PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE ACIDENTES COM INSTRUMENTOS PERFUROCORTANTES ENTRE ALUNOS DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM1 Daniel Félix Santos2 (UFPA) Alexandra Keila Pantoja Oliveira3 (Pref. M. de Ananindeua) RESUMO: Exposição acidental com instrumento perfurocortante é o acidente ocupacional mais comum envolvendo profissionais da área de saúde. No processo de ensinoaprendizagem, os alunos dos cursos de enfermagem se expõem aos mesmos riscos que os trabalhadores. Este trabalho teve por objetivo traçar o perfil epidemiológico dos acidentes com instrumentos perfurocortantes entre acadêmicos de graduação em enfermagem da Universidade do Estado do Pará. Os objetivos específicos são: verificar a incidência de acidentes ocorridos com instrumentos perfurocortantes; identificar em qual ambiente ocorre o maior número de acidentes perfurocortantes; identificar quais medidas pós-acidente são adotadas com maior frequência pelos alunos. Foi realizado um estudo ecológico com abordagem quantitativa de caráter retrospectivo. A amostra teve como critério de inclusão selecionar apenas estudantes que realizavam atividades que os colocavam em risco de sofrer acidentes desta natureza. Sendo admitido o valor de 6% (0,06) para o erro amostral tolerável, e 223 para o tamanho da população, chegamos ao tamanho ideal da amostra, que foi de 123 alunos. Os dados foram coletados através da aplicação de questionário padronizado, composto por perguntas fechadas. Do total, 12,20% afirmaram já ter sofrido algum tipo de acidente perfurocortante, sendo que 60% ocorreram no turno vespertino. A maior incidência foi em alunos da 4ª série (66,67%). A agulha foi o material causador do evento em 80% dos casos; e em 26,67% do total, o material estava contaminado por sangue. Três acidentes ocorreram em Unidade de Terapia Intensiva ou bloco cirúrgico (20%); outros três ocorreram em setores de emergência (20%); dois acidentes aconteceram em enfermarias (13,34%); sete casos aconteceram em outros setores de atendimento (46,66%). Trinta e nove por cento dos alunos informou saber adotar medidas pós-acidente; sendo que lavar o local da lesão com água e sabão foi a conduta mais adotada (53%). Nenhum dos 15 acidentados notificou o evento por meio da emissão da comunicação de acidente de trabalho. Ao fim da pesquisa, e após análise reflexiva dos dados, vemos que a educação conscientizadora assume relevância em qualquer programa de biossegurança, por meio de estratégias participativas e motivacionais, capaz de criar nos estudantes, e futuros profissionais, não só a responsabilidade social, mas, principalmente a consciência de que podem atuar de forma a preservar o meio ambiente, a melhorar a qualidade de vida e a proteger a própria vida. PALAVRAS-CHAVE: Acidentes perfurocortantes. Estudantes. Enfermagem. 1 Artigo recebido em 29/05/2015 e aprovado em 07/09/2015. 2 Enfermeiro, com especialização em enfermagem do trabalho e mestrando em biologia de agentes infecciosos e parasitários. Experiência profissional em Educação em Saúde, Vigilância em Saúde, Atenção Primária a Saúde e Atenção Hospitalar. 3 Enfermeira, especialista em Unidade de Terapia Intensiva Adulto e Neonatal. Atuante na atenção básica a saúde. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 5 SANTOS, Daniel Félix; OLIVEIRA, Alexandra Keila Pantoja ABSTRACT: Accidental exposure to sharps instrument is the most common occupational accidents involving health professionals. In the process of teaching and learning, students of nursing courses are exposed to the same risks the workers. This study aimed to trace the epidemiological profile of accidents with sharp instruments among undergraduate nursing students in the Pará State University The specific objectives are: Check the incidence of accidents with sharp instruments; Identify what environment is the highest number of needlestick injuries; Identify which post-accident measures are adopted more often by students. It was conducted an ecological study with a quantitative approach of retrospective. The sample had as inclusion criteria to select only students who performed activities that put them at risk of accidents of this nature. Being admitted to the value of 6% (0.06) for the tolerable sampling error, and 223 for the size of the population, we reach the ideal sample size, which was 123 students. Data were collected through the application of a standardized questionnaire with closed questions. Of the total, 12.20% said they had suffered some kind of needlestick accident, 60% occurred on the afternoon shift. The highest incidence was in 4th grade students (66.67%). The needle was the causative material event in 80% of cases; and 26.67% of the material was contaminated with blood. Three accidents occurred in the intensive care unit or operating room (20%); other three occurred in emergency departments (20%); two accidents happened in wards (13.34%); seven cases happened in other service sectors (46.66%). Thirty-nine percent of the students reported knowing adopt post-accident measures; and to wash the injured area with soap and water was the most adopted conduct (53%). None of the 15 casualties reported the event by issuing the communication of a work accident. At the end of the search, and after reflective analysis of the data, we see that awareness education is relevant in any biosecurity program, through participative and motivational strategies, able to create in students, and professionals, not only social responsibility but, mainly the knowledge that can act to protect the environment, improve the quality of life and protect life itself. Keywords: Needlestick injuries. Students. Nursing. 1 INTRODUÇÃO Por ser uma atividade eminentemente social, o trabalho exerce um papel fundamental nas condições de vida do homem. Produz efeito positivo, quando é capaz de satisfazer as necessidades básicas de subsistência, de criação e de colaboração dos trabalhadores. Por outro lado, ao realizá-lo, o homem expõe-se constantemente aos riscos presentes no ambiente laboral, os quais podem interferir diretamente em sua condição de saúde (Bulhões, 1994). Estudos em diferentes países têm demonstrado que a maioria dos acidentes com profissionais de saúde está relacionada com objetos perfurocortantes, e podem provocar a morte, perda ou redução da capacidade para o trabalho. A maioria dos acidentes envolve a equipe de enfermagem, porém médicos, funcionários de laboratório e da limpeza também se acidentam (Ciorlia & Zanetta, 2004). Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 6 Perfil epidemiológico de acidentes com instrumentos perfurocortantes entre alunos de graduação em enfermagem Nestes acidentes, mais de 20 tipos diferentes de patógenos podem ser transmitidos por meio de exposições acidentais, sendo que o vírus da hepatite B (HBV), o vírus da hepatite C (HCV) e o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) são os agentes infecciosos de maior importância devido à gravidade das doenças correspondentes (CDC, 1988). Dados do Sistema de Notificação de Acidentes Biológicos (SINABIO), do ano de 2007, apontam que dos 14.096 acidentes com material biológico, registrados no período de janeiro de 1999 a setembro de 2006, apenas 1.067 (7,6%) ocorreram entre estudantes. O objetivo geral do trabalho é traçar o perfil epidemiológico dos acidentes com instrumentos perfurocortantes entre acadêmicos de graduação em Enfermagem da UEPA. Os objetivos específicos são: verificar junto aos alunos da UEPA a incidência de acidentes ocorridos com instrumentos perfurocortantes; identificar em qual ambiente ocorre o maior número de acidentes perfurocortantes; identificar quais medidas pós-acidente são adotadas com maior frequência pelos alunos. No processo de ensino-aprendizagem, os alunos dos cursos de enfermagem que realizam suas atividades práticas em instituições de saúde se expõem aos mesmos riscos que os trabalhadores da enfermagem. No tocante aos riscos biológicos, os estudantes aparecem como a quarta categoria que mais registrou acidentes com material biológico, entre 2000 e 2006, no Estado de São Paulo, totalizando 1069 acidentes (São Paulo, 2007). Os estudantes de enfermagem desenvolvem as habilidades necessárias para o cuidado de pacientes lidando com objetos cortantes e perfurantes, bem como fluídos corporais, o que frequentemente os expõem a riscos biológicos. Além disso, realizam grande variedade de atividades de ensino-aprendizagem, em diferentes períodos de tempo e locais. Falta de experiência e ansiedade podem contribuir para a ocorrência de acidentes. Estar constantemente em situações de aprendizado, supervisão e avaliação favorece o aumento da ansiedade e estresse (Reis, Gir & Canini, 2004). Alguns estudos nacionais e internacionais que abordaram a temática dos acidentes com MBPC entre estudantes de enfermagem chegaram a conclusões semelhantes: acidentes desta natureza acometem alunos em campo de ensino, portanto, torna-se necessário investigação das diversas realidades, implementação de vigilância e medidas preventivas por parte de instituições de ensino e saúde, bem como a estruturação de um programa de educação em biossegurança, para que se estabeleça um ambiente de práticas seguras (Talas, 2009). Na região norte do Brasil, em especial no Estado do Pará, ainda são escassos os estudos dessa natureza. Logo, o interesse na temática está fundamentado na preocupação da Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 7 SANTOS, Daniel Félix; OLIVEIRA, Alexandra Keila Pantoja ocorrência de acidentes com instrumentos perfurocortantes, envolvendo estudantes do curso de graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Pará. E com isso surgem questionamentos frequentes, porém pouco investigados pela comunidade acadêmica, tais como: qual o número de acidentes com perfurocortantes ocorridos entre os alunos de graduação da UEPA? Em qual ambiente ocorreu o maior número de acidentes perfurocortantes? Quais medidas pós acidente são adotadas com maior frequência pelos estudantes? Este trabalho se caracteriza como um estudo ecológico com abordagem quantitativa de caráter retrospectivo, e está estruturado didaticamente de forma a exibir os dados coletados, em forma de tabelas. A análise e discussão dos resultados obtidos foram realizadas comparando-os com estudos da mesma natureza descritos na literatura nacional e internacional. 2 EPIDEMIOLOGIA DE ACIDENTES PERFUROCORTANTES De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), anualmente ocorrem aproximadamente 3 milhões de exposições percutâneas entre os 35 milhões de profissionais da saúde de todo o mundo. Estima-se que esses acidentes resultem em 15 mil infecções pelo vírus da hepatite C (VHC), 70 mil pelo vírus da hepatite B (VHB) e 500 pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Entre as categorias profissionais mais susceptíveis estão, entre outros, os profissionais de Enfermagem, de hemodiálise, de endoscopia digestiva, de análises clínicas, cirurgiões e dentistas. O índice de acidentes dessa natureza é alto no mundo inteiro. Nos Estados Unidos, por exemplo, ocorrem 800 mil acidentes envolvendo agulha por ano. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, acontecem, em média, 4 exposições percutâneas por trabalhador por ano nas populações da África, leste do Mediterrâneo e Ásia. Já os dados brasileiros sobre a incidência desses acidentes são incertos, especialmente devido à subnotificação e à falta de acompanhamento do profissional acidentado (Wilburn et al., 2004). O acidente ocupacional tem um risco de contaminação pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) de 0,3% em acidentes percutâneos, enquanto que o risco de contaminação pelo vírus da hepatite B, após exposições desta natureza, varia entre 37 e 62%, quando o pacientefonte apresenta o antígeno HbsAg, e entre 23 e 37%, caso o paciente-fonte não possua o antígeno citado, pois a sua presença reflete uma maior quantidade de antígeno circulante. Já o Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 8 Perfil epidemiológico de acidentes com instrumentos perfurocortantes entre alunos de graduação em enfermagem risco de infecção pelo vírus da hepatite C varia entre 0 e 7% após acidentes com materiais perfurocortantes (BRASIL, 2006). As principais atividades ou situações geradoras do acidente com material perfurocortante são: manuseio constante de agulhas e instrumentos de punção venosa para a administração de medicamentos e soroterapia, descarte de materiais em local inadequado e em recipiente impróprio, ser atingido casualmente por outro trabalhador e o reencape de agulhas (CANINI et al., 2002). Exposições acidentais com instrumento perfurocortante contendo material biológico é o acidente ocupacional mais comum envolvendo profissionais da área de saúde. O risco de o profissional acidentado adquirir uma infecção por meio dessas exposições depende de diversos fatores, como: extensão da lesão, volume de fluído biológico presente, das condições sistêmicas do profissional, das características dos microorganismos presentes e das condições clínicas do paciente-fonte, bem como das condutas realizadas após a exposição (Brasil, 2000). Estudos mostram que ocorrem de uma a quatro soroconversões positivas por HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) a cada 1.000 punções acidentais. A contaminação de trabalhadores da saúde por vírus da Hepatite B é, porém, bastante alta, devido à sua alta capacidade infectante (risco médio de infecção de cerca de 3%). Por vírus da Hepatite C é um pouco mais baixa, estando em cerca de 1,8% (Jarne, 1990). Trabalhos indicam que 1 em cada 270 profissionais da área de saúde é contaminado pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) em acidentes de trabalho (TORRES E LISBOA, 1999). O setor hospitalar de maior risco de ocorrência desses acidentes são os centros cirúrgicos, devido a maior presença de sangue e outros fluidos corpóreos (Queiroz, 1998). No entanto, nem todos os trabalhos concordam com estes dados, mostrando outros setores como de maior risco como, por exemplo, as enfermarias e a central de materiais (CARDO, 1997; SANTOS et al., 1989). Segundo Shimizu e Ribeiro (2002), os auxiliares de enfermagem são os profissionais que mais sofrem acidentes de trabalho, já que assumem a assistência direta aos pacientes e realizam procedimentos que os expõem ao risco de acidentes, como por exemplo, preparo e administração de medicação, coleta de sangue, punção venosa e realização de glicemia capilar. Além disso, o número de auxiliares de enfermagem é bastante reduzido, o que aumenta a chance de acidentes de trabalho, devido à necessidade de realizarem tarefas com rapidez. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 9 SANTOS, Daniel Félix; OLIVEIRA, Alexandra Keila Pantoja Oliveira (1982) aponta que na área hospitalar acidentes dessa forma são frequentes entre os funcionários enquadrados em menores faixas salariais, como serviçais e atendentes de enfermagem, que possuem menos conhecimentos e qualificação e executam várias atividades de risco. Apesar de os hospitais serem entidades que visam a assistência, o tratamento e a cura de pessoas acometidas por estas doenças, eles também podem ser responsáveis pelo adoecimento daqueles que ali trabalham, como por exemplo, a equipe de enfermagem, que se constitui na maior força de trabalho nas instituições de saúde. A crescente preocupação com a transmissão de doenças infectocontagiosas através de acidentes com materiais perfurocortantes e fluidos corpóreos fez com que sistemas de vigilância epidemiológica fossem criados na maioria dos hospitais (Queiroz, 1998), principalmente após a expedição, pelo Ministério da Saúde em junho/ 83, da portaria n° 930, estabelecendo que todos os hospitais do Brasil deveriam manter uma comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH) (Cardo, 1997). Além disso a criação, pelo Ministério do Trabalho, das normas regulamentadoras (NR’s) números 4, 6 e 7, obrigou todas as instituições privadas ou públicas, que empregassem trabalhadores regidos pela consolidação das leis do trabalho, à criação de um serviço especializado de segurança e medicina do trabalho (SESMT), fornecimento de equipamento de proteção individual (EPI) e a realização de um programa de controle médico de saúde ocupacional (PCMSO) (CARDO, 1997; SCHNEIDER, 1994). No Brasil, essa preocupação se materializou com a Norma Regulamentadora 32 (NR32), que estabeleceu algumas diretrizes básicas para auxiliar na implementação das medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, incluindo também os trabalhadores que atuam na promoção e assistência à saúde em geral. Entre as ações previstas nessa Norma podem-se destacar a adoção de EPIs, higienização das mãos, vacinação contra hepatite B, tétano e difteria, entre outras. Além disso, a partir de 2010, a Portaria n. 939 estabeleceu que as empresas devem substituir os materiais perfurocortantes por outros, com dispositivo de segurança (Silva et al., 2010). 3 ACIDENTE OCUPACIONAL NO ESTÁGIO: ALGUNS ASPECTOS LEGAIS O estágio no curso de enfermagem pode ser de dois tipos: primeiro, obrigatório, mais conhecido como curricular ou supervisionado, com o estudante sendo acompanhado por um professor; segundo, não obrigatório, opcional ou extracurricular, de natureza complementar, sendo o acompanhamento realizado por um enfermeiro que trabalha na unidade de saúde onde o estágio é realizado (PAIVA; MARTINS, 2011). Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 10 Perfil epidemiológico de acidentes com instrumentos perfurocortantes entre alunos de graduação em enfermagem Os estágios supervisionados são componentes curriculares obrigatórios, cujo processo de ensino-aprendizagem fundamenta-se na experiência prática do exercício profissional, e são definidos nos termos do artigo 2º do Decreto nº 87. 497 de 18/08/1982, como as atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadas ao estudante pela participação em situações reais de vida e trabalho, realizadas em organizações de direito público ou privado sob a responsabilidade e coordenação da instituição de ensino (BRASIL, 1982). A Constituição Federal, em seu artigo 200, inciso III, atribui ao SUS a função de ordenar a formação em saúde e, consequentemente, fomentar práticas de ensino que contemplem as necessidades da população (BRASIL, 1988). A Lei 8080 (BRASIL, 1990) atribui ao SUS o papel de ordenador da formação de profissionais para o setor. Contudo, não há definições claras a respeito do perfil profissional necessário e adequado ao Sistema, nem estão disponíveis os meios e recursos necessários para concretização dessa finalidade. A NOB-RH (Norma Operacional Básica – Recursos Humanos) aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde destaca que, cabe ao gestor federal do SUS ordenar a formação dos trabalhadores para o setor saúde, juntamente com o Ministério da Educação, cabendo a este último criar mecanismos para o desenvolvimento de estágios obrigatórios na rede de serviços do SUS (BRASIL, 2005). De acordo com a Resolução nº 225/97 do Conselho Nacional de Saúde, o SUS tem o dever de contribuir com a formação de profissionais para a saúde, certamente um dos desafios do sistema e responsável em grande parte pelo êxito, ou não, na sua implementação (BRASIL, 2004). A aprovação e homologação das diretrizes curriculares para o curso de enfermagem, em outubro de 2001, parecer nº CNE/CES 1.133/2001, implicou em modificações expressivas no currículo e práticas de formação do enfermeiro, passando a incorporar o conceito de saúde e os princípios e diretrizes do SUS (TAVARES, 2002). O Conselho Nacional de Educação (CNE, 2001) salienta que na formação do Enfermeiro, além de conteúdos teóricos e práticos desenvolvidos ao longo de sua formação, ficam os cursos obrigados a incluir no currículo o estágio supervisionado em hospitais gerais e especializados, ambulatórios, rede básica de serviços de saúde e comunidades, nos dois últimos semestres do Curso de Graduação em Enfermagem, sendo que o processo de supervisão dos acadêmicos no estágio deve ser realizado por professores supervisores Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 11 SANTOS, Daniel Félix; OLIVEIRA, Alexandra Keila Pantoja enfermeiros, além da inclusão dos profissionais que atuam nas instituições onde o estágio é desenvolvido. “A carga horária mínima do estágio curricular supervisionado deverá totalizar 20% (vinte por cento) da carga horária total do Curso de Graduação em Enfermagem proposto...” (CNE, 2001). Em 2002 o Ministério da Saúde cria a Assessoria de Relações com o Movimento Estudantil e Associações Científico-Profissionais da Saúde, objetivando aproximar estudantes do desenvolvimento de projetos que visam estabelecer uma política de educação para futuros profissionais do SUS. Surgem diversas propostas de vivência, entre elas a Vivência e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS), que teve como versão piloto a vivência no Estado do Rio Grande do Sul, sendo posteriormente ampliada para outros estados brasileiros. Foi inserido na política de Educação para o Sistema Único de Saúde (EducarSUS) concebida pelo Ministério da Saúde com a finalidade de discutir e objetivar uma formação de qualidade para o SUS, capacitar profissionais de saúde, estimular a mudança curricular na graduação e especialização dos cursos da área da saúde, bem como a educação popular em saúde, utilizando práticas inovadoras de educação na área da saúde (BRASIL, 2004). No dia 26 de setembro de 2008, entrou em vigência a nova Lei de Estágio – Lei 11.788/08 – introduzindo novas regras para as contratações de estagiários e importantes avanços no campo das relações de trabalho. Ela estipula que as normas trabalhistas que visam a tutelar a saúde, a segurança e a higiene do trabalho devem ser aplicadas ao estagiário. Dessa maneira, aplica-se ao estagiário a legislação relacionada à saúde e segurança no trabalho, sendo sua implementação de responsabilidade da parte concedente do estágio. Assim, são obrigatórios os exames médicos admissional, periódico e demissional, na mesma forma que os realizados pelos empregados efetivos, devendo contratar em favor do estagiário seguro contra acidentes pessoais. O estagiário deve receber, ainda, equipamentos de proteção individual (BRASIL, 2008). Em 13 de maio de 2009, a Universidade do Estado do Pará aprovou a Resolução nº1969, que trata das Normas Gerais Orientadoras Referentes aos Estágios Curriculares na instituição. Estabelece, no artigo 13, inciso IV, que compete ao núcleo de estágios dos centros providenciar seguro de acidentes pessoais em favor do estagiário, junto ao órgão competente na universidade. O inciso VII do artigo 15, diz que compete ao coordenador de estágio do curso manter-se informado quanto ao seguro contra acidentes pessoais em favor do estudante. Já o artigo 36, em seu inciso III, refere que o termo de compromisso de estágio a ser celebrado entre o discente e o órgão concedente, com interveniência obrigatória da UEPA, Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 12 Perfil epidemiológico de acidentes com instrumentos perfurocortantes entre alunos de graduação em enfermagem deve conter, entre os requisitos mínimos, o nome da companhia seguradora e número da apólice de seguro contra acidentes pessoais (CONSUN, 2009). 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 TIPO DE ESTUDO Para a realização do trabalho, optou-se por um estudo descritivo com abordagem quantitativa de caráter retrospectivo, pois os fatos ou fenômenos (variáveis) foram observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem que os pesquisadores tenham interferido neles ou os manipulados. Para Minayo e Sanches (1993 apud TEIXEIRA, 2001), a pesquisa quantitativa utiliza a linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno e as relações entre variáveis. Este tipo de pesquisa tem como objetivo fundamental a descrição das características de determinada população ou fenômeno. Ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis, isto é, aquelas que visam estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, estado de saúde física e mental, e outros. Procura descobrir, com a máxima precisão possível, a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com os outros, sua natureza e características, além de possibilitar a geração de índices que podem ser comparados ao longo do tempo, permitindo traçar um histórico da informação. (RUDIO, 2004) 4.2 LOCAL DO ESTUDO O local de estudo foi a Escola de Enfermagem Magalhães Barata da Universidade do Estado do Pará, localizada na Avenida José Bonifácio, bairro do Guamá, cidade de Belém/PA. 4.3 POPULAÇÃO A população deste estudo foi composta por discentes das 3ª, 4ª e 5ª séries do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Pará – Campus IV. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 13 SANTOS, Daniel Félix; OLIVEIRA, Alexandra Keila Pantoja 4.4 AMOSTRA Foram selecionados, para compor a amostra, apenas estudantes que realizavam atividades que os colocavam em risco de sofrer acidentes com instrumentos perfurocortantes, ou seja, estudantes que já atuavam no campo prático do ensino de enfermagem. Assim, foram colhidos dados de estudantes que estejam matriculados nas 3ª, 4ª e 5ª séries, pois nestas séries, atividades práticas são desenvolvidas tanto em ambientes hospitalares como em ambulatoriais. Os discentes das 1ª e 2ª séries foram excluídos da pesquisa por ainda não realizarem, com frequência, procedimentos com instrumentos perfurocortantes. Dados obtidos junto à própria instituição informaram que se encontravam 223 alunos matriculados nas 3ª, 4ª e 5ª séries do curso de Graduação de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará. Segundo Bolfarini e Bussab (1994), para o cálculo da amostragem simples é necessário utilizar a fórmula para cálculo de amostras para populações finitas, já que a população em questão não ultrapassa 100.000 elementos. A fórmula é a seguinte: onde: = primeira aproximação do tamanho da amostra. = erro amostral tolerável. = tamanho da amostra. = tamanho da população. Os mesmos autores, acima, citam que o erro amostral tolerável deve permanecer entre 5% (0,05) e 6% (0,06). Assim, ao admitirmos o valor de 6% (0,06) para o erro amostral tolerável, e 223 para o tamanho da população, chegamos ao tamanho ideal da amostra, que foi de 123 alunos, sendo grande o suficiente para permitir uma conclusão significativa. Esses discentes foram selecionados de forma aleatória simples, pois assim foi garantido que todos os componentes do universo tivessem as mesmas oportunidades de compor a amostra. 4.5 INSTRUMENTOS Para a coleta de dados foi utilizado um questionário padronizado, composto por perguntas fechadas, contendo dados de identificação e questões de acordo com a ocorrência Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 14 Perfil epidemiológico de acidentes com instrumentos perfurocortantes entre alunos de graduação em enfermagem de acidentes relacionados à sua atividade acadêmica, bem como sobre a conduta adotada em caso de haver ocorrido algum acidente. Dentre os benefícios da aplicação do questionário fechado, destacam-se: rapidez e facilidade de resposta; maior uniformidade, rapidez e simplificação na análise das respostas; também facilita a categorização das respostas para posterior análise; e permite contextualizar melhor a questão (DESHAIES, 1992). 4.6 CUIDADOS ÉTICOS A pesquisa foi realizada após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Pará, sob o registro de número 0041.0.321.000-10. E de acordo com a resolução 466, de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que dispõe sobre as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, contemplando os princípios de autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO O estudo contou com a participação de 123 (cento e vinte e três) alunos do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Magalhães Barata – UEPA campus IV, que concordaram em fazer parte da pesquisa, assinando o termo de consentimento livre e esclarecido, após a devida explicação dos objetivos. Trata-se de uma amostra de cento e três (83,74%) estudantes do sexo feminino, dezoito (14,63%) do sexo masculino e dois (1,63%) não informaram o sexo. Desse total de alunos, quarenta e dois (34,15%) se encontram matriculados na 3ª série do curso, quarenta e sete (38,21%) na 4ª série, e trinta e quatro (27,64%) na 5ª série. Com relação ao turno de atividades acadêmicas, 44,71% estudam no período matutino, 53,66%, no vespertino, e 1,63% não informaram. Quanto à ocorrência de acidentes com instrumentos perfurocortantes, 12,20% afirmaram já ter sofrido algum tipo de acidente desta natureza, enquanto 87,80% disseram não ter sofrido nenhum acidente deste tipo. E ao serem questionados se saberiam adotar medidas imediatas frente a um acidente ocorrido, 39,02% disseram que saberiam e 60,98% relataram não saber qual medida adotar, como está exposto na TABELA 1. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 15 SANTOS, Daniel Félix; OLIVEIRA, Alexandra Keila Pantoja TABELA 1 – Detecção dos acidentes com material perfurocortante entre estudantes de enfermagem. Belém-PA, 2013. (N=123) Fonte: dados coletados pelo autor. Série Variáveis Total 3ª Série (n=42) 4ª Série (n=47) f f % 5ª Série (n=34) % f % f % 4 8,51 43 91,49 - 5 27 2 14,71 79,41 5,88 18 103 2 14,63 83,74 1,63 11 21 2 32,35 61,77 5,88 55 66 2 44,71 53,66 1,63 Sexo Masculino Feminino Não informou 9 33 - 21,43 78,57 - Turno de estudo Matutino Vespertino Não informou 21 21 - 50,00 50,00 - Acidente Sofreu acidente Não sofreu acidente 1 41 2,38 97,62 10 37 21,28 78,72 4 30 11,76 88,24 15 108 12,20 87,80 Conduta imediata após acidente Saberia adotar Não saberia adotar 16 26 38,10 61,90 15 32 31,92 68,08 17 17 50,00 50,00 48 75 39,02 60,98 23 48,94 24 51,06 - Na pesquisa realizada foi possível constatar que 87% (13/15) da população exposta ao acidente, pertence ao sexo feminino, e que 13% (2/15) pertence ao sexo masculino. Portanto, nota-se que a grande maioria dos acidentes perfurocortantes ocorreu em estudantes do sexo feminino. Corroborando com os dados encontrados sobre o sexo dos entrevistados, pesquisas mostram que apenas 5,6% dos enfermeiros no Brasil são do sexo masculino. Portanto, a enfermagem é exercida basicamente por mulheres, que assumem dupla jornada de trabalho decorrente de serviços domésticos e familiares, sem descanso e/ou férias. Essas premissas favorecem uma maior incidência de acidentes de trabalho entre o pessoal de enfermagem (Giomo et al., 2009). O acidente com material perfurocortante teve uma maior incidência entre aqueles que estão cursando a 4º série do curso, totalizando dez casos (66,67%); logo após, os alunos da 5ª série aparecem com a segunda maior incidência, perfazendo quatro casos (26,67%); e por último encontram-se os alunos da 3ª série, que totalizaram um caso (6,66%) dos acidentes identificados entre os graduandos. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 16 Perfil epidemiológico de acidentes com instrumentos perfurocortantes entre alunos de graduação em enfermagem Pesquisa realizada no Brasil identificou que o maior número de acidentes com material biológico ocorreu com alunos que estavam cursando o quarto ano do curso de enfermagem. Os autores afirmaram que nesse período a carga horária de atividades de ensino-aprendizagem é maior que nos outros anos (Canalli et al., 2011). Houve acidentes perfurocortantes tanto no período vespertino (60%), como no período matutino (40%). Esse dado se contrapõe aos dados registrados no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Londrina, que mostram que o turno de maior ocorrência desses eventos foi o da manhã, das 7h às 12h (46,4%), seguido pelo da tarde, das 12h às 17h59 (34,6%), confirmando os achados anteriores que demonstraram a maior ocorrência de acidentes nesse período do dia, no qual é administrado o maior número de medicações e realizado o maior número de procedimentos (Spagnuolo et al., 2008). Esta pesquisa detectou que a grande maioria dos acidentes teve a agulha como material envolvido, sendo que doze alunos (80%) a apontaram como causadora do acidente perfurocortante. Dois alunos (13,34%) não informaram que material provocou a lesão, e um discente (6,66%) disse ter sido uma lâmina a causadora da lesão. Nenhum aluno (0%) referiu o vidro como agente causador de lesão. Este resultado é semelhante ao encontrado em estudo em que a perfuração por agulha foi o mecanismo e o material mais relatado, totalizando 74,4%, e somente 3,9% das agulhas tinham dispositivos de segurança no momento do acidente (Dalarosa, 2007). Sete (46,66%) dos quinze acidentes detectados, não envolveu nenhum tipo de fluido e/ou sangue. Em quatro acidentes (26,67%) o material perfurocortante estava contaminado por sangue. Portanto o sangue foi, nesse estudo, o material biológico mais frequentemente envolvido nos acidentes. Dois estudantes relataram ter sofrido o acidente com o perfurocortante contaminado por outro tipo de fluido corporal, sendo que um envolvia sangue (6,67%) e outro não o envolvia (6,67%). Em dois casos (13,33%) os estudantes não souberam informar o tipo de fluido contido no material perfurocortante. Percentuais inferiores a estes, foram encontrados entre alunos de enfermagem de uma universidade brasileira, com índice de 9,6% de acidentes envolvendo material biológico potencialmente contaminado (Reis, Gir & Canini, 2004). Este estudo constatou que três acidentes ocorreram em UTI ou bloco cirúrgico (20%); outros três ocorreram em setores de emergência (20%); dois acidentes aconteceram em enfermarias (13,34%); sete casos aconteceram em outros setores de atendimento (46,66%); e nenhum caso foi registrado em laboratórios. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 17 SANTOS, Daniel Félix; OLIVEIRA, Alexandra Keila Pantoja Na maioria das pesquisas, a UTI é o local em que aconteceu grande parte dos acidentes, de acordo com Lopes (2001). Dados parecidos com os desta pesquisa, em que 20% do total de acidentes identificados ocorreram nas UTI ou bloco cirúrgico, fato explicado por ser uma área crítica do hospital em que se realizam muitos procedimentos invasivos. No entanto outros trabalhos mostraram que o setor de maior ocorrência são as enfermarias (Cardo, 1997). A maioria dos pesquisados lavou o local da lesão utilizando água e sabão (53%). Dois alunos (13%) informaram ter utilizado o antisséptico para limpar o local atingido; um (7%) não informou a conduta adotada; quatro (27%) disseram não ter adotado conduta nenhuma; e quatro (26%) informaram ter realizado sorologia para HIV. Nenhum dos 15 acidentados notificou o evento por meio da emissão da comunicação de acidente de trabalho (CAT). Isso significa que a maioria dos acidentados, por desconhecimento ou negligência, ignorou o acompanhamento médico e a realização imediata de exames laboratoriais, incluindo-se o paciente-fonte. Além disso, reforça um aspecto extremamente preocupante, que é a subnotificação do acidente de trabalho, reafirmando ainda outros aspectos negativos dessa falha no que se refere ao enfoque pessoal e legal do acidente, a qual só tem repercussões em momentos futuros, provável motivo de no momento da ocorrência do acidente a notificação ser fortemente ignorada, como se verifica não só no presente estudo, mas também nos de diversos autores, variando de 49 a 91,9% das situações (Reis et al., 2004). Neste contexto, é importante lembrar que os acidentes ocupacionais envolvendo alunos não são computados por estatísticas oficiais e que esta situação não prevê o preenchimento da CAT. A cobertura de assistência à saúde destinada aos estudantes depende da instituição a qual estes pertencem. Algumas instituições de ensino superior providenciam um seguro de vida visando à cobertura de eventos que, porventura, possam ocorrer durante o período de estágio curricular (Murofuse et al., 2005). 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os estudantes de enfermagem são inseridos nas atividades de sua futura categoria profissional, e desempenham suas atividades de ensino também se expondo aos riscos biológicos. No entanto, as publicações nacionais e internacionais que abordam a exposição de alunos de graduação em enfermagem a acidentes com instrumentos perfurocortantes durante o período de estágio curricular são escassas, o que poderia estar mascarando a real situação epidemiológica destes eventos. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 3, n.5, p. 5-22, jul./dez., 2014 | | 18 Perfil epidemiológico de acidentes com instrumentos perfurocortantes entre alunos de graduação em enfermagem É fundamental que docentes e supervisores de estágios mantenham maior acompanhamento e proximidade com os acadêmicos nos campos de prática, os orientem e sensibilizem quanto a adesão às precauções-padrão durante a assistência direta a pacientes, com vista à prevenção do acidente, e da notificação deste, sobretudo para o conhecimento das recomendações de atendimento e acompanhamento de exposição ocupacional a material biológico, além de tratar de uma norma internacional, exigida legalmente em nosso país. Neste estudo, foi possível identificar os acidentes perfurocortantes envolvendo exposição a material biológico potencialmente contaminado, ocorridos entre estudantes de enfermagem de uma instituição pública do município de Belém, quanto à frequência, turno de atividade, série em curso, setor onde ocorreu o acidente, tipo de material biológico envolvido e condutas dos alunos após os acidentes. Estes achados poderão auxiliar no desenvolvimento de programas educacionais direcionados para estudantes de enfermagem e na instituição de políticas de prevenção de acidentes e acompanhamento de casos nesta população. Assim, considera-se que especial atenção deve ser dada à formação dos profissionais da enfermagem quanto ao tema prevenção de acidentes, para que no futuro eles possam atuar de maneira segura e compatível com a promoção da saúde pessoal e dos clientes sob os seus cuidados. Sugere-se ainda a reflexão sobre a necessidade de inserir na grade curricular um momento específico para a abordagem das práticas seguras de controle de infecção e biossegurança, porquanto ficou claro que o conhecimento sobre esse tema, referido neste estudo, foi adquirido de forma fragmentada, não alcançando os objetivos de uma formação sólida, capaz de minimizar os riscos de acidentes durante a assistência. REFERÊNCIAS BOLFARINE, H. BUSSAB, W. O. Elementos de amostragem. In: SINAPE – Simpósio Internacional de Probabilidade e Estatística, 11. Belo Horizonte: 24 a 29 de julho de 1994. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução nº 3 de 7 de Novembro de 2001 . Institui diretrizes curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Coleção de Leis da República Federativa do Brasil, Brasília, DF. 2001. BRASIL. Decreto n. 87.497 de 18/08/1982. Regulamenta a Lei nº 6.494, de 07 de dezembro de 1977. 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