BRASIL COLÔNIA: PAU BRASIL, CICLO DO AÇÚCAR E INVASÕES CONTEÚDOS Período de abandono e o escambo de pau-brasil Colonização do Brasil e as Capitanias Hereditárias O Pacto Colonial Ciclo do açúcar A mão de obra escrava Os jesuítas, a catequese e a educação colonial Invasões estrangeiras AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS Retomando o contexto das Grandes Navegações, relembre que após a assinatura do Tratado de Tordesilhas que dividiu o mundo entre Portugal e Espanha em 1494, o Brasil foi oficialmente descoberto por Pedro Alvares Cabral em 1500. Figura 1 – O Tratado de Tordesilhas de 1494 Fonte: Fundação Bradesco Período de abandono e o escambo de pau-brasil No início do século 16, os espanhóis encontraram ouro e prata em abundância, na parte da América que os pertencia, ou seja, nos domínios dos Incas e Astecas. Esse fato fez com que eles se dedicassem quase que imediatamente a conquista e a colonização dessas áreas, abandonando o comércio das especiarias. Por outro lado, as primeiras expedições portuguesas que vieram para a América, explorar as riquezas naturais do Brasil (1500-1504), não encontraram ouro, prata ou pedras preciosas. Na época o único recurso que os portugueses identificaram como uma possível fonte de renda foi o pau-brasil (madeira de cor avermelhada utilizada para a produção de móveis e, também, para tingir tecidos). Vale destacar que quando comparado ao comércio das especiarias do oriente, o pau-brasil era bem menos lucrativo. Assim, a falta de um produto capaz de gerar lucro, que superasse os ganhos com os produtos trazidos das Índias, fez com que os portugueses deixassem o território brasileiro abandonado por aproximadamente 34 anos (1500-1534). Figura 2 - Mapa Terra Brasilis de 1519 que retrata a exploração do pau-brasil Fonte: Wikimedia Commons Nesse período, em que não houve a colonização efetiva do Brasil, nosso território foi visitado por algumas expedições da coroa portuguesa, chamadas de “Guarda Costas” (1516-1520), que tinham a finalidade de expulsar piratas e as povoações de outras nações que tentavam se fixar no território brasileiro. Alguns comerciantes portugueses também aportavam em terras brasileiras, em expedições privadas, para extrair o pau-brasil. Para isso, eles exploravam a mão de obra do indígena por meio do escambo (troca da madeira por objetos que não tinham grande valor para os europeus, como por exemplo, espelhos, facas, cachaça e fumo). Apesar da presença lusitana no Brasil, em nenhum dos casos houve uma ocupação efetiva do território, ou seja, essas expedições vinham para a América temporariamente, e não fixavam-se nesse território, não havendo, portanto, uma colonização. Colonização do Brasil e as Capitanias Hereditárias Países como Inglaterra, França e Holanda começam a sua expansão marítima tardiamente e, por isso, todas as terras da América já pertenciam a Portugal e a Espanha. Desse modo, para que esses países que foram excluídos da partilha do Novo Mundo, conseguirem fixar suas colônias, era necessário invadir e conquistar essas áreas que pertenciam aos países ibéricos. As áreas que encontravam-se abandonadas, como era o caso do Brasil e do norte da América, passaram a ser invadidas, uma vez que demandariam de um esforço menor para se consolidar a ocupação. Para não perder parte do território brasileiro para essas nações que estavam invadindo o Brasil, Portugal decidiu construir fortes pelo litoral e iniciar a colonização de sua parte da América que havia sido determinada pelo Tratado de Tordesilhas. Figura 3 - Forte de Bertioga, um dos mais antigos e melhores preservados do Brasil Fonte: Wikimedia Commons A coroa portuguesa, para conseguir ocupar a maior parte possível das terras brasileiras, precisava oferecer algum atrativo econômico para motivar os colonos lusitanos a fixarem-se nesse território. Desse modo, surgiu a ideia de dividir o território em grandes lotes que seriam distribuídos para a média nobreza (que passariam a ser os Capitães Donatários) e sua posse só seria transferida de pai para filho, sendo proibida a venda dessas terras. Nasceu, assim, as Capitanias Hereditárias do Brasil. Figura 4 - Mapa das Capitanias Hereditárias Fonte: Fundação Bradesco O sistema de Capitanias Hereditárias, foi uma saída econômica para que a coroa portuguesa pudesse colonizar o Brasil com poucos gastos, pois, ela transferia os custos da colonização para a iniciativa privada, ou seja, caberia ao capitão donatário investir seu capital para construir seu engenho e fazer a defesa das terras recebidas. Por outro lado, o rei lucraria com os tributos cobrados sobre os gêneros agrícolas produzidos no Brasil que eram exportados para Portugal. No Brasil, esses donatários poderiam dividir sua capitania em grandes lotes chamados de sesmarias (que eram latifúndios) redistribuindo algumas dessas terras a outros colonos que quisessem investir seu capital na construção de um engenho no Brasil. Vale lembrar que todos esses senhores de engenho, que recebiam a sesmaria do capitão donatário, passaria a dever obediência a ele, assim como teriam que pagar a ele os tributos que eram repassados a metrópole portuguesa, ou seja, politicamente a colônia tinha um governo descentralizado, onde o Capitão Donatário reportava-se diretamente ao rei. O Pacto Colonial O Brasil foi pensado, desde o início da sua colonização como uma colônia de exploração, ou seja, um território que deveria gerar riquezas para a sua metrópole. Dessa forma, toda a estrutura colonial montada pelos portugueses visava a extração do máximo de riquezas possível, sem que para isso fosse necessário fazer grandes investimentos de infraestrutura. Nesse contexto, a coroa portuguesa, com o intuito de garantir sua exclusividade sobre o comércio colonial brasileiro, impôs o Pacto Colonial que determinava que todos os produtos e riquezas naturais que fossem gerados pela colônia (Brasil), deveriam obrigatoriamente serem vendidas à metrópole (Portugal). Da mesma forma, o Brasil compraria todos os produtos que precisavam ser importados, para atenderem as necessidades de consumo dos colonos, exclusivamente de Portugal. Mesmo com a estreita aliança entre Portugal e Holanda, o monopólio português era respeitado. Assim, a Holanda poderia financiar as safras, emprestando dinheiro à juros para os senhores de engenho; poderiam transportar o excedente de açúcar produzido que os navios portugueses não tivessem condição de levar e, também, refinar e distribuir esse excedente, mas não poderia comercializar diretamente com o Brasil. Os produtos que a metrópole não produzia, eram importados pelos portugueses e depois vendidos para o Brasil. Por exemplo, anos mais tarde, com o rompimento da aliança entre Portugal e Holanda e a assinatura do Tratado de Methuen, em que Portugal exportava vinho e importava tecido da Inglaterra, os produtos ingleses passaram a chegar no Brasil, mas sempre pelas mãos dos portugueses. Dessa forma a colônia não poderia comprar diretamente dos ingleses, os portugueses tornavam-se os atravessadores dessas mercadorias e garantiam o seu lucro sobre esse comércio de produtos que não era de fabricação lusitana. Figura 5 - Esquema que representa o Pacto Colonial Fonte: Fundação Bradesco Curiosidade: Como o vinho era um dos maiores produtos de exportação da economia portuguesa, assim, para evitar a concorrência, proibiu-se o plantio de uvas no Brasil. Dessa forma, os colonos brasileiros seriam obrigados a consumir o vinho fabricado pela metrópole ao invés de produzi-lo em seus engenhos. Em síntese a colônia só estaria autorizada a produzir o que a metrópole precisasse e não tivesse condição de fazê-lo. Ciclo do açúcar A escolha do açúcar como o produto que deveria ser cultivado em solo brasileiro durante a colonização, não foi feita ao acaso. Na verdade, ele era extremamente raro na Europa e, por isso, seria capaz de gerar elevados lucros a Portugal. Um outro fator econômico que se deve levar em consideração é que o lucro das especiarias começou a diminuir nesse período e, por isso, produzir o açúcar em larga escala no Brasil poderia garantir que os ganhos da coroa portuguesa não fossem abalados. O clima tropical, o solo de massapé e as terras abundantes eram elementos naturais que faziam do Brasil um território propício para o cultivo da cana-de-açúcar. Além disso, a experiência que os portugueses adquiriram produzindo o açúcar na ilha da Madeira, davalhes a certeza de que esse plantio era o adequado para se promover a exploração econômica da colônia brasileira. Figura 6 - Engenho do Pernambuco pintado por Frans Post no século 17 Fonte: Wikimedia Commons Nesse contexto, surgiu os engenhos de açúcar, construídos nas sesmarias de cada uma das Capitanias Hereditárias do Brasil, de modo que fosse possível organizar no interior deles uma estrutura responsável pelo plantio da cana, colheita, moagem e fabricação dos torrões de açúcar, que seriam exportados para a metrópole onde seriam refinados e comercializados. Assim, os colonos acabaram adotando o sistema de Plantation que era estruturado na grande propriedade (latifúndio), produzindo apenas cana-de-açúcar (monocultura), voltada para mercado externo (exclusivo comercial com a metrópole) e com a utilização de mão de obra barata (escrava). Por séculos, essa estrutura de produção açucareira de uma colônia de exploração se manteve sem grandes alterações. Mas, no ano de 1548, numa tentativa de centralizar as decisões na colônia, o rei de Portugal decidiu criar o Governo Geral. Esse governo, conseguiu ter pouca força de atuação frente o poder dos grandes senhores de engenho, tornando-se pouco eficiente. Por essa razão, em 1621 ele foi dividido em dois: o Estado do Maranhão com a capital em Salvador e o Estado do Brasil com a Capital no Rio de Janeiro. Vale destacar que durante todo esse período, onde houve essa tentativa de centralização política da administração colonial, as Capitanias Hereditárias continuaram existindo e só foram extintas em 1821 (um ano antes de se proclamar a independência do Brasil em 1822). A mão de obra escrava A escravidão é uma antiga forma de trabalho compulsória em que o ser humano é reduzido ao status de coisa, de mera mercadoria, perdendo assim a sua liberdade. Na Idade Antiga, esse tipo de exploração era comum e, mesmo depois de quase se extinguir na Idade Média, retornou com força na Colonização da América pelos europeus, na Idade Moderna. A vantagem econômica deste tipo de trabalho é muito maior do que a mera exploração da força de trabalho não remunerada. O tráfico negreiro, por exemplo, é uma atividade extremamente lucrativa, pois os negros eram capturados na África e vendidos a baixo preço (muitas vezes a troco de fumo e cachaça) e depois eles eram vendidos por um preço elevado na América como escravos. Outro ponto vantajoso para os europeus utilizarem esse tipo de mão de obra é que pelo tráfico negreiro, era possível deslocar de forma impositiva grandes continentes populacionais para áreas que naturalmente não atrairiam a mão de obra livre e barata. Figura 7 - Esquema do comércio triangular entre América Europa e África Fonte: Fundação Bradesco No Brasil, os escravos eram submetidos ao duro trabalho nas lavouras de cana-deaçúcar e no processo de sua fabricação nos engenhos. Eles não recebiam nenhuma remuneração pelo seu trabalho além da alimentação e algumas vestimentas. Sempre que os seus senhores julgassem necessário eram castigados com extrema violência. Os filhos desses escravos eram de propriedade do senhor de engenho e comumente eram vendidos na infância, de modo a afastá-los bem cedo da proteção materna. Figura 8 - Escravo sendo punido (obra de Debret produzida no século 18) Fonte: Wikimedia Commons Em geral, a cultura do escravo era desvalorizada e até mesmo perseguida pelo seu explorador e, por isso, esses grupos tentavam preservá-la por meio do sincretismo (misturando a cultura afro a elementos da cultura portuguesa), como uma forma de resistência a dominação que era capaz de lembra-los de suas raízes e da ideia de liberdade. Por exemplo, a capoeira africana era considerada uma arte marcial de luta e defesa, por isso, ela não apresentava a mesma ginga e musicalidade que se observa na capoeira brasileira. A diferença, nesse caso, deu-se pelo fato dos escravos, no Brasil, precisarem disfarçar a luta no formato de uma dança, para que não fossem punidos pelos seus feitores. No campo religioso esse sincretismo também se deu, pois as religiões africanas foram misturadas com algumas ideias do catolicismo e deram origem ao candomblé e à umbanda. Alguns escravos conseguiam escapar dos engenhos, formando no interior da mata do Brasil os quilombos, que era um agrupamento de escravos fugidos que se uniam para trabalhar coletivamente e defendiam-se de possíveis ataques dos indígenas e dos brancos que pretendiam os recapturar. Dos quilombos que se formaram nessa época o mais conhecido foi Palmares que resistiu sob o comando de Zumbi a diversos ataques, tornandose um símbolo da resistência negra a escravidão. Figura 9 - Zumbi dos Palmares (pintado por Antônio Parreiras no século 19) Fonte: Wikimedia Commons Curiosidade: Na África algumas tribos eram inimigas, no Brasil, os negros mantinham essa rivalidade, o que os enfraqueciam pois não havia a união entre eles para combater o seu opressor. Nos quilombos, geralmente se reproduzia a estrutura dos reinos africanos e, por isso, não eram todos os negros que eram aceitos nessas comunidades. Dessa forma, os negros quando fugiam dos engenhos, geralmente procuravam os quilombos da sua etnia e nessas comunidades os descendentes das famílias nobres tinham privilégios. Os jesuítas, a catequese e a educação colonial A sociedade do Brasil colonial era patriarcal e organizava-se com base nos padrões europeus. Esse fator, explica a grande influência que a Igreja Católica tinha sobre as famílias e sua moral. A educação dos filhos dos mais ricos e poderosos senhores de engenho eram, por exemplo, confiadas aos padres que os alfabetizavam, ensinavam a matemática elementar, além de um pouco de filosofia, teologia e latim. Vale lembrar que nesse mesmo período a Europa passou pelas reformas religiosas e a Igreja Católica perdeu muitos fiéis para o protestantismo, daí a importância de investir na catequização dos indígenas para transformar a América em um continente Católico. Esse fator é uma das explicações sobre os reais motivos da Igreja Católica ser contra a escravização dos indígenas. Saiba mais: A única forma de escravidão indígena que era autorizada pela Igreja Católica era a Guerra Justa, que consistia em aprisionar como escravos, os indígenas que atacassem povoamentos portugueses sem nenhum motivo. O problema é que muitos colonos capturavam os indígenas na selva e os escravizavam, alegando que eles tinham sido capturados por meio da Guerra Justa. Esse fato, fez com que as relações entre os grandes senhores de engenho e os padres Jesuítas da Igreja Católica se tornassem meio conflituosas. Os jesuítas, que se dedicavam a catequese dos indígenas, além impor sua religião e cultura aos indígenas, também exploravam sua mão de obra, forçando-os a trabalhar nos aldeamentos que eles criavam. Assim, os indígenas que foram dominados pela Igreja Católica, não estavam isentos do trabalho pesado e dos castigos, que eram típicos dos trabalhadores escravos dos engenhos. Figura 10 - Padre José de Anchieta Fonte: Wikimedia Commons Para facilitar a comunicação, esses padres aprendiam as línguas indígenas como o tupi e o guarani, como foi o caso do padre José de Anchieta que chegou a escrever uma gramática com as regras ortográficas do tupi. Invasões estrangeiras A grande extensão territorial do litoral brasileiro era um grande problema para que a coroa portuguesa organizasse a sua defesa. Mesmo com a ocupação das Capitanias Hereditárias e a construção de fortes, muitas áreas acabavam ficando desprotegidas, possibilitando a sua ocupação pelos países que não tinham colônias na América. Os franceses, que por duas vezes tentaram ocupar terras brasileiras com a finalidade de fundar uma colônia que servisse de entreposto comercial entre a França e a América, é um bom exemplo desses ataques a costa brasileira. Entre os anos de 1555 e 1560 eles ocuparam a região onde hoje está localizada a cidade do Rio de Janeiro, no estado do Rio de Janeiro (na época denominada de França Antártica) e entre os anos de 1612 e 1615 eles ocuparam a região onde hoje está localizada a cidade de São Luís no estado do Maranhão (na época denominada de França Equinocial). Em ambos os casos os franceses estabeleceram um intenso comércio com os povos indígenas e receberam nessas povoações muitos dissidentes religiosos e criminosos que foram expulsos da França. Por outro lado, em consequência dos poucos recursos e investimento da coroa francesa, essas povoações não conseguiram resistir aos ataques das tropas portuguesas (lideradas principalmente pela elite local do Brasil), que os expulsaram e recuperaram os territórios invadidos. Já o caso da invasão holandesa do território brasileiro, foi um caso um pouco mais complexo. A Holanda lucrava indiretamente com a produção açucareira do Brasil, emprestando dinheiros para financiar a produção, transportando, refinando e distribuindo o excedente de açúcar que os portugueses não tinham condições de fazer. Assim, pode-se dizer que não havia motivos para realizar uma invasão. Porém, com a morte do rei português D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir (combate onde o monarca enfrentava com suas tropas os mouros muçulmanos do norte da África) em 1578, uma crise de sucessão do trono português desencadeou-se. Como D. Sebastião não tinha herdeiros diretos, o trono lusitano passou a ser comandado pelo seu primo Felipe III, o rei da Espanha, dando origem a União das Coroas Ibéricas. Desse modo, no momento que os espanhóis passaram a comandar Portugal e consequentemente o Brasil que era sua colônia, a aliança comercial com a Holanda foi rompida. Figura 11 - D. Sebastião, rei de Portugal Fonte: Wikimedia Commons Foi nesse momento, que a Holanda se sentiu prejudicada devido à perda dos seus ganhos com o açúcar, que esse país decidiu invadir o território brasileiro, passando a controlar as principais áreas produtoras desse gênero. Assim eles invadiram a Bahia entre os anos de 1624 e 1625, quando foram expulsos pelas topas locais dos ricos senhores de engenho que não admitiam perder seus territórios. Anos mais tarde, em 1630 eles invadiram o Pernambuco e ocuparam a região até 1654. Nessa invasão os holandeses estavam melhor estruturados e resistiram aos ataques das elites locais, garantindo sua permanência na região. Algumas mudanças significativas foram feitas pelos holandeses que passaram a beneficiar os antigos colonos e senhores de engenho, o que fez com que eles enfrentassem uma menor resistência dos brasileiros. A criação da companhia das Índias Ocidentais, por exemplo, facilitava que os produtos manufaturados da Europa, chegassem ao Brasil a um preço muito menor do que o praticado pelos portugueses pelo Pacto Colonial. Para administrar as áreas invadidas pelos holandeses no Pernambuco veio ao Brasil o Conde Maurício de Nassau, que realizou diversas obras na cidade de Recife endireitando ruas, drenando terrenos, construindo pontes, abrindo canais e erguendo imponentes prédios públicos. No campo da cultura ele investiu em um observatório astronômico, na construção de um zoológico e um jardim botânico, trouxe para o Brasil diversas companhias de dança, óperas e exposições de arte. Na administração pública criou um sistema de coleta de lixo, garantiu a liberdade de culto de todas as religiões e organizou uma brigada que servia como corpo de bombeiros da cidade. Dessa forma, ele conseguiu fortalecer o apoio dos brasileiros ao domínio holandês e atrair novos imigrantes que pretendiam, tentar a sorte na América fugindo das guerras e das perseguições religiosas de seus países. Figura 12 - Maurício de Nassau Fonte: Wikimedia Commons Com a morte do rei espanhol Felipe III, o trono ibérico passaria para seu filho Felipe IV e, com isso, os portugueses conseguiram organizar-se para realizar a separação das coroas, lançando D. João IV como o novo rei de Portugal. Essa disputa fez com que Portugal recuperasse sua autonomia política e o controle de suas colônias. Assim ele pode mandar tropas da marinha lusitana para expulsar os holandeses do Brasil. Aproveitando-se das insatisfações de alguns senhores de engenho que tinham grandes dívidas com os bancos holandeses e das críticas da população sobre os tributos e taxas praticados por esses dominadores, o governo português articulou-se com a elite brasileira para realizar um levante contra os holandeses que controlavam essa região do nordeste brasileiro. Desse modo, tropas portuguesas associadas as tropas brasileiras foram mobilizadas e geraram uma grande insurreição que ficou conhecida como Batalha de Guararapes. Nela, elites locais e de outras regiões do Brasil lutaram com o apoio das tropas vindas de Portugal e esse confronto foi decisivo para que os holandeses fossem definitivamente expulsos do território brasileiro, que voltou ao comando de Portugal. Figura 13 - Batalha dos Guararapes (Obra de Victor Meirelles do século 19) Fonte: Wikimedia Commons A consequência dessa expulsão, foi que os holandeses passaram a produzir açúcar nas Antilhas, concorrendo com o açúcar brasileiro no mercado internacional. Esse fato, fez com que o ciclo açucareiro entrasse em crise depois de praticamente dois séculos. ATIVIDADES 1. Explique porque durante o período colonial os brasileiros eram obrigados a comprar os produtos manufaturados de Portugal, mesmo que eles fossem mais caros. 2. Assinale a afirmação correta quanto ao tipo de colonização adotada pelos portugueses para ocupar o Brasil a partir de 1524. [ ] Colônia de exploração, por meio de latifúndios escravistas voltados ao mercado externo. [ ] Colônia de povoamento, por meio de pequenas propriedades e comércio interno. [ ] Colônia de metropolização, por meio da transferência da corte real o sul da América. 3. Observe a imagem e responda: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_no_Brasil#/media/File:Pelourinho.jpg>. Acesso em: 31 mar. 2016. 15h. Como eram as condições de trabalho dos escravos no Brasil Colonial? 4. (FUVEST-2010) Os primeiros jesuítas chegaram à Bahia com o governador-geral Tomé de Sousa, em 1549, e em pouco tempo se espalharam por outras regiões da colônia, permanecendo até sua expulsão, pelo governo de Portugal, em 1759. Sobre as ações dos jesuítas nesse período, é correto afirmar que a) criaram escolas de arte que foram responsáveis pelo desenvolvimento do barroco mineiro. b) defenderam os princípios humanistas e lutaram pelo reconhecimento dos direitos civis dos nativos. c) foram responsáveis pela educação dos filhos dos colonos, por meio da criação de colégios secundários e escolas de “ler e escrever”. d) causaram constantes atritos com os colonos por defenderem, esses religiosos, a preservação das culturas indígenas. e) formularam acordos políticos e diplomáticos que garantiram a incorporação da região amazônica ao domínio português. 5. Pode-se dizer que a invasão holandesa dos territórios produtores de cana-de-açúcar no nordeste e sua posterior expulsão foram motivadas respectivamente pelo(a) a) envolvimento da Holanda no tráfico de escravos e o atrito entre Maurício de Nassau e os jesuítas da Igreja Católica. b) participação da Holanda na economia do açúcar e o endividamento dos senhores de engenho com a Companhia das Índias Ocidentais. c) interesse da Holanda na economia do ouro e a resistência nacionalista que não aceitava o domínio de povos não portugueses. d) tentativa da Holanda em monopolizar todo o comércio colonial Latino Americano e o fim da dominação espanhola em Portugal. e) a exclusão da Holanda do Tratado de Tordesilhas e o seu envolvimento na Guerra dos 100 anos contra a Inglaterra. LEITURA COMPLEMENTAR A mulher no mundo colonial Ao falar da condição da mulher na sociedade colonial, vemos que diversas obras apenas enfocam a supremacia determinada por uma sociedade de traço patriarcal. De fato, grande parte das mulheres estava subordinada ao mando de seus pais e maridos. Muitos documentos descreviam episódios de agressão, clausura e perseguição. No entanto, devemos também revelar a participação das mulheres de outras formas que escapam da lógica da dominação. No período da economia aurífera, os centros urbanos coloniais foram progressivamente tomados por estabelecimentos comerciais que abasteciam a população local. Segundo recentes pesquisas realizadas pela historiadora brasileira Mary Del Priore, uma farta documentação do século 18 indica que o número de mulheres envolvidas no comércio era bastante significativo. No ano de 1776, o comércio de Vila Rica tinha setenta por cento de seus estabelecimentos administrados por mulheres. Alguns relatos reforçam outra perspectiva ao falarem dos casos de mulheres que rompiam com a relação matrimonial e buscavam uma vida autônoma. Apesar de moralmente marginalizadas, essas mulheres não deixavam de impressionar pelas estratégias e ações que determinavam a sua sobrevivência em um mundo tomado pela figura masculina. Não raro, a prostituição aparecia como uma forma de sobrevivência à exclusão e à miséria. No ambiente doméstico, também podemos ver que a influência feminina poder ser vista no trato com a criadagem ou, até mesmo, na negociação de direitos e tarefas a serem delegadas ou permitidas pelo marido. Além disso, relatos fantasiosos conferiam poder a mulheres capazes de fabricar poções mágicas, invocar orações secretas, rogar pragas ou determinar a cura de doentes. Sendo assim, vemos que o lugar da mulher no ambiente colonial foi mais diverso do que talvez possamos pensar. SOUSA, Rainer Gonçalves. A mulher no mundo colonial. Mundo Educação. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/a-mulher-no-mundo-colonial.htm>. Acesso em: 31 mar. 2016. 16h30min. INDICAÇÕES FUNDAÇÃO BRADESCO. 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Comentário: O Pacto Colonial, que foi imposto pela metrópole portuguesa ao Brasil colonial, determinava que todos os produtos gerados no território brasileiro eram comercializados exclusivamente com Portugal, assim como, todos os produtos que o Brasil importasse deveriam ser comprados dos portugueses. Dessa forma, a metrópole garantiria o monopólio comercial sobre a sua colônia. 2. Comentário: O monarca português queria ocupar o território Brasileiro, transferindo o ônus da colonização para a iniciativa privada. Para tanto ele precisava criar condições para que a média nobreza se sentisse atraída à investir seus capitais na colônia. Desse modo, o açúcar surge como uma solução capaz de gerar grandes lucros para a aqueles que se dedicassem ao seu cultivo por meio da Plantation. Assim, a afirmativa correta é: “Colônia de exploração, por meio de latifúndios escravistas voltados ao mercado externo”. 3. Comentário: Os escravos trabalhavam em péssimas condições nas lavouras de canade-açúcar e na produção dos engenhos. Sempre vigiados por um feitor que os cobrava produtividade em um trabalho pesado e árduo, eles trabalhavam de sol a sol sem nenhum direito a descanso ou folga. Sua alimentação era feita com base na farinha de mandioca alguns legumes e as carnes pouco nobres, que eram rejeitadas pelos senhores de engenho. Recebiam algumas peças de roupa que usavam até virarem trapos e dormiam amontoados nas senzalas. Os escravos rebeldes ou que tentassem fugir, geralmente eram punidos em locais públicos com severas surras de chicote. 4. Alternativa C. Comentário: A educação formal na colônia era uma atribuição que ficava a cargo da Igreja Católica. Assim, os padres jesuítas se dividiam entre a catequese dos indígenas e o letramento dos filhos da elite. Aqueles senhores que pretendiam que seus filhos dessem sequência ao estudo, além do ensino fundamental oferecido por esses religiosos, na época, teriam que enviar esses jovens para a Europa, onde existiam as escolas secundárias e as universidades. 5. Alternativa B. Comentário: A questão aponta as motivações centrais para a invasão e a expulsão dos holandeses no Brasil. No primeiro momento, mostra que com a União das Coroas Ibéricas os holandeses teriam seus interesses ameaçados e, por isso, a invasão seria a única alternativa viável para que seus investimentos e lucros com a economia açucareira do Brasil não fossem perdidos. No segundo momento, mostra que a cobrança dos empréstimos contraídos pelos senhores de engenho acabou por desestabilizar as relações entre os colonos e a Companhia das Índias, motivando essa elite a reatar com Portugal para expulsar os holandeses do Brasil.