levantamento de casos de cinomose canina na

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INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI
FACULDADES IDEAU
LEVANTAMENTO DE CASOS DE CINOMOSE CANINA NA REGIÃO NORTE
DO RIO GRANDE DO SUL
ARTUSO, Dienifer Teixeira
Discente no Curso de Medicina Veterinária- Nível VI
e-mail: [email protected]
FOLETTO, Robison
Discente no Curso de Medicina Veterinária- Nível VI
e-mail: [email protected]
FLORES, Sabrina Pavan
Discente no Curso de Medicina Veterinária- Nível VI
e-mail: [email protected]
KONIG, Fernanda
Discente no Curso de Medicina Veterinária- Nível VI
e-mail: [email protected]
PICCOLI, Vanusa Rodrigues
Discente no Curso de Medicina Veterinária- Nível VI
e-mail: [email protected]
ALMEIDA, Mauro Antônio de
Docente no Curso de Medicina Veterinária
[email protected]
OLIVEIRA, Daniela dos Santos
Docente no Curso de Medicina Veterinária
[email protected]
OLIVEIRA, Franciele de
Docente no Curso de Medicina Veterinária
[email protected]
FACCIN, Angela
Docente no Curso de Medicina Veterinária
[email protected]
GOTTLIEB, Juliana
Docente no Curso de Medicina Veterinária
[email protected]
MAHL, Deise Luiza
Docente no Curso de Medicina Veterinária
[email protected]
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ROSÉS, Thiago de Souza
Docente no Curso de Medicina Veterinária
[email protected]
RITTER, Felipe
Coordenador do Curso de Medicina Veterinária
[email protected]
RESUMO: A cinomose canina é uma patologia infectocontagiosa causada pelo vírus da cinomose canina
(VCC). Altamente letal e de característica multissistêmica, evolui em quatro fases, desencadeando sintomas
respiratórios, gastrointestinais, neurológicos e cutâneos. Este artigo tem o objetivo de identificar os cães
acometidos pela cinomose canina, nos últimos seis meses, nas clínicas veterinárias do Norte do estado do Rio
Grande do Sul. Para tanto, realizou-se uma pesquisa a partir de questionários aplicados a 23 clínicas e um
hospital veterinário, situados em diferentes municípios da referida região, durante os meses de setembro e
outubro de 2015. Os dados revelaram que, no período em questão, foram registrados 364 casos de cinomose
canina, distribuídos de forma bastante irregular entre os estabelecimentos pesquisados, conforme a técnica de
diagnóstico empregada em cada local. Dentre os sintomas mais frequentes observou-se uma maior frequência
dos neurológicos, seguidos pelos cutâneos, gastrointestinais, e respiratórios. Especificamente, os sintomas mais
referidos foram: mioclonia (88%), diarréia (82%), hiperqueratose dos coxins plantares e focinho (78%) e
secreção óculo-nasal mucopurulenta (72%). As técnicas diagnósticas mais utilizadas foram os sinais clínicos
(100%) complementados por hemograma com pesquisa de corpúsculos de Letz (75%) e testes rápidos, como o
TESTE de ELISA (75%). Já a forma de tratamento mais indicada foi a fluidoterapia associada a antibióticos
(84%). A relação fatalidades/casos verificada ficou em 60% e vitimou em sua maioria animais vacinados
incorretamente. Com isso, evidenciou-se que a vacinação correta e periódica é a principal forma de prevenção
contra a patologia pesquisada.
Palavras-chave: Cães; Doenças infecciosas; mioclonia.
ABSTRACT: Canine distemper is an infectious disease caused by canine distemper virus (CDV). Highly
lethal and multisystemic feature, evolves in four stages, triggering respiratory, gastrointestinal, neurological and
skin symptoms. This article aims to identify affected dogs by canine distemper in the last six months in the
northern veterinary clinics of the Rio Grande do Sul state. Therefore, we carried out a survey from
questionnaires given to 12 clinics and veterinary hospital located in three different municipalities in that region.
The data revealed that, in the universe and period in question, there were 364 cases of canine distemper,
distributed quite unevenly among the establishments surveyed, according to the diagnostic technique used at
each site. Among the most common symptoms we observed the prevalence of neurological, followed by
cutaneous, gastrointestinal, and respiratory. Specifically, the most commonly reported symptoms were
myoclonus (88%), diarrhea (82%), hyperkeratosis of foot pads and nose (78%) and nasal secretion-telescope
mucopurulent (72%). The most frequent diagnostic techniques were the clinical signs (100%) complemented by
hemogram with corpuscles search Letz (75 %) and rapid tests, such as ELISA (75%). Since the prevalent form of
the fluid treatment was associated with antibiotics (84%). The relationship fatalities / cases was checked at 60%
and mostly killed animals vaccinated incorrectly. With this, it became clear that the correct and regular
vaccination is the main way to prevent the researched pathology.
Keywords: dogs; Infectious diseases; myoclonus.
1 INTRODUÇÃO
A cinomose canina é uma patologia infectocontagiosa causada pelo morbillivirus da
família Paramyxoviridae espécie vírus da cinomose canina (VCC) (SWANGO, 1997,
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SHERDING, 1998). Com característica clínica aguda, subaguda e crônica, essa enfermidade
multissistêmica apresenta ocorrência mundial e sem sazonalidade, mas acomete
preferencialmente filhotes de carnívoros entre três e seis meses de idade (QUINN et al.,
2005).
O VCC é relativamente lábil, e sua transmissão ocorre principalmente por aerossóis e
gotículas contaminadas. Após o contato do vírus com o epitélio, ocorre a replicação viral nos
macrófagos e disseminação para o sistema respiratório, gástrico e nervoso, com características
sintomáticas específicas em cada sistema (QUINN et al., 2005, MANUAL Merck de
Veterenária, 2008). Dessa forma, é considerado um importante patógeno devido à sua alta
taxa de morbidade que varia de 25% a 75%. Por ter uma relação fatalidades/casos que varia
entre 50 e 90%, conforme a cepa do vírus, a cinomose canina tem a segunda maior
percentagem de fatalidades em cães, a qual é inferior somente à da raiva (SHELL, 1990,
APPEL; SUMMERS, 1995, SWANGO, 1997).
Os sinais clínicos dessa doença viral podem evoluir em quatro fases, com curso de
duração de 10 dias que pode se prolongar por meses. Na fase respiratória, observa-se tosse
seca ou produtiva, pneumonia, dificuldade respiratória, secreção nasal e ocular, febre (41 oC),
inflamação da faringe e dos brônquios e aumento das tonsilas (FENNER et al., 1993). Na fase
gastrointestinal, os sinais são vômito, diarreia eventualmente sanguinolenta, anorexia, febre, e
predisposição a infecções bacterianas secundárias (QUINN et al., 2005, ZANINI; SILVA,
2006). A terceira fase neurológica, os sinais variam consideravelmente; com manifestação de
convulsões e paralisia dos membros pélvicos, juntamente com sinais vestibulares, como ataxia
e nistagismo, e cerebelares, como tremores e hipermetria (SHELL,1990). A quarta e última
fase de manifestação da cinomose canina é a cutânea, caracterizada por dermatite com
pústulas abdominais, hiperqueratose nos coxins podais (doença dos coxins ásperos) e focinho,
hipoplasia de esmalte dentário, conjuntivite e lesões na retina (FENNER et al., 1993,
SHERDING, 1998; ZANINI; SILVA, 2006).
O tratamento para a infecção pelo vírus da cinomose é de suporte; não há
medicamentos antivirais de valor especifico, assim como o uso de agentes quimioterápicos ou
que sejam considerados bem-sucedidos na terapia da cinomose canina (SWANGO, 1997,
SHERDING, 1998, MANUAL..., 2008). Ainda assim, costuma-se administrar antibióticos de
amplo espectro nas infecções bacterianas secundárias do trato gastrointestinal e do sistema
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respiratório. Para o controle dos ataques convulsivos, são indicados anticonvulsivantes, como
fenobarbital, quando necessário (SHERDING, 1998).
Já a administração de vacina de vírus da cinomose modificado por via endovenosa
(EV) apresenta valor terapêutico (SWANGO, 1997; SHERDING, 1998), mas não possui
efeito quando os sinais clínicos neurológicos tenham iniciado.
Diante da complexidade clínica e da alta letalidade da doença, o presente trabalho tem
como objetivo identificar os cães acometidos pela cinomose canina, por meio de históricos e
protocolos de tratamento datados dos últimos seis meses, nas clínicas veterinárias da região
Norte do Estado do Rio Grande do Sul.
2 MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada a partir de dados obtidos por meio de questionários aplicados
a médicos veterinário de 23 clínicas e de um hospital veterinário, situados em diferentes
municípios do norte gaúcho, entre os meses de setembro e outubro 2015. As perguntas
referiam-se ao número de casos de cinomose canina atendidos em cada estabelecimento nos
últimos seis meses e versavam sobre a forma de diagnóstico e o tratamento adotados em cada
um; o histórico de vacinação e os sintomas apresentados pelos animais; bem como quantos
deles vieram a óbito. Eram elas: Quantos casos de cinomose foram atendidos no período do
mês de maio a outubro de 2015? Quais os principais sinais clínicos que os animais chegaram
apresentando? Como se encontrava o protocolo de vacinação dos animais atendidos? Quais os
exames realizados para confirmar ou descartar a suspeita de cinomose canina? Quais
procedimentos e tratamento farmacológico utilizados? Dos animais atendidos com a
patologia, quantos vieram a óbito?
Por dificuldades inerentes ao trabalho de pesquisa, apenas 12 das 23 clínicas
(representadas por letras de “A” a “L”, de acordo com a ordem progressiva de visitação), além
do hospital veterinário (identificado pelas iniciais “HV” e separado dos demais
estabelecimentos por conta de sua natureza hospitalar), responderam à solicitação de
preenchimento dos questionários. Nenhum dos estabelecimentos, no entanto, permitiu o
acesso dos pesquisadores às fichas e históricos dos pacientes. Assim, a investigação apresenta
limitações quantitativas e qualitativas, visto que tanto o universo pesquisado precisou ser
forçosamente reduzido quanto alguns dados não foram possíveis de serem coletados; caso da
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idade dos animais atendidos, por exemplo. Tal condição, porém, não comprometeu a
cientificidade nem a validade do trabalho.
3 RESULTADOS E ANÁLISE
Os dados apontaram que, no universo e período em questão, foram registrados 364
casos de cinomose canina, distribuídos de forma bastante irregular entre os 13
estabelecimentos pesquisados, conforme apresentado na Figura 1.
Figura 1: Distribuição dos casos de cinomose canina entre os estabelecimentos pesquisados.
Enquanto 23,1% (3/13) das clínicas não registraram nenhum caso da patologia nos
últimos seis meses (D, H e K), outros 23,1% (3/13) atenderam juntos a 236 animais com o
diagnóstico em questão no mesmo período. Nos 53,8% (7/13) de estabelecimentos restantes,
incluindo o Hospital Veterinário, o número de atendimentos variou entre quatro e 42 casos,
somando 128.
A divisão percentual entre os dois grupos de estabelecimentos que registraram casos
da doença é demonstrada na Figura 2.
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Figura 2: Divisão percentual dos casos de cinomose canina entre os estabelecimentos com atendimentos à
doença.
Enquanto apenas três clínicas (F, I e J) concentraram 65% dos casos da doença, os
35% restantes ficaram divididos entre outras seis mais o Hospital Veterinário (A, B, C, E, G,
L e HV). Também entre estes últimos observou-se grande variação, que pode ser constatada
na Figura 3.
Figura 3: Distribuição dos casos de cinomose canina entre estabelecimentos com até 50 ocorrências da doença.
Nesse grupo, as clínicas que mais atenderam a casos de cinomose canina (C e G)
receberam uma quantidade similar de cães com este diagnóstico, respectivamente, 38 e 42.
Com relação à terceira colocada (E), o número caiu pela metade (_ 19). Já a quarta clínica em
número de atendimentos (B) recebeu 15 animais contaminados pelo VCC, três vezes mais que
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o registrado por dois outros estabelecimentos (A e L) (_ 5). O menor número de atendimentos
foi realizado pelo hospital veterinário (HV), com apenas quatro casos.
A variação foi menor entre o grupo que concentrou o maior pencentual de casos da
enfermidade, mas também se mostrou considerável. Os dados constam da Figura 4.
Figura 4: Distribuição dos casos de cinomose canina entre estabelecimentos com mais de 50 ocorrências da
doença.
Entre esses estabelecimentos, as duas clínicas com maior número de casos (I e F)
contabilizaram 96 e 83 atendimentos, respectivamente; a terceira (J) atendeu a 57 casos da
doença.
Como a cinomose canina apresenta ocorrência mundial, sem sazonalidade (QUINN et
al., 2005), e sua incidência varia consideravelmente segundo o local e a técnica de diagnóstico
(SANTOS, 2008), acredita-se que a variação no número de casos da doença atendidos tenha
relação com a quantidade total de atendimentos de cada estabelecimento pesquisado no
período; ou ainda que obedeça ao acaso.
Porém, como um dos fatores que pode contribuir para desencadear a cinomose canina
é a ausência ou falha de vacinação, a pesquisa investigou a situação vacinal dos animais
infectados pelo VCC, conforme exposto na Figura 5.
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Figura 5: Situação vacinal dos animais com diagnóstico de cinomose canina pesquisados.
Em 95% desses casos (347/364), os protocolos de vacinação dos animais não estavam
em dia. Apenas 5% dos animais (17/364) apresentavam, portanto, o protocolo de vacinação
em conformidade. Do total de casos, 17% (62/364) não haviam sido vacinados contra o VCC;
e 14% (50/364) estavam com o reforço em atraso.
As evidências corroboram com o que preconiza a teoria sobre a importância da
vacinação correta contra o VCC, considerada o principal método de prevenção dessa
patologia (VIANNA & TEIXEIRA, 2014). De acordo com a literatura, a cinomose acomete
cães de qualquer idade, raça e sexo, mas tem maior predileção por indivíduos não vacinados
(FENNER, 2004). A associação de ausência de vacinação, exposição de filhotes não
vacinados ao vírus após a perda da imunidade materna, infecção intrauterina se a mãe não for
vacinada, e concentração insuficiente de anticorpos maternos transmitida aos filhotes
(GREENE & APPEL 2006; TILLER; SMITH JR., 2008) é um dos principais fatores
desencadeantes da patologia. Da mesma forma, sinaliza uma maior incidência da doença entre
animais jovens, de três a seis meses de idade (NORRIS et al., 2006; SILVA et al., 2007).
Esta condição parece agravada pelo fato de que a revacinação periódica é um
procedimento ainda pouco frequente entre proprietários de cães no Brasil (SILVA et al,
2009). Diferentemente, em países onde a vacinação da população canina é regular, a
frequência da doença clínica tem diminuído substancialmente, sendo relatados apenas focos
esporádicos (MARTELLA et al., 2008).
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Quanto aos sintomas apresentados pelos animais, em 87,6¨% dos casos (319/364),
foram observados sinais das quatro fases de evolução da doença, a saber: respiratória,
gastrointestinal, nervosa, e cutânea, respectivamente (CRIVELLENTI, 2012; FENNER et al.,
1993; GREENE & APPEL 2006).
Conforme referido na literatura, observou-se que a cinomose canina apresenta uma
fase inicial com sintomas inespecíficos, como apatia, anorexia e ocasionalmente febre;
evoluindo com alterações respiratórias, gastrointestinais e nervosas. Esses sinais, por sua vez,
podem ocorrer em sequência ou simultaneamente e também ser encontrados em outras
coinfecções causadas pela imunossupressão do vírus da cinomose, como na coccidiose
(ETTINGER & FELDMAN 1997, SWANGO 1997).
Os sintomas de origem respiratória não foram observados em 0,55% dos casos
(2/364), sendo estes ocorridos no Hospital Veterinário e representando metade dos casos da
doença atendidos naquele local. Apesar de tais sintomas serem característicos da fase inicial
da doença, não foi possível inferir se que os referidos casos encontravam-se em estágio
avançado de evolução; obedeceram a condições de acessibilidade; o responderam a outro
critério.
Os sintomas respiratórios prevalentes entre os animais atendidos são apresentados na
figura 6.
Figura 6: Sintomas respiratórios prevalentes entre os animais pesquisados.
Dentre eles, destacam-se: secreção óculo-nasal mucopurulenta, presente em 72% dos
casos (262/362); tosse, observada em 65% (237/362); dispnéia, evidenciada em 54% dos
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animais atendidos (198/362); e ruídos pulmonares, apresentados por 15% (54/362). Outros
9% das respostas (34/362) fizeram referência genérica a “sintomas respiratórios”, sem
especificá-los.
A ocorrência de pneumonia secundária, por imunoincompetência, não foi citada pelos
profissionais, mas, através dos sintomas de secreção mucopurulenta, se trata a patologia,
descrita como comum (SILVA et al., 2005).
Já os sintomas gastrintestinais mostrarem-se ausentes em 0,02% (1/364) dos casos de
cinomose canina. Novamente, essa ocorrência foi atendida pelo hospital veterinário. Porém,
não foi possível determinar a causa da relação entre o local de assistência e a evolução dos
sintomas, se por questões de acessibilidade, gravidade, ou outras.
Já os sintomas gastrointestinais mais citados pelos entrevistados podem ser observados
na Figura 7.
Figura 7: Sintomas gastrointestinais prevalentes entre os animais pesquisados.
Observa-se que, pela ordem, os sintomais referidos foram: diarréia, vômito, anorexia,
e desidratação, comuns, respectivamente, a 82% (297/363), 63% (228/363), 44 % (159/363) e
16% (59/363) dos casos. Analogamente aos sintomas da fase respiratória, 5% dos
questionários (19/363) mencionaram “sintomas gastrointestinais”, sem mais especificações.
Conforme Baumann (1999), as diarreias, quando intensas e persistentes, como observado,
mostraram-se grandes responsáveis pelo estado de debilidade dos animais pesquisados.
A prevalência de sintomas nervosos assinalada por Summers et al., (1995) e Rosenfeld
(2009) pôde ser constatada na prática, visto que, em 100% dos casos (364/364), os animais
atendidos apresentavam algum tipo de comprometimento neurológico. O mesmo se aplica aos
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sintomas cutâneos, presentes na totalidade de casos e indicativos da quarta e última fase de
evolução da patologia (SHERDING, 1998; NELSON & COUTO, 1998).
A Figura 8 demonstra os percentuais dos sintomas neurológicos que mais acometeram
os animais atendidos.
Figura 8: Sintomas neurológicos prevalentes entre os animais pesquisados.
Presentes em todos os casos, os sintomas neurológicos mais referidos foram:
mioclonia, 88% (323/364); convulsão, 50% (182/364); paresia dos membros posteiores, 16%
(59/364) e ataxia, 12% (43/364). Relatou-se apenas 0,3% de animal com cegueira (1/364),
mesmo índice de estado de choque. O percentual de casos descritos genericamente como de
sintomas “nervosos” ou “neurológicos” alcançou 9,9% (34/364).
Outro ponto de concordância entre referencial teórico e achados empíricos diz respeito
à mioclonia, que apareceu como a manifestação neurológica clássica da infecção pelo VCC
(KOUTINAS et al., 2004).
Por fim, os sintomas de ordem cutânea que se mostraram mais prevalentes constam da
Figura 9.
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Figura 9: Sintomas cutâneos prevalentes entre os animais pesquisados.
Dentre tais sintomas, observa-se: hiperqueratose dos coxins plantares e focinho,
presente em 78% dos casos (284/364); e pústulas abdominais, com 57,5% de ocorrências
(209/364); O índice de sintomas descritos como “dermatológicos” manteve-se em 9,3%
(34/364). Confirmou-se a alta incidência de hiperqueratose dos coxins e focinho, a qual, por
sua recorrência, faz com que a cinomose canina seja popularmente conhecida como “doença
dos coxins ásperos” (MANUAL Merck de Veterenária, 2008).
Tiller e Smith Jr (2008). Naturalmente, nem todos os sintomas descritos pelos autores
foram observados na pesquisa de campo. Porém, a sintomatologia constante dos questionários
encontrou-se inteiramente suportada pela teoria (ETTINGER; FELDMAN, 2014).
O diagnóstico da infecção pelo vírus da cinomose é geralmente fundamentado nos
sinais clínicos (GERBARA et al., 2004). Em observância a essa condição, anamnese, sinais
clínicos e exames físicos foram formas de diagnóstico adotadas em 100% dos casos
(364/364). Contudo, como a coexistência de várias outras doenças infecciosas torna difícil o
diagnóstico, diferentes técnicas têm sido utilizadas como diagnóstico complementar da
cinomose (SHELL, 1990), conforme demonstra a Figura 10.
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Figura 10: Técnicas de diagnóstico mais utilizadas pelos entrevistados.
Nesse contexto, as técnica auxiliares mais prevalentes na presente pesquisa foram,
empatadas tecnicamente, o teste rápido (ELISA) e o hemograma com pesquisa dos
corpúsculos de Lentz, utilizados em 75% dos diagnósticos. Enquanto isso, a radiografia de
tórax foi realizada em 10,5% dos diagnósticos (38/364). O PCR (técnica de reação em cadeia
de polimerase), a mais eficiente hoje para o diagnóstico da cinomose, perfez 2,2% dos casos
(8/364). O índice poderia ter sido maior se, pelo menos, 5% dos proprietários (19/34) de cães
não tivessem se negado a custeá-lo em virtude do alto preço do mesmo, conforme respostas
dadas ao questionário. Em menos de 0, 03% (1/364) dos casos, o respondente afirmou que
não lançou mão de técnicas auxiliares ao exame clínico em virtude do óbito prematuro do
animal.
No que tange ao diagnóstico, a pesquisa apresentou dados que divergem da literatura
em alguns aspectos. Se, por um lado, o hemograma e a radiografia, auxiliares no
diagnóstico de 85,5% dos casos (310/364), não possibilitam a realização do diagnóstico
diferencial conclusivo da infecção pelo vírus da cinomose em cães (APPEL & SUMMERS,
1999), essa confirmação pode ser obtida de forma precisa pela identificação de corpúsculos
de inclusão, que podem ser observados nos epitélios do estômago, pelve renal, bexiga,
conjuntiva, coxins digitais, e em células do sistema nervoso central. Por meio deles, a
presença do vírus da cinomose canina pode ser atestada em células associadas à exsudato,
em células epiteliais e em neutrófilos (GREENE, 1998). Contudo, para Batista et al., (2000)
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e Alleman et al., (1992), a presença de corpúsculos de inclusão em cães com cinomose é
pouco frequente. Logo, a ausência dos mesmos não exclui a infecção pelo VCC.
Da mesma forma, a recorrência do uso do teste rápido ELISA nas clínicas pesquisadas,
apesar de este ser rápido e de baixo custo, não se justifica plenamente pelo aporte teórico.
Para muitos autores, esse método sorológico apresenta um valor diagnóstico limitado, já que
animais acometidos pela cinomose canina podem ou não apresentar títulos mensuráveis de
anticorpos (APPEL & SUMMERS, 1999). Além disso, não se trata de uma técnica praticada
facilmente na clínica de pequenos animais, especialmente porque os títulos não aparecem na
fase aguda (HARRUS; BARK; WANER, 1997) da enfermidade.
Apesar de estar sendo empregada com sucesso em diferentes tipos de amostras
biológicas provenientes de cães com sinais clínicos sistêmicos e neurológicos (SHIN et al.,
1995; SILVA et al., 2005) e de apresentar taxas de sensibilidade e de especificidade elevadas,
o método de diagnóstico ante mortem PCR foi usado por apenas 2,2% dos estabelecimentos
visitados. Uma das razões para tanto, além do alto preço do exame para o proprietário do
animal, pode ser a grande ocorrência de resultados falso-negativos que podem ser
apresentados por essa técnica, da qual se destacam o método de extração do ácido nucleico e a
seleção do material biológico a ser utilizado para o diagnóstico (NEGRÃO et al. 2006).
Ainda de acordo com a análise dos questionários, os estabelecimentos pesquisados
desenvolveramm uma variada gama de tratamentos para a cinomose canina, conforme exposto
na Figura 11.
Figura 11: Terapias mais realizadas pelos entrevistados.
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Dentre esses tratamentos, o mais comum mostrou ser a administração de antibióticos,
imunoestimulantes,
analgésicos,
e
de
medicamentos
para
sintomas
respiratórios,
gastrointestinais, e neurológicos, aplicada a 100% dos casos (364/364); seguido pela
fluidoterapia, utilizada em 84% dos animais tratados (307/364).
A limpeza de secreções com soro fisiológico foi realizada em 64% dos atendimentos; o
isolamento do animal, praticado em 59% dos casos (214/364); o uso de ribavarina, citado em
31% das respostas (114/364); a nutrição parental, utilizada com 28% dos animais (101/364); e
a acupuntura, relatada em 10,5% dos questionários (38/364). As afirmações de que o
tratamento varia de acordo com cada caso somaram 9,3% (34/364). Não foram relados casos
de eutanásia.
Os dados corroboram a inexistência de um tratamento bem definido para a cinomose
canina, indicando-se a terapia de suporte baseada na utilização de fluidoterapia, para
estabilizar o déficit hidroeletrolítico de ácido-base (CRIVELLENTI, 2012), e também na
administração de vitaminas e antibióticos de amplo espectro (ETTINGER & FELDMAN,
2014), para combater as coinfecções. Contudo, o emprego da ribavirina, comum no
tratamento de hepatite viral humana (GRACI & CAMERON 2006), em espécies caninas
contaminadas pelo VCC, conforme observado nesta pesquisa, é referido por muitos autores.
Segundo Elia et al., (2007), a ribavirina provoca mutações no vírus da cinomose
canina, acarretando erros catastróficos no genoma do RNA viral, pois interferiria com a RNA
polimerase por competição com os nucleósidos naturais, produzindo erro na terminação da
cadeia do vírus. Dessa forma, o antiviral apresenta fortes efeitos inibitórios sobre a replicação
do VCC, conforme resultados preliminares.
De acordo com Mangia (2008), a utilização da substância em cães naturalmente
infectados apresentando sinais de doença neurológica foi eficaz no tratamento, no contexto da
melhoria clínica, com 70% dos animais tratados com ribavirina e 80% dos cães tratados com
ribavirina associada ao (Dimetil sulfóxido) DMSO (MANGIA 2008).
Um estudo conduzido por Scagliarini et al., (2006) demonstrou que os maiores efeitos
inibitórios sobre o crescimento viral ocorram com 40 e 20 ug / ml 24 horas após a infecção,
enquanto que, após 48 e 72 horas pós-infecção, apenas 40 ug / ml foi capaz de inibir a
replicação viral por 1 log em comparação com o controle não tratado. É importante ressaltar,
porém, que a ação da ribavirina parece não surtir substanciais efeitos diretos no vírus quando
este já se encontra disseminado no SNC (VIANA &TEIXEIRA, 2015).
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Por sua vez, a acupuntura, também mencionada pelos respondentes, vem sendo
empregada no tratamento da cinomose com o objetivo de estimular os pontos cutâneos
locais específicos, visando a promover um equilíbrio do organismo e a recuperação do
paciente com encefalite e paralisia dos membros após a regressão dos sintomas agudos
(MATTHIESEN, 2004). Ainda que não praticada pelos entrevistados, a eutanásia é
recomendada quando o animal apresenta sinais neurológicos progressivos graves e
incapacitantes (SHERDING, 1998, ZANINI & SILVA, 2006).
A relação fatalidades/casos verificada na presente pesquisa foi alta como sugere a
literatura. A informação é apresentada na Figura 12.
Figura 12: Relação fatalidades/casos entre os animais pesquisados.
O percentual de 60% (219/364) está de acordo com o estimado pelos pressupostos
teóricos, o qual varia entre 50% e 90% (SHELL, 1990, APPEL & SUMMERS, 1995,
SWANGO, 1997).
Isoladamente, a clínica com maior média de letalidade registrou 80% de óbitos; já
aquela que apresentou o menor percentual de mortes de animais com cinomose canina
contabilizou 32%. Nos demais estabelecimentos pesquisados esse índice foi de 60% em
média. A menor letalidade ocorreu na clínica que registrou o maior percentual de animais com
a vacinação em dia. Os dados reforçam, assim, a importância da correta prática vacinal.
4 CONCLUSÃO
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Com a presente pesquisa, é possível concluir que a frequência dos casos de cinomose
canina varia consideravelmente segundo o local e a técnica de diagnóstico, mas que, na
maioria dos casos, o curso de evolução da patologia obedece a quatro fases distintas,
caracterizadas pela preponderância de sintomas respiratórios, gastrointestinais, neurológicos,
e cutâneos. Os dois últimos tipos destes são os mais prevalentes na Região do estudo, sendo
observados em 100% dos casos.
Além disso, o presente estudo mostrou que secreção óculo-nasal mucopurulenta,
diarreia, mioclonia, e hieperqueratose dos coxins plantares e focinho representam os sintomas
mais comuns em cada fase, respectivamente, entre os animais analisados. No que se refere ao
diagnóstico da infecção pelo vírus da cinomose, a conduta mais comum entre os
estabelecimentos pesquisados é a observação de sinais clínicos complementada por
hemograma com pesquisa de corpúsculos de Lentz e testes rápidos, como o ELISA, aplicada a
75% dos casos de cinomose canina.
Como não há um tratamento bem definido para a cinomose canina, a terapia é de
suporte. Nesse sentido, as práticas que apareceram com maior destaque nesta pesquisa foram
a fluidoterapia e a administração de antibióticos, presentes em 84% e 100% dos tratamentos
realizados, respectivamente. Observou-se ainda que a ribavirina desponta, preliminarmente,
como um antiviral eficaz na inibição da replicação do VCC de acordo com relatos dos
profissionais entrevistados.
Por limitações inerentes a esta investigação, não foi possível estabelecer se há uma
faixa etária preferencial para a infecção pelo referido vírus. Porém, a pesquisa aponta que a
vacinação correta e periódica é a principal forma de prevenção contra essa doença, cuja
relação fatalidades/casos na presente pesquisa foi de 60%, concordando com o citado pela
literatura.
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