ANAIS IV REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO BIOLÓGICO V ENCONTRO SOBRE DOENÇAS E PRAGAS DO CAFEEIRO PROMOÇÃO: INSTITUTO BIOLÓGICO SINDICATO RURAL DE RIBEIRÃO PRETO ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO AGRONEGÓCIO DA REGIÃO DE RIBEIRÃO PRETO RIBEIRÃO P RETO - SP 26 A 29 DE JUNHO DE 2001 REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO BIOLÓGICO, 4. ENCONTRO SOBRE DOENÇAS E PRAGAS DO CAFEEIRO, 5. Ribeirão Preto, SP, 2001. Anais da IV Reunião Itinerante de Fitossanidade do Instituto Biológico e do V Encontro sobre pragas e doenças do cafeeiro. Coordenados por José Roberto Scarpellini, Zuleide A. Ramiro, Amaury da S. dos Santos, Genésio A. de Paula e Silva e Monika Bergamashi. Ribeirão Preto, SP. Instituto Biológico, 2001. 225p. 2 APRESENTAÇÃO O Instituto Biológico, em parceria com o Sindicato Rural de Ribeirão Preto e Associação Brasileira de Agronegócios da Região de Ribeirão Preto promove o V Encontro Sobre Pragas e Doenças do cafeeiro, juntamente com a IV Reunião Itinerante de Fitossanidade do Instituto Biológico, com o objetivo de divulgar conhecimentos gerados pelos seus técnicos, interagir com a comunidade científica e com produtores rurais e técnicos que atuam nos principais segmentos agrícolas da macroregião de Ribeirão Preto. No momento em que, com a globalização se vislumbra a queda de barreiras para comercialização agrícola entre países, maximiza-se a importância da sanidade animal e vegetal, que poderá ser a grande barreira na exportação e importação de produtos agrícolas. Os países e os Estados mais preparados, com certeza vão sair na frente, bem como aqueles adequados à competitividade, no que estes eventos estarão divulgando técnicas e aprimoramento de tecnologias, que deverão reduzir custos de produção e incrementar a produtividade agropecuária. Foram muitos os temas propostos, quando do atendimento ao convite, pela comunidade produtiva da agropecuária da macroregião de Ribeirão Preto, mas com o apoio de representantes das cadeias produtivas, os quais encontram-se participando da comissão organizadora, um programa suscinto e dirigido a região foi obtido, prestigiando a cultura do café, cana-de-açúcar; fruteiras, hortaliças, aperfeiçoamento de tecnologias ligadas a defensivos amendoim, soja, milho e girassol, além do bloco da pecuária. agrícolas, Estes eventos, antes de tentar ensinar ao produtor, manejo, técnicas e táticas para o melhor desempenho sustentado da nossa agropecuária, pretendem aflorar subsídios para novas investigações e pesquisas e tecnologias, enunciados por aqueles que vivem o campo dia após dia, e sentem a dificuldade de alimentar milhões, portanto produtor rural, nosso grande parceiro, estes eventos são seus, participe!! AS REUNIÕES ITINERANTES DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO BIOLÓGICO Concebida como um instrumento de aproximação entre a pesquisa e os diferentes elos da cadeia produtiva, em especial agricultores e profissionais da extensão rural, as Reuniões Itinerantes de Fitossanidade do Instituto Biológico, conhecidas como RIFIB, tiveram como embrião o Simpósio sobre Controle de Pragas da Região do Paranapanema, realizado em Assis no ano de 1994 e que discutia, de forma mais específica, os problemas afetos ao controle de insetos, ácaros e nematóides das culturas estabelecidas naquela região. As Reuniões Itinerantes de Fitossanidade do Instituto Biológico fazem parte de um projeto cujo objetivo é fortalecer o relacionamento entre o Instituto Biológico (IB) e seus parceiros e usuários, em especial os produtores rurais. Para isso, a RIFIB tem caráter itinerante, ou seja, ela vai ao encontro do produtor e discute os temas levantados por eles diretamente ou por seus representantes através de Sindicatos Rurais e Cooperativas. Nesse processo também participam instituições oficiais e empresas ligadas a cadeia produtiva. Conhecer a demanda e a extensão dos problemas fitossanitários que afetam as culturas de importância econômica para o Estado de São 4 Paulo sempre foi a missão do IB e que tem agora pela frente o cenário de novos desafios marcados pela abertura do mercado internacional com a globalização e a criação de blocos econômicos, onde as barreiras fitossanitárias serão utilizadas na proteção de mercados. Doenças e pragas, sejam exóticas ou nativas, são componentes importantes quando se considera custos de produção e, muitas vezes, limitam a produção de alimentos. Exemplo recente desta problemática foi observada, na safra 97/98, em Miguelópolis, quando altas populações da mosca branca atingiram as culturas de algodão e soja com severos danos econômicos. Naquela oportunidade, o IB chegou a desenvolver alguns trabalhos na região e a participar de discussões técnicas junto ao Sindicato Rural de Miguelópolis. Foi a partir dessa época que iniciaramse os contatos para ampliar as discussões com vistas a outros problemas fitossanitários que fossem do interesse dos produtores da região. Nascia assim a RIFIB, tendo como primeiro parceiro o Sindicato Rural de Miguelópolis e um programa composto por 19 temas, envolvendo as culturas da soja, milho, feijão e algodão, abordados por 17 Pesquisadores do IB, provenientes dos diferentes Centros de Pesquisa da Instituição. Cerca de 120 participantes prestigiaram o evento. A II RIFIB foi realizada em Marília, no período de 08 a 11 de julho de 1999, e contou como parceiro na organização com a Cooperativa dos Cafeicultores da região de Marília. Um público de 400 pessoas, em sua grande maioria formada de produtores rurais, tiveram oportunidade de assistir 21 palestras abordando diferentes temas entre os quais nematóides, doenças, insetos e controle químico das plantas daninhas nas cultura de café, melancia e amendoim. Nessa oportunidade foram também apresentadas algumas palestras que escapavam ao tema sanidade mas atendia às necessidades de esclarecimentos levantados pela Coopemar. Com a colaboração de colegas de outras instituições da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, ESALQ/USP e UNESP, Câmpus de Jaboticabal, foi possível atender a programação. A III RIFIB teve lugar na cidade de Mogi das Cruzes entre 17 e 19 de outubro de 2000 com a participação de 200 pessoas. Através da parceria com o Sindicato Rural daquela cidade foi elaborado um programa técnico com base no perfil regional e nas sugestões levantadas junto aos produtores da região do Alto Tietê, importante polo na produção e abastecimento de hortaliças e frutas para a Grande São Paulo, bem como na exportação de flores. Além da abordagem dos problemas fitossanitários enfrentados pelos produtores de hortaliças, frutas, flores e cogumelos da região um novo componente foi adicionado com a reivindicação dos criadores de codorna para que o programa atendesse aos problemas sanitários do setor. Ficava assim marcada a entrada da área de sanidade animal do IB nas reuniões itinerantes. Chegamos à IV RIFIB em junho de 2001, com sede em Ribeirão Preto, e tendo como organizadores, além do IB, o Sindicato Rural e a Associação Brasileira do Agronegócio da região de Ribeirão Preto. O extenso programa a ser cumprido foi elaborado após a manifestação de vários segmentos dos agronegócios e com a colaboração de instituições e empresas do setor a quem agradecemos o envio de seus técnicos, notáveis especialistas em sua área de atuação, imprescindíveis para o êxito do Encontro. Como em todas as reuniões itinerantes já realizadas, o aperfeiçoamento das tecnologias de aplicação de defensivos e os cuidados especiais com a segurança na aplicação serão enfocados, da mesma forma que as empresas terão seu espaço para apresentação de 6 novas tecnologias, principalmente na área de controle fitossanitário. Aos organizadores externamos nosso reconhecimento pelo esforço e dedicação com que se empenharam para assegurar aos participantes desta reunião efetiva contribuição para o avanço do conhecimento e redução dos problemas locais. Antonio Batista Filho Diretor Centro Experimental do Instituto Biológico COMISSÃO ORGANIZADORA COORDENADORES José Roberto Scarpellini – IB/CAR/LSAV Ribeirão Preto Zuleide A. Ramiro – IB/CEIB/LMI Campinas Amaury da S. dos Santos – IB/CEIB/LF Campinas Genésio A. de Paula e Silva – Sindicato Rural de Ribeirão Preto Monika Bergamaschi – Associação Brasileira dos Agronegócios da Região de Ribeirão Preto MEMBROS Agostinho Mário Boggio – COOPERCITRUS Ana Maria de Faria – IB/CAR/LSAV Ribeirão Preto Antonio Batista Filho – IB/CEIB Carlos Gaeta Filho – EDR Ribeirão Preto - CATI Célia Matilde Tegon C. Neves – EDA Ribeirão Preto - CDA Denizart Bolonhezi – NAAM/IAC-Ribeirão Preto Fernando Rodrigues Pavão – COCAPEC José Carlos C. dos Santos – IB/CAR/LSAV Ribeirão Preto José Eduardo Marcondes de Almeida – CEIB/IB Mário Eidi Sato – CEIB/IB Marçal Zuppi da Conceição – ANDEF Nelson Wanderlei Perioto – IB/CAR/LSAV Ribeirão Preto Oswaldo Alonso – CANOESTE Ricardo Ribeiro Mendonça – CAROL Rogéria Inês Rosa Lara – IB/CAR/LSAV Ribeirão Preto Tiyo Okada Murakami – IB/CAR/LSAV Ribeirão Preto AGRADECIMENTOS A Comissão organizadora externa seus agradecimentos a todos aqueles que contribuíram para o êxito desta reunião. Aos palestrantes pelo pronto atendimento aos nossos convites e a todos os participantes, agricultores, técnicos de empresas e entidades oficiais sem os quais este encontro não faria sentido. Finalizando, agradecemos a todos os colaboradores e patrocinadores do evento, sem o que esta reunião não se realizaria. Ø AEAARP – ASSOCIAÇÃO DE ENGENHEIROS, ARQUITETOS E AGRÔNOMOS DE RIBEIRÃO PRETO Ø ANDEF - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE DEFESA VEGETAL Ø AVENTIS CROPSCIENCE DO BRASIL LTDA Ø BASF BRASILEIRA S/A IND. QUÍMICAS Ø BAYER DO BRASIL S. A. - PROTEÇÃO DE PLANTAS 8 Ø DOW AGROSCIENCES Ø FMC DO BRASIL S/A INDÚSTRIA E COMÉRCIO Ø HOKKO DO BRASIL AGROPECUÁRIA LTDA. INDÚSTRIA QUÍMICA E Ø SENAR - SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL – SÃO PAULO Ø SEBRAE – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DE SÃO PAULO Ø SIPCAM AGRO S/A Ø SYNGENTA PROTEÇÃO DE CULTIVOS LTDA A redação e ortografia dos artigos são de inteira responsabilidade dos respectivos autores SUMÁRIO OS NEMATÓIDES DE GALHA QUE INFECTAM O CAFEEIRO NO BRASIL 10 O AGRONEGÓCIO CAFÉ NO MUNDO : SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVA 20 MANEJO INTEGRADO DAS DOENÇAS BIÓTICAS E ABIÓTICAS DO CAFEEIRO 27 COLLETOTRICHUM EM CAFEEIRO 36 BREVIPALPUS PHOENICIS , ÁCARO VETOR DA MANCHA -ANULAR EM CAFEEIRO 41 MÉTODOS ALTERNATIVOS DE APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS EM CAFEEIROS 52 MANEJO DE PRAGAS NA CULTURA DO CAFEEIRO 59 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA CULTURA DO AMENDOIM 72 PRINCIPAIS DOENÇAS FÚNGICAS DO AMENDOIM E CONTROLE 83 MONITORAMENTO DE P RAGAS E DOENÇAS DO GIRASSOL CULTIVADO NA “SAFRINHA ” 93 MONITORAMENTO E CONTROLE DE PROBLEMAS FITOSSANITÁRIOS DM CULTURAS DE SAFRINHA : P RAGAS EM MILHO 100 DOENÇAS DO MILHO SAFRINHA NO ESTADO DE SÃO PAULO 113 MANEJO DE PRAGAS DE SOLO NA CULTURA DA SOJA 130 NEMATÓIDES NA CULTURA DA SOJA 142 DOENÇAS FOLIARES DA SOJA E SEU CONTROLE 147 PLANTIO DIRETO DE CULTURAS DE SUCESSÃO SOBRE PALHADA DE CANA CRUA 158 BARREIRAS FITOSSANITÁRIAS NA COMERCIALIZAÇÃO NO MERCOSUL 169 CERTIFICADO FITOSSANITÁRIO DE ORIGEM 172 USO CORRETO E S EGURO DOS PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS 175 PRAGAS QUARENTENÁRIAS 179 TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS – EQUIPAMENTOS TERRESTRES PARA PULVERIZAÇÃO - ASPECTOS CRÍTICOS NA APLICAÇÃO DE D EFENSIVOS A GRÍCOLAS. 185 SITUAÇÃO ATUAL E CONTROLE DE CIGARRINHA DA CANA - DE-AÇÚCAR 201 CONTROLE DAS PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA CANA - DE-AÇÚCAR 210 MANEJO ECOLÓGICO DE PRAGAS DOS CITROS 220 MOSCA - DAS- FRUTAS EM FRUTICULTURA 228 MANCHA PRETA OU PINTA PRETA DOS CITROS 240 MOSCA BRANCA EM HORTALIÇAS 248 MANEJO DE PRAGAS EM CULTURAS DE TOMATE E PIMENTÃO 254 DOENÇAS FÚNGICAS DO TOMATEIRO E DO PIMENTÃO 267 CONTROLE DE I NSETOS VETORES DE VÍRUS EM HORTALIÇAS 281 SOLARIZAÇÃO DO SOLO NO CONTROLE DE FITOPATÓGENOS 290 MANEJO INTEGRADO :O PÇÃO OU NECESSIDADE PARA SE CULTIVAR HORTALIÇAS EM AMBIENTE PROTEGIDO 299 MANEJO DA RESISTÊNCIA DO CARRAPATO BOOPHILUS M ICROPLUS A ACARICIDAS 311 CLOSTRIDIOSES NA ESPÉCIE O VINA 318 EIMERIOSE O VINA 325 DOENÇAS DA REPRODUÇÃO 333 PROGRAMA NACIONAL DE M ELHORIA DA QUALIDADE DO LEITE 343 ESTUDO DAS TERAPIAS DA MASTITE CATARRAL DOS BOVINOS NA CLÍNICA DE O BSTETRICIA E GINECOLOGIA DA ESCOLA SUPERIOR DE MEDICINA VETERINÁRIA DE HANNOVER 355 RAIVA RURAL E URBANA 358 10 Os Nematóides de Galha que Infectam o cafeeiro no Brasil Professor Assistente Doutor, Nematologista Jaime Maia dos Santos Departamento de Fitossanidade, UNESP/Faculdade de Ciencias Agrárias e Veterinárias, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n, CEP 14884-900 Jaboticabal - Sao Paulo. E- mail: [email protected] 1. Súmula Histórica No final do século XIX, entre agosto de 1886 e novembro de 1887, Dr. Emil August Göldi, naturalista suíço que trabalhava no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, escreveu um documento que se tornou um marco na história da Nematologia no Brasil e no mundo. Trata-se do conhecido “Relatorio sobre a Molestia do Cafeeiro na Provincia do Rio de Janeiro”. Esse documento contém a descrição de Meloidogyne Goeldi g. n. e sua espécie tipo, M. exigua sp. n. A esse nematóide, o autor atribuiu a causa da doença que vinha dizimando os cafezais da então Província do Rio de Janeiro, desde cerca de 20 anos atrás (GOELDI, 1892). No citado relatório, o autor fez menção a existência de duas formas da doença, nos seguintes termos: “a) uma fórma chronica. O pé não morre sinão mezes depois do apparecimento dos primeiros symptomas exteriores supra -citados e alcança ás vezes o anno seguinte. b) uma fórma aguda ou fulminante. O pé morre de repente em 8 a 15 dias, sem antes ter apresentado distinctamente os symptomas supra-citados”. Sobre esse aspecto do problema, o autor ainda fez o seguinte comentário: "No principio da minha estada na zona da molestia do cafeeiro - achava-me então (Agosto a Novembro de 1886) nas grandes plantações da Serra Vermelha - eu tinha largamente occasião de ver exemplos da primeira fórma; mas apezar de todos os meus esforços não me foi possivel encontrar um unico exemplar da segunda. Mais tarde (Janeiro de 1887) achei um primeiro exemplo do lado esquerdo do baixo rio Parahyba, entre Grumarim e Monte Verde (Fazenda de Santa Theresa), e recentemente (Junho de 1887) observei outros em enorme quantidade, maior mesmo do que a de exemplares da fórma chronica." Essas informações podem ser consideradas os primeiros fatos que dão suporte à hipótese de que outras espécies de Meloidogyne Goeldi, além de M. exigua, já estavam ocorrendo na região. De fato, das cerca de 80 espécies dos nematóides de galha descritas, 14 infectam o cafeeiro e, dessas, seis ocorrem no Brasil. Além dessas seis, já se tem conhecimento de, pelo menos, duas outras novas espécies por serem descritas em cafeeiro, no Estado de São Paulo. Além desse considerável número de espécies que ocorrem no País, outros fatos dão suporte a essa hipótese: 1) a Nematologia, como Ciência, estava apenas “nascendo”, naquela época. Não havia conhecimentos morfo-anatômicos dos fitonematóides, suficientes para uma caracterização precisa das populações; 2) o gênero e sua espécie tipo estavam sendo descritos na ocasião. Por conseguinte, não se conhecia outras espécies, salvo Meloidogyne javanica (Treub, 1885) Chitwood, 1949 que havia sido descrita em Java, como Heterodera javanica, infectando a cana de açúcar (Saccharum officinarum L.), dois 12 anos antes da conclusão do referido relatório (TREUB, 1885). Por oportuno, o relatório de GOELDI (1892) contém, apenas, uma breve menção desse fato; 3) provavelmente, a caracterização do gênero e de sua espécie tipo foi feita com base no estudo de populações que causavam a doença em sua “fórma chronica”, conforme a descrição dada pelo autor. De fato, à época, tanto quanto atualmente, essa expressão da doença era muito mais comum que a outra referida como “fórma aguda ou fulminante” (GOELDI, 1892). Na Zona da Mata, Alto Paranaíba e Sul de Minas Gerais, na maior parte dos cafezais do Espírito Santo, e na região geo-econômica de Vitória da Conquista - BA, além de outras regiões produtoras de café das Américas do Sul e Central, essa é, senão a única, a forma predominante da doença; 4) não se reconhece, atualmente, a “fórma aguda ou fulminante” da doença causada por M. exigua em cafeeiros, conforme o relato de GOELDI (1892); 5) a agressividade de populações de outras espécies de Meloidogyne ao cafeeiro (C. arabica), tais como Meloidogyne incognita (KOFOID & WHITE, 1919) CHITWOOD, 1949, Meloidogyne coffeicola LORDELLO & ZAMITH, 1960 e de Meloidogyne paranaensis CARNEIRO et al., 1996, geralmente resulta num quadro sintomatológico que mais se aproxima da descrição do autor para a “fórma aguda ou fulminante” da doença, que de qualquer expressão dos sintomas resultante da ação de M. exigua. Do exposto, infere-se que, outras espécies de Meloidogyne, além de M. exigua, também contribuíram para forçar a substituição da cafeicultura pela cana de açúcar no Estado do Rio de Janeiro e, além disso, estiveram sempre envolvidas entre as causas da mobilidade do principal pólo de produção de café no Brasil. Com efeito, depois do Rio de Janeiro, o Estado do Paraná tornou-se o principal pólo de produção de café, detendo o status de maior produtor por vários anos. As geadas, em conjunção com os nematóides, notadamente M. incognita, M. coffeicola e M. paranaensis, e as crises do preços do produto no mercado internacional, causaram enormes revezes à cafeicultura no Estado do Paraná, levando os paulistas à liderança na produção brasileira. Em São Paulo, as geadas não foram tão determinantes para o decréscimo na produção de café como o foram no Paraná. Os nematóides de galhas (Meloidogyne spp.) devastaram a cafeicultura das regiões conhecidas como Mogiana, Alta Paulista, Nova Alta Paulista, Sorocabana, Noroeste e outras. Na região geo-econômica de Ribeirão Preto, por exemplo, nos municípios de Adamantina, Cafelândia, Dracena, Garça, Marília, Tupi Paulista, Vera Cruz, e muitos outros, os danos à cultura foram devastadores. Os mineiros, então, passaram à liderança na produção e ainda detêm o status de maiores produtores. Isso por não terem as espécies mais agressivas disseminadas dentro de suas fronteiras e, principalmente, pela expansão da cultura no cerrado. Dificilmente, o Estado de Minas Gerais perderá a liderança na produção brasileira de café. Primeiro, porque o Estado detém extensas áreas aptas para cafeicultura que ainda não foram plantadas. Segundo, porque já há, hoje, um razoável nível de conhecimento entre os médios e grandes cafeicultores sobre o problema. Terceiro, porque grande parte dos novos investimentos na cafeicultura, em áreas de fronteiras agrícolas, são feitos por cafeicultores que vieram de áreas devastadas pelos nematóides e que, naturalmente, vão se precaver contra a repetição do insucesso. Quarto, porque o Estado de Minas Gerais criou uma estrutura invejável de 14 fiscalização contra a introdução de pragas e doenças em suas fronteiras que, hoje, pode ser considerado um exemplo para todo o País. O IMA, órgão da Secretaria de Estado da Agricultura em Minas, composto por jovens idealistas e bem treinados, executam um trabalho de fiscalização fitossanitária e educação dos agricultores mineiros que, inclusive, inspira, hoje, a política de outros Estados para o setor. Há de se considerar, também, o trabalho de uma geração de agrônomos que, no antigo IBC, notadamente na décadas de 1970 e 1980, fincaram os alicerces da nova cafeicultura no Brasil. O trabalho anônimo de muitos desses profissionais, contando com a participação direta de outros Colegas do Ministério da Agricultura de então, garantiram a não introdução em Minas Gerais de espécies devastadoras de nematóides de galha do cafeeiro, tais como M. incognita, M. paranaensis e M. coffeicola. Somente nos anos de 1976 e 1977, no Estado de São Paulo, três milhões de mudas de cafeeiro infestadas foram destruídas, para impedir a dispersão dos nematóides de galha (CURI, 1982). Contudo, no Estado de São Paulo, à época, os nematóides já estavam enormemente distribuídos e, por conseguinte, os benefícios da prática não foram tão sentidos. Foi a cafeicultura mineira a maior beneficiária dessa prática corajosa e acertada. 2. Espécies de Meloidogyne que Infectam o Cafeeiro no Brasil SANTOS & TRIANTAPHYLLOU (1992) relataram os resultados de um estudo realizado no Departamento de Fitopatologia da Universidade Estadual da Carolina do Norte, EUA, envolvendo 88 populações de nematóides de galhas coletadas nos Estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, em raízes de cafeeiro e/ou em plantas daninhas dentro de cafezais. Com base nos fenótipos isoenzimáticos para esterase, e em estudos morfo-anatômicos aos microscópios óptico e eletrônico de varredura, identificaram 23 populações de M. incognita (fenótipo isoenzimático para esterase classificado como I1); 17 populações de M. exigua (VF1); 13 populações de M. javanica (J3); 15 populações de uma espécie não descrita, na época, com o fenótipo isoenzimático F1; 10 populações de outra espécie nova com o fenótipo isoenzimático denominado, na ocasião, de S1M1 e uma população de outra espécie nova que não exibia bandas de esterase. A espécie com fenótipo F1, CARNEIRO et al. (1976) a descreveram e a nomearam M. paranaensis e a população que não exibia bandas de esterase, SANTOS (1997) a descreveu e a nomeou M. goeldii. Nenhuma das 13 populações de M. javanica infectou o cafeeiro. Com efeito, nenhuma delas havia sido recuperadas de raízes de cafeeiro mas, de plantas daninhas ou de amostras de solo de cafezais. Assim, as espécies que infectam o cafeeiro no Brasil são: M. exigua, M. incognita, M. coffeicola, M. hapla, M. paranaensis e M. goeldii. Dessas, M. incognita, M. coffeicola e M. paranaensis são as mais destrutivas. 3. As Práticas de Manejo de Nematóides em Cafezais Em nosso País, onde as estratégias de manejo das populações desses nematóides, no passado, foram baseadas, principalmente, em métodos não químicos, a inexistência de pessoal treinado na identificação das espécies, em parte, impediu o progresso na luta contra essas pragas. Para utilização do manejo químico de nematóides, o conhecimento da espécie presente não é um requisito. De fato, entre os nematicidas, não há uma especificidade de produtos para esse ou aquele nematóide, 16 comparável à que se observa entre os inseticidas, acaricidas, fungicidas e herbicidas. Ao contrário, na prática, considera-se que um certo nematicida sistêmico tem a mesma eficiência para todos os nematóides presentes numa gleba. As formulações, os ativos, e as técnicas de aplicação, hoje, são muito mais eficazes do que eram há alguns anos. Em culturas perenes infestadas, tais como cafeeiro e citros (nematóide dos citros, Tylenchulus semipenetrans, e Pratylenchus spp.), não se pode abdicar da intervenção sistemática com aplicação de nematicidas. Além de prejuízos à produtividade, advindos dos danos causados pelos nematóides, o encurtamento da vida produtiva da lavoura é uma perda usualmente ignorada. No presente, técnicas moleculares, notadamente a di entificação dos fenótipos isoenzimáticos para esterase, a utilização da microscopia eletrônica de varredura e o estudo de novos caracteres morfométricos e anatômicos têm possibilitado significativo avanço na identificação de espécies de Meloidogyne. Os programas de melhoramento, hoje, têm muito mais chances de sucesso do que tiveram no passado, visto que, as espécies contra as quais se estaria introduzindo um determinado gene de resistência, hoje, podem ser identificadas com a precisão que não se tinha no passado. Com isso, hoje pode se ter o conhecimento preciso da distribuição das espécies, identificando-se as mais agressivas, contra as quais o melhoramento deve ser priorizado, o que redundaria em muito maior benefício para a cafeicultura de uma região. O enfoque pode ser dado, inclusive, a nível de propriedade. A utilização da enxertia do cafeeiro, como medida de manejo de nematóides, iniciada na Guatemala em fins dos anos 50, conforme STRAUBE & SCHIEBER (1959), citados por SCHIEBER (1966) e REYNA (1966), citado por SCHIEBER (1968), foi aperfeiçoada na então Seção de Genética do IAC de Campinas e garantiu a sobrevivência da cafeicultura em muitas áreas em São Paulo e no Paraná. Os insucessos são atribuídos às dificuldades para identificação precisa das espécies de Meloidogyne, tanto na fase inicial de avaliação das linhagens de porta-enxertos, quanto mais tarde, nas áreas onde os materiais enxertados foram plantados. A enxertia do cafeeiro, no entanto, ainda não foi explorada no todo. Com efeito, a alta resistência de C. canephora var. Robusta a Pratylenchus coffeae, ainda não foi explorada no Brasil, visto que esse nematóide, apesar de seu alto potencial destrutivo, ainda está muito pouco distribuído nas regiões cafeeiras do País. A resistência de C. canephora a M. exigua, também, ainda não está sendo explorada, visto que é generalizada a crença que não se trata de um nematóide muito nocivo ao cafeeiro. Contudo, a experiência tem mostrado que M. exigua, também, pode comprometer a renovação de lavouras em áreas infestadas. Essa ameaça paira sobre a cafeicultura do Sul do Estado de Minas Gerais que, em sua grande parte, está em idade de renovação e tem M. exigua amplamente distribuída por toda região. A renovação nos moldes tradicionais, utilizando pé franco, certamente, vai significar uma dificuldade a mais para a sobrevivência da cafeicultura na região. A entrada de outros países no mercado de café e as mudanças de hábitos dos consumidores, em relação à bebida, são ameaças reais aos bons preços do produto no mercado internacional de café. Além disso, a presença de M. exigua em altas populações, nas áreas em renovação do Sul de Minas, vai exigir a aplicação de nematicidas, elevando, consideravelmente, os custos de produção. Esses aspectos, não trazem bons presságios para a cafeicultura da região. 18 Se examinarmos o rol de culturas perenes no Brasil, veremos que são raríssimas as que não são enxertadas. O cafeeiro está entre essas. É sabido e aceito que, em qualquer cultura muito melhorada, e poucas perenes o foram quanto o café, o ganho de qualquer característica, sempre ocorre em detrimento da perda de rusticidade. Com o cafeeiro também foi assim. A enxertia de uma variedade de C. arabica em um porta-enxerto de C. canephora var. robusta, certamente restitui ao primeiro, parte da rusticidade perdida no melhoramento da cultura. De fato, pesquisas em São Paulo já mostraram que a produção de parcelas enxertadas de uma variedade de C. arabica, sobre o porta-enxerto de C. canephora var. Apoatã, desenvolvido no IAC, produziu até cerca de 30% mais que a mesma de C. arabica não enxertada, ambas plantadas em áreas contíguas e não infestadas por nematóides. Esse benefício, considerado um aditivo à resistência a M. exigua, os cafeicultores do Sul de Minas, e de outras áreas infestadas em renovação, estão assumindo que vão perdê- lo, também. O plantio de Crotalaria spp., ou outras plantas antagonistas, nas entrelinhas, não é uma prática eficaz no controle de Meloidogyne spp. Isto porque os nematóides se concentram nas raízes e solo da rizosfera, embaixo da copa do cafeeiro, onde a ação das raízes de uma Crotalaria sp., plantada nas entrelinhas, não se dará. A ação das raízes de Crotalaria spp. é endógena. Se os juvenis de segundo estádio dos nematóides não penetrarem em suas raízes não serão afetados. Por conseguinte, culturas perenes infestadas irão requerer um tratamento anual com nematicidas. Nas áreas de fronteira, e em culturas não infestadas, a medida de manejo mais eficaz é a prevenção. Atitudes de profissionais têm que ser adotadas em todas as propriedades. As visitas devem ser restritas e cuidados especiais têm que ser adotados no trânsito de máquinas e veículos e na aquisição de mudas de plantas para quebra-vento. Os nematóides do cafeeiro podem ser introduzidos na fazenda, também, em mudas de frutíferas destinadas à implantação de um pomar, ou mesmo em mudas de plantas ornamentais, destinadas aos jardins da sede, entradas da fazenda e outros. Meloidogyne incognita, por exemplo, um dos nematóides mais devastadores dos cafezais, infecta quase todas as espécies de plantas dessas categorias e pode ser introduzida na fazenda por mudas infectadas dessas plantas. 4. LITERATURA CITADA CARNEIRO, R.M.D.G.; CARNEIRO, R.G., ABRANTES , I.M.O.; SANTOS, M.S.N.A.; ALMEIDA , M.R.A. Meloidogyne paranaensis n. sp. (Nemata: Meloidogynidae), a root-knot nematode parasitizing coffee in Brazil. J. Nematol., 28: 177-189, 1996. CURI, S.M. Coffee culture problems caused by root-knot nematodes in Brazil. In: Research And Planning Conference On Root-Knot Nematodes Meloidogyne spp., 1982, Brasília. Proceedins... Department of Plant Biology/University of Brasília, 1982. p.35-42. GOELDI, E.A. Relatório sobre a molestia do cafeeiro na Provincia do Rio de Janeiro. Arch. Mus. Nac., .8:1-21, 1892. SANTOS, J.M. DOS. Estudos das principais espécies de Meloidogyne Goeldi que infectam o cafeeiro no Brasil com descrição de Meloidogyne goeldii sp. n. 1997. 153 f. Tese (Doutorado em Agronomia) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 1997. 20 SANTOS, J.M. DOS; TRIANTAPHYLLOU, H.H. Determinação dos fenótipos isoenzimáticos e estudos comparativos da morfologia de 88 populações de Meloidogyne spp. parasitas do cafeeiro. Nematol. Bras., 16: 88, 1992. SCHIEBER, E. Nematode problems of coffee. In: GROVER JÚNIOR, C.S.; PERRY, V.G. Tropical Nematology. Gainesville: Center for Tropical Agriculture, 1968. p.81-92. SCHIEBER, E. Nemátodos que atacan al café en Guatemala, su distribuición, sintomatología y control. Turrialba, 16: 130-135, 1966. TREUB, M. Onderzoekingen over serehzeik suikerriet gedaan in s’Lands Plantentuin te Buitenzorg. Mededeelingen uit’s Lands Plantentuin, Buitenzorg, .2: 1-39. 1885. O AGRONEGÓCIO CAFÉ NO M UNDO: SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVA Engenheiros Agrônomos e Pesquisadores Científicos Luiz Moricochi & Sebastião Nogueira Júnior Diretor do Centro de Estudos de Comercialização, Instituto de Economia Agrícola. Av. Miguel Stefano, 3900. Cep 04301-903, São Paulo - SP. Fone: 11-5073-8477/ 5073-0244. E- mail: [email protected] 1. Produção Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção mundial de café no ano 2000 foi da ordem de 115 milhões de sacas. Não existe consenso, entretanto, em torno desse número, inclusive com outras fontes estimando volume menor. O volume maior do total produzido é representado pelo café arábico seguido do café robusta/conilon, com mais de 40 milhões de sacas. O principal país produtor de café é o Brasil com volume de 31,1 milhões de sacas, segundo a EMBRAPA, cifra que poderia ter superado 40 milhões de sacas, não fossem os problemas de clima ocorridos nos anos de 1999 (seca e geadas) e de 2000 (seca). Em seguida vem o Vietnã com mais de 13 milhões de sacas. Esse país produzia, 10 anos atrás, pouco mais de 1milhão sacas de café, surpreendendo, portanto, como novo e segundo ator mais importante no cenário cafeeiro do mundo. Para se ter uma idéia do dinamismo da cafeicultura vietnamita, basta citar que esse país supera a Colômbia, hoje terceiro produtor mundial com menos de 12 milhões de sacas, embora detendo apenas metade da área cultivada em relação ao país sul- americano. Em seguida, como grandes produtores, destacam-se Indonésia, México, India, Guatemala, Costa do Marfim, Etiópia e Uganda. Esses 10 países respondem em conjunto por quase 80% da produção mundial de café. 2. Consumo Também, existem controvérsias quanto ao volume de café consumido no mundo. A Organização Internacional do Café (OIC), por exemplo, estima o consumo atual em 102 milhões de sacas contra 108 milhões de sacas de outras fontes. Desse total, \cerca de 25 milhões de sacas são utilizados nos próprios países produtores. Inúmeros são os fatores que influenciam o consumo de café no mundo, tais como, preços, renda, população, hábitos de consumo, qualidade do produto, novos produtos, educação, preço de bebidas alternativas e marketing. É mais do que óbvia a importância dos fatores preço, renda e população afetando o consumo. Entretanto, é preciso estar 22 atento para o fato de que os mesmos isoladamente podem ser até menos determinantes do que a ação em conjunto dos demais fatores. Um exemplo: o preço do café no varejo americano subiu, em valor real, cerca de 13% entre os anos de 1946 e 2000. Com esse incremento de preço e levando-se em consideração o coeficiente de elasticidade - preço da demanda de café, estimada em –0,373 pelo Banco Mundial, poder-se ia esperar que o consumo americano de café experimentasse uma queda da ordem de 5% no período. No entanto, a redução no consumo foi bem maior, da ordem de 50%, passando de 8 para 4 kg per capita! No caso estadunidense, dois outros fatores foram determinantes para diminuir o consumo de café: a perda de qualidade da matéria-prima utilizada na indústria e a concorrência das bebidas alternativas que tinham um apelo maior para os jovens, representadas principalmente pelos “soft drinks” (refrigerantes e isotônicos de modo geral). Acrescente-se ainda que a acirrada concorrência entre as diferentes marcas dessas bebidas através da mídia acabava penalizando ainda mais o uso de café. O hábito de consumo, por sua vez, é importante variável a ser considerada nos estudos de demanda de café. A respeito disso, é importante destacar que enquanto em alguns países esse costume tem que ser criado e/ou estimulado, em outros tem que ser pelo menos mantido. No primeiro caso, pode ser citada a China, que tem apresentado elevado incremento na demanda (fala-se em mais de 15% no último ano) embora seu volume total seja ainda baixo (estimativas tem variado entre 400 mil e 600mil sacas) a despeito de sua elevada população (mais de 1,2 bilhão de pessoas). O país possui uma cultura inteiramente voltada para a ingestão de chá, devido à ainda bastante arraigada crença de que o café faz mal a saúde. A mesma situação ocorre praticamente em toda a Ásia com exceção do Japão. Entretanto, entre os países que ainda tomam pouco café, embora com mercado mais promissor a prazo mais curto, pode ser citada a Rússia que consome apenas 300g per capita. Com o seu processo de recuperação econômica, a Rússia vem experimentando expressivo incremento na utilização do café, com a vantagem da existência de menores barreiras culturais na sua utilização, quando comparada com a China. No norte e no oeste da Europa, entretanto, o consumo, apesar de elevado, encontra-se estagnado. A saída para esses casos seria procurar novas formas de apresentação da bebida. O café solúvel, cujo consumo mundial ultrapassa hoje 18 milhões de sacas (equivalente- café verde), é resultado de esforços da pesquisa, iniciados no começo do século passado, mas com resultados comerciais práticos alcançados somente nos anos 30 quando houve superprodução de café no Brasil. Outro exemplo de inovação é o café enlatado, consumido na forma gelada e que responde por 1/3 do consumo de café no Japão, apreciado principalmente pelo segmento jovem da população e que movimenta mais de US$10 bilhões. Segundo alguns analistas, a reativação no consumo de café na Alemanha que se observa no momento deve-se à criatividade da sua industria que tem disponibilizado uma gama enorme de novas alternativas para consumo, como, por exemplo, café com leite, café com creme e capuccino com diferentes aromas, entre outras. A produção de solúvel teria dobrado nos últimos 10 anos na Alemanha graças a essas formas diferenciadas de utilização e que, no conjunto, respondem por mais de 70% das vendas de solúvel. Esses exemplos são citados apenas para mostrar que a inovação seria a saída para ativar os mercados que 24 apresentam elevado consumo per capita, mas que se encontram estagnados. A educação, na medida em que tem influência direta na renda individual ou familiar, é também fator importante no consumo de café. Mas uma variável decisiva, que deveria ser encarada com maior seriedade, pois envolve todos segmentos, refere-se ao marketing. O café colombiano tornou-se conhecido no mundo graças aos recursos da ordem de US$ 40 milhões (hoje o montante de recursos é menor) gastos anualmente no passado para a sua divulgação no exterior. Entretanto, o grande desafio do setor é o desenvolvimento de ações conjuntas para aumentar a demanda total do produto, tendo como principal foco despertar o interesse da população jovem. Finalmente, devem ser desenvolvidas ações nos países produtores, visando mudar de forma radical seus padrões de consumo. Não se concebe que países como Colômbia, Indonésia, Vietnan e México, entre outros, mantenham baixa proporção de consumo em relação a sua produção. É provável que o mercado mundial de café não estivesse com os preços tão aviltados se houvesse um esforço dos países produtores para aumentar o seu consumo interno, com ganho adicional estimamados empiricamente em 13 a 15 milhões de sacas. 3. Preços Sem maiores considerações de natureza teórica, pode-se dizer que o ajuste entre as condições de oferta e demanda de qualquer bem econômico se faz basicamente via preços. Obviamente que existem momentos em que, baseando-se em expectativas verdadeiras ou não, se queira tirar proveito de determinada situação. Mas, se essas expectativas não estiverem bem aderentes às reais condições de oferta e demanda, o resultado será o fracasso total. Imagine-se por exemplo a seguinte situação hipotética: o volume de equilíbrio mundial (sem excesso ou escassez de café) é da ordem de 100 milhões de sacas anuais (lembrando que esse número é apenas hipotético), o consumo de café cresce 1,5% e a oferta aumenta 5% ao ano. Cinco anos depois, a produção aumentará para 128 milhões de sacas, enquanto que o consumo mal chegará aos 108 milhões de sacas. Seriam 20 milhões de sacas de diferença em apenas 5 anos! Teoricamente, essa situação de excesso de produto poderia ser contornada pelo desenvolvimento de ações tanto do lado da demanda quanto do lado da oferta. Entretanto, como são ações de caráter mais estrutural do que conjuntural não resolveriam o problema a curto prazo. Do lado da oferta, por exemplo, o problema seria atenuado se houvesse uma coordenação forte e consciente de planejamento da produção, visando dissuadir os produtores a aumentar afoitamente a área de café quando os preços se encontrassem bem acima dos custos de produção. Contudo, como esse planejamento é ainda inexistente e até utópico devido aos interesses particulares, o mercado se alterna entre períodos de preços extremamente favoráveis e desfavoráveis. Esses preços atingiram US$400 em janeiro de 1986, caíram para US$40 em 1992 e voltaram a subir até atingir US$200 em maio de 1997, quando teve início a fase descendente que perdura até os dias de hoje. Essa fase negativa deve durar até que seja desovada (?) uma grande safra mundial, que ainda está por vir, se não houver quaisquer contratempos de clima e outra intempéries. A partir daí, seguramente, o ciclo se repetirá com nova fase de preços ascendentes. Entretanto, se houver alteração nas expectativas de grande safra, em decorrência de problemas climáticos (secas 26 prolongadas, geadas, terremotos, furacões etc), poderá ocorrer reversão mais cedo no ciclo de preços. No mundo todo (inclusive Vietnan), o café já vem enfrentando sérios problemas de preços. No caso particular dos produtores brasileiros, essas dificuldades foram agravadas pelo inconveniente Plano de Retenção conduzido pela Associação dos Países Produtores de Café (APPC) e apoiado firmemente pela maior parte das lideranças do setor e pelas autoridades brasileiras. Só a partir de abril próximo passado é que o Brasil procurou encontrar uma saída para essa armadilha, embora seja impossível recuperar os prejuízos causados pelo referido Plano. Estimam-se que mais de US$ 380 milhões deixaram de ser internalizados pelo setor produtivo em momento mais oportuno. 4. Conclusão O setor cafeeiro está passando por situação bastante delicada. Mas a história econômica desse produto mostra que isso sempre acontece, ou seja, momentos de grandes dificuldades são quase que inevitáveis como decorrência de fase expansionista que os antecede. É reconfortante, entretanto, saber que chegarão de novo os momentos em que haverá recuperação de preços. É preciso estar preparado essa situação. Gerenciamento dos negócios é palavra- chave nessa conjuntura: saber comprar bem os insumos, evitar desperdícios na propriedade e ficar atento às oscilações de mercado. Assim procedendo, certamente o produtor fará com que a atual “crise” se transforme em boas oportunidades de negócio, conforme também é o significado dessa palavra no ideograma oriental. 5. Literatura Consultada COFFEE BUSINESS. Rio de Janeiro. Oficina de Comunicação e Marketing, 2000 MORICOCHI, LUIZ; MARTIN,NELSON B; VEGRO, C ELSO L. R. Políticas de Intervenção No Mercado de Café. Anuário Estatístico do Café 20002001 6. Ed Rio de Janeiro, p./28-37,2000. MUIR, K.S. Coffee Consumption: more than we think? F.O.Licht International Coffee Report , 15: 171-179, 2000 VEGRO, CELSO L. R.; MARTIN, NELSON B;& MORICOCHI, L.. Sistema de Produção de Café: estudos de custos e competitividade. Informações Econômicas, 30: 37-44. 2000. M ANEJO INTEGRADO DAS DOENÇAS BIÓTICAS E ABIÓTICAS DO CAFEEIRO Laércio Zambolim Professor Titular do Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa – MG, CEP 36.570-000, E-mail: [email protected]. Produzir café com qualidade mantendo a sustentabilidade da lavoura com menor agressão ao meio ambiente é fator vital para a economia cafeeira no mundo moderno. Tornou-se importante não só aumentar a produtividade, mas reduzir os custos de produção, buscar constantemente a qualidade para que novos mercados possam ser identificados, e atenção às demandas da sociedade, para que o seu bemestar seja atingido. Além disto, a utilização de técnicas e métodos 28 modernos de manejo devem ser equilibradas, de tal maneira que o meio ambiente não seja agredido, mas conservado (Tabela 1). Tabela 1 – Sucesso na cafeicultura para se buscar a sustentabilidade Produtividade Aumento Custo de Produção Redução Qualidade Busca Constante Bem-estar Sociedade Identificação Novos Mercados Conservação Meio ambiente Sustentabilidade A qualidade que tanto se busca e que tanto se espera do produto final é função de todos os fatores de produção que são empregados na cafeicultura. Desde a escolha da variedade (característica genética), do local de plantio, da fertilização, do controle fitossanitário até a escolha do tratamento que é dado ao café na colheita, do beneficiamento, da armazenagem e do meio ambiente irão influenciar a qualidade. As doenças do cafeeiro vêm ao longo dos anos, afetando a qualidade e a produtividade do café. A busca da qualidade e da sustentabilidade na cultura do café tem como pilar de sustentação do Manejo Integrado. No Manejo Integrado, como enfatiza KOGAN (1988), todos os esforços devem ser buscados para que tais objetivos sejam atingidos: o econômico, o ecológico e o sociológico. Na medida em que se procura produzir com qualidade observando a relação custo/benefício, a ecologia da região, o emprego de práticas de conservação do solo e da água em todos os sentidos e da lavoura cafeeira, e o bem-estar da sociedade (o consumidor), o cafeicultor está preparado para enfrentar a globalização. As doenças podem ser de natureza biótica ou infecciosa e de natureza abiótica ou não- infecciosa. As doenças de natureza bióticas mais comuns são: a ferrugem ainda é a principal doença biótica que incide no cafeeiro, desde sua descoberta no Brasil, há mais de 30 anos, com predominância da raça II de Hemileia vastatrix; a mancha-de-olhopardo pode surgir nas lavouras com deficiência nutricional; a mancha de Phoma, em talhões da lavoura sujeitos a ventos frios; a mancha de Ascochyta e mancha Aureolada em regiões com alta umidade e chuvas finas constantes; a mancha anular ocorre em reboleiras nas lavouras sendo transmitida por acaro, com ocorrência esporádica, e os nematoides de galhas com maior severidade em solos arenosos. As doenças de natureza abióticas comumente observadas a campo destacam-se: seca de ramos ortotrópicos e plagiotrópicos, murcha e seca das plantas, declínio da planta e da produção, queda de frutos, amarelecimento e escaldadura de folhas. Há ainda outras doenças, de importância secundária, que só se manifestam sob certas condições. O amarelinho do cafeeiro, cujo agente causal a bactéria fastidiosa, Xyllela fastidiosa, segundo a literatura pode ser encontrada no xilema das plantas depauperadas nutricionalmente e pouco vigorosas, e a antracnose cujos sintomas de necrose dos ramos e frutos apresentam associação com espécies de estirpes fracas do gênero Colletotrichum. Frequentemente nas áreas necrosadas têm sido isolados 30 as espécies C. gloeosporioides e C. acutatum. Tais espécies de Colletotrichum têm sido isoladas de frutos em formação, desde a fase de chumbinho até a maturação sugerindo que o fungo penetra durante a floração permanecendo no estado latente dentro de fruto, e de ramos com ou sem sintomas de necrose, sugerindo que o fungo também é endofítico nos ramos e manifesta os sintomas de necrose após a planta ter sofrido algum estresse (estiagem prolongada) ou sob condições de extrema umidade causada por chuvas finas constantes por vários dias. Os principais fatores de produção que devem ser observados na produção do cafeeiro são: 1 – plantio de variedades superiores; 2 – nutrição adequada e equilibrada; 3 – espaçamento compatível com a variedade, o tipo de solo, a topografia e o tipo de colheita; 4 – o clima onde a cultura será implantada; 5 – intensidade de doenças, pragas e plantas daninhas; 6 – características físicas do solo; 7 – disponibilidade de água no solo; 8 – teor de matéria orgânica no solo; 9 – topografia da região; 10 – altitude; 11 – exposição solar em que a cultura é instalada; e 12 – o potencial genético da variedade. As doenças vão em maior ou menor grau proporcionar a redução na produtividade, dependendo da suscetibilidade da cultivar e do clima da região. De um modo geral, a ferrugem reduz de 35 a 40% da produção; em anos com déficit hídrico acentuado pode-se chegar a 50%. O pico de máxima intensidade da ferrugem varia de região para região e está em função do clima, da altitude, e se a variedade é precoce, média ou tardia etc. Devido a estes fatores o controle de doença deve ser feito, baseando-se no clima, na fenologia da planta e na amostragem de folhas. Em anos agrícolas de alta carga da lavoura, a ferrugem atinge a severidade máxima próximo à colheita; em anos de baixa produtividade, a ferrugem pode não atingir nível de controle (5 – 10% de folha com ferrugem). Em se tratando da mancha de Phoma, prejuízos de 10 – 50% podem ocorrer, dependendo das condições do local em que a cultura é implantada. Em locais sujeitos a ventos frios constantes, em altitudes superiores a 1000m, a cultura pode tornar-se inviável. Em altitudes inferiores a 1000m a doença também pode ocorrer, mas com menor severidade, principalmente em plantas localizadas na direção dos ventos e na periferia das lavouras. Em lavouras não sujeitas a ação de ventos o controle químico só é viável, quando a porcentagem de infecção atingir 10 – 20%. A mancha-de-olho-pardo ocorre na cultura do café no campo e, em mudas, se ocorrerem as seguintes condições: deficiências nutricionais e desequilíbrio nutricional e em exposições sujeitas à intensa insolação, principalmente lavouras na exposição poente. Nestas condições ocorre rápida perda de água das folhas e frutos, o que predispõe as plantas ao ataque da mancha-de-olho-pardo, levando à desfolha e consequentemente seca de ramos e queda de frutos. Manchade-Ascochyta – trata-se de uma doença muito comum em viveiros e no campo em lavouras formadas sob condições de extrema umidade. O excesso de irrigação em viveiro, principalmente em mudas formadas em tubetes, pode predispor as mudas no ataque da doença, levando-as à morte prematura. Sob condições de campo, a doença pode ocorrer também quando as lavouras são adensadas a semi-adensadas e quando ocorrer de 10 a 15 dias de chuvas finas e freqüentes com a formação de nevoeiro. Atualmente, a doença tem sido muito destrutiva na região cafeicultora de Vitória da Conquista na Bahia. A mancha aureolada surge na cultura do café quando as plantas são injuriadas por chuva de pedra, pelas rodas dos pivôs centrais ao passar sob as plantas, por implementos 32 agrícolas, principalmente sob condições de irrigação por pivô central. O adensamento das plantas também contribui para o aumento da severidade da mancha aureolada. Como a doença é causada por uma bactéria, injúria e presença de água são necessários para a penetração e infecção. Os nematóides do gênero Meloidogyne que atacam o cafeeiro, devem ser identificados em nível de espécie para que sejam tomadas as medidas de controle específicas. De um modo geral, tais nematóides causam maiores prejuízos sob condições de solo arenoso ou argiloso arenoso. O ácaro da leprose transmite o vírus da mancha anular que provoca desfolha e queda de frutos. Torna-se necessário, portanto, identificar o ácaro da leprose nas folhas, proceder a amostragem para se determinar se a praga atingiu ou não o nível de controle para que acaricidas específicos sejam recomendados ou não. Uma das medidas recomendadas para o controle da ferrugem e do bicho mineiro do cafeeiro é a aplicação de fungicida sistêmico misturada à inseticida sistêmico, no solo, no início da estação chuvosa. Entretanto, tal medida tem afetado a sustentabilidade da lavoura quando a mistura é empregada por vários anos consecutivos (4 – 5 anos) em anos de alta e de baixa carga da lavoura. O cafeicultor ao empregar tal medida não leva em consideração a severidade da ferrugem e nem do bicho mineiro, pois os produtos são aplicados antes do surgimento da doença e da praga. Portanto, neste tipo de recomendação não se leva em consideração o nível de equilíbrio e nem o nível de controle, fatores essenciais no manejo integrado. As principais doenças abióticas que incidem no cafeeiro são a seca de ramos plagiotrópicos e ortotrópicos, seca de ponteiros, declínio das plantas, amarelecimento das plantas, queda prematura de frutinhos, seca repentina das plantas, escaldadura das folhas e murcha das plantas. Tais doenças podem ser causadas por vários fatores tais como ventos frios, raízes tortas, sistema radicular deficiente, camada adensada do solo, altitude elevada com ventos frios, sulcos e, ou, covas rasas, deficiências nutricionais, raios, chuva de pedra, insolação intensa e constante das plantas, seca prolongada, baixas temperaturas e queima por misturas de defensivos agrícolas (Tabela 2). Para se proceder o manejo integrado das doenças do cafeeiro deve-se observar os seguintes pontos: cuidado com a exposição poente da lavoura; proceder o sulcamento e a formação de covas adequados; empregar plantas do tipo quebra-vento e que possa também reduzir a insolação na lavoura; fertilização e calagem do sulco de plantio ou das covas; emprego de matéria orgânica no plantio quando for possível; proceder a fertilização de acordo com a análise do solo e foliar; uso de micronutriente foliar de acordo com a análise (cobre, zinco e boro são essenciais para quase todas as regiões). O manganês é essencial para algumas regiões do cerrado; proceder amostragens para se determinar a necessidade de atomização de defensivos para a ferrugem, mancha-dePhoma, mancha-de-Ascochyta, ácaro da leprose transmissora do vírus da mancha-anular e mancha-de-olho-pardo. As atomizações devem ser feitas também, levando-se em consideração o clima, regime de chuvas, fenologia da planta, altitude, nível nutricional das plantas, espaçamento, topografia da região e carga pendente; e deve-se levar em consideração também a área a ser tratada com fungicidas. Áreas muito extensas, superiores a 500 mil plantas demandam grande quantidade de máquinas para cobrir toda a área para o controle de doenças e correções de deficiências nutricionais. Além disto, o tempo envolvido nas atomizações 34 é longo, e em muitos casos o cafeicultor não colocará o produto em tempo na planta para o controle de uma praga ou doença. Daí a necessidade de se realizar o planejamento da lavoura para se proceder o controle fitossanitário. No planejamento, neste caso, deve-se levar em consideração as aplicações de defensivos via solo e via foliar, quando necessários. Tabela 2 – Doenças abióticas ou não infecciosas do cafeeiro e suas causas. Doenças Prováveis Causas abióticas Seca de ramos Ventos frios no inverno e na primavera ponteiro Altitude elevada associada a ventos frios Chuva de granizo Alta carga de frutos associado a deficiência nutricional Déficit hídrico Camada adensada do solo Covas ou sulcos rasos Baixas temperaturas Raízes tortas e sistema radicular pouco desenvolvido Deficiência e desequilíbrio nutricional Queda prematura Deficiência e desequilíbrio nutricional antes do de chumbinhos florescimento Estresse hídrico associado a altas temperaturas Predominância de chuvas finas e constantes por longo período (apodrece o pedúnculo facilitando o ataque de Colletotrichum e outros fungos e bactérias) Ataque de fungos tais como Phoma, Cercospora e vírus da mancha anular. Óvulos não fecundados. Declínio das Raízes pouco desenvolvidas e ou tortas plantas Ataque de nematóides Deficiência e desequilíbrio nutricional Ataque de mosca-do-berne Escaldadura das Insolação intensa folhas em plantas (até 1 ano) Murcha das Estresse hídrico plantas (anos Predominância de alta temperatura de alta Solos arenosos carga de frutos) Faísca elétrica Afogamento do coleto das plantas Pião torto Raízes tortas Camada adensada no solo Covas rasas Amarelecimento Deficiência nutricional Déficit hídrico Toxidez causada por fertilizantes, herbicidas, micronutrientes por via foliar, fungicidas etc. 36 Faísca elétrica COLLETOTRICHUM EM CAFEEIRO Pesquisador Científico Osvaldo Paradela Filho Eng. Agrônomo, Instituto Agronômico de Campinas, Av. Barão de Itapura, 1481; Campinas, SP. E- mail: [email protected] Entre os patógenos que afetam o cafeeiro diferentes espécies do gênero Colletotrichum têm-se destacado ultimamente, podendo, em determinadas condições causar perdas na produtividade. No Brasil, vários isolados do fungo já foram identificados. Esses isolados foram referidos como formas das espécies Colletotrichum coffeanum e Colletotrichum gloeosporioides. Na África já foram definidos três isolados considerados como formas das espécies Colletotrichum gloeosporioides, Colletotrichum acutatum e Colletotrichum kahawae (sin. Colletotrichum coffeanum). Colletotrichum kahawae causa a doença denominada CBD “Coffee Berry Disease”, no Quênia, na Etiópia e em outras regiões de elevada altitude da África. Dependendo da virulência do isolado, pode destruir e derrubar até 80% dos frutos cerejas. As Doenças e os Sintomas A doença mais antiga atribuída a esse fungo é a “seca dos ramos” ou “seca dos ponteiros”. Os sintomas são desfolhamento e morte descendente dos ramos. Esse tipo de sintoma também é atribuído a algumas espécies do gênero Phoma. Esse isolado de Colletotrichum sempre foi reconhecido como um saprófita que habita a casca do cafeeiro, afetando ramos quando favorecido por ferimentos, principalmente em períodos de umidade elevada. Outra denominação de doença conhecida causada por Colletotrichum spp. é “antracnose”. O fungo incide sobre ramos e frutos que sofrem injúrias. Também provoca manchas irregulares necróticas próximas às margens das folhas. Em folhas novas de ramos novos, o fungo provoca abscisão. Finalmente, em plântulas de viveiros e sementeiras ele induz o aparecimento de manchas pardas no caule que podem levar a plântula à morte. Esses sintomas são atribuídos a isolados dos fungos Colletotrichum gloeosporioides e Colletotrichum kahawae. Como ocorre com a “seca dos ramos”, os isolados dos fungos causadores da antracnose também foram reconhecidos por outros pesquisadores como fungos que normalmente se encontram nas lavouras como saprófitas, mas podem passar a causar danos em lavouras mal manejadas. Em regiões altas, a incidência é maior porque apresenta mais umidade e temperaturas amenas. A possível mistura de isolados de Colletotrichum spp. que ocorre no Estado de São Paulo tem permitido a observação no cafeeiro de um quadro sintomatológico que apresenta as seguintes características em condições naturais de campo: Ø Escurecimento e morte das estípulas dos nós sempre afetando primeiro as da base do ramo, e em seguida infectando as próximas em direção ao ponteiro. Ø Lesões necróticas nos ramos de cor parda passando a preta, sempre caminhando da base do ramo para o ponteiro. 38 Ø Lesões necróticas em folhas. Ø Queda das folhas, sendo primeiro as da base, caminhando em seguida para o ponteiro do ramo. Ø Lesões necróticas pardas, passando a negras, em gemas, flores, chumbinhos e frutos. Ø Provoca a morte e queda das flores e chumbinhos. Ø Enegrecimento e morte de ramos. Ø Retardamento do desenvolvimento das plântulas em viveiro provocado por lesões no caule. Observações realizadas nos últimos anos têm mostrado que os sintomas mais críticos e prejudiciais para o cafeeiro são aqueles em que o fungo incide sobre gemas, flores e chumbinho, provocando sua morte e queda, e enegrecimento e morte de ramos. Isto sugere que o isolado patogênico do fungo tem preferência por tecidos em crescimento. Os sintomas não estão relacionados com plantas injuriadas ou culturas mal manejadas; pelo contrário eles são mais intensos e evidentes em culturas novas e muito bem conduzidas. Todos os sintomas apresentados, ou parte deles ocorrem invariavelmente em todas as lavouras de café do Estado de São Paulo, como também em muitos viveiros. O Fungo e as Condições Favoráveis Colletotrichum spp. do cafeeiro são parasitas facultativos. Apresentam uma fase parasítica e uma fase saprofítica. A fase saprofítica pode-se constituir em importante fonte de inóculo para a sua disseminação. Entre os fatores de disseminação do fungo entre e dentro das plantas, destacam-se a chuva, vento, insetos, implementos, homem, etc. As mudas têm-se mostrado a maneira mais eficiente de se introduzir o patógeno em uma nova cultura de cafeeiro. O ambiente exerce efeito marcante na sobrevivência e fase saprofítica de parasitas facultativos. Períodos contínuos de alta umidade favorecem o desenvolvimento da doença. Temperaturas mais baixas, em torno de 22o C, beneficiam o fungo, tornando os sintomas mais intensos. Os fatores ambientais podem estar selecionando isolados mais patogênicos ou estimulando o mecanismo do fungo que permite passar rapidamente da fase saprofítica para a fase patogênica. Medidas de Controle A medida de controle recomendada é o uso de defensivos agrícolas. Produtos de ação sistêmica devem impedir que o fungo se desenvolva, colonizando ramos, gemas, flores, chumbinho e frutos. Os produtos de contato atuam reduzindo a disseminação do fungo na planta. Para o controle de Colletotrichum spp., produtos de ação sistêmica como benomyl, tiofanato metílico, tebuconazole, tiofanato metílico + clorotalonil e difenoconazole, e produtos de contato como trifenil acetato de estanho, prochloraz e trifenil hidroxido de estanho, foram altamente eficientes em condições de laboratório. A eficiência do tratamento com esses produtos tem sido variável, dependendo do isolado do fungo envolvido no processo de infecção. O período de florescimento e formação de frutos é o mais crítico e deve ser protegido. Deve-se fazer um acompanhamento da lavoura para se verificar o início do aumento da doença. 40 Iniciado o florescimento, se ocorrer um período prolongado de umidade relativa alta, aplicar produto de ação sistêmica. Se posteriormente houver evolução da doença, o agricultor deve repetir o tratamento. Proteger sempre a fase de chumbinho quando houver ocorrência de chuvas prolongadas. Referências Bibliográficas ANDREI, E. 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Até 1988 a doença, mancha-anular do cafeeiro, não tinha ainda representado problema econômico, embora em 1986 tenha sido associada a uma intensa desfolha devido a um inverno com baixa precipitação pluvial, condição muito favorável ao ácaro (CHAGAS, 1988). Desde 1990, com destaque para 1995, a infestação de B. phoenicis e da mancha-anular, têm sido relatadas em Minas Gerais causando intensa desfolha em cafeeiros, principalmente na região do Alto Paranaiba (FIGUEIRA et al., 1996), sendo também constatada a presença 42 do ácaro nas demais regiões cafeeiras do Brasil, tanto em cafeeiro arábica, quanto em canéfora (MATIELLO , 1987). Brevipalpus phoenicis, ácaro-plano, ou da leprose como é conhecido na citricultura, é uma séria praga da cultura dos citros (CHIAVEGATO, et al., 1982; CHIAVEGATO, 1991) atacando as folhas, ramos e principalmente os frutos, causando prejuízos. Seu levantamento e controle em citros são indispensáveis a cada ano. No cafeeiro, segundo CHAGAS (1973), desde 1970 quando foi constatada a ferrugem-do-cafeeiro, Hemileia vastatrix, no Brasil, a atenção dos cafeicultores foi despertada para diversos tipos de manchas que ocorriam nas folhas. Muitas amostras apresentavam sintomas da mancha-anular do cafeeiro. Segundo o autor, em folhas afetadas pela mancha-anular, foi observada, com certa freqüência, a presença de ácaros avermelhados, cujo aspecto e dimensões assemelhavam-se aos de B. phoenicis associado à leprose nos laranjais paulistas. Posteriormente foram identificados como sendo mesmo B. phoenicis. 2. Etiologia e Sintomas da Mancha-anular do Cafeeiro CHAGAS (1973) conseguiu reproduzir os sintomas da manchaanular, em mudas de Coffea arabica ‘Mundo Novo’, através da infestação com ácaros provenientes de lavoura de café apresentando a doença. Os resultados obtidos indicaram que o ácaro B. phoenicis, além de estar associado a leprose dos citros (MUSUMECI & ROSSETTI, 1963) e à clorose- zonada (ROSSETTI et al., 1965), está também associado à mancha-anular do cafeeiro. Essa espécie de ácaro foi também associada à mancha-anular do ligustro, Ligustrum lucidum Ait. (Oleaceae) (RODRIGUES & NOGUEIRA , 1996), cujo agente causal provavelmente é um vírus (Ligustrum Ringspot Virus) como relatado por LIMA et al. (1991). Em 1986, segundo CHAGAS (1988), devido a condições ambientais muito favoráveis ao ácaro, a mancha-anular foi associada à queda de folhas. Relata ainda o autor que os sintomas aparecem nas folhas e nos frutos do cafeeiro, e caracterizam-se por manchas cloróticas, de contorno quase sempre bem delimitado, às vezes com um ponto necrótico central. Nas folhas as manchas tomam constantemente forma de anel, podendo coalescer, abrangendo grande parte do limbo. Nos frutos, os sintomas também aparecem na forma de anéis. SILVA et al. (1992) dia gnosticaram em 1991 a “leprose do cafeeiro” transmitida pelo ácaro, por julgarem, pelos sintomas, ser diferente da mancha-anular, ocorrendo no Alto Paranaíba em Minas Gerais, com prejuízos iniciais significativos. Nos anos subseqüentes, e, principalmente em 1994/1995, verificaram uma grande expansão da doença naquela e em outras regiões. PALLINI F ILHO et al. (1992) em levantamentos de ácaros realizados no Sul de Minas, em 1989/1990, constataram a ocorrência do ácaro B. phoenicis em baixa população e não notaram a presença de mancha-anular. MATIELLO et al. (1995) mencionaram que as plantas atacadas, e com sintomas do ataque do ácaro, ficam bastante desfolhadas, de dentro para fora, ficando “ocas”. Os frutos apresentam lesões cor de ferrugem (marrom claro) evoluindo depois para uma cor negra, alguns recobertos por fungos oportunistas (tipo Colletotrichum), aparecendo um pó branco sobre as lesões. Os autores constataram também lesões em ramos e, em menor escala, morte de gemas apicais nos ramos de dentro das plantas. 44 Como ocorre em citros (RODRIGUES et al., 1997), também em cafeeiro duas hipóteses podem ser estabelecidas para explicar a sintomatologia do ataque, ou seja, as lesões podem ser causadas por uma toxina injetada pelo ácaro no tecido das plantas ou o ácaro é o vetor de um patógeno, provavelmente um vírus. A transmissão da leprose em citros pela enxertia (CHAGAS & ROSSETTI, 1983 citados por RODRIGUES et al., 1997) e mecanicamente (COLARICCIO et al., 1995) reforça a hipótese de que a doença nessa cultura é causada por um patógeno, porém não descarta a segunda, ou podem ocorrer as duas simultaneamente. Segundo RODRIGUES et al. (1997) a característica não sistêmica atribuída ao vírus ressalta a importância do vetor B. phoenicis na epidemiologia da doença, porque a presença do ácaro é condição essencial, sem a qual não ocorre a sua disseminação. Relatam ainda, esses autores, a ocorrência de partículas semelhante a vírus, como resultados da análise de secções ultrafinas de tecidos do ácaro sob microscópio eletrônico, os quais relatam como sendo similares aos vírus de plantas dos grupos Badnavirus e Rhabdovirus, tal qual o relato de KITAJIMA et al. (1971) em tecido foliar de citros. Ainda RODRIGUES et al. (1997), pelo local e quantidade de partículas encontradas, relatam a possibilidade do vírus multiplicar-se dentro do vetor, B. phoenicis. 3. Distribuição Espacial do Ácaro Brevipalpus phoenicis em Cafeeiro Como é relatado para os citros, para a mesma espécie de ácaro, foi constatada a presença do B. phoenicis nas folhas, ramos e frutos do cafeeiro. Nas folhas os ácaros localizam-se na página inferior, próximos às nervuras, principalmente a central. Nos frutos, ácaros e ovos, encontram-se preferencialmente na coroa e pedúnculo, sendo também encontrados em fendas e lesões na casca dos frutos com aspecto de cortiça. O maior número de ovos e ácaros é encontrado no terço inferior das plantas, tanto nas folhas, ramos e frutos. Nas folhas, o maior número de ovos e ácaros é encontrado naquelas do terço inferior e posição interna da planta, e em menor número nas da parte superior e posição externa da planta. Já nos ramos o maior número de ovos e ácaros é encontrado na parte distal, que é a parte verde dos ramos, onde estão as folhas, e o menor número na parte do ramo que não apresenta folhas, ou do interior das plantas. De modo geral, o número de ovos é sempre maior que o de ácaros. Os ramos apresentam o menor número de ovos e ácaros, quando comparados às folhas e frutos (REIS et al., 2000c). Estes resultados diferem em parte daqueles encontrados para citros com a mesma espécie de ácaro (CHIAVEGATO & KHARFAN, 1993), onde a maior preferência foi para frutos e ramos, e os locais menos adequados foram as folhas, porém é possível que hajam diferenças conforme a época do ano. 4. Dano Além da queda de folhas já relatada anteriormente, ocorre também uma redução na qualidade do café, provavelmente em função da posterior ocorrência de fungos associados às infestações do ácaro, que ocasionarão fermentações indesejáveis durante a secagem do café. Após o ataque do ácaro os frutos ficam predispostos à penetração de microorganismos, como é o caso do fungo Colletotrichum gloeosporioides, e que é comum ser encontrado em condições saprofíticas em cafeeiro. 46 Através da medida da atividade da polifenol oxidase de amostras de café, com e sem ataque do ácaro, foi constatado uma piora na qualidade da bebida do café proveniente dos grãos atacados, que de bebida mole passou a bebida dura (REIS & CHAGAS, no prelo). 5. Manejo do Ácaro da Mancha-anular Fenbutatin-oxide (Torque 500 SC, 80 ml/100 litros de água), hexythiazox (Savey 500 PM, 3g), clofentezine (Acaristop 500 SC, 40 ml), abamectin (Vertimec 18 CE, 30 ml), tetradifon (Tedion 80 CE, 300 ml) e enxofre (Kumulus 800 PM, 500 g), previamente selecionados como seletivos a dois ácaros inimigos naturais de B. phoenicis, os ácaros predadores I. zuluagai (REIS et al., 1998a) e E. alatus (REIS et al., 1999a), foram testados no controle do ácaro da mancha-anular em cafezal altamente infestado. Com uma só aplicação dos produtos com atomizador costal motorizado e gasto de 1000 litros de calda por hectare, alto volume de calda acaricida necessário para melhor eficiência no controle desse ácaro (O LIVEIRA & REIFF, 1998; O LIVEIRA et al., 1998), os produtos mais eficientes e respectivas porcentagens de eficiências de controle foram: enxofre (88%), fenbutatin-oxide (86%), abamectin (70%) e tetradifon (64%). O hexythiazox e clofentezine não mostraram efeito de controle do ácaro no campo. O efeito ovicida de todos os produtos foi avaliado em laboratório, pulverizados com torre de pulverização (2,12±0,09 mg/cm2 ), e somente o hexythiazox apresentou 100% de ação ovicida, seguido do fenbutatin-oxide com 51%. Quanto ao efeito residual sobre a mortalidade dos ácaros, obtido em semi-campo, o enxofre, fenbutatin-oxide e abamectin apresentaram mortalidade até 30 dias da aplicação, hexythiazox e tetradifon até 15 dias e clofentezine menos de 5 dias (REIS et al., 1998b). Outros produtos como o dicofol (Kelthane) 480 SC (Reis et al., 1999b) e o propargite (Omite) 720 CE (REIS et al., 2000a), também muito eficientes no controle do ácaro da mancha-anular, devem ser utilizados com maior cautela por não possuírem seletividade fisiológica à ácaros predadores do ácaro B. phoenicis (REIS et al., 1998a e 1999a). 6. Considerações Finais O ácaro da mancha-anular ou ácaro-plano, B. phoenicis, adquiriu "status" de praga por veicular o vírus da mancha-anular em cafeeiro. Ocorre durante o ano todo, porém apresenta maior população nos períodos ma is secos do ano, onde seu monitoramento deve ser acentuado (REIS et al., 2000b). Os resultados obtidos por REIS et al. (2000c) mostram que amostragens do ácaro da mancha-anular, para efeito de controle, serão mais representativas se forem feitas em ramos e frutos do terço inferior, e folhas mais internas do terço inferior das plantas. Dão informações também de quais partes das plantas devem ser alvo de produtos fitossanitários para o controle do ácaro, ou seja, o equipamento a ser utilizado deve proporciona r um depósito dos produtos nas partes interiores das plantas, principalmente dos terços inferior e médio. Devido à maior quantidade de ovos presentes nos ramos e frutos, em relação às demais fases do desenvolvimento do ácaro (REIS et al., 2000b), o uso de produtos fitossanitários com ação ovicida aumenta a eficiência de controle do B. phoenicis. Como a presença de ácaros predadores é significativa (REIS et al., 2000b) e com grande potencial de 48 predação (REIS et al., 2000d), o uso de produtos seletivos favorece o manejo do ácaro da mancha-anular. 7. Referências Bibliográficas A INFESTAÇÃO de ácaros nos cafezais. O Biológico, São Paulo, 17: 130, 1951. CHAGAS, C.M. Associação do ácaro Brevipalpus phoenicis (Geijskes) à mancha anula do cafeeiro. O Biológico, 39: 229-232, 1973. CHAGAS, C.M. Viroses, ou doenças semelhantes transmitidas por ácaros tenuipalpídeos: mancha anular do cafeeiro e leprose dos citros. Fitopatol. Bras., 13: 92, 1988. CHIAVEGATO, L.G. Ácaros da cultura dos citros, p.601-641. In: RODRIGUEZ , O.; VIÉGAS, F.; POMPEU JR., J.; AMARO, A.A. (Eds.) 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E-mail: [email protected] As áreas cultivadas de café no Brasil tem apresentadas altas e baixas, principalmente em função das geadas; sua ocorrência desanima os produtos atingidos sem incentivo para novos plantios; entretanto as oscilações nos preços do café, a nível internacional, estimularam o plantio em áreas não favoráveis a essa adversidade climática. Tais áreas, conhecidas por região do cerrado, passaram a exigir novas tecnologias devido a pobreza do solo e predominância de secas; essas condições tornaram os cafezais mais vulneráveis as pragas e doenças, obrigando a pesquisa a desenvolver modificações no controle das mesmas, com a finalidade de reduzir os custos de produção. De outro lado, a sociedade cada vez mais exigente quanto aos processos ecológicos tem direcionado as pesquisas nas aplicações de defensivos menos poluentes, minimizando os problemas toxicológicos. Novas leis começam a surgir, com proteção a fauna e a flora e alguns importadores do café passaram a exigir café orgânico, sem tratamento químico. A aplicação de defensivos em cafezais já vem de longa data; a literatura tem relatado novas modalidades de controle químico, iniciada pelas pulverizações nas folhas com inseticidas ou fungicidas sistêmicos; posteriormente, para evitar lavagens dos produtos pelas chuvas e também agressão aos inimigos naturais ou contaminação ao aplicador, surgiram o sistêmicos granulados para aplicação no solo. Alguns sistêmicos foliares como o dimetoato, tiveram suas formulações modificadas para se adaptarem ao uso no solo, pois devido a sus alta solubilidade, foi necessária a confecção de camadas intercaladas do ingrediente ativo, para uma liberação lenta. A utilização de aplicação combinada de inseticida com fungicida no solo, surgiu por volta de 1980, visando o controle simultâneo do bicho mineiro e da ferrugem do cafeeiro. A termonebulização com piretroides já era recomendada desde 1979 visando o uso da substancia pastosa (poli-butadieno / poli-acaricida) contendo 10% de Citrolane (mefosfolan) aplicado no tronco dos cafeeiros com o auxilio de pincel e o esguichamento de inseticidas também no caule das plantas surgirem em 1984; pulverizadores eletrodinâmicos no controle do bicho mineiro foram lançados em 1986; sua grande vantagem é o direcionamento das gotas inseticidas sem deriva, com redução considerável do ingrediente ativo. Porém, a utilização de sistêmicos granulados de solo continuava a predominar e todos eles com elevada toxidade como: aldicarbe, 54 carbofuran, disulfotom, forate, passaram a preocupar os ambientalistas, principalmente após problemas surgidos com a contaminação de águas em regiões montanhosas, onde podem ser levados pelas chuvas. Com isso, as pesquisas se iniciaram novamente com novas modalidades de aplicação como o esguicho manual ou tratorizado no caule; outro tipo de aplicação ainda em fase de teste é o band-aid envolvendo o caule das plantas, processo mais trabalhoso, mas com a vantagem de proteger o inseticida da degradação pelos raios solares, das lavagens pelas chuvas, com conseqüente aumento no efeito residual, menor risco ao aplicador e menos agressivo aos inimigos naturais. O aparecimento de um novo grupo de inseticida sistêmico, denominado neonicotinoide, com DL50 muito mais seguro comparado aos sistêmicos fosforados e carbamatos, passou a oferecer aos cafeicultores métodos mais seguro de aplicação em qualquer dos sistemas já preconizados. As técnicas de aplicação desses novos defensivos voltaram a ser testadas com sucesso por ser um ativo com local de atuação diferenciado no sistema nervoso dos insetos, portanto, com possibilidade de resistência remota. Sua relativa estabilidade tanto no solo como aplicado no caule estão oferecendo resultados satisfatórios excelentes resultados. Mas, a preocupação com os processos ecológicos, tem feito surgir novas legislações preocupando as empresas tanto sob aspecto econômico da produção de defensivos quanto ao aspecto toxicológico. Taxas elevadas passaram a ser cobradas pelos órgãos fiscalizadores inviabilizando o registro de novos produtos. Com isso, os genéricos começam a ser utilizados novamente surgindo a necessidade de pesquisas visando técnicas de aplicações menos poluentes ou menos agressivas ao agroecosistemas. O uso de microencapsulados ganha espaço novamente, na tentativa de reduzir o contato do homem aos defensivos com o DL 50 dermal comprometedor ao mesmo tempo em que se consegue maior efeito residual sobre as pragas. Já existem no mercado o Paracap, formulação microencapsulada do Paratiom metil e o piretroide Lambda cialothrina, este último pouco e menos irritante, com maior ação residual. A nova legislação passa a exigir também que as embalagens de defensivos sejam rcolhidas após o seu uso; pesquisas visando a redução dessas embalagens também já foram iniciadas, surgindo novas formulações para minimizar essa exigência, tornando o inseticida menos poluente quando comparado aos pós e as formulações liquidas. Novos métodos alternativos para o uso de defensivos deverão surgir em conseqüência de novas exigências, seja pela legislação, seja devido a redução de custos e também pelo aspecto inovador, oferecendo aos usuários processos moderno e mais competitivos em relação a concorrência. Bibliografia ALMEIDA , P. R., DE; ARRUDA , H.V. DE; P EREIRA , L. C. E.; BAUER, O. A. P. 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A produção mundial é de 106 milhões de sacas (1998) sendo a taxa de crescimento nesta década de 0,2%, indicando uma estagnação do consumo (ORMOND et al., 1999). O Estado de São Paulo é o segundo produtor brasileiro (20%), atrás somente de Minas Gerais (38%). Maiores produções, menores desequilíbrios biológicos e controle mais eficiente de pragas e doenças que infestam a cultura do café, têm sido obtidos com a aplicação de práticas integradas e o planejamento de táticas a serem empregadas na intervenção no agroecossistema cafeeiro, ou seja, o Manejo Integrado de Pragas na cultura cafeeira. Consideram-se estratégias o conhecimento e utilização adequada da adubação, época de plantio, espaçamentos, fenologia das plantas, irrigação, nutrição, reguladores de crescimento de plantas, reguladores de crescimento de insetos, seletividade dos inseticidas/acaricidas e variedades resistentes. As táticas a serem utilizadas são: preservação do controle biológico 60 natural, controle biológico artificial (liberações de inimigos naturais), controle químico baseado em níveis de dano e uso de práticas culturais (BUSOLI , comunicação pessoal). Para se fazer Manejo Integrado de Pragas é preciso levar em consideração quatro fatores: Amostragens (conhecer a dinâmica populacional das pagas); Níveis de danos econômicos, combinação de todas as técnicas disponíveis (táticas e estratégias) e raciocinar que nem todo ácaro ou inseto se constitui numa praga (BUSOLI , comunicação pessoal). Para seu emprego é preciso conhecer: métodos de amostragem (monitoramento); comportamento e biologia das pragas; fenologia das plantas; níveis de ação; níveis de dano; inseticidas seletivos (controle natural); controle integrado; inimigos naturais e outros artrópodos; práticas culturais; influência de fatores ecológicos (físicos, substrato, alimento e fatores biótipos). 2. Conhecimento das Pragas O inseto/ácaro passa a ser considerado praga, quando atinge uma população que começa a apresentar danos econômicos á cultura. A mais importante delas, e praga chave no cafeeiro é o bicho mineiro Leucoptera coffeellum (Guérin-Menéville (Lepidoptera: Lyonetiidae)). Ø Bicho mineiro Leucoptera coffeellum (Guérin-Menéville) (Lepidoptera: Lyonetiidae). Sua ocorrência está fortemente ligada aos fatores meteorológicos. Quando ocorrem veranicos longos, os estragos feitos pelo bicho mineiro é muito grande, a ele sendo atribuídos a queda excessiva de folhas. Em anos de secas, as infestações têm sido especialmente altas. O bicho mineiro á a lagarta branca, cujo adulto é uma mariposa pequena, que fica alojada no baixeiro da planta, voando quando as folhas da saia são agitadas. A mariposa coloca os ovos na página superior da folha (28 a 50 ovos/fêmea) e a lagartinha assim que eclode (± 5 dias de incubação), penetra através da cutícula e se aloja no “parênquima”, de cujos tecidos se alimenta. Ao completar o desenvolvimento (10 a 40 dias) a lagarta abandona a galeria em que viveu e prendendo-se em fios de seda procura empupar em folhas mais próximas do solo (5 a 40 dias para a emergência). Produzem até 7 gerações por ano, com um ciclo total de 20-30 dias (verão) e 40-45 dias (inverno). Os surtos de bicho mineiro ocorridos em 1972/73 e 1973/74 foram referidos por AMANTE et al. (1974), como sendo causados por um desequilíbrio ecológico que favoreceu o aumento populacional do lepidóptero. O efeito colateral dos fungicidas cúpricos foi demonstrado em Minas Gerais e São Paulo por PAULINI et al. (1976) e MARCONATO et al. (1976), respectivamente. GRAVENA (1983) observou que 82% das folhas com lesões da praga caem antecipadamente àquelas sem lesão. GRAVENA (1984), comprovou também o favorecimento populacional do bicho mineiro face às pulverizações de fungicidas cúpricos, sugerindo a redução de pulverizações dos mesmos e adotando-se inseticidas seletivos para o controle do bicho mineiro. Nos anos normais, com quedas regulares de chuvas durante o inverno, não existe o problema do bicho mineiro. Nos anos de seca quando sua ocorrência é mais grave, ocorre maior queda de folhas, principalmente devido ao déficit hídrico, tendendo as plantas a liberarem as folhas (reservas nutricionais da planta) que estão contribuindo menos com a fotossíntese (no caso folhas danificadas pelo bicho mineiro). 62 Existem muitos inseticidas disponíveis no mercado para o controle por pulverizações foliares, mas salvaguardando o custobenefício, a preferência por inseticidas granulados sistêmicos, que controlem simultaneamente bicho mineiro e ferrugem, reduzindo a população de cigarras é uma opção em várias localidades, sendo prejudicado em áreas onde o bicho mineiro ocorre tardiamente (MaioAgosto). Ø Broca do café Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae). A história de broca do café H. hampei começa em 1913 quando o então diretor do Instituto Agronômico alertou sobre a possibilidade da entrada da broca, principal praga do cafeeiro em outros países, com a importação direta de mudas pelos fazendeiros (BERTHET , 1913). Em 1924 é anunciado pela imprensa a entrada da praga fatal e é constituída uma comissão para debelação da praga cafeeira, que vai fazer importantes investigações sobre o assunto e em 1927 é transformada no Instituto Biológico de Defesa Sanitária Animal e Vegetal, hoje Instituto Biológico de São Paulo (BATISTA FILHO, 1988). De acordo com GALLO et al. (1988) o adulto da broca do café é um besourinho preto luzidio; medindo a fêmea cerca de 1,65 mm de comprimento por 0,73 mm de largura. O macho é menor e possui cerca de 1,18 mm de comprimento por 0,73 mm de largura. O corpo é subcilíndrico, ligeiramente recurvado para frente. Os élitros possuem cerdas e escamas filiformes. Os machos não voam e não deixam nunca os frutos onde se originaram. A razão sexual é de 1 macho para cada 10 fêmeas. A fêmea após o acasalamento perfura o fruto, geralmente na região da coroa e começa a construir uma galeria desagregando pequenas partículas da estrutura da casca. REIS & SOUZA (1986) afirmam que não se deve confundir a broca, com a falsa broca H. obscurus (FABRICIUS, 1801) que possui cerdas espatuladas, mais largas e com cinco a seis estrias longitudinais. A falsa broca alimenta-se somente da polpa do fruto bem seca, não atingindo os cotilédones, não se constituindo uma praga. É relatado também casos de ataque de broca em armazenamento e até em frutos guardados no refrigerador. OLIVEIRA FILHO (1927) relacionou o ataque da broca em diversos estágios de desenvolvimento dos frutos de café, afirmando que o ataque da broca no estágio “Chumbinho” (2-4 mm) de Ø, 3 meses após as floradas gerais ou parciais com conteúdo quase líquido, é sempre na coroa e em geral são abandonados logo que o inseto chega ao líquido. Aos quatro meses os cotilédones ainda não estão formados e quase líquidos, atacado, não se desenvolvem. Com cinco meses o pergaminho está formado e a galeria é terminada onde é feita a oviposição ou de onde emigram para outro fruto. BENASSI (1989) afirma que o estágio preferido pela fêmea da broca para perfuração é o “verdolengo”, isto é, quando o fruto começa a ficar colorido, os frutos verdes passam a tomar cor de maduros. Quando o café é beneficiado aparecem 3 categorias de café: a de grãos perfeitos ou sãos, a de broqueados, em mistur a com os primeiros e o café escolha. Além dessas categorias, que implicam em perfeição ou em defeitos do lote considerado, há que ser levada em conta, uma quarta categoria, parte do café que foi destruída, que desaparece e determina perda de peso ocasionada pela broca. Quando o grau de infestação é muito alto, diminui a porcentagem de grãos perfeitos e aumenta a de 64 grãos inteiros, porém perfurados, a de café escolha é a de grãos quebrados. Do ponto de vista comercial, o café broqueado entra com grande parcela da responsabilidade na inferiorização do tipo, portanto, na depreciação comercial, pois cinco grãos perfurados constituem um defeito. A proporção sexual é de um macho para 9,75 fêmeas. A fêmea penetra no fruto abrindo uma galeria, cujo inicio ou orifício de penetração normalmente esta na coroa ou disco do fruto. Atingida a semente, a galeria é alargada em câmara piriforme, na qual são postos os ovos. O período de incubação varia de 4 a 16 dias (com média de 7,6 dias). A larva atinge o completo desenvolvimento de 9 a 20 dias (13,8 dias em media) e o período pupal é de 4 a 10 dias (com média de 6,3 dias). A fecundidade média é de 74,1 ovos, com variação de 31 a 119 ovos. A longevidade média dura 156,6 dias, com variação de 81 a 282 dias. Durante um ano, fo rmam-se 7 gerações durante o período de produção (Novembro/Dezembro) e (Julho/Agosto) desenvolvendo-se 4 a 5 gerações do inseto. O ataque aos frutos novos tem inicio a partir de outubro, dependendo do grau de desenvolvimento desses frutos. O ataque inicial é mais intenso ou mais acentuado, de acordo com a população existente no cafezal, abrigada nos frutos velhos da safra anterior. Essa população, representada pôr numero maior ou menor de indivíduo, desde que controlada ou determinada pelos seguintes fatores: Quantidade de frutos velhos da safra anterior, intensidade da queda pluvial durante os meses de inverno e intensidade da infestação da safra anterior. As chuvas precoces de Julho-Setembro, quando ocorrem, umedecem os frutos velhos, permitindo a reprodução a partir dessa época. Os cafeeiros beneficiados pelas boas condições florescem mais cedo. Quando os frutos atingem o grau de ‘’verdolengo-granados’’ a população de brocas, formada pelos indivíduos remanescentes da safra anterior é intensificada pela reprodução no início da nova frutificação, é grande, sendo o ataque inicial intenso. Nestas condições, a infestação será elevada em Novembro/Dezembro. Ao contrário, faltando chuva até Outubro/Novembro, a população para ataque inicial é pequena, formada apenas pelos indivíduos que conseguiram transpor os meses de entresafra, abrigados nos frutos velhos. Esta condição repetida por vários anos seguidos faz com que a infestação da broca não chegue a tornar-se elevada. Para reduzir a infestação no inicio de cada frutificação são recomendadas algumas medidas, como por exemplo, o repasse, cujo objetivo é reduzir a população na entre - safra e no inicio da frutificação. Atualmente o combate da broca é feito somente com produtos como Thiodan CE e Lorsbam 480 BR, quando a infestação está em torno de 3 a 5 % dos frutos. Outras aplicações podem ser necessárias e normalmente são determinadas pela queda das chuvas. THOMAZIELLO et al. (1996) recomendam duas a três pulverizações de endosulfan no período de trânsito (Outubro a dezembro), seguindo antigas recomendações, logo do aparecimento da praga. GALLO et al. (1988) recomendam aplicação com nível de infestação de 3-5% de frutos broqueados. Também REIS & SOUZA (1986) recomendam de 3 a 5% de infestação para iniciar o controle da broca com os produtos disponíveis no mercado (endosulfan e clorpirifós, apenas), mas ressalvando que esse 66 nível pode ser mutável dependendo do preço do café e do custo do controle na época. JACOBSEN et al. (1997) estudaram em laboratório a morfologia e fisiologia de populações resistentes a cyclodienos, verificando grande sobrevivência em linhagens resistentes ao endosulfan. Ø Cigarras-do-cafeeiro – Quesada gigas; Fidicina pronae, Dorisiana drewsani, Carineta fasciculata As cigarras do cafeeiro são insetos que apresentam diversas fases em seu ciclo de desenvolvimento (GALLO et al., 1978; SOUZA et al., 1983 e NAKANO et al., 1981), causando prejuízo pela contínua sucção de seiva nas raízes das plantas, ocasionando o definhamento progressivo das lavouras, com queda prematura de folhas, “envaretamento” e principalmente decréscimo acentuado na produção. MARTINELLI & ZUCCHI (1997) relatam que as cigarras do cafeeiro, no Brasil, estão registradas para os estados de minas Gerais, São Paulo e Paraná, onde tem caus ado sérios problemas à cultura. Relatam ainda que as principais espécies pertencem aos gêneros: Quesada, Carineta, Dorisiana e Fidicimna. Com o início do periodo chuvoso, a maioria das regiões cafeeiras do Brasil, especialmente Sul de Minas Gerais e Alta Mogiana/SP é infestada por cigarras. Elas passam a maior parte de sua vida no solo e são percebidas pelo agricultor no momento da emergência do adulto, pelo seu canto estridente. SOUZA et al. (1984) afirmam que o cafeeiro pode suportar uma infestação de aproximadamente 35 ninfas de Quesada gigas por cova, devendo ser considerado este nível na tomada de decisão para que seja efetuado o controle químico. Uma das primeiras recomendações para o controle da praga foi feito por F ONSECA & ARAÚJO (1939) que preconizaram o uso do bissulfeto de carbono e tetracloreto de carbono. HEINRICH & PUPPIN NETO (1967) mostraram em seus estudos alta porcentagem de redução de ninfas móveis de cigarras pelos inseticidas sistêmicos Forate a 5% (50 e 100g p.c./cova) e dissulfoton a 2,5% (75 e 100g p.c./cova). Vários outros ensaios realizados posteriormente, visando conhecer a eficiência de doses, tipos de formulações e modos de aplicação de inseticidas sistêmicos (D`ANTONIO & LUZIN, 1981; D`ANTONIO & PAULA , 1980; D`ANTONIO & DAMATO NETO, 1986; e ZANBOM et al., 1981). Ø Mosca da-raíz Chiromiza vittata Wiedmann, 1820 (Diptera: Stratiomyidae) A mosca-da-raíz do cafeeiro Chiromyza vittata é uma praga que está presente em inúmeras lavouras de café adultas de minas Gerais, São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeio,e Paraná (D’ANTONIO, 1991). O ‘status’ taxonômico da mosca-das-raízes foi realizado por PUJOL-LUZ & VIEIRA (2000) descrevendo a espécie C. vittata. Sua constatação deuse em meados de 1986, no município de Oliveira, região de Campos Vertentes, em Minas gerais, através da presença de uma grande quantidade de larvas do inseto no sistema radicular de cafeeiros (SOUZA & REIS, 1989). Suas larvas mastigadoras podem ser encontradas em grande número/cova infestadas, alimentando-se das raízes das plantas, perfurando as mais grossas (porta de entrada para patógenos) e consumindo as radicelas, mais importantes, pois são as absorventes. Dessa forma, os cafeeiros definham, não respondendo normalmente aos 68 tratos culturais realizados, prejudicando a produção dos cafeeiros. O controle químico tem sido ineficiente. Ø Lagartas desfolhadoras Eacles imperialis magnifica = verde, marrom no meio Lonomia circunstans = verde-escuras, urticantes, principalmente nos ponteiros Oiketicus Kirbyi = bicho cesto, construido de folhas e ramos Megalopyge lanata = marrom peluda Ø Cochonilhas Cerococcus catenarius Coccus viridis Dysmicoccus cryptus Orthezia praelonga Ø Pinaspis aspidistrae Planococcus citri Pseudococcus constocki Saissetia coffeae Ácaros Oligonychus ilicis = vermelho Polyphagotarsonemus latus = branco Brevipalpus phoenicis = ácaro plano, mancha anular 3. Amostragens e Tomada de Decisão Bicho mineiro (época crítica = Abril – Agosto – Outubro) Dividir a área em talhões (5 a 10 ha) – Amostrar 50 plantas, 2 folhas de cada lado da planta, preferencialmente parte mediana da planta (4º par de folha, no ramo). Marcar nº de folhas com galerias (atacadas), nº de larvas vivas, predação. Determinar a porcentagem de folhas com larvas vivas. Contagem deve ser quinzenal. O controle deve ser feito com 30% de folhas minadas (BUSOLI , comunicação pessoal). Broca (época crítica = Outubro a Fevereiro) - Dividir a área em talhões (5 a 10 ha) – Amostrar 100 plantas, coletando 1 fruto (preferencilamente verdolengo) de cada planta. Observar se tem orificio da broca ou não. Se possível verificar a larva. Determinar a porcentagem de frutos com furo da broca. Contagem deve ser quinzenal. O controle deve ser feito com 3 a 5% de frutos broqueados. Praticamente só temos a opção de endosulfan em pulverização. Cigarras (época crítica = Outubro a Fevereiro) - Dividir a área em talhões (5 a 10 ha) – Amostrar 5-10 plantas, realizando uma trincheira ao lado da planta (1,0 x 1,0 x 0,8 m) e contando-se o número de ninfas móveis presentes. Multiplica a quantidade encontrada por dois. Controle com 35 ninfas/planta em média. 4. Referências Bibliográficas AMANTE, E.; ABRAHÃO, U.; D ANDRETTA , J.B. 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R Peru, 1472-A, CEP 14075-310 Ribeirão Preto, SP. E- mail: [email protected] 1. Introdução A produção brasileira de amendoim em casca é de aproximadamente 150 mil toneladas anuais, obtidas em sua maior parte no Estado de São Paulo, onde se destacam como principais produtoras a região da Alta Mogiana e Alta paulista. Nestas regiões a cultura tem importância social significativa, caracterizando-se como agricultura familiar, exploradas em áreas de pequeno e médio porte, ajustando-se perfeitamente à renovação de canaviais e pastagens. O amendoim já teve maior expressão na agricultura paulista, com grande emprego de mão de obra (especialmente urbana) e uma ótima opção de atividade econômica para micro e pequenos produtores. Apresenta um grande potencial, para tornar-se um suprimento protéico acessível à população de baixa renda, ameaçado pela presença de aflatoxina (substâncias tóxicas ao homem e animais), causado por dois fungos (bolores) denominados Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus , que tem grande preferência pelo amendoim, apesar de ocorrerem em outros grãos. A cultura mantém em seu agroecossistema uma série de espécies de insetos associadas, apresentando insetos-pragas no solo, nas raízes e na parte aérea (Gallo et al., 1988) . Embora o estrago ocasionado por insetos-praga s possa ser diferente para locais e anos, a maioria das pragas tem ampla distribuição (GABRIEL et al., 1996). 2. Principais Pragas Associadas à Cultura do Amendoim Pragas do solo Lagarta Rosca Agrotis ipsilon (HUFNAGEL, 1767) (Lepidoptera: Noctuidae). Plantas novas apresentam o caule seccionado na região do coleto, por lagartas de coloração cinza-escuro a verde-escuro. Lagarta Elasmo Elasmopalmus lignosellus (ZELLER, 1848) (Lepidoptera: Pyralidae). Região inferior das hastes, ao nível do solo, 74 apresentam galerias mistas de teia e terra, causado por lagartas muito ativas, verde-azuladas. Pragas das raízes Percevejo Castanho Scaptocoris castanea PERTY, 1830 (Hemiptera: Cydnidae). Raízes apresentam aglomerados de insetos sugadores, adultos de coloração castanha e que exalam odor desagradável, característicos do grupo. Percevejo preto Cyrtomenus mirabilis (P ERTY, 1836) (Hemiptera: Cydnidae) Raízes apresentam aglomerados de insetos sugadores, adultos de coloração preta e que exalam odor desagradável, característicos do grupo. Pragas da parte aérea Tripes Enneothrips flavens, MOULTON, 1941 e Caliothrips brasiliensis (MORGAN, 1929) (Thysanoptera: Thripidae). Ponteiros com folíolos apresentando estrias e deformações; pequenos insetos de corpo alongado, amarelados e sem asas quando jovens e alados (asas franjadas) e cor marrom-escuro quando adultos. De acordo com CALCAGNOLO & TELLA (1965), é a praga mais importante da cultura do amendoim, devido aos elevados prejuízos e ocorrência generalizada nas lavouras, em níve is populacionais muito elevados. Considerado praga chave (LASCA et al., 1997), a maioria dos trabalhos realizados em amendoim no Brasil, referem-se aos danos e controle deste inseto (ALMEIDA & ARRUDA , 1962; BATISTA , 1967; ROSSETTO et al., 1968; LARA et al., 1970; CALCAGNOLO et al., 1974; LARA et al., 1975; PÁSSARO et al., 1991; BACHEGA & BUSOLI , 1992; JORGE, 1993; MAZZO, 1994). Cigarrinhas Empoasca kraemeri ROSS & MOORE, 1957 (Homoptera; Cicadellidae). Folhas apresentando pequenos insetos, muito ativos, com hábito de locomoção lateral, de corpo estreito e de coloração verde e amarelo claro. Lagarta do pescoço vermelho – Stegasta bosquella (CHAMBERS, 1875) (Lepidoptera: Gelechiidae). Brotos perfurados com lagartas em seu interior. As lagartinhas são branco esverdeadas, com cabeça preta e os dois primeiros segmentos torácicos avermelhados. É de grande ocorrência em anos secos, com períodos longos de veranicos, quando o controle do tripes fica impraticável, bem como desta lagarta. Há controvérsias sobre sua importância, apesar de ser considerada praga secundária. MATUO (1973) verificou altas infestações da lagarta-dopescoço-vermelho e relatou que não afetou a produção. CALCAGNOLO & RENZI (1975) concluiram que a praga afetou em até 65 % a produção. Lagarta da soja – Anticarsia gemmatalis HUEBNER, 1818 (Lepidoptera: Noctuidae). Atacam folhas e brotos novos. São lagartas de coloração verde e marrom, com quatro estrias longitudinais brancas. Agitando-se os ramos atacados as lagartas caem ao solo com facilidade. Lagarta militar - Spodoptera frugiperda (SMITH, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) – Também causam desfolhamento, causados por lagartas pardo-escuras Curuquerê-dos-capinzais – Mocis latipes (GUEN, 1852) (Lepidoptera: Noctuidae) – folhas danificadas por lagartas verdes, com cabeça globosa e com estrias, caracteristicamente “andam medindo palmos”. 76 Ácaro vermelho – Tetranychus evansi BAKER & PRITCHARD, 1960 (Acari: tetranychidae) – provoca clorose das folhas, observa-se na página inferior das folhas, grande quantidade de teias, com as colônias de ácaros, verdes quando jovens e vermelho intenso quando adultos. Ácaro Rajado – Tetranychus urticae (KOCH, 1836) (Acari: Tetranychidae) – provoca amarelecimento de folhas, na página superior, tornando-se vermelha depois. Presença de teia na página inferior das folhas (região mediana), com ácaros que geralmente tem 2 manchas esverdeadas no dorso. 3. Manejo do Tripes Amostragem: A amostragem, para conhecimento da infestação do tripes deve ser iniciada 15 a 20 dias após a semeadura do amendoim e repetida semanalmente durante todo o período de ataque do tripes (oito semanas em média). Em cada amostragem deverá ser examinado 30 folíolos para a constatação da presença ou ausência do tripes. A coleta desses folíolos deve ser feita em 30 pontos (1 folíolo por ponto) distribuídos ao acaso no talhão. Deverão ser coletados folíolos dos ponteiros das plantas, fechados ou ligeiramente abertos. O folíolo onde for constatado pelo menos um tripes será considerado infestado (LASCA et al., 1997). Tomada de decisão: O nível de controle recomendado para iniciar o controle químico dos tripes em amendoim é de 30% de folíolos infestados com qualquer número de ninfas de tripes (NC = 30%). Controle: Controle químico: No controle com defensivos químicos (curativos) deve-se dar preferência aqueles produtos sistêmicos, ou de contato, fosforados, carbamatos e piretróides (registrados no MAARA para a cultura), detalhados na Tabela 1, a seguir. Aplicar com a planta vegetando, ou seja, evitar veranicos. Tratamento de sementes: Como o tripes é de ocorrência constante, tem-se obtido bons resultados até 30 dias após a germinação com thiamethoxam e imidacloprid em tratamento de sementes (usar após registro no MAARA). A aplicação de carbofuram SC no sulco também é recomendada (Compêndio de defensivos agrícolas, ANDREI , 1999) Controle cultural: Evitar plantio em épocas secas e de estiagem; Usar sementes de boa qualidade, para manter “stand” de 15 a 20 plantas/m linear; para “plantio das secas” fazer rotação de culturas, ou destruir ”tigueras” (restos culturais e plantas nascidas na colheita do plantio das águas). Controle biológico: Existe um complexo de tripes na cultura, e não apenas os dois citados, muitos deles agindo como predadores, por isso, evitar aplicações preventivas, pois está eliminando a possibilidade do controle natural. 4. Manejo de Lagartas Amostragem: A amostragem, para conhecimento da infestação de lagartas desfolhadoras deve ser semanalmente, amostrando-se 20 pontos distribuídos ao acaso no talhão, lagartas/metro linear de cultura. verificando-se o número de 78 No caso da lagarta-do-pescoço-vermelho (LPV) amostrando-se 20 pontos distribuídos ao acaso no talhão, examinando-se 20 ponteiros. Tomada de decisão: O nível de controle recomendado para iniciar o controle químico de lagartas desfolhadoras é de 5-6 lagartas médias-grandes/ metro linear de cultura ou 10 lagartas menores que 1 cm por metro linear de cultura. No caso de lagarta-do-pescoço-vermelho recomenda-se a intervenção química quando a cada 5 ponteiros examinados for observado 1 lagartinha (NC = 20%). Controle: Controle cultural: Plantios precoces tendem a escapar da época de maior ataque de lagartas desfolhadoras (fevereiro) Usar sementes de boa qualidade, para manter “stand” de 15 a 20 plantas/m linear. Para “plantio das secas” fazer rotação de culturas, ou destruir ”tigueras” do amendoim, soja e milho. Controle biológico: Fazer uso de inseticidas específicos (lagarticidas) a base da bactéria Bacillus thuringiensis. Deve ser aplicado quando as lagartas são menores que 1 cm de comprimento. São encontradas no mercado várias marcas comerciais como Dipel, Dipel F, Dipel PM, Ecotech Pro, Bactur, Xen Tari, embora não registrados para amendoim (ANDREI, 1999). Usar os inseticidas mais seletivos possíveis e estritamente necessários a fim de preservar os inimigos naturais que ocorrem naturalmente, como: Parasitos de ovos: Trichogramma pretiosum Predadores de ovos: Geocoris punctipes, Orius insidiosus, Orius tristicolor, e de lagartas: tesourinha (Dermaptera), joaninhas (Cycloneda sanguinea e Scymnus sp.), aranhas e ácaros fitoseídeos, percevejos pentatomidae (Podisus spp.) e rediuvídeos, Calosoma sp., Callida spp., e vespas (Vespidae). Parasitóides: himenópteros (Ichneumonidae, Scelionidae, Braconidae) e dípteros taquinídeos. Microorganismos entomopatogênicos naturaisw: fungos (Nomuraea rileyi e Entomophthora sp.) e vírus (Baculovirus spp.) Para “plantio das secas” fazer rotação de culturas, ou destruir ”tigueras” do amendoim, soja e milho. Controle químico: Inseticidas recomendados, conforme tabela 1 Apesar de registrado apenas para o tripes, o carbofuran G parece ter ação sobre percevejos e lagarta elasmo. 5. Bibliografia Consultada ALMEIDA , P.R. & ARRUDA , H.V. Controle do tripes causador do prateamento das folhas de amendoim por meio de inseticidas. Bragantia, 21: 679-687, 1962. BATISTA , G.C.de Controle dos tripes do amendoim, séria praga da cultura, no Estado de São Paulo. Revista de Agricultura, 42: 59-64, 1967. 80 BACHEGA , A.R. & BUSOLI , A.C. Determinação do nível de controle do tripes do prateamento do amendoim Enneothrips flavens (Moulton, 1941) (Thysanoptera: Thripidae) na região de Sertãozinho, SP. FAI/Ituverava, SP, 1992, 30 p. (Trabalho de graduação). GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVA LHO, R.P.L.; BATISTA , G.C.; BERTI F ILHO, E.; PARRA , J.R.P.; ALVES, S.B. & VENDRAMIN, J.D. Manual de Entomologia Agrícola. 2. Ed. São Paulo, Editora Agronômica “Ceres”, 1988. 649p. JORGE, J.M. 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Acephate Produtos comerciais Acefato Fersol Cefanol Orthene BR Grupo químico Classe Toxicol ógica Organofosforad III o sistêmico 750 Bacillus thuringiensis Betacyflutrin Dipel PM Inseticida biológico Bulldock 125 piretróides SC IV Carbaryl Carbamato não II sistêmico Clorpirifós Etil Sevin 480 SC Sevin 850 PM Carbaril fersol 480SC Carbaril fersol pó 75 Clorpirifós 480 CE Organofosforad o I Cyflutrin Baytroid CE Piretróides II II Pragas Tripes Lagartapescoçovermelho Cigarrinhaverde lagartas Tripes Lagartapescoçovermelho Tripes Elasmo Cigarrinha verde lagartas Tripes Lagartapescoçovermelho Tripes Lagartapescoçovermelho 82 Deltametrina Decis 25 CE Piretróides Dimetoato Agritoato 400 Organofosforad CE o Tiomet 400 CE I Enxofre Thiovit IV Enxofre Fenitrothion III Sumithion Organofosforad 400 PM o Sumithion 500 CE Metamidopho Hamidop 600 Organofosforad s CE o Metafós 600 CE Matasip Stron Tamaron BR Monocrotofos Agrophos 400 Organofosforad CE o Azodrin CE Nuvacron 400 CE Parathion Folidol 600 Organofosforad metilico CE o I Parathion methyl Folisuper I Triclorfon Triclorfon 500 Organofosforad Organofosforad o Tripes Lagartapescoçovermelho Tripes lagartas Cigarrinha verde ácaros Ácaro vermelho Tripes lagartas I I I I II Tripes Lagartas Ácaro rajado Lagartapescoçovermelho I Tripes Lagartas Ácaros I Tripes Lagartas Ácaro vermelho Lagartapescoçovermelho Lagartas Lagartapescoçovermelho Lagartas II Carbofuran Dissulfoton Phorate Terbufos o Furadan 50 G Carbamato Solvirex 50 G Organofosforad o Granutox 50 Organofosforad G o Counter 50 G Organofosforad o I II I I Tripes Tripes, cigarrinhas Percevejo preto Tripes e cigarrinhas Tripes PRINCIPAIS DOENÇAS FÚNGICAS DO AMENDOIM E CONTROLE Pesquisadora Científica Aparecida Marques de Almeida Eng. Agrônoma, Laboratório de Sanidade Animal e Vegetal de Bauru – Centro de Ação Regional do Instituto Biológico, Cx. .Postal 399, CEP 17030-000, Bauru - SP, Tel. (14) 230-3257. E- mail: ibbaur [email protected] 1. Introdução O amendoim é suscetível ao ataque de diversos insetos e microorganismos que podem afetar, com maior ou menor grau de severidade, a produção agrícola ou a qualidade do produto, no campo, no transporte ou no armazenamento. Aproximadamente 50 gêneros de fungos causam doenças no amendoim, mas só alguns são importantes para a cultura. No Estado de São Paulo ou no Brasil, nem todas essas doenças foram constatadas ou identificadas. Em nossas condições, no entanto as perdas devido às doenças são consideradas um dos principais fatores que contribuem para o baixo rendimento da cultura do amendoim, 84 principalmente se considerarmos que o cultivar mais plantado mostra-se altamente suscetível às principais doenças que aqui ocorrem. A produção comercial do amendoim só é viável mediante o controle de determinadas pragas e doenças que afetam a cultura. O uso de fungicidas, práticas culturais e cultivares resistentes tem sido desenvolvidos, com o objetivo de controlar patógenos específicos. Além dos problemas relacionados com o impacto ambiental, o uso de defensivos na cultura do amendoim contribui para elevar o seu custo de produção. 2. Principais Doenças Foliares As doenças da parte aérea, pela sua localização ou por eficiência dos produtos químicos, têm seu controle facilitado quando comparadas com as doenças por fungos de solo. Entretanto, a importância dessas doenças não deve ser subestimada, pois quando a incidência se dá no inicio do ciclo da cultura e não são tomadas medidas de controle, causam desfolha e seca prematuras das plantas afetando sensivelmente a produção. As mais comumente encontradas são: manchas foliares, verrugose, mancha barrenta e ferrugem. 2.1. Cercosporioses Entre as doenças foliares as manchas, causadas por Cercospora arachidicola Hori (mancha castanha) e Cercosporidium personatum B& C Deighton (mancha preta), tem sido responsáveis por grande redução na produção comercial do amendoim devido à desfolha (15 a 50 % da produção), em várias regiões do mundo. Dificilmente se encontra uma cultura em fim de ciclo sem sintomas dessas doenças. A massa foliar caída aumenta a incidência da murcha de Sclerotium, elevando ainda mais os prejuízos. Os sintomas primários das manchas foliares são lesões necróticas. A mancha castanha mede até 12 mm de diâmetro, tem forma arredondada irregular, halo amarelo. As frutificações são observadas na superfície superior das folhas, já a mancha preta é menor, mede até 7 mm de diâmetro, arredondadas com bordas mais uniformes, o halo amarelado é indistinto ou ausente, e as frutificações no patógeno predominam na superfície inferior da folha. Os sintomas, além das folhas podem aparecer nos pecíolos, caule, pedúnculo e vagens. A doença começa nas folhas mais velhas, avançando progressivamente para as folhas mais novas. Provavelmente devido a pequenas diferenças nas condições que favorecem as duas doenças, principalmente temperaturas, a mancha castanha aparece mais precocemente, no plantio de setembro a novembro, atualmente adotado no Estado de São Paulo, em áreas de renovação de canaviais. O fungo sobrevive de uma estação a outra como conídio ou micélio, em restos de culturas e plantas voluntárias. Estes podem permanecer por até 10 meses e por este motivo que a doença se mantém quando se faz uma ou duas safras/ano. O controle das doenças pode ser feito através da integração de diversas medidas que visam reduzir o inóculo inicial e a taxa de infecção, retardando o início da epidemia. É recomendável a rotação de culturas com espécies não pertencentes ao gênero Arachis, por 2 a 3 anos, medida já adotada na 86 renovação de canaviais. A incorporação de restos de cultura através de aração profunda tem eficiência em retardar o inicio das epidemias, como também a destruição de plantas voluntárias ou tigueras as medidas que reduzem a taxa de infecção pode ser citado o uso de cultivares resistentes. Embora exista fonte de resistência nas espécies silvestres, nos cultivares comerciais está ausente. O cultivar IAC-Caiapó é considerado moderadamente resistente a moderadamente suscetível.Os cultivares do Grupo Virginia são mais resistentes que os do Grupo Valência e Spanish. A utilização de fungicidas para o controle desta doença é uma prática corrente. No entanto, a aplicação indiscriminada de fungicidas, pode ter efeito indesejável, pois tem-se observado o aparecimento de raças tolerantes a benomyl. Os produtos químicos para o controle da doença, são recomendados para serem aplicados periodicamente a intervalos regulares. Dependendo da persistência nas plantas elas podem ser aplicados 3 x 4 vezes durante o ciclo, a partir dos 35-40 dias da emergência. Os fungicidas recomendados são à base de benomyl, bitertanol, clorotalonil, difeconazole, hidróxido de cobre, mancozeb, oxicloreto de cobre, propiconazole, tebuconazole, trifenil acetato de estanho, trifenil hidróxido de estanho e ziram. A época de aplicação de fungicidas, normalmente, tem sido baseado no calendário, nem sempre coincidindo com a presença da doença nos cultivos comerciais. Atualmente, existem resultados de pesquisas, utilizando-se de modelos de previsão da ocorrência de doenças, visando racionalização do uso dos fungicidas. Modelos do tipo agrometeorológicos têm surgido com certa frequência na literatura especializada. 2.2. Verrugose - Sphaceloma arachidis Bit & Jenk Este patógeno é responsável por lesões em folhas, pecíolos e hastes das plantas de amendoim. A coalescência das lesões em pecíolos e hastes resulta em distorções nos referidos órgãos (hiperplasia e hipertrofia dos tecidos), sendo as plantas severamente afetadas têm seu desenvolvimento prejudicado, ocasionando quebra de produção de vagens. O fungo sobrevive de uma estação para outra, nos restos de cultura e em plantas voluntárias e é disseminado da lesão na própria planta por respingos de chuva. As medidas de controle que reduzem o inóculo inicial, já descritas para as cercosporioses, são também eficientes em retardar o início das epidemias de verrugose. O cultivar IAC-caiapó é considerado moderadamente resistente a verrugose. 2.3. Mancha barrenta - Phoma arachidicola Marasas, Pauer & Boerema Doença de importância secundária fazendo seu aparecimento no terço final do ciclo vegetativo da cultura, na maioria das vezes sem gravidade, manifestando-se na forma de numerosas lesões, pequenas, esparsas, de cor pardacenta na página superior das folhas. Posteriormente estas coalescem, formando lesões maiores, que abrangem grandes áreas dos folíolos, passando, também a serem visíveis na superfície inferior. As folhas afetadas apresentam-se como salpicadas de barro daí o seu nome. 88 Esta doença é responsável pela diminuição na área fotossintética dos folíolos infectados, embora com menor intensidade que as cercosporioses, pois os folíolos não caem até que estejam completamente cobertos pela mancha. As medidas de controle utilizadas no controle das cercosporioses tem mantido a mancha barrenta em níveis aceitáveis de ocorrência. O cultivar IAC-caiapó é considerado resistente a esta mancha. 2.4. Ferrugem - Puccinia arachidicola De ocorrência menos frequente, vem aumentando em importância em anos recentes. O estádio em que a cultura se encontra é importante no caso de incidências severas. No florescimento os danos são maiores. A ferrugem caracteriza-se pelos sintomas de formação de pústulas, em ambas as faces do folíolo afetado de coloração avermelhada a marrom-escura, pulverulentas devido a presença de esporos, facilmente disseminados pelo vento, chuva e insetos. Estas pústulas podem juntarse, vindo a destruir a maior parte do limbo foliar. As folhas novas são mais suscetíveis. Alta umidade durante a estação favorece a ocorrência da doença. Para o controle, são adotadas medidas de exclusão para as regiões não contaminadas. Logo após a introdução, são adotadas medidas de erradicação. A rotação de culturas é medida recomendável para o controle da doença. Fungicidas a base de triazóis, o tebuconazole, cyproconozole, clorotalonil são eficientes. 2.5. Mofo cinzento - Botrytis cinerea Pers. ex. Fries É uma doença de pequena importância econômica, ocorrendo esporadicamente no amendoim das secas, devido as menores temperaturas. A doença se manifesta por sintomas reflexos de murcha e amarelecimento das folhas, em consequência dos sintomas primários necróticos nas hastes. A necrose dos tecidos da haste se estende, atingindo pedúnculos, vagens, colo e parte das raízes sob condições de alta umidade os tecidos afetados se revestem de um crescimento pulverulento cinzento constituído pelo micélio e frutificações do fungo. No campo, as plantas afetadas tendem a se distribuir em reboleiras, podem morrer e, quando colhidas, desprendem as vagens com facilidade, as vagens afetadas são escuras, chochas ou apresentam sementes enrugadas e mal desenvolvidas. 3. Doenças Causadas por Fungos do Solo em Sementes e Plântulas No grupo de doenças do solo podem ser destacados os fungos Aspergillus spp, Rhizopus sp, Fusarium spp, Macrophomina phaseolina, Rhyzoctonia solani, Sclerotium rolfsii, pela frequência que ocorrem e pela sua ação sobre as sementes, prejudicando a germinação ou causando dano às plântulas. De um modo geral, um total de 15% de perdas é atribuida a esses fungos. Devido às características desses fungos, o tratamento químico de sementes com fungicidas torna-se uma prática obrigatória para o amendoim. 3.1. Rizoctoniose - Rhizoctonia solani Kuhn É uma das principais doenças do amendoim no Estado de São Paulo. Ocorre com frequência na forma de damping-off de pré e pós- 90 emergência resultando em baixo stand inicial e é correlacionada com podridão de ginóforos e vagens. A podridão de vagens, que pode ocorrer no final do ciclo, caracteriza-se por ocasionar enegrecimento parcial ou total das vagens, com sementes pequenas, enrugadas e de coloração mais clara que o normal. Estas vagens destacam-se facilmente da planta. Muitas va gens são perdidas na colheita. Vagens colhidas produzem sementes infectadas que têm seu valor comercial reduzido, quando destinadas ao consumo, ou baixo vigor e germinação, reduzindo seu valor cultural, quando utilizadas como semente. As vagens infectadas resistem muito mal ao armazenamento. A sobrevivência do fungo de uma estação de cultivo para outra se dá facilmente em restos de cultura ou outro substrato orgânico, uma vez que o fungo tem grande capacidade saprofítica. Também há possibilidade de sobrevivência através de escleródios, que germinam estimulados por exsudatos de hospedeiros suscetíveis ou pela presença de matéria orgânica no solo. Como R. solani possui uma ampla gama de hospedeiros cultivados e selvagens e restos orgânicos destas plantas são periodicamente adicionados ao solo, sua sobrevivência dá-se por longos períodos na maioria dos solos. A disseminação é realizada através de sementes, solo, água, implementos agrícolas e próprio micélio. As condições que favorecem a incidência da doença são alta umidade e temperatura amena na fase de germinação e emergência das plântulas, ou seja, condições que mantém os tecidos tenros por mais tempo. O controle é efetuado por tratamento de sementes com fungicidas a base de quintozene, captan, thiram, carboxin, carboxin + thiram, uso de sementes sadias, rotação de culturas por 3 a 4 anos, com culturas não hospedeiras, como milho, arroz, trigo, soja, etc.; nas áreas muito contaminadas. Recomenda-se arações profundas, para incorporar restos de culturas, acelerando sua decomposição. 3.2. Murcha de Sclerotium - Sclerotium rolfsii sacc A murcha de Sclerotium é provavelmente a mais importante doença que afeta a cultura do amendoim no Estado de São Paulo, constituindo-se em solos arenosos e principalmente em época chuvosa e quente o maior problema. As plantas afetadas murcham com maior ou menor intensidade. Quando arrancadas, observa-se podridão escura desde a região do colo até as raízes, podendo propagar-se para os ginóforos e vagens. Em condições de calor e umidade, desenvolve-se na região do colo, micélio de cor branca e aspecto cotonoso, onde são produzidos os escleródios, órgãos de resistência do fungo que permanecem viáveis no solo por longo período de tempo a espera de condições favoráveis para a germinação. O fungo é cosmopolita e, além disso, é capaz de multiplicar-se na matéria orgânica morta no solo, como ocorre nas áreas de renovação de canaviais na região de Ribeirão Preto, onde o patógeno se reproduz nos restos de cultura da cana-de-açúcar. A sobrevivência do fungo ocorre principalmente através dos escleródios e em restos de cultura, mesmo de plantas não hospedeiras. A longevidade do escleródio é superior a 5 anos. A disseminação do fungo de um campo para outro se dá principalmente pelo transporte de materiais contaminados (solo, estercos, mudas, sementes, etc.) podendo 92 atuar como agente, de disseminação o homem, os animais, o vento e a água. Dentro de um mesmo campo, o patógeno é disseminado durante os tratos culturais, pela água de superfície e diretamente através do crescimento do micélio do fungo. As condições que favorecem a incidência da murcha são alta umidade e alta temperatura (25 º-35ºC.) S. rolfsii é altamente exigente em oxigênio. Este fator limita a germinação dos escleródios no interior de solos pesados e o desenvolvimento do patógeno só ocorre próximo da superfície. A decomposição das folhas caídas devido a cercosporioses estimula a germinação dos escleródios. As práticas de controle recomendadas são: rotação de cultura, tratamento contra doenças da parte aérea, evitando assim a queda de folhas e o acúmulo de matéria orgânica no solo, aração profunda visando ao enterrio dos restos de cultura anterior; e calagem. O controle químico através do tratamento do solo com fungicidas não é economicamente recomendado. Realizar bom controle de plantas daninhas, eliminando assim os hospedeiros selvagens. O controle biológico, utilizando espécies de Trichoderma antagonista comprovado de S.rolfsii, é uma prática que tem sido relatada, bem como o uso da solarização. 3.3. Mofo amarelo – Aspergillus sp Como doença da planta de amendoim, tem pequena importância. Entretanto os fungos desse gênero são considerados importantes pelas toxinas cancerígenas denominadas aflatoxinas. Em São Paulo, o amendoim é colhido principalmente entre final de dezembro e início de fevereiro, portanto durante os meses de alta precipitação (acima de 200 mm mensais). A alta temperatura e umidade dificultam a secagem após o arrancamento e o armazenamento, favorecendo o aparecimento da aflatoxina. 4. Referências Bibliográficas ANDREI, E. (coord.) 1993. Compêndio de defensivos agrícolas. 4 ed. São Paulo, Organização Andrei Ltda 448 p. PORTER, D.M.; SMITH, D.H.; RODRIGUEZ -KABANA , R. Compedium of peanut diseases. APS Press, 1984, 73p. KIMATI et al. Guia de fungicidas agrícolas: recomendações por cultura. Grupo Paulista de Fitopatologia. 2 ed. Jaboticabal: Grupo Paulista de Fitopatologia, 1997. 225p. M ONITORAMENTO DE PRAGAS E DOENÇAS DO G IRASSOL CULTIVADO NA “SAFRINHA” Pesquisadora Científica Dra. Maria Regina G. Ungaro Eng. Agrônoma, Instituto Agronômico de Campinas, Caixa Postal 28, CEGRAN, Campinas, SP, CEP 13001-970. E- mail: [email protected] 1. Introdução O girassol (Helianthus annuus L.) é originário da América do Norte. O gênero Helianthus compreende 50 espécies, sendo duas delas, H. annuus e H. tuberosus, cultivadas como plantas alimentícias. O girassol cultivado apresenta uma estreita base genética, sendo bastante deficiente em genes que condicionam resistência a doenças e pragas. Mas esses genes podem ser encontrados nas espécies selvagens, como é o caso da resistência à ferrugem e ao míldio. 94 No Brasil, o seu óleo industrial já é o segundo mais consumido. O cultivo no Estado de São Paulo vem aumentando há algum tempo, geralmente cultivado na “safrinha”, tem-se prestado a diferentes utilizações: grãos para a extração de óleo industrial e medicinal, alimentação humana e animal; forragem; silagem; produção de mel. Pragas e doenças podem comportar-se de maneira bastante diversa dependendo do sistema de manejo adotado, da rotação de culturas, do tipo de solo e da época de plantio, principalmente. 2. Pragas Espécies selvagens de girassol co-evoluíram com insetos herbívoros e seus entomófagos no ambiente de origem na América do Norte, o que torna o problema com pragas muito mais importantes nessa região que no restante do mundo (SCHNEITER, 1997). Por sorte, a maioria das espécies de insetos associados ao girassol é inócua ou benéfica para as plantas, e suas relações variam de obrigatórias a puramente casuais ou não essenciais (MCGREGOR, 1976). Uma grande variedade de insetos se alimenta sobre girassol cultivado no Brasil. A lagarta de Chlosyne lacinia saundersii tem sido a praga mais freqüentemente detectada. LOURENÇÃO & UNGARO (1983) encontraram níveis de desfolha que variavam de 19 a 58%. A borboleta oviposita em diversas espécies. Dependendo do estágio em que o ataque começa, a produção de grãos pode chegar a ser totalmente inviabilizada. Além da lagarta-do-girassol estão associadas à cultura Rachiplusia nu, que destrói plantas jovens; Agrotis ipsilon; a broca Diabrotica speciosa que destrói as folhas (GALLO et al. 1988); Empoasca kraemeri (MILANEZ et al. 1986); o besouro Cyclocephala melanocephala que se alimenta dos capítulos e grãos em formação (UNGARO, 1978), Phyllophaga cuyabana (OLIVEIRA et al., 1998) e os pentatomídeos Euschistus heros (MALAGUIDO & PANIZZI, 1998 a, b), Piezodorus guildinii, Acrosternum armigera, Nezara viridula, Thyanta perditor e Thyanta sp (MALAGUIDO & PANIZZI, 1998c). A constatação dessas espécies de pentatomídeos na cultura do girassol é preocupante pois elas estão presentes também na cultura da soja, onde E. heros, N. viridula e P. guildinii são consideradas pragas de importância econômica. Some-se a isto que Euschistus heros teve sua ocorrência registrada na cultura do girassol por F ERREIRA & PANIZZI (1982), indicando uma provável utilização do girassol pelo percevejo como hospedeiro alternativo. MALAGUIDO & PANIZZI (1998c), realizando levantamento em girassol na região de Londrina-PR, relataram muitos pentatomídeos que são considerados pragas em soja e que poderão ser importantes também em girassol, exigindo inclusive medidas de controle. Um problema a se considerar é que muitos insetos, considerados pragas principais nas culturas de soja e milho, vêm adquirindo resistência aos inseticidas. Além deles, existem também outros insetos presentes nas culturas que são considerados pragas secundárias, mas que, nos últimos anos, vêm adquirindo o “status” de praga principal em virtude de sua constância e elevada população, indicando uma mudança de comportamento da entomofauna nessas culturas. No Estado de São Paulo insetos de solo como broca-do-colo, lagarta-rosca, lagarta-elasmo, corós e percevejo-castanho têm surgido na cultura da soja em níveis crescentes, causando falhas na emergência ou amarelecimento após esta, havendo em alguns casos a necessidade de replantio (RAMIRO, 1998). 96 O manejo do solo também influencia o comportamento da entomofauna. Com o plantio direto ocorre uma recuperação da microbiota do solo, o que leva ao aumento de matéria orgânica e, conseqüentemente ao incremento da entomofauna, tanto de pragas quanto de inimigos naturais. O monitoramento da cultura do plantio ao florescimento é essencial para evitar maiores danos. Seguem exemplos com algumas pragas: As lagartas geralmente ocorrem em reboleiras, nas bordaduras ou em áreas restritas. Assim, o acompanhamento sistemático da cultura permite detectá-las e controlá- las mais eficientemente e com me nor gasto de defensivos. Quando os focos de lagarta começam a aparecer já no final do florescimento, não há necessidade de controle, pois ele será bastante difícil e com baixo retorno econômico. O tratamento de sementes impede ou reduz bastante o ataque de pombas e formigas. 3. Doenças O girassol é hospedeiro de pelo menos 35 microrganismos patogênicos, principalmente fungos, os quais, sob certas condições climáticas, interferem na fisiologia normal da planta, podendo causar significativas reduções na produção e na qualidade do material. Afortunadamente, poucos causam sérias perdas econômicas. No Brasil, as principais doenças que têm ocorrido são causadas por fungos do gênero Alternaria, especialmente A. helianthi, Diaphorte/Phomopsis helianthi, Sclerotinia sclerotiorum, Oidium spp, Botrytis cinerea; algumas bactérias, como Erwinia carotovora e Pseudomonas spp; nematóides do gênero Meloidogyne. Atualmente com importância bastante reduzida, a ferrugem, causada pelo fungo Puccinia helianthi, foi a principal causa do fracasso do cultivo do girassol na década de 60 (UNGARO, 1982). A cultura do girassol, como opção econômica para compor sistemas de produção agrícola, exige o manejo adequado das diversas doenças que a colonizam, sendo este o fator mais limitante em algumas das regiões produtoras. A mancha de alternaria parece ser predominante em todas as épocas de semeadura nas diferentes regiões de cultivo, apesar de variar bastante em intensidade e na possibilidade de dano, enquanto a podridão branca (S. sclerotiorum) ocorre principalmente em condições de temperatura amena e alta umidade, o que praticamente inviabiliza o cultivo do girassol como cultura comercial, quando as condições de clima são predisponentes. Além de S. sclerotiorum, diversos fungos que atuam individualmente ou em complexo causam podridões radiculares ou da base do caule e murchas em girassol. Entre eles, destacam-se Sclerotium rolfsii, agente causal da podridão do colo e tombamento, Macrophomina phaseolina, causando podridão negra da raiz e Verticillium dahliae, que ocasiona murcha. Esses fungos estão amplamente distribuídos nas regiões de cultivo do girassol no mundo e, sob condições de estresse das plantas, podem causar danos econômicos ou incrementar aqueles inicialmente ocasionados por outros fungos (ZIMMER & HOES , 1978; DAVET et al., 1991; P EREYRA & ESCANDE, 1994). As condições ótimas para que uma doença ocorra e se desenvolva é o resultado da combinação de três fatores: hospedeiro susceptível, 98 patógeno infectivo e condições favoráveis do ambiente. Qualquer alteração em um destes fatores causa uma correspondente alteração na expressão da doença. As culturas da “safrinha” encontram ambiente com condições favoráveis ao aparecimento de problemas com pragas e doenças, uma vez que a cultura que a antecede pode servir de porta de entrada e de reservatório desses organismos. Muitas das doenças do girassol são transmitidas pela semente; algumas dependem de restos culturais infectados ou da ação do vento. Práticas culturais podem ser instrumentos bastante úteis no controle ou na disseminação de patógenos, especialmente nos de solo. O cultivo superficial ou plantio direto sob condições de baixas temperaturas, aceleram a deterioração dos esclerócios de S. sclerotiorum, diminuindo a entrada da doença pelas raízes; no entanto, ainda fica preservado suficiente inóculo para causar infecção nos capítulos. O cultivo profundo enterra grande parte dos esclerócios, favorecendo a infecção pelas raízes, sob condições de solo úmido (SCHNEITER, 1997). Assim, plantio direto ou cultivo raso em regiões mais frias e cultivo profundo em áreas secas poderão ser utilizados para quebrar a seqüência dos dois sistemas epidemiológicos de S. sclerotiorum. Patógenos causadores de tombamento em soja, de pré e pós emergência e podridão de raízes, os quais são disseminados também através de sementes, como Fusarium spp., Sclerotium rolfsii, Macrophomina phaseolina, Rhizoctonia solani, Sclerotinia sclerotiorum, entre outros, vêm-se acentuando com a prática do cultivo de áreas extensivas, do plantio sucessivo e da adoção de medidas de controle inadequadas; poderão aumentar ainda mais com a sucessão soja-girassol, uma vez que ambos são hospedeiros dos mesmos organismos. 4. Referências Bibliográficas BOIÇA JÚNIOR, A.L., A.C. BOLONHEZI & J. PACCINI NETO. 1984. Levantamento de insetos-pragas e seus inimigos naturais em girassol (Helianthus annuus L.), cultivado em primeira e segunda época, no município de Selvíria-MS. An. Soc. Entomol. Brasil, 13: 192-195. DAVET , P.; PÉRÈS, A.; REGNAULT , Y.; TOURVIELLE, D.’PENAUD, A. Les maladies du tournesol. Paris: CETIOM, 1991. 72p. FERREIRA , B.S.C. & A.R. PANIZZI. Percevejos - pragas da soja no norte do Paraná: abundância em relação à fenologia da planta e hospedeiros intermediários. In: Seminário Nacional de Pesquisa de Soja, p.140 – 151, 1982. LOURENÇÃO, A.L. & UNGARO, M.R.G. Preferência para alimentação de lagartas de Chlosyne lacinia saundersii Doubleday & Hewitson, 1849, em cultivares de girassol. Bragantia, 42:281-286, 1983. MALAGUIDO, A.B. & A.R. PANIZZI. 1998 a. Pentatomofauna associated with sunflower in Northern Paraná State, Brazil. An. Soc. Entomol. Brasil, 27: 473-475. MALAGUIDO, A.B. & A.R. PANIZZI. 1998 b. Danos de Euschistus heros (Fabr.) (Hemiptera:Pentatomidae) em aquênios de girassol. An. Soc. Entomol. Brasil, 27: 535-541. MALAGUIDO, A.B. & A.R. PANIZZI. 1998 c. Pentatomofauna associated with sunflower in Northern Paraná State, Brazil. An. Soc. Entomol. Brasil 27: 473-475. 100 MCGREGOR, S.E. 1976. Insect pollination of cultivated crop specie s. In: SCHNEITER, A. A. Sunflower Technology and Production. Madison, American Society of Agronomy, 1997. 834P. MORAES, S.A.; UNGARO, M.R.G. & M ENDES, B.M.J. Alternaria helianthi, agente causal de doença em girassol. Campinas, Fundação Cargill, 1983. 20p. PEREYRA , V.; ESCANDE, A. R. Enfermedades del girassol en la Argentina: manual de reconocimiento. Balcare; INTA,1994. 113p. RAMIRO, Z.A. Pragas na cultura da soja. In Reunião Itinerante de Fitossanidade do Instituto Biológico, 1, Miguelópolis, 1998. 139 p. SCHNEITER, A. A. Sunflower Technology and Production. Madison, American Society of Agronomy, 1997. 834p. UNGARO, M.R.G. O girassol no Brasil. O Agronômico, 34:43-62, 1982. ZIMMER, D.E.; HOES, J,A. Diseases. In: CARTER, J.F. ed. Sunflower science and technology. Madison: American Society of Agronomy, 1978. p.225-262. M ONITORAMENTO E CONTROLE DE PROBLEMAS FITOSSANITÁRIOS DM CULTURAS DE SAFRINHA : PRAGAS EM M ILHO Pesquisador Científico Romildo Cássio Siloto Biólogo, Laboratório de Entomologia Econômica, Centro Experimental do Instituto Biológico, Instituto Biológico, Cx. Postal 70, CEP 13001970, Campinas-SP, tel. (19) 3252-8342. E- mail [email protected] 1. Introdução Dentre as plantas graníferas cultivadas no Brasil, o milho constitui-se como uma das mais importantes. Sua exploração se dá tanto na pequena propriedade como também em grandes áreas e com a utilização de tecnologias avançadas. No Estado de São Paulo a cultura do milho ocupa, em média, uma área de 1,2 milhões de hectares, perdendo apenas para a cultura da canade-açúcar (SÃO PAULO AGRÍCola, 2000). Dentro desse panorama destacase o cultivo de safrinha, considerado uma segunda safra do milho. O crescente desenvolvimento dessa modalidade de cultivo está associado à adoção, por parte dos produtores, das tecnologias resultantes dos trabalhos de pesquisas desenvolvidos ao longo dos últimos anos (DUARTE et al., 2000). Dentre os diversos fatores que podem afetar a estabilidade da cultura de milho safrinha estão os fatores bióticos, destacando-se o problema com as pragas. O atual modelo de produção agrícola aumentou a oferta de alimento para os insetos, favoreceu o surgimento de pragas exóticas, mudou o status de pragas secundárias para primárias e principalmente provocou um efeito multiplicador das pragas já existentes na cultura (GERAGE & BIANCO, citados por DUARTE, 2000). Assim, o estabelecimento de táticas adequadas de manejo é uma importante ferramenta para que as pragas não atinjam níveis de danos econômicos e tornem-se limitantes à produção. 2. Importância das Pragas na Safrinha de Milho A cultura do milho é explorada em todas as regiões do Estado de São Paulo, divididas em 40 EDRs (Escritório de Desenvolvimento Regional). Essa exploração se dá na safra principal ou safra de verão e 102 também na segunda safra ou safra de outono- inverno (“safrinha”), geralmente em sucessão à cultura da soja. Na agricultura paulista a área cultivada com milho safrinha representa aproximadamente um terço (cerca de 400 mil hectares) do total cultivado no Estado (DUARTE et al., 2000). Segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (2000), na EDR de Ribeirão Preto, em 1999, a área cultivada com milho safrinha foi de 1.450 ha (11,6% do total da região), com um produção aproximada de 2.000 kg/ha. De pouca expressão no início da década de 90, o cultivo de milho safrinha vem aumentando significativamente nos últimos anos. Ainda que na maioria das regiões a produtividade seja menor que a da safra de verão, a safrinha tem se tornado uma alternativa de aumento de renda, em face de possibilidade de melhores preços de venda na entressafra e de um menor custo de produção. Nesse sentido a ampliação dos conhecimentos sobre as características técnicas, organização e estrutura de produção tornam-se importantes para o estabelecimento de ações que visem a estabilidade da cultura. Essa estabilidade pode ser afetada por diversos fatores e dentre eles, o controle de pragas merece grande atenção. As pragas influem diretamente na produtividade por afetarem as plantas em suas diferentes fases de desenvolvimento e principalmente em função de reduzirem o número mínimo de plantas na colheita, uma vez que podem ocasionar a morte das sementes ou das plântulas. O milho produzido na safrinha pode ser atacado pelas mesmas pragas da safra de verão e em alguns casos, com maior severidade. Sendo uma cultura com um número relativamente pequeno de plantas por unidade de área, a perda delas pelo ataque de pragas pode significar prejuízo na produção. O plantio em grandes áreas na safra de verão, associado ao cultivo intensivo de safrinha sucedendo a soja ou mesmo o milho e incluindo-se o incremento de áreas com o sistema de plantio direto, têm provocado uma mudança no panorama de distribuição das pragas (GASSEN , 1999). A presença contínua do milho no campo proporciona um efeito multiplicador das pragas na cultura, exigindo que sejam controladas a um nível que não causem danos econômicos. O controle de pragas ainda é feito em grande parte através da aplicação de inseticidas, que aumentam consideravelmente o custo de produção. Além de poder inviabilizar economicamente a cultura, o número cada vez maior de pulverizações vem provocando a eliminação indiscriminada de inimigos naturais, favorecendo a seleção de populações resistentes e expondo ambiente, agricultores e consumidores aos riscos de contaminação. Assim deve-se considerar a importância da utilização de técnicas de manejo integrado de pragas, através da seleção e uso adequado de medidas de controle. Dentre os procedimentos que devem ser observados destacam-se o conhecimento do cultivo anterior e as pragas que nele ocorreram; a identificação das pragas presentes na cultura e quais deverão ser manejadas; as técnicas de monitoramento; a determinação do nível de dano e o estabelecimento de estratégias de ação. 3. Pragas de Solo As pragas de solo são constituídas na sua maioria por insetos, embora outros artrópodes como centopéias, piolhos–de-cobra, lesmas e caracóis também possam causar danos em plantas cultivadas. 104 As informações sobre as pragas de solo presentes nas áreas em cultivos anteriores ajudam no monitoramento e no estabelecimento de estratégias de manejo. Quando a cultura é instalada em áreas de plantio convencional, o controle cultural por meio de preparo do solo pode reduzir significativamente a população. Quando se utiliza o sistema de plantio direto deve-se lançar mão de outras táticas de controle. O tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos é um controle preventivo que protege as plântulas contra boa parte das pragas de solo, seja pela morte do inseto ou pela repelência. Entretanto essa proteção se dá em média até 3-4 semanas após a semeadura e no caso de algumas pragas esse método pode não proporcionar um controle eficiente após esse período. A pulverização no sulco de plantio pode ser uma alternativa, mas deve-se considerar a viabilidade desse método em função dos custos de produção. Enfatiza-se assim a necessidade de se fazer uma amostragem das pragas na área do cultivo e nas áreas adjacentes, levando-se sempre em conta os cultivos anteriores. De um modo geral as pragas de solo são classificadas em subterrâneas ou da superfície do solo. As pragas subterrâneas podem atacar sementes em processo de germinação ou danificar as raízes de plantas já estabelecidas. As da superfície do solo atacam plantas desde as recém-germinadas até as de estágio de 4-6 folhas (aproximadamente 3040 cm). Nos dois casos, tanto as pragas subterrâneas como as da superfície são limitantes da produção uma vez que podem reduzir o número adequado de plantas por unid ade de área. 4. Pragas Subterrâneas As principais pragas subterrâneas que causam prejuízos na cultura de milho safrinha são os cupins, a larva-alfinete, os corós e os percevejos-castanhos. Ø Cupins = Os cupins (Heterotermes sp; Cornitermes sp e Procornitermes sp) atacam as sementes de milho, nas áreas plantadas próximas aos seus ninhos. Eles destroem as sementes antes da germinação, reduzindo o número de plantas. Quando o ataque é intenso às vezes é necessário se fazer o replantio. O tratamento de sementes pode ser uma alternativa embora o controle biológico com iscas com entomopatógenos também seja uma medida viável. Ø Larva-alfinete = Os danos causados pela larva-alfinete (Diabrotica speciosa) são conhecidos por “pescoço-de-ganso”. O ataque das larvas nas raízes adventícias causam tombamento nas plantas e os nós superiores que ficam em contato com o solo acabam por se enraizar, formando um encurvamento típico. Com isso há problemas na colheita mecanizada, resultando em perdas de espigas e grãos. O controle preventivo não é recomendado devido ao seu alto custo. A melhor tática ainda é o monitoramento e controle nas culturas anteriores. Ø Coró = Os corós podem atacar as sementes, plântulas e raízes provocando uma diminuição de plantas na colheita. O controle físico por meio de preparo do solo não é efetivo para os corós. O tratamento de sementes pode ser uma alternativa para as infestações que ocorrem até as primeiras semanas após a germinação. Ø Percevejo-castanho = Os percevejos-castanhos (Scaptocoris castanea) são insetos sugadores das raízes. No milho safrinha, as infestações ocorrem principalmente após a germinação das plântulas. 106 As plantas atacadas não conseguem se desenvolver e nos casos de infestações mais severas há necessidade de se fazer o replantio. Tanto as formas imaturas (ninfas) quanto os adultos podem atacar a cultura. Esse ataque ocorre muitas vezes na forma de reboleiras. O controle preventivo via tratamento de sementes não tem demonstrado bons resultados. A aplicação de inseticidas no sulco de plant io proporciona uma melhor proteção nas primeiras semanas após a germinação. 5. Pragas da Superfície do Solo Destacam-se principalmente a lagarta-elasmo e lagarta-rosca. Ø Lagarta-elasmo = A lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignoselus) ataca as plantas na região de crescimento, ocasionado o sintoma conhecido por “coração- morto” devido à morte das folhas centrais. Como a lagarta-elasmo é uma praga bastante destrutiva há necessidade de se fazer um monitoramento constante, principalmente nas áreas com histórico de ocorrência da praga. Tão logo seja detectada sua presença na cultura, deve-se iniciar o controle. Quando se utilizar produtos químicos, a pulverização deverá ser feita em alto volume (> 350 l/ha) e com jato dirigido para a base da planta. Ø Lagarta-rosca = As infestações da lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) podem ocorrer nas plantas de milho mais desenvolvidas, mas também logo após a germinação. A lagarta ataca o colmo da planta junto ao solo. Nas plantas maiores os danos são mais significativos uma vez que a injúria se dará na região de crescimento e provocando a sua morte. O tratamento de sementes proporciona um relativo controle quando as infestações ocorrem até 2-3 semanas após a emergência da planta. A partir daí as infestações devem ser controladas por meio de pulverizações em alto volume com jato dirigido para a base das plantas. 6. Pragas da Parte Aérea As pragas da parte aérea que merecem maior atenção na safrinha são os tripes, as cigarrinhas, os percevejos barriga-verde e percevejoverde-da-soja, a broca-da-cana-de-açúcar e a lagarta-do-cartucho. Ø Tripes = A importância dos tripes na safrinha se dá em função de poderem reduzir o número de plantas na colheita. Muitas informações precisam ainda ser pesquisadas, mas a sua ocorrência nos períodos secos pode demandar medidas de controle. O tratamento de sementes tem controlado a praga nas infestações que ocorrem no início da cultura. Ø Cigarrinha das pastagens = A cigarrinha das pastagens (Deois flavopicta) tem considerável impacto na cultura do milho principalmente quando ocorrem infestações nas primeiras semanas após a emergência das plantas. A sucção da seiva e injeção de toxinas provocam secamento e até morte das plântulas. Em plantas maiores ocorre redução de crescimento. Na época de safrinha podem ocorrer picos populacionais que coincidem com os estágios mais suscetíveis das plantas. É importante monitorar as áreas adjacentes à cultura, principalmente nas áreas próximas de pastagens, decidindo-se por um controle nas bordas, tanto da lavoura como das pastage ns. Os adultos, cuja fase é a que causa danos nas plantas, podem ser controlados com inseticidas de contato. Ø Cigarrinha -do-milho = A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) tem importância para a cultura mais pelos seus danos indiretos do que 108 diretos. Os danos diretos causados pela sucção da seiva são ainda poucos estudados e aparentemente não são de nível econômico. O controle da praga se dá mais visando a redução de doenças. A cigarrinha-do-milho é um vetor de micoplasma que causa uma doença no milho conhecida por “enfezamento”, caracterizada por apresentar estrias amareladas nas folhas e reduzir a velocidade de crescimento das plantas. Dentre as táticas de controle, a recomendação é a de utilização de genótipos resistentes à doença. Em grandes áreas pode ser feito também a pulverização nas bordaduras, evitando a entrada da praga para dentro da lavoura. Ø Percevejos = Os percevejos que têm infestado a cultura de milho safrinha são o percevejo barriga-verde (Dichelops furcatus) e o percevejo- verde-da-soja (Nezara viridula). Esses insetos sugam a seiva provocando um perfilhamento das plantas e reduzindo a produção. Em plântulas mais novas pode ocorrer secamento, provocando prejuízos ainda maiores. É importante o monitoramento na área a fim de se realizar o controle com inseticidas. Esse controle deve ser realizado quando forem encontrados mais de um percevejo por m2 . Ø Broca-da-cana-de-açúcar = A broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) vem crescendo em importância na cultura de milho safrinha em diversas regiões. Essa praga que não costuma apresentar danos econômicos na safra de verão está agora se constituindo num problema na safrinha, uma vez que as infestações têm ocorrido no início da cultura em plântulas recém- germinadas. As larvas penetram no colmo e alimentam-se no seu interior, atingindo o ponto de crescimento e provocando a morte da planta. Como as lagartas se alojam no interior do colmo, o controle com produtos químicos se torna mais difícil e uma possibilidade de manejo é a utilização de parasitóides de ovos como Trichogramma spp. Ø Lagarta-do-cartucho = O manejo da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), praga chave na cultura do milho, deve ser motivo de atenção, pois infestações tanto na safra como na safrinha provocam danos em praticamente todos os estágios de desenvolvimento da planta. Quando a infestação se dá no início da cultura, logo após a emergência, as plântulas geralmente não resistem ao ataque e acabam morrendo, diminuindo-se assim o número de plantas por unidade de área. Nessa fase as plântulas apresentam-se com uma área foliar reduzida e o controle com inseticidas acaba sendo oneroso pelo desperdício de produto durante as aplicações. O baixo poder residual e por vezes o efeito da radiação solar também podem afetar a eficiência dos produtos. Resultados de pesquisas feitas com tratamento de sementes têm mostrado diferenças bastante significativas entre número de plantas mortas em áreas tratadas em relação às áreas não tratadas, embora haja uma variação na eficiência de diferentes inseticidas. De qualquer maneira é uma estratégia importante pois possibilita um ganho de tempo até que as primeiras pulverizações sejam efetuadas, de tal sorte que ocorre uma menor interferência nos inimigos naturais. Nos estágios de desenvolvimento mais adiantados a eficiência dos produtos fica comprometida em função da pulverização tratorizada não permitir que os mesmos atinjam a lagarta dentro do cartucho, devendo-se assim realizar as pulverizações em alto volume. A lagarta-do-cartucho pode atacar também a espiga do milho. Quando o ataque ocorre nos grãos, os prejuízos são menores. Entretanto se o ataque ocorrer na inserção da espiga antes da formação dos grãos, 110 esses não chegam a se formar e aí os prejuízos são mais significativos. O controle com métodos convencionais é bastante difícil nesse tipo de infestação. Outro fator que tem comprometido a eficiência de controle com produtos químicos é a seleção de populações resistentes da praga aos inseticidas. Mesmo com o aumento no número de pulverizações e das doses aplicadas, o controle não tem sido eficiente. Além disso, essas táticas elevam sobremaneira os custos de produção e provocam desequilíbrios no ambiente pela eliminação dos inimigos naturais. Os inimigos naturais exercem importante papel no controle da lagarta-do-cartucho, contribuindo na diminuição da praga no campo. Dentre os inimigos naturais de S. frugiperda destacam-se a “tesourinha” e 4 espécies de vespas, predador e parasitóides de ovos e lagartas, respectivamente. São inimigos naturais que atuam nas fases iniciais da cultura e portanto evitam maiores danos nas plantas. Ø Tesourinha (Doru luteipes) = A tesourinha é um importante predador da lagarta-do-cartucho e tem presença mais constante na cultura do milho. Tanto as formas imaturas quanto os adultos predam ovos e lagartas pequenas e podem ser encontrados tanto nas fases de desenvolvimento vegetativo, abrigados dentro do cartucho, como nas fases de desenvolvimento reprodutivo, principalmente na espiga. Embora os adultos tenham certa tolerância a alguns grupos de produtos (biológicos e reguladores de crescimento), as formas imaturas são bem mais sensíveis. A presença da tesourinha em 70% das plantas possibilita que a lagarta-do-cartucho se mantenha controlada. Assim, produtos e aplicações seletivas são importantes fatores que devem ser considerados nas estratégias de manejo da praga. Ø Parasitóides Trichogramma spp e Telenomus remus = São pequenas vespas, parasitóides de ovos de S.frugiperda. Devido ao seu bom desempenho e da facilidade de criação em laboratório com baixo custo, esses parasitóides tem sido utilizados em áreas comerciais de diversas regiões. Campoletis flavicincta = É uma pequena vespa que coloca seus ovos no interior de lagartas recém-eclodidas . A lagarta parasitada alimenta-se muito pouco e quando a larva do parasitóide está prestes a sair, a lagarta parasitada deixa o cartucho e dirige-se para as folhas mais altas, onde permanece imóvel até que morra, pela perfuração do seu abdome pelo parasitóide. Chelonus insularis = É uma pequena vespa que coloca os seus ovos dentro dos ovos da lagarta-do-cartucho, porém permite que ocorra a eclosão das suas lagartas. Essas lagartas, que então já nascem parasitadas, não conseguem provocar muitos danos na planta. Elas acabam saindo precocemente de dentro do cartucho e dirigem-se ao solo, onde se abrigam dentro de um casulo. Nesse casulo a larva do parasitóide irá terminar o seu desenvolvimento e transformar-se em pupa. 7. Bibliografia Consultada ÁVILA , C.J.; DEGRANDE, P.E.; GOMEZ , S.A. Insetos-pragas: reconhecimento, comportamento, danos e controle. In: EMBRAPA – Centro de Pesquisa Agropecuária do Oeste. Milho informações técnicas. Dourados: Embrapa-CPAO, 1997. p.157-181. (Circular Técnica, 5). 112 CRUZ, I. Manejo de pragas da cultura de milho. In: Seminário sobre a Cultura do Milho Safrinha, 1999. Cursos. Campinas: IAC, 1999. p.27-56. DUARTE, A.P. Como fazer uma boa segunda safra. Cultivar, 3: 10-18, 2001. DUARTE, A.P. Milho safrinha – técnicas para o cultivo no Estado de São Paulo. Campinas: CATI, 2000. 16p. (Documento Técnico, 113). GASSEN , D.N. Novos problemas com pragas na cultura do milho “safrinha”. In: Seminário sobre a Cultura do Milho Safrinha, Campinas: IAC, p.51-76, 1999. INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA . Estatísticas da produção vegetal – milho. http://www.iea.sp.gov.br/tabelas/anu_veg899. (04 de Maio de 2000). MELO FILHO, G..A.; RICHETTI, A. Aspectos socioeconômicos da cultura do milho. In: EMBRAPA – Centro de Pesquisa Agropecuária do Oeste. Milho informações técnicas. Dourados: Embrapa-CPAO, 1997. p.13-38. (Circular Técnica, 5). SÃO PAULO AGRÍCOLA . Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. http://www.cati.sp.gov.br/sp_agricola/meio_sp_agricola. (04 de Maio de 2000). TSUNECHIRO, A.; F ERREIRA , C.R.R.P.T.; F RANCISCO, V.F.L.S. Estratificação da área da cultura de milho “safrinha” nas regiões de Assis, Orlândia e Barretos, Estado de São Paulo. In: Seminário sobre a Cultura do Milho Safrinha, Campinas: IAC. p.141-148, 1999. TSUNECHIRO, A.; M IELE J UNIOR, C. Análise do risco da produção e do mercado de milho “safrinha”. In: Seminário sobre a Cultura do Milho Safrinha, Campinas: IAC. p.127-132, 1999. DOENÇAS DO M ILHO SAFRINHA NO ESTADO DE SÃO PAULO Pesquisadora Científica Gisèle Maria Fantin1 ,Herberte Pereira da Silva 2 & Aildson Pereira Duarte3 1 Eng. Agrônoma, Lab. de Fitopatologia, Centro Experimental do Instituto Biológico, Instituto Biológico, Cx. Postal 70, CEP 13001-970, Campinas-SP. E- mail: [email protected] 2 Sementes DowAgroSciences Ltda, Caixa Postal 12, 38490-000, Indianópolis-MG. 3 Pesquisador Científico, Instituto Agronômico, C.P. 263, 19800-000, Assis-SP. 1. Introdução A cultura do milho safrinha, que é semeada de janeiro a abril sem irrigação, tornou-se uma importante fonte de renda para o agricultor. Na safrinha o custo de produção é menor e o preço de venda do milho no mercado é mais elevado comparado à safra de verão. Isso compensa a baixa produtividade obtida pela maioria dos agricultores, em torno de 2 a 4 t/ha. Ressalte-se que a produtividade tem aumentado nos últimos anos devido ao emprego de cultivares cada vez mais produtivos e resistentes às doenças, ao uso de insumos (fertilizantes, inseticidas e herbicidas) e, visando minimizar o riscos de perdas e aumentar o potencial de produção, à antecipação da semeadura. A área do milho safrinha cresceu rapidamente na última década, sendo que atualmente, são cultivados cerca de 2,6 milhões de hectares, o que corresponde a 27% e 22% da área total de milho na região CentroSul e no País respectivamente. 114 Por outro lado, vem sendo observado um aumento na ocorrência de doenças nessa época e no verão, as quais podem acarretar diminuição da produtividade e da qualidade dos grãos. Inovações tecnológicas, como no caso do sistema de plantio direto, em que a palhada deixada na superfície do solo tem uma contribuição positiva, pode contribuir negativamente para o controle de algumas doenças do milho, cujos agentes causais tem a capacidade de sobreviver nos restos culturais e infectar o milho no plantio da safra seguinte. Também a má utilização de tecnologias na cultura, tais como populações de plantas acima da recomendada e a inadequada utilização da água de irrigação, contribuíram para o agravamento do quadro de doenças. Algumas doenças, cujos patógenos sobrevivem apenas em plantas vivas, vêm sendo favo recidas pela ampliação das épocas de semeadura. O longo período no qual há instalação de lavouras proporciona maior multiplicação destes patógenos e leva ao aumento dessas doenças na cultura, que desta forma se disseminam com maior eficiência para culturas mais novas em áreas próximas. Estes fatos, aliados às condições climáticas do outono- inverno favorecerem a intensificação de doenças até então consideradas de importância secundária, fundamentaram críticas severas de que estas doenças poderiam inviabilizar o cultivo do milho em algumas regiões do país. Porém, o maior rigor na recomendação dos cultivares, utilizando-se materiais reconhecidamente resistentes às doenças que ocorrem regionalmente, associado às recomendações de manejo adequado da cultura, mostraram que é possível conviver com esta nova realidade. 2. Identificação e Manejo das Principais Doenças 2.1. Doenças Causadas por Fungos 2.1.1. Manchas Foliares 2.1.1.1. Mancha de Phaeosphaeria A mancha foliar do milho causada pelo fungo Phaeosphaeria maydis, também denominada de mancha branca ou pinta branca apresenta distribuição generalizada pelas áreas produtoras de milho na safra e safrinha no Estado de São Paulo e no Brasil. É bastante favorecida por umidade elevada e dias chuvosos. Produz lesões esbranquiçadas, em geral arredondadas, com 0,3 a 2,0 cm. Controle - Recomenda-se o uso de cultivares resistentes, evitar o plantio de cultivares mais suscetíveis em épocas ou locais muito úmidos ou chuvosos. A rotação de culturas e a destruição dos restos culturais ajudam a complementar o manejo da doença. 2.1.1.2. Queima de turcicum A queima ou mancha foliar de Exserohilum turcicum (helmintosporiose comum), tem sido mais importante nos plantios do início de safra e também nos de final de safrinha, quando as condições de temperatura amena favorecem seu desenvolvimento. As lesões típicas sobre as folhas de milho são grandes, alongadas, elípticas, variando de 2,5 a 15 cm de comprimento (média de 6 a 10 cm), de cor palha. Controle - Recomenda-se o uso de híbridos ou variedades mais resistentes. Em casos de monocultura, no sistema convencional de manejo de solos, recomenda-se a aração profunda para destruição dos restos culturais. No sistema de plantio direto deve ser feita a rotação de culturas. 116 2.1.1.3. Mancha de Cercospora A mancha foliar de Cercospora do milho, causada pelo fungo Cercospora zeae-maydis, é também denominada de cercosporiose. Esta doença passou a ser considerada importante a partir da última safrinha, em 2000. É considerada, atualmente, a principal doença do milho nos plantios de safrinha na região de Rio Verde-GO. No Estado de São Paulo tem se evidenciado principalmente na região norte, mas já foi detectada, este ano, na região centro. A severidade da doença aumenta em condições de temperatura moderada a alta, com alta umidade relativa, com formação de orvalho e, principalmente, pela ocorrência de dias nublados ou chuvosos consecutivos. Causa lesões foliares de cor palha a cinza, com 0,5 a 7 cm de comprimento, estreitas e limitadas na largura pelas nervuras secundárias da folha, o que lhes confere a forma retangular alongada típica. Controle - A principal medida para o controle desta doença é o uso de cultivares resistentes. Práticas culturais como rotação e principalmente o enterrio de restos de cultura auxiliam bastante a diminuir a sobrevivência do patógeno no solo, que é a principal fonte de inóculo. 2.1.2. Ferrugens 2.1.2.1. Ferrugem Comum A doença caracteriza-se pela presença de pústulas geralmente alongadas, de coloração marrom, principalmente nas folhas, nas duas faces, em discretas faixas transversais. É favorecida por temperaturas amenas e alta umidade. Controle - É feito, essencialmente, através do cultivo de materiais com maior resistência, evitando-se a semeadura de cultivares suscetíveis em épocas com temperatura muito amena, principalmente na fase vegetativa da cultura. 2.1.2.2. Ferrugem Polissora Esta doença tem sido mais danosa nos plantios mais tardios da safra de verão e nos de início da safrinha, quando ocorrem temperaturas elevadas. Pode disseminar-se amplamente em grandes áreas de monocultura com milho suscetível. Os sintomas são pústulas de cor canela, pequenas, circulares a ovais principalmente na superfície superior da folhas. Controle - O método mais eficiente de controle é a utilização de cultivares mais resistentes, evitando-se a semeadura de cultivares com maior suscetibilidade em regiões onde ocorrem temperatura e umidade elevadas. Se viável, não proceder semeaduras em extensas áreas de monocultura, principalmente se escalonados.. 2.1.2.3. Ferrugem Tropical A ferrugem tropical ou branca é favorecida por ambiente úmido e temperatura moderada a alta. As pústulas são brancas a amareladas, em pequenos grupos, principalmente na superfície superior das folhas. Controle - É feito através do uso de cultivares de milho com maior resistência, em todas as épocas de plantio. Pode ser complementado, se possível, evitando–se plantios contínuos de milho em monocultura. 118 Pelo fato das ferrugens serem patógenos biotróficos (sobrevivem apenas em plantas vivas), o enterrio dos restos de cultura não se constitui num método de controle deste grupo de doenças. 2.1.3. Podridões de Colmo Afetam o processo normal de enchimento de grãos levando à formação de espigas menores. Indiretamente, podem levar a perdas de espigas pelo comprometimento de sua qualidade com o apodrecimento pelo contato com o solo úmido ou por afetar a colheita mecânica, pela necessidade de gastos extras com a catação manual das espigas. No milho safrinha, sob condições climáticas do outono-inverno, a disponibilidade diária de calor é menor que nos cultivos de verão. Em conseqüência, a perda de umidade dos grãos é mais lenta, fazendo com que o ciclo se alongue em quase um mês, expondo as plantas por mais tempo a condições adversas. Isso, juntamente com o estresse, devido à pouca disponibilidade de água para a cultura, requer atenção especial na escolha de cultivares, com relação a resistência às doenças que provocam acamamento e quebramento de plantas e aos patógenos depreciadores da qualidade dos grãos. 2.1.3.1. Podridão de Colmo por Colletotrichum Esta doença é causada pelo fungo Colletotrichum graminicola. Pode ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento das plantas, podendo levá-las à seca prematura, embora seja mais comum logo após o florescimento. Condições que predispõe a esta doença são temperatura moderada a alta e umidade elevada, com extensos períodos nublados. Controle - Recomenda-se o uso de cultivares resistentes, adubação equilibrada e rotação de culturas, principalmente no sistema plantio direto (incidência maior). O enterrio dos restos de cultura, com a destruição das estruturas do patógeno, é um meio eficiente de controle em áreas com alta infestação. É importante o tratamento de sementes. 2.1.3.2. Podridão do Colmo por Stenocarpella (Diplodia) A podridão do colmo causada por Stenocarpella maydis é bastante comum e ocorre após o florescimento das plantas. Esta doença é mais severa em regiões com temperaturas moderadas e, principalmente, ambiente úmido. A predisposição a esta doença é aumentada fundamentalmente por estresses, principalmente estresse hídrico antes do florescimento seguido de período chuvoso. Controle - O método mais eficiente de controle desta doença é o plantio de cultivares mais resistentes. São importantes, também, práticas que evitam o estresse da planta, principalmente o uso de adubação equilibrada e densidade de plantio adequada. Adubações nitrogenadas em cobertura não afetam a doença, mas devem ser equilibradas, principalmente evitando deficiência de potássio associada a altas doses de nitrogênio. Outros tipos de estresse, como os causados por plantas daninhas e insetos, também devem ser evitados. A colheita na época adequada auxilia a restringir os danos causados pela doença. A rotação de culturas é muito importante para diminuir o inóculo do solo. O uso de sementes sadias e o tratamento de sementes evitam a disseminação da doença através desta fonte de inóculo. 120 2.1.3.3. Podridão do Colmo por Fusarium Tem ocorrido com maior intensidade em regiões secas e quentes, principalmente quando a polinização é antecedida por um período seco e seguida por um período chuvoso. É também bastante favorecida por ferimentos, muitas vezes associada a injúrias das plantas por pragas subterrâneas ou nematóides. Os agentes causais desta doença são Fusarium moniliforme (F. verticillioides) e Fusarium subglutinans. Controle - Resistência da planta complementada por rotação de culturas, práticas culturais que evitem estresses da planta e, no caso do sistema convencional de manejo do solo, incorporação dos restos de cultura. Devem ser utilizadas sementes tratadas com fungicidas. 2.1.4. Podridões de Espiga As podridões de espigas chegam a causar danos consideráveis, principalmente em condições de alta umidade no final do ciclo das plantas, como longos períodos chuvosos entre a floração e a colheita. Acamamento de plantas (quando as espigas tocam o chão), espigas sem pedúnculo pendente, mau empalhamento, ataques de insetos e ferimentos em geral tendem a aumentar os danos. Os prejuízos não são apenas na produtividade, como na qualidade, palatabilidade e valor nutritivo dos grãos. Além disso, vários patógenos também produzem toxinas que podem ter efeito cancerígeno e até letal a aves, animais e ao homem. Para o agricultor, entre os problemas de qualidade de grãos de milho, o que tem realmente demandado maior preocupação é a qualidade fitossanitária - expressa pela porcentagem de grãos “ardidos”. O termo grão “ardido” diz respeito aos grãos ou pedaços de grãos que perdem a sua coloração característica em mais de 25%. Os grãos “ardidos” são o reflexo das podridões de espigas. 2.1.4.1. Podridão de Espiga por Stenocarpella (Diplodia) Esta doença, causada por Stenocarpella maydis (Diplodia maydis) e ocasionalmente S. macrospora também denominada de podridão seca, é bastante freqüente e considerada a mais destrutiva entre as que afetam a espiga. É mais danosa na região sul do país, embora ocorra em muitas outras regiões. É favorecida por seca antes do florescimento, seguida de alta umidade. A infecção não parece ser favorecida por ferimentos ou mal empalhamento das espigas, mas aquelas que não apresentam pedúnculo pendente podem ter sua suscetibilidade aumentada. Controle - Recomenda-se o uso de cultivares com maior resistência. A rotação de culturas, o manejo adequado de matéria orgânica e, no caso do sistema convencional de manejo do solo, o bom preparo de solo com aração e gradagem, reduzem sensivelmente o potencial de inóculo no solo. O uso de densidade de plantio adequada para o híbrido também é muito importante. Além desta, devem ser utilizadas outras medidas que também reduzem estresses na planta, principalmente o uso de adubação equilibrada e o controle de plantas daninhas. O tratamento de sementes diminui a disseminação através desta fonte de inóculo e a colheita precoce, com o armazenamento adequado, abaixo de 18% de umidade, inicialmente, para as espigas, e de 15%, para os grãos, restringem o desenvolvimento da doença. 2.1.4.2. Podridão de Espiga por Fusarium 122 É a mais comum e disseminada doença de espigas, sendo encontrada em praticamente todos os campos de milho. Geralmente está associada a danos por insetos, injúrias mecânicas e mal empalhamento das espigas. É favorecida por temperatura elevada e ambiente seco no início da cultura seguido por condições úmidas (chuvas freqüentes) no florescimento. Os sintomas de podridão geralmente aparecem em grãos isolados ou em grupos. Controle - Recomenda-se, o uso de cultivares mais resistentes, a colheita precoce e o armazenamento dos grãos sob condições de umidade relativa abaixo de 15%. O controle de pragas, para evitar ferimentos nas espigas, e a eliminação de plantas daninhas, para diminuir estresses da planta, também são importantes. No sistema convencional de manejo do solo, a aração profunda da área a ser plantada pode ter efeito na diminuição do inóculo do solo. O tratamento de sementes auxilia na redução do inóculo das sementes e protege as plântulas do patógeno presente no solo. Embora o patógeno esteja freqüentemente associado às sementes, estas não são a principal fonte de inóculo. 2.2. Doenças Causadas por Molicutes 2.2.1. Enfezamentos Chegam a causar severos danos à cultura, principalmente na safrinha e nos plantios tardios da safra de verão. São transmitidos pelo mesmo vetor, a cigarrinha Dalbulus maidis. Apesar de comum a presença dos enfezamentos na mesma planta, os sintomas mais evidentes geralmente são os do enfezamento vermelho. 2.2.1.1. Enfezamento Vermelho A incidência desta doença vem aumentando nesta década, chegando a ser limitante em materiais muito suscetíveis. É favorecida por temperaturas moderadas a altas. Seu agente causal é um fitoplasma. O sintoma mais comum é o avermelhamento dos bordos e pontas das folhas mais novas, o qual geralmente evolui para uma necrose. Quando há infecção de plantas bem novas, ocorre um nanismo acentuado da planta e a formação de numerosas espigas pequenas, sem grãos ou com poucos grãos frouxos e pequenos. Em geral, a infecção é tardia, mas, mesmo em plantas com sintomas leves, o enchimento de grãos pode ser bastante prejudicado. 2.2.1.2. Enfezamento Pálido O enfezamento pálido é favorecido por temperaturas mais altas que as que favorecem o enfezamento vermelho e seus sintomas típicos têm sido observados com menor freqüência no Estado de São Paulo. Esta doença é causada pelo espiroplasma denominado Spiroplasma kunkelii. Os sintomas típicos da doença são longas faixas de cor amarelo limão a esbranquiçadas, as quais podem atingir toda a extensão da folha. Dependendo das condições ambientais, pode ocorrer avermelhamento das folhas e não há formação das faixas, dificultando sua identificação no campo. Com infecção mais severa, em plantas bem jovens, há maior encurtamento de internódios, com formação de numerosas espigas pequenas, como para o enfezamento vermelho. Controle - Recomenda-se, tanto para o enfezamento vermelho como o pálido, principalmente, a utilização de cultivares com maior 124 resistência. Se possível, devem ser evitados plant ios sucessivos, principalmente tardios, pois a cigarrinha, que é constantemente associada ao milho, pode atingir altas populações no decorrer do ano agrícola, e apresentar maiores concentrações do patógeno, disseminando amplamente a doença. 2.3. Viroses 2.3.1. Mosaico Comum O mosaico comum é também denominado mosaico da cana-deaçúcar. Esta virose tem apresentado incidência elevada no Estado de São Paulo ultimamente. A transmissão do vírus, agente causal da doença, pode ser feita por mais de 20 espécies de afídeos, principalmente pulgões, entre eles Rhopalosiphum maidis, Schizaphis graminum e Myzus persicae. Os sintomas típicos da doença são áreas alongadas de cor verde clara entremeadas às de verde normal. Há diferenças quanto ao nível de resistência entre os materiais cultivados, mas ainda não existem informações mais completas sobre recomendação de cultivares visando o controle desta doença. Controle - Deve-se evitar, se possível, plantios tardios, pela maior população de insetos vetores do vírus. Além disto, devem ser eliminadas gramíneas selvagens hospedeiras (capim massambará, colchão, colonião e capim-arroz) e evitados os plantios nas proximidades de culturas de canade-açúcar infectadas com o vírus, que podem ser fontes de inóculo. 2.3.2. Risca do Milho A risca do milho é a virose mais comum nos cultivos de milho em nosso país. Nos últimos anos, tem ocorrido com muita freqüência em plantios tardios. A transmissão do vírus da risca é feita pela mesma cigarrinha que transmite os enfezamentos: Dalbulus maidis. Os sintomas apresentam-se como linhas cloróticas estreitas e interrompidas. Controle - Os cultivares comerciais de milho apresentam diferentes níveis de resistência ao vírus, porém esta característica ainda não foi bem explorada. Evitar plantios tardios e, se viável, a eliminação de plantas voluntárias de milho também podem contribuir para a redução da incidência da virose. 3. Emprego de Sementes Sadias ou Tratadas: O manejo integrado das doenças deve se iniciar pelo emprego de sementes de boa qualidade sanitária, praticamente livres de patógenos ou tratadas com fungicidas e doses apropriadas. O tratamento de sementes é eficiente para controle de patógenos transportados pelas sementes, de fácil aplicação, de baixo custo e de pequeno impacto ambiental. No Brasil, são registrados para tratamento de sementes de milho: Captan, Fludioxonil, Quintozene (PCNB), Thiabendazol, Tolylfluanid, Thiram, Fludioxonil + Metalaxyl e Carboxin + Thiram. A maioria das empresas produtoras de sementes de milho utilizam o Captan. 4. Controle Através de Resistência: No início da expansão da safrinha, as doenças eram consideradas fatores limitantes à produtividade; contudo, nos últimos anos, estas tem ocorrido com intensidade menor e seus danos tem sido mais baixos. Um dos principais fatores que tem proporcionado maior controle de doenças 126 é o uso de cultivares mais resistentes às doenças que ocorrem regionalmente. Em testes regionais realizados no Estado de São Paulo, nas safrinhas de 1999 e de 2000, os híbridos simples e triplos (HST) que se destacaram como mais resistentes à mancha de Phaeosphaeria foram: P3021, CO9560, C333B, Tork, AS1533, AG5011, CD3121, BRS3101, C747, Fort, Z8486, DKB350 e A2288 e os híbridos duplos e variedades (HDV) que apresentaram menor severidade da doença foram: C435, C444, AL25, IACV3 e C125. Quanto à ferrugem comum, evidenciaram-se como mais resistentes à doença os seguintes HST: Fort, AG8080, Z8392, A2288, DinaCO32, Master, Tork, CD3121, AS1544, Dina766, P30F80 e XL269 e os seguintes HDV: Balu184, Traktor, SHS8447, C444, AS32, Savana185, Z8447, CD3211 e AL30. Apresentaram menor severidade da queima de turcicum os HDV: C125 e Traktor. Os HST que apresentaram menor porcentagem de plantas com sintomas de enfezamento foram: Z8486, CO9560, Z8392, Avant, Z8501, XL221, P3041, DinaCO32, AG8080, Tork, XB7011 e A2288 e os HDV foram: XB8010, C444, AG122, Traktor, C125 e C701. Ao mosaico os HST com menor incidência da doença foram: AG6016, P3041, C929, Dina766, C333B, Z8486, SHS5050, P30F80, BRS3101, AG9010, AGN3150, AG8080 e AGN3180 e os HDV foram: AL34, C435, C125, SHS4040, C444, C701 e IACV3. 5. Medidas Gerais de Controle de Doenças A adequada utilização das medidas de controle das doenças do milho visa a prevenção da ocorrência das doenças mais importantes da cultura, levando a uma maior produtividade com melhor qualidade dos grãos. As medidas mais importantes de controle, a serem tomadas na instalação e condução de uma cultura, se resumem nos seguintes passos: 1. Conhecer a importância das principais doenças nos diferentes locais e épocas de plantio, possibilitando a utilização de cultivares mais resistentes às doenças potencialmente mais importantes para cada região e época de plantio. 2. Fazer rotação de culturas. 3. Sob monocultura, dar preferência ao sistema convencional de manejo do solo, realizando bom preparo com incorporação dos restos culturais e evitar plantios escalonados. 4. Manejar o solo para ter boas condições para a germinação das sementes. 5. Utilizar sementes com boa qualidade sanitária, física e fisiológica, tratadas com fungicida. 6. Utilizar a densidade de semeadura recomendada para o cultivar utilizado. 7. Realizar adubação de semeadura e cobertura, de modo a fornecer os nutrientes em quantidade e proporção adequadas às plantas. 8. Controlar plantas daninhas. 9. Realizar o manejo das pragas. 10. Manejar adequadamente a água em campos irrigados. 11. Não atrasar a operação de colheita e, se necessário, realizá- la antecipadamente. 12. Armazenar adequadamente as sementes, logo após a colheita. Estas medidas de controle apresentam efeitos maiores ou menores sobre os tipos de doenças, podendo variar, também, de acordo com 128 outros fatores como as condições ambientais ou a presença e quantidade das fontes de inóculo. 6.. Bibliografia ANDREI, E. (Coord.) Compêndio de defensivos agrícolas. 6.ed. São Paulo, Organização Andrei Ltda, 1999. 672p. DUARTE, A.P.; FANTIN, G.M.; DUDIENAS, C.; BORTOLETTO, N.; GELLER, C.; GALLO, P.B.; RECO, P.C.; BIANCHINI, M.T.; BOLONHESI, D.; SILVEIRA , L.C.P. E SABINO JÚNIOR, J. 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Caixa Postal 231. 86001970, Londrina, PR As chamadas pragas de solo, em geral são insetos fitófagos de hábito subterrâneo que podem atacar todas as estruturas subterrâneas das plantas, mas englobam, também, aqueles que vivem na superfície do solo, sob a liteira, cortando ou broqueando o “colo” da planta. Diversas espécies de insetos pertencentes, principalmente, às ordens Diptera, Lepidoptera, Coleoptera e Hemiptera são citadas na literatura como pragas de hábito subterrâneo, em soja. Além dos insetos, também têm ocorrido em soja outros grupos de pragas de solo ou de superfície, como Diplopoda, lesmas e caracóis. Um levantamento realizado pela Embrapa Soja mostrou que, nas últimas cinco safras, as principais pragas de solo que ocorreram na cultura da soja foram: larvas do complexo de corós (Col.: Scarabaeoidea), percevejo-castanho-da-raiz (Hem.: Cydnidae), lagarta elasmo (Lep.: Piralydae), cochonilha-de-raiz (Hom.: Coccoidea), 1 Manuscrito aprovado para publicação pelo Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja sob o nº 071/2001 piolhos-de-cobra (Diplopoda), lesmas (Veronicellidae) e caracóis. Mais de 70% dos relatos, onde houve dano econômico à lavoura, se referiam a dois grupos de pragas de raiz: o complexo de corós e percevejo-castanhoda-raiz. Esses grupos de insetos são polífagos, mas enquanto ninfas e adultos do percevejo castanho sugam raízes de várias famílias de plantas, no grupo de corós, adultos e larvas apresentam hábitos alimentares distintos. As larvas são rizófagas e os adultos consomem folhas de várias espécies. A multiplicidade de hospedeiros associada aos hábitos subterrâneos desses grupos de insetos dificultam muito o seu controle. Tanto os corós como os percevejos de raiz passam todas as fases de desenvolvimento no interior do solo e apenas os adultos saem em revoadas ao entardecer retornando depois, ao solo. O complexo de corós inclui vários gêneros e a espécie predominante varia de região para região, mas todas têm hábitos semelhantes e causam o mesmo tipo de dano à soja. Phyllophaga cuyabana e Plectris sp. predominam em lavouras de soja, na região Centro-Oeste e Norte do Paraná, respectivamente. Liogenys sp. ocorre em Goiás e Mato Grosso do Sul, mas há outras espécies de Scarabaeoidea ainda não identificadas, igualmente importantes, danificando soja no Sudoeste de São Paulo, Triângulo Mineiro e Mato Grosso (7). A espécie P. cuyabana é a mais estudada, e, na prática, têm se observado que, do ponto de vista de manejo, vários resultados obtidos para essa espécie podem ser adaptados às diferentes regiões ecológicas, desde que consideradas as variações nas condições ambientais, que no caso do Cerrado, podem adiantar o início das revoadas de adultos. 132 O nome popular “percevejo castanho” designa um grupo composto de várias espécies, pertencentes à família Cydnidae, subfamília Scaptocorinae. Esse grupo tem ampla distribuição geográfica na região Neotropical e, no Brasil, duas espécies, Scaptocoris castanea e Atarsocoris brachiariae, vêm causando grandes danos à agropecuária, em pastagens, soja e algodão, principalmente na região dos Cerrados. A. brachiariae inicialmente associada a pastagens, também foi observada atacando soja. As duas espécies são muito semelhantes e são facilmente reconhecíveis pelo odor característico e desagradável que exalam, durante o preparo de solo em áreas infestadas. Quando expostos à superfície, esses percevejos emitem um som estridente. No seu “habitat”, a cópula e oviposição ocorrem no solo. Comumente, o ataque de corós e percevejo-castanho-da-raiz ocorre em reboleiras ou focos, que podem variar de poucos metros até vários hectares, distribuídos irregularmente na área infestada. Dentro das reboleiras, pode ocorrer redução da população de plantas, devido à morte, quando o ataque ocorre no início do desenvolvimento da soja, e amarelecimento das folhas e redução do crescimento das plantas quando o ataque é mais tardio. A intensidade dos danos é devida não só da população e da idade dos insetos, mas também do desenvolvimento radicular da planta, tanto em função do estádio de desenvolvimento da cultura, como de outros fatores como, por exemplo, presença de camadas de solo adensadas, prejudicando a expansão das raízes. Os efeitos dos danos no sistema radicular, na produção de grãos podem ser intensificados sob condições de solos pobres ou sob condições de estresse hídrico em épocas críticas. Os danos causados por cochonilhas-da-raiz em soja são localizados e geralmente não justificam o controle. Danos por lagartaelasmo ocorrem em geral, em épocas de estiagem e temperaturas altas e embora a praga possa causar graves prejuízos, não há medidas de controle eficientes, especialmente após a detecção do ataque. Os caracóis e lesmas ocorrem em ambientes úmidos e em soja seu ataque é eventual e localizado. Os piolhos-de-cobra também ocorrem em reboleiras, às vezes causando danos severos. O manejo de pragas polífagas, de ciclo longo e hábitos subterrâneos, como corós e percevejo castanho, deve ser feito considerando o sistema de produção como um todo e não apenas durante o período em que a cultura principal está no campo. Várias medidas podem ser adotadas para diminuir a população de pragas de solo ou aumentar a tolerância da soja a elas. Época de semeadura: A manipulação da época de semeadura da soja, como estratégia de manejo de pragas, baseia-se no princípio de evasão hospedeira e/ou aumento da tolerância da cultura aos danos causados pelas pragas. Esta estratégia funciona bem para pragas como os corós, especialmente P. cuyabana que apresenta um padrão relativamente estável de distribuição estacional e sincronizado com o sistema de produção de soja nas regiões de ocorrência. Preferencialmente, as áreas infestadas por corós devem ser semeadas antes que as larvas atinjam 1,0 cm e, se possível, antes das primeiras revoadas de adultos. Manejo de plantas hospedeiras e não hospedeiras: Algumas espécies vegetais, como Crotalaria juncea, Crotalaria spectabilis e algodão, prejudicam o desenvolvimento das larvas de P. cuyabana, especialmente no início da fase larval, quando podem aumentar a 134 mortalidade das larvas (9) e podem ser usadas como alternativa em áreas infestadas, em rotação com a soja e outras culturas atacadas por corós. C. spectabilis pode ser utilizada também como cultura que antecede a soja, associada a cultivares tardias desta leguminosa, nas áreas com maior nível de infestação. As larvas serão negativamente afetadas desde que consumam C. spectabilis por pelo menos 20 dias. Portanto, a semeadura da crotalária deve ser realizada antes da primeira revoada, deixando a cultura no campo, pelo menos, 20 a 25 dias após o início das revoadas. A prática do cultivo de soja, milho ou girassol de safrinha contribui para o aumento de população de corós de um ano para outro e deve ser evitada. Para percevejo-castanho-da-raiz, ainda não há dados conclusivos que permitam fazer indicações para rotação de cultura com a soja. Mas, apesar de seu alto grau de polifagia, existem diferenças na preferência e/ou suscetibilidade de diversas espécies vegetais, sendo Brachiaria humidicola um dos hospedeiros preferenciais de percevejo castanho (1). Observações de campo e ensaios coordenados pela Embrapa Soja indicaram que, entre as culturas anuais, o algodão é mais suscetível aos danos do que a soja, que, por sua vez, é menos tolerante que o milho e o milheto. Manejo de solo: O ataque de soja por larvas de corós ocorre tanto em sistema de semeadura direta como em convencional. O padrão de distribuição do P. cuyabana, no perfil do solo, indica que o manejo deste pode contribuir para diminuir a população, através de dano mecânico às larvas, da sua exposição a aves e a outros predadores e do deslocamento de larvas em diapausa e pupas para camadas do solo com condições de umidade e temperatura de maior amplitude de variação e, portanto, menos adequadas à sobrevivência das fases inativas do inseto. A época e o tipo de implemento utilizado no preparo do solo são fundamentais para o sucesso desse método de controle. A mortalidade larval pode ser atribuída mais à exposição a fatores adversos logo após o preparo, do que a mudanças nas condições do solo. As reduções na população de corós foram mais evidentes em parcelas preparadas com implementos mais pesados, como o arado de aiveca (6). Para o preparo do solo das áreas, onde houve sinais de danos, antes da cultura de verão, devem ser utilizados implementos que atinjam maior profundidade e possam deslocar as larvas para a superfície, pois, nesta época, embora a população esteja inativa e mais suscetível a perturbações, grande parte dos indivíduos se encontra abaixo de 20 cm de profundidade, dentro de câmaras. Em áreas muito infestadas, o preparo do solo pode ser associado à semeadura no início da época recomendada e ao uso de cultivares precoces, diminuindo, assim, o risco de dano e possibilitando o preparo de solo, antes da cultura de inverno. Nesse caso, o preparo do solo pode ser realizado com arado de disco, desde que realizado logo após a colheita da soja, mas antes de as larvas iniciarem a diapausa, que ocorre, preferencialmente, a mais de 20 cm de profundidade no solo, portanto, fora do alcance desse tipo de implemento. O percevejo-castanho-da-raiz, como os corós, tem ocorrido tanto em áreas de semeadura direta como em áreas com manejo convencional do solo. Alguns estudos mostraram que o efeito da cobertura vegetal foi maior do que o efeito do manejo do solo, quando as operações de preparo são realizadas antes dos cultivos de verão, época na qual, em geral, a população está localizada abaixo de 20cm de profundidade (10). Ensaios realizados nas safras 98/99 e 99/2000, embora não conclusivos, mostram tendência de se repetir, para o percevejo castanho o mesmo padrão dos 136 corós, ou seja, o efeito da operação de preparo é imediato e localizado, devido à exposição destes insetos à fatores adversos. Estudos comparando áreas de semeadura direta com áreas gradeadas (duas passagens de grade aradora atingindo até 25 cm de profundidade), mostraram que o efeito da gradagem foi aparentemente maior nas camadas superficiais, especialmente nos primeiros 10cm, não atingindo, entretanto, a população situada abaixo de 20 cm, que representava 50% da população existente no local (10). Um estudo realizado 1998 no Mato Grosso em área de semeadura direta mostrou que a subsolagem realizada com baixíssima umidade, seguida de duas gradagens e a aivecagem seguida de uma gradagem diminuíram significativamente a população de percevejo-castanho-das-raízes (3). O efeito do preparo de solo sobre corós e percevejo-castanhoda-raiz é maior, quando a operação é realizada nas horas mais quentes do dia e com implementos que atingem maior profundidade. Entretanto, para outras pragas de solo, como cochonilhas de raízes, cuja capacidade de movimentação no perfil do solo é insignificante e, normalmente, são encontradas nas camadas superficiais, o efeito do sistema de manejo do solo pode ser mais significativo, embora não haja estudos conclusivos a respeito (7). Piolhos-de-cobra, lesmas e caracóis também ocorrem com maior freqüência em lavouras de semeadura direta, mas também já foram observados ataques em áreas de manejo convencional do solo. O preparo de solo pode ser um componente dentro do sistema de manejo de pragas rizófagas em soja. Entretanto, sua utilização não pode ser generalizada, pois a eficiência na redução da população depende de muitos fatores, como época do preparo, implemento utilizado, condições microclimáticas durante o preparo, estádio de desenvolvimento do inseto, nível populacional e distribuição do inseto no perfil do solo. O revolvimento do solo em áreas de semeadura direta unicamente com o objetivo de controlar pragas rizófagas, como corós e percevejo-castanho-da-raiz, não é recomendado, a não ser de forma eventual e localizada nos focos com alta infestação, pois seu efeito no controle dessas pragas nem sempre é satisfatório a ponto de compensar a perda dos benefícios da semeadura direta. Controle biológico: Vários agentes de controle biológico de P. cuyabana foram observados destacando-se patógenos em ovos, larvas e adultos e dípteros parasitóides de adultos. Foram identificados os fungos Beauveria bassiana (principalmente em adultos) e Metarhizium anisopliae (em larvas e adultos) e uma bactéria isolada de larvas, identificada como Bacillus sp., possivelmente B. popilliae (9). Essa bactéria e outras do genêro Serratia, têm sido usadas com grande êxito para controle de escarabeídeos em outros países, como a Nova Zelândia. De maneira geral, M. anisopliae mostrou, em laboratório, maior potencial de controle de larvas de corós que os demais fungos. O percevejo castanho também possui vários inimigos naturais, destacando-se as formigas e patógenos. Fungos entomopatogênicos dos gêneros Metarhizium, Beauveria e Paecilomyces já foram isolados desse inseto e apresentaram, em laboratório, potencial para controle da praga. O fungo M. anisopliae apresentou maior virulência para adultos de S. castanea do que B. bassiana e Paecilomyces (8). Entretanto, a eficiência dos fungos em cond ições de campo, tanto para corós como para percevejo castanho, é muito irregular e depende, principalmente, condições de umidade do solo na época de aplicação. das 138 Controle químico: O controle químico de corós (5) e percevejo castanho, em soja, até o momento, têm se mostrado pouco viável, em função do hábito subterrâneo destes insetos. Vários grupos de pesquisa (2,4,5,8,11,13) vem testando inseticidas misturados à semente e aplicados no solo diretamente no sulco de semeadura para controle dessas pragas, mas, para a soja, ainda não há nenhum inseticida eficiente e registrado com essa finalidade. Também não há, até o momento, inseticidas recomendados para controle da lagarta-elasmo, cochonilha-da-raiz, lesmas, caracóis e piolho-de-cobra em soja. Medidas para aumentar a tolerância da soja a pragas de solo rizófagas: O dano causado por pragas de solo à soja é indireto, devido à sucção de seiva ou ingestão de raízes. Assim, qualquer medida que favoreça o crescimento da planta e o desenvolvimento de seu sistema radicular, aumentará também o seu grau de tolerância a esses insetos. Várias medidas podem ser tomadas, destacando-se: a) inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio, que favorece o aumento do sistema radicular, especialmente raízes secundárias; b) evitar a formação de camadas de solo adensadas; c) correção da fertilidade do solo, que favorece o desenvolvimento da planta e, consequentemente, das raízes; e d) correção da acidez do solo, para que a menor disponibilidade de alumínio e um suprimento adequado de Ca e Mg, propiciem maior desenvolvimento radicular (5,7). Alternativas potenciais para o manejo de pragas rizófagas em soja: Grupos de plantas altas ou árvores, próximos às áreas infestadas, geralmente são sítios de agregação de adultos de corós. Em áreas com histórico de ataque da praga, pode-se semear milho, girassol, C. juncea ou soja, em cultivo antecipado, de maneira que as plantas estejam bem desenvolvidas na época do início das revoadas e funcionem como focos de agregação de adultos, para controle localizado dos mesmos com inseticidas químicos ou biológicos. Girassol e C. juncea estimulam a alimentação das fêmeas e podem potencializar a ingestão de produtos químicos ou biológicos (bactérias), aplicados sobre as folhas dessas culturas. Os adultos de P. cuyabana, principalmente os machos, são atraídos por luz amarela (10), que pode ser utilizada em armadilhas para monitoramento ou associadas a outros métodos de controle. O feromônio sexual, produzido pela fêmea de P.cuyabana é outra linha de pesquisa em desenvolvimento e poderá servir como atraente, associado ou não às armadilhas luminosas, para concentração de adultos, facilitando seu monitoramento ou controle. Para percevejo-castanho-da-raiz essa linha de pesquisa ainda não foi desenvolvida, mas também há possibilidade de utilização de feromônios em seu manejo, no futuro. O manejo de pragas de solo em soja depende da associação de inseticidas químicos ou biológicos e práticas culturais que permitam a convivência com a praga, baseadas principalmente em sua biologia e comportamento. Embora, vários aspectos comportamentais já tenham sido desvendados, ainda há grande necessidade de estudos nessa linha, para várias espécies. O entendimento das relações inseto-planta dentro de uma visão holística do sistema de produção também é fundamental para o manejo cultural dessas pragas. Literatura Consultada 1. AMARAL, J.L. DO; M EDEIROS, M. O; OLIVEIRA ,C.; OLIVEIRA , E. A. S. Estudo das preferências alimentares do percevejo castanho das 140 raízes das gramíneas (Atarsocoris brachiariae Becker, 1996). In: Encontro de Biólogos do Crb1, 8., Cuiabá, 1997. Cuiabá: UFMT. 1997. p. 66. 2. AMARAL, J.L. 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Documentos, 127). 142 NEMATÓIDES NA CULTURA DA SOJA Pesquisador Científico Carlos Eduardo Rossi Engenheiro Agrônomo - Laboratório de Nematologia, Centro Experimental do Instituto Biológico, Instituto Biológico, Caixa Postal 70, CEP 13001-970, Campinas – SP. E- mail: [email protected] 1. Introdução A soja, uma das culturas de maior importância econômica para o Brasil, vem apresentando, a cada ano, prejuízos crescentes causados por nematóides. Trata-se de uma planta sensível a esses parasitos e, para a dificuldade do produtor, os danos podem ser atribuídos a fatores diversos. Nematóides são animais microscópicos, usualmente chamados de vermes (designação antiga dada também a minhocas e outros organismos, cuja forma do corpo é longa e delgada), essencialmente aquáticos. Existem espécies que se alimentam de fungos, de bactérias e também de plantas, dentre outros hábitos alimentares. Os parasitos de plantas vivem no solo ou no interior de estruturas vegetais, tais como: folhas, caules e, principalmente, raízes. Possuem uma estrutura similar à uma agulha de seringa, o estilete, pelo qual introduzem substâncias nas células digerindo-as e em seguida sugam o líquido resultante. É dessa forma que os nematóides parasitos de plantas se alimentam. Os problemas com nematóides na agricultura, fundamentalmente, são fruto do desequilíbrio ocasionado por práticas agrícolas inadequadas, tais como a monocultura por safras seguidas. Mais de 20 gêneros de nematóides já foram detectados associados com soja no Brasil (CARNIELLI & SOUZA , 1989). Desses, Heterodera (o nematóide de cisto) e Meloidogyne (o nematóide de galha) apresentam importância econômica para essa cultura e serão mais bem detalhados. 2. Nematóide de Cisto da Soja Trata-se de um nematóide extremamente nocivo à sojicultura mundial. Os prejuízos causados por ele podem chegar a 100% em algumas áreas altamente infestadas. Sua descoberta em solo brasileiro aconteceu na safra 91/92 nos Estados de Minas Gerais (LIMA et al., 1992), Mato Grosso (LORDELLO et al, 1992) e Mato Grosso do Sul (MONTEIRO & MORAIS, 1992). Em São Paulo foi detectado na safra 94/95 na região de Assis (ROSSI et al., 1995). Atualmente, encontra-se distribuído pelas principais regiões de cultivo de soja do Brasil. O cisto que proporciona o nome comum ao nematóide é a cutícula da fêmea adulta morta encontrando-se em seu interior cerca de 300 ovos que podem permanecer viáveis por um longo tempo à espera de uma planta hospedeira. A soja cultivada em campo infestado estimula os juvenis a emergirem dos cistos e penetrarem nas raízes. A partir daí, parasitam de forma sedentária passando por várias fases jovens até a formação do adulto. Há cruzamento entre nematóides de diferentes raças, o que gera muita variabilidade. Sintomas e Danos Como o nematóide tem pouca mobilidade, há uma tendência das infestações ocorrerem em reboleiras. Os sintomas são plantas mal desenvolvidas com aparência de deficiência nutricional, folhas esparsas e 144 amareladas, poucas flores, às vezes a haste raquítica e desnuda e nodulação precária. A utilização de implementos no momento do preparo do solo dissemina o nematóide pela área. O sinal mais característico é a fêmea globosa esbranquiçada aderida à raiz. O prejuízo direto causado pelo parasitismo de um indivíduo em uma planta é desprezível, mas quando se considera centenas de indivíduos, comum em altas infestações, o dano passa a ser evidente. É mais intenso em solos leves ou arenosos e onde há pH elevado (DIAS et al., 2000). Controle Em vista da soja e de poucas outras plantas (feijão, tremoço, azuki etc) serem as únicas hospedeiras do nematóide, a rotação de culturas é a medida de controle mais recomendada. Entretanto, o cisto que se encontra no solo após a colheita da soja, protege os ovos por um longo tempo. Assim, a melhor estratégia é integrar rotação de culturas com cultivares de soja resistentes. Já existem disponíveis quase uma dezena de cultivares com resistência genética ao parasito. Há muita variabilidade dentro da população devido à reprodução cruzada do nematóide. Dentre as 16 raças possíveis, a 3 é a mais comum em nosso país. O plantio consecutivo de uma mesma cultivar resistente seleciona a população e a inviabiliza para as próximas safras. Medidas como limpeza de implementos e máquinas, eliminar soja “tiguera” da área infestada após a colheita, plantio direto na palha, evitam a disseminação e a multiplicação do nematóide. O manejo adequado do solo, mantendo níveis altos de matéria orgânica, saturação de bases dentro do recomendado, adubação equilibrada e ausência de camadas compactadas aumenta a tolerância da soja ao nematóide (EMBRAPA , 2000). 3. Os Nematóides de Galhas Ao contrário da espécie anterior, esses nematóides atacam muitas culturas e estão distribuídos por quase todas as áreas agricultáveis. Há duas principais espécies que parasitam soja: Meloidogyne javanica e M. incognita, sendo a primeira a predominante. A presença dessas espécies em altas infestações é considerada fator limitante. Sintomas A presença de reboleiras com plantas de porte mais reduzido, amareladas e com folhas apresentando manchas cloróticas entre as nervuras (folha carijó) caracteriza um sintoma da presença desse nematóide na lavoura. Entretanto, é nas raízes que se encontra o sintoma típico do parasitismo desse organismo que lhe proporcionou o seu nome comum: as galhas. Essas são engrossamentos de forma esférica isolados ou podendo se coalescerem modificando totalmente a morfologia da raiz, não destacados facilmente como os nódulos de Bradyrhizobium que podem se formar na raiz principal e nas demais. Controle A decisão de se controlar a população do nematóide deve ser tomada muito antes da instalação da lavoura, pois as medidas são preventivas. O controle é baseado em adoção de rotação de culturas com plantas não hospedeiras, que no caso dessas espécies, não apresenta muitas opções, e cultivares com resistência genética ao parasito. 146 Inicialmente, necessita-se conhecer qual (is) a(s) espécie(s) que estão presentes na área. Para isso é preciso enviar uma amostra de solo e raízes para um laboratório de nematologia, a fim de que seja feita a identificação específica. Para M. javanica pode-se cultivar em rotação em áreas reconhecidamente infestadas milho resistente (‘C 811’, ‘BR 3123’, ‘C 491’ ‘AG 5016’, ‘Tork’ ‘X 1297 J’, ‘XL 357’ etc), amendoim, algodão, sorgo resistente (‘AG 2005-E’ e ‘AG 2501-C’) e mamona (DIAS et al., 1998; 2000). Rotação de culturas com adubos verdes (crotalárias, aveia preta, milheto e alfafa) melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, além de que a presença de plantas não hospedeiras evita a multiplicação do nematóide. As cultivares de soja: ‘Bragg’, ‘BR-6’, ‘BR-30’, ‘IAC-8’, ‘BRS65’, ‘Celeste’, ‘CD-201’, ‘CD-203’, ‘FT-Cometa’, ‘Conquista’, ‘Iguaçu’ apresentam resistência a essa espécie e podem ser utilizadas em esquemas de rotação de culturas para um melhor desempenho das mesmas. Para M. incognita, as opções são mais restritas: amendoim, milho ‘P30F80’, crotalárias, mucuna-preta, aveia preta, guandu e, as cultivares de soja: ‘BR-36’, ‘BRSMG 68’, ‘Garantia’, ‘Liderança’, ‘Renascença’, ‘Matrinchã’, ‘CD 201’, ‘CD 202’, ‘CD 203’, ‘IAC 8’, ‘IAC 12’, ‘Conquista’, ‘Pequi’, ‘Pioneira’, ‘Iguaçu’. 4. Referências Bibliográficas CARNIELLI , A; SOUZA , M.I.F. Nematóides em soja: resumos informativos. EMBRAPA/DID. 169p, 1989. (Resumos Informativos, 29). DIAS, W.P. Controle de nematóides fitoparasitas associados à cultura da soja. Resultados de Pesquisa da Embrapa Soja. Embrapa/CNPSo. P.11-21, 1998. (Embrapa soja. Documentos, 125). DIAS, W.P.; GARCIA , A.; SILVA , J.F.V. Nematóides associados à cultura da soja no Brasil. In: Congresso Brasileiro de Nematologia p. 59-65, 2000. EMPRESA BRASILEIRA DE P ESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA ). Recomendações técnicas para a cultura da soja na Região Central do Brasil 1999/2000. Londrina, 2000. LIMA, R.D.; F ERRAZ, S. & SANTOS, J.M. Ocorrência de Heterodera sp. em soja no triângulo mineiro. Nematol. Bras. 16: 101-102, 1992. LORDELLO , A.I.L.; LORDELLO, R.R.A. & QUAGGIO, J.A. Ocorrência do nematóide de cisto da soja (Heterodera glycines) no Brasil. Revista de Agricultura, 67: 223-225, 1992. MONTEIRO, A.R. & MORAIS, S.R.A.C. Ocorrência do nematóide de cisto da soja, Heterodera glycines Ichinohe, 1952, prejudicando a cultura em Mato Grosso do Sul. Nematol. Bras., 16: 101,1992. ROSSI, C.E.; MONTEIRO, A.R. & RAMIRO, Z.A. Ocorrência do nematóide de cisto, Heterodera glycines Ichinohe, 1952, em cultura de soja, no Estado de São Paulo. Revista de Agricultura, 70: 37-39, 1995. DOENÇAS FOLIARES DA SOJA E S EU CONTROLE Eng. Agr. Renato Arantes Pinto Coordenador de Desenvolvimento Técnico Comercial - Aventis CropScience Brasil Ltda. Av. Maria Coelho Aguiar, 215, Bloco B, 20 Andar, São Paulo, SP, CEP 05804-902. Tel. (14) 9601 0073, Fax (14) 424 4304. E- mail: [email protected] 148 1. Introdução Considerando-se todo o complexo de doenças causadas por fungos, bactérias, nematóides e vírus que ocorrem na soja, pode-se dizer que existem cerca de 40 que já foram identificadas no Brasil. Esse é um número bastante expressivo, e a cada ano surgem novas doenças que complementam esse número. Diversos fatores têm contribuído para isso, é claro, como a própria monocultura ou a sucessão soja/milho safrinha no cerrado, não se constituindo por si só uma rotação de cultura pela própria definição do termo. Com isso, os restos culturais são uma forma de aumento de patógenos, além do fato de que existem muitas áreas irrigadas que têm plantio de soja no outono/inverno como forma de produção de sementes, fazendo com a cultura esteja presente durante todo o ano. Outro fator a ser considerado é o próprio melhoramento genético para obtenção de novas variedades, que muitas vezes prioriza determinadas características vinculadas ao aumento de produtividade e descarta características intrínsecas da própria planta vinculada a resistência natural, não que isso não seja importante, pois é claro existem hoje inúmeras variedades hoje com excelente potencial produtivo, fruto da brilhante pesquisa nesse segmento, que até possibilitou o plantio da cultura em diversas regiões e situações do país. Mais um fator, a maioria dos patógenos é transmitida através das sementes e, portanto o uso de sementes sadias ou o tratamento das sementes torna-se vital para a não disseminação e a introdução da doença no ciclo produtivo. Com relação ao uso de sementes totalmente sadias, pode-se dizer que o uso entre os agricultores não é totalmente generalizado, com muitos deles reproduzindo suas próprias sementes até os dias de hoje, desconsiderando aspectos essenciais de sanidade. Agora com relação ao uso do tratamento de sementes, essa tecnologia acabou se disseminando com grande força, sendo que a grande maioria dos agricultores a consideram importante, principalmente quando os benefícios são evidenciados após um período de estiagem logo após o plantio, mas o tratamento de sementes até uma década atrás não tinha toda essa força. A seguir, constam os nomes comuns e aos agentes causais de doenças que ocorrem na soja ocasionadas por fungos, bactérias, vírus e nematóides: 2. Doenças Fúngicas Crestamento foliar de Cercospora e Mancha púrpura da semente Cercospora kikuchi Ferrugem Phakopsora meibomiae Mancha foliar de Alternaria Alternaria sp. Mancha foliar de Ascochyta Ascochyta sojae Mancha parda Septoria glycines Mancha “olho-de-rã” Cercospora sojina Mancha foliar de Myrothhecium Myrothecium roridum Oídio Microsphaera diffusa Míldio Peronospora manshurica Mancha foliar de Phyllosticta Mancha alvo Mela ou requeima da soja Antracnose Phyllosticta sojicola Corynespora cassiicola Rhizoctonia solani Colletotrichum dematium truncata Necrose da base do pecíolo etiologia não identificada var. 150 Seca da haste e da vagem Phomopsis spp. Seca da vagem Fusarium spp. Mancha de levedura Nematospora corily Podridão branca da haste Sclerotinia sclerotiorum Podridão parda da haste Phialophora gregata Podridão da raiz e da haste Phytophthora megasperma f. sp. sojae Cancro da haste Phomopsis phaseoli f.sp. meridionalis Podridão de carvão Podridão radicular de Cylindrocladium Macrophomina phaseolina Cylindrocladium clavatum Tombamento e murcha de Sclerotium Sclerotium rolfsii Tombamento e morte em reboleira Rhizoctonia solani Podridão vermelha da raiz Fusarium solani f.sp. glycines Podridão radicular de Rosellinia Rosellinia sp. Podridão radicular de Corynespora Corynespora cassiicola 3. Doenças Bacterianas Crestamento bacteriano Pseudomonas syringae pv. glycinea Pústula bacteriana Xanthomonas campestris pv. glycines Fogo selvagem tabaci Pseudomonas syringae pv. 4. Doenças Causadas por Vírus Mosaico comum da soja Vírus do Mosaico Comum da Soja Queima do broto Vírus da necrose Branca do Fumo Mosaico amarelo do feijoeiro Vírus do Mosaico Amarelo do Feijoeiro Mosaico cálico Vírus do Mosaico da Alfafa 5. Doenças Causadas por Nematóides Nematóide de galhas Meloigogyne incognita Meloidogyne javanica Meloidogyne arenaria Nematóide de cistos Heterodera glycines Analisando-se então as doenças foliares, principal abordagem do assunto, estudos comprovam que, sob condições favoráveis, as populares DFCs (Doenças de Final de Ciclo) chegam a reduzir o rendimento da soja em mais de 20%, o que vale a uma perda anual aproximada de seis milhões de toneladas (100 milhões de sacas), o que representa em valores, cerca de 1 bilhão de dólares, considerando-se o preço médio da saca de US$ 10,00. Esse, sem dúvida, é um aspecto que contribui para reduzir o rendimento médio da soja a nível nacional, Contudo, é válido considerar que com o advento do controle químico nos últimos anos e a sua enorme expansão, que será abordado posteriormente, esse montante vem caindo a cada ano. Dentro das DFCs, existem três doenças a serem consideradas como de grande importância, como a mancha “olho-de-rã” (Cercospora 152 sojina), a mancha parda (Septoria glycines) e o crestamento foliar ou mancha púrpura (Cercospora kikuchi). O oídio (Microsphaera diffusa) também tem sido considerado uma doença altamente expressiva, mas sua ocorrência normalmente se dá antes do final do ciclo da cultura. Mancha “olho -de-rã” (C. sojina) Ø Condições ideais: temperaturas médias entre 24 e 28 ºC, duração do molhamento foliar ideal de uma hora e a precipitação pluvial no período de ocorrência favorecem o estabelecimento do patógeno; Ø Aspectos epidemiológicos: transmitido pelas sementes contaminadas, o patógeno sobrevive em restos culturais, existem vários hospedeiros para o patógeno, a doença é do tipo policíclica, isto é, existem várias infecções durante a mesma safra, os propágulos do patógeno são disseminados pelo vento a longas distâncias e a distribuição na lavoura ocorre de forma generalizada; Ø Formas de controle: uso de sementes livres da doença, rotação de culturas, uso de variedades resistentes, enterrio dos restos culturais e emprego do controle químico através de fungicidas. Mancha parda (S. glycines) Ø Condições ideais: temperaturas médias entre 16 e 18 ºC, duração do molhamento foliar ideal de seis horas e a precipitação pluvial no período de ocorrência favorecem o estabelecimento do patógeno; Ø Aspectos epidemiológicos: transmitido pelas sementes contaminadas, o patógeno sobrevive em restos culturais, a doença é do tipo policíclica, os propágulos do patógeno são disseminados pelo vento a longas distâncias, os propágulos são disseminados pelos respingos da chuva e pelo vento a longas distâncias, e a distribuição na lavoura ocorre de forma generalizada; Ø Formas de controle: uso de sementes livres da doença, rotação de culturas, uso de variedades resistentes (resistência parcial, com necessidade de complemento com outras medidas de controle), enterrio dos restos culturais e emprego do controle químico através de fungicidas. Crestamento foliar ou Mancha púrpura (C. kikuchi) Ø Condições ideais: temperaturas médias entre 28 e 30 ºC, duração do molhamento foliar ideal de 24 a 48 horas e a precipitação pluvial no período de ocorrência favorecem o estabelecimento do patógeno; Ø Aspectos epidemiológicos: transmitido pelas sementes contaminadas, o patógeno sobrevive em restos culturais, existem vários hospedeiros para o patógeno, a doença é do tipo policíclica, isto é, existem várias infecções durante a mesma safra, os propágulos do patógeno são disseminados pelo vento a longas distâncias e a distribuição na lavoura ocorre de forma generalizada; Ø Formas de controle: uso de sementes livres da doença, rotação de culturas, uso de variedades resistentes (resistência parcial, com necessidade de complemento com outras medidas de controle), enterrio dos restos culturais e emprego do controle químico através de fungicidas. Crestamento foliar ou Mancha púrpura (C. kikuchi) Ø Condições ideais: temperaturas médias de 18 ºC; Ø Aspectos epidemiológicos: existem vários hospedeiros para o patógeno, a doença é do tipo policíclica, isto é, existem várias infecções durante a mesma safra, os propágulos do patógeno são disseminados pelo 154 vento a longas distâncias e a distribuição na lavoura ocorre de forma generalizada; Ø Formas de controle: uso de variedades e emprego do controle químico através de fungicidas. Ø Apesar de se considerar como importante para a redução de diversas doenças o uso de sementes isentas do patógeno, a rotação de culturas, o enterrio de restos culturais e o uso de variedades resistentes, na prática normalmente isso não ocorrem na íntegra, visto que como foi comentado anteriormente, o uso de sementes totalmente sadias nem sempre são utilizadas, fazendo com que haja a introdução da doença não só na lavoura implantada como nas proximidades, através da disseminação dos propágulos pelo vento. Ø A rotação de culturas, apesar de ser plenamente aconselhada, nem sempre ocorre porque toda a estrutura produtiva do agricultor, assistência técnica e infra estrutura de recebimento, na maioria das vezes estão voltadas para poucas culturas, como existe atualmente no cerrado (soja, milho e algodão), inviabilizando a introdução de outras culturas que promoveriam a redução dos patógenos. Dependendo da região, o enterrio também não é uma prática a ser aconselhada com veemência, pois estaria se destruindo todo um sistema positivamente implantado de enormes vantagens atualmente que é o plantio direto. Ø O uso de variedades resistentes é sem dúvida a melhor forma de controle das doenças, o entrave se dá no fato de que a resistência não é completa para todas as doenças, e quando é, muitas vezes a variedade não é altamente produtiva ou não aconselhada na região a ser implantada. Dessa forma, em função desses aspectos, o uso do controle químico com o emprego de fungicidas vem se generalizado, e a cada ano mais agricultores se beneficiam dessa tecnologia. Instituições renomadas recomendam o emprego dessa técnica, como a Embrapa Soja. Na Tabela 1, constam os principais fungicidas recomendados para DFCs, extraídos da XXII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central de Brasil. Tabela 1. Fungicidas recomendados para doenças de final de ciclo. XXII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Cuiabá, MT. 2000. Nome comum Nome Dose comercial i.a. ¹(gr/ha) p.c.² (gr ml/ha) 1. Azoxystrobin + Priori + Nimbus 50 + 224 200 + 500 Adjuvante 2. Benomyl Benlate 250 500 3. Carbendazin Derosal / 250 500 50 200 Bendazol 4. Difenoconazole Score 5. Tiofanato Metílico Cercobin 500 300 a 400 600 a 800 SC 6. Tebuconazole Folicur / 150 750 Constant ¹ ingrediente ativo; ² produto comercial Na Tabela 2, constam os principais fungicidas recomendados para oídio (M. diffusa), extraídos da XXII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central de Brasil. O carbendazin (Derosal) é sem dúvida um dos produtos pioneiros nesse segmento, com eficiência e custo/benefício favorável, comprovado 156 a cada safra por milhares de sojicultores. No caso das DFCs, para se maximizar o controle, a aplicação dos fungicidas deve ser feita entre os estádios de desenvolvimento R5.1 e R5.5 e se até esses estádios as condições climáticas estiverem favoráveis à ocorrência das doenças. Já no caso do oídio, o momento da aplicação depende do nível de infecção e do estádio de desenvolvimento da soja, sendo que a aplicação deve ser feita quando o nível de infecção atingir 40 a 50% da área foliar. A aplicação deve ser repetida se, após 10 a 15 dias da primeira aplicação, for observada evolução da doença e desde que a soja não tenha atingido o estádio R6, quando não há mais necessidade de aplicações para o controle dessa doença. Tabela 2. Fungicidas recomendados para o controle de oídio (M. diffusa). XXII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Cuiabá, MT. 2000. Nome comum NOME Dose COMERCIA L i.a. ¹(gr/ha) p.c.² (gr ml/ha) 1. Benomyl Benlate 250 500 2. Condor 50 a 60 250 a 300 Bromuconazole 3. Carbendazin Derosal / 250 500 50 200 Bendazol 4. Score Difenoconazole 5. Tiofanato Cercobin Metílico 500 300 a 400 600 a 800 SC 6. Tebuconazole Folicur / 150 750 Constant 7. Enxofre Kumulus 2000 2500 ¹ ingrediente ativo; ² produto comercial Com a implantação e a difusão cada vez mais permanente dessa forma de controle nas diversas fronteiras agrícolas da soja, é possível minimizar os prejuízos dessas principais doenças foliares, fazendo com que a média de produtividade da cultura venha a aumentar, superando os atuais 2300 kg/ha, além de se poder fazer uso de variedades altamente produtivas que não tenham uma resistência completa a todas as doenças, e de se preservar um sistema de plantio reconhecido como extremamente valioso que é o plantio direto, eliminando-se, portanto em muitos casos o enterrio. 6. Bibliografia Consultada EMBRAPA . Centro nacional de Pesquisa de Soja (Londrina, PR). Recomendações técnicas para a cultura da soja na região central do Brasil 1999/2000. Londrina, 1999. 226p (EMBRAPA-CNPSo). Documentos, 132). HENNING, A.A.; CAMPO, R.J.;S FREDO, G.J. Tratamento com fungicidas, aplicação de micronutrientes e inoculação de sementes de soja. Londrina: EMBRAPA-CNPSo, 1997. 6p. (EMBRAPA-CNPSo. Comunicado Técnico, 58). HOMECHIN, M. Rotação de culturas e a incidência de patógenos da soja. EMBRAPA-CNPSo, 1983. 6p. (EMBRAPA-CNPSo. Pesquisa em andamento, 6). 158 YORINORI, J.T.; HOMECHIN, M. Doenças de soja identificadas no Estado do Paraná no período de 1971 a 1976. Fitopatol. Bras.,.2: 108, 1977. PLANTIO D IRETO DE CULTURAS DE S UCESSÃO SOBRE PALHADA DE CANA CRUA Pesquisador Científico Denizart Bolonhezi1 & Oswaldo Siroshi Tanimoto2 1 Engo .Agrônomo, Instituto Agronômico de Campinas, Núcleo de Agronomia da Alta Mogiana, Ribeirão Preto/SP, Cx. Postal 271. E- mail: [email protected] 2 Engo .Agrônomo, Consultor Técnico da CATI – Casa da Agricultura de Aramina/SP, tel: (16)-3752-1324 1. Introdução O Brasil é o segundo país em área cultivada com Sistema Plantio Direto (SPD), estimando-se cerca de 13,47 milhões de ha, que representam 25% da área total utilizada para agricultura (DERPSCH, 2000). Dentre as vantagens já comprovadas pela pesquisa e validadas pelos agricultores, a redução no custo de produção e a maior disponibilidade de água para as culturas tem sido apregoadas, mais recentemente, como as principais razões para adoção do sistema. Nos últimos dois anos, a área do Estado de São Paulo com SPD aumentou cerca de 670%, podendo-se estimar que na safra 2000/01, aproximadamente 600 mil ha foram cultivados neste sistema (TANIMOTO, 2001). Contribuiu para este crescimento; o estímulo governamental através de crédito para compra de implementos (4% de juros ao ano), a realização de diversos eventos de divulgação e o surgimento de duas novas situações de renovação de áreas agrícolas, que são; produção de grãos sobre canaviais colhidos mecanicamente sem despalha à fogo (“cana crua”) e sobre pastagens degradadas. As empresas do setor sucro-alcooleiro paulistas, em função de legislação (Decreto Estadual no 41.719/97 e no 42.056/97) vem tendo que reduzir gradativamente as queimadas de canaviais. Consequentemente tem ocorrido aumento do uso de máquinas colhedoras de “cana crua”, que deixam sobre a superfície do solo, após a colheita, cerca de 15 t.ha -1 de matéria seca, formando uma camada de palhada de 8 a 10 cm de espessura. Pode-se dizer, que somente na região de Ribeirão Preto-SP, próximo de 50% das áreas são colhidas sem queimadas. Considerando que anualmente são renovados 150 mil ha colhidos sem queimar, somente no Estado de São Paulo, o SPD da cultura de sucessão sobre palhada de cana-de-açúcar, surge como uma expressiva e inovadora iniciativa. Os pioneiros desta iniciativa são técnicos e produtores da região NE de São Paulo que vem há três anos, através de observações de campo conseguindo bons resultados, sobretudo com a soja. Concomitantemente, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), iniciou pesquisas que tem ajudado a elucidar algumas questões. Todavia, em virtude da complexidade deste novo ambiente agrícola, existem muitas dúvidas a serem esclarecidas. Sendo assim, este texto tem como objetivos; fornecer um referencial teórico, reunir resultados parciais e apresentar alguns aspectos que podem se constituir em demandas de pesquisa. 160 2. Característica deste Sistema de Produção No sistema de produção da cana-de-açúcar em São Paulo, desde o final da década de 70, é preconizado, por ocasião da renovação dos canaviais, o cultivo de culturas graníferas com os objetivos de gerar receita e proporcionar os benefícios da rotação de culturas. Normalmente, são mais indicadas espécies leguminosas, procurando além do fornecimento de nitrogênio, melhorar as características físicas e biológicas do solo, reduzir a população de patógenos, nematóides e outras pragas. Embora predomine o cultivo de soja e amendoim, o uso de espécies de adubos verdes, principalmente de Crotalaria juncea e mucuna preta, é prática comum em algumas áreas, podendo proporcionar aumentos na produção de 22 a 47%, o que representa um acréscimo de até 5 t .ha -1 de açúcar (MASCARENHAS & TANAKA , 2000). O sistema plantio direto vem agregar a estes objetivos, os benefícios de não movimentar o solo no período de maior pluviosidade, reduzindo os riscos com erosão. Neste sistema, todas as operações de preparo do solo são substituídas pela destruição química da soqueira da cana-de-açúcar com herbicida sistêmico (de 5 a 6 L.ha -1 de glifosate), que deve ser realizada quando as plantas estiverem em torno de 60 cm de altura. Os canaviais colhidos de junho até primeira quinzena de setembro favorecem o manejo químico e possibilitam a semeadura da soja em tempo hábil, liberando as áreas para plantio da “cana de ano e meio”. De maneira geral, as áreas destinadas à colheita mecanizada sem queimar, são sistematizadas, extensas e mais próximas das cidades, consistindo em vantagem para o arrendatário. A presença da palhada, além de conservar maior umidade por ocasião da semeadura, uniformizando a emergência das plântulas, contribui para economizar no uso de herbicidas pósemergentes. A redução no número de operações economiza até 71% no consumo de diesel, 62% na mão-de-obra e aumenta a vida útil dos tratores (trabalho sem poeira). Por outro lado, a adoção deste sistema exige investimento em semeadoras adequadas e maior conhecimento técnico do produtor (TANIMOTO, 2001). 3. Referencial Teórico Com relação ao plantio direto da soja, grande parte do acervo de informações encontrado na literatura pode ser adaptado para a condição de palhada de cana-de-açúcar, principalmente os conhecimentos sobre manejo de herbicidas. Todavia, frequentemente surgem dúvidas sobre a aplicação de N na semeadura, mas foi constatado, em solos recebendo grande quantidade de resíduos vegetais (até 26 t.ha -1 de matéria seca com alta relação C/N), que não houve nenhuma resposta à aplicação de até 30 kg de N/ha. Outros trabalhos indicam que as taxas máximas de fixação biológica de nitrogênio ocorrem após o florescimento, não justificando qualquer suplementação com fertilizante nitrogenado, que poderia inibir a atividade das bactérias simbióticas fixadoras de nitrogênio (HUNGRIA & CAMPO, 2000). Estes autores alertam que os solventes utilizados em fungicidas podem ser tóxicos ao Bradyrhizobium, reduzindo drásticamente a sua população e consequentemente os benefícios da fixação biológica do nitrogênio. BOLONHEZI et al.(2000), através de pesquisa realizada em Ribeirão Preto/SP, avaliaram dentre outras características a produção da cultivar de soja IAC-Foscarin 31 com diferentes doses de calcário no sistema convencional e plantio direto sobre palhada de cana-de-açúcar. 162 Verificaram que não houve diferença significativa entre o convencional (2882 kg.ha -1 ) e o sistema plantio direto (2772 kg.ha-1 ), na média das doses de calcário. Neste projeto iniciado em 1998, que está em andamento, após a colheita da soja foi realizado o plantio de cana-deaçúcar nos dois sistemas.TASSO JÚNIOR (2000), em estudo comparativo do comportamento das culturas de amendoim, soja e milho, no sistema plantio direto sobre palhada de cana-de-açúcar, constatou um aumento significativo na produção de grãos de soja e milho no sistema plant io direto. Para as cultivares de amendoim avaliadas, verificou redução na produção de grãos, embora a análise dos custos de produção tenham indicado maior renda líquida. Nesta última safra, TANIMOTO (2001), avaliou 13 cultivares de soja através de parcelas demonstrativas, obtendo produções que variaram de 2.705 kg.ha -1 (cv BRS-133) até 3288 kg.ha -1 (cv. Vencedora). Nesta avaliação, não houve diferença entre as produções de grãos de algumas cultivares, quando semeadas em condição de palhada e de cana queimada. Vale mencionar, que o custo de produção por saco de soja, média de todas as cultivares, foi de R$15,39 no convencional e R$ 13,35 no sistema plantio direto. Convém salientar que para a cultura do amendoim, devido as peculiaridades morfo-fisiológicas desta espécie, que desenvolve seus frutos na sub-superfície do solo, trabalhos na literatura nacional que versem sobre a viabilidade de sua implantação no sistema plantio direto são quase inexistentes. Estudos de produção de amendoim em plantio direto ou em cultivo mínimo, comparativos ao preparo de solo convencional, têm sido feitos em outros países, geralmente associados a plantios em sucessão a outras culturas anuais. Entretanto, essas práticas são ainda pouco difundidas por causa da preocupação com as perdas quantitativas e qualitativas de produção. No Texas (EUA), o amendoim produzido sobre plantio direto apresentou perdas de produtividade da ordem de 33% (GRICHAR & BOSWELL, 1987). No Estado de Virginia (EUA), dois sistemas de cultivo mínimo foram estudados, tendo-se observado reduções médias de 19% na produtividade em relação ao tratamento convencional, e resultados inconsistentes com relação ao tamanho dos grãos comerciais (WRIGHT & PORTER, 1991). Estudando formas de reduzir a erosão, W RIGHT (1991) avaliou sistema de semeadora com implemento que realiza preparo de solo em faixa na linha de semeadura, e verificaram ganhos em torno de 10% em produtividade, em relação às práticas convencionais. SHOLAR et al. (1995) revisaram a literatura sobre produção de amendoim em plantio direto ou cultivo mínimo, e observaram resultados variados com relação aos efeitos dos sistemas conservacionistas sobre a população final de plantas, produtividade e qualidade comercial dos grãos. Em alguns ambientes, as produções foram iguais ou maiores do que no sistema convencional. A maioria dos trabalhos mencionada anteriormente atribui ao desempenho negativo do plantio direto do amendoim, à presença de resíduos da cultura anterior, que favorecem o desenvolvimento de doenças nas vage ns, principalmente ocasionadas por Sclerotium rolfsii. Entretanto, um interessante estudo realizado por PORTER & WRIGHT (1991) no Estado de Virginia (EUA), concluiu que tanto a incidência (% de infecção) quanto a severidade (% de queda de folhas) de Cercospora arachidicola (“pinta preta” ou “manha castanha”) foram significativamente diminuídas no SPD. Estes autores explicam que a 164 palhada reduziu a dispersão até as folhas, pelas gotas da chuva, das estruturas do fungo presentes no solo. Trabalhos conduzidos no Estado da Georgia (EUA), verificaram menor infestação por Thrips sp. e menor severidade de Rhizoctonia sp. no sistema cultivo mínimo. GRISCHAR & SMITH (1992), observaram em cinco cultivares diferentes, que em condição de menor umidade, a infecção por Sclerotium rolfsii foi menor no plantio direto. Considerando que a cultura do amendoim apresenta maiores dificuldades técnicas para seu cultivo no SPD e cientes da falta de estudos realizados até o presente, BOLONHEZI et al. (2001), vêm conduzindo em Ribeirão Preto/SP, experimentos comparando os sistemas convencional (arado de aiveca e grade), cultivo mínimo (subsolador) e plantio direto de duas cultivares de amendoim sobre palhada de cana-deaçúcar. Os dados parciais, demonstraram que a produção de grãos foi 30% maio no SPD em relação ao convencional, mesmo com redução de 16% na população final de plantas. Pode-se inferir, que a grande quantidade de palhada de cana (cerca de 10 t.ha -1 ) nas parcelas do tratamento plantio direto, contribuiu para aumentar a disponibilidade de água, atenuando a deficiência hídrica ocorrida no período e refletindo em um aumento de 9 % no rendimento de grãos (Tabela 1). É importante comentar que os resultados referentes ao ano agrícola 2000/01, ainda não tabulados, sinalizam redução na produção de grãos para a cultivar IACTatu ST no SPD. Os mesmos tratamentos avaliados em condição de palhada de cana-de-açúcar, estão sendo testados sobre Brachiaria sp., buscando responder a realidade da região oeste do Estado de São Paulo, na qual a cultura do amendoim entra em sucessão com pastagem, predominando semeadura na época da seca. 4. Considerações Finais O resultados experimentais gerados até o momento não são suficientes para formalizar uma recomendação oficial. Porém, as observações de campo validam esta tecnologia que, no caso da soja apresentam produções nos mesmos patamares do sistema convencional e com a grande vantagem de reduzir custos, além de preservar o solo. Dentre as demandas de pesquisa a serem sugeridas, convém serem destacados para o contexto da cultura da soja os seguintes temas: estudo de aplicação de micronutrientes (molibdênio e cobalto), inoculação com estirpes melhoradas de Bradyrhizobium versus aplicação de nitrogênio na semeadura, avaliação de genótipos de soja ma is adaptados ao SPD na palhada, distribuição do sistema radicular, máquinas eficientes para solos argilosos e fungicidas para tratamento de sementes. Com relação a cultura do amendoim, ainda são importantes estudos comparativos entre os diferentes sistemas de cultivo, procurando quantificar e qualificar melhor os resultados obtidos no SPD. Vale destacar a necessidade de pesquisas sobre a viabilidade do arranquio mecânico das plantas no SPD, que parece ser dificultado pela soqueira da cana-de-açúcar. Convém salientar a necessidade de pesquisas sobre: a aplicação de doses de cálcio (gesso e calcário) em superfície, o uso de inoculantes, doses de nitrogênio na semeadura, comportamento de cultivares com portes diferentes (rasteiros e eretos), incidência e severidade de manchas foliares e fungos de solo, além do controle de pragas (cochonilhas de raiz e cupins). Devido à maior umidade nas 166 vagens ocasionada pela palhada, podem aumentar os riscos de aparecimento de alfatoxina. A possibilidade de realizar o plantio direto mecanizado da canade-açúcar, após a cultura de sucessão ou sobre cana (“cana de ano”), poderá intensificar os problemas ocorridos com ataques de cigarrinhas (Mahanarva posticata e M. fimbriolata), que já vem ocasionando sérios prejuízos em áreas de colheita sem queima. Outras pragas como Migdolus spp. e cupins também podem ter seu controle dificultado. Existem relatos sobre a possibilidade de aumento de populações de roedores e tatus em áreas de “cana crua”, que necessitariam de novas investigações. Tabela 1.Comportamento de duas cultivares de amendoim semeadas no sistema convencional, cultivo mínimo e plantio direto sobre palhada de cana-de-açúcar. Ribeirão Preto/SP, 2000. Sistema Amend Produç No de Mass Massa Stand Rendim De oim ão de Vage a de das Final ento de Cultivo em grãos ns 100 hastes (pl/48 grãos(% (SC) casca (kg.ha - por Grão (g/100 m2 ) ) - 1 (kg.ha ) plant s (g) pl) 1 ) a Convencio 1746 1054 B 8.5 A 59.1 1338 119 A 62.4 B nal A A A Cultivo 1849 1267 10.0 57.8 1011 B 102 B 68.5 A Mínimo A AB A A Plantio 1881 1350 9.2 58.2 910 B 103 B 71.4 A Direto A A A A Teste F 0.53 ns 5.55 * 2.68 0.98 9.62 * 12.2 11.28 ** d.m.s 421 282 ns ns 313 ** 5.9 (Tukey5%) 1.6 2.9 12 Cultivares (C) IAC-Tatu 1735 B 1168 3.5 B 45.9 591 B 78 B 66.6 A ST A B IAC1917 1279 14.8 70.8 1582 138 A 68.3 A Caiapó A A A A A Teste F 9.62 * 3.64 ns 284.6 253.4 186 ** 447.94 2.08 ns d.m.s 132 132 ** ** 165 ** 2.6 (Tukey5%) 1.5 3.5 7 Interação SC x C Teste F 6.89 * 3.10 ns 1.09 2.22 5.23 * 5.25 * 0.50 ns C.V.(%) 15.0 15.0 ns ns 18.8 7.3 5.7 parcela 7.9 11.7 11.9 3.2 16.4 6.5 4.2 C.V.(%) 17.8 6.5 subparcela Fonte: BOLONHEZI et al. (2001), dados enviado para o XXVIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo. . Bibliografia BOLONHEZI, D.; CANTARELLA , H.; PEREIRA , J.C.V.N.A. & LANDELL, M.G.A. Produção de soja com diferentes doses de calcário no sistema convencional e plantio direto sobre palhada de cana-de-açúcar. In: Fertbio 2000, UFSM, 2000. (CD –ROM). BOLONHEZI, D.; P EREIRA , J.C.V.N.A.: DE SORDI, G.; GODOY, I.J. & CANTARELLA , H. Comportamento de duas cultivares de amendoim nos sistemas, convencional, cultivo mínimo e plantio direto sobre palhada de cana-de-açúcar. In: Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, EMBRAPA-CNPSO, 2001. (no prelo) DERPSCH, R. A Expansão Mundial do Plantio Direto. Revista Plantio Direto, 59: 32-40, 2000. GRICHAR, W.J. & BOSWELL, T.E. Comparison of no-tillage, minimum, and full tillage cultural practices on peanuts. Peanut Science, 14: 101-103, 1987. 168 GRICHAR, W.J. & SMITH, O.D. Interaction of tillage and cultivars in peanut production systems. Peanut Science, 19: 95-98, 1992. MASCARENHAS, H.A.A. & TANAKA , R.T. Soja e adubos verdes, uma boa opção na renovação do canavial. O Agronômico, 52: 19, 2000. MINTON, N.A. CSINOS, A.S.;L YNCH, R.E. & BRENNEMAM, T.B. Effects of two cropping and two tillage systems and pesticides on peanut pest management. Peanut Science, 18: 41-46, 1991. HUNGRIA , M. & CAMPO, R.J. Interrelações da microbiologia com a fertilidade do solo. In: Fertbio 2000, 2000. (CD –ROM). PORTER, D.M. & W RIGHT, F.S. Early leafspot of peanuts: Effect of conservational tillage practices on disease development. Peanut Science, 18: 1991. SHOLAR, J.R.; MOZINGO , R.W. & BEASLEY Jr., J.P. Peanut Cultural Practices. In: Patee, H. E. & Stalker, H.T. eds. Advances in Peanut Science, American Peanut Research and Education Society, Stillwater, OK, 1995, p.354-382. TANIMOTO, O. Plantio direto de soja na palhada de cana-deaçúcar.(Comunicação Pessoal) TASSO JÚNIOR, L.C. Comportamento das culturas de amendoim, milho e soja implantadas no sistema de plantio direto na palha residual da colheita mecanizada da cana crua. UNESP, Jaboticabal,2000. 82 p. WRIGHT, F.S. & PORTER, D.M. Digging date and conservational tillage influence on peanut production. Peanut Science, 18: 72-75, 1991. WRIGHT, F.S. Alternative tillage practices for peanut production in Virginia. Peanut Science, 18: 9-11, 1991. BARREIRAS FITOSSANITÁRIAS NA COMERCIALIZAÇÃO NO M ERCOSUL Pesquisador Científico Adalton Raga Eng. Agrônomo, Laboratório de Entomolo gia Econômica, Centro Experimental do Instituto Biológico, Instituto Biológico, Cx. Postal 70, CEP 13001-970, Campinas-SP, tel. (19) 3252-8342. E- mail: [email protected] Nas últimas duas décadas foram relevantes os esforços brasileiros para o incremento da cooperação econômica, buscando inserir o país no mercado globalizado, regido por tratados e acordos de livre comércio. O comércio internacional e o turismo são setores de destaque no mundo moderno, apresentando um ritmo acelerado de crescimento e conseqüentemente, elevando os riscos de introdução de organismos exóticos. Pragas e patógenos movem-se para novas áreas de foram direta ou indireta. A dispersão pode ser auxiliada por fenômenos naturais. Contudo, o próprio homem é um aliado de pragas exóticas, movendo vegetais e produtos alimentícios infestados para novas áreas com condições ambientais favoráveis. Os sistemas quarentenários visam proteger seus recursos, através da adoção de medidas legais baseadas em pesquisas relacionadas com a prevenção, interdição, detecção, erradicação e manejo das pragas invasoras chaves. Para o país importador, a avaliação de risco da introdução de pragas exóticas sinaliza a responsabilidade pela proteção dos recursos ambientais, sociais e econômicos de sua comunidade. Ao lado da definição dos agentes mais nocivos está a eleição das 170 mercadorias denominadas “críticas”, consideradas de extremo risco. As frutas e outros vegetais frescos são vegetais considerados de alto risco no comércio internacional porque podem conter pragas e doenças exóticas. A Rodada do Uruguai (GATT) incluiu um acordo, estabelecendo que todas as políticas e regras fitossanitárias devem ter base científica e avaliação de riscos transparente, estabelecidas sob a forma de quarentenas e outras medidas que protejam os países importadores do risco da introdução de pragas e doenças. Em 1989 iniciaram-se as atividades do Comitê de Sanidade Vegetal do Cone Sul (COSAVE), uma organização regional de proteção fitossanitária, integrada pela Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. As normas e os procedimentos fitossanitários no âmbito do Mercosul (standards verticiais) foram adotados de forma harmoniosa com o COSAVE (standards horizontais), permitindo um ganho de qualidade na comercialização regional de produtos agrícolas. Um exemplo disso é o formato do Certificado Fitossanitário Único para o Mercosul, aprovado em julho/1992 (Resolução nº44/92). A Portaria nº 180 do Ministério da Agricultura do Brasil, de 21/03/1996 (DOU 25/03/96 –supl.), tornou oficial a adoção de padrões normativos fitossanitários do COSAVE e emitiu a lista de pragas quarentenárias da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Relativos ao Brasil, nela constam 221 pragas de importância quarentenária, acrescidas de outras listadas na Instrução Normativa SDA nº 38, de 14/10/1999 (DOU 26/10/99, S.1). As definições descritas abaixo são necessárias para um melhor entendimento das pragas listadas nas citadas publicações. Praga: qualquer espécie, raça ou biótipo de vegetais, animais ou agentes patogênicos, nocivos para os vegetais ou produtos vegetais. Praga Quarentenária: uma praga de importância econômica potencial para a área posta em perigo e onde ainda não está presente, ou se está, não se encontra amplamente distribuída e é oficialmente controlada. Praga Quarentenária A1: uma praga de importância econômica potencial para a área posta em perigo pela mesma e ainda não se encontra presente. Praga Quarentenária A2: uma praga de importância econômica potencial para a área posta em perigo pela mesma e onde ainda não se encontra amplamente distribuída e é oficialmente controlada. Praga Quarentenária A2 Regional: aquela que apresenta distribuição localizada e está submetida a controle oficial por um ou mais países da região. Praga Não Quarentenária Regulamentada: uma praga não quarentenária cuja presença em plantas, ou parte destas, para plantio, influi no seu uso proposto com impactos econômicos inaceitáveis. O Acordo de Alcance Parcial para Facilitação do Comércio nº 5 no âmbito do Mercosul (Acordo de Recife), promulgado pelo Decreto 1280, de 14/10/1994 e seus protocolos adicionais visam padronizar e integrar os controles aduaneiros, migratórios, fitossanitários, zoossanitários, e de transporte, facilitando o intercâmbio regional de mercadorias. Neste aspecto, a estrutura de ação fitossanitária segue como medida estratégica para não fragilizar a atuação dos mercados, nos seus diversos níveis. O Brasil segue em passos rápidos para dinamizar o 172 comércio regional e facilitar a internacionalização dos mercados agropecuários, disponibilizando os registros fitossanitários, como por exemplo, através do Sistema Nacional de Informação Fitossanitária. Este sistema, atualmente em implantação no Ministério da Agricultura, vai permitir o desenho e a adoção de Programas Fitossanitários mais efetivos e vai fornecer maior transparência às certificações. CERTIFICADO FITOSSANITÁRIO DE ORIGEM Eng. Agrônomo. José Alberto Monteiro Escritório de Defesa Agropecuária/ Sec. Agricultura e Abastecimento do Est. São Paulo Av. Jerônimo Gonçalves, 64- Ribeirão Preto. E-mail: eda- ribeirã[email protected] A Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, através da Instrução Normativa nº 6, de 13 de março de 2000, resolve: Criar o Certificado Fitossanitário de Origem Consolidado –CFOC- e alterar o Certificado Fitossanitário de Origem- CFO – 1- passando a existir um modelo único para todos os estados. 2- os certificados deverão ter a identificação do órgão controlador . Os certificados são emitidos para atestar a qualidade fitossanitária na origem e são necessários para o transito de vegetais que possam ser veículos de pragas: Ø quarentenárias e Ø não quarentenárias regulamentadas. Ø e também para atender: Ø as exigências especificas do estado, Ø as exigências especificas de outros estados e Ø exigências para exportação. Os certificados, CFO e CFOC, subsidiarão a emissão da Permissão de Transito e também o Certificado de Sanidade de Origem Vegetal para Exportação, utilizados no transito: Ø intraestadual , Ø interestadual e Ø internacional. Ø Os certificados terão origem: Ø na propriedade rural , (CFO) Ø na unidade centralizadora e (CFOC) Ø na unidade processadora. (CFOC) Os lotes para emissão dos certificados serão formados: Ø por produtos recebidos e acompanhados de CFO ou de Permissão de Trânsito , Ø por produtos da mesma espécie e Ø preferencialmente com características fitossanitárias semelhantes e mesma origem. Os certificados serão emitidos por Engenheiros Agrônomos ou Florestais nas suas respectivas áreas, com registro ou visto junto ao 174 CREA/SP, após treinamento especifico por cultura e praga, organizado pela Coordenadoria de Defesa Agropecuária. Para extensão do credenciamento para “novas pragas”, o credenciado não precisará passar por curso completo. Os responsáveis pelas propriedades rurais e unidades centralizadoras ou processadoras de produtos vegetais, deverão manter obrigatoriamente no local, livro próprio de acompanhamento, com paginas numeradas, para registro de informações pelo profissional credenciado. O livro mantido no local deverá conter: Ø histórico da cultura, Ø datas das inspeções, Ø principais ocorrências fitossanitárias, Ø medidas de prevenção e controle adotadas e Ø outros dados julgados necessários, tais como climáticos, de solo, etc. Quanto a validade dos certificados: CFO - para cultura perene, até 30 dias - para cultura anual, ate 15 dias. CFOC - até 15 dias. Só terá validade o certificado original e sem rasuras. Quanto as faltas: 1- no rechaço de produto: - avisar o órgão responsável pela emissão da permissão de transito. 2- faltas relacionadas com a emissão dos certificados (CFO e CFOC): - serão formalmente apuradas pela Coordenadoria de Defesa Agropecuaria. 3- falta de livro de acompanhamento de campo: - advertência por escrito e - na reincidência , descredenciamenmto USO CORRETO E S EGURO DOS PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS Eng. Agrônomo Marçal Zuppi da Conceição Gerente de Educação e Treinamento da Associação Nacional de Defesa Vegetal – ANDEF - Rua Capitão Antônio Rosa 376 –13 andar- CEP 01443-010-São Paulo. E.mail: [email protected] A evolução e segurança no manuseio e uso de produtos fitossanitários têm sido notórias. Produtos específicos e seletivos para atender o manejo integrado de pragas, de baixa toxicidade ao aplicador e de baixo impacto ambiental aliados à grande eficiência agronômica, têm sido a tônica na área de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos fitossanitários. Tópicos Principais Sugeridos (resumo) Desde o alvorecer da agricultura, a produtividade das plantas cultivadas tem sido reduzida por pragas, doenças e pela competição com plantas daninhas e, desde então, os agricultores vêm buscando meios de limitar perdas e obter culturas mais sadias e produtos com melhor qualidade para comercialização. 176 De um modo geral, quanto mais intensivo for o sistema de produção, maiores serão os riscos de perdas, pela ação de diversos organismos competidores. Pesquisas têm sido feitas em todo País, visando desenvolver técnicas que controlem a instalação e propagação das pragas. Além do Manejo Integrado de Pragas, estudos tem sido dirigidos para o Manejo Integrado de Culturas, que, além do MIP, propõe a integração de várias técnicas agronômicas, tendo como um dos objetivos o uso racional dos defensivos agrícolas. Contudo, ao que tudo indica, haverá demanda por produtos fitossanitários por muitos anos, mesmo se procurando tratar os sistemas agrícolas como ecológicos, pois estes são por natureza, altamente instáveis. O Agro-Ecossistema é relativamente frágil, constituído de muitos indivíduos, porém de poucas espécies. Essa característica o faz tênue, suscetível ao desequilíbrio, mas indispensável para alimentar uma população mundial de 6,2 bilhões de pessoas atualmente no mundo. A Lei 7.802 (Lei dos Agrotóxicos) de 1989, e seu decreto regulamentador, número 98.816 / 90, tornaram extremamente rígidos no Brasil os controles dos produtos fitossanitários, desde a sua pesquisa, registro e produção, até a aplicação no campo. Nesta etapa, particularmente, as especificidades técnicas de manuseio e utilização, exigem a presença de assistência agronômica tanto mais assídua quanto menor o nível de qualificação da mão de obra rural. No Brasil, o engenheiro agrônomo configura o elo entre esse anseio e a realidade do campo. A Associação Nacional de Defesa Vegetal – ANDEF - vem decididamente trabalhando para que o uso inadequado e os erros ocorridos na história dos defensivos não mais se repitam. O profissional de agronomia tem sido o principal alvo nos programas de educação e treinamento de nossa associação. Os nossos objetivos quanto ao uso correto e seguro de têm sido: Ø segurança do aplicador Ø preservação do meio ambiente Ø produção de alimentos saudáveis Segundo informações do SINDAG (Sindicato Nacional da Indústria de Defensivos Agrícolas), em 1999 as vendas de produtos fitossanitários foram de 2.235.173 (US$ 1000). O mercado brasileiro é bastante competitivo, colocando ao alcance do nosso agricultor grande gama de produtos. Em junho/1999 tínhamos 256 ingredientes ativos registrados (em 1992 haviam 194) e 556 marcas comerciais. Quanto à classificação toxicológica (que é uma classificação de risco para quem manipula) estavam assim distribuídos (junho de 1999): Classe I (vermelho) 98 Classe II (amarelo) 165 Classe III (azul) 163 Classe IV (verde) 130 Quanto aos aspectos toxicológicos, vale salientar que os inseticidas, de um modo geral, sempre representam a classe de produtos com maior toxicidade. Também aqui se verifica o grande avanço que vem sendo obtido através da pesquisa, na busca de ingredientes ativos com menor toxicidade. Quando se trata da questão do uso seguro para o aplicador, é necessário estabelecer quais são as principais causas de acide ntes com os produtos, e como preveni-las. É preciso analisar: Ø Causas Distantes 178 Ø Causas Imediatas Ø Risco / Toxicidade /Exposição Ø Exposição dos Aplicadores Ø Condições Inseguras Ø Atos Inseguros Ø Teoria do Dominó (causas / efeitos) Ø Princípios de Segurança Ø Treinamentos Causas Distantes: estão relacionadas com antecedentes das pessoas. Exemplos: maus hábitos/ má educação/ falta de instrução. São falhas de comportamento de difícil correção. Causas Imediatas: são resultados da falta de treinamento, para desempenho de uma atividade expondo as pessoas a riscos. Risco: é a probabilidade de um produto fitossanitário causar efeitos adversos à saúde do aplicador. Depende da interação entre toxicidade e exposição. Risco = Toxicidade X Exposição. Na aplicação de produtos fitossanitários alguns fatores minimizam os riscos: Aquisição (Receituário Agronômico) Tecnologia de Aplicação Equipamentos de Proteção Individual Técnicas de Manuseio e Utilização Cada um desses fatores deve ser analisado. Condições inseguras e atos inseguros têm que ser evitados. Recentemente, a Lei Federal 9974, de 06.06.2000, regulamentada pelos Dec. Fed. 3550, de 27.07.2000 e 3694, de 21.12.2000, instituiu novas obrigações à indústria, às revendas e aos produtores rurais relativas à destinação final das embalagens de defensivos agrícolas. Às revendas cabe disponibilizar e administrar unidades de recebimento de embalagens de defensivos agrícolas, emitindo recibos de devolução, aos produtores fazer a tríplice lavagem dessas embalagens e devolvê- las às unidades de recebimento e à indústria de recolher e dar o destino final às mesmas: reciclagem ou incineração em fornos especiais. A ANDEF – Associação Nacional de Defesa Vegetal e suas associadas, preocupadas com a preservação do meio ambiente, já vinham estudando soluções e implantando centrais de recebimento de embalagens através de um programa implantado com diversos parceiros desde 1993. Esta legislação reflete a preocupação da sociedade em preservar o meio ambiente, contudo, se não houver educação e treinamento do homem do campo, os mesmos continuarão a queimar, enterrar ou jogar nos cursos d’água as embalagens vazias. A sociedade de nosso país, através da Lei 7.802, confiou ao profissional de agronomia grande missão: o uso correto e seguro dos produtos fitossanitários ! Temos certeza de que o desenvolvimento da percepção do risco, aliado a um conjunto de informações e regras básicas de segurança, através de programas de educação e treinamentos é de fundamental importância para eliminar as causas dos acidentes no campo e a garantia da preservação da saúde e do bem estar dos trabalhadores com produtos fitossanitários. PRAGAS Q UARENTENÁRIAS PERIOTO, N. W.Eng. Agrônomo, Laboratório de Sanidade Animal e Vegetal de Ribeirão Preto, Instituto Biológico. Rua Peru, 1472 -A, CEP 14075-310, Ribeirão Preto – SP. E. mail: [email protected] 180 A palavra quarentena tem sua origem no latim quadraginata e no italiano quaranta, que significa quarenta. No idioma italiano, a palavra quarantina foi originalmente aplicada ao período de 40 dias de isolamento que um navio, com seus passageiros e sua carga, era forçado a ficar ancorado no porto de chegada, quando proveniente de um local de ocorrência de doenças epidêmicas. Naquele período seriam detectados possíveis sintomas de doenças nos passageiros, antes de seu desembarque. O aumento do fluxo internacional de mercadorias verificado com o estabelecimento, a partir de meados da década de 1980, do capitalismo pan- mundial, popularmente conhecido como o fenômeno da globalização econômica, assim como o aumento no número de passageiros em viagens internacionais tornou o serviço de interceptação de pragas uma tarefa extremamente difícil, principalmente se levarmos em conta que estas pragas muitas vezes são desconhecidas e invisíveis a olho nu. Todos os países aplicam medidas para evitar a propagação de pragas vegetais que, por sua própria natureza, podem dar lugar a restrições do comércio e todos os governos reconhecem que é necessária e conveniente a aplicação de algumas restrições ao comércio a fim de garantir a inocuidade dos alimentos e a proteção sanitária dos animais e vegetais. No entanto, o que se tem visto com certa freqüência, é a utilização de pretensas medidas de caráter sanitário com o objetivo de restringir o livre comércio de mercadorias, como o recente acontecimento das restrições impostas ao Brasil na “crise da vaca-louca”. É provável que a utilização de tais artifícios se intensifiquem com a crescente diminuição de obstáculos ao comércio internacional. Uma restrição sanitária ou fitossanitária que não esteja realmente justificada por motivos pertinentes, pode ser um instrumento protecionista muito eficaz e, devido a sua complexidade técnica, um obstáculo especialmente enganoso e difícil de impugnar. O Brasil é signatário do Acordo Sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias, baseado nas precedentes normas do GATT, que tem por objetivo restringir a utilização injustificada de medidas sanitárias e fitossanitárias com fins de proteção comercial. O objetivo deste acordo é reafirmar o direito soberano de todo governo a garantir o nível de proteção sanitária que estime apropriado e evitar, ao mesmo tempo, que o mau uso desse direito se traduza sob a forma de imposição de obstáculos desnecessários ao comércio internacional. Este acordo garante que as medidas destinadas a garantir a inocuidade dos alimentos e o controle sanitário de animais e vegetais devem basear-se, na maior medida possível, na análise e na avaliação de dados científicos objetivos e estimula os governos a estabelecer medidas sanitárias e fitossanitárias nacionais que estejam em consonância com as normas, diretrizes e recomendações internacionais, quando estas existam. As normas internacionais, de forma geral, são mais estritas que as prescrições nacionais aplicadas em muitos países, inclusive em países desenvolvidos. No entanto, o acordo reconhece expressamente o direito dos governos de não utilizar tais normas. Para que um país utilize-se de prescrições mais severas que a norma internacional é necessária uma justificativa científica que demonstre, que nesse caso, a norma internacional não oferece um nível de proteção sanitária que o país considera apropriado. No Brasil, a inspeção fitossanitária é realizada por inspetores do Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal, da Secretaria de Defesa 182 Agropecuária do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, que verificam matérias de origem vegetal e a bagagem de passageiros que entram no país através de portos, aeroportos e outros pontos de entrada, com o objetivo de interceptar organismos nocivos à agricultura nacional. O trabalho destes inspetores baseia-se em listas de pragas de importância econômica, formuladas para cada país ou para grupos de países geograficamente próximos. As espécies vegetais são classificadas em duas categorias: as de livre importação e as de importação restrita. Os materiais vegetais de livre importação necessitam apenas do Certificado Fitossanitário para seu intercâmbio; já os de importação restrita necessitam de declarações adicionais ao Certificado Fitossanitário. Tais procedimentos buscam garantir o comércio de vegetais, de suas partes ou de seus produtos dentro dos padrões fitossanitários nacionais, além de subsidiar a emissão da Permissão de Trânsito emitida pelos órgãos responsáveis pela Defesa Sanitária Vegetal nos estados. Com o advento do MERCOSUL, o Brasil passou a integrar o Comitê de Sanidade Vegetal do Cone Sul (COSAVE). Este comitê é uma Organização Regional de Proteção Fitossanitária integrada pela Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai que iniciou suas atividades em 1989 como resultado de um convênio entre os governos dos países membros. O COSAVE, desde sua criação, desenvolve normas e procedimentos padrões regionais com o objetivo de harmonizar o comércio de produtos agrícolas entre os países membros. Dentre os grupos de trabalho COSAVE, o Grupo de Quarentena Vegetal, composto por dois delegados de cada país participante, que realizam duas a três reuniões por ano, é um dos mais antigos e importantes. Uma de suas principais funções é a de manter atualizada as listas A1 e A2 (vide classificação abaixo) de pragas quarentenárias para os países da região, com base nas informações sobre as pragas presentes e nas análises de risco pertinentes. Este grupo também é responsável pelo desenvolvimento de propostas para o controle quarentenário e para o manejo de risco de pragas. Por definição, PRAGA é qualquer espécie, raça ou biótipo de vegetal, animal ou outro agente patogênico, nocivo aos vegetais ou seus subprodutos. São consideradas PRAGAS QUARENTENÁRIAS aquelas de importância econômica potencial para a área posta em perigo, onde ainda não está presente ou se está, não se encontra amplamente distribuída e é oficialmente controlada. As pragas quarentenárias são subdivididas em PRAGA QUARENTENÁRIA A1 – onde se classificam aquelas de importância econômica potencial para a área posta em perigo pela mesma, onde ainda não se encontra presente e PRAGA QUARENTENÁRIA A2 - onde se classificam aquelas de importância econômica potencial para a área posta em perigo pela mesma, onde ainda não se encontra amplamente disseminada e está sendo oficialmente controlada. As espécies incluídas nas listas A1 e A2 são revisadas periodicamente, incluindo-se e/ou retirando-se aquelas que, de acordo com relatos da literatura, devam ser adicionadas ou suprimidas. O valor da quarentena vegetal pode ser avaliado pelas das conseqüências desastrosas resultantes da introdução de pragas exóticas em áreas produtoras. Tais conseqüências, como danos e perdas de cultivo s; a perda de mercados de exportação, pela presença de pragas de 184 importância quarentenária no país; o aumento dos gastos com controle de pragas, com impacto sobre os programas de manejo integrado de pragas já estabelecidos ou em desenvolvimento e os danos ao meio ambiente, pela freqüente necessidade de aplicação de defensivos para o controle da espécie introduzida. Os danos causados pela introdução de pragas exóticas tendem a se expressar também de forma social como o desemprego, devido à eliminação ou à diminuição de um determinado cultivo em uma região, ou à fome, pela redução de importantes fontes de alimentos para a população. O Ministério da Agricultura e do Abastecimento concluiu recentemente um levantamento mostrando que cerca de 38 pragas nãoexistentes no Brasil podem entrar no país a qualquer momento caso nenhuma medida de prevenção seja adotada. Parte destas espécies já se encontra estabelecida em países limítrofes com o Brasil como o Peru, a Venezuela, a Bolívia e a Guiana Inglesa. Hoje, as três pragas com maior potencial de risco de introdução no país são a cochonilha rosada Maconellicoccus hirsutus (Green) (Homoptera: Pseudococcidae), que ataca os citrus, a goiaba, a soja, as hortaliças e o café dentre mais de duas centenas de gêneros de plantas distribuídas por, pelo menos 74 famílias; o amarelecimento- letal-daspalmeiras (Phytoplasma palmae), que ataca o coco e outras palmáceas e o caruncho da semente da mangueira Sternochetus mangiferaI (F.) (Coleoptera: Curculionidae), que ataca os frutos da mangueira. Fica o alerta, a técnicos e agricultores, de que a introdução de uma praga exótica pode causar danos econômicos e sociais dificilmente aquilatáveis a priori. Um exemplo relativamente recente foi a introdução da mosca-branca, Bemisia tabaci raça B (=Bemisia argentifolii) (Hemiptera: Aleyrodidae) que chegou ao país no início dos anos 1990. Hoje, esta praga está presente em 17 estados, atacando um grande número culturas de importância econômica. Os prejuízos advindos de sua introdução já ultrapassam os R$ 500 milhões, não estando nesta cifra quantificados aqueles decorrentes do impacto ambiental causado pelo excessivo uso de agrotóxicos na tentativa de seu controle, assim como os custos sociais os relacionados ao impacto deste uso excessivo de agrotóxicos na saúde tanto dos trabalhadores rurais como dos consumidores dos produtos contaminado. Tais custos são dificilmente quantificáveis. Àqueles que acreditam que não há problema algum em trazer na bagagem aquelas sementinhas de uma linda planta que conheceu em sua viagem ao exterior e àqueles que crêem ser um absurdo a proibição de importação de semente de soja transgênica da Argentina e as importam ilegalmente, fica o alerta de que o Código Penal Brasileiro prevê pena de reclusão de dois a três anos para o responsável pela introdução de pragas no país. TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE D EFENSIVOS AGRÍCOLAS – EQUIPAMENTOS TERRESTRES PARA PULVERIZAÇÃO - ASPECTOS CRÍTICOS NA APLICAÇÃO DE D EFENSIVOS AGRÍCOLAS . Pesquisador Científico José Maria Fernandes dos Santos Eng. Agrônomo, Centro de Sanidade Vegetal, Instituto Biológico, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010-970, São Paulo, SP. Tel. (11) 5087 1779, Fax: 5579 0824. E- mail: [email protected] 186 1. Introdução: A evolução química das formulações e seus ingredientes ativos, maior ocorrência ou incidência de novos representantes de cada um dos problemas que ocorrem nas lavouras (plantas invasoras, insetos, ácaros e fungos), preocupação e policiamento em relação à contaminação do meio ambiente, a baixa ou nenhuma eficiência freqüente dos equipamentos de pulverização e culturas em grande extensão de áreas, obrigaram a pesquisadores e usuários a observações e estudos sobre o assunto e também, a conseguirem maior eficiência e baixo custo nas atividades onde o uso de defensivos agrícolas eram utilizadas. Criou-se a Tecnologia de Aplicação de agroquímicos (inseticidas, herbicidas, fungicidas, fertilizantes, maturadores, fitorreguladores e dessecantes) na forma líquida, pó (sólúvel ou não) ou granulados, tem por definição: Ciência multidisciplinar com características técnico-científicas, destinada às pesquisas de equipamentos, processos e obtenção de resultados mais eficientes e econômicos no desenvolvimento e aplicação dos agroquímicos sólidos ou líquidos, com a finalidade de minimizar ao máximo os riscos de contaminação humana e do meio ambiente. Sob o aspecto agronômico técnico e prático de sua utilização devemos primeiramente esclarecer a diferença entre os termos pulverização e aplicação comumente empregados como sinônimos, mas que dentro desta ciência na prática, apresentam grandes e significativas diferenças de resultados: Pulverização: processo físico- mecânico de transformação de uma substância sólida ou líquida em partículas ou gotas o mais uniformes e homogêneas possíveis; Aplicação: deposição em quantidade e qualidade do ingrediente ativo definido, representada pelo diâmetro e densidade (número) de gotas sobre o alvo desejado. Estes esclarecimentos têm sua razão em vista de que, levantamentos práticos efetuados em diferentes locais e cultivos, as melhores pulverizações encontradas apresentaram os seguintes índices: Em cultivos baixos (soja, algodão, feijão, milho e arroz como exemplos), daquilo que era pulverizado, o máximo que chegava a atingir o alvo desejado não ultrapassava de 50 %, enquanto que em cultivos de arbustos e árvores (laranja, maçã e pêra como exemplos) os valores encontrados raramente alcançavam 20 %. Isto se explica pelo fato de que nas lavouras brasileiras, mais de 90 % do uso de defensivos agrícolas está sendo pulverizado e não aplicado corretamente, principalmente com os equipamentos terrestres. Esta nova ciência, estudando todos os problemas e possíveis soluções, se deparou com as dificuldades no controle da deriva das partículas sólidas, que compõem as formulações pós, devidas as grandes e freqüentes variações das condições climáticas (umidade relativa do ar, velocidade e direção dos ventos e temperatura) que ocorrem durante todo o ciclo das culturas, direcionando cada vez mais todas as suas pesquisas, para as aplicações com líquidos. Esta evolução, com o uso cada vez mais freqüente e de maior eficiência no controle dos problemas agrícolas quando comparada com o que existia, exigiu das indústrias de pulverizadores e das formulações, 188 mais e mais desenvolvimentos para cada um de seus produtos, maior eficiência e baixo custo, maiores cuidados e manutenção dos equipamentos e conhecimentos técnicos mais específicos e adequados por parte dos técnicos que forneciam assistência técnica e pesquisa e, também do próprio usuário.Trataremos neste capítulo apenas a tecnologia de uso correto dos equipamentos, enfatizando suas limitações e aspectos operacionais. 2. Aspectos Operacionais: Os resultados ou efeitos tecnicos e econômicos adequados da aplicação dos defensivos agrícolas estão apoiados basicamente pelos seguintes parâmetros: Ø bicos de pulverização; Ø volume de aplicação; Ø faixa de deposição das gotas de pulverização; Ø condições climáticas operacionais. 3. Bicos de Pulverização: Qualquer que seja o tipo de formulação ou do equipamento de aplicação empregado, o resultado final será consequência do conjunto das unidades resultantes do processo, que são as gotas de pulverização. As gotas poderão ser geradas por processos físicos como pressão hidráulica sôbre o líquido, termonebulização (a frio ou quente), bicos rotativos , pressão de correntes de vento, ou eletrostáticos. Um bico de pulverização em qualquer dos processos acima citados, será tecnicamente correto e economicamente viável, ao apresentar as seguintes características: Ø gerar gotas homogêneas; Ø distribuir estas gotas uniformemente, e Ø depositá- las corretamente. As premissas acima citadas, constituem-se nas características essenciais e desejadas nos bicos de pulverização, qua lquer que seja o tipo do mesmo e do equipamento de pulverização utilizado. O diâmetro da gota será consequência do tipo de orifício do bico, pressão de trabalho e volume de pulverização, determinantes principais do modo como o alvo final será atingido e favorecendo ou não a deposição em quantidade (densidade) suficiente para o controle e sucesso do produto aplicado. Uma variedade imensa de bicos é encontrada no comércio. Entretanto, é imprescindível se conhecer o modo de ação do produto, localização do alvo, características do equipamento de pulverização e condições climáticas, no local de aplicação, para que seja escolhido o tipo de bico mais adequado. Alvo de superfícies grandes e posições mais horizontais são mais facilmente atingidos e cobertos com gotas de maior diâmetro ao contrário de alvos mais estreitos ou mais protegidos (internamente à massa foliar) onde as gotas mais finas aderem ou penetram com maior facilidade. Superfícies planas como solos limpos e produtos onde não é desejável uma deriva longa das gotas (herbicidas de pré emergência), é recomendável utilizar bicos que produzem gotas mais grossas e pesadas, como os bicos de jato plano (anteriormente denominados de leque). Por outro lado, cultivos com massa foliar bastante densa ou alvos localizados internamente às plantas, serão mais adequadamente atingidos por gotas 190 mais finas e que permitam uma deriva ou flutuação mais demorada, como aquelas geradas pelos bicos de jato cônico vazio. Facilidade de aderência e espalhamento das gotas sobre as mais diferentes superfícies, viscosidade e densidade da calda de pulverização que permitam uma boa circulação pelo equipamento e a quebra de gotas, e utilização de bicos de pulverização mais eficientes e econômicos são fatores que de maneira direta permitem a economicidade e versatilidade de uso. O bico de pulverização correto de modo geral, não é aquele que vem colocado no pulverizador, mas sim, o que tecnicamente foi definido através de valores reais como: condições do alvo a ser atingido e principalmente em que condições climáticas irá operar no local da aplicação. 4. Volumes de Aplicação: A Tecnologia de Aplicação de defensivos agrícolas tem como escopo principal a alta eficiência da aplicação a baixo custo. Um dos caminhos que pode nos levar a estes resultados, é justamente a redução do volume de calda a ser aplicada. Entretanto, esta redução está na razão direta da eficiência e baixo custo, porém, na razão inversa das formulações que apresentam alta viscosidade ou densidade elevada. Explica-se isto, pois, a redução do volume aplicado fica na dependência de uso de bicos de pulverização com orifícios de saída cada vez menores e que irão prejudicar a passagem do líquido a ser pulverizado e distribuído, exigindo pressões maiores da bomba, gerando gotas mais finas e mais suscetíveis de perdas por deriva e evaporação. O aumento da vazão de aplicação também tem influência direta sobre o diâmetro da gota. Quanto maior o volume utilizado, gotas de diâmetros maiores serão geradas e menor densidade de gotas por área será obtida. Entretanto, ao contrario do conceito generalizado, de que o volume maior de líquido permite uma melhor pulverização, o procedimento certo e utilizar-se o menor volume, mas produzindo-se a maior quantidade possível de gotas, principalmente nas culturas de alta densidade de folhas. Na aplicação dos defensivos agrícolas líquidos, a água entra sempre como elemento de diluição do produto e para facilitar a distribuição correta e adequada das gotas com o ingrediente ativo, sobre o alvo desejado. Volumes excessivos originam gotas muito grossas, que aplicadas sobre as folhas de um vegetal, ocasionam uma saturação da superfície nas mesmas, provocando o escorrimento do produto para o solo e sua consequente perda. Por outro lado, volumes muito pequenos, determinam a formação de gotas muito finas, que também se perderão por deriva muito longa e evaporação rápida. O volume correto ou adequado, é definido tecnicamente, levandose em conta o tipo de bico utilizado, condições climáticas locais e porte ou densidade foliar das plantas e modo de ação dos defensivos agrícolas. Pelo exposto, concluímos que desde que a formulação permita, sem prejuízo da geração, distribuição e deposição das gotas de maneira a mais homogênea possível, podemos diminuir consideráve lmente os volumes de pulverização, melhorando-se com isto a produtividade do pulverizador, reduzindo as perdas de tempo de pulverização e 192 escorrimento do produto, além de incrementarmos a penetração e distribuição das gotas dentro da cultura. 5. Faixa de Deposição das Gotas de Pulverização: Característica intrínseca do bico de pulverização em uso deverá ser determinada de acordo com a densidade de gotas adequada ao tipo de alvo e não somente visando-se, como ocorre na pratica, o maior rendimento operaciona l (superfície pulverizada) do pulverizador por período ou dia trabalhado, sendo mais frequente quando se opera irregularmente com aeronaves agrícolas (aviões e helicópteros), visando apenas o rendimento operacional em detrimento da eficiência dos produtos aplicados. Um bom produto ou formulação só poderá ser comprovado após a sua aplicação, ou seja quando atingir adequadamente o alvo final, obtendo-se o resultado efetivo e esperado do mesmo. Para isto deveremos considerar sob o aspecto da Tecnologia de Aplicação que três premissas deverão se observadas e obtidas sob todos os aspectos operacionais: Ø o diâmetro da gota; Ø a deriva da gota e Ø a deposição da gota. A questão mais importante e a ser considerada como fator essencial é a densidade de gotas, pois, quanto maior o número de gotas depositadas sobre o alvo desejado, maior será a dose do produto recebida pelo mesmo, melhorando a eficiência da aplicação. Fator de extrema importância para o sucesso de uma aplicação e que na prática frequentemente é ignorado ou dada a indevida importância pelo usuário ou até mesmo os técnicos, diz respeito ao momento certo da aplicação. Não é relacionado com a hora ou espaço de tempo em que se deve efetuar a pulverização ou aplicação, mas sim em relação as condições em que o problema a ser controlado apresenta-se mais suscetível ao produto aplicado. Exemplos: o momento certo do controle da lagarta da maçã em algodão deve ser logo após a sua eclosão até o estadio máximo de 1 cm de comprimento. Baseados em aspectos práticos de campo em diversas cultivos e regiões e suportada pelos fundamentos básicos da Tecnologia de Aplicação, resumimos a seguir nos quadros I e II, as recomendações adequadas para se obter os melhores resultados em uma aplicação com defensivos agrícolas, qualquer que sejam os equipamentos usados e variações climáticas localmente existentes. 6. Importância das Condições Climáticas para a Pulverização: O monitoramento das condições climáticas e o ajusto adequado da deposição das gotas antes, durante ou após as pulverizações dos defensivos agrícolas são essenciais aos resultados esperados do produto. Temperaturas médias e alta umidade relativa do ar e no solo são condições adequadas a uma boa aplicação e a absorção do produto pelas plantas. Evitar a aplicação do produto quando as plantas apresentam as folhas muito molhadas após uma chuva ou devido ao orvalho, neste caso excetua-se a aplicação a baixo volume com aeronaves agrícolas. Pulverizações efetuadas com temperaturas ambiente entre 15 ° C e 30 ° C e umidade relativa do ar acima de 55 % apresentam melhores resultados do que as efetuadas em temperaturas muito baixas e baixo índice de umidade relativa do ar. 194 Quadro 1. Parâmetros práticos recomendados para a aplicação com agroquímicos. PRODUTO RECOMENDAÇ ÃO HERBICIDAS Pré emergência Aplicação Gotas grossas: formar uma Gotas finas a médias: Gotas grossas. espécie de “filme”protetor produzir uma “população” sobre o solo muito densa de gotas visando o envolvimento da cultura. Diâmetro da gota DMV 420 - 480 µ Número gotas/cm2 de Mínimo de 20 gotas Pós emergência DMV 110 - 150 µ Plantio direto DMV 420 - 480 µ Ação de contato: 40 - 70 Mínimo gotas gotas Ação sistêmica: 30 - 50 gotas Bico recomendado Jato plano (leque) com Bico jato cônico vazio. ângulo de 110° para Restrições ao uso de bicos pulverizadores terrestres e rotativos de 80 ° para aeronaves agrícolas. Não utilizar bicos de jato de 20 Jato plano (leque) com ângulo de 110° em pulverizadores terrestres e de 80° com aeronaves. cônico. Não utilizar bicos rotativos Volume de (c) aplicação terrestres: 150 a 300 litros/ha aeronaves: 20 - 40 litros/ha frutíferas: 150 a 300 litros/ha Não utilizar bicos de jato cônico ou rotativos 100 a 200 litros/ha 20 - 30 litros/ha 100 a 200 litros/ha 100 a 200 litros/ha 20 - 40 litros/ha 100 a 200 litros/ha Pressão de trabalho (c, d) terrestres: 15 a 45 psi (100 a 300 60 a 100 psi (400 a 666 15 a 30 psi kPa)(a) kPa) (100/200 kPa) aeronaves: 15 a 30 psi (100 a 200 kPa) frutíferas: 15 a 45 psi (100 a 300 kPa) 60 a 100 psi (400 a 666 kPa) 196 Quadro 2 - Parâmetros práticos recomendados para a aplicação com agroquímicos . PRODUTO INSETICIDAS RECOMENDAÇ Contato/ingestão Sistêmico ÃO Aplicação Gotas finas a médias. Obter uma deposição e densidade de gotas a mais uniforme possível nas partes vegetais ativas das plantas FUNGICIDAS(b) Protetivo Sistêmico Gotas finas a médias. Obter uma deposição e densidade de gotas a mais uniforme possível nas partes vegetais ativas das plantas Diâmetro da gota DMV 110 - 120 µ DMV 110 - 130 µ DMV 110 - 120 µ Número gotas/cm2 60 - 70 gotas 40 - 60 gotas Bico recomendado de 40 - 60 gotas • Bicos de jato cônico vazio, com ponta e difusor adequados • Bicos rotativos podem ser utilizados desde que o volume aplicado não ocasione saturação do equipamento (b) • Não são recomendados o uso de bicos de jato plano (leque) Volume de aplicação(c) terrestre: 60 a 200 litros/ha aeronaves: 10 - 20 litros/ha frutíferas: 400 a 800 litros/ha 80 a 200 litros/ha 15 - 30 litros/ha 400 a 800 litros/ha Pressão de trabalho ( c, d) terrestre: 80 a 100 psi (533 a 666 kPa)(a) aeronaves: 15 - 30 psi (100 - 200 kPa) frutíferas: 80 a 100 psi (533 a 666 kPa) a - kPa (quilo Pascal). 100 kPa = 15 psi = 1 bar = 1 kg/cm2 . b - Observar o tipo de translocação ou sistemia do produto a fim de adaptar o modo e local da aplicação, deposição e diâmetro das gotas. Posição e tipo do alvo, densidade da copa e área a ser atingida pelo produto, devem ser consideradas localmente. c - Deverão ser obedecidas as recomendações indicadas de acordo com a ponta de pulverização a ser usada. d - Os valores referidos são funções diretas: do orifício do bico, pressão, volume de aplicação, viscosidade e densidade da formulação, bem como às observações e coletas efetuadas no alvo a ser atingido e não ao diâmetro da gota liberado pelo bico de pulverização. Nota: Os valores aqui referenciados dizem respeito as recomendações gerais, sendo necessário seus ajustes para cada tipo ou formulação de produtos, já que os volumes, densidade e viscosidade dos mesmos não são idênticos para todos os defensivos agrícolas. A velocidade e direção do vento é outro fator muito importante para um bom resultado do produto e se evitar danos as culturas sensíveis ou áreas vizinhas próximas. Aplicações do produto com ventos acima de 10 km/hora deverão ser monitorados constantemente durante todo o período de sua execução e efetuadas as correções ou o seu cancelamento. Durante as pulverizações, observar a direção e intensidade dos ventos. Ocorrendo o direcionamento dos mesmos para áreas vizinhas sensíveis ou com animais e pessoas, manter uma área de segurança bastante larga e adequada às condições locais, sem pulverização conforme já descrito anteriormente. Considerar sempre, que a umidade relativa do ar é o indicador mais importante e prioritário nas definições de início, execução e parada de uma pulverização de defensivos agrícolas. A resultante dos efeitos dos demais fatores como vento e temperatura é consequência direta da umidade relativa do ar. NOTA: Durante as pulverizações com bicos e equipamentos adequados, o pequeno deslocamento lateral das gotas, (não deverá exceder a 10 %) não deverão ser considerados como deriva prejudicial, já que representam a fração das gotas muito finas, consequência do processo físico de geração das gotas pelos bicos, além de necessário para que se obtenha o recobrimento adequado das faixas de deposição e melhor uniformidade e homogeneidade da pulverização. Evitar de efetuar pulverizações, em condições de inversões térmicas ou de calmaria total (velo cidades de ventos abaixo de 2 km/hora) que ocorrem nas horas mais cedo do dia, fim de tarde ou após chuvas prolongadas e intensas. Temperaturas muito altas e principalmente umidade relativa do ar abaixo de 55 % determinam condições desfavoráveis a aplicação e 200 absorção de produtos sistêmicos ou de translocação pelas plantas, apresentando um controle ineficiente ou duvidoso. Por outro lado, a diversidade das condições climáticas ou mesmo ambientais, inadequação do equipamento e desconhecimentos ou mau uso dos parâmetros, durante a aplicação, poderão ocasionar também resultados diversos e até inesperados com formulações de baixa estabilidade física ou química. O aspecto volatilidade do ingrediente ativo ou dos componentes de uma formulação, deverá ser considerado tanto para condições regionais as mais variáveis como o nível de treinamento das pessoas e operacionalidade dos equipamentos envolvidos ou disponíveis. 7. Conclusões: A escolha do bico a utilizar, sua manutenção e conservação, o controle do tamanho, deriva e deposição das gotas geradas, são fatores essenciais para que se possa obter sucesso na aplicação de qualquer defensivo agrícola, causando danos mínimos ou nulos ao meio ambiente e ao próprio homem. Os fatores de insucessos no uso de defensivos agrícolas são creditados, de maneira simplista ao produto, quando na realidade o mau uso do equipamento, tanto na sua estrutura como no momento adequado da aplicação em sua maioria deveriam merecer mais atenção e cuidados. Treinar pessoas no uso correto dos equipamentos, com um mínimo de conhecimento básico dos produtos a aplicar e sua correlação com as condições de aplicação, são fatores que devemos guardar dentro de nós mesmo, sem que o perigo de destruirmos nosso próprio meio de vida ou do ambiente se torne cada vez mais grave e crescente. Devemos sempre nos lembrarmos que em todo o processo de pulverização ou uso de defensivos agrícolas o sucesso da operação estará sempre apoiado no trinômio: bom produto - bem aplicado - no momento certo. SITUAÇÃO ATUAL E CONTROLE DE CIGARRINHA DA CANA-DE-AÇÚCAR Pesquisador Científico José Eduardo Marcondes de Almeida Eng. Agrônomo, Lab. de Controle Biológico, Centro Experimental do Instituto Biológico, Instituto Biológico Cx. Postal 70, CEP 13001-970, Campinas, SP, Tel. (19) 3252 2942. E-mail: [email protected] 1. A Cigarrinha-da-Raiz da Cana-de-açúcar (Mahanarva fimbriolata) As cigarrinha-da-raiz (Mahanarva fimbriolata) e cigarrinha-dafolha (M. posticata) são consideradas pragas importantes no Estado de São Paulo e no Nordeste do Brasil, respectivamente. Até 1968 Mahanarva fimbriolata (Stal) era referida como Tomaspis e/ou Sphenorhina liturata var. ruforivulata Stal (F ENNAH 1968, GUAGLIUMI 1970). Sua distribuição geográfica abrange os Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Amazonas, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Mato Grosso, Goiás, sendo mais séria sua ocorrência em São Paulo, principalmente em pastagens de capim Napier (GUAGLIUMI 1973, MENDES et al. 1977). Seu principal dano é a "queima da cana-de-açúcar" conseqüência da alimentação do adulto. As ninfas ao se alimentarem ocasionam a "desordem fisiológica" em decorrência de suas picadas que, ao atingirem 202 os vasos lenhosos da raiz, o deterioram, impedindo ou dificultando o fluxo de água e de nutrientes. A morte de raízes ocasiona desequilíbrios na fisiologia da planta, caracterizado pela desidratação do floema e do xilema que darão ao colmo características ocas, afinamento e posterior aparecimento de rugas na superfície externa. Os adultos ao injetarem toxinas produzem pequenas manchas amarelas nas folhas que com o passar do tempo tornam-se avermelhadas e, finalmente, opacas, reduzindo sensivelmente a capacidade de fotossíntese das folhas e o conteúdo de sacarose do colmo. As perfurações dos tecidos pelos estiletes infectados provocam contaminações por microorganismos no líquido nutritivo, causando deterioração de tecidos nos pontos de crescimento do colmo e, gradualmente, dos entrenós inferiores até as raízes subterrâneas. As deteriorações aquosas apresentam cores escuras começando pela ponta da cana e podem causar a morte do colmo (ELKADI, 1977). GUAGLIUMI (1973) cita que M. fimbriolata possui ninfas especificamente radicícolas e se desenvolvem sobre as raízes superficiais ou raízes adventícias inferiores das gramíneas hospedeiras. Sugam a seiva segundo a sua idade, envolvendo-se numa espuma branca, espessa e que serve como proteção a inimigos naturais. Os adultos são de hábitos crepusculares-notur nos, ficando escondidos dentro das olhaduras ou no enviés das folhas durante o dia. O dano mais importante que as cigarrinhas causam é a “queima da cana”, sendo conseqüência direta ao ataque das folhas, devido à injeção de substâncias tóxicas da saliva da cigarrinha, além de diminuir o teor de sacarose. Causam também a redução no tamanho e grossura dos entrenós da cana grande e a morte de rebentos jovens. O ciclo vital dessa cigarrinha ocorre no período das chuvas, desaparecendo na seca, quando os ovos estão em diapausa. No Estado de São Paulo, o ciclo vital de M. fimbriolata inicia-se em setembro, normalmente, com o início do período chuvoso. A primeira geração de ninfas é pequena em decorrência da diapausa dos ovos, porém com capacidade suficiente de se desenvolverem até a fase adulta, quando então se inicia a postura da segunda geração de ninfas, geralmente entre Dezembro e Janeiro, quando a umidade e o fotoperíodo são maiores. A segunda geração é responsável pela maioria dos danos, que vão se manifestar somente em Fevereiro e Março, quando se tem a terceira geração de ninfas, que se desenvolverão até a fase adulta, porém em menor número do que a geração anterior e farão a postura de ovos que entrarão em diapausa a partir de Abril, quando o fotoperíodo e a umidade diminuem. Com a proibição da queima da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, através do Decreto- lei Estadual no 42.056/9, têm ocasionado mudanças no manejo dessa cultura, devido ao aumento da área colhida sem queima e, como conseqüências, em muitas regiões têm ocorrido aumentos consideráveis na população de cigarrinha-da-raiz (MACEDO et al, 1997). A cigarrinha-da-raiz da cana tem se tornado um sério problema em algumas regiões do Estado de São Paulo, tais como Ribeirão PretoSP, onde a maioria da cana já é colhida mecanicamente e crua, pois não havendo queima da palhada, ocorre um acúmulo desse material no solo e um aumento da umidade facilitando assim o crescimento e a disseminação da cigarrinha-da-raiz da cana, M. fimbriolata. E considerando que com a nova legislação ambiental de São Paulo proibirá 204 a queimada da cana, espera-se um aumento significativo na população de M. fimbriolata causando prejuízos sérios para as usinas e fornecedores, além do aumento de custos para o controle desta praga. 2. Monitoramento Segundo M ENDONÇA (1996), a estratégia de controle da cigarrinha-da-raiz se inicia com um monitoramento da praga. O monitoramento de M. fimbriolata deverá ser realizado no início do período chuvoso e durante todo o período de infestação, para que se possa acompanhar a evolução ou o controle da praga. O nível de dano econômico (NDE) de 20 ninfas/ metro linear de sulco e 1 adulto/cana; o Nível de controle é de 2 – 4 ninfas/metro e 0,5 a 0,75 adultos/cana. No Estado São Paulo, o Nível de Dano Econômico e o Nível de Controle ainda não foram determinados, porém algumas pesquisas envolvendo levantamento com armadilhas, contagem de ninfas por metro linear, a partir de três a cinco pontos por hectare, sendo que cada ponto é representado por dois me tros lineares, contando-se o número de ninfas nas raízes da cana, utilizando-se normalmente de dois a quatro homens. Por enquanto, tem-se utilizado o Nível de Controle de 5 a 8 ninfas por metro linear de cana em média, sendo o Nível de dano Econômico variando de 10 a 15 ninfas por metro linear. De acordo com resultados de uma usina cooperada da Copersucar, o custo do levantamento direto, com uma equipe de quatro homens, fazendo 16 metros lineares (quatro pontos de duas ruas de dois metros/hectare) é de R$ 8,00/ha. Porém se realizar o levantamento por extrapolação, no caso de talhões uniformes, ao lado e de mesma variedade, o custo desse monitoramento pode chegar a R$ 2,00/ha (E. B. ARRIGONI, não publicado). A armadilha “Yellow sticky trap” é adequada ao mo nitoramento de populações de adultos de M. fimbriolata em áreas com cana-deaçúcar. Permite determinar o início do aparecimento da praga na lavoura, que tem ocorrência defasada em cerca de 30 dias em relação à população de ninfas. Porém, a armadilha não se presta para uso visando ao controle da praga (MACEDO et al., não publicado). O monitoramento é imprescindível para se decidir sobre a estratégia de controle da praga, sendo que a detecção da primeira geração permite um controle mais eficiente principalmente através do fungo Metarhizium anisopliae. Com relação a variedades, ainda não foram concluídos os estudos sobre resistência e suscetibilidade de variedades comerciais no Estado de São Paulo, ou mesmo um trabalho de melhoramento específico para variedades resistentes, porém já foi possível observar em nível de campo variedades altamente atrativas à cigarrinha-da-raiz, tais como SP 80 1842, SP 70 1816, RB 85 5336 e RB 85 5536, possivelmente pelo seu crescimento rápido, sombreando o solo e maior volume de palha, conferindo melhores condições de desenvolvimento da praga. Portanto, nos talhões com essas variedades, deve-se tomar maiores cuidados no levantamento de ninfas e adultos da cigarrinha. 3. Controle 3.1. Controle Cultural 206 Como forma de controle cultural, GUAGLIUMI (1973) sugere a rotação de culturas com leguminosas, queima da palha ou enleiramento nas entrelinhas e pesquisa com variedades resistentes. Estudos desenvolvidos pelo Instituto Agronômico de Campinas e Copersucar demonstraram que o enleiramento da palha da cana, ou simplesmente o afastamento da palha das raízes da cana é suficiente para manter a população de cigarrinha em equilíbrio, abaixo do Nível de Dano Econômico. Porém, o custo desse enleiramento ou afastamento da palha ainda não foi determinado devido à falta de um equipamento específico para tal fim. 3.2. Controle Químico O controle químico de M. fimbriolata também tem sido alvo de pesquisas constantes devido ao grande número de novas moléculas lançadas no mercado da cultura canavieira. O Thiamethoxam na concentração de 1,0 kg/ha foi mais eficiente dentre todos os inseticidas já testados, por ser de ação sistêmica e manter a população de cigarrinha abaixo do Nível de Controle por até 140 dias. O Carbofuran também foi eficiente na concentração de 2 a 3 litros/ha, porém a ressurgência da praga é maior e mais rápida devido à ação de contato desse princípio ativo. O Aldicarb (10 kg/ha), Fipronil (250 a 500 g/ha) e Terbufós (16 a 20 kg/ha) também apresentaram resultados satisfatórios, porém todos os princípios ativos apresentados estão sob registro de emergência para a cigarrinha-da-raiz da cana. Alguns inseticidas naturais tais como: óleo de nim 250 a 500 mL/ha, Extrato de Timbó 0,5 a 1% apresentaram também um resultado satisfatório, mantendo a população de cigarrinha por até 90 dias, quando aplicado em Novembro, época do final da primeira geração e início da segunda geração da praga. 3.3. Controle Biológico ALVES & ALMEIDA (1997) citam que o controle biológico com macro ou microrganis mos é um dos principais componentes do manejo integrado de cigarrinhas. O controle biológico não é poluente, não provoca desequilíbrios biológicos, é duradouro e aproveita o potencial biótico do agroecossistema, não é tóxico para o homem e animais e pode ser aplicado com as máquinas convencionais, com pequenas adaptações. De acordo com ALVES (1998) o desenvolvimento do fungo M. anisopliae sobre M. posticata ocorre da seguinte maneira: os conídios germinam e penetram no tegumento do inseto num período de dois a três dias. O período de colonização ocorre de 2 a 4 dias e a esporulação em 2 a 3 dias, dependendo das condições do ambiente. O ciclo total da doença é de 8 a 10 dias. O Instituto Biológico tem desenvolvido pesquisas de controle biológico de M. fimbriolata com o fungo M. anisopliae, num projeto temático financiado pela FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, cuja coordenação pertence a esse instituto, em parceria com a ESALQ/USP e UFSCar - Araras-SP. Foi possível verificar o controle de M. fimbriolata com o fungo M. anisopliae isolado CB 10 na concentração de 1 kg de arroz esporulado com M. anisopliae 1,75x105 conídios/ml - 3 aplicações (Nov. - Dez. e Jan.) num volume de 400 litros por hectare. Porém, como demonstrado em outro experimento no mesmo período, aplicações em Novembro e 208 Dezembro na concentração citada é suficiente para o equilíbrio da população de cigarrinha, já que nesta época está ocorrendo a transição da primeira para a segunda geração.Em outra pesquisa, verificou-se que os isolados CB 10 (Instituto Biológico) e ESALQ 1037 foram efetivos no controle de cigarrinha-da-raiz da cana na concentração 1 x 107 conídios/ml com aplicações em Novembro e Dezembro. Do mesmo modo esses isolados mantiveram a população de cigarrinha-da-raiz da cana em equilíbrio na concentração de 1 kg de arroz esporulado com M. anisopliae 1,75x105 conídios/ml - 2 aplicações (Nov. - Dez.) em sistema de cultivo orgânico. A época de corte influencia na população de cigarrinha, pois quando este ocorre em maio a população de cigarrinha é maior nos meses de Dezembro e Janeiro, o mesmo ocorre com o corte em Julho. Já quando a cana é cortada tardiamente, a população de cigarrinha diminuiu. Esses dados ajudam na programação de plantio e cortes de variedades mais atrativas em épocas mais tardias, evitando superpopulações e a conseqüente aplicação de defensivos químicos ou queimada. 4. Perspectivas O projeto temático financiado pela FAPESP prevê estudos de seleção de isolados de M. anisopliae à cigarrinha-da-raiz da cana, caracterização desses isolados, estudos de Nível de Dano Econômico e Nível de Controle a partir de experimentos em campo e casa-devegetação, métodos de produção e formulação do fungo M. anisopliae e do fungo Batkoa spp. que causa epizootias naturais de até 90% nos adultos. Contudo o controle biológico com M. anisopliae já tem sido estudado e aplicado desde dos anos 70 no Nordeste, para o controle de M. posticata, produzindo resultados satisfatórios, com redução da aplicação de defensivos químicos em até 70% e de custo de produção de açúcar e álcool, protegendo o ambiente. A partir de técnicas de monitoramento e manejo integrado de pragas, será possível conviver com a cigarrinha-da-raiz da cana-deaçúcar no Estado de São Paulo, aplicando-se um programa de controle microbiano com M. anisopliae e no caso de superpopulações a aplicação racional de defensivos naturais ou químicos, para o equilíbrio da população. 5. Referências Bibliográficas ALVES, S. B. Fungos entomopatogênicos. In: __________, (ed.). Controle microbiano de insetos. Cap. 11. Ed. FEALQ: Piracicaba. 1998. P. 289-381. ALVES, S. B.; LOPES , J. R. S.; ALVES, L. F. A. & MOINO JÚNIOR, A. Controle microbiano de artrópodos associados a doenças de plantas. In: M ELO, I. S. & AZEVEDO, J. L. Controle Biológico. Vol. 1. EMBRAPA: Jaguariúna. 1998. P. 143-170. ALVES, S. B. & ALMEIDA , J. E. M. Controle biológico das pragas das pastagens. In: Simpósio Sobre Ecossistema de Pastagens , UNESP: Jaboticabal. 1997. p. 318-341. EL-KADI, M. K. Novas perspectivas no controle de cigarrinhas. 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Introdução Na implantação de uma área agrícola através de um sistema de cultivo, há sérias e significativas transformações nos subsistemas geomórfico, edáfico e biológico, tornando-os mais simples (agroecossistema), em comparação com o ecossistema, um sistema mais complexo. Esta trans formação resulta na diminuição drástica da capacidade de auto-regulação do sistema, tornando-o, assim, mais instável e susceptível a entradas de energia. Uma das principais conseqüências da transformação do ecossistema em um agroecossistema é o aumento exa gerado de determinadas populações de insetos, microrganismos, nematóides e plantas silvestre, desta forma, tornam-se pragas agrícolas; comprometendo de forma significativa à produção. (BLANCO, 1972, 1982 e 1997). Quando há o aumento populacional exagerado das plantas silvestres, estás se tornam daninhas, que diferentemente de outras pragas agrícolas, têm por característica, estarem sempre presentes nos agroecossistemas e responsáveis diretas (competição, alelopatia, etc.) ou indiretamente (reservatório de patógenos, atrativas para insetos-praga etc.) pela diminuição drástica na produção econômica das culturas dentre as quais a cana-de-açúcar. (BLANCO, 1972, 1982 e 1997). 2. A Cultura da Cana -de-açúcar. 212 A cana-de-açúcar, Saccharum spp., é uma das plantas mais importantes na agricultura mundial. A produção de açúcar em 1990 atingiu 105 milhões de toneladas, das quais, 62% foram produzidas a partir da cana-de-açúcar cultivada em 106 países numa área de aproximadamente 16 milhões de hectares; os 38% restantes foram extraídos da beterraba (Beta vulgaris L.), (FAO, 1990). Espécie da família Gramineae, a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) com uma área plantada de aproximadamente 4 milhões de hectares, o Brasil é o principal é o seu maior produtor mundial, seguido de Cuba e México. Dentre os estados brasileiros, São Paulo é o maior produtor, apresentando uma área plantada de aproximadamente 2,4 milhões de hectares com uma produção estimada para a safra agrícola 99/00 de 277,7 milhões de toneladas de colmos, com um rendimento médio de 72 t/ha (CASER et al., 1993, IBGE 2000). Devido ao seu lento crescimento inicial, a cana é sensível a competição do mato. Nesse sentido, numerosas investigações foram realizadas por diversos pesquisadores: trabalhos de AZZI & FERNANDES (1968,1970), determinaram que a cana produz o seu máximo rendimento quando o controle das plantas daninhas à cultura é realizado entre 90 e 120 dias, a contar do seu plantio. Pesquisas realizadas por BLANCO et al. (1979, 1981, 1982), concluíram que podem ocorrer perdas de até 85% no peso dos colmos; além disso, determinaram que o período crítico de competição para a cana corresponde ao período que vai do 15º dia a dois meses a contar da emergência da cana-de-açúcar, no caso, cana de ano. Esses dados foram confirmados por GRACIANO & RAMALHO (1982), que obtiveram perdas de 83% no peso dos colmos. 3. Controle das Plantas Daninhas. Muitos são os métodos de controle de plantas daninhas empregados na cultura da cana-de-açúcar: Ø Manejo preventivo: não permitir a entrada de sementes ou dissemínulos de plantas daninhas na área de plantio, cuidar da limpeza dos equipamentos. Ø Manejo cultural: utilizar rotação de culturas, consorciação, redução de espaçamentos, etc. Ø Manejo mecanizado: fazer um bom preparo do solo para o plantio já é uma forma de controle, após o plantio ou corte, pode-se fazer o cultivo nas entrelinhas MM. Ø Manejo químico: dentre os manejo, o controle químico realizado com a utilização dos herbicidas, é que predomina por sua maior operacionalidade e eficiência no controle, além de reduzir o custo de produção da lavoura, FUTINO & SILVEIRA (1991), demonstraram que a participação dos defensivos agrícolas, em geral, no custo operacional da cultura de cana-de-açúcar, em 1990, era de apenas 8%. 3.1. Controle com o Manejo Químico das Plantas Daninhas – Após o Plantio e Corte no Sistema Tradicional (cana queimada). FERREIRA & TSUNECHIRO (1998) relatam que no ano de 1996 as vendas dos defensivos agrícolas somaram a importância de 1.792 milhões de dólares, destas vendas, somente os herbicidas foram responsáveis por 56% deste total, a venda desta classe de pesticida para a cultura da cana-de-açúcar representaram 19%, demonstrando assim a sua importância. 214 Vários fatores são importantes na utilização e escolha dos herbicidas como agente no controle das plantas daninhas na cultura de cana-deaçúcar, podemos citar: Ø Modo de aplicação do herbicida, pré-emergente ou pós-emergente. Ø Grupo de plantas daninhas predominantes e o seu grau de sua infestação. Ø Tipo de solo, teor de matéria orgânica e a sua umidade na época da aplicação para os pré-emergentes. Ø Estádio do desenvolvimento das plantas daninhas e da cultura, para aplicações em pós-emergência. Ø Uso de adjuvantes, quando indicado. Ø Período residual: herbicidas aplicados no plantio de cana de ano e meio, estes devem ter um maior período residual, quando comparados com os aplicados em cana de ano, pois nesta época de plantio, haverá um período de seca onde a cana-de-açúcar paralisa o seu crescimento, assim como as plantas daninhas, no retorno da estação das chuvas, estas voltam a germinar se o período residual for curto. Ø Nas aplicações em pré-emergência no plantio de cana de ano e meio, utilizar herbicidas mais solúveis, pois serão mais efetivos na época seca. Ø Nas aplicações em pré-emergência, sempre verificar a seletividade em relação a cultivar utilizada, principalmente para produtos novos. A tabela 1 mostra os principais herbicidas utilizados para cultura As misturas dos herbicidas são utilizadas para aumentar o espectro de ação, ex. Diuron + hexazinone, incrementa o controle do Diuron, de maior eficiência sobre as latifoliadas, de tal forma a se ter também um controle das gramíneas dado pelo hexazinone. As misturas também podem através de distintos coeficientes de adsorção e solubilidades, no processo de lixiviação, permitir que o efeito do herbicida permaneça em uma faixa do perfil do solo, e não em uma região localizada, propiciando um maior controle; exemplo na mistura da ametrina + clomazone. 3.2. Controle das Plantas Daninhas – Sistema Cana-crua Este sistema de produção esta introduzindo uma nova realidade no cultivo da cana-de-açúcar, devido às drásticas mudanças principalmente no sistema edáfico em função de 10 a 15 ton/ha, após o corte da cana, algo que não havia no agroecossistema original. Esta entrada de energia no sistema fatalmente acarretará em mudanças drásticas na comunidade de organismos, hoje considerados praga, quer sejam, as doenças, os insetos ou as plantas daninhas. VELINI & NEGRISOLI (2000), citando EGLEY & DUKE, relatam que estes autores demonstram que a amplitude térmica influência de forma significativa à germinação das plantas daninhas, VELINI et. al. (1998) e MARTINS et. al. (1999), estudaram o efeito de quantitativo da palhada sobre a germinação de diversas espécies de plantas daninhas, resultando que quanto maior a quantidade de palha, para a maioria das espécies estudadas, houve uma supressão na germinação, para outras como o amendoim-bravo a palhada não influenciou a germinação da espécie, confirmando os dados LORENZI (1983). Estes trabalhos, como é de se esperar, demonstram que haverá uma mudança no banco de sementes dos agroecossistemas de cana-deaçúcar com sistema em colheita com a cana crua. 216 TABELA 1. Principais herbicidas utilizados para o controle das plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar, as indicações em pré-emergente são para após o plantio ou corte no sistema de cana queimada. (BLANCO, 2001) Principio Nome Dose i.a./ha Modo Grupo Observações Ativo Comercial (kg) de Controlado Aplica ção2 2,4 D U46 D fluid 0,40 a 0,72 PÓS latifoliadas Ametrina Gesapax 2,00 a 4,00 PRÉ gramíneas e latifoliadas anuais Ametrina + Gesapax + 0,21 + 0,29 PÓS, gramíneas e latifoliadas controle efetivo em pós2,4 D U46 D fluid PRÉ anuais emergente apenas sobre as latifoliadas Ametrina + Sinerge 2,50 a 3,00 PRÉ gramíneas e latifoliadas Clomazone anuais Ametrina + Ametron (0,62-1,244) + PRÉ gramíneas e latifoliadas Diuron (0,96-1,92) anuais Clomazone Gamit 0,50 PRÉ Gramíneas e latifoliadas anuais Diuron Karmex 1,60 a 3,2 PRÉ gramíneas e latifoliadas controle mais pronunciado anuais nas latifoliadas Diuron + Velpar K 0,488 + 0,142 PRÉ Latifoliadas e gramíneas hexazinone Advance 0,533 + 0,067 PRÉ anuais 2 modo preferência de aplicação onde o controle é mais efetivo Diuron + Fortex MSMA Diuron + Bimate Terbutiuron Glyphosate Roundup 0,140 + 0,360 PÓS 2,10 a 2,8 PRÉ 0,18 a 2,16 PÓS Halosulfuron Sempra 0,75 PÓS Imazapyr Arsenal 0,250 PRÉ Isoxaflutole Provence 0,750 PRÉ Oxyfluorfen Goal 0,240 PRÉ Sulfosate Zapp 0,480 PÓS Sulfentrazone Boral 1,20 a 1,60 PRÉ Terbutiuron Combine 0,50 a 0,80 PRÉ Gramíneas anuais Gramíneas anuais Gramíneas anuais e latifoliadas e latifoliadas e latifoliadas utilizado para renovação de canaviais ou para aplicações dirigidas. Cyperaceas a cyperacea tem que estar no estádio de pré floração no momento da aplicação Gramíneas e latifoliadas e cyperaceas Gramíneas e latifoliadas anuais Gramíneas e latifoliadas anuais Gramíneas e latifoliadas utilizado para renovação de anuais canaviais ou para aplicações dirigidas. Gramíneas anuais e perenes apresenta controle efetivo e cyperaceas sobre tiririca (Cyperus rotundus) Gramíneas e latifoliadas anuais 218 Atualmente o controle das plantas daninhas, neste sistema de colheita, após o corte tem se realizado a catação utilizando herbicidas não sistêmicos de ação total, glyfosate, paraquat, sulfosate, e 2,4 D (latifoliadas), e monitorando as áreas preferencialmente até o fechamento da cultura. Vários aspectos ainda precisam ser estudados, como a aplicação de pré-emergentes em condição de palha, efeito da palhada sobre a microflora influenciando na persistência e dissipação do herbicida, novos equipamentos de aplicação, etc. 4. Bibliografia AZZI, G.M. & F ERNANDES , J.Competição de ervas daninhas no período inicial de desenvolvimento da cana-de-açúcar. Bras. Açucareiro, 76: 30-32, 1968. BLANCO, H.G. A importância dos trabalhos ecológicos nos programas de controle das plantas daninhas. Biológico, 38: 343-350, 1972. BLANCO, H.G. Ecologia das plantas daninhas - competição de plantas daninhas em culturas brasileiras: In: Controle Integrado de Plantas Daninhas, CREA, São Paulo, 1982. p.43-75. BLANCO, H.G.; BARBOSA , J.C.; OLIVEIRA , D.A. Competição de uma comunidade natural de mato em cultura de cana-de-açúcar (Saccharum sp.), de ano e meio. In: Congresso Brasileiro de Herbicidas e Ervas Daninhas, 14, & Congresso de la Asociacion Latinoamericana de Malezas, 6, 1982. p. 30-31. BLANCO, H.G.; OLIVEIRA , D.A.; ARAÚJO, J.B.M. Competição entre plantas daninhas e a cultura da cana-de-açúcar. I. Período crítico de competição produzido por uma comunidade natural de dicotiledôneas em culturas de ano. Biológico, 45: 131-140, 1979. BLANCO, H.G.; OLIVEIRA , D.A.; COLETI, J.T. Competição entre plantas daninhas e a cultura da cana-de-açúcar. II. Período de competição produzido por uma comunidade natural de mato, com predomínio de gramíneas, em culturas de ano. III. Influência da competição na nutrição da cana-de-açúcar. Biológico, 47: 77-88, 1981. BLANCO, H.G. Manejo das plantas daninhas – uma abordagem ecológica. Biológico, 59: 111-116, 1997. CASER, D.V.; OLIVETTI, M.P.A.; FAGUNDES , L. Densidade de cultivo de cana-de-açúcar, laranja, café e banana no Estado de São Paulo. Inf. Econ., 23: 10-11, 1993. FOOD AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS (FAO). Sugar cane. FAO Yearbook Production, 44: 157-58. 1990. LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA - LSPA. IBGE, 11: 1-14, 1999 MARTINS, D.; VELINI, E. D.; MARTINS, C. C.; SOUZA , L. S. Emergência em campo de dicotiledôneas infestantes em solo coberto com palha de cana-de-açúcar. Planta Daninha, 17: 151-161, 1999 TSNECHIRO, A.; F ERREIRA , C. R. R. P. T. Evolução das vendas de defensivos agrícolas e uso de métodos alternativos e complementares de proteção de culturas no Brasil. O Biológico. 60,: 35-49, 1998. VELINI, E. D.; NEGRISOLI , E. Controle de plantas daninhas em cana crua. Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas. Palestra, p.148-164, 2000. 220 M ANEJO ECOLÓGICO DE PRAGAS DOS CITROS Eng. Agrônomo Santin Gravena. GRAVENA-Manejo Ecológico e Controle Biológico de Pragas Agrícolas Ltda. Rod. SP-253, Km 221,5. Cx. Postal 546. CEP-14870-000, Jaboticabal, SP. E-mail [email protected] 1. Introdução Tanto o controle biológico exercido pelos organismos benéficos de ocorrência natural como aquele oriundo de processos manipulados artificialmente necessitam um ambiente ecológico livre de fatores adversos para surtirem o efeito esperado na redução de densidades populacionais de pragas para níveis abaixo do dano econômico. Na citricultura convencional de produção comercial, nos dias atuais, esse ambiente ecológico favorável não é encontrado facilmente, pois a biodiversidade é muito pobre, condição indispensável para favorecer a vida dos inimigos naturais. Ao mesmo tempo, a partir de 1987, os citricultores passaram a utilizar insetic idas em grande quantidade e freqüência como o único instrumento de que dispõem para combater alguns insetos pragas que surgiram como avassaladores dentre os quais as cigarrinhas transmissoras da CVC, minadora das folhas que facilita o ataque do cancro cítrico, o bicho furão e a cochinilha ortézia. A monocultura extensiva que se constituiu a citricultura em São Paulo, necessita de transformações, o que é conseguido através de uma manipulação ambiental mais efetiva para que o controle biológico nativo e importado tenha o seu potencial máximo aproveitado. O caminho mais rápido para se obter as condições ambientais necessárias é a aplicação dos conceitos de Manejo Ecológico de Pragas na sua plenitude. 2. Manejo Ecológico de Pragas O Manejo Ecológico de Pragas-MEP é uma nova visão do Manejo Integrado de Pragas –MIP. É trazer o controle de pragas para uma realidade contemporânea em que a proteção ambiental é a palavra de ordem em todas as organizações sociais da humanidade. Entendemos, como diferença básica entre MEP e MIP, a ênfase maior que se busca por processos biológicos de controle de pragas dentro de um sistema ecológico agrícola, onde também métodos ambientais de controle têm papel de maior relevância do que técnicas químicas, ainda que seletivas a inimigos naturais, como também requer o MIP. A operacionalização do MEP se faz obviamente com o monitoramento ambiental no qual se inclui a amostragem de pragas e inimigos naturais. Pela amostragem se obtém dados de densidade de pragas e organismos benéficos que auxiliam na tomada de decisão de manejo em cuja ação, outros fatores são levados em consideração. 3. Planejamento, execução e manutenção do MEP Um dos elementos fundamentais do MEP é o planejamento antecipado das ações para implantação de um pomar de citrus. Não basta apenas prever tipo de solo, clima, variedades, extensão da área, irrigação, comercialização, etc. Um citricultor moderno deve incluir nos seus planos: 1. disposição na plantação de critérios ambientais que visem a biodiversidade; 2. esquema visando facilidade para a operação de amostragem de pragas/inimigos naturais, pulverizações, colheita, etc; 3. ações de controle biológico clássico e artificial; 4. registro das ações em 222 documentos e informatização de dados visando melhor visualização do comportamento das pragas e inimigos naturais. Monitoramento Ambiental. Com o planejamento antecipado contemplando a biodiversidade acaba-se por exigir do manejador de pragas uma atividade freqüente de monitoramento ambiental. Significa observar e anotar dados ecológicos para confirmar os benefícios das técnicas ambientais adotadas ou modificar o ambiente para atingir os objetivos inicialmente propostos. Dentro do monitoramento está a amostragem de pragas e inimigos naturais que no MEP passa a ser uma atividade complexa na qual não basta apenas um método de avaliação, contagem e anotação das quantidades encontradas. Às vezes são necessárias 2, 3 ou até 4 técnicas de amostragem para uma única praga. Um exemplo é a Mosca das frutas: em citrus considera-se 4 tipos de observação de presença ou densidade: 1. Amostragem de sinais em frutas; 2. Amostragem por atrativos alimentares; 3. Amostragem visual de adultos; 4. Uso de feromônio. Num sentido mais amplo está o monitoramento de moscas: este é feito através de observação de áreas vizinhas à plantação em MEP, onde são encontradas outros hospedeiros comerciais ou naturais que abrigam a mosca e de onde migram por si só ou pelo vento. Ainda como serviço de monitoramento está a quantificação das espécies, comportamento, época, resistência, longevidade de adultos, etc. Tomada de Decisão no MEP. É outra atividade complexa do MEP. Para se decidir por uma ação de MEP é necessário ter muitos dados nas mãos, o que é conseguido pelo monitorame nto. Os níveis de ação numéricos estabelecidos com base nos níveis de danos econômicos reais ou empíricos são apenas referências iniciais que poderão sofrer alterações ao longo da prática do MEP. Quando se pensa que um nível de ação é o ideal, fatores macroecológicos, econômicos e sociais levam o manejador de pragas a considerar outro nível mais adequado. Retomando o exemplo a mosca das frutas, o nível conhecido é de 1 mosca por frasco atrativo por semana, mas interesses do produtor, influenciados pelo consumidor exigente de aparência agradável na fruta, levam- no a abandonar o nível de ação de MEP e fazer pulverizações preventivas em frutas ameaçadas por moscas no momento da colheita. O pior ocorre quando a fruta é para exportação cujo importador exige isenção total de risco de obter a mosca na fruta importada. Portanto, o nível de decisão de manejo ainda é reflexo do perfil do produtor, do importador e do consumidor final da produção. Isso tende a mudar à medida que o consumidor brasileiro ou importador passe a exigir isenção total de resíduos de agrotóxicos nas frutas que importa ou consome. Tomada de Decisão Ecológica. Se os perfis do produtor e do consumidor permitir é possível estabelecer ações visando a aplicação plena do MEP para cultivos em grande escala comercial resultando em produtos alimentícios mais saudáveis bem como a obtenção da produção por processos sem impactos ambientais negativos. Para isso, é necessário visões micro e macro ecológica da área onde está inserida a plantação. É preciso conhecer a biologia e o comportame nto das pragas chaves e dos inimigos naturais chaves do ecossistema trabalhado. É imprescindível dispor dos instrumentos necessários para agir contra a praga, sem impactos ambientais e toxicológicos que hoje em dia ainda se vêm em quase todos os sistemas de produção citrícola. Retomando o caso da 224 mosca das frutas, numa prática do dia-dia do MEP, verificamos que a fonte da mosca que infestava as mexericas de um pomar assistido em MEP, estava nos cafezais vizinhos. Como esta não poderia ser removida, a decisão mais correta para se evitar vender frutas com risco de resíduos de agrotóxico era desistir da produção de mexerica. Caso contrário a decisão de MEP seria controlar a mosca nos cafezais vizinhos com isca tóxicas no início do aparecimento de grãos de café em “cereja”, ao mesmo tempo que se liberaria parasitóides, Diachasmimorpha longicaudata, nessas áreas e nas mexeriqueiras, entre outras providências ecológicas. Técnicas Ambientais Visando Aumento do Controle Biológico. Após o entendimento básico do MEP com os itens abordados anteriormente são apresentadas a seguir algumas das técnicas ambientais que promovem o aumento das densidades de inimigos naturais nas plantações citrícolas em geral. Biodiversidade . São várias as possibilidades para aumentar a biodiversidade nos pomares citrícolas: 1. Quebra ventos. O motivo principal é servir de barreira para ventos fortes que predispõem folhas novas ao ataque do cancro cítrico, mas os benefícios são muito maiores, pois barram também insetos os mais diversos, como cochonilhas, moscas brancas, pulgões, e princ ipalmente ácaros nocivos. 2. Cobertura verde. São empregados nas entre linhas das árvores de citrus num pomar. 3. Faixas naturais. No planejamento de plantio visando MEP se deixam faixas da vegetação natural intercaladas a intervalos regulares. 5. Mistura de variedades. No caso de citrus é prejudicial, pois se estabelece uma sucessão de frutas maduras durante todo o ano fazendo com que de uma variedade mais precoce para outra mais tardia, as pragas aumentam o número de gerações. 1. Quebra-ventos. São barreiras físicas para todas as pragas e doenças que dependem do vento para se disseminarem. Dentre as pragas são mais notórias, as cochonilhas, os ácaros, as mo scas, os pulgões e as moscas brancas. O processo de barragem não resolve mas retarda a infestação no cultivo protegido permitindo maior eficiência dos inimigos naturais no próprio cultivo sobre as populações residentes que ainda estão em baixa densidade no início das safras. Outro lado positivo é que essas barreiras são abrigo para inimigos naturais, servindo de fator de aumento do controle biológico e evitando que a praga nas árvores da barreira seja a causa de infestação no cultivo. Há dois tipos de quebra-ventos: 1Árvores altas de folhage ns densas, mas que apresentam “saia” alta evitando o turbilhomamento no sotavento (face interna da barreira em relação à área protegida). 2- Barreiras com 40% de permeabilidade ao vento, mas com uma espécie de escadinha formada por um arbusto, uma planta de menor porte e a planta principal de maior porte no barravento (face externa). Pinus, Cipreste, Grevilha, etc, são os grupos mais comuns utilizados tendo portes altos. 2. Cobertura verde. Há muito o uso de herbicida total e gradagens foram minimizados em pomares frutíferos em geral. Em lugar disso se usa herbicida apenas nas linhas e roçadas no mato invasor permitindo renovação periódica e evitando alelopatia/competição. Com isso se deixa o mato natural reproduzir insetos presas/hospedeiros alternativos, flores 226 com néctar e pólen, que servem para alimentar vespinha microhimenópteras parasitóides, vespas predadoras, coccinelídeos, ácaros fitoseídeos predadores e outros organismos benéficos. 3. Faixas naturais. Na implantação de um pomar cítrico, recomenda-se deixar faixas contendo a vegetação natural que mantém a fauna benéfica nativa e, em contrapartida, serve de refúgio dos inimigos naturais que surgirão safra após safra, local onde não receberiam diretamente os inseticidas pulverizados. 4. Vegetação atrativa de inimigos naturais. Espécies vegetais adequadas como nabo forrageiro, amendoim forrageiro, braquiária rosisiensis, etc, se prestam a atrair organismos benéficos que depois se transferem para a planta cítrica exercendo o controle biológico. 5. Mistura de variedades. A maioria dos pomares são estabelecidos de forma a apresentarem produções contínuas durante todo o ano. Os destinados à indústria de processame nto contém pelo menos 4 variedades: Hamlin(precoce), Pêra(semi-tardia e multifloradas), Valência(tardia) e Natal(super-tardia). Os destinados ao mercado são multivarietais: Tangerinas e Lima verde(super-precoces), Bahia(precoce), Pêra, Valência e Natal, que com sistemas de podas de produção passam a produzir o ano todo, literalmente. Em ambos os casos, as pragas encontram condições ideais para se desenvolverem e se reproduzirem em altas densidades exigindo múltiplas pulverizações de inseticidas e acaricidas. Profilaxia no lugar de inseticidas. A retirada de partes atacadas por pragas e doenças é ainda uma técnica efetiva. Com podas de ramos ou desbaste de plantas se retira colônias de insetos ou ácaros e fontes de inóculo de doenças. O melhor exemplo está na citricultura onde se pode fazer: poda de ramos ou desfolha de árvores com doenças de fungos, cochonilhas, ácaros e vírus da leprose bem como erradicação de plantas com bactéria Xylella fastidiosa causadora da doença Clorose Variegada dos Citros, transmitida por cigarrinhas Cicadellidae Com isso evita-se inseticidas de largo espectro que alijam os inimigos naturais. 4. Considerações Finais O que foi apresentado aqui foram apenas aspectos relacionados com a prática do MEP como fator de aumento do controle biológico natural nas plantações citrícolas, mas há ainda que considerar a importação, a produção e a disponibilização de inimigos naturais para uso pelos produtores. Deve-se sempre levar em conta também a seletividade de agrotóxicos aos organismos benéficos como fator de incremento das densidades dos mesmos através da simples preservação. O aumento do controle biológico nos pomares dependerá por outro lado das políticas agrícolas dos países e dos consumidores finais de sucos e furtas, que deverão mudar de uma evidente apatia em relação aos riscos de resíduos de agrotóxicos em citrus, de uma total ignorância dos efeitos maléficos na natureza causados pelas pulverizações nos pomares, para atitudes mais conscientes e racionais, rejeitando produtos sem selos de garantia ecológica. Finalmente, louve-se o atual desempenho dos sistemas orgânicos de produção que, por si só, são fatores de aumento da atividade dos organismos benéficos da natureza contra as pragas agrícolas e seus danos econômicos. 5. Bibliografia Básica 228 GRAVENA , S. Manejo ecológico de pragas no pomar cítrico. Laranja, 11: 205-225, 1990. GRAVENA , S. Manejo ambiental de pragas dos citros. Laranja, 12: 247288, 1991. HARDY, R. W. F. et. al. Ecologically Based Pest Management. Washington, National academy Press. 1996. 146 p. HUFFAKER, C. B. & RABB, R. L. (Eds.). Ecological Entomology. John Wiley & Sons. 1984. 844 p. HUFFAKER, C. B. (Ed.). Biological Control. New York, Plenum Press. 1969. 511 p. PRICE, P. W. Insect Ecology. New York, John Wiley & Sons. 1975. 514 p. ENVIRONMENTAL ENTOMOLOGY. Lanham, Md, USA. Entomogical Society of America. M OSCA-DAS -FRUTAS EM FRUTICULTURA Pesquisadores Científicos Miguel Francisco de Souza Filho e Adalton Raga Eng. Agrônomos, Laboratório de Entomologia Econômica, Centro Experimental do Instituto Biológico, Instituto Biológico. Cx. Postal 70, CEP 13001-970, Campinas – SP. Tel. (19) 3252-8342. E-mail: [email protected] e [email protected] 1. Introdução A fruticultura brasileira atualmente é considerada uma das maiores do mundo, no que se refere a produção de frutas frescas e área cultivada, todavia, é muito reduzida a produção destinada para o mercado externo. O baixo nível tecnológico aplicado no cultivo das fruteiras, que se reflete na qualidade dos frutos produzidos, a exemplo dos problemas fitossanitários (pragas, doenças e plantas daninhas), são fatores que contribue m para essa situação. O Estado de São Paulo apresenta uma fruticultura bastante diversificada, que tem crescido significativamente nos últimos dez anos, abrangendo fruteiras de clima tropical, subtropical e temperadas, exploradas em função das condições edafoclimáticas e agronômicas disponíveis. As moscas-das- frutas (Diptera: Tephritidae) são as principais pragas da fruticultura mundial, considerando-se os danos diretos que causam e a capacidade de adaptação em outras regiões, quando introduzidas (praga quarentenária). No Brasil, as espécies de moscas-dasfrutas de importância econômica englobam-se nos gêneros Anastrepha e Ceratitis. As diversas espécies de Anastrepha são nativas do continente americano, enquanto Ceratitis capitata (Wied.) conhecida como moscado-mediterrâneo é a única representante do gênero no país, sendo originária do continente africano. Em face da importância dessas pragas, é importante ressaltar que o fruticultor brasileiro gasta grandes quantidades de inseticidas para o controle de moscas-das- frutas, sem o conhecimento adequado das espécies infestantes, do seu grau de infestação, da distribuição espacial das plantas hospedeiras e do controle biológico natural. 2. Principais Espécies de Moscas -das-frutas no Estado de São Paulo 230 Em todo o território paulista ocorrem moscas-das-frutas, nas áreas rural, urbana e de preservação. As principais espécies que causam danos à fruticultura paulista são as seguintes, em ordem de importância: Anastrepha fraterculus (Wied.), C. capitata, Anastrepha obliqua (Macquart) e Anastrepha sororcula Zucchi. Essas espécies atacam as principais fruteiras de importância econômica para o estado de São Paulo tais como: ameixa, caqui, citros, goiaba, manga, nêspera, pêssego e nectarina. Na cultura do maracujádoce, Anastrepha pseudoparallela se destaca como a mais importante. Ciclo Biológico O ciclo de vida das moscas-das- frutas ocorre em três ambientes conforme o esquema a seguir: VEGETAÇÃO (Adulto) FRUTO (Ovo e Larva) SOLO (Pupario) Espécie de moscas-dafrutas Ciclo de vida em dias a 25o C Ovo Larva Pupa Pré- A. fraterculus C. capitata 2-4 2-4 oviposição 12-15 6-11 10-20 7-10 9-11 3-4 O período de duração do ciclo de vida das moscas-das- frutas é dependente de vários fatores, principalmente da temperatura, da planta hospedeira e da própria espécie de mosca. Ceratitis capitata apresenta a duração do seu ciclo de ovo a adulto em torno de 18 a 30 dias no verão enquanto que A. fraterculus varia de 25 a 35 dias. Em épocas ou regiões de baixas temperaturas o ciclo é prolongado. 3. Caracterização dos Danos Os danos das moscas-das-frutas são causados diretamente nos frutos pela fêmea adulta (perfuração do fruto por ocasião da oviposição) e pelas larvas (consumo da polpa provocando um apodrecimento interno). Em frutos como ameixa, caqui, go iaba, laranja, nêspera e pêssego a infestação por larvas não é notada, pois os mesmos permanecem com a aparência externa normal. Entretanto, ao apalpar o fruto nota-se pontos de amolecimento da polpa e até extravasamento de suco pelo orifício de saída das larvas. No maracujá-doce, o ataque pode ocorrer tanto em frutos verdes como maduros, causando murchamento e posterior queda dos mesmos. No caso de danos ocasionados pela ação da oviposição (perfuração) há exemplos como a nêspera que quando sofre alta infestação, apresenta diversas pontuações escuras na epiderme e em pêssego ocorre exsudação de filetes de resina esbranquiçada. 4. Plantas Hospedeiras e Sucessão Hospedeira O conhecimento de plantas hospedeiras na região onde se pretende estabelecer um programa de controle de moscas-das- frutas é de primordial importância, uma vez que o ataque nas fruteiras comerciais ocorre da migração das moscas para o pomar. O Estado de São Paulo 232 apresenta um grande número de espécies vegetais hospedeiras de moscas-das-frutas (Quadro 1), amadurecendo seus frutos em diferentes estações do ano, proporcionando assim, o aumento da densidade populacional da praga e sua ampla distribuição por todo território. Essa seqüência de eventos caracteriza o fenômeno conhecido como sucessão hospedeira. Outro fator que também favorece ao estabelecimento das moscas-das-frutas é a existência de diversos ciclos de frutificação de um mesmo hospedeiro ao longo do ano a exemplo de goiaba, carambola, nêspera, citros e chapéu-de-sol (Quadro 1). QUADRO 1. Ocorrência de mosca-das-frutas nas plantas mais comuns no Estado de São Paulo Plantas Hospedeiras Moscas-das-frutas Nome Nome C. A. A. comum científico capitat fratercul obliqua a us Anacardiace ae 1. Cajá- Spondias X X X manga dulcis 2. Manga Mangifera X X X indica 3. Siriguela Spondias X X X purpurea Combretace ae 4. Chapéu- Terminalia X X X de-sol catappa Ebenaceae 5. Caqui Diospyrus X X kaki Malpighiace ae 6. Acerola Malpighia X X glabra hospedeiras A. pseudopar allela X - - - - Myrtaceae 7. Araçá 8. Goiaba 9. Jabuticaba 10. Jambo 11. Pitanga 12. Uvaia Oxalidaceae 13. Carambola Passifloracea e 14. Maracujádoce Rosaceae 15. Ameixa 16. Nêspera 17. Pêra 18. Pêssego Rubiaceae 19. Café Rutaceae 20. Laranja doce 21. Limãocravo 22. Kunquat Psidium cattleyanum Psidium guajava Myrciaria cauliflora Syzygium jambos Eugenia uniflora Eugenia pyriformis X X - - X X X - X X - - X X X - X X X - X X X - Averrhoa carambola X X X - Passiflora alata X X - X Prunus sp. Eriobotrya japonica Pyrus communis Prunus persica X X X X X - X X - - X X X - Coffea arabica X X - - X X - - X X - - X X X - - X - - Citrus sinensis Citrus limonia Fortunella sp. 23. Mexirica Citrus do Rio deliciosa 234 24. Tangerina “Cravo” 25. Tangerina “Ponkan” 26. Tangor “Murcott” Sapotaceae 27. Abiu Citrus X reticulata Citrus X reticulata C. reticulata X × C. sinensis X - - X - - X - - Pouteria caimito X - - X 5. Monitoramento O processo de avaliação do número de espécies de moscas-dasfrutas e a sua distribuição em cada localidade produtora é chamado de monitoramento. Esse sistema pode enfocar a análise de ovos e larvas diretamente nos frutos ou indiretamente através do uso de armadilhas que capturam adultos. Os modelos de armadilhas (frascos) mais usados no Brasil são os seguintes: 1. MacPhail – confeccionado em plástico ou vidro 2. Biológico - confeccionado em plástico ou vidro 3. Pet – confeccionado a partir de recipientes de refrigerante de 2 L Todos os modelos citados utilizam isca líquida como atraente alimentar, geralmente à base de melaço de cana-de-açúcar a 5-7% ou proteína hidrolizada de milho a 5%. No caso de maracujá, pode ser acrescido nos frascos suco da fruta diluído a 10%. Deve-se evitar a adição de inseticida na calda colocada nas armadilhas. O alvo principal do monitoramento é capturar as fêmeas, que no período que antecede ao início da oviposição, necessitam grandemente de substâncias protéicas e carboidratos, embora também machos sejam coletados nos frascos. A periodicidade de reabastecimento das armadilhas é de 7 a 10 dias, dependendo da época do ano. Os modelos mencionados capturam tanto C. capitata como as espécies de Anastrepha. O monitoramento deve dar condições de previsibilidade da infestação de moscas-das- frutas e por isso o armadilhamento é intensificado na periferia dos pomares, detectando populações invasoras. Os frascos são distribuídos a cada 50m, contornando a área produtora e também no interior do pomar, presos em ramos firmes a 1,80m de altura. A época de instalação das armadilhas para moscas-das-frutas varia de acordo com a fruteira. Nos casos de ameixa, caqui, goiaba, nêspera e maracujá doce o monitoramento deve ser implantado logo no início do desenvolvimento dos frutos. No caso de laranja e manga o monitoramento pode ser iniciado quando os frutos estiverem com cerca de 50% do seu tamanho. 6. Controle O êxito no controle de moscas-das-frutas sempre se baseia na integração de vários métodos de controle, uma vez que essas espécies apresentam características que as distinguem como pragas-chaves, como a alta produção de ovos, alta viabilidade de ovos, alta capacidade de dispersão de adultos e de colonização sob diferentes condições ecológicas. 6.1. Controle Cultural Esse método quando empregado para moscas-das-frutas se baseia principalmente em dois aspectos: 6.1.1. Destruição de frutos hospedeiros 236 Procedimento muito importante para a redução dos níveis das populações invasoras provenientes de hospedeiros naturais 6.1.2. Ensacamento dos frutos Tem se constituído em tática eficiente para evitar a oviposição. Deve ser efetuado nos primeiros estágios de desenvolvimento dos frutos. Para isso os frutos devem estar livres da presença de cochonilhas. O tipo de saco utilizado para maracujá-doce é o mesmo empregado para goiaba de mesa e pêssego. Para nêspera, prepara-se o ensacamento com papel jornal com a extremidade posterior aberta. 6.2. Controle Biológico Dentre os predadores, patógenos e parasitóides que atuam no controle biológico, este último grupo se constitui no principal mecanismo de redução natural das populações de moscas-das-frutas, agindo nas fases larval e pupal. No Quadro 2 é apresentada a espécie de parasitóide e respectivos hóspedes/hospedeiros. QUADRO 2. Espécies de parasitóides relacionadas a algumas espécies de Anastrepha no Estado de São Paulo. Espécie de Parasitóide Hóspede Doryctobracon areolatus A. (Szépligeti) fraterculus, A. pseudoparallela Doryctobracon brasiliensis A. fraterculus (Szépligeti) Opius bellus Gahan Utetes (Viereck) anastrephae A. fraterculus, A. obliqua A. fraterculus obliqua, A. 6.3. Controle Químico Baseia-se no emprego de inseticidas em cobertura total ou na forma de isca tóxica. A forma de menor impacto desse método é o de iscas tóxicas, que são preparadas conforme a forma descrita anteriormente para isca utilizada em frascos. A isca tóxica geralmente é aplicada em ruas alternadas visando a folhagem e não o fruto, em apenas uma parte da copa das plantas, não superior a 1 m2 e a intervalos de 7-10 dias. O tratamento deve ser implantado no início do desenvolvimento dos frutos. No Quadro 3 é apresentada uma lista de inseticidas com uso autorizado para as principais fruteiras no Estado de São Paulo. QUADRO 3. Recomendações de controle de moscas-das-frutas para as principais fruteiras do Estado de SãoPaulo Cultu Inseticid Instruções para Controle ra a Fazer o monitoramento das moscas através do uso de 2 armadilhas/ha, colocadas na periferia do pomar. Usar isca tóxica com um dos inseticidas indicados Deltamet com melaço (5-7%) ou proteína hidrolisada (3%) Amei rina aplicando-se cerca de 150-200 ml/planta em torno xa Fention de 30-50% das plantas, principalmente nas bordas Tricorfon do pomar. O uso de isca tóxica deve ser iniciado a partir da detecção das primeiras moscas nas armadilhas com intervalo de 7-10 dias ou quando os frutos estiverem com cerca de 2 cm de diâmetro. Fention Fazer pulverizações em cobertura visando os frutos Caqui Paration em amadurecimento. Os frutos das variedades metílico taninosas são menos susceptíveis ao ataque de Tricorfon moscas em relação às variedades não taninosas. Clorpirif Em variedades precoces utilizar frascos caça- moscas para fazer o monitoramento. Quando a presença do Citros ós Deltamet inseto for constatada, iniciar os tratamentos. Em rina variedades tardias, iniciar os tratamentos quando os 238 Dimetoat o Etion Fention Malation Paration metílico Tricorfon frutos tiverem atingido o tamanho máximo e antes de começar o amarelecimento. Para controle, utilizar iscas tóxicas com um dos inseticidas indicados com melaço (5-7%) ou proteína hidrolisada (3%), em ruas alternadas, pulverizando a solução em 1 m2 da copa, na parte que recebe maior incidência do sol pela manhã, gastando-se cerca de 150-200 ml/planta. Repetir o tratamento a cada 7-10 dias. Na época da florada não se recomenda o uso de inseticidas fosforados. Em pomares pequenos, retirar os frutos temporões, não deixando a fruta amadurecer; eliminar os frutos caídos ou refugados. Nas culturas de mesa, fazer o ensacamento dos frutos e pulverizar com um dos inseticidas recomendados. Nas culturas para indústria, fazer Goiab Fention pulverizações em cobertura total. Pomares com a Tricorfon grande concentração de plantas (efeito de massa), pode-se aplicar si cas tóxicas a base de melaço (57%) ou proteína hidrolisada (3%) mais inseticida. Repetir o procedimento a cada 10-15 dias. Efetuar o monitoramento com armadilhas distribuídas na seguinte proporção: pomares até 1 ha, utilizar 4 armadilhas; de 2 a 5 ha, 2 armadilhas/ha; acima de 5 ha, 1 armadilha/ha. Fention Constatada a presença da mosca, iniciar a Paration pulverização com isca tóxica a base de melaço (5Mang metílico 7%) ou proteína hidrolisada (3%) mais inseticida no a Triclorfo interior das árvores a 2-3 m de altura, aplicando-se n cerca de 150-200 ml/m2 de copa em ruas alternadas. As aplicações devem ser realizadas a cada 10-15 dias no período em que os frutos ainda estiverem verdes. Caso a infestação não seja controlada, fazer uma única aplicação em cobertura total com fention. Basicamente a mosca é limitante na cultura do maracujá-doce. Iniciar o tratamento quando os frutos tiverem de 2-3 cm de diâmetro. Realizar a Marac Fention pulverização em cobertura total. Em caso de ujá persistência do ataque, fa zer o controle sob a forma de isca tóxica a base de melaço (5-7%) ou proteína hidrolisada (3%) mais inseticida. Repetir o procedimento a cada 10-15 dias. Efetuar o desbaste dos cachos, deixando quatro frutos novos em cada cacho e em seguida os Nêspe Fention mesmos devem ser protegidos com sacos de jornal ra de parede dupla antes de 30 dias após o final da florada. Na cultura de mesa, em pomares pequenos, efetuar o ensacamento dos frutos recém formados. Recolher os frutos temporões. Fazer o monitoramento das Deltamet moscas usando-se 4 armadilhas/ha. Após a floração rina quando os frutos iniciarem o seu desenvolvimento, Pêsse Fenitroti ao capturar as primeiras moscas, iniciar o uso da go on isca tóxica a base de melaço (5-7%) ou proteína e Fention hidrolisada (3%) mais inseticida gastando-se em Nectar Malation torno de 150-200 ml/planta em 30-50% das plantas, Paration principalmente das bordas do pomar a cada 7-10 ina metílico dias e na pré- maturação usar isca a cada 3-5 dias. O Tricorfon período de inchamento dos frutos é a fase mais crítica e no caso se for detectado 6 moscas/semana/frasco, deve-se realizar o controle com pulverizações em cobertura total. Fonte: Coordenadoria de Defesa Agropecuária – Abril/2000 7. Bibliografia Consultada MALAVASI, A. & ZUCCHI, R.A. Moscas -das-frutas de importância econômica no Brasil. Conhecimento básico e aplicado. Ribeirão Preto: Holos, 2000, 327p. RAGA , A.; SOUZA FILHO, M.F.; ARTHUR, V. & MARTINS, A.L.M. Avaliação da infestação de moscas-das- frutas em variedades de café (Coffea spp.). Arq. Inst. Biol., 63: 59-63, 1996. RAGA , A.; SOUZA FILHO, M.F.; SATO. M.E. & C ERÁVOLO, L.C. Dinâmica populacional de adultos de moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae) em pomar de citros de Presidente Prudente, SP. Arq Inst Biol, 63: 2328, 1996. 240 RAGA , A.; SOUZA FILHO, M.F.; ARTHUR , V.; SATO, M.E.; MACHADO, L.A. & BATISTA FILHO, A. Observações sobre a incidência de moscas-dasfrutas (Diptera, Tephritidae) em frutos de laranja (Citrus sinensis). Arq. Inst. Biol.,, 64: 125-129, 1997. SOUZA FILHO, M.F. Biodiversidade de moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae) e seus parasitóides (Hymenoptera) em plantas hospedeiras no Estado de São Paulo. Dissertação de Mestrado, ESALQ/USP, Piracicaba, SP, 1999.173p. SOUZA FILHO, M.F. & RAGA A. Moscas-das-frutas: mudanças nas condições climáticas favorecem o aumento desses insetos. Citricultura Atual, 4: 12, 1998. SOUZA FILHO, M.F.; RAGA A. & ZUCCHI, R.A. Moscas-das-frutas: a importância relativa das espécies em citros do Estado de São Paulo. Citricultura Atual, 10: 12, 1999. SOUZA FILHO, M.F.; RAGA A. & ZUCCHI, R.A. Incidência de Anastrepha obliqua (Macquart) y Ceratitis capitata (Wiedemann) (Diptera: Tephritidae) em carambola (Averrhoa carambola L.) en ocho localidades del estado de São Paulo, Brasil. An. Soc. Entomol. Bras, 29: 367-371, 2000. SOUZA FILHO, M.F.; RAGA A. & ZUCCHI, R.A. Moscas-das-frutas nos Estados brasileiros: São Paulo. In: MALAVASI, A. & ZUCCHI, R.A. (Eds.) Moscas -das-frutas de importância econômica no Brasil. Conhecimento básico e aplicado. Ribeirão Preto: Holos, 2000, p.277283. M ANCHA PRETA OU PINTA PRETA DOS CITROS Pesquisador Científico Eduardo Feichtenberger Engº Agrônomo, Laboratório de Sanidade Animal e Vegetal de Sorocaba, Instituto Biológico. Rua Antonio Gomes Morgado, 340 - CEP 18013-440 Sorocaba, SP. E-mail: [email protected] 1. Introdução A pinta preta, ou mancha preta dos citros afeta folhas, ramos e, principalmente, frutos de laranjeiras doces, limoeiros verdadeiros, pomeleiros, algumas tangerineiras e vários híbridos de citros. A doença provoca manchas na casca dos frutos que prejudicam sua aparência, tornando-os impróprios para o mercado de fruta fresca. Em ataques severos, como os que têm sido freqüentes em várias regiões produtoras paulistas, grande parte dos frutos manchados caem prematuramente. Os frutos são suscetíveis até atingirem o tamanho aproximado de uma bola de "pingue-pongue", quatro a seis meses após a queda de pétalas das flores. As folhas são suscetíveis até atingirem cerca da metade do seu tamanho final. Árvores velhas e plantas debilitadas por várias causas, como ataque de pragas e doenças, condições ambientais adversas, deficiências nutricionais, e tratos culturais inadequados, são mais sujeitas ao ataque do fungo agente causal. 2. Histórico e Abrangência Geográfica O primeiro registro da pinta preta foi feito na Austrália, em 1895. Trinta anos depois ela foi encontrada na África do Sul, afetando severamente frutos de laranja Valência, tanto em plantios comerciais como na pós-colheita. Além da Austrália e África do Sul, a doença já foi registrada em vários outros países da África, como Moçambique, 242 Swazilândia e Zimbabwe; da Ásia, como China, Filipinas, Indonésia, Taiwan e Japão; e da América do Sul, como Argentina, Brasil e Peru. No Brasil, a mancha preta foi registrada pela primeira vez em 1937, em frutos coletados em uma feira livre na cidade de Piracicaba-SP. Em pomares comerciais, a primeira constatação data de 1980, em plantas de mexerica Rio, nos municípios de São Gonçalo e Itaboraí, Rio de Janeiro, tendo depois se disseminado rapidamente para outros municípios da Baixada Costeira Fluminense. Em 1986, a pinta preta foi encontrada em Montenegro, no Vale do Caí, Rio Grande do Sul. Hoje, ela encontrase disseminada em todas as regiões produtoras de citros sul-riograndenses. No Estado de São Paulo, a pinta preta foi encontrada em plantios comerciais somente em 1992, atacando plantas de limões verdadeiros e laranjas doces de maturação tardia, nos municípios de Conchal e Engenheiro Coelho. A doença teve uma expansão muito rápida em São Paulo, já tendo sido registrada em todas as principais regiões produtoras. 3. Sintomas Uma das principais características da pinta preta é que vários órgãos da planta podem estar infectados sem, contudo, apresentarem os sintomas típicos da doença. Os sintomas podem demorar até um ano a aparecer após a infecção do órgão, dependendo das condições ambientais. A manifestação dos sintomas é favorecida pela radiação solar combinada com altas temperaturas. Os sintomas são mais freqüentes e de maior intensidade nas faces da planta mais expostas aos raios solares. Em frutos, cinco tipos principais de lesões podem ocorrer: a) manchas duras ou manchas marrom, que em geral aparecem quando os frutos iniciam mudança de cor ou frutos já maduros. As lesões apresentam o centro necrótico deprimido de cor marrom-claro ou cinzaescuro e as bordas salientes de coloração marrom-escura, e são circundadas por um halo verde escuro. Em frutos verdes as lesões são circundadas por um halo amarelo. Uma característica típica dessas lesões é a presença de pequenas pontuações escuras no seu centro, que se constituem nos picnídios do fungo; b) manchas sardentas, são pequenas lesões de cor preta, que em geral aparecem após o início de mudança de cor dos frutos. Elas podem se unir formando lesões maiores ou permanecem pequenas, individualizadas; c) manchas virulentas, são lesões grandes, de formato irregular, apresentando o centro deprimido ou não de coloração acinzentada, e as bordas salientes de cor marrom- escura ou vermelho-escura. Essas lesões em geral aparecem no período final de maturação dos frutos ou na póscolheita, durante o transporte e o armazenamento. A mancha virulenta pode ser resultante da evolução das manchas dos tipos marrom ou dura e mancha sardenta; d) manchas de falsa melanose, são escuras e pequenas, podendo ser confundidas com as manchas de melanose (fungo Diaporthe citri). Contudo, as manchas de melanose são ásperas, ao contrário das de falsa melanose que são lisas; e) manchas trincadas, que em geral aparecem em frutos com mais de 6 meses de idade e em associação com o ácaro da falsa ferrugem (Phyllocoptruta oleivora Ashmed), são levemente salientes e de aspecto fendilhado, de forma e tamanho variáveis, sem margens definidas, e não apresentam picnídios do fungo. 244 Sintomas em folhas e ramos são pouco freqüentes, sendo em geral encontrados somente em plantas velhas e debilitadas. As lesões são muito semelhantes às do tipo marrom ou dura dos frutos, com o centro necrótico deprimido de cor cinza, as bordas salientes marrom-escura com um halo amarelado ao redor das lesões. Picnídios do fungo agente causal também são produzidos no centro dessas lesões. 4. Fungo Agente Causal Guignardia citricarpa é o fungo agente causal da doença, que produz esporos sexuais denominados ascósporos somente em folhas em decomposição no solo. Esses esporos constituem-se na principal fonte de inóculo. Eles podem ser carregados pelo vento, disseminando o fungo a médias e longas distâncias. Eles também podem ser levados, por respingos de água, das folhas caídas ao solo até a superfície de frutos e outros órgãos da parte baixa da copa das plantas. A forma imperfeita do fungo denomina-se Phyllosticta citricarpa, que produz esporos assexuais, os picnidiósporos, em lesões de frutos e folhas e, ocasionalmente, no pedúnculo dos frutos. Esses esporos também são produzidos em grande número em folhas mortas. Eles somente são disseminados a curtas distâncias, por água de chuva, irrigação e orvalho, podendo infectar frutos da mesma planta, ou de plantas muito próximas. 5. Prevenção Medidas de prevenção visam evitar a introdução do fungo em áreas novas, onde a doença ainda não foi detectada. Elas incluem: a) Plantio de mudas livres do fungo agente causal, se possíve l, mudas produzidas em regiões onde a doença ainda não ocorre; b) Restrição ao acesso e fiscalização da circulação de pessoas, veículos, máquinas e implementos em pomares, principalmente quando provenientes de outras propriedades localizadas em regiões contaminadas pela doença; c) Lavagem e desinfestação de veículos, máquinas, equipamentos e materiais de colheita, antes deles adentrarem os pomares; d) Utilização durante a colheita, se possível, de equipes e materiais de colheita próprios; e) Construção de silos na entrada das propriedades para o armazenamento dos frutos colhidos, evitando-se assim a circulação de pessoas e veículos estranhos no pomar; f) Manutenção das plantas em boas condições de nutrição e sanidade; g) Inspeção frequente dos pomares e eliminação das plantas em estado de depauperamento avançado. 6. Controle Químico O controle químico torna-se necessário após a detecção da doença na área. As pulverizações devem ser feitas visando proteger os frutos recém- formados, que são suscetíveis até atingirem o tamanho aproximado de uma bola de pingue-pongue. Vários fungicidas sistêmicos (benzimidazóis e estrubilurinas) e produtos de contacto (cúpricos e mancozeb) são eficazes no controle de pinta preta. Esses fungicidas devem sempre ser aplicados misturados com óleo mineral ou vegetal, a 0,25 - 0,50%. Como o fungo pode desenvolver resistência aos benzimidazóis (benomil, carbenzazim, tiofanato metílico) e as estrubilurinas pelo seu uso continuado, recomenda-se que esses produtos sejam utilizados sempre em misturas com produtos de contacto 246 (mancozeb, cúpricos), e que o número de aplicações com benzimidazóis não seja superior a duas por safra. A utilização de produtos a base de cobre requer cuidados para se evitar fitotoxicidade por esses produtos aos frutos, principalmente quando as aplicações são feitas após o início do período das chuvas. Deve-se também considerar que o uso intensivo de fungicidas na cultura poderá produzir impactos ambientais indesejáveis, comprometendo o desenvolvimento de fungos entomopatogênicos, inimigos naturais de pragas. Em pomares de variedades de meia estação ou de maturação tardia muito atacados, quatro ou mais pulverizações, em intervalos de quatro a cinco semanas, são necessárias para se obter bons níveis de controle. As duas primeiras podem ser feitas com produtos à base de cobre misturados com óleo. As aplicações seguintes podem ser feitas com misturas envolvendo um benzimidazol, um produto de contacto (mancozeb ou cúprico) e óleo (0,25-0,50%), pois nessa época é prová vel que a pressão de inóculo seja maior pela participação também maior dos ascósporos produzidos nas folhas em decomposição no solo. 7. Outras Medidas de Controle Além das medidas de prevenção já relacionadas, outras medidas devem ser adotadas visando manter o fungo sob controle em áreas contaminadas, já que a sua completa eliminação das áreas onde ele foi introduzido é na prática impossível. Tais medidas incluem: 1) Antecipação da colheita, quando possível, principalmente em variedades precoces e de meia estação, procurando-se assim evitar que o inóculo (picnidiósporos) produzido nos frutos infectados da safra anterior possa infectar os frutos provenientes das novas floradas; 2) Controle do mato nas linhas de plantio com herbicidas pós-emergentes, antes do início da florada, visando à formação de uma cobertura morta sobre as folhas caídas ao solo, reduzindo, assim, a fonte de inóculo representada pelos ascósporos nela produzidos; 3) Irrigação dos pomares nos meses secos do ano para evitar a queda excessiva de folhas e uma maior predisposição das plantas ao ataque do fungo. 8. Referências Bibliográficas AGUILAR-VILDOSO, C. I.; F EICHTENBERGER, E.; MORAES, M.R.; SPÓSITO, M. B.; S CHINOR, E. H. Avaliação de tratamentos fungicidas no controle de Mancha Preta (Guignardia citricarpa) em laranjeira 'Pera' de diferentes idades. Summa Phytopathol., 25: 50, 1999. FEICHTENBERGER, E. Mancha preta dos citros no Estado de São Paulo. Laranja, 17: .93-108, 1996. FEICHTENBERGER, E.; M ÜLLER, G.W.; GUIRADO, N. Doenças dos citros. In: KIMATI, H. et al.(Eds.). Manual de Fitopatologia.: Doenças das Plantas Cultivadas, v. 2. São Paulo: Editora Agronômica Ceres Ltda. 1997. p.261-296. GOES, A. DE. Controle da mancha preta dos frutos cítricos. Laranja, Cordeirópolis, v. 19, p.305-320, 1998. GOES, A. DE; ANDRADE, A.G.; MORETTO, K.C.K. Efeito de diferentes tipos de óleos na mistura de benomil + mancozeb no controle de Guignardia citricarpa, agente causal da mancha preta dos frutos cítricos. Summa Phytopathol., 26: 233-236, 2000. KOTZÉ, J. M. Epidemiology and control of citrus black spot in South Africa. Plant Dise., 65, : .945-950, 1981. 248 ROBBS, C. F.; BITTENCOURT , A. M. A mancha preta dos citros: um dos fatores limitantes à produção citrícola do Estado do Rio de Janeiro. Guaratiba: EMBRAPA/CTAt, 1955. 5p. (Comunicado Técnico, 19). SCHUTTE, G. C.; BEETON, K. V.; KOTZÉ, J. M. Rind stippling on Valencia orange by copper fungicides used for control of citrus black spot in South Africa. Plant Dis., 81, : 851-854, 1997. SPOSITO, M. B.; AGUILAR-VILDOS, C.I.; F EICHTENBERGER, E.; MORAES , M.R.; RUBIN, C.A. Avaliação de tratamentos fungicidas no controle de mancha preta em frutos de laranjeiras 'Natal'. Fitopatol. Bras., 24 : 334, 1999. SPOSITO, M. B.; AGUILAR-VILDOS, C.I.; MORAES , M.R.; FEICHTENBERGER, E. Época de aplicação de fungicidas no controle de mancha preta (Guignardia citricarpa) em laranjeira 'Pera'. Summa Phytopathol., 26: 119, 2000. M OSCA BRANCA EM HORTALIÇAS Pesquisadores Científicos Zuleide A. Ramiro1 & José R. Scarpellini2 1 Eng. Agrônoma, Dra. – Laboratório de Manejo Integrado, Centro Experimental do Instituto Biológico, Instituto Biológico. Caixa Postal 70, 13001-970-Campinas/SP. E- mail: [email protected] ; 2 Eng. Agrônomo, Laboratório Sanidade Animal e Vegetal, Centro de Ação Regiona l, Instituto Biológico. R. Peru n. 1472-A 14075-310 Ribeirão Preto – SP. E- mail:[email protected] Nas últimas décadas, o complexo de mosca-branca, Bemisia spp., tem sido registrado como pragas de importância econômica em diversos países dos diferentes continentes. Nas regiões da América Central e do Sul os maiores danos são devidos aos efeitos indiretos como vetores de geminivirus, principalmente em culturas de tomate. A partir da década de 80 um novo biótipo, B tabaci Biótipo B ou como é mais conhecida. B. argentifolii, caracterizado por ter um amplo número de plantas hospedeiras, passou a ter enorme importância nos EUA, Caribe e América Central. Este biótipo foi registrado em 1993, no Distrito Federal e em 1994 em diferentes espécies de hortaliças (brócolos, berinjela, aboboreira...) e plantas invasoras no Estado de São Paulo. A mosca branca B. argentifolii apresenta características que a diferencia da espécie B. tabaci no que diz respeito à interação inseto x planta hospedeira. Quanto mais a planta é preferida maior o número de ovos/fêmea, maior taxa de oviposição, maior longevidade das fêmeas, conseqüentemente maiores populações em curto período de tempo. Além destas características, completa seu desenvolvimento em plantas de tomate, ocorre em um maior número de plantas cultivadas e induz alterações fitotóxicas em curcubitáceas, tomate e brócolos. Na cultura do tomate, a mosca branca pode ocasionar danos direto e indireto. Os danos diretos são provocados pela sucção da seiva e ação toxicogênica, além da liberação de secreções açucaradas favorecendo o desenvolvimento de fumagina, fungo que desenvolve um micélio de cor escura na superfície das folhas, interferindo na síntese de clorofila e trocas gasosas. Estes danos provocam anomalias fitótoxica, caracterizadas pelo amadurecimento irregular dos frutos o que dificulta o reconhecimetno do ponto de colheita, reduz a produção e, no caso de tomate industrial, a qualidade da pasta. Internamente, os furtos apresentam-se, com aspecto esponjoso ou “isoporizados”. Os danos 250 indiretos causados pela transmissão de vírus, em geral, são visualizados pelo amarelecimento total da planta, nanismo acentuado e enrugamento severo das folhas terminais. Em abóbora ocorre o prateamento da folha, caracterizando a ocorrênc ia de B. argentifolii , provavelmente devido à injeção de uma fitotoxina sistêmica pelas ninfas e em plantas ornamentais ocorre redução do valor estético e comercial da cultura. Em culturas de brócolos e repolho causa o embranquecimento do caule e em cenoura o clareamento da raiz. As espécies de moscas-brancas, como de outros insetos sugadores da mesma ordem, têm como característica a excreção de substâncias açucaradas as quais cobrem as folhas e servem de substrato para fungos, resultando na formação da fumagina, que reduz o processo de fotossíntese afetando a produção e qualidade, principalmente em culturas de hortaliças. Tanto as formas jovens (ninfas) como os adultos causam danos as plantas e as maiores dificuldades de controle estão relacionadas a grande capacidade de adaptação e reprodutivas destes insetos além do fato de durante todas as fases de ninfa permanecerem fixas na face inferior das folhas dificultando, principalmente o controle químico. Até a presente data não existe um método que isoladamente seja eficiente no controle desta praga sendo que, para reduzir os danos o agricultor tem que adotar diversos métodos seguindo as recomendações do Manejo Integrado (MIP) o qual envolve o uso simultâneo de diferentes técnicas de supressão populacional, objetivando manter um nível populacional que não cause danos econômicos. A adoção do MIP está fundamentada em dois critérios básicos: monitoramento e nível de dano econômico. O monitoramento consiste no acompanhamento da ocorrência da praga de tal forma que as medidas de controle sejam adotadas em tempo de reduzir a densidade populacional do inseto para níveis que não causam danos de importância econômica. Depois da primeira infestação de mosca-branca a colonização aumenta drasticamente. Por este motivo é importante o acompanhamento desde o inicio da germinação das plantas através de observação da presença de ovos e/ou ninfas, na parte inferior das folhas e dos adultos utilizando armadilhas adesivas. Estas armadilhas podem ser confeccionadas com materiais plásticos, como garrafas, pintadas de amarelo e untadas com uma substância oleosa. O inseto atraído pela cor fica aderido na armadilha permitindo que se constate o aparecimento dos primeiros adultos. Por nível de dano econômico (NDE) entende-se a menor densidade de população da praga que poderá causar prejuízos econômicos justificando medidas de controle. Em relação ao NDE ocasionado pela mosca-branca não existem níveis estabelecidos e devido ao baixo número de adultos necessários para disseminar vírus a recome ndação baseia-se no nível de ação que se resume à presença do inseto na planta. Acompanhando o desenvolvimento populacional da moscabranca, desde o inicio do aparecimento dos primeiros adultos o agricultor poderá lançar mão dos diversos métodos de controle recomendados nos programas de MIP, sendo os abaixo relacionados os que têm sido comprovados como eficientes para a convivência com esta praga: 252 Ø Normatizar calendários de plantio evitando com isto a disseminação da praga de áreas mais velhas para as mais novas; Ø Destruir restos de culturas, imediatamente, após a colheita; Ø Manter a área limpa, se possível, trinta dias antes do plantio; Ø Plantas armadilhas. Áreas com culturas preferidas pela mosca-branca, como o pepino e a berinjela, na qual serão aplicados inseticidas sistêmicos a partir do aparecimento dos primeiros adultos. Estas plantas deverão ser inutilizadas após a colheita da cultura principal; Ø Sementes de boa qualidade e de alto poder germinativo. Mesmo não sendo resistente a mosca-branca são fundamentais para que a planta suporte um maior nível populacional.; Ø Formar os viveiros de mudas distantes de culturas infestadas, proteger a sementeira com tela, tecido ou plástico e com controle químico; Ø Pulverizar as mudas antes do transplante; Ø Utilizar armadilhas adesivas por volta da área cultivada; Ø Aumentar a densidade de plantas o que permitirá eliminar aquelas que apresentarem sintomas de viroses; Ø Utilizar coberturas repelentes à mosca-branca (plástico preto ou prateado, palha de arroz, restos vegetais provenientes de capina) Ø Fazer rotação de culturas As medidas acima reduzem a incidência da mosca-branca, porém, não elimina a utilização do controle químico. Este é o método mais utilizado, no entanto, devido a grande capacidade reprodutiva deste inseto registra-se o aparecimento, em curto prazo, de populações resistentes, por este motivo o agricultor deve observar os seguintes pontos: Ø No caso de alta infestação da praga, o controle químico deve ser iniciado logo após o transplantio e ser repetido durante os 30 dias seguintes, utilizando-se produtos seletivos; Ø Não aplicar inseticidas reguladores de crescimento de insetos mais de uma vez durante o ciclo de da cultura; Ø Limitar a utilização de inseticidas em função dos níveis de infestações; Ø Diversificar os ingredientes ativos através de rotação entre diversos grupos químicos; Ø Manter em bom estado os equipamentos utilizados na aplicação dos produtos; Ø Usar a dosagem indicada pelo fabricante e a quantidade de água adequada; Ø Realizar as pulverizações entre 6:00 e 10:00 horas ou a partir das 16:00 horas, evitando a rápida evaporação de água e a degradação dos produtos; Ø Obedecer ao período de carência dos produtos para realizar a colheita; Ø Quando observar que o produto aplicado não teve o efeito esperado, apesar de ser recomendado para o controle da praga, contactar o agrônomo da Casa da Agricultura local. Bibliografia Consultada FRANÇA , F.H.; VILLAS BOAS, G. L. & CASTELO BRANCO, M. Ocorrência de Bemisia argentifolii Bellows & Perring (Homóptera: Aleyrodidae) no Distrito Federal. An. Soc. Entomol. Bras., 25: 369-372, 1966.. 254 HAJI, F. N. P.; MATTIS, M. A. DE A.; BARBOSA , F. R. & ALENCAR, J. A. 1998. Estratégias de controle da mosca branca Bemisia argentifolii Belows & Perring, 1994. Apostila do curso sobre mosca branca, promovido pela EMBRAPA-Algodão. Campina Grande/Pb. 20p. HILJE, L. 1996. Metodologias para el estudio y manejo de moscas blancas y geminivírus . Turrialba: CATIE. Unidad de Fitoprotección. 150p. HILJE, L. 2000. Prácticas agrícolas para el manejo de Bemisia tabaci. Manejo integrado de plagas 36: 22-30. LOURENÇÃO, A. L & NAGAI, H. 1994. Surtos populacionais de Bemisia tabaci no Estado de São Paulo. Bragantia, 53: 53-59. VILLAS BÔAS, G. L.; FRANÇA, F. H.; ÁVILA , A. C. DE; BEZERRA , I. C. 1997. Manejo integrado da mosca-branca Bemisia argentifolii. EMBRAPA/Hortaliças, Circular Técnica nº 9, 10p. M ANEJO DE PRAGAS EM CULTURAS DE TOMATE E PIMENTÃO Pesquisadora Científica Silvia De Lamonica Imenes Eng. Agrônoma, Centro Sanidade Vegetal, Instituto Biológico, São Paulo, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898,CEP 04010-970, Tel. (11) 5087 1705. E- mail: [email protected] 1. Introdução Para atender as exigências quanto à sustentabilidade e à qualidade dos produtos agrícolas e do meio ambiente, aconselha-se incorporar os conceitos da Agroecologia e do Manejo Integrado de Pragas às metodologias do controle fitossanitário. Sob este enfoque, insetos e ácaros fitófagos são considerados pragas apenas quando atingem níveis populacionais suficientes para causar danos econômicos. Isto ocorre em decorrência de um desequilíbrio ambiental, que cria um meio favorável à população de insetos pragas e desfavorável à planta e à população de insetos benéficos que coexiste no ecossistema. Ecossistemas equilibrados tendem a apresentar menos problemas fitossanitários. Assim, plantas mantidas em ambientes diversificados, com boas condições físicas, químicas e biológicas de solo e bem adaptadas às condições climáticas locais, apresentam muito boa resistência ao ataque de pragas. Desta forma, devemos considerar atentamente as possibilidades de adequação do sistema produtivo, além das possibilidades de utilização das medidas culturais e/ou mecânicas que possam funcionar como técnicas preventivas ou curativas de controle. Para a Agroecologia, os mecanismos de reequilíbrio do sistema produtivo englobam os seguintes fatores principais: Ø o aumento da biodiversidade, para preservar e ampliar os nichos de inimigos naturais. Ø a recuperação da biomassa do solo, pela adição de matéria orgânica e adubos verdes. Ø a nutrição vegetal adequada, pela eliminação dos fertilizantes de alta solubilidade. O Manejo Integrado de Pragas (MIP), tem como principal objetivo a racionalização do uso de produtos químicos na agricultura, visando a redução dos custos de produção e a proteção do equilíbrio biológico do ambiente. A idéia de se elaborar uma metodologia de manejo surgiu em resposta aos problemas gerados pelo uso indiscriminado e abusivo de inseticidas que, interferindo no equilíbrio do 256 agroecossistema, tem acarretado dificuldades no controle das pragas tais como: Ø ressurgência de pragas em picos populacionais incontroláveis, devido à eliminação dos inimigos naturais pelo uso de inseticidas não seletivos. Ø aparecimento de pragas secundárias que originalmente estariam sendo controladas pelos inimigos naturais eliminados. Ø seleção de populações pragas resistentes ao controle, devido ao uso inadequado e à repetição de produtos de mesmo princípio ativo e/ou mecanismo de ação. As táticas de MIP abrangem fundamentalmente o monitoramento das pragas-chaves da cultura e a adoção de medidas preventivas e alternativas, na tentativa de relegar o uso de produtos químicos como última opção de controle. Para tanto determina os seguintes passos: Ø conhecimento prévio das pragas-chaves e de seus inimigos naturais Ø amostragem periódica das populações de pragas e inimigos naturais Ø determinação do “Nível de Tolerância” da cultura, ou seja , que população da praga a planta suporta sem apresentar prejuízos econômicos, estabelecendo-se o “Nível Econômico de Dano” ou “Nível de Ação” para o controle Ø tomada de decisão para o controle Ø escolha do método de controle Ø utilização de medidas preventivas e/ou alternativas Ao incorporar os conceitos da Agroecologia à metodologia do MIP pode-se dizer que para a obtenção de culturas com um bom estado fitossanitário deve-se observar os seguintes procedimentos básicos: escolha de variedades, manutenção do bom estado nutricional da cultura, reconhecimento das pragas chaves e inimigos naturais, monitoramento periódico das pragas e inimigos naturais e adoção de medidas de controle (alternativas e convencionais). 2. Escolha de Variedades Num mesmo cultivo sugere-se a utilização de mais de uma variedade, evitando grandes áreas de monocultura, para preservação da diversidade do agroecossistema. Esta diversidade visa manter baixas as populações dos organismos fitófagos em função de sua preferência alimentar. Na escolha das variedades deve-se preferir as mais rústicas e mais adaptadas às condições climáticas e edafológicas do local de plantio. As sementes e mudas devem ser sadias e adquiridas de fornecedores idôneos. Sempre que possível é interessante intercalar as faixas de cultivo com outras espécies vegetais e rotacionar as culturas. 3. Manutenção do Bom Estado Nutricional da Planta Sabe-se que culturas nutricionalmente equilibradas são mais resistentes aos agentes patogênicos e parasitológicos. A manutenção da estrutura e da fertilidade do solo resultam em maior aeração, retenção de água e disponibilidade de nutrientes, propiciando um melhor desenvolvimento das raízes e maior vigor do vegetal. Os procedimentos abaixo relacionados contribuem para elevar as qualidades físicas, químicas e biológicas do solo: Ø realização de análise do solo para auxiliar na reposição correta de nutrientes essenciais para a cultura. Deve-se dar preferência aos fertilizantes naturais e de menor solubilidade para reduzir as perdas por lixiviação. Deve-se evitar os fertilizantes sintéticos e altamente solúveis 258 pois eles tendem a elevar a concentração de açúcares, aminoácidos e nitratos livres na seiva das plantas, favorecendo as populações de insetos fitófagos, principalmente os sugadores. Ø adição de matéria orgânica na forma de compostos, estercos bem curtidos e/ou material vegetal lignificado triturado (bagaço de cana, capins, palhada de milho), pois fornecem nutrientes e melhoram a disponibilidade dos já existentes, além de contribuírem para melhor estrutura do solo. Ø uso de adubos verdes que fornecem nitrogênio e melhoram a estrutura do solo em maiores profundidades, devido a ação das raízes. Os adubos verdes, além de fornecerem nutrientes, são excelentes escarificadores. Ø utilização de cobertura morta para proteger o solo contra os extremos de temperatura e os impactos de chuvas fortes, o que resulta na manutenção de uma boa estrutura do solo. Além disso, a cobertuta morta evita perdas de água, reduz a germinação de plantas silvestres e auxilia na manutenção de microrganismos benéficos. 4. Reconhecimento das Pragas Ø Vetores de vírus: são sugadores de seiva e limitantes até os 60 dias após a germinação; transmitem o vírus a partir das picadas de prova, portanto sua simples presença já determina o nível de ação. Ø Pulgões ou afídeos (Hemiptera: Aphididade): Myzus persicae: vetor das viroses do “topo amarelo, amarelo baixeiro, mosaico Y e mosaico comum”. Ø Mosca branca (Hemiptera: Aleyrodidae): Bemisia tabaci e Bemisia argentifolii: transmissoras da virose do “mosaico dourado” Ø Cigarrinhas (Hemiptera: Cicadelidae): Agallia albidula, Agalliana ensigera e A. sticticollis: vetoras do “enrolamento das folhas”. Ø Tripes (Thysanoptera: Thripidae): Frankliella schulzei: transmissor do vírus do “vira cabeça”. Thrips tabaci e Frankliniella ocidentalis também transmitem viroses, mas são menos frequentes. Thrips palmi é uma espécie extremamente polífaga, recém introduzida no Brasil. Ø Traças broqueadoras e minadoras (Lepidoptera: Gelechiidae): Tuta absoluta e Phthorimaea operculella: as lagartas minam folhas e broqueiam os ponteiros, frutinhos novos e maduros. Ø Lagartas broqueadoras de frutos (Lepidoptera): Neoleocinodes elegantalis (Piralydae): as lagartas penetram nos frutos em desenvolvimento e broqueiam seu interior. Heliothis zea (Noctuidae): “lagarta da espiga do milho”, se alimenta dos frutos. Ø Mosca minadora de folhas (Diptera: Agromyzidae): Liriomyza sativae faz picadas de prova, alimentação e oviposição no tecido vegetal; as larvas minam as folhas, alimentando-se do parênquima foliar e diminuindo a área fotossintética; ocasionam necroses e danificam os tecidos condutores de seiva, o que provoca a queda prematura das folhas. 5. Reconhecimento dos Inimigos Naturais Os inimigos naturais representam a fauna benéfica do agroecossistema, sendo significativamente favorecidos pela manutenção da biodiversidade local e pelo uso reduzido e seletivo de produtos químicos. O controle de pragas por meio de agentes biológicos pode ocorrer naturalmente, por meio da fauna já existente, ou por sua introdução na cultura; os agentes biológicos podem ser encontrados entre os insetos, ácaros, aranhas, nematóides, fungos, bactérias e vírus. Os inimigos naturais são denominados parasitóides quando completam seu 260 ciclo vital em um único hospedeiro, predadores quando se alimentam de vários indivíduos até completarem seu ciclo vital e patógenos quando constituem microrganismos inferiores e parasitas. Ao tomar decisões para o controle de pragas deve-se estar atento para a existência das espécies entomófagas que devem ser preservadas. -Ordem Hymenoptera: *Formigas predadoras: Solenopsis sp. e Pheidole sp. (predadores inespecíficos). *Vespas predadoras: Polistes sp., Polybia spp., Bracygastra lecheguana, Protonectarina silveirae (predam lagartas); Scutellista sp. (preda ovos de cochonilhas). *Microvespas parasitóides: Apanteles sp., Calliephialtes sp., Campoletis sp., Microcarops sp. e Bracon sp. (parasitam lagartas); Aphelinus sp. e Aphidius sp. (parasitam pulgões); Aspiditiophagus sp. e Neodusmetia sp. (parasitam cochonilhas) Telenomus sp. e Trichogramma sp. (parasitam ovos de lepidópteros); Tetrastichus sp., Tripoctenus sp. e Dasyscapus sp. (parasitam aleirodídeos e tripes); Diglyphus sp., Chrysocharis sp., Chrysotomya sp. (parasitam moscas minadoras). -Ordem Coleóptera: Besouros predadores: Calosoma sp., Callida sp. e Lebia sp. (predadores inespecíficos); Azya sp.; Pentilia sp. e Rodolia sp. (predam cochonilhas); Coleomegilla sp. (predam pulgões e ovos de lepidópteros); Cycloneda sp., Eriopsis sp. e Olla sp. (predam pulgões). -Ordem Diptera *Moscas predadoras: Pseudodoros sp. (larvas predam pulgões) e Syneura sp. (larvas predam cochonilhas). *Moscas parasitóides: Lixcophaga sp., Metagonistylum sp.; Paratheresia sp. e Xanthozoma sp. (larvas parasitam lagartas); Sarcodexia sp. (larvas parasitam besouros). -Ordem Hemiptera - Heteroptera *Percevejos predadores: Macrotracheliella sp. (predam tripes); Nabis sp. (predam ovos de insetos e ninfas de percevejos); Geocoris sp. e Orius sp. (predam ácaros, tripes, lagartas, ninfas de percevejos e cigarrinhas, pulgões e ovos em geral); Zelus sp. (predam ovos, besouros, moscas, pulgões, cochonilhas e lagartas); Alcaeorhynchus sp. (predam lagartas, larvas de besouros e ninfas de percevejos). -Ordem Thysanoptera: Espécies de tripes predadoras alimentam-se de ácaros, pulgões, cochonilhas e tripes: Franklinothrips vespiformis e Scolothrips sexmaculatus (predam tripes). -Ordem Dermaptera: Tesourinhas predadoras: Doru sp. e Labidura sp. (predadores inespecíficos). -Ordem Neuroptera: as larvas são conhecidas como "bichos lixeiros": Corydalus sp., Mantispa sp., Chrysopa sp., Ceraeochrysa sp. e Haplogenius sp. (predadoras inespecíficas). -Ordem Odonata: Libélulas são predadoras inespecíficas. -Ordem Acari: Muitas famílias de ácaros possuem representantes entomófagos, como Phytoseiidae que alimenta-se predominantemente de ácaros fitófagos tetraniquídeos e eriofídeos: Phytoseiulus macropilis preda ovos do ácaro Tetranychus urticae. Aranhas são eficientes predadoras inespecíficas de larvas e adultos de insetos. -Ordem Nematoda: Espécies de nematóides são parasitas de insetos: Agamermis sp. e Mermis sp. parasitam gafanhotos e Neoaplectana sp. parasita larvas de coleópteros e lagartas. 262 -Fungos, Bactérias e Vírus: Beauveria sp. age sobre coleópteros, lagartas e tripes, Nomuria sp. age sobre lagartas, Cladosporium sp. age sobre pulgões, Metarrhizium sp. age sobre cigarrinhas, Myriangium sp., Nectria sp., Verticillium sp., Sphaerostille sp. e Acrostalagmus sp. agem sobre cochonilhas. Bacillus thuringiensis vem sendo usado com sucesso no controle de algumas lagartas. Espécies de Baculovirus têm sido utilizadas para o controle de lagartas específicas. 6. Monitoramento das Pragas-Chaves e Inimigos Naturais O monitoramento constitui-se na contagem ou amostragem do número de pragas-chaves e inimigos naturais presentes (ovos, ninfas ou larvas, adultos e danos causados) com o fim de avaliar-se o equilíbrio entre estas duas populações. As contagens devem ser periódicas e, em função de seus resultados serão tomadas as decisões sobre o controle, com intuito de reduzir as populações de pragas e preservar as de inimigos naturais. As amostragens podem ser feitas por avaliações visuais ou com utilização de armadilhas. Outro parâmetro que influi na decisão sobre o controle é o nível de suporte da cultura ou seja, o nível de dano econômico ou nível de ação. 7. Adoção de Medidas de Controle Medidas Alternativas Ø utilização de faixas com plantas atrativas às pragas que funcionem como iscas, possibilitando o controle localizado (taiuiá: atrativo para Diabrotica sp.) Ø utilização de faixas com plantas que funcionem como barreiras (sorgo granífero, milho e crotalária, são barreiras para o trânsito de pulgões e propiciam alimento e abrigo para predadores inespecíficos). Ø utilização de faixas com plantas repelentes a insetos tais como gerânio, hortelã e tagetes. Tabela 1: Pragas, sugestões de amostragens e níveis de ação: (adaptado de GRAVENA , 2000) Amostragem (2x / Nível de Ação semana) Pragas-chaves Vetores de viroses (até 60 dias) Frankliniella schulzei (tripes) Myzus persicae (pulgão) Bemisia tabaci (mosca branca) Traça de folhas, ponteiros e frutos (todo o ciclo) Tuta absoluta Broca de frutos Neoleucinodes elegantalis Pragas secundárias Broca de frutos Heliothis zea Mosca minadora de folhas Liriomyza sp. Batedura de ponteiros em 1 vetor por ponteiro caixas de PVC (20x8cm) com fundo branco Larvas vivas nas folhas 25% de folha s com do ponteiro larvas vivas Exame das pencas para % de pencas com ovos 5% de pencas com ovos Exame das pencas para 5% de pencas com % de pencas com ovos ovos Presença de ovos nas 4 ovos / 100 folhas folhas do terço superior Larvas vivas nas folhas 25% de folhas com dos ponteiros larvas 264 Ø manutenção de bordaduras com vegetação nativa, intercaladas com as faixas de cultivo, para abrigo dos inimigos naturais. Ø cobertura do solo com superfícies que reflitam os raios ultra violetas, que repelem as populações aladas de pulgões (palha de arroz, papel laminado). Ø revolvimento do solo antes do plantio para eliminação dos ovos, larvas e/ou pupas de pragas como paquinhas, lagarta rosca, mosca minadora. Ø rotação de culturas com vegetais de famílias diferentes, para quebrar o ciclo das pragas. Ø utilização de armadilhas e iscas atrativas visando a redução da população de pragas. Armadilhas adesivas e bandejas com água são eficientes para captura de tripes quando pintadas de azul, amarelo ou branco e, se pintadas de amarelo são eficientes para coleta de pulgões, moscas brancas e dípteros minadores. A cor azul tem se mostrado repelente para mosca branca. Armadilhas luminosas são eficientes para captura de insetos de hábitos noturnos. Iscas atrativas à base de farelo de trigo (1kg), melaço ou açúcar mascavo (100g) e inseticida fosforado ou carbamato (100g), são eficientes no controle de pragas de solo como grilos, paquinhas, lagarta rosca e larvas de besourinhos. Ø uso de biofertilizante líquido (repelente e inseticida para pulgões, tripes, cochonilhas, percevejos, etc). Ø uso de extratos vegetais repelentes (tagetes ou pimenta que repelem pulgões e tripes). Ø uso de extratos vegetais inseticidas (piretro, fumo, alamanda, arruda, coentro ou tagetes apresentam efeito sobre pulgões, tripes, cochonilhas e ácaros). Ø antecipação ou atraso na época de plantio podem auxiliar na redução da população de pragas. 8. Medidas Convencionais Restringe-se ao uso de inseticidas químicos, que deve ser considerado sempre como a última opção de controle. Deve ser efetuado apenas por mão de obra habilitada, com uso de equipamentos de proteção individual e utilização de equipamentos de aplicação adequados e bem calibrados. A escolha dos produtos deve se restringir àqueles que possuam registro para a cultura, observando-se os seguintes cuidados: preferir os produtos de menor DL50 ; preferir os mais seletivos aos inimigos naturais, ou seja, aqueles mais específicos; seguir rigorosamente as dosagens e freqüências recomendadas na bula; alternar produtos com diferentes princípios ativos e mecanismo de ação; nunca repetir mais que duas vezes o mesmo produto; fazer as aplicações da forma mais localizada possível; - intercalar áreas tratadas e não tratadas. 9. Bibliografia BONILLA , J. A. Fundamentos da agricultura ecológica, São Paulo, Nobel, 1992. CROCOMO, W.B. (coord.). Manejo de pragas. Botucatu, FEPAF UNESP, 1984, 240p. FRANÇA , F. H. Considerações sobre um programa de manejo integrado de pragas em hortaliças no Brasil. In: Congresso Brasileiro, 24., e Reunião Latino Americana de Olericultura,. p. 104 – 128, 1984. FEITOSA , C. T. (coord.). Simpósio de Agricultura Ecológica, 1., Campinas, IAC, 1993, Fundação Cargill, 1993, 260p. 266 GRAVENA , S. Manejo integrado de pragas do tomateiro. In: Congresso Brasileiro, 24., e Reunião Latino Americana de Olericultura, p. 129-149, 1984. GUERRA , M. de S. Alternativas para o controle de pragas e doenças de plantas cultivadas e de seus produtos. Brasília, EMBRATER, 1985, 166p. IMENES, S. D. L. (coord.). Ciclo de palestras sobre agricultura orgânica, 2., São Paulo, Instituto Biológico, 1997, Campinas, Fundação Cargill, 1997, 149p. NAKANO, O. Manejo para resistência das pragas aos defensivos. In: Simpósio Brasileiro de Flores e Plantas Ornamentais, p. 53-59, 1992. PASCHOAL, A. B. Pragas, praguicidas e a crise ambiental: problemas e soluções. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1979, 102p. PRIMAVESI, A. Manejo ecológico de pragas e doenças: técnicas alternativas para a produção agropecuária e defesa do meio ambiente. São Paulo, Nobel, 1988, 137p. PRIMAVESI, A. Agricultura sustentável. Manual do produtor rural. São Paulo, Nobel, 1992, 142p. TRANI, P.E. & MACEDO, A.C. de (coords.) Conceitos e Técnicas do Manejo Integrado de Pragas e Doenças das Culturas. São Paulo, Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 2000, v.1, 40p, Manual Técnico, Série Especial. TRANI, P.E. & MACEDO, A.C. de (coords.) Manejo Integrado de Pragas e Doenças do Tomateiro. São Paulo, Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 2000, v.6, 66p, Manual Técnico, Série Especial. DOENÇAS FÚNGICAS DO TOMATEIRO E DO PIMENTÃO Pesquisador Científico Celso Sinigaglia Eng. Agrônomo, Laboratório de Fitopatologia, Centro experimental do Instituto Bioló gico, Instituto Biológico. Cx Postal 70. CEP 13001-970, Campinas SP, Tel (19) 3252-1657. E- mail: [email protected] 1. Doenças fúngicas do tomateiro Introdução O tomateiro é uma cultura que ocupa um lugar de destaque no estado de São Paulo, sendo a hortaliça com maior volume de comercialização. Por ser uma cultura de grande adaptação climática, é cultivada em diversos municípios paulistas representando mais de 50 % da produção brasileira. A cultura do tomateiro é dificultada em razão da ocorrência de pragas e doenças que requerem o uso de defensivos agrícolas, o que representa cerca de 17% do custo de produção, sendo grande parte afetada por doenças fúngicas. a) Requeima - Phytophthora infestans A requeima é a mais destrutiva doença do tomateiro podendo dizimar culturas inteiras em poucos dias. O agente causal, o fungo Phytophthora infestans, exige determinadas condições climáticas para o seu desenvolvimento. A alta umidade relativa do ar (90-100%), com dias nublados e chuviscos, juntamente com baixas temperaturas de 20ºC, são condições predisponentes ao desenvolvimento da doença. À temperatura de 15o C existe aumento na intensidade da doença, devido à germinação indireta dos esporângios. 268 Nessas condições, extremamente favoráveis, podem-se observar nas lesões da página inferior das folhas as estruturas do patógeno formadas por esporangióforos e esporângios, com aspecto cotonoso cinza-claro. Toda parte aérea da planta pode ser afetada Nos folíolos, as lesões apresentam forma irregular com aspecto de tecido verde-escuro encharcado. Com o progresso da doença, as lesões aumentam de tamanho, tornando-se de cor parda com tendência ao secamento. Nas hastes, a infecção produz manchas longitudinais que acarretam comprometimento dos tecidos terminais. Os frutos infectados adquirem tonalidades amarronzadas a castanhas, podendo evoluir atingindo a totalidade dos frutos da planta. Como não se dispõe de variedades e híbridos comerciais com resistência à doença, o controle químico tem sido o mais utilizado e eficaz no combate à doença. As medidas de controle químico devem ser preventivas com fungicidas protetores, como Mancozeb, Chlorothalonil e Fluazinam. Quando as condições ambientais estiverem muito favoráveis à doença, deve-se utilizar os produtos sistêmicos específicos, tomando-se cuidado com alternância entre protetores e sistêmicos. Controle: evitar plantio próximo à cultura em final de ciclo; evitar plantio em terrenos de baixadas úmidas, propícias ao acúmulo de ar frio; destruir os restos de cultura; evitar o plantio em áreas onde a doença tenha se manifestado intensamente; realizar rotação de culturas; evitar plantio próximo às margens de rios e lagos e controle químico (Tabela 1.). b) Pinta-preta ou mancha de Alternária: É a doença mais comum do tomateiro, estando disseminada por todas as regiões de plantio do país, podendo se manifestar em todas as fases de desenvolvimento da planta. Pode causar grandes danos devido a sua incidência nas folhas e frutos e, mais raramente, no caule. As lesões aparecem primeiramente nas folhas mais velhas na forma de pequenas pontuações pardo-escuras. Com a evolução da doença, aumentam de diâmetro, tendendo a formatos ovalados ou circulares de coloração parda com círculos concêntricos, tendendo a negros. Nas hastes, as lesões são longitudinais e pardo-escuras. Nos frutos, as perdas podem ser diretas ocasionadas pela podridão peduncular de formato circular, às vezes com fendilhamento. A doença é causada pelo fungo Alternaria solani (Ell. & Mont.) Jones & Grout que, para seu desenvolvimento, exige condições ambientais mais amplas que outras doenças de grande importância. A faixa de temperatura de 24-30oC e a alta umidade relativa são suficientes para que haja grande incidência na cultura. O fungo sobrevive em restos de cultura e pode ser transmitido aderido à semente. O controle químico segue as recomendações básicas para a cultura com os fungicidas à base de Mancozeb e/ ou Chlorothalonil, alternando, quando necessário, com os fungicidas recomendados do grupo triazóis. Também outros fungicidas, como Iprodione e Procimidone, apresentam boa eficiência e podem ser aplicados alternadamente com os produtos citados. Controle: utilizar variedades resistentes; utilizar sementes sadias; fazer rotação de culturas; adubar de forma equilibrada; preparar bem o solo com aração profunda e controle químico (Tabela 1.). 270 c) Septoriose - Septoria lycopersici A septoriose é uma doença muito freqüente, podendo causar perdas elevadas devido a sua característica de atacar as folhas baixeiras, expondo os frutos aos raios solares. As perdas são mais elevadas quando o ataque se dá no início da cultura. O fungo Septoria lycopersici, responsável pela doença, sobrevive em restos de cultura e em algumas plantas daninhas. Os sintomas ocorrem intensamente nas folhas, podendo ser notados também em caules e pecíolos. As lesões apresentam-se em forma circular com diâmetro em torno de 2mm, formado por tecido necrótico de bordos escuros e centro cinza-claro, no qual pode-se observar a olho nu os picnídios que formam as frutificações do patógeno. A coalescência das lesões deixa aspecto de grande área necrosada. As condições predisponentes à doença são alta umidade relativa com chuvas e temperaturas de 20-25o C. O controle químico preventivo da pinta-preta com os fungicidas indicados é suficiente. Controle: Rotação de culturas; evitar irrigação por aspersão; destruir os restos de cultura; realizar adubação balanceada e controle químico (Tabela 1.). d). Mancha de Estenfílio - Stemphylium solani A mancha de Estenfílio, embora ocorra em todas regiões produtoras, é mais limitada em relação às outras doenças foliares. Ao contrário da septoriose, inicia-se pelas folhas superiores causando pequenas lesões pardo-escuras distribuídas no limbo foliar, mais visíveis no dorso das folhas. Com a evolução da doença, tornam-se necróticas de formato irregular com bordos escuros, ficando com o centro claro e seco, e normalmente apresentam rupturas que dão aspecto de folha perfurada. O fungo, agente causal da doença, Stemphylium solani, exige para seu melhor desenvolvimento temperaturas de 25-28o C e alta umidade. O patógeno sobrevive em restos de cultura e outras solanáceas ocorrentes. A utilização de variedades resistentes permite controle eficaz. Quanto ao controle químico, os mesmos fungicidas usados para a pinta-preta são suficientes. Controle: utilizar variedades resistentes; eliminar restos de cultura; fazer rotação de culturas e controle químico (Tabela 1.). e) Murcha de Fusarium - Fusarium oxysporum f. sp lycopersici. A murcha de Fusarium é de distribuição generalizada em todos os solos brasileiros, causando grandes prejuízos em plantios de cultivares suscetíveis. É causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp lycopersici, que é favorecido por temperaturas de 21-33oC, cujos sintomas se manifestam inicialmente com amarelecimento das folhas inferiores, com tendência a subir para as mais novas, seguido de murcha nas horas mais quentes do dia, com recuperação no período fresco em sucessão até a murcha irreversível. Normalmente, a infecção se dá unilateralmente, por atingir os feixes vasculares, oriundos do sistema radicular infectado. Em corte longitudinal na base do caule, pode-se observar os tecidos vasculares afetados descoloridos no lado correspondente aos sintomas visíveis do amarelecimento das folhas. Pode-se diferenciar da murcha de Verticillium pela descoloração mais persistente e característica dos reflexos nas folhas amarelecidas. 272 Como se trata de fungo habitante de solo, sobrevive neste sobre a forma de conídios e por períodos mais longos através de estruturas de resistência, os clamidósporos, motivo pelo qual se torna inviável o seu controle. Por isso, a utilização de variedades resistentes é a melhor maneira de controlar a doença. A rotação de culturas por 2 a 4 anos é recomendada para reduzir a fonte de inóculo, porém não elimina a população do patógeno. O fungo apresenta raças fisiológicas com predominância da raça 1, existindo ainda as raças 2 e 3. Controle: plantar cultivares resistentes; utilizar sementes sadias; evitar a disseminação através de implementos agrícolas nas áreas muito infestadas; ter cuidado com a água de enxurradas e de irrigação e rotação de culturas. f) Murcha de Verticillium Essa doença também é causada por fungo habitante de solo com distribuição generalizada parasitando muitas espécies de planta. A murcha de Verticillium tem sido ultimamente a doença fúngica de solo mais freqüente nas culturas estaqueadas, devida à sucessão de plantios nas áreas produtoras. Os danos causados se refletem diretamente na quebra de produção, desde a primeira penca. Isso ocorre porque o patógeno coloniza o sistema vascular, impedindo a translocação de nutrientes, fazendo com que a planta não responda à adubação, produzindo, conseqüentemente, frutos de pequeno tamanho. O sintoma mais evidente é a descoloração do sistema vascular próximo ao colo, com reflexo de murcha na planta nas horas mais quentes do dia, que se recupera no período noturno e assim sucessivamente, ficando a planta debilitada, mas geralmente sem morte. Outra característica marcante da doença é o amarelecimento das folhas mais velhas, às vezes em formato irregular, mas predominantemente em forma de V invertido nos bordos dos folíolos, seguido de necrose dos tecidos. O fungo responsável pela doença é atribuído a duas espécies do gênero Verticillum: Verticillium albo-atrum e Verticillium dahliae. Há uma tendência de se atribuir a Verticillium dahliae pela abundância de microescleródios produzidos pela espécie, redundando em aumento do potencial do inóculo nos solos cultivados intensivamente. O controle da doença só é viável com o uso de cultivares resistentes; a rotação de culturas, embora necessária, é controvertida nas regiões tradicionalmente produtoras por exigir períodos prolongados para a redução de inóculo no solo. Controle: utilizar variedades resistentes; fazer rotação com culturas não-suscetíveis e eliminar plantas daninhas hospedeiras. g) Tombamento: Vários fungos habitantes de solo ou aderidos à semente podem causar tombamento das mudas. Entretanto predominam os fungos do gênero Pythium spp, Rhizoctonia solani e Phytophthora spp. O tombamento de pré-emergência resulta em baixo (estande); em pós-emergência, as plantas exibem sintomas ao nível do solo e pouco acima com escurecimento, encharcamento e estrangulame nto dos tecidos da planta com amarelecimento das folhas. 274 A doença no campo apresenta característica de morte em reboleiras, ocorrendo principalmente em solos argilosos com excesso de chuvas e água estagnada. O controle mais utilizado é o tratamento de semente com fungicidas. Controle: utilizar sementes sadias; fazer tratamento de sementes com fungicidas recomendados; utilizar solo esterilizado para sementeira; evitar encharcamento; drenar bem o solo e controle químico (Tabela 1.). TABELA 1. - Fungicidas indicados para doenças na cultura do tomateiro Doença / Patógeno Tombamento Pythium spp. Phytophthora spp Pinta Preta Alternaria solani Fungicida Septoriose Septoria lycopersici Agrinose, Benlate 500, Bordamil, Bravonil 500, Bravonil 750, CaptanSC, Cercobin 500, Cercobin 700, Cerconil PM, Copidrol PM, Coprantol SC,Cupravit azul, Cupravit verde, Culprozeb, Daconil 500, Daconil BR. Dacostar 500, Dacostar 750, Derosal 500 SC, Dithane PM, Ditahen SC, Folicur 200 CE, Fungiscan 700, Fungitox 500, Funguran 350, Funguran 500, Hokko Cupra 500, Isatalonil, Manzate 800, Apron Agrinose, Amistar, Bordamil, Bravonil 500, Brfavonil 750,Captan 500 PM, Cerconil SC, Cobox, Cobre Fersol, Cobre Sandoz, Combilan Pm, Coprantol SC, Cupracit azul, Cupravit verde, Cupragarb 350, Cupragarb 500, Coprozeb, Dacobre PM, Daconil 500, Daconil BR, Dacostar 500, Dacostar 750, Dithane PM, Persist SC, Folicur PM, Folicur 200 CE, Frowcide 500, Fungitox 500, Funguran 350, Funguran 500, Garant, Hokko Cupra 500, Isatalonil, Isatalonil 50, Manzate 800, Reconil, Recop, Rovral, Rovral SC, Score, Sportak 450 CE, Vanox 500 CE, Vanox 750 PM, Vitigram verde. Metiltiofan, Orthocide 500,Score, Sportak 450 CE, Tiofanato Sanachen 500 SC, Vanox 500 SC Requeima ou Agrinose, Blason 480 SC, Bordamil, Bravonil 500, Mela Bravonil 750, Captan 750, Captan 500 PM, Captan Phytophthora SC, Cobox, Cobre Sandoz, Copridol PM, Coprantol infestans SC, Cupravit azul, Cupravit verde, Cuprozeb, Curzate M + ZN, Dacobre PM, Daconil 500, Daconil Br, Dacostar 500, Dacostar 750, Dithane PM, Persist SC, Folio, Fórum, Frowncide 500 SC, Fungitox 500, Funguran 350, funguran 500, Garant, Hokko Cupra 500, Isatalonil 500 SC, Manzate 800, Orthocide 500, Reconil, Recop, Ridomil – Mancozeb, Vanox 500 SC, Vanox 750, Tatoo C, Vitigran azul e Vitigran verde h) Oídio - Erysiphe cichoracearum Não causa grandes problemas na tomaticultura, podendo ser realizado o controle químico com fungicidas específicos quando forem verificados os primeiros sintomas. i) Oidiopsis - Leveillulla taurica Pertencente à mesma família do oídio, a doença não tem se manifestado em condições de campo na região sul, devido às condições climáticas mais úmidas com precipitações pluviométricas distribuídas, porém em plasticultura a doença chega a preocupar pelas condições favoráveis de clima seco e quente. A doença manifesta-se inicialmente nas folhas baixeiras, atingindo rapidamente as mais novas. A massa pulverulenta do patógeno forma-se levemente na página inferior da folha, tornando-se amarelada na face superior com posterior necrose e queda das folhas. Na cultura do pimentão, em estufas, essa doença já é preocupante, chegando a atingir a planta toda em poucos dias. 276 2. Doenças Fúngicas do Pimentão a) Murcha do pimentão (Phytophthora capsici) Murcha do pimentão é a doença mais temida nessa cultura no Estado de São Paulo.Sua ocorrência é freqüente nas épocas quentes e chuvosas do ano quando há condições propícias à doença, o que pode levar à perda total da cultura. O agente etiológico da doença, o fungo Phytophthora capsici, é tipicamente habitante de solo, e encontra-se amplamente distribuído pela gama de hospedeiros, as solanáceas e cucurbitáceas.A doença se manifesta em qualquer fase de desenvolvimento da planta.Nas mudas causa damping-off, e nas plantas adultas, podridão das raízes e colo, ocasionando murcha e morte das plantas. A necrose no caule e ramos é de coloração parda a marrom escura de tamanho indefinido circundando toda área afetada. Nas folhas e frutos as lesões apresentam a forma de tecido encharcado. Sob condições favoráveis de ambiente, essas lesões ficam recobertas por um mofo branco constituído por micélio e esporângios do fungo. Como se trata de fungo habitante do solo, o controle torna-se difícil depois que se estabelece na cultura. As medidas recomendadas são em caráter preventivo como: utilização de mudas sadias; plantio em áreas onde sabidamente não tenha histórico de ocorrência da doença; evitar solos encharcados e controle químico. Quanto ao controle químico são indicados fungicidas protetores como mancozeb, chlorothalonil e oxicloreto de cobre que não apresentam eficiência no controle da doença. O fungicida sistêmico metalaxyl+ mancozeb utilizado experimentalmente tem se mostrado promissor quando aplicado em jato dirigido ao colo da planta, porém não se encontra registrado para a cultura (Tabela 2.). b) Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides) É uma doença importante sob condições de alta umidade, causando sérios prejuízos porque ataca diretamente os frutos causando perdas na produção. Manife sta-se em qualquer idade da planta inclusive na fase de muda causando o tombamento. O fungo ataca toda parte a aérea da planta, mas nos ramos e nas folhas ocorrem em baixa intensidade. É no fruto que a doença se manifesta intensamente com sintomas típicos que apresentam lesões circulares, deprimidas, de diâmetro variável.Em condições de alta umidade forma-se uma massa rósea constituída pelos conídios do fungo. A doença é favorecida por alta umidade, períodos chuvosos e temperatura entre 20-25 o C. O fungo é disseminado pela água de chuva e vento, e pode ser transmitido por sementes. Sobrevive em restos de cultura. Controle: as medidas recomendadas para controle são: rotação de cultura; utilização de sementes sadias, evitar plantios muito densos; destruição dos restos de cultura; diminuição de frutos afetados e controle químico.Os fungicidas protetores como mancozeb, chlorothalonil e oxicloreto de cobre devem ser usados preventivamente em pulverizações de condução de cultura. Quando se verificar aumento da intensidade de doenças, utilizar o fungicida sistêmico Amistar. c) Míldio pulverulento (Oidiopsis sicula) 278 Esta doença vem se tornando a mais destrutiva na cultura do pimentão no sistema de plasticultura. Causada pelo fungo Leveillula taurica foi encontrado em sua forma anamórfica de Oidiopsis sicula causando sérios prejuízos em plantio de pimentão desenvolvido pelo sistema de plasticultura na região de Itupeva SP (l995). Sua ocorrência é favorecida pelas condições ambientais desse sistema de plantio, caracterizada por ausência de chuvas. Os sintomas da doença são observados na face inferior das folhas onde se desenvolvem lesões de coloração clara com aspecto pulverulento que corresponde ao micélio e frutificação do fungo. Na face superior apresentam manchas amareladas, correspondentes às da face inferior. Com o desenvolvimento da doença, as lesões tornam-se necróticas com posterior desfolha da planta. A infecção inicia-se normalmente pelas folhas mais velhas e rapidamente avançam para as superiores. A doença é favorecida por baixa umidade e temperatura com ótimo em 26o C. O patógeno tem uma ampla gama de hospedeiros entre plantas cultivadas e silvestres, como os gêneros Capsicum, Hibiscus, Lycopersicum, Cynara, Allium, Sonchus, etc. Controle: as medidas que deve m ser adotadas restringem-se a: rotação de cultura por l ano, evitando-se assim plantios sucessivos e evitar o excesso de adubação nitrogenada. O controle químico é o mais indicado pelas características da família do patógeno, porém não existem fungicidas com boa ação de controle, registrados para a cultura do pimentão. d) Mancha de Cercospora (Cercospora capsici) A mancha de cercospora é uma doença comum do pimentão. A sua ocorrência é ocasionada por condições predisponentes de solos com deficiências nutricional e hídrica que acarretam plantas de pouco vigor. A doença provoca manchas nas folhas, de formato circular, pardas, de centro cinza claro com aproximadamente l cm de diâmetro. No centro das lesões são encontrados os conidióforos e conídios do fungo, e com a coalescência das lesões, parte dos tecidos necrosados desprendese. Sob condições de alta umidade e temperatura pode ocorrer a desfolha da planta, acarretando perda do vigor e conseqüentemente, da qualidade dos frutos.A doença pode atacar o caule e ramos, mas nunca os frutos. Controle: as medidas gerais de controle são: adubação equilibrada; evitar o desequilíbrio hídrico e eliminação dos restos de cultura. Para o controle químico os fungicidas normalmente utilizados na cultura do pimentão são sufic ientes. TABELA 2. Fungicidas indicados na cultura do pimentão. Amistar , Bravonil 750 PM, Cupravit azul BR, Cupravit verde, Cuprozeb, Dacobre PM,Daconil BR, Dacostar 500, Dacostas 750, Dithane PM, Garant, Fungitol azul, Fungitol verde, Isatalonil, Manzate BR , Persist SC , Rovral, Rovral SC, Score, Vanox 500, Vanox 750 PM. 3. Literatura Consultada ANSANI, C.V.; MATSUOKA , K. Sobrevivência de Phytophthora capsici. Fitopatol. Bras., 8: 269-272, 1983. CASTRO, C. Controle químico da septoriose e pinta preta em tomateiro Lycopersicum esculentum. Fitopatol. Bras., v. 10. 1985, p.270. KIMATI, H., GIMENES -FERNANDES , N., SOAVE, J., KUROZAWA,C., 280 BRIGNANI NETO, F. & BETTIOL, W. Guia de fungicidas agrícolas. Recomendações por cultura. v. 1 2.ed. Jaboticabal, GPF, 1997, 225p. KUROZAWA , C. & PAVAN, M.A. Doenças das solanáceas (berinjela, jiló, pimentão e pimenta) In: GALLI, F (coord). Manual de Fitopatologia Doenças de plantas cultivadas, São Paulo, Ceres, v.2, p.665-667, 1997. 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Por estes motivos torna-se evidente a necessidade de utilização em larga escala de produtos com a finalidade de controlar pragas e doenças e minimizar perdas, resultando em iminente risco de contaminação tanto do consumidor quanto do aplicador. Há de se lembrar, ao abordar o tema, que o uso de defensivos não deve ser tomado como única alternativa de controle. Sabe-se que as doenças causadas por vírus não possuem formas de controle depois de instalada a infecção, portanto, as medidas devem ser preventivas e de preferência iniciando-se antes do plantio e estendendo-se até a colheita. 282 Atualmente, são reconhecidos 38 famílias e gêneros de vírus não agrupados taxonomicamente; destes, 31 têm pelo menos um dos seus membros disseminados por inseto-vetor. Ainda de acordo com a literatura, a transmissão natural de cerca de 50% dos fitovírus é dependente de vetores. Estes números deixam clara a importância dos vetores na epidemiologia das doenças causadas estes patógenos (GRAY & BANERJEE, 1999; VAN REGENMORTEL et al., 2000). Entre as principais doenças causadas por vírus, que ocorrem em hortaliças, merecem destaque nas culturas de tomate e pimentão os tospovírus, com suas diferentes espécies (TCSV, GRSV, TSWV, CSNV) e o mosaico do tomateiro (vírus Y da batata - PVY); em cucurbitáceas o vírus do mosaico do pepino (CMV), e o mosaico amarelo da abobrinha (ZYMV); na cultura de batata o vírus do enrolamento da folha da batata (PLRV) e o vírus Y da batata (PVY). Em alface predominam o vírus do mosaico (LMV) e os tospovírus, além dos vírus do mosaico comum (BCMV), o mosaico dourado (BGMF) e o mosaico-em-desenho (BMDeV) em feijoeiro, entre outros menos freqüentes. A transmissão dos vírus de plantas, na natureza, ocorre de várias maneiras: por contato, por sementes, pólen, órgãos de propagação vegetativa, cipó-chumbo (Cuscuta sp.) e, principalmente, por vetores. Vetores são agentes biológicos de disseminação de vírus, podendo ser encontrados entre os artrópodos, nematóides e fungos de solo. No entanto, segundo COSTA (1998): vetor é qualquer organismo que no seu processo natural de alimentação é capaz de retirar o vírus da planta doente e, na alimentação subsequente, fazer sua inoculação em plantas sadias. Há três ordens que incluem a grande maioria dos insetos- vetores: Homoptera, Homoptera Thysanoptera é dividida e em Coleoptera. duas Atualmente, subordens: a Ordem Auchenorryncha e Sternorryncha, sendo a última responsável pela disseminação natural de aproximadamente 90% dos vírus transmitidos por insetos. Esta abrange os afídeos ou pulgões (Aphididae), as cigarrinhas (Cicadellidae e Delphacidae), as "moscas" brancas (Aleyrodidae) e as cochonilhas (Pseudococcidae). Na Ordem Thysanoptera, os vetores são os tripes (Subordem Terebrantia, Família Thripidae). Na Ordem Coleoptera, a Subordem Polyphaga compreende os besouros comedores de folhas, onde os coleópteros-vetores se enquadram nas famílias Chrysomelidae, Curculionidae, Coccinelidae e Meloidae (NAULT , 1997). Algumas medidas preventivas de controle que são amplamente empregadas estão relacionadas a seguir: Ø Medidas de controle dirigidas às fontes de vírus Ø Prevenção de fontes de infecção: diversos fitovírus podem, além de serem transmitidos por insetos, ser propagados através de sementes ou mesmo através de material propagativo (bulbos, bulbilhos, estacas, rizomas etc), por isto é de suma importância que este material tenha uma boa procedência, ou seja, certificado. Ø Eliminação de focos de infecção: prevenção de focos iniciais através da eliminação de fontes de vírus com a errradicação de plantas invasoras e outras hospedeiras alternativas do vetor, além de plantas doentes ou que apresentem sintomas de etiologia viral e restos culturais (reboleiras). Ø Rotação de culturas: consiste no plantio sucessivo de culturas diferentes no mesmo terreno. Este método, além de trazer benefícios agronômicos, se mostra eficaz principalmente contra as pragas que 284 possuem plantas-hospedeiras específicas. Esta prática perdeu a popularidade a partir do momento que se intensificou a monocultura. Ø Medidas de controle dirigidas ao vetor: o controle dos insetos-vetores propriamente dito pode envolver vários métodos: Ø Isolamento das plantas: a proteção da planta contra os insetos, através de métodos culturais empregando técnicas agrícolas apropriadas, tais como o isolamento das culturas em regiões de baixa incidência de vetores, isto provocado por condições ambientais, ou por cultivo em casa-de-vegetação, telados, ou plasticultura, impedindo a entrada destes agentes. Outro método empregado é a proteção através de barreiras com plantas, geralmente espécies botânicas não preferidas pelos insetos e que possuam altura suficiente. São recomendadas para esta função milho, crotalária, entre outras. Ø Controle químico: muitas vezes o controle químico pode ser eficaz contra a propagação de vírus transmitidos de forma circulativa, devido aos longos períodos de alimentação necessários para a aquisição e para inoculação. Este tipo de controle é de certa forma impossível em sistemas que envolvem a transmissão do tipo não-persistente e não circulativa, onde o ciclo de transmissão é muito curto e os inseticidas dificilmente conseguem atuar. No início dos anos 40, muitos dos inseticidas mostravam uma pequena atividade e persistência nas plantas por um pequeno período de tempo. Devido a estes fatores, eram necessárias freqüentes aplicações em reduzidos intervalos de tempo. Esta situação mudou com a introdução das novas classes de inseticidas sintéticos, como o DDT, que se mantinha ativo nas plantas por um longo período de tempo (PERRING et al., 1999). Estes tipos de controle obtiveram sucesso, inicialmente, em relação aos vírus não-persistentes transmitidos por insetos, porém um grande número destes é transmitido em caráter persistente. Desta maneira os pesquisadores se depararam com um grande problema: tentar manter a "proteção" das plantas evitando que novas plantas fossem infectadas por vírus. Com o advento dos inseticidas organofosforados sistêmicos que aplicados em certas regiões das plantas se translocam, protegendo-as. Estes produtos tiveram um grande sucesso e fortaleceram as estratégias para o controle dos vírus que são transmitidos por pulgões, de maneira persistente, devido ao seu longo poder residual e à atividade sistêmica dos compostos. Finalmente, os inseticidas piretróides mostraram grandes propriedades e maior sucesso quando comparados com os outros, principalmente quando se tratava de reduzir a disseminação de fitovírus. Os piretróides causam um rápido efeito "knockdown" ou mortalidade nos vetores principalmente na fase de inoculação do patógeno (BRIGGS et al., 1974), também reduzem o tempo de picada de prova dos insetos-vetores (ATIRI et al., 1987) e em alguns casos podem até agir como repelentes de insetos (LOWERY & BOITEAU, 1988). No entanto, esta última propriedade pode ser prejudicial pois a possibilidade dos insetos aumentarem o número de picadas de prova é grande, devido à tendência destes encontrarem uma planta que não esteja pulverizada ou possua um nível de palatabilidade podendo assim se fixar e constituir uma colônia, transmitindo algumas espécies de fitovírus (tipo não-persistente) dentro da cultura. No entanto, a superprodução de produtos agrícolas aliado com o desenvolvimento de artrópodos resistentes a inseticidas, e a crescente preocupação com o meio ambiente e a saúde pública levam o homem a 286 uma mudança de conceitos no sentido do emprego de medidas de controle alternativas. Ø Uso de óleos: Devido à ineficiência de alguns produtos no controle de transmissão do tipo não persistente estes compostos (óleos minerais, vegetais e lipídeos lácteos) são empregados no intuito de inibir a transmissão. O óleo agiria modificando o comportamento de picada de prova e a alimentação, fases do processo de transmissão onde os virions são inoculados. Deve-se ressaltar que a eficiência no processo de pulverização com o ímpeto de cobrir a planta de uma maneira homogênea é de suma importância para o êxito do método. Ø Uso de semioquímicos e repelentes: substâncias que empregadas em misturas ou isoladamente modificam o comportamento dos organismos receptores e são amplamente empregadas no Manejo Integrado de Pragas (MIP). Muitas espécies de afídeos produzem um tipo de feromônio de alarme - (E) β-farnesene que é liberado quando os pulgões são atacados. A idéia é utilizar derivados do feromônio, reduzindo a sua aterrisagem em plantas sadias evitando uma possível transmissão. Diversos alomônios tem sido estudados e descritos na literatura mundial. Um exemplo que pode ser citado é o da relação de S. berthaultii, um tipo de batata selvagem , que produz uma substância que atua como feromônio de alarme de Myzus persicae, dispersando os afídeos que tentam colonizá- la (GIBSON & P ICKET , 1983). Outras substâncias também foram empregadas como fagodeterrentes, sendo a mais conhecida a espécie Azaridachta indica, ou neem. No Brasil a espécie mais empregada é a "erva de Santa Bárbara", visando o controle, principalmente, da mosca branca (Bemisia tabaci), quando aplicada em extrato (C HAPMAN et al. 1981). Ø Emprego de barreiras ópticas: recentemente se descobriu que os cultivos de hortaliças, quando produzidos em casas-de-vegetação do tipo túnel e cobertos com polietileno, material que absorve os raios ultravioletas, reduziram sensivelmente o ataque de diversas pragas e a infecção por vírus, quando comparadas com as casas-de-vegetação cobertas com plástico normal. Os trabalhos desenvolvidos com pepino e verduras reduziram as infestações por tripes (Frankliniella occidentalis) e por pulgões (Aphis gossypii) , além de reduzir os danos da larva minadora (Lyriomyza trifolii). Além disto, fortalecendo este método de controle o emprego de telas plásticas de proteção (malhas de 50 mesh) do mesmo material, diminuiram consideravelmente o número de insetos bloqueando a invasão de "moscas"-brancas, pulgões e larvas minadoras. Ø Superfícies refletoras: os afídeos e as "moscas"-brancas são atraídos por algumas cores e repelidos por outras. Baseado neste princípio, alguns pesquisadores desenvolveram trabalhos mediante o emprego de superfícies repelentes e com pulverizações de materiais refletores. Estes obtiveram sucesso no controle dos pulgões quando se empregaram telas brancas com 2-8 mesh. Ø Armadilhas amarelas: O emprego de armadilhas amarelas com óleo ou polietileno adesivo é amplamente empregado no controle de insetosvetores obtendo-se um maior sucesso no caso das "moscas"- brancas. Este tipo de armadilha pode ser empregado como indicador do momento de pulverização na cultura, auxiliando assim na tomada de decisão para efetuar o controle (COHEN & MARCO, 1973). Ø Cultura armadilha ou planta- isca: as grandes monoculturas sempre proporcionam um ambiente propício para a transmissão de fitovírus, inclusive entre propriedades vizinhas. O plantio de culturas hospedeiras 288 suscetíveis entre estas propriedades pode reduzir de forma significativa a proporção de vírus propagados no campo. Além destas medidas de controle visando específicamente o ataque de insetos vetores podem ser desenvolvidas as que visem o manejo da cultura hospedeira com o intuito de reduzir o número de insetos, tais como as mudanças de características de plantio (densidade de plantio e distância entre linhas); assincronia fenológica (atraso ou adianto na época de plantio); proteção cruzada (emprego de plantas previamente infectadas com estirpes fracas do vírus); utilização de plantas resistentes e finalmente plantas transgênicas. O amplo emprego de inseticidas desde a década de 40, causou inúmeros efeitos secundários indesejados nas décadas subseqüentes, entre estes, destacam-se o aparecimento de resistência a inseticidas, ressurgência de pragas secundárias e um colapso da resistência das plantas hospedeiras. Sendo assim, para se obter um controle eficaz das doenças virais recomenda-se o enfoque multidisciplinar do Manejo Integrado de Pragas, pois o emprego de dois ou mais métodos de controle combinados, pode vir a melhorar o seu desempenho. Desta maneira, torna-se evidente a necessidade de novos enfoques e esforços no âmbito científico, no intuito da melhora da produção de hortaliças no Brasil. Referências Bibliográficas ATIRI, G.L.; THOTTAPPILLY, G.; LIGAN, D. Effects of cypermethrin and deltamethrin on the feeding behaviour of Aphis craccivora and transmission of cowpea aphid-borne mosaic virus. Ann. Appl. Biol., 110: 455 - 461, 1987. BRIGGS, G.G.; ELLIOTT, M.; FARNHAM, A. W. Structural aspects of the knock-down of pyrethroids. Pestic. Sci., 5: 643 - 649, 1974. CHAPMAN, R.F., BERNAYS , E.A. & SIMPSON, S.J. Attraction and repulsion of the Aphid, Cavariella aegopodii, by plant odors. J. Chem. Ecol., 7: 881-888, 1981. COHEN, S. & MARCO, S. Reducing the spread of aphid-transmitted viruses in peppers by trapping the aphids on sticky yellow polyethylene sheets. Phytopathol., 63: 1207-1209, 1973. COSTA , C.L. Vetores de vírus de planta-1. Insetos. Revisão anual de patologia de plantas, 6: 103-171, 1998. GIBSON, R.W. & PICKET , J.A. Wild potato repels aphids by release of aphid alarm pheromone. Nature , 302: 608 - 609, 1983. GRAY, S. M. & BANERJEE, N. Mechanisms of arthropod transmission of plant and animal viruses. Microbiology and molecular biology reviews , 63: 128 - 148, 1999. LOWERY, D.T. & BOITEAU, G. Effects of five inseticides on probing, walking, and settling behavior of the green peach aphid and the buckthorn aphid (Homoptera; Aphididae) on potato. J. Econ. Entomol., 81: 208-214, 1988. NAULT , L.R. Arhropod transmission of plant viruses: a new synthesis. Ann. Entomol Soc. Am., 90: 521-541, 1997. PERRING, T.M.; GRUENHAGEN, N.M.; FARRAR, C.A. Managament of plant viral diseases through chemical control of insect vectors. Annu. Rev. Entomol., 44: 457 - 481, 1999. VAN REGENMORTEL, M.H.V., et al. Virus taxonomy classification and nomenclature of viruses. Seventh report of the International 290 Committee on Taxonomy of Viruses. Academic Press, California, USA, 2000. 1162 pp. SOLARIZAÇÃO DO SOLO NO CONTROLE DE FITOPATÓGENOS Pesquisadora Científica Flávia Rodrigues Alves Patricio Eng. Agrônoma, Laboratório de Fitopatologia, Centro Experimental do Instituto Biológico, Instituto Biológico,. Cx Postal 70. CEP 13001-970, Campinas SP, Tel (19) 3251-8714. E- mail: [email protected] Devido ao elevado valor das terras e estruturas que ocupam, as culturas de hortaliças e ornamentais em campo aberto e mais expressivamente sob ambiente protegido, são intensa e sucessivame nte cultivadas. Como conseqüência, freqüentemente ocorre a concentração no solo de fitopatógenos como fungos, bactérias e nematóides, além de intensa infestação por plantas daninhas, que podem comprometer a produção, tornando-a antieconômica, ou transformar áreas e casas de vegetação em locais impróprios para a olericultura. A solarização é uma técnica desenvolvida para a desinfestação de solos e substratos, indicada principalmente para recuperação de áreas cultivas intensamente, como as ocupadas por hortaliças e ornamentais, e também para a desinfestação de substratos utilizados na produção de mudas. A técnica da solarização e como empregá- la serão descritas a seguir. Também serão mostrados os principais resultados de trabalhos de uma equipe de pesquisadores do Instituto Biológico e de diversas instituições, que enfatizam o emprego da solarização para o manejo da cultura da alface. 1. Solarização A solarização é uma técnica de desinfestação do solo, desenvolvida para o controle de patógenos, pragas e plantas daninhas, que consiste na colocação de um filme plástico transparente sobre o solo umedecido por um período determinado, durante a época mais quente do ano, visando aumentar sua temperatura (KATAN & DE VA Y, 1991; SOUZA , 1994). A solarização também pode ser aplicada em casas de vegetação, sendo, em geral, o período de tratamento reduzido nesta condição (GHINI, 2000, LOPES et al., 2000). Durante a solarização as temperaturas alcançadas pelo solo são letais a muitos fitopatógenos nas camadas superficiais do solo e subletais nas camadas mais profundas. As temperaturas sub-letais acarretam alterações nas populações microbianas do solo, que resultam no favorecimento do crescimento de populações saprófitas, dentre elas muitos antagonistas, mais competitivos que os patógenos de plantas (GHINI, 2000). Muitos microrganismos saprófitas são mais tolerantes ao calor que os fitopatógenos, sobrevivendo ao processo de solarização. Estas populações microbianas dificultam a reinfestação do solo por fitopatógenos, ocorrendo o contrário nos solos que sofreram um tratamento esterilizante, como vapor ou fumigação (GHINI, 2000), em que graves epidemias podem resultar da reinfestação. Outros benefícios da solarização incluem o controle de plantas daninhas e o maior crescimento de plantas em solos solarizados. Este aumento no crescimento pode ser resultado do controle de patógenos e de 292 pragas primários e/ou secundários, de alterações na população microbiana do solo favorecendo microrganismos antagonistas e/ou promotores do crescimento, e da liberação de nutrientes no solo, como nitrogênio e alguns micronutrientes (GHINI, 2000, KATAN & DE VA Y, 1991). Também alterações na estrutura e permeabilidade do solo podem favorecer o crescimento das plantas (GHINI, 2000). 2. Época de Realização da Solarização A solarização deve ser aplicada nos meses mais quentes do ano (GHINI, 2000). Na região de Campinas o período de setembro a março é o recomendado para a solarização (GHINI et al., 1994). Alguns experimentos indicam que os meses mais quentes do ano também são os mais apropriados para a solarização de solos de casas de vegetação (PATRICIO et al., 2000). 3. Como Deve Ser Realizada a Solarização O solo deve ser muito bem preparado, evitando-se a presença de torrões, que favorecem a formação de bolsões de ar, reduzindo a eficiência da solarização, e objetos pontiagudos, que podem danificar o plástico. O solo deve estar úmido, após uma chuva, ou ser umedecido por irrigação, antes da colocação do plástico. A umidade estimula a germinação de propágulos de patógenos, tornando-os mais sensíveis aos mecanismos de controle (GHINI et al., 2000) e também aumenta a condutividade térmica e consequentemente a difusão de calor no solo (KATAN & DE VAY, 1991). O plástico deve ser bem estendido e as bordas enterradas em sulcos com terra. A área tratada deve ser a maior possível, evitando-se a solarização de faixas ou canteiros, que favorecem a reinfestação por patógenos vindos das áreas não tratadas e por causa do efeito borda. Em uma faixa de aproximadamente 40 cm das bordas as temperaturas atingidas não são suficientes para o controle adequado de fitopatógenos (GRISTEIN, 1995, citado por GHINI, 2000). 4. Plásticos Utilizados para Solarização Os plásticos recomendados para solarização são transparentes e a sua espessura pode variar entre 50 e 150 µm. Plásticos que contém aditivo para proteção contra os raios ultra-violeta do sol (utilizados para cobrir casas de vegetação), são os mais recomendados pois apresentam maior durabilidade, podendo inclusive ser reutilizados (SINIGAGLIA & PATRICIO, 2000). 5. Período de Tratamento O período recomendado para a solarização é em torno de 1 a 2 meses. Em verões chuvosos o período de 60 dias é mais seguro, mas o plástico pode permanecer no solo por mais tempo, até o plantio. Como durante a solarização a área coberta não é cultivada, o agricultor pode optar por aplicar a solarização em glebas ou talhões. Por exemplo, dividir a propriedade em 4 talhões e solarizar de novembro a dezembro o primeiro talhão, de janeiro a fevereiro o segundo e os dois demais deixar para solarizar no ano seguinte. Aplica-se desta forma um sistema de manejo da propriedade que não compromete a renda do produtor e que reduz o custo do tratamento, já que o plástico é reaproveitado. 6. Solarização em Casas de Vegetação A solarização é aplicada para recuperação dos solos de casas de vegetação em vários países e para várias culturas, principalmente 294 hortaliças e ornamentais (KATAN & DE VA Y, 1991). Como a incidência da luz solar é menor neste ambiente, para maior eficiência da técnica, a casa de vegetação deve ser totalmente vedada com plástico transparente, inclusive as laterais (podem ser sobras de plásticos). O tratamento, nesta condição pode ser mais curto, em torno de 20 a 30 dias, devendo ser efetuado preferencialmente no verão (PATRICIO et al., 2000). 7. Acompanhamento da Solarização Durante a solarização é importante o acompanhamento pelo produtor para verificar danos aos plásticos e a observação da presença de plantas daninhas. O crescimento de plantas daninhas sob o plástico pode indicar que as temperaturas atingidas não estão sendo suficientes para o controle satisfatório de fitopatógenos (GHINI, 2000). Durante a solarização a temperatura do solo pode ser medida por meio de termômetros de solo. Em experimentos no verão as temperaturas máximas atingidas pelos solos a 10 cm de profundidade sob o plástico foram de 49o C em solo turfoso em Mogi das Cruzes, SP, e de 54o C em solo argiloso em Piracicaba, SP. Nestes locais, as temperaturas médias dos solos sob o plástico foram 11 e 8o C superiores às do solo não solarizado, respectivamente, a 10 e a 20 cm de profundidade, às 15:00 horas. 8. Solarização de Substratos Um dos requisitos para a produção de mudas sadias é que os substratos utilizados sejam isentos de fitopatógenos. Para tanto, estes devem ser desinfestados, principalmente se forem reutilizados. A solarização pode ser aplicada com grande eficiência na desinfestação de substratos e solos através de um coletor solar desenvolvido pela Dra. Raquel Ghini, Pesquisadora da Embrapa-Meio Ambiente. Entre as vantagens do coletor solar encontram-se o fato de consumir apenas energia solar, ser de fácil construção e baixo custo, não apresentar riscos para o operador e permitir que uma população de microrganismos termotolerantes sobreviva ao tratamento, evitando o “vácuo biológico”, que outros métodos de desinfestação acarretam (GHINI, 1997). O coletor solar é constituído por uma caixa de madeira (1,0 x 1,5 m), com 6 tubos metálicos de 15 cm de diâmetro no seu interior e coberta com um plástico transparente, que permite a entrada dos raios solares. Como as temperaturas atingidas pelo solo ou substrato no interior do coletor solar são elevadas (70-80o C), o tratamento é efetuado por apenas 1 ou 2 dias, em qualquer época do ano (GHINI, 1997). 9. Patógenos Controlados pela Solarização Diversos fitopatógenos habitantes de solo que afetam hortaliças podem ser controlados pela solarização, tais como: Verticillium dahliae, espécies de Sclerotinia, Rhizoctonia solani, espécies de Phytophtora, além de algumas espécies de Pythium e Fusarium (SOUZA , 1994, GHINI& BETTIOL, 1995). Também nematóides como Meloidogyne hapla, M. javanica, Tylenchulus semipenetrans, e outros, bem como muitas espécies de plantas daninhas, podem ser eficientemente controlados pela solarização (GHINI & BETTIOL, 1995, STAPLETON & DE VAY, 1995). 10. Experimentos de Solarização para o Manejo da Cultura da Alface 296 Visando oferecer alternativas para a recuperação de áreas cultivadas com hortaliças e melhorar o manejo destas culturas, uma equipe formada por pesquisadores do Instituto Biológico, da EmbrapaMeio Ambiente, da ESALQ-USP e do Instituto Agronômico tem desenvolvido trabalhos empregando a técnica da solarização. Em Mogi das Cruzes, principal município produtor de alface do cinturão verde de São Paulo, foi estudado o efeito da solarização sobre o controle de fitopatógenos de solo, alterações químicas e microbiológicas dos solos e a infestação por plantas daninhas. A solarização do solo foi aplicada nos períodos de dezembro a fevereiro dos anos de 1997/1998, 1998/1999 e 1999/2000, tendo o solo permanecido coberto com plástico (transparente de 100µm de espessura) por aproximadamente 60 dias. Após a solarização, foram efetuadas duas safras consecutivas de alface nas áreas solarizadas e não solarizadas, nos anos de 1998, 1999 e 2000. As várzeas da região de Mogi das Cruzes são muito produtivas, mas estão infestadas com fitopatógenos de solo, como Rhizoctonia solani e Sclerotinia minor, que podem reduzir drasticamente as safras e elevam o custo de produção da cultura de alface; a aplicação intensiva do controle químico convencional pode resultar em contaminação do ambiente. R solani é agente causal da queima da saia da alface, doença que nessa região prevalece no verão, caracterizada por lesões marrons nas nervuras das folhas inferiores que podem progredir, comprometendo a qualidade comercial das cabeças. A solarização foi muito eficiente, reduzindo a severidade desta doença nas safras de verão dos três anos avaliados, podendo substituir o controle químico convencional. A murcha de esclerotínia é muito importante em Mogi das Cruzes, reduzindo em até 70% a produção das culturas de alface do inverno, sendo causada nesta região pelo fungo Sclerotinia minor. Os pés atingidos pelo fungo apresentam podridão aquosa e morrem (PAVAN & KUROSAWA, 1997). A solarização do solo reduziu drasticamente a incidência da doença de até 50% nas áreas sem tratamento, para o máximo de 3% nas áreas solarizadas, substituindo o controle químico com maior eficiência. Em todas as safras efetuadas ocorreu controle quase total de plantas daninhas. A solarização promoveu uma redução muito grande na emergência das espécies picão branco e caruru, que predominavam na várzea estudada. A taxa de cobertura do solo por plantas daninhas foi reduzida de 72,5 % para 0,5% nos tratamentos solarizados (SINIGAGLIA & PATRICIO, 2000). Outro benefício observado após a aplicação da técnica, nos três anos avaliados, foi a redução de 9-11 dias no ciclo da primeira safra de alface. As plantas colhidas nas parcelas solarizadas também apresentaram melhor qualidade. Estima-se que esta redução no ciclo, com maior vigor das plantas solarizadas, seja conseqüência de alterações na população de microrganismos do solo, redução de doenças e também de patógenos secundários, que podem comprometer o sistema radicular, além de alterações químicas no solo, verificadas após a solarização. Foram detectados maiores teores de nitrogênio amoniacal, manganês, ferro e cobre, e menor teor de boro nos solos solarizados. As plantas de alface colhidas nas parcelas solarizadas apresentaram maiores teores de cobre e manganês. 298 Em experimento conduzido pela mesma equipe em Piracicaba, SP, também foi observado maior vigor das plantas solarizadas, com maior massa fresca, maior largura e comprimento do sistema radicular, sendo detectados maiores teores de K, Mg e Zn. Neste local também o controle de plantas daninhas foi muito eficiente. 11. Referências Bibliográficas GHINI, R. Desinfestação do solo com o uso de energia solar: solarização e coletor solar. Jaguariúna: Embrapa-CNPMA, 1997. 29p. (Embrapa-CNPMA, Circular Técnica, 1). GHINI, R. Solarização do solo para o cultivo de hortaliças. In: Anais da 3a Reunião Itinerante de Fitossanidade do Instituto Biológico, Mogi das Cruzes, SP, p.25-30, 2000. GHINI, R., BETTIOL, W. Controle físico. In: Bergamin Filho, A., Kimati, H., Amorim, L. (Eds.) Manual de Fitopatologia. Volume 1: Princípios e Conceitos. 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Agrônoma, UNESP/Faculdade de Ciências Agronômicas-Campus de Botucatu/ Depto. Prod. Vegetal. Cx.Postal 237, CEP 18603-970, Botucatu, SP. Tel. (14) 6802-7172/7203. e-mail: [email protected] 300 1. Introdução A tecnologia do cultivo de hortaliças em ambientes protegidos, com a cobertura de filmes plásticos, foi introduzida no Brasil há cerca de 20 anos atrás, ou seja, em meados da década de 80. Esta levou, inicialmente muitos produtores a terem ilusões de lucros incalculáveis, fazendo com que muitas pessoas que não eram do ramo hortícola tentassem absorver esta nova tecnologia, colocando os produtores tradicionais numa situação difícil. Também prejudicou os produtores a crise econômica por que passava e passa o país, desvalorizando os produtos agrícolas, principalmente as hortaliças. Para se cultivar hortaliças em ambiente protegido é necessário antes de qualquer coisa, conhecer muito bem as espécies que serão cultivadas, principalmente quanto às exigências ambientais, nutricionais, ou seja, conhecer as necessidades fisiológicas das hortaliças e também o ambiente em que serão plantadas, não só em termos de região, mas o local propriamente dito, com certo nível de conhecimento das temperaturas reinantes (máxima e mínima) e período de maior chuva, predominância dos ventos, culturas adjacentes, permanência com a mesma cultura ano após ano, dentre outros. Nesses 20 anos, após sucessos e insucessos, podemos defender que o mais recomendado é o sistema de Manejo Integrado. Conforme BERGAMIN FILHO & AMORIM (1999), integração é entendida como o uso harmônico de múltiplas táticas de proteção de plantas, ou seja, depende da disponibilidade de tecnologia adequada e o manejo refere-se a um conjunto de regras, idealmente baseadas em considerações econômicas, sociais e ambientas, que orientam a tomada de decisão Cada vez mais, em todos os segmentos da agricultura se discutem as questões das pragas e doenças, controle, meio ambiente, qualidade de vida, ou seja, a obtenção de um produto social e ecologicamente limpo e, nas hortaliças é maior e é mais séria essa questão, portanto a aplicação do Manejo Integrado nos ambientes protegidos é quase uma necessidade. De acordo com ZAMBOLIM et al. (1999), “O manejo integrado representa um ponto de inflexão estratégico nas ciências agrárias do fim do século XX. Teoricamente, o manejo integrado está estabelecido como uma realidade mundial. Na prática, o manejo integrado é realidade em poucas áreas privilegiadas, mas ainda um sonho distante para vastas regiões do mundo” ... .e ainda complementam “Deve-se ter em mente que a adoção do manejo integrado não é uma alternativa, mas uma necessidade para a conservação do meio ambiente e a própria sobrevivência da humanidade”. De acordo com AZEVEDO (1999), na visão da Indústria, o objetivo é alcançar o chamado Manejo Integrado das Culturas, que pode ser definido como a produção econômica de culturas de alta qualidade com prioridade para métodos de cultivo ecologicamente seguros, minimizando os efeitos secundários indesejáveis e utilizando produtos fitossanitários que garantem a saúde humana e a preservação do ambiente. O manejo integrado das culturas será a base da agricultura no próximo milênio. Esta meta pode ser aplicada em cultivos protegidos, pois se trata de cultivar em ambientes mais controlados, de menor dimensão, priorizando a obtenção de produtos de qualidade. 2. Medidas Básicas para o Cumprimento do Manejo 302 Algumas medidas básicas são necessárias para o cumprimento e adequação ao manejo. A instalação das estruturas deve ser sempre observando os fatores que interferem no crescimento e desenvolvimento das plantas como: temperatura do ar e do solo, luminosidade, umidade relativa do ar, do solo e outros. 2.1. Instalação das Estruturas/Orientação Uma das questões que se discute é com relação à posição das estruturas e neste aspecto, nas nossas condições (Brasil- hemisfério sul), não se deve levar como fator principal a posição se N-S ou L-O (TIVELLI , 1998), pois entre as linhas de Equador e o Trópico de Capricórnio (que passa próximo da capital de São Paulo) fatores como vento e declividade do terreno, parecem ser preponderantes. Essa condição de ventilação no interior da estrutura é muito importante, pois colocar as estruturas a favor do vento, para arejar, ou seja, melhorando a passagem de vento, favorece, dentre outros fatores, a dissipação de calor, não acumula calor, evitando a multiplicação de patógenos e de pragas também. Na estrutura, é necessário observar a qualidade do filme, se está em bom estado, sem furos, sem poeira, não impedindo a entrada de luz, assim como podem ser colocadas telas que impedem a entrada de pragas. 2.2. Temperatura O cultivo de hortaliças em ambiente protegido a princípio visava a produção na entressafra (inverno) para as culturas que exigem temperaturas mais elevadas, contudo nas condições brasileiras e pela tradição dos nossos produtores é muito difícil cultivar somente numa época do ano, além do fato de não se dispor de áreas e se tornar inviável a utilização da estrutura, de custo relativamente elevado, somente num período do ano. O inverno da região sudeste não é tão rigoroso e os preços das hortaliças neste período são muito baixos. Isto permite que alguns produtores entrem com a produção precoce de pepino, tomate e pimentão em ambientes protegidos, normalmente produzidos nas estações do ano em que a temperatura é mais elevada, ou seja, que exigem temperaturas maiores para se desenvolverem. No Brasil, contudo, existem regiões que permitem o cultivo destas hortaliças neste período crítico, pois têm o inverno mais ameno com temperaturas mais elevadas, permitindo o cultivo em campo aberto, sem problemas, e neste sentido há a necessidade de se buscar outros quesitos para justificar o cultivo em ambiente protegido. Por outro lado, os preços das folhosas no verão são altamente atraentes, esta é uma época em que os produtores podem utilizar as estruturas de proteção para cultivar estas espécies, pois o nosso verão é muito chuvoso e com certeza utilizando-se desta proteção, sempre se consegue produtos de qualidade. Nessa mesma linha, quando se pensa em qualidade, outras hortaliças, além das citadas anteriormente podem ser listadas, como pepino japonês, tomate cereja, tomate caqui, pimentões coloridos, folhosas exóticas e outros produtos, que cada produtor hoje, em função da sua pesquisa de mercado, verifica as vantagens econômicas para fazer sua opção. Dessa forma, nas nossas condições (região sudeste), o que mais se vê no campo, são produtores que têm se dedicado ao cultivo de hortaliças no verão, e por conseqüência em condições de altas temperaturas que 304 muitas vezes inviabilizam a produção plena de hortaliças. Por isto, neste aspecto da temperatura é necessário que o produtor conheça muito bem a hortaliça que quer cultivar dentro da estrutura, de preferência utilizando a estufa do "tipo Guarda-Chuva", que tem a função de protegê- la das chuvas, mas que também evita a excessiva elevação da temperatura, pois para cada cultura é preciso cumprir as necessidades fisiológicas para a obtenção de colheitas. Nos ambientes protegidos, normalmente as temperaturas são superiores a essa faixa, sendo necessário conhecer o manejo da temperatura elevada neste tipo de sistema para adequá- la às culturas e, inclusive se possível tornando o ambiente desfavorável aos patógenos. Como fazê- lo? Para a maioria dos casos a prioridade é o tipo de estrutura, pois é necessário que ela tenha um pé direito alto (3,0 a 3,5m), principalmente quando se pretende cultivar plantas com a arquitetura mais alta, como tomateiro, cultura do pimentão e cultura de pepino. A altura do pé-direito da estrutura deve ser de 0,50 a 1,00m maior que a máxima altura da cultura que será conduzida (SADE, 1997). O manejo do ambiente nos locais em que a temperatura é muito alta é possível lançando-se mão de ventilação e/ou de nebulizadores (fogger). A ventilação é uma opção barata e, portanto a localização das estruturas, colocando a frente, no sentido favorável à corrente de vento, é um dos principais pontos que deve ser atentado durante o planejamento das estruturas. Outro ponto a ser considerado é que as cortinas laterais devem ser sempre móveis, sendo abertas se houver necessidade e abaixadas quando se quiser aquecer o ambiente, fechando-se todos os lados da estrutura. Ainda existe outra opção para melhorar a aeração, fazendo-se a abertura na parte superior da estrutura, permitindo a saída do ar quente, contudo, se não houver uma abertura na parte inferior para provocar o fluxo de ar, não haverá o efeito esperado, ou seja, tentar equilibrar a temperatura interna à externa (ANDRIOLO , 1999). O mesmo autor relata que a utilização de nebulizadores, como instrumento para abaixar a temperatura, está relacionada à umidade relativa do ar ambiente. Como exemplo, ele cita que quando um ambiente se encontra com a umidade relativa do ar a 40% e a temperatura de 35ºC e se der condição de passar esta umidade para 100%, a temperatura do ar diminui para aproximadamente 21ºC. Caso a umidade relativa do ar esteja já elevada, este efeito não ocorrerá tão significativamente, portanto sugere-se que se faça a utilização simultânea da ventilação e do nebulizador (fogger) para atingir o objetivo final. Se não houver o manejo adequado dos nebulizadores, teremos efeitos negativos, pois ocorrerá o molhamento da parte aérea da planta, que acarretará outros problemas, como doenças fúngicas e bacterianas. Outra prática que pode ser utilizada é a colocação das telas de sombreamento, de 30 a 50% que, porém, apresentam o inconveniente de reduzirem também a luminosidade, a qual, dependendo do local, poderá interferir na fisiologia de crescimento da planta. Um dos últimos lançamentos no mercado são as telas aluminizadas (de 40 ou 50%) que, instaladas na altura do pé-direito de estruturas com 3,0 a 4,0m de altura, proporcionam uma boa redução da temperatura, sem interferir negativamente na luminosidade. Quando comparadas às telas de sombreamento, apresentam as vantagens de manter as temperaturas noturnas e diurnas, conservar a máxima reflexão 306 da radiação em ambos os lados das telas, além de controlar a circulação de ar. O custo deste material ainda é um pouco elevado, mas a tendência do mercado indica que deverá haver uma redução nos preços. Todas essas práticas são efetuadas para manter a temperatura ideal para o crescimento e desenvolvimento normal das culturas. Por exemplo, na cultura do tomate observa-se que a temperatura ótima média gira em torno de 22 a 26ºC, no entanto, nas condições de cultivo protegido ocorrem temperaturas acima de 30 a 32ºC ou até maiores, dependendo da região de cultivo, prejudicando o pegamento de frutos, que são o produto final. Por outro lado as temperaturas ideais para o cultivo também são favoráveis, por exemplo, à germinação dos conídios da Alternaria (entre 26 a 30º C), cujo desenvolvimento máximo ocorre entre 22 a 26ºC, o mesmo ocorrendo para a murcha de fusarium (28ºC ) e a murcha de verticilium (22 a 24ºC). O mesmo acontece para a cultura do pepino, considerada uma cultura subtropical, que não tolera temperaturas muito baixas. Também nesta planta, quando o ambiente alcança temperaturas extremamente elevadas, vários distúrbios fisiológicos podem ocorrer, como entortamento de frutos, aborto de flores e frutos em conseqüência de má absorção de nutrientes, má distribuição dos fertilizantes, descuido na irrigação (fornecimento de água) etc... A faixa ideal de temperatura para o crescimento vegetativo, entre 27 a 30ºC de dia e 18-19ºC à noite, ou para a floração e frutificação, 27 a 28ºC de dia e 18-19º C à noite, também é favorável às doenças como antracnose favorecida por temperaturas entre 21 a 27ºC. Oídio é favorecido por temperaturas elevadas e umidade baixa, mancha angular por temperaturas na faixa de 24 a 28º C, e didimela é favorecida por temperatura de 25ºC, principalmente se a umidade for elevada. Essas faixas de temperatura e a pequena oscilação de temperatura no interior das estruturas, quando comparada com o cultivo a céu aberto, são condições que favorecem o desenvolvimento dos insetos (FERNANDES , 1999). 2.3. Umidade Relativa do Ar Este é outro fator que está relacionado diretamente à temperatura do ar, como descrito no item anterior. Nas condições de inverno, quando as estruturas permanecem inteiramente fechadas durante a noite a umidade poderá chegar a 100%, condensando o vapor de água no teto e nas paredes da estrutura. Para evita- la existem hoje no mercado os filmes anti- gotejo, que evitam este tipo de problema. Esta questão da umidade também vai depender de cultura para cultura, para atender a sua fisiologia de crescimento e desenvo lvimento. Para os patógenos também a umidade é sempre importante, pois a maioria tem preferência pelo ambiente mais úmido do que seco, portanto manter a umidade dentro dos limites é sempre necessário. Outro ponto relevante é que quando a umidade é muito baixa poderá interferir na eficiência dos produtos que são utilizados para o controle de algumas doenças e pragas. Um dos fatores que contribuem para elevar a umidade do ambiente é o manejo da irrigação, por isso sempre o sistema indicado é a irrigação localizada, onde se prevê menor perda de água, ou seja, nunca a 308 água é utilizada descontroladamente, que deve ser complementado com a utilização de mulching. Outro fator que muitos acabam se esquecendo é com relação aos canais de drenagem, que, quando feitos ao redor das estruturas, têm evitado a entrada de água de chuva. Relatos de pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Santa Catarina (EPAGRI), de Itajaí, evidenciaram a menor incidência de doenças nos tomateiros instalados dentro de uma estrutura em que havia sido feito este tipo de canal. 2.4. Vento Com relação a este fator, muitos se esquecem, ao planejar a instalação das estruturas, da proteção contra os ventos predominantes. Sabe-se que em muitos locais esta é uma questão muito importante, pois há notícias de produtores que perderam totalmente as estruturas, logo após a sua instalação. Portanto os quebra-ventos com cercas vivas, telas de sombreamento, varas de bambu e outros materiais poderão ser utilizados para este fim. Além deste fator de proteção das estruturas, este tipo de proteção também preserva a longevidade dos filmes, pois o vento é um dos agentes que pode degradar os filmes. TIVELLI (1998) cita SADE (1994) que afirma que dentro do ambiente protegido a velocidade de vento deve ser menor que 1,0 m/minuto e deve haver uma área de 10 a 30% de abertura para ocorrer troca de ar. 2.5. Outras Medidas Culturais Recomendações: Evitar o cultivo de outras espécies de flores e arbustos para não servir de refúgio ou hospedeiras para as pragas. Evitar plantios contínuos com a mesma espécie. Eliminar restos de cultura e plantas daninhas tanto de dentro das estruturas como externamente, bem como a retirar os plásticos velhos. Realizar análise do solo e da água, principalmente a análise patológica de água de irrigação, pois se sabe que determinados fungos como Pythium spp. e Phytophtora spp. podem ser transmitidos pela água. Utilizar cultivares ou híbridos resistentes. Realizar todos os tratos culturais de acordo com a idade e a necessidade da planta. Efetuar as adubações em cobertura bem equilibradas, tentando evitar receitas, e sim acompanhar o crescimento e o desenvolvimento das culturas. Eliminar partes da planta ou plantas contaminadas por fungos, bactérias e vírus, e efetuar a retirada das mesmas da área de plantio. Reconhecer as pragas chave e os inimigos naturais das culturas de interesse econômico. Utilizar armadilhas luminosas com feromônio para atração de machos da traça do tomateiro (FERNANDES , 1999) e se possível aplicar o parasitóide Trichogramma pretiosum para controle da traça do tomateiro (Tuta absoluta). Evitar a entradas de pessoas estranhas no ambiente protegido. 3. Considerações Finais sobre Manejo Para se obter sucesso no cultivo de hortaliças é necessário preservar o solo, monitorando os níveis de fertilidade e procedendo as análises de solo antes da implantação das culturas. O manejo do solo é 310 muito importante, não devendo ser utilizada a tecnologia de "quanto mais adubo colocar, mais se produz", ou "colocar mais adubo pois neste sistema a produção é maior", como a maioria tem feito. Os adubos orgânicos, os compostos orgânicos, a adubação verde e a rotação de culturas são tecnologias que não podem ser esquecidas para quem quer produzir sempre, mais e com alta qualid ade. Outro fator a ser lembrado neste final, seria a utilização correta das coberturas dos canteiros com filmes plásticos de coloração preta, prata, branca/prata, preta/prata e outros que, de certa forma, absorvem a radiação infra-vermelha de comprimento de onda longa. Estes e outros filmes de cobertura de estruturas têm sido pesquisados fora do Brasil e apresentam alguns resultados nas nossas condições. Há uma necessidade muito grande de mais pesquisas nessa área, envolvendo as indústrias e os institutos de pesquisa e ensino. 4. Literatura Consultada ANDRIOLO, J.L. Fisiologia das culturas protegidas. Santa Maria, Editora UFSM, 1999. 141p. AZEVEDO, L.A. O manejo integrado de doenças e pragas do ponto de vista da indústria de defensivos. In: Encontro sobre Manejo Integrado de Doenças e Pragas., Viçosa, UFV, 1999 p.3-5 BERGAMIN FILHO, A. & AMORIM , L. Manejo integrado: problemas conceituais para sua aplicação na fitopatologia. In: Encontro sobre Manejo Integrado de Doenças e Pragas. Viçosa, UFV, 1999 p.6-29. TIVELLI, S.W. Manejo do ambiente em cultivo protegido. In: GOTO, R.; TIVELLI, S.W. Produção de hortaliças em ambiente protegido: condições subtropicais. São Paulo, Fundação Editora da UNESP, 1998. p. 15-30. MARTINS, S.R. ; F ERNANDES , H.S.; ASSIS, F.N. ; M ENDEZ, M.E.G. Caracterização climática e manejo de ambientes protegidos: a experiência brasileira. Inf. Agropec., 20: 15-23, 1999. SADE, A. Cultivo bajo condiciones forzadas - Nociones gererales. Rejovot, Israel, 1997.144p. ZAMBOLIM , L.; COSTA , H.; VALE, F.X.R Táticas de controle no manejo integrado de doenças. In: Encontro sobre Manejo Integrado de Doenças e Pragas. Viçosa, UFV, 1999 p.69-98. M ANEJO DA RESISTÊNCIA DO CARRAPATO BOOPHILUS MICROPLUS A ACARICIDAS Pesquisadora Científica Márcia Cristina Mendes Bióloga, Centro de Sanidade Animal, Instituto Biológico. Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010-970, São Paulo, SP Fone: (11) 5087 1779. E- mail: [email protected] 1. Introdução O carrapato do boi, Boophilus microplus é um problema na pecuária bovina uma vez que as condições ecológicas favoráveis aos carrapatos, associadas às sensibilidades raciais do rebanho a infestações por carrapatos, abrangem praticamente todo o território brasileiro. Controlar o carrapato significa manter reduzida a população, entretanto este conceito não está sendo bem empregado, pois envolve o manejo correto dos animais e a aplicação do carrapaticida próprio para determinada população de carrapato e sua dosagem adequada. 312 Verifica-se que o foco do problema está numa melhor administração da propriedade o que leva consigo uma visão mais ampla do trabalho, tendo não só como ponto de vista o lucro mas o serviço à saúde pública que se beneficiará com um produto de qualidade. Isto leva consigo a formação humana e técnica dos que exercem diretamente este trabalho. 2. Controle do Carrapato Boophilus microplus 2.1. Conhecimento da Biologia e Hábito do Parasita A espécie Boophilus microplus necessita obrigatoriamente passar por uma fase de sua vida sobre o bovino, onde ingere linfa, substratos teciduais e sangue. Esta fase tem uma duração média de 21 dias. Outra fase passa-se fora do hospedeiro na qual a fêmea realiza a postura (entre 2000 a 3000 ovos). No período de 3 a 4 semanas as larvas começam a sair. Dois ou três dias posteriores ao nascimento, elas já estão no talo da planta mais próxima, a espera de seu hospedeiro (LEITE,1996) Os fatores temperatura e umidade relativa determinam maior ou menor tempo de duração parasitária e da fase de vida livre. A infestação dos bovinos começa na primavera, aumenta no verão e tem o pico no outono. No inverno ocorre uma diminuição do parasitismo, isto é, um aumento do período de duração das fases de vida livre e parasitária. 2.2. Controle Químico O controle do alto nível de infestação do carrapato tem sido realizado diretamente no seu hospedeiro empregando produtos químicos que passam a agir sobre larvas, ninfas e principalmente sobre a forma adulta evitando a postura de ovos viáveis e consequentemente a reinfestação do pasto pelas larvas. A escolha do carrapaticida deve ser feita de forma racional, isto é, verificar o perfil de uma amostra de carrapato colhidas de diversos animais a fim de determinar produto mais eficaz. Normalmente se realiza o teste usando a técnica de DRUMMOND et al.(1973), onde se verifica a atuação do produto diretamente na fêmea, na sua postura e na viabilidade dos ovos. Atualmente encontramos produtos carrapaticidas à base de formamidinas, piretróides, organofosforados, avermectinas, fluazuron e fipronil. Os acaricidas que apresentam ação por meio de contato são aplicados na forma de pulverização, banho de imersão e pour-on. Já os sistêmicos são empregados na forma injetável e pour-on. 2.3. Controle de Larvas Um momento bastante favorável para o criador realizar o primeiro tratamento seria no mês de agosto, período anterior a primavera, pois as larvas que já estavam à espera do hospedeiro poderão ser surpreendidas ao entrar em contato com o bovino banhado com acaricida. Assim ocorre a eliminação de uma grande quantidade de larvas e as teleóginas (fêmea adulta ingurgitada) que cairão dessa primeira infestação serão em menor número. 2.4. Controle de Ninfas e Adultos A aplicação do produto acaricida no hospedeiro bovino impedirá o desenvolvimento das formas jovens para adulto e as fêmeas ingurgitadas depois de se desprenderem dos animais poderão morrer ou 314 realizar postura de ovos inférteis, dependendo do mecanismo de ação do acaricida. Banhos acaricidas com intervalos de 21 dias impedem que uma quantidade grande de fêmeas cheguem ao solo e continuem espalhando suas larvas pelo pasto (LEITE, 1996) 2.5. Ineficácia do Produto Acaricida Diante da ineficácia de um produto acaricida podemos estar diante de vários fatores como: Ø Aplicação incorreta do produto ou dosagem abaixo da recomendada pelo fabricante. Ø Ineficiência, isto é, quando o produto se mostra pouco tóxico para a espécie no primeiro contato. Ø Tolerância: populações que toleram maior dose do produto tóxico por razões fisiológicas e não genéticas. Ø Resistência: é o desenvolvimento em uma linhagem de insetos, da capacidade de tolerar doses de produtos tóxicos que seriam letais (ou interfeririam no ciclo de vida) para a maioria dos indivíduos numa população normal da mesma espécie (Organização Mundial da Saúde). A resistência resulta da seleção de genes previamente existentes na população. 2.6. Procedimentos Diante da Suspeita de Resistência Realizar uma inspeção do sistema de aplicação de acaricidas. Isto inclui a entrada e saída de animais no estabelecimento e acaricidas usados em temporadas anteriores. Realizar uma observação direta dos animais, pois uma primeira indicação a campo, é uma alta e anormal presença de teleóginas dos 9 aos 16 dias de banho (indica a sobrevivência da metaninfas). Uma evidencia mais forte, pode resultar na observação de uma alta e anormal presença de teleóginas entre os 4 aos 7 dias depois do banho, sobrevivência de adultos, (NARI et al.,1984). Enviar amostras de carrapatos para Laboratórios que realizam o diagnóstico da resistência. 2.7. Diagnóstico da Resistência Os métodos para a detecção da resistência tem sido baseados em técnicas clássicas de bioensaios, onde se observa a ação do carrapaticida sobre determinados estágios evolutivos dos carrapatos em condições simuladas de laboratório. Dentre os métodos estão os que estudam a ação do acaricida sobre teleóginas e os que fazem sobre larvas. O teste normalmente usado para verificar a sensibilidade, como foi citado acima, é a técnica de Drummond , onde se utiliza o estágio de B. microplus que é menos sensível a sofrer variações induzidas pelo laboratório. A coleta pode ser feita imediatamente antes que os bovinos sejam banhados, as teleóginas tem que ser extraídas de vários bovinos e a amostra deve ser mais numerosa possível. O método em que se utiliza o estágio de larva serve para indicar a resistência do carrapato. A técnica recomendada pela FAO consiste na exposição das larvas a superfícies impregnadas com diferentes concentrações do acaricida (técnica de STONE & HAYDOCK, 1962). Os dados obtidos deste teste (contagem de larvas vivas e mortas) serão usados para verificar a concentração letal de 50% e 99% de cada acaricida, o qual deve ser comparado com os respectivos valores de uma cepa sensível padrão. 316 O calculo do fator de resistência é obtido pela relação da concentração letal de 50% da cepa de campo pela concentração letal de 50% de uma cepa sensível. Através de um gráfico pode-se verificar populações homozigotas (tendência a dar linha reta) ou heterozigotas tendem a da curvas sinuosas. Empregando técnicas bioquímicas pode-se diagnosticar e determinar o tipo de resistência através do sítio de ação alterado e desintoxicação aumentada. Esta técnica permite determinar a freqüência de genótipos possíveis através da variação das atividades enzimáticas (BRACCO,1998). 2.8. Controle da Resistência Quando a resistência é identificada numa propriedade deve-se manter um monitoramento da população empregando-se as seguintes estratégias (de acordo com NARI, et al. 1984): Controle da População através de Testes Biológicos e Bioquímicos. Uso moderado do carrapaticida para evitar uma grande pressão de seleção por menor contato com os acaricidas, pois genes resistentes se mantém misturados em uma grande população de indivíduos susceptíveis e a resistência dilata seu aparecimento. Isto se consegue banhando os animais somente quando há grandes populações de carrapatos adultos e a baixa freqüência . Estratégia de saturação, pois as doses de um acaricida que mata os indivíduos sensíveis (rr,rr), pode estar muito próxima da que mata a heterozigotos resistentes(rr,Rr). Portanto, convém utilizar produtos químicos a concentrações altas para matar todos os sensíveis e a maior quantidade possível de heterozigotos resistentes. Assim diminui os indivíduos heterozigotos abaixando ao máximo as possibilidades de que se combinem entre eles dando indivíduos altamente resistentes. Estes genes ao estar em uma freqüência mais baixa demoram mais em manifestar-se. Para tanto é necessário realizar banhos freqüentes em concentrações altas. Rotação ou Descanso de Pastagem: Quanto mais tempo as larvas ficarem à espera de seu hospedeiro menor será seu poder infestante. Fazendo uso de rotação ou descanso de pastagens, com um prazo mínimo de 30 dias, o pecuarista consegue uma ajuda bastante significativa (LEITE,1996). Uso de capim gordura (Melinis minutiflora) desfavorece a subida das larvas sobre suas hastes que são extremamente pilosas além de liberar secreção nas folhas que pode eliminá- las. Também o capim colonião (Panicum maximum) favorece o controle, criando espaços por onde os raios solares penetram e dessecam ovos e larvas. Utilizar raças de bovinos resistentes. Controle da entrada e saída de bovinos da propriedade. 3. Referências Bibliográficas BRACCO, J. E, Avaliação da resistência a inseticidas em população de Culex quinquefasciatus (Diptera: Culicidae) do Rio Pinheiros (São Paulo, Brasil). Tese de Mestrado Universidade de São Paulo, 1998. DRUMMOND, R. O, ERNST, S.E, TREVINO,WJ.L, GLADNEY, W.J. AND GRAHAM, O H.; Boophilus annulatus and Boophilus microplus: Laboratory testes of insecticides. J. Econ. Entomol., 66, n.1, 1973. LEITE, R.C, O carrapato no Brasil. Gado Holandês, 29 n.45, 1996. 318 NARI, A; CARDOSO,H. Y PETRICCIA ,C.; Resistencia de Boophilus microplus a los acaricidas organofosforados en el Uruguay. Veterinaria 20 (86-87), 1984. STONE, B.F. & HAYDOCK, K.P., A method for measuring the acaricide susceptibility of the cattle tick Boophilus microplus (Can.). Bull. Entomolog. Res. 53, 563-578. 1962. CLOSTRIDIOSES NA ESPÉCIE OVINA Pesquisadora Científica Lucia Baldassi Médica Veterinária, Instituto Biológico, Centro de Sanidade Animal. Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010-970, São Paulo, SP. Tel.: 5087 1721. E- mail: [email protected] As bactérias de interesse médico são grosseiramente categorizadas em aeróbios e anaeróbios, de acordo com suas exigências em relação ao oxigênio que é utilizado para gerar energia a ser empregada nos seus mecanismos de metabolismo e crescimento. Considerando-se apenas a necessidade e tolerância ao oxigênio teríamos os aeróbios obrigatórios, os anaeróbios estritos e os intermediários entre estes. Os aeróbios obrigatórios seriam aqueles que não se desenvolvem sem a presença de oxigênio molecular enquanto os anaeróbios estritos não se desenvolvem na presença deste. Os anaeróbios, categoria dos clostrídios, são bactérias que se desenvolvem em ambientes onde haja baixa tensão de oxigênio. A maioria dos anaeróbios patogênica é parte da flora normal do organismo sendo patógenos oportunistas. Assim infecções por anaeróbios podem ocorrer em qualquer parte do corpo que ofereça condições favoráveis para o seu desenvolvimento. Muitos dos processos infecciosos que afetam as explorações ovinas e bovinas são produzidos por bactérias do gênero Clostridium. Os Clostridium estão amplamente distribuídos pela natureza. Comumente são encontrados no solo, esterco, sedimentos marinhos, vegetação em decomposição, produtos animais e vegetais, infecções em tecidos moles e no trato intestinal do homem e animais, outros vertebrados e insetos. As infecções por anaeróbios podem ser desencadeadas por vários fatores: intervenções cirúrgicas, traumas, isquemias vasculares, necroses de tecido, tumores, presença de bactérias aeróbias e anaeróbias, etc. Estas bactérias apresentam como principal característica a formação de endosporos, o que lhes confere alta resistência permitindo sua sobrevivência no solo por longos períodos. Determinam várias patologias: gangrenas gasosas nas quais predomina a mionecrose e toxemia; enterotoxemias que afetam o trato intestinal e órgãos parenquimatosos e desordens neurotrópicas nas quais o sistema nervoso é o primariamente afetado. Gangrenas Gasosas Ø Manqueira e Edema Maligno As gangrenas gasosas caracterizam-se por necrose do tecido muscular. Geralmente as grandes massas musculares são as mais atingidas embora possam afetar a base da língua, músculo cardíaco, diafragma ou mesmo o úbere. 320 Durante a multiplicação do agente há toxemia com formação de gás. A Manqueira, carbúnculo sintomático, black leg, black quarter ou quarto inchado se constitui em um tipo de gangrena gasosa. Além dos ovinos, várias espécies animais podem ser acometidas: bovinos, caprinos, peixes e baleias. Os suínos são raramente afetados e o homem e eqüídeos são considerados resistentes. O agente etiológico é o Clostridium chauvoei, que à exceção dos demais clostrídios não é encontrado no solo. Os animais jovens são os mais atingidos, ocorrendo entre os 3 meses e 2 anos de idade. O Edema Maligno, gangrena gasosa causada pelo C. septicum, C. novyi tipo A, atinge os ovinos e também os eqüinos, bovinos e suínos, ocorrendo em qualquer fase da vida do animal. O C. chauvoei pode ser ingerido com o alimento ou inoculado por qualquer intervenção, enquanto os outros são introduzidos por intervenções. Porém, qualquer que seja a porta de entrada passam para o sangue e tecido muscular afetado onde se multiplicam produzindo as toxinas e gás. Todos produzem uma série de toxinas letais, hemolíticas e necrotizantes. O quadro clínico apresentado está relacionado à multiplicação do agente, ao gás e às toxinas produzidas. A lesão é acompanhada de edema, hemorragia e necrose miofibrilar, exalando acentuado odor rançoso (C. chauvoei) ou pútrido (C. septicum e C. novyi tipo A). Clinicamente o animal apresenta temperatura elevada, anorexia e depressão e quando o músculo atingido é o de um dos membros observase a manqueira, que confere o nome à enfermidade. Inicialmente o local afetado é quente, dolorido e crepitante. Com a evolução da doença o local torna-se frio e indolor. A morte é quase sempre inevitável e ocorre em 2 horas ou até 2 dias. Enterotoxemias e Desordens Hepáticas Ø Hemoglobinúria Bacilar ou Urina Vermelha Enfermidade que ocorre em áreas geográficas úmidas, onde há Fasciola hepatica (parasita hepático). As infecções subclínicas permitem a disseminação do C. novyi tipo D pelas fezes, embora seja pouco encontrado no solo e trato intestinal. Uma vez ingerido, o agente é levado ao fígado que pelos danos determinados pelas fascíolas fornece condições à multiplicação desta bactéria. As membranas apresentam-se ictéricas, há edema submaxilar e de conjuntiva, além de urina e fezes sanguinolentas, pela ação da toxina, que provoca a destruição dos eritrócitos. Em geral o animal é encontrado morto, mas pode levar à morte em 2 a 3 dias. O controle da enfermidade deve ser iniciado com a eliminação dos caramujos, o que impedirá a sobrevivência das fascíolas. A vacinação é recomendada somente em regiões onde ocorre a doença e deve ser repetida a cada 6 meses. Ø Hepatite Necrótica ou Doença Negra Determina morte súbita. Nos bovinos está associada a infestação por fascíolas e nos ovinos e suínos é desencadeada por degeneração gordurosa do fígado decorrente de sistemas intensivos de alimentação. A bactéria responsável é o C. novyi tipo B. Ocorre edema provocado por grande quantidade de fluidos que se depositam nas cavidades do organismo. Nas ovelhas os vasos sangüíneos se rompem deixando o 322 sangue enegrecido se depositar no sub-cutâneo, o que confere o nome à enfermidade. Doenças Intestinais Apresentam como fatores desencadeantes as bruscas mudanças alimentares, voracidade, excesso alimentar e de carboidratos. As enterotoxemias são determinadas pelo C. perfringens que é classificado em 5 tipos: A, B, C, D e E. Os tipos B e C causam processos entéricos: desinteria e enterotoxemia neonatal em cordeiros, também denominadas intestino purpúreo, pela cor azul do sangue enegrecido. A dor abdominal é intensa e a diarréia, com sangue, é escura levando o animal à morte em horas ou semanas. Os sinais clínicos são causados por três toxinas: alfa, beta e épsilon. O tipo C produz também pequena quantidade de enterotoxina. O tipo D que produz as toxinas alfa, épsilon e enterotoxina determina um quadro severo de enterotoxemia que leva os ovinos à morte súbita (1 a 2 horas). Doenças Neurotrópicas Ø Tétano É desencadeado por castração, descorna, tosquia, parto e contaminação umbilical. As toxinas são formadas nas feridas, contaminadas com esporos do C. tetani, são distribuídas pelo organismo atingindo a medula e o cérebro. A ação da toxina determina os sintomas se iniciam por ansiedade, espasmos e cãibras seguidos por rigidez geral, que impede a locomoção do animal. Há um aumento da sensibilidade e excitabilidade até que ocorra parada respiratória e morte. Ø Botulismo O botulismo é uma manifestação neuroparalítica provocada pela ação da toxina do C. botulinum. Atinge principalmente as fêmeas prenhes e em lactação. Animais deficientes em fósforo se intoxicam ingerindo ossos para repor a carência uma vez que, com estes, ingerem também a toxina. Outras fontes da toxina são águas estagnadas e silagens contendo carcaças de animais. Os sinais clínicos e o curso da enfermidade dependem da quantidade de toxina ingerida. Observa-se desde morte rápida até incoordenação motora, determinada por paralisia que progride até a morte, que ocorre por parada respiratória. À necropsia não se verificam lesões significativas que possam permitir um diagnóstico. O diagnóstico laboratorial, feito pela determinação da presença da toxina botulínica no soro sangüíneo, conteúdo ruminal e intestinal do animal doente, é fundamental uma vez que a raiva e outras enfermidades transmissíveis também apresentam sinais neurológicos. Ø Prevenção e Tratamento das Clostridioses Embora os clostrídios sejam sensíveis à penicilina e antibióticos de amplo espectro, em geral a infecção é verificada em estágio avançado ou os animais são encontrados mortos, o que dificulta o tratamento. Assim a prevenção que é o mais importante no controle das clostridioses, está relacionada a cuidados de manejo. Como manejo entende-se alimentação equilibrada e controlada, higiêne ambiental (disposição adequada de carcaças) e de rebanho 324 quando se pratica qualquer intervenção (vacinação, vermifugação, tosquia, castração), incluindo-se ainda a vacinação indicada. Para a vacinação estão disponíveis no mercado vacinas específicas (tétano e botulismo) e polivalentes para as gangrenas gasosas que devem ser administradas a partir dos 3 meses de idade, um reforço um mês após e revacinação anual. O diagnóstico clínico deve ser confirmado pelo exame laboratorial, portanto o animal deverá ser necropsiado logo após a morte ou sacrifício, as lesões observadas e amostras coletadas para análise. Ø Coleta e Remessa de Amostras q Para o exame bacteriológico (identificação do agente): q Punção local (quando se observar aumento de volume) com seringa e agulha esterilizadas, retirar a agulha, vedar a seringa e encaminhá- la sob refrigeração. Fragmentos de fígado, rins, músculo cardíaco e intestinos com conteúdo e amarrados ou qualquer órgão apresentando alteração devem também enviados sob refrigeração. q Para determinação da toxina: q Soro sangüíneo, conteúdos digestivos e alimentos sob refrigeração. q Para exame anátomo-patológico (identificação das lesões): q Pequenos fragmentos dos locais com alterações ou de fígado, rins, intestinos em formol a 10 ou 20% em temperatura ambiente. Referências Bibliográficas CARTER,G.R.; CHENPAPPA , M.M. Essentials of veterinary bacteriology and mycology. Lea & Febiger, Philadephia, 1991, 4e. BIBERSTEIN, E.L.; ZEE, Y.C. Review of veterinary microbiology. Blackwell Scientific Publication Inc. Boston, 1990. HATHEWAY, C.L. Toxigenic clostridia. Clin. Microbiol. Vet. 3: 66-98, 1990. NIILO, L.C. C. perfringens in animal diseases: a review of current knowledge. Can. Vet. J., .21: 141-8, 1980. SMITH, L.D.S. Botulism: the organism, it’s toxins, the disease. Charles C. Thomas. Illinois, 1977. EIMERIOSE OVINA Pesquisadora Científica Márcia M. Rebouças Bióloga, Instituto Biológico, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010-970, São Paulo, SP Fone: (11) 5087 1790. E- mail reboucas@biologico .br A eimeriose, também chamada coccidiose, é uma doença causada por protozoário do gênero Eimeria, provoca alterações intestinais que ocasionam falta de apetite e, consequentemente, diminuição no desenvolvimento corporal e, por vezes, a morte. Os animais jovens que se recuperam são constantemente reinfestados, mas nem sempre sofrem danos, devido a capacidade de adquirir imunidade, porém, tornam-se fontes de infecção para outros animais. Inúmeras espécies do gênero Eimeria infectam animais da espécie ovina, determinando sérios prejuízos à ovinocultura em decorrência dos altos índices de morbidade e mortalidade constatados em animais jovens com idade ao redor de dois a seis meses. No Brasil, os estudos sobre eimerias em ovinos foram iniciados em 1936. Sendo, no correr dos anos, identificadas as seguintes 326 espécies de Eimeria: E. faurei, E. arloingi, E. intricata, E. parva, E. ahsata, E. ovinoidalis, E. crandallis, E. pallida, E. punctata, E. granulosa, E. gilruthi e E. bakuensis. A coccidiose acomete com mais freqüência animais em condição de estresse, como: mudanças climáticas, nutrição indevida, provocando a queda da resistência do animal. Neste momento, o animal parasitado por eiméria, sofre as conseqüências dessa parasitose. As infecções podem ser mistas, isto é por várias espécies ou podemos encontrar uma só espécie parasitando o animal. Essa parasitose é ocorre em animais jovens de 15 dias a 3 meses de idade e incide em criações onde as condições sanitárias são precárias. Os animais adultos resistem a infecção e tornam-se portadores e disseminadores do protozoário. Os ovinos adquirem a parasitose quando ingerem oocistos infectantes, isto é, já matudos, misturados na água de bebida ou ração. A gravidade da infecção depende do número de oocistos ingeridos e da espécie de eiméria considerada. As infecções por uma única espécie são muito raras. Sempre vai predominar as infecções mistas. As várias espécies de eimeriídeos, na fase endógena (fase dentro do hospedeiro), são parasitas de células intestinais e dentre elas, algumas são consideradas mais patogênicas que outras. O curso da infecção e o quadro clínico sofrem influência do poder patogênico e da localização, intestino delgado ou grosso. Os oocistos, formas infectantes do parasita, podem permanecer viáveis no meio ambiente por períodos longos, desde que as condições de temperatura e umidade sejam adequadas. A dessecação, o calor, o congelamento e as temperaturas moderadamente altas atuam sobre os oocistos fazendo-os perder a infeccciosidade. Os oocistos maturos resistem mais do que os imaturos. O meio propício, úmido, oxigenado, sombreado, livre de bactérias e com temperatura oscilando de 2ºC a 38ºC, fornece aos oocistos condições ótimas de sobrevivência. A esporulação dos oocistos é impedida pelas fermentações e pela putrefação; estes fatores, quando em grau elevado podem determinar a morte dos oocistos imaturos e maturos. O desenvolvimento dos oocistos é auxiliado pelas substâncias químicas que normalmente são empregadas para a desinfecção dos ambientes. Elas têm atuação sobre os microorganismos responsáveis pela putrefação e fermentação e desta forma favorecem, pelo fato de eliminarem elementos que competiriam no consumo de oxigênio, o completo desenvolvimentos dos oocistos. Os oocistos das eimerias são extremamente resistentes a muitos sais, ácidos e bases. São necessárias concentrações relativamente altas de formol, ácido sulfúrico, hidróxido de amônea e creosol para impedir a esporulação dos oocistos. Certos compostos, como, por exemplo, solução de amônea em concentração alta, exercem ação local sobre os oocistos. Pode-se usar a solução a 10% obtida a partir de uma solução forte de amômea. O ciclo evolutivo varia ligeiramente conforme a espécie considerada. A infecção ocorre após a ingestão de oocistos esporulados e viáveis junto com a água de bebida ou alimentos. Após a ingestão, os oocistos sofre a ação de enzimas digestivos produzidas pelo estômago, intestinos, duodeno e pâncreas, determinam o rompimento da cutícula 328 dos oocistos e dos esporocistos liberando os espozozoítos. Mais precisamente, seria a tripsina a enzima específica e determinante do rompimento dos envoltórios e uma série de fatores são levados em consideração durante a fase de liberação dos esporozoítos: concentração do íon hidrogênio, temperatura, atividade tríptica etc. Após a liberação, os esporozoítos invadem diretamente as células epiteliais do intestino favoráveis ao desenvolvimento. O parasita, após sua penetração, cresce e agora denominado trofozoíto torna-se arredondado e aumenta de tamanho. A célula parasitada tem seu tamanho aumentado a fim de acomodar o parasita, apresentando o núcleo deslocado para a periferia. Em poucas horas o núcleo do torfozoíto se divide por esquizogonia e forma-se o esquizonte. Esta fase é chamada de primeiro estágio ou esquizonte de primeira geração, a fim de ser diferenciado daqueles que irão se formar durante a seqüência do ciclo evolutivo. Em equizogonia o citoplasma do esquizonte ainda não se dividiu mas, após um curto período de tempo, segmenta-se ao redor de núcleos recém formados a fim de produzir merozoítos de primeira geração. Em ectopoligenia a coordenação de material ao longo da membrana do blastóforo oposta ao núcleo, há elevação cônica da superfície do blastóforo cercando a membrana interna e conoides. A extremidade anterior elongada do merozoido contem corpos densos e há invaginação da membrana do blastóforo em volta do núcleo. O merozoito fica quase que completamente desenvolvido e ainda ligado à porção final do blastóforo. O merozoito fica livre após a separação do blastóforo que permanece como um corpúsculo residual De início os merozoítos são arredondados, mas rapidamente se alongam transformando-se em organismos fusiformes, com citoplasma granuloso e núcleo arredondado e centralizado. O número de merozoítos contidos no esquizonte varia de acordo com a espécie de eimeria considerada. Após a maturação os merozoítos são liberados do esquizonte, invadem novas células e dão continuidade ao ciclo evolutivo, formando novos esquizontes ou se diferenciam em formas sexuadas e produzem os gametócitos masculinos e femininos. Os microgametócitos (machos) aumentam de tamanho, sofrem divisão múltipla e formam numerosos microgametas. O macrogametócito (fêmea) cresce mais do que o microgametócito. Um único macrogameta é formado a partir de cada merozoíto de segunda geração. O oocisto formado é liberado do interior do tecido hospedeiro e passa, com as fezes, para o meio externo. O período que medeia entre a ingestão de oocistos esporulados e viáveis até o aparecimento do primeiro oocisto nas fezes é denominado período pré-patente. A duração deste período é variável de acordo com as espécies de eimeria e serve como elemento auxiliar para a identificação. A pré-patência varia de 5 a 10 dias, dependendo da espécie de eiméria. Nas infecções agudas observa-se diarréia, sede intensa, diminuição do apetite, distensão do abdome, emaciação, esgotamento rápido, podendo morrer de modo repentino um grande número de animais. A morte pode sobrevir sem sintomas aparentes ou após 4 a 8 dias com fenômenos entéricos. Na realidade, a doença parece ter um curso fulminante, isto é grande número de animais morrem sem sintomatologia aparente. 330 Segundo autores, 24 horas antes da morte grande parte dos animais apresentam diarréia severa. Na forma crônica da infecção o curso é mais lento, a diarréia alterna-se com períodos de constipação, sobrevem meteorismo, os animais enfraquecem de modo profundo e logo surgem convulsões e paralisias gerais. As convulsões são devidas, possivelmente, a ação tóxica de produtos metabólicos. A morte sobrevem após um período de 3 a 4 meses. As eimérias determinam inflamações severas na mucosa intestinal, com conseqüente aparecimento de secreção mucosa. A mucosa do intestino delgado mostra inúmeras listras e pontos brancos. A medida que a infecção progride observa-se ulcerações na mucosa, com infiltração dos tecidos. Os efeitos patológicos determinados pelas eimerias são normalmente atribuídos a distúrbios de nutrição que surgem como conseqüência dos danos mecânicos sofridos pela mucosa intestinal. Porém, parte dos danos podem ser devidos a produção de substâncias tóxicas após o processo que se instala na mucosa do trato intestinal e, por vezes no abomaso como é o caso da Eimeria gilruthi. O diagnóstico baseia-se no encontro de formas do parasita em esfregaços intestinais e nas fezes. A mera presença de oocistos nas fezes não permite assegurar que o animal está doente, mas, o encontro deles associado a outros dados, principalmente obtidos durante a anamnese e necropsia de um animal ou mais, podem no s fornecer elementos suficientes para firmar o diagnóstico, Deve-se ter em mente que durante a fase aguda da infecção os oocistos podem não estar presentes nas fezes. Quando se suspeita de eimeriose é sempre útil realizar exames de fezes através da técnica de enriquecimento por flutuação, utilizando-se para isso soluções concentradas de cloreto de sódio ou açúcar. A fim de melhorar os resultados obtidos no exame anterior é sempre conveniente diferenciar as várias espécies, após cultivo em bicromato de potássio a 2%. A identificação precisa da espécie nos permite ter uma idéia da patogenicidade da eiméria em observação. Os oocistos das eimérias possuem numerosas características morfológicas – forma, tamanho, cor, presença ou não de micrópila, de resíduo oocistítico, de resíduo esporocístico, corpúsculo polar, corpo stieda – que facilitam a identificação. Nestes casos, associa-se o tempo de esporulação às características da infecção. Em relação a profilaxia, deve-se ter em mente que os oocistos apresentam grande resistência quando no meio ambiente e que a umidade favorece a esporulação. As informações que se seguem auxiliarão na obtenção de ambientes de criação livres de animais com a doneça: Ø manter as instalações adequadamente limpas e secas ( comedouros, bebedouros e o ripado onde os animais se protegem da noite; Ø o ripado deve ser distante do solo a fim de facilitar a retirada das fezes, que devem ser removidas com freqüência; Ø evitar que os animais tenham acesso ao interior dos comedouros e bebedouros; Ø deslocar os animais em gestação para ambientes limpos e desinfetados; Ø os animais jovens, após a desmama, devem ser conduzidos a lugares limpos e separados dos mais velhos; 332 Ø no inverno, manter os animais ao abrigo de correntes de ar frio; Ø manter o ambiente interno e vizinho livre de insetos, roedores, aves etc; Ø os objetos de madeira contaminados podem ser esterilizados pela água fervente ou pelo calor seco; os metálicos, pela ação de uma chama ou esterilização a temperatura de 50ºC; Ø isolar animais cujo diagnóstico for positivo para eimeriose; Ø somente incorporar ao rebanho novos animais, cujos exames para eimeriose sejam negativos. Quando positivos trata- los primeiramente; Ø utilizar medicamentos coccideostáticos administrados na ração ou na água de bebida. O controle da eimeriose ovina baseia-se no melhoramento da higiene na criação e das normas de manejo. Boa alimentação é fundamental. Deve-se proceder regularmente exames de fezes para se aquilatar as condições de saúde do rebanho. Literatura Consultada BATISTA NETO, R.; LOPES , C.W.G.; GRISI, L. Macromerontes de um coccidia no abomaso de ovinos. Arq. Flum. Med. Vet., 2 :49-50, 1987 REBOUÇAS, M.M.; AMARAL, V.; TUCCI, E.C.; ALBERT , A.L.L.; MURAKAMI, T.O. Identificação de espécies do gênero Eimeria Schneider, 1875, parasitas de ovinos nos Municípios de Presidente Prudente, Guaratinguetá e Jardinópolis, São Paulo. Arq. Inst. Biol., 64: 5-10, 1997. YAKIMOFF, V.L. Coccidios dos animais domésticos do Brasil. Arq. Inst. Biol., São Paulo, 7: 167-187, 1936. DOENÇAS DA R EPRODUÇÃO Pesquisadora Científica Edviges Maristela Pituco Médica Veterinária, Instituto Biológico - Centro de Sanidade Animal, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010970, São Paulo, SP Fone: (11) 5087 1772. E- mail: pituco@biolo gico.br 1. Rinotraqueíte infecciosa dos bovinos/vulvovaginite pustular infecciosa (IBR/IPV) O Herpesvírus Bovino tipo-1 (BHV-1), classificado na família Herpesviridae, subfamília Alphaherpesvirinae, gênero Varicellovirus (ROIZMAN et al., 1995), é conhecido como o agente causal da Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR). De acordo com a análise do genoma viral, dois subtipos podem ser distinguidos: HVB-1.1 e HVB1.2. Estas variações não são detectadas por métodos sorológicos convencionais, pois todas as amostras do HVB-1, se mostram idênticas. Os subtipos HVB-1.1 e HVB-1.2 apresentam uma correlação parcial entre a origem clínica de seu isolado e seu subtipo molecular. O subtipo 1, compreende a maioria dos isolados do trato respiratório e o 2 a maioria das cepas genitais. A associação entre o subtipo e a forma da doença deve, portanto, ser interpretada com muita prudência. Em bovinos, o BHV-1 provoca uma variedade de sinais clínicos: respiratório (rinotraqueíte em animais jovens e adultos, aborto, conjuntivite) e genital (vulvovaginite pustular nas fêmeas, balanopostite 334 nos machos). O vírus é igualmente responsável por nascimento de animais débeis e quadros de enterite, causando a morte de neonatos (LEMAIRE et al., 1994). O BHV-1 aparece de forma endêmica em todos os Continentes, porém, são poucos os países que desenvolvem programa de erradicação, a exemplo, Alemanha e Holanda, ou, que após aplicação destes, se encontram livres ou virtualmente livres do BHV-1, como Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlandia, Suíça e Áustria. No Brasil, a IBR foi registrada primeiramente em 1962 por GALVÃO na Bahia, sendo o BHV1 isolado pela primeira vez por ALICE em 1978 nesse Estado e no mesmo ano por MUELLER em São Paulo. Desde então, vários surtos foram relatados, provocando sérios prejuízos a pecuária nacional, especialmente em bovinos de exploração leiteira e animais de confinamento. O impacto econômico da IBR pode ser observado pelo retardo no crescimento de animais jovens, menor produção leiteira, morte embrionária e fetal, reduzida eficiência reprodutiva de matrizes e touros, além das restrições ao comércio internacional de animais vivos e seus produtos como sêmen, embriões e produtos de biotecnologia, previstas no Código Internacional de Saúde Animal (OIE, 1995). A Comunidade Européia publicou, em 1991, diretrizes impondo estado soronegativo para o BHV-1 nos Centros de Inseminação Artificial e para a importação de animais. Nos EUA, a IBR é considerada a virose de maior importância econômica, sendo a principal responsável por abortamentos, que podem variar de 16% a 25%. No Brasil esses dados econômicos não são ainda disponíveis. 2. Diarréia Viral Bovina - Bvd A Diarréia Viral Bovina (BVD) é uma doença infecciosa, transmissível, causada por um RNA vírus da família Flaviviridae, gênero Pestivírus (W ENGLER et al., 1995). Este agente é morfologica e físicoquimicamente similar ao vírus da Doença da Fronteira ou “Border Disease” dos ovinos e da Peste Suína Clássica. A BVD apresenta distribuição geográfica cosmopolita e nos países onde estas viroses estão presentes, tornou-se um desafio o diagnóstico diferencial, devido as reações cruzadas entre elas. Os Pestivírus infectam naturalmente uma grande variedade de espécies, incluindo ruminantes domésticos e selvagens e suídeos em geral (N ETTLETON, 1990). A denominação Vírus da Diarréia Viral Bovina deve-se à descrição inicial deste em 1946, por OLAFSON, como o agente etiológico de uma enfermidade entérica aguda, caracterizada pôr diarréia e lesões erosivas no trato digestivo de bovinos, com alta morbidade e baixa mortalidade. Posteriormente, em 1953, RAMSEY & CHIVERS associaram este vírus com uma enfermidade entérica esporádica, altamente fatal, denominada doença das mucosas. Atualmente sabe-se que este vírus é um dos agentes que causa maior impacto econômico na esfera reprodutiva de bovinos. Ocorrem dois biotipos distintos do BVD, citopatogênico (CP) e não citopatogênico (NCP), que são diferenciados molecularmente e também pelo efeito citopático em monocamadas de células susceptíveis (BROWNLIE, 1990). Há significativa heterogeneidade genômica e antigênica entre isolados de campo. Recentemente, dois grupos de Vírus da Diarréia Viral Bovina (BVDV) têm sido reconhecidos e designados 336 como genotipo I - amostras clássicas, usadas em produção de vacina, testes diagnósticos e genotipo II - amostras mais recentemente isoladas. A figura 01 apresenta esquematicamente as diferentes formas clínicas do BVDV e suas consequências para o embrião ou feto. 3. Neosporose O Neospora caninum é um protozoário que parasita, principalmente, bovinos e caninos, mas acomete um grande número de hospedeiros. A infecção natural foi evidenciada também em ovinos, caprinos, eqüinos e cervídeos. Foi erroneamente identificado como Toxoplasma gondii até o ano de 1988, qua ndo foi primeiramente descrito em cães (DUBEY et al., 1988a). A primeira descrição deste parasita em bovinos ocorreu em 1989 por DUBEY et al., a partir de então muitos trabalhos tem sido publicados sobre o assunto, enfocando a importância econômica da Neosporose em bovinos, principalmente como causa de aborto. Duas revisões publicadas recentemente têm resumido a estrutura, ciclo de vida, diagnóstico e controle de Neospora e neosporose em animais (DUBEY & LINDSAY,1996; DUBEY,1999). Adulto ou bezerro Vírus Ac.-→ + Vaca prenhe → → Ac.- →+ Morte precoce; embrion. Reabsorçã oAborto Vírus Vírus Infecção Clínica Sub- Sintomas Leves Associação com ocomplexo Pneumoenterite Trombocitopeni q. 160 d. a Infecção ~ 40-120 d . Vírus → Infecção ~ 90-160 d . Infecção + Ac. Vírus e Ac Forma severa Bezerro: Persistente infectado, Imunotolerante ,(Sem Ac. contra Retardo no BVD) crescimento Superinfecção/mutaç CP BVD-Vírus ão homólogo Doenças das → Mucosas Morte Bezerro: Malformaçõe s Bezerro: Animal → Imune Ac. normal, (Sem BVDVírus) Superinfecçã oBVD-Vírus heterólogo Formação de Ac Figura 1: Apresentação esquemática das possíveis conseqüências de uma infecção pelo vírus da BVD Fonte: W EISS, et al., (1994) Embora N. caninum e T. gondii sejam estruturalmente e antigenicamente relacionados, eles são distintos biológicamente. Por exemplo, N. caninum é a principal causa de abortamento em bovinos (ANDERSON et al.,1991, ANDERSON et al.,1995), enquanto T. gondii não é conhecido como causa de abortamento em bovinos. Neospora não é considerado um patógeno humano, enquanto T. gondii pode causar perda de visão ou ainda morte em humanos. A epidemiologia e o controle de neosporose bovina são uma área de investigação para o futuro. Como os bovinos se infectam na natureza é um enigma. A recente descoberta de oocisto em fezes de cães pode 338 explicar infecção pós natal. Embora, em limitados experimentos, cães liberam somente poucos oocistos (MCALISTER et al.,1998, LINDSAY et al., 1999). Novas investigações são necessárias para elucidar, se outros canídeos ou carnívoros podem excretar oocistos de N. caninum. A prevalência e sobrevivência de oocistos de N. caninum no ambiente são desconhecidas. Devido a similaridade com Toxoplasma gondii, acredita-se que este tenha um ciclo de vida semelhante, onde a infecção pode ocorrer por ingestão de oocistos das fezes de cão, que é o hospedeiro definitivo (MCALLISTER et al.,1998), e por transmissão congênita, única forma demonstrada até o momento. (BARR et al., 1995; PARÉ et al., 1997). Esta forma de transmissão é responsável pela perpetuação da doença nos rebanhos, fato comprovado pela alta taxa de infecção de bezerros, filhos de mães infectadas. Se a transmissão fosse pós-natal, por fezes ou alimentos, a prevalência esperada em vacas mais velhas seria maior, uma vez que estes animais estão sujeitos a um maior período de exposição. Porém não há um aumento de soroprevalência relacionado com a idade dos animais. A falta de um efeito da idade da mãe na soropositividade pré-colostral e a soroprevalência constante nos rebanhos sugere que a transmissão congênita é a principal via de transmissão. Desta forma, são necessários estudos para caracterizar e quantificar riscos de infecção pósnatal (PARÉ et al., 1996). 4. Defeitos Congênitos Bezerros podem apresentar sinais neurológicos fracos ou nascer sem sinais. Exame neurológico pode revelar ataxia, reflexo patelar diminuído e perda de consciência (PARISH et al., 1987; BARR et al., 1993). Embora neosporose congênita subclínica seja provavelmente incomum, somente poucos casos com neosporose clínica tem sido relatados: paralisia, ataxia, exoftalmia ou olhos com aparência assimétrica (BRYAN et al., 1994) ou deformações associadas com lesões das células nervosas no embrião (DUBEY & LAHUNTA , 1993). Em bezerros infectados congenitamente, a doença se restringe principalmente no SNC. Lesões macroscópicas consistem de malácia (O’TOOLE & J EFFREY, 1987) e desvio ou estreitamento da coluna vertebral (BRYAN et al., 1994). Lesões microscópicas consistem de encefalomielite não supurativa caracterizada por infiltração perivascular, gliose e necrose suave. Cistos são freqüentemente observados. A medula espinhal pode apresentar mais cistos que o cérebro. A maioria dos bezerros com neosporose clínica morre nas primeiras 4 semanas de vida. Se o desenvolvimento de neosporose clínica está relacionado coma cepa de N. caninum, a idade do feto ou o estado imunitário da mãe no momento da infecção é desconhecido. É provável que somente uma pequena porcentagem de bezerros infectados congenitamente tem neosporose clínica. Em 2 fazendas na Califórnia, 31 e 54% de bezerros apresentaram anticorpo pré-colostral (PARÉ et al., 1996a). Nos países em desenvolvimento, as doenças infecciosas são de longe as responsáveis pelos prejuízos econômicos dos planteis bovinos. Países desenvolvidos, como os Estados Unidos, estimam entre US$ 15 bilhões ao ano os custos com doenças infecciosas. Dados divulgados no Congresso Mundial de Buiatria de 1986, mostram estimativas de custos 340 mundiais em milhões de dólares, com algumas doenças do gado bovino tais como: Diarréia neonatal US$ 3,000; Língua azul US$ 3,000; Leucose bovina. US$ 900; Leptospirose US$ 4,500; Brucelose US$ 3,500 e Mastite US$ 35,000. Ainda não existe estudo clínico e relatos da ocorrência da Neosporose no Brasil. Estratégias de controle e prevenção dependem fortemente do conhecimento dos riscos de infecção, do conhecimento epidemiológico da doença nos rebanhos, começando com exposição na vida fetal e continuando durante a vida produtiva do animal. 5. Referências Bibliográficas ALICE, F.J. Isolamento do vírus da rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) no Brasil. Rev. Bras. de Biologia, 38: 919-920, 1978. ANDERSON, M.; BLANCHARD, P.; BARR, B.; DUBEY, J.P.; HOFFMAN, R.L.; CONRAD, P.A. Neospora like protozoan infection as a major cause of abortion in California dairy cattle. J. Am. Vet. Med. Assoc., 198: 214244, 1991. ANDERSON, M.; PALMER, C.W.; THURMOND, M.; PICANSO, J.; BLANCHARD, P.; BREITMEYER, R.E.; LAYTON, A W.; MCALLISTER, M.; DAFT, B.; KINDE, H.; READ, D.H.; DUBEY, J.P.; CONRAD, P. Evaluation of abortions in cattle attributable to neosporosis in selected dairy herds in California. J. Am. Vet. Med. 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Dessa forma somente se o leite for adequadamente obtido e processado é que ele terá conservado suas características organolépticas e nutricionais, e portanto sua qualidade. São as seguintes as características de um leite de boa qualidade: Ø Ser livres de todos os germes patogênicos. Ø Possuir baixa contagem total Ø Ser livre de sedimentos e matérias estranhas Ø Possuir sabor levemente adocicado e um flavor levemente aromático Ø Estar de acordo com os padrões legais Para atingir esses requisitos, é necessário que o controle seja exercido desde a produção até a distribuição. No entanto a Legislação vigente para os produtos de origem animal é bastante antiga (1952) com 344 algumas alterações posteriores e classifica o leite por letra A, B, C e leite industria: Leite tipo A:leite integral: máximo de 10.000 ufc/ml; envasado no local de produção Leite tipo B: leite Integral: máximo de 500.000 ufc/ml Leite tipo C:leite padronizado no mínimo 3% de gordura Acidez Dornic máxima de 18; máximo de 2.000.000 de ufc/ml Leite industrial Leite que foi desclassificado para o tipo C; redutase menor que 1,5 horas Dada a grande mudança no setor e principalmente no consumidor final esta sendo proposto alteração na legislação do leite dando ênfase na melhoria da qualidade do produto em todas etapas da cadeia. O projeto de mudança do RISPOA e o novo regulamento das normas de qualidade encontram-se na Secretaria Nacional de Defesa Sanitária em Brasília para a respectiva aprovação após ampla discussão no setor. 2. Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Cru Resfriado Objetivo: Fixar a identidade e os requisitos mínimos de qualidade para a produção de leite cru resfriado. Definição: Entende-se por leite, sem especificar a espécie animal, o produto obtido da ordenha completa e ininterrupta, em condições de higiene, de vacas leiteiras sadias. O leite de outras espécies deve denominar-se segundo a espécie da qual proceda. Tabela 1 Parâmetros de controle e expectativa de dados para três níveis de tecnificação do sistema de produção de leite vigentes atualmente. Nível de tecnificação do produtor Parâmetro Controlado “B” “C” Lípides (g%) > > 3,25 3,25 Peroxidase (U.A.) Ác. “A” Conclusão interferência ou > 3,50 +-- +-- +++ exposição a H2 O2 Úrico 3,90 3,12 2,50 exposição a H2 O2 (mg/100ml) Fosfatase (U.A.) --- --- --- Coliformes 0 2 5 (NMP/ml) 1 4 10 no calor: (a) >62ºC/30’ mercado* (NMP/ml) (ufc/ml) - quando >10.0 >500.000 >1.50 fezes ou mamite cru* 0.000 00 Quando past.* >500 >40.000 (ufc/ml) No >150. baixa higiene (b) 000 mercado >1.00 >80.000 >300. impróprio p/ classe (ufc/ml) 0 000 Redutase (hs/red.) <5 <3,5 <1,50 baixa higiene Acidez cru (ºD) >15- >16-17 >17- 16 Extr. (g%) Seco (uc/ml) Quando 18 total <11,7 <12,00 5 C. somáticas: cru* <2x1 <12.3 < energia 0 <2x105 05 past.* <1x1 baixa higiene <2x1 > manite (c) 05 <1x105 1x105 > recontaminação 346 5 (uc/ml) Temperatura 0 cru <5 <5 <22 > negligênica past. <5 <5 <5 > negligênica (ºC) Temperatura (ºC) Ponto congel. (ºH) ----- -0,530 a - ----- <> fraude 0,550 DPC (ºH) ----- 0,530 a ----- 0,550 Inibidores (d) - - - <> idem Conservadores (d) - - - + crime Fraude com soro (d) - - - + crime Fraude com água (d) - - - + crime Defensivos (d) - - + crime - calor aplicado; (b) pós-pasteurização; (c) ou fisiopatologias; (d) acima dos limites de tolerância estabelecidos pela FIL. Entende-se por “leite cru resfriado”, o produto definido anteriormente resfriado e mantido abaixo das temperaturas constantes da tabela 2, transportado da propriedade rural – granja leiteira, estábulo leiteiro ou fazenda leiteira – para um posto de leite ou estabelecimento industrial, para ser processado e que não seja destinado diretamente ao consumidor final. E será designado para a venda):“Leite Cru Resfriado”. Composição e qualidade: Aspecto e Cor: Líquido branco opalescente homogêneo. Sabor e Odor: Característicos, isento de sabores e odores estranhos. Ausência: Inibidores, neutralizantes da acidez e reconstituintes de densidade, aditivos e coadjuvantes Recomendações: Boas práticas de higiene para a produção e para o transporte do produto devem ser aplicadas. Atender a legislação vigente quanto aos contaminantes orgânicos, inorgânicos e os resíduos. Atender o Regulamento Técnico para Coleta de Leite a Granel. Obedecer a legislação específica para identificação. NOTA: Leite cru para a produção de leite tipo A e leite tipo B deve observar normas próprias relativas a tais produtos, sendo que nenhum padrão de qualidade pode ser inferior ao estabelecido neste Regulamento. 3. Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Pasteurizado. Objetivo: Fixar a identidade e os requisitos mínimos de qualidade que deverá ter o leite pasteurizado, sendo permitida a produção de outros tipos de leite pasteurizado desde que definidos em regulamentos técnicos de identidade e qualidade específicos. Definições: Pasteurização é o processo aplicado a um produto com o objetivo de evitar perigos à saúde pública originados por microrganismos patogênicos associados ao leite pelo tratamento térmico consistente com mínimas modificações químicas, físicas, organolépticas e nutricionais. 348 Leite pasteurizado: é o leite fluido que submetido a temperatura de 72 a 78 graus Celsius por 15 a 40 segundos de resfriamento à temperatura inferior a 5 graus Celsius e envasado no menor prazo possível sob condições que miniminizem contaminações. O produto deve apresentar teste de fosfatase negativo e peroxidase positiva imediatamente após o tratamento térmico. Classificação: De acordo com o conteúdo da matéria gorda o leite pasteurizado classifica-se em: Leite pasteurizado integral. Leite pasteurizado semi-desnatado ou parcialmente desnatado. Leite pasteurizado desnatado. Composição: Ø Ingrediente Obrigatório; Leite cru resfriado Ø Ingredientes Opcionais: Creme Vitaminas e/ou minerais Tabela 2. Requisitos microbiológicos, de CCS e de resíduos químicos leite cru resfriado. Requisitos/métodos análises¹ (periodicidade) de Fase preparatóri a Até 31/12/2001 Redutase (2) Mínimo (2 x por mês) 1:30 h Contagem Padrão em placas ufc/ml Método FIL 100B: 1991 (média geométrica sobre um Primeira Fase a partir de 01/01/20 02 Máximo 2.000.00 Segunda Fase a partir de 0101/200 5 Fase meta a partir de 01/01/20 08 Máximo 750.000 Produtor es individua is menos período de 2 meses, com pelo menos 2 análises por mês) 0 que 100.000 Conjunto de produtore s menor que 300.000 Contagem de células somáticas/ml para produtores individuais Máximo Máximo Método FIL 148A: 1995 de 750.000 (média geométrica sobre 1.000.00 um período de 4 meses, 0 com pelo menos 2 análises por mês) Resíduos de drogas equivalentes em antibióticos do grupo ß- Menor que 0,005 UI/ml Lactam) Método AOAC 15 ª Ed. (pelo menos 1 análise por mês) Temperatura para o leite Máximo 7 ºC 3 horas após a ordenha (cada ordenha) Temperatura para Máximo 10 ºC recebimento na indústria (cada remessa) Máximo 400.000 Máximo 4 ºC Máximo 7 ºC Tabela 3. Requisitos Físico-Químicos para o leite cru resfriado Requisitos Limites Matéria-Gorda g/100 g(2 x mês) Mínimo 3,0 (leite integral)2 Densidade à 15/15 ºC g/ml (2 x mês) 1,028 a 1,034 Acidez ácido lático/100 ml (2 x mês) 0,14 a 0,18 E. S. desengordurado G/100 (2xmes) Mínimo 8.4 350 Índice Crioscópico (2 vezes ao mês) Máximo –0,512ºC Proteínas g/100g ( comprador) Mínimo 2,8 Requisitos: Ø Características Sensoriais Ø Aspecto: Líquido Ø Cor: Branca Ø Odor e sabor: Característicos, sem sabores nem odores estranhos. Acondicionamento O leite pasteurizado deverá ser envasado com materiais adequados para as condições previstas de armazenamento e que garantam a hermeticidade da embalagem e uma proteção apropriada contra a contaminação. Aditivos, coadjuvantes : Contaminantes: Não permitidos Não devem superar os limites estabelecidos pela legislação Peso, medida e rotulagem : Será aplicado legislação específica NOTA: Leite Pasteurizado tipo A e Leite Pasteurizado tipo B devem observar normas próprias relativas a tais produtos, sendo que nenhum padrão de qualidade pode ser inferior ao estabelecido neste Regulamento. Tabela 4. Requisitos físico químico para o leite pasteurizado. Requisitos Leite Semi integral parcialmente ou Leite desnatado desnatado Matéria g/100 g Gorda Mínimo 3,0 0,6 a 2,9 Máximo de 0,5 Acidez g ac. 0,14 a 0,18 Lático/100g Estabilidade ao Estável etanol E. S. Mínimo 8,4 desengordurado % Índice crioscópico Máximo – 0,512ºC Tabela 5. Critérios microbiológicos e tolerâncias para o leite pasteurizado. Microoganis Tolerância mos para amostra indicativa Contagem 1,0 x 105 Tolerância para Categor Método de amostra representativa ia análise I.C.M. F.S. 5 N=5 c=2 m=1,0x10 3 FIL 73A: ufc/ml M=3,0x105 1985 Coliformes a 10 N=5 c=2 m=10 M=15 3 FIL 30ºC 73A: 1985 Coliformes a 2 N=5 c=2 m=2 M=5 6 45ºC APHA 1992, Salmonela sp aus N=5 c=0 aus 12 /25g FIL 1985 4. Possíveis Impactos da Nova Legislação Ø Continuar reduzindo o número de produtores Ø Necessidade de maior capacitação em todo o processo: q resfriamento do leite q limpeza dos equipamentos 93A: 352 q controle de mastite Ø Nova legislação é condição necessária mas, não suficiente Ø mercado (indústria) continuará a comandar o processo de melhoria da qualidade Ø Pagamento por qualidade q Maior capacitação de todos os agentes econômicos (produtor, técnico e indústria): Ø Facilidades laboratoriais q Resfriamento do leite na fazenda e coleta a granel Tabela 6. Metas do Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite Ano Nº máximo de UFC/ml Nº máximo de CCS/ml 2002 1 milhão 1 milhão 2005 750 mil 750 mil 2008 100 mil 400 mil Fonte: Portaria nº 56 do Ministério da Agricultura de 07/12/1 999. 5. Situação Atual do Setor Um levantamento realizado pela Itambé retrata a realidade da pecuária leiteira da região Sudeste do pais e mostra os seguintes aspéctos: 5.1. Faixa de Produção Tabela 7. Distribuição do Número de Produtores e da Produção de Leite da Itambé, em dezembro de 2000. Faixa de produção Produtores (litros/dia) (%) Até 25 11,04 26 a 50 11,29 51 a 100 19,33 Produção (%) 0,48 1,54 5,08 101 a 200 201 a 500 Mais de 500 TOTAL QUANTIDADES Fonte: Itambé 21,55 20,51 16,28 100,00 8.412 10,93 22,46 59,51 100,00 74.164.559 litros 5.2. Produção e Produtividade Ano 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Taxa anual de cresc. Fonte: Itambé Produtores Produção Média Número Índice L/dia 21.337 20.155 19.043 16.869 12.694 8.412 -17% 100 94 89 79 59 39 - 1.854.981 2.028.512 2.076.945 2.141.841 2.184.759 2.392.405 5% Índic e 100 109 112 115 118 129 - 5.3. Qualidade do Leite Tabela 7. Distribuição percentual do volume de leite da Itambé, segundo faixas de tempo de redutase* Redutase % Volume leite % Volume leite % Volume leite (min.) latão - 1997 granel - 1999 granel - 2000 0 a 100 61,534 7,137 9,231 101 a 200 38,254 41,151 43,397 201 a 300 0,213 44,785 39,689 301 a 400 0,000 5,352 5,400 401 a 500 0,000 1,317 1,911 501 a 600 0,000 0,259 0,372 > 601 0,000 0,000 0,000 Total 100 100 100 L/Ano 778.977.438 538.914.361 756.598.141 Fonte: Itambé 354 * A coleta das amostras para análises foi realizada no final da linha, no caminhão. 5.4. Temperatura de Recebimento Tabela 8. Distribuição percentual do volume de leite Itambé, segundo faixas de temperatura, nos produtores e na fábrica, em 2000. Temperatura (graus C) < 3 4 5 6 7 8 9 > 10 Fonte: Itambé Produtores Fábrica 21,12 49,93 21,14 4,61 2,48 0,24 0,14 0,35 0,721 4,354 16,066 42,067 27,807 6,420 1,815 0,750 5.5. Contagem de Células Somáticas Tabela 9. Distribuição percentual dos produtores da Itambé – em 1999/2000, segundo faixas de contagem de células somática em 65.565 amostras de leite. Amostra de Produtores Faixa de CCS (%)* Até 540 mil/ml 59,67 De 541 a 780 17,26 mil/ml De 781 a 1020 9,12 mil/ml Mais de 1020 13,95 mil/ml TOTAL 100,00 Média 447 mil/ml Fonte: Itambé ESTUDO DAS TERAPIAS DA M ASTITE CATARRAL DOS BOVINOS NA CLÍNICA DE OBSTETRICIA E G INECOLO GIA DA ESCOLA SUPERIOR DE M EDICINA VETERINÁRIA DE HANNOVER Pesquisadora Científica Lilian Gregory Médica Veterinária, Instituto Biológico, Centro de Sanidade Animal, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010-970, São Paulo, SP. E- mail: [email protected] 1. Introdução Desde o final do século 18, considerava-se que as enfermidades da glândula mamária dos bovinos eram causadas por picadas de alguns insetos, contato com sangue ou com as secreções de feridas expostas. Também atribuí a-se, na época, como uma das causas de ocorrência das moléstias que acometiam a glândula mamária, a influência de fantasmas ou maus espíritos, por essa é que se tratava, ao então chamado “mal-doespírito”, com relíquias, água benta ou desinfetantes naturais. Com W ILLBURG iniciou-se, em 1787, estudos com bases científicas das doenças da mama. Todavia o empenho dos especialistas referiam-se apenas a nosologia da patologia da glândula mamária, não abordando aspectos relacionadas a etiopatogenia dessas enfermidades (toxionomia - ciência que trata do arranjo e classificação dos animais) já 356 que, naquela época, desconhecia-se a existência dos microorganismos. No seu manual para o fazendeiro, o autor descreveu diferentes tipos de mastite como sendo variadas formas de inflamações da glândula mamária. Em seguida, num período que se caracterizaria pela observação das lesões e órgãos lesados, iniciaram-se pesquisas e estudos para a avaliação da natureza intrínseca do mal da glândula mamária, que afetava a produção leiteira alterava a qualidade do produto lácteo. Atualmente, com a evolução das técnicas laboratoriais permitiuse o isolamento e a identificação de várias bactérias, fungos e algas como agentes etiológicos da Mastite, sendo que W ENDT (1994) diferenciou a mastite de acordo com o achado laboratorial e os sintomas. BLECKMANN & HOEDEMAKER (1996), na Clínica de Ginecologia e Obstetrícia de Hannover, em 13.004 amostras de leite com exame bacteriológico positivo, entre os anos 1990 até 1994, encontraram o seguinte espectro: 36% de Streptococcus, 33% de Staphylococcus, 13% de coliformes, 6% de leveduras, 3% de Actinomyces pyogenes, 7% de infecção mista e 2% de outros agentes. São muitos os fatores que influem no tratamento das Mastites. A variação da cura clínica que podemos ter no tratamento das diversas formas de Mastite pode ser de 40% a 95%, dependendo do agente etiológico envolvido. A antibioticoterapia é o tratamento mais utilizado nas diversas formas de Mastite e a sua eficácia irá depender da meia-vida do antibiótico empregado e de sua capacidade de difusão no parênquima da glândula mamária. Muitas vezes a subdosagem causada pela má administração do medicamento é descrita como causa de desenvolvimento de resistência do microorganismo, mas é antes a sua insuficiente difusão na glândula mamária um fator predisponente para o desenvolvimento da resistência bacteriana. As lesões do parênquima causadas pelos diferentes microorganismos responsáveis por um quadro de mastite e também os detritos produzidos por estes agentes provocam um bloqueio mecânico que dificulta a distribuição do medicamento no local infectado. Acreditava-se que a administração de medicamentos por via parenteral resolveria o problema, mas constatou-se que apenas uma pequena parte da dosagem administrada na corrente circulatória atingia o parênquima mamário. Somente a administração de uma alta dosagem exerceria ação curativa na glândula. Entretanto, este procedimento tornaria o tratamento inviável, em vista do perigo de intoxicação do animal. O maior sucesso do tratamento pressupõe que a escolha de um medicamento seja antecedida de um estudo sobre a sua ação farmacocinética e farmacodinâmica, a fim de avaliar a sua capacidade de eliminar o microorganismo do local infectado sem causar danos significativos ao animal. A apresentação desta palestra foi baseada no trabalho da avaliação de algumas formas de terapia dos pacientes da Clínica de Obstetrícia de Hannover com Mastite Catarral entre os anos de 1986 e 1996. Bibliografia: BLECKMANN, E. HOEDEMAKER, U. M. (1996):Möglichkeiten und Grenzen der bakteriologischen bakteriologischen Untersuchung Untersuchung von von Milchproben Milchproben in in der der Tierarztpraxis. Prakt.Tierarzt, 77, 22-23. GREGORY, L. (1999) Die katarrhalische Mastitis des Rindes: Häufigkeit, Ätiologie und Therapie. Hannover, Tierärztl. Hochsch., Diss. 358 WENDT, K.; BOSTEDT, H.; MIELKE, H. & F UCHS, U. A. W. (1994) Euterund Gesäugekrankheiten. Verlag Fischer, Stuttgart, Jena, S. 226 431. WILLBURG, A. K. VON (1787) Anleitung für das Landvolk in Absicht auf die Erkänntniß und Heilungsart der Krankheiten des Rindviehes. Verlag Stein, Nürnberg, S. 67 - 138. RAIVA R URAL E URBANA Pesquisadora Científica Elenice Maria Sequetin Cunha Médica Veterinária, Centro de Sanidade Animal, Instituto Biológico. Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Cx. Postal 12898, CEP 04010-970, São Paulo, SP Fone: (11) 5087 1779, Fax: (11) 5579 0824. E- mail: cunha@biologico .br A raiva é uma doença viral infecciosa do sistema nervoso, de evolução aguda, e que afeta todos os animais de sangue quente, mas essencialmente os mamíferos. Apesar de todos os avanços científicos, a raiva continua sendo um grande problema de saúde pública, tanto no meio urbano quanto no rural. O vírus rábico pertence à Família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus sendo seu genoma constituído de RNA de cadeia simples em forma de bala de fuzil. Os membros desta família possuem natureza proteica complexa, o que os torna bons indutores de imunidade, quando comparados a outros vírus. Em sua constituição encontramos cinco proteínas, sendo que a glicoproteína do envoltório viral é o único antígeno capaz de induzir a síntese de anticorpos neutralizantes no hospedeiro, conferindo proteção à doença. O vírus da raiva é rapidamente inativado pelos solventes lipídicos, pelo formol, a temperaturas elevadas ( 60°C), pelos pH ácidos e raios ultra- violetas. A raiva está distribuída em todo mundo, com exceções de algumas países que a erradicaram ou permaneceram livres devido a proteção natural, ou através da implantação de regulamentos rigorosos de quarentena. Estas regiões são a Austrália, o Uruguai, algumas ilhas do Caribe, o Japão e alguns países Europeus. A perenidade da doença é assegurada pelo grande número de espécies animais susceptíveis que atuam, também, como transmissores. Atualmente, o cão é, ainda, o maior reservatório do vírus da raiva na África e em certos países Asiáticos e Sul-Americanos, sendo responsável pela raiva urbana. Na América do Norte e Europa, as espécies mais envolvidas são as silvestres, reservatórios naturais da doença. Ainda na América Central e do Sul, o morcego hematófago Desmodus rotundus está envolvido na transmissão da doença, principalmente na zona rural, causando sérios prejuízos econômicos. Após penetrar no tecido subcutâneo ou em alguma massa muscular, através de mordedura ou lambedura, o vírus da raiva se propaga para o sistema nervoso central via axoplasma dos nervos periféricos. Uma vez estabelicida a infecção do sisteam nervoso central, o vírus se difunde para as glândulas salivares e diversos órgãos. A disseminação hematológica pode ocorrer mas é rara. O período de incubação é bastante variável em função da espécie animal transmissora e da contaminada, a localização da lesão, a quantidade de vírus inoculada, proximidade do sistema nervoso central, o 360 tipo e a extensão da lesão provocada pela mordedura, a higidez e o nível imunitário do agredido, entre outros fatores. Em média, o período de incubação varia, para cães e gatos, em torno de 10 a 60 dias; para os bovinos, eqüinos, suínos e outros entre, 25 a 90 dias; no homem, o período de incubação é de 2 a 8 semanas, mas pode variar desde 10 dias até 8 meses. Em animais silvestres o período é bastante variável, não havendo definição clara para a grande maioria deles. Quanto aos sintomas da raiva, há uma variação no que diz respeito à predominância das manifestações. Classicamente, o vírus da raiva apresenta três fases distintas: a fase prodrômica, a fase excitativa e a fase paralítica. Nos cães e gatos, inicialmente, há uma alteração do comportamento e o animal se isola dos demais e das pessoas, buscando se esconder em locais escuros. A alteração na temperatura não é significante e a incapacidade na retenção da saliva pode ou não ser notada. A seguir, já na fase de irritação e excitabilidade, o animal tornase agressivo, atacando a outros animais e pessoas e até objetos inanimados e empreende longas caminhadas, sem rumo definido, continuando a deferir seus ataques. Pode também ocorrer a estimulação do trato urogenital, evidenciada pela micção freqüente, desejo sexual e ereção no macho. Uma característica marcante é o latido do animal que se torna bitonal e rouco. Os gatos, geralmente, tornam-se agressivos e extremamente perigosos causando mordeduras e vários arranhões. Após essa fase de excitabilidade, sobrevêm as paralisias, inicialmente dos músculos da garganta e masseteres, dificultando a deglutição, sendo a queda da mandíbula muito freqüente nos cães. A paralisia progride por todo corpo levando o animal à morte por asfixia, que ocorre quando a musculatura respiratória é atingida. Em relação aos sintomas da raiva transmitida pelos vampiros aos herbívoros, a paralisia atinge inicialmente os membros posteriores, provocando um andar cambaleante. A lactação cessa de repente em vacas leiteiras. Ao invés da usual expressão plácida, os animais tornamse vigilantes, seus olhos e suas orelhas seguem sons e movimentos. O animal faz esforços para defecar e urinar, porém não consegue. Emite mugidos constantes e roucos. Na maioria das vezes, o animal apresenta dificuldade de deglutição e abundante salivação. Finalmente, deita e não se levanta mais até a morte. Em equinos há um período de exitação, com intensidade e duração variáveis, seguido de manifestações de paralisia que dificultam a deglutição e provocam incoordenação das extremidades. Os suínos, geralmente, tornam-se agressivos e podem provocar sérias lesões ao atacar. Nos morcegos hematófagos ocorre mudança na atividade alimentar, hiperexcitabilidade, agressividade, tremores, falta de coordenação dos movimentos, contrações musculares e paralisia. No começo da enfermidade, os indivíduos doentes afastam-se da colônia, deixam de realizar o asseio corporal (seus pelos tornam-se desalinhados e sujos), são acometidos por tremores generalizados e geralmente possuem feridas frescas que são provocadas por agressões de seus companheiros sadios a cada tentativa de reintegração ao agrupamento de onde são expulsos violentamente. Estes perdem a capacidade de voar e podem cair no chão. Há um aumento gradativo dos sintomas paralíticos, com maior intensidade nas asas do que nas extremidades posteriores. No entanto, não tem sido observada paralisia da mandíbula, possibilitando aos morcegos a manutenção da sua capacidade de morder. A 362 morte dos indivíduos raivosos pode ocorrer cerca de 48 horas após o aparecimento dos primeiros sintomas. Nos morcegos não hematófagos a raiva se manifesta geralmente de forma paralítica, sem a visualização da fase exitável. No entanto, existem relatos de agressão por morcegos insetívoros raivosos. Os morcegos podem, ainda, ser encontrados voando durante o dia e batendo contra obstáculos, caracterizando uma desorientação provocada pela doença. No homem a doença tem início súbito e são observados sinais inespecíficos que são caracterizados por febre (que não passa de 38°C), cefaléia, mal-estar, anorexia, náusea e dor de garganta. Na maioria dos casos há alteração de sensibilidade no local da mordedura como formigamento, queimação, adormecimento, prurido e/ou dor local.. Esse período varia de 2 a 4 dias. Em seguida, instalam-se sinais de comprometimento do sistema nervoso central: ansiedade, inquietude, desorientação, alucinações, comportamento bizarro e até convulsões. São raros os surtos de agressividade e a duração da enfermidade é de 2 a 6 dias, terminando com a morte. O diagnóstico clínico indicativo deve ser realizado levando-se em consideração que a raiva pode ser confundida com várias outras infecções e com diversos tipos de intoxicações que causam encefalites, e, para que seja esclarecido, é necessário que se envie o material do animal suspeito para diagnóstico laboratorial. Devem ser remetidos para o laboratório o cérebro e região próxima à medula espinhal, principalmente quando se tratar de eqüinos. Pequenos animais silvestres, como morcego, gambá, sagüi e outros, devem ser encaminhados inteiros, para permitir a identificação da espécie. O material deve ser acondicionado e encaminhado ao laboratório em perfeitas condições de conservação (refrigerado, congelado ou conservado em solução salina com glicerina a 50%). O diagnóstico Organização Mundial laboratorial, da Saúde, segundo é recomendações realizado através da de imunofluorescência direta (IFD) e isolamento viral. A IFD é muito sensível e específica e o diagnóstico através desta técnica pode ser obtido em algumas horas. O isolamento do vírus através da inoculação em cultivos celurares pode fornecer resultados em 48 horas, contra os 21 a 30 dias, necessários para a prova de inoculação intracerebral em camundongos. Não existe tratamento para a raiva; uma vez instalada, a doença é fatal. Assim sendo, devem-se adotar medidas para a sua prevenção. O cão é o principal vetor da raiva urbana. A infecção de um cão a outro, do cão ao homem e a outros animais domésticos se transmite por mordeduras. A grande densidade de cães e sua alta taxa de reprodução anual são fatores importantes nas epizootias de raiva canina na América Latina, incluindo o Brasil. Outro fator importante, na manutenção do vírus, é o grande período de incubação da enfermidade em alguns cães. O vírus pode estar na saliva durante 2 a 3 dias, podendo este número chegar a 13, antes do começo da enfermidade; a eliminação do agente por esta via pode continuar até a morte do animal. Estima-se que 60 a 75% dos cães raivosos eliminam vírus pela saliva e sua quantidade varia de vestígios até altos títulos. Nas zonas urbanas os gatos também podem transmitir a raiva. Estes podem adquirir a doença de cães infectados ou de animais silvestres com os quais tenham contacto. Considera-se, no entanto, que 364 estes animais sejam hospedeiros acidentais do vírus e que, talvez, não desempenhem um papel importante no ciclo natural da enfermidade, mas podem servir como considerável fonte de infecção para humanos. O controle e erradicação da raiva urbana, visando prevenir a doença na população humana, consiste no controle e erradicção da infecção nos animais domésticos, especialmente em cães. Os procedimentos utilizados em programas com esta finalidade têm por objetivo reduzir a população de animais susceptíveis, mediante a vacinação de cães e gatos e apreensão de cães errantes. Cães e gatos devem ser vacinados anualmente, abrangendo zonas rural e urbana, sob a responsabilidade das Prefeituras Municipais. Criado oficialment e em 1973, o Programa Nacional de Profilaxia da Raiva foi gradualmente implantado no país, tendo atingido a totalidade das Unidades Federativas em 1977. As atividades iniciaram-se pelas zonas urbanas das capitais e áreas metropolitanas, estendendo-se, posteriormente, às cidades do interior. O Estado de São Paulo iniciou suas atividades de forma coordenada neste Programa, vacinando cães e gatos, em 1975. A partir de 1983, praticamente 100% dos municípios fazem a vacinação em campanha. Como consequência, a incidência de raiva humana desde esta data tem se mantido em um patamar de 0 a 3 casos notificados/ano. A vacina utilizada em campanhas é a do tipo Fuenzalida & Palácios que é constituída de vírus inativado. Existem também outros tipos de vacina com vírus inativado, com o uso indicado para cães e gatos, cujas doses, via de administração e esquemas de vacinação podem ser diferentes dos da vacina Fuenzalida & Palácios. O controle de animais domésticos, especialmente o cão, deve ser realizado pelos serviços públicos, com a participação ativa da população, através de atividades de Educação e Promoção da Saúde, envolvendo educadores e profissionais que atuam na Saúde Pública. Os procedimentos principais para o controle da raiva rural, transmitida pelo morcego hematófago, consistem em vacinar os animais em áreas expostas e reduzir a populacão de vampiros. A vacinação deve ser realizada segundo a ocorrência da doença. Em áreas epidêmicas, recomenda-se que a vacina seja aplicada a cada 6 meses, no caso de vacinas ina tivadas, e que os animais primovacinados sejam revacinados com intervalo de 30 dias. Os animais recém- nascidos devem receber a primeira dose vacinal com 3 meses de idade e outra aos 4 meses. Em localidades onde a doença ocorre de forma endêmica, a vacinação deve ser anual, também no caso de uso de vacina inativada. O controle populacional do Desmodus rotundus, principal transmissor do vírus rábico em áraes rurais, deve ser uma ação contínua e realizada por equipes especializadas. O método empregado com esta finalidade é o uso de pasta com substância anticoagulante, aplicada nos morcegos ou nas mordeduras dos animais agredidos. Para o controle efetivo da doença, tanto urbana como rural, necessita-se de um adequado sistema de vigilância epidemiológica, com pronto atendimento a focos e envio de material para diagnóstico laboratorial, e um programa de educação em saúde junto à comunidade, visando a adoção de medidas profiláticas. Bibliografia consultada 366 ACHA , P.N.; SZYFRES, B. Rabia. In: Zoonosis y enfermedades transmisibles al hombre y a los animales, Organizacion Panamericana de la Salud, 1986. p.502-526. BRASS, D.A. Clinical manfestations of rabies in insectivorous bats. In: __. Rabies in Bats. Natural history and public health implications. Livia Press, 1994, p. 151-162. BRASS, D.A. Clinical manfestations of rabies in the vampire bats. In: __. Rabies in Bats. Natural history and public health implications . Livia Press, 1994, p. 83-84. DEAN, D. J.; ABELSETH, M., K.; ATANASIU, P. Routine laboratory procedures: The fluorescent antibody test. In: M ESLIN, F.X.; KAPLAN, M.M.; KOPROWSKI. 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