O conceito de território tem sido discutido e desenvolvido, com o

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ESTUDOS PRELIMINARES: O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO DE
CORUMBATAÍ DO SUL – PR
Tiago Roberto Alves Teixeira
Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – FECILCAM
[email protected]
Cinthian Aparecida Baia
Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – FECILCAM
[email protected]
Áurea Andrade Viana de Andrade
Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – FECILCAM
[email protected]
RESUMO:
Este trabalho é uma reflexão inicial de pesquisa sobre o processo de territorialização do
município de Corumbataí do Sul – PR. O objetivo central do estudo é entender as relações
de poder durante a ocupação e dominação do território, analisando o processo de
desterritorialização da produção do café devido ao incentivo do governo brasileiro na
mecanização da agricultura.
Palavras-chave: Corumbataí do Sul. Territorialização. Desterritorialização do café.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo central, realizar uma análise territorial do Município
de Corumbataí do Sul – PR. Para tanto, se faz necessário primeiramente discutir o conceito
de território. Assim, as discussões sobre esse conceito serão pautadas nas idéias de Raffestin
(1993), Haesbaert (2004), Saquet (2007), dentre outros autores.
Posteriormente, serão discutidas as principais características do município de
Corumbataí do Sul, analisando a territorialização do município dentro das dimensões
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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E-P-C-N. Diante disso, se faz necessário a análise de formação do território, a sua ocupação
e o seu povoamento, bem como, ressaltar alguns aspectos que contribuiriam no processo de
construção e consolidação do território em questão.
Neste contexto, que este ensaio seja instrumento para estudos sobre o município de
Corumbataí do Sul e instigue novas pesquisas. Uma vez que, o referido município possui
índices muito baixos de desenvolvimento humano se comparada à média do estado do
Paraná.
BREVE DISCUSSÃO SOBRE O CONCEITO DE TERRITÓRIO
O conceito de território tem sido discutido e desenvolvido, com o passar do tempo,
em diferentes abordagens. Assim, cada autor vai definir o termo conforme seus métodos e
concepções de interpretação da realidade.
Na esteira dessas colocações, o conceito de território, na Geografia Tradicional, vai
ser apresentado somente como Estado-Nação, limitado por fronteiras, sempre relacionado ao
solo, na relação homem-natureza (MORAES, 1999). Fato este discutido por Saquet:
Nas obras abordadas de Ratzel, o território ora aparece como sinônimo de
ambiente e solo, ora como Estado nação e dominação; é compreendido como
Estado nação, a partir do momento em que há uma organização para sua
defesa, sendo que esse Estado e o território tem limites e fronteiras
maleáveis. O território, portanto,é entendido como substrato palco para a
efetivação da vida humana, sinônimo de solo/terra e outras condições
naturais, fundamentais a todos os povos, selvagens e civilizados (sob
domínio do Estado). (SAQUET, 2007, p.31)
Porém em razão dos novos arranjos espaciais gerados pelos avanços
técnicos-científicos-informacionais, surge a necessidade de uma rediscussão sobre o tema,
visto que, as relações passam a ser mais complexas, intensas e abrangentes (HARVEY,
2005). Para Saquet (2007) as novas abordagens sobre o conceito de Território iniciam-se em
meados de 1950 a 1970 em autores como Gottmann, Sack, Lefrevbe, Foucault, Claude
Raffestin, Giuseppe Dematteis, Bagnasco, Magnaghi, entre outros, que vão se destacar nesta
discussão.
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Raffestin (1993) é um dos autores mais abordados em discussões sobre território.
Esse autor conceitua o território por meio das relações de poder, ressaltando que:
É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O
território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida
por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível.
Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente [...] o ator
“territorializa” o espaço. (RAFFESTIN, 1993, p. 143)
Assim território é posterior ao espaço, surge depois que ocorre uma apropriação
do espaço onde é territorializado conforme as necessidades do proprietário. Para surgir o
território é necessário que haja relações de poder envolvidas, que o espaço seja apoderado
por pessoas ou instituições.
[...] um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e
que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o território
se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço.
Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve
num campo de poder [...] (RAFFESTIN, 1993, p.144).
Poder e território são enfocados em conjunto para se conceituar Território. Se
atualmente é o sistema capitalista que vai predominar nas relações de poder entre grupos e
instituições, é através desta faceta que o espaço vai ser territorializado. Assim, a ação de
grupos, de pessoas e instituições no exercício do poder e suas relações vão construir o
território. Estas relações estão assentadas sobre o sistema capitalista, as quais vão dar as
formas e características de cada território.
Saquet (2007) diferentemente de Raffestin (1993) não cita somente a apropriação
política ou econômica, mas avança nas discussões, percebendo a importância de se analisar a
dimensão cultural e natural nas relações. Desta maneira a territorialização esta relacionada aos
poderes que vão agir e dominar o espaço comunicando suas intenções em interações de
ordem cultural, política econômica e natural criando de acordo com estas relações territórios
diferenciados, cabendo ao pesquisador identificar os sujeitos que o constroem sejam grupos,
instituições ou o Estado.
Haesbaert (2004) define territorialização como a ação de interação entre relações
sociais e apropriação e dominação do espaço, de forma concreta e simbólica, dentro das
dimensões: simbólica, cultural, material, econômico, político, social e histórico. Por outro lado,
Saquet (2007) sintetiza como sendo o poder sendo exercido.
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Sendo assim, o entendimento sobre o conceito de território é de grande importância
para o desenvolvimento da proposta dessa pesquisa. Nesta perspectiva, a análise desse
conceito norteará todo o trabalho, como forma de entender com mais clareza os jogos de
poder no município de Corumbataí do Sul.
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A partir desta exposição sobre o conceito de território, propõe-se analisar o
processo de territorialização do município de Corumbataí do Sul dentro das dimensões
E-P-C-N1. Assim, o município de Corumbataí do Sul localiza-se na mesorregião
Centro-Ocidental Paranaense, ocupando uma área territorial de 169.528 Km². Conforme o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2007) a população do município é de
4.262 habitantes. Macedo (2008) explica que de acordo com estudos do Instituto
Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES mais de 60% da
população do Município, vivem em situação de extrema pobreza. O Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM é de 0, 678, considerado um dos índices mais
baixos do Estado do Paraná, classificado na unidade da federação em 378, no universo de
399 municípios do Estado.
Conforme Macedo (2008) 80% da arrecadação do referido município provém do
setor primário demonstrando ser um município essencialmente agrícola. Tem como principal
produto o café, porém a partir da década de 1990, se destaca pela fruticultura, sendo
atualmente o maior produtor de maracujá do Estado do Paraná. Há também áreas que se
destacam pela produção da soja.
Quanto à população podemos refletir sobre dois pontos apontados por Macedo
(2008). Primeiro a população urbana passando a rural somente em 2007, diferentemente da
maioria dos municípios paranaenses que se deu em 1980, e uma diminuição onde na década
de 1970, havia cerca de doze mil habitantes, já na década de 1980 a população decaia para
quatro mil habitantes, e em 2000 a população se resumia em pouco mais de cinco mil
habitantes.
Segundo Reinhard Maack (2002):
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(...) a topografia da microrregião de Campo Mourão é composta por duas
divisões: a porção ocidental é composta por relevo constituído de colinas
suaves a planas, ligeiramente onduladas no espigão Ivaí/Piquiri; a porção
oriental é caracterizada por relevo movimentado, sendo profundamente
entalhados a sudeste, formando as mesetas das serras de Pitanga com
altitudes de 950 a l.050 metros s.n.m. (MAACK, 2002, p. 423)
Portanto, é na porção oriental da mesorregião de Campo Mourão, de relevo
movimentado onde se localiza a maior parte do município de Corumbataí do Sul. Porém,
destaca-se que o município se assenta no encontro desta divisão topográfica. Assim, parte do
município possui relevo acentuado como colinas suaves a ligeiramente planas.
Conforme Westphalen et all (1988) Corumbataí do Sul foi colonizada por migrantes
oriundos do norte do Paraná. Bernardes (1953) afirma que a região norte paranaense teve o
primeiro povoamento denominado de Colônia Mineira (Norte Velho), cujo nome já indica a
procedência desses povoadores, sendo mineiros (maioria) e paulistas os primeiros a colonizar
o município de Corumbataí do Sul.
De acordo com Costa (2004) Corumbataí do Sul inicialmente pertencia ao Município
de Barbosa Ferraz o qual foi dividido em glebas em 1948 por meio da Imobiliária Paraná
Ltda (capital privado), sediada em Londrina, a qual possuía os mesmos modelos de
colonização que aquele empreendido no Norte do Estado. Para Westphalen (1988), o
Estado do Paraná sem condições financeiras e estruturais para colonizar a região vai fazê-la
por meio de companhias terceirizadas, as quais implantaram no norte paranaense o modelo de
colonização, entre os rios Paranapanema e Ivaí. Estes modelos eram caracterizados por
pequenas propriedades e de fácil aquisição impulsionando a colonização e conseqüentemente
o desenvolvimento da cafeicultura que dominava a economia. Estas pequenas propriedades
ainda são visualizadas na maior parte do município apresentando um espaço diferenciado do
quadro de lotes de terras Paranaenses.
O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO DE CORUMBATAÍ DO SUL – PR
Após a breve caracterização da área de estudo, em Corumbataí do Sul podemos
identificar três principais atores que territorializam o espaço. Em primeiro lugar os produtores
de café, em segundo os produtores de soja e mais recentemente os produtores de maracujá.
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Portanto, fruto destas relações sobre o espaço que teremos os múltiplos territórios e as
diferentes territorialidades.
Primordialmente a territorialização do município esta relacionado com a produção do
café, relações de poder as quais estão vinculadas a aspectos econômicos, políticos e culturais.
Neste período de colonização, alguns dos objetivos que o governo buscava alcançar no
Paraná seriam colonizar as terras improdutivas e expandir a produção do café. Como já
citado, a colonização foi realizada por empresas terceirizadas como a Imobiliária Paraná Ltda,
e o povoamento por imigrantes (paulistas e mineiros) que já possuíam culturalmente a
produção do café como tradição.
Outro importante aspecto que deve ser abordado é a desterritorialização ocorrida no
cultivo cafeeiro. Segundo Moro (1991), na década de 1960, houve a superprodução da safra
de café, mesmo período onde o Paraná apresentava a cafeicultura como principal atividade
econômica, gerando assim, uma crise no meio rural paranaense. Nesta perspectiva, Penteado
(1973) discute sobre esta profunda crise no mercado brasileiro citando que houve uma
necessidade de investimentos para substituição de cultura.
Portanto, a partir de 1970, o rural passa por profundas transformações. Uma delas é
a modernização no campo, impulsionada pela ação do Estado, no qual criou-se vários
mecanismos de investimento como o Sistema Nacional de Crédito Rural – SNCR, investindo
capital nos agricultores para a aquisição de equipamentos, máquinas, fertilizantes, entre
outros. Ou seja, política agrícola de desestimulo a cafeicultura e de estimulo a soja, (Bauab,
2005).
Assim, os produtores de café serão desterritorializados em algumas partes do
município ocorrendo conseqüentemente uma reterritorialização. Porém isto ocorreu em uma
pequena área do município. Para Haesbaert (2004), os processos de produção do espaço
envolvem sempre, conseqüentemente a desterritorialização e reterritorialização dentro das
dimensões políticas, econômicas e culturais. Porém, neste estágio da pesquisa buscar-se-á
somente uma analise da territoralização do município, buscando um aprofundamento da
desterritorialização e reterritorialização em estudos futuros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Assim, a maior parte do município se situa sobre o relevo movimentado, permitindo
o plantio de café. Mas, a partir de 1970, o rural passa por profundas transformações, devido
à modernização no campo, ocasionadas pela ação do Estado, o qual criou vários mecanismos
de investimento investindo capital nos agricultores para a aquisição de equipamentos,
máquinas, fertilizantes, entre outros. Política agrícola esta de desestimulo a cafeicultura e de
estimulo a soja, ( Bauab, 2005).
Porém, os cafeicultores das áreas de relevo movimentado foram excluídos deste
processo, ficando estagnados no tempo, sem se desenvolverem, mantendo suas relações
antigas de produção. Outra característica seria a distribuição de terras onde a maioria é
composta por pequenas propriedades, apresentando um espaço diferenciado do quadro de
lotes de terras paranaenses onde na maior parte possui grandes propriedades.
Podemos apontar também que o território dos cafeicultores – locais com relevo
movimentado – possuem produções baixíssimas, ferramentas rudimentares, falta de redes de
comunicação, como internet, telefone, radio e TV, poucas redes de circulação e baixos
rendimentos. Portanto, um conjunto que demonstra as condições de desfavorecimento desses
agricultores, em relação aos grandes latifundiários.
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