Caatinga: Produção de Pequenos Ruminantes à Pasto no Contexto das Mudanças Climáticas Caatinga: Production of Small Ruminants to Graze in the Context of Climate Change Divan Soares da Silva1, Alberício Pereira de Andrade2, Ariosvaldo Nunes de Medeiros3 RESUMO: O Semiárido brasileiro, como tem sido apontado em estudos sobre mudanças climáticas, será uma das regiões mais afetadas, em decorrência dos cenários que indicam possibilidade de aumentos de temperatura. O Semiárido tenderá a tornar-se mais árido, podendo ocorrer um aumento na frequência e na intensidade das secas e consequentes reduções na disponibilidade de recursos hídricos. A adaptação ao clima da próxima década deve ser motivos de estudos que possibilite compreender os fenômenos e antever possíveis consequências para a sociedade e os ecossistemas. A produção animal na caatinga poderá severamente ser afetada pelas mudanças climáticas, de forma direta ou indireta. Daí urge a necessidade de adoção de estudos e políticas públicas no sentido de atenuar os efeitos advindos das mudanças climáticas. A revisão tem como objetivo discorrer sobre a produção animal na região Semiárida do nordeste do Brasil frente às possíveis mudanças climáticas. Considerando que a população na região nordeste se apresenta como a mais vulnerável às mudanças climáticas devido aos baixos índices de desenvolvimento social e econômico, associado às altas temperaturas e forte evapotranspiração, que tem afetado a disponibilidade de alimentos, podendo inclusive alterar a sazonalidade desta região influenciando de forma direta nos sistemas produtivos. Portanto, produzir nestas condições é um dos desafios mais complexos para exploração da agropecuária. O acúmulo de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera resulta em riscos e oportunidades que precisam ser compreendidos, com decisões políticas, econômicas e avanços tecnológicos com consequências globais de longo alcance. O uso de estratégias alimentares para a produção animal, tais como, o plantio e manejo adequado de forrageiras xerófilas, uso de forragem conservada e uso de resíduos da agroindústria, ainda, precisa melhorar os índices zootécnicos e econômicos e, principalmente, a sustentabilidade da pecuária da região. É preciso considerar que a adaptação às alterações climáticas exigirão novas abordagens para a pesquisa, bem como novas políticas e novas práticas de gestão da caatinga e de manejo das pastagens voltadas para o uso da produção animal. Palavras Chaves: aumento da temperatura, impactos, produção animal, semiárido ABSTRACT: The Brazilian semiarid, as has been suggested in studies of climate change will be one of the most affected regions, due to the possibility of scenarios that indicate temperature increases. The Semiarid will tend to become more arid, and may occur an increase in the frequency and intensity of drought and consequent reductions in the availability of water resources. The adaptation to weather the next decade should be grounds for studies that allows understanding the phenomena and predict possible consequences for society and ecosystems. Livestock production in the bush can be severely affected by climate change, directly or indirectly. Hence there is an urgent need to adopt public studies and policies to mitigate the effects from climate change. The review aims to discuss the animal production in Semiarid region of Northeastern Brazil in the face of possible climate change. Considering that the population in the Northeast is the most vulnerable to climate change due to low levels of social and economic development, associated with the high temperatures and strong evapotranspiration, which has affected the availability of food, and may even change the seasonality of this region by influencing directly in productive systems. So, produce under these conditions is one of the most complex challenges for agricultural exploitation. The accumulation of greenhouse gases ____________________ 1 Professor Visitante Nacional Sênior, UFCG, Pesquisador CNPq. [email protected] Professor Visitante Nacional Sênior, UFRPE/UAG, Pesquisador CNPq. [email protected] 3 Professor Associado, CCA/UFPB, Pesquisador CNPq. [email protected] 2 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. (GHG) in the atmosphere results in risks and opportunities that need to be understood, with political decisions, economic and technological developments with far-reaching global consequences. The use of food strategies for livestock production, such as planting and appropiate management xerófilas forage, conserved forage use and use of agro-industry also needs to improve the animal production rates and economic and, especially the sustainability of livestock in the region. We need to consider that adapting to climate change will require new approaches to research, as well as new policies and new practices for the management of bush and rangeland management focused on the use of animal production. Key words: temperature increase, impacts, livestock, semiarid 1. Introdução Os cenários de mudanças climáticas apontam para uma mudança de temperatura média acima de 2ºC, que incluem grandes desequilíbrios em ecossistemas fundamentais para a sobrevivência da humanidade. À medida que o planeta aquece, os padrões de chuva e temperatura mudam e eventos climáticos extremos como secas, chuvas intensas, que podem gerar inundações, ondas de frio e de calor se tornam mais frequentes, com impactos importantes em todas as regiões do planeta (PBMC, 2014). A mudança climática é um dos desafios mais complexos deste século, e nenhum país está imune aos possíveis impactos que poderão surgir. Os desafios estão interconectados e compreendem decisões políticas e econômicas controversas, bem como, avanços tecnológicos com consequências globais de longo alcance. A população na Região Nordeste se apresenta como a mais vulnerável às mudanças climáticas devido aos baixos índices de desenvolvimento social e econômico. Essa avaliação é baseada no pressuposto de que grupos populacionais com piores condições de renda, educação e moradia sofreriam os maiores impactos das mudanças ambientais e climáticas. O Semiárido nordestino pode, num clima mais quente no futuro, transformar-se em região árida. Isso pode afetar a agricultura de subsistência regional, a disponibilidade de água e a saúde da população, obrigando as mesmas a migrarem para outras regiões (PBMC, 2014). Algumas regiões do Brasil poderão ter seus padrões de temperatura e de chuva alterados, com o aquecimento global. Junto com a mudança dos padrões anuais de chuva, ou mesmo onde não houver alteração do total anual, deverão ocorrer intensificações dos eventos severos. Poderá ocorrer aumento de eventos extremos, principalmente de chuvas, nas grandes cidades brasileiras vulneráveis às mudanças climáticas como São Paulo e Rio de Janeiro (PBMC, 2014). No setor agropecuário, as consequências do aquecimento global serão inúmeras. Espera-se que o aumento da temperatura promova um crescimento da evapotranspiração e, consequentemente, um aumento na deficiência hídrica, com reflexo direto no risco climático para a agricultura. Mesmo considerando que na região Semiárida do Brasil, ao longo do tempo, tem sido traçadas políticas governamentais, por meio de órgãos como Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), Superintendência Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e mais recentemente, o 78 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. Instituto Nacional do Semiárido (INSA), as ações e objetivos direcionados para resolver ou apontar soluções são pontuais, em geral, não foram capazes de fazer com que a região atingisse um padrão aceitável de desenvolvimento socioeconômico, principalmente em relação ao setor primário, que é o mais vulnerável as consequências associado aos efeitos das mudanças climáticas, já com efeitos perceptíveis em alguns ecossistemas. A Região Semiárida do Nordeste do Brasil apresenta uma vegetação característica denominada Caatinga, que segundo o IBGE (2004) ocupa uma área aproximada de 844.453 km2, representando 10% do território Nacional, constituindo o bioma de importância para o Nordeste Brasileiro. A Caatinga (vegetação da região) é marcada por peculiaridades resultantes, principalmente de fatores climáticos, associada a diversidades de tipos de solos, de relevo, da rede hidrográfica, que contribuíram para o tipo de vegetação xerófila, caracterizando as paisagens que compõe esse ecossistema (Andrade-Lima, 1981). Por outro lado, nessa região há uma alta densidade populacional, com um IDH muito baixo, com questões socioeconômicas elevadas, que necessitam de políticas governamentais urgentes, para atenuar a desigualdade existente. Segundo o IBGE (2010) o semiárido é uma região mais populosa do planeta, com 21 milhões de pessoas, representando 27,9% da população brasileira, na sua maioria vivendo em pequenas propriedades agrícolas, onde Lira et al. (2005) mostram que a estrutura fundiária do semiárido nordestino tem como base a agricultura familiar, representando 77% com tamanho das propriedades variando de 1 a 20 hectares. A vegetação da Caatinga desempenha papel relevante, não só na exploração da agropecuária, mas como fornecedor de energia renovável, potencial madeireiro, fornecimentos de espécies medicinais, nos fito terapêuticos, na extração de óleos, ceras, fibras e artesanatos, que tem mantido uma relação do homem com o ambiente, mesmo com a variabilidade e a incerteza da ocorrência de precipitação, o homem do semiárido continuam esperançoso, lutando contra a adversidade, onde os reservatórios e mananciais estão no seu limite mínimo, a morte de animais e de espécies vegetais, fatores que tem contribuído para o processo de degradação. Sabe-se que a maior parte da vegetação da Caatinga na região semiárida do Nordeste do Brasil encontra-se em estádio de sucessão secundaria, com tendência a desertificação, que segundo Pereira Filho e Bakke (2010) é passível de recuperação e pode ser explorada de forma sustentável. Segundo Nobre (2011) as mudanças climáticas globais decorrentes do acumulo de gases de efeito estufa (GEF), seja dióxido de carbono (CO 2), metano (CH4) e os óxidos nitrosos (NO x) representam um desafio sem precedentes para a humanidade, devido a velocidade com que se estão processando e pelas consequências para as atividades humanas. Levantamento realizado por Oyama e Nobre (2003) demonstra que o Bioma Caatinga se apresenta como o mais vulnerável devido o aumento das temperaturas globais, sendo um forte fator para a desertificação da região. Sabe-se que a questão climática da região Nordeste do Brasil não é somente de hoje, desde a época de Dom Pedro II já demonstrava preocupação, os relatos de Euclides da Cunha, em Os Sertões, os escritos de Guimarães Duque, a políticas de Governo com as criações de órgãos e outras políticas de ações contra 79 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. a seca foram desencadeadas mas até o momento de concreto nada foi efetivado, pois com a chegada da seca vem a preocupação, retorna a chuva, tudo caí no esquecimento, e hoje estamos mais uma vez enfrentando uma grande seca e a esperança é a transposição do Rio São Francisco. A ocorrência das mudanças climáticas precisa ser compreendida, onde o acúmulo de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera resulta em riscos e oportunidades (Nobre, 2011), portanto se faz necessário colocar em pratica tecnologias que sejam adaptadas as mudanças, como o uso racional dos recursos forrageiros nos estratos arbóreo, arbustivos e herbáceos da Caatinga na alimentação de ruminantes, considerando que a vocação da exploração da Caatinga é pecuária. Assim, considerando que há oportunidades em explorar a pecuária de pequenos ruminantes diante das mudanças climáticas, aproveitando as potencialidades do semiárido de forma sustentável e economicamente viável, procurando respeitar suas particularidades, que segundo Andrade et al. (2006) é preciso aprender com a diversidade da natureza da região e tirar proveito da semiaridez. Neste contexto, pretende-se com esta revisão discorrer sobre a produção de pequenos ruminantes à pasto considerando os efeitos das mudanças climáticas na Caatinga. 2. A Caatinga no contexto das mudanças climáticas Os critérios utilizados para a delimitação do Semiárido, pelo Ministério da Integração Nacional, foram a precipitação pluviométrica média anual inferior a 800 milímetros, o índice de aridez de até 0,5 calculado pela razão da precipitação e da evapotranspiração potencial (no período entre 1961 e 1990) além do risco de seca maior que 60% (Brasil, 2005). Por essas características, a região é altamente vulnerável aos fatores climáticos e segundo o Quarto Relatório de Avaliação do International Panel on Climate Change (IPCC) (IPCC, 2007), o Semiárido brasileiro será uma das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas, uma vez que, além dos cenários de aumentos de temperatura, o Semiárido tenderá a tornar-se mais árido, podendo ocorrer um aumento na frequência e na intensidade das secas e consequentes reduções na disponibilidade de recursos hídricos. Essas alterações no clima da região resultarão no impacto sobre a vegetação, a biodiversidade e sobre as atividades que dependem dos recursos naturais (Marengo, 2006). O Semiárido brasileiro, com área de aproximadamente 1.037.000 km2, no qual está localizado o Bioma Caatinga, com 844.453 km2 representando, respectivamente 18 e 11,67% do território nacional (Castelletti et al., 2004; Brasil, 2005), necessita de atenção devido à sua fragilidade às mudanças climáticas globais. A variedade de paisagens e de ambientes deve ser destacada como uma das características mais marcantes da região, o que dificulta generalizações na discussão de vários temas (Salcedo e Sampaio, 2008). Caatinga é o tipo de vegetação que cobre a maior parte da área com clima semiárido da região Nordeste do Brasil. Naturalmente, as plantas não têm características uniformes nessa vasta área, mas cada uma dessas características e as dos fatores ambientais que afetam as plantas 80 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. é distribuída de tal modo que suas áreas de ocorrência têm um grau de sobreposição razoável (Rodal e Sampaio, 2002). A Caatinga nome dado à vegetação de ocorrência no semiárido do Nordeste do Brasil, apresenta diversas classificações de conformidade com os estratos, herbáceos, arbustivos e arbóreo, na sua diversidades de famílias e características de plantas caducifólias e presença de espinhos. Segundo Araújo Filho e Crispim (2002) há 12 tipos de Caatingas, sendo a mais comum a caatinga arbustivaarbórea, representativa dos Sertões e a caatinga arbórea, com ocorrência nas vertentes e pés-de-serras e dos aluviões. Nas Caatingas há ocorrências de diversas espécies, onde Drumond et al. (2000) destaca: jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Wild) Poiret), marmeleiro (Croton sonderianus Muell. Arg.), catingueira (Caesalpinia bracteosa Tul.), mororó (Bauhinia cheilantha), o angico (Anadenanthera macrocarpa (Benth)), o pau-ferro (Caesalpinia ferrea Mart. ex. Tul.), a canafistula (Senna spectabilis var. excelsa (Sharad) H.S.Irwine & Barnely), o marizeiro (Geoffraea spinosa Jacq.), o sabiá (Mimosa caesalpinifolia (Benth.)), o rompe-gibão (Pithecelobium avaremotemo Mart.), o juazeiro (Zizyphus joazeiro Mart.), o engorda-magro (Desmodium sp.), a marmelada-de-cavalo (Desmodium sp.), o feijão-bravo (Capparis flexuosa L.), o matapasto (Senna sp.), as urinárias (Zornia sp.), o mofumbo (Combretum leprosum mart.), as milhãs (Brachiaria plantaginea e Panicum sp,), capim-panasco (Aristida setifolia H. B. K.), capim-rabo-de-raposa (Setaria sp.), centrosema (Centrosema sp.), ervade-ovelha (Stylosanthes humilis), a malva branca (Sida cordifolia L.), alfazema brava (Hyptis suaveolens Point), manda pulão (Croton sp.), bredo (Amaranthus sp.), além das espécies frutíferas, o umbu (Spondias tuberosa Arruda), araticum (Annona glabra L., A. coriacea Mart., A. spinescens Mart.), mangaba (Hancornia speciosa Gomez), jatobá (Hymenaea spp.), juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), murici (Byrsonima spp.) e o licuri (Syagrus coronata (Mart.) Becc.), que são exploradas de forma extrativista pela população local, sem qualquer técnica de cultivo. Essa forma de exploração tem levado a uma rápida diminuição das populações naturais dessas espécies vegetais, que estão ameaçadas de extinção. Enfim, mesmo sendo a vegetação da caatinga ser formadas por espécies adaptadas às condições climáticas do Semiárido, o cenário de mudanças climáticas apontam implicações sobre este bioma. Tem sido aceito que estudos de modelagem da vegetação associados aos cenários de alta emissão de gases do efeito estufa apontam que a Caatinga pode ter uma alteração na sua vegetação, tornando uma região árida com predominância de cactáceas (Oyama e Nobre, 2003; Salazar et al., 2007,). Portanto, cabe aos órgãos governamentais fazer planejamentos de longo prazo de forma que possibilite diminuir os efeitos das mudanças climáticas sobre a sustentabilidade da região Semiáridas, sobretudo quando se considera seus efeitos sobre os aspectos social e econômico da população. Se aceita que num cenário de mudanças climáticas a produtividade agrícola terá consequência direta na segurança alimentar e na economia do país. Diante dos cenários futuros estima-se uma queda na produção agrícola, influenciando o PIB que depende do agronegócio (Cerri e Cerri, 2007). Urge a necessidade de 81 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. encontrar meios que possibilite a adoção de medidas de mitigação e adaptação dos sistemas produtivos locais. 3. Potencial forrageiro da caatinga O potencial forrageiro da Caatinga sempre foi objeto de estudo no sentido de encontrar respostas mais coerentes sobre aspectos relacionados à sua quantidade e qualidade no contexto de seu uso para a produção sustentável. Sabe-se que diversos recursos forrageiros são utilizados na alimentação dos ruminantes no Semiárido brasileiro, incluindo a vegetação nativa e plantas exóticas adaptadas. Entretanto, devido à alta irregularidade das chuvas em termos de espaço e tempo, com evidência para a intensidade dos eventos, a maior parte da região sempre enfrenta um problema crônico do alto déficit hídrico, impedindo o pleno desenvolvimento de atividades agropecuárias. Assim, resta ao produtor, aceitar que a produção pecuária no Semiárido deve ter como suporte o uso da Caatinga. Tem sido aceito que a caatinga é formada especialmente por uma vegetação xerófila e de fisionomia florística variada, ocupando uma área de 824.000 km2, correspondendo a cerca de 70% da área da região Nordeste (Drumond et al., 2000). A diversidade na composição florística do bioma Caatinga (Andrade-Lima, 1981) dificulta as estimativas de capacidade de suporte. Além disso, o ambiente pastoril na Caatinga é compartilhado tanto por rebanhos bovinos, quanto por caprinos e ovinos, sendo que mais de 90% dos modelos de exploração pecuária praticados na região são mistos. Alguns trabalhos mostram que a capacidade de suporte para ambientes pastoris de Caatinga, baseada na identificação de plantas forrageiras e de sua oferta de forragem ao longo do ano, pode variar de 1,0 a 22 ha/UA/ano. A caatinga pelas suas características da vegetação, condições ambientais, edáfica e climáticas, apresenta um potencial na exploração sustentável para a pecuária, mesmo apresentando uma produção de matéria seca de forragem pouco expressiva, 4000 kg/ha/ano (Araújo Filho, 1992), que é variável dentre e entre anos e entre os tipos de caatingas. Sabe-se que a produção de matéria seca é resultante da parte aérea das plantas lenhosa, principalmente no período seco do ano, com a queda das folhas, constituindo a serapilheira, que serve de alimentação para os ruminantes e como retorno de nutrientes, através da decomposição e no período das chuvas das espécies herbáceas e de folhas e ramos das espécies arbustivas e arbóreas. Práticas de manipulação da caatinga, como raleamento, rebaixamento e enriquecimento foram empregadas com a finalidade de aumentar o potencial de produção de matéria seca, e assim permitir um aumento na capacidade de suporte e melhor desempenho animal (Tabela 1 e 2). Os dados demonstram que há uma variação na produção de fitomassa, que reflete no desempenho animal, e a variação é dependente das condições climáticas, onde as mudanças ocorridas nos últimos anos tem afetado a produção animal, principalmente pela redução da disponibilidade de matéria seca produzida na Caatinga. Porém manipulação da caatinga apresenta vantagens e desvantagens, principalmente 82 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. considerando que a sua aplicação tem um custo de investimento que nem sempre há retorno econômico para o produtor. Tabela 1. Disponibilidade média anual de matéria seca da parte aérea da fitomassa de pé, do restolho e da fitomassa total da caatinga sob diferentes tratamentos. Ouricuri, PE, 1990-1994 Tratamentos Fitomassa de pé Restolho (kg/ha) (%) (kg/ha) (%) Desmatamento 803,9ab* 21,7 2.906,0c 78,3 Raleamento 575,6bc 14,6 3.380,1bc 85,4 ab Raleamento-rebaixamento 661,6 14,6 3.879,8b 85,4 Rebaixamento 937,5a 16,0 4.920,6a 84,0 c c Controle 285,1 9,2 2.818,3 90,8 Média 652,7 15,2 3.581,0 84,8 *Médias seguidas de letra diferente na coluna diferem entre si (P<0,05). Fonte: Araújo Filho et al. (2002). Fitomassa total (kg/ha) 3.709,9c 3.955,7bc 4.514,4b 5.858,1a 3.103,4c 4.233,7 Os valores observados por Araújo Filho et al. (2002) para o estrato herbáceo em uma caatinga raleada foi de 484,4 kg/ha no início das chuvas, 1.190,4 kg/ha no final do período chuvoso e de 283,5 kg/ha no final do período de estiagem. Santos (2006) ao avaliar a disponibilidade de fitomassa de gramíneas e dicotiledôneas do estrato herbáceo de uma caatinga raleada no sertão da Paraíba encontrou 2.252,8 kg de MS para gramíneas e de 1.746,4 kg de MS para dicotiledôneas. Tabela 2. Produção de matéria seca (MS), capacidade de suporte e produção de peso vivo nos diferentes níveis de manipulação da Caatinga Nível de manipulação Caatinga nativa Caatinga raleada Caatinga rebaixada Caatinga enriquecida Nível de manipulação Produção Distribuição Fitomassa Fitomassa (kgMS/ha/ano) lenhosa (%) herbácea (%) pastável (%) 4.000 90 10 10 (4.000) 4.000 20 80 60 (2.400) 4.000 60 40 40 (1.600) 4.000 10 90 90 (3.600) Relação da produção de forragem com a produção animal Capacidade de suporte Produção de peso vivo (kg/ha/ano) Caatinga nativa Bovino 10 - 12 Ovino 1,5 – 2,0 Caprino 1,5 – 2,0 Bovino 8 – 10 Ovino 12 – 15 Caprino 15 – 20 Caatinga raleada 2,5 – 3,0 0,5 0,5 60 50 37 Caatinga rebaixada 3,5 – 4,5 1,0 – 1,5 0,5 – 0,7 20 20 40 Caatinga enriquecida 1,0 – 1,5 0,1 – 0,4 0,3 – 0,5 130 150 100 Cobertura lenhosa (%) 30 – 100 30 – 40 50 – 60 10 - 15 Melhor opção de exploração Caprino Ovino ou bovino Caprino Ovino ou bovino Fonte: Adaptado de Araújo Filho e Crispim (2002) e Araújo Filho (1992). A produção de forragens para ruminantes no Semiárido Brasileiro constitui um dos maiores desafios enfrentada pela pecuária explorada na região, devido a ocorrência das mudanças climáticas, sendo determinantes à deficiência hídrica no solo, associado às altas temperaturas e forte evapotranspiração, que tem afetado a disponibilidade de alimentos, mudando a sazonalidade desta região, onde normalmente há uma oferta de forragens na estação chuvosa e escassez no período seco. Esses aspectos reforçam o uso de estratégias alimentares, tais como o plantio e manejo adequado de 83 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. forrageiras xerófilas, uso de forragem conservada, na forma de feno e silagem, do excedente da fitomassa da caatinga e utilização de resíduos da agroindústria, como forma de suplementação dos animais, objetivando melhorar os índices zootécnicos e econômicos e, principalmente, a sustentabilidade da pecuária da região, atenuando o efeito da mudança climática. 4. Produção animal no semiárido: enfrentando desafios A produção animal é uma das atividades socioeconômicas mais importantes do Semiárido brasileiro, com destaques para os pequenos ruminantes, caprinos e ovinos. No Semiárido a pecuária sempre foi a principal atividade que contribui com a produção de alimentos para as famílias e para a geração de empregos e manutenção de pessoas na zona rural, além de impulsionar cadeias produtivas que tem grande participação na economia de toda a região (Holanda Júnior et al., 2004). Estima-se que o rebanho bovino do Semiárido seja de aproximadamente 14 milhões de cabeças, cerca de 50% do rebanho da região Nordeste e de 15% do plantel nacional (IBGE, 2006). Dentro dos limites do Semiárido, a pecuária leiteira bovina destaca-se no Agreste Nordestino, com a presença de importantes bacias leiteiras como a de Nossa Senhora da Glória/SE, Batalha/AL e Garanhuns/PE. Na pecuária de corte, o norte de Minas Gerais e o Centro-Sul e Centro-Norte Baiano se destacam como importantes regiões produtoras. O Semiárido brasileiro também tem grande destaque na criação de caprinos de corte e leite e na produção de ovinos destinados ao corte e pele. Segundo o IBGE (2012) o plantel caprino e ovino da região é de aproximadamente 17 milhões de animais. A pecuária caprina leiteira destaca-se na Paraíba e Rio Grande do Norte, com volumes diários de produção superiores a 20.000 L, ao passo que a caprinovinocultura de corte é praticada especialmente nas regiões mais secas do Semiárido. Os sistemas de produção desses ruminantes são, em sua maioria, extensivos e até mesmo ultraextensivos, predominando os pequenos empreendimentos de base familiar, em que a fonte alimentar principal dos rebanhos é a vegetação nativa. A diversidade de condições edafoclimáticas, de relevo e de vegetação da região, no entanto, possibilita a exploração de uma grande variedade de culturas agrícolas e de plantas forrageiras, em sua maioria adaptadas ao clima quente e seco. Entretanto, mesmo a vegetação e os animais já estarem adaptados às condições edafoclimáticas predominantes no Semiárido, admite-se que as mudanças climáticas podem afetar os sistemas de produção animal adotados nesta região. Como agravante dessa situação que se avizinha, ao se considerar que é frágil a estrutura de suporte alimentar dos rebanhos nordestinos e, portanto, esta situação se reflete na baixa capacidade de suporte dos pastos nativos da caatinga devido às secas periódicas e a errática distribuição das chuvas, a reduzida utilização de pastos cultivados, o alto custo dos concentrados comerciais e a ausência de tradição no armazenamento de forragens nas formas de feno e silagem (Lima, 2010). Entretanto, mesmo nessas condições desfavoráveis, estudos recentes da EMBRAPA/Semiárido em 107 municípios situados nas áreas secas do Nordeste, constataram que 84 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. cresce a renda dos produtores, à medida que se eleva a participação da pecuária na unidade produtiva, ou seja, é a pecuária a atividade que possibilita reduzir os efeitos da seca sobre os sistemas de produção local. Os zoneamentos bioclimáticos podem ser utilizados para avaliar o risco climático da pecuária frente aos cenários de alterações no clima, pois fornecem informações sobre o potencial da atividade em uma região, bem como os possíveis efeitos sobre as áreas de produção de forragens, o consumo alimentar e a produção dos animais (Silva et al., 2009; Silva et al., 2010). Cenários futuros para a produção animal nesta região foram gerados com o auxílio de modelos de aptidão desenvolvidos para as espécies forrageiras Brachiaria brizantha (capim-braquiarão), Panicum maximum (capim-colonião, capim-guiné, capim-mombaça, capim-Tanzânia, capim-massai etc.), Cenchrus ciliaris (capim-buffel) e Opuntia fícus indica (palma forrageira), e a partir destes estudos, foram identificadas as áreas de maior vulnerabilidade. A exploração pecuária pelos produtores da agricultura familiar no semiárido brasileiro é uma das atividades principal e importante, que segundo Lima (2006) é função de sua maior resistência à seca quando comparada às explorações agrícolas, constituindo em um dos principais fatores para a garantia da segurança alimentar das famílias rurais e geração de emprego e renda na região. Porém a produção animal na região Semiárida do Brasil apresenta baixos índices zootécnicos decorrentes de vários fatores, como a genética dos animais, das condições ambientais, da sazonalidade da produção de massa de forragem, com variação na oferta de forragens nos períodos de chuva e de seca, de falta de praticas zootécnicas, que tem implicações na taxa de crescimento, no desempenho reprodutivo, alta mortalidade, problemas sanitárias, além do estresse climático que nos últimos anos tem influenciado de forma direta na produção animal. A pratica de introdução e utilização de forrageiras adaptadas ao semiárido como o capim-buffel (Cenchrus ciliaris), leucena (Leucaena leucocephala), gliricídia (Gliricidia sepium) e principalmente da palma forrageira (Opuntia fícus indica Mill), além das espécies forrageiras nativas da caatinga como a maniçoba (Manihot glaziovii Muell), o feijão bravo (Capparis flexuosa), o sorgo forrageiro (Sorghum sp), a melancia forrageira (Citrullus lanatus var. citroides), dentre outras, tem procurado atenuar o baixo desempenho animal incrementando a produção de bovinos, caprinos e ovinos no semiárido brasileiro (Drumond, 2004). Segundo Silva et al. (2005) a produção de caprinos é afetada pelo sistema de produção adotado e principalmente pelos fatores climáticos, alterando a fisiologia dos animais, considerando que a termoneutralidade ou a zona de conforto térmico não é adequada para os animais, influenciando negativamente na produtividade animal. Para uma resposta satisfatória da produção animal se faz necessário o ambiente apresentar uma termoneutralidade onde o animal vai requerer um mínimo de energia para manter a temperatura corporal, portanto, variação na temperatura ambiente acima ou abaixo da temperatura critica, o animal necessita de um suporte de energia para manter o comportamento fisiológico (Silva et al., 2006). Já Roberto et al. (2010) comenta que os animais reagem diferentemente a exposições frequentes a radiação solar, à mudanças drásticas de temperatura 85 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. dentre outros fatores ambientais alterando o comportamento e a produtividade dos mesmos, além de sofrerem mudanças em vários parâmetros fisiológicos. O trabalho de Brasil et al. (2000) com cabras leiteiras da raça alpina avaliando o efeito do estresse térmico sobre a produção, composição química do leite e respostas termorreguladoras mostraram redução de 5,4% na produção de leite, redução nos teores de gordura, proteína, lactose e sólidos totais e que a redução da produção de leite foi consequência do estresse das cabras no período da tarde, devido o armazenamento de calor da manhã para a tarde, provocando aumento da temperatura ambiente efetiva levando à hipertermia dos animais. Enquanto Brown et al. (1988) observaram redução de 6% na produção de leite de cabras Alpinas quando a temperatura foi mudada de 20oC para 34oC. Já Esmail (1986) com cabras da raça Saanen introduzidas na região tropical observou redução na produção de leite de 36,6%, o que demonstra o efeito do estresse calórico sobre a produção animal. A produção animal na região semiárida do Nordeste do Brasil em grande parte é realizada em pastagens considerada nativa, em sistema de produção semi-extensivo, influenciado pela quantidade e qualidade da oferta de forragem, que é dependente da ocorrência da precipitação. Nos últimos anos a produção de massa de forragem tem reduzido bastante pela influencia das mudanças climáticas, onde não se tem distinção dentro do ano qual o período chuvoso, transição (fim das chuvas e inicio do período sem chuva) e período seco, devido a irregularidade da precipitação. A pesquisa tem buscado soluções para atenuar a baixa produtividade animal no semiárido nordestino, considerando a diversidades de sítios ecológicos existentes, alguns sistemas de produção animal a pasto foram desenvolvidos, como a manipulação da Caatinga (Araújo Filho, 1992); o CBL e o SIPRO (EMBRAPA); sistema Gloria, o confinamento e produção de massa de forragem com irrigação; o pasto nativo com suplementação estratégica; o agrossilvopastoril; o uso de pastagens cultivadas e irrigadas, além do sistema tradicional, que é o mais praticado, onde a caatinga é o suporte forrageiro durante todo o ano e na época da seca, maior escassez de forragem, praticas de suplementação são aplicadas de acordo com os recursos disponíveis por cada propriedade, com palma forrageira, com os resíduos de culturas, o capim-elefante, e gramíneas cultivadas para pastejo, (capimbuffel, corrente). Acredita-se que a pastagem nativa pode funcionar bem, com uma resposta da produção animal, onde a suplementação durante um determinado período do ano reduziria a pressão animal na caatinga, mantendo o equilíbrio entre a Caatinga e a produção animal, mesmo com a adversidade nas irregularidades das condições climáticas. Os dados de desempenho de caprinos (Tabela 3) demonstrado por Guimarães Filho et al. (2000), mostram que a introdução no sistema tradicional de práticas zootécnicas apresentam resultados satisfatórios, trazendo benefícios para o produtor rural. O sistema de produção animal na caatinga, capim-buffel e leucena (CBL) pouco tem sido usado pelos produtores, onde a caatinga é pastejada por um período de tempo, principalmente na maior disponibilidade de massa de forragem e no período de escassez ou seja inicio do período sem chuva os 86 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. animais vão para o pasto de capim-buffel e recebem uma suplementação proteica a base de leucena ou outra leguminosa, como banco de proteína ou na forma de feno. Dados de Guimarães Filho e Soares (1992) demonstram que no sistema CBL novilhos machos aos 30-36 meses de idade apresentaram peso vivo médio de 420-450 kg, enquanto no sistema tradicional, caatinga mais suplementação com palha, os novilhos aos 36 meses de idade apresentaram peso vivos de 270 kg. Tabela 3. Índices médios de desempenho estimados para caprinos de corte sob diferentes sistemas de produção no Semiárido Brasileiro Índice Tradicional Intensificado Número de crias nascidas/matriz exposta x ano 1 – 1,2 1,5 – 1,7 Mortalidade pré-desmame (%) 15 – 25 5 – 10 Peso vivo aos 112 dias (kg) 7 – 10 13 – 16 kg de crias desmamadas/matriz exposta x ano 6 – 11 17 – 24 Idade para atingir 25 kg de peso vivo (meses) 12 – 15 6–9 kg de animais comercializáveis/matriz exposta x ano 17 – 22 32 – 39 Fonte: Guimarães Filho et al. (2000) O sistema Glória desenvolvido e utilizado no Estado de Sergipe preconiza a integração agricultura e pecuária, onde a pastagem cultivadas com capim-buffel ou com outras forrageiras adaptados ou de ocorrência na região são utilizados, conforme as condições ambientais, e em determinados período do ano, os animais recebem alimentação suplementar seja feno, palhadas, silagem ou mesmo a palma forrageira. No sistema SIPRO predomina o uso máximo da caatinga no período chuvoso pelos animais e recebem suplementação no período seco, praticas que as maiorias dos produtores já realizam, quando há disponibilidade de alimentos para suplementação. O uso de confinamento, de modo geral tem sido uma pratica mais experimental do que dos produtores, onde a pesquisa tem mostrado que a terminação de ovinos e caprinos confinados tem apresentado bons resultados, conforme dados de Castro et al. (2007) trabalhando com ovinos Santa Inês em recria recebendo ração completa com até 80% de feno de maniçoba ganharam mais de 200 g de peso vivo por dia (Tabela 4), demonstrando o potencial de espécies forrageiras de ocorrência na Caatinga, que pode ser aproveitado com a pratica de conservação, além de permitir uma redução na pressão da Caatinga. Tabela 4. Médias, coeficientes de variação, equações de regressão e coeficientes de determinação para ganho de peso diário (GPD), conversão alimentar (CA) e eficiência alimentar (EA) dos cordeiros alimentados com feno de maniçoba Variáveis % de Feno na Dieta CV (%) ER 20 40 60 80 (1) GPD (g) 290,84 293,62 253,35 208,48 14,67 (2) CA 4,01 4,38 4,92 5,73 11,58 (3) EA 0,25 0,23 0,21 0,17 12,21 (1) 2 Y=333,42-1,436*X, R =0,86 (2) Y=3,332 + 0,028*X, R2 =0,97 (3) Y= 0,28 - 0,0013*X, R2 =0,98 *(P<0,01) 87 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. Avaliando o desempenho de borregos em área de coqueiral, consórcio de fruteira com gramíneas, no Nordeste Brasileiro com quatro taxas de lotação (44; 33; 22 e 11 borregos/ha), Castro et al. (2003) concluíram que a taxa de 22 borregos/ha apresentou a melhor produtividade animal, 1,23 kg de PV/ha/dia ou 449 kg de PV/ha/ano e com a persistência do pasto. O sistema de manejo intensivo de gramíneas cultivadas de alta produção sob irrigação tem sido uma alternativa em região com possibilidade do uso de irrigação nas margens dos rios, como o São Francisco e nos polos de perímetro irrigados. A intensa insolação e temperaturas elevadas na região Semiárida é um excelente potencial para o manejo intensivo de pastagens irrigadas, favorecendo a taxa de crescimento do pasto de até 162 kg MS/ha/dia, que segundo Silva (2004) o capim-Tanzânia irrigado e adubado permitiu um ganho médio anual de borregos terminados a pasto de 3.123 kg PV/ha/ano. A vantagem em se usar o sistema de pastagens irrigadas, aonde é possível, é a alta taxa de lotação com uma capacidade de suporte de 8 UA/ha, permitindo a liberação de até 160 ha de área de caatinga mais seca, que pode sofrer um pastejo mais seletivo, menor pressão ou mesmo ser deferido, ficando em repouso para ser usado na próxima estação de pastejo. Desempenhos de ovinos em pasto de capim-Tanzânia irrigado sob lotação rotativa e com quatro níveis de suplementação, 0,0; 0,6; 1,2 e 1,8% do peso vivo, no Ceará por Pompeu et al. (2009) mostram ganho médio diário de 70,3; 81,5; 119,0 e 111,0 g/dia, respectivamente. A produção animal na caatinga não só depende da massa de forragem existente, outros fatores tem que ser levados em consideração, como genéticos, ambientais, socioeconômicos dos produtores, das praticas zootécnicas e não resta dúvida que a sazonalidade na produção de forragem é um fator relevante, principalmente por ser a base alimentar do rebanho na região semiárida do nordeste do Brasil. Outro aspecto a ser considerado é o mercado consumidor, onde a oferta da carne caprina-ovina não há um fluxo regular, considerando que o sistema de produção dependente das condições climáticas não permite apresentar uma regularidade. Portanto se faz necessário que inovações sejam aplicadas com urgência, tanto tecnológicas, como de políticas, valorizando o produto produzido, sem contaminação, usando a caatinga pelo potencial que a mesma apresenta, manejando de forma adequada, permitindo a sua conservação e o máximo proveito do que é capaz de produzir, seja carne, leite, pele, apícola. Adequando a lotação, para permitir um equilíbrio na oferta de forragem e um ganho animal durante todo o ano, com praticas de suplementação, seja com palma forrageira, com feno de maniçoba, silagem de sorgo, feno de capim-elefante. Segundo Holanda Júnior (2006) a produção de caprinos para corte se concentra no Nordeste do Brasil tendo como base alimentar a Caatinga e na maioria das vezes são criados juntos com ovinos e/ou bovinos, enquanto a produção de carne ovina apresenta uma melhor distribuição no Brasil, sendo no Nordeste a criação mais de ovinos deslanados com finalidade de produção de carne e pele para o mercado local e autoconsumo. Ainda Holanda Júnior (2006) comenta que a comercialização de leite de cabra, de modo geral, na região Semiárida do Nordeste tem pouca importância para a renda dos 88 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. produtores, pois considera que a forma de criação, cabras soltas na Caatinga, com pouca aplicação de tecnologias tem resultado em baixa produção e praticamente nada no período da seca. O que demonstra preocupação, pois há necessidade urgente de mudanças e varias políticas foram inseridas, como exemplo na Paraíba com o incentivo do governo no Programa do Leite, fazendo aquisição de leite para uso na merenda escolar incentivando a exploração da caprinocultura leiteira. Os trabalhos de Almeida (2004), Sebrae/PI (2003) e Sebrae/RN (2001) demonstram que há uma variação nos sistemas de produção animal na Caatinga, de acordo com as diferentes microrregiões do semiárido, com praticas de uso diversificadas, seja da caatinga, de tipos de suplementação (volumosa e/ou concentrada) variando de acordo com as condições e disponibilidade de massa de forragem ofertada pela Caatinga. 5. Considerações finais O uso sustentável da Caatinga como pasto nativo poderá contribuir para minimizar a sua degradação e os riscos de desertificação da região. O melhoramento genético, tanto de plantas exóticas quanto de espécies nativas, possibilitará o desenvolvimento de novos cultivares de plantas forrageiras com melhor adaptação as condições de cenários climáticos que se avizinha. Entretanto, é preciso considerar que a adaptação dos sistemas de produção existentes na Semiárida ainda depende de informações mais detalhadas sobre manejo de pastagens cultivadas em condições de alta limitação de água e temperaturas mais elevadas que a média atual. O desafio é compreender como as pastagens nativas são afetadas em decorrência das mudanças climáticas. É necessário considerar que grande parte, mais da metade, da caatinga já se encontra devastada, com consequências para a diversidade das espécies. Urge a necessidade de pesquisas que culminem com a diminuição da degradação das áreas de caatinga. Da mesma forma, são necessárias ações sobre a política de ocupação do seu espaço, pois a acelerada divisão de terras tem como consequências a intensificação da degradação das terras destinadas aos sistemas de produção. Para enfrentar as mudanças climáticas é importante considerar que as ações tenham como foco a mitigação e a adaptação. É importante estudos sobre redução da emissão de gazes que tenham consequência sobre o denominado efeito estufa, desenvolver programas de melhoramento vegetal e animal no foco da adaptação ao meio e na eficiência dos sistemas de produção. A pecuária deve ter como objetivo a incorporação dos saberes, sabores e cultura local, no sentido de agregar valor aos produtos. Redefinir os conceitos adotados nos sistemas de produção tradicional para aqueles que possam ser compatíveis com a realidade do Semiárido. Enfim, é preciso construir novos paradigmas para a pecuária na região Semiárida, de forma a assegurar a exploração sustentável dos seus recursos naturais diante das mudanças climáticas. 89 Anais do X Congresso Nordestino de Produção Animal, Teresina, PI: SNPA, nov. 2015: Palestras. 6. Referências ALMEIDA, C. C. Caracterização Técnica do Sistema de Produção Pecuário da Microrregião do Cariri da Paraíba. Areia. UFPB, 2004. 149 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). ANDRADE, A.P.; SOUSA, E.S.; SILVA, D.S.; SILVA, I.F.; LIMA, J.R.S. Produção Animal no Bioma Caatinga: Paradigmas dos 'Pulsos - Reservas'. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.Suplemento, p.138-155, 2006. ANDRADE-LIMA, D. The caatingas dominium. Revista Brasileira de Botânica, v.4, p.149-153, 1981. ARAÚJO FILHO, J. A. Manipulação da Vegetação Lenhosa da Caatinga para Fins Pastoris. Sobral-CE: EMBRAPA-CNPC, 1992. 180 p.(Circular Técnica, 11). ARAÚJO FILHO, J. A.; CRISPIM, S. M. A. 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