Informação para maior impacto social N.12 Novembro/Dezembro 2012 O projeto Impulso Positivo é apoiado por: Opinião • Entrevistas • Casos & Testemunhos • Artigos Técnicos • Prémios & Incentivos • Agenda 02 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 ÍNDICE 04 EDITORIAL 24 NO CENTRO Jeff French, European Social Marketing Association 09 VIVA VOZ OPINIÃO Alguém, Alguém e eu: Serão as componentes de um marketing para angariação de fundos? Por Pedro Krupensky FÓRUM Marketing ao serviço da área social em Portugal: realidade ou ainda fora da agenda? A especificidade do Marketing social. Por Rui Martins, Dianova; António Araújo, Pulmonale; Luís Veiga Martins, Sociedade Ponto Verde; João Gama, Mapfre Seguros INTERNACIONAL Declaração Internacional de Princípios Éticos em Fundraising Por Andrew Watt, FInstF, Association of Fundraising Professionals Paulo Moreira, European Social Marketing Association 28 EXPERIÊNCIAS NACIONAIS Ajuda de Berço, Banco Escolar Staples, Colgate e Operação Nariz Vermelho, Vitalis, Amnistia Internacional, Cáritas INTERNACIONAIS Save the Children, Coca-Cola e WWF 38 PRÉMIOS & INCENTIVOS 44 ARTIGOS TÉCNICOS A Sustentabilidade no aquecimento das habitações em Portugal Por Nuno Matos Sequeira, Solzaima – Soluções de Aquecimento a Biomassa Sem fins lucrativos. Custe o que custar. Por Valério Melandri 16 CAPA ENTREVISTA Beth Kanter, Beth's Blog Madalena Alves Pereira, Call to Action 50 FOTOFILANTROPIA EDITORIAL O marketing é indispensável O Marketing é indispensável para as organizações sem fins lucrativos. Que não haja dúvidas. E se as tem, dê-me o benefício da dúvida e leia. Leia o que lhe trouxemos para estas páginas. O Marketing é um processo de gestão. Sendo assim, só pode ser do interesse de qualquer gestor de uma organização. E em tempos mais difíceis, em que temos que fazer mais com menos, e em que as fontes de recursos escasseiam, o marketing é mais importante do que nunca para as organizações sem fins lucrativos. Porque nos ajuda a prestar melhores serviços, a angariar mais fundos e a cativar mais e melhores voluntários. Sendo um processo de gestão, o marketing é especificamente responsável pela identificação, antecipação e satisfação das necessidades dos clientes de uma organização ou dos alvos de uma campanha de marketing social. “porque nos ajuda a prestar melhores serviços, a angariar mais fundos” Não se deixe intimidar pela linguagem, não lhe resista porque lhe pode ser útil. Seja curioso ou curiosa, espreite este mundo e experimente. O marketing convida-nos a adequar os serviços às necessidades efetivas da comunidade onde a organização está inserida, a verificar se o serviço que prestamos responde às reais necessidades dos clientes, o marketing empurra-nos para o exercício de sermos diferentes, para que a nossa “marca” se distinga das outras aos olhos de doadores, de voluntários e dos beneficiários. O marketing desafia-nos a comunicar e, fazendo-o, pressupõe uma postura de transparência. Pensar e praticar marketing pressupõe querermos abrir as portas das nossas organizações. Isto se o quisermos abraçar de forma completa e, só assim, eficaz. Experimente. Imite e crie de novo. Meça e vá tirando as suas conclusões, aprendendo sempre e fazendo melhor. Escreva-me para o [email protected] Esta Revista é para si. *Siga-nos em www.impulsopositivo.com facebook.com/impulsopositivo Raquel Campos Franco diretora twitter.com/impulsopositivo O projeto Impulso Positivo é apoiado por: Novembro/Dezembro 2012 Administração Raquel Campos Franco | António Gil Machado • Direção Raquel Campos Franco | rcfranco@impulsopositivo. com Edição Rita Ribeiro | [email protected] • Colaboradores Leonor Rodrigues | [email protected] Projecto Gráfico Gonçalo Forte (Brandscape Leisure & Lifestyle, Lda) • Design Gráfico tê[email protected] • Impressão Uniarte Gráfica S.A, Rua Pinheiro de Campanhã, 342, 4300-414 Porto Assinaturas Paula Moreira • Propriedade Positivagenda – Edições Periódicas e Multimédia, Lda. • Preço Assinatura anual (6 números): 70€ | Avulso: 12€ Tiragem 5000 exemplares Redação, Administração e Assinaturas PORTO – R. Gonçalo Cristovão nº 185, 6º 4049-012 PORTO Tel 222 085 009 | Fax 222 085 010 • Redação, Administração e Assinaturas Lisboa Av. Fontes Pereira de Melo, nº 6 – 4º andar, 1069-106 Lisboa | Tel. 217 970 029 | Fax. 217 970 030 • Nº Registo ERC 126045 BREVES Laço doa dois novos equipamentos ao Hospital de São João O Centro de Mama do Hospital São João, no Porto, recebeu dois novos equipamentos da Associação Laço. Trata-se de um aparelho de raio-x, o primeiro do seu género em Portugal, que permite a realização deste tipo de exame em tempo real durante uma operação; e de uma “cadeira especial”, que permite que as doentes estejam nas posições mais adequadas para a realização de biopsias. O Centro da Mama do Hospital de São João recebe diariamente 80 utentes para consultas, exames e outros serviços, contando com um grupo base de 14 profissionais de saúde. UHDC lança campanha 1% Contra o Cancro A União Humanitária dos Doentes com Cancro (UHDC) vai promover uma campanha de angariação de fundos que apela à doação de 1% do subsídio de Natal em prol da luta contra o cancro. Com o mote “1% Contra o Cancro”, a campanha pretende angariar fundos para as atividades da União em 2013, que incluem a disponibilização de serviços gratuitos a doentes oncológicos mais carenciados. De acordo com esta entidade, o objetivo é angariar pelo menos 15 mil euros, valor que lhe permitirá subsistir. Entre os serviços prestados destacam-se as consultas médicas e psicológicas, a Linha Contra o Cancro e o Núcleo de Apoio ao Doente Oncológico. A campanha decorre durante o mês de dezembro. Os donativos podem ser depositados aos balcões do Montepio, ou através de transferência bancária. 06 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 Pandora doa 100 mil euros à LPCC A marca de joalharia Pandora doou 100 mil euros à Liga Portuguesa Contra o Cancro. Este valor resultou de uma campanha de angariação de fundos promovida pela marca e que decorreu entre outubro de 2011 e setembro deste ano. A campanha consistiu na entrega de 15% das vendas da edição limitada de cinco peças Pandora prata e ouro inspiradas na simbologia internacional do cancro da mama, o laço corde-rosa. As verbas angariadas são destinadas à prevenção e tratamento do cancro da mama. Hard Rock em luta contra a Fome O Hard Rock lançou a campanha “Imagine There’s NO Hunger”, no âmbito da qual a venda de produtos de edição limitada reverterá a favor da WhyHunger e dos seus parceiros em todo o mundo, que trabalham na promoção de soluções de longo prazo contra a fome e a pobreza em comunidades com elevado índice de pobreza, fornecendo instrução para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável e implementando programas alimentares para as crianças mais necessitadas. A campanha decorre até 30 de dezembro de 2012 em simultâneo em todos os 176 locais Hard Rock, incluindo Cafe, Hotéis e Casinos. O Hard Rock Cafe Lisboa, na Avenida da Liberdade, é um dos pontos associados desta campanha. Microsoft e Entrajuda apresentam nova aplicação para o voluntariado A Entrajuda e a Microsoft Portugal apresentaram recentemente uma nova aplicação do Windows 8 que permitirá gerir o voluntariado e que será disponibilizada de forma gratuita na nova loja online do Windows 8. Denominada “Bolsa do Voluntariado para Windows”, a aplicação é 100% portuguesa e tem como base a Bolsa do Voluntariado criada pela Entrajuda, atualmente o maior portal de voluntariado em Portugal, com mais de 25 mil voluntários e 1.300 instituições registadas. Com a nova aplicação, indivíduos, empresas e instituições de solidariedade terão uma nova plataforma para gestão do voluntariado individual e Mais de 300kg de brinquedos para Aldeias SOS A campanha das lojas de brinquedos Dreamy World permitiu angariar 300 kg de brinquedos para as Aldeias de Crianças SOS. Com o mote “Vamos Levar o Natal às Aldeias de Crianças SOS”, a campanha decorreu nas 3 lojas da marca e, além da recolha de brinquedos usados, prevê a doação de fundos angariados através das vendas de bonecos solidárias naquelas lojas. Esta última decorre até 15 de dezembro. BREVES Ecopilhas convida a ajudar o IPO Lisboa Cápsulas Nespresso valem 1 milhão de refeições Através da campanha “Reciclar é Alimentar”, a marca de cafés Nespresso entregou 66 toneladas de arroz ao Banco Alimentar Contra a Fome, que se traduzem em mais de 1 milhão de refeições para os portugueses mais carenciados. Este programa foi criado na íntegra pela Nespresso Portugal em 2010, tendo sido já adotada em Espanha. A iniciativa consiste na recolha de cápsulas de café usadas para reciclagem e consequente aproveitamento da borra do café. Esta borra é posteriormente integrada num composto agrícola, utilizado para fertilizar terrenos de arroz no Alentejo, sendo posteriormente processado, controlado e embalado pela Novarroz, com o objetivo de doar o resultado da colheita ao Banco Alimentar Contra a Fome. RLAB ensina a reutilizar equipamentos Já foi inaugurado o RLab – Laboratório de Reutilização, um espaço que servirá de laboratório de conhecimento no qual os seus utilizadores poderão aprender a recuperar equipamentos elétricos e eletrónicos, a criar os seus próprios equipamentos e a prolongar o tempo de vida útil dos mesmos. O projeto é uma parceria entre a LIPOR, entidade que faz a gestão e tratamento de RSU de diversos municípios no Grande Porto, e a ERP Portugal, que integra a plataforma pan-europeia European Recycling Platform (ERP), e pretende disponibilizar novas valências para a gestão de resíduos. A Ecopilhas, Sociedade Gestora de Pilhas e Acumuladores, já lançou a quarta edição do Peditório Nacional de Pilhas e Baterias Usadas a favor do IPO Lisboa. Para participar, basta colocar as pilhas e as baterias usadas no Pilhão, disponíveis em todo o país e que vai estar também disponível nas lojas Lidl, que se associa à campanha. A campanha decorre até 31 de dezembro. O objetivo desta nova edição é conseguir uma “Torre de Endoscopia”, um equipamento de tratamento de cancro a utilizar no bloco operatório e que contribuirá para a otimização das cirurgias realizadas no IPO Lisboa, sendo doado a esta instituição o de saúde pela Ecopilhas. Reciclagem vai valer equipamentos para 25 novas salas de estudo O projeto “Reciclar é Dar e Receber”, uma iniciativa de responsabilidade social da Sociedade Ponto Verde, deverá permitir, este ano, equipar 25 salas de estudo em IPSS. A estimativa é avançada pela empresa, considerando a evolução da quantidade de vidro enviada para reciclagem até ao momento. Relembre-se que, no âmbito desta campanha, a empresa se propõe entregar um euro para a criação destas salas por cada tonelada de vidro colocada no ecoponto em 2012. Se assim for, o projeto irá chegar a cerca de 1.500 crianças de 14 distritos nacionais. Os trabalhos de montagem das primeiras salas resultantes da ação de 2012 já estão em finalização. Este projeto é desenvolvido em parceria como a Entrajuda e a SIC Esperança, a quem coube a seleção e acompanhamento das instituições que serão alvo da intervenção. Em dois anos, este projeto já contribuiu para proporcionar mais de 55 novos locais de estudo às crianças que mais precisam. Microsoft e Montepio promovem literacia financeira A Microsoft e o Montepio estabeleceram um protocolo de colaboração com o objetivo de promover a literacia financeira, utilizando as tecnologias de informação e comunicação. A colaboração foi anunciada durante o lançamento pelo Montepio do Portal de Educação Financeira –Ei, Educação, Informação, que se dirige a famílias, empresas, instituições sociais, jovens e educadores. O projeto visa difundir, de forma mais ampla e eficaz, o valor do aforro como propulsor da qualidade de vida individual e da coesão social. O portal tem cinco áreas – uma para cada um dos públicos já mencionados – e pretende ser um espaço de promoção de comportamentos financeiros responsáveis e sustentáveis, disponibilizando vídeos, infografias, questionários, e podcasts áudio, entre outros conteúdos. No âmbito da parceria, a Microsoft compromete-se a que “esses conteúdos ultrapassem barreiras geográficas e cheguem a todos os que deles podem beneficiar, em particular aos 300 milhões de pessoas que se expressam em Português”, disse Joice Fernandes, diretor mundial do programa Shape the Future, uma iniciativa da Microsoft lançada há 3 anos para promover a inclusão digital e no âmbito da qual se integra esta parceria com o Montepio. Rita Pinho Branco, diretora de Comunicação do Montepio, sublinha que “o Ei nasceu com o objetivo de assegurar níveis de informação ajustados às necessidades dos vários públicos, veicular mensagens de consumo responsável e promoção da poupança e cumprir uma agenda de transformação orientada para a democraticidade, a inovação e a interatividade”. Já no âmbito desta parceria, o Montepio disponibilizou logo a 26 de outubro, data do lançamento mundial do Windows 8, a sua app “Ei – A Máquina da Poupança”, através da qual é possível simular o resultado acumulado de pequenas poupanças, promovendo o valor do aforro e comportamentos financeiros responsáveis. Esta app tira partido do interface visual e da interação pelo toque que o Windows 8 permite. Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 07 BREVES Nova campanha de peluches na IKEA Gulbenkian lança programa de voluntariado sénior para PALOP’s A Fundação Calouste Gulbenkian lançou o projeto “Mais-Valia Sénior”, desenvolvido pelo Programa Gulbenkian de Ajuda ao Desenvolvimento. O projeto consiste em realizar missões de voluntariado de curtaduração nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e dirige-se a maiores de 55 anos, incidindo nas áreas da Educação, da Saúde e das Artes. A ideia é criar uma bolsa de voluntariado qualificado, composta por profissionais experientes que, em parceria com instituições locais e organizações não governamentais no terreno, possam responder às necessidades do terceiro setor. As candidaturas já arrancaram e decorrem até 31 de março de 2013, e os candidatos deverão ter mais de 55 anos, formação académica ou técnica especializada, experiência profissional e disponibilidade para integrar missões com um período máximo de dois meses. Os selecionados farão uma formação específica para a missão antes da partida. Em declarações à Lusa, Isabel Mota, Administradora da Fundação Calouste Gulbenkian, explicou que numa primeira fase deverão ser necessários entre 30 a 40 voluntários, um número que considera adequado, já que “é preciso que as instituições de desenvolvimento tenham a capacidade para dar formação e fazer o acompanhamento às pessoas”. Banco do Bebé quer dar resposta a mais pedidos O Banco do Bebé, uma IPSS que presta apoio a recém-nascidos e bebés, lançou uma nova campanha de Natal, que visa angariar bens para dar resposta à crescente procura de apoios que a entidade sentiu já este ano. Com o mote “Achar querido não chega...”, a iniciativa conta com o apoio dos CTT, que coloca à disposição “embalagens solidárias” em todas as suas lojas, para recolha dos donativos, assumindo assim os custos de transporte dos materiais doados até à associação. De acordo com Marina Arnoso, Presidente da Direção do Banco do Bebé, nos últimos meses esta entidade registou um aumento do número de pedidos de apoio na ordem dos 20%. Entre janeiro e outubro, o Banco do Bebé ajudou 971 bebés, dando resposta a 3430 pedidos de ajuda em bens e acompanhando 62 bebés no âmbito do projeto de apoio domiciliário. Já em 2012, a instituição alargou a sua intervenção à unidade de neonatologia do Hospital de Stª Maria, em Lisboa, e aos serviços sociais do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, que complementam, assim, o apoio dado na Maternidade Alfredo da Costa. Estado vai pagar mais 48% a lares de crianças e jovens em risco Já foi assinado o Protocolo de Cooperação para 2011-2014 entre o Estado e o Setor Social, representado pela CNIS, União das Misericórdias e União da Mutualidades. O documento confirma o aumento de 1,3% da comparticipação financeira da Segurança Social em 2013 (face a 2012), o que representa um total de mais 30 milhões de euros. Para 2014, a atualização será realizada no final de 2013, como adenda ao protocolo agora assinado. O Protocolo dá também uma especial atenção aos Centros de Acolhimento Temporário (CAT) e aos Lares de Infância e Juventude (LIJ), passando, nestas estruturas, o valor mínimo de comparticipação da Segurança Social de 475 para 700 euros, no que será um aumento de cerca de 48%. Esta medida de aumento da comparticipação mínima será implementada de forma gradual até 2014, embora os 114 LIJ integrados no Plano SERE+ sofram uma atualização imediata na comparticipação; e os 14 CAT que acolhem temporariamente 311 jovens/crianças e cuja comparticipação da Segurança social seja inferior a 700 euros/mês passem também a beneficiar da comparticipação mínima definida de forma imediata. 08 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 A IKEA volta a apostar na sua campanha anual de Peluches para a Educação, iniciativa que visa ajudar a financiar projetos educativos de qualidade para crianças que vivem em situação de pobreza nos países em desenvolvimento, programas esses desenvolvidos pela UNICEF e pela Save the Children. Em Portugal, a marca pretende conseguir reunir 125.000 euros com esta campanha, que decorre em todas as lojas IKEA no mundo entre os dias 1 de novembro e 24 de dezembro e que consiste na doação de um euro, pela IKEA, por cada peluche ou livro infantil vendido nesse período. Na sua 9ª edição, esta iniciativa tem como objetivo global atingir 12,65 milhões de euros este ano. Em Portugal, além da campanha dos peluches, a marca vai repetir a iniciativa paralela de doação de peluches a crianças hospitalizadas, à semelhança do ano passado. Assim, a IKEA convida todos os seus clientes portugueses a doar um peluche IKEA extra nas lojas, depois da linha de caixas, o que será possível fazer também até 24 de dezembro. Depois dessa data, a marca reúne todos os peluches doados e encarrega-se de os entregar às crianças internadas em 10 hospitais portugueses durante a quadra natalícia. VIVA VOZ Linhas sobre Rodas é novo negócio social Ajuda aos países mais pobres melhora, mas é preciso mais A qualidade dos programas europeus de ajuda aos países em desenvolvimento melhorou, mas pode e deve continuar a melhorar. Além disso, mais fundos devem ser utilizados para combater a pobreza. Estas são conclusões do mais recente Relatório AidWatch, publicado no final de novembro pelo Concord – Confederação Europeia de ONG de Ajuda e Desenvolvimento. Este relatório foi apresentado na véspera do aniversário da Cimeira de Ajuda Internacional, que decorreu o ano passado, em Busan, e no qual a União Europeia assinou um acordo global para tornar mais eficaz a cooperação para o desenvolvimento. Idosos carenciados recebem medicamentos gratuitos Os idosos carenciados podem passar a receber medicamentos gratuitos desde 1 de dezembro. A medida é implementada através do Banco do Medicamento, consagrado no Programa de Emergência Social, e que prevê que as companhias farmacêuticas doem os medicamentos, e posteriormente coloquem toda a informação relevante sobre estes numa plataforma da autoridade nacional do medicamento (Infarmed). Em seguida, as instituições selecionadas pela União das Misericórdias Portuguesas, e inscritas no Banco do Medicamento, passam a contar com estas doações para os seus utentes. A União das Misericórdias será responsável pela certificação das instituições beneficiárias do projeto. Os produtos de saúde e medicamentos doados terão de ter um prazo de validade não inferior a seis meses, podendo ser doados diretamente a instituições sociais que disponham de serviço médico e farmacêutico, conforme explicou Pedro Mota Soares, Ministro da Solidariedade e da Segurança Social, na cerimónia de assinatura do protocolo, que contou com representantes da indústria farmacêutica, o Infarmed e as Misericórdias. O Social Lab, da Fundação EDP, e a SEA – Agência de Empreendedores Sociais apoiaram a criação do “Linhas sobre Rodas”, um novo negócio social. Trata-se de um serviço de costura, com recolha e entrega ao domicílio, que tem como prioridade a criação de emprego para costureiras experientes e de qualidade, que estejam em situações vulneráveis, gerando receitas para assegurar a sua sustentabilidade. O projeto está em fase de experiência piloto no bairro da Mouraria, em Lisboa, e começou a operar no início de novembro. Até janeiro de 2013, vai testar-se a validade do modelo comercial e social implementado, e obter indicadores do potencial futuro do projeto. Pretendese, no final desse período, angariar o investimento adicional necessário para o negócio poder operar a uma maior escala. O negócio pretende resolver o problema de desemprego de costureiras experientes, dando resposta a uma procura de profissionais sem tempo livre e com dificuldades em encontrar soluções comerciais ajustadas às suas necessidades de confeção, arranjo e reparação de roupa. O serviço prevê que uma das costureiras se desloque ao local mais conveniente ao cliente para entregar ou buscar peças de roupa, bem como para tirar medidas. Worten ajuda “Portugal + Feliz” A Worten lançou uma nova campanha de responsabilidade social, que irá apoiar o programa “Portugal + Feliz”, da Cruz Vermelha Portuguesa. Com o mote “Dê a mão por um Portugal + Feliz”, a iniciativa consiste na venda de embrulhos de Natal a 1 euro e arrancou a 16 de novembro, prologando-se até 6 de janeiro de 2013. Os embrulhos “Portugal + Feliz” estarão à venda em todas as lojas Worten, incluindo Madeira e Açores, sendo disponibilizados em duas cores e dois tamanhos. O programa da Cruz Vermelha Portuguesa tem como principal objetivo apoiar famílias carenciadas na reconstrução dos seus projetos de vida, combatendo a pobreza e a exclusão social. A iniciativa conta com o apoio da SIC, da Visão e do Expresso, bem como da RFM e da Cemusa, parcerias que visam sensibilizar e a mobilizar todos os portugueses para esta causa. Cáritas lança “10 Milhões de Estrelas” 2012 A Caritas Portuguesa lançou a 10ª edição da campanha “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz 2012”, que uma vez mais pretende angariar fundos para apoiar as famílias e pessoas em situação de carência socioeconómica que serão ajudadas através das Cáritas Diocesanas. Além deste destino, que concentrará 65% dos fundos angariados, 35% dos fundos reunidos serão aplicados numa causa internacional, que este ano será a construção da Casa Familiar Rural de Santarém, na região da Amazónia, no Brasil. A campanha consiste na venda de velas pelo preço de um euro, com opção de aquisição também de um pack de quatro velas por 4 euros, que incluirá um presépio em papel, que poderá ser pintado e armado. A cadeia de supermercados Pingo Doce continua a ser parceira da Cáritas Portuguesa na venda de velas da campanha de Natal da instituição. Além disso, as velas podem ser compradas nas Cáritas Diocesanas, escolas e paróquias que aderiram e outros locais. Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 09 VIVA VOZ OPINIÃO Alguém, Alguém e eu: Serão as componentes de um marketing para angariação de fundos? Por Pedro Krupenski, Presidente da Plataforma das ONGD A matriz judaico-cristã incrustada inexoravelmente na cultura portuguesa, se nos leva a uma aguçada consciência do outro, também nos leva à convicção de que Alguém ou alguém é responsável pelo prover do nosso bem-estar. Enquanto um dia apareceu um Lutero a afirmar que a Bíblia deveria ser lida por todos na sua própria língua e interpretada diretamente pelo leitor e criou uma nova matriz, a vigente manteve a intermediação do sacerdote. Por isso, hoje, os povos de matriz protestante são muito mais responsáveis e ativos no prover do bemestar dos outros e o do seu próprio do que os de matriz judaicocristã que continuam a aguardar que alguém (ou Alguém) diligencie para o seu bem-estar: dos pais aos professores, dos patrões aos governantes, do deus à pátria, há sempre alguém (ou Alguém) – que não o próprio – que é responsável pelo seu bem-estar. A mesma matriz conduziu-nos também a uma estranha relação com o dinheiro. Encaramo-lo numa relação de amor-ódio. Se é certo que gostamos e precisamos dele também é verdade que o encaramos com desconfiança, como algo ímpio, impuro, algo que é pecaminoso almejar. O setor não lucrativo também tem tido a tendência pouco saudável de deixar por conta de outrem a tarefa de o gerar. A natureza não lucrativa das organizações tem sido encarada como um fator que impossibilita a geração de receitas quando, na verdade, apenas significa não poder distribuí-las como lucro mas aplicá-las aos seus fins sociais. Na conjugação destes dois ingredientes no ADN (convicção de que a responsabilidade pelo nosso próprio bem-estar não é nossa mas de alguém ou de Alguém e a convicção de que angariar dinheiro roça o pecado) está a génese da insustentável “subsidiodependência”. 10 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 Pedro Krupenski Com a consciência de que o sistema de subsídios é insustentável a longo prazo pois, apesar de ser um investimento com retorno social, é a fundo perdido e a fonte não é inesgotável, muitas têm sido as organizações que têm começado o processo de desintoxicação, procurando apostar em formas alternativas de custear as respetivas estruturas e de cumprirem o seu papel social e humano. É aqui que começa a via-sacra da angariação de fundos. A via é de facto dolorosa – com quedas e tudo – para quem a percorre sem estar dotado dos conhecimentos, recursos e instrumentos mais adequados para atingir bom porto. Se falta uma planificação estratégica, uma abordagem comercial, o tratamento do doador como um cliente, a sua fidelização e o marketing, a probabilidade de sucesso duradouro é nula. Do lado dos potenciais doadores o terreno é fértil para semear desgraças, regar com emoções e colher reações. Recorde-se, por exemplo, o notável movimento de solidariedade gerado em Portugal pelo tsunami ocorrido no Natal de 2004 no geográfico e culturalmente longínquo sudoeste asiático. Outro tsunami de solidariedade e generosidade eclodiu da alma lusa em direção a banda Aceh (Indonésia), fazendo contracorrente à língua de água gigante que engoliu vidas, famílias, casas, recursos. Sensibilizados pelas notícias dos jornais, pelas reportagens em tempo real, muitos se dispuseram a dar o que fosse preciso. Muitas portuguesas e portugueses mobilizaram-se para juntar centenas de litros de água mineral e milhares de sacos de arroz para enviar em dispendiosíssimos aviões fretados para a Indonésia, um dos maiores produtores de arroz e de água mineral do mundo. A banda Aceh, a afetada, é apenas uma das 6000 ilhas habitadas que compõem o VIVA VOZ "Um bom marketing, uma abordagem estratégica e uma comunicação adequada teriam, ao aproximar as intenções do doador das do destinatário, evitado desperdício" gigante arquipélago indonésio. Não teria sido mais eficaz angariar dinheiro e enviá-lo para uma instituição credível no terreno que se encarregasse de adquirir localmente a água e o arroz, favorecendo a economia local e evitando avarias nos produtos durante o dispendioso e demorado transporte? Com o dinheiro que não se gastaria no transporte poder-se-iam ter adquirido muitos mais litros de água e muitos mais quilos de arroz do que aqueles que saíram das despensas portuguesas. E porque não aconteceu isso? Se está atento à leitura, já sabe parte a resposta: faltou uma planificação estratégica, uma abordagem comercial, o tratamento do doador como um cliente, a sua fidelização e o marketing. Com efeito, a generosidade e solidariedade foram muito genuínas e positivas. Foram, contudo, mal direcionadas e mal aproveitadas. Um bom marketing, uma abordagem estratégica e uma comunicação adequada teriam, ao aproximar as intenções do doador das do destinatário, evitado desperdício. Na verdade, quem dá pouco quer que seja muito e quem recebe muito quer que seja sentido como pouco por quem dá. Só falta, pois, quem faça a ponte: o marketing e a comunicação. Segundo Philip Kotler, “marketing é também um processo social, no qual indivíduos ou grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta e troca de produtos de valor com os outros.” A satisfação obtida por uma ajuda eficaz sentida por quem a prestou é definitivamente um produto de valor … e a sua obtenção fideliza. É pois este o produto que as organizações sem fins lucrativos têm que almejar vender na construção da sua estratégia de angariação de fundos. Se isto é uma realidade para as situações de emergência e reabilitação de catástrofes naturais ou provocadas pelo Homem, também o é nas situações de desenvolvimento humano para fora das fronteiras da pobreza. Porém, neste caso, o “produto de valor” que se dá em troca ao doador é muito mais difícil de comunicar. O rosto de um pobre é bem mais invisível que o de uma vítima de fatores naturais. A convicção de que podemos ajudar a pessoa em emergência é muito maior do que a confiança de que a nossa generosidade consciente e direccionada pode remover pessoas da pobreza com grande eficácia. É este o esforço de comunicação que deve ser feito. É no desenhar deste “produto de valor” que deve estar centrado o esforço das organizações sem fins lucrativos. Deverão saber comunicar que o envolvimento de cada indivíduo faz a diferença a cada indivíduo, mesmo que o resultado não seja imediatamente visível ou tangível. Afinal a natureza humana e o seu desenvolvimento social estão longe de ser lineares e palpáveis. Há, todavia, um lado perverso de uma eficaz campanha de marketing para a angariação de fundos: é que, com ela, apenas se angariam fundos e com isso poder-se-á estar a alimentar uma desresponsabilização social de muitos, enquanto cidadãos. O facto de uma pessoa ser doadora regular (ou até esporádica) poderá levála a tranquilizar a sua própria consciência social e assim penhorar ou seu direito (ou será dever?) de exercer a cidadania. Apenas em Portugal existe a expressão “cidadania ativa”. Haverá necessidade de adjetivar a “cidadania” com “ativa”? É claro que “cidadania”, sem mais, serve para enunciar a qualidade de cidadão, isto é, o conjunto de direitos e deveres que caracteriza tal condição. Pré, além deste enunciado, não pressuporá a “cidadania” ação? Existirá porventura “cidadania passiva”? Não pressuporá a cidadania, ação? Será que há necessidade de a chamar “ativa” pois a “passiva” representa, no mínimo, o fervor da indignação face às injustiças e desigualdades que não se exterioriza ou materializa e, no máximo, o desembolso de montante para questões sociais? Notese que não há nestas questões de retórica nenhum juízo de valor. Apenas a manifestação da profunda convicção de que (mesmo sem o marketing e os fundos) se dermos de nós no meio que nos rodeia, contribuiremos para um mundo melhor e, claro, com a ajuda de alguém (ou de Alguém!) obteremos melhores resultados. Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 11 VIVA VOZ FÓRUM Marketing ao serviço DA área social em Portugal: realidade ou ainda fora da agenda? A especificidade do Marketing social. O Impulso Positivo foi saber, junto de empresas e organizações do terceiro setor, como avaliam o recurso ao marketing em Portugal. Será já uma ferramenta amplamente utilizada e implementada na área social, ou será que ainda não está sequer na agenda? Rui Martins* Diretor de Comunicação da Dianova e Professor Assistente Convidado da Universidade Católica Portuguesa (Marketing Social e Social Media Marketing) * Pode ler o artigo alargado em www.impulsopositivo.com 12 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 Definido como o processo que usa conhecimentos, conceitos e técnicas do marketing com o objetivo de influenciar o comportamento dum público-alvo que beneficiará o próprio ou a sociedade em geral <IMPACTO SOCIAL POSITIVO>, o Marketing Social detém uma posição única na sociedade a nível de mudança de comportamentos, através de uma abordagem mainstream (focus no indivíduo/audiência que manifesta um comportamento social problemático) ou upstream (enfoque numa intervenção mais vasta e multi-stakeholders), integrando 6 características chave: orientação à audiência e segmentação da audiência, enfoque no comportamento e objetivos comportamentais a atingir, análise custo-benefício e da concorrência, intervenção/marketing mix, avaliação e sustentabilidade. Ao lidar com as questões profundas a nível de crenças e valores ao longo do tempo (e o tempo é o fator crítico na mudança de comportamento, pelo que qualquer programa deve ter uma temporalidade, frequência e sistematização que vai de meses a anos), em detrimento de meras opiniões e preferências, inúmeras causas sociais tais como o VIH/SIDA, Hepatite C, Tabagismo, Sinistralidade Rodoviária, Cancro da Mama, Pobreza, Sem-abrigo, Literacia Financeira, Doação de Órgãos, Toxicodependência, Distúrbios Alimentares, entre muitas outras, podem beneficiar destes processos de mudança positiva. Apesar de comprovados resultados diretos e indiretos (custos sociais relacionados com a problemática) por exemplo a nível de Saúde em problemáticas como a Sinistralidade Rodoviária associada aos mais jovens e ao consumo de álcool ou Cancro da Mama em inúmeros programas nos EUA ou Reino Unido, por exemplo, em Portugal esta é uma abordagem integrada recente e ainda pouco utilizada, maioritariamente mal usada e por profissionalizar. Como disciplina estrategicamente orientada à criação, comunicação, entrega e intercâmbio de intervenções que oferecem um valor positivo de longo prazo a indivíduos, grupos, parceiros e/ ou à sociedade em geral, esta não deve ser confundida com o que Kotler designa por Marketing de Causas Sociais ou outro tipo de iniciativas sociais corporativas desenhadas para apoiar determinada causa social ou concretizar compromissos da dimensão social da responsabilidade social corporativa. Para Pringle e Thompson, o Marketing de Causas Sociais é a ferramenta estratégica de marketing e de posicionamento que associa uma empresa ou marca a uma questão ou causa social relevante com benefícios mútuos: para a Empresa associa-se a ganhos de melhoria de imagem ou diferenciação de produtos/serviços, enquanto que para a Causa é uma forma de captar recursos e alianças e incrementar a notoriedade de forma sinérgica. É neste contexto que a maioria das práticas acaba por ser desenvolvida no nosso país, no que se poderia designar movimento de alinhamento de iniciativas e de marketing de causas, resultante da evolução dos novos modelos de colaboração e cidadania globais. Portugal carece ainda de 1) uniformização conceptual e terminológica a nível da Academia e Organizações umbrella; 2) incremento de inclusão da disciplina de Marketing Social em cursos de Marketing, Comunicação, Saúde, Educação e Social; 3) formação para Organizações públicas e privadas (Empresas e Organizações Sociais) sobre desenho e implementação de programas efetivos de Marketing Social; 4) criação de Comunidade Profissional (da Investigação à Prática) de Marketing Social; 5) integração da Comunidade Portuguesa na International Social Marketing Association e na European Social Marketing Association; 6) avaliação e sistematização de boas práticas e estudos de caso portugueses para benchmarking nacional e internacional. Desta sistematização resultarão não só ganhos de eficiência mas também de eficácia na mitigação ou resolução de uma diversidade de problemáticas sociais, parecendo, como refere Kotler, apenas uma questão de vontade, de sinergias de vontades e vontade de mudança! VIVA VOZ António Araújo Presidente da Pulmonale – Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão A responsabilidade social nas empresas, mais do que modelos de negócios com consciência e responsabilidade social, tem por objetivo contribuir de uma forma ativa para uma sociedade mais justa e mais consciente. Enquanto agentes sociais, cabe às empresas definir objetivos empresariais em que o desenvolvimento sustentável da sociedade esteja integrado, respeitando as gerações futuras e contribuindo igualmente para a diminuição de assimetrias socioeconómicas através do envolvimento em causas sociais. É neste sentido, e procurando envolver a sociedade, que a Pulmonale, suportada pelas mais variadas entidades, promove as suas campanhas. “ Fumar fica-te a matar” foi o mote da campanha 2012 que teve por objetivo assinalar o Mês do Cancro do Pulmão, e a qual, com o apoio do Instituto Português da Juventude e Desporto - IPDJ, da Global Lung Cancer Coalition – GLCC e da Lilly Portugal, promoveu a ligação à sociedade civil através do envolvimento de jovens voluntários e das próprias instituições de ensino. O marketing social, enquanto forma de promover eixos de estratégias educacionais, é uma ferramenta que, a longo prazo, acreditamos ser importante no que toca à educação e formação da sociedade. Ao chamar à atenção para os malefícios do tabaco, espera-se que a longo prazo haja uma mudança social, implementando na sociedade o ideal de uma vida mais saudável assente em importantes valores e crenças. Falar de marketing social é para nós Pulmonale falar na emergência de uma maior consciência social e da adoção de novos padrões de comportamento que esperamos que num futuro próximo sejam assumidos. O marketing social é hoje uma realidade que se assume como o lado mais Humano das instituições que não são indiferentes ao seu papel na sociedade. Qualquer empresa/projeto deve ter em conta as vertentes ambiental, social e económica. Durante muito tempo, as empresas preocupavam-se sobretudo com a maximização do valor para o seu acionista. No caso da Sociedade Ponto Verde este objetivo não se coloca dado que o seu objetivo não é o lucro e, caso os resultados sejam positivos, estes terão de ser reinvestidos na atividade. Nos últimos anos, tem emergido uma nova cultura dentro das organizações, o que se reflete nas suas estratégias de marketing e no apoio a várias causas. As organizações começam a ter a consciência de que podem fazer a diferença. Esta foi uma das razões que levou a Sociedade Ponto Verde a lançar o projeto “Reciclar é Dar e Receber”, que, em dois anos, contribuiu para a criação de mais de 55 locais de estudo para crianças de famílias carenciadas. Conscientes de que o insucesso escolar é indissociável da pobreza, com este projeto quisemos contribuir para a educação dos mais jovens e, para esse efeito, apelámos à participação dos portugueses para que reciclem cada vez mais as embalagens usadas, dando o seu contributo ao ambiente e à comunidade. Os resultados alcançados não teriam sido possíveis sem o contributo da população e dos parceiros Entrajuda e SIC Esperança. Por cada tonelada de vidro enviada para reciclagem em 2012, foi entregue um euro para a criação destes espaços. Este é um exemplo do apoio que pode ser dado pelas organizações. A atual crise económica internacional criou novos riscos, pelo que é fundamental um esforço adicional de todos. João Gama Francisco Ferreira Lima Diretor-geral da Sociedade Ponto Verde O crescimento do Setor Social, tanto no que diz respeito a volume de recursos financeiros, quanto em relevo social, político e empregabilidade é uma realidade, tendo as modernas técnicas de gestão sido incorporadas à área social. Por outro lado, o Marketing social tornou-se uma das abordagens mais versáteis e abrangentes criadas no século XX e que, aplicado à área social permite enformar perceções e influenciar o comportamento das audiências, criando valor para as marcas mas também para a sociedade em geral. O Marketing pode e deve voltarse para a responsabilidade social empresarial transformando-a num valor diferencial para a marca e numa vantagem competitiva para as empresas. Atualmente existem conhecimentos e técnicas para organizar e colocar em prática programas de responsabilidade social a vários níveis e que tenham como objetivo principal reverter para o bem comum aquilo que de melhor as organizações e empresas podem dar. No grupo MAPFRE criámos uma Fundação homónima, que opera no Terceiro Setor, incentivando e apostando em vários projetos de cariz social, desde a prevenção, saúde e meio ambiente, passando pela arte, cultura, educação e ciência. A Fundação MAPFRE atua fortemente em todo o mundo e em Portugal na consciencialização, formação e educação através da criação de instrumentos facilitadores, com um amplo programa anual de concessão de bolsas e prémios, conferências e simpósios, campanhas de prevenção e educação rodoviária, como “Com Mais Cuidado” ou “A Caravana de educação Rodoviária”, “Ao fim de semana tu decides”. Diretor de Comunicação e Estudos de Mercado da Mapfre Seguros Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 13 VIVA VOZ Viva Voz Internacional Declaração Internacional de Princípios Éticos em Fundraising1 Por Andrew Watt, FInstF; Presidente and CEO da Association of Fundraising Professionals (AFP) Em 2006, as organizações de Fundraising de 24 países aprovaram a Declaração Internacional de Princípios Éticos na Cimeira Internacional de Fundraising, na Holanda. Este momento foi o culminar de 4 anos de trabalho, diálogo e colaboração, tendo resultado no primeiro documento formal de sempre com o intuito de reger a atividade de Fundraising no mundo inteiro. Mas tão importante como o documento é para a profissão de Fundraising, é o que este documento representa para o público doador e para as audiências fora da profissão. Muito embora por vezes seja pensado como um código de ética universal, a Declaração é atualmente mais uma afirmação de princípios comuns e boas práticas. Muitos países já têm os seus próprios códigos de conduta e normas que regem a atividade. A Declaração não pretende entrar em conflito com estes, de forma alguma, mas sim complementá-los e demonstrar ao público doador os valores em que a profissão acredita, incluindo a honestidade, respeito, integridade, empatia e transparência. A declaração fornece padrões e práticas de referência para todos os fundraisers, independentemente de onde são. Abrange questões como a responsabilidade do fundraiser sobre as doações; relações com os doadores; comunicação e uso da informação; relatórios de finanças e custos de Fundraising, e sobre pagamentos e compensações. Estes padrões fornecem os níveis básicos de serviço e comportamento sob os quais todos os fundraisers devem operar. Contudo, os praticantes de Fundraising devem sempre cumprir todas as leis e regulamentos aplicáveis nos seus países, bem como quaisquer normas mais rigorosas ditadas por um código nacional ou organizacional de ética. Tão importante como os princípios e normas comuns, são as linhas de orientação para um comportamento ético do fundraiser, que também acrescentam valor ao documento pelo que diz acerca da profissão internacional. A Declaração demonstra ao público quão longe foi o Fundraising enquanto profissão global e como se tornou unida a crescente comunidade de Fundraising internacional. Há 20 anos atrás, não se podia dizer que existia uma profissão de Fundraising global e unida, e muitos países estavam em diferentes estados de desenvolvimento no que diz respeito ao Fundraising e à filantropia. Um código como este seria impossível de desenvolver nessa altura. Mas ao longo da última década, assistimos a um tremendo crescimento da profissionalização do Fundraising no mundo inteiro. Organizações sem fins lucrativos em todos os países deixaram de recorrer a ferramentas e técnicas básicas, estando a experimentar novas ideias e a percorrer um caminho de inovação e criatividade. A declaração é a prova desse crescimento e profissionalização. Ela mostra ao público que o Fundraising, independentemente de onde é praticado, é uma verdadeira profissão pautada pela ética e pelas melhores práticas. Desta forma, os doadores podem ter a certeza de que não importa a causa ou organização que apoiam, eles e a sua contribuição serão tratados da mesma maneira profissional, respeitosa e consciente. A declaração é também cada vez mais importante num mundo globalizado, onde as pessoas e as organizações estão interligadas. Como vimos com a recente recessão global, o que acontece num país pode ter um enorme impacto noutros, e o mesmo se aplica em relação ao comportamento ético, especialmente na forma como a tecnologia permite que as organizações sem fins lucrativos angariem fundos em diferentes países e regiões no mundo inteiro. Imagine-se o protesto público, se uma organização sem fins lucrativos usasse uma técnica de Fundraising que fosse ética um país, mas proibida noutro. Vão sempre existir ligeiras diferenças nos padrões culturais e atitudes face ao Fundraising em cada país. Mas nas investigações levadas a cabo pela AFP e por outras organizações de Fundraising, observou-se que entre quase todos os países, existe uma quantidade significativa de uniformidade no que é considerado ético. As ideias básicas sobre ética e os valores e princípios envolvidos, são partilhados por pessoas e organizações no mundo inteiro. Isso é o que torna a Declaração Internacional de Princípios Éticos em Fundraising tão poderosa. Não se trata só de uma ferramenta para fornecer orientação ética, mas torna a profissão global mais unida que nunca. As organizações de Fundraising estão agora a utilizar a Declaração como base para projetos adicionais como a criação de uma credencial internacional de Fundraising. Ao utilizar a Declaração, os praticantes de Fundraising no mundo inteiro mostram o quão dedicados estão às questões éticas e quão unida está a profissão em servir os doadores no mundo inteiro com o merecido profissionalismo e respeito. 1. Consulte a Declaração Internacional de Princípios Éticos em Fundraising em http://www.afpnet.org/Ethics/IntlArticleDetail.cfm?ItemNumber=3681 14 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 PROGRAMA PARA EXECUTIVOS DO TERCEIRO SECTOR FORMAÇÃO E CONSULTORIA PARA A SUSTENTABILIDADE 7 cursos de Formação de curta duração e 7 projetos de Consultoria intensivos em 2012/2013 MÓDULO II - FINANÇAS Gestão de Tesouraria Sustentabilidade Financeira ABERTURA DE CANDIDATURAS 26 Novembro a 21 Dezembro 2012 Nº de vagas limitado Informações e Candidaturas Carlos Azevedo | UDIPSS-PORTO Email. [email protected] | T.228317497 www.udipss-porto.org/mais cambodia4kids.org CAPA Beth Kanter 16 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 CAPA Media Sociais para a Mudança Social Beth Kanter é a rainha dos media sociais para o 3º setor. Mas não só. Preocupa-se essencialmente em transformar tudo aquilo que possa ser informação útil, vindo muitas vezes do setor privado, como muitos conceitos do marketing, ou de áreas de investigação, como medidas de resultados, para tornar as organizações sem fins lucrativos em organizações saudáveis, transparentes e eficazes. Beth Kanter falou ao Impulso Positivo sobre aquilo que se pode e deve fazer nesta nova era. Texto: Leonor A. Rodrigues | Fotos: cambodia4kids.org Impulso Positivo (IP): Que medidas devem as organizações sem fins lucrativos adotar em relação ao marketing e à comunicação? Beth Kanter (BK): A resposta a essa pergunta é “depende”. Depende de qual é a definição de sucesso para a organização. E para a maioria das organizações isso resume-se a: maior consciencialização, criar maior envolvimento, melhores relacionamentos, mudar as atitudes e comportamentos dos stakeholders, aumentar o número de doadores e voluntários, aumentar as ações de “advocacy”, e ensinar ou melhorar o tipo de experiência dos colaboradores. Todas estas medidas têm de ser vistas no contexto em que se coloca a questão: “Como é que isto faz avançar a missão da organização?”. No meu livro, “Measuring the Networked Nonprofit”, nós disponibilizamos um quadro para as ONGs, para descobrirem como determinar o que as suas medidas ou métricas são, como uma forma de acompanhar o progresso para a sua missão. IP: Quais são as maiores vantagens de cada uma das ferramentas mais famosas dos media sociais? BK: Eu acho que essa é uma pergunta errada que as organizações sem fins lucrativos devem andar a fazer. As organizações não devem começar pelas ferramentas. É mais valioso perguntar que metas se quer atingir e outras perguntas sobre o tipo de públicos. Saber se deve ou não usar uma determinada ferramenta de media sociais realmente depende das respostas a estas perguntas, e especialmente as relacionadas com o público. Saberá a organização o que motiva o público a atuar em relação à sua definição de sucesso? Saberá a organização como é que o público arranja essa informação? Dito isto, nos EUA e em muitos outros países, muitas ONGs começam com o Facebook porque muitas pessoas fazem parte dele. Mas, se uma organização tem como objetivo alcançar profissionais de negócios e o público-alvo utiliza LinkedIn, então poderá estar melhor servida com o LinkedIn. IP: Quais são os maiores erros que as organizações sem fins lucrativos cometem quando utilizam os media sociais e como é que os podem evitar? BK: Existem vários grandes erros. O primeiro é o que descrevi anteriormente, começar por ferramentas e não definir primeiro o tipo de sucesso que se pretende alcançar. Outro erro é utilizar as ferramentas sem mudar a mentalidade da organização para uma mentalidade de rede, acabando por utilizar o Facebook e outros canais de media sociais como canais de comunicação unidirecional. IP: Recentemente, na Social Good Conference, no Brasil, falou acerca de “O que é que os Social Good Líderes precisam de saber para ter sucesso”. Qual é a principal mensagem que pretende deixar aos líderes do 3º Setor? BK: Muito do que é preciso mudar é a mentalidade dos líderes sobre o uso das ferramentas. Os media sociais exigem maior abertura e transparência, bem como a capacidade de compartilhar o controlo com as partes interessadas. Esta abordagem de liderança pode ser descrita pelas seguintes qualidades: abertura, transparência, tomada de decisão descentralizada e ação coletiva; ouvir e cultivar redes organizacionais e profissionais para alcançar maior impacto; liderar através da participação ativa; compartilhar o controlo de tomada de decisão; networking alargado orientado para resultados; cultura de disponibilização de dados. Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 17 CAPA "As organizações não devem começar pelas ferramentas." IP: Que diferença pode uma estratégia de marketing fazer no sucesso de uma organização sem fins lucrativos? Pode dar um exemplo? BK: Como parte do meu trabalho como professora convidada na David and Lucile Packard Foundation, facilito diversas trocas entre pares sobre temas de mensuração, media sociais, e organizações em rede no 3º setor. Uma das organizações é a Momsrising, um dos melhores exemplos uma organização sem fins lucrativos em rede, uma organização simples, ágil e transparente que funciona mais como uma rede do que como uma organização isolada. Como todas as organizações sem fins lucrativos em rede, Momsrising valoriza a simplicidade e a capacidade de alavancar a própria rede enquanto se envolve e constrói relações com pessoas e organizações para obter resultados. Deste modo, não é surpresa nenhuma que a Momsrising abrace mensuração e aprendizagem. Isto está incorporado na forma como eles trabalham e na sua cultura organizacional. Esta organização fez crescer o número de membros do zero, em maio de 2006, a 1 milhão de membros ativos – mães, pais, avós, tios e tias – hoje! E, eles não contam “likes” no Facebook como vitória. Em vez disso, eles identificam as principais áreas chave de resultados organizacionais e associam-lhes métricas para definir sucessos e falhas. Os seus resultados chave normalmente incluem: aumentar o volume do movimento, aumentando o número de membros; ganhar a atenção de todos os media através de envolvimentos criativos1; conseguir a aprovação de leis; trabalhar com organizações parceiras alinhadas; aumentar a capacidade. Eles sabem que para obter resultados não podem depender apenas de ferramentas de media sociais. Usam os resultados como um guia para a conceção e implementação de respostas rápidas, e como parte das suas campanhas multi-canal de envolvimento dos cidadãos. Veja, por exemplo, a forma como a organização reagiu no mês passado às negociações em curso sobre o orçamento, em que dezenas de milhares de milhões de dólares em cortes à Medicaid e à Medicare foram colocados sobre a mesa.2 A Momsrising quis demonstrar ao Congresso que havia um eleitorado popular que apoia a Medicaid e desfazer o equívoco de que só a Medicare o tinha. A Momsrising sabe, de anos a testar mensagens e de investigação, que para mudar mentalidades sobre uma questão, as estatísticas caem por terra. Mas as histórias ressoam.3 Eles identificaram um objetivo de resposta rápida que consistia na obtenção de dezenas de histórias de mães que beneficiaram da Medicaid e que podiam divulgar uma forte defesa do programa nos media. Utilizaram uma página do seu site para colecionar as histórias e convidaram os seus membros a partilhar as suas próprias histórias. Conseguiram reunir 500 histórias vindas de 43 estados sobre como a Medicaid tinha ajudado as suas famílias. Escolheram as que melhor ilustravam a sua mensagem e relançaram-nas em todos os seus canais.4 Isto deu origem a mais de 100.000 cartas dirigidas ao Congresso sobre o limite da dívida e a importância da Medicaid.5 IP: Que passos podem as organizações dar para otimizar a utilização dos media sociais? BK: Escrevi um livro inteiro sobre isso, “Measuring the Networked Nonprofit”. Tenho uma forte crença de que utilizar métricas para ajudar a tomar decisões estratégicas irá melhorar e otimizar a utilização dos media sociais. Uma área a melhorar é o conteúdo que as organizações estão a disponibilizar ao seu público – utilizar métricas para ajudar a descobrir o que é que ressoa ajudará à otimização de conteúdos. Publique conteúdo consistente e que o público adora e terá sucesso nos media sociais. Será assim tão simples? Sim e não. Utilizando as melhores práticas e dicas com base em pesquisa pode ajudar a melhorar. Mas se desejarmos obter melhores resultados, precisamos de uma estratégia de conteúdo, de uma forte criação de conteúdo, skills para fazer curadoria de informação, e um processo de mensuração robusto. O sucesso é baseado em saber que conteúdo a nossa audiência gosta baseado em métricas que façam sentido para que se possa replicar esse sucesso.6 1. http://www.momsrising.org/blog/get-crafty-for-congress-blog-a-thon-make-your-own-superhero-cape/ 2. http://www.momsrising.org/blog/proposed-medicaid-cuts-would-most-severely-impact-women-of-color-and-their-families/ 3. http://www.bethkanter.org/momsrising-stories/ 4. http://www.google.com/cse?cx=014943903497324104015%3Ash71oga2dfa&ie=UTF-8&q=medicaid&sa=#gsc.tab=0&gsc.q=medicaid&gsc.page=1 5. http://www.momsrising.org/take_action/national/fight-massive-cuts-to-health-care-coverage-for-children-people-with-disabilities-and-the-elderly_1 6. http://www.bethkanter.org/content-crave/ 18 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 CAPA "...Uma área a melhorar é o conteúdo que as organizações estão a disponibilizar ao seu público..." IP: Qual foi para si a melhor utilização que uma organização sem fins lucrativos fez dos media sociais? BK: Existem muitas, é difícil escolher. Mas diria a Momsrising, DoSomething.org, National Wildlife Federation, Cruz Vermelha e Human Society. IP: Quais são para si as ferramentas mais inovadoras e como é que podemos tirar melhor partido das mesmas? BK: Recentemente a Unicef fez uma experiência com o Pinterest, uma rede social visual. É possível ler mais sobre este assunto em http://www.bethkanter.org/unicef-pinboard/. Não é tanto a ferramenta em si, mas a forma como eles a experimentaram. Eu penso que a chave do sucesso é fazer pequenas experiências, utilizar tipos de métricas que permitam aprender, melhorar e replicar. IP: Quais foram as utilizações de ferramentas por parte de organizações que mais a surpreenderam positivamente? BK: Uma vez mais, o exemplo que vou dar não é tanto pela ferramenta em si, mas pela forma como a usaram. Gosto muito daquilo que a Giving Tuesday fez – a intenção é criar um dia nacional para dar nos Estados Unidos – e os media sociais fizeram grande parte do trabalho.7 Talvez vejamos isso a acontecer globalmente no próximo ano! IP: O uso indevido dos media sociais muitas vezes levam a consequências catastróficas. Pode dar-nos algum exemplo? Como podemos evitar esse tipo de situações? BK: No ano passado houve uma grande controvérsia com uma instituição de caridade americana relacionada com o cancro da mama, e a sua falta de transparência e envolvimento nos canais de media sociais.8 Muitas vezes uma organização pode dar a volta a uma crise nos media sociais se estiverem a monitorizar os seus canais de media sociais e agirem rapidamente. Explico isso num dos meus artigos.9 Isso requer que se tenha um fluxo de trabalho de media sociais.10 Às vezes os erros acontecem. Por exemplo, enviar um tweet por 7. http://www.bethkanter.org/givingtuesday/ 8. http://www.bethkanter.org/komen/ 9. http://www.bethkanter.org/five-stages/ 10. http://www.bethkanter.org/work-flow/ 11. http://www.bethkanter.org/mistakes-how2/ 12. http://www.ssireview.org/blog/entry/becoming_a_networked_nonprofit Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 19 CAPA engano. A chave para recuperar é não mentir nem tentar encobrir, mas antes ser honesto.11 Os media sociais podem também ser um amplificador de discursos de ódio. Não tenho uma resposta para isso, mais, se queremos viver numa sociedade civil justa, tenho de pensar sobre formas de construirmos redes de trabalho resilientes. IP: Um conselho para as organizações sem fins lucrativos sem nenhuma prática em media sociais e que desejem começar agora? BK: Eu criei um quadro chamado “Crawl, Walk, Run, Fly”12 significa que as organizações devem começar devagar e dando pequenos passos para implementar uma estratégia de media sociais. As mudanças acontecem devagar. Se as organizações tentarem ir demasiado rápido, não resulta. IP "Por exemplo, enviar um tweet por engano. A chave para recuperar é não mentir nem tentar encobrir, mas antes ser honesto." Measuring the Networked Nonprofit Este livro oferece as ferramentas e estratégias necessárias para as entidades sem fins lucrativos que procuram dados fiáveis e mensuráveis em relação ao seu esforço no que diz respeito à utilização dos media sociais. Ao utilizar estas ferramentas não só é possível melhorar o processo de tomada de decisão como também produzir medidas orientadas para resultados tanto para colaboradores como para stakeholers. Networked Nonprofit Networked Nonprofit mostra às organizações sem fins lucrativos, uma nova forma de estar, num mundo cada vez mais conectado: uma abordagem em rede ativada por tecnologias sociais, onde as ligações são aproveitadas para aumentar o impacto, conduzindo a uma mudança capaz de melhorar a nossa sociedade e o planeta. 20 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 CAPA Setor Social tem de apostar no marketing e no fundraising Num contexto de menor disponibilidade de fundos, a aposta no marketing e no desenvolvimento da área do fundraising são vias de sentido obrigatório para as organizações do setor social, cujo financiamento depende sobretudo do apoio de entidades externas, considera Madalena Alves Pereira, sócia fundadora da Call to Action, especializada na área de consultoria em fundraising e marketing para o terceiro setor. Impulso Positivo (IP): Cada vez se fala mais de marketing na área social. O que significará aplicar o marketing a esta área? Madalena Alves Pereira (MAP): Em sentido lado, o marketing é a área que faz a ligação entre o mercado produtor de bens e serviços e quem vai comprar ou consumir. O seu papel é analisar as motivações das pessoas para consumir esses bens ou serviços, desenvolvendo estratégias que trabalhem as necessidades e os desejos dos potenciais consumidores de modo a fazê-los agir nesse sentido: consumir. E isto aplica-se também ao marketing na área social e, mais concretamente à área do fundraising, que em primeira instância tem de fazer o marketing da própria marca da instituição e de comunicar eficazmente a sua missão. Nesta área, temos de trabalhar com uma perspetiva de médio a longo prazo, pois demora tempo a dar a conhecer a instituição, a gerar nas pessoas uma simpatia pela causa e, no limite, levá-las a querer fazer parte dessa causa, quer através de ajuda financeira, quer através de outras vias como o voluntariado, por exemplo. Na minha perspetiva, utilizar o marketing na área social é utilizar e desenvolver precisamente as mesmas estratégias de marketing que poderiam ser usadas nas empresas, mas aplicando-as a projetos na área social. IP: Olhando para o marketing no setor social em Portugal, e tendo em conta a experiência da Call to Action, como é que esta área está a ser desenvolvida? MAP: De um modo geral, a maioria das organizações já estão despertas para a necessidade de implementarem estratégias de marketing e comunicação para trabalhar a sua marca, dandolhe notoriedade. Acontece que nem todas estão na mesma fase, embora claramente haja uma evolução na consciencialização para essa necessidade. O terceiro setor tem vindo a aperceber-se que pode recorrer às mesmas ferramentas de marketing que as empresas, para trabalhar positivamente a sua causa e projetos. E está convencido que a existência de uma estratégia de marketing fará a diferença em termos de resultados, sobretudo no que toca a campanhas de angariação de fundos. E temos vários exemplos disso em Portugal. A nossa perceção é de que as pessoas e as instituições já perceberam que quem consegue uma maior notoriedade é quem desenvolve melhor, e de forma mais cuidadosa, a área do marketing. E, quem tem mais notoriedade conseguirá também provocar um maior envolvimento com as pessoas e, consequentemente, captar mais fundos. E isto ganha uma importância acrescida em alturas de crise, como a que vivemos atualmente. 22 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 IP: A crise está, assim, a motivar uma maior aposta na área do marketing? MAP: A angariação de fundos já não pode ser feita tal e qual como antigamente, e as organizações precisam de ter essa consciência se quiserem obter bons resultados. Em primeiro lugar, porque hoje em dia há muito menos fundos disponíveis, existem menos meios para dar e, de forma geral, as pessoas estão também mais cuidadosas e seletivas. Em segundo lugar, o terceiro setor é também um mercado onde existe grande competição, neste caso, pela captação de fundos. Posto isto, para conseguir captar mais fundos, as instituições têm de trabalhar e aprofundar a sua relação com os stakeholders, com as pessoas que são (ou poderão ser) doadoras, de ganhar uma maior notoriedade, e isso faz-se através do marketing. As pessoas já se aperceberam que se não houver um cuidado com a marca da instituição e a sua comunicação, então será mais difícil competir com outras organizações que também estão a tentar captar fundos. Uma instituição do terceiro setor tem de se diferenciar, para que as pessoas escolham contribuir para si e não para outra e, mais uma vez, isso só é possível com marketing. As instituições já se aperceberam que têm de dar uma resposta a esta necessidade, e de trabalhar mais esta área, tanto que o mercado tem vindo a desenvolver-se bastante neste campo e até rapidamente, embora ainda haja um longo caminho por percorrer. A Call to Action, com o trabalho que tem vindo a desenvolver, com as conferências e ações de formação que promovemos, também tem contribuído afincadamente para esse despertar de consciência. Acaba por ser uma lufada de ar fresco, porque apesar de haver menos dinheiro disponível, as pessoas do terceiro setor aperceberam-se que podem contar com um importante conjunto de ferramentas de marketing que podem ser aplicado na área do fundraising, e que se apostarem forte nisso, esta é uma ótima oportunidade para conseguir resultados no futuro. IP: Face a este cenário de escassez de recursos financeiros e de limitações orçamentais, quais são os principais desafios para as entidades do terceiro setor em termos de desenvolvimento da estratégia de marketing? MAP: Saliento três situações. Em primeiro lugar, a maior parte das empresas (possíveis doadores) contam com orçamentos diferentes, mais reduzidos. Mas essa não é a realidade para todas. Há empresas que mantêm os seus orçamentos para a área social e não estão a planear fazer cortes neste campo. Por isso, temos de deixar de generalizar e temos que investir tempo a identificar quais as que não CAPA Madalena Alves Pereira estão a cortar verbas ou que nos podem oferecer uma oportunidade e, depois trabalhar arduamente no desenvolvimento e no aprofundar de relações com estas. Ou seja, não nos podemos restringir a ir fazer pedidos de angariação sempre às mesmas instituições, temos sim, de ir à procura de novos potenciais parceiros e doadores. Em segundo lugar, na atual conjuntura, as pessoas estão claramente mais solidárias e mais despertas para a necessidade de ajudar. Isto é algo que se desenvolveu muito em Portugal nos últimos anos, mas mesmo assim, no nosso país as pessoas continuam a ser mais reativas do que proactivas neste campo. Ou seja, apesar de mais conscientes, continuam a ajudar sobretudo quando lhes é pedido. Portanto, há que continuar a realizar peditórios e ações de angariação de fundos, porque continua a haver pessoas dispostas a doar e existe mesmo uma fração que até tem capacidade para doar bom dinheiro, mas que simplesmente ainda não foi aliciada para isso. E é aqui que entra o fundraising, como uma técnica profissional que é preciso desenvolver, pois primeiro é necessário construir uma relação de proximidade com as pessoas, para depois lhes pedirmos ajuda. Por último, é preciso profissionalizar cada vez mais esta área do fundraising, porque há muitas técnicas disponíveis que já estão a ser desenvolvidas com sucesso nesta área internacionalmente e que podem ser replicadas em Portugal. Nós podemos importar esse conhecimento, mas as instituições têm se rodear de profissionais nas áreas do marketing, da comunicação, da publicidade, se querem angariar fundos de uma maneira sustentável. E isso implica pagar a estes profissionais o serviço que nos prestam, pois todas as agências que operam nesta área têm uma capacidade limite no que toca ao trabalho probono e, se queremos ter um serviço de excelência, então também temos de investir algum dinheiro nisso. Por isso, o ideal é começar por angariar fundos que nos permitam reforçar o investimento na área do marketing e do fundraising, para pagar serviços profissionais neste campo. E isto não vem deturpar de forma alguma o objetivo de uma organização não-lucrativa, antes pelo contrário: é sim, reunir meios que nos permitam contratar serviços profissionais capacitados, que trabalhem para que a organização cumpra a sua missão com sucesso. IP: Mas as instituições do terceiro setor que já lidam com falta de recursos para a sua gestão diária, não verão este investimento na área do fundraising e do marketing como secundário? MAP: Tendo em conta a nossa experiência, acredito que com todos estes cortes do Estado e mesmo dos fundos europeus, não vão haver grandes alternativas de financiamento para as instituições do terceiro setor que não através desta área do fundraising. E, por isso, as pessoas têm que conseguir rodear-se de profissionais com as competências necessárias para desenvolver esta área com sucesso e, graças ao seu expertise, obter mais e melhores frutos. Ao longo dos sete anos de existência da Call to Action, sentimos que as coisas já mudaram muito, e que estamos a ajudar a mudar comportamentos e mentalidades. Esta é uma tarefa difícil e que demora muito tempo, mas a crise está a dar um impulso nesse sentido, e os resultados estão à vista, com o surgimento de cada vez mais projetos e iniciativas que promovem a partilha de conhecimento e informação, que contribuem para ajudar no desenvolvimento de ações estratégicas. Todos juntos estamos a trabalhar no bom caminho. IP Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 23 NO CENTRO Marketing social: “não basta gerir imagem e criar visibilidade” Paulo Moreira, investigador português que é cofundador da recém criada European Social Marketing Association, presidida por Jeff French, sublinha, em entrevista ao Impulso Positivo, que o marketing social não pode ser apenas gestão de imagem. Na sua perspetiva, esse é um dos principais desafios para a implementação desta metodologia na Europa, já que, ainda que permita dar visibilidade às causas, falha na alteração do comportamento. É preciso trabalhar os outros elementos do mix do marketing social, alerta. São eles que vão permitir alterar o comportamento e, depois, manter o novo comportamento, conduzindo, assim, a um marketing social com sucesso. Impulso Positivo (IP): O que é o marketing social? Paulo Moreira (PM): O marketing social é a aplicação das metodologias de marketing comercial às causas sociais. Pela sua especificidade desenvolveu modelos próprios, mas, de facto, tem na sua génese a ideia de influenciar comportamentos, a ideia de base, como se sabe, do marketing em geral. Ao assumir esta perspetiva de intervenção para as causas sociais, o marketing social foi estabelecendo metodologias próprias e ao fim de quatro décadas – sobretudo nos EUA -, é uma disciplina independente e que desenvolve abordagens e modelos próprios, mas que no fundo tem esta génese comum. Em síntese, é a aplicação das metodologias de influência e intervenção para a mudança comportamental, conforme as causas sociais das sociedades contemporâneas. IP: Quais são os principais desafios para a implementação do marketing social na Europa? PM: O marketing social vem dar alguns passos para além da simples gestão da imagem. E isso é aliás um dos deficits que observamos na implementação de marketing social na Europa. De uma forma geral, há uma excessiva ênfase nas questões da comunicação e pouca atenção é dada aos outros fatores do chamado mix do marketing social. Isto tem levado a que as causas sociais sejam, por vezes, apoiadas por campanhas de comunicação muito eficazes, que dão visibilidade às questões, mas depois a mudança comportamental não se verifica, porque os outros elementos de intervenção ficaram por realizar. Nomeadamente os facilitadores, isto é, os serviços ou produtos, adaptados aos diversos segmentos, que facilitem a adoção do novo comportamento. Portanto, nos modelos de persuasão, a mudança de comportamento é promovida através de vários estádios. 24 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 IP: E que fases são essas? PM: Os estádios iniciais são agarrar a atenção e despertar o interesse. Aí, de facto, a comunicação massificada que as causas sociais na Europa têm conseguido, normalmente com orçamentos elevados e boas agências de comunicação, têm tido bons resultados. As causas sociais ganham visibilidade. Mas ao fim de uns anos, notamos que em algumas causas sociais, a mudança de comportamento não ocorreu. E não ocorreu, conforme uma análise de marketing social permite identificar, porque se ficou pela comunicação. A comunicação é importante, mas não é tudo. A questão de gerir imagem e ganhar visibilidade é importante, mas a mudança comportamental precisa de mais. E é nesse mais – os outros elementos do mix – que o marketing social tem contributos importantes a dar para as causas sociais e as organizações que as promovem na sociedade contemporânea. IP: Que elementos são esses? E onde é que é mais importante intervir? PM: A mudança comportamental depende de vários fatores, a começar pela constatação de que a pessoa ou os grupos têm um problema. Depois tem que ser demonstrado que esse problema é passível de ser resolvido. Logo aqui temos dois passos diferentes e que obrigam a duas estratégias diferentes. Primeiro é ganhar visibilidade para o facto do problema existir, mas não criar ansiedade. Porque a seguir temos que demonstrar que este problema pode ser resolvido. Nesta passagem, verificamos que em muitas campanhas há uma falha. Cria-se a visibilidade do problema, mas a seguir as pessoas não ficam convencidas de que seja possível mudar. E aí há um risco de a campanha ter até efeitos negativos. Passando por estes dois estádios as pessoas procuram as estruturas NO CENTRO (serviços ou produtos) que ajudem a mudar o seu comportamento. E é nesta terceira fase que ainda mais programas falham. Porque se alguns conseguem passar as duas primeiras, quando chega à implementação de serviços e estruturas de apoio à mudança comportamental – nomeadamente facilitadores – há muitos que falham. Presumindo que há campanhas que conseguem gerar visibilidade, criar confiança de que o problema pode ser resolvido e implementar no terreno produtos e serviços que apoiem a alteração comportamental, depois temos que efetivar essa alteração e a seguir apoiar a manutenção do novo comportamento. No fundo, o que o marketing social acrescenta ao que já existe é de facto esta visão complementar dos outros elementos do mix do marketing, que são essencialmente os facilitadores da mudança comportamental e da continuidade do comportamento. Em termos internacionais, discute-se muito que se consegue fazer o “trigger”, provocar uma alteração de comportamento pontual, mas o desafio é manter esse comportamento ao longo do tempo. IP: Em Portugal, como é que está a ser endereçada esta questão do marketing social? Já está nas agendas ou ainda é desestruturada em termos de implementação? PM: Em Portugal, a única componente que está implementada é a componente da comunicação massificada, normalmente com o apoio das agências de comunicação, e em Portugal há boas agências. As entidades públicas, e até mesmo o setor social, normalmente têm orçamentos razoáveis para a componente da comunicação. No entanto, a intervenção fica bastante reduzida no seu potencial, porque apenas umas das dimensões é desenvolvida. Por outro lado, é uma área em que as competências e a formação de competências também tem um caminho a percorrer. Há uma série de aspetos de desenvolvimento de competências que em Portugal ainda tem que crescer. É um processo natural. Não é uma realidade muito diferente da maior parte dos países europeus. IP: Em que medida? PM: Alguns países do Norte da Europa estão bastante desenvolvidos nestas competências, como a Holanda, Reino Unido, Dinamarca, Alemanha ou até mesmo a França. E há outros países em que o marketing social não é ainda sequer compreendido como função de interesse para as causas sociais. É um pouco surpreendente, mas verifica-se esse afastamento entre o que é o potencial desta metodologia e a as instituições que realmente necessitam de a aplicar. IP: Que competências são essas que referiu anteriormente? PM: Há uma ausência de profissionalização das funções de comunicação e de marketing social, sobretudo nas organizações não governamentais e no setor público. Uma campanha mal feita acarreta custos, o que é especialmente evidente nas organizações não governamentais. E aí verificamos que já há alguns anos começou a haver mais cuidado, com a contratação de agências mais especializadas para apoiar. Mas entre os três setores – público, privado e social - há que partilhar experiências e, no caso português levar um pouco mais a sério estas funções de marketing social. Paulo Moreira é cofundador da ESMA. Foi autor do primeiro tema de Doutoramento em Marketing Social e Saúde Pública no Reino Unido, em 1998. IP: Como é que é possível desenvolver uma boa estratégia de marketing, principalmente para entidades do setor social, com recursos limitados? PM: É possível. A função do marketing social é uma função de gestão. Não implica necessariamente aumentar orçamentos. O marketing social e as suas metodologias podem garantir a criação de parcerias estratégicas que criem acesso a mais recursos e o marketing social pode e deve, e esse é um dos objetivos centrais das práticas de marketing social, gerar a utilização racional dos recursos, nomeadamente dos recursos públicos. Campanhas de marketing social que promovam literacia em saúde e acesso a informação, podem gerar uma redução na utilização dos serviços públicos, uma redução apoiada e planeada e não forçada, por exemplo, pelo aumento das taxas moderadoras. No fundo, o marketing social tem um contributo positivo na redução da despesa, uma vez que promove a utilização mais racional dos recursos. IP Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 25 NO CENTRO Marketing vai ser determinante para a sobrevivência Para Jeff French, renomeado especialista internacional em mudança comportamental e marketing social, num contexto de escassez de fundos e recursos, o marketing social é a ferramenta que permitirá aos programas sociais serem mais eficientes e também mais eficazes. Na sua opinião, as entidades do terceiro setor, e também as entidades públicas criadoras de programas sociais, têm de perceber, com urgência, que a utilização do marketing é crucial não só na eficácia dos seus programas, mas mais do que isso, para a sua própria sobrevivência, numa altura em que os Estados, historicamente os principais financiadores, estão “mais pobres”. O especialista falou em entrevista ao Impulso Positivo, por ocasião da primeira conferência da ESMA (Associação Europeia de Marketing Social), criada no início deste ano e à qual Jeff French preside. O evento teve lugar em Lisboa. Impulso Positivo (IP): O que é para si o Marketing Social? Jeff French (JF): É a aplicação do marketing como se aprende nas empresas, a par de outras técnicas, a programas sociais. Assim, quando desenvolvemos um programa social, seja na área da saúde, do ambiente, de poupanças, das reformas, entre outras, geralmente uma boa parte desses programas consiste em persuadir as pessoas a agir de determinada forma. E é precisamente disso que o marketing social trata: compreender como é que se influenciam as pessoas e como se criam programas que as ajudem a agir de determinada maneira e a fazer coisas socialmente positivas. É também necessário encorajá-las a continuarem a fazer algo que é bom, quer seja a reciclagem, quer seja a poupar para a sua reforma, quer seja procurar emprego. Pode ser tentar fazê-las mudar alguns dos seus comportamentos, como por exemplo, parar de fumar, passarem a fazer desporto, caso queiram ser mais saudáveis ou ficar mais elegantes. Por isso, em suma, trata-se de aplicar tudo o que sabemos sobre influenciar comportamentos, para criar programas sociais mais eficazes e eficientes. IP: E qual a fase de desenvolvimento do marketing social na Europa? Considera que este já é um tema que faz parte da agenda da maior parte dos países? JF: Penso que o marketing social está ainda numa fase muito inicial de desenvolvimento na Europa. Só agora é que está a começar a fazer parte das agendas política e do terceiro setor em alguns países, como são os casos do Reino Unido, da França ou da Holanda. Mas também já se vai desenvolvendo na Alemanha e na Suíça. Portanto, nestes países está de facto a desenvolver-se, mas é incontornável que, de forma geral, o marketing social já existe em 26 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 toda a Europa. Em Portugal, por exemplo, já há várias instituições a desenvolver um bom trabalho nesta área. O que quero dizer é que o Marketing Social está a começar a ser levado a sério por quem planeia os programas sociais e essa é uma realidade que começa a emergir de forma geral na Europa. O que vemos em toda a Europa é que os decisores políticos e os “fazedores” de políticas e programas sociais, principalmente num tempo em que o dinheiro é muito difícil e em que queremos ter programas sociais mais eficientes mas também mas eficazes, começam a olhar para o marketing social como forma de os conseguir. E olham para países como o Reino Unido, que tem uma estratégia nacional, ou a Holanda, com os seus programas de saúde, e pensam que deveriam estar a fazer o mesmo. Por exemplo, é interessante que a World Health Organization for Europe, na sua estratégia de saúde - Health 2020 – tenha incluído pela primeira vez o marketing social como apoio. No fundo, trata-se de criar programas mais eficazes, mais eficientes e mais focados nos cidadãos. Porque é também preciso ter em atenção que as pessoas já não querem que lhes digam o que devem fazer. E não confiam nos seus Governos. E por isso, é necessária uma forma diferente de criar programas sociais, programas sociais aos quais as pessoas respondam e os quais respeitem. IP: Portugal é de alguma forma diferente dos outros países europeus? JF: Não. Penso que é muito semelhante e que os desafios são muito semelhantes. O que é bom em Portugal é que existem já diversas pessoas muito empenhadas no marketing social e que querem vê-lo como componente dos programas sociais. NO CENTRO área social ainda mais, porque caso as entidades não compreendam as pessoas que procuram ajudar e construam programas em torno desse entendimento, então dificilmente sobreviverão. Os criadores de programas sociais, como as entidades do terceiro setor ou agências governamentais, nunca foram “obrigadas” a perceber esta realidade, porque iam recebendo o seu financiamento pelo Estado. Mas agora, a competição será mais cerrada e vão ter que começar a construir a sua capacidade de marketing, se querem disponibilizar um bom programa, mas também, e principalmente, se quiserem sobreviver. IP: E como é possível construir esta capacidade sem recursos ou com limitação de recursos? JF: Tem que se investir. Isso é incontornável. Investir em pessoas ou recrutar pessoas para a sua organização que entendam marketing e formem as equipas que já integram a instituição. Há já muitas universidades com bons programas na área de marketing social na Europa e algumas oportunidades de formação na Europa a este nível. Mas não é grátis. Não há grande alternativa: se não investir nesta forma de trabalhar, vai custar-lhe muito mais. Por isso, penso que o setor não lucrativo tem que conseguir acompanhar o setor lucrativo, em perceber e aplicar marketing. IP Associação Europeia de Marketing Social reúne em Lisboa Jeff French esteve em Lisboa por ocasião da 1ª conferência da ESMA – European Social Marketing Association IP: Como é que pensa que as entidades não lucrativas e do setor social estão a abordar estas metodologias ou ferramentas? JF: Muitas organizações não lucrativas e entidades públicas ainda não entenderam bem qual a importância que o marketing social vai ter para si no futuro. Principalmente se quiserem sobreviver. Todos sabemos que no setor privado o marketing é muito importante. Aliás, cerca de 1/3 dos CEOs de empresas vêm de um percurso ligado ao marketing. O marketing é determinante em qualquer área e na A Associação Europeia de Marketing Social (em inglês, ESMA) realizou a sua primeira conferência em Lisboa, num encontro que teve lugar nos dias 27 e 28 de novembro, reunindo diversos especialistas europeus em marketing social. Com o tema “O Marketing Social enquanto ferramenta eficaz e eficiente na implementação de programas sociais dirigidos à população”, o encontro foi organizado em parceria com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças. A associação foi criada no início deste ano, com três objetivos centrais, conforme explica Paulo Moreira, um dos fundadores da ESMA, ao Impulso Positivo. ”A associação pretende estabelecer uma rede de especialistas em marketing social na Europa, as pessoas estavam muito dispersas. Outro objetivo é gerar processos de apoio e parcerias para a investigação em marketing social na Europa e um terceiro é gerar conhecimento que possa apoiar as campanhas e programas de marketing social, quer no setor privado, quer no público quer no social”. A entidade é presidida por Jeff French, que explicou ainda que a ESMA tem já cerca de 100 membros e que “quer crescer de forma substancial nos próximos anos”. Com sede em Bucareste, a Associação pretende “ligar as pessoas na Europa que fazem marketing social e ajuda-las a fazer um trabalho melhor”, esclarece ainda Jeff French. Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 27 EXPERIÊNCIAS Ajuda de Berço AJUDA DE BERÇO Estar por um fio As campanhas de apoio à Ajuda de Berço que surgiram no final de 2010 marcaram não só a Associação como também todos aqueles que de alguma forma sentiram o apelo a ajudar. A mensagem era forte, transparente e estava a ser transmitida por todos, na rádio, na televisão e na rua: “A Ajuda de Berço está com sérias dificuldades financeiras.” A partir da campanha Arredonda, realizada em parceria com a Worten, muitas outras surgiram, como a campanha “Dê colo à Ajuda de Berço” desenvolvida pelo Fórum Almada ou a campanha levada a cabo pelo Método De La Rose, “Colabore com esta causa social”. O problema, infelizmente, é familiar a um grande número de organizações do 3º setor, não só em Portugal como em todo o mundo. Afinal, o que é que tornou este apelo diferente? O que é que a Ajuda de Berço aprendeu com o momento marcante em que tantos portugueses a quiseram ajudar? A importância de comunicar o “pulsar” de uma organização é fundamental. Se sempre foi importante comunicar, depois de a campanha ter excedido qualquer tipo de expetativa, a Associação entendeu que só comunicando teria a oportunidade de envolver verdadeiramente o público em geral, particulares, empresas, câmaras, crianças e adultos, na história da Ajuda de Berço. Para além disso este alerta de emergência no final de 2010, foi também motivo para que várias empresas dos mais diversos ramos quisessem conhecer mais aprofundadamente a Associação. A transparência e verdade da campanha foram características que prenderam a confiança de empresas que, seja através da doação direta em dinheiro ou géneros, seja através de campanhas cujas receitas revertem a favor da Ajuda de Berço, mobilizam o país de norte a sul. No caso concreto das campanhas de 2010, o retorno foi “bastante significativo, e fundamental, para o orçamento 28 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 doméstico da Ajuda de Berço durante o ano seguinte e a real consequência foi conseguirmos manter uma das casas abertas e continuar a desenvolver o nosso trabalho para com os bebés e crianças que acolhemos”, explicou ao Impulso Positivo Sandra Constâncio, presidente da Ajuda de Berço. Desde então a Ajuda de Berço apostou na “Implementação de um programa de fundraising”. Nos últimos dois anos a aposta recaiu em campanhas cuidadas, específicas e pontuais, ao cuidado de especialistas. No que diz respeito às doações, muito contribui para a eficácia do processo de doação a Lista de Necessidades publicada no site da Associação, e que é atualizada regularmente. Esta ideia simples permite que até os mais céticos se sintam motivados a ajudar uma vez que sabem concretamente no que é que irão gastar. De uma forma geral, Sandra Constâncio acredita que “vale a pena investir na divulgação do nosso trabalho, da nossa causa social, do benefício que proporcionamos a cerca de 40 crianças em risco. Vale a pena investir numa comunicação junto dos potenciais parceiros e público em geral, divulgar a nossa realidade, a lista de necessidades e dificuldades diárias”. Atualmente as campanhas que se encontram a decorrer são essencialmente de empresas cujas iniciativas revertem a favor da Ajuda de Berço, como a Campanha Vivafit em que cada grama perdida pelas frequentadoras do ginásio é convertida em bens essenciais para doar, ou a campanha “Share the Magic” da Disney Store, lançada em toda a Europa. IP EXPERIÊNCIAS BANCO ESCOLAR Ajudar quem precisa e tratar o cliente como ser humano pleno A 3ªedição do Banco Escolar, uma iniciativa da Staples desenvolvida em parceria com a Entrajuda, contou este ano com o contributo de mais de 30.000 clientes da marca de papelaria e material de escritório, que doaram mais de 35.000 euros para aquisição de material escolar para crianças carenciadas. Ajudar quem mais precisa é a razão de base desta campanha, mas o impacto junto dos clientes também é muito importante, numa altura em “que se devem tratar as pessoas, não como consumidores apenas, mas como seres humanos plenos: com mente, coração e espírito”. As palavras são de Ana Paraíba, PR & New Media Manager da Staples, que, em entrevista ao Impulso Positivo, explica que “cada vez mais os consumidores procuram soluções para satisfazer o seu anseio de transformar o mundo globalizado num mundo melhor”. Na sua perspetiva, os consumidores “procuram empresas que abordem as suas necessidades mais profundas de justiça social, económica e ambiental, na sua missão, valores e visão. Procuram não apenas satisfação funcional e emocional, mas também satisfação espiritual, nos produtos e serviços que escolhem”. Por isso, a marca considera “essencial responder de uma forma cada vez mais transversal a todas as necessidades e anseios dos nossos clientes potenciais”, sublinha a responsável da Staples. De facto, surgindo como um programa de responsabilidade social da marca que pretendeu organizar e tornar mais sustentável a intervenção da Staples na doação de material escolar a públicos mais carenciados, o Banco Escolar não deixa de “reforçar o posicionamento da marca enquanto marca socialmente responsável”, mas também “atenta às necessidades dos nossos clientes particulares, alunos, pais, professores e institucionais, como são as escolas”, afirma Ana Paraíba. E a adesão dos clientes não poderia ter sido melhor: “Cremos que os números falam por si”, começa por dizer a responsável, frisando que o impacto do programa tem sido muito positivo, até porque “muitos clientes já nos procuravam nesta altura para entrega de material que tinham em casa, disponibilizando-se a ajudar. Assim, disponibilizámos uma forma de ajudar, coerente, transparente e credível”. Na sua 3ª edição, o Banco Escolar conseguiu angariar mais de 35.500 euros para Instituições de Solidariedade Social de todo o país, valor que foi depois convertido em material escolar, tendo em conta as necessidades das Instituições identificadas pela Entrajuda. A campanha, que este ano decorreu entre os dias 27 de agosto e 14 de setembro, contou com a adesão de mais de 30.000 pessoas, que puderam contribuir quer através de vales de compras (de 1 ou 2 euros) nas lojas da marca ou através das redes sociais. Neste último caso, a participação poderia ser feita através da página de Facebook da Staples ou da página do Movimento “Eu Agradeço a um Professor”, por e-mail e ainda no twitter, com a partilha da causa a representar 0,50 euros que a Staples converteu em material escolar. Além disso, este ano, pela primeira vez, a Staples elegeu o fã mais solidário, Alexandra Santos da Marteleira-Lourinhã, que teve oportunidade de escolher uma IPSS à qual a Staples fará uma doação de 2.500 euros. “Os portugueses mostraram a sua generosidade com esta fantástica adesão ao projeto Banco Escolar que tem um cariz social muito relevante, tendo em conta que estamos a criar condições para que crianças carenciadas tenham melhores condições para iniciar o ano letivo”, refere Isabel Jonet, presidente da Entrajuda. Por isso, e face “ao sucesso das edições dos anos anteriores e à crescente adesão da sociedade civil a este programa”, a marca quer continuar a aposta nesta campanha, que em três anos já permitiu angariar perto de 70.000 euros. IP Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 29 EXPERIÊNCIAS COLGATE e ONV As parcerias que fazem Portugal sorrir A Colgate tem vindo a desenvolver o seu plano de responsabilidade social em todo o mundo. Esta marca entendeu que só teria a ganhar se conseguisse desenvolver iniciativas passíveis de serem replicadas, poupando tempo, recursos, mas acima de tudo permitindo que a marca fizesse mais em menos tempo por um mundo melhor. Foi o que aconteceu com a campanha “Vamos fazer Portugal Sorrir” que decorreu em Portugal até ao passado dia 31 de outubro. A campanha já tinha sido realizada noutros países, nomeadamente no Reino Unido e nos Países Nórdicos, tendo as receitas revertido a favor de instituições congéneres da Operação Nariz Vermelho (ONV). Quando a marca preparou a iniciativa para Portugal, concluiu que fazia todo o sentido manter os parâmetros das campanhas anteriores. A Colgate convidou então os consumidores a doarem sorrisos através do site www.sorrisoscolgate.pt. A meta passava por atingir os 100 mil sorrisos, que seriam depois convertidos em apoio financeiro à Operação Nariz Vermelho. “A iniciativa visava ainda, além do objetivo solidário concreto, chamar a atenção para a importância das marcas e da sua contribuição para as instituições de cariz social que dependem unicamente do apoio de terceiros”, referiu Susana Vicente da agência de comunicação POP Group, responsável pela campanha, ao Impulso Positivo. São cada vez mais importantes estas parcerias entre as empresas e as organizações do terceiro setor, até porque no final todos ficarão a ganhar. “Com as grandes limitações que as marcas do 3º sector vivem, são essenciais as parcerias com empresas/agências que nos ajudem a divulgar a nossa marca potenciando ao máximo as sinergias que possam haver com planos de comunicação das marcas lucrativas”, partilhou Beatriz Quintella, presidente da ONV, com o Impulso Positivo. Estas parcerias terão em si mesmo um peso significativo na construção da marca das organizações do 3º setor, com rigor e profissionalismo, em prol da credibilidade. Beatriz Quintella refere ainda que “os planos de marketing de uma IPSS devem ter sempre previsto a visibilidade da sua marca, não só porque isso pode trazer angariação de fundos, mas também porque a marca transmite os valores e princípios da nossa missão. A Operação Nariz Vermelho, tem vindo ao longo destes 10 anos, a construir a sua marca com muito cuidado, sempre apoiada por empresas que pro-bono nos oferecem os seus serviços e conhecimentos. A credibilidade e reconhecimento que a nossa marca tem hoje em 30 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 dia, são fundamentais para suportar toda e qualquer mecânica de angariação de fundos”. Susana Vicente considera fundamental uma aposta por parte das organizações sem fins lucrativos na comunicação, acreditando que os benefícios da mesma serão imensos: “Uma organização deve sempre apostar na sua comunicação de forma muito intensa e assertiva para que seja inequívoca a sua área de atuação. Se esta for eficaz, criar sinergias e parcerias torna-se um passo seguinte. Neste caso concreto, a ONV é uma organização que se comunica muito bem, e como tal, foi fácil identificar os valores que esta partilhava com a marca Colgate”. A ONV tem desenvolvido com carinho parcerias na área da comunicação e do marketing, contando com “a generosidade das pessoas que constituem essas empresas de porem os seus conhecimentos e serviços ao dispor da Operação Nariz Vermelho”. Os momentos difíceis que os portugueses atravessam, obrigam a soluções inovadoras e por isso mesmo, acrescentar valor de diferentes áreas em prol de uma causa pode ser fundamental. “A grande exigência dos nossos tempos e do mercado faz com que o 3º sector tenha uma grande necessidade de se organizar e atuar como uma empresa lucrativa, no sentido de ter pessoas especializadas nas diferentes áreas de atuação, sendo para isso essencial poder recorrer a parceiros que nos assegurarem o profissionalismo exigido ao nosso trabalho. Muitas das surpresas positivas aparecem das parcerias feitas entre marcas (lucrativa e não lucrativa) que acabam por trazer um valor acrescentado grande a cada uma delas, porque os valores e princípios inerentes a cada marca se complementam. A ação com a Colgate é um bom exemplo disso, pois temos o sorriso como denominador comum”, reforça Beatriz Quintella. A presidente da ONV remata: “É muito compensador para nós receber, mas também acredito que seja igualmente recompensador para quem dá. Uma das riquezas destas parcerias é que permitem às empresas verem seu trabalho reconhecido por sorrisos, em vez de números!”. IP EXPERIÊNCIAS VITALIS BEBIDA SOLIDÁRIA Há dois anos, a Unicer, através da marca Vitalis, e numa parceria com a SIC Esperança, lançou a campanha “Bebida Solidária”, que atribui bolsas escolares a crianças carenciadas para a compra de material escolar. De acordo com Bruno Albuquerque, diretor de marketing Águas da Unicer, o marketing com fins sociais é uma prioridade para a empresa, que procura, desta forma, devolver, através de projetos sociais, um pouco aos consumidores que preferem as suas marcas. “De uma forma geral, o marketing com fins sociais complementa a atuação das empresas privadas”, explica aquele responsável. Mas na Unicer, “surge como uma prioridade: defendemos que há um momento para dar e um momento para receber. Procuramos sempre devolver aos consumidores a sua preferência pelas marcas da Unicer com, por exemplo, projetos sociais que contribuam para o desenvolvimento das comunidades em que estamos envolvidos”, explica Bruno Albuquerque. Exemplo disso é o projeto “Bebida Solidária”, promovido através da marca de água Vitalis e que prevê a doação de parte das vendas desta marca – num período determinado de tempo – para a criação de bolsas escolares para alunos carenciados, em 2012. Além das claras consequências da campanha para os beneficiários, e do cumprimento da política de responsabilidade social da empresa, resultam fatores de reforço da marca, quer por via de uma maior proximidade aos consumidores, quer por um aumento da sua A conjugação destes fatores potencia o impacto da iniciativa de ano para ano, já que depende do consumidor o sucesso e crescimento do projeto.”Fazemos um balanço muito positivo do projeto, reflexo do grande impacto junto dos consumidores”, começa por explicar Bruno Albuquerque. E acrescenta: “São eles que nos ajudam a conseguir este feito, já que, entre junho e agosto, quem comprou garrafas de água Vitalis com o Selo da Bebida Solidária ajudou automaticamente e sem pagar mais por isso.” E porque na Unicer, “a solidariedade é uma fonte que não se esgota”, a Bebida Solidária vai ter uma nova edição em 2013. De acordo com Bruno Albuquerque, a marca conseguiu angariar 50.000 euros logo na primeira edição, em 2011, tendo a SIC Esperança Esperança, parceira no projeto, atribuído 391 bolsas de material escolar a crianças carenciadas do 1º ciclo de todo o país, face a um volume de 398 candidaturas recebidas Em 2012, 2ª edição do projeto, o projeto cresceu. “Já este ano, sabendo que a situação económica de muitas famílias tem vindo a piorar, fomos ainda mais longe e alargámos o apoio a famílias com dificuldades financeiras que tenham a seu cargo crianças a estudar no 1º e 2º ciclo”, refere Bruno Albuquerque. O número de pedidos quase quadruplicou face a 2011 – em 2012 forma recebidos 1208 pedidos de apoio -, tendo sido atribuídas 500 bolsas, num aumento de 28% face à edição anterior. “Conseguimos um resultado fantástico, que nos permitiu ajudar mais famílias, mais crianças, contribuindo para um regresso às aulas mais tranquilo e menos doloroso nos orçamentos familiares”. Nesta edição, a SIC Esperança contou com uma rede de parceiros mais alargada que, em conjunto, identificaram os potenciais beneficiários para atribuição das bolsas escolares. Estas foram atribuídas a crianças ou jovens que estejam integrados em famílias do 1º ou 2º escalão do abono de família, sejam frequentadores assíduos e que tenham um percurso escolar positivo. O projeto contou também com o apoio da atriz Inês Castel-Branco, enquanto madrinha desta causa solidária. IP Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 31 EXPERIÊNCIAS 50 anos de Amnistia Internacional Indignado com a prisão de dois estudantes portugueses por brindarem à liberdade em 1960, a 28 de Maio de 1961 o advogado britânico Peter Benenson publicava, no jornal The Observer, o artigo “Os Prisioneiros Esquecidos”, lançando um desafio à Humanidade: durante um ano, apelar por aqueles a quem chamou “prisioneiros de consciência”. Entre as nove histórias contadas fazia parte a de Agostinho Neto, reconhecido poeta e médico angolano “cujos esforços para melhorar os serviços de saúde para os seus compatriotas africanos eram inaceitáveis para os portugueses”. No documento original é ainda referida a intolerância em Portugal à crítica da imprensa ao Governo. TBWA\PARIS para Amnesty International AMNISTIA INTERNACIONAL Hoje a Amnistia Internacional conta com membros, apoiantes e ativistas em mais de 150 países e territórios, que lutam, investigando e agindo, de modo a prevenir e a pôr fim a abusos de Direitos Humanos e exigir justiça para aqueles cujos direitos tenham sido violados. A Amnistia Internacional já realizou mais de 20.500 Ações Urgentes para chamar a atenção de apelos específicos de direitos humanos e mais de 10.500 acompanhamentos de Ações Urgentes desde que estas começaram em 1973. O trabalho brutal e incansável levado a cabo por esta organização em todo o mundo, é financiado por donativos de membros e apoiantes da Amnistia, que se mantem completamente independente, desde a sua origem, de quaisquer governos, ideologias políticas, interesses económicos ou religiões. Em prol dessa liberdade, a Amnistia Internacional não aceita fundos para investigação dos direitos humanos nem de governos, nem de partidos políticos, apenas aceita o apoio de empresas que tenham sido cuidadosamente escrutinadas. É assim, essencialmente, uma organização de cidadãos livres que se juntam para dar voz a outros cidadãos que não vêm os seus direitos reconhecidos em qualquer parte do mundo. 2010, a Amnistia Internacional já tinha conduzido mais de 3.300 missões de investigação e publicado mais de 17.000 relatórios acerca de Direitos Humanos no mundo. Para além disso, desde 1961, a organização publica todos os anos um relatório anual sobre o estado dos Direitos Humanos no mundo, produzido em mais de 25 línguas, para que não restem dúvidas. Este trabalho aprofundado, faz com que a Amnistia seja internacionalmente reconhecida pela sua fiabilidade e consequentemente consultada por governos, organizações intergovernamentais, jornalistas, académicos e outras organizações de direitos humanos e grupos de campanha. Prova disso foi o reconhecimento da excelência, desde cedo, com o Prémio Nobel da Paz em 1977, “por ter contribuído para garantir terreno à liberdade, à justiça assim como também à paz no mundo”, e no ano seguinte com o Prémio de Direitos Humanos das Nações Unidas “pelos extraordinários contributos na área dos Direitos Humanos”. Uma vez mais, a fiabilidade e credibilidade numa organização, faz desta uma referência por si só, permitindo que o reconhecimento se multiplique, o que na hora de doar se materializa num aumento exponencial dos fundos arrecadados. O rigor As informações obtidas pela Amnistia e que lhes chegam a partir dos próprios prisioneiros, dos seus representantes, de sobreviventes corajosos de abusos e das suas famílias, de órgãos religiosos, agências humanitárias, defensores dos Direitos Humanos, entre outros, obriga a que sejam enviadas com frequência, missões de recolha de factos para avaliar a situação no local. Estas acabam por validar a veracidade dos factos e permitem alocar de forma mais eficaz os recursos necessários à resolução das diferentes situações denunciadas. Entre 1961 e As campanhas As campanhas da Amnistia Internacional são um marco. Os seus ativistas dão ênfase tanto a casos individuais de pessoas em situação de risco – como é o caso, por exemplo, da campanha "Cidades Para A Vida - Cidades Contra A Pena de Morte" para a qual Sakineh Ashtiani, condenada à morte no Irão, é o rosto em Portugal –, como realizam campanhas mais amplas que visam garantir que os direitos humanos são reconhecidos e respeitados. É o caso das campanhas que decorrem em todo o mundo como “Exija Dignidade”, “Controlar as Armas”, 32 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 EXPERIÊNCIAS em que se realizavam ações, se vendiam camisolas ou canetas, e se tentava implantar no país um conceito que nos parecia justo, que tinha por emblema uma vela e que ganhara o Nobel da Paz”. Helena Abreu lembra-se de uma história altamente exigente e rigorosa, construída com um imenso empenho, da qual fizeram parte uma grande ação sobre Timor muito antes do massacre do Cemitério de Santa Cruz, cartas em chinês para a libertação de presos chineses, idas à Embaixada da Roménia, a queda do Muro de Berlim e todas as mudanças que daí advieram, panfletos no correio, jantares, exposições, dossiês de prisioneiros de 300 páginas. Helena Abreu lembra-se que ninguém baixava os braços. Ainda hoje também em Portugal se recorre ao “face-toface” de excelência para que sejam cada vez mais aqueles que lutam pelos Direitos Humanos, e se envolvem personalidades de renome a favor da causa, como irá acontecer no espetáculo Live Freedom que juntará Áurea, Deolinda e David Fonseca. O primeiro Apelo para uma Amnistia que esteve na origem do movimento a que se chama Amnistia Internacional, já completou 50 anos. 50 anos de duras batalhas e justas vitórias. Em 2011 os apoiantes, membros e ativistas do movimento eram mais de 3 milhões. IP Amnesty International “Discriminação”, “Segurança com Direitos Humanos”, ”Acabar com a Pena de Morte”, “Fim à mutilação genital feminina” ou “Acabar com a violação sobre as Mulheres”. Para além disso, a organização conta com lobistas que trabalham com indivíduos com poder ao nível nacional e também internacional – desde funcionários regionais às Nações Unidas –, para que estes levem para casa a mensagem da importância dos direitos de todas as pessoas, sem exceção. As situações denunciadas pela Amnistia Internacional são maioritariamente chocantes, revoltadoras, e repugnantes, tendo a organização desde cedo optado por não ter medo de denunciar as maiores atrocidades do mundo e das quais pouca gente dava conta. A arte de revelar estas situações com mestria faz também parte da história da Amnistia, que desde os primeiros anos recorreu à ajuda de especialistas para tornar as suas campanhas o mais eficazes possível nos cantos mais variados do mundo, desde Londres à Guiné-Bissau. A Amnistia recorre às mais variadas ferramentas, desde cartas escritas à mão, campanhas online e offline, campanhas porta a porta, manifestações, vigílias e lobbying, por acreditar que o mais importante é levantar a bandeira da defesa dos Direitos Humanos para que todos a vejam e possam defender aqueles que se encontram a sofrer. Esta organização nunca teve medo de arriscar, seja por utilizar os métodos mais clássicos em pleno século XXI – continua a apostar ativamente nas campanhas “face-to-face” e nas cartas escritas à mão –, seja por desenvolver campanhas em formatos únicos. Exemplo destas últimas foi a tour no final dos anos 80, “The Human Rights Now!” para a qual a organização contou com a participação de artistas como Bruce Springsteen, Tracy Chapman, Youssou N'dour e Sting. Visitaram 19 cidades em 15 países em África, nas Américas, Ásia e Europa e o espetáculo acabou por ser visto por milhões de pessoas no Dia dos Direitos Humanos, tendo tido como resultado direto a filiação da Amnistia em muitos países. Em 2005, Yoko Ono demonstrou o seu compromisso com os direitos humanos, ao doar generosamente os direitos de autor de toda a coletânea a solo de John Lennon, incluindo a canção “Imagine”, à Amnistia Internacional. Ao mesmo tempo, Yoko Ono e a Amnistia Internacional colaboraram com mais de 30 músicos de renome, trabalhando na campanha “Make some Noise”, que se centrava na realização de numa petição global a enviar ao Governo Sudanês, para que fossem protegidos os direitos humanos e os civis no Darfur. As parcerias de excelências têm sido defendidas também pela Amnistia como uma forma de ganhar força a favor dos Direitos Humanos e, prova disso, é a recente parceria entre a organização, a Oxfam e a IANSA (International Action Network on Smal Arms) para fazer campanha sobre o Controlo de Armas. Amnistia Internacional em Portugal No livro que comemora os 30 anos da Amnistia Internacional, Helena Abreu, Coordenadora do Grupo Local 1, diz dos primeiros tempos: “Lembro-me de um tempo em que não havia noção de “ONG”, de “evento”, de “marketing”, de “merchandising”, mas Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 33 EXPERIÊNCIAS CÁRITAS Da velhinha lata à publicidade de topo Ouvir falar na Cáritas pode levar muitos de nós a visualizar rapidamente a imagem de um peditório “à antiga”, com as velhinhas caixas redondas, outrora brancas. A verdade é que nem tudo o que parece é. Hoje, se falamos em Cáritas, temos também de falar em vídeos, publicitários de renome, grandes anúncios e campanhas de publicidade fortes e inovadoras. Sim, devemos dizer “também”, porque a organização não tenciona abandonar o “velhinho” peditório como meio de angariação de fundos. No início de 2012, Alejandro Toledo, um publicitário de sucesso que trabalha, por exemplo, com o famoso músico espanhol Alejandro Sanz, decidiu unir-se a esta Instituição de Solidariedade Social. Ofereceu-se para realizar uma campanha publicitária gratuita que ajudasse a angariar mais fundos, depois de ter visto um amigo a sair da Cáritas em Madrid, com um saco de comida. Em Portugal já sucede o mesmo. A BBDO, agência de comunicação de renome, desenvolveu a nova campanha da Cáritas, no ar desde setembro. Com o mote “Muitos não pedem, mas pedem à Cáritas”, a campanha nacional tem como objetivo divulgar o trabalho realizado pela organização e, em simultâneo, incentivar o público a doar. Com direção criativa de Rui Silva, criatividade de João Flores e Pedro Gaspar, e produção fotográfica de Yves Callewaert, a campanha está presente na imprensa, rádio e pontos de venda, apelando com qualidade à ajuda de todos. A Cáritas é um porto de abrigo. Uma luz e um caminho de esperança para muitos dos portugueses que sofrem hoje, mas também para todos os que já sofreram e que um dia recorreram a esta organização que tanto faz em Portugal desde o final da 2ª Guerra Mundial. Até ao primeiro semestre de 2012, em todas as Cáritas Diocesanas espalhadas pelo país, registou-se o atendimento a mais de 30 mil famílias. Olhando ao atendimento a pessoas singulares o número ultrapassa os 88 mil, o que representa um aumento de 64% relativamente a igual período do ano anterior. Desde a sua origem, a Cáritas tem feito o esforço de acompanhar os tempos, procedendo às alterações necessárias para responder às necessidades específicas da população. 34 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 Começou por acolher crianças refugiadas do centro da Europa e distribuir géneros alimentares doados pelos EUA. Na década de 70 até ao ano 2000 apostou na promoção social, nomeadamente no apoio à criação de postos de trabalho, na criação e gestão de equipamentos sociais, na formação dos seus agentes, na atuação nos domínios do desenvolvimento local e na intervenção junto dos centros de decisão política. Desde então, a Cáritas tem trabalhado para consolidar a autonomia das Cáritas Diocesanas e para atualizar os objetivos da Cáritas no contexto da Igreja e da sociedade portuguesa. E a comunicação da Cáritas tem acompanhado esta preocupação premente de evoluir em função do panorama nacional. Outra das campanhas icónicas da Cáritas é a “Operação 10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz”, que visa a consciencialização de toda a população para a importância dos valores da justiça, da solidariedade e da paz. Esta campanha teve início em França em 1984, durante o Advento, e alastrou-se a toda o país em 1991. Foi em 2002 que a iniciativa se espalhou por todo o mundo, tendo Portugal aderido em 2003. A ideia passa por promover ações conjuntas para a iluminação de diversos espaços públicos, mas também por apelar a cada um dos portugueses que adquira uma vela e a acenda em nome da paz na noite de Natal. Os lucros obtidos com esta campanha revertem em 65% para as Cáritas Diocesanas, e os restantes 35% são entregues pela Cáritas Portuguesa a um projeto internacional, tendo sido África e o Brasil os principais destinos. Em 2011 foi angariado um valor de 35.011 euros para o apoio alimentar a 649 crianças e 150 famílias de agricultores e pastores na Somália. A Cáritas tem aproveitado não só as oportunidades que surgem para inovar, como também o espaço de partilha de ideias que se cria entre as diferentes delegações da Cáritas no mundo. Acaba assim por haver um aproveitamento de recursos que nada mais faz do que potenciar, não só o trabalho da organização, como também as oportunidades de angariar fundos para os seus projetos de tanto valor. IP Campanha BVLGARI, vencedora do Halo Award 2011 na categoria Best Print Campaign e fotografada por Fabrizio Ferri Até ao final do 3º trimestre de 2012, a Save the Children constatou que nos seus projetos, houve uma redução de 77% de pessoas a sofrerem com fome, uma redução de 59% de crianças subnutridas e um aumento de 22% de crianças que passaram a frequentar a escola. A campanha “Every Beat Matters” (www. everybeatmatters.org), por exemplo, ajudou a que o número de mortes de recém-nascidos, diminuísse 17%, de 4 milhões em 2000 para 3,1 milhões em 2010. O trabalho excecional e internacionalmente reconhecido da Save the Children é essencialmente assente em dois pontos concretos: rigor e parcerias. Esta organização faz questão de ter toda a informação sobre o estado da arte dos projetos em curso, relatórios de contas, aplicação de donativos, sempre disponível e atualizada. Prova disso é, por exemplo, a apresentação de resultados por trimestres, ou a atualização constante de vídeos e fotografias relacionados com os projetos que estão decorrer. A aposta no rigor e transparência ao nível do que se pratica na Save the Children é realmente muito exigente. Contudo, faz parte de um caminho para o sucesso. A excelência com que se trabalha é também aquela que se exige a quem se quer associar à organização. Por outro lado, a transparência com que se trabalha, faz com que um grande número de companhias de topo dos mais diferentes setores confiem na Save the Children para investir em causas humanitárias. O IKEA, a BVLGARI e a Univelver são os grandes parceiros da organização, existem depois 10 empresas que já doarem mais de 5 milhões de dólares e 18 empresas que já doaram entre 1 e 5 milhões. Mas a Save the Children conta com mais. A Save the Children conta com todos. Por isso a aposta no marketing e na comunicação não só é uma constante como é feita em grande estilo. Associandose a profissionais de topo em regime de pro bono, como os fotógrafos Fabrizio Ferri ou Spencer Murphy, ou agências de comunicação como a BBDO, aqui as Campanhas são um assunto muito sério. Para se ter uma ideia, só nos últimos dois anos esta organização venceu o Halo Award, maior prémio nos EUA na área do Inspirar faz parte da missão São inúmeras as ações da Save the Children espalhadas pelo Mundo. Esta organização tocou a vida de 100 milhões de meninos e meninas, tendo alcançado, em conjunto com outras organizaçõesmembro Save the Children, 120 países, prestando serviços e dando apoio à educação, saúde, proteção e ajuda humanitária de emergência. marketing de causas, na categoria de Best Print Award Campaign em 2011, o Halo Award na categoria de Best Digital Campaign em 2012, para além do Prémio do Cannes Lion International Festival of Creativity no mesmo ano. Em 2011, a Save the Children recebeu a sua décima classificação máxima (quatro estrelas) da conhecida Charity Navigator, uma organização sem fins lucrativos que fornece avaliações online da saúde financeira de mais de 5.000 instituições de caridade dos EUA. Além disso, em março de 2008, o avaliador independente, lançou a lista "10 melhores organizações de caridade que toda a gente ouviu falar" e a Save the Children faz parte dela desde então. Já na lista das 200 maiores organizações de caridade dos EUA da Forbes, as pontuações mais recentes atribuídas à Save the Children foram de 92% no que diz respeito à Eficácia do Fundraising e 91% em relação ao Compromisso Caritativo. A missão da Save the Children é “inspirar a quebrar barreiras na forma como o mundo trata as criança e alcançar mudanças imediatas e duradouras nas suas vidas”. A Save the Children cumpre. IP Y&R Fabrizio Ferri SAVE THE CHILDREN Campanha vencedora do Cannes Lion International Festival of Creativiy 2012 Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 35 EXPERIÊNCIAS EXPERIÊNCIAS KevinSchaferWWF WWF E COCA COLA Pôr o Ártico no mapa Coca-Cola. Uma das marcas mundiais mais poderosas, senão a mais poderosa, muito graças ao facto de conseguir estar em todo o lado, mas também às míticas campanhas de publicidade. Deve ser difícil encontrar alguém que não se lembre de pelo menos um anúncio da Coca-Cola. Ao associar-se à também icónica World Wildlife Fund (WWF), criaram as duas uma campanha poderosa. Fiel à visão de trabalhar com os melhores, a Coca-Cola associouse à WWF em 2007 para tornar o seu negócio mais sustentável. Ficaram as duas organizações a ganhar. Com o apoio da WWF, o objetivo da Coca-Cola passa por melhorar a sua eficácia hídrica e reduzir as emissões de carbono nas operações de produção da empresa, e promover as práticas de agricultura sustentável em toda a cadeia de valor da Coca-Cola. Por sua vez, a WWF passa a contar com o apoio da Coca-Cola para estabelecer novos padrões para a indústria, ambicionando impactos significativos à escala global. Antes de mais, as duas organizações procuraram um denominador comum: a Água. A WWF explica a escolha deste denominador na sua página de internet: “A água é fundamental para a WWF e para a Coca-Cola. A missão da WWF é a conservação da natureza e a proteção dos recursos naturais para as pessoas e animais selvagens. Os Ecossistemas de água doce são uma prioridade no trabalho da WWF. Por sua vez, as bebidas são o negócio da Coca-Cola e a água é o principal ingrediente de cada produto que a empresa faz”. A partir daí, criaram-se as metas: conservar as bacias hidrográficas prioritárias, melhorar a eficiência hídrica, reduzir o impacto climático, promover a agricultura sustentável e inspirar a colaboração global. Foi no contexto desta parceria que, em 2011, surgiu a forte campanha mundial Artic Home. A Coca-Cola introduziu no mercado uma edição limitada de latas brancas, tendo como objetivo consciencializar e angariar fundos para ajudar a criar um lugar onde os ursos polares e as pessoas possam prosperar no Ártico. Desde o início da campanha já foram angariados 1,8 milhões de dólares aos quais a Coca-Cola acrescentou 2 milhões. A campanha está a ajudar a promover a visão global da WWF para proteger o Ártico, visão esta que inclui trabalhar com as comunidades indígenas locais, apoiar investigação de ponta, e desenvolver um 36 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 trabalho adicional de conservação com vários parceiros. O trabalho da WWF a favor do Ártico já não é de agora. Desde 1975, o WWF apoiou a pesquisa sobre os ursos polares e outras espécies do Ártico. Graças ao trabalho desenvolvido desde então, e com o apoio dos mais diversos organismos, hoje é possível rastrear ursos polares através do rádio-colarinho e comunicar visualmente o comportamento e os movimentos do urso polar. O Ártico está num limiar crítico: as taxas de mudança sem precedentes, principalmente as alterações climáticas, levaram a um futuro incerto de importância mundial. Desde 1992, o Programa da WWF Global Artic tem vindo a trabalhar com parceiros em todo o Ártico para combater as ameaças ao habitat e preservar a sua biodiversidade, de forma sustentável. A equipa de pesquisa do Artic Home tem anos de experiência no campo, estudando o urso polar, o Ártico, e como ambos se adaptam e são afetados pelo aquecimento global. Este importante trabalho ajuda a entender o impacto que diferentes ameaças, como o degelo e a poluição, estão a ter em diferentes populações de ursos polares. O que acontece é que esta parceria não só chamou a atenção para esta problemática, como levou as pessoas de todo mundo a preocuparem-se com ela e a fazerem alguma coisa por ela. Para além da edição limitada de latas brancas, a partir da plataforma www.artichome.com é possível não só doar e conhecer cada um dos passos que têm sido dados com o dinheiro doado, como participar em eventos em formato webcast para discutir os esforços que têm sido feitos para proteger o urso polar, aprender de tudo um pouco sobre o urso polar e o Ártico, ter acesso a dezenas de materiais sobre o assunto, aprender 10 formas de ajudar a cuidar do ambiente e até conhecer aprofundadamente Aurora, Nanukic, Neige, Callista, Nita, cinco dos ursos que se pretende salvar. Esta é mais uma prova de que unir esforços permite fazer do mundo, um sítio melhor. Com mais vida. IP PRÉMIOS & INCENTIVOS JÁ ATRIBUÍDOS Cáritas recebe Prémio Direitos Humanos Vestuário inovador vence Prémio SIM 2012 A Cáritas Portuguesa é a vencedora do Prémio Direitos Humanos 2012, distinção atribuída pela Assembleia da República. O Parlamento refere a “intervenção solidária da organização católica, especialmente na presente situação de emergência social”. O júri do prémio, que é constituído no âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, elogia a “resposta sempre presente aos pedidos de assistência dos cidadãos que não têm possibilidades de garantir as suas necessidades básicas”. Por proposta o júri, foi também decidida a atribuição de medalhas de ouro comemorativas do 50º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, a Isabel Fernandes e a Miguel Neiva. Isabel Fernandes é voluntária da ONGD Ataca e fundadora da associação Kutsemba. Miguel Neiva é o criador do código ColorAdd, um sistema de identificação das cores para daltónicos. Este prémio é atribuído pela Assembleia da República desde 1999. A 2ª edição do Prémio SIM, iniciativa que pretende distinguir projetos na área das Indústrias Criativas com caráter inovador e revelantes para a comunidade em que se inserem, já tem vencedor. Contando com a participação de 120 projetos, esta nova edição atribuiu o primeiro prémio, no valor de 25 mil euros, ao projeto SensorialFIT. O projeto pretende dar resposta às dificuldades de crianças com deficiência em vestirem-se, propondo-se criar um conceito inovador de vestuário interativo e customizável, que partirá de peças funcionais e confortáveis, às quais poderão ser anexados acessórios modulares de caráter terapêutico e de estímulos sensoriais. Para os pais, estas novas funcionalidades irão representar um prolongamento das salas de terapia, enquanto para as crianças, não passarão de objetos lúdicos com os quais podem interagir. Além do reconhecimento deste projeto, foram atribuídas 2 menções honrosas aos projetos Musikki e Viral. O prémio SIM é uma iniciativa da Samsung. BPI Capacitar distingue 18 projetos de inclusão social O Centro Comunitário Paroquial da Ramada, em Odivelas, e o Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor, nas Caldas da Rainha, foram os grandes vencedores da 3ª edição do «Prémio BPI Capacitar», uma iniciativa de responsabilidade social através da qual a instituição bancária procura apoiar e dar visibilidade a projetos de inclusão social de pessoas com deficiência ou incapacidade permanente. O BPI distinguiu ex-aequo o CCPR e o CEERDL, que vão partilhar os 200 mil euros do primeiro prémio, respetivamente, nos projetos “Pela Cozinha de Inclusão” e “FloresSER”. As outras 16 instituições particulares de solidariedade (IPSS) de todo o país foram atribuídas menções honrosas, com apoio pecuniário global de 500 mil euros. No total, a edição deste ano do «BPI Capacitar» atribuiu 700 mil euros a 18 instituições/projetos selecionados de entre 257 candidaturas. Desde a instituição do prémio, em 2010, o banco já entregou mais de 1,5 milhões de euros a diferentes instituições portuguesas 38 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 carrinho de compras inclusivo vence prémio altran O Wi-Go, um carrinho de compras para pessoas com mobilidade reduzida, idosos ou grávidas com carrinho de bebé, venceu o prémio da Fundação Altran – Tecnologia e Inovação ao Serviço da Inclusão Social. O carrinho permite, através do uso de tecnologia avançada de reconhecimento de imagem e um sensor, seguir sempre os movimentos da pessoa certa. O protótipo pode funcionar em grandes superfícies, aeroportos ou indústrias e foi desenvolvido pela IS2you, uma spin-off da Universidade da Beira Interior. Durante os próximos seis meses, uma equipa de especialistas da Altran vai prestar apoio tecnológico e científico à equipa vencedora, liderada por Luís de Matos, engenheiro informático de 26 anos, fundador da IS2you e mentor do carrinho de compras. Em janeiro de 2013, o projeto vencedor de Portugal vai participar na final internacional em Paris, competindo com os finalistas do Prémio Altran noutros países. PRÉMIOS & INCENTIVOS Já são conhecidos os nossos heróis Já foram anunciados os vencedores do Prémio “Os Nossos Heróis”, uma iniciativa da Visão, através da Visão Solidária, em parceria com o Montepio. Estes prémios visam distinguir pessoas e entidades que sejam um exemplo na intervenção social. Os vencedores vão frequentar o curso ISEP Portugal IES powered by INSEAD, que se destina a capacitar os gestores de iniciativas sociais no sentido de potenciarem o impacto social das suas iniciativas. As menções honrosas, que, de acordo com a Visão, “ se tornaram obrigatórias devido à qualidade das candidaturas”, dão acesso a um Bootcamp em Empreendedorismo Social, também a cargo do IES powered by INSEAD. Voluntária do Ano na Europa é Portuguesa Isabel Fernandes, natural de Famalicão, recebeu o Prémio de “Melhor Voluntário” europeu, atribuído pela Active Citizens of Europe. “Não necessito de prémios, porque esses tenho-os sempre no terreno, nos sorrisos e abraços que recebo ao final do dia”, disse a premiada em declarações ao jornal Público. O painel de júris foi constituído por elementos da Comissão Europeia e Organizações da Sociedade Civil e por voluntários, que reconheceram o mérito do excelente desempenho de Isabel na promoção da coesão, justiça e solidariedade. Com 24 anos, Isabel esteve um ano (julho 2011 a agosto 2012) em Moçambique a coordenar o projeto Tutor à Distância, umas das principais iniciativas da ONG portuguesa ATACA – Associação de Tutores e Amigos da Criança Africana. Isabel Fernandes já tinha estado em Moçambique em 2009, integrado num programa de voluntariado da AID Global. Em aberto propostas do children and violence evaluation challenge fund até 17/12 O Children and Violence Evaluation Challenge Fund lançou no início do mês de novembro a 2ª chamada para apresentação de propostas. O prazo de entrega dos formulários de candidatura da nota conceitual é dia 17 de dezembro de 2012. Após o sucesso da 1 ª chamada para apresentação de propostas com 479 notas conceituais recebidas e nove projetos de avaliação eventualmente selecionados para atribuição das subvenções, o Fundo lançou a 2 ª Chamada para apresentação de Propostas para apoiar um novo conjunto de avaliações rigorosas de intervenções que visem a prevenção de todas as formas de violência contra as crianças em países de baixo e médio rendimento. O Fundo está aberto a avaliações de diferentes tipos de intervenções de prevenção da violência, incluindo grandes programas estabelecidos, maduros e de larga escala já estabelecidos, práticas inovadoras / promissoras e intervenções que têm a prevenção da violência como resultado indireto, desde que estejam em conformidade com o âmbito temático / geográfico do desafio e a sua avaliação seja justificada, viável e capaz de fornecer informações úteis. O Fundo irá aceitar uma ampla gama de métodos de avaliação que vão desde os métodos experimentais e quase-experimentais, aos métodos mistos e à pesquisa qualitativa. Com base no estado de implementação, a disponibilidade de dados, a natureza e a escala de avaliação, a metodologia de avaliação mais adequada deve ser aplicada. ONGs / organizações sem fins lucrativos, institutos de pesquisa / universidades e, excecionalmente, organizações com fins lucrativos, são elegíveis como candidatos principais e beneficiários de fundos. Governos e organizações multilaterais (por exemplo, as agências das Nações Unidas) não são elegíveis como candidatos principais, mas podem ser identificados como parceiros. Um novo elemento no âmbito deste convite à apresentação de propostas é a parceria entre os implementadores e avaliadores definidos como uma exigência. Laço atribui Bolsa para investigar cancro da mama A associação Laço vai atribuir uma bola de 25 mil euros para apoiar um projeto de investigação sobre as causas do aparecimento do cancro de mama ou os cancros metastáticos, revela a Agência Lusa, citando a presidente da instituição, Lynne Archibald. Ainda que a crise também se faça sentir na associação, a responsável revelou que os donativos de empresas e particulares continuam a chegar, sendo graças a estes donativos que a Laço vai, pela primeira vez este ano, uma bolsa de investigação nas áreas já mencionadas. “São as duas áreas de que precisamos de respostas da ciência”, contou à Lusa Lynne Archibald. “É a primeira bolsa especificamente para esta área e conseguimos fazer isto porque continuamos a ter apoio”, disse, acrescentando que a associação mantém "muitas campanhas a decorrer". A bolsa deverá ser atribuída na primavera do próximo ano. Prémio Manuel António da Mota entregue a 16 dezembro O vencedor do Prémio Manuel António da Mota será conhecido a 16 de dezembro, na Conferência “Portugal Ativo”, promovida pela Fundação Manuel António da Mota. Na sua 3ª edição, este prémio reconhece este ano as instituições que se destaquem na promoção de um envelhecimento ativo e da solidariedade entre gerações, assinalando, assim, o Ano Europeu dedicado a esta temática. Recorde-se que o vencedor do Prémio receberá 50 mil euros, sendo as restantes 9 candidaturas finalistas reconhecidas com um valor de 1.000 euros cada. A conferência “Portugal Ativo” terá lugar no Palácio da Bolsa, no Porto, sendo encerrada pelo Ministro da Solidariedade e Segurança Social, Pedro Mota Soares. Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 39 JÁ VIU? SITES “The world’s petition platform – what will you change?” Change.org é a maior plataforma de petições do mundo e existe para “encorajar as pessoas de todos os lugares a criarem a mudança que queremos ver”. Esta plataforma tem mais de 20 milhões de utilizadores em 196 países e é utilizada todos os dias por pessoas que acreditam poder ser uma parte fundamental na transformação das suas comunidades locais, nacionais e globais. Qualquer pessoa pode iniciar uma campanha e imediatamente mobilizar centenas de pessoas localmente, ou centenas de milhares de pessoas em todo o mundo, tornando os governos e as empresas mais sensíveis e responsáveis. Vale ainda a pena conhecer o site www.broadcause.com. Entre, conheça, crie ou junte-se a causas e convicções de todo o Mundo. Cause Marketing Forum No Cause Marketing Forum, terá acesso a informação especializada sobre o Marketing de Causas. Para além de toda a informação sobre a grande Conferência CMF, sobre o tema, ou sobre o conceituado Halo Award, encontra aqui cursos e webinários sobre a temática e um Centro de Conhecimento atualizado do qual fazem parte notícias, relatórios, artigos e muito mais. www.causemarketingforum.com www.change.org Mission Minded Mission Minded é uma consultora de marketing e comunicação direcionada para as organizações sem fins lucrativos e para as fundações. No site é possível encontrar informação e estudos de caso sobre Estratégia de Marca, um vasto portfólio de Design Gráfico e Web Design, oportunidades de formação sempre atualizadas, para além dos serviços prestados pela Mission Minded e do seu fantástico Blog. Vale a pensa consultar. We Are What We Do Este é o site do projeto We Are What We Do (empresa social + fundação) que tem o intuito de levar à mudança de comportamentos e de criar diferentes formas de milhões de pessoas fazerem coisas pequeninas mas muito boas. Esta organização cria produtos que as pessoas querem comprar ou usar, e que têm também em si embutidos comportamentos positivos. Conseguem assim atingir públicos em massa e, em simultâneo, ajudar a resolver grandes questões sociais e ambientais. Trabalhando constantemente com marcas, empresas e organizações nos EUA, mas também recentemente em Espanha, Portugal ou Alemanha, com o objetivo de alcançarem novas audiências de uma forma inteligente, criativa e única, tudo o que se possa dizer sobre We Are What We Do, é pouco, uma vez que a alma do negócio é cativar. Não perca - espreite! www.wearewhatwedo.org www.mission-minded.com Games For Change Não há limites para a imaginação e a Games for Change é a prova viva disso mesmo. Fundada em 2004, a Games for Change facilita a criação e distribuição de jogos. Isso mesmo, jogos. Mas são jogos de impacto social que passam a funcionar como ferramentas fundamentais nos esforços humanitários e educacionais. Ao contrário da indústria de jogos comerciais, a missão passa por catalisar impacto social através de jogos digitais. Para aumentar ainda mais o campo de ação, a Games for Change criou um festival anual, reúne várias partes interessadas, destaca as melhores práticas, incuba jogos, e ajuda a criar e a fazer investimentos diretos em novos projetos. www.gamesforchange.org 40 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 JÁ VIU? charity:water FONTES Narrative Design for Social Action Charity:Water www.charitywater.org Trata-se essencialmente de uma fonte de inspiração. Charity:Water é uma organização sem fins lucrativos que tem como missão levar água potável e limpa a pessoas em países em desenvolvimento. Acabaram de ganhar no início do mês de dezembro o Google Impact Award no valor de 5 milhões de dólares, criado para apoiar organizações que usem a tecnologia e abordagens inovadoras para enfrentar alguns dos maiores desafios humanos. A Charity:Water aposta na simplicidade e em soluções inovadoras para fazer face ao desafio a que se propõe mas também no que diz respeito à angariação de fundos e na divulgação da causa. As propostas de envolvimento para quem visita o site são várias e vão desde penhorar o dia de anos a favor da organização (http:// mycharitywater.org/p/birthdays), à criação de uma página própria onde se podem desenvolver campanhas pessoais de angariação a favor da Charity:Water (http://mycharitywater.org/p/signin), à disponibilização de vários banners para que qualquer pessoa os possa utilizar na sua página de Facebook, LinkedIn ou no próprio website (http://www.charitywater.org/media/banners.php). Até hoje a Charity:Water já fundou 6.994 projetos de água, ajudou 2.700.000 pessoas a terem água potável, em 20 países, com a ajuda de 21 parceiros. Vale a pena conhecer. “Ten ways to get people to change” Como é que levamos à mudança de comportamentos de líderes, colaboradores, clientes e até de nós mesmos? Neste artigo publicado no Harvard Business Review Blog Network, Morten T. Hansen, professor no INSEAD, autor de Collaboration e coautor com Jim Collins de Great by Choice, dá 10 dicas sobre o que se pode fazer para que a mudança seja eficaz. É um artigo simples mas útil para quem quer “mover montanhas”, seja através de uma campanha, de uma causa ou de um simples pedido de ajuda, envolvendo verdadeiramente e fazendo atuar o maior número de pessoas possível. Aqui são apresentadas formas interessantes, inovadoras e eficazes de utilizar a narrativa, as multiplataformas, experiências envolventes e transmídia e campanhas que de alguma forma levam as pessoas a ações sociais positivas independentemente da sua origem. Criado no painel online Pinterest por Linda Srivastava, este é um local motivador onde as letras, as imagens e os movimentos têm o verdadeiro condão de valer mais que mil palavras e por isso mesmo se pode tornar numa preciosa fonte de inspiração para o uso criativo das mais variadas ferramentas a favor do bem. Hands-On Social Marketing: A Step-by-Step Guide to Designing Change for Good (2ª edição) Este livro apresenta informações práticas, conselhos e estratégias acessíveis, tornando-se numa obra muito útil para alunos, bem como para jovens ou experientes profissionais do marketing social. Tendo em atenção os princípios aqui apresentados, é possível desenvolver programas de marketing social mais eficazes. Desde que a primeira edição, lançada em 1999, de Hands-On Marketing Social: A Step-by-Step Guide, se tornou uma referência essencial, o processo de planeamento estratégico de Nedra Kline Weinreich foi adotado por marketeers sociais em áreas tão díspares como a saúde ou as disciplinas ambientais. Nedra desmistifica o processo de desenvolver e implementar uma campanha de marketing social, começando por introduzir o conceito de marketing social e conduzindo o leitor através de cada uma das seis etapas do processo: design, análise, estratégia de desenvolvimento do programa, e de comunicação, o pré-teste, implementação e avaliação e feedback. O livro enfatiza especialmente métodos low-cost de pesquisa que permitem “esticar” um orçamento pequeno, sem sacrificar a qualidade. Esta segunda edição incorpora desenvolvimentos na prática geral de marketing durante a última década, bem como a evolução no campo do marketing social. A nova edição do livro mostra ainda como é que os media sociais podem desempenhar um papel em cada etapa do processo. Outra vertente de marketing que este livro desenvolve mais plenamente é como aplicar a abordagem do design à mudança de comportamento. Para além disso, os exemplos e recursos foram exaustivamente atualizados. Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 41 JÁ VIU? LEGISLAÇÃO Acordos de regularização voluntária de contribuições e quotizações devidas à segurança social Alteração do regulamento referente ao apoio à mediação e integração das pessoas com deficiências e incapacidades do POPH Declaração de Retificação n.º 69/2012, Série I, N.º 227, de 23 de novembro Despacho n.º 14572/2012, DR Série II, N.º 208, de 12 de novembro Retifica o Decreto-Lei n.º 213/2012, de 25 de setembro, do Ministério da Solidariedade e da Segurança Social, que procede à definição do regime de celebração de acordos de regularização voluntária de contribuições e quotizações devidas à segurança social, autoriza o pagamento diferido de montante de contribuições a regularizar em situações não resultantes de incumprimento e prevê uma dispensa excecional do pagamento de contribuições, publicado no Diário da República, 1.ª série, n.º 186, de 25 de setembro de 2012. Definição do regime jurídico aplicável a corpos de bombeiros Decreto-Lei n.º 248/2012, DR Série I, N.º 225, de 21 de novembro Procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 247/2007, de 27 de junho, que define o regime jurídico aplicável à constituição, organização, funcionamento e extinção dos corpos de bombeiros, no território continental. Decreto-Lei n.º 249/2012, DR Série I, N.º 225, de 21 de novembro Procede à segunda alteração ao Decreto-Lei n.º 241/2007, de 21 de junho, que define o regime jurídico aplicável aos bombeiros portugueses no território continental. Autorização para exercer atividade à Bem Me Queres – Associação de Apoio à Adoção de Crianças Portaria n.º 375/2012, Série I, N.º 223, de 19 de novembro Renova a autorização concedida para exercer atividade mediadora em adoção internacional à Bem Me Queres - Associação de Apoio à Adoção de Crianças. Criação da medida “Passaporte para o empreendedorismo” Portaria n.º 370-A/2012, Série I, N.º 221, de 15 de novembro Cria a medida «Passaporte para o empreendedorismo» que visa promover o desenvolvimento, por parte de jovens qualificados, de projetos de empreendedorismo inovador e/ou com potencial de elevado crescimento, através de um conjunto de medidas específicas de apoio, articuladas entre si, e que são complementadas com a prestação de assistência técnica ao longo do desenvolvimento do projeto. Alteração do regulamento específico da tipologia de intervenção n.º 6.3, «Apoio à mediação e integração das pessoas com deficiências e incapacidades», do eixo n.º 6, «Cidadania, inclusão e desenvolvimento social», do Programa Operacional Potencial Humano – POPH. Pedido de atribuição do estatuto de utilidade pública desportiva Portaria n.º 345/2012, DR Série I, N.º 209, de 29 de outubro Aprova o modelo de requerimento que deve ser utilizado no pedido de atribuição do estatuto de utilidade pública desportiva. Designação dos membros do administração da Fundação INATEL conselho Resolução do Conselho de Ministros n.º 41/2012, DR Série II, N.º 209, de 29 de outubro Nos termos do n.º 2 do artigo 26.º dos Estatutos da Fundação INATEL, aprovados pelo Decreto -Lei n.º 106/2008, de 25 de junho, e da alínea g) do artigo 199.º da Constituição, o Conselho de Ministros resolve designar, pelo período de três anos, sob proposta do Ministro da Solidariedade e da Segurança Social, o presidente, vice -presidente e vogais do conselho de administração da Fundação INATEL. Atribuição do selo de Escola Voluntária Portaria n.º 333/2012, DR Série I, Nº 204, de 22 de outubro Estabelece as condições gerais e os critérios para a atribuição do selo de Escola Voluntária, bem como os requisitos específicos a que devem obedecer as candidaturas. Turismo atento às necessidades dos viajantes portadores de deficiência e das pessoas com mobilidade reduzida Resolução da Assembleia da República n.º 131/2012, DR Série I, Nº 203, de 19 de outubro Recomenda ao Governo que desenvolva um programa estruturado com linhas orientadoras para os diversos atores do setor do turismo, para que, no prazo de 12 meses, Portugal possa ser apresentado como um destino atento às necessidades, quer do «viajante portador de deficiência», quer das «pessoas com mobilidade reduzida». AS INFORMAÇÕES CONSTANTES NESTA SECÇÃO BASEIAM-SE NOS TEXTOS LEGAIS, MAS NÃO DISPENSAM A CONSULTA DOS DIPLOMAS ORIGINAIS. 42 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 de JÁ VIU? Um lado bom dos impostos Por Conceição Gamito e Frederico Antas1 VdA – Vieira de Almeida & Associados É difícil, nos dias que correm, pensar-se na palavra “impostos” sem se associar imediatamente à carga fiscal cada vez mais elevada que a generalidade das pessoas singulares e coletivas tem vindo a suportar nos últimos anos e, infelizmente, continuará a suportar nos anos vindouros. No entanto, tendo presente o tema deste número da Revista IP, entendemos que é, a exemplo do que já fizemos no passado, importante lembrar que os impostos também assumem um importante papel na redistribuição da riqueza e na obtenção de fundos e de poupanças tão importantes para as entidades do setor não lucrativo. Nesse sentido, é preciso ter presente que o Estatuto dos Benefícios Fiscais (EBF) contém um capítulo dedicado especificamente ao Mecenato, no qual está previsto um conjunto de benefícios fiscais de que podem usufruir os mecenas, sejam eles pessoas singulares ou coletivas. E sem nos querermos alongar sobre os detalhes dos benefícios atribuíveis aos mecenas (sobre este tema veja-se o nosso artigo publicado na Revista IP n.º 03), sempre recordamos que o EBF concede, em função da natureza da entidade beneficiária do donativo e da atividade concreta desenvolvida por esta, a possibilidade de os donativos atribuídos serem, dentro de certos limites, considerados pelos mecenas como gastos dedutíveis para efeitos do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC) e, na maioria dos casos, serem os mesmos majorados em percentagens que poderão variar entre os 20% e os 50%. Por outro lado, importa assinalar que a Lei da Liberdade Religiosa 2 confere às pessoas singulares a faculdade de consignarem uma quota equivalente a 0,5% do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) que lhes seja liquidado, de acordo com a sua declaração de rendimentos, a favor, não só de instituições religiosas, mas também de pessoas coletivas de utilidade pública com fins de beneficência, de assistência ou humanitários ou a instituições particulares de solidariedade social (IPSS), indicadas na sua declaração de rendimentos. Saliente-se que não há um encargo adicional para quem exerça a opção de consignar esta quota do IRS a favor de uma instituição. Pelo contrário, é o Estado que prescinde de arrecadar essa receita. As pessoas coletivas de utilidade pública com fins de beneficência, de assistência ou humanitários e as IPSS interessadas em beneficiar desta consignação de rendimentos devem, junto da Autoridade Tributária, e até 31 de dezembro de cada ano: -Fazer prova da obtenção do reconhecimento, pelo membro do Governo da tutela, da prossecução dos fins relevantes acima referidos 3; -Requerer a aplicação deste benefício fiscal. Segundo consta da Proposta de Orçamento do Estado para 2013, prevê-se que as verbas do IRS que venham a ser consignadas às entidades do setor não lucrativo, devam ser transferidas para as entidades beneficiárias até ao dia 31 de março do ano seguinte ao da entrega da declaração de rendimentos, desde que esta seja entregue dentro do prazo legal4. Notamos que a Autoridade Tributária publicará, no seu portal da Internet, até ao primeiro dia de entrega das declarações de rendimentos de IRS (1 de março), a lista das entidades que estão em condições de beneficiar desta consignação. Esta é uma informação valiosa, quer para os contribuintes singulares que queiram realizar esta consignação, quer para as entidades do setor não lucrativo que assim poderão fazer a divulgação desta faculdade. Notamos ainda que o montante consignado e a entidade beneficiária serão identificados na demonstração de liquidação do IRS dos contribuintes que aderirem a esta opção. 1. Conceição Gamito é associada coordenadora da Área Fiscal da Vieira de Almeida & Associados – Sociedade de Advogados R.L. Frederico Antas é associado da Área Fiscal da Vieira de Almeida & Associados – Sociedade de Advogados R.L. Os autores podem ser contactados através dos seguintes endereços de e-mail: [email protected] e [email protected], respetivamente. 2. Lei n.º 16/2001, de 22 de junho, objeto de sucessivas alterações. 3. Em alternativa, poderão fazer prova do reconhecimento da isenção de IRC, com fundamento no exercício de atividade com os mesmos fins, nos termos do artigo 10.º do Código do IRC. 4. Salientamos que, sendo apresentado até 31 de dezembro de 2012, o pedido de consignação de IRS será respeitante à coleta do IRS de 2013, a liquidar em 2014, devendo a receita consignada ser entregue as instituições beneficiárias até 31 de março de 2015. Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 43 ARTIGO TÉCNICO A Sustentabilidade no aquecimento das habitações em Portugal Ciclo da Vida A Humanidade começa a despertar para a escassez de recursos e para a questão de utilizarmos os recursos de forma renovável e sustentável. Nas últimas décadas o mundo moderno esqueceu-se que os recursos são escassos. Abrimos a torneira e sai água, carregamos no interruptor e acende-se a luz, necessitamos de comida e temos um supermercado à porta. No entanto, a crescente pressão demográfica que continua a sentir-se no mundo inteiro e que levará a que os habitantes da terra cresçam nas próximas décadas até aos 9 mil milhões, irá tornar todos os recursos naturais cada vez mais caros e escassos. A Sustentabilidade vai ser o mote das Sociedades nos próximos anos, do ponto de vista económico, ambiental e social. O aquecimento das habitações não foge a esta regra e os principais combustíveis hoje utilizados em Portugal para este fim (gás, gasóleo e electricidade) têm preços crescentes e são na sua generalidade importados. As soluções de aquecimento a biomassa hoje existentes no mercado são uma excelente forma de aquecimento para o edificado das organizações do terceiro setor e poderão ser adoptadas quer como fonte principal ou complementar de outros sistemas. A proposta de aquecimento destas páginas é regressar aos “basics”, mas hoje de forma mais bonita, confortável, sustentável e integrada com os restantes sistemas de aquecimento de uma habitação. A boa notícia é que as soluções são fáceis e com claras vantagens para o País. "As soluções de aquecimento a biomassa hoje existentes no mercado são uma excelente forma de aquecimento para o edificado das organizações do terceiro setor " 44 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 Por Nuno Matos Sequeira, Diretor Geral, Solzaima – Soluções de Aquecimento a Biomassa O mercado doméstico de aquecimento tem estado relativamente estável nos últimos anos, sendo que a sua composição em termos de vendas tem tido grande variações, a saber, no último ano, 22% dos consumidores que compraram soluções de aquecimento para as suas casas escolheram soluções de aquecimento a biomassa. Em 2003 este número foi de apenas 8%, pelo que, podemos facilmente perceber que o consumidor está atento, cada vez mais informado nas escolhas que faz e tem vindo a alterar o seu padrão de comportamento. Quais as razões para o consumidor alterar de forma tão dramática as suas escolhas? Em primeiro lugar, o rationale económico dos restantes combustíveis tem vindo a alterar-se dramaticamente nos últimos 10 anos. Hoje é bastante mais caro aquecer uma casa a gás, gasóleo ou electricidade do que era há poucos anos e a pressão da população mundial nos próximos anos vai manter a tendência crescente nos combustíveis e nas principais matérias-primas. A lenha por seu lado, teve o seu preço estável ao longo deste período e é um combustível abundante em Portugal, pelo que se tornou comparativamente mais apetecível e mais económica ao longo do tempo (3x mais barato que o gás ou gasóleo). Em segundo, as opções para aquecer uma habitação a lenha, alteraram-se bastante neste período e é hoje possível ter soluções de aquecimento a biomassa com i) design, ii) confortáveis e automáticas do ponto de vista do utilizador (recarga de combustível e funcionamento com termóstato) e iii) que aquecem confortavelmente todo o sistema de aquecimento central da casa. Para além de que podemos ter soluções onde desfrutamos do conforto da visualização da chama na nossa sala ou, em alternativa, soluções para as áreas técnicas das habitações que não ficam à vista dos utilizadores. Em terceiro, o fator complementaridade é fundamental – se conetarmos um paínel solar térmico (hoje em dia obrigatório nas novas habitações) com um recuperador de aquecimento central a água, o que temos é uma solução perfeita, onde o solar aquece as águas sanitárias de Verão e de dia (quando tem capacidade para o fazer) e o recuperador a lenha aquece a casa de noite e de Inverno (quando por norma ligamos o aquecimento) e simultaneamente auxilia o aquecimento das águas sanitárias. Desta forma, as necessidades de aquecimento da casa e das águas sanitárias estarão satisfeitas com o combustível sol e lenha (ou biomassa). ARTIGO TÉCNICO "...os sistemas de aquecimento a biomassa (lenha), são ambientalmente neutros do ponto de vista do ciclo do carbono. " Em resumo, Portugal tem hoje uma oportunidade de tornar o aquecimento das suas casas sustentável, económico e independente das importações, como já o fazem países como a Finlândia, onde a área florestal é semelhante à nossa, mas onde a penetração destas soluções chega a 40% dos lares. Em Portugal esta penetração ronda os 6% da população, pelo que existe um caminho enorme a percorrer nesta área. O aquecimento a biomassa tem hoje fundamentalmente duas formas de combustível cuja distribuição é acessível em todo o território nacional e a que se consegue aceder com regularidade, a saber, lenha e pellets (pastilhas de resíduo florestal). A principal fonte de lenha são os cortes anuais necessários à boa gestão da floresta e à limpeza da área de floresta. Os pellets são pastilhas de lenha transformada, triturada e seca para garantir uma percentagem de humidade constante em todo o combustível e compactada em forma de granulado com dimensão standard. Obtemos desta forma um combustível normalizado que permite aumentar bastante a eficiência dos equipamentos de aquecimento a biomassa que utilizam os pellets. Portugal é hoje, apesar da nossa pequena dimensão territorial, o 5º maior produtor deste tipo de combustível na Europa, estando a exportar a maior parte da nossa biomassa para a produção de energia e aquecimento nos países do norte da Europa. Sustentabilidade no aquecimento das nossas casas é portanto aproveitar a Biomassa e o Sol, recursos abundantes em Portugal, que em conjunto podem tornar as habitações e o País autosustentáveis em termos de aquecimento doméstico. As energias renováveis estão cada vez mais na primeira linha do debate mundial sobre sustentabilidade ambiental. O desafio de utilizar os recursos do planeta de forma neutra poderá mudar para sempre a forma como vivemos e criamos energia. A biomassa é, por definição, a matéria orgânica usada como fonte de energia, da qual, a madeira é a mais abundante e com maior potencial de crescimento. Actualmente apenas utilizamos para fins energéticos cerca de 7% da biomassa produzida anualmente no planeta, sendo a sua forma mais comum a queima directa para aquecimento doméstico ou industrial. Apesar de algum desconhecimento geral, os sistemas de aquecimento a biomassa (lenha), são ambientalmente neutros do ponto de vista do ciclo do carbono. Senão vejamos, uma árvore quando morre e apodrece na floresta, liberta o CO2 (dióxido de carbono) que reteve durante toda a sua vida. Ao utilizarmos a biomassa como forma de aquecimento, libertamos exactamente a mesma quantidade de CO2. Em Portugal, cerca de 38% do território continental é ocupado por floresta, o que equivale a cerca de 3,3 milhões de hectares. Para uma gestão sustentada e saudável deste parque florestal, anualmente deverão ser efectuados cortes e limpezas, o que produzirá em Portugal, por si só, cerca de 2 milhões de toneladas de resíduos florestais. Na generalidade dos países europeus e em Portugal tem-se verificado um aumento considerável do material lenhoso, proveniente da produção florestal e do maior cuidado na gestão das florestas. Este acréscimo estima-se ser em média 40% superior ao consumo de lenha. As soluções de aquecimento a biomassa são desta forma um recurso ecologicamente responsável. Actualmente em Portugal existe já um considerável parque instalado de equipamentos de aquecimento doméstico a biomassa e, anualmente, instalam-se cerca de 50 mil novos equipamentos, o que significa que as vantagens desta solução são já conhecidas dos portugueses. Ao ser utilizada para aquecimento doméstico, os recuperadores e caldeiras de biomassa conseguem rendimentos superiores a 70% de eficiência, o que significa que 70% da energia contida na Biomassa é convertida em calor para o interior das habitações. É uma forma muito eficiente de utilizar a biomassa. Outra aplicação alternativa, e que tem vindo a ser utilizada com sucesso, são as centrais de biomassa para geração de energia, embora aqui os níveis de eficiência no aproveitamento da energia sejam da ordem dos 25%, o que as torna uma utilização menos eficiente para este recurso. A investigação é fulcral nesta área e fundamentalmente a melhoria dos equipamentos domésticos de aquecimento a biomassa depende de se conhecer e decompor todas as variáveis da queima da biomassa. Existe em Portugal e na Europa legislação de homologação dos produtos e os recuperadores de calor a biomassa estão considerados no Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética — Portugal Eficiência 2015. A generalidade dos países europeus (ex. Espanha, França ou Itália) já percebeu o potencial da biomassa doméstica e tem introduzido diversas medidas fiscais, semelhantes às dos painéis solares, e que visam incentivar a adopção destes equipamentos como complemento às restantes formas de produção de aquecimento doméstico. A biomassa é hoje, em Portugal e no mundo, uma revolução silenciosa. Uma mudança de paradigma em que cada um de nós pode contribuir discretamente. Um passo decisivo para melhorar o ciclo de vida do planeta e garantir um mundo mais sustentável para os nossos filhos. "A biomassa é hoje, em Portugal e no mundo, uma revolução silenciosa" Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 45 ARTIGO TÉCNICO Sem fins lucrativos. Custe o que custar. Como salvar as organizações sem fins lucrativos da hipocrisia e do falso moralismo. Por Valério Melandri Consultor, formador e professor de Fundraising, Universidade de Bolonha http://www.valeriomelandri.it/ Não me parece normal que um crítico de cinema depois de ver um filme lhe atribua cinco estrelas apenas com base nas "despesas gerais" que o estúdio tenha tido para realizar o filme. No entanto, é isso que está a acontecer no mundo das organizações sem fins lucrativos.1 76% dos italianos, antes de doar o dinheiro a uma organização sem fins lucrativos, pergunta: "Quanto do donativo vai para a causa e quanto vai ser alocado às despesas gerais da organização?”. Apenas 6% pergunta se a doação que fez teve um efeito positivo sobre a resolução do problema que a organização está a enfrentar.2 Assim, a maioria dos italianos faz uma má pergunta. Má, porque esconde o verdadeiro objetivo das organizações sem fins lucrativos, que não é gastar pouco, mas sim resolver problemas como a fome, a pobreza, doenças, a solidão de um idoso ou o sofrimento de uma criança. Se esta é uma pergunta má, porque é que continuamos a fazêla? E por que é que só colocamos esta questão? Porque fomos ensinados assim! Ensinamos os órgãos de supervisão3, que formam os meios de comunicação 4, que formam as organizações sem fins lucrativos, e estas continuam a dizer aos doadores que “as nossas despesas gerais são muito baixas”.5 Isso leva os doadores a pensar que manter as despesas gerais baixas é importante e é um sinal de boa gestão da organização, mas produz um ciclo vicioso. E dessa forma prejudica o setor sem fins lucrativos, porque menos sobrecarga significa menos investimento, e menos investimento significa menos crescimento. Em vez de transformar o pensamento do doador em relação às organizações sem fins lucrativos, temos de alterar profundamente tudo o que nos foi ensinado. Diz-se: todo o dinheiro recebido deve ser gasto com a causa e não com despesas da estrutura e menos ainda com a angariação de fundos. É antiético gastar dinheiro fora dos "projetos". Um euro retirado à causa é um euro a menos para uma pessoa pobre, para uma pessoa com deficiência, para um idoso em necessidade. Mas o que é mais ético: levar o euro e produzir serviços pelo valor de um euro, ou pegar nesse euro e investir para tentar procurar outro euro, e no final produzir cerca de 3 euros de serviço?6 Deve ser dada maior liberdade às organizações sem fins lucrativos para usarem o dinheiro, para que sejam capazes de recolher mais dinheiro e não percam a esperança de resolver pelo menos uma parte da enorme quantidade de problemas que têm de enfrentar. As organizações sem fins lucrativos já fazem um excelente trabalho com muito poucos recursos disponíveis e, por isso, precisam de mais liberdade para alcançar resultados ainda melhores. A Discriminação Muitos culpam o capitalismo (que é a distorção do conceito de mercado livre 7) de ter criado uma sociedade injusta. Talvez! Mas nem eles nem nós aceitamos que o setor sem fins lucrativos use os instrumentos do mercado livre (sem distorção) para corrigir essas injustiças. Aqui estão alguns exemplos de discriminação.8 1. A captação de capital para apoiar as organizações sem fins lucrativos É óbvio que o propósito do setor não lucrativo não é distribuir lucros, mas isto constitui um obstáculo para a captação do capital necessário para a realização de investimentos apropriados. Nas organizações sem fins lucrativos, não há mercado de ações para atrair capital e, assim, os volumes crescem com maior fadiga. E se os volumes não crescem, não há uma incidência crescente no tecido económico social: conta-se pouco. Giorgio La Pira, Presidente da Câmara de Florença, que muito tem feito pela disciplina constitucional italiana, e um dos percursores do "mundo sem fins lucrativos" italiano, disse: "alavancagem financeira, alavancagem económica, alavancagem jornalística: três alavancagens fundamentais na verdadeira construção social, política e cultural! Se não se tem estas alavancas, só se tem o poder – fraco – para discursar sobre o valor da pessoa humana "; uma razão para a situação. É preciso realismo e clareza para olhar para a realidade do poder económico e financeiro e decidir o relacionamento a ter com ele. 1. Dan Pallotta, Charity Case, Jossey Bass, 2012, San Francisco. 2. Sondaggio condotto da Philanthropy Centro Studi, Università di Bologna, 2010. 3. Linee Guida per il fundraising, Agenzia per il Terzo Settore, 2010 4. Uma longa análise de Il Sole 24 Ore, com curadoria de UnGuru, em 2006, foi o exemplo mais óbvio. 5. Em quase todas as cartas de angariação de fundos, é a explicação para o uso de recursos captados através da imagem simbólica da proporção de gastos por meio do "bolo", representada na maioria dos casos com uma moeda de um euro. 46 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 ARTIGO TÉCNICO Valério Melandri 2. Proibição do risco e visão de longo prazo No setor não lucrativo não há quase nenhuma hipótese de arriscar em iniciativas que possam gerar receita no futuro. Por outras palavras, nas organizações não lucrativas não existe a palavra "investimento", mas apenas a palavra "custo". Desde as pequenas lojas locais a empresas multinacionais de grande porte, todos sabem que os primeiros dois / três anos são para investir (ou seja, "gasta-se" mais do que o obtido9) para obter um resultado no futuro. Mas, se uma organização sem fins lucrativos não recebe imediatamente um superávit de pelo menos 65-70%, chegam os controlos da Repartição das Finanças; ou até mesmo se não se obtiver a relação de 30/70, isso significa que não se estão a respeitar as diretrizes da Agência para ONGs (tradução livre de Agenzia per le Onlus).10 Às vezes leva mesmo à investigação jornalística 11, bem ou mal, que ataca sem olhar para os resultados, mas apenas para a percentagem dos custos indiretos.12 3. Marketing e promoção As organizações sem fins lucrativos passarão imediatamente a estar "sob observação", se decidirem usar o marketing para divulgar a causa da mesma forma que as empresas. Ouvese logo: "Vejam como eles gastam o dinheiro". Mas se não se pode fazer publicidade à causa, como é possível fazer com que as pessoas entendam que precisamos de ajuda e, portanto, de angariar fundos? Aí, então, ouve-se: "A organização sem fins lucrativos só deve usar espaços livres e não deve gastar nada para promover-se. Todo o dinheiro deveria ser usado para projetos e não para a publicidade. " Mas assim perde-se o grande efeito multiplicador que a publicidade pode obter. Filhos de um Deus Menor É claro, portanto, que o setor não lucrativo está em enorme desvantagem em relação ao sector lucrativo, numa altura em que, como nunca, as organizações sem fins lucrativos precisam de recuperar o seu papel de liderança na sociedade. Mas enquanto as organizações sem fins lucrativos não se tornarem também sujeitos de produção, e não apenas um folheto, serão sempre um residual financeiro. "A caridade ajuda a sobreviver mas não a viver, porque viver é produzir e a caridade não ajuda a produzir", isto foi dito, pelos franciscanos há mais de 600 anos atrás. Esta frase é a condenação do paternalismo e assistencialismo, e de uma grande quantidade de organizações sem fins lucrativos de hoje, cheias de vínculos, quintas e questões pseudoéticas. Viver é produzir, viver é trabalhar. As organizações sem fins lucrativos não podem simplesmente ficar com o excedente dos que trabalham. As organizações sem fins lucrativos, devem, portanto tornarse "negócio", ou permanecerem resignados por falarem sobre o "bem comum" para um público que não as vê. 6. É amplamente reconhecido na literatura e, especialmente, pela prática, que a captação produz uma média de três vezes o que foi gasto. 7. Stefano Zamagni, Discorso di apertura al Master in Fundraising, 2007, Forlì 8. Dan Pallotta, Uncharitable, Tuft Press, Boston, 2006. 9. As minhas desculpas aos especialistas em economia empresarial, por simplificar deste modo. Trata-se apenas de evitar ao máximo em jargão académico que apesar da precisão dos conceitos, exclui da compreensão os leigos na matéria. 10. Como indicado nas diretrizes sobre Angariação de Fundos em maio de 2010 pela Agência para ONGs: São consideradas informações relevantes para efeitos de transparência no relatório sobre angariação de fundos, o seguinte: [...] 2. 3. 3. a indicação de que o rendimento total obtido da angariação efetuada durante o ano a que se refere o relatório, não inferior a 70% é dedicado aos objetivos das angariações, quer para o apoio de programas e atividades, quer para um projeto específico. 11. Stefano Zurlo, Il giornale, verão 2010. 12. Por exemplo, a Amazon pode atrasar até 6 anos fazer o primeiro balanço dos lucros, e toda a gente espera que aja exatamente assim. Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 47 AGENDA ANO EUROPEU DO CIDADÃO Data: Ano 2013 Local: Estados Membro da União Europeia Info: O próximo ano será o ano Europeu dos Cidadãos, tendo como objetivo geral sensibilizar e fomentar o conhecimento em relação aos direitos e responsabilidades à cidadania da União, a fim de permitir aos cidadãos fazer pelo uso do seu direito de circular e permanecer livremente no território dos Estados Membro. Mais uma vez, estão previstos diversos eventos, conferências e seminários, quer a nível regional, quer local, para promover e sensibilizar para este ano. CONFERÊNCIA EUROPEIA "Direito e Acesso à alimentação: que estratégia de apoio para a Europa de amanhã? Data: 18 e 19 de dezembro 2012 Local: Sede do Comité Económico e Social Europeu, Bruxelas Info: Integra diversas apresentações, workshops e debates pretendem responder à questão de como tornar a ajuda alimentar mais eficiente e moderna, de forma a poder combater melhor a pobreza e ser melhor adaptada aos desafios sociais, económicos e ambientais que as nossas sociedades enfrentam. CONFERÊNCIA “TIMOR-LESTE: OS DESAFIOS NA CONSTRUÇÃO DA PAZ, DEMOCRACIA E DESENVOLVIMENTO Data: 9 de janeiro 2013 Local: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Organização: Centro de Estudos Sociais (Universidade de Coimbra) Info: Com José Ramos Horta, uma figura central da história política timorense. SEMINÁRIO “O IMPACTO DA AUSTERIDADE NA POBREZA” Data: 18 de dezembro 2012, 9h00 Local: ISEG, Auditório da Caixa Geral de Depósitos, Lisboa Organização: EAPN Portugal Info: O evento tem como objetivo debater os efeitos da atual crise económica e o impacto das medidas de austeridade na pobreza. CONFERÊNCIA PORTUGAL ATIVO Data: 16 de dezembro 2012, 14h30 Local: Palácio da Bolsa, Porto Organização: Fundação Manuel António da Mota Info: A conferência dá o mote para um debate sobre o envelhecimento ativo, integrando a entrega do Prémio Manuel António da Mota, que este ano, sua 3ª edição, distingue entidades que se destaquem na promoção de um envelhecimento ativo e da solidariedade intergeracional. Pedro Mota Soares, Ministro da Solidariedade e Segurança Social é convidado a encerrar o encontro. 48 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 TEDx VIANA DO CASTELO – “FICA NO CORAÇÃO” Data: 19 de janeiro 2013 Local: Forte de Santiago da Barra, Viana do Castelo Organização: Host: Carlos Lourenço Info: Subordinado ao tema “Fica no Coração”, a ideia é mobilizar a energia dos participantes, por forma a estimular as veias criativa e empreendedora, para criar algo diferente e com valor, dedicando tempo e o esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes. RES AUTO iro a Ribe Oliveir a Liliana y R. Ferreir Lima Randd edroso de P a rid Marga iro a Ribe cessos es Oliveir m Pro uada e mas Familiar Liliana s-Grad te v i t i Pos ga. Pó ia do nos Sis Psicólo rapêuticos m Psicolog rce e Psicote P) e Mestre PCEUC). Exe rmelha e U (F ento (FPCE Cruz V rvenção te volvim as nal na Desen e profissio senvolve in itário. As su e n ad d id e m d iv n co u sicologia at uesa o texto p Portug gica em con cam-se na as idosas, e fo o psicoló e interesse o com pess social. d áreas , intervençã e inovação o positiva ndedorism e empre ail.com o@gm l: E-mai liveiraribeir lilianao o ibeir ira R a ima live ir de L na O erre Lilia dy R. F edroso d P Ran arida g Mar E D A ID itiv Pos IDA S IDOSA SSOAS E P M O CO VENÇÃ io INTER a, Prefác o tinvto Ae elhecim eir a Maudropeu do Eensv2012 in u q Joa eraçõ ano E ES DPE nal do ade Entre G Nacio d adora a Solidarie d e COM ÃO ENÇ SAS ERV IDO INT SOAS en Coord (...) “com base num trabalho empírico que pretende transformar os conhecimentos científicos mais recentes na área do envelhecimento e da promoção do bemira . Ferre estar psicológico,Ranu nddy Rma ferramenta prática, organizada sob a forma de Programa Positividade (...) esa. ortugu elha P ósP z Verm da Cru gia Clínica. cologia do o g s lo riança Psicó em Psicolo ção em Psi com C o: Mestre o em Avalia sicoterapia Psicológic P ad to , u n d to e en gra am te amen volvim m Trat Desen scentes e e nto empiric fissional e le e Ado s de tratam ividade pro de crianças, at ai manu os. Exerce a itário, junto teressan In validad texto comu s e idosos. ia, em o n em co entes, adult em psicolog avaliação e sc o, ão le çã o igaç ad como nce invest assim a à co se por lar associad rogramas, p particu entação de m imple rapia. psicote m hoo.co l: E-mai eira@ya y_ferr randd PVP 15 € 5 825- 20-2 ENCOMENDE JÁ! vo.com opositi 2825 892 0 _____________ Contactos: [email protected] m telef.: 222 085 009 5 PEDIDOS PARA: R. Gonçalo Cristóvão nº 185. 6º | 4049-012 Porto Tel 222 085 009 | Fax 222 085 010 | [email protected] (recortar ou fotocopiar) Nome Morada C. Postal E-mail r Solicito o envio de Nº Contribuinte exemplar(es) do livro Positividade - Intervenção com Pessoas Idosas. r Para o efeito envio cheque/vale nº r Junto envio cópia do comprovativo bancário no valor de€ , no valor de € , s/ o (NIB: 0036 0073 99100069316 21 – Montepio) r Solicito o envio à cobrança. (Acrescem € 4 para despesas de envio e cobrança). ASSINATURA , FOTOFILANTROPIA Texto: “Alice no País das Maravilhas”, Lewis Carroll CD: Pedro Lopes “- Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir a partir daqui?” - perguntou a Alice. “- Isso depende muito do sítio onde queres chegar.” – respondeu o gato. “- Preocupa-me pouco aonde ir …” “- Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas.” – replicou o gato. “- … desde que chegue a algum lado.” – completou a Alice 50 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012 o Quero assinar a Revista Impulso Positivo: Assinatura anual IP bimestral (6 edições/ano) Valor Assinatura Revista Impressa (inclui versão digital) 45,00 € Assinatura Digital 25,00 € Nome Instituição/Empresa Morada Código Postal E-Mail Cidade Telefone Fax Sobre o Banco o Junto anexo cheque com o nº no valor de € o Transferência Bancária Para o NIB: 0036 0073 99100069316 21 – Montepio (Anexar comprovativo bancário) o Sim, desejo receber mensalmente a IPNews no e-mail acima referido. Além disso, pretendo indicar mais pessoas para receberem gratuitamente a IPNews (opcional e não acresce qualquer encargo): Função E-Mail Nome Função E-Mail Recortar ou fotocopiar e enviar para: Rua Gonçalo Cristovão, 185 – 6º | 4049-012 Porto | Tel: 222 085 009 | Fax: 222 085 010 | E-Mail: [email protected] Novembro/Dezembro 2012 | impulso positivo n. 12| 51 # Nome Todos os valores incluem IVA à taxa legal em vigor NIF √ as od ad h! áb 23 a s às 2ª 8h na área da Grande Lisboa O Linhas sobre Rodas é um negócio social que existe apenas para dar resposta às necessidades de emprego detetadas na Mouraria. 52 | impulso positivo n.12 | Novembro/Dezembro 2012