contabilidade

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CONTABILIDADE
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Junho | Julho 2010
A INTEGRAÇÃO
CONTÁBIL COM
grI
Muito antes do lançamento da 3ª geração de indicadores da GRI
(Global Reporting Initiative), em 2006, a denominada GRI G3, nos já
defendíamos a integração entre informações econômico-financeiras
tradicionais e socioambientais, inclusive recomendando às empresas
que elencassem indicadores GRI presentes nas notas explicativas.
por ROBERTO GONZALEZ
Nestes primeiros meses de 2010, dois fatos interessantes relativos
a esse tema ocorreram. O primeiro foi durante a conferência do
Instituto Ethos, em que, num mesmo dia, foram debatidos o papel
dos relatos empresariais dentro das diretrizes da GRI e a relevância
do envolvimento dos contadores – em especial os auditores.
Também ocorreu um evento organizado pela TheMediaGroup, em
conjunto com a USP, visando um público diferente da conferência Ethos, em que foram debatidos a evolução contábil no Brasil
para o IFRS (International Financial Reporting Standards) e como
pode ser possível integrá-la aos indicadores GRI; esse evento contou
com a presença de Ernst Ligteringen, presidente da GRI e de dois
brasileiros com reconhecimento internacional na defesa do IFRS,
Nelson Carvalho e Eliseu Martins, além de outros intervenientes
(palestrantes). Também foram mostrados casos de como é possível
caminhar para integrar as demonstrações contábeis com os indicadores de sustentabilidade.
O segundo fato foi na Conferência da GRI, duas semanas depois,
na qual a principal questão debatida foi a integração dos rela-
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tos (contábil-financeiro e de sustentabilidade). Logo no início, foi
apresentado um vídeo com o depoimento do Príncipe Charles, da
Inglaterra, defendendo que a sustentabilidade deve chegar aos
relatos contábeis e a formação dos contadores tem que ser revista. Mervin King, presidente do conselho da GRI, também defendeu a reformulação da formação dos contadores.
Essas duas declarações me deixaram honrado, já que desde 2005
ministro aulas para futuros contadores na Trevisan Escola de Negócios, na disciplina “Governança e Sustentabilidade”, e sempre
ouvi de Antoninho Marmo Trevisan que o contador é estratégico
e tem que estar alinhado com a gestão de todas as áreas da empresa e deve ter um conhecimento plural, além do técnico. Por
isso, para mim, fica claro que a Trevisan é uma faculdade de visão
e não será surpresa nenhuma que os grandes contadores do futuro tenham sua formação básica na Trevisan.
Informação Não-Financeira
A contabilidade já lida com informações não-financeiras, afinal se
espera que uma nota explicativa, que é parte integrante das Demonstrações Contábeis, aborde ,por exemplo, a divulgação não
financeira de riscos financeiros da entidade, as correspondentes
políticas e os objetivos da administração. Geralmente, as notas explicativas iniciam-se com abordagem sobre as operações ou o contexto operacional e declaram o objetivo social da empresa, e este
objetivo deve manter coerência com o objeto social declarado no
estatuto social da empresa.
Exemplo de uma informação não-financeira retirada das Demonstrações Contabeis: “A participação de refis sobre os itens faturados
subiu de 17,4% para 19,8%, o que significa uma relevante redução
do impacto ambiental de nossos produtos, tendo em vista que a
média da massa de uma embalagem de refil é 54% menor que a
de uma embalagem de produto regular”. Esta, em particular, tem
um vínculo integral com a sustentabilidade. E mais cedo ou mais
tarde as informações não-financeiras acabam por impactar financeiramente a Entidade.
O CPC - Comitê de Pronunciamento Contábil
Foi comentado no evento IFRS & GRI realizado no Brasil que o
CPC, que emite os pronunciamentos contábeis no Brasil, não
tem no curto nem no médio prazo ideia de tratar este tema,
mas que é um órgão sensível à demanda do mercado. Por isso, se
nos organizarmos e demonstrarmos a relevância que as questões
socioambientais têm para que estejam presentes nas DCs, pode
ser que o CPC torne-se sensível ao tema, afinal o CPC já tratou
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sobre a DVA (Demonstração do Valor Adicionado), pois a Lei no
11.638/07 obrigou as empresas listadas em bolsa a publicarem
essa demonstração. O interessante é que ela não é exigida pelo
IFRS. Portanto, o Brasil mostra um grande avanço que poderá
ser seguido por outros países, afinal a DVA é importante à sustentabilidade, já que demonstra como a empresa gerou riqueza e
como ela a distribuiu. No caminho da integração entre contábil e
sustentável, a DVA torna-se uma demonstração imprescindível.
Outra questão importante e que pode finalmente acabar com as
publicações em julho dos relatórios de sustentabilidade é, que
caso exista um pronunciamento oriundo do CPC que trate sobre
indicadores de sustentabilidade e a CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) torne esse pronunciamento obrigatório, provavelmente os indicadores GRI terão o mesmo tratamento que as informações contábeis e poderemos ter um relato publicado em
final de janeiro, como ocorre em várias companhias no que se
refere às DCs.
Relatórios Integrados
Em um painel, foram apresentados alguns casos de relatório único. Ops, não é integrado? Bem, o que se almeja é a integração,
mas o que existe hoje em algumas empresas é um único documento, ou seja, um relatório único com informações econômicofinanceiras somadas a informações socioambientais. Não existem
relatórios construídos da forma que a produção da informação
contábil já leve em consideração a sustentabilidade e o pessoal
que produz a informação socioambiental leve em consideração o
impacto contábil-financeiro, ou seja, é necessário, primeiramente, existir a integração na gestão, que pode iniciar com a integração de equipes envolvidas na elaboração dos relatórios, para que
a empresa tenha, com isso, um relatório integrado. RI
ROBERTO GONZALEZ
é diretor de estratégia de sustentabilidade e
conteúdo da The Media Group - Comunicação
Financeira e de Sustentabilidade, membro
do conselho consultivo do Fundo Ethical da
Santander Asset Management, professor na
Trevisan Escola de Negócios, na Universidade
USCS, e professor convidado da FIA/USP.
[email protected]
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