Simulação de um calorímetro Objectivos do trabalho: Simulação de um detector, Física da interacção da radiação com a matéria Introdução: A compreensão detalhada dos processos de interacção de partículas com os meios materiais é fundamental para o completa interpretação dos dados fornecidos pelos detectores. Até existir um bom conhecimento das características de um detector, a informação dele extraída tem pouco valor. Na Física de Altas Energias é frequente vários processos competirem entre si na contribuição a ser dada ao resultado final. Por isso é muitas vezes difícil ou impraticável a obtenção de todas as características por via exclusivamente experimental directa. Nestes casos recorre-se a uma simulação do dispositivo em estudo e dos processos físicos envolvidos. Nem sempre o resultado da simulação está de acordo com os resultados experimentais. Mas muitas vezes são estes desacordos que permitem identificar contribuições de processos físicos que estavam a ser menosprezadas. A simulação traduz em cada momento o estado de conhecimento sobre um determinado sistema, e deve tanto quanto possível ser actualizado em face de novos resultados experimentais. No presente trabalho procura-se simular um calorímetro electromagnético. Este detector, em geral, não é mais que um bloco de matéria onde a radiação interage, produzindo-se um sinal que de alguma forma deve ser proporcional à energia da partícula incidente. Com frequência o calorímetro é construído de tal forma que a partícula incidente perde toda a sua energia no detector. Trata-se portanto de um processo destrutivo, razão pela qual os calorímetros são colocados no fim da cadeia de detecção de partículas. Os calorímetros podem ser classificados de várias formas, mas para o presente trabalho interessa referir dois tipos: calorímetros homogéneos e calorímetros de amostragem. Os primeiros são constituídos por um único tipo de material, em quanto que os segundo utilização a associação de um material de alta densidade e número atómico (material passivo) com um material (ou sistema) que produz o sinal propriamente dito. Existem vantagens de parte a parte nos dois sistemas, de onde se realçam a melhor resolução em energia dos primeiros, em contraste com as dimensões mais reduzidas dos segundos para uma mesma eficiência. Aspectos técnicos: A simulação do calorímetro vai ser realizada com a utilização de um pacote especializado de software, que foi especialmente desenvolvido para o estudo das interacções de electrões e fotões de alta energia com os meios materiais: o GEANT3. A interacção com o programa faz-se através de chamadas a rotinas e do controlo das variáveis que definem o estado das diversas partículas em cada momento. O seguinte organigrama resume os aspectos principais do programa: UGEOM UGINIT Inicialização geral Leitura cartas controlo Define códigos partículas Calcula secções eficazes Definição materiais Definição geometria UHINIT Inicialização histogramas GUKINE Cinemática do feixe GXINT GRUN GUSTEP Controlo de variáveis no fim de cada passo UGLAST GUOUT Fim do run Saída resultados Fim do evento Questões a resolver 1. Simulação de um calorímetro homogéneo: Pretende-se simular um calorímetro homogéneo constituído por um único cristal de NaI ou BGO. Estes calorímetros são usados numa gama de energias que vai das centenas de keV até dezenas de MeV, ou usando vários cristais até centenas de GeV. Neste trabalho pretende-se estudar a interacção de fotões com o calorímetro no intervalo de energias de 1 a 10 MeV. Para esse efeito é fornecido um programa de base (nai.tar) que pode ser facilmente adaptado a todas as situações a estudar. A configuração inicial do cristal poderá ser a seguinte: Volume activo : 2×2×4 cm3 Partícula incidente: Fotão Energia do feixe: 5 MeV Feixe colimado segundo zz γ Procure responder a algumas das seguintes questões: • • • • Faça uma análise do espectro obtido, procurando explicar todas as características observadas. De que forma pode definir a eficiência intrínseca do detector? Como varia essa eficiência com a energia do feixe? A resolução intrínseca obtida pela simulação é à partida melhor do que aquilo que é obtido experimentalmente. Aponte algumas das razões. De que forma poderiam esses efeitos ser incluídos na simulação? Qual é o efeito de se aumentar (ou diminuir) o tamanho do cristal? Problema avançado Repita a simulação usando com feixe positrões com uma energia de entre 1 e 5 MeV. Interprete o espectro de energia obtido. 2. Simulação de um calorímetro de amostragem: Pretende-se simular um calorímetro de amostragem chumbo/plástico cintilador, constituído por placas alternadas de cada um destes materiais. Este tipo de detector tem sido construído para várias experiências de Física de Altas Energias apresentando uma boa relação entre a eficiência (muito alta) e a resolução. É ainda em geral um calorímetro de menor custo relativamente aos calorímetros homogéneos, pelo que é frequentemente adoptado quando se pretendem construir detectores de grandes dimensões. Estes calorímetros são sobretudo usados numa gama de energias da ordem ou superior ao GeV. Neste trabalho pretende-se estudar a interacção de electrões com o calorímetro no intervalo de energias de 0.5 a 5 GeV. Para esse efeito é fornecido um programa de base (calo.tar ) que pode ser facilmente adaptado a todas as situações a estudar. A configuração inicial do calorímetro poderá ser a seguinte: 10 placas de chumbo 10 placas de plástico Volume de cada placa: 5×5×0.5 cm3 Partícula incidente: electrão Energia do feixe: 1 GeV Feixe colimado segundo zz e- Procure responder a algumas das seguintes questões: • • • • Faça uma análise do espectro de energia obtido, procurando explicar todas as características observadas. Faça uma análise da energia depositada em função da profundidade do calorímetro (perfil longitudinal da cascata). Como varia este perfil com a energia de feixe? De que forma pode definir a resolução do detector? Como varia essa resolução com a energia do feixe (parametrize a função obtida)? Qual é o efeito de se aumentar (ou diminuir) o tamanho das placas? As consequências de um aumento transversal de dimensões são as mesmas que as de um aumento longitudinal?