Anais do 12O Encontro de Iniciação Científica e Pós-Graduação do ITA – XII ENCITA / 2006 Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, SP, Brasil, Outubro, 16 a 19, 2006 IDENTIFICAÇÃO DOS PARÂMETROS ELÉTRICOS DE UM MOTOR DE CORRENTE ALTERNADA Alessandro Soares Universidade Braz Cubas Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233 – CEP 08773-380 Mogi das Cruzes - SP [email protected] Francisco Roberto Cortês Junior Universidade Braz Cubas Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233 – CEP 08773-380 Mogi das Cruzes - SP [email protected] Jesus Franklin Andrade Romero Universidade Federal do ABC Rua Santa Adélia, 166 – CEP 09.210-170 Santo André - SP [email protected] Resumo. O motor de indução trifásico (MIT, apresenta-se atualmente como uma excelente opção para a implementação de acionamentos elétricos controlados. De qualquer forma, as máquinas de corrente alternada (CA) exibem estruturas altamente acopladas, não lineares e multivariáveis. Uma vez que o primeiro passo no projeto do controlador de um servo acionamento elétrico consiste na determinação de modelos matemático representativos, no presente trabalho é proposto um procedimento de identificação parâmetricas baseada no algoritmo Mínimos Quadrados Não-Linear.Inicialmente, são implementados ensaios clássicos de laboratório para a determinação de valores apróximados dos parâmetros elétricos do motor e posteriormente é utilado o algoritmo deidentificação não-linear de forma a melhorar as estimativas dos parâmetros. O ambiente utilizado para a implementação do procedimento de identificação é o MATLAB/Simulink. Palavras chave: Identificação paramétrica, Controle de acionamentos elétricos, Motor de indução. 1. Introdução Os motores de indução foram utilizados, durante muito tempo, em acionamentos de baixo desempenho devido a sua estrutura não-linear e multivariável (Gabriel 1980, Leonhard 1996). Os acionamentos de alto desempenho eram dominados totalmente pelas máquinas de corrente contínua, devido a possibilidade de obtenção de modelos linearizados para longas faixas em torno de um ponto de operação, e a estrutura bastante simples, facilitando o projeto e implementação de controladores. Contudo, as máquinas CC têm as desvantagens de possuírem custos elevados, necessitarem de manutenções mais freqüentes e terem sua utilização não recomendada para alguns ambientes. Ao contrário, os motores de indução são mais baratos, necessitam de pouquíssima manutenção e podem ser usados em ambientes diversos. Somente com o surgimento, na década de 70, da teoria de controle vetorial (Blaschke 1972), é que se teve ferramentas teóricas para um controle mais preciso das máquinas de corrente alternada. Adicionalmente, a partir da década de 80, com o desenvolvimento dos componentes eletrônicos, o motor de indução começou a surgir como uma alternativa em aplicações de alto desempenho. De forma a implementar um sistema de controle de alto desempenho baseado no motor AC é necessário conhecer o modelo estrutural da planta e identificar o valor dos seus parâmetros. No caso específico do motor de indução, os parâmetros elétricos considerados no seu modelo estrutural são: resistências estatórica (Rs) e rotórica (Rr), Indutâncias estatórica (Ls) e rotórica (Lr) e indutância de magnetização (Lm). Procedimentos clássicos de laboratório permitem a medição direta e indireta dos parâmetros elétricos do motor de indução mediante ensaios sem carga e a rotor travado (Murphy and Turnbull, 1988). O ensaio sem carga consiste em ligar o motor de indução sem carga e alimentado por tensão nominal. Nesse ponto de operação são realizadas medições das tensões e correntes de linha e a potência trifásica de entrada. O ensaio a rotor travado consiste em travar o eixo rotórico do motor e alimentar o circuito estatórico com uma tensão definida de forma a forçar correntes com valores nominais. Nesse novo ponto de operação são medidas tensões e correntes de linha assim como a potência de entrada. Mesmo considerando condições e equipamento de laboratório adequados é importante observar que os parâmetros elétricos do motor, calculados mediante os ensaios descritos, apresentam valores aproximados. No presente trabalho é proposto o uso do algoritmo de identificação paramétrica Mínimos Quadrados Não-Linear para a obtenção de Anais do XII ENCITA 2006, ITA, Outubro, 16-19, 2006 , estimativas mais acuradas considerando as aproximações determinadas nos ensaios clássicos como valores de inicialização. Na seção 2 são apresentados os modelos elétricos do motor de indução em diferentes condições de operação. Na seção 3 são descritos os ensaios a vazio e rotor travado implementados em laboratório e na seção 4 o algoritmo mínimos quadrados não linear é descrito e são apresentados os resultados do trabalho. Na seção 5 é apresentado o procedimento de validação do modelo determinado. Na seção 6 são apresentadas as principais conclusões do trabalho e na seção 7 são listadas as referências bibliográficas consideradas. 2. Modelo Elétrico do Motor de Indução O circuito equivalente (uma fase) do motor de indução trifásico é apresentado na figura 1. Figura 1. Circuito equivalente (uma fase) do motor de indução. A variável escorregamento (S na figura 1) é definida na equação como S= wS − wm onde wS representa a wS freqüência síncrona e wm a velocidade do eixo rotórico. Quando o motor é travado, i.e. wm=0, o escorregamento é igual a 1. Na figura 2 é apresentado o circuito equivalente do motor para o caso do ensaio a rotor travado. Figura 2. Circuito equivalente (uma fase) do motor de indução com o rotor travado. Assumindo a tensão de estator, V(s), e a corrente de estator, I(s), como entrada e saída do motor de indução, a função de transferência do sistema é apresentada na equação (1). (Proca and Keyhani, 2002) G (s ) = s(Lr + Lm )Q + Rr Q I (s ) Y (s ) = = 2 V (s ) U (s ) s + s(Rs (Lr + Lm ) + Rr (Ls + Lm ))Q + Rs Rr Q Onde Q = (1) 1 e s representa o operador de Laplace. Portanto, os parâmetros elétricos do (Ls + Lm )(Lr + Lm ) − L2m motor podem ser determinados mediante algum algoritmo de identificação, Anais do XII ENCITA 2006, ITA, Outubro, 16-19, 2006 , 3. Descrição dos Ensaios de Bancada Dois ensaios e uma medição são efetuados para caracterizar uma máquina de indução. O motor utilizado no presente trabalho apresenta as seguintes características físicas: Potência: 0.5 CV Tensão nominal: 220 V, 60 Hz Corrente nominal: 0.4 A Velocidade nominal: 3350 rpm 3.1 Resistência DC do Estator A resistência do estator é medida diretamente no terminal de conexão utilizado um multímetro comum. Esta medição deverá ser efetuada novamente após o travamento do rotor, ponto de operação no qual a temperatura irá aumentar e alterar algumas características físicas do motor. 3.2 Ensaio sem Carga Através deste ensaio é possível estimar o fator de potência sem carga assim como outras perdas no motor. Mais precisamente, é possível dividir a potência de entrada da máquina em três componentes (Chapman, 1985) : a) Perdas no cobre do estator b) Perdas na Carcaça c) Perdas por ventilação e fricção A figura 3 apresenta a configuração implementada no laboratório para o ensaio sem carga. Figura 3. Configuração para o ensaio sem carga. Na implementação apresentada na figura 3, a coleta dos sinais elétricos foi realizada mediante transformadores de tensão e corrente para compatibilizar e isolar os sinais com os níveis de entrada da placa de som de um PC convencional. 3.3 Ensaio com Rotor Travado Neste ensaio o rotor é mantido estático mediante equipamentos de fixação. O estator é alimentado com baixos níveis de tensão de forma a obter um valores nominais de corrente. A configuração do ensaio é apresentado na figura 4. Novamente o motor de indução é alimentado com um inversor de freqüência, e mediante um VARIAC é fixado o valor de tensão de forma independente da configuração do inversor de freqüência. Da mesma forma que no ensaio a vazio, o inversor é configurado com quatro diferentes freqüências (60, 30, 20 e 10 Hz). A tensão do estator é incrementada progressivamente e a corrente, conjuntamente com o atraso de fase, são medidos. Anais do XII ENCITA 2006, ITA, Outubro, 16-19, 2006 , Figura 4. Configuração para o ensaio com rotor travado. 3.4 Cálculo dos Parâmetros Elétricos do motor Após a execução dos ensaios é possível calcular os parâmetros elétricos do motor. A tabela 1 apresenta os resultados obtidos nos ensaios descritos. Tabela 1 - Resultados obtidos nos ensaios. Utilizando o resultado dos ensaios com o rotor travado e utilizando o circuito da figura 2, os parâmetros elétricos do motor de indução são calculados (Chapman, 1985). A tabela 2 apresenta o valor de todos os parâmetros determinados. Rs(Ohms) 6.47 Tabela 2 – Parâmetros elétricos calculados. Ls (H) Rr(Ohms) Lr (H) Lm (H) 0.013 9.89 0.013 0.5 4. Procedimento de Identificação Paramétrica Uma vez determinados os valores nominais dos parâmetros elétricos do motor (tabela 1), o algoritmo Mínimos Quadrados não-linear (Pearson, 1967) é utilizado para a determinação de estimativas mais próximas aos valores reais. A figura 5 apresenta a configuração utilizada para a identificação dos parâmetros elétricos. Anais do XII ENCITA 2006, ITA, Outubro, 16-19, 2006 , Figura 5. Configuração para identificação paramétrica. A seguir, na seção 4.1 é definido o problema de Mínimos Quadrados Não-linear e na seção 4.2 são apresentados os resultados determinados para o caso do motor de indução. 4.1 Problema de Minimos Quadrados Não-linear O problema de mínimos quadrados é definido como: min f (x ) = V (x ) Onde f (x ) 2 (2) : R n → R ( função objetivo); (⋅) V (x) : norma euclidiana; : R n → R m ( função residual) Quando existe ponderação das equações residuais, o problema é definido por: min f (x ) = V (x ) Onde V ( x ) 2 w 2 2w (3) ⇔ V T PV , sendo P a matriz dos pesos. O problema de mínimos quadrados é dito ser não-linear quando as equações residuais são não-lineares, mais precisamente, V = g (x ) (4) Onde a função g(x) é não-linear. 4.2 Identificação dos Parâmetros Eletricos do Motor de Indução via Minimos Quadrados Não-linear Para a identificação paramétrica do motor de indução, a dinâmica do motor assim como o algoritmo Mínimos Quadrados não-linear foi implementado no ambiente Matlab/Simulink, conforme a figura 6. Anais do XII ENCITA 2006, ITA, Outubro, 16-19, 2006 , Asynchronous machine fed by PWM inverter ir,is (A) 11.9 Tm <Rotor current ir_a (A)> <Stator current is_a (A)> A m <Rotor speed (wm)> B -KC rpm vab (V) vab 1/4 HP - 220 V 60 Hz - 1725 rpm + v - N (rpm) <Electromagnetic torque Te (N*m)> Te (N.m) peak2rms magnitude 1 76.96 -K- signal angle isa_out Signal Conversion RMS Vab voltage isa Fourier To Workspace1 + vsa From Workspace1 To Workspace - s Vab [tempo vinputb] Adjust Gain -K+ Vbc ? - s vsa_in 1 Transport Delay Double click here for more info Transport Delay1 vbc (V) vbc + v - Figura 6. Simulação da dinâmica do motor utilizando valores de tensão e corrente reais. As variáveis vsa e isa correspondem ao conjunto de dados de tensão e corrente reais coletados mediante a placa de som. Na figura 7 é apresentada uma realização onde os parâmetros elétricos são identificados para um conjunto de dados (tensões e correntes) coletados em um ensaio a rotor travado. Trajectories of Estimated Parameters Lm 0.5 0.01 0 0.2 Ls Parameter Values Lr 0 0.02 0.1 0 30 Rr 20 10 Rs 0 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Iterations Figura 7. Simulação da dinâmica do motor utilizando valores de tensão e corrente reais. Anais do XII ENCITA 2006, ITA, Outubro, 16-19, 2006 , Como é possível observar na figura 7, os parâmetros elétricos do motor de indução convergem em valores diferentes aos obtidos nos ensaios clássicos (valores utilizados para a inicialização do algoritmo de identificação). Os valores finais determinados pelo algoritmo de identificação são apresentados na tabela 3. Rs(Ohms) 0.1 Tabela 3 – Parâmetros elétricos identificados. Ls (H) Rr(Ohms) Lr (H) Lm (H) 0.010 24.00 0.010 0.5 5. Validação de Resultados O resultado determinado é validado mediante a comparação da simulação do modelo determinado e o conjunto de dados reais (tensões e correntes estatóricas) amostrados em diferentes condições de operação. Na figura 8 são apresentadas as variáveis de corrente real e simulada, considerando os parâmetros calculados com ensaios clássicos. Figura 8. Correntes estatóricas considerando os parâmetros calculados. A seguir, na figura 9, são apresentadas as variáveis de corrente real e simulada, considerando os parâmetros identificados mediante o algoritmo de Mínimos Quadrados não-linear. Figura 9. Correntes estatóricas considerando os parâmetros identificados. Como é possível observar nas figuras 8 e 9, existe uma evidente diminuição na aproximação das variáveis de corrente, reais e simuladas, quando é utilizado o algoritmo de identificação. Anais do XII ENCITA 2006, ITA, Outubro, 16-19, 2006 , 6. Conclusões No presente trabalho foi implementado um procedimento identificação paramétrica não-linear aplicada à dinâmica da máquina de indução trifásica. Os resultados obtidos verificam que é possível, e é necessário para a implementação de sistema de controle adequados, melhorar as estimativas dos parâmetros elétricos do motor obtidos por ensaios clássicos. Próximos trabalhos deverão comparar o desempenho do algoritmo utilizado com outras técnicas de identificação, e.g. filtro de Kalman estendido. Da mesma forma, deverá ser analisada a possibilidade de inserir os parâmetros mecânicos do motor ao vetor variáveis estimadas. 7. Referências Blaschke F., 1972, “The Principle of Field Orientation as Applied to the New TRANSVEKTOR Closed-Loop Control System for Rotating-Field Machines”. Adjustable Speed AC Drive Systems, IEEE Press, Bimal K. Bose. Chapman S. J., 1985, “Electric Machinery Fundamentals”, McGraw Hill Series Gabriel R., Leonhard W. and Nordby C. J., 1980, “Field- Oriented Control of a Standard AC Motor Using Microprocessors”. Adjustable Speed AC Drive Systems, IEEE Press, Bimal K. Bose. Leonhard W., 1996, “Control of Electrical Drives”, Springer- Verlag, 2nd Edition Murphy J.M.D. and Turnbull F.G., 1988, “Power Electronics Control of AC Motors”, Pergamon Press, 1st Edition. A. Proca, A Keyhani, 2002, “Identification of variable frequency induction motor models from operating data”, IEEE Transactions on Energy Conversion, Volume 17, Issue 1, Pages: 24 –31 Pearson, J. B., 1967, “On nonlinear least squares Filtering”, Automatica