Crise: conceitos, histórico e indicadores Crise: conceitos, histórico e indicadores Índice Escrito por Luciana Brafman, jornalista, bacharel em economia e professora. ALGUNS CONCEITOS .....................................................4 AFINAL, O QUE É UMA CRISE.......................................... 3 UM POUCO DE TEORIA ECONÔMICA ............................ 5 GRANDES CRISES GLOBAIS ............................................ 6 A CONJUNTURA BRASILEIRA ..........................................9 O QUE OLHAR EM TEMPOS DE CRISE INDICADORES: ECONÔMICOS...............................................................10 Afinal, o que é uma crise? A melhor maneira de começar a enfrentar uma crise é entendê-la. Uma das principais armas para vencê-la é a informação. 3 Alguns conceitos De modo amplo, crise é sinônimo de ruptura de equilíbrio. Ela pode se instalar de modo gradual ou repentino. Na esfera econômica, uma crise pode ser local, regional ou global, de acordo com a abrangência. As crises pressupõem um estado de dúvidas e incertezas. No mundo contemporâneo, em que a tecnologia e a informação exercem papel crucial, e as economias são interdependentes, as crises se alastram à velocidade da luz, muitas vezes com a força destrutiva de uma tsunami. Se é verdade que o capital não tem fronteiras, então as crises do capitalismo também não respeitam os limites geográficos. Há uma contaminação. Sob outra ótica, uma crise pode ser setorial ou generalizada, conforme seus impactos nos diversos ramos da atividade econômica. 4 Um pouco de teoria econômica Mesmo antes do advento do capitalismo, sempre houve desequilíbrios econômicos, originados por causas naturais (uma seca, por exemplo) ou sociais (uma guerra). Com a Revolução Industrial e a consolidação do sistema capitalista, as crises passaram a ser entendidas e estudadas no âmbito da economia. O filósofo Karl Marx previu, no século XIX, que haveria uma autodestruição do capitalismo. Segundo a teoria marxista, a concentração dos meios de produção nas mãos de poucos geraria desigualdades cada vez maiores e resultaria em crises de superprodução cíclicas. A crise final viria com a revolução do proletariado. A História tem mostrado que Marx estava errado, que o capitalismo vem conseguindo absorver o que seriam suas próprias contradições. O grau de participação do Estado - seja na gestão das economias nacionais, seja na geração ou na correção de crises - é tema polêmico entre as escolas de teoria econômica. Esse papel do Estado é ponto divergente entre as escolas liberais, que repelem a intervenção, e as não ortodoxas. Seja como for, o mundo vive, no longo prazo, períodos de expansão ou desenvolvimento e de contração ou recessão, que se alternam após certa duração e têm intensidades distintas. As crises econômicas ocorrem de forma cíclica, essas flutuações são parte da economia. Podem ter durações variadas e causas diversas. Segundo o economista Joseph Schumpeter, por exemplo, os ciclos econômicos cumprem as fases de boom, recessão, depressão e recuperação, movidos pela inovação tecnológica. Atualmente, a economia se torna, a cada dia, mais complexa, sobretudo tecnológica e financeiramente. As crises geram pânico e destruição de valor, mas movem oportunidades e geram novos ciclos. 5 Grandes crises mundiais Séc XVII: a crise das Tulipas, em Amsterdã - pode ser considerada a primeira crise financeira. A mania pela flor na Holanda levou investidores a gastarem fortunas em contratos futuros. Foi uma bolha especulativa que estourou quando um comprador não honrou seu compromisso, gerando pânico em cadeia e desvalorização da tulipa. Muitos perderam fortunas e foram à falência por causa dos bulbos de uma flor. 1929: o crash da Bolsa de Nova York – Wall Street vivia uma euforia, desproporcional à economia real. O crash da Bolsa, que perdeu 12% na terça-feira negra, gerou uma série de tragédias pessoais e marcou o início da Grande Depressão nos EUA e no mundo, com queda da produção e desemprego em massa. A política do New Deal daria início à recuperação. 1939: com a Segunda Guerra Mundial, importantes economias do mapa, sobretudo na Europa, se viram devastadas. O Acordo de Bretton Woods, no fim da guerra, buscou desenhar as bases de convívio econômico no mundo. Foi criado um padrão cambial e o FMI. 6 1973: veio o primeiro choque do petróleo, até então abundante e barato. A Opep passou a atuar com o corte da produção, afetando a oferta. Em 1979, veio o segundo choque. No período, o preço do barril disparou de US$ 3 para US$ 30. Década de 80: com o choque, os juros subiram. As dívidas dos países em desenvolvimento se elevaram, e a moratória mexicana foi a primeira de uma série nos países na América Latina, incluindo o Brasil. 1987: em outubro de 1987, o mundo vivia uma expansão acelerada do crédito e euforia nas bolsas. Um novo susto na Bolsa de Nova York, que caiu 22%, fez lembrar o crash de 1929. O BC americano agiu rápido, reduzindo os juros. Início dos 90: no início da década, uma fuga de capitais do México arrastou as economias latinas. Houve desvalorização cambial, desemprego recorde e recessão. Fins da década de 90: em tempo real, os anos de 1997, 1998 e 1999 trouxeram três crises em sequência, com fortes ataques especulativos: a asiática, a russa e a brasileira, respectivamente. No Brasil, houve a maxidesvalorização do real. Nesse período, os EUA também se mostraram vulneráveis tendo que socorrer um dos maiores fundos do país, o LTCM. Em 2000: foi a vez do estouro da bolha das empresas pontocom na Nasdaq. Os resultados das startups da Nova Economia não se sustentavam. 7 Nos primeiros anos do século XXI: a Argentina foi o epicentro de uma nova turbulência que atingiu os países emergentes, com crise política e desvalorização cambial. Atentados de 2001: após um período de relativa calmaria e bonança, os ataques do 11 de setembro de 2001 geraram novo colapso, com perdas bilionárias. A Bolsa de NY ficou 4 dias sem operar. Os mercados desabaram no mundo todo. As economias reagiriam com queda nos juros para estimular a atividade. Como se não bastasse, no mesmo ano, foi revelado o escândalo de maquiagem contábil na gigante Enron. Subprime 2008: depois de um ciclo positivo, estourou a crise que teve origem nas operações conhecidas como subprime, concessão de crédito imobiliário de alto risco num ambiente de juros baixos. Só que os juros começaram a subir a partir de 2004, com efeitos na inadimplência. O marco foi o dia 15 de setembro de 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers. As consequências devastadoras se espalharam rapidamente pelo mundo e são sentidas até hoje. A crise de 2008 foi a maior da História. A crise financeira desencadeou uma crise bancária (crédito) e, em seguida, uma crise produtiva. As principais economias mundiais gastaram trilhões de dólares com estímulos e subsídios a bancos. O mundo ainda tenta se recuperar. Os EUA vivem uma retomada lenta, com retirada dos estímulos. A Europa sente os impactos, com o euro em xeque, miséria e desemprego em várias nações. A China começou a desvalorizar sua moeda, na tentativa de acelerar a atividade, que dá sinais de enfraquecimento. Países em desenvolvimento, como o Brasil, estão mais frágeis. 8 A conjuntura brasileira O cenário mundial desfavorável aliado a questões internas conduziram o Brasil ao momento atual, de recessão econômica. Desde a crise de 2008, o governo elevou gastos e estimulou a demanda na economia brasileira. Apesar dos estímulos, o país vive, em 2015, uma recessão. Questões relativas à oferta ainda são um entrave ao desenvolvimento sustentável. O custo de se produzir aqui é elevado. O custo Brasil inclui carga tributária pesada, inclusive para cobrir um rombo gerado pelos gastos crescentes do governo; infraestrutura inadequada; incertezas regulatórias; economia relativamente fechada ao comércio; e um nível baixo de educação e produtividade. Escândalos políticos complicam o cenário. A percepção da corrupção generalizada, que infesta as esferas pública e corporativa, afetando a Petrobras, o governo e o Congresso, intensifica uma crise de confiança. Isso tudo afeta diretamente a governabilidade, afugentando investimentos e aprofundando a recessão. As medidas econômicas estão emperradas. 9 O que olhar em tempos de crise: indicadores econômicos • Crescimento: a variação do PIB e sua evolução ou retração ao longo do tempo é um dos mais importantes indicadores para se avaliar uma crise, pois reflete a atividade econômica do país em questão. • Inflação: a alta sucessiva de índices oficiais de inflação é, muitas vezes, um mau sinal, sobretudo se ficam além da meta estabelecida pelo governo. Indica uma alta generalizada no nível de preços, com efeitos nocivos à atividade, principalmente em países com histórico inflacionário. • Juros básicos: se, por um lado, altas taxas de juros seguram a inflação, por outro são um entrave ao investimento e elevam o endividamento público. • Desemprego e renda: quando a crise chega ao mercado de trabalho, seus efeitos são ainda mais perversos. O nível de desemprego se eleva, principalmente entre os jovens. A renda costuma despencar, com consequências graves não só no consumo, como na esfera social. • Câmbio: a desvalorização da moeda nacional reflete todas as incertezas num momento de crise. A alta do dólar impacta os custos, a inflação e o comércio externo. A volatilidade é ruim. 10 • Contas Públicas: quando a esfera pública gasta mais do que arrecada, os efeitos negativos surgem em cascata. Mas um ajuste fiscal, para transformar déficit em superávit, tem custos nem sempre aceitos pela sociedade. Com a meta fiscal comprometida, há sempre duas alternativas, normalmente combinadas, para mudar esse quadro: redução dos custos e aumento da receita, principalmente com alta de impostos. • Dívida pública federal: inclui os endividamentos interno e externo do governo. Quando o indicador está em elevação sinaliza a dificuldade de se fechar as contas. • Taxa de investimento: o ideal são taxas de investimento em torno de 25% do PIB. Quando a capacidade de poupança interna é baixa, a taxa de investimento fica aquém do necessário para uma retomada ou crescimento econômico. • Rating: indicadores ruins somados a questões políticas fazem com que as agências classificadoras de risco reduzam as notas de determinado país. Essas notas são como selos de qualidade que balizam as decisões dos investidores mundo afora. Quando um país perde o chamado grau de investimento, a atração de recursos fica ainda mais complicada, agravando a situação. 11 Última atualização deste eBook em 09/2015. .com.br As informações contidas neste eBook são de caráter meramente informativo, bem como não se trata de qualquer tipo de aconselhamento para a realização de investimento, não devendo ser utilizadas com este propósito, nem entendidas como tal, inclusive em qualquer localidade ou jurisdição em que tal oferta, solicitação ou venda possa ser contra lei. As informações deste eBook estão atualizadas até [...]. Atendimento: 0800 728 0880. 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