practices on disease development. Peanut
Science, 18: 1991.
SHOLAR, J.R.; MOZINGO , R.W. & BEASLEY Jr., J.P. Peanut Cultural
Practices. In: Patee, H. E. & Stalker, H.T. eds. Advances in Peanut
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TANIMOTO, O. Plantio direto de soja na palhada de cana-deaçúcar.(Comunicação Pessoal)
TASSO JÚNIOR, L.C. Comportamento das culturas de amendoim,
milho e soja implantadas no sistema de plantio direto na palha
residual da colheita mecanizada da cana crua. UNESP,
Jaboticabal,2000. 82 p.
WRIGHT, F.S. & PORTER, D.M. Digging date and conservational tillage
influence on peanut production. Peanut Science, 18: 72-75, 1991.
WRIGHT, F.S. Alternative tillage practices for peanut production in
Virginia. Peanut Science, 18: 9-11, 1991.
BARREIRAS FITOSSANITÁRIAS NA COMERCIALIZAÇÃO NO M ERCOSUL
Pesquisador Científico Adalton Raga
Eng. Agrônomo, Laboratório de Entomolo gia Econômica, Centro
Experimental do Instituto Biológico, Instituto Biológico, Cx. Postal 70,
CEP
13001-970,
Campinas-SP,
tel.
(19)
3252-8342.
E- mail:
[email protected]
Nas últimas duas décadas foram relevantes os esforços brasileiros
para o incremento da cooperação econômica, buscando inserir o país no
mercado globalizado, regido por tratados e acordos de livre comércio. O
comércio internacional e o turismo são setores de destaque no mundo
moderno,
apresentando
um
ritmo
acelerado
de
crescimento
e
conseqüentemente, elevando os riscos de introdução de organismos
exóticos.
Pragas e patógenos movem-se para novas áreas de foram direta ou
indireta. A dispersão pode ser auxiliada por fenômenos naturais.
Contudo, o próprio homem é um aliado de pragas exóticas, movendo
vegetais e produtos alimentícios infestados para novas áreas com
condições ambientais favoráveis.
Os sistemas quarentenários visam proteger seus recursos, através
da adoção de medidas legais baseadas em pesquisas relacionadas com a
prevenção, interdição, detecção, erradicação e manejo das pragas
invasoras chaves. Para o país importador, a avaliação de risco da
introdução de pragas exóticas sinaliza a responsabilidade pela proteção
dos recursos ambientais, sociais e econômicos de sua comunidade. Ao
lado da definição dos agentes mais nocivos está a eleição das
170
mercadorias denominadas “críticas”, consideradas de extremo risco. As
frutas e outros vegetais frescos são vegetais considerados de alto risco no
comércio internacional porque podem conter pragas e doenças exóticas.
A Rodada do Uruguai (GATT) incluiu um acordo, estabelecendo
que todas as políticas e regras fitossanitárias devem ter base científica e
avaliação de riscos transparente, estabelecidas sob a forma de
quarentenas e outras medidas que protejam os países importadores do
risco da introdução de pragas e doenças.
Em 1989 iniciaram-se as atividades do Comitê de Sanidade
Vegetal do Cone Sul (COSAVE), uma organização regional de proteção
fitossanitária, integrada pela Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e
Uruguai. As normas e os procedimentos fitossanitários no âmbito do
Mercosul (standards verticiais) foram adotados de forma harmoniosa
com o COSAVE (standards horizontais), permitindo um ganho de
qualidade na comercialização regional de produtos agrícolas. Um
exemplo disso é o formato do Certificado Fitossanitário Único para o
Mercosul, aprovado em julho/1992 (Resolução nº44/92).
A Portaria nº 180 do Ministério da Agricultura do Brasil, de
21/03/1996 (DOU 25/03/96 –supl.), tornou oficial a adoção de padrões
normativos fitossanitários do COSAVE e emitiu a lista de pragas
quarentenárias da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Relativos
ao Brasil, nela constam 221 pragas de importância quarentenária,
acrescidas de outras listadas na Instrução Normativa SDA nº 38, de
14/10/1999 (DOU 26/10/99, S.1). As definições descritas abaixo são
necessárias para um melhor entendimento das pragas listadas nas citadas
publicações.
Praga: qualquer espécie, raça ou biótipo de vegetais, animais ou
agentes patogênicos, nocivos para os vegetais ou produtos vegetais.
Praga Quarentenária: uma praga de importância econômica
potencial para a área posta em perigo e onde ainda não está presente, ou
se está, não se encontra amplamente distribuída e é oficialmente
controlada.
Praga Quarentenária A1: uma praga de importância econômica
potencial para a área posta em perigo pela mesma e ainda não se encontra
presente.
Praga Quarentenária A2: uma praga de importância econômica
potencial para a área posta em perigo pela mesma e onde ainda não se
encontra amplamente distribuída e é oficialmente controlada.
Praga Quarentenária A2 Regional: aquela que apresenta
distribuição localizada e está submetida a controle oficial por um ou mais
países da região.
Praga Não Quarentenária Regulamentada: uma praga não
quarentenária cuja presença em plantas, ou parte destas, para plantio,
influi no seu uso proposto com impactos econômicos inaceitáveis.
O Acordo de Alcance Parcial para Facilitação do Comércio nº 5
no âmbito do Mercosul (Acordo de Recife), promulgado pelo Decreto
1280, de 14/10/1994 e seus protocolos adicionais visam padronizar e
integrar
os
controles
aduaneiros,
migratórios,
fitossanitários,
zoossanitários, e de transporte, facilitando o intercâmbio regional de
mercadorias. Neste aspecto, a estrutura de ação fitossanitária segue como
medida estratégica para não fragilizar a atuação dos mercados, nos seus
diversos níveis. O Brasil segue em passos rápidos para dinamizar o
172
comércio regional e facilitar a internacionalização dos mercados
agropecuários, disponibilizando os registros fitossanitários, como por
exemplo, através do Sistema Nacional de Informação Fitossanitária. Este
sistema, atualmente em implantação no Ministério da Agricultura, vai
permitir o desenho e a adoção de Programas Fitossanitários mais efetivos
e vai fornecer maior transparência às certificações.
CERTIFICADO FITOSSANITÁRIO DE ORIGEM
Eng. Agrônomo. José Alberto Monteiro
Escritório de Defesa Agropecuária/ Sec. Agricultura e Abastecimento do
Est. São Paulo
Av.
Jerônimo
Gonçalves,
64-
Ribeirão
Preto.
E-mail:
eda-
ribeirã[email protected]
A Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da
Agricultura e do Abastecimento, através da Instrução Normativa nº 6, de
13 de março de 2000, resolve:
Criar o Certificado Fitossanitário de Origem Consolidado
–CFOC- e alterar o Certificado Fitossanitário de Origem- CFO –
1- passando a existir um modelo único para todos os estados.
2- os certificados deverão ter a identificação do órgão controlador .
Os certificados são emitidos para atestar a qualidade fitossanitária
na origem e são necessários para o transito de vegetais que possam ser
veículos de pragas:
Ø quarentenárias e
Ø não quarentenárias regulamentadas.
Ø e também para atender:
Ø as exigências especificas do estado,
Ø as exigências especificas de outros estados e
Ø exigências para exportação.
Os certificados, CFO e CFOC, subsidiarão a emissão da Permissão de
Transito e também o Certificado de Sanidade de Origem Vegetal para
Exportação, utilizados no transito:
Ø intraestadual ,
Ø interestadual e
Ø internacional.
Ø Os certificados terão origem:
Ø na propriedade rural ,
(CFO)
Ø na unidade centralizadora e
(CFOC)
Ø na unidade processadora.
(CFOC)
Os lotes para emissão dos certificados serão formados:
Ø por produtos recebidos e acompanhados de CFO ou de Permissão de
Trânsito ,
Ø por produtos da mesma espécie e
Ø preferencialmente com características fitossanitárias semelhantes e
mesma origem.
Os certificados serão emitidos por Engenheiros Agrônomos ou
Florestais nas suas respectivas áreas, com registro ou visto junto ao
174
CREA/SP, após treinamento especifico por cultura e praga, organizado
pela Coordenadoria de Defesa Agropecuária.
Para extensão do credenciamento para “novas pragas”, o
credenciado não precisará passar por curso completo.
Os
responsáveis
pelas
propriedades
rurais
e
unidades
centralizadoras ou processadoras de produtos vegetais, deverão manter
obrigatoriamente no local, livro próprio de acompanhamento, com
paginas numeradas, para registro de informações pelo profissional
credenciado.
O livro mantido no local deverá conter:
Ø histórico da cultura,
Ø datas das inspeções,
Ø principais ocorrências fitossanitárias,
Ø medidas de prevenção e controle adotadas e
Ø outros dados julgados necessários, tais como climáticos, de solo, etc.
Quanto a validade dos certificados:
CFO - para cultura perene, até 30 dias
- para cultura anual, ate 15 dias.
CFOC - até 15 dias.
Só terá validade o certificado original e sem rasuras.
Quanto as faltas:
1- no rechaço de produto:
- avisar o órgão responsável pela emissão da permissão de transito.
2- faltas relacionadas com a emissão dos certificados (CFO e CFOC):
- serão formalmente apuradas pela Coordenadoria de Defesa
Agropecuaria.
3- falta de livro de acompanhamento de campo:
- advertência por escrito e
- na reincidência , descredenciamenmto
USO CORRETO E S EGURO DOS PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS
Eng. Agrônomo Marçal Zuppi da Conceição
Gerente de Educação e Treinamento da Associação Nacional de Defesa
Vegetal – ANDEF - Rua Capitão Antônio Rosa 376 –13 andar- CEP
01443-010-São Paulo. E.mail: [email protected]
A evolução e segurança no manuseio e uso de produtos
fitossanitários têm sido notórias. Produtos específicos e seletivos para
atender o manejo integrado de pragas, de baixa toxicidade ao aplicador e
de baixo impacto ambiental aliados à grande eficiência agronômica, têm
sido a tônica na área de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos
fitossanitários.
Tópicos Principais Sugeridos (resumo)
Desde o alvorecer da agricultura, a produtividade das plantas
cultivadas tem sido reduzida por pragas, doenças e pela competição com
plantas daninhas e, desde então, os agricultores vêm buscando meios de
limitar perdas e obter culturas mais sadias e produtos com melhor
qualidade para comercialização.
176
De um modo geral, quanto mais intensivo for o sistema de
produção, maiores serão os riscos de perdas, pela
ação de diversos
organismos competidores.
Pesquisas têm sido feitas em todo País, visando desenvolver
técnicas que controlem a instalação e propagação das pragas. Além do
Manejo Integrado de Pragas, estudos tem sido dirigidos para o Manejo
Integrado de Culturas, que, além do MIP, propõe a integração de várias
técnicas agronômicas, tendo como um dos objetivos o uso racional dos
defensivos agrícolas. Contudo, ao que tudo indica, haverá demanda por
produtos fitossanitários por muitos anos, mesmo se procurando tratar os
sistemas agrícolas como ecológicos, pois estes são por natureza,
altamente instáveis. O Agro-Ecossistema é relativamente frágil,
constituído de muitos indivíduos, porém de poucas espécies. Essa
característica o faz tênue, suscetível ao desequilíbrio, mas indispensável
para alimentar uma população mundial de 6,2 bilhões de pessoas
atualmente no mundo.
A Lei 7.802 (Lei dos Agrotóxicos) de 1989, e seu decreto
regulamentador, número 98.816 / 90, tornaram extremamente
rígidos no Brasil os controles dos produtos fitossanitários, desde a
sua pesquisa, registro e produção, até a aplicação no campo. Nesta
etapa, particularmente, as especificidades técnicas de manuseio e
utilização, exigem a presença de assistência agronômica tanto mais
assídua quanto menor o nível de qualificação da mão de obra rural.
No Brasil, o engenheiro agrônomo configura o elo entre esse anseio e
a realidade do campo.
A Associação Nacional de Defesa Vegetal – ANDEF - vem
decididamente trabalhando para que o uso inadequado e os erros
ocorridos na história dos defensivos não mais se repitam. O profissional
de agronomia tem sido o principal alvo nos programas de educação e
treinamento de nossa associação. Os nossos objetivos quanto ao uso
correto e seguro de têm sido:
Ø segurança do aplicador
Ø preservação do meio ambiente
Ø produção de alimentos saudáveis
Segundo informações do SINDAG (Sindicato Nacional da
Indústria de Defensivos Agrícolas), em 1999 as vendas de produtos
fitossanitários foram de 2.235.173 (US$ 1000). O mercado brasileiro é
bastante competitivo, colocando ao alcance do nosso agricultor grande
gama de produtos. Em junho/1999 tínhamos 256 ingredientes ativos
registrados (em 1992 haviam 194) e 556 marcas comerciais. Quanto à
classificação toxicológica (que é uma classificação de risco para quem
manipula) estavam assim distribuídos (junho de 1999):
Classe I (vermelho)
98
Classe II (amarelo)
165
Classe III (azul)
163
Classe IV (verde)
130
Quanto aos aspectos toxicológicos, vale salientar que os
inseticidas, de um modo geral, sempre representam a classe de produtos
com maior toxicidade. Também aqui se verifica o grande avanço que
vem sendo obtido através da pesquisa, na busca de ingredientes ativos
com menor toxicidade.
Quando se trata da questão do uso seguro para o aplicador, é
necessário estabelecer quais são as principais causas de acide ntes
com os produtos, e como preveni-las. É preciso analisar:
Ø Causas Distantes
178
Ø Causas Imediatas
Ø Risco / Toxicidade /Exposição
Ø Exposição dos Aplicadores
Ø Condições Inseguras
Ø Atos Inseguros
Ø Teoria do Dominó (causas / efeitos)
Ø Princípios de Segurança
Ø Treinamentos
Causas Distantes: estão relacionadas com antecedentes das
pessoas. Exemplos: maus hábitos/ má educação/ falta de instrução. São
falhas de comportamento de difícil correção.
Causas Imediatas: são resultados da falta de treinamento, para
desempenho de uma atividade expondo as pessoas a riscos.
Risco: é a probabilidade de um produto fitossanitário causar
efeitos adversos à saúde do aplicador. Depende da interação entre
toxicidade e exposição. Risco = Toxicidade X Exposição.
Na aplicação de
produtos fitossanitários alguns fatores
minimizam os riscos:
Aquisição (Receituário Agronômico)
Tecnologia de Aplicação
Equipamentos de Proteção Individual
Técnicas de Manuseio e Utilização
Cada um desses fatores deve ser analisado. Condições inseguras e
atos inseguros têm que ser evitados.
Recentemente, a Lei Federal 9974, de 06.06.2000, regulamentada
pelos Dec. Fed. 3550, de 27.07.2000 e 3694, de 21.12.2000, instituiu
novas obrigações à indústria, às revendas e aos produtores rurais relativas
à destinação final das embalagens de defensivos agrícolas. Às revendas
cabe disponibilizar e administrar unidades de recebimento de embalagens
de defensivos agrícolas, emitindo recibos de devolução, aos produtores
fazer a tríplice lavagem dessas embalagens e devolvê- las às unidades de
recebimento e à indústria de recolher e dar o destino final às mesmas:
reciclagem ou incineração em fornos especiais. A ANDEF – Associação
Nacional de Defesa Vegetal e suas associadas, preocupadas com a
preservação do meio ambiente, já vinham estudando soluções e
implantando centrais de recebimento de embalagens através de um
programa implantado com diversos parceiros desde 1993.
Esta legislação reflete a preocupação da sociedade em preservar o
meio ambiente, contudo, se não houver educação e treinamento do
homem do campo, os mesmos continuarão a queimar, enterrar ou jogar
nos cursos d’água as embalagens vazias.
A sociedade de nosso país, através da Lei 7.802, confiou ao
profissional de agronomia grande missão: o uso correto e seguro dos
produtos fitossanitários !
Temos certeza de que o desenvolvimento da percepção do risco,
aliado a um conjunto de informações e regras básicas de segurança,
através de programas de educação e treinamentos é de fundamental
importância para eliminar as causas dos acidentes no campo e a garantia
da preservação da saúde e do bem estar dos trabalhadores com produtos
fitossanitários.
PRAGAS Q UARENTENÁRIAS
PERIOTO, N. W.Eng. Agrônomo, Laboratório de Sanidade Animal e
Vegetal de Ribeirão Preto, Instituto Biológico. Rua Peru, 1472 -A, CEP
14075-310, Ribeirão Preto – SP. E. mail: [email protected]
180
A palavra quarentena tem sua origem no latim quadraginata e no
italiano quaranta, que significa quarenta. No idioma italiano, a palavra
quarantina foi originalmente aplicada ao período de 40 dias de
isolamento que um navio, com seus passageiros e sua carga, era forçado
a ficar ancorado no porto de chegada, quando proveniente de um local de
ocorrência de doenças epidêmicas. Naquele período seriam detectados
possíveis sintomas de doenças nos passageiros, antes de seu
desembarque.
O aumento do fluxo internacional de mercadorias verificado com
o estabelecimento, a partir de meados da década de 1980, do capitalismo
pan- mundial, popularmente conhecido como o fenômeno da globalização
econômica, assim como o aumento no número de passageiros em viagens
internacionais tornou o serviço de interceptação de pragas uma tarefa
extremamente difícil, principalmente se levarmos em conta que estas
pragas muitas vezes são desconhecidas e invisíveis a olho nu.
Todos os países aplicam medidas para evitar a propagação de
pragas vegetais que, por sua própria natureza, podem dar lugar a
restrições do comércio e todos os governos reconhecem que é necessária
e conveniente a aplicação de algumas restrições ao comércio a fim de
garantir a inocuidade dos alimentos e a proteção sanitária dos animais e
vegetais. No entanto, o que se tem visto com certa freqüência, é a
utilização de pretensas medidas de caráter sanitário com o objetivo de
restringir o livre comércio de mercadorias, como o recente acontecimento
das restrições impostas ao Brasil na “crise da vaca-louca”. É provável
que a utilização de tais artifícios se intensifiquem com a crescente
diminuição de obstáculos ao comércio internacional. Uma restrição
sanitária ou fitossanitária que não esteja realmente justificada por
motivos pertinentes, pode ser um instrumento protecionista muito eficaz
e, devido a sua complexidade técnica, um obstáculo especialmente
enganoso e difícil de impugnar.
O Brasil é signatário do Acordo Sobre a Aplicação de Medidas
Sanitárias e Fitossanitárias, baseado nas precedentes normas do GATT,
que tem por objetivo restringir a utilização injustificada de medidas
sanitárias e fitossanitárias com fins de proteção comercial. O objetivo
deste acordo é reafirmar o direito soberano de todo governo a garantir o
nível de proteção sanitária que estime apropriado e evitar, ao mesmo
tempo, que o mau uso desse direito se traduza sob a forma de imposição
de obstáculos desnecessários ao comércio internacional. Este acordo
garante que as medidas destinadas a garantir a inocuidade dos alimentos
e o controle sanitário de animais e vegetais devem basear-se, na maior
medida possível, na análise e na avaliação de dados científicos objetivos
e estimula os governos a estabelecer medidas sanitárias e fitossanitárias
nacionais que estejam em consonância com as normas, diretrizes e
recomendações internacionais, quando estas existam. As normas
internacionais, de forma geral, são mais estritas que as prescrições
nacionais aplicadas em muitos países, inclusive em países desenvolvidos.
No entanto, o acordo reconhece expressamente o direito dos governos de
não utilizar tais normas. Para que um país utilize-se de prescrições mais
severas que a norma internacional é necessária uma justificativa
científica que demonstre, que nesse caso, a norma internacional não
oferece um nível de proteção sanitária que o país considera apropriado.
No Brasil, a inspeção fitossanitária é realizada por inspetores do
Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal, da Secretaria de Defesa
182
Agropecuária do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, que
verificam matérias de origem vegetal e a bagagem de passageiros que
entram no país através de portos, aeroportos e outros pontos de entrada,
com o objetivo de interceptar organismos nocivos à agricultura nacional.
O trabalho destes inspetores baseia-se em listas de pragas de importância
econômica, formuladas para cada país ou para grupos de países
geograficamente próximos.
As espécies vegetais são classificadas em duas categorias: as de
livre importação e as de importação restrita. Os materiais vegetais de
livre importação necessitam apenas do Certificado Fitossanitário para seu
intercâmbio; já os de importação restrita necessitam de declarações
adicionais ao Certificado Fitossanitário. Tais procedimentos buscam
garantir o comércio de vegetais, de suas partes ou de seus produtos
dentro dos padrões fitossanitários nacionais, além de subsidiar a emissão
da Permissão de Trânsito emitida pelos órgãos responsáveis pela Defesa
Sanitária Vegetal nos estados.
Com o advento do MERCOSUL, o Brasil passou a integrar o
Comitê de Sanidade Vegetal do Cone Sul (COSAVE). Este comitê é uma
Organização Regional de Proteção Fitossanitária integrada pela
Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai que iniciou suas atividades
em 1989 como resultado de um convênio entre os governos dos países
membros. O COSAVE, desde sua criação, desenvolve normas e
procedimentos padrões regionais com o objetivo de harmonizar o
comércio de produtos agrícolas entre os países membros.
Dentre os grupos de trabalho COSAVE, o Grupo de Quarentena
Vegetal, composto por dois delegados de cada país participante, que
realizam duas a três reuniões por ano, é um dos mais antigos e
importantes. Uma de suas principais funções é a de manter atualizada as
listas A1 e A2 (vide classificação abaixo) de pragas quarentenárias para
os países da região, com base nas informações sobre as pragas presentes
e nas análises de risco pertinentes. Este grupo também é responsável pelo
desenvolvimento de propostas para o controle quarentenário e para o
manejo de risco de pragas.
Por definição, PRAGA é qualquer espécie, raça ou biótipo de
vegetal, animal ou outro agente patogênico, nocivo aos vegetais ou seus
subprodutos.
São consideradas PRAGAS QUARENTENÁRIAS aquelas de
importância econômica potencial para a área posta em perigo, onde ainda
não está presente ou se está, não se encontra amplamente distribuída e é
oficialmente controlada. As pragas quarentenárias são subdivididas em
PRAGA QUARENTENÁRIA A1 – onde se classificam aquelas de
importância econômica potencial para a área posta em perigo pela
mesma,
onde
ainda
não
se
encontra
presente
e
PRAGA
QUARENTENÁRIA A2 - onde se classificam aquelas de importância
econômica potencial para a área posta em perigo pela mesma, onde ainda
não se encontra amplamente disseminada e está sendo oficialmente
controlada.
As espécies incluídas nas listas A1 e A2 são revisadas
periodicamente, incluindo-se e/ou retirando-se aquelas que, de acordo
com relatos da literatura, devam ser adicionadas ou suprimidas.
O valor da quarentena vegetal pode ser avaliado pelas das
conseqüências desastrosas resultantes da introdução de pragas exóticas
em áreas produtoras. Tais conseqüências, como danos e perdas de
cultivo s; a perda de mercados de exportação, pela presença de pragas de
184
importância quarentenária no país; o aumento dos gastos com controle de
pragas, com impacto sobre os programas de manejo integrado de pragas
já estabelecidos ou em desenvolvimento e os danos ao meio ambiente,
pela freqüente necessidade de aplicação de defensivos para o controle da
espécie introduzida. Os danos causados pela introdução de pragas
exóticas tendem a se expressar também de forma social como o
desemprego, devido à eliminação ou à diminuição de um determinado
cultivo em uma região, ou à fome, pela redução de importantes fontes de
alimentos para a população.
O Ministério da Agricultura e do Abastecimento concluiu
recentemente um levantamento mostrando que cerca de 38 pragas nãoexistentes no Brasil podem entrar no país a qualquer momento caso
nenhuma medida de prevenção seja adotada. Parte destas espécies já se
encontra estabelecida em países limítrofes com o Brasil como o Peru, a
Venezuela, a Bolívia e a Guiana Inglesa.
Hoje, as três pragas com maior potencial de risco de introdução
no país são a cochonilha rosada Maconellicoccus hirsutus (Green)
(Homoptera: Pseudococcidae), que ataca os citrus, a goiaba, a soja, as
hortaliças e o café dentre mais de duas centenas de gêneros de plantas
distribuídas por, pelo menos 74 famílias; o amarelecimento- letal-daspalmeiras (Phytoplasma palmae), que ataca o coco e outras palmáceas e
o caruncho da semente da mangueira Sternochetus mangiferaI (F.)
(Coleoptera: Curculionidae), que ataca os frutos da mangueira.
Fica o alerta, a técnicos e agricultores, de que a introdução de
uma praga exótica pode causar danos econômicos e sociais dificilmente
aquilatáveis a priori. Um exemplo relativamente recente foi a introdução
da mosca-branca, Bemisia tabaci raça B (=Bemisia argentifolii)
(Hemiptera: Aleyrodidae) que chegou ao país no início dos anos 1990.
Hoje, esta praga está presente em 17 estados, atacando um grande
número culturas de importância econômica. Os prejuízos advindos de sua
introdução já ultrapassam os R$ 500 milhões, não estando nesta cifra
quantificados aqueles decorrentes do impacto ambiental causado pelo
excessivo uso de agrotóxicos na tentativa de seu controle, assim como os
custos sociais os relacionados ao impacto deste uso excessivo de
agrotóxicos na saúde tanto dos trabalhadores rurais como dos
consumidores dos produtos contaminado. Tais custos são dificilmente
quantificáveis.
Àqueles que acreditam que não há problema algum em trazer na
bagagem aquelas sementinhas de uma linda planta que conheceu em sua
viagem ao exterior e àqueles que crêem ser um absurdo a proibição de
importação de semente de soja transgênica da Argentina e as importam
ilegalmente, fica o alerta de que o Código Penal Brasileiro prevê pena de
reclusão de dois a três anos para o responsável pela introdução de pragas
no país.
TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO
DE
D EFENSIVOS AGRÍCOLAS –
EQUIPAMENTOS TERRESTRES PARA PULVERIZAÇÃO - ASPECTOS
CRÍTICOS NA APLICAÇÃO DE D EFENSIVOS AGRÍCOLAS .
Pesquisador Científico José Maria Fernandes dos Santos
Eng. Agrônomo, Centro de Sanidade Vegetal, Instituto Biológico, Av.
Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010-970,
São Paulo, SP. Tel. (11) 5087 1779, Fax: 5579 0824. E- mail:
[email protected]
186
1. Introdução:
A evolução química das formulações e seus ingredientes ativos,
maior ocorrência ou incidência de novos representantes de cada um dos
problemas que ocorrem nas lavouras (plantas invasoras, insetos, ácaros e
fungos), preocupação e policiamento em relação à contaminação do meio
ambiente, a baixa ou nenhuma eficiência freqüente dos equipamentos de
pulverização e culturas em grande extensão de áreas, obrigaram a
pesquisadores e usuários a observações e estudos sobre o assunto e
também, a conseguirem maior eficiência e baixo custo nas atividades
onde o uso de defensivos agrícolas eram utilizadas. Criou-se a
Tecnologia de Aplicação de agroquímicos (inseticidas, herbicidas,
fungicidas, fertilizantes, maturadores, fitorreguladores e dessecantes) na
forma líquida, pó (sólúvel ou não) ou granulados, tem por definição:
Ciência
multidisciplinar
com
características
técnico-científicas,
destinada às pesquisas de equipamentos, processos e obtenção de
resultados mais eficientes e econômicos no desenvolvimento e aplicação
dos agroquímicos sólidos ou líquidos, com a finalidade de minimizar ao
máximo os riscos de contaminação humana e do meio ambiente.
Sob o aspecto agronômico técnico e prático de sua utilização
devemos primeiramente esclarecer a diferença entre os termos
pulverização e aplicação comumente empregados como sinônimos, mas
que dentro desta ciência na prática, apresentam grandes e significativas
diferenças de resultados:
Pulverização: processo físico- mecânico de transformação de uma
substância sólida ou líquida em partículas ou gotas o mais uniformes e
homogêneas possíveis;
Aplicação: deposição em quantidade e qualidade do ingrediente ativo
definido, representada pelo diâmetro e densidade (número) de gotas
sobre o alvo desejado.
Estes esclarecimentos têm sua razão em vista de que,
levantamentos práticos efetuados em diferentes locais e cultivos, as
melhores pulverizações encontradas apresentaram os seguintes índices:
Em cultivos baixos (soja, algodão, feijão, milho e arroz como
exemplos), daquilo que era pulverizado, o máximo que chegava a atingir
o alvo desejado não ultrapassava de 50 %, enquanto que em cultivos de
arbustos e árvores (laranja, maçã e pêra como exemplos) os valores
encontrados raramente alcançavam 20 %.
Isto se explica pelo fato de que nas lavouras brasileiras, mais de
90 % do uso de defensivos agrícolas está sendo pulverizado e não
aplicado corretamente, principalmente com os equipamentos terrestres.
Esta nova ciência, estudando todos os problemas e possíveis
soluções, se deparou com as dificuldades no controle da deriva das
partículas sólidas, que compõem as formulações pós, devidas as grandes
e freqüentes variações das condições climáticas (umidade relativa do ar,
velocidade e direção dos ventos e temperatura) que ocorrem durante todo
o ciclo das culturas, direcionando cada vez mais todas as suas pesquisas,
para as aplicações com líquidos.
Esta evolução, com o uso cada vez mais freqüente e de maior
eficiência no controle dos problemas agrícolas quando comparada com o
que existia, exigiu das indústrias de pulverizadores e das formulações,
188
mais e mais desenvolvimentos para cada um de seus produtos, maior
eficiência e baixo custo, maiores cuidados e manutenção dos
equipamentos e conhecimentos técnicos mais específicos e adequados
por parte dos técnicos que forneciam assistência técnica e pesquisa e,
também do próprio usuário.Trataremos neste capítulo apenas a tecnologia
de uso correto dos equipamentos, enfatizando suas limitações e aspectos
operacionais.
2. Aspectos Operacionais:
Os resultados ou efeitos tecnicos e econômicos adequados da
aplicação dos defensivos agrícolas estão apoiados basicamente pelos
seguintes parâmetros:
Ø bicos de pulverização;
Ø volume de aplicação;
Ø faixa de deposição das gotas de pulverização;
Ø condições climáticas operacionais.
3. Bicos de Pulverização:
Qualquer que seja o tipo de formulação ou do equipamento de
aplicação empregado, o resultado final será consequência do conjunto
das unidades resultantes do processo, que são as gotas de pulverização.
As gotas poderão ser geradas por processos físicos como pressão
hidráulica sôbre o líquido, termonebulização (a frio ou quente), bicos
rotativos , pressão de correntes de vento, ou eletrostáticos.
Um bico de pulverização em qualquer dos processos acima
citados, será tecnicamente correto e economicamente viável, ao
apresentar as seguintes características:
Ø gerar gotas homogêneas;
Ø distribuir estas gotas uniformemente, e
Ø depositá- las corretamente.
As premissas acima citadas, constituem-se nas características
essenciais e desejadas nos bicos de pulverização, qua lquer que seja o tipo
do mesmo e do equipamento de pulverização utilizado.
O diâmetro da gota será consequência do tipo de orifício do bico,
pressão de trabalho e volume de pulverização, determinantes principais
do modo como o alvo final será atingido e favorecendo ou não a
deposição em quantidade (densidade) suficiente para o controle e sucesso
do produto aplicado.
Uma variedade imensa de bicos é encontrada no comércio.
Entretanto, é imprescindível se conhecer o modo de ação do produto,
localização do alvo, características do equipamento de pulverização e
condições climáticas, no local de aplicação, para que seja escolhido o
tipo de bico mais adequado.
Alvo de superfícies grandes e posições mais horizontais são mais
facilmente atingidos e cobertos com gotas de maior diâmetro ao contrário
de alvos mais estreitos ou mais protegidos (internamente à massa foliar)
onde as gotas mais finas aderem ou penetram com maior facilidade.
Superfícies planas como solos limpos e produtos onde não é
desejável uma deriva longa das gotas (herbicidas de pré emergência), é
recomendável utilizar bicos que produzem gotas mais grossas e pesadas,
como os bicos de jato plano (anteriormente denominados de leque). Por
outro lado, cultivos com massa foliar bastante densa ou alvos localizados
internamente às plantas, serão mais adequadamente atingidos por gotas
190
mais finas e que permitam uma deriva ou flutuação mais demorada,
como aquelas geradas pelos bicos de jato cônico vazio.
Facilidade de aderência e espalhamento das gotas sobre as mais
diferentes superfícies, viscosidade e densidade da calda de pulverização
que permitam uma boa circulação pelo equipamento e a quebra de gotas,
e utilização de bicos de pulverização mais eficientes e econômicos são
fatores que de maneira direta permitem a economicidade e versatilidade
de uso.
O bico de pulverização correto de modo geral, não é aquele que
vem colocado no pulverizador, mas sim, o que tecnicamente foi definido
através de valores reais como: condições do alvo a ser atingido e
principalmente em que condições climáticas irá operar no local da
aplicação.
4. Volumes de Aplicação:
A Tecnologia de Aplicação de defensivos agrícolas tem como
escopo principal a alta eficiência da aplicação a baixo custo. Um dos
caminhos que pode nos levar a estes resultados, é justamente a redução
do volume de calda a ser aplicada. Entretanto, esta redução está na razão
direta da eficiência e baixo custo, porém, na razão inversa das
formulações que apresentam alta viscosidade ou densidade elevada.
Explica-se isto, pois, a redução do volume aplicado fica na dependência
de uso de bicos de pulverização com orifícios de saída cada vez menores
e que irão prejudicar a passagem do líquido a ser pulverizado e
distribuído, exigindo pressões maiores da bomba, gerando gotas mais
finas e mais suscetíveis de perdas por deriva e evaporação.
O aumento da vazão de aplicação também tem influência direta
sobre o diâmetro da gota. Quanto maior o volume utilizado, gotas de
diâmetros maiores serão geradas e menor densidade de gotas por área
será obtida. Entretanto, ao contrario do conceito generalizado, de que o
volume maior de líquido permite uma melhor pulverização, o
procedimento certo e utilizar-se o menor volume, mas produzindo-se a
maior quantidade possível de gotas, principalmente nas culturas de alta
densidade de folhas.
Na aplicação dos defensivos agrícolas líquidos, a água entra
sempre como elemento de diluição do produto e para facilitar a
distribuição correta e adequada das gotas com o ingrediente ativo, sobre
o alvo desejado.
Volumes excessivos originam gotas muito grossas, que aplicadas
sobre as folhas de um vegetal, ocasionam uma saturação da superfície
nas mesmas, provocando o escorrimento do produto para o solo e sua
consequente perda.
Por outro lado, volumes muito pequenos, determinam a formação
de gotas muito finas, que também se perderão por deriva muito longa e
evaporação rápida.
O volume correto ou adequado, é definido tecnicamente, levandose em conta o tipo de bico utilizado, condições climáticas locais e porte
ou densidade foliar das plantas e modo de ação dos defensivos agrícolas.
Pelo exposto, concluímos que desde que a formulação permita,
sem prejuízo da geração, distribuição e deposição das gotas de maneira a
mais homogênea possível, podemos diminuir consideráve lmente os
volumes de pulverização, melhorando-se com isto a produtividade do
pulverizador, reduzindo as perdas de tempo de pulverização e
192
escorrimento do produto, além de incrementarmos a penetração e
distribuição das gotas dentro da cultura.
5. Faixa de Deposição das Gotas de Pulverização:
Característica intrínseca do bico de pulverização em uso deverá
ser determinada de acordo com a densidade de gotas adequada ao tipo de
alvo e não somente visando-se, como ocorre na pratica, o maior
rendimento operaciona l (superfície pulverizada) do pulverizador por
período ou dia trabalhado, sendo mais frequente quando se opera
irregularmente com aeronaves agrícolas (aviões e helicópteros), visando
apenas o rendimento operacional em detrimento da eficiência dos
produtos aplicados.
Um bom produto ou formulação só poderá ser comprovado após a
sua aplicação, ou seja quando atingir adequadamente o alvo final,
obtendo-se o resultado efetivo e esperado do mesmo.
Para isto deveremos considerar sob o aspecto da Tecnologia de
Aplicação que três premissas deverão se observadas e obtidas sob todos
os aspectos operacionais:
Ø o diâmetro da gota;
Ø a deriva da gota e
Ø a deposição da gota.
A questão mais importante e a ser considerada como fator
essencial é a densidade de gotas, pois, quanto maior o número de gotas
depositadas sobre o alvo desejado, maior será a dose do produto recebida
pelo mesmo, melhorando a eficiência da aplicação.
Fator de extrema importância para o sucesso de uma aplicação e
que na prática frequentemente é ignorado ou dada a indevida importância
pelo usuário ou até mesmo os técnicos, diz respeito ao momento certo da
aplicação. Não é relacionado com a hora ou espaço de tempo em que se
deve efetuar a pulverização ou aplicação, mas sim em relação as
condições em que o problema a ser controlado apresenta-se mais
suscetível ao produto aplicado. Exemplos: o momento certo do controle
da lagarta da maçã em algodão deve ser logo após a sua eclosão até o
estadio máximo de 1 cm de comprimento.
Baseados em aspectos práticos de campo em diversas cultivos e
regiões e suportada pelos fundamentos básicos da Tecnologia de
Aplicação, resumimos a seguir nos quadros I e II, as recomendações
adequadas para se obter os melhores resultados em uma aplicação com
defensivos agrícolas, qualquer que sejam os equipamentos usados e
variações climáticas localmente existentes.
6. Importância das Condições Climáticas para a Pulverização:
O monitoramento das condições climáticas e o ajusto adequado
da deposição das gotas antes, durante ou após as pulverizações dos
defensivos agrícolas são essenciais aos resultados esperados do produto.
Temperaturas médias e alta umidade relativa do ar e no solo são
condições adequadas a uma boa aplicação e a absorção do produto pelas
plantas.
Evitar a aplicação do produto quando as plantas apresentam as
folhas muito molhadas após uma chuva ou devido ao orvalho, neste caso
excetua-se a aplicação a baixo volume com aeronaves agrícolas.
Pulverizações efetuadas com temperaturas ambiente entre 15 ° C
e 30 ° C e umidade relativa do ar acima de 55 % apresentam melhores
resultados do que as efetuadas em temperaturas muito baixas e baixo
índice de umidade relativa do ar.
194
Quadro 1. Parâmetros práticos recomendados para a aplicação com agroquímicos.
PRODUTO
RECOMENDAÇ
ÃO
HERBICIDAS
Pré emergência
Aplicação
Gotas grossas: formar uma Gotas finas a médias: Gotas grossas.
espécie de “filme”protetor produzir uma “população”
sobre o solo
muito densa de gotas
visando o envolvimento da
cultura.
Diâmetro da gota
DMV 420 - 480 µ
Número
gotas/cm2
de Mínimo de 20 gotas
Pós emergência
DMV 110 - 150 µ
Plantio direto
DMV 420 - 480 µ
Ação de contato: 40 - 70 Mínimo
gotas
gotas
Ação sistêmica: 30 - 50
gotas
Bico recomendado Jato plano (leque) com Bico jato cônico vazio.
ângulo de 110° para Restrições ao uso de bicos
pulverizadores terrestres e rotativos
de 80 ° para aeronaves
agrícolas.
Não utilizar bicos de jato
de
20
Jato plano (leque)
com ângulo de
110°
em
pulverizadores
terrestres e de 80°
com
aeronaves.
cônico.
Não utilizar bicos rotativos
Volume
de
(c)
aplicação
terrestres:
150 a 300 litros/ha
aeronaves:
20 - 40 litros/ha
frutíferas:
150 a 300 litros/ha
Não utilizar bicos
de jato cônico ou
rotativos
100 a 200 litros/ha
20 - 30 litros/ha
100 a 200 litros/ha
100 a 200 litros/ha
20 - 40 litros/ha
100 a 200 litros/ha
Pressão
de
trabalho (c, d)
terrestres:
15 a 45 psi (100 a 300 60 a 100 psi (400 a 666 15 a 30 psi
kPa)(a)
kPa)
(100/200 kPa)
aeronaves:
15 a 30 psi (100 a 200 kPa)
frutíferas:
15 a 45 psi (100 a 300 kPa) 60 a 100 psi (400 a 666
kPa)
196
Quadro 2 - Parâmetros práticos recomendados para a aplicação com agroquímicos .
PRODUTO
INSETICIDAS
RECOMENDAÇ Contato/ingestão Sistêmico
ÃO
Aplicação
Gotas finas a médias. Obter uma
deposição e densidade de gotas a
mais uniforme possível nas partes
vegetais ativas das plantas
FUNGICIDAS(b)
Protetivo
Sistêmico
Gotas finas a médias. Obter uma
deposição e densidade de gotas a mais
uniforme possível nas partes vegetais
ativas das plantas
Diâmetro da gota DMV 110 - 120 µ
DMV 110 - 130 µ
DMV 110 - 120 µ
Número
gotas/cm2
60 - 70 gotas
40 - 60 gotas
Bico
recomendado
de 40 - 60 gotas
• Bicos de jato cônico vazio, com ponta e difusor
adequados
• Bicos rotativos podem ser utilizados desde que o volume
aplicado não ocasione saturação do equipamento (b)
• Não são recomendados o uso de bicos de jato plano (leque)
Volume
de
aplicação(c)
terrestre:
60 a 200 litros/ha
aeronaves: 10 - 20 litros/ha
frutíferas: 400 a 800 litros/ha
80 a 200 litros/ha
15 - 30 litros/ha
400 a 800 litros/ha
Pressão
de
trabalho ( c, d)
terrestre:
80 a 100 psi (533 a 666 kPa)(a)
aeronaves: 15 - 30 psi (100 - 200 kPa)
frutíferas:
80 a 100 psi (533 a 666 kPa)
a - kPa (quilo Pascal). 100 kPa = 15 psi = 1 bar = 1 kg/cm2 .
b - Observar o tipo de translocação ou sistemia do produto a fim de adaptar o modo e local da aplicação,
deposição e diâmetro das gotas. Posição e tipo do alvo, densidade da copa e área a ser atingida pelo produto,
devem ser consideradas localmente.
c - Deverão ser obedecidas as recomendações indicadas de acordo com a ponta de pulverização a ser usada.
d - Os valores referidos são funções diretas: do orifício do bico, pressão, volume de aplicação, viscosidade e
densidade da formulação, bem como às observações e coletas efetuadas no alvo a ser atingido e não ao diâmetro
da gota liberado pelo bico de pulverização.
Nota: Os valores aqui referenciados dizem respeito as recomendações gerais, sendo necessário seus ajustes para
cada tipo ou formulação de produtos, já que os volumes, densidade e viscosidade dos mesmos não são idênticos
para todos os defensivos agrícolas.
A velocidade e direção do vento é outro fator muito importante
para um bom resultado do produto e se evitar danos as culturas sensíveis
ou áreas vizinhas próximas. Aplicações do produto com ventos acima de
10 km/hora deverão ser monitorados constantemente durante todo o
período de sua execução e efetuadas as correções ou o seu cancelamento.
Durante as pulverizações, observar a direção e intensidade dos
ventos. Ocorrendo o direcionamento dos mesmos para áreas vizinhas
sensíveis ou com animais e pessoas, manter uma área de segurança
bastante larga e adequada às condições locais, sem pulverização
conforme já descrito anteriormente.
Considerar sempre, que a umidade relativa do ar é o indicador
mais importante e prioritário nas definições de início, execução e parada
de uma pulverização de defensivos agrícolas. A resultante dos efeitos dos
demais fatores como vento e temperatura é consequência direta da
umidade relativa do ar.
NOTA: Durante as pulverizações com bicos e equipamentos adequados,
o pequeno deslocamento lateral das gotas, (não deverá exceder a 10 %)
não deverão ser considerados como deriva prejudicial, já que
representam a fração das gotas muito finas, consequência do processo
físico de geração das gotas pelos bicos, além de necessário para que se
obtenha o recobrimento adequado das faixas de deposição e melhor
uniformidade e homogeneidade da pulverização.
Evitar de efetuar pulverizações, em condições de inversões
térmicas ou de calmaria total
(velo cidades de ventos abaixo de 2
km/hora) que ocorrem nas horas mais cedo do dia, fim de tarde ou após
chuvas prolongadas e intensas.
Temperaturas muito altas e principalmente umidade relativa do ar
abaixo de 55 % determinam condições desfavoráveis a aplicação e
200
absorção de produtos sistêmicos ou de translocação pelas plantas,
apresentando um controle ineficiente ou duvidoso.
Por outro lado, a diversidade das condições climáticas ou mesmo
ambientais, inadequação do equipamento e desconhecimentos ou mau
uso dos parâmetros, durante a aplicação, poderão ocasionar também
resultados diversos e até inesperados com formulações de baixa
estabilidade física ou química.
O aspecto volatilidade do ingrediente ativo ou dos componentes
de uma formulação, deverá ser considerado tanto para condições
regionais as mais variáveis como o nível de treinamento das pessoas e
operacionalidade dos equipamentos envolvidos ou disponíveis.
7. Conclusões:
A escolha do bico a utilizar, sua manutenção e conservação, o
controle do tamanho, deriva e deposição das gotas geradas, são fatores
essenciais para que se possa obter sucesso na aplicação de qualquer
defensivo agrícola, causando danos mínimos ou nulos ao meio ambiente
e ao próprio homem.
Os fatores de insucessos no uso de defensivos agrícolas são
creditados, de maneira simplista ao produto, quando na realidade o mau
uso do equipamento, tanto na sua estrutura como no momento adequado
da aplicação em sua maioria deveriam merecer mais atenção e cuidados.
Treinar pessoas no uso correto dos equipamentos, com um
mínimo de conhecimento básico dos produtos a aplicar e sua correlação
com as condições de aplicação, são fatores que devemos guardar dentro
de nós mesmo, sem que o perigo de destruirmos nosso próprio meio de
vida ou do ambiente se torne cada vez mais grave e crescente. Devemos
sempre nos lembrarmos que em todo o processo de pulverização ou uso
de defensivos agrícolas o sucesso da operação estará sempre apoiado no
trinômio: bom produto - bem aplicado - no momento certo.
SITUAÇÃO ATUAL E CONTROLE DE CIGARRINHA DA CANA-DE-AÇÚCAR
Pesquisador Científico José Eduardo Marcondes de Almeida
Eng. Agrônomo, Lab. de Controle Biológico, Centro Experimental do
Instituto Biológico, Instituto Biológico Cx. Postal 70, CEP 13001-970,
Campinas, SP, Tel. (19) 3252 2942. E-mail: [email protected]
1. A Cigarrinha-da-Raiz da Cana-de-açúcar (Mahanarva fimbriolata)
As cigarrinha-da-raiz (Mahanarva fimbriolata) e cigarrinha-dafolha (M. posticata) são consideradas pragas importantes no Estado de
São Paulo e no Nordeste do Brasil, respectivamente.
Até 1968 Mahanarva fimbriolata (Stal) era referida como
Tomaspis e/ou Sphenorhina liturata var. ruforivulata Stal (F ENNAH 1968,
GUAGLIUMI 1970). Sua distribuição geográfica abrange os Estados de
Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Amazonas,
Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia,
Mato Grosso, Goiás, sendo mais séria sua ocorrência em São Paulo,
principalmente em pastagens de capim Napier (GUAGLIUMI 1973,
MENDES et al. 1977).
Seu principal dano é a "queima da cana-de-açúcar" conseqüência
da alimentação do adulto. As ninfas ao se alimentarem ocasionam a
"desordem fisiológica" em decorrência de suas picadas que, ao atingirem
202
os vasos lenhosos da raiz, o deterioram, impedindo ou dificultando o
fluxo de água e de nutrientes. A morte de raízes ocasiona desequilíbrios
na fisiologia da planta, caracterizado pela desidratação do floema e do
xilema que darão ao colmo características ocas, afinamento e posterior
aparecimento de rugas na superfície externa. Os adultos ao injetarem
toxinas produzem pequenas manchas amarelas nas folhas que com o
passar do tempo tornam-se avermelhadas e, finalmente, opacas,
reduzindo sensivelmente a capacidade de fotossíntese das folhas e o
conteúdo de sacarose do colmo. As perfurações dos tecidos pelos
estiletes infectados provocam contaminações por microorganismos no
líquido nutritivo, causando deterioração de tecidos nos pontos de
crescimento do colmo e, gradualmente, dos entrenós inferiores até as
raízes subterrâneas. As deteriorações aquosas apresentam cores escuras
começando pela ponta da cana e podem causar a morte do colmo (ELKADI, 1977).
GUAGLIUMI (1973) cita que M. fimbriolata possui ninfas
especificamente radicícolas e se desenvolvem sobre as raízes superficiais
ou raízes adventícias inferiores das gramíneas hospedeiras. Sugam a
seiva segundo a sua idade, envolvendo-se numa espuma branca, espessa
e que serve como proteção a inimigos naturais. Os adultos são de hábitos
crepusculares-notur nos, ficando escondidos dentro das olhaduras ou no
enviés das folhas durante o dia. O dano mais importante que as
cigarrinhas causam é a “queima da cana”, sendo conseqüência direta ao
ataque das folhas, devido à injeção de substâncias tóxicas da saliva da
cigarrinha, além de diminuir o teor de sacarose. Causam também a
redução no tamanho e grossura dos entrenós da cana grande e a morte de
rebentos jovens. O ciclo vital dessa cigarrinha ocorre no período das
chuvas, desaparecendo na seca, quando os ovos estão em diapausa.
No Estado de São Paulo, o ciclo vital de M. fimbriolata inicia-se
em setembro, normalmente, com o início do período chuvoso. A primeira
geração de ninfas é pequena em decorrência da diapausa dos ovos, porém
com capacidade suficiente de se desenvolverem até a fase adulta, quando
então se inicia a postura da segunda geração de ninfas, geralmente entre
Dezembro e Janeiro, quando a umidade e o fotoperíodo são maiores. A
segunda geração é responsável pela maioria dos danos, que vão se
manifestar somente em Fevereiro e Março, quando se tem a terceira
geração de ninfas, que se desenvolverão até a fase adulta, porém em
menor número do que a geração anterior e farão a postura de ovos que
entrarão em diapausa a partir de Abril, quando o fotoperíodo e a umidade
diminuem.
Com a proibição da queima da cana-de-açúcar no Estado de São
Paulo, através do Decreto- lei Estadual no 42.056/9, têm ocasionado
mudanças no manejo dessa cultura, devido ao aumento da área colhida
sem queima e, como conseqüências, em muitas regiões têm ocorrido
aumentos consideráveis na população de cigarrinha-da-raiz (MACEDO et
al, 1997).
A cigarrinha-da-raiz da cana tem se tornado um sério problema
em algumas regiões do Estado de São Paulo, tais como Ribeirão PretoSP, onde a maioria da cana já é colhida mecanicamente e crua, pois não
havendo queima da palhada, ocorre um acúmulo desse material no solo e
um aumento da umidade facilitando assim o crescimento e a
disseminação da cigarrinha-da-raiz da cana, M. fimbriolata. E
considerando que com a nova legislação ambiental de São Paulo proibirá
204
a queimada da cana, espera-se um aumento significativo na população de
M. fimbriolata causando prejuízos sérios para as usinas e fornecedores,
além do aumento de custos para o controle desta praga.
2. Monitoramento
Segundo M ENDONÇA (1996), a estratégia de controle da
cigarrinha-da-raiz se inicia com um monitoramento da praga. O
monitoramento de M. fimbriolata deverá ser realizado no início do
período chuvoso e durante todo o período de infestação, para que se
possa acompanhar a evolução ou o controle da praga. O nível de dano
econômico (NDE) de 20 ninfas/ metro linear de sulco e 1 adulto/cana; o
Nível de controle é de 2 – 4 ninfas/metro e 0,5 a 0,75 adultos/cana.
No Estado São Paulo, o Nível de Dano Econômico e o Nível de
Controle ainda não foram determinados, porém algumas pesquisas
envolvendo levantamento com armadilhas, contagem de ninfas por metro
linear, a partir de três a cinco pontos por hectare, sendo que cada ponto é
representado por dois me tros lineares, contando-se o número de ninfas
nas raízes da cana, utilizando-se normalmente de dois a quatro homens.
Por enquanto, tem-se utilizado o Nível de Controle de 5 a 8 ninfas por
metro linear de cana em média, sendo o Nível de dano Econômico
variando de 10 a 15 ninfas por metro linear.
De acordo com resultados de uma usina cooperada da Copersucar,
o custo do levantamento direto, com uma equipe de quatro homens,
fazendo 16 metros lineares (quatro pontos de duas ruas de dois
metros/hectare) é de R$ 8,00/ha. Porém se realizar o levantamento por
extrapolação, no caso de talhões uniformes, ao lado e de mesma
variedade, o custo desse monitoramento pode chegar a R$ 2,00/ha (E. B.
ARRIGONI, não publicado).
A armadilha “Yellow sticky trap” é adequada ao mo nitoramento
de populações de adultos de M. fimbriolata em áreas com cana-deaçúcar. Permite determinar o início do aparecimento da praga na lavoura,
que tem ocorrência defasada em cerca de 30 dias em relação à população
de ninfas. Porém, a armadilha não se presta para uso visando ao controle
da praga (MACEDO et al., não publicado).
O monitoramento é imprescindível para se decidir sobre a
estratégia de controle da praga, sendo que a detecção da primeira geração
permite um controle mais eficiente principalmente através do fungo
Metarhizium anisopliae.
Com relação a variedades, ainda não foram concluídos os estudos
sobre resistência e suscetibilidade de variedades comerciais no Estado de
São Paulo, ou mesmo um trabalho de melhoramento específico para
variedades resistentes, porém já foi possível observar em nível de campo
variedades altamente atrativas à cigarrinha-da-raiz, tais como SP 80
1842, SP 70 1816, RB 85 5336 e RB 85 5536, possivelmente pelo seu
crescimento rápido, sombreando o solo e maior volume de palha,
conferindo melhores condições de desenvolvimento da praga. Portanto,
nos talhões com essas variedades, deve-se tomar maiores cuidados no
levantamento de ninfas e adultos da cigarrinha.
3. Controle
3.1. Controle Cultural
206
Como forma de controle cultural, GUAGLIUMI (1973) sugere a
rotação de culturas com leguminosas, queima da palha ou enleiramento
nas entrelinhas e pesquisa com variedades resistentes.
Estudos desenvolvidos pelo Instituto Agronômico de Campinas e
Copersucar demonstraram que o enleiramento da palha da cana, ou
simplesmente o afastamento da palha das raízes da cana é suficiente para
manter a população de cigarrinha em equilíbrio, abaixo do Nível de Dano
Econômico. Porém, o custo desse enleiramento ou afastamento da palha
ainda não foi determinado devido à falta de um equipamento específico
para tal fim.
3.2. Controle Químico
O controle químico de M. fimbriolata também tem sido alvo de
pesquisas constantes devido ao grande número de novas moléculas
lançadas no mercado da cultura canavieira.
O Thiamethoxam na concentração de 1,0 kg/ha foi mais eficiente
dentre todos os inseticidas já testados, por ser de ação sistêmica e manter
a população de cigarrinha abaixo do Nível de Controle por até 140 dias.
O Carbofuran também foi eficiente na concentração de 2 a 3 litros/ha,
porém a ressurgência da praga é maior e mais rápida devido à ação de
contato desse princípio ativo.
O Aldicarb (10 kg/ha), Fipronil (250 a 500 g/ha) e Terbufós (16 a
20 kg/ha) também apresentaram resultados satisfatórios, porém todos os
princípios ativos apresentados estão sob registro de emergência para a
cigarrinha-da-raiz da cana.
Alguns inseticidas naturais tais como: óleo de nim 250 a 500
mL/ha, Extrato de Timbó 0,5 a 1% apresentaram também um resultado
satisfatório, mantendo a população de cigarrinha por até 90 dias, quando
aplicado em Novembro, época do final da primeira geração e início da
segunda geração da praga.
3.3. Controle Biológico
ALVES & ALMEIDA (1997) citam que o controle biológico com
macro ou microrganis mos é um dos principais componentes do manejo
integrado de cigarrinhas. O controle biológico não é poluente, não
provoca desequilíbrios biológicos, é duradouro e aproveita o potencial
biótico do agroecossistema, não é tóxico para o homem e animais e pode
ser aplicado com as máquinas convencionais, com pequenas adaptações.
De acordo com ALVES (1998) o desenvolvimento do fungo M.
anisopliae sobre M. posticata ocorre da seguinte maneira: os conídios
germinam e penetram no tegumento do inseto num período de dois a três
dias. O período de colonização ocorre de 2 a 4 dias e a esporulação em 2
a 3 dias, dependendo das condições do ambiente. O ciclo total da doença
é de 8 a 10 dias.
O Instituto Biológico tem desenvolvido pesquisas de controle
biológico de M. fimbriolata com o fungo M. anisopliae, num projeto
temático financiado pela FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo, cuja coordenação pertence a esse instituto, em
parceria com a ESALQ/USP e UFSCar - Araras-SP.
Foi possível verificar o controle de M. fimbriolata com o fungo
M. anisopliae isolado CB 10 na concentração de 1 kg de arroz esporulado
com M. anisopliae 1,75x105 conídios/ml - 3 aplicações (Nov. - Dez. e
Jan.) num volume de 400 litros por hectare. Porém, como demonstrado
em outro experimento no mesmo período, aplicações em Novembro e
208
Dezembro na concentração citada é suficiente para o equilíbrio da
população de cigarrinha, já que nesta época está ocorrendo a transição da
primeira para a segunda geração.Em outra pesquisa, verificou-se que os
isolados CB 10 (Instituto Biológico) e ESALQ 1037 foram efetivos no
controle de cigarrinha-da-raiz da cana na concentração 1 x 107
conídios/ml com aplicações em Novembro e Dezembro.
Do mesmo modo esses isolados mantiveram a população de
cigarrinha-da-raiz da cana em equilíbrio na concentração de 1 kg de arroz
esporulado com M. anisopliae 1,75x105 conídios/ml - 2 aplicações (Nov.
- Dez.) em sistema de cultivo orgânico.
A época de corte influencia na população de cigarrinha, pois
quando este ocorre em maio a população de cigarrinha é maior nos meses
de Dezembro e Janeiro, o mesmo ocorre com o corte em Julho. Já quando
a cana é cortada tardiamente, a população de cigarrinha diminuiu. Esses
dados ajudam na programação de plantio e cortes de variedades mais
atrativas em épocas mais tardias, evitando superpopulações e a
conseqüente aplicação de defensivos químicos ou queimada.
4. Perspectivas
O projeto temático financiado pela FAPESP prevê estudos de
seleção de isolados de M. anisopliae à cigarrinha-da-raiz da cana,
caracterização desses isolados, estudos de Nível de Dano Econômico e
Nível de Controle a partir de experimentos em campo e casa-devegetação, métodos de produção e formulação do fungo M. anisopliae e
do fungo Batkoa spp. que causa epizootias naturais de até 90% nos
adultos. Contudo o controle biológico com M. anisopliae já tem sido
estudado e aplicado desde dos anos 70 no Nordeste, para o controle de M.
posticata, produzindo resultados satisfatórios, com redução da aplicação
de defensivos químicos em até 70% e de custo de produção de açúcar e
álcool, protegendo o ambiente.
A partir de técnicas de monitoramento e manejo integrado de
pragas, será possível conviver com a cigarrinha-da-raiz da cana-deaçúcar no Estado de São Paulo, aplicando-se um programa de controle
microbiano com M. anisopliae e no caso de superpopulações a aplicação
racional de defensivos naturais ou químicos, para o equilíbrio da
população.
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MENDONÇA, A. F. Pragas da cana-de-açúcar. Insetos & Cia: Maceió.
1996. 239 p.
JOSÉ MAURÍCIO BENTO
CONTROLE DAS PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA CANA -DEAÇÚCAR
Pesquisador Científico Flávio Martins Garcia Blanco
Eng. Agrônomo, Laboratório de Plantas Daninhas, Centro Experimental
do Instituto Biológico, Instituto Biológico, Cx. Postal 70, CEP 13001970, Campinas, SP. E-mail: [email protected]
1. Introdução
Na implantação de uma área agrícola através de um sistema de
cultivo, há sérias e significativas transformações nos subsistemas
geomórfico,
edáfico
e
biológico,
tornando-os
mais
simples
(agroecossistema), em comparação com o ecossistema, um sistema mais
complexo. Esta trans formação resulta na diminuição drástica da
capacidade de auto-regulação do sistema, tornando-o, assim, mais
instável e susceptível a entradas de energia. Uma das principais
conseqüências da transformação do ecossistema em um agroecossistema
é o aumento exa gerado de determinadas populações de insetos,
microrganismos, nematóides e plantas silvestre, desta forma, tornam-se
pragas agrícolas; comprometendo de forma significativa à produção.
(BLANCO, 1972, 1982 e 1997).
Quando há o aumento populacional exagerado das plantas
silvestres, estás se tornam daninhas, que diferentemente de outras pragas
agrícolas, têm por característica, estarem sempre presentes nos
agroecossistemas e responsáveis diretas (competição, alelopatia, etc.) ou
indiretamente (reservatório de patógenos, atrativas para insetos-praga
etc.) pela diminuição drástica na produção econômica das culturas dentre
as quais a cana-de-açúcar. (BLANCO, 1972, 1982 e 1997).
2. A Cultura da Cana -de-açúcar.
212
A cana-de-açúcar, Saccharum spp., é uma das plantas mais
importantes na agricultura mundial. A produção de açúcar em 1990
atingiu 105 milhões de toneladas, das quais, 62% foram produzidas a
partir da cana-de-açúcar cultivada em 106 países numa área de
aproximadamente 16 milhões de hectares; os 38% restantes foram
extraídos da beterraba (Beta vulgaris L.), (FAO, 1990).
Espécie da família Gramineae, a cana-de-açúcar (Saccharum
officinarum L.) com uma área plantada de aproximadamente 4 milhões
de hectares, o Brasil é o principal é o seu maior produtor mundial,
seguido de Cuba e México. Dentre os estados brasileiros, São Paulo é o
maior produtor, apresentando uma área plantada de aproximadamente 2,4
milhões de hectares com uma produção estimada para a safra agrícola
99/00 de 277,7 milhões de toneladas de colmos, com um rendimento
médio de 72 t/ha (CASER et al., 1993, IBGE 2000).
Devido ao seu lento crescimento inicial, a cana é sensível a
competição do mato. Nesse sentido, numerosas investigações foram
realizadas por diversos pesquisadores: trabalhos de AZZI & FERNANDES
(1968,1970), determinaram que a cana produz o seu máximo rendimento
quando o controle das plantas daninhas à cultura é realizado entre 90 e
120 dias, a contar do seu plantio. Pesquisas realizadas por BLANCO et al.
(1979, 1981, 1982), concluíram que podem ocorrer perdas de até 85% no
peso dos colmos; além disso, determinaram que o período crítico de
competição para a cana corresponde ao período que vai do 15º dia a dois
meses a contar da emergência da cana-de-açúcar, no caso, cana de ano.
Esses dados foram confirmados por GRACIANO & RAMALHO (1982), que
obtiveram perdas de 83% no peso dos colmos.
3. Controle das Plantas Daninhas.
Muitos são os métodos de controle de plantas daninhas
empregados na cultura da cana-de-açúcar:
Ø Manejo preventivo: não permitir a entrada de sementes ou
dissemínulos de plantas daninhas na área de plantio, cuidar da limpeza
dos equipamentos.
Ø Manejo cultural: utilizar rotação de culturas, consorciação, redução
de espaçamentos, etc.
Ø Manejo mecanizado: fazer um bom preparo do solo para o plantio já
é uma forma de controle, após o plantio ou corte, pode-se fazer o cultivo
nas entrelinhas MM.
Ø Manejo químico: dentre os manejo, o controle químico realizado
com a utilização dos herbicidas, é que predomina por sua maior
operacionalidade e eficiência no controle, além de reduzir o custo de
produção da lavoura, FUTINO & SILVEIRA (1991), demonstraram que a
participação dos defensivos agrícolas, em geral, no custo operacional da
cultura de cana-de-açúcar, em 1990, era de apenas 8%.
3.1. Controle com o Manejo Químico das Plantas Daninhas – Após o
Plantio e Corte no Sistema Tradicional (cana queimada).
FERREIRA & TSUNECHIRO (1998) relatam que no ano de 1996 as
vendas dos defensivos agrícolas somaram a importância de 1.792
milhões de dólares, destas vendas, somente os herbicidas foram
responsáveis por 56% deste total, a venda desta classe de pesticida para a
cultura da cana-de-açúcar representaram 19%, demonstrando assim a sua
importância.
214
Vários fatores são importantes na utilização e escolha dos herbicidas
como agente no controle das plantas daninhas na cultura de cana-deaçúcar, podemos citar:
Ø Modo de aplicação do herbicida, pré-emergente ou pós-emergente.
Ø Grupo de plantas daninhas predominantes e o seu grau de sua
infestação.
Ø Tipo de solo, teor de matéria orgânica e a sua umidade na época da
aplicação para os pré-emergentes.
Ø Estádio do desenvolvimento das plantas daninhas e da cultura, para
aplicações em pós-emergência.
Ø Uso de adjuvantes, quando indicado.
Ø Período residual: herbicidas aplicados no plantio de cana de ano e
meio, estes devem ter um maior período residual, quando comparados
com os aplicados em cana de ano, pois nesta época de plantio, haverá um
período de seca onde a cana-de-açúcar paralisa o seu crescimento, assim
como as plantas daninhas, no retorno da estação das chuvas, estas voltam
a germinar se o período residual for curto.
Ø Nas aplicações em pré-emergência no plantio de cana de ano e meio,
utilizar herbicidas mais solúveis, pois serão mais efetivos na época seca.
Ø Nas aplicações em pré-emergência, sempre verificar a seletividade
em relação a cultivar utilizada, principalmente para produtos novos.
A tabela 1 mostra os principais herbicidas utilizados para cultura
As misturas dos herbicidas são utilizadas para aumentar o
espectro de ação, ex. Diuron + hexazinone, incrementa o controle do
Diuron, de maior eficiência sobre as latifoliadas, de tal forma a se ter
também um controle das gramíneas dado pelo hexazinone.
As misturas também podem através de distintos coeficientes de
adsorção e solubilidades, no processo de lixiviação, permitir que o efeito
do herbicida permaneça em uma faixa do perfil do solo, e não em uma
região localizada, propiciando um maior controle; exemplo na mistura da
ametrina + clomazone.
3.2. Controle das Plantas Daninhas – Sistema Cana-crua
Este sistema de produção esta introduzindo uma nova realidade
no
cultivo
da
cana-de-açúcar,
devido
às
drásticas
mudanças
principalmente no sistema edáfico em função de 10 a 15 ton/ha, após o
corte da cana, algo que não havia no agroecossistema original. Esta
entrada de energia no sistema fatalmente acarretará em mudanças
drásticas na comunidade de organismos, hoje considerados praga, quer
sejam, as doenças, os insetos ou as plantas daninhas.
VELINI & NEGRISOLI (2000), citando EGLEY & DUKE, relatam que
estes autores demonstram que a amplitude térmica influência de forma
significativa à germinação das plantas daninhas, VELINI et. al. (1998) e
MARTINS et. al. (1999), estudaram o efeito de quantitativo da palhada
sobre a germinação de diversas espécies de plantas daninhas, resultando
que quanto maior a quantidade de palha, para a maioria das espécies
estudadas, houve uma supressão na germinação, para outras como o
amendoim-bravo a palhada não influenciou a germinação da espécie,
confirmando os dados LORENZI (1983).
Estes trabalhos, como é de se esperar, demonstram que haverá
uma mudança no banco de sementes dos agroecossistemas de cana-deaçúcar com sistema em colheita com a cana crua.
216
TABELA 1. Principais herbicidas utilizados para o controle das plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar, as
indicações em pré-emergente são para após o plantio ou corte no sistema de cana queimada. (BLANCO, 2001)
Principio
Nome
Dose i.a./ha
Modo Grupo
Observações
Ativo
Comercial
(kg)
de
Controlado
Aplica
ção2
2,4 D
U46 D fluid
0,40 a 0,72
PÓS
latifoliadas
Ametrina
Gesapax
2,00 a 4,00
PRÉ
gramíneas e latifoliadas
anuais
Ametrina
+ Gesapax
+ 0,21 + 0,29
PÓS,
gramíneas e latifoliadas controle efetivo em pós2,4 D
U46 D fluid
PRÉ
anuais
emergente apenas sobre as
latifoliadas
Ametrina
+ Sinerge
2,50 a 3,00
PRÉ
gramíneas e latifoliadas
Clomazone
anuais
Ametrina
+ Ametron
(0,62-1,244) + PRÉ
gramíneas e latifoliadas
Diuron
(0,96-1,92)
anuais
Clomazone
Gamit
0,50
PRÉ
Gramíneas e latifoliadas
anuais
Diuron
Karmex
1,60 a 3,2
PRÉ
gramíneas e latifoliadas controle mais pronunciado
anuais
nas latifoliadas
Diuron
+ Velpar K
0,488 + 0,142 PRÉ
Latifoliadas e gramíneas
hexazinone
Advance
0,533 + 0,067 PRÉ
anuais
2
modo preferência de aplicação onde o controle é mais efetivo
Diuron
+ Fortex
MSMA
Diuron
+ Bimate
Terbutiuron
Glyphosate
Roundup
0,140 + 0,360
PÓS
2,10 a 2,8
PRÉ
0,18 a 2,16
PÓS
Halosulfuron
Sempra
0,75
PÓS
Imazapyr
Arsenal
0,250
PRÉ
Isoxaflutole
Provence
0,750
PRÉ
Oxyfluorfen
Goal
0,240
PRÉ
Sulfosate
Zapp
0,480
PÓS
Sulfentrazone
Boral
1,20 a 1,60
PRÉ
Terbutiuron
Combine
0,50 a 0,80
PRÉ
Gramíneas
anuais
Gramíneas
anuais
Gramíneas
anuais
e
latifoliadas
e
latifoliadas
e
latifoliadas utilizado para renovação de
canaviais ou para aplicações
dirigidas.
Cyperaceas
a cyperacea tem que estar
no estádio de pré floração
no momento da aplicação
Gramíneas e latifoliadas e
cyperaceas
Gramíneas e latifoliadas
anuais
Gramíneas e latifoliadas
anuais
Gramíneas e latifoliadas utilizado para renovação de
anuais
canaviais ou para aplicações
dirigidas.
Gramíneas anuais e perenes apresenta controle efetivo
e cyperaceas
sobre tiririca (Cyperus
rotundus)
Gramíneas e latifoliadas
anuais
218
Atualmente o controle das plantas daninhas, neste sistema de
colheita, após o corte tem se realizado a catação utilizando herbicidas não
sistêmicos de ação total, glyfosate, paraquat, sulfosate, e 2,4 D
(latifoliadas), e monitorando as áreas preferencialmente até o fechamento
da cultura.
Vários aspectos ainda precisam ser estudados, como a aplicação
de pré-emergentes em condição de palha, efeito da palhada sobre a
microflora influenciando na persistência e dissipação do herbicida, novos
equipamentos de aplicação, etc.
4. Bibliografia
AZZI, G.M. & F ERNANDES , J.Competição de ervas daninhas no período
inicial de desenvolvimento da cana-de-açúcar. Bras. Açucareiro, 76:
30-32, 1968.
BLANCO, H.G. A importância dos trabalhos ecológicos nos programas de
controle das plantas daninhas. Biológico, 38: 343-350, 1972.
BLANCO, H.G. Ecologia das plantas daninhas - competição de plantas
daninhas em culturas brasileiras: In: Controle Integrado de Plantas
Daninhas, CREA, São Paulo, 1982. p.43-75.
BLANCO, H.G.; BARBOSA , J.C.; OLIVEIRA , D.A. Competição de uma
comunidade natural de mato em cultura de cana-de-açúcar
(Saccharum sp.), de ano e meio. In: Congresso Brasileiro de
Herbicidas e Ervas Daninhas, 14, & Congresso de la Asociacion
Latinoamericana de Malezas, 6, 1982. p. 30-31.
BLANCO, H.G.; OLIVEIRA , D.A.; ARAÚJO, J.B.M. Competição entre
plantas daninhas e a cultura da cana-de-açúcar. I. Período crítico de
competição produzido por uma comunidade natural de dicotiledôneas
em culturas de ano. Biológico, 45: 131-140, 1979.
BLANCO, H.G.; OLIVEIRA , D.A.; COLETI, J.T. Competição entre plantas
daninhas e a cultura da cana-de-açúcar. II. Período de competição
produzido por uma comunidade natural de mato, com predomínio de
gramíneas, em culturas de ano. III. Influência da competição na
nutrição da cana-de-açúcar. Biológico, 47: 77-88, 1981.
BLANCO, H.G. Manejo das plantas daninhas – uma abordagem ecológica.
Biológico, 59: 111-116, 1997.
CASER, D.V.; OLIVETTI, M.P.A.; FAGUNDES , L. Densidade de cultivo de
cana-de-açúcar, laranja, café e banana no Estado de São Paulo. Inf.
Econ., 23: 10-11, 1993.
FOOD AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS (FAO).
Sugar cane. FAO Yearbook Production, 44: 157-58. 1990.
LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA - LSPA. IBGE,
11: 1-14, 1999
MARTINS, D.; VELINI, E. D.; MARTINS, C. C.; SOUZA , L. S. Emergência
em campo de dicotiledôneas infestantes em solo coberto com palha de
cana-de-açúcar. Planta Daninha, 17: 151-161, 1999
TSNECHIRO, A.; F ERREIRA , C. R. R. P. T. Evolução das vendas de
defensivos agrícolas e uso de métodos alternativos e complementares
de proteção de culturas no Brasil. O Biológico. 60,: 35-49, 1998.
VELINI, E. D.; NEGRISOLI , E. Controle de plantas daninhas em cana crua.
Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas. Palestra,
p.148-164, 2000.
220
M ANEJO ECOLÓGICO DE PRAGAS DOS CITROS
Eng. Agrônomo Santin Gravena.
GRAVENA-Manejo Ecológico e Controle Biológico de Pragas Agrícolas
Ltda. Rod. SP-253, Km 221,5. Cx. Postal 546. CEP-14870-000,
Jaboticabal, SP. E-mail [email protected]
1. Introdução
Tanto o controle biológico exercido pelos organismos benéficos
de ocorrência natural como aquele oriundo de processos manipulados
artificialmente necessitam um ambiente ecológico livre de fatores
adversos para surtirem o efeito esperado na redução de densidades
populacionais de pragas para níveis abaixo do dano econômico. Na
citricultura convencional de produção comercial, nos dias atuais, esse
ambiente ecológico favorável não é encontrado facilmente, pois a
biodiversidade é muito pobre, condição indispensável para favorecer a
vida dos inimigos naturais. Ao mesmo tempo, a partir de 1987, os
citricultores passaram a utilizar insetic idas em grande quantidade e
freqüência como o único instrumento de que dispõem para combater
alguns insetos pragas que surgiram como avassaladores dentre os quais
as cigarrinhas transmissoras da CVC, minadora das folhas que facilita o
ataque do cancro cítrico, o bicho furão e a cochinilha ortézia. A
monocultura extensiva que se constituiu a citricultura em São Paulo,
necessita de transformações, o que é conseguido através de uma
manipulação ambiental mais efetiva para que o controle biológico nativo
e importado tenha o seu potencial máximo aproveitado. O caminho mais
rápido para se obter as condições ambientais necessárias é a aplicação
dos conceitos de Manejo Ecológico de Pragas na sua plenitude.
2. Manejo Ecológico de Pragas
O Manejo Ecológico de Pragas-MEP é uma nova visão do
Manejo Integrado de Pragas –MIP. É trazer o controle de pragas para
uma realidade contemporânea em que a proteção ambiental é a palavra de
ordem em todas as organizações sociais da humanidade. Entendemos,
como diferença básica entre MEP e MIP, a ênfase maior que se busca por
processos biológicos de controle de pragas dentro de um sistema
ecológico agrícola, onde também métodos ambientais de controle têm
papel de maior relevância do que técnicas químicas, ainda que seletivas
a inimigos naturais, como também requer o MIP. A operacionalização do
MEP se faz obviamente com o monitoramento ambiental no qual se
inclui a amostragem de pragas e inimigos naturais. Pela amostragem se
obtém dados de densidade de pragas e organismos benéficos que
auxiliam na tomada de decisão de manejo em cuja ação, outros fatores
são levados em consideração.
3. Planejamento, execução e manutenção do MEP
Um dos elementos fundamentais do MEP é o planejamento
antecipado das ações para implantação de um pomar de citrus. Não basta
apenas prever tipo de solo, clima, variedades, extensão da área, irrigação,
comercialização, etc. Um citricultor moderno deve incluir nos seus
planos: 1. disposição na plantação de critérios ambientais que visem a
biodiversidade; 2. esquema visando facilidade para a operação de
amostragem de pragas/inimigos naturais, pulverizações, colheita, etc; 3.
ações de controle biológico clássico e artificial; 4. registro das ações em
222
documentos e informatização de dados visando melhor visualização do
comportamento das pragas e inimigos naturais.
Monitoramento Ambiental. Com o planejamento antecipado
contemplando a biodiversidade acaba-se por exigir do manejador de
pragas uma atividade freqüente de monitoramento ambiental. Significa
observar e anotar dados ecológicos para confirmar os benefícios das
técnicas ambientais adotadas ou modificar o ambiente para atingir os
objetivos inicialmente propostos. Dentro do monitoramento está a
amostragem de pragas e inimigos naturais que no MEP passa a ser uma
atividade complexa na qual não basta apenas um método de avaliação,
contagem e anotação das quantidades encontradas. Às vezes são
necessárias 2, 3 ou até 4 técnicas de amostragem para uma única praga.
Um exemplo é a Mosca das frutas: em citrus considera-se 4 tipos de
observação de presença ou densidade: 1. Amostragem de sinais em
frutas; 2. Amostragem por atrativos alimentares; 3. Amostragem visual
de adultos; 4. Uso de feromônio. Num sentido mais amplo está o
monitoramento de moscas: este é feito através de observação de áreas
vizinhas à plantação em MEP, onde são encontradas outros hospedeiros
comerciais ou naturais que abrigam a mosca e de onde migram por si só
ou pelo vento. Ainda como serviço de monitoramento está a
quantificação
das
espécies,
comportamento,
época,
resistência,
longevidade de adultos, etc.
Tomada de Decisão no MEP. É outra atividade complexa do
MEP. Para se decidir por uma ação de MEP é necessário ter muitos
dados nas mãos, o que é conseguido pelo monitorame nto. Os níveis de
ação numéricos estabelecidos com base nos níveis de danos econômicos
reais ou empíricos são apenas referências iniciais que poderão sofrer
alterações ao longo da prática do MEP. Quando se pensa que um nível de
ação é o ideal, fatores macroecológicos, econômicos e sociais levam o
manejador de pragas a considerar outro nível mais adequado. Retomando
o exemplo a mosca das frutas, o nível conhecido é de 1 mosca por frasco
atrativo por semana, mas interesses do produtor, influenciados pelo
consumidor exigente de aparência agradável na fruta, levam- no a
abandonar o nível de ação de MEP e fazer pulverizações preventivas em
frutas ameaçadas por moscas no momento da colheita. O pior ocorre
quando a fruta é para exportação cujo importador exige isenção total de
risco de obter a mosca na fruta importada. Portanto, o nível de decisão de
manejo ainda é reflexo do perfil do produtor, do importador e do
consumidor final da produção.
Isso tende a mudar à medida que o
consumidor brasileiro ou importador passe a exigir isenção total de
resíduos de agrotóxicos nas frutas que importa ou consome.
Tomada de Decisão Ecológica. Se os perfis do produtor e do
consumidor permitir é possível estabelecer ações visando a aplicação
plena do MEP para cultivos em grande escala comercial resultando em
produtos alimentícios mais saudáveis bem como a obtenção da produção
por processos sem impactos ambientais negativos. Para isso, é necessário
visões micro e macro ecológica da área onde está inserida a plantação. É
preciso conhecer a biologia e o comportame nto das pragas chaves e dos
inimigos naturais chaves do ecossistema trabalhado. É imprescindível
dispor dos instrumentos necessários para agir contra a praga, sem
impactos ambientais e toxicológicos que hoje em dia ainda se vêm em
quase todos os sistemas de produção citrícola. Retomando o caso da
224
mosca das frutas, numa prática do dia-dia do MEP, verificamos que a
fonte da mosca que infestava as mexericas de um pomar assistido em
MEP, estava nos cafezais vizinhos. Como esta não poderia ser removida,
a decisão mais correta para se evitar vender frutas com risco de resíduos
de agrotóxico era desistir da produção de mexerica. Caso contrário a
decisão de MEP seria controlar a mosca nos cafezais vizinhos com isca
tóxicas no início do aparecimento de grãos de café em “cereja”, ao
mesmo
tempo
que
se
liberaria
parasitóides, Diachasmimorpha
longicaudata, nessas áreas e nas mexeriqueiras, entre outras providências
ecológicas.
Técnicas
Ambientais
Visando
Aumento
do
Controle
Biológico.
Após o entendimento básico do MEP com os itens abordados
anteriormente são apresentadas a seguir algumas das técnicas ambientais
que promovem o aumento das densidades de inimigos naturais nas
plantações citrícolas em geral.
Biodiversidade . São várias as possibilidades para aumentar a
biodiversidade nos pomares citrícolas: 1. Quebra ventos. O motivo
principal é servir de barreira para ventos fortes que predispõem folhas
novas ao ataque do cancro cítrico, mas os benefícios são muito maiores,
pois barram também insetos os mais diversos, como cochonilhas, moscas
brancas, pulgões, e princ ipalmente ácaros nocivos. 2. Cobertura verde.
São empregados nas entre linhas das árvores de citrus num pomar. 3.
Faixas naturais. No planejamento de plantio visando MEP se deixam
faixas da vegetação natural intercaladas a intervalos regulares. 5. Mistura
de variedades. No caso de citrus é prejudicial, pois se estabelece uma
sucessão de frutas maduras durante todo o ano fazendo com que de uma
variedade mais precoce para outra mais tardia, as pragas aumentam o
número de gerações.
1. Quebra-ventos. São barreiras físicas para todas as pragas e doenças
que dependem do vento para se disseminarem. Dentre as pragas são mais
notórias, as cochonilhas, os ácaros, as mo scas, os pulgões e as moscas
brancas. O processo de barragem não resolve mas retarda a infestação no
cultivo protegido permitindo maior eficiência dos inimigos naturais no
próprio cultivo sobre as populações residentes que ainda estão em baixa
densidade no início das safras. Outro lado positivo é que essas barreiras
são abrigo para inimigos naturais, servindo de fator de aumento do
controle biológico e evitando que a praga nas árvores da barreira seja a
causa de infestação no cultivo. Há dois tipos de quebra-ventos: 1Árvores altas de folhage ns densas, mas que apresentam “saia” alta
evitando o turbilhomamento no sotavento (face interna da barreira em
relação à área protegida). 2- Barreiras com 40% de permeabilidade ao
vento, mas com uma espécie de escadinha formada por um arbusto, uma
planta de menor porte e a planta principal de maior porte no barravento
(face externa). Pinus, Cipreste, Grevilha, etc, são os grupos mais comuns
utilizados tendo portes altos.
2. Cobertura verde. Há muito o uso de herbicida total e gradagens foram
minimizados em pomares frutíferos em geral. Em lugar disso se usa
herbicida apenas nas linhas e roçadas no mato invasor permitindo
renovação periódica e evitando alelopatia/competição. Com isso se deixa
o mato natural reproduzir insetos presas/hospedeiros alternativos, flores
226
com
néctar
e
pólen,
que
servem
para
alimentar
vespinha
microhimenópteras parasitóides, vespas predadoras, coccinelídeos,
ácaros fitoseídeos predadores e outros organismos benéficos.
3. Faixas naturais. Na implantação de um pomar cítrico, recomenda-se
deixar faixas contendo a vegetação natural que mantém a fauna benéfica
nativa e, em contrapartida, serve de refúgio dos inimigos naturais que
surgirão safra após safra, local onde não receberiam diretamente os
inseticidas pulverizados.
4. Vegetação atrativa de inimigos naturais. Espécies vegetais adequadas
como nabo forrageiro, amendoim forrageiro, braquiária rosisiensis, etc,
se prestam a atrair organismos benéficos que depois se transferem para a
planta cítrica exercendo o controle biológico.
5. Mistura de variedades. A maioria dos pomares são estabelecidos de
forma a apresentarem produções contínuas durante todo o ano. Os
destinados à indústria de processame nto contém pelo menos 4
variedades:
Hamlin(precoce),
Pêra(semi-tardia
e
multifloradas),
Valência(tardia) e Natal(super-tardia). Os destinados ao mercado são
multivarietais: Tangerinas e Lima verde(super-precoces), Bahia(precoce),
Pêra, Valência e Natal, que com sistemas de podas de produção passam a
produzir o ano todo, literalmente. Em ambos os casos, as pragas
encontram condições ideais para se desenvolverem e se reproduzirem em
altas densidades exigindo múltiplas pulverizações de inseticidas e
acaricidas.
Profilaxia no lugar de inseticidas. A retirada de partes atacadas
por pragas e doenças é ainda uma técnica efetiva. Com podas de ramos
ou desbaste de plantas se retira colônias de insetos ou ácaros e fontes de
inóculo de doenças. O melhor exemplo está na citricultura onde se pode
fazer: poda de ramos ou desfolha de árvores com doenças de fungos,
cochonilhas, ácaros e vírus da leprose bem como erradicação de plantas
com bactéria Xylella fastidiosa causadora da doença Clorose Variegada
dos Citros, transmitida por cigarrinhas Cicadellidae Com isso evita-se
inseticidas de largo espectro que alijam os inimigos naturais.
4. Considerações Finais
O que foi apresentado aqui foram apenas aspectos relacionados
com a prática do MEP como fator de aumento do controle biológico
natural nas plantações citrícolas, mas há ainda que considerar a
importação, a produção e a disponibilização de inimigos naturais para
uso pelos produtores. Deve-se sempre levar em conta também a
seletividade de agrotóxicos aos organismos benéficos como fator de
incremento das densidades dos mesmos através da simples preservação.
O aumento do controle biológico nos pomares dependerá por outro lado
das políticas agrícolas dos países e dos consumidores finais de sucos e
furtas, que deverão mudar de uma evidente apatia em relação aos riscos
de resíduos de agrotóxicos em citrus, de uma total ignorância dos efeitos
maléficos na natureza causados pelas pulverizações nos pomares, para
atitudes mais conscientes e racionais, rejeitando produtos sem selos de
garantia ecológica. Finalmente, louve-se o atual desempenho dos
sistemas orgânicos de produção que, por si só, são fatores de aumento da
atividade dos organismos benéficos da natureza contra as pragas
agrícolas e seus danos econômicos.
5. Bibliografia Básica
228
GRAVENA , S. Manejo ecológico de pragas no pomar cítrico. Laranja, 11:
205-225, 1990.
GRAVENA , S. Manejo ambiental de pragas dos citros. Laranja, 12: 247288, 1991.
HARDY, R. W. F. et. al. Ecologically Based Pest Management.
Washington, National academy Press. 1996. 146 p.
HUFFAKER, C. B. & RABB, R. L. (Eds.). Ecological Entomology. John
Wiley & Sons. 1984. 844 p.
HUFFAKER, C. B. (Ed.). Biological Control. New York, Plenum Press.
1969. 511 p.
PRICE, P. W. Insect Ecology. New York, John Wiley & Sons. 1975.
514 p.
ENVIRONMENTAL ENTOMOLOGY. Lanham, Md, USA. Entomogical
Society of America.
M OSCA-DAS -FRUTAS EM FRUTICULTURA
Pesquisadores Científicos Miguel Francisco de Souza Filho e Adalton
Raga
Eng. Agrônomos, Laboratório de Entomologia Econômica, Centro
Experimental do Instituto Biológico, Instituto Biológico. Cx. Postal 70,
CEP 13001-970, Campinas – SP. Tel. (19) 3252-8342. E-mail:
[email protected] e [email protected]
1. Introdução
A fruticultura brasileira atualmente é considerada uma das
maiores do mundo, no que se refere a produção de frutas frescas e área
cultivada, todavia, é muito reduzida a produção destinada para o mercado
externo. O baixo nível tecnológico aplicado no cultivo das fruteiras, que
se reflete na qualidade dos frutos produzidos, a exemplo dos problemas
fitossanitários (pragas, doenças e plantas daninhas), são fatores que
contribue m para essa situação.
O Estado de São Paulo apresenta uma fruticultura bastante
diversificada, que tem crescido significativamente nos últimos dez anos,
abrangendo fruteiras de clima tropical, subtropical e temperadas,
exploradas em função das condições edafoclimáticas e agronômicas
disponíveis.
As moscas-das- frutas (Diptera: Tephritidae) são as principais
pragas da fruticultura mundial, considerando-se os danos diretos que
causam e a capacidade de adaptação em outras regiões, quando
introduzidas (praga quarentenária). No Brasil, as espécies de moscas-dasfrutas de importância econômica englobam-se nos gêneros Anastrepha e
Ceratitis. As diversas espécies de Anastrepha são nativas do continente
americano, enquanto Ceratitis capitata (Wied.) conhecida como moscado-mediterrâneo é a única representante do gênero no país, sendo
originária do continente africano.
Em face da importância dessas pragas, é importante ressaltar que
o fruticultor brasileiro gasta grandes quantidades de inseticidas para o
controle de moscas-das- frutas, sem o conhecimento adequado das
espécies infestantes, do seu grau de infestação, da distribuição espacial
das plantas hospedeiras e do controle biológico natural.
2. Principais Espécies de Moscas -das-frutas no Estado de São Paulo
230
Em todo o território paulista ocorrem moscas-das-frutas, nas áreas
rural, urbana e de preservação. As principais espécies que causam danos
à fruticultura paulista são as seguintes, em ordem de importância:
Anastrepha fraterculus (Wied.), C. capitata, Anastrepha obliqua
(Macquart) e Anastrepha sororcula Zucchi.
Essas espécies atacam as principais fruteiras de importância
econômica para o estado de São Paulo tais como: ameixa, caqui, citros,
goiaba, manga, nêspera, pêssego e nectarina. Na cultura do maracujádoce, Anastrepha pseudoparallela se destaca como a mais importante.
Ciclo Biológico
O ciclo de vida das moscas-das- frutas ocorre em três ambientes
conforme o esquema a seguir:
VEGETAÇÃO
(Adulto)
FRUTO
(Ovo e Larva)
SOLO
(Pupario)
Espécie de
moscas-dafrutas
Ciclo de vida em dias a 25o C
Ovo
Larva Pupa Pré-
A. fraterculus
C. capitata
2-4
2-4
oviposição
12-15
6-11
10-20 7-10
9-11 3-4
O período de duração do ciclo de vida das moscas-das- frutas é
dependente de vários fatores, principalmente da temperatura, da planta
hospedeira e da própria espécie de mosca. Ceratitis capitata apresenta a
duração do seu ciclo de ovo a adulto em torno de 18 a 30 dias no verão
enquanto que A. fraterculus varia de 25 a 35 dias. Em épocas ou regiões
de baixas temperaturas o ciclo é prolongado.
3. Caracterização dos Danos
Os danos das moscas-das-frutas são causados diretamente nos
frutos pela fêmea adulta (perfuração do fruto por ocasião da oviposição)
e pelas larvas (consumo da polpa provocando um apodrecimento
interno). Em frutos como ameixa, caqui, go iaba, laranja, nêspera e
pêssego a infestação por larvas não é notada, pois os mesmos
permanecem com a aparência externa normal. Entretanto, ao apalpar o
fruto nota-se pontos de amolecimento da polpa e até extravasamento de
suco pelo orifício de saída das larvas. No maracujá-doce, o ataque pode
ocorrer tanto em frutos verdes como maduros, causando murchamento e
posterior queda dos mesmos.
No caso de danos ocasionados pela ação da oviposição
(perfuração) há exemplos como a nêspera que quando sofre alta
infestação, apresenta diversas pontuações escuras na epiderme e em
pêssego ocorre exsudação de filetes de resina esbranquiçada.
4. Plantas Hospedeiras e Sucessão Hospedeira
O conhecimento de plantas hospedeiras na região onde se
pretende estabelecer um programa de controle de moscas-das- frutas é de
primordial importância, uma vez que o ataque nas fruteiras comerciais
ocorre da migração das moscas para o pomar. O Estado de São Paulo
232
apresenta um grande número de espécies vegetais hospedeiras de
moscas-das-frutas (Quadro 1), amadurecendo seus frutos em diferentes
estações do ano, proporcionando assim, o aumento da densidade
populacional da praga e sua ampla distribuição por todo território. Essa
seqüência de eventos caracteriza o fenômeno conhecido como sucessão
hospedeira. Outro fator que também favorece ao estabelecimento das
moscas-das-frutas é a existência de diversos ciclos de frutificação de um
mesmo hospedeiro ao longo do ano a exemplo de goiaba, carambola,
nêspera, citros e chapéu-de-sol (Quadro 1).
QUADRO 1. Ocorrência de mosca-das-frutas nas plantas
mais comuns no Estado de São Paulo
Plantas Hospedeiras
Moscas-das-frutas
Nome
Nome
C.
A.
A.
comum
científico
capitat fratercul obliqua
a
us
Anacardiace
ae
1.
Cajá- Spondias
X
X
X
manga
dulcis
2. Manga
Mangifera
X
X
X
indica
3. Siriguela Spondias
X
X
X
purpurea
Combretace
ae
4. Chapéu- Terminalia
X
X
X
de-sol
catappa
Ebenaceae
5. Caqui
Diospyrus
X
X
kaki
Malpighiace
ae
6. Acerola
Malpighia
X
X
glabra
hospedeiras
A.
pseudopar
allela
X
-
-
-
-
Myrtaceae
7. Araçá
8. Goiaba
9.
Jabuticaba
10. Jambo
11. Pitanga
12. Uvaia
Oxalidaceae
13.
Carambola
Passifloracea
e
14. Maracujádoce
Rosaceae
15. Ameixa
16. Nêspera
17. Pêra
18. Pêssego
Rubiaceae
19. Café
Rutaceae
20. Laranja doce
21. Limãocravo
22. Kunquat
Psidium
cattleyanum
Psidium
guajava
Myrciaria
cauliflora
Syzygium
jambos
Eugenia
uniflora
Eugenia
pyriformis
X
X
-
-
X
X
X
-
X
X
-
-
X
X
X
-
X
X
X
-
X
X
X
-
Averrhoa
carambola
X
X
X
-
Passiflora
alata
X
X
-
X
Prunus sp.
Eriobotrya
japonica
Pyrus
communis
Prunus
persica
X
X
X
X
X
-
X
X
-
-
X
X
X
-
Coffea
arabica
X
X
-
-
X
X
-
-
X
X
-
-
X
X
X
-
-
X
-
-
Citrus
sinensis
Citrus
limonia
Fortunella
sp.
23. Mexirica Citrus
do Rio
deliciosa
234
24. Tangerina
“Cravo”
25. Tangerina
“Ponkan”
26.
Tangor
“Murcott”
Sapotaceae
27. Abiu
Citrus
X
reticulata
Citrus
X
reticulata
C. reticulata X
× C. sinensis
X
-
-
X
-
-
X
-
-
Pouteria
caimito
X
-
-
X
5. Monitoramento
O processo de avaliação do número de espécies de moscas-dasfrutas e a sua distribuição em cada localidade produtora é chamado de
monitoramento. Esse sistema pode enfocar a análise de ovos e larvas
diretamente nos frutos ou indiretamente através do uso de armadilhas que
capturam adultos.
Os modelos de armadilhas (frascos) mais usados no Brasil são os
seguintes:
1. MacPhail – confeccionado em plástico ou vidro
2. Biológico - confeccionado em plástico ou vidro
3. Pet – confeccionado a partir de recipientes de refrigerante de 2 L
Todos os modelos citados utilizam isca líquida como atraente
alimentar, geralmente à base de melaço de cana-de-açúcar a 5-7% ou
proteína hidrolizada de milho a 5%. No caso de maracujá, pode ser
acrescido nos frascos suco da fruta diluído a 10%. Deve-se evitar a
adição de inseticida na calda colocada nas armadilhas.
O alvo principal do monitoramento é capturar as fêmeas, que no
período que antecede ao início da oviposição, necessitam grandemente de
substâncias protéicas e carboidratos, embora também machos sejam
coletados nos frascos.
A periodicidade de reabastecimento das armadilhas é de 7 a 10
dias, dependendo da época do ano. Os modelos mencionados capturam
tanto C. capitata como as espécies de Anastrepha.
O monitoramento deve dar condições de previsibilidade da
infestação de moscas-das- frutas e por isso o armadilhamento é
intensificado na periferia dos pomares, detectando populações invasoras.
Os frascos são distribuídos a cada 50m, contornando a área produtora e
também no interior do pomar, presos em ramos firmes a 1,80m de altura.
A época de instalação das armadilhas para moscas-das-frutas
varia de acordo com a fruteira. Nos casos de ameixa, caqui, goiaba,
nêspera e maracujá doce o monitoramento deve ser implantado logo no
início do desenvolvimento dos frutos. No caso de laranja e manga o
monitoramento pode ser iniciado quando os frutos estiverem com cerca
de 50% do seu tamanho.
6. Controle
O êxito no controle de moscas-das-frutas sempre se baseia na
integração de vários métodos de controle, uma vez que essas espécies
apresentam características que as distinguem como pragas-chaves, como
a alta produção de ovos, alta viabilidade de ovos, alta capacidade de
dispersão de adultos e de colonização sob diferentes condições
ecológicas.
6.1. Controle Cultural
Esse método quando empregado para moscas-das-frutas se baseia
principalmente em dois aspectos:
6.1.1. Destruição de frutos hospedeiros
236
Procedimento muito importante para a redução dos níveis das
populações invasoras provenientes de hospedeiros naturais
6.1.2. Ensacamento dos frutos
Tem se constituído em tática eficiente para evitar a oviposição.
Deve ser efetuado nos primeiros estágios de desenvolvimento dos frutos.
Para isso os frutos devem estar livres da presença de cochonilhas. O tipo
de saco utilizado para maracujá-doce é o mesmo empregado para goiaba
de mesa e pêssego. Para nêspera, prepara-se o ensacamento com papel
jornal com a extremidade posterior aberta.
6.2. Controle Biológico
Dentre os predadores, patógenos e parasitóides que atuam no
controle biológico, este último grupo se constitui no principal mecanismo
de redução natural das populações de moscas-das-frutas, agindo nas fases
larval e pupal. No Quadro 2 é apresentada a espécie de parasitóide e
respectivos hóspedes/hospedeiros.
QUADRO 2. Espécies de parasitóides relacionadas a algumas espécies
de Anastrepha no Estado de São Paulo.
Espécie de Parasitóide
Hóspede
Doryctobracon
areolatus A.
(Szépligeti)
fraterculus,
A.
pseudoparallela
Doryctobracon brasiliensis
A. fraterculus
(Szépligeti)
Opius bellus Gahan
Utetes
(Viereck)
anastrephae
A. fraterculus, A. obliqua
A. fraterculus
obliqua,
A.
6.3. Controle Químico
Baseia-se no emprego de inseticidas em cobertura total ou na
forma de isca tóxica. A forma de menor impacto desse método é o de
iscas tóxicas, que são preparadas conforme a forma descrita
anteriormente para isca utilizada em frascos. A isca tóxica geralmente é
aplicada em ruas alternadas visando a folhagem e não o fruto, em apenas
uma parte da copa das plantas, não superior a 1 m2 e a intervalos de 7-10
dias. O tratamento deve ser implantado no início do desenvolvimento dos
frutos.
No Quadro 3 é apresentada uma lista de inseticidas com uso
autorizado para as principais fruteiras no Estado de São Paulo.
QUADRO 3. Recomendações de controle de moscas-das-frutas para as
principais fruteiras do Estado de SãoPaulo
Cultu Inseticid
Instruções para Controle
ra
a
Fazer o monitoramento das moscas através do uso
de 2 armadilhas/ha, colocadas na periferia do pomar.
Usar isca tóxica com um dos inseticidas indicados
Deltamet com melaço (5-7%) ou proteína hidrolisada (3%)
Amei rina
aplicando-se cerca de 150-200 ml/planta em torno
xa
Fention de 30-50% das plantas, principalmente nas bordas
Tricorfon do pomar. O uso de isca tóxica deve ser iniciado a
partir da detecção das primeiras moscas nas
armadilhas com intervalo de 7-10 dias ou quando os
frutos estiverem com cerca de 2 cm de diâmetro.
Fention Fazer pulverizações em cobertura visando os frutos
Caqui Paration em amadurecimento. Os frutos das variedades
metílico taninosas são menos susceptíveis ao ataque de
Tricorfon moscas em relação às variedades não taninosas.
Clorpirif Em variedades precoces utilizar frascos caça- moscas
para fazer o monitoramento. Quando a presença do
Citros ós
Deltamet inseto for constatada, iniciar os tratamentos. Em
rina
variedades tardias, iniciar os tratamentos quando os
238
Dimetoat
o
Etion
Fention
Malation
Paration
metílico
Tricorfon
frutos tiverem atingido o tamanho máximo e antes
de começar o amarelecimento. Para controle, utilizar
iscas tóxicas com um dos inseticidas indicados com
melaço (5-7%) ou proteína hidrolisada (3%), em
ruas alternadas, pulverizando a solução em 1 m2 da
copa, na parte que recebe maior incidência do sol
pela manhã, gastando-se cerca de 150-200
ml/planta. Repetir o tratamento a cada 7-10 dias. Na
época da florada não se recomenda o uso de
inseticidas fosforados. Em pomares pequenos,
retirar os frutos temporões, não deixando a fruta
amadurecer; eliminar os frutos caídos ou refugados.
Nas culturas de mesa, fazer o ensacamento dos
frutos e pulverizar com um dos inseticidas
recomendados. Nas culturas para indústria, fazer
Goiab Fention pulverizações em cobertura total. Pomares com
a
Tricorfon grande concentração de plantas (efeito de massa),
pode-se aplicar si cas tóxicas a base de melaço (57%) ou proteína hidrolisada (3%) mais inseticida.
Repetir o procedimento a cada 10-15 dias.
Efetuar o monitoramento com armadilhas
distribuídas na seguinte proporção: pomares até 1
ha, utilizar 4 armadilhas; de 2 a 5 ha, 2
armadilhas/ha; acima de 5 ha, 1 armadilha/ha.
Fention Constatada a presença da mosca, iniciar a
Paration pulverização com isca tóxica a base de melaço (5Mang metílico
7%) ou proteína hidrolisada (3%) mais inseticida no
a
Triclorfo interior das árvores a 2-3 m de altura, aplicando-se
n
cerca de 150-200 ml/m2 de copa em ruas alternadas.
As aplicações devem ser realizadas a cada 10-15
dias no período em que os frutos ainda estiverem
verdes. Caso a infestação não seja controlada, fazer
uma única aplicação em cobertura total com fention.
Basicamente a mosca é limitante na cultura do
maracujá-doce. Iniciar o tratamento quando os
frutos tiverem de 2-3 cm de diâmetro. Realizar a
Marac
Fention pulverização em cobertura total. Em caso de
ujá
persistência do ataque, fa zer o controle sob a forma
de isca tóxica a base de melaço (5-7%) ou proteína
hidrolisada (3%) mais inseticida. Repetir o
procedimento a cada 10-15 dias.
Efetuar o desbaste dos cachos, deixando quatro
frutos novos em cada cacho e em seguida os
Nêspe
Fention mesmos devem ser protegidos com sacos de jornal
ra
de parede dupla antes de 30 dias após o final da
florada.
Na cultura de mesa, em pomares pequenos, efetuar o
ensacamento dos frutos recém formados. Recolher
os frutos temporões. Fazer o monitoramento das
Deltamet moscas usando-se 4 armadilhas/ha. Após a floração
rina
quando os frutos iniciarem o seu desenvolvimento,
Pêsse Fenitroti ao capturar as primeiras moscas, iniciar o uso da
go
on
isca tóxica a base de melaço (5-7%) ou proteína
e
Fention hidrolisada (3%) mais inseticida gastando-se em
Nectar Malation torno de 150-200 ml/planta em 30-50% das plantas,
Paration principalmente das bordas do pomar a cada 7-10
ina
metílico dias e na pré- maturação usar isca a cada 3-5 dias. O
Tricorfon período de inchamento dos frutos é a fase mais
crítica e no caso se for detectado 6
moscas/semana/frasco, deve-se realizar o controle
com pulverizações em cobertura total.
Fonte: Coordenadoria de Defesa Agropecuária – Abril/2000
7. Bibliografia Consultada
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(Eds.) Moscas -das-frutas de importância econômica no Brasil.
Conhecimento básico e aplicado. Ribeirão Preto: Holos, 2000, p.277283.
M ANCHA PRETA OU PINTA PRETA DOS CITROS
Pesquisador Científico Eduardo Feichtenberger
Engº Agrônomo, Laboratório de Sanidade Animal e Vegetal de
Sorocaba, Instituto Biológico. Rua Antonio Gomes Morgado, 340 - CEP
18013-440 Sorocaba, SP. E-mail: [email protected]
1. Introdução
A pinta preta, ou mancha preta dos citros afeta folhas, ramos e,
principalmente, frutos de laranjeiras doces, limoeiros verdadeiros,
pomeleiros, algumas tangerineiras e vários híbridos de citros. A doença
provoca manchas na casca dos frutos que prejudicam sua aparência,
tornando-os impróprios para o mercado de fruta fresca. Em ataques
severos, como os que têm sido freqüentes em várias regiões produtoras
paulistas, grande parte dos frutos manchados caem prematuramente.
Os frutos são suscetíveis até atingirem o tamanho aproximado de
uma bola de "pingue-pongue", quatro a seis meses após a queda de
pétalas das flores. As folhas são suscetíveis até atingirem cerca da
metade do seu tamanho final.
Árvores velhas e plantas debilitadas por várias causas, como
ataque de pragas e doenças, condições ambientais adversas, deficiências
nutricionais, e tratos culturais inadequados, são mais sujeitas ao ataque
do fungo agente causal.
2. Histórico e Abrangência Geográfica
O primeiro registro da pinta preta foi feito na Austrália, em 1895.
Trinta anos depois ela foi encontrada na África do Sul, afetando
severamente frutos de laranja Valência, tanto em plantios comerciais
como na pós-colheita. Além da Austrália e África do Sul, a doença já foi
registrada em vários outros países da África, como Moçambique,
242
Swazilândia e Zimbabwe; da Ásia, como China, Filipinas, Indonésia,
Taiwan e Japão; e da América do Sul, como Argentina, Brasil e Peru.
No Brasil, a mancha preta foi registrada pela primeira vez em
1937, em frutos coletados em uma feira livre na cidade de Piracicaba-SP.
Em pomares comerciais, a primeira constatação data de 1980, em plantas
de mexerica Rio, nos municípios de São Gonçalo e Itaboraí, Rio de
Janeiro, tendo depois se disseminado rapidamente para outros municípios
da Baixada Costeira Fluminense. Em 1986, a pinta preta foi encontrada
em Montenegro, no Vale do Caí, Rio Grande do Sul. Hoje, ela encontrase disseminada em todas as regiões produtoras de citros sul-riograndenses.
No Estado de São Paulo, a pinta preta foi encontrada em plantios
comerciais somente em 1992, atacando plantas de limões verdadeiros e
laranjas doces de maturação tardia, nos municípios de Conchal e
Engenheiro Coelho. A doença teve uma expansão muito rápida em São
Paulo, já tendo sido registrada em todas as principais regiões produtoras.
3. Sintomas
Uma das principais características da pinta preta é que vários
órgãos da planta podem estar infectados sem, contudo, apresentarem os
sintomas típicos da doença. Os sintomas podem demorar até um ano a
aparecer após a infecção do órgão, dependendo das condições
ambientais. A manifestação dos sintomas é favorecida pela radiação solar
combinada com altas temperaturas. Os sintomas são mais freqüentes e de
maior intensidade nas faces da planta mais expostas aos raios solares.
Em frutos, cinco tipos principais de lesões podem ocorrer:
a) manchas duras ou manchas marrom, que em geral aparecem quando os
frutos iniciam mudança de cor ou frutos já maduros. As lesões
apresentam o centro necrótico deprimido de cor marrom-claro ou cinzaescuro e as bordas salientes de coloração marrom-escura, e são
circundadas por um halo verde escuro. Em frutos verdes as lesões são
circundadas por um halo amarelo. Uma característica típica dessas lesões
é a presença de pequenas pontuações escuras no seu centro, que se
constituem nos picnídios do fungo;
b) manchas sardentas, são pequenas lesões de cor preta, que em geral
aparecem após o início de mudança de cor dos frutos. Elas podem se unir
formando lesões maiores ou permanecem pequenas, individualizadas;
c) manchas virulentas, são lesões grandes, de formato irregular,
apresentando o centro deprimido ou não de coloração acinzentada, e as
bordas salientes de cor marrom- escura ou vermelho-escura. Essas lesões
em geral aparecem no período final de maturação dos frutos ou na póscolheita, durante o transporte e o armazenamento. A mancha virulenta
pode ser resultante da evolução das manchas dos tipos marrom ou dura e
mancha sardenta;
d) manchas de falsa melanose, são escuras e pequenas, podendo ser
confundidas com as manchas de melanose (fungo Diaporthe citri).
Contudo, as manchas de melanose são ásperas, ao contrário das de falsa
melanose que são lisas;
e) manchas trincadas, que em geral aparecem em frutos com mais de 6
meses de idade e em associação com o ácaro da falsa ferrugem
(Phyllocoptruta oleivora Ashmed), são levemente salientes e de aspecto
fendilhado, de forma e tamanho variáveis, sem margens definidas, e não
apresentam picnídios do fungo.
244
Sintomas em folhas e ramos são pouco freqüentes, sendo em geral
encontrados somente em plantas velhas e debilitadas. As lesões são muito
semelhantes às do tipo marrom ou dura dos frutos, com o centro
necrótico deprimido de cor cinza, as bordas salientes marrom-escura com
um halo amarelado ao redor das lesões. Picnídios do fungo agente causal
também são produzidos no centro dessas lesões.
4. Fungo Agente Causal
Guignardia citricarpa é o fungo agente causal da doença, que
produz esporos sexuais denominados ascósporos somente em folhas em
decomposição no solo. Esses esporos constituem-se na principal fonte de
inóculo. Eles podem ser carregados pelo vento, disseminando o fungo a
médias e longas distâncias. Eles também podem ser levados, por
respingos de água, das folhas caídas ao solo até a superfície de frutos e
outros órgãos da parte baixa da copa das plantas.
A forma imperfeita do fungo denomina-se Phyllosticta citricarpa,
que produz esporos assexuais, os picnidiósporos, em lesões de frutos e
folhas e, ocasionalmente, no pedúnculo dos frutos. Esses esporos também
são produzidos em grande número em folhas mortas. Eles somente são
disseminados a curtas distâncias, por água de chuva, irrigação e orvalho,
podendo infectar frutos da mesma planta, ou de plantas muito próximas.
5. Prevenção
Medidas de prevenção visam evitar a introdução do fungo em áreas
novas, onde a doença ainda não foi detectada. Elas incluem:
a) Plantio de mudas livres do fungo agente causal, se possíve l, mudas
produzidas em regiões onde a doença ainda não ocorre;
b) Restrição ao acesso e fiscalização da circulação de pessoas, veículos,
máquinas
e
implementos
em
pomares,
principalmente
quando
provenientes de outras propriedades localizadas em regiões contaminadas
pela doença;
c) Lavagem e desinfestação de veículos, máquinas, equipamentos e
materiais de colheita, antes deles adentrarem os pomares;
d) Utilização durante a colheita, se possível, de equipes e materiais de
colheita próprios;
e) Construção de
silos
na
entrada
das
propriedades
para
o
armazenamento dos frutos colhidos, evitando-se assim a circulação de
pessoas e veículos estranhos no pomar;
f) Manutenção das plantas em boas condições de nutrição e sanidade;
g) Inspeção frequente dos pomares e eliminação das plantas em estado de
depauperamento avançado.
6. Controle Químico
O controle químico torna-se necessário após a detecção da doença
na área. As pulverizações devem ser feitas visando proteger os frutos
recém- formados, que são suscetíveis até atingirem o tamanho
aproximado de uma bola de pingue-pongue.
Vários fungicidas sistêmicos (benzimidazóis e estrubilurinas) e
produtos de contacto (cúpricos e mancozeb) são eficazes no controle de
pinta preta. Esses fungicidas devem sempre ser aplicados misturados com
óleo mineral ou vegetal, a 0,25 - 0,50%. Como o fungo pode desenvolver
resistência aos benzimidazóis (benomil, carbenzazim, tiofanato metílico)
e as estrubilurinas pelo seu uso continuado, recomenda-se que esses
produtos sejam utilizados sempre em misturas com produtos de contacto
246
(mancozeb, cúpricos), e que o número de aplicações com benzimidazóis
não seja superior a duas por safra. A utilização de produtos a base de
cobre requer cuidados para se evitar fitotoxicidade por esses produtos aos
frutos, principalmente quando as aplicações são feitas após o início do
período das chuvas. Deve-se também considerar que o uso intensivo de
fungicidas na cultura poderá produzir impactos ambientais indesejáveis,
comprometendo o desenvolvimento de fungos entomopatogênicos,
inimigos naturais de pragas.
Em pomares de variedades de meia estação ou de maturação
tardia muito atacados, quatro ou mais pulverizações, em intervalos de
quatro a cinco semanas, são necessárias para se obter bons níveis de
controle. As duas primeiras podem ser feitas com produtos à base de
cobre misturados com óleo. As aplicações seguintes podem ser feitas
com misturas envolvendo um benzimidazol, um produto de contacto
(mancozeb ou cúprico) e óleo (0,25-0,50%), pois nessa época é prová vel
que a pressão de inóculo seja maior pela participação também maior dos
ascósporos produzidos nas folhas em decomposição no solo.
7. Outras Medidas de Controle
Além das medidas de prevenção já relacionadas, outras medidas
devem ser adotadas visando manter o fungo sob controle em áreas
contaminadas, já que a sua completa eliminação das áreas onde ele foi
introduzido é na prática impossível. Tais medidas incluem: 1)
Antecipação da colheita, quando possível, principalmente em variedades
precoces e de meia estação, procurando-se assim evitar que o inóculo
(picnidiósporos) produzido nos frutos infectados da safra anterior possa
infectar os frutos provenientes das novas floradas; 2) Controle do mato
nas linhas de plantio com herbicidas pós-emergentes, antes do início da
florada, visando à formação de uma cobertura morta sobre as folhas
caídas ao solo, reduzindo, assim, a fonte de inóculo representada pelos
ascósporos nela produzidos; 3) Irrigação dos pomares nos meses secos do
ano para evitar a queda excessiva de folhas e uma maior predisposição
das plantas ao ataque do fungo.
8. Referências Bibliográficas
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MORAES ,
M.R.;
FEICHTENBERGER, E. Época de aplicação de fungicidas no controle de
mancha preta (Guignardia citricarpa) em laranjeira 'Pera'. Summa
Phytopathol., 26: 119, 2000.
M OSCA BRANCA EM HORTALIÇAS
Pesquisadores Científicos Zuleide A. Ramiro1 & José R. Scarpellini2
1
Eng. Agrônoma, Dra. – Laboratório de Manejo Integrado, Centro
Experimental do Instituto Biológico, Instituto Biológico. Caixa Postal 70,
13001-970-Campinas/SP. E- mail: [email protected] ;
2
Eng.
Agrônomo, Laboratório Sanidade Animal e Vegetal, Centro de Ação
Regiona l, Instituto Biológico. R. Peru n. 1472-A 14075-310 Ribeirão
Preto – SP. E- mail:[email protected]
Nas últimas décadas, o complexo de mosca-branca, Bemisia spp.,
tem sido registrado como pragas de importância econômica em diversos
países dos diferentes continentes. Nas regiões da América Central e do
Sul os maiores danos são devidos aos efeitos indiretos como vetores de
geminivirus, principalmente em culturas de tomate. A partir da década de
80 um novo biótipo, B tabaci Biótipo B ou como é mais conhecida. B.
argentifolii, caracterizado por ter um amplo número de plantas
hospedeiras, passou a ter enorme importância nos EUA, Caribe e
América Central. Este biótipo foi registrado em 1993, no Distrito Federal
e em 1994 em diferentes espécies de hortaliças (brócolos, berinjela,
aboboreira...) e plantas invasoras no Estado de São Paulo.
A mosca branca B. argentifolii apresenta características que a
diferencia da espécie B. tabaci no que diz respeito à interação inseto x
planta hospedeira. Quanto mais a planta é preferida maior o número de
ovos/fêmea, maior taxa de oviposição, maior longevidade das fêmeas,
conseqüentemente maiores populações em curto período de tempo. Além
destas características, completa seu desenvolvimento em plantas de
tomate, ocorre em um maior número de plantas cultivadas e induz
alterações fitotóxicas em curcubitáceas, tomate e brócolos.
Na cultura do tomate, a mosca branca pode ocasionar danos direto
e indireto. Os danos diretos são provocados pela sucção da seiva e ação
toxicogênica, além da liberação de secreções açucaradas favorecendo o
desenvolvimento de fumagina, fungo que desenvolve um micélio de cor
escura na superfície das folhas, interferindo na síntese de clorofila e
trocas
gasosas.
Estes
danos
provocam
anomalias
fitótoxica,
caracterizadas pelo amadurecimento irregular dos frutos o que dificulta o
reconhecimetno do ponto de colheita, reduz a produção e, no caso de
tomate industrial, a qualidade da pasta. Internamente, os furtos
apresentam-se, com aspecto esponjoso ou “isoporizados”. Os danos
250
indiretos causados pela transmissão de vírus, em geral, são visualizados
pelo amarelecimento total da planta, nanismo acentuado e enrugamento
severo das folhas terminais.
Em abóbora ocorre o prateamento da folha, caracterizando a
ocorrênc ia de B. argentifolii , provavelmente devido à injeção de uma
fitotoxina sistêmica pelas ninfas e em plantas ornamentais ocorre redução
do valor estético e comercial da cultura.
Em culturas de brócolos e repolho causa o embranquecimento do
caule e em cenoura o clareamento da raiz.
As espécies de moscas-brancas, como de outros insetos sugadores
da mesma ordem, têm como característica a excreção de substâncias
açucaradas as quais cobrem as folhas e servem de substrato para fungos,
resultando na formação da fumagina, que reduz o processo de
fotossíntese afetando a produção e qualidade, principalmente em culturas
de hortaliças.
Tanto as formas jovens (ninfas) como os adultos causam danos as
plantas e as maiores dificuldades de controle estão relacionadas a grande
capacidade de adaptação e reprodutivas destes insetos além do fato de
durante todas as fases de ninfa permanecerem fixas na face inferior das
folhas dificultando, principalmente o controle químico.
Até a presente data não existe um método que isoladamente seja
eficiente no controle desta praga sendo que, para reduzir os danos o
agricultor tem que adotar diversos métodos seguindo as recomendações
do Manejo Integrado (MIP) o qual envolve o uso simultâneo de
diferentes técnicas de supressão populacional, objetivando manter um
nível populacional que não cause danos econômicos.
A adoção do MIP está fundamentada em dois critérios básicos:
monitoramento e nível de dano econômico.
O monitoramento consiste no acompanhamento da ocorrência da
praga de tal forma que as medidas de controle sejam adotadas em tempo
de reduzir a densidade populacional do inseto para níveis que não causam
danos de importância econômica. Depois da primeira infestação de
mosca-branca a colonização aumenta drasticamente. Por este motivo é
importante o acompanhamento desde o inicio da germinação das plantas
através de observação da presença de ovos e/ou ninfas, na parte inferior
das folhas e dos adultos utilizando armadilhas adesivas. Estas armadilhas
podem ser confeccionadas com materiais plásticos, como garrafas,
pintadas de amarelo e untadas com uma substância oleosa. O inseto
atraído pela cor fica aderido na armadilha permitindo que se constate o
aparecimento dos primeiros adultos.
Por nível de dano econômico (NDE) entende-se a menor
densidade de população da praga que poderá causar prejuízos
econômicos justificando medidas de controle.
Em relação ao NDE
ocasionado pela mosca-branca não existem níveis estabelecidos e devido
ao baixo número de adultos necessários para disseminar vírus a
recome ndação baseia-se no nível de ação que se resume à presença do
inseto na planta.
Acompanhando o desenvolvimento populacional da moscabranca, desde o inicio do aparecimento dos primeiros adultos o agricultor
poderá lançar mão dos diversos métodos de controle recomendados nos
programas de MIP, sendo os abaixo relacionados os que têm sido
comprovados como eficientes para a convivência com esta praga:
252
Ø Normatizar calendários de plantio evitando com isto a disseminação
da praga de áreas mais velhas para as mais novas;
Ø Destruir restos de culturas, imediatamente, após a colheita;
Ø Manter a área limpa, se possível, trinta dias antes do plantio;
Ø Plantas armadilhas. Áreas com culturas preferidas pela mosca-branca,
como o pepino e a berinjela, na qual serão aplicados inseticidas
sistêmicos a partir do aparecimento dos primeiros adultos. Estas plantas
deverão ser inutilizadas após a colheita da cultura principal;
Ø Sementes de boa qualidade e de alto poder germinativo. Mesmo não
sendo resistente a mosca-branca são fundamentais para que a planta
suporte um maior nível populacional.;
Ø Formar os viveiros de mudas distantes de culturas infestadas,
proteger a sementeira com tela, tecido ou plástico e com controle
químico;
Ø Pulverizar as mudas antes do transplante;
Ø Utilizar armadilhas adesivas por volta da área cultivada;
Ø Aumentar a densidade de plantas o que permitirá eliminar aquelas
que apresentarem sintomas de viroses;
Ø Utilizar coberturas repelentes à mosca-branca (plástico preto ou
prateado, palha de arroz, restos vegetais provenientes de capina)
Ø Fazer rotação de culturas
As medidas acima reduzem a incidência da mosca-branca, porém,
não elimina a utilização do controle químico. Este é o método mais
utilizado, no entanto, devido a grande capacidade reprodutiva deste
inseto registra-se o aparecimento, em curto prazo, de populações
resistentes, por este motivo o agricultor deve observar os seguintes
pontos:
Ø No caso de alta infestação da praga, o controle químico deve ser
iniciado logo após o transplantio e ser repetido durante os 30 dias
seguintes, utilizando-se produtos seletivos;
Ø Não aplicar inseticidas reguladores de crescimento de insetos mais de
uma vez durante o ciclo de da cultura;
Ø Limitar a utilização de inseticidas em função dos níveis de
infestações;
Ø Diversificar os ingredientes ativos através de rotação entre diversos
grupos químicos;
Ø Manter em bom estado os equipamentos utilizados na aplicação dos
produtos;
Ø Usar a dosagem indicada pelo fabricante e a quantidade de água
adequada;
Ø Realizar as pulverizações entre 6:00 e 10:00 horas ou a partir das
16:00 horas, evitando a rápida evaporação de água e a degradação dos
produtos;
Ø Obedecer ao período de carência dos produtos para realizar a
colheita;
Ø Quando observar que o produto aplicado não teve o efeito esperado,
apesar de ser recomendado para o controle da praga, contactar o
agrônomo da Casa da Agricultura local.
Bibliografia Consultada
FRANÇA , F.H.; VILLAS BOAS, G. L. & CASTELO BRANCO, M. Ocorrência
de Bemisia argentifolii Bellows & Perring (Homóptera: Aleyrodidae)
no Distrito Federal. An. Soc. Entomol. Bras., 25: 369-372, 1966..
254
HAJI, F. N. P.; MATTIS, M. A. DE A.; BARBOSA , F. R. & ALENCAR, J. A.
1998. Estratégias de controle da mosca branca Bemisia argentifolii
Belows & Perring, 1994. Apostila do curso sobre mosca branca,
promovido pela EMBRAPA-Algodão. Campina Grande/Pb. 20p.
HILJE, L. 1996. Metodologias para el estudio y manejo de moscas
blancas y geminivírus . Turrialba: CATIE. Unidad de Fitoprotección.
150p.
HILJE, L. 2000. Prácticas agrícolas para el manejo de Bemisia tabaci.
Manejo integrado de plagas 36: 22-30.
LOURENÇÃO, A. L & NAGAI, H. 1994. Surtos populacionais de Bemisia
tabaci no Estado de São Paulo. Bragantia, 53: 53-59.
VILLAS BÔAS, G. L.; FRANÇA, F. H.; ÁVILA , A. C. DE; BEZERRA , I. C.
1997. Manejo integrado da mosca-branca Bemisia argentifolii.
EMBRAPA/Hortaliças, Circular Técnica nº 9, 10p.
M ANEJO DE PRAGAS EM CULTURAS DE TOMATE E PIMENTÃO
Pesquisadora Científica Silvia De Lamonica Imenes
Eng. Agrônoma, Centro Sanidade Vegetal, Instituto Biológico, São
Paulo, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898,CEP
04010-970, Tel. (11) 5087 1705. E- mail: [email protected]
1. Introdução
Para atender as exigências quanto à sustentabilidade e à qualidade
dos produtos agrícolas e do meio ambiente, aconselha-se incorporar os
conceitos da Agroecologia e do Manejo Integrado de Pragas às
metodologias do controle fitossanitário. Sob este enfoque, insetos e
ácaros fitófagos são considerados pragas apenas quando atingem níveis
populacionais suficientes para causar danos econômicos. Isto ocorre em
decorrência de um desequilíbrio ambiental, que cria um meio favorável à
população de insetos pragas e desfavorável à planta e à população de
insetos benéficos que coexiste no ecossistema.
Ecossistemas equilibrados tendem a apresentar menos problemas
fitossanitários. Assim, plantas mantidas em ambientes diversificados,
com boas condições físicas, químicas e biológicas de solo e bem
adaptadas às condições climáticas locais, apresentam muito boa
resistência ao ataque de pragas. Desta forma, devemos considerar
atentamente as possibilidades de adequação do sistema produtivo, além
das possibilidades de utilização das medidas culturais e/ou mecânicas que
possam funcionar como técnicas preventivas ou curativas de controle.
Para a Agroecologia, os mecanismos de reequilíbrio do sistema
produtivo englobam os seguintes fatores principais:
Ø o aumento da biodiversidade, para preservar e ampliar os nichos de
inimigos naturais.
Ø a recuperação da biomassa do solo, pela adição de matéria orgânica e
adubos verdes.
Ø a nutrição vegetal adequada, pela eliminação dos fertilizantes de alta
solubilidade.
O Manejo Integrado de Pragas (MIP), tem como principal
objetivo a racionalização do uso de produtos químicos na agricultura,
visando a redução dos custos de produção e a proteção do equilíbrio
biológico do ambiente. A idéia de se elaborar uma metodologia de
manejo
surgiu
em
resposta
aos
problemas
gerados
pelo
uso
indiscriminado e abusivo de inseticidas que, interferindo no equilíbrio do
256
agroecossistema, tem acarretado dificuldades no controle das pragas tais
como:
Ø ressurgência de pragas em picos populacionais incontroláveis, devido
à eliminação dos inimigos naturais pelo uso de inseticidas não seletivos.
Ø aparecimento de pragas secundárias que originalmente estariam
sendo controladas pelos inimigos naturais eliminados.
Ø seleção de populações pragas resistentes ao controle, devido ao uso
inadequado e à repetição de produtos de mesmo princípio ativo e/ou
mecanismo de ação.
As táticas de MIP abrangem fundamentalmente o monitoramento
das pragas-chaves da cultura e a adoção de medidas preventivas e
alternativas, na tentativa de relegar o uso de produtos químicos como
última opção de controle. Para tanto determina os seguintes passos:
Ø conhecimento prévio das pragas-chaves e de seus inimigos naturais
Ø amostragem periódica das populações de pragas e inimigos naturais
Ø determinação do “Nível de Tolerância” da cultura, ou seja , que
população da praga a planta suporta sem apresentar prejuízos
econômicos, estabelecendo-se o “Nível Econômico de Dano” ou “Nível
de Ação” para o controle
Ø tomada de decisão para o controle
Ø escolha do método de controle
Ø utilização de medidas preventivas e/ou alternativas
Ao incorporar os conceitos da Agroecologia à metodologia do
MIP pode-se dizer que para a obtenção de culturas com um bom estado
fitossanitário deve-se observar os seguintes procedimentos básicos:
escolha de variedades, manutenção do bom estado nutricional da cultura,
reconhecimento das pragas chaves e inimigos naturais, monitoramento
periódico das pragas e inimigos naturais e adoção de medidas de controle
(alternativas e convencionais).
2. Escolha de Variedades
Num mesmo cultivo sugere-se a utilização de mais de uma
variedade, evitando grandes áreas de monocultura, para preservação da
diversidade do agroecossistema. Esta diversidade visa manter baixas as
populações dos organismos fitófagos em função de sua preferência
alimentar.
Na escolha das variedades deve-se preferir as mais rústicas e mais
adaptadas às condições climáticas e edafológicas do local de plantio. As
sementes e mudas devem ser sadias e adquiridas de fornecedores
idôneos. Sempre que possível é interessante intercalar as faixas de cultivo
com outras espécies vegetais e rotacionar as culturas.
3. Manutenção do Bom Estado Nutricional da Planta
Sabe-se que culturas nutricionalmente equilibradas são mais
resistentes aos agentes patogênicos e parasitológicos. A manutenção da
estrutura e da fertilidade do solo resultam em maior aeração, retenção de
água
e
disponibilidade
de
nutrientes,
propiciando
um
melhor
desenvolvimento das raízes e maior vigor do vegetal. Os procedimentos
abaixo relacionados contribuem para elevar as qualidades físicas,
químicas e biológicas do solo:
Ø realização de análise do solo para auxiliar na reposição correta de
nutrientes essenciais para a cultura. Deve-se dar preferência aos
fertilizantes naturais e de menor solubilidade para reduzir as perdas por
lixiviação. Deve-se evitar os fertilizantes sintéticos e altamente solúveis
258
pois eles tendem a elevar a concentração de açúcares, aminoácidos e
nitratos livres na seiva das plantas, favorecendo as populações de insetos
fitófagos, principalmente os sugadores.
Ø adição de matéria orgânica na forma de compostos, estercos bem
curtidos e/ou material vegetal lignificado triturado (bagaço de cana,
capins, palhada de milho), pois fornecem nutrientes e melhoram a
disponibilidade dos já existentes, além de contribuírem para melhor
estrutura do solo.
Ø uso de adubos verdes que fornecem nitrogênio e melhoram a
estrutura do solo em maiores profundidades, devido a ação das raízes. Os
adubos verdes, além de fornecerem nutrientes, são excelentes
escarificadores.
Ø utilização de cobertura morta para proteger o solo contra os extremos
de temperatura e os impactos de chuvas fortes, o que resulta na
manutenção de uma boa estrutura do solo. Além disso, a cobertuta morta
evita perdas de água, reduz a germinação de plantas silvestres e auxilia
na manutenção de microrganismos benéficos.
4. Reconhecimento das Pragas
Ø Vetores de vírus: são sugadores de seiva e limitantes até os 60 dias
após a germinação; transmitem o vírus a partir das picadas de prova,
portanto sua simples presença já determina o nível de ação.
Ø Pulgões ou afídeos (Hemiptera: Aphididade): Myzus persicae: vetor
das viroses do “topo amarelo, amarelo baixeiro, mosaico Y e mosaico
comum”.
Ø Mosca branca (Hemiptera: Aleyrodidae): Bemisia tabaci e Bemisia
argentifolii: transmissoras da virose do “mosaico dourado”
Ø Cigarrinhas (Hemiptera: Cicadelidae): Agallia albidula, Agalliana
ensigera e A. sticticollis: vetoras do “enrolamento das folhas”.
Ø Tripes (Thysanoptera: Thripidae): Frankliella schulzei: transmissor
do vírus do “vira cabeça”. Thrips tabaci e Frankliniella ocidentalis
também transmitem viroses, mas são menos frequentes. Thrips palmi é
uma espécie extremamente polífaga, recém introduzida no Brasil.
Ø Traças broqueadoras e minadoras (Lepidoptera: Gelechiidae): Tuta
absoluta e Phthorimaea operculella: as lagartas minam folhas e
broqueiam os ponteiros, frutinhos novos e maduros.
Ø Lagartas broqueadoras de frutos (Lepidoptera): Neoleocinodes
elegantalis
(Piralydae):
as
lagartas
penetram
nos
frutos
em
desenvolvimento e broqueiam seu interior. Heliothis zea (Noctuidae):
“lagarta da espiga do milho”, se alimenta dos frutos.
Ø Mosca minadora de folhas (Diptera: Agromyzidae): Liriomyza
sativae faz picadas de prova, alimentação e oviposição no tecido vegetal;
as larvas minam as folhas, alimentando-se do parênquima foliar e
diminuindo a área fotossintética; ocasionam necroses e danificam os
tecidos condutores de seiva, o que provoca a queda prematura das folhas.
5. Reconhecimento dos Inimigos Naturais
Os
inimigos
naturais
representam
a
fauna
benéfica
do
agroecossistema, sendo significativamente favorecidos pela manutenção
da biodiversidade local e pelo uso reduzido e seletivo de produtos
químicos. O controle de pragas por meio de agentes biológicos pode
ocorrer naturalmente, por meio da fauna já existente, ou por sua
introdução na cultura; os agentes biológicos podem ser encontrados entre
os insetos, ácaros, aranhas, nematóides, fungos, bactérias e vírus. Os
inimigos naturais são denominados parasitóides quando completam seu
260
ciclo vital em um único hospedeiro, predadores quando se alimentam de
vários indivíduos até completarem seu ciclo vital e patógenos quando
constituem microrganismos inferiores e parasitas.
Ao tomar decisões para o controle de pragas deve-se estar atento
para a existência das espécies entomófagas que devem ser preservadas.
-Ordem Hymenoptera:
*Formigas predadoras: Solenopsis sp. e Pheidole sp. (predadores
inespecíficos).
*Vespas predadoras: Polistes sp., Polybia spp., Bracygastra lecheguana,
Protonectarina silveirae (predam lagartas); Scutellista sp. (preda ovos de
cochonilhas).
*Microvespas parasitóides: Apanteles sp., Calliephialtes sp., Campoletis
sp., Microcarops sp. e Bracon sp. (parasitam lagartas); Aphelinus sp. e
Aphidius sp. (parasitam pulgões); Aspiditiophagus sp. e Neodusmetia sp.
(parasitam cochonilhas) Telenomus sp. e Trichogramma sp. (parasitam
ovos de lepidópteros); Tetrastichus sp., Tripoctenus sp. e Dasyscapus sp.
(parasitam aleirodídeos e tripes); Diglyphus sp., Chrysocharis sp.,
Chrysotomya sp. (parasitam moscas minadoras).
-Ordem Coleóptera: Besouros predadores: Calosoma sp., Callida sp. e
Lebia sp. (predadores inespecíficos); Azya sp.; Pentilia sp. e Rodolia sp.
(predam cochonilhas); Coleomegilla sp. (predam pulgões e ovos de
lepidópteros); Cycloneda sp., Eriopsis sp. e Olla sp. (predam pulgões).
-Ordem Diptera
*Moscas predadoras: Pseudodoros sp. (larvas predam pulgões) e Syneura
sp. (larvas predam cochonilhas).
*Moscas parasitóides: Lixcophaga sp., Metagonistylum sp.; Paratheresia
sp. e Xanthozoma sp. (larvas parasitam lagartas); Sarcodexia sp. (larvas
parasitam besouros).
-Ordem Hemiptera - Heteroptera
*Percevejos predadores: Macrotracheliella sp. (predam tripes); Nabis sp.
(predam ovos de insetos e ninfas de percevejos); Geocoris sp. e Orius sp.
(predam ácaros, tripes, lagartas, ninfas de percevejos e cigarrinhas,
pulgões e ovos em geral); Zelus sp. (predam ovos, besouros, moscas,
pulgões, cochonilhas e lagartas); Alcaeorhynchus sp. (predam lagartas,
larvas de besouros e ninfas de percevejos).
-Ordem Thysanoptera: Espécies de tripes predadoras alimentam-se de
ácaros, pulgões, cochonilhas e tripes: Franklinothrips vespiformis e
Scolothrips sexmaculatus (predam tripes).
-Ordem Dermaptera: Tesourinhas predadoras: Doru sp. e Labidura sp.
(predadores inespecíficos).
-Ordem Neuroptera: as larvas são conhecidas como "bichos lixeiros":
Corydalus sp., Mantispa sp., Chrysopa sp., Ceraeochrysa sp. e
Haplogenius sp. (predadoras inespecíficas).
-Ordem Odonata: Libélulas são predadoras inespecíficas.
-Ordem Acari: Muitas famílias de ácaros possuem representantes
entomófagos, como Phytoseiidae que alimenta-se predominantemente de
ácaros fitófagos tetraniquídeos e eriofídeos: Phytoseiulus macropilis
preda ovos do ácaro Tetranychus urticae. Aranhas são eficientes
predadoras inespecíficas de larvas e adultos de insetos.
-Ordem Nematoda: Espécies de nematóides são parasitas de insetos:
Agamermis sp. e Mermis sp. parasitam gafanhotos e Neoaplectana sp.
parasita larvas de coleópteros e lagartas.
262
-Fungos, Bactérias e Vírus: Beauveria sp. age sobre coleópteros, lagartas
e tripes, Nomuria sp. age sobre lagartas, Cladosporium sp. age sobre
pulgões, Metarrhizium sp. age sobre cigarrinhas, Myriangium sp.,
Nectria sp., Verticillium sp., Sphaerostille sp. e Acrostalagmus sp. agem
sobre cochonilhas. Bacillus thuringiensis vem sendo usado com sucesso
no controle de algumas lagartas. Espécies de Baculovirus têm sido
utilizadas para o controle de lagartas específicas.
6. Monitoramento das Pragas-Chaves e Inimigos Naturais
O monitoramento constitui-se na contagem ou amostragem do
número de pragas-chaves e inimigos naturais presentes (ovos, ninfas ou
larvas, adultos e danos causados) com o fim de avaliar-se o equilíbrio
entre estas duas populações. As contagens devem ser periódicas e, em
função de seus resultados serão tomadas as decisões sobre o controle,
com intuito de reduzir as populações de pragas e preservar as de inimigos
naturais. As amostragens podem ser feitas por avaliações visuais ou com
utilização de armadilhas.
Outro parâmetro que influi na decisão sobre o controle é o nível
de suporte da cultura ou seja, o nível de dano econômico ou nível de
ação.
7. Adoção de Medidas de Controle
Medidas Alternativas
Ø utilização de faixas com plantas atrativas às pragas que funcionem
como iscas, possibilitando o controle localizado (taiuiá: atrativo para
Diabrotica sp.)
Ø utilização de faixas com plantas que funcionem como barreiras (sorgo
granífero, milho e crotalária, são barreiras para o trânsito de pulgões e
propiciam alimento e abrigo para predadores inespecíficos).
Ø utilização de faixas com plantas repelentes a insetos tais como
gerânio, hortelã e tagetes.
Tabela 1: Pragas, sugestões de amostragens e níveis de ação: (adaptado
de GRAVENA , 2000)
Amostragem
(2x
/ Nível de Ação
semana)
Pragas-chaves
Vetores de viroses
(até 60 dias)
Frankliniella
schulzei (tripes)
Myzus
persicae
(pulgão)
Bemisia
tabaci
(mosca branca)
Traça de folhas,
ponteiros e frutos
(todo o ciclo)
Tuta absoluta
Broca de frutos
Neoleucinodes
elegantalis
Pragas secundárias
Broca de frutos
Heliothis zea
Mosca minadora de
folhas
Liriomyza sp.
Batedura de ponteiros em 1 vetor por ponteiro
caixas de PVC (20x8cm)
com fundo branco
Larvas vivas nas folhas 25% de folha s com
do ponteiro
larvas vivas
Exame das pencas para
% de pencas com ovos
5% de pencas com
ovos
Exame das pencas para 5% de pencas com
% de pencas com ovos
ovos
Presença de ovos nas 4 ovos / 100 folhas
folhas do terço superior
Larvas vivas nas folhas 25% de folhas com
dos ponteiros
larvas
264
Ø manutenção de bordaduras com vegetação nativa, intercaladas com as
faixas de cultivo, para abrigo dos inimigos naturais.
Ø cobertura do solo com superfícies que reflitam os raios ultra violetas,
que repelem as populações aladas de pulgões (palha de arroz, papel
laminado).
Ø revolvimento do solo antes do plantio para eliminação dos ovos,
larvas e/ou pupas de pragas como paquinhas, lagarta rosca, mosca
minadora.
Ø rotação de culturas com vegetais de famílias diferentes, para quebrar
o ciclo das pragas.
Ø utilização de armadilhas e iscas atrativas visando a redução da
população de pragas. Armadilhas adesivas e bandejas com água são
eficientes para captura de tripes quando pintadas de azul, amarelo ou
branco e, se pintadas de amarelo são eficientes para coleta de pulgões,
moscas brancas e dípteros minadores. A cor azul tem se mostrado
repelente para mosca branca. Armadilhas luminosas são eficientes para
captura de insetos de hábitos noturnos. Iscas atrativas à base de farelo de
trigo (1kg), melaço ou açúcar mascavo (100g) e inseticida fosforado ou
carbamato (100g), são eficientes no controle de pragas de solo como
grilos, paquinhas, lagarta rosca e larvas de besourinhos.
Ø uso de biofertilizante líquido (repelente e inseticida para pulgões,
tripes, cochonilhas, percevejos, etc).
Ø uso de extratos vegetais repelentes (tagetes ou pimenta que repelem
pulgões e tripes).
Ø uso de extratos vegetais inseticidas (piretro, fumo, alamanda, arruda,
coentro ou tagetes apresentam efeito sobre pulgões, tripes, cochonilhas e
ácaros).
Ø antecipação ou atraso na época de plantio podem auxiliar na redução
da população de pragas.
8. Medidas Convencionais
Restringe-se ao uso de inseticidas químicos, que deve ser
considerado sempre como a última opção de controle. Deve ser efetuado
apenas por mão de obra habilitada, com uso de equipamentos de proteção
individual e utilização de equipamentos de aplicação adequados e bem
calibrados. A escolha dos produtos deve se restringir àqueles que
possuam registro para a cultura, observando-se os seguintes cuidados:
preferir os produtos de menor DL50 ; preferir os mais seletivos aos
inimigos naturais, ou seja, aqueles mais específicos; seguir rigorosamente
as dosagens e freqüências recomendadas na bula; alternar produtos com
diferentes princípios ativos e mecanismo de ação; nunca repetir mais que
duas vezes o mesmo produto; fazer as aplicações da forma mais
localizada possível; - intercalar áreas tratadas e não tratadas.
9. Bibliografia
BONILLA , J. A. Fundamentos da agricultura ecológica, São Paulo,
Nobel, 1992.
CROCOMO, W.B. (coord.). Manejo de pragas. Botucatu, FEPAF UNESP, 1984, 240p.
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GRAVENA , S. Manejo integrado de pragas do tomateiro. In: Congresso
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GUERRA , M. de S. Alternativas para o controle de pragas e doenças
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PRIMAVESI, A. Agricultura sustentável. Manual do produtor rural.
São Paulo, Nobel, 1992, 142p.
TRANI, P.E. & MACEDO, A.C. de (coords.) Conceitos e Técnicas do
Manejo Integrado de Pragas e Doenças das Culturas. São Paulo,
Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 2000, v.1, 40p, Manual
Técnico, Série Especial.
TRANI, P.E. & MACEDO, A.C. de (coords.) Manejo Integrado de Pragas
e Doenças do Tomateiro. São Paulo, Secretaria de Agricultura e
Abastecimento, 2000, v.6, 66p, Manual Técnico, Série Especial.
DOENÇAS FÚNGICAS DO TOMATEIRO E DO PIMENTÃO
Pesquisador Científico Celso Sinigaglia
Eng. Agrônomo, Laboratório de Fitopatologia, Centro experimental do
Instituto Bioló gico, Instituto Biológico. Cx Postal 70. CEP 13001-970,
Campinas SP, Tel (19) 3252-1657. E- mail: [email protected]
1. Doenças fúngicas do tomateiro
Introdução
O tomateiro é uma cultura que ocupa um lugar de destaque no
estado de São Paulo, sendo a hortaliça com maior volume de
comercialização. Por ser uma cultura de grande adaptação climática, é
cultivada em diversos municípios paulistas representando mais de 50 %
da produção brasileira.
A cultura do tomateiro é dificultada em razão da ocorrência de
pragas e doenças que requerem o uso de defensivos agrícolas, o que
representa cerca de 17% do custo de produção, sendo grande parte
afetada por doenças fúngicas.
a) Requeima - Phytophthora infestans
A requeima é a mais destrutiva doença do tomateiro podendo
dizimar culturas inteiras em poucos dias. O agente causal, o fungo
Phytophthora infestans, exige determinadas condições climáticas para o
seu desenvolvimento. A alta umidade relativa do ar (90-100%), com dias
nublados e chuviscos, juntamente com baixas temperaturas de 20ºC, são
condições predisponentes ao desenvolvimento da doença. À temperatura
de 15o C existe aumento na intensidade da doença, devido à germinação
indireta dos esporângios.
268
Nessas condições, extremamente favoráveis, podem-se observar
nas lesões da página inferior das folhas as estruturas do patógeno
formadas por esporangióforos e esporângios, com aspecto cotonoso
cinza-claro. Toda parte aérea da planta pode ser afetada
Nos folíolos, as lesões apresentam forma irregular com aspecto de
tecido verde-escuro encharcado. Com o progresso da doença, as lesões
aumentam de tamanho, tornando-se de cor parda com tendência ao
secamento. Nas hastes, a infecção produz manchas longitudinais que
acarretam comprometimento dos tecidos terminais. Os frutos infectados
adquirem tonalidades amarronzadas a castanhas, podendo evoluir
atingindo a totalidade dos frutos da planta. Como não se dispõe de
variedades e híbridos comerciais com resistência à doença, o controle
químico tem sido o mais utilizado e eficaz no combate à doença.
As medidas de controle químico devem ser preventivas com
fungicidas protetores, como Mancozeb, Chlorothalonil e Fluazinam.
Quando as condições ambientais estiverem muito favoráveis à doença,
deve-se utilizar os produtos sistêmicos específicos, tomando-se cuidado
com alternância entre protetores e sistêmicos.
Controle: evitar plantio próximo à cultura em final de ciclo; evitar
plantio em terrenos de baixadas úmidas, propícias ao acúmulo de ar frio;
destruir os restos de cultura; evitar o plantio em áreas onde a doença
tenha se manifestado intensamente; realizar rotação de culturas; evitar
plantio próximo às margens de rios e lagos e controle químico (Tabela
1.).
b) Pinta-preta ou mancha de Alternária:
É a doença mais comum do tomateiro, estando disseminada por
todas as regiões de plantio do país, podendo se manifestar em todas as
fases de desenvolvimento da planta. Pode causar grandes danos devido a
sua incidência nas folhas e frutos e, mais raramente, no caule. As lesões
aparecem primeiramente nas folhas mais velhas na forma de pequenas
pontuações pardo-escuras. Com a evolução da doença, aumentam de
diâmetro, tendendo a formatos ovalados ou circulares de coloração parda
com círculos concêntricos, tendendo a negros. Nas hastes, as lesões são
longitudinais e pardo-escuras. Nos frutos, as perdas podem ser diretas
ocasionadas pela podridão peduncular de formato circular, às vezes com
fendilhamento.
A doença é causada pelo fungo Alternaria solani (Ell. & Mont.)
Jones & Grout que, para seu desenvolvimento, exige condições
ambientais mais amplas que outras doenças de grande importância. A
faixa de temperatura de 24-30oC e a alta umidade relativa são suficientes
para que haja grande incidência na cultura. O fungo sobrevive em restos
de cultura e pode ser transmitido aderido à semente.
O controle químico segue as recomendações básicas para a
cultura com os fungicidas à base de Mancozeb e/ ou Chlorothalonil,
alternando, quando necessário, com os fungicidas recomendados do
grupo
triazóis.
Também
outros
fungicidas,
como
Iprodione
e
Procimidone, apresentam boa eficiência e podem ser aplicados
alternadamente com os produtos citados.
Controle: utilizar variedades resistentes; utilizar sementes sadias;
fazer rotação de culturas; adubar de forma equilibrada; preparar bem o
solo com aração profunda e controle químico (Tabela 1.).
270
c) Septoriose - Septoria lycopersici
A septoriose é uma doença muito freqüente, podendo causar
perdas elevadas devido a sua característica de atacar as folhas baixeiras,
expondo os frutos aos raios solares. As perdas são mais elevadas quando
o ataque se dá no início da cultura.
O fungo Septoria lycopersici, responsável pela doença, sobrevive
em restos de cultura e em algumas plantas daninhas. Os sintomas
ocorrem intensamente nas folhas, podendo ser notados também em
caules e pecíolos. As lesões apresentam-se em forma circular com
diâmetro em torno de 2mm, formado por tecido necrótico de bordos
escuros e centro cinza-claro, no qual pode-se observar a olho nu os
picnídios que formam as frutificações do patógeno. A coalescência das
lesões deixa aspecto de grande área necrosada. As condições
predisponentes à doença são alta umidade relativa com chuvas e
temperaturas de 20-25o C.
O controle químico preventivo da pinta-preta com os fungicidas
indicados é suficiente.
Controle: Rotação de culturas; evitar irrigação por aspersão;
destruir os restos de cultura; realizar adubação balanceada e controle
químico (Tabela 1.).
d). Mancha de Estenfílio - Stemphylium solani
A mancha de Estenfílio, embora ocorra em todas regiões
produtoras, é mais limitada em relação às outras doenças foliares. Ao
contrário da septoriose, inicia-se pelas folhas superiores causando
pequenas lesões pardo-escuras distribuídas no limbo foliar, mais visíveis
no dorso das folhas. Com a evolução da doença, tornam-se necróticas de
formato irregular com bordos escuros, ficando com o centro claro e seco,
e normalmente apresentam rupturas que dão aspecto de folha perfurada.
O fungo, agente causal da doença, Stemphylium solani, exige para
seu melhor desenvolvimento temperaturas de 25-28o C e alta umidade. O
patógeno sobrevive em restos de cultura e outras solanáceas ocorrentes.
A utilização de variedades resistentes permite controle eficaz. Quanto ao
controle químico, os mesmos fungicidas usados para a pinta-preta são
suficientes.
Controle: utilizar variedades resistentes; eliminar restos de
cultura; fazer rotação de culturas e controle químico (Tabela 1.).
e) Murcha de Fusarium - Fusarium oxysporum f. sp lycopersici.
A murcha de Fusarium é de distribuição generalizada em todos os
solos brasileiros, causando grandes prejuízos em plantios de cultivares
suscetíveis. É causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp lycopersici,
que é favorecido por temperaturas de 21-33oC, cujos sintomas se
manifestam inicialmente com amarelecimento das folhas inferiores, com
tendência a subir para as mais novas, seguido de murcha nas horas mais
quentes do dia, com recuperação no período fresco em sucessão até a
murcha irreversível. Normalmente, a infecção se dá unilateralmente, por
atingir os feixes vasculares, oriundos do sistema radicular infectado. Em
corte longitudinal na base do caule, pode-se observar os tecidos
vasculares afetados descoloridos no lado correspondente aos sintomas
visíveis do amarelecimento das folhas. Pode-se diferenciar da murcha de
Verticillium pela descoloração mais persistente e característica dos
reflexos nas folhas amarelecidas.
272
Como se trata de fungo habitante de solo, sobrevive neste sobre a
forma de conídios e por períodos mais longos através de estruturas de
resistência, os clamidósporos, motivo pelo qual se torna inviável o seu
controle. Por isso, a utilização de variedades resistentes é a melhor
maneira de controlar a doença. A rotação de culturas por 2 a 4 anos é
recomendada para reduzir a fonte de inóculo, porém não elimina a
população do patógeno.
O fungo apresenta raças fisiológicas com predominância da raça
1, existindo ainda as raças 2 e 3.
Controle: plantar cultivares resistentes; utilizar sementes sadias;
evitar a disseminação através de implementos agrícolas nas áreas muito
infestadas; ter cuidado com a água de enxurradas e de irrigação e rotação
de culturas.
f) Murcha de Verticillium
Essa doença também é causada por fungo habitante de solo com
distribuição generalizada parasitando muitas espécies de planta. A
murcha de Verticillium tem sido ultimamente a doença fúngica de solo
mais freqüente nas culturas estaqueadas, devida à sucessão de plantios
nas áreas produtoras. Os danos causados se refletem diretamente na
quebra de produção, desde a primeira penca. Isso ocorre porque o
patógeno coloniza o sistema vascular, impedindo a translocação de
nutrientes, fazendo com que a planta não responda à adubação,
produzindo, conseqüentemente, frutos de pequeno tamanho.
O sintoma mais evidente é a descoloração do sistema vascular
próximo ao colo, com reflexo de murcha na planta nas horas mais
quentes do dia, que se recupera no período noturno e assim
sucessivamente, ficando a planta debilitada, mas geralmente sem morte.
Outra característica marcante da doença é o amarelecimento das
folhas
mais
velhas,
às
vezes
em
formato
irregular,
mas
predominantemente em forma de V invertido nos bordos dos folíolos,
seguido de necrose dos tecidos.
O fungo responsável pela doença é atribuído a duas espécies do
gênero Verticillum: Verticillium albo-atrum e Verticillium dahliae. Há
uma tendência de se atribuir a Verticillium dahliae pela abundância de
microescleródios produzidos pela espécie, redundando em aumento do
potencial do inóculo nos solos cultivados intensivamente.
O controle da doença só é viável com o uso de cultivares
resistentes; a rotação de culturas, embora necessária, é controvertida nas
regiões tradicionalmente produtoras por exigir períodos prolongados para
a redução de inóculo no solo.
Controle: utilizar variedades resistentes; fazer rotação com
culturas não-suscetíveis e eliminar plantas daninhas hospedeiras.
g) Tombamento:
Vários fungos habitantes de solo ou aderidos à semente podem
causar tombamento das mudas. Entretanto predominam os fungos do
gênero Pythium spp, Rhizoctonia solani e Phytophthora spp.
O tombamento de pré-emergência resulta em baixo (estande); em
pós-emergência, as plantas exibem sintomas ao nível do solo e pouco
acima com escurecimento, encharcamento e estrangulame nto dos tecidos
da planta com amarelecimento das folhas.
274
A doença no campo apresenta característica de morte em
reboleiras, ocorrendo principalmente em solos argilosos com excesso de
chuvas e água estagnada. O controle mais utilizado é o tratamento de
semente com fungicidas.
Controle: utilizar sementes sadias; fazer tratamento de sementes
com fungicidas recomendados; utilizar solo esterilizado para sementeira;
evitar encharcamento; drenar bem o solo e controle químico (Tabela 1.).
TABELA 1. - Fungicidas indicados para doenças na cultura do tomateiro
Doença
/
Patógeno
Tombamento
Pythium spp.
Phytophthora
spp
Pinta Preta
Alternaria solani
Fungicida
Septoriose
Septoria
lycopersici
Agrinose, Benlate 500, Bordamil, Bravonil 500,
Bravonil 750, CaptanSC, Cercobin 500, Cercobin 700,
Cerconil PM, Copidrol PM, Coprantol SC,Cupravit
azul, Cupravit verde, Culprozeb, Daconil 500, Daconil
BR. Dacostar 500, Dacostar 750, Derosal 500 SC,
Dithane PM, Ditahen SC, Folicur 200 CE, Fungiscan
700, Fungitox 500, Funguran 350, Funguran 500,
Hokko Cupra 500, Isatalonil, Manzate 800,
Apron
Agrinose, Amistar, Bordamil, Bravonil 500, Brfavonil
750,Captan 500 PM, Cerconil SC, Cobox, Cobre
Fersol, Cobre Sandoz, Combilan Pm, Coprantol SC,
Cupracit azul, Cupravit verde, Cupragarb 350,
Cupragarb 500, Coprozeb, Dacobre PM, Daconil 500,
Daconil BR, Dacostar 500, Dacostar 750, Dithane
PM, Persist SC, Folicur PM, Folicur 200 CE,
Frowcide 500, Fungitox 500, Funguran 350, Funguran
500, Garant, Hokko Cupra 500, Isatalonil, Isatalonil
50, Manzate 800, Reconil, Recop, Rovral, Rovral SC,
Score, Sportak 450 CE, Vanox 500 CE, Vanox 750
PM, Vitigram verde.
Metiltiofan, Orthocide 500,Score, Sportak 450 CE,
Tiofanato Sanachen 500 SC, Vanox 500 SC
Requeima
ou Agrinose, Blason 480 SC, Bordamil, Bravonil 500,
Mela
Bravonil 750, Captan 750, Captan 500 PM, Captan
Phytophthora
SC, Cobox, Cobre Sandoz, Copridol PM, Coprantol
infestans
SC, Cupravit azul, Cupravit verde, Cuprozeb, Curzate
M + ZN, Dacobre PM, Daconil 500, Daconil Br,
Dacostar 500, Dacostar 750, Dithane PM, Persist SC,
Folio, Fórum, Frowncide 500 SC, Fungitox 500,
Funguran 350, funguran 500, Garant, Hokko Cupra
500, Isatalonil 500 SC, Manzate 800, Orthocide 500,
Reconil, Recop, Ridomil – Mancozeb, Vanox 500 SC,
Vanox 750, Tatoo C, Vitigran azul e Vitigran verde
h) Oídio - Erysiphe cichoracearum
Não causa grandes problemas na tomaticultura, podendo ser
realizado o controle químico com fungicidas específicos quando forem
verificados os primeiros sintomas.
i) Oidiopsis - Leveillulla taurica
Pertencente à mesma família do oídio, a doença não tem se
manifestado em condições de campo na região sul, devido às condições
climáticas mais úmidas com precipitações pluviométricas distribuídas,
porém em plasticultura a doença chega a preocupar pelas condições
favoráveis de clima seco e quente.
A doença manifesta-se inicialmente nas folhas baixeiras,
atingindo rapidamente as mais novas. A massa pulverulenta do patógeno
forma-se levemente na página inferior da folha, tornando-se amarelada
na face superior com posterior necrose e queda das folhas. Na cultura do
pimentão, em estufas, essa doença já é preocupante, chegando a atingir a
planta toda em poucos dias.
276
2. Doenças Fúngicas do Pimentão
a) Murcha do pimentão (Phytophthora capsici)
Murcha do pimentão é a doença mais temida nessa cultura no
Estado de São Paulo.Sua ocorrência é freqüente nas épocas quentes e
chuvosas do ano quando há condições propícias à doença, o que pode
levar à perda total da cultura.
O agente etiológico da doença, o fungo Phytophthora capsici, é
tipicamente habitante de solo, e encontra-se amplamente distribuído pela
gama de hospedeiros, as solanáceas e cucurbitáceas.A doença se
manifesta em qualquer fase de desenvolvimento da planta.Nas mudas
causa damping-off, e nas plantas adultas, podridão das raízes e colo,
ocasionando murcha e morte das plantas. A necrose no caule e ramos é
de coloração parda a marrom escura de tamanho indefinido circundando
toda área afetada. Nas folhas e frutos as lesões apresentam a forma de
tecido encharcado. Sob condições favoráveis de ambiente, essas lesões
ficam recobertas por um mofo branco constituído por micélio e
esporângios do fungo.
Como se trata de fungo habitante do solo, o controle torna-se
difícil depois que se estabelece na cultura. As medidas recomendadas são
em caráter preventivo como: utilização de mudas sadias; plantio em áreas
onde sabidamente não tenha histórico de ocorrência da doença; evitar
solos encharcados e controle químico.
Quanto ao controle químico são indicados fungicidas protetores
como mancozeb, chlorothalonil e oxicloreto de cobre que não apresentam
eficiência no controle da doença. O fungicida sistêmico metalaxyl+
mancozeb utilizado experimentalmente tem se mostrado promissor
quando aplicado em jato dirigido ao colo da planta, porém não se
encontra registrado para a cultura (Tabela 2.).
b) Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides)
É uma doença importante sob condições de alta umidade,
causando sérios prejuízos porque ataca diretamente os frutos causando
perdas na produção. Manife sta-se em qualquer idade da planta inclusive
na fase de muda causando o tombamento.
O fungo ataca toda parte a aérea da planta, mas nos ramos e nas
folhas ocorrem em baixa intensidade. É no fruto que a doença se
manifesta intensamente com sintomas típicos que apresentam lesões
circulares, deprimidas, de diâmetro variável.Em condições de alta
umidade forma-se uma massa rósea constituída pelos conídios do fungo.
A doença é favorecida por alta umidade, períodos chuvosos e
temperatura entre 20-25 o C. O fungo é disseminado pela água de chuva e
vento, e pode ser transmitido por sementes. Sobrevive em restos de
cultura.
Controle: as medidas recomendadas para controle são: rotação de
cultura; utilização de sementes sadias, evitar plantios muito densos;
destruição dos restos de cultura; diminuição de frutos afetados e controle
químico.Os fungicidas protetores como mancozeb, chlorothalonil e
oxicloreto de cobre devem ser usados preventivamente em pulverizações
de condução de cultura. Quando se verificar aumento da intensidade de
doenças, utilizar o fungicida sistêmico Amistar.
c) Míldio pulverulento (Oidiopsis sicula)
278
Esta doença vem se tornando a mais destrutiva na cultura do
pimentão no sistema de plasticultura. Causada pelo fungo Leveillula
taurica foi encontrado em sua forma anamórfica de Oidiopsis sicula
causando sérios prejuízos em plantio de pimentão desenvolvido pelo
sistema de plasticultura na região de Itupeva SP (l995). Sua ocorrência é
favorecida pelas condições ambientais desse sistema de plantio,
caracterizada por ausência de chuvas.
Os sintomas da doença são observados na face inferior das folhas
onde se desenvolvem lesões de coloração clara com aspecto pulverulento
que corresponde ao micélio e frutificação do fungo. Na face superior
apresentam manchas amareladas, correspondentes às da face inferior.
Com o desenvolvimento da doença, as lesões tornam-se necróticas com
posterior desfolha da planta. A infecção inicia-se normalmente pelas
folhas mais velhas e rapidamente avançam para as superiores.
A doença é favorecida por baixa umidade e temperatura com
ótimo em 26o C. O patógeno tem uma ampla gama de hospedeiros entre
plantas cultivadas e silvestres, como os gêneros Capsicum, Hibiscus,
Lycopersicum, Cynara, Allium, Sonchus, etc.
Controle: as medidas que deve m ser adotadas restringem-se a:
rotação de cultura por l ano, evitando-se assim plantios sucessivos e
evitar o excesso de adubação nitrogenada. O controle químico é o mais
indicado pelas características da família do patógeno, porém não existem
fungicidas com boa ação de controle, registrados para a cultura do
pimentão.
d) Mancha de Cercospora (Cercospora capsici)
A mancha de cercospora é uma doença comum do pimentão. A
sua ocorrência é ocasionada por condições predisponentes de solos com
deficiências nutricional e hídrica que acarretam plantas de pouco vigor.
A doença provoca manchas nas folhas, de formato circular,
pardas, de centro cinza claro com aproximadamente l cm de diâmetro. No
centro das lesões são encontrados os conidióforos e conídios do fungo, e
com a coalescência das lesões, parte dos tecidos necrosados desprendese. Sob condições de alta umidade e temperatura pode ocorrer a desfolha
da planta, acarretando perda do vigor e conseqüentemente, da qualidade
dos frutos.A doença pode atacar o caule e ramos, mas nunca os frutos.
Controle: as medidas gerais de controle são: adubação
equilibrada; evitar o desequilíbrio hídrico e eliminação dos restos de
cultura. Para o controle químico os fungicidas normalmente utilizados na
cultura do pimentão são sufic ientes.
TABELA 2. Fungicidas indicados na cultura do pimentão.
Amistar , Bravonil 750 PM, Cupravit azul BR, Cupravit verde, Cuprozeb,
Dacobre PM,Daconil BR, Dacostar 500, Dacostas 750, Dithane PM,
Garant, Fungitol azul, Fungitol verde, Isatalonil, Manzate BR , Persist SC
, Rovral, Rovral SC, Score, Vanox 500, Vanox 750 PM.
3. Literatura Consultada
ANSANI, C.V.; MATSUOKA , K. Sobrevivência de Phytophthora capsici.
Fitopatol. Bras., 8: 269-272, 1983.
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Lycopersicum esculentum. Fitopatol. Bras., v. 10. 1985, p.270.
KIMATI, H., GIMENES -FERNANDES , N., SOAVE, J., KUROZAWA,C.,
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BRIGNANI NETO, F. & BETTIOL, W. Guia de fungicidas agrícolas. Recomendações por cultura. v. 1 2.ed. Jaboticabal, GPF, 1997, 225p.
KUROZAWA , C. & PAVAN, M.A. Doenças das solanáceas (berinjela, jiló,
pimentão e pimenta) In: GALLI, F (coord). Manual de Fitopatologia Doenças de plantas cultivadas, São Paulo, Ceres, v.2, p.665-667,
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KUROZAWA , C. & PAVAN, M.A. Doenças do tomateiro Lycopersicum
esculentum Mill.) In: KIMATI, H. et al. Manual de Fitopatologia Doenças das plantas cultivadas, São Paulo, Ceres, v.2, p. 670-719,
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LOPES , C.A., SANTOS, J.R.M. DOS. Doenças do tomateiro. 1994, 61p.
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causadas por fungos em pimentão e pimenta. Inf. Agropec., 18: 64-66,
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MIZUBUTI, E.S.G. & BROMMONSCHENKEL, S.H. Doenças causadas por
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fungo pouco estudado no Brasil. In: 8o RAIB, Arq. Inst. Biol., 62: 57,
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WALKER,J.C. Diseases of vegetables crops . New York, Mc Graw- Hill
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CONTROLE DE INSETOS VETORES DE VÍRUS EM HORTALIÇAS
Pesquisador Científico Fernando Javier Sanhueza Salas
Biólogo, Centro de Sanidade Vegetal, Instituto Biológico, Av.
Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010-970,
São Paulo, SP. Tel.: (11) 5087 1779, Fax: (11) 5579 0824. E- mail:
[email protected]
As hortaliças são plantas de ciclo rápido que alcançam alto valor
comercial, cultivadas intensamente durante o ano todo. Apresentam,
comumente, problemas como o surgimento de patógenos (fungos,
bactérias e vírus) e insetos-praga que provocam tanto danos diretos,
quanto indiretos (injeção de toxinas e transmissão de doenças). Por estes
motivos torna-se evidente a necessidade de utilização em larga escala de
produtos com a finalidade de controlar pragas e doenças e minimizar
perdas, resultando em iminente risco de contaminação tanto do
consumidor quanto do aplicador. Há de se lembrar, ao abordar o tema,
que o uso de defensivos não deve ser tomado como única alternativa de
controle. Sabe-se que as doenças causadas por vírus não possuem formas
de controle depois de instalada a infecção, portanto, as medidas devem
ser preventivas e de preferência iniciando-se antes do plantio e
estendendo-se até a colheita.
282
Atualmente, são reconhecidos 38 famílias e gêneros de vírus não
agrupados taxonomicamente; destes, 31 têm pelo menos um dos seus
membros disseminados por inseto-vetor. Ainda de acordo com a
literatura, a transmissão natural de cerca de 50% dos fitovírus é
dependente de vetores. Estes números deixam clara a importância dos
vetores na epidemiologia das doenças causadas estes patógenos (GRAY &
BANERJEE, 1999; VAN REGENMORTEL et al., 2000).
Entre as principais doenças causadas por vírus, que ocorrem em
hortaliças, merecem destaque nas culturas de tomate e pimentão os
tospovírus, com suas diferentes espécies (TCSV, GRSV, TSWV, CSNV)
e o mosaico do tomateiro (vírus Y da batata - PVY); em cucurbitáceas o
vírus do mosaico do pepino (CMV), e o mosaico amarelo da abobrinha
(ZYMV); na cultura de batata o vírus do enrolamento da folha da batata
(PLRV) e o vírus Y da batata (PVY). Em alface predominam o vírus do
mosaico (LMV) e os tospovírus, além dos vírus do mosaico comum
(BCMV), o mosaico dourado (BGMF) e o mosaico-em-desenho
(BMDeV) em feijoeiro, entre outros menos freqüentes.
A transmissão dos vírus de plantas, na natureza, ocorre de várias
maneiras: por contato, por sementes, pólen, órgãos de propagação
vegetativa, cipó-chumbo (Cuscuta sp.) e, principalmente, por vetores.
Vetores são agentes biológicos de disseminação de vírus, podendo ser
encontrados entre os artrópodos, nematóides e fungos de solo. No
entanto, segundo COSTA (1998): vetor é qualquer organismo que no seu
processo natural de alimentação é capaz de retirar o vírus da planta
doente e, na alimentação subsequente, fazer sua inoculação em plantas
sadias.
Há três ordens que incluem a grande maioria dos insetos- vetores:
Homoptera,
Homoptera
Thysanoptera
é
dividida
e
em
Coleoptera.
duas
Atualmente,
subordens:
a
Ordem
Auchenorryncha
e
Sternorryncha, sendo a última responsável pela disseminação natural de
aproximadamente 90% dos vírus transmitidos por insetos. Esta abrange
os afídeos ou pulgões (Aphididae), as cigarrinhas (Cicadellidae e
Delphacidae), as "moscas" brancas (Aleyrodidae) e as cochonilhas
(Pseudococcidae). Na Ordem Thysanoptera, os vetores são os tripes
(Subordem Terebrantia, Família Thripidae). Na Ordem Coleoptera, a
Subordem Polyphaga compreende os besouros comedores de folhas,
onde os coleópteros-vetores se enquadram nas famílias Chrysomelidae,
Curculionidae, Coccinelidae e Meloidae (NAULT , 1997).
Algumas medidas preventivas de controle que são amplamente
empregadas estão relacionadas a seguir:
Ø Medidas de controle dirigidas às fontes de vírus
Ø Prevenção de fontes de infecção: diversos fitovírus podem, além de
serem transmitidos por insetos, ser propagados através de sementes ou
mesmo através de material propagativo (bulbos, bulbilhos, estacas,
rizomas etc), por isto é de suma importância que este material tenha uma
boa procedência, ou seja, certificado.
Ø Eliminação de focos de infecção: prevenção de focos iniciais através
da eliminação de fontes de vírus com a errradicação de plantas invasoras
e outras hospedeiras alternativas do vetor, além de plantas doentes ou que
apresentem sintomas de etiologia viral e restos culturais (reboleiras).
Ø Rotação de culturas: consiste no plantio sucessivo de culturas
diferentes no mesmo terreno. Este método, além de trazer benefícios
agronômicos, se mostra eficaz principalmente contra as pragas que
284
possuem plantas-hospedeiras específicas. Esta prática perdeu a
popularidade a partir do momento que se intensificou a monocultura.
Ø Medidas de controle dirigidas ao vetor: o controle dos insetos-vetores
propriamente dito pode envolver vários métodos:
Ø Isolamento das plantas: a proteção da planta contra os insetos, através
de métodos culturais empregando técnicas agrícolas apropriadas, tais
como o isolamento das culturas em regiões de baixa incidência de
vetores, isto provocado por condições ambientais, ou por cultivo em
casa-de-vegetação, telados, ou plasticultura, impedindo a entrada destes
agentes. Outro método empregado é a proteção através de barreiras com
plantas, geralmente espécies botânicas não preferidas pelos insetos e que
possuam altura suficiente. São recomendadas para esta função milho,
crotalária, entre outras.
Ø Controle químico: muitas vezes o controle químico pode ser eficaz
contra a propagação de vírus transmitidos de forma circulativa, devido
aos longos períodos de alimentação necessários para a aquisição e para
inoculação. Este tipo de controle é de certa forma impossível em sistemas
que envolvem a transmissão do tipo não-persistente e não circulativa,
onde o ciclo de transmissão é muito curto e os inseticidas dificilmente
conseguem atuar.
No início dos anos 40, muitos dos inseticidas mostravam uma
pequena atividade e persistência nas plantas por um pequeno período de
tempo. Devido a estes fatores, eram necessárias freqüentes aplicações em
reduzidos intervalos de tempo. Esta situação mudou com a introdução
das novas classes de inseticidas sintéticos, como o DDT, que se mantinha
ativo nas plantas por um longo período de tempo (PERRING et al., 1999).
Estes tipos de controle obtiveram sucesso, inicialmente, em relação aos
vírus não-persistentes transmitidos por insetos, porém um grande número
destes é transmitido em caráter persistente. Desta maneira os
pesquisadores se depararam com um grande problema: tentar manter a
"proteção" das plantas evitando que novas plantas fossem infectadas por
vírus. Com o advento dos inseticidas organofosforados sistêmicos que
aplicados em certas regiões das plantas se translocam, protegendo-as.
Estes produtos tiveram um grande sucesso e fortaleceram as estratégias
para o controle dos vírus que são transmitidos por pulgões, de maneira
persistente, devido ao seu longo poder residual e à atividade sistêmica
dos compostos. Finalmente, os inseticidas piretróides mostraram grandes
propriedades e maior sucesso quando comparados com os outros,
principalmente quando se tratava de reduzir a disseminação de fitovírus.
Os piretróides causam um rápido efeito "knockdown" ou mortalidade nos
vetores principalmente na fase de inoculação do patógeno (BRIGGS et al.,
1974), também reduzem o tempo de picada de prova dos insetos-vetores
(ATIRI et al., 1987) e em alguns casos podem até agir como repelentes de
insetos (LOWERY & BOITEAU, 1988). No entanto, esta última propriedade
pode ser prejudicial pois a possibilidade dos insetos aumentarem o
número de picadas de prova é grande, devido à tendência destes
encontrarem uma planta que não esteja pulverizada ou possua um nível
de palatabilidade podendo assim se fixar e constituir uma colônia,
transmitindo algumas espécies de fitovírus (tipo não-persistente) dentro
da cultura. No entanto, a superprodução de produtos agrícolas aliado com
o desenvolvimento de artrópodos resistentes a inseticidas, e a crescente
preocupação com o meio ambiente e a saúde pública levam o homem a
286
uma mudança de conceitos no sentido do emprego de medidas de
controle alternativas.
Ø Uso de óleos: Devido à ineficiência de alguns produtos no controle de
transmissão do tipo não persistente estes compostos (óleos minerais,
vegetais e lipídeos lácteos) são empregados no intuito de inibir a
transmissão. O óleo agiria modificando o comportamento de picada de
prova e a alimentação, fases do processo de transmissão onde os virions
são inoculados. Deve-se ressaltar que a eficiência no processo de
pulverização com o ímpeto de cobrir a planta de uma maneira
homogênea é de suma importância para o êxito do método.
Ø Uso de semioquímicos e repelentes: substâncias que empregadas em
misturas ou isoladamente modificam o comportamento dos organismos
receptores e são amplamente empregadas no Manejo Integrado de Pragas
(MIP). Muitas espécies de afídeos produzem um tipo de feromônio de
alarme - (E) β-farnesene que é liberado quando os pulgões são atacados.
A idéia é utilizar derivados do feromônio, reduzindo a sua aterrisagem
em plantas sadias evitando uma possível transmissão. Diversos
alomônios tem sido estudados e descritos na literatura mundial. Um
exemplo que pode ser citado é o da relação de S. berthaultii, um tipo de
batata selvagem , que produz uma substância que atua como feromônio
de alarme de Myzus persicae, dispersando os afídeos que tentam
colonizá- la (GIBSON & P ICKET , 1983). Outras substâncias também foram
empregadas como fagodeterrentes, sendo a mais conhecida a espécie
Azaridachta indica, ou neem. No Brasil a espécie mais empregada é a
"erva de Santa Bárbara", visando o controle, principalmente, da mosca
branca (Bemisia tabaci), quando aplicada em extrato (C HAPMAN et al.
1981).
Ø Emprego de barreiras ópticas: recentemente se descobriu que os
cultivos de hortaliças, quando produzidos em casas-de-vegetação do tipo
túnel e cobertos com polietileno, material que absorve os raios
ultravioletas, reduziram sensivelmente o ataque de diversas pragas e a
infecção por vírus, quando comparadas com as casas-de-vegetação
cobertas com plástico normal. Os trabalhos desenvolvidos com pepino e
verduras reduziram as infestações por tripes (Frankliniella occidentalis)
e por pulgões (Aphis gossypii) , além de reduzir os danos da larva
minadora (Lyriomyza trifolii). Além disto, fortalecendo este método de
controle o emprego de telas plásticas de proteção (malhas de 50 mesh) do
mesmo material, diminuiram consideravelmente o número de insetos
bloqueando a invasão de "moscas"-brancas, pulgões e larvas minadoras.
Ø Superfícies refletoras: os afídeos e as "moscas"-brancas são atraídos
por algumas cores e repelidos por outras. Baseado neste princípio, alguns
pesquisadores desenvolveram trabalhos mediante o emprego de
superfícies repelentes e com pulverizações de materiais refletores. Estes
obtiveram sucesso no controle dos pulgões quando se empregaram telas
brancas com 2-8 mesh.
Ø Armadilhas amarelas: O emprego de armadilhas amarelas com óleo
ou polietileno adesivo é amplamente empregado no controle de insetosvetores obtendo-se um maior sucesso no caso das "moscas"- brancas.
Este tipo de armadilha pode ser empregado como indicador do momento
de pulverização na cultura, auxiliando assim na tomada de decisão para
efetuar o controle (COHEN & MARCO, 1973).
Ø Cultura armadilha ou planta- isca: as grandes monoculturas sempre
proporcionam um ambiente propício para a transmissão de fitovírus,
inclusive entre propriedades vizinhas. O plantio de culturas hospedeiras
288
suscetíveis entre estas propriedades pode reduzir de forma significativa a
proporção de vírus propagados no campo.
Além destas medidas de controle visando específicamente o
ataque de insetos vetores podem ser desenvolvidas as que visem o
manejo da cultura hospedeira com o intuito de reduzir o número de
insetos, tais como as mudanças de características de plantio (densidade
de plantio e distância entre linhas); assincronia fenológica (atraso ou
adianto na época de plantio); proteção cruzada (emprego de plantas
previamente infectadas com estirpes fracas do vírus); utilização de
plantas resistentes e finalmente plantas transgênicas.
O amplo emprego de inseticidas desde a década de 40, causou
inúmeros efeitos secundários indesejados nas décadas subseqüentes,
entre estes, destacam-se o aparecimento de resistência a inseticidas,
ressurgência de pragas secundárias e um colapso da resistência das
plantas hospedeiras. Sendo assim, para se obter um controle eficaz das
doenças virais recomenda-se o enfoque multidisciplinar do Manejo
Integrado de Pragas, pois o emprego de dois ou mais métodos de controle
combinados, pode vir a melhorar o seu desempenho. Desta maneira,
torna-se evidente a necessidade de novos enfoques e esforços no âmbito
científico, no intuito da melhora da produção de hortaliças no Brasil.
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USA, 2000. 1162 pp.
SOLARIZAÇÃO DO SOLO NO CONTROLE DE FITOPATÓGENOS
Pesquisadora Científica Flávia Rodrigues Alves Patricio
Eng. Agrônoma, Laboratório de Fitopatologia, Centro Experimental do
Instituto Biológico, Instituto Biológico,. Cx Postal 70. CEP 13001-970,
Campinas SP, Tel (19) 3251-8714. E- mail: [email protected]
Devido ao elevado valor das terras e estruturas que ocupam, as
culturas de hortaliças e ornamentais em campo aberto e mais
expressivamente sob ambiente protegido, são intensa e sucessivame nte
cultivadas. Como conseqüência, freqüentemente ocorre a concentração
no solo de fitopatógenos como fungos, bactérias e nematóides, além de
intensa infestação por plantas daninhas, que podem comprometer a
produção, tornando-a antieconômica, ou transformar áreas e casas de
vegetação em locais impróprios para a olericultura.
A solarização é uma técnica desenvolvida para a desinfestação de
solos e substratos, indicada principalmente para recuperação de áreas
cultivas intensamente, como as ocupadas por hortaliças e ornamentais, e
também para a desinfestação de substratos utilizados na produção de
mudas.
A técnica da solarização e como empregá- la serão descritas a
seguir. Também serão mostrados os principais resultados de trabalhos de
uma equipe de pesquisadores do Instituto Biológico e de diversas
instituições, que enfatizam o emprego da solarização para o manejo da
cultura da alface.
1. Solarização
A solarização é uma técnica de desinfestação do solo,
desenvolvida para o controle de patógenos, pragas e plantas daninhas,
que consiste na colocação de um filme plástico transparente sobre o solo
umedecido por um período determinado, durante a época mais quente do
ano, visando aumentar sua temperatura (KATAN & DE VA Y, 1991;
SOUZA , 1994). A solarização também pode ser aplicada em casas de
vegetação, sendo, em geral, o período de tratamento reduzido nesta
condição (GHINI, 2000, LOPES et al., 2000).
Durante a solarização as temperaturas alcançadas pelo solo são
letais a muitos fitopatógenos nas camadas superficiais do solo e subletais nas camadas mais profundas. As temperaturas sub-letais acarretam
alterações nas populações microbianas do solo, que resultam no
favorecimento do crescimento de populações saprófitas, dentre elas
muitos antagonistas, mais competitivos que os patógenos de plantas
(GHINI, 2000). Muitos microrganismos saprófitas são mais tolerantes ao
calor que os fitopatógenos, sobrevivendo ao processo de solarização.
Estas populações microbianas dificultam a reinfestação do solo por
fitopatógenos, ocorrendo o contrário nos solos que sofreram um
tratamento esterilizante, como vapor ou fumigação (GHINI, 2000), em
que graves epidemias podem resultar da reinfestação.
Outros benefícios da solarização incluem o controle de plantas
daninhas e o maior crescimento de plantas em solos solarizados. Este
aumento no crescimento pode ser resultado do controle de patógenos e de
292
pragas primários e/ou secundários, de alterações na população
microbiana do solo favorecendo microrganismos antagonistas e/ou
promotores do crescimento, e da liberação de nutrientes no solo, como
nitrogênio e alguns micronutrientes (GHINI, 2000, KATAN & DE VA Y,
1991). Também alterações na estrutura e permeabilidade do solo podem
favorecer o crescimento das plantas (GHINI, 2000).
2. Época de Realização da Solarização
A solarização deve ser aplicada nos meses mais quentes do ano
(GHINI, 2000). Na região de Campinas o período de setembro a março é o
recomendado para a solarização (GHINI et al., 1994). Alguns
experimentos indicam que os meses mais quentes do ano também são os
mais apropriados para a solarização de solos de casas de vegetação
(PATRICIO et al., 2000).
3. Como Deve Ser Realizada a Solarização
O solo deve ser muito bem preparado, evitando-se a presença de
torrões, que favorecem a formação de bolsões de ar, reduzindo a
eficiência da solarização, e objetos pontiagudos, que podem danificar o
plástico. O solo deve estar úmido, após uma chuva, ou ser umedecido por
irrigação, antes da colocação do plástico. A umidade estimula a
germinação de propágulos de patógenos, tornando-os mais sensíveis aos
mecanismos de controle (GHINI et al., 2000) e também aumenta a
condutividade térmica e consequentemente a difusão de calor no solo
(KATAN & DE VAY, 1991). O plástico deve ser bem estendido e as bordas
enterradas em sulcos com terra. A área tratada deve ser a maior possível,
evitando-se a solarização de faixas ou canteiros, que favorecem a
reinfestação por patógenos vindos das áreas não tratadas e por causa do
efeito borda. Em uma faixa de aproximadamente 40 cm das bordas as
temperaturas atingidas não são suficientes para o controle adequado de
fitopatógenos (GRISTEIN, 1995, citado por GHINI, 2000).
4. Plásticos Utilizados para Solarização
Os plásticos recomendados para solarização são transparentes e a
sua espessura pode variar entre 50 e 150 µm. Plásticos que contém
aditivo para proteção contra os raios ultra-violeta do sol (utilizados para
cobrir casas de vegetação), são os mais recomendados pois apresentam
maior durabilidade, podendo inclusive ser reutilizados (SINIGAGLIA &
PATRICIO, 2000).
5. Período de Tratamento
O período recomendado para a solarização é em torno de 1 a 2
meses. Em verões chuvosos o período de 60 dias é mais seguro, mas o
plástico pode permanecer no solo por mais tempo, até o plantio. Como
durante a solarização a área coberta não é cultivada, o agricultor pode
optar por aplicar a solarização em glebas ou talhões. Por exemplo, dividir
a propriedade em 4 talhões e solarizar de novembro a dezembro o
primeiro talhão, de janeiro a fevereiro o segundo e os dois demais deixar
para solarizar no ano seguinte. Aplica-se desta forma um sistema de
manejo da propriedade que não compromete a renda do produtor e que
reduz o custo do tratamento, já que o plástico é reaproveitado.
6. Solarização em Casas de Vegetação
A solarização é aplicada para recuperação dos solos de casas de
vegetação em vários países e para várias culturas, principalmente
294
hortaliças e ornamentais (KATAN & DE VA Y, 1991). Como a incidência
da luz solar é menor neste ambiente, para maior eficiência da técnica, a
casa de vegetação deve ser totalmente vedada com plástico transparente,
inclusive as laterais (podem ser sobras de plásticos). O tratamento, nesta
condição pode ser mais curto, em torno de 20 a 30 dias, devendo ser
efetuado preferencialmente no verão (PATRICIO et al., 2000).
7. Acompanhamento da Solarização
Durante a solarização é importante o acompanhamento pelo
produtor para verificar danos aos plásticos e a observação da presença de
plantas daninhas. O crescimento de plantas daninhas sob o plástico pode
indicar que as temperaturas atingidas não estão sendo suficientes para o
controle satisfatório de fitopatógenos (GHINI, 2000). Durante a
solarização a temperatura do solo pode ser medida por meio de
termômetros de solo. Em experimentos no verão as temperaturas
máximas atingidas pelos solos a 10 cm de profundidade sob o plástico
foram de 49o C em solo turfoso em Mogi das Cruzes, SP, e de 54o C em
solo argiloso em Piracicaba, SP. Nestes locais, as temperaturas médias
dos solos sob o plástico foram 11 e 8o C superiores às do solo não
solarizado, respectivamente, a 10 e a 20 cm de profundidade, às 15:00
horas.
8. Solarização de Substratos
Um dos requisitos para a produção de mudas sadias é que os
substratos utilizados sejam isentos de fitopatógenos. Para tanto, estes
devem ser desinfestados, principalmente se forem reutilizados. A
solarização pode ser aplicada com grande eficiência na desinfestação de
substratos e solos através de um coletor solar desenvolvido pela Dra.
Raquel Ghini, Pesquisadora da Embrapa-Meio Ambiente. Entre as
vantagens do coletor solar encontram-se o fato de consumir apenas
energia solar, ser de fácil construção e baixo custo, não apresentar riscos
para o operador e permitir que uma população de microrganismos
termotolerantes sobreviva ao tratamento, evitando o “vácuo biológico”,
que outros métodos de desinfestação acarretam (GHINI, 1997).
O coletor solar é constituído por uma caixa de madeira (1,0 x 1,5
m), com 6 tubos metálicos de 15 cm de diâmetro no seu interior e coberta
com um plástico transparente, que permite a entrada dos raios solares.
Como as temperaturas atingidas pelo solo ou substrato no interior do
coletor solar são elevadas (70-80o C), o tratamento é efetuado por apenas
1 ou 2 dias, em qualquer época do ano (GHINI, 1997).
9. Patógenos Controlados pela Solarização
Diversos fitopatógenos habitantes de solo que afetam hortaliças
podem ser controlados pela solarização, tais como: Verticillium dahliae,
espécies de Sclerotinia, Rhizoctonia solani, espécies de Phytophtora,
além de algumas espécies de Pythium e Fusarium (SOUZA , 1994, GHINI&
BETTIOL, 1995). Também nematóides como Meloidogyne hapla, M.
javanica, Tylenchulus semipenetrans, e outros, bem como muitas
espécies de plantas daninhas, podem ser eficientemente controlados pela
solarização (GHINI & BETTIOL, 1995, STAPLETON & DE VAY, 1995).
10. Experimentos de Solarização para o Manejo da Cultura da
Alface
296
Visando oferecer alternativas para a recuperação de áreas
cultivadas com hortaliças e melhorar o manejo destas culturas, uma
equipe formada por pesquisadores do Instituto Biológico, da EmbrapaMeio Ambiente, da ESALQ-USP e do Instituto Agronômico tem
desenvolvido trabalhos empregando a técnica da solarização. Em Mogi
das Cruzes, principal município produtor de alface do cinturão verde de
São Paulo, foi estudado o efeito da solarização sobre o controle de
fitopatógenos de solo, alterações químicas e microbiológicas dos solos e
a infestação por plantas daninhas.
A solarização do solo foi aplicada nos períodos de dezembro a
fevereiro dos anos de 1997/1998, 1998/1999 e 1999/2000, tendo o solo
permanecido coberto com plástico (transparente de 100µm de espessura)
por aproximadamente 60 dias. Após a solarização, foram efetuadas duas
safras consecutivas de alface nas áreas solarizadas e não solarizadas, nos
anos de 1998, 1999 e 2000.
As várzeas da região de Mogi das Cruzes são muito produtivas,
mas estão infestadas com fitopatógenos de solo, como Rhizoctonia solani
e Sclerotinia minor, que podem reduzir drasticamente as safras e elevam
o custo de produção da cultura de alface; a aplicação intensiva do
controle químico convencional pode resultar em contaminação do
ambiente. R solani é agente causal da queima da saia da alface, doença
que nessa região prevalece no verão, caracterizada por lesões marrons
nas nervuras das folhas inferiores que podem progredir, comprometendo
a qualidade comercial das cabeças. A solarização foi muito eficiente,
reduzindo a severidade desta doença nas safras de verão dos três anos
avaliados, podendo substituir o controle químico convencional.
A murcha de esclerotínia é muito importante em Mogi das
Cruzes, reduzindo em até 70% a produção das culturas de alface do
inverno, sendo causada nesta região pelo fungo Sclerotinia minor. Os pés
atingidos pelo fungo apresentam podridão aquosa e morrem (PAVAN &
KUROSAWA, 1997). A solarização do solo reduziu drasticamente a
incidência da doença de até 50% nas áreas sem tratamento, para o
máximo de 3% nas áreas solarizadas, substituindo o controle químico
com maior eficiência.
Em todas as safras efetuadas ocorreu controle quase total de
plantas daninhas. A solarização promoveu uma redução muito grande na
emergência das espécies picão branco e caruru, que predominavam na
várzea estudada. A taxa de cobertura do solo por plantas daninhas foi
reduzida de 72,5 % para 0,5% nos tratamentos solarizados (SINIGAGLIA
& PATRICIO, 2000).
Outro benefício observado após a aplicação da técnica, nos três
anos avaliados, foi a redução de 9-11 dias no ciclo da primeira safra de
alface. As plantas colhidas nas parcelas solarizadas também apresentaram
melhor qualidade. Estima-se que esta redução no ciclo, com maior vigor
das plantas solarizadas, seja conseqüência de alterações na população de
microrganismos do solo, redução de doenças e também de patógenos
secundários, que podem comprometer o sistema radicular, além de
alterações químicas no solo, verificadas após a solarização. Foram
detectados maiores teores de nitrogênio amoniacal, manganês, ferro e
cobre, e menor teor de boro nos solos solarizados. As plantas de alface
colhidas nas parcelas solarizadas apresentaram maiores teores de cobre e
manganês.
298
Em experimento conduzido pela mesma equipe em Piracicaba,
SP, também foi observado maior vigor das plantas solarizadas, com
maior massa fresca, maior largura e comprimento do sistema radicular,
sendo detectados maiores teores de K, Mg e Zn. Neste local também o
controle de plantas daninhas foi muito eficiente.
11. Referências Bibliográficas
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M ANEJO INTEGRADO:OPÇÃO OU N ECESSIDADE PARA SE CULTIVAR
HORTALIÇAS EM AMBIENTE PROTEGIDO
Professora . Rumy Goto
Eng. Agrônoma, UNESP/Faculdade de Ciências Agronômicas-Campus
de Botucatu/ Depto. Prod. Vegetal. Cx.Postal 237, CEP 18603-970,
Botucatu, SP. Tel. (14) 6802-7172/7203. e-mail: [email protected]
300
1. Introdução
A tecnologia do cultivo de hortaliças em ambientes protegidos,
com a cobertura de filmes plásticos, foi introduzida no Brasil há cerca de
20 anos atrás, ou seja, em meados da década de 80. Esta levou,
inicialmente muitos produtores a terem ilusões de lucros incalculáveis,
fazendo com que muitas pessoas que não eram do ramo hortícola
tentassem absorver esta nova tecnologia, colocando os produtores
tradicionais numa situação difícil. Também prejudicou os produtores a
crise econômica por que passava e passa o país, desvalorizando os
produtos agrícolas, principalmente as hortaliças.
Para se cultivar hortaliças em ambiente protegido é necessário
antes de qualquer coisa, conhecer muito bem as espécies que serão
cultivadas, principalmente quanto às exigências ambientais, nutricionais,
ou seja, conhecer as necessidades fisiológicas das hortaliças e também o
ambiente em que serão plantadas, não só em termos de região, mas o
local propriamente dito, com certo nível de conhecimento das
temperaturas reinantes (máxima e mínima) e período de maior chuva,
predominância dos ventos, culturas adjacentes, permanência com a
mesma cultura ano após ano, dentre outros. Nesses 20 anos, após
sucessos e insucessos, podemos defender que o mais recomendado é o
sistema de Manejo Integrado. Conforme BERGAMIN FILHO & AMORIM
(1999), integração é entendida como o uso harmônico de múltiplas táticas
de proteção de plantas, ou seja, depende da disponibilidade de tecnologia
adequada e o manejo refere-se a um conjunto de regras, idealmente
baseadas em considerações econômicas, sociais e ambientas, que
orientam a tomada de decisão
Cada vez mais, em todos os segmentos da agricultura se discutem
as questões das pragas e doenças, controle, meio ambiente, qualidade de
vida, ou seja, a obtenção de um produto social e ecologicamente limpo e,
nas hortaliças é maior e é mais séria essa questão, portanto a aplicação do
Manejo Integrado nos ambientes protegidos é quase uma necessidade.
De acordo com ZAMBOLIM et al. (1999), “O manejo integrado
representa um ponto de inflexão estratégico nas ciências agrárias do fim
do século XX. Teoricamente, o manejo integrado está estabelecido como
uma realidade mundial. Na prática, o manejo integrado é realidade em
poucas áreas privilegiadas, mas ainda um sonho distante para vastas
regiões do mundo” ... .e ainda complementam “Deve-se ter em mente que
a adoção do manejo integrado não é uma alternativa, mas uma
necessidade para a conservação do meio ambiente e a própria
sobrevivência da humanidade”.
De acordo com AZEVEDO (1999), na visão da Indústria, o objetivo
é alcançar o chamado Manejo Integrado das Culturas, que pode ser
definido como a produção econômica de culturas de alta qualidade com
prioridade
para
métodos
de
cultivo
ecologicamente
seguros,
minimizando os efeitos secundários indesejáveis e utilizando produtos
fitossanitários que garantem a saúde humana e a preservação do
ambiente. O manejo integrado das culturas será a base da agricultura no
próximo milênio.
Esta meta pode ser aplicada em cultivos protegidos, pois se trata
de cultivar em ambientes mais controlados, de menor dimensão,
priorizando a obtenção de produtos de qualidade.
2. Medidas Básicas para o Cumprimento do Manejo
302
Algumas medidas básicas são necessárias para o cumprimento e
adequação ao manejo. A instalação das estruturas deve ser sempre
observando os fatores que interferem no crescimento e desenvolvimento
das plantas como: temperatura do ar e do solo, luminosidade, umidade
relativa do ar, do solo e outros.
2.1. Instalação das Estruturas/Orientação
Uma das questões que se discute é com relação à posição das
estruturas e neste aspecto, nas nossas condições (Brasil- hemisfério sul),
não se deve levar como fator principal
a posição se N-S ou L-O
(TIVELLI , 1998), pois entre as linhas de Equador e o Trópico de
Capricórnio (que passa próximo da capital de São Paulo) fatores como
vento e declividade do terreno, parecem ser preponderantes.
Essa condição de ventilação no interior da estrutura é muito
importante, pois colocar as estruturas a favor do vento, para arejar, ou
seja, melhorando a passagem de vento, favorece, dentre outros fatores, a
dissipação de calor, não acumula calor, evitando a multiplicação de
patógenos e de pragas também.
Na estrutura, é necessário observar a qualidade do filme, se está
em bom estado, sem furos, sem poeira, não impedindo a entrada de luz,
assim como podem ser colocadas telas que impedem a entrada de pragas.
2.2. Temperatura
O cultivo de hortaliças em ambiente protegido a princípio visava
a produção na entressafra (inverno) para as culturas que exigem
temperaturas mais elevadas, contudo nas condições brasileiras e pela
tradição dos nossos produtores é muito difícil cultivar somente numa
época do ano, além do fato de não se dispor de áreas e se tornar inviável
a utilização da estrutura, de custo relativamente elevado, somente num
período do ano.
O inverno da região sudeste não é tão rigoroso e os preços das
hortaliças neste período são muito baixos. Isto permite que alguns
produtores entrem com a produção precoce de pepino, tomate e pimentão
em ambientes protegidos, normalmente produzidos nas estações do ano
em que a temperatura é mais elevada, ou seja, que exigem temperaturas
maiores para se desenvolverem. No Brasil, contudo, existem regiões que
permitem o cultivo destas hortaliças neste período crítico, pois têm o
inverno mais ameno com temperaturas mais elevadas, permitindo o
cultivo em campo aberto, sem problemas, e neste sentido há a
necessidade de se buscar outros quesitos para justificar o cultivo em
ambiente protegido.
Por outro lado, os preços das folhosas no verão são altamente
atraentes, esta é uma época em que os produtores podem utilizar as
estruturas de proteção para cultivar estas espécies, pois o nosso verão é
muito chuvoso e com certeza utilizando-se desta proteção, sempre se
consegue produtos de qualidade. Nessa mesma linha, quando se pensa
em qualidade, outras hortaliças, além das citadas anteriormente podem
ser listadas, como pepino japonês, tomate cereja, tomate caqui, pimentões
coloridos, folhosas exóticas e outros produtos, que cada produtor hoje,
em função da sua pesquisa de mercado, verifica as vantagens econômicas
para fazer sua opção.
Dessa forma, nas nossas condições (região sudeste), o que mais se
vê no campo, são produtores que têm se dedicado ao cultivo de hortaliças
no verão, e por conseqüência em condições de altas temperaturas que
304
muitas vezes inviabilizam a produção plena de hortaliças. Por isto, neste
aspecto da temperatura é necessário que o produtor conheça muito bem a
hortaliça que quer cultivar dentro da estrutura, de preferência utilizando a
estufa do "tipo Guarda-Chuva", que tem a função de protegê- la das
chuvas, mas que também evita a excessiva elevação da temperatura, pois
para cada cultura é preciso cumprir as necessidades fisiológicas para a
obtenção de colheitas.
Nos ambientes protegidos, normalmente as temperaturas são
superiores a essa faixa, sendo necessário conhecer o manejo da
temperatura elevada neste tipo de sistema para adequá- la às culturas e,
inclusive se possível tornando o ambiente desfavorável aos patógenos.
Como fazê- lo?
Para a maioria dos casos a prioridade é o tipo de estrutura, pois é
necessário que ela tenha um pé direito alto (3,0 a 3,5m), principalmente
quando se pretende cultivar plantas com a arquitetura mais alta, como
tomateiro, cultura do pimentão e cultura de pepino. A altura do pé-direito
da estrutura deve ser de 0,50 a 1,00m maior que a máxima altura da
cultura que será conduzida (SADE, 1997).
O manejo do ambiente nos locais em que a temperatura é muito
alta é possível lançando-se mão de ventilação e/ou de nebulizadores
(fogger). A ventilação é uma opção barata e, portanto a localização das
estruturas, colocando a frente, no sentido favorável à corrente de vento, é
um dos principais pontos que deve ser atentado durante o planejamento
das estruturas.
Outro ponto a ser considerado é que as cortinas laterais devem ser
sempre móveis, sendo abertas se houver necessidade e abaixadas quando
se quiser aquecer o ambiente, fechando-se todos os lados da estrutura.
Ainda existe outra opção para melhorar a aeração, fazendo-se a abertura
na parte superior da estrutura, permitindo a saída do ar quente, contudo,
se não houver uma abertura na parte inferior para provocar o fluxo de ar,
não haverá o efeito esperado, ou seja, tentar equilibrar a temperatura
interna à externa (ANDRIOLO , 1999). O mesmo autor relata que a
utilização
de
nebulizadores,
como
instrumento
para
abaixar
a
temperatura, está relacionada à umidade relativa do ar ambiente. Como
exemplo, ele cita que quando um ambiente se encontra com a umidade
relativa do ar a 40% e a temperatura de 35ºC e se der condição de passar
esta umidade para 100%, a temperatura do ar diminui para
aproximadamente 21ºC. Caso a umidade relativa do ar esteja já elevada,
este efeito não ocorrerá tão significativamente, portanto sugere-se que se
faça a utilização simultânea da ventilação e do nebulizador (fogger) para
atingir o objetivo final. Se não houver o manejo adequado dos
nebulizadores, teremos efeitos negativos, pois ocorrerá o molhamento da
parte aérea da planta, que acarretará outros problemas, como doenças
fúngicas e bacterianas.
Outra prática que pode ser utilizada é a colocação das telas de
sombreamento, de 30 a 50% que, porém, apresentam o inconveniente de
reduzirem também a luminosidade, a qual, dependendo do local, poderá
interferir na fisiologia de crescimento da planta.
Um dos últimos lançamentos no mercado são as telas
aluminizadas (de 40 ou 50%) que, instaladas na altura do pé-direito de
estruturas com 3,0 a 4,0m de altura, proporcionam uma boa redução da
temperatura, sem interferir negativamente na luminosidade. Quando
comparadas às telas de sombreamento, apresentam as vantagens de
manter as temperaturas noturnas e diurnas, conservar a máxima reflexão
306
da radiação em ambos os lados das telas, além de controlar a circulação
de ar. O custo deste material ainda é um pouco elevado, mas a tendência
do mercado indica que deverá haver uma redução nos preços.
Todas essas práticas são efetuadas para manter a temperatura
ideal para o crescimento e desenvolvimento normal das culturas. Por
exemplo, na cultura do tomate observa-se que a temperatura ótima média
gira em torno de 22 a 26ºC, no entanto, nas condições de cultivo
protegido ocorrem temperaturas acima de 30 a 32ºC ou até maiores,
dependendo da região de cultivo, prejudicando o pegamento de frutos,
que são o produto final. Por outro lado as temperaturas ideais para o
cultivo também são favoráveis, por exemplo, à germinação dos conídios
da Alternaria (entre 26 a 30º C), cujo desenvolvimento máximo ocorre
entre 22 a 26ºC, o mesmo ocorrendo para a murcha de fusarium (28ºC ) e
a murcha de verticilium (22 a 24ºC).
O mesmo acontece para a cultura do pepino, considerada uma
cultura subtropical, que não tolera temperaturas muito baixas. Também
nesta planta, quando o ambiente alcança temperaturas extremamente
elevadas,
vários
distúrbios
fisiológicos
podem
ocorrer,
como
entortamento de frutos, aborto de flores e frutos em conseqüência de má
absorção de nutrientes, má distribuição dos fertilizantes, descuido na
irrigação (fornecimento de água) etc... A faixa ideal de temperatura para
o crescimento vegetativo, entre 27 a 30ºC de dia e 18-19ºC à noite, ou
para a floração e frutificação, 27 a 28ºC de dia e 18-19º C à noite,
também é favorável às doenças como antracnose favorecida por
temperaturas entre 21 a 27ºC. Oídio é favorecido por temperaturas
elevadas e umidade baixa, mancha angular por temperaturas na faixa de
24 a 28º C, e didimela é favorecida por temperatura de 25ºC,
principalmente se a umidade for elevada.
Essas faixas de temperatura e a pequena oscilação de temperatura
no interior das estruturas, quando comparada com o cultivo a céu aberto,
são
condições
que
favorecem
o
desenvolvimento
dos
insetos
(FERNANDES , 1999).
2.3. Umidade Relativa do Ar
Este é outro fator que está relacionado diretamente à temperatura
do ar, como descrito no item anterior.
Nas condições de inverno, quando as estruturas permanecem
inteiramente fechadas durante a noite a umidade poderá chegar a 100%,
condensando o vapor de água no teto e nas paredes da estrutura. Para
evita- la existem hoje no mercado os filmes anti- gotejo, que evitam este
tipo de problema.
Esta questão da umidade também vai depender de cultura para
cultura, para atender a sua fisiologia de crescimento e desenvo lvimento.
Para os patógenos também a umidade é sempre importante, pois a
maioria tem preferência pelo ambiente mais úmido do que seco, portanto
manter a umidade dentro dos limites é sempre necessário. Outro ponto
relevante é que quando a umidade é muito baixa poderá interferir na
eficiência dos produtos que são utilizados para o controle de algumas
doenças e pragas.
Um dos fatores que contribuem para elevar a umidade do
ambiente é o manejo da irrigação, por isso sempre o sistema indicado é a
irrigação localizada, onde se prevê menor perda de água, ou seja, nunca a
308
água é utilizada descontroladamente, que deve ser complementado com a
utilização de mulching.
Outro fator que muitos acabam se esquecendo é com relação aos
canais de drenagem, que, quando feitos ao redor das estruturas, têm
evitado a entrada de água de chuva. Relatos de pesquisadores da Empresa
de Pesquisa Agropecuária do Estado de Santa Catarina (EPAGRI), de
Itajaí, evidenciaram a menor incidência de doenças nos tomateiros
instalados dentro de uma estrutura em que havia sido feito este tipo de
canal.
2.4. Vento
Com relação a este fator, muitos se esquecem, ao planejar a
instalação das estruturas, da proteção contra os ventos predominantes.
Sabe-se que em muitos locais esta é uma questão muito importante, pois
há notícias de produtores que perderam totalmente as estruturas, logo
após a sua instalação. Portanto os quebra-ventos com cercas vivas, telas
de sombreamento, varas de bambu e outros materiais poderão ser
utilizados para este fim.
Além deste fator de proteção das estruturas, este tipo de proteção
também preserva a longevidade dos filmes, pois o vento é um dos
agentes que pode degradar os filmes. TIVELLI (1998) cita SADE (1994)
que afirma que dentro do ambiente protegido a velocidade de vento deve
ser menor que 1,0 m/minuto e deve haver uma área de 10 a 30% de
abertura para ocorrer troca de ar.
2.5. Outras Medidas Culturais
Recomendações:
Evitar o cultivo de outras espécies de flores e arbustos para não
servir de refúgio ou hospedeiras para as pragas.
Evitar plantios contínuos com a mesma espécie.
Eliminar restos de cultura e plantas daninhas tanto de dentro das
estruturas como externamente, bem como a retirar os plásticos velhos.
Realizar análise do solo e da água, principalmente a análise
patológica de água de irrigação, pois se sabe que determinados fungos
como Pythium spp. e Phytophtora spp. podem ser transmitidos pela água.
Utilizar cultivares ou híbridos resistentes.
Realizar todos os tratos culturais de acordo com a idade e a
necessidade da planta.
Efetuar as adubações em cobertura bem equilibradas, tentando
evitar receitas, e sim acompanhar o crescimento e o desenvolvimento das
culturas.
Eliminar partes da planta ou plantas contaminadas por fungos,
bactérias e vírus, e efetuar a retirada das mesmas da área de plantio.
Reconhecer as pragas chave e os inimigos naturais das culturas de
interesse econômico. Utilizar armadilhas luminosas com feromônio para
atração de machos da traça do tomateiro (FERNANDES , 1999) e se
possível aplicar o parasitóide Trichogramma pretiosum para controle da
traça do tomateiro (Tuta absoluta).
Evitar a entradas de pessoas estranhas no ambiente protegido.
3. Considerações Finais sobre Manejo
Para se obter sucesso no cultivo de hortaliças é necessário
preservar o solo, monitorando os níveis de fertilidade e procedendo as
análises de solo antes da implantação das culturas. O manejo do solo é
310
muito importante, não devendo ser utilizada a tecnologia de "quanto mais
adubo colocar, mais se produz", ou "colocar mais adubo pois neste
sistema a produção é maior", como a maioria tem feito.
Os adubos orgânicos, os compostos orgânicos, a adubação verde e
a rotação de culturas são tecnologias que não podem ser esquecidas para
quem quer produzir sempre, mais e com alta qualid ade.
Outro fator a ser lembrado neste final, seria a utilização correta
das coberturas dos canteiros com filmes plásticos de coloração preta,
prata, branca/prata, preta/prata e outros que, de certa forma, absorvem a
radiação infra-vermelha de comprimento de onda longa. Estes e outros
filmes de cobertura de estruturas têm sido pesquisados fora do Brasil e
apresentam alguns resultados nas nossas condições.
Há uma necessidade muito grande de mais pesquisas nessa área,
envolvendo as indústrias e os institutos de pesquisa e ensino.
4. Literatura Consultada
ANDRIOLO, J.L. Fisiologia das culturas protegidas. Santa Maria,
Editora UFSM, 1999. 141p.
AZEVEDO, L.A. O manejo integrado de doenças e pragas do ponto de
vista da indústria de defensivos. In: Encontro sobre Manejo
Integrado de Doenças e Pragas., Viçosa, UFV, 1999 p.3-5
BERGAMIN FILHO, A. & AMORIM , L. Manejo integrado: problemas
conceituais para sua aplicação na fitopatologia. In: Encontro sobre
Manejo Integrado de Doenças e Pragas. Viçosa, UFV, 1999 p.6-29.
TIVELLI, S.W. Manejo do ambiente em cultivo protegido. In: GOTO, R.;
TIVELLI, S.W. Produção de hortaliças em ambiente protegido:
condições subtropicais. São Paulo, Fundação Editora da UNESP,
1998. p. 15-30.
MARTINS, S.R. ; F ERNANDES , H.S.; ASSIS, F.N. ; M ENDEZ, M.E.G.
Caracterização climática e manejo de ambientes protegidos: a
experiência brasileira. Inf. Agropec., 20: 15-23, 1999.
SADE, A. Cultivo bajo condiciones forzadas - Nociones gererales.
Rejovot, Israel, 1997.144p.
ZAMBOLIM , L.; COSTA , H.; VALE, F.X.R Táticas de controle no manejo
integrado de doenças. In: Encontro sobre Manejo Integrado de
Doenças e Pragas. Viçosa, UFV, 1999 p.69-98.
M ANEJO DA RESISTÊNCIA DO CARRAPATO BOOPHILUS MICROPLUS A
ACARICIDAS
Pesquisadora Científica Márcia Cristina Mendes
Bióloga, Centro de Sanidade Animal, Instituto Biológico. Av.
Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010-970,
São Paulo, SP Fone: (11) 5087 1779. E- mail: [email protected]
1. Introdução
O carrapato do boi, Boophilus microplus é um problema na
pecuária bovina uma vez que as condições ecológicas favoráveis aos
carrapatos, associadas às sensibilidades raciais do rebanho a infestações
por carrapatos, abrangem praticamente todo o território brasileiro.
Controlar o carrapato significa manter reduzida a população,
entretanto este conceito não está sendo bem empregado, pois envolve o
manejo correto dos animais e a aplicação do carrapaticida próprio para
determinada população de carrapato e sua dosagem adequada.
312
Verifica-se que o foco do problema está numa melhor
administração da propriedade o que leva consigo uma visão mais ampla
do trabalho, tendo não só como ponto de vista o lucro mas o serviço à
saúde pública que se beneficiará com um produto de qualidade. Isto leva
consigo a formação humana e técnica dos que exercem diretamente este
trabalho.
2. Controle do Carrapato Boophilus microplus
2.1. Conhecimento da Biologia e Hábito do Parasita
A espécie Boophilus microplus necessita obrigatoriamente passar
por uma fase de sua vida sobre o bovino, onde ingere linfa, substratos
teciduais e sangue. Esta fase tem uma duração média de 21 dias. Outra
fase passa-se fora do hospedeiro na qual a fêmea realiza a postura (entre
2000 a 3000 ovos). No período de 3 a 4 semanas as larvas começam a
sair. Dois ou três dias posteriores ao nascimento, elas já estão no talo da
planta mais próxima, a espera de seu hospedeiro (LEITE,1996)
Os fatores temperatura e umidade relativa determinam maior ou
menor tempo de duração parasitária e da fase de vida livre. A infestação
dos bovinos começa na primavera, aumenta no verão e tem o pico no
outono. No inverno ocorre uma diminuição do parasitismo, isto é, um
aumento do período de duração das fases de vida livre e parasitária.
2.2. Controle Químico
O controle do alto nível de infestação do carrapato tem sido
realizado diretamente no seu hospedeiro empregando produtos químicos
que passam a agir sobre larvas, ninfas e principalmente sobre a forma
adulta evitando a postura de ovos viáveis e consequentemente a
reinfestação do pasto pelas larvas.
A escolha do carrapaticida deve ser feita de forma racional, isto é,
verificar o perfil de uma amostra de carrapato colhidas de diversos
animais a fim de determinar produto mais eficaz. Normalmente se realiza
o teste usando a técnica de DRUMMOND et al.(1973), onde se verifica a
atuação do produto diretamente na fêmea, na sua postura e na viabilidade
dos ovos.
Atualmente encontramos produtos carrapaticidas à base de
formamidinas, piretróides, organofosforados, avermectinas, fluazuron e
fipronil. Os acaricidas que apresentam ação por meio de contato são
aplicados na forma de pulverização, banho de imersão e pour-on. Já os
sistêmicos são empregados na forma injetável e pour-on.
2.3. Controle de Larvas
Um momento bastante favorável para o criador realizar o primeiro
tratamento seria no mês de agosto, período anterior a primavera, pois as
larvas que já estavam à espera do hospedeiro poderão ser surpreendidas
ao entrar em contato com o bovino banhado com acaricida. Assim ocorre
a eliminação de uma grande quantidade de larvas e as teleóginas (fêmea
adulta ingurgitada) que cairão dessa primeira infestação serão em menor
número.
2.4. Controle de Ninfas e Adultos
A aplicação do produto acaricida no hospedeiro bovino impedirá
o desenvolvimento das formas jovens para adulto e as fêmeas
ingurgitadas depois de se desprenderem dos animais poderão morrer ou
314
realizar postura de ovos inférteis, dependendo do mecanismo de ação do
acaricida. Banhos acaricidas com intervalos de 21 dias impedem que uma
quantidade grande de fêmeas cheguem ao solo e continuem espalhando
suas larvas pelo pasto (LEITE, 1996)
2.5. Ineficácia do Produto Acaricida
Diante da ineficácia de um produto acaricida podemos estar
diante de vários fatores como:
Ø Aplicação incorreta do produto ou dosagem abaixo da recomendada
pelo fabricante.
Ø Ineficiência, isto é, quando o produto se mostra pouco tóxico para a
espécie no primeiro contato.
Ø Tolerância: populações que toleram maior dose do produto tóxico por
razões fisiológicas e não genéticas.
Ø Resistência: é o desenvolvimento em uma linhagem de insetos, da
capacidade de tolerar doses de produtos tóxicos que seriam letais (ou
interfeririam no ciclo de vida) para a maioria dos indivíduos numa
população normal da mesma espécie (Organização Mundial da Saúde). A
resistência resulta da seleção de genes previamente existentes na
população.
2.6. Procedimentos Diante da Suspeita de Resistência
Realizar uma inspeção do sistema de aplicação de acaricidas. Isto
inclui a entrada e saída de animais no estabelecimento e acaricidas
usados em temporadas anteriores.
Realizar uma observação direta dos animais, pois uma primeira
indicação a campo, é uma alta e anormal presença de teleóginas dos 9 aos
16 dias de banho (indica a sobrevivência da metaninfas). Uma evidencia
mais forte, pode resultar na observação de uma alta e anormal presença
de teleóginas entre os 4 aos 7 dias depois do banho, sobrevivência de
adultos, (NARI et al.,1984).
Enviar amostras de carrapatos para Laboratórios que realizam o
diagnóstico da resistência.
2.7. Diagnóstico da Resistência
Os métodos para a detecção da resistência tem sido baseados em
técnicas clássicas de bioensaios, onde se observa a ação do carrapaticida
sobre determinados estágios evolutivos dos carrapatos em condições
simuladas de laboratório. Dentre os métodos estão os que estudam a ação
do acaricida sobre teleóginas e os que fazem sobre larvas.
O teste normalmente usado para verificar a sensibilidade, como
foi citado acima, é a técnica de Drummond , onde se utiliza o estágio de
B. microplus que é menos sensível a sofrer variações induzidas pelo
laboratório. A coleta pode ser feita imediatamente antes que os bovinos
sejam banhados, as teleóginas tem que ser extraídas de vários bovinos e a
amostra deve ser mais numerosa possível.
O método em que se utiliza o estágio de larva serve para indicar a
resistência do carrapato. A técnica recomendada pela FAO consiste na
exposição das larvas a superfícies impregnadas com diferentes
concentrações do acaricida (técnica de STONE & HAYDOCK, 1962). Os
dados obtidos deste teste (contagem de larvas vivas e mortas) serão
usados para verificar a concentração letal de 50% e 99% de cada
acaricida, o qual deve ser comparado com os respectivos valores de uma
cepa sensível padrão.
316
O calculo do fator de resistência é obtido pela relação da
concentração letal de 50% da cepa de campo pela concentração letal de
50% de uma cepa sensível. Através de um gráfico pode-se verificar
populações homozigotas (tendência a dar linha reta) ou heterozigotas
tendem a da curvas sinuosas.
Empregando técnicas bioquímicas pode-se diagnosticar e
determinar o tipo de resistência através do sítio de ação alterado e
desintoxicação aumentada. Esta técnica permite determinar a freqüência
de genótipos possíveis através da variação das atividades enzimáticas
(BRACCO,1998).
2.8. Controle da Resistência
Quando a resistência é identificada numa propriedade deve-se
manter um monitoramento da população empregando-se as seguintes
estratégias (de acordo com NARI, et al. 1984):
Controle da População através de Testes Biológicos e
Bioquímicos.
Uso moderado do carrapaticida para evitar uma grande pressão de
seleção por menor contato com os acaricidas, pois genes resistentes se
mantém misturados em uma grande população de indivíduos susceptíveis
e a resistência dilata seu aparecimento. Isto se consegue banhando os
animais somente quando há grandes populações de carrapatos adultos e a
baixa freqüência .
Estratégia de saturação, pois as doses de um acaricida que mata os
indivíduos sensíveis (rr,rr), pode estar muito próxima da que mata a
heterozigotos resistentes(rr,Rr). Portanto, convém utilizar produtos
químicos a concentrações altas para matar todos os sensíveis e a maior
quantidade possível de heterozigotos resistentes. Assim diminui os
indivíduos heterozigotos abaixando ao máximo as possibilidades de que
se combinem entre eles dando indivíduos altamente resistentes. Estes
genes ao estar em uma freqüência mais baixa demoram mais em
manifestar-se. Para tanto é necessário realizar banhos freqüentes em
concentrações altas.
Rotação ou Descanso de Pastagem:
Quanto mais tempo as larvas ficarem à espera de seu hospedeiro
menor será seu poder infestante. Fazendo uso de rotação ou descanso de
pastagens, com um prazo mínimo de 30 dias, o pecuarista consegue uma
ajuda bastante significativa (LEITE,1996).
Uso de capim gordura (Melinis minutiflora) desfavorece a subida
das larvas sobre suas hastes que são extremamente pilosas além de liberar
secreção nas folhas que pode eliminá- las. Também o capim colonião
(Panicum maximum) favorece o controle, criando espaços por onde os
raios solares penetram e dessecam ovos e larvas. Utilizar raças de
bovinos resistentes. Controle da entrada e saída de bovinos da
propriedade.
3. Referências Bibliográficas
BRACCO, J. E, Avaliação da resistência a inseticidas em população de
Culex quinquefasciatus (Diptera: Culicidae) do Rio Pinheiros (São
Paulo, Brasil). Tese de Mestrado Universidade de São Paulo, 1998.
DRUMMOND, R. O, ERNST, S.E, TREVINO,WJ.L, GLADNEY, W.J. AND
GRAHAM, O H.; Boophilus annulatus and Boophilus microplus:
Laboratory testes of insecticides. J. Econ. Entomol., 66, n.1, 1973.
LEITE, R.C, O carrapato no Brasil. Gado Holandês, 29 n.45, 1996.
318
NARI, A; CARDOSO,H. Y PETRICCIA ,C.; Resistencia de Boophilus
microplus a los acaricidas organofosforados en el Uruguay.
Veterinaria 20 (86-87), 1984.
STONE, B.F. & HAYDOCK, K.P., A method for measuring the acaricide
susceptibility of the cattle tick Boophilus microplus (Can.). Bull.
Entomolog. Res. 53, 563-578. 1962.
CLOSTRIDIOSES NA ESPÉCIE OVINA
Pesquisadora Científica Lucia Baldassi
Médica Veterinária, Instituto Biológico, Centro de Sanidade Animal. Av.
Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010-970,
São Paulo, SP. Tel.: 5087 1721. E- mail: [email protected]
As
bactérias
de
interesse
médico
são
grosseiramente
categorizadas em aeróbios e anaeróbios, de acordo com suas exigências
em relação ao oxigênio que é utilizado para gerar energia a ser
empregada nos seus mecanismos de metabolismo e crescimento.
Considerando-se apenas a necessidade e tolerância ao oxigênio teríamos
os aeróbios obrigatórios, os anaeróbios estritos e os intermediários entre
estes. Os aeróbios obrigatórios seriam aqueles que não se desenvolvem
sem a presença de oxigênio molecular enquanto os anaeróbios estritos
não se desenvolvem na presença deste.
Os anaeróbios, categoria dos clostrídios, são bactérias que se
desenvolvem em ambientes onde haja baixa tensão de oxigênio. A
maioria dos anaeróbios patogênica é parte da flora normal do organismo
sendo patógenos oportunistas. Assim infecções por anaeróbios podem
ocorrer em qualquer parte do corpo que ofereça condições favoráveis
para o seu desenvolvimento.
Muitos dos processos infecciosos que afetam as explorações
ovinas e bovinas são produzidos por bactérias do gênero Clostridium.
Os Clostridium estão amplamente distribuídos pela natureza.
Comumente são encontrados no solo, esterco, sedimentos marinhos,
vegetação em decomposição, produtos animais e vegetais, infecções em
tecidos moles e no trato intestinal do homem e animais, outros
vertebrados e insetos.
As infecções por anaeróbios podem ser desencadeadas por vários
fatores: intervenções cirúrgicas, traumas, isquemias vasculares, necroses
de tecido, tumores, presença de bactérias aeróbias e anaeróbias, etc.
Estas bactérias apresentam como principal característica a
formação de endosporos, o que lhes confere alta resistência permitindo
sua sobrevivência no solo por longos períodos.
Determinam várias
patologias: gangrenas gasosas nas quais predomina a mionecrose e
toxemia; enterotoxemias que afetam o trato intestinal e órgãos
parenquimatosos e desordens neurotrópicas nas quais o sistema nervoso é
o primariamente afetado.
Gangrenas Gasosas
Ø Manqueira e Edema Maligno
As gangrenas gasosas caracterizam-se por necrose do tecido
muscular.
Geralmente as grandes massas musculares são as mais atingidas
embora possam afetar a base da língua, músculo cardíaco, diafragma ou
mesmo o úbere.
320
Durante a multiplicação do agente há toxemia com formação de
gás.
A Manqueira, carbúnculo sintomático, black leg, black quarter ou
quarto inchado se constitui em um tipo de gangrena gasosa. Além dos
ovinos, várias espécies animais podem ser acometidas: bovinos, caprinos,
peixes e baleias. Os suínos são raramente afetados e o homem e eqüídeos
são considerados resistentes. O agente etiológico é o Clostridium
chauvoei, que à exceção dos demais clostrídios não é encontrado no solo.
Os animais jovens são os mais atingidos, ocorrendo entre os 3 meses e 2
anos de idade.
O Edema Maligno, gangrena gasosa causada pelo C. septicum, C.
novyi tipo A, atinge os ovinos e também os eqüinos, bovinos e suínos,
ocorrendo em qualquer fase da vida do animal.
O C. chauvoei pode ser ingerido com o alimento ou inoculado por
qualquer intervenção, enquanto os outros são introduzidos por
intervenções. Porém, qualquer que seja a porta de entrada passam para o
sangue e tecido muscular afetado onde se multiplicam produzindo as
toxinas e gás. Todos produzem uma série de toxinas letais, hemolíticas e
necrotizantes. O quadro clínico apresentado está relacionado à
multiplicação do agente, ao gás e às toxinas produzidas. A lesão é
acompanhada de edema, hemorragia e necrose miofibrilar, exalando
acentuado odor rançoso (C. chauvoei) ou pútrido (C. septicum e C. novyi
tipo A). Clinicamente o animal apresenta temperatura elevada, anorexia e
depressão e quando o músculo atingido é o de um dos membros observase a manqueira, que confere o nome à enfermidade. Inicialmente o local
afetado é quente, dolorido e crepitante. Com a evolução da doença o
local torna-se frio e indolor.
A morte é quase sempre inevitável e
ocorre em 2 horas ou até 2 dias.
Enterotoxemias e Desordens Hepáticas
Ø Hemoglobinúria Bacilar ou Urina Vermelha
Enfermidade que ocorre em áreas geográficas úmidas, onde há
Fasciola hepatica (parasita hepático).
As infecções subclínicas permitem a disseminação do C. novyi
tipo D pelas fezes, embora seja pouco encontrado no solo e trato
intestinal. Uma vez ingerido, o agente é levado ao fígado que pelos danos
determinados pelas fascíolas fornece condições à multiplicação desta
bactéria. As membranas apresentam-se ictéricas, há edema submaxilar e
de conjuntiva, além de urina e fezes sanguinolentas, pela ação da toxina,
que provoca a destruição dos eritrócitos. Em geral o animal é encontrado
morto, mas pode levar à morte em 2 a 3 dias.
O controle da enfermidade deve ser iniciado com a eliminação
dos caramujos, o que impedirá a sobrevivência das fascíolas. A
vacinação é recomendada somente em regiões onde ocorre a doença e
deve ser repetida a cada 6 meses.
Ø Hepatite Necrótica ou Doença Negra
Determina morte súbita. Nos bovinos está associada a infestação
por fascíolas e nos ovinos e suínos é desencadeada por degeneração
gordurosa do fígado decorrente de sistemas intensivos de alimentação. A
bactéria responsável é o C. novyi tipo B. Ocorre edema provocado por
grande quantidade de fluidos que se depositam nas cavidades do
organismo. Nas ovelhas os vasos sangüíneos se rompem deixando o
322
sangue enegrecido se depositar no sub-cutâneo, o que confere o nome à
enfermidade.
Doenças Intestinais
Apresentam como fatores desencadeantes as bruscas mudanças
alimentares, voracidade, excesso alimentar e de carboidratos. As
enterotoxemias são determinadas pelo C. perfringens que é classificado
em 5 tipos: A, B, C, D e E.
Os tipos B e C causam processos entéricos: desinteria e
enterotoxemia neonatal em cordeiros, também denominadas intestino
purpúreo, pela cor azul do sangue enegrecido. A dor abdominal é intensa
e a diarréia, com sangue, é escura levando o animal à morte em horas ou
semanas. Os sinais clínicos são causados por três toxinas: alfa, beta e
épsilon. O tipo C produz também pequena quantidade de enterotoxina.
O tipo D que produz as toxinas alfa, épsilon e enterotoxina
determina um quadro severo de enterotoxemia que leva os ovinos à morte
súbita (1 a 2 horas).
Doenças Neurotrópicas
Ø Tétano
É desencadeado por castração, descorna, tosquia, parto e
contaminação umbilical. As toxinas são formadas nas feridas,
contaminadas com esporos do C. tetani, são distribuídas pelo organismo
atingindo a medula e o cérebro. A ação da toxina determina os sintomas
se iniciam por ansiedade, espasmos e cãibras seguidos por rigidez geral,
que impede a locomoção do animal. Há um aumento da sensibilidade e
excitabilidade até que ocorra parada respiratória e morte.
Ø Botulismo
O botulismo é uma manifestação neuroparalítica provocada pela
ação da toxina do C. botulinum. Atinge principalmente as fêmeas prenhes
e em lactação. Animais deficientes em fósforo se intoxicam ingerindo
ossos para repor a carência uma vez que, com estes, ingerem também a
toxina. Outras fontes da toxina são águas estagnadas e silagens contendo
carcaças de animais.
Os sinais clínicos e o curso da enfermidade dependem da
quantidade de toxina ingerida. Observa-se desde morte rápida até
incoordenação motora, determinada por paralisia que progride até a
morte, que ocorre por parada respiratória.
À necropsia não se verificam lesões significativas que possam
permitir um diagnóstico. O diagnóstico laboratorial, feito pela
determinação da presença da toxina botulínica no soro sangüíneo,
conteúdo ruminal e intestinal do animal doente, é fundamental uma vez
que a raiva e outras enfermidades transmissíveis também apresentam
sinais neurológicos.
Ø Prevenção e Tratamento das Clostridioses
Embora os clostrídios sejam sensíveis à penicilina e antibióticos
de amplo espectro, em geral a infecção é verificada em estágio avançado
ou os animais são encontrados mortos, o que dificulta o tratamento.
Assim a prevenção que é o mais importante no controle das clostridioses,
está relacionada a cuidados de manejo.
Como manejo entende-se alimentação equilibrada e controlada,
higiêne ambiental (disposição adequada de carcaças) e de rebanho
324
quando se pratica qualquer intervenção (vacinação, vermifugação,
tosquia, castração), incluindo-se ainda a vacinação indicada. Para a
vacinação estão disponíveis no mercado vacinas específicas (tétano e
botulismo) e polivalentes para as gangrenas gasosas que devem ser
administradas a partir dos 3 meses de idade, um reforço um mês após e
revacinação anual.
O diagnóstico clínico deve ser confirmado pelo exame
laboratorial, portanto o animal deverá ser necropsiado logo após a morte
ou sacrifício, as lesões observadas e amostras coletadas para análise.
Ø Coleta e Remessa de Amostras
q
Para o exame bacteriológico (identificação do agente):
q
Punção local (quando se observar aumento de volume) com
seringa e agulha esterilizadas, retirar a agulha, vedar a seringa e
encaminhá- la sob refrigeração. Fragmentos de fígado, rins, músculo
cardíaco e intestinos com conteúdo e amarrados ou qualquer órgão
apresentando alteração devem também enviados sob refrigeração.
q
Para determinação da toxina:
q
Soro sangüíneo, conteúdos digestivos
e alimentos sob
refrigeração.
q
Para exame anátomo-patológico (identificação das lesões):
q
Pequenos fragmentos dos locais com alterações ou de fígado, rins,
intestinos em formol a 10 ou 20% em temperatura ambiente.
Referências Bibliográficas
CARTER,G.R.; CHENPAPPA , M.M. Essentials of veterinary bacteriology
and mycology. Lea & Febiger, Philadephia, 1991, 4e.
BIBERSTEIN, E.L.; ZEE, Y.C. Review of veterinary microbiology.
Blackwell Scientific Publication Inc. Boston, 1990.
HATHEWAY, C.L. Toxigenic clostridia. Clin. Microbiol. Vet. 3: 66-98,
1990.
NIILO, L.C. C. perfringens in animal diseases: a review of current
knowledge. Can. Vet. J., .21: 141-8, 1980.
SMITH, L.D.S. Botulism: the organism, it’s toxins, the disease. Charles
C. Thomas. Illinois, 1977.
EIMERIOSE OVINA
Pesquisadora Científica Márcia M. Rebouças
Bióloga, Instituto Biológico, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252,
Cx. Postal 12898, CEP 04010-970, São Paulo, SP Fone: (11) 5087 1790.
E- mail reboucas@biologico .br
A eimeriose, também chamada coccidiose, é uma doença causada
por protozoário do gênero Eimeria, provoca alterações intestinais que
ocasionam falta de apetite e, consequentemente, diminuição no
desenvolvimento corporal e, por vezes, a morte. Os animais jovens que
se recuperam são constantemente reinfestados, mas nem sempre sofrem
danos, devido a capacidade de adquirir imunidade, porém, tornam-se
fontes de infecção para outros animais. Inúmeras espécies do gênero
Eimeria infectam animais da espécie ovina, determinando sérios
prejuízos à ovinocultura em decorrência dos altos índices de morbidade e
mortalidade constatados em animais jovens com idade ao redor de dois a
seis meses. No Brasil, os estudos sobre eimerias em ovinos foram
iniciados em 1936. Sendo, no correr dos anos, identificadas as seguintes
326
espécies de Eimeria: E. faurei, E. arloingi, E. intricata, E. parva, E.
ahsata, E. ovinoidalis, E. crandallis, E. pallida, E. punctata, E.
granulosa, E. gilruthi e E. bakuensis.
A coccidiose acomete com mais freqüência animais em condição
de estresse, como: mudanças climáticas, nutrição indevida, provocando a
queda da resistência do animal. Neste momento, o animal parasitado por
eiméria, sofre as conseqüências dessa parasitose.
As infecções podem ser mistas, isto é por várias espécies ou
podemos encontrar uma só espécie parasitando o animal.
Essa parasitose é ocorre em animais jovens de 15 dias a 3 meses
de idade e incide em criações onde as condições sanitárias são precárias.
Os animais adultos resistem a infecção e tornam-se portadores e
disseminadores do protozoário.
Os ovinos adquirem a parasitose quando ingerem oocistos
infectantes, isto é, já matudos, misturados na água de bebida ou ração. A
gravidade da infecção depende do número de oocistos ingeridos e da
espécie de eiméria considerada. As infecções por uma única espécie são
muito raras. Sempre vai predominar as infecções mistas.
As várias espécies de eimeriídeos, na fase endógena (fase dentro
do hospedeiro), são parasitas de células intestinais e dentre elas, algumas
são consideradas mais patogênicas que outras.
O curso da infecção e o quadro clínico sofrem influência do poder
patogênico e da localização, intestino delgado ou grosso.
Os oocistos, formas infectantes do parasita, podem permanecer
viáveis no meio ambiente por períodos longos, desde que as condições de
temperatura e umidade sejam adequadas.
A dessecação, o calor, o congelamento e as temperaturas
moderadamente altas atuam sobre os oocistos fazendo-os perder a
infeccciosidade. Os oocistos maturos resistem mais do que os imaturos.
O meio propício, úmido, oxigenado, sombreado, livre de bactérias
e com temperatura oscilando de 2ºC a 38ºC, fornece aos oocistos
condições ótimas de sobrevivência.
A esporulação dos oocistos é impedida pelas fermentações e pela
putrefação; estes fatores, quando em grau elevado podem determinar a
morte dos oocistos imaturos e maturos.
O desenvolvimento dos oocistos é auxiliado pelas substâncias
químicas que normalmente são empregadas para a desinfecção dos
ambientes. Elas têm atuação sobre os microorganismos responsáveis pela
putrefação e fermentação e desta forma favorecem, pelo fato de
eliminarem elementos que competiriam no consumo de oxigênio, o
completo desenvolvimentos dos oocistos.
Os oocistos das eimerias são extremamente resistentes a muitos
sais, ácidos e bases. São necessárias concentrações relativamente altas de
formol, ácido sulfúrico, hidróxido de amônea e creosol para impedir a
esporulação dos oocistos.
Certos compostos, como, por exemplo, solução de amônea em
concentração alta, exercem ação local sobre os oocistos. Pode-se usar a
solução a 10% obtida a partir de uma solução forte de amômea.
O ciclo evolutivo varia ligeiramente conforme a espécie
considerada. A infecção ocorre após a ingestão de oocistos esporulados e
viáveis junto com a água de bebida ou alimentos. Após a ingestão, os
oocistos sofre a ação de enzimas digestivos produzidas pelo estômago,
intestinos, duodeno e pâncreas, determinam o rompimento da cutícula
328
dos oocistos e dos esporocistos liberando os espozozoítos. Mais
precisamente, seria a tripsina a enzima específica e determinante do
rompimento dos envoltórios e uma série de fatores são levados em
consideração durante a fase de liberação dos esporozoítos: concentração
do íon hidrogênio, temperatura, atividade tríptica etc.
Após a liberação, os esporozoítos invadem diretamente as células
epiteliais do intestino favoráveis ao desenvolvimento.
O parasita, após sua penetração, cresce e agora denominado
trofozoíto torna-se arredondado e aumenta de tamanho. A célula
parasitada tem seu tamanho aumentado a fim de acomodar o parasita,
apresentando o núcleo deslocado para a periferia. Em poucas horas o
núcleo do torfozoíto se divide por esquizogonia e forma-se o esquizonte.
Esta fase é chamada de primeiro estágio ou esquizonte de primeira
geração, a fim de ser diferenciado daqueles que irão se formar durante a
seqüência do ciclo evolutivo. Em equizogonia o citoplasma do
esquizonte ainda não se dividiu mas, após um curto período de tempo,
segmenta-se ao redor de núcleos recém formados a fim de produzir
merozoítos de primeira geração. Em ectopoligenia a coordenação de
material ao longo da membrana do blastóforo oposta ao núcleo, há
elevação cônica da superfície do blastóforo cercando a membrana interna
e conoides. A extremidade anterior elongada do merozoido contem
corpos densos e há invaginação da membrana do blastóforo em volta do
núcleo. O merozoito fica quase que completamente desenvolvido e ainda
ligado à porção final do blastóforo. O merozoito fica livre após a
separação do blastóforo que permanece como um corpúsculo residual
De início os merozoítos são arredondados, mas rapidamente se
alongam transformando-se em organismos fusiformes, com citoplasma
granuloso e núcleo arredondado e centralizado. O número de merozoítos
contidos no esquizonte varia de acordo com a espécie de eimeria
considerada.
Após a maturação os merozoítos são liberados do esquizonte,
invadem novas células e dão continuidade ao ciclo evolutivo, formando
novos esquizontes ou se diferenciam em formas sexuadas e produzem os
gametócitos masculinos e femininos.
Os microgametócitos (machos) aumentam de tamanho, sofrem
divisão múltipla e formam numerosos microgametas. O macrogametócito
(fêmea) cresce mais do que o microgametócito. Um único macrogameta é
formado a partir de cada merozoíto de segunda geração. O oocisto
formado é liberado do interior do tecido hospedeiro e passa, com as
fezes, para o meio externo.
O período que medeia entre a ingestão de oocistos esporulados e
viáveis até o aparecimento do primeiro oocisto nas fezes é denominado
período pré-patente. A duração deste período é variável de acordo com as
espécies de eimeria e serve como elemento auxiliar para a identificação.
A pré-patência varia de 5 a 10 dias, dependendo da espécie de
eiméria.
Nas infecções agudas observa-se
diarréia,
sede
intensa,
diminuição do apetite, distensão do abdome, emaciação, esgotamento
rápido, podendo morrer de modo repentino um grande número de
animais. A morte pode sobrevir sem sintomas aparentes ou após 4 a 8
dias com fenômenos entéricos.
Na realidade, a doença parece ter um curso fulminante, isto é
grande número de animais morrem sem sintomatologia aparente.
330
Segundo autores, 24 horas antes da morte grande parte dos animais
apresentam diarréia severa.
Na forma crônica da infecção o curso é mais lento, a diarréia
alterna-se com períodos de constipação, sobrevem meteorismo, os
animais enfraquecem de modo profundo e logo surgem convulsões e
paralisias gerais. As convulsões são devidas, possivelmente, a ação
tóxica de produtos metabólicos. A morte sobrevem após um período de 3
a 4 meses.
As eimérias determinam inflamações severas na mucosa
intestinal, com conseqüente aparecimento de secreção mucosa. A mucosa
do intestino delgado mostra inúmeras listras e pontos brancos. A medida
que a infecção progride observa-se ulcerações na mucosa, com infiltração
dos tecidos.
Os
efeitos
patológicos
determinados
pelas
eimerias
são
normalmente atribuídos a distúrbios de nutrição que surgem como
conseqüência dos danos mecânicos sofridos pela mucosa intestinal.
Porém, parte dos danos podem ser devidos a produção de substâncias
tóxicas após o processo que se instala na mucosa do trato intestinal e, por
vezes no abomaso como é o caso da Eimeria gilruthi.
O diagnóstico baseia-se no encontro de formas do parasita em
esfregaços intestinais e nas fezes.
A mera presença de oocistos nas fezes não permite assegurar que
o animal está doente, mas, o encontro deles associado a outros dados,
principalmente obtidos durante a anamnese e necropsia de um animal ou
mais, podem no s fornecer elementos suficientes para firmar o
diagnóstico, Deve-se ter em mente que durante a fase aguda da infecção
os oocistos podem não estar presentes nas fezes.
Quando se suspeita de eimeriose é sempre útil realizar exames de
fezes através da técnica de enriquecimento por flutuação, utilizando-se
para isso soluções concentradas de cloreto de sódio ou açúcar.
A fim de melhorar os resultados obtidos no exame anterior é
sempre conveniente diferenciar as várias espécies, após cultivo em
bicromato de potássio a 2%. A identificação precisa da espécie nos
permite ter uma idéia da patogenicidade da eiméria em observação.
Os oocistos das eimérias possuem numerosas características
morfológicas – forma, tamanho, cor, presença ou não de micrópila, de
resíduo oocistítico, de resíduo esporocístico, corpúsculo polar, corpo
stieda – que facilitam a identificação. Nestes casos, associa-se o tempo de
esporulação às características da infecção.
Em relação a profilaxia, deve-se ter em mente que os oocistos
apresentam grande resistência quando no meio ambiente e que a umidade
favorece a esporulação.
As informações que se seguem auxiliarão na obtenção de
ambientes de criação livres de animais com a doneça:
Ø manter as instalações adequadamente limpas e secas ( comedouros,
bebedouros e o ripado onde os animais se protegem da noite;
Ø o ripado deve ser distante do solo a fim de facilitar a retirada das
fezes, que devem ser removidas com freqüência;
Ø evitar que os animais tenham acesso ao interior dos comedouros e
bebedouros;
Ø deslocar os animais em gestação para ambientes limpos e
desinfetados;
Ø os animais jovens, após a desmama, devem ser conduzidos a lugares
limpos e separados dos mais velhos;
332
Ø no inverno, manter os animais ao abrigo de correntes de ar frio;
Ø manter o ambiente interno e vizinho livre de insetos, roedores, aves
etc;
Ø os objetos de madeira contaminados podem ser esterilizados pela
água fervente ou pelo calor seco; os metálicos, pela ação de uma chama
ou esterilização a temperatura de 50ºC;
Ø isolar animais cujo diagnóstico for positivo para eimeriose;
Ø somente incorporar ao rebanho novos animais, cujos exames para
eimeriose sejam negativos. Quando positivos trata- los primeiramente;
Ø utilizar medicamentos coccideostáticos administrados na ração ou na
água de bebida.
O controle da eimeriose ovina baseia-se no melhoramento da
higiene na criação e das normas de manejo. Boa alimentação é
fundamental. Deve-se proceder regularmente exames de fezes para se
aquilatar as condições de saúde do rebanho.
Literatura Consultada
BATISTA NETO, R.; LOPES , C.W.G.; GRISI, L. Macromerontes de um
coccidia no abomaso de ovinos. Arq. Flum. Med. Vet., 2 :49-50,
1987
REBOUÇAS, M.M.; AMARAL, V.; TUCCI, E.C.; ALBERT , A.L.L.;
MURAKAMI, T.O. Identificação de espécies do gênero Eimeria
Schneider, 1875, parasitas de ovinos nos Municípios de Presidente
Prudente, Guaratinguetá e Jardinópolis, São Paulo. Arq. Inst. Biol.,
64: 5-10, 1997.
YAKIMOFF, V.L. Coccidios dos animais domésticos do Brasil. Arq. Inst.
Biol., São Paulo, 7: 167-187, 1936.
DOENÇAS DA R EPRODUÇÃO
Pesquisadora Científica Edviges Maristela Pituco
Médica Veterinária, Instituto Biológico - Centro de Sanidade Animal,
Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010970, São Paulo, SP Fone: (11) 5087 1772. E- mail: pituco@biolo gico.br
1. Rinotraqueíte infecciosa dos bovinos/vulvovaginite pustular
infecciosa (IBR/IPV)
O Herpesvírus Bovino tipo-1 (BHV-1), classificado na família
Herpesviridae, subfamília Alphaherpesvirinae, gênero Varicellovirus
(ROIZMAN et al., 1995), é conhecido como o agente causal da
Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR). De acordo com a análise do
genoma viral, dois subtipos podem ser distinguidos: HVB-1.1 e HVB1.2. Estas variações não são detectadas por métodos sorológicos
convencionais, pois todas as amostras do HVB-1, se mostram idênticas.
Os subtipos HVB-1.1 e HVB-1.2 apresentam uma correlação parcial
entre a origem clínica de seu isolado e seu subtipo molecular. O subtipo
1, compreende a maioria dos isolados do trato respiratório e o 2 a maioria
das cepas genitais. A associação entre o subtipo e a forma da doença
deve, portanto, ser interpretada com muita prudência.
Em bovinos, o BHV-1 provoca uma variedade de sinais clínicos:
respiratório (rinotraqueíte em animais jovens e adultos, aborto,
conjuntivite) e genital (vulvovaginite pustular nas fêmeas, balanopostite
334
nos machos). O vírus é igualmente responsável por nascimento de
animais débeis e quadros de enterite, causando a morte de neonatos
(LEMAIRE et al., 1994).
O BHV-1 aparece de forma endêmica em todos os Continentes,
porém, são poucos os países que desenvolvem programa de erradicação,
a exemplo, Alemanha e Holanda, ou, que após aplicação destes, se
encontram livres ou virtualmente livres do BHV-1, como Dinamarca,
Noruega, Suécia, Finlandia, Suíça e Áustria. No Brasil, a IBR foi
registrada primeiramente em 1962 por GALVÃO na Bahia, sendo o BHV1 isolado pela primeira vez por ALICE em 1978 nesse Estado e no mesmo
ano por MUELLER em São Paulo. Desde então, vários surtos foram
relatados, provocando sérios prejuízos a pecuária nacional, especialmente
em bovinos de exploração leiteira e animais de confinamento. O impacto
econômico da IBR pode ser observado pelo retardo no crescimento de
animais jovens, menor produção leiteira, morte embrionária e fetal,
reduzida eficiência reprodutiva de matrizes e touros, além das restrições
ao comércio internacional de animais vivos e seus produtos como sêmen,
embriões e produtos de biotecnologia, previstas no Código Internacional
de Saúde Animal (OIE, 1995). A Comunidade Européia publicou, em
1991, diretrizes impondo estado soronegativo para o BHV-1 nos Centros
de Inseminação Artificial e para a importação de animais. Nos EUA, a
IBR é considerada a virose de maior importância econômica, sendo a
principal responsável por abortamentos, que podem variar de 16% a
25%. No Brasil esses dados econômicos não são ainda disponíveis.
2. Diarréia Viral Bovina - Bvd
A Diarréia Viral Bovina (BVD) é uma doença infecciosa,
transmissível, causada por um RNA vírus da família Flaviviridae, gênero
Pestivírus (W ENGLER et al., 1995). Este agente é morfologica e físicoquimicamente similar ao vírus da Doença da Fronteira ou “Border
Disease” dos ovinos e da Peste Suína Clássica. A BVD apresenta
distribuição geográfica cosmopolita e nos países onde estas viroses estão
presentes, tornou-se um desafio o diagnóstico diferencial, devido as
reações cruzadas entre elas. Os Pestivírus infectam naturalmente uma
grande variedade de espécies, incluindo ruminantes domésticos e
selvagens e suídeos em geral (N ETTLETON, 1990).
A denominação Vírus da Diarréia Viral Bovina deve-se à
descrição inicial deste em 1946, por OLAFSON, como o agente etiológico
de uma enfermidade entérica aguda, caracterizada pôr diarréia e lesões
erosivas no trato digestivo de bovinos, com alta morbidade e baixa
mortalidade. Posteriormente, em 1953, RAMSEY & CHIVERS associaram
este vírus com uma enfermidade entérica esporádica, altamente fatal,
denominada doença das mucosas. Atualmente sabe-se que este vírus é
um dos agentes que causa maior impacto econômico na esfera
reprodutiva de bovinos.
Ocorrem dois biotipos distintos do BVD, citopatogênico (CP) e
não citopatogênico (NCP), que são diferenciados molecularmente e
também pelo efeito citopático em monocamadas de células susceptíveis
(BROWNLIE, 1990). Há significativa heterogeneidade genômica e
antigênica entre isolados de campo. Recentemente, dois grupos de Vírus
da Diarréia Viral Bovina (BVDV) têm sido reconhecidos e designados
336
como genotipo I - amostras clássicas, usadas em produção de vacina,
testes diagnósticos e genotipo II - amostras mais recentemente isoladas.
A figura 01 apresenta esquematicamente as diferentes formas
clínicas do BVDV e suas consequências para o embrião ou feto.
3. Neosporose
O
Neospora
caninum
é
um
protozoário
que
parasita,
principalmente, bovinos e caninos, mas acomete um grande número de
hospedeiros. A infecção natural foi evidenciada também em ovinos,
caprinos, eqüinos e cervídeos. Foi erroneamente identificado como
Toxoplasma gondii até o ano de 1988, qua ndo foi primeiramente descrito
em cães (DUBEY et al., 1988a).
A primeira descrição deste parasita em bovinos ocorreu em 1989
por DUBEY et al., a partir de então muitos trabalhos tem sido publicados
sobre o assunto, enfocando a importância econômica da Neosporose em
bovinos, principalmente como causa de aborto.
Duas revisões publicadas recentemente têm resumido a estrutura,
ciclo de vida, diagnóstico e controle de Neospora e neosporose em
animais (DUBEY & LINDSAY,1996; DUBEY,1999).
Adulto ou
bezerro
Vírus
Ac.-→ +
Vaca
prenhe
→
→
Ac.- →+
Morte
precoce;
embrion.
Reabsorçã
oAborto
Vírus
Vírus
Infecção
Clínica
Sub-
Sintomas
Leves
Associação com
ocomplexo
Pneumoenterite
Trombocitopeni
q. 160 d.
a
Infecção ~ 40-120 d .
Vírus
→
Infecção ~ 90-160 d .
Infecção +
Ac.
Vírus e
Ac
Forma severa
Bezerro:
Persistente
infectado,
Imunotolerante
,(Sem Ac. contra
Retardo no
BVD)
crescimento
Superinfecção/mutaç
CP BVD-Vírus
ão
homólogo
Doenças das
→
Mucosas
Morte
Bezerro:
Malformaçõe
s
Bezerro:
Animal
→ Imune
Ac.
normal,
(Sem BVDVírus)
Superinfecçã
oBVD-Vírus
heterólogo
Formação de
Ac
Figura 1: Apresentação esquemática das possíveis conseqüências de uma
infecção pelo vírus da BVD
Fonte: W EISS, et al., (1994)
Embora N. caninum e T. gondii sejam estruturalmente e
antigenicamente relacionados, eles são distintos biológicamente. Por
exemplo, N. caninum é a principal causa de abortamento em bovinos
(ANDERSON et al.,1991, ANDERSON et al.,1995), enquanto T. gondii não é
conhecido como causa de abortamento em bovinos. Neospora não é
considerado um patógeno humano, enquanto T. gondii pode causar perda
de visão ou ainda morte em humanos.
A epidemiologia e o controle de neosporose bovina são uma área
de investigação para o futuro. Como os bovinos se infectam na natureza é
um enigma. A recente descoberta de oocisto em fezes de cães pode
338
explicar infecção pós natal. Embora, em limitados experimentos, cães
liberam somente poucos oocistos (MCALISTER et al.,1998, LINDSAY et
al., 1999). Novas investigações são necessárias para elucidar, se outros
canídeos ou carnívoros podem excretar oocistos de N. caninum. A
prevalência e sobrevivência de oocistos de N. caninum no ambiente são
desconhecidas.
Devido a similaridade com Toxoplasma gondii, acredita-se que
este tenha um ciclo de vida semelhante, onde a infecção pode ocorrer por
ingestão de oocistos das fezes de cão, que é o hospedeiro definitivo
(MCALLISTER et al.,1998), e por transmissão congênita, única forma
demonstrada até o momento. (BARR et al., 1995; PARÉ et al., 1997). Esta
forma de transmissão é responsável pela perpetuação da doença nos
rebanhos, fato comprovado pela alta taxa de infecção de bezerros, filhos
de mães infectadas. Se a transmissão fosse pós-natal, por fezes ou
alimentos, a prevalência esperada em vacas mais velhas seria maior, uma
vez que estes animais estão sujeitos a um maior período de exposição.
Porém não há um aumento de soroprevalência relacionado com a idade
dos animais. A falta de um efeito da idade da mãe na soropositividade
pré-colostral e a soroprevalência constante nos rebanhos sugere que a
transmissão congênita é a principal via de transmissão. Desta forma, são
necessários estudos para caracterizar e quantificar riscos de infecção pósnatal (PARÉ et al., 1996).
4. Defeitos Congênitos
Bezerros podem apresentar sinais neurológicos fracos ou nascer
sem sinais. Exame neurológico pode revelar ataxia, reflexo patelar
diminuído e perda de consciência (PARISH et al., 1987; BARR et al.,
1993).
Embora neosporose congênita subclínica seja provavelmente
incomum, somente poucos casos com neosporose clínica tem sido
relatados: paralisia, ataxia, exoftalmia ou olhos com aparência
assimétrica (BRYAN et al., 1994) ou deformações associadas com lesões
das células nervosas no embrião (DUBEY & LAHUNTA , 1993).
Em bezerros infectados congenitamente, a doença se restringe
principalmente no SNC. Lesões macroscópicas consistem de malácia
(O’TOOLE & J EFFREY, 1987) e desvio ou estreitamento da coluna
vertebral (BRYAN et al., 1994). Lesões microscópicas consistem de
encefalomielite não supurativa caracterizada por infiltração perivascular,
gliose e necrose suave. Cistos são freqüentemente observados. A medula
espinhal pode apresentar mais cistos que o cérebro.
A maioria dos bezerros com neosporose clínica morre nas
primeiras 4 semanas de vida. Se o desenvolvimento de neosporose clínica
está relacionado coma cepa de N. caninum, a idade do feto ou o estado
imunitário da mãe no momento da infecção é desconhecido. É provável
que somente uma pequena porcentagem de bezerros infectados
congenitamente tem neosporose clínica. Em 2 fazendas na Califórnia, 31
e 54% de bezerros apresentaram anticorpo pré-colostral (PARÉ et al.,
1996a).
Nos países em desenvolvimento, as doenças infecciosas são de
longe as responsáveis pelos prejuízos econômicos dos planteis bovinos.
Países desenvolvidos, como os Estados Unidos, estimam entre US$ 15
bilhões ao ano os custos com doenças infecciosas. Dados divulgados no
Congresso Mundial de Buiatria de 1986, mostram estimativas de custos
340
mundiais em milhões de dólares, com algumas doenças do gado bovino
tais como: Diarréia neonatal US$ 3,000; Língua azul US$ 3,000; Leucose
bovina. US$ 900; Leptospirose US$ 4,500; Brucelose US$ 3,500 e Mastite
US$ 35,000.
Ainda não existe estudo clínico e relatos da ocorrência da
Neosporose no Brasil. Estratégias de controle e prevenção dependem
fortemente do conhecimento dos riscos de infecção, do conhecimento
epidemiológico da doença nos rebanhos, começando com exposição na
vida fetal e continuando durante a vida produtiva do animal.
5. Referências Bibliográficas
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PROGRAMA NACIONAL DE M ELHORIA DA Q UALIDADE DO LEITE
Pesquisador Científico José Ramos Nogueira
Instituto
de
Zootecnia
/NPZ-NE
Ribeirão
Preto
-
e-mail:
[email protected]
1. Introdução:
O leite é um alimento cuja popularidade e importância são
incontestáveis. Dessa forma somente se o leite for adequadamente obtido
e processado é que ele terá conservado suas características organolépticas
e nutricionais, e portanto sua qualidade.
São as seguintes as características de um leite de boa qualidade:
Ø Ser livres de todos os germes patogênicos.
Ø Possuir baixa contagem total
Ø Ser livre de sedimentos e matérias estranhas
Ø Possuir sabor levemente adocicado e um flavor levemente aromático
Ø Estar de acordo com os padrões legais
Para atingir esses requisitos, é necessário que o controle seja
exercido desde a produção até a distribuição. No entanto a Legislação
vigente para os produtos de origem animal é bastante antiga (1952) com
344
algumas alterações posteriores e classifica o leite por letra A, B, C e leite
industria:
Leite tipo A:leite integral: máximo de 10.000 ufc/ml; envasado no local
de produção
Leite tipo B: leite Integral: máximo de 500.000 ufc/ml
Leite tipo C:leite padronizado no mínimo 3% de gordura
Acidez Dornic máxima de 18; máximo de 2.000.000 de ufc/ml
Leite industrial
Leite que foi desclassificado para o tipo C;
redutase menor que 1,5 horas
Dada a grande mudança no setor e principalmente no consumidor
final esta sendo proposto alteração na legislação do leite dando ênfase na
melhoria da qualidade do produto em todas etapas da cadeia.
O projeto de mudança do RISPOA e o novo regulamento das
normas de qualidade encontram-se na Secretaria Nacional de Defesa
Sanitária em Brasília para a respectiva aprovação após ampla discussão
no setor.
2. Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Cru
Resfriado
Objetivo: Fixar a identidade e os requisitos mínimos de qualidade para a
produção de leite cru resfriado.
Definição: Entende-se por leite, sem especificar a espécie animal, o
produto obtido da ordenha completa e ininterrupta, em condições de
higiene, de vacas leiteiras sadias. O leite de outras espécies deve
denominar-se segundo a espécie da qual proceda.
Tabela 1 Parâmetros de controle e expectativa de dados para três níveis
de tecnificação do sistema de produção de leite vigentes atualmente.
Nível de tecnificação do produtor
Parâmetro Controlado
“B”
“C”
Lípides (g%)
>
> 3,25
3,25
Peroxidase (U.A.)
Ác.
“A”
Conclusão
interferência
ou
>
3,50
+--
+--
+++
exposição a H2 O2
Úrico 3,90
3,12
2,50
exposição a H2 O2
(mg/100ml)
Fosfatase (U.A.)
---
---
---
Coliformes
0
2
5
(NMP/ml)
1
4
10
no
calor: (a) >62ºC/30’
mercado*
(NMP/ml)
(ufc/ml) - quando >10.0 >500.000
>1.50 fezes ou mamite
cru*
0.000
00
Quando
past.* >500 >40.000
(ufc/ml)
No
>150. baixa higiene (b)
000
mercado >1.00 >80.000
>300. impróprio p/ classe
(ufc/ml)
0
000
Redutase (hs/red.)
<5
<3,5
<1,50 baixa higiene
Acidez cru (ºD)
>15-
>16-17
>17-
16
Extr.
(g%)
Seco
(uc/ml)
Quando
18
total <11,7 <12,00
5
C. somáticas: cru* <2x1
<12.3 <
energia
0
<2x105
05
past.* <1x1
baixa higiene
<2x1
>
manite (c)
05
<1x105
1x105 >
recontaminação
346
5
(uc/ml)
Temperatura
0
cru <5
<5
<22
>
negligênica
past. <5
<5
<5
>
negligênica
(ºC)
Temperatura
(ºC)
Ponto congel. (ºH)
-----
-0,530 a - -----
<> fraude
0,550
DPC (ºH)
-----
0,530
a -----
0,550
Inibidores (d)
-
-
-
<> idem
Conservadores (d)
-
-
-
+
crime
Fraude com soro (d) -
-
-
+
crime
Fraude com água (d) -
-
-
+
crime
Defensivos (d)
-
-
+
crime
-
calor aplicado; (b) pós-pasteurização; (c) ou fisiopatologias; (d) acima
dos limites de tolerância estabelecidos pela FIL.
Entende-se por “leite cru resfriado”, o produto definido
anteriormente resfriado e mantido abaixo das temperaturas constantes da
tabela 2, transportado da propriedade rural – granja leiteira, estábulo
leiteiro ou fazenda leiteira – para um posto de leite ou estabelecimento
industrial, para ser processado e que não seja destinado diretamente ao
consumidor final. E será designado para a venda):“Leite Cru
Resfriado”.
Composição e qualidade:
Aspecto e Cor: Líquido branco opalescente homogêneo.
Sabor e Odor: Característicos, isento de sabores e odores estranhos.
Ausência: Inibidores, neutralizantes da acidez e reconstituintes de
densidade, aditivos e coadjuvantes
Recomendações:
Boas práticas de higiene para a produção e para o transporte do
produto devem ser aplicadas.
Atender a legislação vigente quanto aos contaminantes orgânicos,
inorgânicos e os resíduos.
Atender o Regulamento Técnico para Coleta de Leite a Granel.
Obedecer a legislação específica para identificação.
NOTA: Leite cru para a produção de leite tipo A e leite tipo B deve
observar normas próprias relativas a tais produtos, sendo que nenhum
padrão de qualidade pode ser inferior ao estabelecido neste Regulamento.
3. Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite
Pasteurizado.
Objetivo: Fixar a identidade e os requisitos mínimos de qualidade que
deverá ter o leite pasteurizado, sendo permitida a produção de outros
tipos de leite pasteurizado desde que definidos em regulamentos técnicos
de identidade e qualidade específicos.
Definições:
Pasteurização é o processo aplicado a um produto com o objetivo de
evitar perigos à saúde pública originados por microrganismos
patogênicos associados ao leite pelo tratamento térmico consistente com
mínimas modificações químicas, físicas, organolépticas e nutricionais.
348
Leite pasteurizado: é o leite fluido que submetido a temperatura de 72 a
78 graus Celsius por 15 a 40 segundos de resfriamento à temperatura
inferior a 5 graus Celsius e envasado no menor prazo possível sob
condições que miniminizem contaminações. O produto deve apresentar
teste de fosfatase negativo e peroxidase positiva imediatamente após o
tratamento térmico.
Classificação:
De acordo com o conteúdo da matéria gorda o leite pasteurizado
classifica-se em:
Leite pasteurizado integral.
Leite pasteurizado semi-desnatado ou parcialmente desnatado.
Leite pasteurizado desnatado.
Composição:
Ø Ingrediente Obrigatório; Leite cru resfriado
Ø Ingredientes Opcionais: Creme Vitaminas e/ou minerais
Tabela 2. Requisitos microbiológicos, de CCS e de resíduos químicos
leite cru resfriado.
Requisitos/métodos
análises¹
(periodicidade)
de Fase
preparatóri
a
Até
31/12/2001
Redutase (2)
Mínimo
(2 x por mês)
1:30 h
Contagem Padrão em
placas ufc/ml Método
FIL 100B: 1991 (média
geométrica sobre um
Primeira
Fase
a partir
de
01/01/20
02
Máximo
2.000.00
Segunda
Fase
a partir
de
0101/200
5
Fase
meta
a partir
de
01/01/20
08
Máximo
750.000
Produtor
es
individua
is menos
período de 2 meses, com
pelo menos 2 análises
por mês)
0
que
100.000
Conjunto
de
produtore
s menor
que
300.000
Contagem de células
somáticas/ml
para
produtores individuais
Máximo Máximo
Método FIL 148A: 1995
de
750.000
(média geométrica sobre
1.000.00
um período de 4 meses,
0
com pelo menos 2
análises por mês)
Resíduos de drogas
equivalentes
em
antibióticos do grupo ß- Menor que 0,005 UI/ml
Lactam)
Método AOAC 15 ª Ed.
(pelo menos 1 análise
por mês)
Temperatura para o leite
Máximo 7 ºC
3 horas após a ordenha
(cada ordenha)
Temperatura
para
Máximo 10 ºC
recebimento na indústria
(cada remessa)
Máximo
400.000
Máximo
4 ºC
Máximo
7 ºC
Tabela 3. Requisitos Físico-Químicos para o leite cru resfriado
Requisitos
Limites
Matéria-Gorda g/100 g(2 x mês)
Mínimo 3,0 (leite integral)2
Densidade à 15/15 ºC g/ml (2 x mês)
1,028 a 1,034
Acidez ácido lático/100 ml (2 x mês)
0,14 a 0,18
E. S. desengordurado G/100 (2xmes)
Mínimo 8.4
350
Índice Crioscópico (2 vezes ao mês)
Máximo –0,512ºC
Proteínas g/100g ( comprador)
Mínimo 2,8
Requisitos:
Ø Características Sensoriais
Ø Aspecto: Líquido
Ø Cor: Branca
Ø Odor e sabor: Característicos, sem sabores nem odores estranhos.
Acondicionamento
O leite pasteurizado deverá ser envasado com materiais
adequados para as condições previstas de armazenamento e que garantam
a hermeticidade da embalagem e uma proteção apropriada contra a
contaminação.
Aditivos, coadjuvantes :
Contaminantes:
Não permitidos
Não devem superar os limites estabelecidos pela
legislação
Peso, medida e rotulagem : Será aplicado legislação específica
NOTA: Leite Pasteurizado tipo A e Leite Pasteurizado tipo B devem
observar normas próprias relativas a tais produtos, sendo que nenhum
padrão de qualidade pode ser inferior ao estabelecido neste Regulamento.
Tabela 4. Requisitos físico químico para o leite pasteurizado.
Requisitos
Leite
Semi
integral
parcialmente
ou Leite desnatado
desnatado
Matéria
g/100 g
Gorda Mínimo
3,0
0,6 a 2,9
Máximo de 0,5
Acidez
g
ac. 0,14 a 0,18
Lático/100g
Estabilidade
ao Estável
etanol
E.
S. Mínimo 8,4
desengordurado %
Índice crioscópico Máximo – 0,512ºC
Tabela 5. Critérios microbiológicos e tolerâncias para o leite
pasteurizado.
Microoganis Tolerância
mos
para
amostra
indicativa
Contagem
1,0 x 105
Tolerância
para Categor Método de
amostra representativa ia
análise
I.C.M.
F.S.
5
N=5 c=2 m=1,0x10 3
FIL 73A:
ufc/ml
M=3,0x105
1985
Coliformes a 10
N=5 c=2 m=10 M=15 3
FIL
30ºC
73A:
1985
Coliformes a 2
N=5 c=2 m=2 M=5
6
45ºC
APHA
1992,
Salmonela sp aus
N=5 c=0 aus
12
/25g
FIL
1985
4. Possíveis Impactos da Nova Legislação
Ø Continuar reduzindo o número de produtores
Ø Necessidade de maior capacitação em todo o processo:
q
resfriamento do leite
q
limpeza dos equipamentos
93A:
352
q
controle de mastite
Ø Nova legislação é condição necessária mas, não suficiente
Ø mercado (indústria) continuará a comandar o processo de melhoria da
qualidade
Ø Pagamento por qualidade
q
Maior capacitação de todos os agentes econômicos (produtor,
técnico e indústria):
Ø Facilidades laboratoriais
q
Resfriamento do leite na fazenda e coleta a granel
Tabela 6. Metas do Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do
Leite
Ano Nº máximo de UFC/ml Nº máximo de CCS/ml
2002
1 milhão
1 milhão
2005
750 mil
750 mil
2008
100 mil
400 mil
Fonte: Portaria nº 56 do Ministério da Agricultura de 07/12/1 999.
5. Situação Atual do Setor
Um levantamento realizado pela Itambé retrata a realidade da
pecuária leiteira da região Sudeste do pais e mostra os seguintes aspéctos:
5.1. Faixa de Produção
Tabela 7. Distribuição do Número de Produtores e da Produção de Leite
da Itambé, em dezembro de 2000.
Faixa de produção Produtores
(litros/dia)
(%)
Até 25
11,04
26 a 50
11,29
51 a 100
19,33
Produção (%)
0,48
1,54
5,08
101 a 200
201 a 500
Mais de 500
TOTAL
QUANTIDADES
Fonte: Itambé
21,55
20,51
16,28
100,00
8.412
10,93
22,46
59,51
100,00
74.164.559 litros
5.2. Produção e Produtividade
Ano
1995
1996
1997
1998
1999
2000
Taxa anual de cresc.
Fonte: Itambé
Produtores Produção Média
Número
Índice L/dia
21.337
20.155
19.043
16.869
12.694
8.412
-17%
100
94
89
79
59
39
-
1.854.981
2.028.512
2.076.945
2.141.841
2.184.759
2.392.405
5%
Índic
e
100
109
112
115
118
129
-
5.3. Qualidade do Leite
Tabela 7. Distribuição percentual do volume de leite da Itambé, segundo
faixas de tempo de redutase*
Redutase % Volume leite % Volume leite % Volume leite
(min.)
latão - 1997
granel - 1999
granel - 2000
0 a 100
61,534
7,137
9,231
101 a 200 38,254
41,151
43,397
201 a 300 0,213
44,785
39,689
301 a 400 0,000
5,352
5,400
401 a 500 0,000
1,317
1,911
501 a 600 0,000
0,259
0,372
> 601
0,000
0,000
0,000
Total
100
100
100
L/Ano
778.977.438
538.914.361
756.598.141
Fonte: Itambé
354
* A coleta das amostras para análises foi realizada no final da linha, no
caminhão.
5.4. Temperatura de Recebimento
Tabela 8. Distribuição percentual do volume de leite Itambé, segundo
faixas de temperatura, nos produtores e na fábrica, em 2000.
Temperatura
(graus C)
< 3
4
5
6
7
8
9
> 10
Fonte: Itambé
Produtores Fábrica
21,12
49,93
21,14
4,61
2,48
0,24
0,14
0,35
0,721
4,354
16,066
42,067
27,807
6,420
1,815
0,750
5.5. Contagem de Células Somáticas
Tabela 9. Distribuição percentual dos produtores da Itambé – em
1999/2000, segundo faixas de contagem de células somática em 65.565
amostras de leite.
Amostra de Produtores
Faixa de CCS
(%)*
Até 540 mil/ml
59,67
De 541 a 780
17,26
mil/ml
De 781 a 1020
9,12
mil/ml
Mais de 1020
13,95
mil/ml
TOTAL
100,00
Média 447 mil/ml
Fonte: Itambé
ESTUDO DAS TERAPIAS DA M ASTITE CATARRAL DOS BOVINOS NA
CLÍNICA DE OBSTETRICIA E G INECOLO GIA DA ESCOLA SUPERIOR DE
M EDICINA VETERINÁRIA DE HANNOVER
Pesquisadora Científica Lilian Gregory
Médica Veterinária, Instituto Biológico, Centro de Sanidade Animal, Av.
Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010-970,
São Paulo, SP. E- mail: [email protected]
1. Introdução
Desde o final do século 18, considerava-se que as enfermidades
da glândula mamária dos bovinos eram causadas por picadas de alguns
insetos, contato com sangue ou com as secreções de feridas expostas.
Também atribuí a-se, na época, como uma das causas de ocorrência das
moléstias que acometiam a glândula mamária, a influência de fantasmas
ou maus espíritos, por essa é que se tratava, ao então chamado “mal-doespírito”, com relíquias, água benta ou desinfetantes naturais.
Com W ILLBURG iniciou-se, em 1787, estudos com bases
científicas das doenças da mama. Todavia o empenho dos especialistas
referiam-se apenas a nosologia da patologia da glândula mamária, não
abordando aspectos relacionadas a etiopatogenia dessas enfermidades
(toxionomia - ciência que trata do arranjo e classificação dos animais) já
356
que, naquela época, desconhecia-se a existência dos microorganismos.
No seu manual para o fazendeiro, o autor descreveu diferentes tipos de
mastite como sendo variadas formas de inflamações da glândula
mamária. Em seguida, num período que se caracterizaria pela observação
das lesões e órgãos lesados, iniciaram-se pesquisas e estudos para a
avaliação da natureza intrínseca do mal da glândula mamária, que afetava
a produção leiteira alterava a qualidade do produto lácteo.
Atualmente, com a evolução das técnicas laboratoriais permitiuse o isolamento e a identificação de várias bactérias, fungos e algas
como agentes etiológicos da Mastite, sendo que W ENDT (1994)
diferenciou a mastite de acordo com o achado laboratorial e os sintomas.
BLECKMANN & HOEDEMAKER (1996), na Clínica de Ginecologia
e Obstetrícia de Hannover, em 13.004 amostras de leite com exame
bacteriológico positivo, entre os anos 1990 até 1994, encontraram o
seguinte espectro: 36% de Streptococcus, 33% de Staphylococcus, 13%
de coliformes, 6% de leveduras, 3% de Actinomyces pyogenes, 7% de
infecção mista e 2% de outros agentes.
São muitos os fatores que influem no tratamento das Mastites. A
variação da cura clínica que podemos ter no tratamento das diversas
formas de Mastite pode ser de 40% a 95%, dependendo do agente
etiológico envolvido. A antibioticoterapia é o tratamento mais utilizado
nas diversas formas de Mastite e a sua eficácia irá depender da meia-vida
do antibiótico empregado e de sua capacidade de difusão no parênquima
da glândula mamária. Muitas vezes a subdosagem causada pela má
administração
do
medicamento
é
descrita
como
causa
de
desenvolvimento de resistência do microorganismo, mas é antes a sua
insuficiente difusão na glândula mamária um fator predisponente para o
desenvolvimento da resistência bacteriana. As lesões do parênquima
causadas pelos diferentes microorganismos responsáveis por um quadro
de mastite e também os detritos produzidos por estes agentes provocam
um bloqueio mecânico que dificulta a distribuição do medicamento no
local infectado. Acreditava-se que a administração de medicamentos por
via parenteral resolveria o problema, mas constatou-se que apenas uma
pequena parte da dosagem administrada na corrente circulatória atingia o
parênquima mamário. Somente a administração de uma alta dosagem
exerceria ação curativa na glândula. Entretanto, este procedimento
tornaria o tratamento inviável, em vista do perigo de intoxicação do
animal. O maior sucesso do tratamento pressupõe que a escolha de um
medicamento seja antecedida de um estudo sobre a sua ação
farmacocinética e farmacodinâmica, a fim de avaliar a sua capacidade de
eliminar o microorganismo do local infectado sem causar danos
significativos ao animal. A apresentação desta palestra foi baseada no
trabalho da avaliação de algumas formas de terapia dos pacientes da
Clínica de Obstetrícia de Hannover com Mastite Catarral entre os anos de
1986 e 1996.
Bibliografia:
BLECKMANN, E. HOEDEMAKER, U. M. (1996):Möglichkeiten und Grenzen
der
bakteriologischen
bakteriologischen
Untersuchung
Untersuchung
von
von
Milchproben
Milchproben
in
in
der
der
Tierarztpraxis. Prakt.Tierarzt, 77, 22-23.
GREGORY, L. (1999) Die katarrhalische Mastitis des Rindes:
Häufigkeit, Ätiologie und Therapie. Hannover, Tierärztl. Hochsch.,
Diss.
358
WENDT, K.; BOSTEDT, H.; MIELKE, H. & F UCHS, U. A. W. (1994) Euterund Gesäugekrankheiten. Verlag Fischer, Stuttgart, Jena, S. 226 431.
WILLBURG, A. K. VON (1787) Anleitung für das Landvolk in Absicht
auf die Erkänntniß und Heilungsart der Krankheiten des
Rindviehes. Verlag Stein, Nürnberg, S. 67 - 138.
RAIVA R URAL E URBANA
Pesquisadora Científica Elenice Maria Sequetin Cunha
Médica Veterinária, Centro de Sanidade Animal, Instituto Biológico. Av.
Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010-970,
São Paulo, SP Fone: (11) 5087 1779, Fax: (11) 5579 0824. E- mail:
cunha@biologico .br
A raiva é uma doença viral infecciosa do sistema nervoso, de
evolução aguda, e que afeta todos os animais de sangue quente, mas
essencialmente os mamíferos. Apesar de todos os avanços científicos, a
raiva continua sendo um grande problema de saúde pública, tanto no
meio urbano quanto no rural.
O vírus rábico pertence à Família Rhabdoviridae, gênero
Lyssavirus sendo seu genoma constituído de RNA de cadeia simples em
forma de bala de fuzil. Os membros desta família possuem natureza
proteica complexa, o que os torna bons indutores de imunidade, quando
comparados a outros vírus.
Em sua constituição encontramos cinco proteínas, sendo que a
glicoproteína do envoltório viral é o único antígeno capaz de induzir a
síntese de anticorpos neutralizantes no hospedeiro, conferindo proteção à
doença. O vírus da raiva é rapidamente inativado pelos solventes
lipídicos, pelo formol, a temperaturas elevadas ( 60°C), pelos pH ácidos e
raios ultra- violetas.
A raiva está distribuída em todo mundo, com exceções de
algumas países que a erradicaram ou permaneceram livres devido a
proteção natural, ou através da implantação de regulamentos rigorosos de
quarentena. Estas regiões são a Austrália, o Uruguai, algumas ilhas do
Caribe, o Japão e alguns países Europeus.
A perenidade da doença é assegurada pelo grande número de
espécies animais susceptíveis que atuam, também, como transmissores.
Atualmente, o cão é, ainda, o maior reservatório do vírus da raiva na
África e em certos países Asiáticos e Sul-Americanos, sendo responsável
pela raiva urbana. Na América do Norte e Europa, as espécies mais
envolvidas são as silvestres, reservatórios naturais da doença. Ainda na
América Central e do Sul, o morcego hematófago Desmodus rotundus
está envolvido na transmissão da doença, principalmente na zona rural,
causando sérios prejuízos econômicos.
Após penetrar no tecido subcutâneo ou em alguma massa
muscular, através de mordedura ou lambedura, o vírus da raiva se
propaga para o sistema nervoso central via axoplasma dos nervos
periféricos. Uma vez estabelicida a infecção do sisteam nervoso central,
o vírus se difunde para as glândulas salivares e diversos órgãos. A
disseminação hematológica pode ocorrer mas é rara.
O período de incubação é bastante variável em função da espécie
animal transmissora e da contaminada, a localização da lesão, a
quantidade de vírus inoculada, proximidade do sistema nervoso central, o
360
tipo e a extensão da lesão provocada pela mordedura, a higidez e o nível
imunitário do agredido, entre outros fatores. Em média, o período de
incubação varia, para cães e gatos, em torno de 10 a 60 dias; para os
bovinos, eqüinos, suínos e outros entre, 25 a 90 dias; no homem, o
período de incubação é de 2 a 8 semanas, mas pode variar desde 10 dias
até 8 meses. Em animais silvestres o período é bastante variável, não
havendo definição clara para a grande maioria deles.
Quanto aos sintomas da raiva, há uma variação no que diz
respeito à predominância das manifestações. Classicamente, o vírus da
raiva apresenta três fases distintas: a fase prodrômica, a fase excitativa e
a fase paralítica. Nos cães e gatos, inicialmente, há uma alteração do
comportamento e o animal se isola dos demais e das pessoas, buscando
se esconder em locais escuros. A alteração na temperatura não é
significante e a incapacidade na retenção da saliva pode ou não ser
notada. A seguir, já na fase de irritação e excitabilidade, o animal tornase agressivo, atacando a outros animais e pessoas e até objetos
inanimados e empreende longas caminhadas, sem rumo definido,
continuando a deferir seus ataques. Pode também ocorrer a estimulação
do trato urogenital, evidenciada pela micção freqüente, desejo sexual e
ereção no macho. Uma característica marcante é o latido do animal que
se torna bitonal e rouco. Os gatos, geralmente, tornam-se agressivos e
extremamente perigosos causando mordeduras e vários arranhões. Após
essa fase de excitabilidade, sobrevêm as paralisias, inicialmente dos
músculos da garganta e masseteres, dificultando a deglutição, sendo a
queda da mandíbula muito freqüente nos cães. A paralisia progride por
todo corpo levando o animal à morte por asfixia, que ocorre quando a
musculatura respiratória é atingida.
Em relação aos sintomas da raiva transmitida pelos vampiros aos
herbívoros, a paralisia atinge inicialmente os membros posteriores,
provocando um andar cambaleante. A lactação cessa
de repente em
vacas leiteiras. Ao invés da usual expressão plácida, os animais tornamse vigilantes, seus olhos e suas orelhas seguem sons e movimentos. O
animal faz esforços para defecar e urinar, porém não consegue. Emite
mugidos constantes e roucos. Na maioria das vezes, o animal apresenta
dificuldade de deglutição e abundante salivação. Finalmente, deita e não
se levanta mais até a morte. Em equinos há um período de exitação, com
intensidade e duração variáveis, seguido de manifestações de paralisia
que dificultam a deglutição e provocam incoordenação das extremidades.
Os suínos, geralmente, tornam-se agressivos e podem provocar sérias
lesões ao atacar.
Nos morcegos hematófagos ocorre mudança na atividade
alimentar,
hiperexcitabilidade,
agressividade,
tremores,
falta
de
coordenação dos movimentos, contrações musculares e paralisia. No
começo da enfermidade, os indivíduos doentes afastam-se da colônia,
deixam de realizar o asseio corporal (seus pelos tornam-se desalinhados
e sujos), são acometidos por tremores generalizados e geralmente
possuem feridas frescas que são provocadas por agressões
de seus
companheiros sadios a cada tentativa de reintegração ao agrupamento de
onde são expulsos violentamente. Estes perdem a capacidade de voar e
podem cair no chão. Há um aumento gradativo dos sintomas paralíticos,
com maior intensidade nas asas do que nas extremidades posteriores. No
entanto, não tem sido observada paralisia da mandíbula, possibilitando
aos morcegos a manutenção da sua capacidade de morder.
A
362
morte dos indivíduos raivosos pode ocorrer cerca de 48 horas após o
aparecimento dos primeiros sintomas.
Nos morcegos não hematófagos a raiva se manifesta geralmente
de forma paralítica, sem a visualização da fase exitável. No entanto,
existem relatos de agressão por morcegos insetívoros raivosos. Os
morcegos podem, ainda, ser encontrados voando durante o dia e batendo
contra obstáculos, caracterizando uma desorientação provocada pela
doença.
No homem a doença tem início súbito e são observados sinais
inespecíficos que são caracterizados por febre (que não passa de 38°C),
cefaléia, mal-estar, anorexia, náusea e dor de garganta. Na maioria dos
casos há alteração de sensibilidade no local da mordedura como
formigamento, queimação, adormecimento, prurido e/ou dor local.. Esse
período varia de 2 a 4
dias. Em seguida, instalam-se sinais de
comprometimento do sistema nervoso central: ansiedade, inquietude,
desorientação, alucinações, comportamento bizarro e até convulsões. São
raros os surtos de agressividade e a duração da enfermidade é de 2 a 6
dias, terminando com a morte.
O diagnóstico clínico indicativo deve ser realizado levando-se em
consideração que a raiva pode ser confundida com várias outras
infecções e com diversos tipos de intoxicações que causam encefalites,
e, para que seja esclarecido, é necessário que se envie o material do
animal suspeito para diagnóstico laboratorial. Devem ser remetidos para
o laboratório o cérebro e região próxima à medula espinhal,
principalmente quando se tratar de eqüinos. Pequenos animais silvestres,
como morcego, gambá, sagüi e outros, devem ser encaminhados inteiros,
para permitir a identificação da espécie. O material deve ser
acondicionado e encaminhado ao laboratório em perfeitas condições de
conservação (refrigerado, congelado ou conservado em solução salina
com glicerina a 50%).
O
diagnóstico
Organização
Mundial
laboratorial,
da
Saúde,
segundo
é
recomendações
realizado
através
da
de
imunofluorescência direta (IFD) e isolamento viral. A IFD é muito
sensível e específica e o diagnóstico através desta técnica pode ser obtido
em algumas horas. O isolamento do vírus através da inoculação em
cultivos celurares pode fornecer resultados em 48 horas, contra os 21 a
30 dias, necessários para a prova de inoculação intracerebral em
camundongos.
Não existe tratamento para a raiva; uma vez instalada, a doença é
fatal. Assim sendo, devem-se adotar medidas para a sua prevenção.
O cão é o principal vetor da raiva urbana. A infecção de um cão a
outro, do cão ao homem e a outros animais domésticos se transmite por
mordeduras. A grande densidade de cães e sua alta taxa de reprodução
anual são fatores importantes nas epizootias de raiva canina na América
Latina, incluindo o Brasil. Outro fator importante, na manutenção do
vírus, é o grande período de incubação da enfermidade em alguns cães. O
vírus pode estar na saliva durante 2 a 3 dias, podendo este número chegar
a 13, antes do começo da enfermidade; a eliminação do agente por esta
via pode continuar até a morte do animal. Estima-se que 60 a 75% dos
cães raivosos eliminam vírus pela saliva e sua quantidade varia de
vestígios até altos títulos.
Nas zonas urbanas os gatos também podem transmitir a raiva.
Estes podem adquirir a doença de cães infectados ou de animais
silvestres com os quais tenham contacto. Considera-se, no entanto, que
364
estes animais sejam hospedeiros acidentais do vírus e que, talvez, não
desempenhem um papel importante no ciclo natural da enfermidade, mas
podem servir como considerável fonte de infecção para humanos.
O controle e erradicação da raiva urbana, visando prevenir a
doença na população humana, consiste no controle e erradicção da
infecção
nos
animais
domésticos,
especialmente
em
cães.
Os
procedimentos utilizados em programas com esta finalidade têm por
objetivo reduzir a população de animais susceptíveis, mediante a
vacinação de cães e gatos e apreensão de cães errantes. Cães e gatos
devem ser vacinados anualmente, abrangendo zonas rural e urbana, sob a
responsabilidade das Prefeituras Municipais.
Criado oficialment e em 1973, o Programa Nacional de Profilaxia
da Raiva foi gradualmente implantado no país, tendo atingido a
totalidade das Unidades Federativas em 1977. As atividades iniciaram-se
pelas zonas urbanas das capitais e áreas metropolitanas, estendendo-se,
posteriormente, às cidades do interior. O Estado de São Paulo iniciou
suas atividades de forma coordenada neste Programa, vacinando cães e
gatos, em 1975. A partir de 1983, praticamente 100% dos municípios
fazem a vacinação em campanha. Como consequência, a incidência de
raiva humana desde esta data tem se mantido em um patamar de 0 a 3
casos notificados/ano.
A vacina utilizada em campanhas é a do tipo Fuenzalida &
Palácios que é constituída de vírus inativado. Existem também outros
tipos de vacina com vírus inativado, com o uso indicado para cães e
gatos, cujas doses, via de administração e esquemas de vacinação podem
ser diferentes dos da vacina Fuenzalida & Palácios.
O controle de animais domésticos, especialmente o cão, deve ser
realizado pelos serviços públicos, com a participação ativa da população,
através de atividades de Educação e Promoção da Saúde, envolvendo
educadores e profissionais que atuam na Saúde Pública.
Os procedimentos principais para o controle da raiva rural,
transmitida pelo morcego hematófago, consistem em vacinar os animais
em áreas expostas e reduzir a populacão de vampiros. A vacinação deve
ser realizada segundo a ocorrência da doença. Em áreas epidêmicas,
recomenda-se que a vacina seja aplicada a cada 6 meses, no caso de
vacinas ina tivadas, e que os animais primovacinados sejam revacinados
com intervalo de 30 dias. Os animais recém- nascidos devem receber a
primeira dose vacinal com 3 meses de idade e outra aos 4 meses. Em
localidades onde a doença ocorre de forma endêmica, a vacinação deve
ser anual, também no caso de uso de vacina inativada. O controle
populacional do Desmodus rotundus, principal transmissor do vírus
rábico em áraes rurais, deve ser uma ação contínua e realizada por
equipes especializadas. O método empregado com esta finalidade é o uso
de pasta com substância anticoagulante, aplicada nos morcegos ou nas
mordeduras dos animais agredidos.
Para o controle efetivo da doença, tanto urbana como rural,
necessita-se de um adequado sistema de vigilância epidemiológica, com
pronto atendimento a focos e envio de material para diagnóstico
laboratorial, e um programa de educação em saúde junto à comunidade,
visando a adoção de medidas profiláticas.
Bibliografia consultada
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transmisibles
al
hombre
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RICARDO MAMAR
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