As vias metabólicas existem porque existem enzimas que têm especificidade para substratos que são simultaneamente produtos de outras reações enzímicas. Introdução às reações enzímicas. Equilíbrio químico, catálise e classificação funcional. fosfoglicomútase GLUT2 ADP + Pi [email protected] Departamento de Bioquímica da Faculdade de Medicina do Porto membrana do hepatócito… Fosforílase do glicogénio Glicose-6fosfátase ATP 1 As enzimas catalisam reações mas não têm qualquer papel no sentido em que estas ocorrem. A razão entre a constante de equilíbrio (Keq) e o quociente de reação (QR) permite prever o sentido global em que uma reação tende a evoluir. aA + bB ↔ pP + qQ CO2 + H2O 2 Numa via metabólica existem enzimas com baixa atividade catalítica e que, consequentemente, catalisam reações em que Keq»QR. Outras enzimas têm uma atividade catalítica elevada e, nestes casos, Keq≈QR. 1- Uma reação está em equilíbrio... Keq = QR ⇔ Keq/QR =1 (= mesmo, in vitro, as concentrações de reagentes e produtos não se modificam ao longo do tempo) 2- A reação evolui em sentido direto ... A + B → P + Q se Keq > QR ⇔ Keq/QR >1 3- e evolui em sentido inverso... P + Q → A + B se Keq < QR ⇔ Keq/QR <1 Ao contrário do que acontece no tubo de ensaio, nas células as reações podem evoluir sem que as concentrações dos reagentes e produtos se modifiquem: o QR de uma determinada reação celular pode manter-se 3 “estacionário”. 4 Na reação catalisada pela fosforílase do glicogénio estima-se que a Keq ≈0,3. As concentrações estacionárias da glicose-1-P ( 0,00004 mM) e do fosfato inorgânico (Pi ≈ 0,4 mM) nas células permitem estimar o QR ≈ 0,0001 Keq»QR (qualquer QR fisiológico) e a reação é fisiologicamente irreversível. Glicogénio (n) + Pi Keq ≈ QR e a reação é fisiologicamente reversível. Glicogénio (n-1) + Glicose-1-P [Glicogénio]equi × [Glicose-1-P]equi Keq = Na reação catalisada pela fosfoglicomútase estima-se que a Keq ≈17; as concentrações estacionárias da glicose-1-P (≈ 20-40 nM) e da glicose-6-P (≈ 400-800 nM) permitem estimar o QR ≈ 10 a 40 [Glicogénio]equi × [Pi]equi ≈ 0,3 [Glicose-6-P]equi Keq = ≈ 17 [Glicose-1-P]equi Em determinadas condições metabólicas [Glicose-1-P]real QR = 0,00004 mM ≈ 0,4 mM [Pi]real ≈ 0,0001 5 Numa via metabólica na ausência de “ramificações e entroncamentos” a velocidade efetiva de conversão (velocidade macroscópica = vel_diretavel_inversa), ou seja, a velocidade de fluxo da via metabólica (J) é igual quer nas reações de “equilíbrio” quer nas de “desequilíbrio”. J=10 10,01 Pi – 0,01 = 10 1010 Glicose-1-P Glicose-6-P 1000 (17< [G6P](real)/[G1P] (real)) ....e a reação evolui no sentido Glicose-6-P → Glicose-1-P O valor da razão Keq/QR é uma medida do “grau de desequilíbrio” da reação; que pode exprimir-se de outra maneira; quanto maior é o valor da razão Keq/QR mais negativo é o valor da “energia de Gibbs”. A energia de Gibbs = 0 se Keq = QR; ln 1 = 0. A energia de Gibbs é positiva se QR > Keq; ln número < 1 é um número negativo mas na equação de Gibbs vel. efetiva = vel_direta – vel_inversa = 10,01 Noutras condições metabólicas Keq < QR ΔG Keq/ QR kJ/ mol ≈ 106 -36 103 -18 1 0 6 Se a razão Keq/ QR ...então a energia >1 Negat. ea reação A→P de Gibbs tende a prosseguir no sentido direto A equação de Gibbs relaciona a “energia de Gibbs” (ΔG) com a razão Keq/QR Glicose-1-P 0,01 Keq > QR (17 > [G6P](real)/[G1P] (real)) ....e a reação evolui no sentido Glicose-1-P → Glicose-6-P =1 Nula Aparentemente parada 10-3 18 10-6 36 <1 Posit. tende a prosseguir no sentido inverso vel. efetiva = vel_direta – vel_inversa = 1010 - 1000 = 10 7 8 ΔG (kJ/mol) ≈ - log decimal (Keq/QR) ×6 Outra forma de exprimir Keq de uma reação é referir o ΔGº. ΔGº = - RT ln Keq = energia de Gibbs padrão ( ΔG quando QR =1) O valor de ΔGº é apenas um equivalente da Keq e, em geral, não nos diz nada acerca do sentido em que a reação tende a evoluir nem da reversibilidade ou irreversibilidade do processo. As reações tendem a evoluir no sentido em que o valor do QR se aproxima do valor de Keq. Pensando na reação A→B com Keq = 1 Se QR=1… B B B A A A Se QR=1/5… B A A A A A … ΔG=0 ⇔ reação em equilíbrio Na reação A → B (que pode ocorrer) Keq>QR ⇔ ΔG é negativo: a reação A → B é exergónica (ou espontânea). ΔGº = -RT ln 0,3 = + 3 kJ mol-1 A reação de fosforólise do glicogénio diz-se exergónica porque o ΔG é negativo 9 As reações nunca evoluem no sentido em que são endergónicas mas os processos anabólicos são endergónicos... H2 O ΔG = + 35 kJ glutamato glutamina NH4+ ATP ΔG = -50 kJ ADP + Pi H2 O glutamina NH4+ glutamato Na reação B → A (não pode ocorrer) porque QR>Keq ⇔ ΔG é positivo: a reação B → A seria chamada de endergónica (ou não espontânea). Keq > QR ⇔ reação exergónica = reação que pode ceder energia para que 10 um processo endergónico (reativo ou de transporte) possa ocorrer. As reações endergónicas não existem mas podem ocorrer se acopladas a reações exergónicas. Muitas reações podem ser entendidas como o somatório de duas reações em que uma semirreação é endergónica e a outra semirreação é exergónica; se o somatório dos ΔG das duas semirreações for negativo a reação soma é exergónica e tem tendência termodinâmica para ocorrer. glicose-6-P + ADP ΔG = -32 kJ; Keq/QR= 4x105 glicose + ATP glicose + Pi glicose-6-P + H2O ΔG = + 18 kJ; Keq/QR= 7x10-4 ATP + H2O ADP + Pi ΔG=-50 kJ; Keq/QR= 0,7x 109 ATP glicose-6-P ΔG soma = -15 kJ exergónico B A A A A A cínase da glicose sintétase da glutamina ATP endergónico (ΔG= +35 kJ) A A A A A A As reações evoluem sempre no sentido em que são exergónicas (podendo ser exotérmicas ou endotérmicas); as reações endergónicas são uma abstração e não existem. ΔG = -RT ln (0,3/0,0001) = - 20 kJ mol-1 ΔG = -RT ln (Keq/QR) Se pensar na reação inversa (B → A), QR=5… ADP + Pi (ΔG=-50kJ) As enzimas são as máquinas que acoplando processos endergónicos com exergónicos possibilitam a ocorrência dos processos endergónicos. 11 A sintétase da glutamina é um exemplo. glicose endergónico (ΔG= +18 kJ) ADP exergónico (ΔG=-50kJ) A cínase da glicose é uma “máquina química” que acopla um processo endergónico (a 12 formação de glicose-6-P) com outro exergónico (a hidrólise do ATP). Quando a reação ocorre em meio aquoso e um dos reagentes (ou produtos) é a água, a sua concentração não entra no cálculo da Keq (nem do QR). AB + H2O → A + B [A]equil × [B] equil Keq* = Keq* × [H2O]= Keq = [AB]equil × [H2O] H2O → H+ + OH- [A]equil × [B] equil [AB]equil Kw= [H+] × [OH-]= 10-14 M2 Quando o pH do meio é fixo (meio tamponado) as constantes de acidez (Ka) podem ser transformadas de modo a refletirem a razão entre a forma básica (dissociada) e a forma ácida (não dissociada) da mesma substância. Para uma concentração determinada de protões= [H+]; Ka’ = Ka / [H+] = [A-] / [AH]. AH → A- + H+ [A-]equil × [H+] equil Ka = Ka’ = [AH]equil [A-]equil Ka = [H+]fixo [AH]equil 13 À Keq corresponde ΔGº e à razão Keq/QR corresponde ΔG. À Keq’ corresponde ΔG’º e à razão Keq’/QR’ corresponde ΔG’ e são estes últimos valores que são, habitualmente, apresentados nos livros de Bioquímica. Quando, em Bioquímica, se diz que na reação de hidrólise do ATP em ADP + Pi o ΔG’º é -30 kJ/mol quer-se dizer que a reação está em equilíbrio (ΔG’º = -30 kJ/mol ⇔ Keq’ = 1,8 x 105 M) quando 2[MgADP-] + [ADP3-] + [HADP2-] [H2PO4 ] + [HPO4 ] + [MgHPO4] × [ADP] [Pi] = 1,8 x 105 M [ATP] Keq A+B → CH Ka → Keq = C- + H+ [CH] [A] × [B] [C-] [CH] [C-] Keq × Ka’=[A]×[B] × [CH]= [A]×[B] Keq + Keq × Ka’ = Keq’ = [CH] + [C-] [A] × [B] Ka’ = [C-] [CH] Keq’ é a constante de equilíbrio aparente para a formação da mistura (CH + C-) a partir dos reagentes A e B. A ideia das Keq’ (como a soma de duas Keq) reflete-se na forma como se escrevem as equações das reações em bioquímica: Pode escrever-se a equação da glicólise anaeróbia: glicose → 2 lactatoglicose → 2 lactato- + 2 H+; Mas muito mais frequentemente: glicose → 2 lactato sendo o lactato (sem especificar a carga) a mistura de ácido láctico e lactato14- Nos sistemas biológicos existem membranas que separam compartimentos, mas muitas substâncias podem atravessar essas membranas. Algumas moléculas pequenas e sem carga (como o O2 e o CO2) podem atravessar membranas por processos em que não intervêm proteínas da membrana; o processo de transporte diz-se não mediado. Mas no transporte transmembranar da maioria das substâncias intervêm proteínas da membrana: o processo de transporte diz-se mediado. O transporte não mediado é sempre estritamente exergónico (= passivo); o transporte mediado pode ser passivo ou ativo. Existe transporte passivo ( = difusão) de uma determinada substância quando ela se move a favor do seu gradiente químico (ou electroquímico): o processo é estritamente exergónico. [MgATP2-] + [ATP4-] + [HATP3-] …em que as concentrações de ADP, Pi e ATP são somatórios das concentrações das formas ionizadas e não ionizadas e ligadas ou desligadas do Mg2+. Em bioquímica, porque as reações ocorrem sempre em meios tamponados, é frequente ignorarem-se as reações ácido-base: os valores das Keq (e QR) usados são transformados e podem designar-se de Keq’ (e QR’). 15 Existe transporte ativo de uma determinada substância quando ela se move contra o seu16 gradiente químico (ou electroquímico): o processo contém um componente endergónico. Na maioria das células a glicose (e outras substâncias não iónicas) atravessa as membranas a favor do seu gradiente de concentrações (difusão ou transporte passivo). No plasma sanguíneo e no líquido extracelular a [glicose] ≈ 5 mM mas no citosol da maioria das células, em resultado da ação da hexocínase, é cerca de 0,1 mM. Em equilíbrio haveria igual concentração nos 2 lados da membrana e a glicose tende a mover-se de fora para dentro. ΔG = - RT ln Keq = -RT ln 1 = -RT ln [glicose]dentro QR O transporte transmembranar de substâncias iónicas é passivo (difusão) quando ocorre a favor do gradiente eletroquímico (gradiente elétrico e de concentrações) e ocorre através de canais iónicos ou de transportadores. O gradiente elétrico é uma consequência do facto de as membranas terem cargas diferentes entre as duas faces exterior e interior; o gradiente químico deve-se à No caso do transporte de diferença de concentrações. substâncias com carga elétrica (iões) para além do gradiente químico temos de ter em conta a eventual existência de uma diferença de potencial entre os dois lados da membrana. [glicose]fora [glicose]dentro [glicose]fora Na membrana da maioria das células a glicose move-se a favor de gradiente [glicose]fora ≈ 5 mM O lado interno da membrana citoplasmática tem carga negativa relativamente ao lado externo que tem carga positiva. ⇔ processo estritamente exergónico Se a [glicose]fora = 5 mM e a [glicose]dentro= 0,1 mM ΔG (para o processo de transporte fora → dentro) ≈ [glicose]dentro ≈ 0,1 mM - 10 kJ / (mole de 17glicose transportada) O valor do ΔG correspondente ao gradiente elétrico de um ião com carga Z que é transportado do lado da exterior da membrana para o interior é dado pela expressão: Carga do ião Diferença de potencial (Volt); por convenção o sinal é o do interior da membrana; Ψ = psi ΔG = Z F Ψ Faraday= 96500 Coulomb mol-1 [Na+]fora Quais os valores de ΔG (elétrico e químico e o ΔG soma) correspondentes ao transporte de 1 mol de ião Na+ de fora para dentro? ΔG(gradiente elétrico) = 1 × 96500 × (- 0,086) = - 8,3 kJ mol-1 ΔG(gradiente químico) = - RT ln (145/10) Ψ = - 0,086 V = - 6,6 kJ mol-1 A energia envolvida no transporte de iões Na+ de fora para dentro da célula é o somatório: energia correspondente ao gradiente químico (ΔG negativo) + energia correspondente à diferença de potencial (ΔG negativo) Quando o transporte é passivo ⇔ a favor do gradiente electroquímico ⇔ ΔG<0 o processo de transporte da substância em análise é exergónico. 18 Quando o transporte de uma substância ocorre contra o seu gradiente electroquímico e o processo exergónico acoplado é uma reação química falamos em transporte ativo primário. É o caso 1- da ATPase do sódio/potássio (bomba de sódio/potássio) e dos… 2- dos complexos I, III e IV da cadeia respiratória. Aqui a componente exergónica é uma reação redox...e o endergónico o bombeamento de protões contra gradiente electroquímico. = 145 mM [Na+]fora= 10 mM ΔG(soma) = (- 8,3 - 6,6) = - 14,9 kJ mol-1 -1 19 ΔG(gradiente electroquímico) = - 14,9 kJ mol Transporte de 3 Na+ contra gradiente electroquímico (ΔG ≈ + 44,7 kJ/mol de ATP) Transporte de 2 K+ (admitindo equilíbrio eletroquímico) (ΔG ≈ 0 kJ/mol de ATP) Hidrólise de 1 ATP (ΔG ≈ - 50 kJ/mol de ATP) ⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯ (ΔG ≈ - 5,3 kJ/mol de ATP) 20 Processo global catalisado pela bomba de Na+/K+ ...é exergónico. Quando o transporte de uma substância ocorre contra o seu gradiente electroquímico e o processo exergónico é o transporte de um ião a favor do seu gradiente electroquímico (por sua vez criado por um transporte ativo primário) falamos em transporte ativo secundário. Aquando da síntese de ATP pela síntase de ATP mitocondrial (complexo V) ocorre um processo que é o inverso do que corresponde aos processos de transporte ativo primário: uma reação enzímica endergónica (ΔG >0) está acoplada com um transporte exergónico (ΔG <0) O transporte de glicose ΔG(gradiente elétrico) = 1× 96500 C mol-1 × (- 0,15 V) = - 14,5 kJ mol-1 + + ΔG(gradiente químico) = - RT ln (10-7,0/10-7,6) + + + = - 3,6 kJ mol-1 + - - - + ΔG(gradiente eletroquímico) relativo ao - + transporte de 3 moles protões = [H+] = 10-7,6 M 3 (-14,5 kJ - 3,6 kJ) = - 54,1 kJ ADP + Pi V 3 H+ 3 H+ ATP + H2O Ψ = - 0,15 V ΔG relativo à síntese de 1 mol + - - - de ATP = 50 kJ + + + ΔG relativo ao processo global + + + + + = - 54,1 kJ + 50 kJ = -4,122kJ [H+]=10-7 M no polo apical dos enterócitos é um transporte ativo secundário em que o processo exergónico é a passagem de iões sódio para dentro das células a favor do gradiente electroquímico e o endergónico o transporte de glicose contra gradiente. Diz-se que os transportadores de Na+ e glicose existentes no polo apical dos enterócitos (SGLT1; sodium dependent glucose transporter 1) é um “simporte” porque só pode funcionar 21 transportando 2 iões Na+ e 1 molécula de glicose no mesmo sentido. As palavras “difusão”, “transporte passivo” e “transporte ativo” referemse à termodinâmica do processo de transporte. As palavras “simples”, “facilitado/a”, “mediado”, “transportador”, “cotransporte” “uniporte”, “antiporte” e “simporte” referem-se ao catalisador (ou à sua ausência). 1- Palavras que descrevem a energia envolvida no processo de transporte e estão, portanto, relacionadas com aspetos relacionadas com termodinâmica do processo: a) transporte passivo = difusão = transporte a ”favor do gradiente electroquímico” b) transporte ativo = transporte “contra o gradiente químico ou electroquímico”. 2- Palavras relacionadas com o tipo de catalisador envolvido no processo de transporte: a) simples = não mediado (sem catalisador). b) facilitado = mediado por transportador. b1) uniporte, simporte e antiporte. b2) quando há cotransporte está envolvido um simporte ou um antiporte. A linha de separação entre transportadores e enzimas é tão ténue que, em muitos casos, é impossível dizer se estamos a falar de uma enzima ou de um transportador. 1- Nos complexos da cadeia respiratória da mitocôndria as reações de oxi-redução são exergónicas e o componente endergónico é o transporte de protões contra gradiente electroquímico. 1’- Um caso semelhante ocorre no caso da bomba de sódio e potássio. (hidrólise de ATP exergónica; movimento de iões endergónico) 2- No caso da síntase do ATP na mitocôndria nas condições in vivo o componente exergónico é o movimento de protões a favor do gradiente electroquímico e o endergónico é a reação de síntese do ATP (ADP+Pi → ATP + H2O ). 23 24 Nota: os transportadores/enzimas são apenas catalisadores... Conhecer o ΔG (⇔ razão Keq/QR) de um sistema reativo indica-nos o sentido em que a reação pode evoluir ... mas não nos diz nada acerca da velocidade em que ela ocorre. A maioria das reações que ocorrem nos seres vivos só existem porque existem enzimas que as catalisam. A maioria das enzimas são de natureza proteica e, relativamente aos outros catalisadores, têm uma grande especificidade em relação aos substratos e produtos da reação. 1- Algumas reações são muito lentas: A Keq da reação de oxidação da glicose (glicose + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O) 1- A palavra “enzima” (do Grego: en, na + zima, levedura) foi inventada em 1878 por Fredrich Kühne. é cerca de 10500 M-1 ΔG’º = - 2840 kJ/mol 2- A sua natureza proteica só foi definitivamente aceite na década de 1930. a reação tem tendência a evoluir até ao consumo total do reagente limitante (em geral a glicose) 3- Relativamente aos catalisadores não enzímicos as enzimas são, em geral: a) mais potentes, ...mas, à temperatura ambiente e na ausência de enzimas, posso ter b) atuam em condições “ pouco agressivas “ (pH ≈ 7, temp. < 100°C, etc.), glicose em contacto com O2 durante milhares de anos que não acontece nada. c) têm uma enorme especificidade relativamente aos substratos e produtos, e d) a sua atividade pode ser, frequentemente, regulada por substâncias diferentes dos substratos e dos produtos (as enzimas podem ser sensores do meio ambiente em que estão inseridas...). 2- Outras reações são muito rápidas As reações de dissociação de protões ou ligação de protões (ácido-base) aproximam-se rapidamente do equilíbrio e não necessitam de catalisadores. 25 A Comissão de Enzimas da União Internacional de Bioquímica definiu critérios para a classificação e denominação das enzimas; os critérios são de tipo funcional: duas enzimas com estruturas diferentes que catalisam a mesma reação (isozimas ou isoenzimas) têm o mesmo nome. 4- Sendo as enzimas moléculas proteicas o seu tamanho é, frequentemente, muito grande relativamente ao tamanho das moléculas dos substratos. O “sítio ativo” (ou “sítio catalítico”) é um local específico modelado de tal forma que permite a interação específica com o substrato (ou substratos) e é onde ocorre a reação 26 química. As isomérases (EC 5.x.y.z) catalisam a interconversão de dois isómeros: A↔B 1- A cada enzima foi atribuído um “número EC” (de Enzyme Commission) que contém 4 números separados por pontos (EC W.X.Y.Z). Os números W, X e Y referem-se, respetivamente, à classe, subclasse e sub-sub-classe e o número Z é específico de cada enzima. 2- No dia 19-10-2011 estavam classificadas 4652 enzimas que podem ser consultadas em http://www.expasy.ch/enzyme/ 3- Em geral uma mesma enzima tem vários nomes e a nomenclatura não é isenta de ambiguidade; a atribuição de um número E às enzimas é uma tentativa de resolver essa ambiguidade. Foram definidas 6 classes: Classe 1: oxi-redútases Classe 2: transférases Classe 4: líases Classe 5: isomérases Classe 3: hidrólases Classe 6: lígases ou sintétases 4- A classificação é de tipo funcional: diferentes proteínas com a mesma atividade catalítica (como as isoenzimas) têm o mesmo nome e número E. 27 Em rigor, as isomérases são as únicas enzimas em que se pode falar do substrato da enzima no singular. Exemplos: fosfoglicomútase mútase do fosfoglicerato isomérase das hexoses-fosfato epimérase das pentoses-fosfato epimérase da UDP-galactose (Glicose-1-P ↔ Glicose-6-P) (3-fosfoglicerato ↔ 2-fosfoglicerato) (Glicose-6-P ↔ Frutose-6-P) (Ribulose-5-P ↔ Xilulose-5-P) (UDP-Galactose ↔ UDP-Glicose) Em geral, nas reações catalisadas pelas isomérases as Keq têm valores não muito diferentes de 1 ( ΔGº não muito diferente de 0)28 e são fisiologicamente reversíveis. Nas reações catalisadas pelas hidrólases (EC 3.x.y.z) um dos reagentes é a água e o substrato rompe-se nas suas partes constituintes: AB + H2O → A + B As fosfátases são hidrólases em que um dos produtos é o fosfato inorgânico (Pi). As reações catalisadas pelas fosfátases chamam-se desfosforilações. As hidrólases catalisam a rotura de ligações sendo a água um dos substratos. Alguns exemplos de fosfátases: Exemplos de ligações que podem sofrer rotura hidrolítica: Glicose-6-fosfátase 1- éster (produtos = álcool + ácido) ou tioéster (produtos = tiol + ácido) (glicose-6-P + H2O → glicose + Pi) 2- lactona (produtos = álcool + ácido; notar que neste caso, porque a lactona é “um éster interno”: A + H2O → B) ATPase (ATP + H2O → ADP + Pi) 3- anidrido (produtos = ácido + ácido) 4- amida (produtos = ácido + amina ou amónio) 5- osídicas (produtos = semi-acetal + álcool ou semi-acetal + semi-acetal ou semi-acetal + ácido ou o semi-acetal + amina) Em geral, quando à frente do nome de um composto se coloca o sufixo “ase” a enzima é uma hidrólase (maltase, amílase, fosfolípase, lípase, ATPase, glutamínase ...). 29 Quase sempre catalisam reações fisiologicamente irreversíveis. Nas reações catalisadas pelas transférases (EC 2.x.y.z) um substrato dador cede um grupo químico ou um resíduo a um outro substrato (o substrato aceitador) que o aceita: XT + Y → X + YT H2 O pirofosfátase inorgânica (PPi + H2O → 2 Pi) 2 30 H2 O As cínases são fosfotransférases que catalisam reações do tipo: ATP + Y → ADP + Y-P. As reações catalisadas pelas cínases chamam-se fosforilações. Nas reações catalisadas por cínases o resíduo transferido é um fosfato e, em geral, o dador de fosfato é o ATP (ou o GTP) que cede o fosfato γ (o terceiro) a um aceitador. Numa reação enzímica do tipo: ATP + Y ↔ ADP + Y-P a enzima denominar-se-ia cínase do Y sendo Y o substrato que aceita o fosfato γ do ATP. Exemplos de cínases: Uma transférase catalisa uma reação em que um resíduo T é transferido de XT para Y (ou, tendo em conta a reação inversa, de YT para X). São exemplos de transférases: 1- cínases (ATP + Aceitador → ADP + Aceitador-P) 2- fosforílases (Dador-T + Pi → Dador + T-P) 3- pirofosforílases (Aceitador-T + PPi ← Aceitador + T-PP) 4- transférases de uridilato 31 (dador-UMP + aceitador → dador + aceitador-UMP) cínase da glicose cínase da frutose-6-P cínase do piruvato A denominação das cínases não tem em linha de conta o sentido em que a reação ocorre nos seres vivos: (1) a cínase do piruvato catalisa in vivo a fosforilação do ADP pelo fosfoenolpiruvato. (2) a cínase do adenilato (=AMP) catalisa a fosforilação do AMP pelo ATP (mas32 também a reação inversa; é fisiologicamente reversível): ATP + AMP ↔ 2 ADP Numa reação enzímica do tipo: ATP + Y ↔ ADP + Y-P a enzima denominar-se-ia cínase do Y e a regra mantém-se mesmo quando o aceitador é outra enzima. As ações das cínases e das fosfátases não são reações inversas. Exemplo: a cínase da desidrogénase do piruvato catalisa a fosforilação da desidrogénase do piruvato pelo ATP Cínase da glicose v = 100 ATP ADP Glicose- A cínase da glicose e a fosfátase Glicose J= 90 6-P da glicose-6-fosfato têm papeis metabólicos opostos, mas as v = 10 H2O Pi reações que catalisam não são a inversa uma da outra. Fosfátase da glicose-6-P = Glicose-6-Pase A reação inversa da fosforilação da glicose por ação da cínase da glicose seria a fosforilação do ADP (a ATP) pela glicose-6-P… Quando uma cínase e a fosfátase que se lhe opõe estão simultaneamente ativas a reação soma é a hidrólise de ATP Em geral, quando existe uma cínase que catalisa a fosforilação de um substrato A existe também uma fosfátase (hidrólase) que catalisa a desfosforilação do substrato A fosforilado A + ATP → ADP + A-P A-P + H2O → A + Pi 33 34 … e ambas as reações são (quase sempre) fisiologicamente irreversíveis Quando isto acontece falamos em “ciclos de substrato”. Alguns fármacos e hormonas exercem os seus efeitos ligando-se a recetores celulares que têm atividade catalítica intrínseca e que são, portanto, enzimas. As fosforílases são transférases em que o substrato aceitador é o fosfato inorgânico (Pi): XT + Pi ↔ X + T-P. As reações catalisadas pelas fosforílases denominam-se fosforólises. Alguns recetores celulares são enzimas. a enzima denominar-se-ia fosforílase do XT (T é o resíduo transferido) ...e XT sofre uma fosforólise: XT rompe-se (lise) por ação do fosfato inorgânico (Pi). O recetor da insulina é uma cínase que, quando a insulina está ligada, catalisa a fosforilação de proteínas citoplasmáticas chamadas “substratos do recetor da insulina”. Exemplo de fosforílase: A fosforílase do glicogénio catalisa a fosforólise do glicogénio Algumas cínases (com a PKA; cínase de proteínas dependente do AMP cíclico) são relativamente inespecíficas catalisando a fosforilação de muitas enzimas e essa fosforilação pode ativar ou inibir essas enzimas. ATP + síntase do glicogénio (ativa) Numa reação do tipo XT + Pi ↔ X + T-P PKA (ligada ao AMPc) ADP + síntase do glicogénio fosforilada 35 (inativa) Glicose-glicose-glicose...+ Pi → glicose-glicose...+ Glicose-1-P 36 As pirofosforílases são transférases em que o substrato aceitador do resíduo transferido é o pirofosfato inorgânico (PPi): XT + PPi ↔ X + T-P-P. As reações catalisadas pelas pirofosforílases denominam-se pirofosforólises. Numa reação do tipo XT + PPi ↔ X + T-P-P As transférases de uridilato (uridil-transférases) são enzimas em que o resíduo transferido é o UMP (e não se forma nem se consome PPi inorgânico): X-UMP + Y ↔ X + Y-UMP. a enzima denominar-se-ia pirofosforílase do XT ...e XT sofre pirofosforólise: rompe-se (lise) por ação do pirofosfato inorgânico (PPi). Galactose-1-P Uridiltransférase da galactose-1-P Exemplo de pirofosforílase: Glicose-PP-uridina UDP-Glicose Pirofosforílase do UDPGlicose Galactose-P Glicose-P Para compreender porque se denomina pirofosforílase do uridina-difosfato de glicose (UDP-glicose) à enzima que catalisa a reação Glicose-1-P + UTP → UDP-glicose + PPi, temos de pensar na reação inversa àquela que, de facto, ocorre nas células dos seres 37 vivos. A reação inversa é a pirofosforólise do UDP-glicose. As lígases (ou sintétases) (EC 6.x.y.z) catalisam reações que podem ser lidas como sendo o somatório de duas reações: uma de hidrólise do ATP e outra de combinação de duas substâncias. Glicose-1-P Galactose-PP-uridina UDP-Galactose O UMP (uridina-monofosfosto) também se designa de uridilato. 38 Nalgumas lígases o nucleosídeo trifosfato envolvido na reação não é ATP mas o GTP. ATP + A + B ↔ ADP + Pi + AB ou ATP + A + B ↔ AMP + PPi + AB Nas reações catalisadas pelas lígases a energia libertada no processo de hidrólise do ATP permite a combinação de dois reagentes A e B. Ou, considerando o sentido inverso, que a energia libertada na cisão de AB permite a síntese de ATP. Sintétase do AB No ciclo de Krebs a reação catalisada pela sintétase de succinil-CoA (uma das isoenzimas) evolui no sentido da rotura do succinil-CoA e síntese de GTP: GDP + Pi + succinil-CoA → succinato + CoA + GTP Podemos considerar, conceptualmente, que a sintétase de succinil-CoA faz a acoplagem de duas reações: Quando a rotura do ATP ocorre entre os resíduos fosfato β e γ forma-se ADP e Pi …mas quando ocorre entre os resíduos fosfato α e β 39 forma-se AMP e PPi. ΔG1<0 Succinil-CoA + H2O → Succinato + CoA (reação exergónica) GDP + Pi → GTP + H2O (reação endergónica) ΔG2>0 ⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯ 40 GDP + Pi + Succinil-CoA ↔ GTP + Succinato + CoA ΔG(1,2)=ΔG1+ΔG2 Nas reações catalisadas pelas líases (EC 4.x.y.z) um dos reagentes que contém uma dupla ligação combina-se com um segundo reagente de tal maneira que o produto já não contém a dupla ligação: A=B + C ↔ ABC As oxi-redútases (EC 1.x.y.z) catalisam reações de oxi-redução Ou, pensando na reação inversa: são líases as enzimas que catalisam reações em que um composto se rompe dando origem a dois produtos sendo que um destes produtos contém uma dupla ligação que não existia no composto que lhe deu origem: ABC ↔A=B + C Exemplos de nomes associados a oxi-redútases: Desidrogénases dinucleotídeos são substratos Redútases Oxídases Frequentemente o composto C é a água mas aqui, ao contrário do caso das hidrólases, a reação de C com A=B não resulta na lise de A=B. Catálase 1) As desidrogénases são oxi-redútases que catalisam reações do tipo: AH2 + A+ desidrogénase de AH2 Piruvato lactato NAD+ Piruvato NAD+ NADH Ubiquinona NADH NADPH FADH2 FMNH2 2) As redútases também são oxi-redútases. A maioria das redútases catalisa reações do mesmo tipo das desidrogénases mas o redutor é o NADPH... NAD+ NADH A+ redútase do A NADPH FADH2 FMNH2 AH2 + NADP+ FAD FMN NADPH + dissulfureto de glutatião (GSSG) → NADP+ + 2 glutatião (2GSH) Acetil-CoA Desidrogénase do piruvato NADH Ubiquinol 42 Exemplo: redútase do glutatião; CO2 NAD+ catalisam reações de dismutação Dismútases Desidrogénase do lactato NADH Coenzima A o H2O2 é reduzido a água... Peroxídases 41 NAD+ NADP+ FAD FMN O2 é o oxidante direto Oxigénases NADP+ NADPH 2 e- H+ Desidrogénase do NADH (não se chama desidrogénase 43 do ubiquinol) 44 H+ 3) As oxídases também são oxi-redútases. Catalisam reações em que o O2 é um dos reagentes que se reduz a H2O, a peróxido de hidrogénio (H2O2) ou a superóxido (O2• -). 2 cyt. c (Fe2+) + ½ O2 2 cyt. c oxídase do citocromo c NADPH + 2 O2 oxídase da NADPH (Fe3+) + H2O 5) As peroxídases também são oxi-redútases. Catalisam reações em que o H2O2 é o agente oxidante direto de um composto orgânico. Exemplo: a peroxídase do glutatião é a mais conhecida 2 Glutatião (2 GSH) + H2O2 → dissulfureto de glutatião (GSSG) + 2 H2O NADP+ + 2 O2• - 4) As mono-oxigénases (também chamadas oxigénases de função mista) também são oxi-redútases. Catalisam reações em que o O2 é o oxidante direto, sendo que um dos átomos de oxigénio se vai incorporar num composto orgânico que é oxidado e o outro vai formar água. São frequentemente chamadas hidroxílases; neste caso seria hidroxílase do VH (no exemplo está a reação catalisada pela hidroxílase da fenilalanina) VH VOH O2 H2 O WH2 W fenilalanina O2 tetrahidrobiopterina 2 e- 2H+ tirosina 2 H2O H2O2 H2 O 45 dihidrobiopterina A palavra síntase (não confundir com sintétase) está popularmente associado a algumas enzimas e as síntases podem pertencer a diferentes classes. Algumas vezes o nome que foi originalmente atribuído a uma enzima (síntase do composto X), embora fora da nomenclatura sistemática, manteve-se o mais popular ao longo dos anos. 46 À rotura hidrolítica das ligações fosfoanidrido do ATP (entre os fosfatos α-β e βγ) estão associados valores de ΔGº “muito” negativos; por isso se diz na gíria dos bioquímicos que estas ligações são “ricas em energia”. 1- Dizemos que a glicose e o etanol “são substâncias energéticas” porque no seu processo de oxidação libertam enormes quantidades de energia: 1- A síntase do glicogénio é de facto uma transférase. Glicose + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O ΔGº = - 2840 kJ/mol Etanol + 2 O2 → 2 CO2 + 2 H2O ΔGº = - 168 kJ/mol (nota: estes ΔGº não se referem aos seres vivos; ΔGº refere-se sempre a condições padrão) 2- Quando dizemos que o ATP é “uma substância energética” não estamos a falar da reação de oxidação do ATP mas da sua fosfohidrólise. 2 - A síntase do ATP é de facto uma hidrólase (e, simultaneamente um transportador de protões). ADP + Pi → ATP + H2O A componente exergónica do processo é o transporte de protões através de um componente da enzima que está mergulhado na membrana interna da mitocôndria. Os protões deslocam-se a favor do seu gradiente electroquímico. ATP + H2O → ADP + Pi ΔGº = - 31 kJ/mol ATP + H2O → AMP + PPi ΔGº = - 46 kJ/mol ΔGº= -31 kJ ΔGº= -46 kJ 47 48 As ligações em que o ΔGº que corresponde à sua rotura hidrolítica (em condições padrão) tem um valor semelhante ou é ainda mais negativo que o que corresponde à rotura das ligações fosfoanidrido do ATP (- 31 kJ mol-1 ou 46 kJ mol-1) dizem-se “ricas em energia” e costumam representar-se por ΔGº= - 43 kJ As ligações “ricas em energia” podem ser de tipo: a) fosfoanidrido como no ATP b) fosfamida como na fosfocreatina c) enolfosfato Embora o ΔGº seja apenas uma medida da Keq (e não determine por si só o sentido em que a reação vai evoluir) o conceito de “ligação rica em energia” revelou-se útil… (1) porque, normalmente, quando uma enzima catalisa o acoplamento de duas semirreações em que uma é a rotura de uma “ligação rica em energia” e a outra a formação de uma ligação que “não é rica em energia” (como as fosfoéster) a reação é fisiologicamente irreversível… Exemplos: como no fosfoenolpiruvato. ΔGº= -62 kJ + glicose → ADP + glicose-6-P + frutose-6-P → ADP + frutose-1,6-bisfosfato (cínase da frutose-6-P) (2) e porque, normalmente, quando nas duas semirreações acopladas, numa se rompe e na outra se forma uma “ligação rica em energia” a reação é fisiologicamente reversível + ADP ΔGº= -36 kJ + Pi ↔ succinato + CoA + Sintétase de succinil-CoA Exemplos: d) tioéster como no succinil-CoA. + ADP ↔ creatina + Cínase da creatina Quando dizemos que o ATP, a fosfocreatina, o fosfoenolpiruvato ou o succinil-CoA 49 “são substâncias energéticas” estamos simplesmente a dizer que a sua fosfohidrólise tem um valor de ΔGº muito negativo. A cínase do 3-fosfoglicerato catalisa uma reação de fosfotransferência que é fisiologicamente reversível (no sentido da síntese de ATP na glicólise e de consumo de ATP na gliconeogénese)... + ADP ↔ 3-fosfoglicerato + 50 Cínase do 3-fosfoglicerato As reações enzímicas que in vivo geram PPi têm um ΔG (real) muito negativo porque o produto PPi é rapidamente hidrolisado pela ação catalítica de pirofosfátases que mantém a sua concentração muito baixa. No 1,3-bisfosfoglicerato há uma ligação fosfoanidrido (“rica em energia”) que não existe no 3-fosfoglicerato... Como resultado da ação catalítica das pirofosfátases celulares a concentração de PPi na célula é muito baixa; não existe um dos substratos para que a reação inversa possa ocorrer …mas nem sempre o acoplamento de semirreações em que há síntese e rotura de “ligações ricas em energia” corresponde a reações fisiologicamente reversíveis: por exemplo, a reação catalisada pela cínase do piruvato é fisiologicamente irreversível. + ADP → piruvato + (cínase da glicose) 51 As reações em que um dos produtos é o PPi são reações exergónicas em todas as condições metabólicas reações fisiologicamente irreversíveis. 52 nutrientes ADP 4 H+ Glicose I love electrons O2 I O2 2 Piruvato NAD+ enzimas e enzimas/transportadores envolvidas no catabolismo H2O ΔG < 0 2 acetil-CoA NADH 2 CO2 NAD+ CO2 NAD+ cyt c IV O H2 O 10 H+ NAD+ NADH NADH NAD+ NADH 2 We hate electrons nutrientes 53 Nutrientes ou intermediários do metabolismo ATP III V Simp. Pi 2 CO2 H2O ATP 1 NADH Q NADH 2 CO2 ΔG > 0 4 H+ ) 2 ADP 2 Pi (2 H+ + 2 ADP 2,5 ADP + 2,5 Pi 2,5 A oxidação completa de 1 mole de glicose é a componente exergónica num processo global em que a componente endergónica é a síntese de 30 (envolvimento da 54 lançadeira do glicerol-3-P) a 32 moles (envolvimento do malato) de ATP. Bibliografia consultada: H2O Newsholme, E. A. & Leech, T. (2009) Functional Biochemistry in Health and disease, Wiley-Blackwell, Oxford. ΔG > 0 ΔG < 0 Nelson DL & Cox MM. (2005) Lehninger Principles of Biochemistry. 4th ed. Worth Publishers. New York. enzimas e enzimas/ transportadores Chang R. (1994) Química 5ª ed. McGrow-Hill de Portugal, Lda Pi ADP proteínas, glicoproteínas, lipídeos e glicídeos complexos, ácidos nucleicos... 55 56