Autoanticorpos Doenças Autoimunes Carlos Alberto Pereira Vaz Técnico Superior de Laboratório [email protected] Anticorpos • Anticorpos ou imunoglobulinas, são proteínas produzidas pelos plasmócitos da medula óssea como parte da resposta imune. • Os plasmócitos são os linfócitos B transformados após exposição a um antigénio estranho (ou ocasionalmente endógeno). Anticorpos • Cada molécula de anticorpo tem uma parte idêntica que se liga a um antigénio específico e outra parte cuja estrutura determina a classe do anticorpo. Existem cinco classes de anticorpos: IgM, IgG, IgA, IgE e IgD. Anticorpos Anticorpos Reacções Autoimunes • Por vezes o sistema imunitário não funciona correctamente….. • As reacções autoimunes podem ser desencadeadas de várias maneiras: Reacções Autoimunes • Uma substância corporal que habitualmente fica estritamente confinada a uma área específica (e por consequência escondida do sistema imunitário) é libertada na circulação sanguínea; Reacções Autoimunes • Uma substância corporal normal é alterada. Por exemplo, os vírus, os medicamentos, a luz solar ou as radiações podem modificar a estrutura de uma proteína até ao ponto de a fazer parecer estranha; Reacções Autoimunes • O sistema imunitário responde a uma substância estranha que tem uma aparência semelhante a uma substância natural do corpo e ataca involuntariamente tanto as substâncias do corpo como as estranhas; Reacções Autoimunes • Algo funciona mal nas células que controlam a produção de anticorpos. Por exemplo, os linfócitos B cancerosos podem produzir anticorpos anormais que atacam os glóbulos vermelhos. Reacções Autoimunes • Os resultados de uma reacção autoimune variam. • Todos os órgãos podem ser atacados pelo sistema imunitário. Autoanticorpos • Todos os autoanticorpos são patogénicos? Autoanticorpos Autoanticorpos Autoanticorpos • A maior função das células do SI é o reconhecimento e morte de microrganismos invasores – “distinguir o self do non self” TOLERÂNCIA Tolerância • No sistema imune inato: – Os fagócitos – reconhecem as células self se estas estiverem danificadas ou a morrer; – NK – têm receptores inibitórios que as impedem de matar as células self. Tolerância • No sistema imune adaptativo: – Há linfócitos que desenvolvem reactividade anti-self e outros desenvolvem receptores específicos para antigénios estranhos non self; – A tolerância ao self corresponde a um estado de não-resposta imunitária a antigénios self mantidos por mecanismos imunológicos nos orgãos linfáticos centrais e periféricos. Tolerância Tolerância • Tolerância no sistema adaptativo: – Este estado de “não resposta imunitária” a antigénios self, chama-se “self tolerance”; – “self-tolerance” é um estado imunitário mantido por um mecanismo de delecção clonal que ocorre no timo e na medula óssea durante o amadurecimento linfocitário - são eliminados clones de linfócitos autoreactivos: tolerância central; Tolerância • Tolerância no sistema adaptativo: – Os linfócitos que escapam á tolerância central nos orgãos linfóides primários são eliminados ou inactivados nos orgãos linfóides periféricos, através de mecanismos de tolerância periférica. Tolerância Central • A tolerância central é o processo em que células T e B imaturas adquirem tolerância a antigénios self durante a sua maturação na medula óssea e timo. Envolve a eliminação de células com receptores para antigénios self. Tolerância Periférica • A tolerância periférica é o processo pelo qual linfócitos maturos adquirem tolerância a antigénios self nos tecidos periféricos através da sua eliminação por: – falta de sinais de co-estimulação; – activação de morte celular programada; – outros mecanismos. Tolerância Periférica • Importância da tolerância periférica: – linfócitos auto-reactivos não podem ser todos eliminados pela tolerância central, devido á ausência da maior parte dos antigénios self nos orgãos linfóides primários. Doenças Autoimunes • Quando ocorrem falhas nos mecanismos de tolerância aos antigénios self ocorre a autoimunidade ou doença autoimune. – Eliminação ou inactivação das células autoreactivas TOLERÂNCIA – Activação das células autoreactivas AUTOIMUNIDADE Doenças Autoimunes • É sempre importante distinguir se a doença encontrada está ligada intimamente há produção de autoanticorpos. – 1 – Verificou-se autoanticorpos ou linfócitos T autoreactivos no orgão afectado ou na lesão tecidual; – 2 – Níveis de autoanticorpos/linfócitos T autoreactivos – Intensidade da Doença; Doenças Autoimunes – 3 – Melhoria dos sintomas ao se reduzir a resposta autoimunitária; – 4 – Desenvolvimento da doença em outro indivíduo, através da transferência de autoanticorpos ou linfócitos T autoreactivos; – 5 – Indução da doença através da inoculação do autoantigénio na corrente sanguínea. Doenças Autoimunes • Deste modo..... – A resposta imunitária adaptativa a um antígeno estranho perdura até que o antígeno seja removido do organismo; – No caso das Doenças Autoimunes é impossível para os mecanismos envolvidos, a remoção dos autoantígenos, de modo que a resposta é mantida. Doenças Autoimunes • Doenças autoimunes sistémicas ou não orgão-específicas: – Artrite reumatóide; – Lúpus eritematoso sistémico; – Esclerodermia; – Síndrome de Sjogren; – Síndrome de Goodpasture; Doenças Autoimunes – Espondilite anquilosante; – Polimialgia reumática; – Polimiosite; – Entre outras... Doenças Autoimunes • Doenças autoimunes orgão-específicas: – Diabetes mellitus Tipo I (pâncreas); – Doença de Graves (tiróide); – Tireiodite de Hashimoto (tiróide); – Esclerose multipla (sistema nervoso); – Miastenia gravis (sistema nervoso); – Doença de Addison (adrenais); – Entre outras... Doenças Autoimunes Artrite Reumatóide • A AR afecta cerca de 1% da população mundial e é caracterizada pela progressiva destruição das articulações ou juntas devido às constantes respostas inflamatórias. • Nas juntas normais, a membrana sinovial que reveste a cavidade sinovial é constituída somente por uma camada de células Artrite Reumatóide Artrite Reumatóide Artrite Reumatóide • Achados Laboratoriais: – Factor Reumatóide, positivo (IgG, IgM, IgA) Lúpus Eritematoso Sistémico • O Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) ou simplesmente Lúpus, é uma doença crónica, autoimune, que causa inflamações em várias partes do corpo, especialmente na pele, articulações, sangue e rins. Lúpus Eritematoso Sistémico • Esta imunopatologia envolve coagulopatias, vasculites, inflamação tecidular, deposição de imunocomplexos e talvez deficiência ao nível de Complemento. Lúpus Eritematoso Sistémico Lúpus Eritematoso Sistémico Lúpus Eritematoso Sistémico • Achados Laboratoriais: – FAN (factor antinuclear) é o mais frequente; – Anti-dsDNA é sinal de doença activa e geralmente com doença renal; – Anti-Sm não é muito frequente mas, quando presente, confirma o diagnóstico; – Anti-RNP, Anti-Ro/SS-A, Anti-La/SS-B, Anti-P Síndrome de Sjögren • O síndrome de Sjögren (SSj) é uma doença autoimune caracterizada por infiltração linfocitária em glândulas exócrinas e destruição do tecido glandular, com preferência por glândulas salivares e lacrimais. Síndrome de Sjögren Sindrome de Sjögren • Achados Laboratoriais: – Anti-SSA (70%) – Anti-SSB (50%) – Anti-dsDNA, menos frequente Esclerose Múltipla • A esclerose múltipla é uma doença que afecta adultos e jovens, causando lesões neurológicas graves e progressivas. • A doença resulta do ataque dos linfócitos T e anticorpos contra componentes da bainha de mielina que envolvem os axónios das células nervosas. Esclerose Múltipla Esclerose Múltipla • Achados Laboratoriais: – O nível de gamaglobulina (IgG) encontra-se elevado no LCR. Doença de Graves • Na doença de Grave, o alvo do ataque imunológico é o receptor TSH da superfície das células tireóides que normalmente se liga a hormona estimuladora da tiróide (TSH). • Pacientes com a doença de Grave os autoanticorpos ligam-se aos receptores TSH, induzindo um prolongado estímulo das células tiróides, causando o hipertireoidismo. Doença de Graves Doença de Graves Doença de Graves Doença de Graves • Achados Laboratoriais: – Anti-receptor TSH (80-95%); – Anti-TG (50-70%); – Anti-TPO (50-80%); Doença de Hashimoto • Tiroidite linfocitária crónica, caracterizada por uma infiltração linfocitária na tiróide. • Esta tiroidite evolui lentamente para uma situação de hipotiroidismo, por vezes, depois de uma fase inicial de hipertiroidismo. • Os antigénios self são proteínas e células da tiróide. Doença de Hashimoto Doença de Hashimoto Doença de Hashimoto Doença de Hashimoto • Achados Laboratoriais: – Anti-TG (85%); – Anti-TPO (99%); Diabetes Mellitus Tipo I • Deficiência absoluta em insulina causada por um ataque autoimune às células β do pâncreas. • Caracterizado pela presença de autoanticorpos entre eles, anti-ilhota, antiinsulina e anti-GAD (glutamic acid decarboxilase). Autoanticorpos • Anticorpos Anti-nucleares (ANA) – Os anticorpos anti-nucleares constituem-se num grupo bastante heterogéneo de autoanticorpos quanto sua especificidade antigénica; – Os antigénios alvos são constituintes nucleares ou citoplasmáticos; – Quanto à sua natureza, compõe um grupo amplo de moléculas como, ácidos nucleicos (DNA), proteínas solúveis ou constitucionais de partículas subcelulares ou ainda complexos formados principalmente de proteínas com ácidos nucleicos (DNA e RNA). Autoanticorpos • Anticorpos Anti-nucleares (ANA) – A denominação destes antigénios baseia-se na sua localização na célula (nucleolar, centromérico), na natureza molecular do mesmo (U1RNP, complexo ribonucleoprotéico de RNAs pequenos ricos em uracilo, DNA), no nome do paciente no qual o anticorpo específico foi descrito inicialmente (Sm, Ro, La, Jo-1) ou ainda nas iniciais da doença onde o anticorpo correspondente foi detectado pela primeira vez (SS-A ou SS-B de síndrome de Sjögren, Scl-70 de esclerodermia). Autoanticorpos • Anticorpos Anti-nucleares (ANA) – Detecção - Teste de imunofluorescência indirecta (IFI) utilizando como substrato antigénico, fígado de rato ou linhagem celular humana (células HEp-2); – Os resultados baseiam-se no padrão e na distribuição celular da fluorescência observados e são expressos em títulos (maior diluição do soro que ainda apresenta reactividade). – Os padrões de fluorescência, podem na maioria das vezes, sugerir mas não confirmar a presença de determinados autoanticorpos. Autoanticorpos • Anticorpos Anti-nucleares (ANA) – Nuclear Homogéneo - Esta reactividade sugere a presença de anticorpos anti-dsDNA, anti-DNAhistona ou anti-nucleossomal, anti-histonas, anti-ssDNA, principalmente quando em altos títulos. Autoanticorpos • Anticorpos Anti-nucleares (ANA) – Nuclear Periférico - Este padrão está associado à presença de autoanticorpos anti-dsDNA predominantemente. No entanto, pode também estar relacionado aos anticorpos anti-ssDNA ou DNA-histona (nucleossomal). Autoanticorpos • Anticorpos Anti-nucleares (ANA) – Nuclear Pontilhado Reactividade característica de autoanticorpos dirigidos às proteínas nucleares extraíveis com sal (ENA) como Sm específico do LES, U1RNP, Ro/SS-A e LA/SS-B Autoanticorpos Anticorpos Anti-nucleares (ANA) Centromérico - Imunofluorescência com um padrão pontilhado discreto e disperso pelo núcleo da célula em repouso e que se alinha com os cromossomas na placa metafásica da célula em divisão, é altamente específico dos anticorpos dirigidos aos constituintes do centrómero Autoanticorpos • Anticorpos Anti-nucleares (ANA) – Nucleolar: Este padrão é observado mais frequentemente com soro de pacientes com esclerose sistémica progressiva (ESP) e está associado a anticorpos anti-ribonucleoproteínas tais como a RNA polimerases 1, 2 e 3. Autoanticorpos DOENÇA LES DMTC Lúpus por fármacos ESP Síndrome de Sjögren Polimiosite PADRÃO FREQUÊNCIA (%) H, PE, Pont Pont H Pont, Nucleolar Pont Pont >90 >90 >90 >70 70 70 Autoanticorpos Autoanticorpos Autoanticorpos • Outros métodos de detecção: – Imunodifusão dupla; – Hemaglutinação passiva; – Pesquisa de anticorpos anti-DNA nativo; • Imunofluorescência indirecta, utilizando a Crithidia luciliae (cinetoplasto) como substrato antigénico. – ELISA; – Western Blotting. Autoanticorpos • Anti-DNA de cadeia dupla (ds-DNA, DNA Nativo) – Encontrados principalmente no LES numa frequência de 70 a 80% dos casos; – A quantidade de antigénios correlaciona-se com a actividade da doença e os títulos de anticorpos frequentemente diminuem, quando o paciente entra em remissão; – Presença de anticorpos anti-DNA correlaciona-se particularmente com a actividade da nefrite lúpica. Autoanticorpos • Anti-DNA de cadeia simples (ss-DNA) – Presente em 52% dos pacientes com LES, porém não é um teste específico para nenhuma patologia, pois mostra-se positivo em 57% dos casos de lúpus induzido por fármacos, 58% das hepatites crónicas activas, 40% na mononucleose infecciosa, 60% na AR, 7% das glomerulonefrites crónicas e 15% na cirrose biliar primária; – Devido a sua baixa especificidade tem pouca utilidade na avaliação das doenças autoimunes. Autoanticorpos • Autoanticorpos antiantígenos citoplasmáticos de neutrófilos (ANCA) – Os ANCA, descritos pela primeira vez no início da década de oitenta como promotores de uma marcação citoplasmática granular difusa em ensaios de imunofluorescência indireta (IFI) em neutrófilos fixados em etanol, receberam especial atenção desde que foram associados ao diagnóstico e possível monitorização da Granulomatose de Wegener ,Poliangite microscópica, Glomerulonefrites e Síndrome de Churg-Strauss Autoanticorpos • Autoanticorpos antiantígenos citoplasmáticos de neutrófilos (ANCA) – A Serina protease 3 (PR3) foi subsequentemente identificada como o principal antigénio no alvo para c-ANCA. Ao mesmo tempo, a ligação de ANCA com Mieloperoxidase (MPO), produz uma marcação com perfil perinuclear (p-ANCA) em ensaios de IFI. Autoanticorpos • Anti-Sm – O anticorpo anti-Sm (Smith, nome do primeiro paciente em que foi encontrado), possui alta especificidade para o LES, porém a sua sensibilidade nestes pacientes é de apenas 25 a 30 %. Autoanticorpos • Anti-snRNP – O anticorpo anti-snRNP aparece em baixos títulos no LES, lúpus discóide, artrite reumatóide, síndrome de Sjogren e lúpus induzido por fármacos; – Altos títulos de anti-snRNP, na ausência de anti-Sm, são fortemente sugestivos de doença mista do tecido conjuntivo (DMTC), que se manifesta clinicamente por acometimento cutâneo do tipo esclerodérmico, miosite e sinovite tipo reumatóide, onde aparece em 100% dos casos. Autoanticorpos • Anti-SSa\Ro – São anticorpos contra o antigénio Ro, que é uma proteína citoplasmática pequena ligada ao RNA, cuja função é desconhecida; – Está presente em cerca de 70% dos pacientes com sindrome de Sjogren primária. Autoanticorpos • Anti-SSb\La – Também são anticorpos contra partículas proteicas do RNA que parecem participar como um co-fator para a RNA polimerase. O anti-La geralmente acompanha o anti-Ro. Autoanticorpos • Anti-Scl 70 – É encontrado em pacientes com esclerose sistémica difusa. Estes anticorpos são contra uma proteína 7O KDa que foi recentemente identificada como uma Topoisomerase 1. É identificado em 75% dos pacientes com este subtipo de esclerodermia. Autoanticorpos • Anti-Jo 1 – Este anticorpo é direccionado para a enzima histidylT-RNA sintetase e está presente em mais de 30% dos pacientes com polimiosite; Autoanticorpos • Anti-RNA – Anticorpos para o RNA estão associados a várias doenças do tecido conjuntivo: LES, AR, ESP e osteoartrite. Estes anticorpos são diferentes dos outros autoanticorpos porque os alvos são ribocomplexos de nucleoproteínas como os Sm ou snRNP. Autoanticorpos • Anti-Histonas – Estão presentes em 96% dos pacientes com lúpus induzido por fármacos e em 30% do LES; – Ocorre em 15 a 20% dos pacientes com AR. Muito pouco frequente na ESP e DMTC. Autoanticorpos • Anticardiolipina – Aparece num subtipo de LES denominado sindrome do anticorpo antifosfolípideo, cujas manifestações mais comuns são: fenómenos tromboembólicos de repetição, perda fetal, anemia hemolítica, trombocitopenia, TP prolongado, valvulopatia e manifestações neurológicas; – É um anticorpo contra um fosfolípido denominado difosfatidil glicerol, que é um componente de várias membranas celulares. Terapia Autoimune • Corticoides – Depleção profunda dos LT e LB; • Ciclofosfamida – Depleção profunda dos LT e LB; • Ciclosporina – Supressão dos LT Bibliografia • Arneson, W., Brickell, J. Clinical Chemistry A Laboratory Perspective. F. A. Davis Company 1st edition (2007) • Burnett, D., Crocker, J. The Science of Laboratory Diagnosis. John Wiley & Sons Ldt, 2nd edition (2005) • Burtis, Carl A. Tietz, Fundamentals of Clinical Chemistry. Saunders Elsevier, 6th edition (2008) • Guyton, A. C. Textbook of Medical Physiology. Saunders Elsevier, 11th edition (2006) • Henry, J. B. Diagnósticos Clínicos e Tratamento por Métodos Laboratoriais. Editora Manole Lda, 19ª edição (1999) • Pollard, K. M. Autoantibodies and Autoimmunity, WILEY-VCH Verlag GmbH & Co. 1st edition (2006) • Wallach, J. Interpretation of Diagnostic Tests. Lippincott Williams & Wilkins, 8th edition (2007)